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SOBRE IDENTIFICAÇÃO E
ATENDIMENTO A CRIANÇAS
E ADOLESCENTES VÍTIMAS
DE TRÁFICO DE PESSOAS
As opiniões expressas nesta publicação são dos autores e não refletem necessariamente a opinião da OIM, Agência
da ONU para as Migrações. As denominações utilizadas no presente material e a maneira como são apresentados os
dados não implicam, por parte da OIM, qualquer opinião sobre a condição jurídica dos países, territórios, cidades ou
áreas, ou mesmo de suas autoridades, tampouco sobre a delimitação de suas fronteiras ou limites.
A OIM está comprometida com o princípio de que a migração ordenada e humana beneficia os migrantes e a
sociedade. Por seu caráter de organização intergovernamental, a OIM atua com seus parceiros da comunidade
internacional para: ajudar a enfrentar os crescentes desafios da gestão da migração; fomentar a compreensão das
questões migratórias; promover o desenvolvimento social e econômico.
Esta publicação foi financiada pelo Fundo da OIM para o Desenvolvimento como parte do projeto “Forta
lecendo as Capacidades do Sistema de Justiça para o Combate ao Tráfico de Pessoas e Crimes Conexos”. As
opiniões expressas aqui são dos autores e não refletem necessariamente a opinião da OIM e dos parceiros.
Expediente
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS MIGRAÇÕES
Chefe da Missão da OIM no Brasil: Stéphane Rostiaux
Coordenação Executiva do Projeto: Marcelo Torelly e Natália Maciel
Oficina de Concepção: Debora Castiglione
Pesquisa original: Ludmila Paiva
Revisão: Ana Gama, Fábio Andó Filho, Marcelo Torelly e Natália Maciel.
Diagramação: Igor de Sá
Esta publicação não foi editada oficialmente pela OIM. | © OIM 2023 | Esta publicação não deve ser usada,
publicada ou redistribuída para fins principalmente destinados ou direcionados para vantagem comercial ou
compensação monetária, com exceção de fins educacionais, por exemplo, para inclusão em livros didáticos.
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO 6
6 – CONCLUSÃO 45
7 – REFERÊNCIAS 46
1 – INTRODUÇÃO
Este documento pretende ser uma ferramenta prática de apoio às instituições, programas
e serviços de atenção às crianças e adolescentes vítimas e testemunhas de violência e
suas famílias, visando à promoção do acesso a direitos e prevenção da ocorrência de
novas violações. Espera-se que a atuação integrada e coordenada entre os órgãos que
compõem o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente sirva de
referência para o estabelecimento de políticas e qualificação de ações específicas voltadas
para o atendimento às crianças e adolescentes vítimas de tráfico.
2 – CONTEXTO DO TRÁFICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
1 Em 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU) adotou o Protocolo Adicional à Convenção das Nações
Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pes-
soas, em especial de Mulheres e Crianças, que ficou conhecido como Protocolo de Palermo (2000).
b. O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas tendo em vista
qualquer tipo de exploração descrito na alínea a) do presente Artigo
será considerado irrelevante se tiver sido utilizado qualquer um dos
meios referidos na alínea a);
c. O
recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento
ou o acolhimento de uma criança para fins de exploração serão
considerados “tráfico de pessoas” mesmo que não envolvam nenhum
dos meios referidos da alínea a) do presente Artigo; (grifos nossos)
d. O termo “criança” significa qualquer pessoa com idade inferior a dezoito anos.
IV - adoção ilegal; ou
V - exploração sexual.
2 Lei nº 13.344/2016.
Na Lei brasileira, há previsão de aumento de pena se o crime for cometido contra
criança ou adolescente e também se a vítima for retirada do território nacional:
O tráfico de pessoas é definido por três elementos constitutivos, uma ação, um meio e
uma finalidade exploratória:
Agenciar, aliciar, recrutar, Mediante grave ameaça, Com a finalidade de: remover
transportar, transferir, violência, coação, fraude ou órgãos, tecidos ou partes do
comprar, alojar ou acolher abuso. corpo; submeter a trabalho
pessoa. em condições análogas à de
escravo; submeter a qualquer
tipo de servidão; adoção ilegal;
e exploração sexual.
Como visto, o tráfico de crianças e adolescentes pode ser praticado para as diversas
finalidades previstas em lei: remoção de órgãos, tecidos ou partes do corpo, submissão
ao trabalho infantil e a outras formas de servidão, exploração sexual e adoção ilegal.
