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TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES PARA FINS DE EXPLORAÇÃO

SEXUAL: ENFRENTAMENTO NO ÂMBITO NACIONAL E INTERNACIONAL

INTERNATIONAL TRAFFICKING IN WOMEN FOR THE PURPOSE OF SEXUAL


EXPLOITATION: CONFRONTATION AT THE NATIONAL AND INTERNATIONAL
LEVELS

Cássia Simone de Oliveira Cavalcante1

Resumo: A influência da globalização e o deslocamento de pessoas em todo o mundo, em


busca de melhores condições de vida, acontece tanto de forma legal quanto de forma ilegal. No
contexto da ilegalidade, surge o crime de tráfico de pessoas, que se dá mediante aliciamento,
fraude, engano e violação de direitos humanos. Na maioria dos casos, as mulheres são as
principais vítimas, usadas como objetos para exploração sexual. Por causa do aumento de casos
nas últimas décadas, os Estados têm implantado mecanismos de prevenção e repressão na
tentativa de combater essa prática delitiva. O presente artigo visa analisar os aspectos mais
relevantes do tráfico de mulheres para exploração sexual, os desafios e ações para impedir essa
prática criminosa no Brasil e no mundo.

Palavras-chave: Tráfico de mulheres. Convenção de Palermo. Políticas públicas.

Abstract: The influence of globalization and the displacement of people around the world in
search of better living conditions happens both legally and illegally. In the context of illegality,
the crime of human trafficking arises, which occurs through enticement, fraud, deception, and
violation of human rights. In most cases, women are the main victims, used as objects for sexual
exploitation. Because of the increase in the number of cases in recent decades, the States have
implemented prevention and repression mechanisms in an attempt to combat this criminal
practice. This article aims to analyze the most relevant aspects of trafficking in women for
sexual exploitation, the challenges and actions to prevent this criminal practice in Brazil and
worldwide.

Keywords: Trafficking in women. Palermo Convention. Public policies.

1
Acadêmica do curso de Direito da Instituição de Ensino Superior (IES) da Rede Ânima Educação. E-mail:
cassiasimone1811@gmail.com. Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de
Graduação em Direito da Instituição de Ensino Superior (IES) da Rede Ânima Educação. 2023. Orientadora:
Islamara da Costa, mestranda em Psicologia Organizacional do Trabalho; pedagoga; psicopedagoga; bacharela em
Direito com especialização em Direito Tributário. Docente do Curso de Direito da Universidade Potiguar.
2

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo tem o objetivo de discutir sobre a prática de um crime que está em
expansão em todo o mundo e que é uma grave violação da dignidade da pessoa humana: o
tráfico de mulheres para fins de exploração sexual. O estudo irá abordar os aspectos da
legislação nacional e internacional no enfrentamento e proteção às vítimas desse crime que tem
tomado dimensões alarmantes em todo o mundo; sendo uma modalidade criminosa que utiliza,
além da violência e da coerção para alcançar seus objetivos tenebrosos, a persuasão e a
corrupção. Nesse contexto, serão analisadas a importância e a eficácia das políticas públicas
que visam combater essa prática criminosa, a atuação do Estado na regulamentação das leis e a
criação de outros mecanismos nacionais e internacionais de combate ao crime organizado.
Serão identificados alguns obstáculos enfrentados, bem como as dificuldades existentes em
relação à proteção das vítimas e as consequências desse delito para a sociedade. A pesquisa
também irá apontar o perfil das vítimas mais frequentes que são mulheres e crianças, e a maneira
como acontece o aliciamento. Ainda, enfatizar os motivos que contribuem para a prática desse
ilícito.
A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica com a busca por textos publicados,
por meio de fontes confiáveis e concretas, fazendo o levantamento das informações relevantes
para a organização do estudo, o aprimoramento do conhecimento e a construção do trabalho
acadêmico. Foi aplicado o método dedutivo a partir das informações gerais existentes sobre o
tráfico de pessoas para análise das conclusões.
Desse modo, a pesquisa busca analisar a problemática do tráfico de pessoas, incluindo
o tráfico de mulheres e as ações promovidas pelo Estado com o objetivo de erradicar a
exploração sexual, trazendo reflexões sobre a efetividade das políticas públicas na proteção às
vítimas dessa prática ilícita. As políticas públicas realmente são efetivas para proteger as
vítimas? Além da prevenção, é de suma importância que o Estado garanta o acolhimento, a
proteção, a segurança e a privacidade das vítimas desse grave delito.

