Você está na página 1de 15

PROSTITUIÇÃO: REFLEXÕES SOBRE AS CONDIÇÕES DE TRABALHO E

PERSPECTIVAS PREVIDENCIÁRIAS

Bárbara da Silva Violante


Orientadora: Profª. Ma. Patricia Santos Martins

Canoas
2017
PROSTITUIÇÃO: REFLEXÕES SOBRE AS CONDIÇÕES DE TRABALHO E
PERSPECTIVAS PREVIDENCIÁRIAS

Bárbara da Silva Violante1

Resumo: O exercício profissional da prostituição, embora antigo, até os dias atuais é um


tema polêmico, marcado pelo preconceito e resistência social. Embora o exercício da
prostituição seja notadamente realizado por mulheres, não é atividade exclusivamente
feminina, contudo, para a presente proposta reflexiva, serão analisados dados e
perspectivas a partir da ótica feminina e de questões que envolvem o universo feminino.
É proposta deste estudo, realizar um resgate histórico sobre a prostituição, relacionando-
a com a revolução industrial do século XIX. Também pretende verificar as condições de
trabalho dessas mulheres na contemporaneidade, bem como aspectos previdenciários. O
Artigo pretende responder ao seguinte problema de pesquisa: “A prostituição é uma
profissão antiga: quais as perspectivas profissionais e como são as condições de trabalho
das mulheres envolvidas nesta atividade? E quais as suas perspectivas previdenciárias?”
Para responder esta pergunta, se utilizará o método de pesquisa construtivista
fenomenológico, com aplicação de técnicas de pesquisa de revisão bibliográfica,
pesquisa direta a textos legislativos, artigos científicos já publicados por outras áreas do
saber demais conteúdos bibliográficos produzidos por entidades não governamentais
defensoras dos interesses da classe.

Para tanto me apoio na atuação do NEP, instituição que atua em prol do


reconhecimento da prostituição como uma profissão.

Palavras-chave: Prostituição. Gênero. Atividade profissional feminina.


Previdência.

1
Graduada em Direito pela UniRitter Laureate International Universities, Pós-Graduanda do Curso de
Direito Previdenciário pela mesma instituição mencionada. Artigo orientado pela Profª. Drª. Patricia
Santos Martins.

.
Abstract: Prostitution continues to be a controversial issue that involves prejudice and
resistance, which is not an exclusively women's activity, however, I limit myself to
discussing some issues involving the female universe. The purpose of this article, at
first, is to make a brief history about prostitution relating it to the industrial revolution
of the nineteenth century. I also intend to discuss the working conditions of these
women in the contemporary world, as well as the way that Social Security understands
about the needs of the female universe. To that end, I support the work of the NEP, an
institution that works for the recognition of prostitution as a profession.

ALTERAR POIS MUDEI O RESUMO 

INTRODUÇÃO

1. ASPECTOS GERAIS DA MULHER E O DESENVOLVIMENTO


DAATIVIDADE PROFISSIONAL DA PROSTITUIÇÃO

1.1 IMAGEM DA MULHER: Resgate histórico da vida e atividade da mulher


prostituta

Não raras as vezes em que os meios de comunicação divulgam que a Prostituição é


uma das profissões mais antigas do mundo; entretanto, constatamos que no Brasil e em
muitos países ainda não é regulamentada. Porém, independentemente da
regulamentação, muitos homens e mulheres decidem dispor dos seus corpos como meio
de sobrevivência, enfrentando o preconceito exposto pela sociedade e o estigma de
serem os portadores de moléstias que contaminam a sociedade, protagonizam a
vadiagem e estão ligados direta ou indiretamente ao consumo e tráfico de drogas e
tráfico humano.
Neste sentido são noticiados dados como: citar a notícia e as
estatísticas do Uol cujo link esta abaixo
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/07/22/-200-por-
garota-como-uma-rede-de-trafico-do-rn-levou-33-brasileiras-para-prostituicao-na-
italia.htm
CITAR OS DIVERSOS ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS, DADOS
ESTATÍSTICOS E MENCIONAR O POSICIONAMENTO LEGISLATIVO DOS PAÍSES
SOBRE A PROSTITUIÇÃO, com os dados que constam no Link do EL PAÍS, abaixo:
https://brasil.elpais.com/tag/prostitucion/a

