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O FENÓMENO DA PROSTITUIÇÃO INFANTIL EM ANGOLA COMO

ATENTADO AOS DIREITOS HUMANOS.

Josué Campos Tomé1

"Ninguém desonre a sua filha tornando-a


uma prostituta; se não, a terra se entregará
à prostituição e se encherá de perversidade”.
Levítico 19:29

1. Introdução

A República de Angola está localizada na Costa Atlântida Sul da África Ocidental,


com uma população de cerca de 31 127 6742 (Trinta e um milhões e sento e vinte sete mil
e seiscentos e setenta e quatro) habitantes, sendo 52% do sexo feminino. Com um PIB
1
Nominal de US$ 131 407 mil milhões e renda per capita de US$ 6 12, tendo uma taxa de
desemprego de 30,7%, equivalente a 4.150.676.00 (Quatro milhões e cento e cinquenta
mil e seiscentos e setenta e seis) habitantes (sendo 1.878.984.00 homens e 2.271.692.00
mulheres)3, totalizando 29,2% de homens desempregados e 32,2% de mulheres
desempregadas. Com um índice de pobreza de 46,6%4 e com uma taxa de inflação de
20,2 % em média.
Tendo como grandes desafios actuais, a redução da dependência do petróleo, a
diversificação da economia, a reconstrução das infraestruturas, o aumento da capacidade
institucional, a melhoria dos sistemas de governação e da gestão das finanças públicas,
dos indicadores de desenvolvimento humanos e das condições de vida da população. Sem
esquecer que há segmentos consideráveis da população que vivem em situação de
pobreza, sem o acesso adequado a serviços básicos e o país poderia beneficiar de políticas
de desenvolvimento mais inclusivas.

1 Licenciado em Direito pela Universidade Católica de Angola; Formado e capacitado em Direitos


Humanos na perspectiva prático-forense pela Clínica Jurídica de Direitos Humanos da Universidade
Católica de Angola; Assessor Jurídico Júnior; Voluntário da Clínica Jurídica de Direitos Humanos da
FDUCAN e Defensor de Direitos Humanos.
2
https://www.ine.gov.ao/images/Projeccao_Populacao_2020.pdf, consultada aos 05/02/2020.
3
https://www.ine.gov.ao/images/Desemp_IEA.pdf , consultada aos 05/02/2020.
4
https://www.ine.gov.ao/images/banners/pobreza.png, consultada aos 05/02/2020.
E este presente estudo, reúne um breve levantamento de informações e dados
sobre a situação da violação de direitos humanos na modalidade de exploração sexual de
meninas e adolescentes no território angolano. Mas, actualmente, e que pouco se fala
sobre o tema proposto, que na verdade deve ser denominado como exploração sexual
comercial infantil que vem assolar a região toda do país. Situação que se consubstancia
em um verdadeiro atentado aos Direitos Humanos e que maior parte de nós se cala.
Sempre que nos referimos à “Exploração”, temos de falar sobre os Direitos
Humanos, pois não é possível falar de Exploração sem se referir à segunda. E nesse
estudo, vamos abordar a questão da prostituição infanto-adolescente, de como isso de
facto é uma verdadeira e crasso atentado aos Direitos Humanos, as causas subjacentes à
essa prática, os mecanismos de protecção, planos de acção entre a sociedade civil e o
Governo e realidade caso a caso.

2. Exploração Sexual Infanto-adolescente na Realidade Angolana na Forma de


Prostituição Consentida.

2.1. Problemas conceituais 2


No ano de 1996, na Suécia (em Estocolmo) ocorreu o Iº Congresso Mundial de
Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Neste, foi definido o
conceito de exploração sexual comercial infantil. E em 2001, no Japão, ocorreu o IIº
Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes,
no qual foi ratificada a existência de quatro (04) modalidades de exploração sexual
infantil, sendo elas: prostituição infantil, pornografia infantil, tráfico para fins de
exploração sexual e turismo sexual. Estas quatro modalidades estão correlacionadas5.
A ideia aqui é o esclarecimento de questões intimamente terminológicas como:
violência sexual, abuso sexual, exploração sexual e prostituição infantil.
A primeira foi cunhada para designar toda e qualquer forma de violação dos
direitos sexuais de crianças e adolescentes. A segunda para designar toda intervenção
abusiva na sexualidade infanto-adolescente, com a característica de imposição, de abuso
do poder etário, do poder familiar ou do poder de autoridade. A terceira para designar toda