2. A PRÁTICA DO TRÁFICO DE MULHERES

A existência do tráfico internacional de mulheres é um fenômeno que abrange todo o


mundo, sendo um problema causado por vários fatores como a pobreza, a falta de acesso à
educação, crises humanitárias, conflitos bélicos, a globalização, o consumismo; situações em
que as vítimas ficam mais expostas e vulneráveis ao aliciamento.
3

O tráfico de pessoas tem se tornado uma das principais preocupações do mundo


contemporâneo. O crime organizado tem objetivos bem definidos; é, portanto, considerado
pragmático e tem sido uma das modalidades criminosas que mais cresceu e se fortaleceu nas
últimas décadas. Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), disponíveis no
manual do Projeto Combate ao Tráfico de Pessoas do Escritório da OIT no Brasil, mostram que
cerca de 2,4 milhões de pessoas no mundo são vítimas do tráfico para trabalhos forçados, e 43%
dessas vítimas são traficadas para fins de exploração sexual.2
Com a intensificação do fluxo migratório e as situações de irregularidade, as
autoridades nem sempre conseguem detectar esse tipo de crime, pois, muitas vezes, confunde-
se com o contrabando de migrantes. Ambos são crimes, mas no caso do contrabando de
migrantes, que é a entrada ilegal de uma pessoa num Estado no qual não seja natural ou
residente, mesmo sendo uma prática ilegal, acontece com o consentimento dessa pessoa. No
tráfico de pessoas, acontece a exploração da vítima pelos traficantes, que inclui prostituição,
exploração sexual, e em alguns casos, remoção de órgãos e trabalhos forçados. O objetivo é a
obtenção de algum benefício ou lucro. Neste último caso, por serem vítimas do tráfico,
necessitam de maior proteção.3
O tráfico humano, incluindo o tráfico de mulheres para exploração sexual é um crime
complexo e multifacetado, no qual organizações criminosas atuam de diversas formas, como
na logística do transporte das vítimas, falsificação da documentação e outras providências que
necessitam, muitas vezes, de contatos estratégicos; por isso, é considerado um fenômeno
peculiar, quando comparado à criminalidade “comum”.
Segundo a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE, 2021), em
algumas partes do mundo, o tráfico de pessoas é utilizado para financiar grupos terroristas;
principalmente em países do Oriente Médio, como é o caso da Al-Qaeda e do Estado Islâmico.
Em muitos casos, as mulheres, vítimas desse tipo de crime, são usadas como recompensa para
os soldados e tornam-se escravas sexuais.
Em pleno Século XXI, essa prática tem sido um negócio rentável, na qual as
organizações criminosas movimentam bilhões. Segundo a Organização das Nações Unidas
(ONU), o tráfico humano é o terceiro negócio ilícito mais lucrativo do mundo, depois do tráfico

2
LADEIA, Ansyse Cynara Teixeira. Tráfico Internacional de mulheres e seu Enfrentamento no Âmbito
Nacional e Internacional. Faculdade Ruy Barbosa, Campus Rio Vermelho, 2016 p. 4. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/institucional/procuradoria/pesquisa/trafico-internacional-de-mulheres-e-seu-
enfrentamento-no-ambito-nacional-e-internacional. Acesso em 16 de jun. 2023.
3
Tráfico de Pessoas e Contrabando de Migrantes. 2023. Disponível em: https://www.unodc.org/lpo-
brazil/pt/trafico-de-pessoas/index.html. Acesso em: 26 de maio 2023.
4

de drogas e de armas. Na maioria dos casos, as vítimas são mulheres submetidas à exploração
sexual, destacando-se como principais causas da origem desse tipo de crime, a discriminação
de gênero que as mulheres têm sofrido desde os tempos remotos, a percepção da mulher como
objeto sexual, as violências domésticas nos cenários familiares e os valores que foram
construídos sob a influência do patriarcado. É a dominação masculina versus a submissão
feminina.
Durante muito tempo, a exploração sexual de mulheres que saíam de seus países de
forma ilegal, sendo usadas como objeto sexual no exterior para garantirem dinheiro e melhoria
de vida para seus familiares, parecia uma prática invisível, não sendo considerado um problema
de governo no Brasil.
A demanda pelo tráfico de mulheres está inegavelmente ligada a questões das migrações
internacionais, a indústria do turismo sexual, que faz com que as vítimas sejam presas
potenciais para as redes criminosas. Segundo Menezes (2007 b), sobre o fenômeno das
migrações internacionais, um dos tipos de imigrantes que seriam os alvos do tráfico
internacional de seres humanos: indivíduos deslocados de seus países de origem por força ou
coerção, com vistas à sua exploração no estrangeiro. Cada vez mais lucrativo, os alvos
principais são mulheres e crianças, fazendo reviver, em pleno século XXI, a tragédia da
escravidão. De acordo com estimativas do U.S. Justice Department (Departamento de Justiça
dos Estados Unidos), referentes a 2001, entre 700.000 e 9 2.000.000 mulheres e crianças foram
vítimas de tráfico. (MENEZES, 2007b, p. 208-217).
Segundo levantamento da Secretaria Nacional de Justiça e do Escritório das Nações
Unidas para Drogas e Crimes (UNODC), entre os anos de 2005 e 2011, esse tipo de crime fez
475 vítimas, sendo 337 para exploração sexual e 135 foram submetidas a trabalho escravo
(Revista DIREITO E JUSTIÇA, 2013, p. 17). Em 2018, com o Relatório Global sobre o Tráfico
de Pessoas (UNODC), a maioria das vítimas detectadas globalmente é traficada para fins de
exploração sexual, embora este padrão não seja uniforme em todas as regiões. Essa modalidade
de tráfico prevalece na Europa, nas Américas, na Ásia Oriental e Pacífico. De acordo com
estudos nacionais, as vítimas detectadas nos países da Europa, revelam que a forma mais
frequente de tráfico é para fins de exploração sexual; já na África Subsaariana e Oriente Médio,
ainda prevalece a forma de tráfico para trabalhos forçados.
Em algumas zonas de conflito analisadas, incluindo Oriente Médio, Sudeste Asiático,
África Central e Ocidental, entre outras, em que a situação é desesperadora, surge a
oportunidade para que aconteça a exploração de civis por grupos armados, bem como por
grupos criminosos e traficantes individuais. Em alguns campos de refugiados em que pessoas
5

fogem dos conflitos e perseguições, mulheres e meninas são raptadas, levadas à países vizinhos
e submetidas à casamentos forçados, exploração e escravidão sexual. Durante a guerra na
Ucrânia, muitas mulheres refugiadas tornam-se vítimas da exploração sexual, pelo fato de
estarem em situação de vulnerabilidade. Casos de ofertas online e incentivos, aparentemente
generosos para que as mulheres ucranianas possam fugir de suas dificuldades, se multiplicam
em tempos de guerra.4
Outras formas de tráfico detectadas foram: o tráfico para casamentos forçados e o tráfico
de crianças para adoção ilegal; sendo o primeiro, registrado mais comumente em algumas partes
do Sudeste Asiático e o segundo, nos países da América Central e do Sul.
Um dos fatores que também possibilitou e facilitou o rápido crescimento desse tipo de
crime foi o surgimento das novas tecnologias de comunicação e informação, pelas quais os
criminosos elaboram métodos para a comercialização de seus “produtos”. Além disso, as
condições atuais do mundo, os conflitos armados, as crises econômicas, as desigualdades
sociais, a falta de oportunidades e outros acontecimentos, contribuem para que muitas mulheres
sejam obrigadas a saírem de seus países em busca de melhores condições e assim, garantirem
o seu sustento e de seus familiares. Essas vítimas do tráfico humano são destituídas de sua
liberdade, dignidade e autonomia. Em muitos casos, essas mulheres não conseguem identificar
que estão sendo traficadas e que serão submetidas à exploração sexual de uma forma muito
intensa, escravizadas pelos exploradores e levadas à prostituição para conseguirem sobreviver.
Nesses casos, o crime, geralmente acontece em três fases: a primeira é a conquista da vítima
por meio de ofertas e recursos diversos; na segunda fase, as vítimas são transportadas para o
país de destino e aliciadas; a terceira fase, é quando a pessoa traficada chega ao ambiente de
exploração, sendo mantida, muitas vezes, em cárcere privado por criminosos inescrupulosos,
aliciadores, onde começam a sofrer maus-tratos de várias formas.

2.1. O PERFIL DAS VÍTIMAS

O perfil das vítimas do tráfico para fins de exploração sexual é diversificado: mulheres,
crianças e adolescentes. Mulheres jovens, com pouca escolaridade estão entre as principais
vítimas. Nesse tipo de crime, o que facilita a atuação dos traficantes é a situação não apenas
econômica, mas também social. Mulheres vulneráveis que são atraídas com promessas de

4
Como o tráfico de pessoas se aproveita de refugiadas ucranianas. 2022. Disponível em:
https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2022/03/como-o-trafico-de-pessoas-se-aproveita-de-refugiadas-
ucranianas.html. Acesso em 16 de jun. 2023.
6

emprego em outros países e não imaginam a realidade cruel que as espera. Nesse sentido, essas
mulheres que buscam melhores condições de trabalho e de vida são submetidas a situações
degradantes, sendo violentadas e exploradas. Algumas conhecem e envolvem-se em
relacionamentos por meio de redes sociais, sites e são iludidas com promessas de casamento
com estrangeiros que na verdade são criminosos disfarçados, mas ao chegarem no exterior são
submetidas ao trabalho doméstico forçado, a uma relação de servidão ou levadas à prostituição.
Geralmente, os aliciadores não têm cara de traficantes, são pessoas, homens ou mulheres que,
inicialmente, aproximam-se e tentam ganhar a confiança de suas futuras vítimas.
Destaca-se, portanto, as condições desumanas pelas quais, muitas mulheres, vítimas
desse tipo de crime, vivem. É uma realidade cruel com experiências de maus-tratos, violência
doméstica e psicológica; muitas sonham com um futuro melhor, com novas oportunidades, e
por estarem mais vulneráveis, são atraídas facilmente pelos aliciadores com discursos atraentes,
e dessa forma, ganham a confiança de suas vítimas. As consequências do crime de tráfico de
mulheres para fins de exploração sexual são: o uso de drogas, a transmissão de doenças sexuais,
problemas psicológicos, além do preconceito e discriminação. São muitos os dramas pessoais
vivenciados pelas vítimas. Nesse contexto, o perfil psicológico das mulheres, vítimas do tráfico,
é bastante confuso, apresentando, muitas vezes, sentimentos contraditórios. Algumas não
conseguem perceber que a situação em que se encontram se trata de uma grave violação dos
seus direitos e sua dignidade. O uso de drogas e medicamentos é uma realidade constante na
vida das vítimas exploradas sexualmente que, por meio de ameaças e outras formas de
violência, são submetidas a condições exaustivas de prostituição.
Uma mulher pode consentir em migrar para trabalhar como doméstica ou prostituta ou
para trabalhar irregularmente em outro lugar, mas isso não significa que ela tenha consentido
em trabalhar de forma forçada ou em condições similares à escravidão, bem como em ser
explorada, e se isso acontecer fica caracterizado o tráfico de mulheres.5
Refletindo sobre as leis ou tratados relacionados com esse tema, percebe-se que no
aspecto do consentimento da mulher para a prática da atividade sexual, mesmo respeitando sua
liberdade individual e domínio sobre seu corpo, o que se pretende assegurar são os direitos à
dignidade e à proteção de cada mulher; pois o fato criminoso decorre da exploração sexual,
caracterizada por violência, agressões físicas e psicológicas. O que caracteriza esse crime é o
dolo “consistente na vontade livre e consciente de agenciar, aliciar, recrutar, transportar,

