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RESUMO
Abuso sexual contra criança e adolescente e seus instrumentos de proteção. Aborda-se a violência
cometida contra crianças e adolescentes, enfocando o abuso sexual, conceito, fatores desencadeantes,
as consequências decorrentes, dentre outras. Identificam-se alguns dos principais tipos penais
relacionados, que possuem dispositivos para penalização do abusador, enquanto por outro lado serão
apresentados alguns instrumentos de proteção contra esse tipo de violência, as leis e suas
implicações, em especial a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e Adolescente dentre as
várias formas de combater o abuso sexual infanto juvenil.
Portanto, tratar desse assunto é de suma importância, pois o abuso sexual é uma grande violação dos
direitos humanos, situação esta que pela gravidade dos males decorrentes de tal atitude criminosa,
pode ser comparada à tortura, ao tratamento cruel, desumano e degradante, pois a vítima é abalada
em toda sua estrutura, visto que a criança e adolescente devem ter protegidos os seus direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízos da sua integridade física, psíquica, e moral.
Esse tipo de violência cometido contra criança e adolescente é um problema que lamentavelmente a
cada dia aumenta mais o número de vítimas, que deve ser combatido com ações efetivas do Estado,
com a ajuda da família e com a participação da sociedade, dos profissionais da educação, da saúde,
do judiciário, os quais devem se empenhar para protegê-las, visto que a lei dispõe da proteção
integral dos mesmos.
Por ser um crime que na maioria das vezes ocorre no âmbito familiar, torna-se mais difícil de ser
combatido, pois trata-se de um problema que muitas vezes permanece protegido pelo silêncio, e com
isso o autor do crime acaba ficando impune.
Percebe-se assim, que não é uma tarefa fácil combater tal conduta criminosa, principalmente quando
acontece nas relações familiares, uma vez que a família “é” ou “deveria ser” uma instituição que tem
o papel de repassar valores para os seus integrantes e quando esses valores são perdidos, a instituição
familiar torna-se desestruturada a ponto de prejudicar todos que a integram.
Dessa forma, percebe-se que a família exerce um papel essencial na proteção de seus integrantes,
principalmente as crianças e adolescentes, podendo assim ajudar no combate a esse grande problema
social, que pelo fato de causar vários danos físicos, psicológicos e sexuais à vítima, é considerado
pelo Ministério da Saúde uma grande violação dos direitos humanos e uma questão de saúde pública.
Por ser uma grande violação de direitos, há necessidade da intervenção de profissionais capacitados
de várias áreas, os quais devem trabalhar conjuntamente ajudando no processo de enfrentamento e
prevenção do problema do abuso sexual de crianças e adolescentes.
Sendo assim, através desse trabalho, a partir de leituras sobre o assunto em livros; artigos científicos;
pesquisas, aplicação de questionários, em especial uma visita técnica na Delegacia de Proteção a
Criança e Adolescente (DPCA), na 9ª Vara Criminal e no Conselho Tutelar fez com que contribuísse
consideravelmente para a realização deste trabalho, dando oportunidade de obter um maior
conhecimento sobre o referido assunto.
Desse modo, o presente estudo está organizado em cinco capítulos. Primeiramente será apresentado
um breve histórico sobre a violência praticada contra crianças e adolescentes, desde antes de Cristo.
Mais adiante no terceiro capítulo será abordado o conceito e tipos de abusos sexuais, medidas legais,
fatores que desencadeiam, facilitam e perpetuam a violência, consequências decorrentes para as
vítimas, perfil das famílias onde acontecem os abusos, perda do poder familiar e o atendimento às
vítimas.
Já no quarto capítulo será tratado sobre os dispositivos legais que tratam sobre crimes sexuais
envolvendo crianças e adolescentes presentes no Código Penal, assim como os instrumentos de
proteção como: a Constituição Federal, a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança e o
Estatuto da Criança e do Adolescente.
E por final, no quinto capítulo abordar-se-á o papel do Estado, da família, da sociedade, do
Ministério Público, do Conselho Tutelar, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, e do
Poder Judiciário como instrumentos de proteção da criança e adolescente.
Há relatos de violências praticadas contra crianças e adolescentes desde antes de Cristo, que muitas
vezes era lhes tirado à vida, uma vez que o infanticídio era visto como uma prática comum nas
sociedades antigas.
Demonstra-se desde a Bíblia Sagrada quando em alguns capítulos mencionam crianças sendo vítimas
de violências, como exemplo tem a história que a pedido de Deus Abrão leva seu único filho para ser
sacrificado nas montanhas em holocausto para ser ofertado à Ele. (Gênesis 22,1-7).
Em épocas anteriores a Cristo existia uma lei que determinava aos pais que caso seus filhos fossem
desobedientes reiteradamente, estes deveriam ser entregues aos anciãos para serem apedrejados até a
morte. (ASSIS, 1994 apud RANGEL, 2009 p.31)
Dessa forma, no Antigo Testamento pode-se perceber que a vida das crianças em algumas passagens
bíblicas é menos valorizada que a dos adultos, cabendo aos pais decidir sobre a vida destas, como se
não bastasse, numa fase de extrema miséria que o povo hebreu passou, carecendo de muitas coisas,
inclusive alimentos, as crianças eram as primeiras alternativas sugeridas, para saciar a fome da
população. (ASSIS, 1994 apud RANGEL, p.31).
As crianças durante muito tempo da história foram alvos de muitas crueldades, o exemplo mais
conhecido pelos cristãos é o da época do nascimento de Jesus Cristo, onde Herodes por ter sido
ludibriado pelos reis magos e não terem feito o que ele determinara, ficou com raiva e mandou que os
seus soldados matassem todos os meninos que tivessem menos de dois anos naquela cidade e assim
foi feita sua vontade. (Mt 2.13-18).