5
LIBÓRIO, Renata Maria Coimbra. Exploração Sexual Comercial Infanto-Juvenil: categorias
explicativas e políticas de enfrentamento. In: LIBÓRIO, Renata Maria Coimbra; SOUSA, Sônia M.
Gomes (organizadoras). A exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil: reflexões teóricas,
relatos de pesquisas e intervenções psicossociais. SP: Casa do Psicólogo, 2004; Goiânia, GO: Universidade
Católica de Goiás, 2004.
forma de abuso contra os direitos sexuais de crianças e adolescentes que tenha um
carácter comercial, isto é, que vise determinado lucro, ganho e vantagem. A quarta seria
na verdade uma subespécie de exploração sexual de crianças, onde essas são levadas a
prostituírem-se ou como pelo art. 2.º b) do Protocolo Facultativo à convenção sobre os
Direitos da Criança relativo à Venda de crianças, prostituição e pornografia infantis
«Prostituição infantil significa a utilização de uma criança em atividades sexuais
mediante remuneração ou qualquer outra retribuição». O nosso foco é nas duas últimas,
onde pode surgir a ideia de ter havido manifestação de vontade, mas não.
Porém, muitos autores sugerem usar o termo exploração sexual comercial de
crianças e adolescentes do que prostituição infantil, pois esta última é inadequado e é
mais fácil compreender pelo primeiro, pois ficará claro a responsabilidade dos adultos
nesta espécie de crime e tira da vítima a carga de discriminação que a palavra
"prostituição" possui. Assim, identificando a exploração sexual de crianças e
adolescentes como prostituição dá a entender que existe a corresponsabilidade delas, ou
dela, pressupõe a corresponsabilidade de quem está nessa situação, não levando em
conta a real situação da pessoa com o direito violado nem o estado de vitimização
3
vivenciada pelo sujeito6.
E foi a partir de 1990 que se adoptou o termo “exploração sexual” como uma
questão de cidadania e de Direitos Humanos e sua violação passa a ser considerada um
crime contra a humanidade. E no Iº Congresso, acima referido, o termo prostituição
relacionado a crianças e adolescentes foi abolido e adoptado o termo “exploração
sexual comercial contra crianças e adolescentes”, determinado pelo entendimento da
relação e estado de quem é vitimizado por esse processo7.
Os direitos humanos das crianças fazem parte dos direitos universais da
humanidade. Entretanto, seu reconhecimento é de data recente. A legislação sobre o
tema tem sua formulação iniciada com a Declaração sobre os Direitos da Criança
(1923), seguida da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), da Segunda
Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959), convergindo na Convenção sobre
os Direitos da Criança (1989), e na Declaração de Viena (1993)8.

6
MELLO, Leonardo Cavalcante de Araújo; FRANCISCHINI, Rosângela. “Exploração sexual comercial
de crianças e adolescentes: um ensaio conceitual”. Temas em Psicologia - 2010, Vol. 18, no 1, pp. 153–
165.
7
MELLO, Op. Cit.
8
https://www.unicef.org/angola/legislacao-sobre-os-direitos-das-criancas-de-angola , consultado aos
06/02/2020.
Na raiz de tudo que se quiser dizer e fazer sobre o tema da sexualidade infanto-
adolescente estão as questões da dignidade humana, da liberdade e do direito das
crianças. A exploração da criança e de adolescentes com finalidade sexual é uma
Violação e Crime contra os Direitos Humanos que acontece mediante pagamento em
dinheiro ou qualquer outra Retribuição.
A Constituição da República de Angola, no Capítulo sobre os Direitos,
Liberdades e Garantias, consagrou, como absoluta prioridade da família, do Estado
e da sociedade, a protecção dos direitos da criança e do jovem – art. 35.º, nºs. 6 e 7 –
nomeadamente:

 Educação integral e harmoniosa;


 Protecção da saúde;
 Condições de vida e ensino;
 Desenvolvimento harmonioso e integral;
 Criação de condições para a efectivação dos seus direitos
políticos, económicos, sociais e culturais.
4
E no Capítulo sobre os Direitos e Deveres Económicos, Sociais e Culturais,
garantiu a criança e aos jovens os direitos consagrados nos arts. 80.º e 81.º, destacando-
se a consagração constitucional do princípio do superior interesse da criança (art. 80.º,
nº 2, da CRA). Onde define no seu 80.º artigo, a criança como sujeito de Direitos,
devendo garantir, à estas, protecção contra todas as formas de abandono, discriminação,
opressão, exploração e exercício abusivo de autoridade, na família e nas demais
instituições, ter em atenção o seu superior interesse.

3. Das Causas

Uma das primeiras causas existentes é a extrema pobreza, mas de facto são
inúmeras outras causas, citando: falta de políticas públicas que respondam a todas as
demandas dos cidadãos, a desagregação da dinâmica familiar, a erotização das relações
sociais, o pouco ou nenhum investimento da sociedade no enfrentamento a este
fenómeno, a insuficiente ou falta de formação moral adequada baseada em referências
de valores e princípios, as novas tecnologias de comunicação que dão agilidade a
exploradores, permitindo a ampliação desse negócio ilegal, a tolerância social, o
analfabetismo e baixa escolaridade dos pais, o desemprego e inserção precária no
mercado de trabalho, precárias condições de moradia, rompimento de vínculos familiares,
abandono por parte dos pais decorrente das relações de gênero e baixa remuneração, etc.
Mas entre nós, não se aceita que a pobreza seja a causa de todo esse mal,
admitimos que seja apenas um factor de vulnerabilidade, pois os nossos mais velhos sem
juízo e sem moral aliciam essas meninas por causa das suas fragilidades. Por isso,
devemos deixar de associar a pobreza com este fenómeno, porque muitas dessas famílias
empobrecidas têm base de valores muito melhor construída e sedimentada do que
muitas outras de classe média ou dito “Alta”. Devemos parar de dar razão a esta
actividade só porque não há escolhas e que a pobreza impera ao ponto de se negar a
própria dignidade e valores morais.
São as condições socioe-conómicas que obrigam essas meninas a trabalhar para
ajudar a subsistência de casa, colocando-as em situações de riscos e fragilidades.
Do geral, o maior problema é a falta de auxílio dos pais que faz com que essas
crianças e adolescentes, em situações de extrema pobreza tornarem-se presas fáceis para
os pervertidos que buscam sexo fácil e barato, aliciando-as e levando-as para um mundo
5
de prostituição. Assim notamos que a convivência familiar tem mais impacto para tudo
isso porque quando uma mãe maltratada e com crianças no meio, isso revolta, e o caminho
para muitas é se autonomizar ou se libertar e aí entram para o mundo da prostituição
procurando sobreviver9.
A formação das crianças e jovens como futuros membros de uma sociedade10,
exige uma família bem estruturada, porque nesta se assimila, para toda a vida, os valores
fundamentais do homem e neste relacionamento estreito, em geral, que se baseia a
conduta de cada um dos cidadãos. Tudo começa com a família, se ela é desestruturada11,
associado à miséria e ao consumismo, isso acaba afetando negativamente uma criança
ou um adolescente.
Se o educar resulta da participação de todos e há problemas como estes, significa
que a família falhou, que os pais falharam.