Por mais triste que seja, muitos indivíduos tendem a comparar a prostituição à atividade
criminosa marginalizando quem dela necessita para sobreviver ao esgoto, que nada mais
é do que a canalização da sujeira, ainda que necessário. Visto isso, destaco é de se
destacar o seguinte pensamento, que deixa muito claro o preconceito característico dos
discursos sobre esta profissão essa forma de pensar: “As prostitutas são tão inevitáveis
em uma cidade quanto às fossas e os depósitos de lixo”. (ROBERTS, 1992, p. 265)

Ao longo do tempo, mais especificamente no século XIX, a burguesia em ascensão


política e econômica, traçam novas ideias, moldando outros costumes perante a
sociedade. Com o passar do tempo, o conceito de família era o alicerce e a mulher era a
peça fundamental para que isso acontecesse. A fidelidade feminina era a garantia a
sucessão patriarcal da propriedade, além de fortalecer o grupo para enfrentar os entraves
do desenvolvimento econômico. O patriarcado é um sistema no qual o “pai” representa
o poder que rege os direitos e os deveres relativos aos filhos e as mulheres dentro da
família. O “pai” aquiera é visto e representado pela figura masculino dentro da
sociedade, não importando se pais, tios, maridos ou outros homens dentro do grupo
familiar.
Para manter a sociedade patriarcal, segundo Therborn (2006, p.42) era necessário
submeter às mulheres a algumas ações e normas que alicerçavam o poder masculino
como: a ausência da assimetria sexual institucionalizada, a poligamia e o adultério eram
permitidos, homem chefiava a família e a mulher teria obediência pela hierarquia
marital além do controle sobre a mobilidade, suas decisões e seu trabalho. A mulher
casada é dependente do marido financeiramente e juridicamente, pois perde quando
contrai matrimônio o nome de família adotando o do cônjuge.
Outra forma de domínio não menos importante está relacionada com o controle
sexual das mulheres. Era fundamental manter a mulher sobre o domínio masculino,
conter a liberdade sexual, negando a existência da sexualidade feminina, para isso, se
recorria até mesmo à ciência, que tinha como função estudar o universo das mulheres e
provar que elas eram desprovidas de sexualidade e tinham total ignorância de seus
próprios corpos e desejos. Para Pierrot a vida sexual da mulher está ligada diretamente
ao casamento “está reduzida ao dever conjugal (...) temida, vergonhosa, a esterilidade é
sempre atribuída à mulher, esse vaso que recebe um sêmen que se supõe sempre
fecundo”. (2007, p.47).

O homem dotado de desejo devia canalizar seu impulso sexual e não ameaçar a
“pureza” da sua esposa, para isso, seria necessária outra classe de mulher que teriam
como função atender as exigências sexuais do homem para longe do lar, a prostituta
passa a ocupar este espaço. Para Foucault (INSERE AQUI O ANO E A PAGINA) o ato
sexual é uma atividade natural e indispensável para a reprodução humana, nessa relação
o homem teria o papel “ativo” definido pela penetração e a mulher “passivo”, ou seja,
parceiro-objeto. Entretanto para canalizar a experiência da “carne” será considerada
como uma experiência comum aos homens e as mulheres, mesmo se não toma a mesma
forma em ambos, e enquanto que a sexualidade será marcada pela cesura entre a
sexualidade masculina e feminina, os aphrodisia (atos, gestos, contato, que
proporcionam forma de prazer) são pensados como uma atividade implicando dois
atores cada qual com seu papel e função. (2007, p.45)

