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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

TRÁFICO HUMANO INFANTO-JUVENIL

Nathalia Vieira de Oliveira


Londrina- PR 2023

SUMÁRIO
Introdução…………………………………………………………………………............1
Conceitos gerais…………………………………………………….……....…………….2
2.1Tipos de tráfico………………………………………………………………...3
2.2 Perfil do aliciamento……………………………………………...……..……4
Crianças e adolescentes…...…………………………………………………………….5
3.1 Exploração sexual infanto juvenil……………………………..……………6
3.2 Modalidades de exploração relacionadas ao tráfico de crianças e
adolescentes..............................................................................................................7
3.3Rotas dos tráficos e Classificação………………………………………...13
3.4 Shores of Grace………………………………………………………….......14
Conclusão………………………………………………………………………………....15
Biografia……………………………………………………………………………….......16
O tráfico humano é mais do que uma grave violação da
lei. É uma afronta à dignidade humana.
INTRODUÇÃO
O tráfico humano é a terceira prática ilegal mais rentável do mundo, apenas
atrás da compra e venda de armamentos e drogas. Para John Roberts, juiz-chefe dos
Estados Unidos, o contexto da comercialização humana está diretamente ligado à
escravidão, podendo ser considerada “sua evolução moderna”. Já a Organização das
Nações Unidas (ONU), no Protocolo de Palermo, define tráfico de pessoas como:
“O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de
pessoas, recorrendo-se à ameaça ou ao uso da força ou a outras formas de coação,
ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade
ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benéficos para obter o consentimento
de uma pessoa que tenha autoridade sobre a outra para fins de exploração.”
Em outras palavras, o tráfico é o aliciamento e transporte de indivíduos usando
de coerção - como a força -, a fraude, o abuso da situação de vulnerabilidade com o
propósito de explorá-los.
A prática criminosa é muito lucrativa. Segundo o Escritório das Nações Unidas
sobre Drogas e Crimes (UNODC), o crime movimenta cerca de 32 bilhões de dólares
por ano e o lucro em cima de cada vítima pode chegar a US$30 mil por ano, pois é
uma “mercadoria” que pode ser vendida várias vezes. E o tráfico humano pode ser
para fins de atividades sexuais comerciais (prostituição, turismo sexual, pornografia),
mas também para trabalho forçado e escravo (na agricultura, na pesca, nos serviços
domésticos, na indústria) e também para extração de órgãos e adoção ilegal. Destes,
o Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas (UNODC), indica que a exploração sexual
é a finalidade mais comum do tráfico humano perpetrado em todo o mundo, atingindo
quase 80% das vítimas. Do valor arrecadado, cerca de 85% provêm de exploração
sexual.
Segundo a Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para
fins de Exploração Sexual Comercial - PESTRAF -, as mulheres geralmente são
traficadas nas 120 das 131 rotas internacionais, já as adolescentes geralmente são
levadas por rotas intermunicipais e interestaduais ou até em países da América do
Sul.
O tráfico humano apresenta uma forte ofensa aos direitos humanos e uma
afronta à dignidade, pois os aliciadores usufruem do enfrentamento da vítima em face
das diversas questões da expressão social para, por meio de coerção e engano,
traficá-las. Portanto, é imprescindível a atuação da assistente social na prevenção e
também em situações de pessoas que já são vítimas do tráfico humano e porventura
conseguiram escapar, juntamente com outros órgãos e Estado.

CONCEITOS GERAIS
2.1 TIPOS DE TRÁFICO HUMANO
● Tráfico para Exploração de Trabalho
Essa modalidade inclui o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas
similares à escravatura e “servidão”. É todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa
sob ameaça de sanção e para o qual não se tenha oferecido espontaneamente. Essa
modalidade inclui primeiramente a proposta de trabalho em condições inegáveis, mas
vem acompanhando sanção - violência, confinamento, ameaça de morte ao
trabalhador e a seus familiares, confisco de documentos pessoais e até manipulação
psicológica. Além disso, a vítima pode se ver em uma “servidão por dívida”, pois vai
com a promessa de trabalho e após um tempo pode ser cobrado dela tudo que
envolve sua viagem e permanência no local de trabalho - viagem, alimentação,
habitação e outros, assim, se vê em uma situação de trabalhar para pagar uma dívida
que não fora acordada anteriormente. Nos países industrializados e em transição, mais
de 75% do total de trabalhadores forçados são vítimas do tráfico de pessoas. Quanto
ao trabalho infantil, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) calcula que há mais
de 5,7 milhões de crianças vítimas de exposição do trabalho no mundo.
● Tráfico para Remoção de Órgãos
O fator determinante é a falta de órgãos em relação à demanda por
transplantes. A cooptação das vítimas geralmente ocorre em regiões assoladas pela
miséria e pela falta de acesso ao conhecimento, em que as pessoas são convencidas
a vender um de seus órgãos ou enganadas para fazê-lo em troca de dinheiro ou de
objetos.
● Tráfico com fins de exploração sexual
Forma de obter benefícios financeiros ou outros, através do envolvimento da
vítima na prostituição, servitude sexual ou outros tipos de serviços sexuais, incluindo
atos pornográficos ou a produção de materiais pornográficos. O programa Mujer,
Justicia e Genero (2000) constata que a América Larina e o Caribe são as regiões com
maior número de mulheres e meninas aliciadas para a indústria do sexo. A exploração
sexual comercial ocorre tanto nos casos voluntários no mercado do sexo, como maior
número de mulheres e meninas aliciadas para a indústria do sexo. A exploração sexual
comercial ocorre tanto nos casos voluntários no mercado do sexo, como o
involuntário.
● Adoção irregular
Ocorre geralmente através de esquema criminoso que aliciam e sequestram os
menores nos hospitais, nas ruas, saídas de escolas e cursos. O aliciamento ocorre
após o nascimento do bebê, pois os aliciadores ficam próximos sondando como é a
estrutura familiar. É possível observar essa prática na série Jane The Virgin, em que o
filho de Jane é observado desde a saída da maternidade até o devido sequestro. Além
disso, observam as condições da vítima. Há casos de corrupção hospitalar, em que os
informantes fazem parte da equipe do hospital e quando surge um possível alvo, há
contato com o aliciador. Muitas das adoções irregulares têm como intuito disfarçar a
prática de outros crimes, bem como a intenção de tornar a vítima futura trabalhadora
do sexo, ou para trabalho forçado ou extração de órgãos e tecidos, ou seja, a adoção
torna-se um meio para uma exploração final.

