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PERSPECTIVAS PREVIDENCIÁRIAS
Canoas
2017
PROSTITUIÇÃO: REFLEXÕES SOBRE AS CONDIÇÕES DE TRABALHO E
PERSPECTIVAS PREVIDENCIÁRIAS
1
Graduada em Direito pela UniRitter Laureate International Universities, Pós-Graduanda do Curso de
Direito Previdenciário pela mesma instituição mencionada. Artigo orientado pela Profª. Drª. Patricia
Santos Martins.
.
Abstract: Prostitution continues to be a controversial issue that involves prejudice and
resistance, which is not an exclusively women's activity, however, I limit myself to
discussing some issues involving the female universe. The purpose of this article, at
first, is to make a brief history about prostitution relating it to the industrial revolution
of the nineteenth century. I also intend to discuss the working conditions of these
women in the contemporary world, as well as the way that Social Security understands
about the needs of the female universe. To that end, I support the work of the NEP, an
institution that works for the recognition of prostitution as a profession.
INTRODUÇÃO
Por mais triste que seja, muitos indivíduos tendem a comparar a prostituição à atividade
criminosa marginalizando quem dela necessita para sobreviver ao esgoto, que nada mais
é do que a canalização da sujeira, ainda que necessário. Visto isso, destaco é de se
destacar o seguinte pensamento, que deixa muito claro o preconceito característico dos
discursos sobre esta profissão essa forma de pensar: “As prostitutas são tão inevitáveis
em uma cidade quanto às fossas e os depósitos de lixo”. (ROBERTS, 1992, p. 265)
O homem dotado de desejo devia canalizar seu impulso sexual e não ameaçar a
“pureza” da sua esposa, para isso, seria necessária outra classe de mulher que teriam
como função atender as exigências sexuais do homem para longe do lar, a prostituta
passa a ocupar este espaço. Para Foucault (INSERE AQUI O ANO E A PAGINA) o ato
sexual é uma atividade natural e indispensável para a reprodução humana, nessa relação
o homem teria o papel “ativo” definido pela penetração e a mulher “passivo”, ou seja,
parceiro-objeto. Entretanto para canalizar a experiência da “carne” será considerada
como uma experiência comum aos homens e as mulheres, mesmo se não toma a mesma
forma em ambos, e enquanto que a sexualidade será marcada pela cesura entre a
sexualidade masculina e feminina, os aphrodisia (atos, gestos, contato, que
proporcionam forma de prazer) são pensados como uma atividade implicando dois
atores cada qual com seu papel e função. (2007, p.45)
No século XIX, a maior parte das mulheres prostitutas européias provinha das
classes trabalhadoras, seus salários não eram suficientes para mantê-las, e por isso, elas
vão para as ruas complementar suas rendas. Além desse motivo, as condições de
trabalho não as favoreciam como o excesso de pessoas dentro de um mesmo ambiente,
barulho excessivo além de uma jornada de trabalho de doze horas diárias. O serviço
doméstico também não representava alternativa, nem solução, pois era desumano e
degradante. Muitas vezes a serviçal é seduzida pelos filhos dos patrões, impedida de
procurar o pai da criança pela lei napoleônica, relegada à solidão e ao abandono.
Perrot (2007, p. 46), nos fala como é difícil “a condição de jovem solteira nessa
sociedade, com as restrições do corpo e do coração, quase sem liberdade de escolha
quanto ao seu futuro, seus projetos amorosos, exposta à sedução, à maternidade
indesejada”. As jovens solteiras são vítimas de diversos males, dentre eles a melancolia
e a anorexia, que segundo ela traduz o mal-estar, obsessão pela magreza, mas também
recusa da única opção colocada á sua frente, o casamento. Muitas mulheres ingressavam
na prostituição preferindo ao trabalho formal “respeitável”, pois naquele momento não
lhes restava nenhuma alternativa. Conseguem algumas vantagens com relação às
operárias, como horários flexíveis de trabalho, podendo trabalhar em horários que lhes
bem provêm, além dos ganhos serem mais vantajosos para elas. Chegavam a receber dia
o que uma operária ganharia em um mês de trabalho. O investimento na sua aparência
também é importante destacar maquiagem, roupas, muitas conseguem elevar seu padrão
de vida.
Outra forma de domínio, não menos importante está relacionada com o controle
sexual das mulheres, principalmente para as profissionais do sexo que adquiriram “certa
autonomia”, em relação a outras mulheres. No entanto, para conter a independência
feminina era necessário o controle de seus corpos. A sífilis foi um grande aliado e as
prostitutas agora mais que nunca, tornaram-se símbolo da imoralidade, perseguidas pela
polícia, pelos militares e pelos médicos. “A sífilis também simbolizava o medo da
burguesia de ser contaminada pela classe trabalhadora a ralé (...), se o sexo em si era
perigoso, o sexo com a mulher da classe trabalhadora era ainda mais, pois podia servir
como um canal, que através do qual a sujeira, a doença, e a imoralidade da classe
trabalhadora poderiam atingir a santidade e a pureza do lar da classe média”.
(ROBERTS, 1992, p.293).
Segundo Pesavento (1994) a prostituição foi à atividade que mais foi combatida
pela moral pública naquela época, ela representava a criminalidade. A prostituta levava
uma vida desregrada, infringia todas as normas de civilidade dos valores estabelecidos,
era um elemento que concentrava todos os vícios.
Desencaminhava a juventude, pervertiam crianças, seduziam pais de família,
viviam cercadas de bêbados e jogadores. Elas próprias se viam envolvidas em
cenas violentas de pugilato, onde navalha e chicote misturavam-se a puxões
de cabelo, na disputa amorosa por algum freqüentador do bordel, incidentes
que não raro acabavam na delegacia ou no necrotério”. (PESAVENTO, 1994.
p.134)