5
BRASIL. Tráfico de Mulheres. Política Nacional de Enfrentamento. Brasília. Secretaria de políticas para as
mulheres. 2011 p. 11.
7

transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude
ou abuso” (CAPEZ 2018, p. 434).

3. O TRÁFICO DE MULHERES E A ESCRAVIDÃO MODERNA

A prática ilícita e desumana do tráfico sexual de mulheres pode ser definida como um
tipo de escravidão moderna, construída com base em situações de exploração, ameaças,
violência, coerção ou engano, abrigando-se nas desigualdades e injustiças da distribuição de
riquezas, apoiadas pelo sistema mundial que tem contribuído para o aumento da vulnerabilidade
de milhões de pessoas em todo o mundo. Outro fator que ampliou cada vez mais esse tipo de
crime, foi a globalização que facilitou a abertura de fronteiras e as rotas de migração, deixando
assim, o espaço aberto para a atuação de organizações criminosas. No que se refere a esse tema,
Damásio de Jesus vai dizer que

o problema do tráfico não é novo. É uma forma moderna de escravidão que persistiu
durante todo o século XX; esse é um problema antigo que o mundo democrático
ocidental pensava extinto. O combate ao tráfico, em sua nova configuração, deve
alinhar-se com a garantia dos direitos fundamentais das mulheres (JESUS, Damásio
de, 2003, p. 15).

Conforme o artigo 5º, da Constituição Federal de 1988,

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]. Assim, todo ser humano deve
ser respeitado e seus direitos assegurados (BRASIL, 1988, p. 16).

Com a pandemia de COVID -19 e o fechamento das escolas, o uso da internet tornou-
se mais frequente, principalmente por crianças e adolescentes, permitindo a atuação dos
criminosos e facilitando o aliciamento no mundo digital. De acordo com o Relatório Global do
Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime de 2022, com análise dos casos detectados
entre 2018 e 2021, foi constatado que durante o período supracitado, o número de casos de
tráfico de homens para trabalho forçado teve um aumento significativo, mas houve redução no
número de mulheres traficadas para exploração sexual. Esses dados não indicam uma
diminuição real desse crime, pois as estatísticas refletem somente os casos registrados; isso se
dá devido à dificuldade de detectar as vítimas em meio às restrições de locomoção causadas
pela pandemia.
8

No século XXI, o tráfico de pessoas, que inclui o tráfico de mulheres, tem se espalhado
por todo o mundo e, por ser um problema transnacional, vem sendo discutido exaustivamente.
Com isso, trouxe ao mundo a necessidade de criar instrumentos de proteção às vítimas e
mecanismos para combater esse ilícito. O aumento de casos se dá também pelo fato da
impunidade para esse tipo crime, principalmente em países da África e Oriente Médio.

4. ELEMENTOS DO TRÁFICO HUMANO

De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (2023), o crime
de tráfico de pessoas é caracterizado por três elementos: o ato, que é a fase do recrutamento,
transporte, transferência e acolhimento; o objetivo que inclui a exploração sexual, escravidão,
trabalhos forçados, remoção de órgãos, dentre outras práticas; os meios, fase em que as vítimas
sofrem ameaças ou uso de força, são coagidas e enganadas pelos aliciadores. Os métodos
utilizados pelas organizações criminosas são diversificados para a realização desse tipo de
crime. Entende-se que, mesmo estando livres para a prática da prostituição, as mulheres
traficadas, muitas vezes, não são conscientes da realidade que irão enfrentar. Com isso, todos
os aparatos legais asseguram, nesse tipo de situação, a dignidade e os direitos humanos de cada
pessoa. Uma das grandes dificuldades enfrentadas pelas autoridades no Brasil, em relação ao
combate do crime de tráfico de mulheres, é o silêncio das vítimas e de seus familiares que, em
muitos casos, são ameaçados; e por medo de sofrerem represálias dos criminosos, que muitas
vezes estão próximos, se recusam a serem testemunhas. Por esse motivo, existe a dificuldade
para a localização e punição dos criminosos. Outro grande problema enfrentado está
relacionado ao direcionamento e prioridade das investigações por parte das equipes policiais,
que não são suficientes para uma atuação eficaz, contribuindo, dessa forma, com a impunidade.
O combate ostensivo para o enfrentamento contra o tráfico de mulheres, depende da
colaboração internacional, o envolvimento dos governos e organismos internacionais, como
assegura Damásio de Jesus6 “a única forma de dar combate razoável a esses crimes é por
intermédio de um esforço global, principalmente por se tratar de um fenômeno mundial e
multifacetado, que envolve interesses econômicos”.