Se a mulher era desprovida de sexualidade, como os cientistas explicavam as


prostitutas como criaturas sexuais? Alguns autores tentam explicar, por um viés
moralista atribuindo as causas da prostituição como circunstâncias, fatores ligados a
sobrevivência, a necessidade econômica, ao desemprego, salário baixo, etc. Outros
como Parent-Duchâtelet (1992, p.267), cientista francês, vão além em sua explicação,
pois defendia a idéia de que a mulher prostituta tinha o sexo em seu sangue, “ela era
certo tipo de garota cuja tendência natural estava associada à desocupação e a
licenciosidade conduzia-na a uma vida de luxúria”, entretanto acreditava que não era
apenas a condição natural, mas também a origem na família.
De modo geral, os cientistas da época acreditavam que a prostituta representava a
antítese da sociedade dos valores burgueses. Segundo Parent-Duchâtelet (1992, p. 268),
“foi sua indolência e amor pelo prazer, oposto da ética do trabalho, que a levou a
recusar todo o tipo de atividade e em vez disso assumir a prostituição”. Para o cientista
Cesare Lombroso, a sexualidade da prostituta estava ligada a uma condição de um ser
subumano, anomalia biológica, com uma sexualidade masculina, assim justificando com
uma mulher assexuada poderia ser sexualmente ativa.

Os arranjos sociais e as formas de conhecimento existentes são distinção de


gênero. O que a análise feminina vai questionar é precisamente essa aparente
neutralidade em termos de gênero do mundo social. A sociedade está feita
de acordo com as características do gênero dominante, isto é masculino. Na
análise feminina, não existe nada de mais masculino, por exemplo, a própria
ciência. A ciência reflete uma perspectiva eminentemente masculina.
Expressa uma forma de conhecimento que supõe uma separação entre sujeito
e objeto. Ela parte de um impulso de dominação e controle; sobre a natureza
e sobre os seres humanos. Ela cinde corpo e mente, cognição e desejo,
racionalidade e afeto. Essa análise da masculinidade da ciência pode ser
estendida para praticamente qualquer campo na instituição social (SILVA,
1999, p.93-4).

No século XIX, a maior parte das mulheres prostitutas européias provinha das
classes trabalhadoras, seus salários não eram suficientes para mantê-las, e por isso, elas
vão para as ruas complementar suas rendas. Além desse motivo, as condições de
trabalho não as favoreciam como o excesso de pessoas dentro de um mesmo ambiente,
barulho excessivo além de uma jornada de trabalho de doze horas diárias. O serviço
doméstico também não representava alternativa, nem solução, pois era desumano e
degradante. Muitas vezes a serviçal é seduzida pelos filhos dos patrões, impedida de
procurar o pai da criança pela lei napoleônica, relegada à solidão e ao abandono.

Perrot (2007, p. 46), nos fala como é difícil “a condição de jovem solteira nessa
sociedade, com as restrições do corpo e do coração, quase sem liberdade de escolha
quanto ao seu futuro, seus projetos amorosos, exposta à sedução, à maternidade
indesejada”. As jovens solteiras são vítimas de diversos males, dentre eles a melancolia
e a anorexia, que segundo ela traduz o mal-estar, obsessão pela magreza, mas também
recusa da única opção colocada á sua frente, o casamento. Muitas mulheres ingressavam
na prostituição preferindo ao trabalho formal “respeitável”, pois naquele momento não
lhes restava nenhuma alternativa. Conseguem algumas vantagens com relação às
operárias, como horários flexíveis de trabalho, podendo trabalhar em horários que lhes
bem provêm, além dos ganhos serem mais vantajosos para elas. Chegavam a receber dia
o que uma operária ganharia em um mês de trabalho. O investimento na sua aparência
também é importante destacar maquiagem, roupas, muitas conseguem elevar seu padrão
de vida.