2.2 PERFIL DAS VÍTIMAS E AS DETERMINAÇÕES SOCIAIS


As vítimas do tráfico humano podem ser qualquer pessoa. Entretanto, no
relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), elaborado
em 2018, consta que as mulheres são as mais buscadas pelos criminosos. Todavia,
alguns estudiosos acrescentam que além das mulheres, as crianças e as adolescentes
fazem parte do foco destes criminosos - estes dois grupos, de acordo o Disque 100,
apontam 75% das vítimas. Segundo LEIDHOLDT e JESUS, 2003, p.19, o aliciamento
e o tráfico estão associados à “ausência de direitos, ou a baixa aplicação das regras
internacionais de direitos humanos; a discriminação de gênero, a violência contra a
mulher, a pobreza e a desigualdade de oportunidades e de renda; a instabilidade
econômica, as guerras, os desastres naturais e a instabilidade política.”, ou seja, os
traficantes atraem mulheres e meninas para as suas redes através de falsas
promessas de condições decentes de trabalho, sob pagamento relativamente bom em
empregos como babás, domésticas, dançarinas, trabalhadoras em restaurante,
vendedoras ou modelos.
As mulheres, geralmente na faixa etária de 22 a 24 anos, e as adolescentes,
geralmente na faixa de 15 a 17 anos, são em sua maioria pertencentes à classes
populares, com baixa escolaridade, habitando em espaços urbanos periféricos com
carência de saneamento, transporte e com um trabalho mal remunerado, sem carteira
assinada e sem garantia de direitos, com alta rotatividade e que envolvem uma
prolongada e desgastante jornada diária. Entretanto, ainda que a maioria dos casos se
enquadre nisso, não são todos os casos assim, podendo ocorrer também com
mulheres e meninas que possuem melhores condições de vida.
Ainda, quando se trata de adolescentes, geralmente as vítimas já sofreram
algum tipo de violência intrafamiliar (abuso sexual, estupro, sedução, atentado ao
pudor, abandono, negligência, maus tratos e outros) e violência extrafamiliar (onde a
violência ocorre em escolas, abrigos, redes de exploração sexual e outros). Com isso,
está associado ao desejo de migração, com o deslumbre do exterior, com foco em
melhor condição de vida, trabalho estável e consequentemente mais dinheiro.
No âmbito interno do tráfico de pessoas, associado à exploração sexual,
crianças são vendidas pelos próprios pais para a exploração sexual e a maior das
causas é a vulnerabilidade social. O turismo sexual e a pornografia infantil também se
enquadram neste aspecto. Com isso, conclui-se que o tráfico humano é o resultado
das contradições sociais, acirradas pela globalização e pela fragilidade dos Estados
Nações, aprofundando as desigualdades de gênero, de raça e de etnia.

CRIANÇA E ADOLESCENTE
Tráfico na terminologia jurídica exprime o comércio ilícito, a negociação. Nosso
País é um dos principais países da América latina a contribuir para o tráfico
internacional. Porém, ainda são escassas as informações disponíveis que dão uma
dimensão real do número de casos. As tentativas de mapeamento confrontam com a
ausência de legislação nacional adequada e de políticas públicas específicas. A
maioria das informações existentes no País sobre violações concentram-se na
exploração sexual, no trabalho infantil, na adoção internacional e na pedofilia, mas,
não são especificadas as redes que articulam o aliciamento, a movimentação, a
coação e a exploração final,que também dizem respeito ao tráfico.
A combinação entre a movimentação e a exploração é que caracteriza o tráfico.
As pessoas traficadas no mundo inteiro, entre elas, as crianças, são provenientes de
países do chamado Terceiro Mundo (Ásia, África, América do Sul e o Leste Europeu),
são encaminhadas, na maioria das vezes, para países desenvolvidos (Estados Unidos,
Europa Ocidental, Israel e Japão) onde são impostas à exploração sexual, em
condições análogas ao trabalho forçado, e até mesmo à escravidão. No último século,
o Brasil trocou sua condição de destino para fornecedor do tráfico internacional de
crianças.
O tráfico é essencialmente uma atividade lucrativa, que perde apenas para o
tráfico de drogas e o contrabando de armas, possui também a função de sustentáculo
para a consumação destes. A miséria e a desigualdade entre os países são fatores
que colaboram para o tráfico de crianças nos países subdesenvolvidos. Vê-se aqui
relacionados o abuso doméstico e a negligência, conflitos armados, consumismo, vida
e trabalho nas ruas, discriminação, ausência de direitos ou a baixa aplicação das
regras internacionais de direitos humanos, pobreza, desigualdade de oportunidades
e de renda, instabilidade econômica e política, entre outros, como a vulnerabilidade
da criança e do adolescente.
Algumas rotas do tráfico de crianças e adolescentes se confundem com as
rotas do tráfico de drogas e armas. Existe uma diferenciação do tráfico de mulheres
para o de crianças, isso decorre da condição específica de vulnerabilidade da criança.
No tráfico, a exploração está articulada com o mercado. Não ocorre apenas o abuso
ou a exploração sexual com este propósito, existe aqui o interesse na comercialização,
ou seja, na lucratividade. Identificar o tráfico de mulheres, crianças e adolescentes é
um trabalho de interpretar e analisar situações que se apresentam como tráfico
(aquelas oficialmente registradas) e situações que trazem a suspeita de se tratar de
tráfico por apresentar elementos típicos do tráfico, apesar de registrado como outra
situação de violação de direito (desaparecimento, fuga do lar, favorecimento para
prostituição).
A constatação de que o tráfico se esconde nos espaços legalizados e participa
do sistema de organização legal, é confirmada por Michele Hirsch (1996): “Frentes
legais para desguiar o tráfico para dentro da União Europeia inclui: artistas, artistas de
cabaré, meninas au-pair, estudantes, pessoas que solicitam o status de refugiado
político, adoções, casamentos etc.”

O deslocamento de jovens (mulheres) para destinos incertos ou conhecidos


como estações de redes de exploração sexual, a residência de mulheres e jovens em
boates e bordéis, e a “expulsão” ou deportação de mulheres que foram contaminadas
pelo vírus HIV durante a sua permanência no exterior, por exemplo, pedem, neste
contexto um olhar crítico e atento.
Do ponto de vista jurídico, uma pessoa traficada para fins de exploração sexual
é “vítima”, isto é, sujeito passivo do ilícito penal e/ou pessoa contra quem se comete
crime ou contravenção. A dimensão social, por seu lado, tenta desconstruir esta
percepção vitimizadora, a fim de não reforçar a ideia de submissão e de ênfase no
lado apenas subjetivo e moralista da questão. A armadilha conceitual que enseja a
atribuição do termo “vítima” ao sujeito é o peso valorativo e individualista, centrado na
relação explorador-explorado, eximindo do Estado, da sociedade e do mercado a
responsabilidade do enfrentamento social do tráfico.
Estudando o tráfico na sua realidade, precisa-se ter domínio da categorização
operacional para poder fazer uma análise complexa. Neste estudo, porém, enfatiza-se
principalmente a sua configuração geográfica, apresentando casos de tráfico de casos
da região norte segundo a sua operacionalização geográfica, isto é, apresentando
casos de “tráfico interno” (intermunicipal e interestadual dentro do Brasil), tráfico nas
fronteiras nacionais e tráfico com destino à Europa.
Procurei identificar os elementos acima citados, valorizando as informações
oficiais (processos, inquéritos, registros), de jornais, a falação dos sujeitos envolvidos
nos casos. Tenta-se dar visibilidade ao tráfico através de rotas identificadas. Rotas são
caminhos previamente traçados por pessoas ou por grupos que têm como objetivo
chegar a um destino planejado. O principal motivo de sua elaboração é indicar a
direção ou o rumo que melhor atenda às necessidades dos que por elas venham a
transitar, seja em viagens de turismo ou negócios, em expedições ou para realizarem
atividades ligadas ao crime organizado.
Nos últimos 100 anos, o Brasil passou de país de destino para país fornecedor
do tráfico internacional de mulheres e crianças. Então, conclui-se que o combate
requer atuação conjunta dos países de origem, trânsito e destino. São necessárias
medidas para prevenir o tráfico, punir os traficantes e proteger as vítimas. O fenômeno
é complexo e inaceitável e emerge da crise entre mercado, Estado e sociedade. É um
fenômeno multidimensional, multifacetado e transnacional. Suas determinações
sociais não estão somente na violência cultural, mas sobretudo nas relações macro-
sociais (mercado globalizado e seus impactos na precarização do trabalho, migração,
expansão do crime organizado e expansão da exploração sexual comercial).
Portanto, é importante responsabilizar não somente o agressor, mas também o
mercado e a própria sociedade, pois o tráfico ocorre por haver uma estreita relação
com as expressões da questão social por parte da vítima e a facilidade do modus
operandis - que inclui a existência de rotas de tráfico e a corrupção estatal e órgãos
governamentais, bem como sua ausência de fiscalização e prevenção.

3.1EXPLORAÇÃO SEXUAL INFANTIL


A história de poder e violência sobre crianças e adolescentes foi inscrita em
séculos anteriores, quando a infância e a adolescência não eram reconhecidas como
processos importantes do amadurecimento afetivo, físico e social do indivíduo,
necessitando de cuidados e olhares peculiares. Diante do reconhecimento desses
dois momentos como importantes na construção da subjetividade, busca-se cada vez
mais estar atento a comportamentos que possam lesar a integridade e o
desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, bem como sensibilizar e
conscientizar famílias, comunidade e sociedade em geral quanto ao problema da
violência e da exploração sexual, tão frequentes na realidade brasileira, ainda tolerante
em relação a estas violações de direito. É importante promover ações capazes de
efetivamente proteger as vítimas e garantir-lhes desenvolvimento biopsicossocial.
Historicamente, este tema da exploração sexual de crianças e adolescentes
remonta ao período da colonização e da escravidão do nosso país, quando a
população marginalizada era explorada sexualmente, mesmo em tenra idade. De fato,
a exploração do corpo de uma criança ou adolescente é incompatível com seu
desenvolvimento, ainda em formação, e causa danos a sua subjetividade e afetividade.
Ainda é comum na sociedade brasileira culpabilizar crianças e adolescentes
explorados sexualmente, desconsiderando a responsabilidade daqueles que os
procuram para contato sexual mediante pagamento, vantagem ou troca. É importante
destacar que a exploração sexual desses meninos e meninas não se trata de uma
forma de trabalho, e sim de mercantilização da sexualidade deles, o que, na verdade,
configura-se como uma das formas de violência sexual. Ainda sobre este tema,
há outras questões que carecem de cuidados, tais como: A pornografia infanto-juvenil
e o tráfico de crianças e adolescentes, sendo a internet o principal meio de divulgação
de imagens e material pornográfico, como também de cooptação ou aliciamento de
vítimas. Portanto, esteja atento às campanhas educativas voltadas à orientação aos
pais, aos responsáveis e ao público infanto-juvenil quanto ao uso seguro de mídia
social. A simples posse desse tipo de imagens, fotos, vídeos, mesmo que se destinem
à satisfação pessoal, é crime. Outro foco de atenção é o turismo com motivação
sexual. Em nosso país, ele ocorre especialmente em período de férias, eventos
festivos. Em geral, conta com incentivo de alguns donos de hotéis, bares, agências de
viagens e taxistas. Entenda que a pobreza é um aspecto propiciador da exploração
sexual, mas não é uma questão determinante. É considerada, assim, um fator de risco.
Outros fatores de ordem social e cultural também se relacionam a este
problema. Há, por exemplo, muitos casos decorrentes de sustentação do uso de
drogas, busca de acesso a artigos de consumo, reiteradas vivências de violência
doméstica em casa. Uma das graves consequências da exploração sexual contínua é
a evasão escolar. Nesse sentido, as escolas têm papel importante como agentes de
proteção, evitando a exclusão e o preconceito e atuando na prevenção, a partir da
articulação do tema da sexualidade em todas as etapas escolares e da criação de
espaços pedagógicos válidos para conectar informações sobre respeito,
desenvolvimento saudável e sexualidade infanto-juvenil.
Destaca-se o valioso papel dos educadores e da comunidade escolar na
identificação desses crimes e na denúncia às instituições protetivas, na tentativa de
reduzir danos.
Dados da ONU também apontam que as mulheres representam mais de 50%
das vítimas em situações de exploração sexual, prostituição, tráfico de órgãos e
trabalhos escravos. Em relação à exploração infantil, 60% das crianças e jovens que
sofrem abuso e exploração sexual são meninas. Segundo Damásio (2003, p.139), o
tráfico de menores é o acordo mútuo entre a locomoção e a exploração que
caracteriza o tráfico, não importando o momento que ocorre ou qual tipo de
exploração a criança é submetida. Ou seja, é a locomoção das crianças de um
determinado local para o outro, a exploração nele contida, é uma fase que ocorre
durante ou após esse processo. A locomoção pode se dar livremente com a
autorização do responsável ou mediante coação.
O tráfico interno é o agenciamento, aliciamento, recrutamento, o transporte, a
transferência, a compra, o alojamento, e o acolhimento de pessoas sob ameaça,
coação ou exploração dentro da fronteira. Sendo este tão importante quanto o tráfico
internacional. Por ocorrer dentro do país o procedimento é mais simplificado, muita
das vezes dispensando passagem, visto e acomodação, os aliciadores podem utilizar
seus próprios bem para a prática do delito.
O Tráfico de pessoas visando o turismo sexual vem crescendo grandemente
no território nacional, a demanda de meninas mais novas vem crescendo
significativamente. Outra modalidade é o tráfico de crianças e adolescentes para a
prática de atividades criminosas, sendo inclusive mulheres que atravessam as
fronteiras com pequenas porções de entorpecentes, segundo dispõe a FEITOZA. Na
qual crianças e adolescentes são traficados e coagidos a prática de delitos, sem que
suas vontades sejam respeitadas.

