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Direção editorial Patricia Bieging

Raul Inácio Busarello


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Diretor de criação Raul Inácio Busarello
Assistente de Arte Naiara Von Groll
Marketing digital Lucas Andrius de Oliveira
Editoração eletrônica Peter Valmorbida
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Revisão Simone Andrea Schwinn
Organizadoras Marli Marlene Moraes da Costa
Simone Andrea Schwinn

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

T278

Temas emergentes em gênero e políticas públicas /


Organizadoras Marli Marlene Moraes da Costa, Simone Andrea
Schwinn. – São Paulo: Pimenta Cultural, 2022.

Livro em PDF

ISBN 978-65-5939-505-7
DOI 10.31560/pimentacultural/2022.95057

1. Identidade de gênero. 2. Políticas públicas. 3. Violência contra


a mulher. 4. Racismo. 5. Desigualdade social. I. Costa, Marli
Marlene Moraes da (Organizadora). II. Schwinn, Simone Andrea
(Organizadora). III. Título.

CDD: 306.766

Índice para catálogo sistemático:


I. Identidade de gênero
Janaina Ramos – Bibliotecária – CRB-8/9166
ISBN da versão impressa (brochura): 978-65-5939-504-0

PIMENTA CULTURAL
São Paulo . SP
Telefone: +55 (11) 96766 2200
livro@pimentacultural.com
www.pimentacultural.com 2 0 2 2
Capítulo 9

Mulheres aprisionadas ​
pelo tráfico de drogas:
uma revisão sistemática sobre
a influência dos estereótipos
de gênero no contexto brasileiro.................................................... 184
Marli Marlene Moraes da Costa
Georgea Bernhard

Capítulo 10

Efetividade do monitoramento eletrônico


para garantia do direito à saúde
de mulheres encarceradas.......................................................... 202
Simone Andrea Schwinn
Suelem Silveira Cardoso

Sobre as organizadoras............................................................... 219

Sobre as autoras e os autores..................................................... 219

Índice remissivo............................................................................ 222


9
Marli Marlene Moraes da Costa
Georgea Bernhard

Mulheres aprisionadas
pelo tráfico de drogas:
uma revisão sistemática
sobre a influência dos estereótipos
de gênero no contexto brasileiro

DOI 10.31560/pimentacultural/2022.95057.9
CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A neutralização da cultura machista e androcêntrica predomi-


nante durante os séculos, remete à posição de inferiorização ocupada
pelas mulheres ao longo da história da humanidade. O cristianismo
justificava a subalternidade feminina, inicialmente, diante da desobe-
diência de Eva ao morder a fruta proibida, sendo expulsa do Paraíso,
juntamente com Adão. Na mitologia grega, de forma muito semelhan-
te, predominava a história de Pandora, onde ela, motivada pela curio-
sidade, contrariou as ordens de Zeus, abrindo uma caixa onde nela
continham todos os males do mundo.

Portanto, as histórias e mitos narrados em diferentes épocas


corroboraram no enraizamento da cultura patriarcal, possibilitando a
inserção das mulheres em um patamar inferior, sendo assim, com-
preendiam que elas necessitavam de domínio para desempenhar a
sua função social, delimitada pela esfera doméstica, através da sua
condição reprodutiva, realizando todas as tarefas pertinentes a manu-
tenção do lar e do casamento.

Sendo assim, ao nascer mulher, inevitavelmente suas obriga-


ções sociais acompanhavam-na durante toda a vida, independente
dos seus anseios e desejos pessoais, uma vez que o poder de escolha
não era conferido a elas. Diante disso, restava apenas cumprir suas
obrigações, compreendidas como “responsabilidades femininas”, de-
sempenhando as funções biológicas e as atividades no âmbito domés-
tico, mantendo o aspecto de docilidade e submissividade como sinal
de obediência a ordem patriarcal, na figura do marido.

