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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Abordagem literatura cabo-verdiana

Graciete Vasco Alfredo

Cod. 708204004

Curso: Licenciatura de Português


Disciplina: Literatura Africana em
Língua Portuguesa I
Ano de Frequência: 3º Ano
Docente: Lourindo José Engoneiro

Quelimane, Abril de 2022


Folha para recomendações de melhoria: A ser preenchida pelo tutor
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Índice
1. Introdução..........................................................................................................................................3

1.1. Objectivos.......................................................................................................................................4

1.1.1. Geral............................................................................................................................................4

1.1.2. Específicos...................................................................................................................................4

1.1.3. Metodologia.................................................................................................................................4

2. A génese da literatura cabo-verdiana.................................................................................................5

3. Motivos que ditam o desenvolvimento lento da literatura cabo-verdiano.........................................6

4. Factores que motivam a génese da literatura cabo-verdiano.............................................................7

5. Relação do surgimento da literatura do cabo-verdiano com a pequena elite que formou 1920-1930.
...............................................................................................................................................................7

6. Conclusão........................................................................................................................................10

6. Referências bibliográficas...............................................................................................................11
1. Introdução
Todos sabemos que há um conjunto de factores de ordem geo-política, económica e social que levou
a que Cabo Verde, desde muito cedo, ficasse praticamente entregue a si próprio em termos de
homogeneização racial e cultural. O impacto do colonialismo não é tão drástico, impulsivo e
dramático como nas outras regiões. Embora reconhecendo o risco de tal afirmação, diria que
Portugal, como potência colonizadora, e com todas as expectativas do regime, acabou por criar
algumas condições necessárias para o aparecimento da literatura cabo-verdiana.

Desde muito cedo que a terra, bem como os centros de controlo e administração, passam para as
mãos do grupo de uma burguesia nascida em Cabo Verde, formada maioritariamente por mestiços.
Entre 1920 e 1930 já existe uma elite muito consciente dos problemas que afectam as ilhas. Esta
gente está sobretudo concentrada em S. Nicolau, Santo Antão e São Vicente, e muitos são
comerciantes, professores estudantes e jornalistas que estão em contacto com as correntes e
movimentos literários de Portugal, como o modernismo e o neo-realismo.

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1.1. Objectivos
1.1.1. Geral
 Descrever sobre a literatura cabo-verdiana
1.1.2. Específicos
 Abordar sobre a génese da literatura cabo-verdiana;
 Mencionar os motivos que ditam o desenvolvimento lento da literatura cabo-verdiano;
 Descrever os factores que motivam a génese da literatura cabo-verdiana;
 Mencionar a relação do surgimento da literatura do cabo-verdiano com a pequena elite que
formou 1920-1930.

1.1.3. Metodologia
De salientar que para elaboração do trabalho, a autora recorreu a metodologia de consulta de
algumas obras bibliográficas que versam sobre o tema nelas inclinadas e que tais obras estão
referenciadas na lista bibliográfica. Como se não bastasse, tratando-se dum trabalho científico,
importa salientar que está organizado textualmente da seguinte maneira: a introdução,
desenvolvimento e conclusão.

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2. A génese da literatura cabo-verdiana
Para Fonseca, (2000, p.43), as ilhas de Cabo verde eram desabitadas quando os portugueses ali
chegaram. O povoamento foi feito com elementos brancos portugueses e com elementos negros do
continente africano, particularmente da Guiné ( que falavam várias línguas). Ao longo da História,
brancos e negros misturaram-se dando origem aos mestiços que predominam no arquipélago. Entre
1920 e 1930 já existe uma elite muito consciente dos problemas que afectam as ilhas "do
arquipélago de Cabo Verde".

Esta gente está sobretudo concentrada em S. Nicolau, S. Antão e S. Vicente, e muitos são
comerciantes, professores estudantes e jornalistas que estão em contacto com as correntes e
movimentos literários de Portugal, como o modernismo e o neo-realismo. Mas é sobretudo o
modernismo brasileiro que influencia esta geração que se familiariza com Jorge Amado, Graciliano
Ramos, José Lins do Rego, e poetas como Jorge Lima, Ribeiro Couto, Manuel Bandeira, e os
sociólogos como Gilberto Freyre.

portanto, Araújo (1989), a partir, sobretudo, dessa altura os escritores de Cabo Verde começam a
tomar uma consciência cada vez mais nítida da realidade das ilhas, a romper com os modelos de tipo
europeu. A atenção é focada cada vez mais na terra, no ambiente sócio-económico e no povo das
ilhas. O grande passo para a viragem total de temática da literatura produzida em Cabo Verde é
dado, em 1936, por um grupo de intelectuais que lança a revista Claridade. O grupo, que para a
história literária passou a ser conhecido por claridosos, integra, para além de outros, Baltazar Lopes,
Manuel Lopes e Jorge Barbosa.