3.2 MODALIDADES DE EXPLORAÇÃO RELACIONADAS AO TRÁFICO DE


CRIANÇAS E ADOLESCENTES
O tráfico de menores pode ocorrer de diversas formas, sob diversas
modalidades, tais como a exploração sexual comercial, o trabalho escravo, a adoção
irregular, venda e remoção de órgãos e tecidos, entre outras. Em alguns casos o crime
ocorre mediante a autorização dos responsáveis legais outras em forma de coação ou
fraude. Merece destaque e uma explicação mais apuradas algumas dessas
modalidades, como se pode verificar nos subtópicos a seguir:
● Adoção Irregular
Na década de 80 e 90 no Brasil, houve diversos relatos de adoção internacional,
na qual não era legalmente fiscalizado por não ser uma preocupação recorrente. A
adoção ganhou uma atenção especial quando o deputado Frances Leon informou que
apenas 1000 das 4000 crianças que foram adotadas permaneciam vivas. (FEITOZA,
2015, p.26). Ocorreram vários escândalos desde então, até que a convenção de Haia
se apresentou, mediante 17 sessões e adotou então uma amplificação da convenção
de 1.965/93, que se refere à proteção da criança e do adolescente e assim fixou que
nas causas de adoção internacional sempre prevalecerá o melhor interesse do menor
e principalmente a segurança de seus direitos fundamentais. O objetivo primordial da
convenção é a luta contra lucros indevidos referentes à adoção irregular.
Em 1990 no âmbito nacional o ECA estava sendo promulgado, garantindo
direitos e tratando sobre delitos contra a criança e adolescentes e a adoção
internacional. O estatuto estabelece certos requisitos acerca da adoção externa, assim
como a caracterização da inserção do menor ordinariamente na família brasileira
residentes no Brasil, quando residentes no exterior priorizam a adoção a famílias
brasileiras do determinado país ao adotante residente no âmbito internacional.
Visando o melhor interesse do menor, para a finalização do processo de adoção
é preciso preencher todos os requisitos e seguir corretamente os meios legais.
(FEITOZA, 2015, p.27/28). A punição para aquele que retirar o menor do Brasil para
levá-lo ao exterior com intuito de obter lucro ou negligenciar os respaldos legais, está
previsto no artigo 239 do Estatuto da Criança e do Adolescente, valendo destacar
ainda que a pena é reclusão de quatro a seis anos além de multa.
A adoção de forma ilegal ocorre geralmente através de esquema criminoso que
aliciam e sequestram os menores nos hospitais, nas ruas, saída de escolas, cursos. O
aliciamento ocorre após o nascimento do bebê os aliciadores ficam próximos
sondando a estrutura familiar, bem como as condições da vítima, as mais vulneráveis
e carentes são os alvos, também há casos em que informantes fazem parte da equipe
do hospital e quando surge um possível alvo ou alguma criança abandonada elas
fazendo contato com o aliciador que por sua vez finalizam o seu trabalho de
aliciamento ou rapto de determinada criança. Também há relatos de crianças que
foram raptadas, sequestradas enquanto saíam da escola, ou brincavam nas ruas, os
aliciadores observam a rotina da família e rondam a criança, quando surge uma brecha
oportuna para exercer com excelência o tráfico do menor. (FEITOZA, 2015, p.28). A
documentação geralmente é providenciada por profissionais infiltrados nos
respectivos órgãos que possuem ligação com o tráfico.
Vale salientar que muitas das adoções irregulares têm como intuito disfarçar a
prática de outros crimes bem como as futuras explorações deste menor, tais como de
cunho sexual, para promover o trabalho forçado, para extração de órgãos e tecidos,
dentre outras finalidades. Tornando assim a adoção irregular uma atividade meio para
uma exploração final.Vale dizer que na maioria dos casos de crianças traficadas na
finalidade de adoção internacional irregular ocorre por meio do transporte definitivo
da criança para o exterior, devendo se dizer
● Exploração Sexual Comercial
Por muito tempo o sexo era visto como um tabu para a sociedade. Com o
passar do tempo a igreja deixa de ser a reguladora do sexo e esses traços passam
para o Estado. Mediante as transformações, a chegada da política bem como a
economia, começa a surgir às práticas sexuais visando lucro, o sexo que antes era
visto como algo terrível passa a ser um negócio lucrativo, atraindo o crime organizado
e o comercio ilegal.
Mesmo visando o controle e a redução do tráfico de pessoas, a prostituição não
pode ser controlada ou impedida, tendo em vista que infringe o direito a liberdade e
livre locomoção garantida pelo rol dos direitos e garantias fundamentais, na qual o ser
humano pode fazer o que bem pretender. Segundo o MTE (Ministério do Trabalho e
Emprego) a prostituição é lícita quando praticada por maior de idade em todo o
território nacional. O abuso sexual merece destaque assim como a exploração sexual,
tendo em vista que ambos ocorrem com o intuito de satisfação sexual com a utilização
do corpo do menor. O abuso ocorre geralmente por pessoas de confiança, mediante
chantagem, coação física ou psicológica. A exploração é o abuso sexual do menor
visando lucro, a intenção é a satisfação sexual de terceiros mediantes prévios
pagamento aos responsáveis. Devendo inclusive conscientizar que só há vítimas da
exploração, pois há compradores. A exploração incrimina os compradores da mesma
forma que os responsáveis pelos lucros.
O tráfico de mulheres visando a exploração sexual conforme relatório sobre o
tráfico de Pessoas, 2018, e citado por COELHO, constituem-se 58% de casos no
mundo e 59% na América do Sul. Na Europa correspondem a 60% de casos de
exploração sexual, sendo as vítimas 68% mulheres e 26% meninas. Homens e
meninos configuram em 6% dos casos.
No Brasil, o tráfico para fins de exploração sexual tem como vítimas mulheres
e meninas em situações de vulnerabilidade e hipossuficiência. O principal mercado
de mulheres brasileiras envolvidas com prostituição, se localiza na Espanha, chegando
a 7 mil casos sendo estes análogos ao trabalho escravo. Segundo a cartilha da DPU,