9
RIBEIRO, Paulo Silvino. Prostituição Infantil: uma violência contra a criança. Disponível em:
http://www.brasilescola.com/sociologia/prostituicao-infantil.htm consultado à 08/02/2020
10 GASPAR, SILVIA. Famílias desestruturadas geram indivíduos desequilibrados.- Disponível em:
http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=281959. consultado à 08/02/2020.

11COSTA, Tarcísio José Martins. A Desestruturação Familiar e a Conduta Juvenil Desviada.


Disponível em: http://www.abmp.org.br/textos/312.htm. consultado à 08/02/2020.
Maior parte dessas crianças vivem numa realidade onde os pais os obrigam a
trabalharem e elas acabam se perdendo em um mundo que não deveriam viver,
prostituição.

Maria Amélia Bracks Duarte (Procuradora de Trabalho no Brasil)12 alerta que a


criança ou o adolescente não são realmente prostitutos e sim prostituídos e que estas não
se prostituem, mas são prostituídas pela sociedade, pela pobreza dos seus pais, pela
herança de violência doméstica, pela impunidade que campeia a legislação penal e pela
inactividades dos tribunais. Acresce que, os homens que se aliam a essa aberração, para
além de explorar as necessidades económicas das vítimas, tiram proveito da
vulnerabilidade social das meninas e adolescentes, que fogem da miséria de suas casas
e dos maus tratos de pais, padrastos, irmãos e das próprias mães.
Quem seriam esses indivíduos? Como testemunha ocular e sem medo, confirmo
que são pais de famílias (mas sempre preocupados em proteger e controlar seus filhos
para não caírem nessas práticas), são titulares de cargos públicos, juízes, procuradores,
militares, agentes de polícia, juristas, médicos, bombeiros, são estrangeiros13, são
doutores, pastores e muitos cidadãos com medo da violência nas ruas mas quando se trata
6
de explorar fragilidades nem se quer têm noção de que é a pior violência. Pois estes
violentam a infância, violentam o Desenvolvimento, violentam o crescimento integral e
violentam os Direitos das crianças, mas ao fim essas crianças é que são chamadas de
prostitutas.
De facto, é esta a triste realidade em Angola, pela extrema pobreza e pelas suas
necessidades, essas meninas vendem seus corpos, ingenuidade, virgindade e dignidade
e até infância para ter dinheiro que as ajudará no que comer, no que vestir e no que se
apresentar diante de outras em melhores condições.
Todavia existe prostituição neste processo, mesmo com espaço de liberdade, essas
crianças são objectivamente prostituídas. O facto de estas estarem em condição peculiar
de desenvolvimento não os coloca fora de um processo de prostituição, qualquer que seja

12
In CAIXETA, Tarciso. Cartilha Direitos Humanos. Disponível em
http://www.dhnet.org.br/dados/manuais/a_pdf/003_cartilha_dh_mg_bh.pdf consultado a
10/02/2020.
13 O denominado Turismo sexual que consiste na exploração sexual comercial de crianças e adolescentes

por pessoas que saem de suas cidades, regiões ou países, em busca de atos/satisfações sexuais. Essa prática
articula-se facilmente com as descritas anteriormente. MELLO; FRANCISCHINI, 2010, op. Cit.. p. 157.
Onde por meio de dados de 2017 da Organização Mundial de Turismo, anualmente três milhões de pessoas
no mundo viajam para ter relações sexuais com um menor. Facto significativo é que, na maior parte dos
casos, os autores de tais crimes não sabem que estão a cometer um reato. cf.
https://www.osservatoriodiritti.it/2018/03/27/turismo-sessuale-minorile-nel-mondo-italia-ecpat
sua participação, pois também são sujeitos de direitos e não objectos de tutela.
Lamentavelmente, existe uma espécie particular de exploração sexual, que
intrinsecamente exploratório, é uma prostituição explorada por outrem.14

4. Caso Angolano

A prostituição infantil, actualmente, é o Problema que está disseminado em todo


o País, sendo uma realidade tanto nos grandes centros urbanos quanto em pequenas
cidades, sendo também uma das mais sórdidas violações dos direitos de crianças e
adolescentes. Esse fenómeno tão complexo adquire contornos diversos e conta com a
participação assistida da maior parte dos intervenientes da sociedade civil.
Hoje vimos e ouvimos inúmeras denúncias de que meninas dos 12 aos 18 anos
vendendo os corpos por dinheiro e o fim é alimentar suas famílias e satisfazer suas
necessidades materiais. Todos vimos isso, mas poucos intervêm. Alguns questionam no
silêncio, outros participam nessa aberração e assassinato a um Direito Humano
Fundamental.
A prostituição infantil vem se destacando na população mundial, um conflito que
7
a sociedade vem vivenciando nos últimos tempos, pois a maioria dessas crianças e
adolescentes é de mulheres.
Em Angola apresento, com dados, os locais onde são exercidos esses tipos de
práticas:

I. Caso Luanda: districto urbano do Zango (Ferrari, Zango 3, Zango 4, na ilha


seca onde mãe e filhas juntas fazendo prostituição, na faixa etária dos 14-18
anos de idade; Kilamba local denominado “Povoado” e Bita, onde no primeiro
caso, as meninas cobram caro pelo serviços sexuais e no segundo, até 500 Kzs
serve como pagamento e a idade no geral é dos 13-18; Kikolo, Rangel, Golfe
2, Calemba 2, Ingombota, Samba e da Camama 1, onde a maioria se prostitui
para sustentar suas famílias;
II. Caso Sul de Angola: denúncias pelos Jornais relatam que muitas meninas no
sul do país vendem seus corpos pelo preço de feijão, menos de 700 kzs, meninas
dos 12 à 17 anos15 tudo por causa da situação da seca e extrema pobreza em que

14Consultar em https://angola.unfpa.org/pt/topics/jovens-e-adolescentes - consultada a 07/02/2020.