Contudo, o surgimento dos primeiros indícios da criminalidade


feminina representa a subversão dos valores femininos moralmente
construídos, esbarrando nos estereótipos de gênero culturalmente
compactuados ao longo dos séculos. Tal situação causava preocupa-

sumário 185
Ainda neste raciocínio, se vislumbra o modo pelo qual o Estado
perpetua os estigmas sociais em razão da forma como exerce o seu
poder de polícia. Neste aspecto, Pancieri (2014, p.62) assevera que:
A lógica do sistema criminal de justiça do modelo neoliberal de
punir os mais pobres e marginais, afeta a mulher mula, indican-
do uma grotesca desproporcionalidade das penas. Pesquisas
concluíram que as mulheres mulas representam o estrato mais
marginal e vulnerável das partes do mundo, e a aplicação de
penas severas só agrava e reforça a exclusão social através do
sistema de justiça criminal.

Cumpre mencionar a importância de analisar o meio social no


qual as mulheres que traficam estão inseridas. A proeminência do de-
semprego, bem como o local onde moram, a influência das relações
pessoais e afetivas, o desamparo familiar, a oportunidade de ganhar
dinheiro fácil ao traficar em contrapartida aos baixos salários ofereci-
dos no mercado de trabalho, sendo que, muitas vezes, a condição
socioeconômica dificulta a obtenção de qualquer trabalho digno, todas
essas circunstâncias, somadas a necessidade de ter algum provento
financeiro, corroboram para o ingresso das mulheres no crime de tráfi-
co de drogas. (PEREIRA, 2008)

Deste modo, se descortina o modo pelo qual os estereótipos


de gênero exercem influência, inclusive, em práticas delituosas reali-
zadas pelas mulheres, onde estas são “instrumentalizadas” pelo sexo
masculino para traficar, marginalizando a sua participação no exer-
cício de funções que as colocam em situações de maior exposição
aos riscos da prática desse crime enquanto os homens obtêm lucros
inimagináveis por meio delas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O espaço subalterno protagonizado pela mulher na sociedade


possibilitou que ela fosse vista como um ser inferior e incompleto,

sumário 197
Neste sentir, conclui-se que o sexo masculino desempenha um
forte poder de dominação sobre as mulheres, inclusive no tráfico de
drogas, se prevalecendo da condição de vulnerabilidade delas para
usufruírem de sua “mão-de-obra” barata. As mulheres, por outro lado,
ao valorizarem as relações pessoais e familiares, optam por abrir mão
da própria liberdade, a fim de proteger os laços afetivos, cujo o grau de
importância, para elas, é maior do que as circunstâncias da própria vida.

Portanto, analisar a dinâmica que rege as relações por trás do


crime de tráfico de drogas, responsável por aprisionar mais da meta-
de da população carcerária feminina, se demonstra imprescindível na
construção de políticas públicas eficientes direcionadas ao combate
do alto índice de aprisionamento feminino. Sendo assim, ao considerar
as principais circunstâncias responsáveis pelo ingresso feminino no
crime de tráfico de drogas, será possível pôr em prática ações gover-
namentais eficazes e comprometidas com o combate ao significativo
aumento do número de mulheres presas no Brasil, a fim de enfrentar
os desafios invisibilizados pelo próprio Estado.

REFERÊNCIAS
ALGRANTI, Leila Mezan. Honradas e devotas: mulheres da colônia. Dispo-
nível em:https://www.pagu.unicamp.br/pfpagu/publicfiles/arquivo/69_algran-
ti_leila_mezan_termo.pdf. Acesso em: 04 jan 2022.
BARCINSKI, Mariana. Women in drug trafficking: the identity construction of
Brazilian reformed criminals. Saarbrücken: VDM, 2008.
BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Levantamen-
to Nacional de Informações Penitenciárias, Infopen Mulheres. Brasília, 2018.
BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria de Assuntos Legislativos. Dar à luz
na sombra: condições atuais e possibilidades futuras para o exercício da
maternidade por mulheres em situação de prisão. Brasília, 2015. Disponível
em:http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopenmulheres/infopenmu-
lheres_arte_07-03-18.pdf. Acesso em: 04 jan 2022.

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