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TRABALHO INTEGRADOR

TRÁFICO HUMANO

Resumo

O tráfico de pessoas é caracterizado pelo recrutamento, transporte, transferência, abrigo


ou recebimento de pessoas, por meio de ameaça ou uso da força ou outras formas de coerção, de
rapto, de fraude, de engano, do abuso de poder ou de uma posição de vulnerabilidade ou de dar
ou receber pagamentos ou benefícios para obter o consentimento para uma pessoa ter controle
sobre outra pessoa, para o propósito de exploração que inclui prostituição, exploração sexual,
trabalhos forçados, escravidão, remoção de órgãos e práticas semelhantes. Para verificar se uma
circunstância particular constitui tráfico de pessoas, considere a definição de tráfico no protocolo
sobre tráfico de pessoas e os elementos constitutivos do delito, conforme definido pela legislação
nacional pertinente.

Palavras-chave: Tráfico de pessoas, Vulnerabilidade social, Repressão, Crimes.

INTRODUÇÃO
Em 2018, iniciou-se um novo ciclo de enfrentamento ao tráfico de pessoas (ETP) no Brasil,
com a aprovação do III Plano Nacional de ETP, por meio do Decreto n.º 9.440, 3 de julho de 2018.
Com desafios de natureza multidisciplinar para serem enfrentados, esse novo instrumento
assume uma importante dimensão de transversalidade e de colaboração, tanto em sua
implementação como em seu monitoramento. Nesse novo ciclo, o III Plano apresenta-se como
oportunidade para conquistas adicionais nos campos da gestão da política, da gestão da
informação, na articulação e na integração de programas. Igualmente importante esse terceiro
ciclo reforça a necessária continuidade na capacitação de atores, na sensibilização das opiniões
públicas, na prevenção ao tráfico de pessoas, na proteção das vítimas e na responsabilização dos
seus agressores.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública – por meio da Coordenação-Geral de


Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Contrabando de Migrantes – e o Ministério da Saúde são
parceiros nessa importante iniciativa voltada aos profissionais de saúde, a fim de jogar luz sobre o
tema e fornecer orientações práticas sobre procedimentos, cuidados, canais de denúncia, entre
outros aspectos.
O QUE É O TRAFICO DE PESSOAS?

Há tráfico de pessoas quando a vítima é retirada de seu ambiente, de sua


cidade e até de seu país e fica com a mobilidade reduzida, sem liberdade de sair
da situação de exploração sexual ou laboral ou do confinamento para remoção de
órgãos ou tecidos.
A mobilidade reduzida caracteriza-se por ameaças à pessoa ou aos familiares ou
pela retenção de seus documentos, entre outras formas de violência que
mantenham a vítima junto ao traficante ou à rede criminosa.

Os aliciadores, homens e mulheres, são, na maioria das vezes, pessoas


que fazem parte do círculo de amizades da vítima ou de membros da família. São
pessoas com que as vítimas têm laços afetivos. Normalmente apresentam bom
nível de escolaridade, são sedutores e têm alto poder de convencimento. Alguns
são empresários que trabalham ou se dizem proprietários de casas de show,
bares, falsas agências de encontros, matrimônios e modelos. Não há um perfil único
de quem trafica e explora pessoas

O tráfico de pessoas costuma estar diretamente relacionado a vulnerabilidades, sejam


elas sociais, econômicas e até culturais. Pobreza, desemprego, busca por melhores condições de
vida são bons indicadores de vulnerabilidade ao tráfico. Entretanto, qualquer pessoa pode vir a se
tornar uma vítima de tráfico.

Apesar da baixa escolaridade, entrada precoce no mercado de trabalho, evasão escolar e


baixos salários serem motivadores, não servem, de maneira exclusiva, para traçar o perfil das
vítimas. Contudo, é possível perceber que há uma vulnerabilidade maior quando se trata das
mulheres e dos adolescentes que são usados tanto para o tráfico de pessoas para fins de
exploração sexual; já no que concerne ao trabalho análogo ao de escravo, as vítimas preferenciais
são homens, entre 21 e 45 anos, cuja escolaridade, muitas vezes, não chega à 4ª série do ensino
fundamental. A vulnerabilidade da vítima, não se limita às questões econômicas, visto que podem
ser vulneráveis emocional e socialmente, posto que também são vítimas desse crime as travestis
e pessoas que por sua orientação sexual ou identidade de gênero submetem-se ao tráfico de
pessoas.