15
https://www.cmjornal.pt/mundo/africa/detalhe/meninas-vendem-se-por-menos-de-90-centimos-para-
sobreviver-a- fome-em-
vivem, e como escolhas, preferem partir para a prostituição;
III. Caso Zaire/Soyo: o de comum é mesmo prostituição, está na moda prostituir-
se para obter vantagens. Um caso específico é o Bar do Carinhoso, sito no
Kukala Kiako que alberga adolescentes praticantes dessa vida;
IV. As redes sociais contribuem muito, hoje, muitas dessas crianças com acesso
fácil a internet e facebook, expõem seus corpos. E com a falta de moralidade,
estão expostas a muitos riscos e uma delas é a prostituição infantil.
V. E muitos outros sem confirmação.

Vejamos que a população jovem constitui a maioria da população e diz-se até ser
a camada com maior e mais rápido crescimento proporcional de África. Assim, 65% da
população residente pertence aos grupos etários dos 0-14 anos de idade e 15-24 anos de
idade16, e maior parte deste com baixo ou nenhum nível de escolaridade, e convivem em
contextos de pobreza, vivendo nas áreas rurais e peri-urbanas.
Nesse conjunto de jovens, a idade média para o início da vida sexual está em torno
dos 13 anos e a proporção de mulheres que aos 19 anos já tiveram o primeiro filho é de
8
55%. Quanto às gravidezes, 3% ocorrem entre os 12 e 14 anos, 7% entre os 15 e 17 anos
de idade sendo que este facto contribui para cerca de 7,5% do abandono escolar.
Os dados apontam ainda que apenas 29% dos adolescentes e jovens (15-24
anos) tem conhecimentos em relação a transmissão do VIH e apenas 29% sabe quais
são as formas eficazes de evitar a transmissão17.
O que poderia estar por detrás de toda essa situação? Quem são os seus actores,
vitimas e há quem devemos culpar?
Estamos, pois, diante de um problema universal e transversal que, infelizmente,
existe em quase toda a parte. Essa maior parte da população feminina, em sua maioria
estão inclinados à prostituição. E a maioria alega a extrema pobreza e custo de vida,
afinal em termos de índice de pobreza em Angola, a nível global atingiu 40% de extrema
pobreza em municípios18, afectando 90% da população angolana.

angola?fbclid=IwAR3_eL6xV9CuztFpNdPm1CnfjJnZ9A9HqG1t3gmMwYf8S1e95g37ZQ_aeI0, lida
a 04/02/2020
16
Dados encontrados em https://ine.gov.ao/biblioteca-e-media/destaques/635-estrutura-etaria-da-
populacao-jovem a 07/02/2020.
17
https://www.ine.gov.ao/images/Populacao_Sociedade/Estudos_tematicos/Estudo_Tematico_Caracteristi
cas_dos_Jovens_em_Angola.pdf consultado a 07/02/2020
18
http://jornaldeangola.sapo.ao/economia/pobreza-extrema-em-40-por-cento-dos-municipios, consultada
a 10/02/2020
Temos em Angola, o Conselho Nacional de Acção Social (CNAS), criada em
2016 pelo Decreto Presidencial n.º 137/16 de 17 de Junho como um órgão de
concertação social e de acompanhamento das políticas públicas, de promoção e defesa
dos direitos da criança, pessoa com deficiência e outros grupos vulneráveis, dotado de
personalidade jurídica, autonomia financeira e administrativa. É o órgão a quem
competiria velar por essas situações, mas que infelizmente, não adoptou uma política
integral com foco na criança, algo conotado pelo Comité dos Direitos da Criança
aquando das Recomendações do Comité dos Direitos da Criança para Angola,
relativa a Convenção e dois Protocolos adicionais sobre Prostituição e Pornografia
Infantil e sobre as Crianças envolvidas em conflito Armado19, em 2018.

Mesmo nos relatórios de Direitos Humanos de Angola, Angola confirmou que


todas as formas de prostituição, incluindo a infantil, são ilegais. Infelizmente na prática,
os que têm a obrigação de denunciar e agir nada fizeram, apenas as ONG locais chegaram
em algum momento a expressar a preocupação com a prostituição infantil.

Foi codificado por Angola, os “11 Compromissos de Protecção à Criança”20, onde


definem um conjunto de tarefas essenciais e prioridades que devem ser desenvolvidas a
9
favor da criança, e coordena as políticas do governo para combater todas as formas de
abuso contra as crianças, incluindo o trabalho infantil ilegal, tráfico e exploração sexual,
compromisso 8.º nº 3, e).

5. Da criminalização e violação grave aos direitos humanos e à Lei

5.1. A Declaração Universal Dos Direitos Humanos (1948)


Esta, declara no art. 25.º em termos gerais o seguinte:
“Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar
a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação,
vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais
indispensáveis... A maternidade e a infância têm direito a cuidados
e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora
do matrimónio, gozão da mesma proteção social.”