A prostituição representava um “status quo”, numa sociedade que não oferecia


oportunidade de ascensão econômica nem social para o universo feminino. Preferiam
submeter-se aos cafetões ou as cafetinas, mesmo sendo violentos e negligentes do que
aos maridos ou aos pais que poderiam ser tão brutais e manipuladores. A violência está
diretamente ligada à sociedade da época que não considerava castigos físicos contra a
mulher um problema, tanto que o chefe da casa poderá dispor do corpo feminino
aplicando-lhe corretivos, pois “quem ama castiga”. (PERROT, 2007. P.47-8).
Para Roberts (1992, p. 291) “a prostituição representava a autonomia da mulher no
mercado de trabalho, livre do controle sexual moralista em oposição á família nuclear
(pai, mãe e filhos) controlada pelo patriarcado”.
(...) a natureza deu aos homens superioridade sobre as mulheres, dotando-os
de força maior, tanto de espírito quanto, de corpo (...). As nações bárbaras
demonstram esta superioridade reduzindo suas fêmeas a mais abjeta
escravidão. Mas o sexo masculino em um povo polido descobre sua
autoridade de um modo mais generoso, embora menos evidente, através da
civilidade, do respeito, pela complacência, em uma palavra, através da
galanteria. (THERBOM, 2006, p.40)

A Igreja Católica vai reforçar a manutenção do modelo patriarcal de sociedade,


quando considera o casamento um ato sagrado, uma dádiva divina. O Concílio de
Trento da Contra – Reforma (1542), que tinha como objetivo combater a expansão do
protestantismo não obteve êxito, pois os protestantes aumentaram cada vez mais,
entretanto, nas questões relativas ao casamento, o catolicismo reafirma a importância do
sacramento que deveria ser governado apenas pelas leis da Igreja e contraído apenas
pelo sacerdote da paróquia. Para eles, o casamento era indissolúvel uma vez que
consumado sexualmente. Foucault enfatiza a importância da confissão depois do
Concílio de Trento como controle dos pensamentos, desejos, imaginações voluptuosas,
deleites, movimentos simultâneos da alma e do corpo, tudo isso em detalhe, no jogo da
confissão e da direção espiritual. Os ortodoxos e os protestantes defendiam a
indissolubilidade do casamento, no entanto, admitem o divórcio somente nos casos de
adultério, impotência ou abandono.
O catolicismo é em princípio clerical e macho, à imagem da sociedade de seu
tempo. Somente os homens podem ter acesso ao sacerdócio e ao latim. Eles
detêm o poder, o saber e o sagrado. Entretanto, deixam escapatórias para as
mulheres pecadoras: a prece, o convento das virgens consagradas, a
santidade. E o prestígio crescente da Virgem Maria, antídoto de Eva. A
rainha da cristandade medieval. (PERROT, 20, p.84).

Outra forma de domínio, não menos importante está relacionada com o controle
sexual das mulheres, principalmente para as profissionais do sexo que adquiriram “certa
autonomia”, em relação a outras mulheres. No entanto, para conter a independência
feminina era necessário o controle de seus corpos. A sífilis foi um grande aliado e as
prostitutas agora mais que nunca, tornaram-se símbolo da imoralidade, perseguidas pela
polícia, pelos militares e pelos médicos. “A sífilis também simbolizava o medo da
burguesia de ser contaminada pela classe trabalhadora a ralé (...), se o sexo em si era
perigoso, o sexo com a mulher da classe trabalhadora era ainda mais, pois podia servir
como um canal, que através do qual a sujeira, a doença, e a imoralidade da classe
trabalhadora poderiam atingir a santidade e a pureza do lar da classe média”.
(ROBERTS, 1992, p.293).