6
JESUS, Damásio de. Tráfico Internacional de Mulheres e Crianças. Brasil, Aspectos Regionais e Nacionais.
São Paulo: Saraiva, 2003. p. 13.
9

5. A LEGISLAÇÃO NACIONAL E INTERNACIONAL NO COMBATE AO TRÁFICO DE


MULHERES

No cenário mundial, vários instrumentos de proteção como tratados internacionais,


baseados nos direitos universais foram desenvolvidos com o objetivo de reprimir o tráfico e
resgatar vidas. Podemos citar alguns: a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948;
o Programa de Ação para Prevenção da Venda de Crianças, Prostituição Infantil e Pornografia,
lançado pela ONU em 1992; em 1947, foi elaborada a Convenção Internacional para Repressão
do Tráfico de Mulheres Maiores, em Lake Success (NY), ratificada pelo Brasil em 1951, a qual
valoriza a dignidade da pessoa humana, a família e a comunidade; dentre outros.7
A Convenção de Viena (1969), traz, em seu artigo 26, um dos principais princípios do
Direito Internacional que é o pacta sunt servanda: Todo tratado em vigor vincula as Partes e
deve ser por elas cumprido de boa-fé. A orientação é que os países signatários ratifiquem e
cumpram o conteúdo pactuado nos tratados, de forma efetiva, para a proteção dos direitos
humanos, das crianças e mulheres.
Um passo importante para a proteção de todas as mulheres, foi a Convenção das Nações
Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (1979),
ratificada pelo Governo brasileiro em 1º de fevereiro de 1984.
Com a preocupação em proteger mulheres e crianças, a Organização das Nações Unidas
(ONU), instituiu um comitê intergovernamental especial para elaborar uma convenção
internacional de alcance global, por meio da Resolução nº 53/111 da Assembleia Geral, de 9 de
dezembro de 1998. Com o escopo de reprimir o tráfico de mulheres e crianças, essa iniciativa
abriu caminho na elaboração de um conjunto de instrumentos para impedir o crime de tráfico.
São eles: Decreto nº 5.015, de 2004 (Convenção de Palermo); Decreto nº 5.016, de 2004;
Decreto nº 5.017, de 2004, o Protocolo adicional da Convenção de Palermo, que promulga a
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, relativo ao Tráfico
de Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea e o Protocolo adicional à Convenção das
Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e
Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças.8

5.1. O TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES E A CONVENÇÃO DE PALERMO

7
BRASIL. Política Nacional de Enfretamento ao Tráfico de Pessoas. Brasília. Ministério da Justiça. 2006.p.12.
8
FERNANDES, David Augusto. A Convenção de Palermo e o tráfico de pessoas. 2014. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/31719/a-convencao-de-palermo-e-o-trafico-de-pessoas. Acesso em: 27 de maio 2023.
10

A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, também


conhecida como Convenção de Palermo, foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU, em 15
de novembro de 2000 e ratificada pelo Brasil em 2004, através do Decreto nº 5.017. É um
instrumento global transformador e fundamental que abriu precedentes para o enfrentamento
ao crime transnacional e multifacetado do tráfico de pessoas, criando diretrizes concretas de
cooperação internacional com o objetivo de preencher uma omissão que havia no Direito
Internacional, estabelecendo a criação de políticas abrangentes e programas de prevenção e
proteção às vítimas pelos Estados Partes, já que os tratados existentes eram apenas sobre
questões criminais específicas. Portanto, percebeu-se que era necessário um mecanismo que
possibilitasse a cooperação entre os Estados no combate ao crime organizado, delegando aos
entes soberanos a competência para legislar e cumprir da melhor forma o que foi apontado nos
documentos. Esse é o principal instrumento global de combate ao crime organizado e foi um
marco norteador para todos os países participantes.
Algumas medidas foram adotadas para combater a criminalidade organizada de forma
mais eficaz: a adequação da legislação penal ao consenso internacional, a facilitação do
processo de extradição, a assistência jurídica mútua e a cooperação policial.
De acordo com o Protocolo de Palermo de 2003, em seu artigo 3º,

a expressão tráfico de pessoas, significa o recrutamento, o transporte, a transferência,


o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça, uso da força ou
outras formas de coação com a finalidade de ganhar dinheiro com a pessoa traficada,
transformando-a em objeto de comercialização e exploração.