19
http://www.servicos.minjusdh.gov.ao/files/cierndh_crc e_protocolos_observ_finais_2018.pdf.
20
https://www.unicef.org/angola/sites/unicef.org.angola/files/201805/11%20compromissos%20v%2%ba%20fo
rum%20da%20crian%c3%87a%202.pdf
Nesse dispositivo está claro o princípio da protecção integral da infância como
prioridade.

5.2. Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966)

Este pacto constitui um dos três instrumentos da Carta Internacional dos Direitos
Humanos junto com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Pacto
Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Cultural aprovado em 16 de dezembro
de 1966 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, que consagra o seguinte:

“Artigo 24.º
§1. Toda criança terá direito, sem discriminação alguma
por motivo de cor, sexo, língua, religião, origem nacional
ou social, situação econômica ou nascimento, às medidas
de proteção que a sua condição de menor requer por
parte de sua família, da sociedade e do Estado.
10
§2…
§3...”

Quando o pacto com exactidão afirma que “Terá direito sem discriminação
alguma por motivo de (…) situação económica (…) às medidas de protecção que a sua
condição de menor requer (…), não fala apenas de um simples direito, mas de inúmeros
direitos consagrados no Direito Internacional e no Direito Interno Angolano.

5.3. Convenção sobre os Direitos da Criança (1989)

A Convenção sobre os Direitos da Criança é o instrumento de direitos humanos


com mais aceitação na história universal, assinado por quase todos os países do mundo.
É um tratado que visa à proteção de crianças e adolescentes de todo o globo e ratificado
por Angola em 1990.
É uma Declaração Universal dos Direitos Humanos, voltada para as crianças
consagrando inúmeros Direitos, tais como:
 Direito ao Desenvolvimento;
 Direito à sobrevivência;
 Direito à educação de boa qualidade;
 Direito de acesso à cultura e aos meios de comunicação e informação;
 Direito à Infância;
 Direito à boa alimentação;
 Direito à assistência médica gratuita nos hospitais públicos sempre que
precisarem de atendimento;
 Direito à Liberdade ir e vir, conviver em sociedade e expressar ideias e
sentimentos;
 Direito à protecção de uma família, seja ela natural ou adoptiva, ou de um lar
oferecido pelo Estado se, por infelicidade, perderem os pais e parentes mais
próximos;
 Direito de não sofrer agressões físicas ou psicológicas por parte daqueles que
são encarregados da proteção e educação ou de qualquer outro adulto;
 Direito de ser beneficiada por direitos, sem nenhuma discriminação por raça,
cor, sexo, língua, religião, país de origem, classe social ou riqueza e toda
criança do mundo deve ter seus direitos respeitados;
11
 E Direito à uma nacionalidade.

Artigos da Convenção sobre os Direitos da Criança, cuidam claramente do direito


da criança em não sofrer a exploração sexual. E nos termos dos artigos 19º, 34º e 39º
abordam de forma explícita e directa a responsabilidade do Estado em garantir a proteção
da criança, promover a prevenção da exploração, impedir as condições que a favoreçam
e, nos casos de ocorrência de exploração, assegurar assistência adequada as vítimas.
São artigos que reflectem a preocupação emergente sobre o tema no cenário
mundial principalmente a partir da década de 198021.
Citando Jim Grant, Director Executivo do UNICEF de 1980 a 1995, “A
Convenção reconhece o direito de cada criança a desenvolver o seu pleno potencial
físico, mental e social, a expressar as suas opiniões livremente, e a participar nas
decisões que afectam o seu futuro. Esta nova ética vale para meninas e meninos; aplica-
se as crianças que vivem nas zonas rurais e áreas difíceis de alcançar, bem coma aquelas

21
MINAYO, M. C. S. e SOUZA, E. R. E possível prevenir a violência? Reflexões a partir do campo da
saúde publica. Ciência. Saúde Coletiva: pp. 7-32, 1999. Disponível em
http://www.scielo.br/pdf/csc/v4n1/7127.pdf
que vivem em cidades e zonas de difícil acesso; é tão valido para as crianças cujas
famílias e comunidades são pobres como para aqueles que estão em melhor situaçao; e
deve beneficiar as crianças pertencendo a raças, etnias, ou minorias religiosas, bem
coma os da maioria de uma dada sociedade. A Convenção é uma Carta de Direitos para
todas as crianças, e um código de obrigações para governos, comunidades e países, no
que diz respeito aos mais novos.”

E quanto à temática, a Convenção no seu art. 34º consagra:

“Os Estados Partes comprometem-se a proteger a criança contra todas


as formas de exploração e de violência sexuais. Para esse efeito, os
Estados Partes devem, nomeadamente, tomar todas as medidas
adequadas, nos planos nacional, bilateral e multilateral para impedir:

a. Que a criança seja incitada ou coagida a dedicar- se a uma


actividade sexual ilícita;
b. Que a criança seja explorada para fins de prostituição ou de 12
outras práticas sexuais ilícitas;
c. Que a criança seja explorada na produção de espectáculos
ou de material de natureza;
d. Pornográfica”

Mas infelizmente uma das inúmeras violações aos Direitos Humanos das Crianças é
exploração sexual de menores e Angola não foge essa triste realidade.

5.4. Protocolo Facultativo à convenção sobre os Direitos da Criança relativo à


Venda de crianças, prostituição e pornografia infantil.