As doenças venéreas foram se espalhando por toda a sociedade, e com os grupos


“desviantes”, envolvidos no comércio do sexo, as prostitutas foram responsabilizadas.
Qualquer mulher que a polícia considerasse prostituta poderia ser pressa e registrada, a
partir daí oficializa-se a discriminação, rotulando a profissional do sexo como mulher da
rua. O doutor Parent-Duchatelet, pesquisador dos meios da prostituição, tenta isolar as
prostitutas em “casas de tolerância”, identificadas pelos numerais de tamanho
aumentado e com luz vermelha, essas casas eram gerenciadas por “madames”, antigas
prostitutas que mantinha acordos com os policiais que garantiam a ordem. No Brasil não
foi muito diferente, no final do século XIX a prostituição foi controlada pelo mesmo
“sistema francês”, que confinava as prostitutas em bordeis expulsando-as das ruas,
submetendo-as a uma vigilância sanitária constante, “além da expulsão da cena pública,
tornando-as socialmente invisíveis”. (CARRARA, 1996, p.18)

Existem duas categoria de prostitutas: “de carteira”, autorizadas e submetidas


ao controle médico: e “da clandestinidade”, que são perseguidas o tempo
todo pela polícia, que às vezes confundem-se, provocando incidentes com
mulheres “honestas”, vítimas de engano. (PERROT 2007, p.78-9).
Menezes (1998, p. 256)) em seu texto Dancings e Cabarés: Trabalho e
Disciplina na Noite Carioca, ela faz uma divisão das profissões entre as nobres, de
profissões vis; de profissões lícitas e de profissões ilícitas, valendo-se de Le Goff que
para ele “sempre foi um processo que guardou profundas relações com determinadas
realidades econômicas, sociais e mentais, possibilitando combinações e superposições
variadas entre as situações concretas existentes e as imagens e as representações mentais
formuladas. Tais combinações e/ou superposições explicam porque algumas profissões
permaneceram, por séculos, condenadas sem restrições, destacando-se dentre estas, a
prostituição, com a eternização de inúmeros tabus”.
Menezes afirma que o Cristianismo medieval, condenou muitas profissões cujo
exercício pudesse levar a qualquer pecado mortal dentre ela a prostituição.
No caso das prostitutas, estão incluídas na categoria mais ampla e
estigmatizadas dos mercenários, cujo ofício era infame por natureza, estas
começaram a conhecer, na mesma época, o reconhecimento do direito de
receberem proventos pelo trabalho desenvolvido. Tal reconhecimento,
entretanto, implica necessariamente, na separação entre trabalho e prazer,
explicita em discurso da época, carregados das contradições que sacudiam a
Igreja por conta de sua inserção na ordem capitalista em processo de
estruturação: (...) Mas, se prostitui por prazer e se alega o corpo para que ele
tenha prazer, então o seu trabalho não é louvável e o ganho é tão vergonhoso
quanto o ato... (1998, p. 257) Thomas de Chobham, apud Le Goff,, 1908,
P.95).