o tráfico de pessoas visando a exploração sexual é apontado como:
A exploração sexual comercial ocorre tanto nos casos voluntario no mercado
do sexo como o ingresso involuntário. O primeiro, tem por característica de trabalho
forçado, com a servidão por dívida, a retenção de documentos, cerceamento de
liberdade etc. É a forma mais comum de tráfico de pessoas no Brasil, atingindo
principalmente mulheres na faixa etária entre 20-29 anos e crianças entre 10 a 14
anos. Há relatos de cobrança por parte das vítimas para o deslocamento para o local
de exploração. Assim sendo as vítimas ficam obrigadas a trabalharem para pagar
também por isso. Para a ADEH, a relação da vítima e os aliciadores é um contrato de
trabalho onde as vítimas devem cumprir o contrato. Assim como expõe a própria
ADEH:
Destaque em Santa Catarina vai para o relato da Associação em Defesa dos
Direitos Homossexuais (ADEH; SC Entrevista 3), Há intermediários que auxiliam no
deslocamento e que cobram pelo auxílio aproximadamente 15 mil reais; e que no país
de destino, uma terceira pessoa recebe estas imigrantes e retém seus passaportes
enquanto a dívida do auxílio não for paga, situação que, sim, configura o tráfico de
pessoas.
No âmbito interno do tráfico de pessoas, crianças são vendidas pelos próprios
pais para a exploração sexual, em alguns casos a venda é feita para círculos de
prostituição em diversos lugares. Podendo-se observar segundo pesquisa da
ANAFRON que a maior das causas é a vulnerabilidade da vítima. Na maioria das vezes
são áreas pobres, com pouco recurso e a prostituição é utilizada como o sustento
básico. Já os criminosos que praticam o crime previsto no artigo 149-A CP, encontram
facilidade quanto ao deslocamento das fronteiras entre os países.
O turismo sexual bem como a pornografia infantil ganha espaço e se
desenvolvem facilmente tendo em vista os avanços tecnológicos e a facilidade e não
detecção encontrada, por exemplo, na internet. Os consumidores encontram vastas
alternativas bem como enorme satisfação. Quanto ao turismo sexual este seria
estimulado como uma atividade turística na qual faz parte de determinado local,
estimulado inclusive por lugares renomados como por exemplo clubes e restaurantes.
Já a pornografia infantil merece vinculação tendo em vista que menores são vendidos
frequentemente por redes de comercialização de crianças situada através da internet.
O tráfico de pessoas dificilmente é controlado, pois o Estado foca seus esforços
no controle de locomoção das pessoas entre os países. A partir do conhecimento do
fato gerador e que influencia significativamente o tráfico de pessoas, deveria ser
investido na promoção de programas da supressão propriamente do delito e não do
direito de liberdade das vítimas. A tipificação penal para a exploração sexual se
encontra presente no artigo 228 do Código Penal, que embora o ato de se prostituir
não seja configurado como crime, o legislador se preocupou com o comércio e a
exploração sexual.
O artigo supracitado traz a ideia de induzimento a outra pessoa quanto a
prática da prostituição bem como para a exploração sexual e a impedir o abandono
deste. Dificultar seria impedir ou criar obstáculos para que a pessoa deixe praticar
determinados atos, não dando alternativas a vítima. A penalização para a prática deste
delito é de 2 a 5 anos. Se for praticada por pessoas qualificadas no rol do §1° ocorre
a majoração da pena para 3 a 8 anos de reclusão. Se for aplicado no rol do §2° a
pena majorada para 4 a 10 anos além da pena correspondente a violência. Vale
destacar que se a conduta foi realizada visando lucro também é aplicável multa.
● Trabalho escravo/forçado
O trabalho escravo é a segunda maior modalidade de tráfico de pessoas. Os
maiores riscos para o aliciamento são de homens jovens entre 20 a 40 anos, não
alfabetizados, hipossuficientes e extremamente vulneráveis. O perfil supracitado
refere-se a homens vítima de trabalhos voltados à escravidão no âmbito da agricultura
e construção civil Brasileiras. Vale destacar que segundo a OIT, 40% das vítimas são
meninos espalhados em diversas partes do mundo, vivendo em situações precárias.
A principal diferença entre trabalho escravo e o trabalho forçado, o primeiro é
o trabalho mediante a privação de sua liberdade, seus documentos geralmente são
apreendidos, as vítimas chegam ao local com absurdas dívidas imposta pelos próprios
aliciadores e responsáveis, sem falar nas ameaças que estes sofrem. Já este último,
digo trabalho forçado a vítima tem liberdade de ir e vir, o problema está nas condições
de trabalho desumanas e degradantes. As vítimas acabam sofrendo inúmeras
ameaças e abusos, o trabalho realizado é exclusivamente para o pagamento de
dívidas e mediante a coação como a retenção de documentos, violências físicas,
morais e psicológicas, tortura, homicídios de pessoas que desesperadamente tentam
fugir.
Dentre essa modalidade há também o recrutamento de menino para integrar
Clube de futebol, o oleiro com seu poder de convencimento vai a residência da
criança, convence seus responsáveis de que será uma oportunidade imperdível para
a criança, tendo em vista os altos lucros que virão como retorno, a melhoria na
qualidade de vida, o problema surge quando a criança chega ao destino e não é nada
do que foi prometido, essas crianças têm seus direitos violados, trabalham em
péssimas condições. Assim como retrata pesquisa do MTE, ao referir-se aos meninos
da Coréia do Sul vítimas da exploração causada por clubes de futebol em Piraquara,
região de Curitiba. (Ministério do Trabalho do Paraná, apud Ministério da Justiça, p.
157) É válido supor que as vítimas deste delito possuem restrições dos seus direitos
bem como a retenção de seus documentos pessoais.
A tipificação penal para o crime de trabalho escravo está prevista no artigo 149
do código penal, que em seu contexto traz a redução da pessoa a trabalho análogo
ao escravo, significando dizer que a liberdade da pessoa é reprimida de certa forma