Algumas dessas práticas são tão frequentes que adquiriram novos nomes, como
“adoção informal” ou “adoção à brasileira”. A adoção irregular de crianças e
adolescentes muitas vezes se destina à servidão doméstica e exploração do trabalho
infantil, mas também pode envolver o abuso sexual e outras violações (BRASIL, 2013).
Crianças e adolescentes com deficiências físicas visíveis acabam sendo, muitas vezes
exploradas no tráfico de pessoas para fins de mendicância. Àquelas portadoras de
deficiência mental ou cognitiva também estão vulneráveis a outras formas de exploração,
como na exploração sexual ou no trabalho infantil, devido à sua menor capacidade de
avaliar os riscos e fugir dessa situação. As deficiências são um importante fator de
vulnerabilidade ao tráfico de pessoas, especialmente em países com altos níveis de
discriminação e marginalização (OIM, 2017).
Muitas pessoas no Brasil aceitam o trabalho infantil como algo natural na sociedade,
mas trata-se de uma exploração causada por um cenário de desproteção e pobreza que
atinge, muitas vezes, toda a família da criança ou adolescente explorado. É um fenômeno
complexo, pois em muitos casos a exploração da criança e do adolescente está combinada
com uma situação de violação de direitos sofrida por toda a família, e uma ruptura do
convívio familiar geraria danos ainda maiores ao desenvolvimento da vítima.
3 O decreto que regulamenta a Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) contém
a lista das piores formas de trabalho infantil.
É importante ter conhecimento sobre as diferentes formas de exploração do tráfico de
pessoas, pois cada uma das finalidades implica em acionar diferentes atores do sistema de
proteção das crianças e dos adolescentes, bem como da rede de enfrentamento de tráfico de
pessoas. Por exemplo, crianças e adolescentes vítimas de abuso e exploração
sexual necessitam de assistência de saúde imediata para a administração
de Profilaxia Pós Exposição (PEP) ao vírus HIV, investigação de traumas
e infecções sexualmente transmissíveis além de avaliação da saúde
reprodutiva.
Cada órgão e serviço público, bem como entidades privadas e da sociedade civil,
cumpre um papel importante tanto no levantamento das suspeitas e realização da
denúncia, quanto na efetivação dos direitos da criança e do adolescente, dentro de suas
competências e atribuições – e referenciamento para a rede de proteção.
5 Em 2017 foi criado pela Lei nº 13.431/2017 o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adoles-
cente Vítima ou Testemunha de Violência.
Os familiares das vítimas de tráfico de pessoas são vítimas indiretas dessa
violação que, muitas vezes, está relacionada a uma situação de vulnerabilidade preexistente
e compartilhada com outras pessoas do convívio da vítima. Por esse motivo, a assistência
social deve proceder à inclusão da vítima e de sua família nas políticas, programas e
serviços existentes, com destaque para o Serviço de Atendimento Especializado a Famílias
e Indivíduos (PAEFI), ofertado nos Centros de Referência Especializado de Assistência
Social (CREAS), com o objetivo de promover a proteção social da família e contribuir para
a prevenção às violações de direitos de pessoas em situação de risco social.
Deve-se observar que a noção de família, em algumas etnias, difere do conceito usualmente
conhecido e definido na legislação brasileira, o que requer atenção no acompanhamento
das vítimas pertencentes a povos originários, indígenas ou comunidades tradicionais e seus
familiares, especialmente nas hipóteses em que for necessário o acolhimento institucional.
A identificação como indígena se dá por meio de autodeclaração e pode atribuir algumas
especificidades em relação à forma de organização social e itinerância no território.
ATENÇÃO!
4.1.2 – Educação
É fundamental que a escola seja um espaço inclusivo, acolhedor e aberto ao diálogo sobre
temas do cotidiano, e deve sempre envidar esforços para a garantia da permanência
das crianças e adolescentes no ensino regular, como estratégia fundamental para a
prevenção da violência.
4.1.3 – Saúde
A avaliação realizada por profissional de saúde deve atentar para o fato de que nem
sempre a etapa de desenvolvimento de uma criança ou adolescente é compatível com
sua idade física, em decorrência dos sucessivos traumas, abusos e privações que possa
ter sofrido. Além de questões urgentes, a avaliação de saúde deve observar se há agravos
de saúde e prejuízos ao desenvolvimento físico, cognitivo e emocional provocados pela
exposição por um longo período à exploração.