A profissionalização da prostituição no Brasil não é um fato recente. Por


diversas vezes se havia tentado, sem sucesso. As iniciativas partiram, no final do século
XIX, das autoridades policiais preocupadas com a moralidade e, posteriormente, os
higienistas brasileiros pretendiam combater aos males venéreos principalmente a sífilis
sobre a saúde individual e coletiva. No período não foi possível a aprovação da lei
devido a discordância de vários setores da sociedade que divergiam quanto a
necessidade do sexo fora do casamento. Quem atenderia a mocidade masculina e os
soldados? Os casados como satisfazer suas necessidades de impulso sexual sem
procriar? Alfredo Porto, dentre eles, argumenta que do ponto de vista médico, a
regulamentação da prostituição atenuava a propagação da sífilis. Outros como os
moralistas preocupavam-se com a libertinagem. O fato é que a partir da década de 20, a
regulamentação da prostituição no Brasil tornou-se causa perdida. (CARRARA, 1996)
Sandra Pesavento, retratando Porto Alegre do século XIX, também vai fazer uma
distinção entre categorias profissionais identificando o trabalhador honrado e os
personagens ligados a escória da cidade. Para ela a questão básica que se configurava
era a de compelir os indivíduos do mercado formal de trabalho. Celebrava-se o operário
e condenava-se o vagabundo. A vadiagem representava o não-engajamento no mercado
formal de trabalho, que viviam de “expedientes” ou formas escusas de ganhar dinheiro.
Numa associação entre conceitos higienistas e morais, os habitantes de lugares infectos
e insalubres só podiam ser degenerados e entregar-se a todos os vícios. Era necessário
extirpar os grupos desviantes, fazer uma desinfecção, a cidade precisava de uma
limpeza moral. Os jornais da cidade alicerçavam esta idéia reforçando campanhas para a
limpeza do lugar tanto que o diretor de Higiene Pública deu uma declaração no O
Independente em 18 de fevereiro de 1906:
Foi neste beco que se manifestou o primeiro caso de peste bubônica
aparecido em Porto Alegre, seguindo-se muitos outros não só de peste, como
também varíola, febre tifóide, outras moléstias contagiosas. (...) Os
moradores são os vagabundos incorrigíveis ou prostitutas da mais baixa
esfera, infelizes que ás vezes nem têm o que comer e que, para poderem
pagar o aluguel das casas, aglomeram-se ás vezes seis ou oito em casas que
com dificuldades conteriam três moradores. Nessas casas a imundice é das
mais flagrantes, sendo os apartamentos ao mesmo tempo sala, dormitório,
sala de jantar, cozinha e latrina. (PESAVENTO, 1994, p.118).

Segundo Pesavento (1994) a prostituição foi à atividade que mais foi combatida
pela moral pública naquela época, ela representava a criminalidade. A prostituta levava
uma vida desregrada, infringia todas as normas de civilidade dos valores estabelecidos,
era um elemento que concentrava todos os vícios.
Desencaminhava a juventude, pervertiam crianças, seduziam pais de família,
viviam cercadas de bêbados e jogadores. Elas próprias se viam envolvidas em
cenas violentas de pugilato, onde navalha e chicote misturavam-se a puxões
de cabelo, na disputa amorosa por algum freqüentador do bordel, incidentes
que não raro acabavam na delegacia ou no necrotério”. (PESAVENTO, 1994.
p.134)

E hoje o que mudou na vida da profissional do sexo? A sociedade aceita esta


atividade sem preconceitos? Esses sujeitos são necessários na sociedade
contemporânea? É possível exercer esta atividade mantendo um estilo de vida saudável?
As motivações que impulsionam as mulheres a ingressarem na indústria do sexo ainda
são as mesmas?
Inserir um parágrafo: (i) um parágrafo para comentar com fontes de pesquisas mais
recentes, outros dados acerca da profissão no Brasil.
(ii) Um parágrafo para fazer um fechamento, que pode começar assim: Para responder
aos questionamentos propostos, nos próximos tópicos serão tratados temas relativos ao
ambiente de trabalho, o relevante papel da informação sobre métodos seguros nas
relações sexuais e aspectos regulatórios.

1.2 PREVIDÊNCIA SOCIAL: A relação com o universo feminino e a prostituição

Pode-se notar que a Previdência Social exerce um papel em relação a proteção às


mulheres. Conforme dados do IBGE, as mulheres apresentam uma expectativa de vida
superior a dos homens. Além disso, a filiação das mulheres na Previdência Social vem
apresentando constante crescimento ao longo dos anos e, isso não deixa de ser um
reflexo do aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho.

No entanto, a cobertura do Regime Geral da Previdência Social ao sexo feminino é


inferior à contribuição destinada ao sexo masculino. A situação é ainda mais crítica no
que diz respeito à proteção de trabalhadoras autônomas.

É muito importante destacar as diferenças existente entre os sexos feminino e


masculino, para efeitos específicos da Previdência Social, sendo a reprodução a
diferença crucial, pois cabe a mulher as funções relacionadas a procriação, e
amamentação de seus filhos, o que por sua vez, demandam tempo e cuidados
específicos durante a gravidez, bem como, no período pós-natal.