que a pessoa fica totalmente sujeita a vontade da outra. A pena é de reclusão de 2 a
8 anos, além da pena correspondente a violência. No caso de crime cometido contra
menores de 18 anos ou a pessoa por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião
ou origem a pena é aumentada em metade.
● Casamento servil
A prática do casamento servil ocorre com frequência em lugares menos
desenvolvidos. Os fatores relevantes para o delito são a cultura e a economia
principalmente, tendo em vista que a prática do delito é comum em diversas
comunidades e localizações. Segundo a ONU estima-se que dentre as vítimas dessa
modalidade de crime são meninas menores de 18 anos de idade, localizadas em
diversos lugares, tais como 46% destas no Sul da Ásia; 38% na África Subsaariana;
29% na América Latina e no Caribe; 18% no Oriente Médio e no Norte da África. Alé
de ser praticado comumente na Europa e na América do Sul. (ONU Brasil)[21] Ou
seja, é válido supor que é uma prática recorrente em locais com menor
desenvolvimento econômico e social, grande parte das vítimas do casamento servil
são meninas entregues por sua própria família.
O casamento servil ocorre quando uma pessoa é oferecida a outra em
casamento sem que valha seu consentimento, opiniões ou direito de escolha.
Configura-se também casamento servil aqueles nas quais as vítimas migram para o
exterior para se casar com estrangeiro, porém ao chegar ao destino as vítimas são
forçadas a servidão doméstica, exploração sexual, proibidas de manter contato com
outras pessoas. O casamento em si é caracterizado pelo engano, quando há o
consentimento da outra parte estas são enviadas para as respectivas famílias e se
imaginam em uma boa relação conjugal, mas ao chegar no local a realidade é
diferente. Vale ressaltar a existência de relatos nas quais as vítimas foram vendidas a
escravidão ou exploração a prostituição.
São mulheres que caíram no golpe do casamento com estrangeiros. Elas foram
levadas por seus maridos para o exterior e vendidas a terceiros, para cuidar de
pessoas idosas e doentes, ou obrigadas a se prostituir. O casamento por si só não se
configura crime, porém as práticas que ocorrem em consonância com o casamento
estas sim são delituosas, tais como a exploração sexual e o trabalho análogo a
escravidão.
● Prática de delitos
Essa modalidade ocorre quando alguém transporta ou acolhe criança e
adolescente com intuito de coagi-lo a prática de crimes como, por exemplo, o tráfico
de drogas, tráfico de armas, furtos, dentre outros crimes. Ocorre também quando um
traficante pratica o tráfico de crianças como meio do objetivo final, há relatos de
pessoas que se utilizam do tráfico de pessoas para a retirada de órgãos das crianças
e a inserção de drogas dentro do corpo destas, com a intenção de transportar e evitar
detecção. Há ainda relatos de pessoas que ainda vivas são obrigadas a engolir drogas
e transportá-las dentro de seu corpo até o destino projetado.
Há a prática de mendicância implícita nesta modalidade, caracterizando-se pela
prática de pedir dinheiro a estranhos alegando que se encontra em situação de
extrema pobreza bem como a prestação de pequenos serviços como lavar carro no
sinal ou até mesmo apresentações nas ruas. A modalidade do tráfico de pessoas se
enquadra na mendicância quando ocorre o transporte de determinada criança ou
adolescente ou até mesmo adulto as fronteiras na intenção de coagi-los a prática de
mendicância, impedindo e retirando do menor o direito à liberdade e recolhendo os
frutos da atividade realizada por este menor em parte ou integralmente.
O delito aqui exposto é o da coação para a prática de outros delitos, está
previsto no artigo 22 do código penal e tem por consequência excluir a culpabilidade
da vítima na prática do delito. Em breves explicações a coação moral ocorre quando
a pessoa não pode manifestar sua livre vontade, mas se manifesta de forma viciada,
sendo forçada por outro a prática do delito. É punido o autor da coação ou da ordem.
● Venda e tráfico de órgãos e tecidos
Segundo a UNODC em seu relatório Global acerca do tráfico de humanos
visando venda e remoção de órgãos, o percentual de casos identificados entre 16
países participantes é de 2%.
Ainda que o tráfico visando a venda e remoção de órgãos e tecidos seja de
suma importância para as organizações internacionais, para outros muitos estes
crimes é considerado apenas um mito. A escassez de dados acerca do tema dificulta
significativamente a coleta de informações e políticas de enfrentamento e combate ao
tráfico de pessoas para essa finalidade.
É um crime dificilmente detectável, os receptores, colaboradores e aliciadores
se enxergam como beneficiados ao findar a exploração, exceto a vítima que inclusive
é coagido, têm a violação de seu corpo com a remoção de órgãos ou tecidos e tem
sua vida exposta ao perigo. Os profissionais bem os aliciadores recebem muito bem
por esse trabalho. Para a consumação do crime é necessário o não consentimento da
vítima ou a presença de vício no consentimento. É necessária a coerção da vítima para
o cumprimento do delito.
Vale destacar que muitas crianças são traficadas para a finalidade de venda e
remoção de órgãos e tecidos. Merece ainda mais destaque os relatos referentes a
casas de engorda na qual recebem crianças e mantém estas presas até que surja
alguém pedido órgãos compatíveis com esta, porém muitas dessas denúncias não
foram comprovadas (FEITOZA, p.30).[24] Ou seja, as crianças são presas em
depósitos como produtos a serem colocados a exposição, esperando o momento
oportuno para que lhes sejam violadas e haja a remoção de seus órgãos. A venda e
tráfico de órgãos são trazidos pelo legislador através da LEI Nº 9.434, DE 4 DE
FEVEREIRO DE 1997, em seu artigo 15 pode-se verificar a punição para a venda e
compra de órgãos e tecidos ou parte do corpo humano, devendo destacar que
responde também quem promove, intermedeia, facilita ou aufere qualquer vantagem
com a transação, a pena supracitada é fixada em reclusão de 3 a 20 anos e 200 a 365
dias multa.