Esse conceito abrangente, é bastante utilizado em todo o mundo pelos principais órgãos
de combate, repressão e estudo ao crime de Tráfico de Pessoas. Vários instrumentos de proteção
como os tratados internacionais, baseados nos direitos universais foram desenvolvidos com o
objetivo de reprimir o tráfico, resgatar e proteger as vítimas.
O Protocolo adicional à Convenção Nacional das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional tem como objetivos: prevenir e combater o tráfico de pessoas,
prestando uma atenção especial às mulheres e às crianças; proteger e ajudar as vítimas desse
tráfico, respeitando plenamente os seus direitos humanos; e promover a cooperação entre os
Estados Partes de forma a atingir esses objetivos. É um instrumento juridicamente vinculante
que tem uma definição consensual sobre o tráfico de pessoas.
11

5.2. O TRÁFICO DE MULHERES E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

No Brasil, o tráfico internacional de mulheres para fins de prostituição, foi tipificado


pela primeira vez, mesmo de forma discriminatória e ambígua com o gênero feminino, no
Código da República de 18909, em seu artigo 278, in verbis:

Art. 278. Induzir mulheres quer, abusando de sua fraqueza ou miséria, quer
constrangendo-as por intimidações ou ameaças, a empregarem-se no tráfico da
prostituição; prestar-lhe, por conta própria ou de outrem, sob sua ou alheia
responsabilidade, assistência, habitação ou auxílios para auferir, directa ou
indirectamente, lucros dessa especulação.

Posteriormente, em 1932, a Consolidação das Leis Penais, trouxe, de forma indireta, a


previsão desse crime em seu artigo 278; sendo revogado em 1940 com o Código Penal em seu
artigo 231, referindo-se ao que antes era denominado crime de “tráfico de mulheres”, e que
agora passou a ser “tráfico internacional de pessoas”. O artigo 231, § 3º, do Código Penal tinha
a seguinte redação: “Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa”.10
A revogação do § 3º do artigo 231 do Código Penal, expressamente anotada no artigo
5º da Lei 11.106, de 2005, deve-se à seguinte mudança: a pena de multa que antes era
condicionada ao “fim de lucro” agora é obrigatoriamente cumulativa e está expressa nos §§ 1º
e 2º do mesmo artigo. Somente depois, esse dispositivo foi alterado pela Lei 11.106, de 2005,
em que as penas seriam aplicadas de acordo com o grau de gravidade das condutas, sendo a
pena mais gravosa no caso de emprego de violência, fraude ou grave ameaça.
Atualmente, existe no ordenamento jurídico brasileiro, a Lei 13.344, de 06 de outubro
de 2016 que trata sobre a prevenção e repressão do tráfico interno e internacional de pessoas e
sobre medidas de atenção às vítimas. Essa Lei determina o enfrentamento ao tráfico de pessoas
e encontra-se em consonância com as expectativas internacionais, materializadas em tratados e
com fundamentos e garantias do Direito Penal Brasileiro. Porém, essa Lei foi implementada de
forma incompleta entre diferentes estados. Outro mecanismo implementado alguns anos antes
da Lei 13.344 de 2016, foi a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas que
estabeleceu diretrizes e ações de prevenção e repressão ao tráfico de pessoas.

9
Decreto nº 847 de 11 de novembro de 1890.
10
Lei 11.106/2005: Novas modificações ao Código Penal Brasileiro (IV) - Dispositivos revogados. 2006.
Disponível em: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2857/Lei-11106-2005-Novas-modificacoes-ao-
Codigo-Penal-Brasileiro-IV-Dispositivos-revogados. Acesso em: 16 de jun. 2023.
12

6. MECANISMOS DE PREVENÇÃO E COMBATE AO TRÁFICO DE PESSOAS

As campanhas informativas contra o tráfico de pessoas reforçam a prevenção e ampliam


a conscientização da população. Canais de denúncia gratuitos são sempre divulgados nas ações
preventivas; o “Disque 100” ou “Ligue 180”. As denúncias realizadas, em caso de suspeita de
tráfico de pessoas, podem ser anônimas e recebem um número de protocolo para que o
denunciante possa acompanhar o andamento.11
Em 1999, a Conferência Mundial de Coligação contra o Tráfico de Mulheres instituiu o
dia 23 de setembro como o Dia Internacional Contra a Exploração Sexual e o Tráfico de
Mulheres e Crianças com o objetivo de conscientizar e combater esse tipo de crime.
No dia 06 de outubro de 2004, o Ministério da Justiça e o UNODC, lançaram em
Goiânia/GO, a Campanha Nacional de Combate ao Tráfico de Seres Humanos. O objetivo dessa
campanha foi conscientizar e prevenir a população sobre esse tipo de crime e facilitar o seu
enfrentamento pela Polícia Federal. Cartazes foram impressos, causando grande comoção na
população ao exporem uma mulher nua, de costas com a frase: “Primeiro eles tiram o
passaporte, depois a liberdade”.
Nos últimos anos, após o tráfico de pessoas ter se tornado um crime complexo e com
dimensões alarmantes, a assinatura do Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas
contra o Crime Organizado Transnacional, conhecido como Protocolo de Palermo, ratificado
pelo Brasil em 2004, abriu caminho para o enfrentamento ao tráfico de pessoas e todas as formas
de violência e exploração, especialmente de mulheres e crianças.
Em 2006, foi instituído no Brasil, pelo Governo do então Presidente da República Luiz
Inácio Lula da Silva, o I Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (PNETP),
concretizando os princípios, diretrizes e ações propostas na Política Nacional de Enfrentamento
ao Tráfico de Pessoas, pelo Decreto nº 5.948, de 26 de outubro de 2006, produzido por um
Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), com a participação do Ministério Público e da
sociedade civil organizada. Seus três eixos são considerados estratégicos no combate ao tráfico
humano, sob suas diversas modalidades: prevenção ao tráfico, repressão e responsabilização
dos autores e atenção às vítimas. Esse marco normativo inovador teve a participação de técnicos
e especialistas no assunto e foi referendada pela sociedade civil por meio de uma consulta