Adoptado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 25 de Maio de 2000 e


ratificado por Angola em Julho de 2002. Este no seu art. 2º, al. a, define Prostituição
infantil como a utilização de uma criança em actividades sexuais contra remuneração ou
qualquer outra retribuição. E nos artigos seguinte obriga os Estados a contemplarem ou
tipificar esses actos como crimes, citando:
“Artigo 3

1. Todos os Estados Partes deverão garantir que, no mínimo, os


seguintes actos e actividades sejam plenamente abrangidos
pelo seu direito criminal ou penal, quer sejam cometidos a
nível interno ou transnacional ou numa base individual ou
organizada:

(…)

b) A oferta, obtenção, procura ou entrega de uma criança para


fins de prostituição infantil, conforme definida na alínea b)
artigo 2º.

5.5. Carta Africana sobre os Direitos e o Bem-Estar da Criança

Lançada em 1990 pelos estados-membros da Organização da União Africana e


ratificada por Angola em 1992, comportando 48 artigos, que no seu art. 27º com epígrafe
“Exploração Sexual”, onde consagra o comprometimento dos Estados em proteger as
13
crianças contra toda e qualquer forma de exploração sexual, descrevendo:

“Artigo 27 – Exploração Sexual

1. Os Estados Partes a presente Carta comprometem-se a


proteger a criança contra todas as formas de exploração
e abuso sexual. Para tal, os estados partes tomarão em
especial, todas as medidas necessárias por forma a
impedir que:
a) A criança seja induzida, cogida ou encorajadaa a
dedicar-se a qualquer actividade sexual;
b) Se use a criança na prostituição ou em outras
praticas sexuais;
c) Se use a criança em actividade, espectáculos e
materiais de natureza pornográfica.”

5.6. Código Penal

O lenocínio previsto no Código Penal em vigor foi revogado pela Lei sobre a
criminalização das infrações subjacentes ao Branqueamento de Capitais. Mas o nosso
legislador, na Proposta do Código Penal, aprovado na globalidade pela Assembleia
Nacional, porém ainda não em vigor, teve a preocupação de tratar sobre o assunto. E
apesar de a fase de criação da lei não ter terminado, porque não houve promulgação
pelo Presidente da República e nem publicação no diário da República, o nosso
legislador, sobre a matéria, prevê:

“Artigo 182.º

(Lenocínio de menores)
1. Quem promover, incentivar, favorecer ou
facilitar o exercício da prostituição de menor de
18 anos ou a prática reiterada de actos sexuais
por menor de 18 anos é punido com pena de
prisão de 6 meses a 6 anos.

2. (…)”

Apesar de ser um Direito a constituir, é clara a preocupação do nosso legislador


com esse fenómeno. E para mim, devemos considerar este crime como um crime sexual
contra vulnerável. Mas o nosso legislador na proposta do Código Penal, o tipifica como
crimes contra a autodeterminação sexual.
Mas no actual ordenamento jurídico-penal, todas e quaisquer relações sexuais
entre um adulto e uma criança menor de 12 anos são consideradas estupro e estão
potencialmente sujeitas a uma pena de oito a doze anos de prisão. As relações sexuais 14
com uma criança entre as idades de 12 e 17 anos, por mais consentimento que houver,
são consideradas abuso sexual e os infractores podem ser condenados a penas de dois a
oito anos de prisão, pois a idade legal para o sexo consensual é 18 anos. Mas o maior
problema não é este, é o insuficiente sistema judicial e os limitados meios de investigação,
por isso, até agora, não houve conhecimento de processos judiciais ligados à exploração
sexual infantil na modalidade de Prostituição Infantil.

5.7. Lei sobre a Criminalização das Infrações Subjacentes ao Branqueamento de


Capitais

Aprovado à 10 de fevereiro de 2014 com vista a criminalização do branqueamento


de capitais previsto na Lei n.º 34/11, de 12 de Dezembro, Lei e Combate ao
Branqueamento de Capitais e Financiamento ao Terrorismo22, onde tipifica como crime
esta actividade como crime de Lenocínio, descrevendo:

Artigo 22.º
(Lenocínio de Menores)

22
https://www.bna.ao/uploads/%7B41c3397d-e9db-4ea7-bdaa-524574b6f58c%7D.pdf. Acesso à
11/02/2020.
1. “Quem promover, incentivar, favorecer ou
facilitar o exercício da prostituição menor de 18
anos ou prática reiterada de actos sexuais por
menor de 18 anos é punido com pena de prisão
de 2 a 10 anos.

2. (…)”

5.8. A Lei 25/12, de 22 de Agosto - Lei sobre a Protecção e Desenvolvimento


Integral da Criança.

Esta lei, visa a materialização dos direitos da criança e do jovem consagrados na


CRA e a concretização das medidas adoptadas através dos “11 Compromissos” do
Estado Angolano com o Direito das Crianças.

Quanto a protecção da criança contra a exploração sexual, o Estado assegura


medidas legais e administrativas – artº 33º, al. a e b.

Uma das novidades desta lei é a criação no Capítulo VI, do Sistema de


Protecção e Desenvolvimento Integral da Criança, onde o legislador concretiza, 15
através da criação de um Sistema próprio e único, as incumbências dos actores
responsáveis pela garantia de um ambiente saudável e propício ao desenvolvimento
integral da criança; preconiza a sua articulada actuação, e atribui competência para a
respectiva coordenação ao Conselho Nacional da Criança (CNAC).

O Sistema de Protecção e Desenvolvimento Integral da Criança (SPDIC) «é


constituído pelo conjunto de leis, instituições e serviços que concorrem para a
salvaguarda e a promoção dos direitos da criança» art. 53º.

6. Do Plano de Acção para o Estado

Relembrando José Afonso da Silva: "o regime democrático se caracteriza não


pela inscrição dos direitos fundamentais, mas pela sua efetividade, por sua realização
eficaz"23, então é preciso um plano de acção onde exista as políticas sociais que possam
operar para enfrentamento à esse fenómeno.