Embora nenhum conjunto único de sintomas ou sinais indique definitivamente que uma
pessoa vem sendo traficadas, as situações de tráfico estão associadas com características comuns
que, se conectadas entre si, podem sugerir que uma pessoa é vítima do crime. Essas
características comuns são usualmente conhecidas como indicadores de tráfico de pessoas.

O tráfico de pessoas é mais bem compreendido como um processo, e não como uma ação
isolada. O ciclo começa com o recrutamento, previamente à partida, seguindo-se os estágios do
deslocamento/viagem e chegada/exploração. Após a libertação ou a fuga da situação de
exploração, os indivíduos são atendidos pelas autoridades, após a qual eles entram na fase de
integração (se permanecerem no local de destino) ou de reintegração (se retornarem para casa).
Cada etapa desse ciclo apresenta riscos para a saúde do indivíduo, bem como representa
oportunidades para que profissionais de saúde e outros entes possam intervir com informações e
assistência.

 Tráfico de seres humanos é um crime bastante complexo, pois implicam


diferentes ações, formas de violência e de exploração. As políticas sobre o tráfico
de pessoas ganharam força a partir do ano de 2000, com a criação do Protocolo
de Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, popularmente
conhecido como Protocolo de Palermo, o principal aparato jurídico internacional
sobre o tema e o grande marco da regulamentação desse crime.

O mencionado Protocolo surgiu a partir da Convenção das Nações Unidas


contra o Crime Organizado Transnacional, aprovada pela Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU) em novembro de 2000.

O conceito de tráfico de pessoas no Protocolo está previsto em seu artigo


3º, alínea “a”. Já na alínea “b”, acrescenta que o consentimento dado pela vítima
será considerado irrelevante caso existe qualquer uma das modalidades de vício
previstas na alínea “a”.

Em meio às alarmantes estatísticas mundiais, destaca-se um dado da Organização


Internacional do Trabalho sobre as cerca de 2 milhões de vítimas de diferentes formas de
trabalhos forçados em todo o mundo. No Brasil, o problema tem duas vias: assim como recebe
pessoas traficadas, há também vítimas entre seus cidadãos. A grave questão, portanto, tem
levado entidades da sociedade civil e o Poder Público a reforçarem a atuação no combate a esse
crime. Desse modo, a Ordem paulista se move nesse campo por meio de distintas iniciativas
conjuntas. Além da fundamental ação informativa por meio da veiculação desta cartilha, também
atuamos, para citar mais um exemplo, como parte integrante da Comissão Judiciária
Interdisciplinar Sobre Tráfico de Pessoas, do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Fora os esforços para a construção de políticas públicas de combate ao tráfico humano,
houve um avanço recente na legislação. Em outubro de 2016, o país sancionou a Lei 13.344, que
dispõe a respeito de prevenção e repressão ao tráfico interno e internacional de pessoas e sobre
medidas de atenção às vítimas. Se até há pouco tempo atrás apenas o tráfico humano com fins de
exploração sexual era um delito tipificado pela legislação brasileira, essa normativa agora passa a
punir outras formas de exploração como as citadas anteriormente. O país reforça o compromisso
assumido internacionalmente em 2004 quando ratificou o Protocolo Adicional à Convenção da
ONU contra o Crime Organizado.

LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL

As políticas sobre o tráfico de pessoas ganharam força a partir do ano de


2000, com a criação do Protocolo de Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico
de Pessoas, popularmente conhecido como Protocolo de Palermo, o principal
aparato jurídico internacional sobre o tema e o grande marco da regulamentação
desse crime.

O mencionado Protocolo surgiu a partir da Convenção das Nações Unidas


contra o Crime Organizado Transnacional, aprovada pela Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU) em novembro de 2000.

O conceito de tráfico de pessoas no Protocolo está previsto em seu artigo


3º, alínea “a”. Já na alínea “b”, acrescenta que o consentimento dado pela vítima
será considerado irrelevante caso existe qualquer uma das modalidades de vício
previstas na alínea “a”.