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BRASIL. Disque 100 e Ligue 180. Brasília. Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. 2020. Disponível
em:https://www.gov.br/mdh/pt-br/direitoshumanosparatodos/disque-100-e-ligue-180. Acesso em: 16 de jun.
2023.
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pública. Seu processo de construção ainda envolveu várias áreas como: educação, assistência
social, justiça, saúde, trabalho, turismo e diferentes ministérios, sendo aprovada em outubro de
2006 e finalizada em 2010.
No âmbito da prevenção, o objetivo é voltado ao combate das reais causas estruturais
do problema, por meio da elaboração de políticas públicas efetivas para diminuir a
vulnerabilidade dos grupos mais atingidos pelo tráfico de pessoas.
O Plano Nacional também deu atenção ao tratamento justo, seguro e adequado às
vítimas, sejam elas brasileiras ou estrangeiras. Não menos importante, as ações de fiscalização,
têm como objetivo, reprimir e responsabilizar os culpados desse crime, por meio de controle,
investigação e através de medidas integradas que são essenciais para a sua execução. Outras
prioridades, no que diz respeito à repressão e responsabilização dos autores desse tipo de crime,
são: o aperfeiçoamento da legislação brasileira, o fortalecimento e a integração de projetos de
cooperação internacional na área de enfrentamento ao crime de tráfico de pessoas.
O Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, no âmbito nacional, é
coordenado pela Presidência da República, Ministério da Justiça, Secretaria de Políticas para
Mulheres da Presidência da República e Secretaria dos Direitos Humanos. No âmbito estadual,
os Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas têm a função de articular, estruturar e
consolidar uma rede estadual de referência e atendimento às vítimas, a partir dos serviços e
redes existentes.
Outro instrumento importante foi o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres
(PNPM), construído e divulgado de 2013 a 2015, priorizando as ações voltadas para as
mulheres. Desse modo, buscou analisar a problemática do tráfico de pessoas, incluindo o tráfico
de mulheres, com ações mais específicas da Secretaria de Políticas para as Mulheres em
parceria com a sociedade civil e especialistas em tráfico de pessoas na construção coletiva do
seu entendimento sobre as peculiaridades da prática violenta do Tráfico de Mulheres. Os
princípios que orientaram o PNPM foram: igualdade; respeito à diversidade; equidade;
autonomia das mulheres; laicidade do Estado; universalidade das políticas; justiça social;
transparência dos atos públicos; participação e controle social.
A Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Mulheres, foi lançada pela
Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, voltada especificamente às mulheres, vítimas
do tráfico. “O atendimento às mulheres em situação de tráfico de pessoas necessita de uma
atuação em rede que envolva os serviços locais, regionais e internacionais, para dar conta da
complexidade dos impactos sofridos pelas vítimas durante e depois do processo de exploração”
(SPM 2011, p. 34).
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A construção do II Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas aconteceu


por meio de um processo participativo, assim como o primeiro, e teve o envolvimento de
profissionais e pessoas no Brasil e no exterior. Foi coordenado por um Grupo de Trabalho
Interministerial (GTI), sob a liderança do Secretário Nacional de Justiça. As ações
implementadas pelo II PNETP foram articuladas nas esferas federal, estadual, distrital e
municipal, com a colaboração de organizações da sociedade civil e organismos internacionais.
Com objetivo de reprimir o tráfico de pessoas no território nacional, responsabilizar ou autores
e dar atenção às vítimas, foram criadas estratégias de enfrentamento com linhas operativas,
atividades e metas.
Em 2018, foi lançado o III Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas que
corresponde ao Decreto nº 9.440; também com o objetivo de prevenir, reprimir, responsabilizar
os criminosos e dar atenção às vítimas, assim como os anteriores. Nesse Plano, novos desafios
foram lançados para reforçar e garantir a continuidade das ações de prevenção e
conscientização. Foi distribuído em seis eixos temáticos: gestão da política; gestão da
informação; capacitação; responsabilização; assistência à vítima; prevenção e conscientização
pública. De acordo com artigo 5º, do Decreto 9. 440, de 3 de julho de 2018, o Plano Nacional
de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas seria executado no prazo de quatro anos, sob a
condução da Coordenação Tripartite da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de
Pessoas, instituída pelo Decreto nº 7.901, de 4 de fevereiro de 2013.
É inegável que as políticas públicas são de grande importância no enfrentamento ao
tráfico de pessoas, por meio de ações pensadas e organizadas pelo Estado com o escopo de
atender a demandas específicas da sociedade, porém não têm sido totalmente eficazes, pois os
direitos humanos continuam sendo violados.
A implantação dessas políticas públicas é de grande relevância no enfrentamento ao
tráfico humano. As mudanças são perceptíveis e tendem a contribuir para o avanço da
prevenção e combate ao crime organizado. Algumas lacunas ainda precisam ser preenchidas no
que diz respeito à conscientização para a prevenção e a prioridade na atenção às pessoas mais
afetadas por esse tipo de crime. Os desafios ainda são grandes para que no futuro esse tipo de
crime seja extinto em todo o mundo.
Embora, na maioria dos casos, predomine a impunidade no crime de tráfico humano, a
agência da Organização das Nações Unidas, diz que o fluxo para o seu acompanhamento
melhorou nos últimos dez anos em muitas partes do mundo, mas em países da África e da Ásia,
o número de condenações ainda é muito baixo (UNODC, 2018).
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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tráfico de mulheres para fins de exploração sexual é um crime complexo e decorrente