Esse é o início de uma justificativa de determinados benefícios destinados apenas às


mulheres. Sendo natural a existência de benefícios diferenciados que asseguram a
proteção ao sexo feminino no desempenho de suas funções. Destaco aqui alguns
mecanismos de proteção, que abrangem diversas áreas, tais como: Em caso de gravidez,
a mulher tem por garantia a estabilidade provisória do emprego, alcançando até mesmo
o pós-natal. O afastamento durante o período denominado como perinatal. Sendo os
vencimentos parciais ou integrais garantidos durante todo o período do afastamento.
Dentre outros benefícios.
Tais questões envolvendo os benefícios, podem ser expressas em diversos instrumentos
legais, inclusive de níveis diferentes, como por exemplo: nível constitucional,
infraconstitucional, normativas dos órgãos governamentais e de esferas centrais, ou até
mesmo locais. Em cada país regula esses benefícios de forma diversa. Por exemplo, nos
Estados Unidos a gravidez não é objeto de legislação específica a nível nacional, sendo
coberta pelos instrumentos tradicionais de auxílio-saúde, pois a gestação é tratada da
mesma forma que uma doença. No Brasil, essa situação é encarada no âmbito
constitucional.

No que concerne a diferença entre a quantidade de benefícios emitidos pela Previdência


Social em relação aos homens e mulheres, há mais benefícios concedidos ao sexo
feminino, porém, é de suma importância ressaltar que o valor gasto com benefícios aos
homens é maior que o valor destinado às mulheres. Isso porque o salário médio da
mulher é inferior ao do homem, o que, consequentemente, afeta o valor médio dos
benefícios pagos. E há mais mulheres contribuintes, maior número não maior valor de
contribuição. CITAR REFERENCIA.
Inserir um parágrafo para comentar como uma prostituta pode realizar contribuição
previdenciária – contribuinte individual ou há uma categoria específica? O que ela deixa
de ter cobertura se for contribuinte individual? Os critérios para benefícios do
contribuinte individual são diferentes, afeta, por exemplo, questões acidentárias. A
violência contra a mulher no exercício da prostituição, poderia ser considerado acidente
do trabalho?

2 AÇÕES EM BUSCA DA REGULARIZAÇÃO DA PROFISSÃO

2.1 FORMALIZAÇÃO DE OCUPAÇÃO DA PROSTITUIÇÃO EM PROFISSÃO

No Brasil, apesar do preconceito, há lugares como o NEP - NÚCLEO DE


ESTUDOS DA PROSTITUIÇÃO, que buscam regulamentar os direitos das
profissionais do sexo. A ONG foi criada em Porto Alegre no ano de 1989, por
prostitutas, para atuar junto às mulheres profissionais do sexo com o objetivo de
articulação em busca de sua cidadania que passa pela construção da auto- estima da
saúde plena. Inicialmente o nome da ONG era AGP (Associação Gaúcha das
Prostitutas), que ao ser encaminhado para o registro foi recusado, devido ao fato de que
em 1990 a prostituição não era reconhecida como ocupação. Hoje há uma concepção
mais avançada com relação a prostituição não sendo é mais considerada caso de polícia,
pois está na CBO - Classificação Brasileira de Ocupações como uma atividade
reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social.
Portanto, a profissional do sexo não pode mais ser enquadrada como marginal e sim
como uma profissão autônoma. No Brasil existe uma média de 35 associações que estão
debatendo questões como o reconhecimento legal da prostituição como profissão
retirando essa atividade da criminalidade ganhando assim respeito da sociedade. No
Congresso Nacional tramita um Projeto de lei que atende as reivindicações das
prostitutas, mas ainda não foi votado.

