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Conteúdo

Introdução..................................................................................................................................2
Noção de tráficos de pessoas.....................................................................................................3
Tipos de tráfico de pessoas........................................................................................................4
Tráfico de crianças......................................................................................................................4
Abordagem histórica e a evolução legislativa esparsa...............................................................5
Aprofundamento da evolução legislativa atinente ao tema tráfico humano.............................7
CAUSAS DO TRÁFICO DE SERES HUMANOS................................................................................8
Os principais factores que influenciam o tráfico de pessoas: Pobreza e Desemprego..............8
A situação de vulnerabilidade..................................................................................................10
A Pobreza e vulnerabilidade.....................................................................................................11
O aliciamento de pessoas a trafico de pessoas........................................................................13
Efeito de trafico de pessoas para a conomia............................................................................15
Trafico de pessoas e Liberdade, Amparo legal.........................................................................16
Legislação santomense.............................................................................................................16
Dados de países com mais trafico de pessoas..........................................................................19
CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................................21
Introdução

O presente artigo tem por objectivo discutir o tráfico de pessoas. O “tráfico de pessoas” é
definido na legislação internacional como o recrutamento, transporte, transferência,
alojamento ou acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou outras
formas de coação, ao rapto, fraude, engano, abuso de autoridade ou à situação de
vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o
consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração.
Uma das mais importantes legislações internacionais que tendem a abordar o tema citado é
o Protocolo de Palermo, o qual visa o combate dos mais diversos crimes organizados, entre
eles, o tráfico de pessoas, que por sua vez é considerado um crime contra a humanidade. o
combate ao tráfico de pessoas exige a reorientação da política internacional para uma
“globalização ascendente”, no sentido de progredir para uma melhor distribuição de
riquezas em nível global e uma maior proteção dos direitos humanos.
Noção de tráficos de pessoas

O tráfico humano é o comércio de seres humanos, mais comummente para fins de


escravidão sexual, trabalho forçado ou exploração sexual comercial, tráfico de drogas ou
outros produtos; para a extracção de órgãos ou tecidos, incluindo para uso de barriga de
aluguel e remoção de óvulos; ou ainda para cônjuge no contexto de um casamento forçado.

O tráfico humano deu mais de 31,6 bilhões de dólares do comércio internacional por ano
em 2015 e é pensado para ser uma das atividades de maior crescimento das organizações
criminosas transnacionais. O tráfico de pessoas é condenado como uma violação dos
direitos humanos por convenções internacionais e está sujeito a uma directiva da União
Europeia.

Embora o tráfico humano possa ocorrer em diversos níveis e locais, há implicações


transnacionais, como reconhecido pelas Nações Unidas no Protocolo para a Prevenção,
Repressão e Punição ao Tráfico de Pessoas, em especial Mulheres e Crianças (também
referida como o Protocolo do Tráfico), um acordo internacional no âmbito da ONU
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, que entrou em
vigor em 25 de Dezembro de 2003. o protocolo é um dos três que completam o tratado. O
Protocolo do Tráfico é o primeiro instrumento global legalmente vinculativo sobre o tráfico
há mais de meio século, e é o único com uma definição consensual sobre o tráfico de
pessoas. Um dos seus objectivos é facilitar a cooperação internacional na investigação e
repressão desse tipo de tráfico além de proteger e assistir às vítimas do tráfico humanos,
com pleno respeito pelos seus direitos, conforme estabelecido na Declaração Universal dos
Direitos Humanos.
Tipos de tráfico de pessoas

Tráfico de crianças

O tráfico de crianças envolve o recrutamento, transporte, transferência, abrigo ou


recebimento de crianças para fins de exploração. A exploração sexual comercial de crianças
pode assumir muitas formas, inclusive forçando uma criança à prostituição ou de outras
formas de actividade sexual ou através de pornografia infantil. A exploração infantil
também pode envolver trabalho ou serviços forçados, escravidão ou práticas similares à
escravidão, a servidão, a remoção de órgãos, adopção internacional ilegal, o tráfico para
casamento precoce, recrutamento como soldados, para uso na mendicância ou como atletas
(como jogadores de futebol), ou o recrutamento para cultos.