A nossa CRA trouxe a doutrina da proteção integral para a criança e o


adolescente24, vendo-os como sujeito de direitos, assegurando-lhes todos os direitos

23
AFONSO DA SILVA, José. Curso de Direito Constitucional Positivo, 198 ed., Malheiros Eclicores,
2000, p. 169.
24
Artigo 35.º - Família, casamento e filiação: (…) 6. A protecção dos direitos da criança, nomeadamente,
a sua educação integral e harmoniosa, a protecção da sua saúde, condições de vida e ensino constituem
absoluta prioridade da família, do Estado e da sociedade.
fundamentais e os da pessoa em desenvolvimento. E a materialização deste grande
principio cabe ao Estado, mas não apenas na forma de Administração Central, mas sim
local, porque são esses que mais condições têm de combater esse mal que vai
corrompendo a sociedade, podendo preservar os direitos ameaçados e violados dessas
crianças e adolescentes a nível local.
Não nos adianta termos as melhores estradas, os melhores empreendimentos, as
melhores estruturas, os melhores aeroportos, os melhores monumentos e outros que não
tocam directamente na vida do cidadão quando temos problemas com educação, faltas
de escolas, falta de sensibilização geral, deficientes postos de saúde, o nenhum
investimento às famílias carentes. Porque hoje devemos considerar esse fenómeno como
uma questão de saúde pública.
Em termos de direitos humanos, esta é o pior escândalo da nossa época, porque
nem sempre é discutível a prostituição entre adultos (trata-se em alguns países como
prestação de serviços sexuais e noutros é realmente um trabalho profissional), mas por
parte de crianças e adolescentes, por consenso global, é uma aberração à sociedade.
Porque será esta geração que vai assumir o controle do país, das finanças e da sociedade.

Precisamos nos revoltar, nos mobilizar e acima de tudo nos indignar para mudar
todo esse contexto. Para isso, é preciso mais investimento na educação, na sensibilização,
criar-se equipas governamentais para o enfrentamento desse fenómeno, mais proteção
legal de um Ser em formação, mais infraestruturas aos conselhos tutelares de crianças,
como autonomia para a sua acção (não ficando dependente apenas de Decisões e Planos 16
de nível Central), mais ocupações escolares à crianças, como jornadas escolares e
palestras.

O maior problema que o Estado tem, é falta de harmonização das suas instituições,
falta de acção das suas instituições. Mas é este que deve zelar por estas crianças que estão
em maior vulnerabilidade. O que deve fazer é aplicar penas contra os pervertidos que
procuram sexo barato com crianças fragilizadas e dar assistência para crianças que já
estão no mundo da prostituição, para pelo menos dar uma perspectiva de vida para estes.

Precisamos estar cientes das consequências graves, porque essa actividade de


exploração compromete o desenvolvimento físico, psicológico, espiritual, moral e social
das crianças, sem contar com aa gravidez precoce, a mortalidade materna, o atraso no
desenvolvimento e as doenças sexualmente transmissíveis.

Não basta a positivação do fenómeno em leis, políticas e programas, é preciso


para a eficácia, uma vontade política do Governo Angolano, medidas de implementação
mais efectivas e adequação de recursos. E esta tarefa de combater a exploração sexual
comercial de crianças é uma responsabilidade do Estado e da família. Tendo também a
sociedade civil, apesar de inerte, um papel essencial na prevenção e protecção das
crianças, frente à exploração sexual comercial.

E se internamente não se encontra soluções, construamos uma sólida cooperação


entre os governos, como por exemplo o Brasil que com vasta experiência criou uma rede
de combate à exploração, incentivando a articulação dos governos – Federal, Estaduais
e Municipais – com o Legislativo, o Judiciário e o Ministério Público, além da
cooperação internacional e, principalmente, com a sociedade civil e grupos de
enfrentamento contra exploração sexual e prostituição infantil (sistema nacional de
combate ao abuso e à exploração sexual infanto-juvenil; plano nacional de
enfrentamento da violência sexual infanto-juvenil; comissão estadual interinstitucional
de enfrentamento da violência sexual de crianças e adolescentes; sistema de denúncia
por telefone (disque-100); implementação do dia 8 de maio como o dia nacional de
combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes)25/26), ou com as
organizações internacionais e todos sectores sociais para o enfrentamento deste
problema, criando mecanismos para o combate.

Conclusão

A prostituição infantil é um problema que vem se agravando todos os dias, mas


de que poucos falam. Estamos cientes da gravidade do problema, pois vimos, ouvimos
e lemos sobre essa situação, mas isso é insuficiente, precisamos agir e ter o Governo e a
sociedade como garantes e protectores das crianças e adolescentes. Infelizmente ninguém
está distante do problema, pois tal como acontece com as filhas dos outros, pode vir
chegar a alguém próximo a nós, ou mesmo filhos. Relembrando, em alguns casos não
se trata apenas de pobreza, as vezes é o desencaminho dessas meninas que lhes leva à
17
prostituição. Então devemos nos mover para dar solução a esse problema.
Os passos a dar para a concretização desse enfrentamento devem começar por
uma maior conscientização da população, começando por alertar que isso trará
consequências nefastas para a vida social e psicológica dessas meninas. Apenas com
políticas públicas duradouras de conscientização haveria muito menos procura por este
"serviço" infantil, e com certeza a prostituição infantil não conquistaria tantos clientes
como hoje conquista.
Para além da conscientização, devemos ser mais justos ou equilibrados na
distribuição da renda per capita em Angola, o que se diz, não existe ou nem se quer a
população angolana sente porque o custo de vida está cada vez mais alto. Se efectivarmos
isso, mulheres e crianças deixariam de se prostituir.
Os destinatários dessa conscientização devem ser os pais, principalmente e todo
aquele que acima mencionei como autores desse crime perverso, pois estes são os
investidores e ao mesmo tempo consumidores do mercado da prostituição infantil.
Em termos de estruturas, devemos criar instituições cujos fins e atribuições
específicas sejam a de enfrentar tal problemas, começando pela Acção da Assembleia
Nacional, (enquanto representante do povo, podendo aprovar leis específicas que