da combinação de vários fatores: sociais, econômicos e culturais. Por ser uma prática que viola
os direitos humanos, e por se tratar de um fenômeno transnacional, precisa ser enfrentado por
todos os países. No âmbito internacional, foi discutida a importância da Convenção de Palermo,
a qual o Brasil somente aderiu três anos depois, em março de 2004, através do Decreto nº 5.017,
com o propósito de promover a cooperação para prevenir e combater com mais aderência a
criminalidade organizada transnacional. Esse instrumento destacou-se de tal forma que
transformou-se no ato normativo internacional mais abrangente para combater o crime
organizado. Políticas públicas e outros instrumentos legais, no âmbito nacional, foram
apresentados, além das principais campanhas e ações de combate ao tráfico de mulheres.
O tráfico humano ainda continua sendo um dos fenômenos mais crescentes da
contemporaneidade. Dessa forma, observa-se que, mesmo com a criação de leis, campanhas e
políticas públicas, dificilmente o tráfico será combatido por completo se não houver esforços e
a cooperação entre países, além da criação de mecanismos de combate mais eficientes de
proteção às vítimas. Conforme pudemos observar ao longo de todo o percurso do presente
artigo, ainda são necessárias medidas mais efetivas de prevenção e repressão no enfrentamento
ao tráfico de mulheres. Nos casos em que já aconteceu o crime, assegurar às vítimas medidas
protetivas e garantir sua segurança, protegendo a identidade e a privacidade dessas vítimas.
Infere-se que o avanço no enfrentamento ao tráfico de pessoas para fins de exploração
sexual, deve estar focado nas mudanças das normativas nacionais e internacionais, alinhando e
aperfeiçoando as estratégias das políticas públicas e assumindo responsabilidades e
compromisso para possibilitar o fortalecimento da defesa dos direitos humanos com a
participação todos.

REFERÊNCIAS

A Convenção de Palermo. 2021. Disponível em:


https://www.cursosapientia.com.br/conteudo/noticias/a-convencao-de-palermo. Acesso em:
17 nov. 2022.

FERNANDES, David Augusto. A Convenção de Palermo e o tráfico de pessoas. 2014.


Disponível em: https://jus.com.br/artigos/31719/a-convencao-de-palermo-e-o-trafico-de-
pessoas. Acesso em: 27 maio 2023.
16

KAPPAUN, Alexandre de Oliveira. Tráfico de Mulheres, Feminismo e Relações


Internacionais: Uma Abordagem Histórica. Disponível em:
http://www.proceedings.scielo.br/pdf/enabri/n3v1/a04.pdf. Acesso em: 23 maio 2023.

Lei 11.106/2005: Novas modificações ao Código Penal Brasileiro (IV) - Dispositivos


revogados. Disponível em:https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2857/Lei-11106-
2005-Novas-modificacoes-ao-Codigo-Penal-Brasileiro-IV-Dispositivos-revogados. Acesso
em: 21 de maio 2023.

Mulheres correspondem a 96,36% das vítimas de tráfico internacional de pessoas.


Disponível em:https://www.cnj.jus.br/mulheres-correspondem-a-9636-das-vitimas-de-trafico-
internacional-de-pessoas/. Acesso em: 19 de maio 2023.

Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. 2008. Disponível em:


https://www.unodc.org/documents/lpo-
brazil/Topics_TIP/Publicacoes/2008_PlanoNacionalTP.pdf. Acesso em 21 maio 2023.

Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. c2013. Disponível em:


https://oig.cepal.org/sites/default/files/brasil_2013_pnpm.pdf. Acesso em: 25 maio 2023.

Relatório Global sobre o Tráfico de Pessoas. 2018. Disponível em:


https://www.unodc.org/documents/lpo-brazil/Topics_TIP/Publicacoes/TiP_PT.pdf. Acesso
em: 27 maio 2023.

Tráfico de Mulheres; Política Nacional de Enfrentamento. 2011.


https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/hp/acervo/outras-
referencias/copy2_of_entenda-a-violencia/pdfs/trafico-de-mulheres-politica-nacional-de-
enfrentamento. Acesso em: 23 maio 2023.

Tráfico de Pessoas e Contrabando de Migrantes. c2023. Disponível em:


https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/trafico-de-pessoas/index.html. Acesso em: 26 maio 2023.

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