Tráfico de Órgãos

Tráfico de Órgãos é uma forma de tráfico humano. Pode acontecer das mais variadas
formas. Em alguns casos, a vítima consentiu dar um órgão. Em outros casos, a vítima
aceitou vender seu órgão em troca de dinheiro/bens, mas não é paga (ou pagam menos que
o acordado). Finalmente, a vítima pode ter seu órgão removido sem seu conhecimento
(geralmente quando a vítima é tratada de outro problema de saúde, real ou
fraudado).Trabalhadores migrantes, moradores de rua e pessoas analfabetas são
particularmente vulneráveis a esse tipo de exploração. Tráfico de órgãos é um crime
organizado, envolvendo vários cúmplices.

 O recrutador
 O transportador
 A equipe médica
 O intermediário
 O comprador
Interessados em tráfico de órgãos normalmente procuram por rins. O tráfico de órgãos é
lucrativo pois em muitos países há longas filas de espera de pacientes esperando por
transplante.

Em 2004, no Brasil, aconteceu a Operação Bisturi da Polícia Federal. Essa operação


investigou um esquema internacional envolvendo Israel, África do Sul e Brasil. No mesmo
ano, a Câmara dos Deputados também investigou o mesmo tema com uma CPI. Os chefes
da quadrilha eram ex-policiais israelenses e, em parceria com policiais militares e médicos
de Pernambuco, recrutavam pessoas periféricas do Recife que aceitassem vender um dos
rins. Os criminosos pagavam até vinte mil dólares por cada rim, a cirurgia era realizada na
África do Sul. Mais de 30 pessoas foram indiciadas pelo crime, inclusive as vítimas, que
após a cirurgia, muitas vezes se tornavam recrutadores.

Tráfico sexual

O tráfico sexual afeta 4,5 milhões de pessoas no mundo e 98% das vítimas são mulheres e
crianças. A maioria das vítimas se encontram em situações de coação ou abusivas de modo
que a fuga é difícil e perigosa.

O Departamento de Estado dos EUA publica periodicamente relatórios sobre o tráfico


humano -- no qual o tráfico sexual é predominante -- classificando os países de acordo com
o grau de esforço feito para acabar com o tráfico. Assim, os piores países nesse aspeto
(conforme dados de 2021) são o Afeganistão, Argélia, Myanmar,China, Comores,
Cuba, Eritreia, Irão, Nicarágua, Coreia do Norte, Russia, Sudão do Sul, Síria,
Turquemenistão, Venezuela, Guiné-Bissau e Malásia.

Em Israel, cerca de duas mil jovens originárias da ex-URSS foram levadas à força nos
últimos anos e obrigadas a prostituir-se.

Abordagem histórica e a evolução legislativa esparsa

Em se tratando da análise histórica do tráfico humano, faz-se necessário analisar a figura da


escravidão.
O conceito de escravidão perpassa pelo enfoque central da transformação do homem em
mercadoria, destruindo sua dignidade e retirando-o de seu seio social. O tráfico de pessoas,
nesse contexto, é a subjugação de qualquer direito ou garantia em prol do lucro.
Actualmente, apenas atrás do tráfico de armas e de drogas, o tráfico de pessoas é o que
mais gera lucro. A origem do crime advém da crise e instabilidade entre o Estado e a
própria sociedade, inspirando a existência de diversas discriminações e violências.

Historicamente, o desenvolvimento de uma legislação eficiente e aplicável demorou


décadas, e ainda hoje, embora existam leis e regulamentações taxativas, não é o suficiente
para coibir a prática criminosa. Ou seja: mesmo com a legislação nacional e internacional, o
tráfico de pessoas é recorrente, lucrativo e reflecte um passado escravagista.

O tráfico de pessoas não é fato novo: há relatos de escravização datados desde os


primórdios da humanidade, nas primeiras civilizações que surgiram no Crescente Fértil,
Mesopotâmia e às margens do Rio Nilo. À época, no entanto, a escravidão não tinha
características determinantes: muitos dos escravizados eram presos de guerras, por dívidas
e por crimes contra a ordem imposta. No Brasil, a escravidão teve data, cor e legitimação:
começou logo nos primeiros anos da exploração territorial com a escravização de
indígenas, e se consolidou com o tráfico de pessoas negras - muito lucrativo, aliás -
oriundas, em maior parte, de países da costa oeste do continente Africano. A legitimação se
deu inclusive pela Igreja Católica, que num segundo momento poupou os indígenas e
priorizou os povos africanos, alegando que esses não eram dignos de aculturação à fé cristã
e que nem sequer tinham alma.