As linhas mestras dos movimentos dos claridosos estão praticamente condensadas na obra daquele
que também é o seu maior responsável Jorge Barbosa. A preocupação fundamental da sua poesia é
revelar as situações com que diariamente se defronta o cabo-verdiano: a fome, a miséria, a falta de
esperança no dia de amanhã, as secas e os seus efeitos devastadores.

Os grandes tópicos são o lugar, o ambiente sócio-económico e o povo; e todos em relação constante
com o mar. O mar é o elemento provocador do aparecimento de outras duas realidades soberbamente
tratadas na poética barbosiana: a viagem e o sonho de encontrar uma terra prometida. A ilha, o mar,
a viagem e o sonho são os signos de maior densidade na poesia de Jorge Barbosa. Toda essa
temática se distribui pelas suas três obras: Arquipélago (1935), Ambiente (1941) e Caderno de um

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Ilhéu (1956). Mas, quanto a nós, é em Ambiente que Jorge Barbosa se define como poeta inovador,
que dá à sua poesia uma tonalidade dramática nova, trazida pela intimidade, a denúncia, a epopeia
do homem isleno vivendo no drama.

3. Motivos que ditam o desenvolvimento lento da literatura cabo-verdiano


A literatura em Cabo Verde apresenta uma particularidade que a distingue de outras produzidas
noutras colónias de língua portuguesa, pelo alto índice de mestiçagem, a pobreza do solo,
precariedade de emprego, atraso de aparecimento de editoras e escolas. Por outro lado, a literatura
cabo-verdiana singulariza o carácter próprio da cabo-verdianidade. Quando Leopold Sedar Senghor
fala da “negritude”, ele refere-se a uma estrutura cultural intimamente ligada ao sistema africano
típico.

Em Cabo Verde a poesia não traduz o movimento revolucionário da negritude, ela evidencia uma
realidade diferente identificando a luta grandiosa e vital contra uma natureza hostil, contra a
persistência de seca e a erosão permanente devido às “lestadas”, os ventos alísios. Os temas culturais
mais correntes da literatura caboverdiana são: a seca, a fome, a emigração, o mar, a evasão, o
isolamento, a insularidade, o amor, a saudade ou a simplicidade de uma existência pacífica. Tudo
isso sobressaindo numa expressão única a caboverdianidade ou ainda melhor, a morabeza. (Pereira
apud Ribeiro 2005, p. 34)

Para se exprimir, o caboverdiano utiliza no quotidiqno da sua vida o crioulo, que podemos definir
como português clássico, com algumas formas quase semelhantes ao galego; encontramos no crioulo
palavras com raízes em português, mas também palavras com origens nas expressões vindas de
dialectos africanos. O crioulo é uma língua única e comum, com algumas diferenças de pronúncias e
vocabulário entre o grupo das ilhas do sul chamado sotavento e o grupo das ilhas do norte chamado
barlavento. O crioulo é expressivo e musical, é a língua que traduz melhor o lirismo popular
conhecido hoje internacionalmente, através da música graças a diva dos pés nus Cesária Évora. ”
(Pereira, 2005, p.36).

A língua portuguesa considerada pelo fundador da nacionalidade cabo-verdiana Amílcar Cabral,


como que melhor herança do colonialismo, é uma língua administrativa e oficial. Apesar de não ter
apoio escolar, o crioulo começou a ser utilizado como língua literária a partir do fim de século IX,
obtendo um sucesso com os escritores Eugénio Tavares e Pedro Cardoso, que influenciaram a

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criação em 1936 da revista Claridade ou o princípio de literatura moderna cabo-verdiana com uma
poesia de luta, pondo em evidência o ambiente sócio-cultural, económico e político das ilhas, uma
poesia sem resignação nem fatalismo, como ensinava a igreja colonial.

4. Factores que motivam a génese da literatura cabo-verdiano


5. Relação do surgimento da literatura do cabo-verdiano com a pequena elite que formou
1920-1930.
No entanto, António Carreira (1983, p.32) afirma que, entre 1920 e 1930 já existe uma elite muito
consciente dos problemas que afectam as ilhas "do arquipélago de Cabo Verde". Esta gente está
sobretudo concentrada em S. Nicolau, S. Antão e S. Vicente, e muitos são comerciantes, professores
estudantes e jornalistas que estão em contacto com as correntes e movimentos literários de Portugal,
como o modernismo e o neo-realismo.