3.3 ROTA DOS TRÁFICOS


Conforme reportado ao longo dos últimos anos, os traficantes de pessoas
exploram vítimas nacionais e estrangeiras no Brasil e traficantes exploram vítimas
brasileiras em outros países. Os traficantes exploram mulheres e crianças do Brasil e
outros países sul-americanos, especialmente Paraguai, para o sexo no Brasil. Gangues
e outros grupos de crime organizado têm sujeitado mulheres e meninas ao tráfico
sexual nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os traficantes também
exploram as mulheres brasileiras e crianças no tráfico sexual em outros países,
especialmente naqueles do leste europeu e na República Popular da China.
A Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para Fins de
Exploração Sexual Comercial, realizou um amplo mapeamento das rotas utilizadas
pelas redes de tráfico no Brasil, contabilizando 131 internacionais e 110 domésticas.
Deve-se observar que as rotas têm uma natureza bastante dinâmica, sendo
parcialmente substituídas ou completamente descartadas a partir do momento em
que ganham a atenção das autoridades policiais. Abaixo são reproduzidas algumas
das conclusões do trabalho:
As rotas são estrategicamente construídas a partir de cidades que estão
próximas a rodovias, portos e aeroportos, oficiais ou clandestinos, que são pontos de
fácil mobilidade. Como exemplo, cita-se os municípios de Bacabal (MA), Belém (PA),
Boa Vista (RR), Uberlândia (MG), Garanhuns (PE), Petrolina (PE), Rio de Janeiro (RJ),
São Paulo (SP) e Foz do Iguaçu (PR). Na maioria das vezes, (as rotas) saem do interior
dos Estados (cidades de pequeno, médio ou grande porte) em direção aos grandes
centros urbanos ou para as regiões de fronteira internacional. As rotas para outros
países são preferencialmente destinadas ao tráfico de mulheres, enquanto as rotas
internas (entre diferentes
Estados do país, ou entre municípios de um mesmo Estado) têm, como público
mais frequente, as adolescentes. Na região Norte há fortes indícios de que as rotas
possuem conexões com o crime organizado, sobretudo com o tráfico de drogas
(Roraima, Acre e Rondônia) e com a falsificação de documentos (Roraima e
Amazonas), o que vem a reforçar o envolvimento dessas atividades com o tráfico dos
seres humanos.
O relatório da Região Nordeste aponta a existência de uma inter-relação entre
turismo sexual e tráfico, já que Recife (PE), Fortaleza (CE), Salvador (BA) e Natal (RN),
capitais que aparecem como os principais locais de origem/destino do tráfico, são
também as cidades nordestinas que mais recebem turistas estrangeiros.
No Sudeste, quando se trata do tráfico interno, as cidades de São Paulo e Rio
de Janeiro são consideradas ‘receptoras’, constituindo-se, também, em pontos
intermediários importantes para as rotas do tráfico internacional, uma vez que
possuem os aeroportos de maior tráfego aéreo do país.

CLASSIFICAÇÃO DOS PAÍSES SEGUNDO AS ROTAS DE TRÁFICO


Países de origem (terceiro mundo) características:
Seja pela pobreza, pela dificuldade de acesso às políticas públicas e às oportunidades
de trabalho, pelo desrespeito aos princípios humanos ou pela violência urbana, parte
da população não encontra perspectivas de sobrevivência digna e/ou segura.
Países de Trânsito (Brasil, Canadá, Suriname, Guianas) características:
Em geral, são países que dispõem de fronteiras secas, nas quais a fiscalização é
precária por distintas razões, como extensão das divisas, reduzido quadro de fiscais,
ineficiência e corrupção nos órgãos de fiscalização.
Países de destino características:
Historicamente são países desenvolvidos. Entretanto, países em desenvolvimento
têm, cada vez mais, se tornado localidades de destino, especialmente para o trabalho
e o casamento forçado. Crianças e adolescentes são raptados para servirem como
soldados em guerrilhas ou no tráfico de drogas e para adoção ilegal.