Em se tratando de decisão sobre a vida das crianças, Assis (Apud RANGEL, 2009. p. 30) afirma que
“[...] na Antiguidade Clássica, os pais e o Estado decidiam sobre a vida e a morte das crianças”.
Durante muito tempo as crianças foram tratadas como “coisas”, ou então como indivíduos de
segunda categoria, por essa razão não eram tratados como sujeitos de direito, por isso que o interesse
das crianças de nada valia.
Por exemplo, na Grécia Antiga era comum a prática sexual entre os alunos e os professores, como
também a prostituição das crianças do sexo masculino. Além do mais, tinha uma enorme diferença
no tratamento das crianças escravas e das crianças livres, sendo que as crianças escravas corriam o
risco de serem entregues para satisfazerem as vontades sexuais dos adultos daquela época.
(MAGALHÃES, 2005, p.28).
Percebe-se assim, o quanto que as crianças daquela época não eram valorizadas, mas foi somente a
partir do século XVII ao XIX que o “sentimento de infância” foi surgindo na sociedade.
(ÀRIES apud MAGALHÃES, 2005, p.37)
Já na época de 374 d.C, o infanticídio e o aborto passou a ser recriminado pela sociedade e
considerado um pecado, amparado pelo direito canônico, podendo a mulher até mesmo ser
excomungada por conta do aborto criminoso. (ASSIS,1994 apud RANGEL, 2009, p. 32).
A partir de tais relatos, pode-se afirmar que a violência acompanha a trajetória da humanidade, desde
tempos mais primitivos, até os dias atuais e que em determinadas épocas era vista como normal e em
razão da grande violação dos direitos da criança e adolescente, houve necessidade de serem criadas
leis específicas para que esses direitos fossem tutelados, e essas vítimas fossem protegidas.
Nesse sentido, os séculos XX e XXI foram marcados pela elaboração de instrumentos legais
internacionais e nacionais que tutelassem os direitos da criança e o adolescente, dentre essas a
Convenção Americana sobre Direitos da Criança, em 1989, aprovada pela Assembleia Geral das
Nações Unidas, a qual serviu de exemplo para regulamentação dos direitos da criança e do
adolescente em todo o mundo, colocando estes como sujeitos de direitos, e foi a partir dessas
discussões baseadas no princípio da Dignidade Humana é que impulsionou a elaboração aqui no
Brasil da Constituição Federal de 1988, inserindo em seu artigo 227 a proteção integral das crianças e
adolescentes.
A partir desse enfoque ao princípio da proteção integral da criança a do adolescente assegurado na
Constituição Federal é que na tentativa de obedecê-lo foi criada uma lei especial, no que tange o
público alvo infanto juvenil, a Lei nº 8069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que
embora seja muito criticada, é uma das formas de proteger as crianças e adolescentes de vítimas de
negligência, abusos, discriminação e qualquer outro tipo de violação de direitos dessas pessoas em
estado de desenvolvimento, onde tem prioridade absoluta da família, da sociedade e do Estado.
Segundo ABRAPIA (apud MAGALHÃES, 2005, p.22) define o abuso sexual como sendo a:
[...] situação em que uma criança ou adolescente é usado para gratificação sexual de um
adulto ou adolescente mais velho, baseado em uma relação de poder. Inclui a manipulação
da genitália, mama ou ânus, exploração sexual, ‘voyeurismo’, pornografia e exibicionismo e
o ato sexual com ou sem penetração, com ou sem violência.
O abuso sexual contra criança e adolescente constitui-se uma das categorias de maus-tratos mais
cruéis praticado contra estas, que inclui tanto o abuso físico, quanto o psicológico.
Os tipos de abuso sexual podem ser do tipo intrafamiliar ou extrafamiliar. No que diz respeito à
violência sexual intrafamiliar praticada contra criança e adolescente Rangel (2009, p.25) tem a
seguinte definição: “Relações com conotação sexual entre pais e filhos, crianças ou adolescentes, no
interior da família, sejam os laços que os unem consanguíneos, afins ou civis”.
Enquanto o abuso sexual extrafamiliar é aquele que é cometido por alguém que não pertence à
família da vítima, mas na maioria dos casos é alguém conhecido que geralmente acaba conquistando
a confiança da família e da vítima, procurando sempre desculpas para ficar sozinho com esta, com
intuito de facilitar tal atitude criminosa, o abusador pode ser um vizinho, professor, amigos dos pais,
amigo mais velho, dentre outros.
Portanto fica muito mais complicado a vítima perceber que há algo de errado com tal atitude do
abusador, ainda mais porque principalmente a criança não tem discernimento total que ele está sendo
vítima de tamanha crueldade, como afirma Lamour (apud RANGEL, 2009, p. 123) “[...] os adultos
que procuram crianças pequenas como parceiros sexuais descobrem rapidamente [...] que as crianças
não têm defesas, não se queixam nem resistem[...]”, levando em consideração também a pouca
resistência física por conta da estrutura corporal.
Há vários outros fatores desencadeantes para a ocorrência dessa situação, quais sejam: a
desestruturação familiar, destituição do papel de pai ou mãe no lar, desemprego, uso de drogas,
bebida alcoólica, miséria, moradia precária, doenças mentais, como também a delinquência dos pais
ou responsáveis, levando em consideração que esses fatores não são determinantes, uma vez que há
também vários exemplos de casos de abusos em famílias que não possuem nenhum desses fatores
desencadeantes.
Em se tratando de drogas e bebida alcoólica, vale lembrar que o artigo 19 do ECA dá uma atenção
especial a esse fator, quando assegura o “[...] direito da criança e adolescente a ter uma convivência
familiar em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes”, pois
situação de risco como essa, pode até levar a perda do poder familiar, assunto esse que será tratado
posteriormente.
