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RIO DE JANEIRO
2023
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RIO DE JANEIRO
2023
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1 INTRODUÇÃO
A sociedade em sua atual conjuntura vem questionando a aplicabilidade e eficácia, das medidas
socioeducativas, vendo-as como uma forma de impunidade, uma vez que a criminalidade, entre
menores de idade vem aumentando, assim como a reincidência criminal. Tendo como solução
para tal, a redução da maioridade penal, e as penas privativas de liberdade como punição para os
atos infracionais cometidos por menores.
O exposto trabalho, tem por objetivo abordar a eficácia das medidas socioeducativas, previstas no
Estatuto da Criança e do Adolescente, aplicada ao menor dos doze aos dezessetes anos, em
decorrência de atos infracionais e seu papel fundamental da ressocialização e reintegração do
menor infrator na sociedade, buscando a não reincidência no crime, utilizando de seu caráter
educativo, para tal.
Buscando analisar o aspecto social dos menor e do crime, visto que em sua maioria são homens,
pretos e de origem periférica.
Por fim o foco se dará acerca da discussão acerca da redução da maioridade penal, buscando uma
análise com viés social, buscando o conhecimento de diversos juristas, doutrinadores e
sociólogos, demonstrando argumentos contra e a favor.
Acerca da metodologia utilizada será de; abordagem de pesquisa qualitativa, de natureza básica,
objetiva, descritiva e bibliográfica.
2 HISTÓRIA DA INFANCIA
Para darmos início ao tema, é necessário que falemos sobre a evolução histórica dos direitos da
criança e dos adolescentes, sendo importante ressaltar como os menores eram tratados em
diferentes períodos de nossa história.
É uma tarefa árdua, escrever sobre a história da infância e da luta por seus direitos, devido a
pouca e documentação e registros dos mais antigos períodos, entretanto “sabe- se, com certeza,
que crianças e adolescentes foram alvos de ações criminosas ou omissões praticadas pelos pais ou
responsáveis, desde a mais remota Antiguidade, em todas as culturas, em todos os tempos.”
Colocar citação.
Conforme o psico-historiador Lloyd de Mause (1975),
Todavia, somente no século XIX, a criança passou a ser considerada como indivíduo de
investimento afetivo, econômico, educativo e existencial. Assim, a criança passa a ser, indivíduo
central dentro da família que, por sua vez, passa a consistir em lugar de afetividade.1
1
BARROS, Nívia Valença. Violência intrafamiliar contra criança e adolescente. Trajetória histórica, políticas
sociais, práticas e proteção social. Rio de Janeiro, 2005. 248f. Tese (Doutorado em Psicologia), Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro.
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No Brasil Colonial, não se falava em direitos infanto-juvenis, uma vez que: As primeiras crianças
chegadas ao Brasil (mesmo antes de seu descobrimento oficial) vieram na condição de órfãs do
Rei, como grumetes ou pajens, com a incumbência de casar-se com os súditos da Coroa. Nas
embarcações, além de “obrigadas a aceitar abusos sexuais de marujos rudes e violentos”, eram
deixadas de lado em caso de naufrágio. (DAY et al., 2003 apud BARROS, 2005, p. 71)
É com início da era contemporânea, que podemos observar avanços e mudanças, no que tange os
direitos das crianças e dos adolescentes.
Entretanto a precariedade da vida infantil ainda ocorria, temos como exemplo a revolução
industrial, com início no século XVIII, onde os menores trabalhavam em condições degradantes e
insalubres, onde muitas vinham á óbito devido a exploração e a desnutrição.
Advindo na sociedade o sentimento de que a situação na qual estes indivíduos se encontravam
eram injustas e que deveriam receber proteção social e jurídica.
Como consequência, surge a primeira manifestação dos direitos à infância, em 1919, sucedendo a
criação do comitê de proteção da infância, consolidando no âmbito internacional, as obrigações
coletivas em relação a criança.
Foi na próxima década em que aconteceu uma grande conquista para a proteção social das
crianças, com a criação da Save the Children, que tinha como finalidade prestar auxílio as
crianças órfãs, vítimas da primeira guerra mundial.
Com o fim da segunda guerra mundial, fundou-se a organização das nações unidas (ONU),
trazendo consigo a declaração universal dos direitos humanos e a criação do Fundo Internacional
de Emergência das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), havendo a recomendação de que as
crianças deveriam ter direito de proteção especial.
Em 1978 entra em vigor o Pacto de São José da Costa Rica, visando questões relativas à infância,
temos em 1985 a criação de regras mínimas para as nações unidas administrarem o Direito da
infância e juventude. Diante, disso, ocorre as primeiras movimentações para o direito infanto-
juvenil e para que haja a constitucionalização das garantias das crianças e dos adolescentes.
Com o cenário propicio e com as constantes evoluções que estavam ocorrendo, os menores,
passam à ser possuidores de direitos e garantias, em 1989, há a reunião de membros de vários
países para a elaboração de um documentos, que buscou efetivas os direitos preconizados.
A convenção internacional sobre os direitos da criança e dos adolescentes, foi aprovada em 1989,
resultado de um esforço entre diversos países. Tornando-se um marco, quando se fala em
proteções e garantias das crianças e dos adolescentes, uma vez que trouxe em seu texto regras de
procedimentos flexíveis e adaptáveis. Tendo como objetivo a implantação do desenvolvimento
pleno e harmônico das crianças, favorecendo o crescimento em um ambiente familiar saudável.
Há época do império do Brasil, com Dom Pedro I, outorgada em 1824, houve a constituição
política, onde se quer mencionava, direitos, garantias e proteção à criança e ao adolescente.
Situação essa, que se repetiu com a promulgação da república dos Estados unidos do Brasil, em
1891.
Em, 1934, com a constituição promulgada, há pela primeira vez, referências aos direitos das
crianças, em seu título IV, “Da ordem Econômica Social”, art. 1382, entretanto nada muito
extenso, ou que se cause grande impacto na sociedade, estabelecendo critérios para o “menor
trabalhador”.
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Art. 138 - Incumbe à União, aos Estados e aos Municípios, nos termos das leis respectivas: a) assegurar amparo aos
desvalidos, criando serviços especializados e animando os serviços sociais, cuja orientação procurará coordenar; b)
estimular a educação eugênica; c) amparar a maternidade e a infância; d) socorrer as famílias de prole numerosa; e)
proteger a juventude contra toda exploração, bem como contra o abandono físico, moral e intelectual; f) adotar
medidas legislativas e administrativas tendentes a restringir a moralidade e a morbidade infantis; e de higiene social,
que impeçam a propagação das doenças transmissíveis; g) cuidar da higiene mental e incentivar a luta contra os
venenos sociais.
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Segundo o entendimento de Bitencourt (2009, p. 39, por meio desta carta magna “a população
infanto-juvenil deixa de ser tutela tutoria/discriminatória, para torna-se sujeito de direito”
E notório o longo caminho percorrido, para que as crianças e os adolescentes pudessem ter seus
direitos e garantias, constituídos em lei, sendo marcante para tal, a criação do estatuto da criação
da criança e do adolescente em 1990, elevando ainda mais.
É inegável que os direitos das crianças e dos adolescentes, no Brasil, percorreu um caminho
extenso, repleto de desafios e dificuldades, sendo marcado por avanços significativos morosos ao
longo das décadas.
A criação do Estatuto da criança e do adolescente representou um grande marco ao estabelecer
direitos fundamentais e proteção contra o trabalho infantil e a exploração sexual, Conforme
Alberton (2005), no ECA as crianças e os adolescentes passaram a ser reconhecidos como
“Sujeito de Direitos” de “Prioridade Absoluta”.
Percorrendo seu texto é visível o avanço que há no sentindo de suas garantias, comparado aos
textos que o antecederam, estabelecendo que nenhuma criança ou adolescente será objeto de
qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, sendo
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais,
conforme se preconiza em seus art. 3º3, 4º4, 7º5 e no caput do art. 19°6
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Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo
da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes f
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Conforme Freire Neto (2011), por meio desse dispositivo, o legislador buscou pôr a
salvo as crianças e os adolescentes perante qualquer arbitrariedade por parte do Estado, da
família ou da sociedade.
O art. 1317 do ECA, traz em seu texto a criação do conselho tutelar, que é o órgão, permanente,
autônomo e não jurisdicional, que, tem por objetivo proteger e defender o direito da criança e do
adolescente, consignando que em seu art. 1328, que em todo município brasileiro haverá de ter,
um conselho tutelar.
Nessa esteira, o Estatuto da Criança e do Adolescente veio para inovar o Direito Infantojuvenil,
através da adoção da doutrina da proteção integral. Sendo essa concepção, conforme Liberati
(2010, p. 15) “[...] baseada nos direitos próprios e especiais das crianças e adolescentes, que, na
condição peculiar de pessoas em desenvolvimento, necessitam de proteção diferenciada,
especializada e integral (TJSP, AC 19.688-0, Rel. Lair Loureiro).
Corroborando com este pensamento, Amaral e Silva (1989 apud PEREIRA, 2008, p. 24)
pontuam que:
[...] a Doutrina Jurídica da Proteção Integral preconiza que o direito do menor não deve
se dirigir apenas a um tipo de menor, mas sim; a toda a juventude e a toda a infância, e
suas medidas de caráter geral devem ser aplicáveis a todos os jovens e a todas as
crianças. Como medida de proteção deve abranger todos os direitos essenciais que
fundamentam a Declaração.