Até a implementação da Lei 13 344, de 2016, muito se percorreu na tentativa de estancar o


problema. A primeira lei que deu início a interrupção do escravagismo no Brasil partiu não
daqui, mas da Inglaterra. A Lei Bill Aberdeen (1845) proibiu, em âmbito internacional, o
tráfico de escravos. Embora possa existir, de fato, uma conscientização dos horrores da
escravidão, é importante salientar que, naquele contexto, a Inglaterra emergia como uma
potência industrial, e o trabalho assalariado já era mais importante do que o trabalho
escravo. O escravo não consome, pois não recebe por trabalhar. O assalariado, sim.

Nacionalmente, em 1850, por pressão inglesa, a Lei Eusébio de Queiroz proibiu a entrada
de pessoas escravizadas em território nacional, mas não impediu que os que já haviam
chegado continuassem na mesma situação de subjugação. Posteriormente, a Lei do Ventre
Livre (1871) libertou os filhos de escravos que nasceram posteriormente à lei, mas não os
pais. Em 1880, chegou a vez dos Sexagenários (Lei dos Sexagenários) serem libertos. A
ironia, no entanto, é o fato de que a expectativa de vida dos escravos era inferior a 35 anos.
Por fim, veio a Lei Áurea em 1888, que decretou a abolição definitiva, deixando os ex-
escravizados à margem de mínima possibilidade de ascensão social.

Internacionalmente, várias foram as tentativas de conter o problema. A primeira


regulamentação internacional surgiu com a proibição do tráfico na Convenção de Viena de
1814. Em seguida, outros instrumentos internacionais foram editados: a) 1910 – Convenção
Internacional para a Repressão do Tráfico de Mulheres Brancas; b) 1921 – Convenção
Internacional para a Repressão do Tráfico de Mulheres e Crianças); c) 1933 – Convenção
Internacional para a Repressão do Tráfico de Mulheres Maiores; d) 1947 – Protocolo de
Emenda à Convenção Internacional para a Repressão do Tráfico de Mulheres e Crianças e à
Convenção Internacional para a Repressão do Tráfico de Mulheres Maiores (1947); e) 1949
– Convenção e Protocolo Final para a Repressão do Tráfico de Pessoas e do Lenocínio.

Actualmente, o tema é tratado por intermédio do Protocolo Relativo à Prevenção,


Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças, conhecido
como Protocolo de Palermo, de 9 de Novembro de 1998, sendo ele o primeiro instrumento
a delimitar consensualmente o que é tráfico de pessoas e o que se deve fazer a respeito
disso.

Aprofundamento da evolução legislativa atinente ao tema tráfico humano

Em se tratando da análise histórica da evolução legislativa, faz-se necessário analisar as


menções que foram inseridas no Código Penal Brasileiro atinentes ao tema Tráfico de
pessoas.

Historicamente, o termo Tráfico de Pessoas fez-se presente em diversos momentos, com


uma legislação instável e diversas vezes, incapaz de lidar com tal agrave social, sendo
definido como o recrutamento, transporte, transferência, abrigo ou recebimento de pessoas,
através de ameaça e/ou uso da força ou através de coerção, rapto, fraude, engano, abuso de
poder, etc, com intuito receber benefícios para obter o consentimento para uma pessoa ter
controle sobre outra pessoa, com o propósito de exploração (ONU, 2003, Protocolo de
Palermo). O tráfico de pessoas é um conceito que surgiu no âmbito jurídico no século XIX
e que reapareceu entre nós no final do século XX, mas que anteriormente a esta época era
tratado apenas como Lenocínio.

CAUSAS DO TRÁFICO DE SERES HUMANOS

O Tráfico de Seres Humanos (TSH) é um negócio extremamente lucrativo, tornando-se


uma atividade aliciante para os traficantes. Alimenta-se de situações de fragilidade,
desigualdade e pobreza.
A análise das principais rotas de tráfico humano permite identificar alguns fatores e
situações que, quer nas zonas de origem, quer nos territórios de destino, tornam as pessoas
mais vulneráveis ao fenómeno, promovendo o desenvolvimento deste tipo de crime:

 Desemprego e emprego precário


 Falta de informação sobre meios seguros de obtenção de trabalho no estrangeiro 
 Pobreza e endividamento
 Baixos níveis de educação
 Ineficiência dos canais de migração legais
 Inadequação do sistema legal e judicial para combater o fenómeno
 Desigualdade de género, que provoca a feminização da pobreza e facilita a aceitação social
da exploração das mulheres
 Crescimento do negócio do sexo
 Pressões do mercado motivadas pela competitividade, que exigem um corte nos custos de
produção
 Procura pelos consumidores de produtos e serviços de baixo custo e de entrega rápida 
 Necessidade crescente de auxílio nas tarefas domésticas e de acompanhamento das crianças
e dos idosos, a baixo custo
 Grande desconhecimento do fenómeno por parte da população, dificultando a denúncia de
situações
Os principais factores que influenciam o tráfico de pessoas: Pobreza e Desemprego

 Um novo relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) sobre
as tendências do tráfico de pessoas mundo destaca como a vulnerabilidade socioeconômica
e a falta de oportunidades de emprego decente estão deixando as pessoas vulneráveis à ação
de redes criminosas  que as exploram para obter lucro.

O tráfico de pessoas é considerado uma das mais graves violações dos direitos humanos
neste século e deve ser compreendido como um fenômeno social complexo, altamente
violador e que envolve, em muitos casos, a privação de liberdade, a exploração.

As pessoas são exploradas em atividades sexuais, mas também para o trabalho escravo, em
contextos urbanos e rurais; na extração de órgãos; em casamentos servis entre outras
formas de exploração e sacrifício.

É claro que estas condições e fatores como a pobreza, a busca por melhores oportunidades
de trabalho, necessidade de sustentar a família, motivos ambientais (secas ou inundações)
estão entre as motivações que levam a pessoas a cair em falsas promessa que se revelam em
situações de exploração posterior. Mas as motivações podem ser mais complexas como, por
exemplo, o desejo de conhecer novas culturas, o desejo de transformar o corpo, o
casamento com um estrangeiro, ou a necessidade de sair de uma condição de violação de
direitos (violência doméstica, abuso sexual intrafamiliar, homofobia). Assim, o tráfico se
aproveita daquilo que é o bem mais precioso do ser humano  – a capacidade de sonhar, de
querer mais, de ir mais longe. Ele entra exatamente nos espaços onde os sonhos ainda são
negados, onde restam poucas ou nenhuma alternativa, com uma promessa que parece
aceitável.

Contudo, fatores culturais e políticos também reforçam esta ambiência para a ocorrência do
crime, como: demanda por serviços sexuais; aspectos culturais como a desigualdade e
iniqüidades de gênero e raça, geracionais, a cultura patriarcal e a homofóbica; políticas
migratórias restritivas que criam barreiras à migração regular; modelos de desenvolvimento
econômico como fatores de expulsão e atração de pessoas e serviços; a corrupção e
conivência de funcionários públicos; e deficiências de respostas estatais no enfrentamento a
este crime entre outros.
Culpar, portanto, as vítimas por sua própria sorte ou considerar que as causas do tráfico de
pessoas são absolutamente pessoais significa desconsiderar que dinâmicas como estas, de
formas distintas, estão presentes em cada país e reforçam o cenário para que o tráfico de
pessoas possa se expandir.

 A situação de vulnerabilidade

O preâmbulo do Protocolo de Palermo (2003) enfatiza ao declarar que o intuito do


Protocolo é o combate e a prevenção ao tráfico de pessoas, em especial, mulheres e
crianças. Mesmo que não haja referência à proteção de homens maiores de 18 anos, o
protocolo também não expressa a exclusão destes. Ou seja, ao enfatizar que a proteção se
dá a mulheres e crianças, o documento não afirma explicitamente que são essas as pessoas
consideradas vulneráveis, mas depreende-se.

Sob outro olhar, o Protocolo estabelece que a “situação de vulnerabilidade” é utilizada


como premissa para que o(s) traficante(s) obtenham o consentimento da vítima para o
recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas.

A expressão “tráfico de pessoas” significa o recrutamento, o transporte, a transferência, o


alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras
formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade o à situação de
vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o
consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A
exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de
exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à
escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos (grifo nosso);

 b) O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas tendo em vista qualquer
tipo de exploração descrito na alínea a) do presente artigo será considerado irrelevante se
tiver sido utilizado qualquer um dos meios referidos na alínea a) (grifo nosso);
 c) O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de
uma criança para fins de exploração serão considerados “tráfico de pessoas” mesmo que
não envolvam nenhum dos meios referidos da alínea a) do presente Artigo;
 d) O termo “criança” significa qualquer pessoa com idade inferior a dezoito anos.”
Como é perceptível, o Protocolo afirma que só haverá o crime se a pessoa em questão está
em situação de vulnerabilidade. Esta situação de vulnerabilidade, em especial, das mulheres
e crianças, exprime-se no artigo 9º, item 4 do Protocolo, que caracteriza a vulnerabilidade
por fatores como “a pobreza, o subdesenvolvimento e a desigualdade de oportunidades”
. As condições de vulnerabilidade são variáveis em cada país, transmutando os fatores em
cada cenário, seja econômico, racial/étnico, gênero, orientação sexual, dependendo também
do tempo e da conjuntura social.