Outro fator que contribui para que essa situação se agrave principalmente no âmbito doméstico é
quando a mãe precisa se ausentar de casa para ir ao trabalho e não tem onde e nem com quem deixar
os filhos, restando assim deixá-los sob os cuidados de alguém mais velho, da família; ou de um
cuidador.
No que tange o papel do pai na criação dos filhos, as concepções patriarcais contribuem para tal
situação, podendo-se afirmar que:
O exercício da paternidade, ainda hoje, está muito relacionado com o dever de sustento dos
filhos, a maior obrigação do homem provedor, fruto do patriarcado. Este homem não se
sente responsável pelos demais compromissos com a formação e desenvolvimento da
criança, atribuições consideradas femininas. Estudos recentes (ROSENFELD, 1997;
MAZET, 1997) têm apontado para a correlação entre o tipo de exercício da paternidade e os
abusos sexuais. Pesquisa realizada por Seymour & Parker, relatada por Mazet (1997),
envolvendo pais que não praticam abusos tinham um relacionamento parental muito mais
próximo com seus filhos, desde o início de suas vidas, enquanto que os pais incestuosos
eram bem pouco engajados no exercício da paternidade. (RANGEL, 2009. p. 126)
Cabe destacar, que o abuso sexual praticado contra crianças e adolescentes necessita de uma atenção
especial voltada não somente as questões no âmbito familiar, mas também aquelas onde estas
desenvolvem suas atividades sociais, como creche, escola, igreja, dentre outros ambientes que as
crianças e adolescentes passam a maior parte do tempo. Em razão da situação de vulnerabilidade que
se encontram, as maiores vítimas de abuso são as crianças, como afirma Bouhet et al.
(apud RANGEL, 2009 p.122):
[...] a maior parte das pesquisas realizadas até hoje fornece resultado praticamente idênticos
no que diz respeito à idade: a metade dos abusos aconteceu antes dos doze anos (...) o
conjunto dos estudos de prevalência demonstra que a criança está mais “exposta” entre os
nove e doze anos de idade
Conforme o levantamento obtido pela Delegacia de Proteção a Criança e Adolescente (DPCA),
anexo C, no que se refere ao crime de estupro, foram registrados 34 crimes no ano de 2012, enquanto
206 casos de crimes de estupro de vulnerável nesse mesmo ano, conforme demonstrado abaixo:
Similarmente a violência sexual também acarreta uma série de agravos à saúde física e
emocional de mulheres e adolescentes e crianças. A Associação Médica Americana reporta
que as vítimas de estupro apresentam o seguinte quadro psicológico: ansiedade, pesadelos,
fantasias catastróficas, sentimentos de alienação e isolamento, além de problemas sexuais.
Como impactos à saúde física, a Associação cita fadiga, cefaléias, distúrbios do sono e dos
padrões de alimentação e, em especial, o risco de gravidez e de contágio de doenças
sexualmente transmissíveis, tais como HIV/AIDS. (BRASIL, MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2011a, p 18)
As consequências maléficas decorrentes para as vítimas de abuso sexual são inúmeras, desde a época
dos acontecimentos, até mesmo depois de interrompido o ciclo perpetuador da violência,
principalmente quando se trata de abuso sexual cometido por pessoas da própria família, os males
causados por conta dessa situação, faz com que a vítima carregue consigo um trauma por toda a vida,
por isso que muitas vezes a vítima chega à fase adulta, apresentando alguns problemas oriundos
desse tipo de abuso.
É nesse entendimento que Cohen citado (RANGEL 2009, p.136) afirma que:
[...] o abuso sexual intrafamiliar recorrente é um problema muito mais complexo do que a
relação sexual entre duas pessoas, que encontra sustentação no modo de funcionamento da
estrutura familiar onde se instala. Por isso, não descartamos a possibilidade, embora não
abarcada nesse estudo, de que outros membros da família onde ele ocorra, que saibam de sua
existência, estejam sujeitos a se sentirem afetados, no futuro, por consequências psicológicas
dessa vivência abusiva.
Sendo assim, conforme o exposto, percebe-se que as consequências maléficas decorrentes de tal
situação, não refletem somente na vítima, principalmente quando se trata de abuso intrafamiliar, mas
também afeta outros que estão inseridos neste grupo.
4.4. PERFIL DAS FAMÍLIAS QUE ACONTECEM OS ABUSOS E
SEUS COMPONENTES
Nos casos de abuso sexual cometido por membros da família, deve-se analisar e conhecer a estrutura
e o funcionamento da família, pois é nesse ambiente familiar que lamentavelmente acontecem os
maiores índices de casos de abusos.
Estas famílias são vistas como estruturas fechadas em que seus componentes têm pouco
contato social, principalmente a vítima. A obediência à autoridade masculina é incontestável,
tem um padrão de relacionamento que não deixa claras as regras de convivência e a
comunicação não é aberta, o que facilita a confusão da vítima e, consequentemente, o
complô do silêncio (como revelar o que não se consegue definir, o que não se comenta, o
que ‘não aconteceu’, o que “não existe’?). As formas de manifestação de carinho e afeto,
quando existem, são erotizadas. Muitas vezes a vítima assume papel de mãe, tais como
cuidar de crianças menores, os afazeres domésticos etc. Também pode ser colocada pela
família como promíscua, sedutora e mentirosa. ‘Crê que o contato sexual é forma de amor
familiar, conta estórias alegando outro agressor para proteger membro da família’.
(DESLANDES apud CRAMI, 2009, p.19)
Nesse entendimento pode-se inferir que geralmente a família incestuosa tem caráter patriarcal, os
papéis que cada um exerce na família não são bem definidos, somente o papel do pai, que por exercer
um poder sobre os filhos, domina-os pela força e coerção, pois na maioria das vezes o abuso sexual
vem juntamente com violências físicas, fazendo com que tais atitudes se tornem ainda mais cruéis.
Os maiores autores de abuso cometidos contra crianças e adolescentes no âmbito familiar são os pais.
O agressor: geralmente é homem, pai, padrasto, parente, ou pessoa que tem proximidade ou
afeição para com a vítima e é de sua confiança. Segundo Azevedo e Guerra (1998), ‘o
agressor incestuoso(...) é tipicamente um Agressor Sexual Situacional do tipo regredido que
abusa de seus próprios filhos...’ . É diferente do Agressor Sexual Preferencial ou pedófilo
que a tem como objeto sexual escolhido.¹ Em seu histórico de vida é frequente encontrarmos
situações de vitimização física ou sexual. Utilizam-se da sexualidade com a criança muito
mais como uma gratificação compensatória para um sentimento de impotência e baixa auto-
estima do que uma gratificação sexual. A relação de poder, dominação e opressão é o que
move este agressor. ( CRAMI, 2009 p.19).
A título de esclarecimento, cabe realçar que Azevedo e Guerra (apud CRAMI, 2009, p. 19),
apresentam a distinção entre os dois tipos básicos de agressores sexuais de crianças:
O Agressor Sexual Situacional que não tem uma verdadeira preferência sexual por crianças
mas acaba se envolvendo em sexo com elas por várias razões (insegurança, fugir
do estress, oportunidade, curiosidade, vingança, etc.) e o Pedófilo enquanto Agressor Sexual
Preferencial que prefere fazer sexo com crianças.
No caso de família onde acontece o abuso sexual, geralmente a mãe da vítima ou adulto não
abusador apresenta como características principais submissão e superproteção do marido ou
companheiro abusador, e na maioria das vezes tenta encobrir o ocorrido ou então tenta justificar tal
atitude criminosa. Assim também muitas vezes percebe-se que ela algum dia também foi vítima de
abuso sexual, quando não, ainda está sendo vítima de violências domésticas cometidas por esse
companheiro. (CRAMI, 2009, p.20).
Por esse motivo é que em muitos casos, quando tal abuso perpetua por muito tempo dentro da
família, a mãe da vítima pode ser vista como, negligente, omissa ou até mesmo cúmplice de tal
situação.
De acordo com Furniss, (apud CRAMI, 2009, p.20): “Algumas das crianças jamais haviam se sentido
próximo as mães, e haviam se voltado para o pai em busca de cuidado emocional, sendo que o pai
traiu sua confiança ao buscar sexualmente dela nesse processo”.
No que tange as vítimas de abuso sexual intrafamiliar, estas devem ter uma atenção especial para que
seja feito um tratamento adequado para que não influencie com atitudes nocivas posteriormente
agravando mais a situação, por isso vale destacar:
As vítimas do incesto, quando não são protegidas e não têm a chance de ser tratadas, tendem
a reproduzir a relação incestogênica, podendo continuar com o ciclo perpetuador do incesto.
Mas se lhes for apresentada a chance de ter seus direitos respeitados, de serem
compreendidas e terem um tratamento adequado, sua história de vida poderá ser escrita sob
outro ponto de vista, refazendo relações com base na afetividade e não na violência.
(CRAMI, 2009, p.39)
Portanto, um tratamento adequado com base no resgate dos laços afetivos é essencial para poder
ajudar as vítimas a superarem esses traumas, ainda mais porque em muitos casos as vítimas tendem a
sentirem-se culpadas por tal situação.
4.5. MEDIDAS LEGAIS
No Estatuto da criança e do Adolescente, no que tange as medidas imprescindíveis para proteger as
vítimas de abuso tem-se o seguinte:
Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos
pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o
afastamento do agressor da moradia comum.
Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a fixação provisória dos alimentos de
que necessitem a criança ou o adolescente dependentes do agressor.
Para tanto, basta a verificação de algum sinal de violência para que o juiz determine o afastamento do
agressor do lar da vítima, pois o objetivo principal dessa medida cautelar é que cesse tal situação, até
a apuração dos fatos, lembrando que junto com tal medida é determinado também à fixação dos
alimentos, para que o sustento da família não fique comprometido.
Dessa forma, o poder familiar “é o complexo de direitos e deveres atribuídos ao pai e a mãe, em
igualdade de condições, em relação aos filhos menores”, pois o principal objetivo é o bem estar do
menor e não o poder dos pais sobre estes. (MASSON 2013, p.884).
Por serem sujeitos de direitos, as crianças e adolescentes devem ter seus interesses resguardados,
dentre estes à dignidade da pessoa humana, à moral, como preceitua o art. 3º do ECA que diz:
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes,
por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar
o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e
de dignidade.
Dependendo do caso concreto, da gravidade, como o caso de abuso sexual, configura uma das
hipóteses de perda do poder familiar, sendo que esta é de caráter excepcional, onde é regido tanto
pelo dispositivo previsto no Código Civil quanto pela Lei nº 8.069/90 (ECA).
Portanto, no artigo 1638 do Código Civil no que se refere a perda do poder familiar têm-se o
seguinte:
[...] Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: I - castigar imoderadamente
o filho; II - deixar o filho em abandono; III - praticar atos contrários à moral e aos bons
costumes; IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.
Os atos contrários à moral e aos bons costumes como consta no artigo 1638, III do Código Civil, são
aqueles atos prejudiciais a formação moral dos filhos, por essa razão, o juiz percebendo a gravidade
do perigo, deverá aplicar medidas de proteção e decretar a suspensão do poder familiar liminar ou
incidentalmente como preceitua o Art. 157 do ECA:
Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público,
decretar a suspensão do poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o julgamento
definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente confiado a pessoa idônea,
mediante termo de responsabilidade.
O procedimento para a perda do poder familiar terá início por provocação do Ministério Público ou
de quem tem legítimo interesse, em consonância com o que determina o artigo 155 do ECA.
Aos pais cabe o dever de cuidar dos filhos menores, visto que trata-se de um “poder-dever familiar” .