SHORES OF GRACE - INSTITUIÇÃO QUE COMBATE O TRÁFICO E A


PROSTITUIÇÃO INFANTIL
Shores of Grace atua contra o tráfico humano e prostituição e ajuda pessoas
em situação de vulnerabilidade social. Atua no Brasil desde 2010 e é uma instituição
de caráter cristão, que deseja promover a restauração de indivíduos e famílias por
meio do amor de Deus. A instituição iniciou por meio de Nic & Rachael Billman. Nic
teve uma experiência sobrenatural e relata que Deus o mostrou às mulheres que se
prostituem nas ruas e falou com ele: “quem resgatará minhas filhas?”. Em 2010, Nic,
Rachel e seus três filhos se mudaram para Curitiba e iniciaram a Escola Global de
Ministério Sobrenatural no Brasil para despertar a igreja para os sofrimentos nas ruas
e equipá-los a responder a esse chamado. Shores of Grace começou a tomar forma,
até que em 2012 foi mudado pra Recife, um dos portos originais do comércios de
escravos e que ainda continua sendo um centro de escravidão sexual no Brasil. Em
2013, o Betânia nasceu como um lugar onde as meninas poderiam vir livremente. Em
2019, em diversas igrejas brasileiras de diferentes denominações, foi levantada uma
doação de R$600.000 em uma noite, permitindo comprar uma casa para a Vila
Betânia, onde hoje abrigam cerca de 20 meninas e alguns meninos.O Shores of Grace
trabalha na prevenção, no resgate, na restauração e para equipar mais pessoas.
Quanto à prevenção, possui três projetos: Comunidades, Igreja Nas Ruas e CICAF.
● Comunidades: Recife é uma das cidades de maior tráfico de sexo em todo o
Brasil. Portanto, o ministério das Comunidades visa quebrar os ciclos de pobreza que
levam à prostituição. Constroem relacionamentos com as pessoas das favelas e
investem em amor, palavras, tempo, esforços e recursos, pois creem que enquanto a
pobreza for uma fortaleza nesses lugares, a prostituição sempre será uma tentação
de ser uma solução rápida. Eles também possuem a oportunidade de realizar reuniões
semanais de discipulado e tempo de brincar.
● Igreja nas Ruas: Sabendo que 18% das crianças no Brasil estão desabrigadas,
a equipe do Shores vai, toda semana, a uma praça pública e reune essas crianças.
Estendem um tapete vermelho com artesanato, materiais de desenho, tintas para o
rosto e esmaltes, esperando as crianças se reunirem.
● CICAF - Centro Integrado da Criança, do Adolescente e da Família: O CICAF
nasceu a partir da percepção e olhar deles diante das diversas violações aos direitos
de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. A exploração, o
abuso sexual, as adoções irregulares, o abandono, o tráfico internacional de pessoas
e órgãos, sobretudo os desaparecimentos, constitui o cenário por onde eles
trabalham. O CICAF faz parte do aisteka de garantia de direitos das crianças e
adolescentes e atua a partir de três eixos específicos: promoção de direitos, defesa
de direitos e controle social. A equipe é comporta por 4 advogados, 1 psicóloga e 1
assistente social. O objetivo é atuar na defesa dos direitos das crianças e adolescentes
vítimas de violência doméstica e sexual do município de Jaboatão dos Guararapes em
Pernambuco, oferecendo suporte jurídico, social e psicológico de forma gratuita.
Quanto ao resgate, o Shores possui o Amor do Pai, que é uma ida semanal ao
distrito da luz vermelha para encontrar homens e mulheres onde eles estão. A
intenção é construir um relacionamento através da comunicação constante. Através
dessas idas, muitas pessoas escolheram deixar a prostituição.
Quanto à restauração, possui a Vila Betânia, que é uma casa para meninas de
0 a 18 anos e meninos de até 2 anos em Jabotão dos Guararapes - PE. No Brasil, Vila
Betânia é uma instituição e ministério ligada ao Shores of Grace, orientado pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente. O lar é um local de segurança e recuperação
onde a equipe do Shores, constantemente treinada, cuida das meninas em um
ambiente de amor e incentivo. A equipe inclui psicólogos, assistentes sociais e
cuidadores que trabalham pra garantir que as necessidades espirituais, emocionais e
físicas de cada menina sejam atendidas, trabalhando em conjunto com a Vara da
Infância, buscando também reintegração familiar.

CONCLUSÃO
No decorrer da pesquisa científica é possível verificar que o tráfico de pessoas
ocorre de diversas formas e modalidades. Podendo qualquer pessoa ser vítima do
delito, dependendo da finalidade. Entretanto, vale salientar que a maioria das vítimas
do delito são mulheres e menores de 18 anos. A presente pesquisa traz em seu
contexto especialmente o conceito abrangente acerca das modalidades implícitas no
delito inicial, tais como a exploração sexual, o trabalho forçado/escravo, o casamento
servil, adoção irregular, bem como venda de órgãos, tecidos ou partes do corpo
humano.
A conceituação do delito foi extremamente necessária para que se notasse a
preocupação no âmbito nacional e internacional acerca do tráfico de pessoas e o bem-
estar das vítimas. Podendo verificar que na prática as normas de enfrentamento são
falhas e insuficientes. Vale destacar que as políticas de enfrentamento e combate se
preocupam fortemente com a atenção e o cuidado com as vítimas do delito, se
preocupando em ampliar os dados referentes às vítimas do delito. A ampliação da
tipificação do tráfico no âmbito nacional foi essencial tendo em vista que passou a
ampliar outras modalidades do delito do tráfico de pessoas.
Observa-se, todavia, que embora a legislação nacional tipifique as modalidades
e puna com reclusão os autores do delito, ainda assim as vitimas se encontram em
desvantagem, principalmente as crianças e os adolescentes, tendo em vista que
embora haja o plano nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas e a violência
sexual contra crianças e adolescentes, não há na prática uma política que tenha como
prioridade a assistência especializada aos menores vitimas do tráfico. Carecendo,
portanto, de um atendimento especializado a prestação de assistência psíquica, moral
e física às vítimas do delito, tornando estes extremamente desamparados tendo em
vista que ainda estão imaturos fisicamente, moralmente e psiquicamente.
Contudo, conclui-se que o tráfico de pessoas é um delito silencioso que
acarreta inúmeras vítimas, para as mais diversas finalidades, devendo destacar,
portanto, que as vítimas mais frequentes segundo dados são mulheres e meninas. A
legislação nacional pune o agente e os participantes do tráfico em questão. Porém,
não há uma política de conscientização, enfrentamento e combate especializados no
tráfico de crianças e adolescentes, pois embora haja política específica tráfico de
pessoas e a violência sexual contra crianças e adolescentes não há um cuidado
especializado aos menores vítimas do tráfico de crianças e adolescentes.

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EXPLORAÇÃO sexual e tráfico: 23 de setembro marca a luta contra a
exploração sexual e o tráfico de mulheres e crianças no mundo. Comprometida com
a causa, a Alego já apreciou várias propostas para combater essa realidade... ALEGO,
Goiás, ano 2020, p. 1, 23 out. 2020. <
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