A Pobreza e vulnerabilidade

O êxodo rural nos anos 70 provocou um acentuado número de pessoas nos grandes centros
urbanos em busca de trabalho nas grandes indústrias que ali se localizavam. Visto que as
cidades não comportariam tamanho número de pessoas, muito menos as indústrias
comportariam esse alto número de empregado, muitas dessas pessoas se acomodaram nos
contornos da cidade, ou seja, às margens. Eram lugares sem estrutura básica, com
amontoados de pessoas, sem oferecer nenhum saneamento ou vida digna àqueles que se
alocavam nessas regiões (cortiços, favelas etc.).

Uma das grandes consequências do aumento exponencial de residentes em ambientes com


más condições de vida é o aumento de mazelas sociais e, consequentemente, a situação de
vulnerabilidade dessas pessoas. Essa consequência acarreta ligeiramente outra, sendo o
aumento de trabalhadores informais no mercado. Somente em 2019, estima-se que 38,4
milhões de brasileiros viviam na informalidade, segundo o IBGE.

Dessa forma, pessoas vivendo em condições precárias se tornam o “alvo” preferido dos
traficantes, que utilizam dessa vulnerabilidade socioeconômica para ludibriar as vítimas,
tornando-as escravas em outras regiões ou países, seja sexual, seja laboral, para remoção de
órgãos etc.

Como o tráfico de pessoas é produto de crime organizado, não é possível calcular e


demonstrar com exatidão o número de pessoas que se encontram nessas terríveis situações.
Em 2003, dados da Fundação Helsinque, dos Estados Unidos, revelaram que mais de 75
mil mulheres brasileiras estariam inseridas no mercado do tráfico de pessoas para fins
sexuais, na União Europeia.

Crianças e mulheres são mais vulneráveis ao tráfico de pessoas e à exploração, de


acordo com a ONU

No dia 23 de setembro de 1913, a Argentina promulgou a Lei Palácios, que criou punições


para quem promovesse ou facilitasse a prostituição e a corrupção de crianças e
adolescentes. A decisão inspirou outros países a protegerem especialmente mulheres e
crianças contra a exploração sexual e o tráfico de pessoas. Em 1999, foi instituído o Dia
Internacional Contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças, na
Conferência Mundial da Coligação contra o Tráfico de Mulheres.

Segundo o último Relatório Global de Tráfico de Pessoas, publicado em 2016 pelo


Escritório da ONU sobre Drogas e Crime, quase um terço das pessoas traficadas são
crianças, e 79% das vítimas são crianças e mulheres.  A relatora especial sobre o tema na
Organização das Nações Unidas (ONU), Maria Grazia Giammarinaro, enfatizou em
comunicado que esse grupo está numa situação vulnerável e propenso à exploração.

De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR),
mais de 65 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar pelo mundo devido a
perseguições, conflitos ou violência. O dado mostra um aumento de seis milhões de pessoas
se comparado com os dados de 12 meses anteriores. A relatora da ONU destaca que muitas
dessas pessoas são enganadas por traficantes e criminosos durante seus deslocamentos. Para
ela, o clima político atual contra a imigração trata as pessoas como ameaça, enquanto elas
podem contribuir para a prosperidade dos países onde vivem e trabalham.

A maior parte das vítimas de tráfico de pessoas são também vítimas de trabalhos forçados.
O lucro total estimado com essa violação no mundo é de US$ 150 bilhões, sendo que dois
terços (US$ 99 bilhões) são oriundos da exploração sexual comercial, de acordo com dados
da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Além disso, as pesquisas da instituição
afirmam que 99% das vítimas do trabalho forçado na indústria comercial do sexo são
mulheres, e que uma em cada quatro vítimas da escravidão moderna são crianças.
Vulnerabilidades pessoais - Entre as suas principais conclusões, o documento aponta que
ser membro da população LGBTQI+ é um fator que aumenta a vulnerabilidade ao tráfico
de pessoas no contexto de fluxos migratórios mistos. Segundo os profissionais
entrevistados, os grupos mais vulneráveis ao tráfico de pessoas, nesse contexto, são:
mulheres, crianças ou adolescentes desacompanhados ou separados; crianças e
adolescentes; e população LGBTQI+.

Vulnerabilidades contextuais –Com base nas consultas realizadas, o relatório alerta que a
falta de uma ocupação é o principal fator de risco contextual para a vitimização de
migrantes e refugiados ao tráfico de pessoas, em especial de venezuelanos. Além disso,
outros principais fatores de risco incluem: a falta de acesso à moradia, à alimentação, à
informação e a serviços de assistência social, educação e saúde.

O aliciamento de pessoas a trafico de pessoas

Os aliciadores, que podem ser homens ou mulheres, são, em sua grande maioria, pessoas
que possuem elevado grau de intimidade com a família da vítima. São de certa forma,
pessoas que têm fortes e firmes laços efectivos, o que demonstra ainda mais a necessidade
de ampliação das acções de cunho preventivo e repressivo. Como características marcantes
dos aliciadores destacam-se o bom nível de escolaridade, altíssimo poder de
convencimento, aproveitando em muitas vezes, da situação de miséria das vítimas com
atraentes propostas de emprego.

No tráfico para trabalho escravo, os aliciadores, conhecidos como “gatos”, fazem


propostas de trabalho para as vítimas desenvolverem atividades laborais em latifúndios,
pecuária, oficinas de construa e até mesmo, na construção civil.

Perfis do Aliciadores
De acordo com o Especialista em Tráfico de Pessoas, Hédel Andrade, no “Brasil, a
predominância dos aliciadores, assim como no contexto globo, é do sexo masculino e estes
possuem idade entre 20 e 50 anos; de modo geral possuem poder económico elevado e
participam da vida pública nas cidades de origem ou destino do tráfico de mulheres;
estima-se que grande parte dos aliciadores conta com a ajuda de mulheres na conexão do
tráfico de mulheres, exercendo a função de recrutamento e aliciamento de outras mulheres
para serem traficadas; pois a presença de mulheres envolvidas no aliciamento confere
maior credibilidade às ofertas de emprego anunciadas para enganar as vítimas”.
Corroborando neste sentido, o Ministério da Saúde revelou que cerca de 65% dos casos de
agressão a vítimas de tráfico de pessoas foram cometidos por homens.

O perfil do aliciador pode variar dependendo das situações em que este se encontrar. O
aliciador, em determinadas ocasiões, pode ser alguém muito próximo a vitima como, por
exemplo, amigo, vizinho, um tio (a), primos, enfim, alguém que a vitima não desconfiaria e
que indirectamente influenciaria a mesma, para que esta tenha vontade de ir para o exterior
ou até mesmo para outro estado para conseguir algo melhor, para ter uma vida melhor do
que a que se encontra.

A figura do aliciador irá ser moldada conforme demandar a necessidade, podendo ser uma
mulher ou um homem a realizar o serviço. Ele pode ser alguém bem sucedido, que ganha
uma remuneração alta por trabalhar em uma grande multinacional; pode ser um funcionário
de uma cafeteria que lucra muito, fazendo o mesmo serviço que uma pessoa faz aqui no
Brasil ganhando muito menos, o que incentiva ainda mais a vitima a aceitar as propostas
feitas por ele.

O aliciador pode encontrar possíveis vítimas em sites de relacionamentos, redes sociais


entre outros, onde estas tais vítimas estão vulneráveis. Isso porque actualmente varias
pessoas diariamente dispõe informações pessoais, expõem suas vidas na internet e detalham
seus dias, tornando assim mais acessíveis, facilitando o acesso a dados das mesmas e assim
deixando o caminho livre para que estes coloquem em prática suas reais intenções.

No caso de aliciamento de menores, a forma mais fácil que os recrutadores encontram é o


de rapto, uma vez que, não necessitam de ganhar confiança da suposta vítima, ou ainda lhe
mostrar como será a vida da pessoa após essa mudança, os ganhos que esta ira receber.
Todavia, com as adolescentes, os aliciadores conseguem facilmente ludibriá-los, por serem
fáceis de persuadir.
O recrutador tem diversas faces, ele sempre usará dessas faces para ludibriar as vítimas,
dizendo o lhes convém ouvir, pois, este somente quer obter o lucro, ou seja, para cada
mulher que eles recrutarem, ganhará uma percentagem referente a cada uma delas.

Eles tiram os passaportes, documentos e vistos que as vitimas irão precisar, e quando
chegam ao destino final retiram tudo que os mesmos deram para elas, trancafiando-as em
locais desumanos e alegando que terão de trabalhar para pagarem as dividas adquiridas se
quiserem sair do local e voltar a ver seus familiares novamente.

De acordo com o entendimento de Cacciamali e Azevedo (2006, pp. 131-132):

“O tráfico humano ocorre quando há uma motivação da vítima para emigrar,


podendo ser a busca da mobilidade social devido ao desemprego, por exemplo, ou a fuga de
perseguição política, problemas policiais, familiares e outros. Por outro lado, é necessária a
presença de intermediários, recrutadores, agentes, empreendedores e até de redes do crime
organizado, que por um lado agem no imaginário das vítimas, contribuindo para a formação
de suas expectativas positivas para emigrar, e, por outro, conduzem-nas ao local de destino.
Nesse sentido, o aliciador busca engajar pessoas em atividades e/ou trabalhos nada afeitos
às normas laborais, tendo como único propósito a sua exploração. Frequentemente, as
vítimas são enganadas e incitadas com promessas de uma vida melhor, através das mais
variadas ofertas de emprego. Porém, uma vez deslocadas para o local do emprego e
isoladas, podem ver cerceada a sua liberdade. As vítimas em geral se percebem envolvidas
em servidão por dívida, submetendo-se à prostituição, outras formas de exploração sexual,
e ao trabalho forçado, em uma condição análoga à da escravidão, podendo estar sujeitas ao
tráfico ilegal de órgãos.”

Efeito de trafico de pessoas para a conomia

O tráfico de pessoas movimenta quase tanto dinheiro quanto o comércio de drogas e armas
em nível mundial.

“O tráfico de seres humanos. O negócio do comércio de pessoas”, assinala que o tráfico de


pessoas movimenta já quase tanto dinheiro quanto o comércio de drogas e armas. O tráfico
ilegal de seres humanos movimenta entre sete bilhões e 10 bilhões de dólares ao ano. Até
dois milhões de crianças estão sujeitas à prostituição no comércio sexual mundial e 20,9
milhões de pessoas são vítimas do trabalho forçado (55% são mulheres e crianças).

Tráfico de pessoas e Liberdade, Amparo legal

Legislação santomense

Ressalta-se que o tráfico de pessoas é uma violação grave aos direitos constitucionais e
fundamentais do ser humano, e envolve a privação da liberdade, a exploração sexual,
tortura, sequestro, aquisição de órgãos no mercado negro, questões que necessitam de
respostas imediatas das autoridades competentes para prevenir a procura e também a oferta
que proporcionam a prática desse crime bárbaro.

Por este motivo, o Código Penal preocupou-se em estabelecer um artigo explicativo sobre o
tráfico de pessoas e sua consecutiva sanção. A legislação nacional trata desse assunto nos
artigos 153 a 165-A e trazia apenas como finalidade o tráfico de pessoas como fim da
exploração sexual, porém com o advento do Código Penal elencou outras finalidades como
remoção de órgãos, trabalhos análogos a escravidão, adopção ilegal e exploração sexual.

Trata-se de um crime contra a liberdade individual e um crime comum na qual pode ser
praticado por qualquer pessoa. Ademais que seu “modus operandi” para configurar tráfico
de pessoas é quando o agente age sobre a vítima através de ameaça, violência, fraude,
coação e abuso.

CAPÍTULO IV DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE DAS PESSOAS

ARTIGO 153.º [Ameaças]

1. Quem ameaçar outra pessoa com a prática de um crime, provocando-lhe receio, medo e
inquietação, ou de modo a prejudicar a sua liberdade de determinação, é punido com prisão
até 1 ano ou multa até 100 dias.

ARTIGO 154.º [Coacção]


ARTIGO 155.º [Coacção grave]

ARTIGO 156.º [Intervenção e tratamento médico-cirúrgicos arbitrários]

ARTIGO 157.º [Requisitos do consentimento]

ARTIGO 158.º [Sequestro]

ARTIGO 159.º [Escravidão]

ARTIGO 160.º [Tráfico de pessoas para exploração do trabalho]

1. Quem oferecer, entregar, aliciar, aceitar, transportar, alojar ou acolher pessoas para fins
de exploração de trabalho:

a) Por meio de violência, rapto ou ameaça grave;

b) Através de ardil ou manobra fraudulenta;

c) com abuso de autoridade resultante de uma relação de dependência hierárquica,


económica, de trabalho ou familiar;

d) Aproveitando-se de incapacidade psíquica ou de situação de especial


vulnerabilidade da vítima, ou mediante a obtenção do consentimento da pessoa que
tem o controlo sobre a vítima é punido com pena de prisão de 2 a 8 anos.