Os agentes de segurança são, muitas vezes, os profissionais que têm o primeiro contato
com as vítimas de tráfico de pessoas. Agentes das Polícias Civil e Militar, das Guardas
Municipais e da Polícia Federal devem adotar uma postura humanizada, no sentido de
não criminalizar a vítima e acionar a delegacia e demais órgãos especializados da rede
para os encaminhamentos devidos, conforme o caso.
A Lei que instituiu o Sistema recomenda a criação de delegacias especializadas no
atendimento de crianças e adolescentes vítimas de violência, com previsão orçamentária
para sua estruturação e contratação de equipes multidisciplinares. Devem ser
observadas as disposições da mesma Lei sobre o depoimento especial (que será mais
explicitado a seguir) e adotadas todas as medidas de proteção pertinentes.
A esse respeito, ressalte-se que, segundo o art. 109 da Constituição Federal, os crimes
contra a organização do trabalho competem aos órgãos federais. Nesse sentido, foi
lançado, em 2020, o Fluxo Nacional de Atendimento às Vítimas de Trabalho Escravo no
7 Suas atribuições estão enumeradas no Art. 148 do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990).
Brasil 8 , um fluxo de atuação estabelecido entre: Auditoria-Fiscal do Trabalho, Defensoria
Pública da União, Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Polícia
Federal e outras instituições. É essencial, assim, que esse fluxo, e os órgão mencionados
sejam observados, para o melhor atendimento do interesse da criança.
8 Portaria nº 3.484, de 6 de outubro de 2021 do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Dispo-
nível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-informacao/institucional/portarias/portaria-no-3-484-de-
-6-de-outubro-de-2021
9 O PPCAAM foi criado em 2003 e integra a política pública estratégica de enfrentamento à letalidade
infantojuvenil e de preservação da vida de crianças e adolescentes ameaçados de morte. Ele é disciplinado
pelo Decreto nº 9.579/2018 e coordenado pela Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Ado-
lescente do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania e sua execução se dá por meio de acordos de
cooperação e convênios entre a União, os Estados e o Distrito Federal.
As autoridades competentes para solicitar a inclusão de
crianças e adolescentes ameaçados no PPCAAM são o
Conselho Tutelar, a autoridade judicial competente, o
Ministério Público e a Defensoria Pública. A inclusão no
PPCAAM dependerá da voluntariedade do(a) ameaçado(a)
e da anuência de seu representante legal ou da autoridade
judicial competente e não é condicionada à colaboração em
processo judicial ou inquérito policial.
A identificação do tráfico de pessoas não é uma tarefa simples. Muitas vezes, conta-se
apenas com o relato das vítimas, que dificilmente abordarão os elementos necessários para
a compreensão da real situação de exploração vivenciada. Por isso, independentemente
da confirmação das autoridades de que se trata de um caso de tráfico de pessoas, diante
da menor suspeita, a vítima deve ser atendida e acolhida. Essa é uma tarefa que deve ser
compartilhada por todos os atores da rede enumerados na seção anterior.
Alguns indicadores10, ou sinais de alerta, podem ajudar na identificação de possíveis casos de
tráfico de crianças e adolescentes. A vítima, frequentemente, pode:
Contexto da exploração
● Ter sido resgatada de uma situação analóga à de escravo pode indicar a existência
também de um tráfico de pessoas;
10 Alguns indicadores foram adaptados do Guia Prático Grupo de Trabalho de Assistência às Vítimas de
Tráfico de Pessoas da Defensoria Pública da União (DPU, 2019).
Contexto individual
● Fornecer informações falsas sobre sua identidade, família, idade e país de origem;
Contexto da convivência
4.3 – Notificação
Nos casos em que tratar de tráfico internacional de pessoas devem ser acionadas as
autoridades públicas federais (Polícia Federal, Ministério Público Federal e Defensoria
Pública da União) e nas hipóteses de tráfico de pessoas para fins de exploração do
trabalho em condições análogas à de escravo, por ser um crime de competência
da justiça federal, devem ser acionadas, além das autoridades federais mencionadas
anteriormente, a Auditoria-Fiscal do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho.