25
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso a ou ver todos os dados em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/mre000064.pdf
26
ABRAPIA - Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência. Do marco
zero a uma política pública de proteção à criança e ao adolescente – 0800-99-0500. Sistema Nacional
de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantojuvenil. Rio de Janeiro: Abrapia, 2004.
combatam essas práticas), o Titular do Poder Executivo e seus auxiliares (enquanto o
executor das questões sociais, criando comissões, lares de acolhimento, programas de
combate à prostituição infantil), a sociedade civil (devendo criar programas com vista a
manifestar o seu descontentamento com o problema), aos órgãos de comunicação social
(que devem cada vez mais usar suas plataformas e dar a entender sobre os problema de
facto e porque devemos combater), os Tribunais (que não devem em momento algum,
verificado essa situação, denegar Justiça ou não tomar posição), o Ministério Público
(enquanto garante da legalidade), as administrações municipais e provinciais (sabem dos
problemas locais e muitas vezes preferem não agir, quando deveriam), e tantos outros
órgãos capazes de enfrentar esse problema.
Todo esse elenco pode, a princípio, por meio do Instituto Nacional de Estatística
ou outro órgão similar, identificar as crianças e jovens que são prostituídos e explorados
(exploração das suas fragilidades), mapeando as regiões que frequentam. Podendo em
seguida, convocar os pais e responsáveis, e fazendo estes entenderem que, por sua
omissão, poderão ser punidos criminalmente.
Acredito serem medidas urgentes, pois sem acção alguma, estamos a criar uma
geração desonrosa. Porque são essas crianças que serão analfabetas, delinquentes, uns
traficantes e viciados, do amanhã. É esta a sociedade que queremos contruir para o
amanhã?
Então como sociedade, devemos dizer não a prostituição infantil, e tal como a
transmissão do HIV/SIDA de mãe para o filho, durante a gravidez, o parto e a 18
amamentação, também devemos lutar para tolerância zero à prostituição infantil.

Essas práticas ferem totalmente a moral, a ética, os bons costumes, o respeito,


dignidade da Pessoa Humana.
Por fim, vale ressaltar que apesar de termos já um conjunto de instrumentos
visados aos direitos das crianças, devemos ter outros instrumentos em específico para o
combate a exploração comercial de crianças e prostituição infantil que previnem e punem
a prostituição infantil. Assim, o que nos falta é a efectividade da justiça. Porque temos
alguns instrumentos, mas não possuímos uma polícia que investigue esses casos e a
desculpa é falta de tecnologia suficiente; temos os tribunais que infelizmente não
conseguem punir os infractores porque sempre há provas insuficientes e sem contar com
a excessiva morosidade dos trâmites processuais.
Assim, precisamos partir para o enfrentamento deste problema no paradigma da
Defesa dos Direitos Humanos, não isoladamente nem assumido por alguns, mas de todos
nós como uma sociedade com vista a uma Angola melhor e mais humana.
Referências Bibliográficas

ABRAPIA - Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência. Do marco


zero a uma política pública de proteção à criança e ao adolescente – 0800-99-0500. Sistema Nacional
de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantojuvenil. Rio de Janeiro: Abrapia, 2004;

AFONSO DA SILVA, José. Curso de Direito Constitucional Positivo, 198 ed., Malheiros Editores, 2000;

LIBÓRIO, Renata Maria Coimbra. Exploração Sexual Comercial Infanto-Juvenil: categorias


explicativas e políticas de enfrentamento. In: LIBÓRIO, Renata Maria Coimbra; SOUSA, Sônia M.
Gomes (organizadoras). A exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil: reflexões teóricas,
relatos de pesquisas e intervenções psicossociais. SP: Casa do Psicólogo, 2004; Goiânia, GO:
Universidade Católica de Goiás, 2004;

MELLO, Leonardo Cavalcante de Araújo; FRANCISCHINI, Rosângela. “Exploração sexual comercial


de crianças e adolescentes: um ensaio conceitual”. Temas em Psicologia - 2010, Vol. 18.

Legislação consultada:

Constituição da república de angola;


Declaração universal dos direitos humanos (1948); Pacto
internacional dos direitos civis e políticos (1966); Convenção sobre
os direitos da criança (1989);
Protocolo facultativo à convenção sobre os direitos da criança relativo à venda de crianças,
prostituição e pornografia infantis;
Carta africana sobre os direitos e o bem-estar da criança; Código 19
penal;
Lei sobre A Criminalização Das Infrações Subjacentes Ao Branqueamento De Capitais.
Lei 25/12, de 22 de agosto – Lei sobre a Protecção e Desenvolvimento Integral da Criança;

Sites consultados:
http://noticias.cancaonova.com
http://www.dhnet.org.br
https://www.osservatoriodiritti.it
https://angola.unfpa.org/pt/topics/jov
https://www.ine.gov.ao
http://jornaldeangola.sapo.ao
http://www.servicos.minjusdh.gov.ao
https://www.unicef.org
https://www.bna.ao
https://www.cmjornal.pt

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