Nesse sentido no artigo 24 do ECA dispõe:
Vale Ressaltar que para ser tomado qualquer medida judicial referente a suspensão ou destituição do
poder familiar, o depoimento da vítima é essencial como prova no processo, para dar veracidade aos
fatos narrados, dando base para a realização do estudo social ou perícia, conforme o artigo 161,§ 1º
do ECA:
No que diz respeito ao atendimento às vítimas de abuso sexual, temos como principal referência o
atendimento prestado pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) que é
uma unidade pública que trabalha em parceria com os governos federal, estadual e
municipal que tem como função principal atender as pessoas que se encontrem em situação de risco
pessoal e social.
Ainda referindo-se a política de atendimento oferecida pelo CREAS, o mesmo conta com uma equipe
de profissionais capacitados na área da psicologia, assistência social e jurídica, pessoas estas
capacitadas também para dar assistência às crianças e adolescente em situação de risco, como
também dão apoio para as respectivas famílias.
No que se refere ao atendimento às vitimas de abuso sexual, também no artigo 87 do ECA tem que:
[...] são linhas de política de atendimento: I- políticas sociais básicas, II- políticas e
programas de assistência social, em caráter supletivo, pra aqueles que deles necessitem, III-
serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de
negligência, maus tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão, IV-proteção jurídico
social por entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente, V-proteção jurídico-
social por entidades de defesa dos direitos da criança e adolescente.
Percebe-se assim, a grande importância no atendimento das crianças e adolescentes vítimas de
violência sexual, em especial os profissionais de saúde que tem um papel fundamental na
identificação, como também é essencial à participação destes na garantia dos direitos das mesmas,
visto que colhem informações precisas, detectam o problema e ainda ajudam na elaboração de laudos
precisos para ser tomada providências cabíveis urgentes de proteção, visto que as vítimas encontram-
se em situação de risco.
Respeitando esse princípio maior, que é o da dignidade da pessoa humana, e também o princípio da
prioridade absoluta é que a Constituição Federal determina em seu artigo 227, caput:
Já no artigo 5º da CF “assegura que ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou
degradante”; pois o abuso sexual por ser um crime de natureza grave, é considerado como crime
hediondo, faz-se necessário ser considerado o abuso praticado “contra qualquer pessoa” um crime
hediondo para que a penalização do abusador obedeça ao rigor do cumprimento da pena prevista na
referida lei, haja vista que de acordo com a lei dos crimes hediondos em relação a crimes envolvendo
crianças e adolescentes a pena é mais severa, por constituir um agravante e são insuscetíveis de
anistia, graça e indulto e fiança, conforme o artigo 2º da Lei 8072/90, Lei dos crimes hediondos.
De acordo com alteração dada pela Lei 12.015/09, considera-se vulnerável as pessoas com menos de
14 anos de idade. Dentro desse capítulo está previsto o crime tipificado como estupro de vulnerável,
presente no artigo 217-A o qual consiste em “[...] ter conjunção carnal ou praticar outro ato
libidinoso com menor de 14(catorze) anos, com pena de reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos”.
Vale ressaltar que o termo vulnerável é muito complexo, visto que esse termo conforme o Código
Penal artigo 217-A, § 1º acrescenta na qualidade de pessoa vulnerável: “alguém que, por enfermidade
ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática de tal ato, ou que, por
qualquer outra razão não pode oferecer resistência”.
Nesse entendimento pode inferir que a vulnerabilidade tratada no final do parágrafo pode ser
considerada também nos casos de pessoas bem idosas com capacidade física bem limitada, mulheres
em territórios de conflitos, entre outros exemplos que acabam deixando a pessoa em situação de
vulnerabilidade, mas em se tratando de criança e adolescente considera-se vulnerável aqueles
indivíduos menores de 14 anos.
O crime de estupro tanto na forma tentada quanto na consumada, como também na espécie
qualificada ou simples é considerado crime hediondo em consonância com a lei 8072/90. (MASSON
2013, p.805)
Há também outro crime sexual envolvendo vulnerável, está previsto no art. 218 do Código Penal,
tipificado como crime de corrupção de menores o qual afirma que: “Induzir alguém menor de 14
(catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: Pena- reclusão, de 2 dois a 5 (cinco) anos”.
Ainda nesse mesmo capítulo do CP, no seu artigo 218-A há o crime de Satisfação de lascívia
mediante presença de criança e adolescente que diz:
E por final, traz o crime referido no artigo 218-B, que é o de Favorecimento da prostituição ou outra
de exploração sexual de vulnerável, onde o que a conduta que tipifica é:
Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor
de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone, de
acordo com o artigo, a pena é reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. §1º Se o crime é
praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. § 2º Incorre nas
mesmas penas: I- quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor
de 18(dezoito) anos e maior que 14(catorze) anos na situação descrita no caput desse artigo
[...]
Cabe salientar, que a pena aplicada para esses crimes é majorada pela metade quando “[...] o
abusador da criança ou adolescente for ascendente, padrastro ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,
companheiro, tutor, preceptor ou empregador da vítima ou qualquer outro título que tenha
autoridade” de acordo com o artigo 226 do Código Penal.
É importante lembrar que para efeitos da presente Convenção “considera-se como criança todo ser
humano com menos de dezoito anos de idade”, enquanto para efeitos do Estatuto da Criança e do
Adolescente ““considera-se criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos e adolescente aquela
entre doze e dezoito anos de idade”.
No que se refere à proteção dessas crianças contra qualquer tipo de violência sexual a Convenção
dispõe em seu artigo 34.º que:
Sendo assim, os Estados Partes, inclusive o Brasil por ser signatário, deverá obedecer as medidas de
proteção adotadas nessa Convenção com objetivo maior de proporcionar o bem estar da criança e
adolescente.
O Estatuto da criança e do adolescente é um instrumento especial de proteção, visto que essa Lei em
consonância com a Constituição Federal dispõe sobre a proteção integral à criança e adolescente,
quando no artigo 3º diz que:
Assim também, ainda no que se refere à proteção de crianças e adolescentes no artigo 201, inciso III
do ECA determina a competência do Ministério Público para:
[...] promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses
individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos
no Art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal.
O Ministério Público tem competência para fiscalizar a aplicação de medidas protetivas feitas pelo
Conselho Tutelar com base no artigo 98, essa fiscalização pode ser feita também pelo Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, como também pela Autoridade Judiciária.
O Ministério Público tem competência também para “instaurar sindicâncias, requisitar diligências
investigatórias e determinar a instauração de inquérito policial, para apuração de ilícitos ou infrações
às normas de proteção à infância e à juventude” de acordo com o artigo 201, VII.
Assim também o MP de acordo com o artigo 201, V do ECA, este tem competência de “promover o
inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos
relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição
Federal”.
Portanto o Ministério Público como fiscal da lei, pode e deve zelar pela correta aplicação da lei, visto
que esta deverá ter eficácia para que seja concretizada a defesa das crianças e adolescentes, que por
serem pessoas em fase peculiar de desenvolvimento, merecem uma atenção e proteção especial para
que seus direitos sejam preservados.
A Lei 8069/90, o Estatuto da Criança e adolescente que rege o Conselho Tutelar, dando poderes para
que esses membros possam fiscalizar denúncias de qualquer violação de direitos da criança e
adolescente nas comunidades, por se encontrarem mais perto da população e assim serem resolvidos
alguns casos menos graves sem ser preciso chegar à justiça, mas nos casos de confirmação de abuso
sexual, por ser um caso gravíssimo, é cabível a representação do Conselho Tutelar ao Ministério
Público visando à providência adequada, exigindo a formalização do pedido e a jurisdicionalização
do procedimento cautelar.
A escolha dos 5 membros do Conselho é feita pela comunidade local, através de votação, onde estes
vão permanecer por 4 anos no mandato, de acordo com o artigo 132 do ECA, sendo assim, percebe-
se a participação popular efetivando o direito a democracia participativa.
E esse processo para a escolha dos membros do Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal
e realizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente,
e a fiscalização do Ministério Público, em consonância com o artigo 139 do ECA.
O Conselho Tutelar também tem como função representar ao Ministério Público para efeito das
ações de perda ou suspensão do poder familiar, como também se nos exercícios de suas atribuições,
se o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do convívio familiar, após frustradas todas
as possibilidades de manutenção da criança ou adolescente na sua família natural, deve este
comunicar o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal
entendimento e as providências tomadas para a orientação, o apoio, e a promoção social da família,
de acordo com o artigo 136, XI e parágrafo único do ECA.
O Conselho Tutelar também tem como uma de suas funções tratar de assuntos que não dizem
respeito a função jurisdicional relacionados a menores, visto que essa é a função do juiz, pois cabe ao
Conselho Tutelar tentar resolver assuntos na esfera administrativa.
Foi feita uma visita técnica ao Conselho Tutelar do Bairro do Coroadinho, o qual o conselheiro
Riosley Araújo Pinheiro informou que aqui em São Luís há 7(sete) Conselhos Tutelares instalados,
estes são administrativamente ligados à Prefeitura de São Luís, através da Secretaria Municipal da
Criança e da Assistência Social (SEMCAS), interligado também a Secretaria de Direitos Humanos
do Governo Federal, órgãos responsáveis por promover, estimular, acompanhar e zelar pelo
cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente.
De acordo com o Conselheiro Riosley, o pólo do Coroadinho abrange 84 bairros de São Luís, onde
qualquer denúncia de violação de direitos da criança e adolescente nesses bairros a competência será
deles para tentar resolver, lembrando que nos casos de abuso sexual, a competência é da Justiça, mas
o Conselho Tutelar será o responsável para dar ciência ao judiciário de tal situação, para que sejam
tomadas as devidas providências com base nessas considerações.
A função do Conselho Tutelar nas localidades abrangidas é fornecer apoio e tomar atitudes cabíveis
dentro de sua competência nos casos de violação dos direitos da criança e do adolescente.
Também está nas obrigações do Conselho Tutelar através de um instrumento que ele dispõem para
efetivar a garantia dos direitos do público alvo, esse instrumento chamado “Requisição de Serviço
Público”, que tem como função de acordo com o artigo 136, III, a) que diz: “requisitar junto ao poder
público serviços adequados de educação, saúde, serviço social, previdência, trabalho e segurança” na
comunidade em que ele está inserido, visto que o Conselho tem essa função de requisição de tais
serviços, a qual as entidades devem atender.
O Conselho Tutelar também tem função fiscalizadora, conjuntamente com o Ministério Público e o
Judiciário, como consta no artigo 95 do ECA que determina que “as entidades governamentais e não-
governamentais referidas no Art. 90 serão fiscalizadas pelo Judiciário, pelo Ministério Público e
pelos Conselhos Tutelares”.
Cabe salientar que nos casos de ações de perda ou suspensão de poder familiar, por serem medidas
que exigem procedimento judicial, não cabe ao Conselho aplicá-las, mas é atribuída a função de:
“representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar,
após esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família
natural”, de acordo com o artigo 136, inciso XI.
Assim também, nesse caso de ações de perda ou suspensão do poder familiar, quando o Conselho
tutelar entender imprescindível o afastamento do agressor e/ou abusador do convívio familiar, deve o
mesmo comunicar ao MP, dando informações precisas para que sejam tomadas as providências
cabíveis, em consonância com o artigo 136, parágrafo único do ECA.
Mas por ele ser autônomo, não quer dizer que não deva ser fiscalizado, pois cabe ao Ministério
Público essa fiscalização.
Na nossa capital, existem sete Conselhos Tutelares localizados e abrangendo bairros como:
Quadro 1 – Área de abrangência dos Conselhos Tutelares do Município de São Luís do Maranhão
ÁREA ABRANGÊNCIA
Vila Bacanga, Mauro Fecury I e II, Itaqui, Vila Embratel, Gapara
Itaqui Bacanga
Anjo da Guarda, Riacho Doce, dentre outros.
Sobre a valorização dos funcionários, foi informado que atualmente os conselheiros recebem uma
remuneração de R$1.600,00 (hum mil e seiscentos reais), sendo que trabalham em horário integral,
ficando até mesmo de plantão nos finais de semana, tipo “sobre aviso” para quaisquer eventuais, logo
eles são chamados para tentar resolver, mas segundo ele, o salário deveria ser maior, visto que tem
muitas tarefas a fazer, muitas responsabilidades, tendo que dispor de muito tempo para tal função.
6.6. A DELEGACIA DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO
ADOLESCENTE
Em São Luís, nesta capital, temos a disposição uma Delegacia especializada em tratar sobre assuntos
relacionados a crianças e adolescentes vítimas de violência, a Delegacia de Proteção a Criança e ao
Adolescente (DPCA), localizada na Rua Coelho Neto, nº 01, Praça Maria Aragão, na Beira Mar.
Atualmente, pode-se afirmar que a DPCA aqui em São Luís é um grande avanço no que tange a
proteção da criança e do adolescente, principalmente no que se refere às violências sexuais.
De acordo com dados quantitativos fornecidos pela DPCA, no período entre 01/01/2011 a
31/12/2011 foram registradas várias ocorrências relacionadas a crimes sexuais cometidos contra
criança e adolescente nesta capital: maus tratos 60 casos, ameaça: 286 casos, estupro de vulnerável
contam com 156 casos, o estupro 46 casos, estupro de vulnerável na forma tentada 24 casos. (Anexo
B)
Já no ano de 2012 tem a seguinte estimativa: estupro de vulnerável ocorreram 206 casos, maus tratos
92 casos, estupro 34 casos, e estupro na forma tentada 22 casos somente nesta capital. (ANEXO C)
Há de ser observado que houve um aumento nas ocorrências registradas, provavelmente pode-se
dizer que é em razão do maior número de denúncias feitas principalmente por telefone que a
sociedade vem fazendo para combater tais crimes, dessa forma acaba contribuindo com o trabalho
policial e também na proteção da criança e do adolescente.
Nas dependências da DPCA temos a Delegacia e o Centro de Perícias Técnicas, sendo todas estas
especializadas para tratar de assuntos relacionados a direitos violados da criança e do adolescente.
A DPCA tem como objetivo investigar denúncias de violação de direitos infanto juvenis, onde é feito
o procedimento necessário para que sejam tomadas todas as providências cabíveis para apuração dos
fatos a serem investigados pela polícia.
Na Delegacia será feito o Boletim de Ocorrência Policial, que é um procedimento realizado para
registrar os fatos relatados, onde a partir disso, a autoridade policial vai tomar conhecimento do
ocorrido para então posteriormente determinar a instauração do inquérito ou investigação, após
aberto o processo de investigação de abuso, as vítimas são encaminhadas ao Centro de Perícias
Técnicas para a Criança e o Adolescente (CPTCA) que fica nas dependências da própria delegacia,
órgão vinculado a Secretária de Segurança do Estado Maranhão, o qual é formado por uma equipe
multidisciplinar que possui em seus quadros médicos legistas, assistentes sociais e psicólogos.
O CPTCA realiza o acompanhamento da vitima de abuso sexual emitindo laudos sobre as condições
psicológicas, sociais e de corpo de delito, com intuito de fornecer um diagnóstico preciso sob o caso
em investigação que servirá de prova e base para o processo judicial.
6.7. O PODER JUDICIÁRIO
O Poder Judiciário no que se refere ao assunto em foco é representado pelo juiz da Vara da Infância e
Juventude, o qual é competente para conhecer e julgar casos encaminhados pelo Conselho Tutelar,
devendo este aplicar as medidas cabíveis, como exemplo os casos de abusos envolvendo crianças e
adolescentes, pois cabe ao judiciário o julgamento de tais crimes, respeitando o princípio da proteção
integral e da prioridade absoluta.
O artigo 141 do ECA no que diz respeito ao Poder Judiciário enfatiza o direito da criança e
adolesecente ao acesso à Justiça quando diz que: “[...] é garantido o acesso de toda criança e
adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus
órgãos.”
Assim também, é garantida constitucionalmente que assistência judiciária gratuita será prestada de
forma gratuita, através de defensor público ou advogado nomeado e as ações judiciais da
competência da Justiça da Infância e Juventude são isentas de custas e emolumentos conforme os
artigos 141, §1 e 2 da Constiuição Federal.
Assim também no que diz respeito ao Poder Judiciario no artigo 150 do ECA determina que “Cabe
ao Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de
equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da Infância e da Juventude”.
Seda (apud ISHIDA, 2013, p. 219), discorre sobre a grande mudança trazida pelo ECA em relação ao
Judiciário, nos seguintes termos:
[...] a grande mudança que o Estatuto trouxe, em relação ao Judiciário, pode ser assim
resumida: antes, falhando a família, a sociedade e o Estado, a criança e o adolescente
afetados eram juridicamente considerados ‘em situação irregular. Agora, se crianças e
adolescentes forem afetados em seus direitos quem está em situação irregular é quem
ameaçou ou violou tais direitos
Quando se trata de assuntos referentes à criança e adolescente as ações devem ser encaminhadas para
a Vara da Família, mas tratando-se de casos de situação de risco, é de competência da Vara da
Infância e Juventude.
Sendo assim, percebe-se a importância da criação de Varas Especializadas, por isso, no artigo 145 do
ECA diz o seguinte:
Em se tratando de Varas especializadas nesse assunto, foi realizada uma pesquisa de campo na 9ª
Vara Criminal desta capital, onde foi fornecida com autorização do Dr. Juiz Afonso Bezerra de Lima
algumas informações dadas pela assistente social (Marylanda Lopez Silva) e a psicóloga (Adla
Kariny Fonseca Bandeira), quais sejam:
Pois há necessidade de uma avaliação do Serviço Social conjuntamente com a avaliação psicológica
frente a tal situação que a criança está sendo vítima, assim também o pedagogo faz parte dessa
avaliação paralela, pois a partir desse atendimento realizado por esses profissionais é que dará base
para manifestação do ponto de vista técnico, servindo de subsídio para fins judiciais, de acordo com
o artigo 151 do ECA.
No que diz respeito a criação, tem-se que inicialmente foi criada a 11ª Vara Criminal pela Lei
Complementar nº 88/2005 e depois com a Lei Complementar nº 140/2011 alterou o Código de
Organização Judiciária e a 11ª Vara Criminal passou a se chamar 9ª Vara Criminal que estabeleceu
como competência exclusiva de processar e julgar os crimes contra criança e adolescente.
No que tange as dificuldades encontradas para combater tal crime, faz-se necessário esclarecer que é
por conta da própria natureza do crime que em muitos casos envolve questões familiares, e o silêncio
por parte dos envolvidos, dificultando as evidências materiais do crime e a celeridade do processo
judicial, restando muitas vezes apenas a fala da criança e/ou adolescente. O medo da denúncia e do
enfrentamento ao agressor por parte da família e da comunidade, o que dificulta o rompimento do
ciclo da violência e a responsabilização.
Assim também a Vara só atende a demanda dos casos da capital, com exceção das precatórias de
outros Estados e/ou municípios onde por vezes solicitam diligências. Porque no interior existem as
varas embora não sejam especializadas, elas julgam tais crimes.
Entretanto há dificuldades para garantir a agilidade entre os órgãos que funcionam nesse complexo
porque o crime de abuso sexual contra criança e adolescente é muito complexo, de cunho social,
psicológico e jurídico também pela responsabilização do agressor e quando o abuso sexual é
silencioso ainda é mais demorado porque não tem a prova material.
Em relação ao acompanhamento da vítima, este é feito por essa equipe da 9ª Vara Criminal. Como o
objetivo da justiça não é o atendimento, mas garantir a proteção da criança e do adolescente, com o
objetivo de reparar o dano que essa situação de abuso sexual causou à vítima e a sua família, sendo
encaminhados para as outras instituições de atendimento como o CREAS - Centro de Referência da
Assistência Social Da Prefeitura Municipal De São Luís das áreas onde a criança e sua família
residem, O Centro de Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente- CAISCA no Filipinho e/ou
Anjo da Guarda, o Núcleo de Saúde da Criança e do Adolescente do Hospital Materno Infantil, o
Hospital da Criança entre outros órgãos.
Por conta disso, o atendimento às vitimas é essencial, visto que o encaminhamento é feito justamente
para instituições que tenham em seu quadro de funcionários pessoas especialistas para lidar com essa
situação, pois caso não seja feita o devido atendimento especializado, pode haver algum agravamento
de tal situação já sofrida.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto no presente trabalho, fica o entendimento de que o abuso sexual infanto-juvenil
é um grande problema que atinge a nossa sociedade e se configura um dos tipos de violência mais
difícil de ser combatido, visto que a maioria dos casos acontece dentro de casa, no seio familiar,
praticado por pessoas da própria família da vítima, ficando assim mais complicado de ser coibido.
Pode-se inferir que o abuso sexual contra crianças e adolescentes é uma das maiores crueldades
praticada contra as mesmas, visto que elas ainda estão em fase de desenvolvimento, violando direitos
essenciais com essa conduta criminosa, dentre esses direitos, a dignidade da pessoa humana.
Nesse tipo de violência, principalmente quando se trata de abuso sexual intrafamiliar, é um problema
que não se resolve somente com a punição do abusador, mas também precisa de ajuda de
profissionais para uma orientação e atendimento médico e psicossocial tanto da vítima quanto da
família, esse atendimento é de suma importância, visto que se não for dado um atendimento
adequado, pode ocorrer a revitimização.
Desta forma, pode-se dizer que o abuso sexual é uma grande violação dos direitos humanos, visto
que são uma sequência de violação de vários direitos fundamentais, direitos esses que devem ser
preservados, pois são essenciais para o ser humano ter uma vida digna, pois apesar desses direitos
estarem determinados em documentos oficiais internacionais e nacionais, a maioria deles continua
sendo desrespeitados.
Sendo assim, a criança e o adolescente por serem pessoas em fase de desenvolvimento físico, mental
e social, que precisam de atenção redobrada, para que seja resguardado o melhor interesse da criança,
para isso foram criadas normas jurídicas que pudessem resguardar tais direitos, no âmbito
internacional através de Convenções, como também por meio da Constituição Federal, do Código
Penal, e principalmente do Estatuto da Criança e Adolescente, instrumentos fundamentais de
proteção do público alvo infanto juvenil.
Por conta disso, é fundamental a ação efetiva do Estado para combater essa violência, começando
com medidas preventivas, através de elaboração e implementação de políticas públicas voltadas a
proteção de crianças e adolescentes vitimas de qualquer tipo de violação de direitos, em especial,
crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual.
Mas também não basta somente a ação do Estado ao combate ao abuso sexual, a sociedade em geral
também é parte integrante dessa rede de proteção à criança e adolescente, visto que a Lei determina
além do Estado, a família e a sociedade tem o dever de zelar pela proteção integral desses menores,
visto que eles como qualquer ser humano, são sujeitos de direitos e merecem ser respeitados.
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