A Defensoria Pública será acionada especialmente nos casos em que for necessário,
excepcionalmente, afastar a vítima do convívio familiar. Deve-se avaliar a possibilidade
de reportar a denúncia com o acompanhamento de familiares da vítima, desde que não
sejam pessoa envolvidas na agressão ou exploração.
O Guia de Referência do UNICEF para a Proteção dos Direitos das Crianças Vítimas de
Tráfico na Europa (UNICEF, 2006) listou algumas das consequências físicas, psicológicas
e comportamentais do tráfico e da exploração de crianças e adolescentes. Muitos
problemas de saúde física experimentados por crianças e adolescentes traficados são
resultantes de maus-tratos ou negligência e podem não ser aparentes ou detectáveis
num primeiro exame médico. O mesmo ocorre em relação à saúde mental.
As reações ao trauma são muito diversas, e podem envolver sintomas de: revivência
(memórias, pesadelos, imagens), fuga (distúrbios de memória, uso e abuso de substâncias,
desesperança, pensamentos suicidas), hiperestimulação (irritabilidade e agressividade,
automutilação, distúrbios de sono e de concentração), pensamentos ou humor negativo
(perda de autoestima, falta de perspectiva de futuro, perda de habilidades sociais,
dificuldade em estabelecer laços de confiança e construir relacionamentos significativos)
e até sintomas físicos (palpitações, respiração acelerada, náusea, dores de cabeça).
O Manual de Escuta de Crianças e Adolescentes Migrantes (KOZICA & VAN ELK, 2020)
elenca alguns cuidados a serem tomados no atendimento de uma criança ou adolescente
para se evitar a retraumatização:
A seguir será apresentada uma sugestão de passo-a-passo com recomendações para cada
etapa do atendimento, considerando-se a faixa etária da criança ou adolescente atendido(a).
Essas etapas de atendimento são uma adaptação livre da estrutura proposta por Kozica &
Van Elk (2020). Lembre-se que cada profissional possui normativas e protocolos próprios
de atendimento. Essas indicações gerais complementam tal instrumental sem substituí-lo.
5.2.1 – Preparação
Nessa etapa, deve observar o princípio “do no harm”, “não prejudique”, e questionar se a
interação com a vítima poderá causar-lhe algum prejuízo, e de que forma eles podem ser
mitigados. A escuta pode trazer à tona sentimentos negativos e gerar intimidação, mesmo
que exista um cuidado para que a vítima se sinta à vontade. Por isso, é preciso dispor
de ferramentas para reduzir possíveis danos e atenuar os desequilíbrios e a sensação de
inferioridade da criança e do adolescente em relação ao entrevistador adulto:
SELEÇÃO DO INTÉRPRETE
Essa etapa se inicia com a recepção da criança ou do(a) adolescente, e pode contar com a
participação do guardião ou representante legal, e do conselheiro tutelar. A abordagem pode
variar conforme a faixa etária do atendido, mas deve sempre observar os procedimentos
descritos na Lei nº 13.431/2017. O local do atendimento deve oferecer privacidade, para não
gerar constrangimentos ou revitimização. Os profissionais responsáveis pelo atendimento
devem estar capacitados para atender esse público e reconhecer suas especificidades,
vulnerabilidades e necessidades especiais de proteção (FERREIRA, 2013).
b) Adolescentes de 12 a 18 anos:
O atendimento deve iniciar com o uso de perguntas abertas pois, além de deixar a
criança ou o adolescente à vontade para narrar o fato à sua maneira, trazem informações
mais confiáveis e menos influenciadas pelo contexto trazido pelo entrevistador. São
exemplos de perguntas abertas: “me conte tudo que aconteceu” e “como você chegou
até aqui?”. As perguntas fechadas são aquelas de respostas específicas, ou de sim ou
não. Elas podem ser utilizadas na etapa seguinte, para esclarecer dúvidas, por exemplo:
“Para qual cidade te levaram?”, “Quanto tempo você ficou nesse hotel?”.
Sempre explique o motivo pelo qual está realizando determinada pergunta. Se a criança
ou o adolescente tiver dificuldades em narrar o ocorrido a partir de perguntas abertas,
faça perguntas fechadas e o estimule a desenvolver a partir delas, a livre narrativa.
5.2.4 – Detalhamento
Nessa etapa, são aprofundados os assuntos mais relevantes da narrativa da vítima, a fim de
preencher lacunas, verificar informações controvertidas e introduzir temas que não foram
abordados. No atendimento a adolescentes de 12 a 18 anos, o(a) entrevistador(a) pode
fornecer explicações adicionais sobre as informações que necessita e o porquê, e também
perguntar de forma detalhada sobre o ocorrido, questionando o(a) adolescente sobre seus
sentimentos e contexto do acontecimento, evitando interrompê-lo(a) nesse momento.