2. Na mesma pena incorre quem, por qualquer meio, aliciar, transportar, proceder ao
alojamento ou acolhimento de menor, ou o entregar, oferecer ou aceitar, para fins de
exploração de trabalho.

3. No caso previsto no nº anterior se o agente utilizar qualquer dos meios previstos nas
alíneas do n.º1, ou actuar profissionalmente ou com intenção lucrativa, ou se a vítima for
menor de 16 anos, é punido com pena de prisão de 3 a 10 anos.
4. Se os factos supra referidos forem praticados pelos representantes ou órgãos de pessoa
colectiva ou equiparada, em nome destas e no interesse colectivo, são as mesmas
responsáveis criminalmente, sendo puníveis em pena de multa a fixar entre 10 milhões e
500 milhões de dobras, podendo ainda ser decretada a sua dissolução.

ARTIGO 161.º [Comercialização de pessoa]

ARTIGO 162.º [Rapto]

ARTIGO 163.º [Tomada de reféns]

ARTIGO 164.º [Rapto de menor]

ARTIGO 165.º [Desistência ou libertação]

Dados de países com mais trafico de pessoas

A nível global, os países estão detectando e reportando mais vítimas, bem como
condenando mais traficantes de pessoas. Isto pode ser o resultado de uma maior capacidade
para identificar as vítimas e/ou um aumento no número de vítimas de tráfico. Os países
notificaram um aumento do número de vítimas de tráfico detectadas nos últimos anos.
Embora o número de países declarantes não tenha aumentado significativamente, o número
total de vítimas por país aumentou. A tendência do número médio de vítimas detectadas e
reportadas por país havia flutuado durante os anos anteriores para os quais o UNODC
recolheu estes dados, porém ela tem aumentado constantemente nos últimos anos. De uma
perspectiva regional, o aumento do número de vítimas detectadas tem sido mais acentuado
nas Américas e na Ásia. Esse aumento pode ser o resultado do reforço das capacidades
nacionais para detectar, registrar e notificar dados sobre vítimas de tráfico, ou de um
aumento da incidência do tráfico, ou seja, de mais vítimas sendo traficadas. Uma maior
capacidade nacional para detectar vítimas pode ser alcançada por meio de esforços
institucionais fortalecidos para combater o tráfico, o que inclui reformas legislativas,

No mundo o tráfico de pessoas pode ser visto com iguais características das já citadas, no
entanto, é possível observar a existência de diferentes classificações dos países segundo as
rotas de tráfico, podendo ser eles de de origem, trânsito ou destino, como podemos ver
abaixo:
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tráfico de pessoas é uma prática criminosa mundial e sem fronteiras. É uma espécie de
máfia altamente rentável, movimentando bilhões de dólares por ano em todo o mundo,
chegando a atingir milhões de pessoas, forçadas a trabalhos escravos e sexuais.

Observado e analisado tudo o que foi exposto no que decorrer deste trabalho, infere-se que
o tráfico de seres humanos, infelizmente, é uma realidade nacional e internacional, devendo
ser duramente combatido para que se faça efetivo o princípio da dignidade da pessoa
humana e a efetividade do Protocolo de Palermo.

Entretanto, encontram-se alguns empecilhos no combate a este crime, seja legislativo, seja
de políticas sociais, devendo o Estado manter mais a atenção e procurar alternativas e
meios mais eficazes para o combate ao crime do tráfico de seres humanos.

Dessa forma, é necessária a integração dos diversos órgãos de combate e repressão ao


tráfico de pessoas para a elaboração e execução de políticas de enfrentamento, visto que há
uma certa incomunicabilidade e irresponsabilidade do poder estatal na articulação de
medidas de prevenção e execução.

Algumas pessoas sobrevivem ao tráfico de seres humanos para contar sua história e
incentivar o combate e à repressão, mas infelizmente, outros se findam nas estatísticas e são
“convertidas” em “objeto” de estudo científico.

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