Mas é sobretudo o modernismo brasileiro que influencia esta geração que se familiariza com Jorge
Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, e poetas como Jorge Lima, Ribeiro Couto, Manuel
Bandeira, e os sociólogos como Gilberto Freyre. A partir, sobretudo, dessa altura os escritores de
Cabo Verde começam a tomar uma consciência cada vez mais nítida da realidade das ilhas, a romper
com os modelos de tipo europeu. A atenção é focada cada vez mais na terra, no ambiente
socioeconómico e no povo das ilhas. (Carreira, 1983, p. 407).

Vários são os períodos que subsairam a literatura do Cabo-Verde com a pequena elite, sendo
composto por fase, onde 1º Período, das origens até 1925a que chamaremos de Iniciação, por, a par
de grandes vazios, abranger uma variada gama de textos (não necessariamente literários) muito
influenciados pelas duas fases do baixo romantismo e do parnasianismo (embora com iniciativas de
alguma vocação regionalista ou mesmo de «vocação patriótica», no primeiro quartel do séc. XX),
antes da fase moderna.

Em Cabo Verde, após a introdução do prelo, em 1842, e a publicação do romance cabo-verdiano de


José Evaristo d’Almeida, O escravo (1856), em Lisboa, segue-se um longo período (ainda hoje mal
conhecido no que respeita ao século XIX), até à publicação do livro de poemas Arquipélago (1935),
de Jorge Barbosa, e da revista Claridade (1936), Fundada por Baltasar Lopes, Manuel Lopes e Jorge
Barbosa, entre outros […]. A criação, em 1 866, do Liceu-Seminário de São Nicolau (Ribeira
Brava), que durou até 1928, muito contribuiu para o surgimento de uma classe de letrados

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equiparável ou superior à dos angolanos. Em 1877, criou-se a imprensa periódica não oficial. (Agu,
1966, p.32-33).

No 2° Período, de 1926 a 1935, a que chamamos Hesperitano, antecede a modernidade que o


movimento da Claridade (1936) incarnou. Desde os primeiros tempos, até ao final deste 2° Período,
entendemos, com Manuel Ferreira, que vigorou o Caboverdianismo, caracterizado como de
«regionalismo telúrico», mas que, nalguns textos, se expande para temas e elementos recorrentes da
literatura cabo-verdiana, como os da fome, do vento e da terra seca, ou de certa insatisfação e
incomodidade, numa atmosfera muito próxima do naturalismo.

O fundamento que leva a que se possa designar tal período como Hesperitano ressalta da assunção
do antigo mito hesperitano ou arsinário. Trata-se do mito, proveniente da Antiguidade Clássica, de
que, no Atlântico, existiu um imenso continente, a que deram o nome de Continente Hespério. As
ilhas de Cabo Verde seriam, então, as ilhas arsinárias, de Cabo Arsinário, nome antigo do Cabo
Verde continental, recuperado da obra de Estrabão. Os poetas criaram o mito poético para escaparem
idealmente à limitação da pátria portuguesa, exterior ao sentimento ou desejo de uma pátria interna,
íntima, simbolicamente representada pela lenda da Atlântida, de que resultou também o nome de
atlantismo hesperitano, por oposição ao continentalismo africano e europeu.

Enquanto no 3° Período, que principia no ano de 1936 (ano da publicação da revista-mater


Claridade) e vai até 1957, muito mais tarde do que a fase a que Luís Romano chama dos
«Regionalistas ou Claridosos» (para ele termina com os neo-realistas da revista Certeza, de 1944).
Ainda em 1941, sai Ambiente, livro de poemas de Jorge Barbosa. António Nunes publica, depois, os
Poemas de longe (1945) e Manuel Lopes, os Poemas de quem ficou (1949), a que se segue o
romance fundador Chiquinho (1947), de Baltasar Lopes, passando pelo Caderno de um ilhéu (1956),
de Jorge Barbosa, e o primeiro romance de Manuel Lopes, Chuva braba (1956).

Todos sem interferência da Negritude, mas, curiosamente, coincidindo no tempo as publicações de


neo-realistas e claridosos, não sem que, entretanto, fossem impressos livros deslocados no tempo,
como os Lírios e cravos (1951), de Pedro Cardoso, e as Poesias (1952), de Januário Leite, poetas do
cabo-verdianismo. 4° Período, indo de 1958 a 1965, em que, com o Suplemento Cultural, se assume
uma nova cabo-verdianidade que, por não desdenhar o credo negritudinista, se pode apelidar de
Cabo-verdianidade, que, desde a sua ténue assunção por Gabriel Mariano, num curto artigo (1958),

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até muito depois do virulento e celebrado ensaio de Onésimo Silveira (1963), provocou uma
verdadeira polémica em torno da aceitação tranquila do patriarcado da Claridade.

Do Suplemento Cultural do Boletim Cabo Verde fizeram parte Gabriel Mariano, Ovídio Martins,
Aguinaldo Fonseca, Terêncio Anahory e Yolanda Morazzo. Para o 5° período, entre 1966 e 1982, do
Universalismo assumido, sobretudo por João Vário, quando o PAIGC (acoplando forças políticas de
Cabo Verde e da Guiné-Bissau) se achava já envolvido, desde 1963, na luta armada de libertação
nacional, abrindo, aquele poeta, muito mais cedo do que nas outras colónias, a frente literária do
intimismo, do abstraccionismo e do cosmopolitismo: aliás, só depois da independência, e passado
algum tempo, surgiu descomplexada e polémica, sobretudo em Angola e Moçambique.

Em função, podemos datar de 1966, com a impressão dos poemas, em Coimbra, de Exemplo geral,
de João Vário (João Manuel Varela), essa viragem, que, diga-se, pouco impacto veio provocar. No
final da 6° período, de 1983 à actualidade, começando por uma fase de contestação, comum aos
novos países, para gradualmente se vir afirmando como verdadeiro tempo de Consolidação do
sistema e da instituição literária. O primeiro momento é dominado pela edição da revista Ponto &
Vírgula (1983-1987), liderada por Germano de Almeida e Leão Lopes. É possível, através da análise
das produções literárias detectar os períodos marcantes no discurso linguístico cabo-verdiano.
Genericamente, a literatura de Cabo-Verde costuma ser dividida em seis (6) períodos, desde às
origens até à actualidade.

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6. Conclusão
Concluindo, percebeu-se que quanto à forma como se procedeu a construção de uma cultura literária
em Cabo Verde, tenho de recuar ao século XIX para encontrar os primeiros textos produzidos no
arquipélago. De facto, a perspectiva diacrónica da produção literária em Cabo Verde, dilucida um
longo período em que não se publicou qualquer obra literária, isto é, desde os descobrimentos
(1460), até à segunda metade do século XIX, portanto, durante quatro séculos.

Ao invés de uma literatura engajada no contexto sociocultural de Cabo Verde, optaram, quase que
exclusivamente, por tratar temas ligados à cultura clássica como, por exemplo, o mito lusitano e
hesperitano, a cissiparidade pátria33, a exaltação de figuras proeminentes da cultura europeia, entre
outros. Entretanto, o cultivo desses temas marca o início de um novo período na literatura cabo-
verdiana, marcada pela saudade, bucolismo, amor, religiosidade, etc.

É neste contexto que nasce o segundo período da literatura cabo-verdiana, principalmente pelas
inovações inseridas no âmbito da produção literária. O cultivo do mito hesperitano ou arsinário34
pelos autores cabo-verdianos vai dar origem a um novo período literário que, segundo Pires
Laranjeira, é denominado de Hesperitano, que vai de 1926 a 1935.

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6. Referências bibliográficas
Almeida, Germano (1991). O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo. 2.ª Edição. Lisboa:
Editorial Caminho, SA.

Ferreira, M. (1998). No Reino de Caliban I (Cabo Verde e Guiné Bissau), Lisboa, Seara Nova

Ferreira, M. (1994). No Reino de Caliban II (Angola e S. Tomé e Príncipe), Lisboa, Seara Nova.

Laranjeira, J. L. (1885). Pires, Literaturas Africanas de Expressão portuguesa, Lisboa, Universidade


Aberta, 1992.

Marigaridon, A. (2000). Estudos sobre Literaturas das Nações Africanas de Língua Portuguesa,
Lisboa Regra do Jogo.

Salústio, D. (2001). A Louca de Serrano. 2.ª Edição. Praia: Spleen Edições.

Spínola, D. (2002). Lágrimas de Bronze. 2.ª Edição. Spleeen Edições.

Vieira, A. (1992). O Eleito do Sol. Praia: Sonaco

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