LEGISLAÇÃO NACIONAL

No Brasil, a regulamentação se dá por meio do artigo 149-A do Código


Penal, o qual conceitua o tráfico de pessoas da seguinte forma:

Art. 149-A: Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar


ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso,
com a finalidade de:
(…)
V – exploração sexual.
Nota-se que para existir o crime de tráfico de pessoas é necessário que se
tenha a presença de algum vício de consentimento, ou seja, é necessário que
tenha ocorrido grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, conforme
previsto no caput do artigo. Inexistindo o vício, o consentimento dado pela vítima
é válido, descaracterizando o crime.

Contudo, nem sempre foi dessa forma. A redação anterior do Código Penal
não incluía os vícios de consentimento como partes do conceito do crime, apenas
como causas de aumento da pena. Assim, o consentimento da vítima era sempre
irrelevante e desconsiderado em qualquer contexto, pois não era necessária a
existência de vícios para que o crime fosse caracterizado.

Porém, com o advento da Lei n. 13.344 de 2016, os vícios passaram a


fazer parte do conceito do crime de tráfico de pessoas e, por isso, sem eles o
crime não existe. Assim, atualmente, o consentimento válido/livre de vícios dado
pela vítima é relevante e faz com que não exista a conduta criminosa.

O crime de trafico de pessoas possui, conforme os parágrafos 1° e 2° do


art. 149-A quatro causas de aumento de pena, em que se elevará a pena de um
terço a metade e uma causa de diminuição, caso em que se reduzirá de um a
dois terços. Vejamos:

§ 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se:

I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a


pretexto de exercê-las;

Quanto a esta causa de aumento de pena, entende-se que o injusto será


mais gravoso em razão da violação do dever funcional e da confiança depositada
ao agente funcionário público.

Naturalmente, o tráfico de pessoas torna-se muito mais grave quando o


servidor público o comete, visto que está atuando contra os interesses da própria
Administração para a qual presta seu trabalho. Ademais, em muitos casos, quem
pratica esse delito é um servidor encarregado da segurança pública, vale dizer, a
pessoa responsável pela luta contra a criminalidade. É relevante anotar o
seguinte: o funcionário pode estar em pleno exercício de sua função como
também estar fora dela, mas valer-se disso para o cometimento do delito;
(NUCCI, 2020, p 967)

Deste modo, parece acertada a decisão do legislador em tornar mais


penosa à punição quando o autor do delito se tratar de funcionário público, ainda
que não esteja no exercício de suas funções, mas que comete o crime se
aproveitando desta condição específica.

II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou


com deficiência;

A segunda causa de aumento de pena relaciona-se intrinsecamente com a


vulnerabilidade da vítima. Neste caso, pune-se com maior rigor o agente que
comete crimes contra crianças, adolescentes, pessoas idosas ou pessoas com
deficiência. Tal acréscimo de pena justifica-se pela alta reprovabilidade social e
cultural da conduta quando a vítima apresenta vulnerabilidade defensiva.
REFERÊNCIAS:
CNJ, Tráfico de pessoas, Brasília, disponível em:
https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/trabalho-escravo-e-trafico-de-pessoas/trafico-de-
pessoas/. Acesso em 31mar. 2023.

APAV, Apoio às vitimas, Lisboa, Portugal. Disponível em: apav.sede@apav.pt. Acesso em


31mar. 2023.

IDP, Análise da vulnerabilidade das vítimas. Disponível em:


https://direito.idp.edu.br/blog/direito-penal/trafico-pessoas-exploracao-sexual/. Acesso em: 30 mar.
2023.

RAMOS, Danielle Paranhos dos Reis. et al. Tráfico de pessoas: análise crítica e doutrinaria da
nova ótica penal do delito. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 27, n. 6882, 5
mai. 2022. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/97512. Acesso em: 31 mar. 2023.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Documentário Técnico: Enfrentamento ao tráfico de pessoas, Brasília,


ano 2022. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/enfrentamento_trafico_pessoas_profissionais_saud
e.pdf.

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