3.1 DA ADVERTENCIA
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Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta
prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária
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Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais
públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência
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Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente,
em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas
dependentes de substâncias entorpecentes.
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Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de
zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei.
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Art. 132. Em cada Município e em cada Região Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um)
Conselho Tutelar como órgão integrante da administração pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos
pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1 (uma) recondução, mediante novo processo de
escolha
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No título, temos a primeira medida socioeducativa, sendo ela a advertência, consignada no art.
115 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que “a advertência consistirá em admoestação
verbal, que será reduzida a termo e assinada”9
Ou seja, em português claro, admoestação significa, aviso, repreensão, dada pelo Juiz.
A advertência consiste na repreensão oral, realizada pelo Juiz da Vara da Infância e Juventude,
tendo por objetivo reprimir o menor por sua conduta, e em caráter preventivo e pedagógico,
reafirmar os valores éticos e sociais e prevenir uma nova ocorrência, sendo esta a mais brandas
das aplicadas.
Quanto a sua aplicabilidade, nos auxilia o doutrinador Bruno Schnell, aduzindo que “A
advertência deve ser aplicada e executada pelo próprio Juiz da Vara da Infância e Juventude,
esgotando-se na ação do juiz, pois não se prolonga em determinado espaço de tempo. A aplicação
dessa medida socioeducativa somente é cabível quando há a prática de atos infracionais análogos
a contravenções penais ou crimes de natureza leve, sem que haja indício de nenhuma violência ou
grave ameaça. Será aplicada, assim, sempre que houver prova da materialidade da infração e
indícios suficientes de autoria (art. 114, § único).”10
3.6 DA INTERNAÇÃO
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VADE MECUM. Estatuto da Criança e do Adolescente. 32. ed, São Paulo: Saraiva, 2021, p. 849.
10
SCHNELL, Bruno. O Instituto da Advertência no Estatuto da Criança e do Adolescente. Jus Brasil, Rio de Janeiro,
2017. Disponível em: < https://encurtador.com.br/GLS46>. Acesso em 12/11/2023.
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O ECA, em seu artigo 103, define o ato infracional como sendo “toda conduta descrita como
crime ou contravenção penal” Ato este, praticado por crianças e adolescentes com idade inferior a
18 anos.
Assim como preleciona Napoleão X Amaramantes:
Desta forma, quando ha a pratica de um ato infracional por um menor de idade, o Estado não
pode ficar omisso, Diante disso o estado instituiu as denominadas medidas socioeducativas, que
têm por objetivo educar e ressocializar o menor, para que não haja reincidência da pratica
infracional.
Quando se ocorre a pratica de um ato infracional, sua apuração ocorre em momentos diferentes.
Num primeiro momento é quando se existe o flagrante, podendo o menor ser apreendido durante
ou após o fato, por ordem fundamentada de um Juiz, sendo encaminhado para a delegacia de
policia onde será encaminho a autoridade judiciaria. Já na hipótese de flagrante com o emprego
de violência ou grave ameaça, o procedimento é semelhante ao da prisão em flagrante , onde há a
condução do menor para a delegacia de policia, com a lavração do auto de apreensão, com a
outiva das partes envolvidas.
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conceder ou não. Do mesmo modo ocorre com o arquivamento. Uma vez requerida a remissão ou
o arquivamento nessa audiência informal, discordando o juiz do pedido, este será remetido ao
Procurador Geral de Justiça, que oferecerá a representação ou nomeará outro membro do
Ministério Público para oferecê-la. Caso, o Procurador Geral de Justiça concorde com o pedido
de remissão ou arquivamento o juiz estará obrigado a acatar tal posicionamento. Por fim, o
terceiro momento de apuração do ato infracional é a hipótese do inciso III, do art. 180 do Estatuto
da Criança e do Adolescente que se refere a representação ofertada pelo Ministério Público que
dá início ao procedimento judicial. A representação equivale à denúncia apresentada pelo
Ministério Público contra o imputável nos processos de apuração de crimes e contravenções
penais. Aqui, tem ela por finalidade propor a instauração de procedimento para a aplicação da
medida socioeducativa. Deve ser oferecida por petição, contendo o nome do menor, breve
resumo dos fatos, rol de testemunhas e classificação do ato infracional. 19 VADE MECUM.
Estatuto da Criança e do Adolescente. 9. ed, São Paulo: Saraiva, 2010, p. 1069. 22 Oferecida a
representação, será designada audiência de apresentação na qual serão intimados a comparecer o
adolescente, seus pais ou responsáveis acompanhados de um advogado
DA REDUÇÃO Da maioridade
3. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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MATTAR NETO, João Augusto. Metodologia Científica na Era da Informática. São Paulo:
Saraiva, 2002.