O NEP foi a primeira instituição no Estado a trabalhar com a prevenção das


DST/HIV/AIDS e a saúde da profissional do sexo, contando com o apoio, parcerias e
convênios junto as Coordenações Nacional, Estadual e Municipal e tendo o
reconhecimento de outras instituições nacionais e internacionais. Sua missão é
promover os direitos humanos, a auto-estima e a prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis, HIV/AIDS para o pleno exercício da cidadania. Incentivar a auto-
organização das mulheres profissionais do sexo para lutar contra a violência e a
discriminação, contribuindo para a conquista de seus direitos, fortalecendo sua
autonomia enquanto cidadãs. Realiza cerca de 150 atendimentos por semana onde as
prostitutas retiram seus preservativos e participam das atividades da instituição, mas
também em relação ao número de consultas marcadas e realizadas nos serviços de
saúde, encaminhamentos de denúncias de violência, que segundo elas, tem seus índices
diminuídos, tanto por parte da polícia como também entre as próprias profissionais do
sexo e seus clientes.

A estratégia de abordagem do NEP é fazer uma intervenção corpo a corpo em


território de prostituição públicos e privados desde as ruas até casas fechadas como
boates, drinks, etc., o objetivo é atender toda a profissional do sexo oferecendo oficinas
como redução de danos no uso de drogas lícitas e ilícitas; de saúde e sexo seguro; de
nutrição para melhor qualidade de vida dos soropositivos bem como as doentes de
AIDS.
É importante destacar que todas as atendentes da ONG são prostitutas e multiplicadoras
da prevenção. Participam de movimentos políticos, como Conselho Estadual e
Municipal discutindo questões como: pré-conceitos, violência e violação dos direitos
humanos além do combate a exploração sexual infantil e de adolescentes. Fazem parte
da Comissão Municipal de Diretos Humanos e Segurança Urbana visando uma
convivência harmônica entre moradores e profissionais do sexo que trabalhem nestes
bairros.

A participação política do NEP demonstra um novo comportamento da prostituta


na sociedade contemporânea. Se nos séculos passados elas eram estigmatizadas como
escória da sociedade hoje elas buscam todas as formas de informação possível para
reverter esse quadro. Uma estratégia do NEP é levar informação para as profissionais do
sexo através de folhetos que são distribuídos em seus locais de trabalho. Destaco o
projeto “Multiplicadoras da Prevenção”, apresentado através de um folheto que traz
informações e orientações de como usar corretamente a camisinha; quais as DSTs mais
comuns e seus sintomas demonstradas por fotos, como se prevenir da AIDS. Este
folheto ensina através de desenhos como fazer o auto-exame da mama; onde e quando
fazer o teste anti-HIV.

Os motivos que levam as mulheres buscarem a prostituição na atualidade ainda é


são os mesmos do século XIX? Constatamos que ainda hoje as mulheres buscam
complementar suas rendas com atividade ligada ao sexo. Poucas oportunidades, baixos
salários para mulheres de origem humilde e baixo nível de escolaridade são algumas das
causas. Muitas das mulheres que trabalham nas praças de Porto Alegre já
experimentaram outras profissões, o horário flexível, não exclui empregos assalariados.
Entretanto existem outras profissionais ligadas ao sexo que exercem sua atividade em
clubes, casas fechadas que mantêm um padrão de vida acima da média como as artistas
de shows streap-tease, dublagem e sexo explícito. São mulheres universitárias que
procuram apresentar-se de aparência saudável, freqüentando academias, salões de
beleza e também acompanhamento com nutricionistas além do investimento em grandes
marcas de roupas importados. Estas últimas estão inseridas na categoria de
acompanhante.
No sentido de buscar tal regulamentação dessa "ocupação", tramitam no Congresso
Nacional, dois Projetos de Lei. O primeiro Projeto de Lei foi ingressado, em meados de
2003, pelo Ex-Deputado Federal e Jornalista, Fernando Gabeira. Atualmente tramita um
novo Projeto de Lei ingressado pelo Deputado Federal Jean Wyllys, o que atende as
reivindicações das prostitutas, mas ainda não foi aprovado, por inúmeras questões,
envolvendo preconceito, religião, opiniões, etc.

Você também pode gostar