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FICHAMENTO:

CRIMINALIDADE E GÊNERO: ANÁLISE DO CONTROLE SOCIOPENAL SOBRE


AS MULHERES PRESAS POR TRÁFICO DE DROGAS
Luiza Martins de SOUZA1
Vitória Aguiar SILVA2

DE SOUZA, Luiza Martins; SILVA, Vitória Aguiar. CRIMINALIDADE E GÊNERO: ANÁLISE DO


CONTROLE SOCIOPENAL SOBRE AS MULHERES PRESAS POR TRÁFICO DE
DROGAS. Anais do X Simpósio Internacional de Análise Crítica do Direito, p. 57, 2020.

Criminologia Feminista

crime e gênero

O presente artigo visa analisar a relação entre mulher e crime, bem como também a evolução
do estereótipo de mulher criminosa, suas implicações sociais e especificamente o tipo penal
que mais prende mulheres no mundo: o tráfico de drogas. Utilizou-se o método dedutivo,
partindo da premissa maior sobre a participação da mulher no crime e do controle sociopenal
exercido sobre ela, para a específica, destrinchando questões sobre o crime mais cometido por
mulheres: o tráfico de drogas. O objetivo do trabalho é analisar a evolução dos estudos entre
crime e gênero, bem como também o controle social e penal que a mulher sofre ao se tornar
criminosa, sob o ponto de vista do crime que mais prende mulheres. Em suma, diante das
análises sobre o controle sociopenal e a participação da mulher no crime de tráfico de drogas,
há a necessidade de uma criminologia feminista que olhe o crime e a mulher criminosa sob
uma perspectiva de gênero, tratando-a não como objeto, mas sim sujeito de direitos.

Nesse sentido, levando-se em conta a Criminologia Feminista, o presente trabalho analisará a


relação de mulher e crime, bem como também o controle sociopenal que a sociedade faz com
as mulheres criminosas, especificando para o crime de tráfico de drogas (crime pelo qual mais
prende mulheres no Brasil atualmente).

A figura da mulher criminosa surgiu diante de um contexto histórico de muita repressão


religiosa, em que o modelo a ser seguido era o de mulher recatada, religiosa e todas àquelas
que não seguissem esse estereótipo eram consideradas infiéis e criminosas. Diante de uma
sociedade extremamente religiosa, o crime estava relacionado a algo profano e extremamente
ligado com a sexualidade feminina. O estereótipo da mulher criminosa foi construída como
sendo infiel, vaidosa, viciosa, sendo atribuída a imagem de “bruxa” à mulher independente e
que não seguia o modelo postulado pela Igreja Católica. (59)

Lombroso e Ferrero dividiram as mulheres em três categorias: as criminosas natas, as


criminosas por ocasião e as criminosas por paixão. (61)
Cumpre ressaltar que a prostituição encontra-se historicamente relacionada a um
comportamento de transgressão e ameaça à família. Nesse sentido, Zaffaroni (2005) afirma
que a prostituta seria o equivalente ao homem criminoso por ter em seus comportamentos
uma periculosidade maior que os tipicamente considerados femininos. Diante dessa realidade,
Lombroso e Ferrero não levaram em conta as questões culturais que englobam a vida da
mulher, motivo pelo qual às ideias perpassadas por eles continuam impactando a vida das
mulheres criminosas. Nesse sentido, salienta-se que a mulher criminosa, em si, não carrega o
peso apenas do crime cometido, mas também todo o julgamento e carga histórica de uma
sociedade patriarcal.

A criminalidade feminina engloba questões além da esfera jurídica, isto é, uma mulher se torna
criminosa por diversos fatores como falta de oportunidades, pelo fato de serem esposas de
homens envolvidos com o tráfico e, na grande maioria das vezes, por receberem propostas
econômicas acima da realidade vivida por elas, como o caso das mulas do tráfico. (61)

na grande maioria das vezes, as mulheres privativas de liberdade ao começarem a cumprir a


pena perdem o contato com a família, fato que não ocorre com os homens. Cumpre ressaltar
que enquanto o homem privativo de liberdade tem o respaldo da esposa e família, as mulheres
privativas de liberdade são abandonadas, passando necessidades básicas e enfrentando a
solidão (62)

pode-se considerar que o direito penal é um sistema de controle das relações de propriedade,
moral, trabalho, e consequentemente o sistema de controle dirigido para mulher é o informal,
ou seja, aquele que se realiza na família, por exemplo. Conforme discorre Soraia da Rosa
Mendes (2017), não é possível analisar os processos de criminalização e vitimização das
mulheres sem que se leve em conta crenças, condutas, atitudes e modelos culturais
(informais), bem como também as agências punitivas estatais (formais). A análise dos
processos de criminalização e vitimização das mulheres exige esta dupla tarefa (63)

o crime que mais encarcera mulheres no Brasil é o tráfico de drogas, segundo dados do
INFOPEN Mulheres (2018), o tráfico de drogas representa 62% das incidências penais que
mulheres privadas de liberdade foram condenadas ou aguardam julgamento. Entre as
tipificações relacionadas ao tráfico de drogas, o crime de Associação para o tráfico corresponde
a 16% das incidências e o crime de Tráfico internacional de drogas responde por 2%, sendo que
o restante das incidências se refere a tipificação de Tráfico de drogas, propriamente dita.
(INFOPEN, p. 53, 2017). (64)

Assim, traz á tona a problemática do encarceramento em massa no Brasil. Além de ser uma
questão criminológica, também é uma questão do econômica e do Estado, o qual não possui
planejamento e políticas públicas voltadas para as mulheres que precisam se submeter à
situações que acabam levando-as para dentro do cárcere. O perfil da mulher encarcerada no
Brasil é: Jovem (50%), negra (68%), solteira (57%), de baixa escolaridade (62%), cometeu crime
de tráfico de drogas (68%), (BONTEMPO, 2018.1, p. 40/41). (65)

Cometer crime não está dentro do espectro da feminilidade que a sociedade espera da mulher
(67)

Diante das inúmeras violações de direitos que a mulher privativa sofre, aliada à sua
invisibilidade dentro da própria organização criminosa, surge a necessidade de uma
criminologia feminista, que trate a mulher criminosa como sujeito, cujo principal objetivo desta
é inserir a mulher por completo na esfera do Sistema Penal (70) (COMO?)
podemos ressaltar que o desígnio da presente pesquisa é também procurar ampliar,
complementar e aperfeiçoar o conhecimento do quadro conjuntural do cárcere feminino
estabelecido no Brasil, bem como fornecer novos elementos para ajudar a fundamentar
futuras formulações de políticas públicas sobre o assunto.

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