Os(as) profissionais que realizarem a escuta devem dialogar sobre o caso com o Conselho
Tutelar e demais instituições e atores envolvidos para que haja clareza e transparência
sobre quais medidas e encaminhamentos a serviços e programas serão adotados. Cada
instituição deve estabelecer fluxos próprios de encaminhamento, conforme a rede de
atenção à criança e ao adolescente local, especialmente nos casos de indisponibilidade
ou insuficiência de serviços e equipamentos públicos.
5.3 – Escuta especializada e depoimento especial
Ambos devem ser conduzidos por autoridades ou profissionais capacitados, que devem
assegurar a livre narrativa, podendo intervir quando necessário, utilizando técnicas
para a elucidação dos fatos. O profissional poderá adaptar as perguntas à linguagem
de melhor compreensão da criança ou do adolescente, devendo sempre primar
pela não revitimização. É direito da criança e do adolescente ser informado sobre os
procedimentos adotados e os serviços disponíveis para atender às suas demandas,
respeitados os seus limites de desenvolvimento.
Portanto, quando a revelação espontânea ocorrer, deve-se permitir que a vítima narre
livremente sobre o ocorrido e, por meio da escuta qualificada, acolha seu relato, sem
intervir. Em seguida, deve-se informar à criança ou ao(à) adolescente sobre possíveis
desdobramentos da revelação, identificar as demandas de cuidados urgentes, comunicar
o Conselho Tutelar e encaminhá-la para acompanhamento especializado no CREAS.
ACOMPANHAMENTO E PARTICIPAÇÃO DO
REPRESENTANTE LEGAL/GUARDIÃO
Nesse sentido, só será permitido o retorno de criança ou adolescente para seu país de
nacionalidade (repatriação) nos casos em que se demonstrar favorável para a garantia de
seus direitos ou para a reintegração à sua família de origem e quando não representar
risco à vida, à integridade pessoal ou à sua liberdade. A criança ou o adolescente deve
participar, ser consultado(a) e mantido(a) informado(a), no idioma de sua preferência
(BRASIL, 1990a) e de forma adequada à sua etapa de desenvolvimento, sobre os
procedimentos e as decisões tomadas em relação a ela ou ele e aos seus direitos.
Esta material busca fortalecer a interlocução entre aos atores que compõem a rede de
enfrentamento ao tráfico de pessoas e os da rede de proteção à criança. O objetivo é que
cada instituição, seja do poder público ou da sociedade civil, disponha de parâmetros mínimos
para prestar o melhor atendimento às crianças e adolescentes vítimas de tráfico de pessoas.
Esperamos que este esforço produza novas articulações entre os atores da rede de proteção
das crianças e adolescentes e da rede de enfrentamento ao tráfico de pessoas.
7 – REFERÊNCIAS
KOZICA, Irene & VAN ELK, Patricia (2020). Manual de Escuta de Crianças e
Adolescentes Migrantes. ICMPD/MIEUX, 2020.
SANTOS, Benedito Rodrigues dos & IPPOLITO, Rita (2009). Guia de referência:
construindo uma cultura de prevenção à violência sexual. São Paulo:
Childhood - Instituto WCF-Brasil: Prefeitura da Cidade de São Paulo. Secretaria de
Educação, 2009. Disponível em: https://prceu.usp.br/wp-content/uploads/2021/04/
Guia-de-Referencia.pdf
Teresi, Maria Verônica & Healy, Claire (2012). Guia de Referência para a Rede de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil. Brasília: Ministério da Justiça
e Cidadania, Secretaria Nacional de Justiça e Cidadania, 2012. Disponível em: https://
www.icmpd.org/file/download/54254/file/MT%2520Brasil%2520-%2520Guia%2520de
%2520Atendimento.pdf
TJBA (2019). Cartilha Depoimento Especial. Salvador: Coordenadoria da Infância
e da Juventude, TJBA, 2019. Disponível em: https://www.mpba.mp.br/sites/default/files/
biblioteca/crianca-e-adolescente/depoimento_especial/cartilha_depoimento_especial_
definitiva_-_tjba.pdf
Realização: