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CURSO

Módulo 2

Rede de Enfrentamento ao
Tráfico de Pessoas no Brasil
CURSO

Módulo 2

Rede de Enfrentamento ao
Tráfico de Pessoas no Brasil
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

Presidente CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE


Ministra Rosa Weber SERVIDORES DO PODER JUDICIÁRIO (CEAJUD)
Corregedor Nacional de Justiça Chefe do CEAJud
Ministro Luis Felipe Salomão Diogo Albuquerque Ferreira
Conselheiros Servidores
Luiz Philippe Vieira de Mello Filho Alana Oliveira Viana
Mauro Pereira Martins Aline Ribeiro de Mendonça
Richard Pae Kim Anali Cristino Figueiredo
Salise Monteiro Sanchotene Guilherme Coutinho de Oliveira
Marcio Luiz Coelho de Freitas Rodrigo Pereira da Silva
Jane Granzoto Torres da Silva Rossilany Marques Mota
Giovanni Olsson
Sidney Pessoa Madruga
João Paulo Santos Schoucair
Marcos Vinícius Jardim Rodrigues
Marcello Terto e Silva ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS MIGRAÇÕES
Mário Henrique Aguiar Goulart Ribeiro Nunes Maia
Chefe de Missão da OIM no Brasil
Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho
Stéphane Rostiaux

Secretário-Geral
Gabriel da Silveira Matos
EXPEDIENTE TÉCNICO
Secretário Especial de Programas,
Pesquisas e Gestão Estratégica Coordenação Executiva
Ricardo Fioreze Marcelo Torelly
Natália Maciel
Diretor-Geral
Johaness Eck Conteúdo original
Tatiana C. Waldman
Revisão de conteúdo
Jennifer Alvarez
Natália Maciel
Tatiana Waldman

Com a seguinte contribuição


Andrea Rocha Carvalho Gondim

SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Secretária de Comunicação Social


Cristine Genú
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS MIGRAÇÕES
Chefe da Seção de Comunicação Institucional
SAS Quadra 05, Bloco N, Ed. OAB, 3º Andar — Brasília-DF
Rejane Neves
CEP: 70070-913
Projeto gráfico
Eron Castro
Revisão
Carmem Menezes

2023
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
SAF SUL Quadra 2 Lotes 5/6 - CEP: 70070-600
Endereço eletrônico: www.cnj.jus.br
SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO DO MÓDULO 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2 SOBRE A POLÍTICA NACIONAL DE


ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
LISTA DE SIGLAS
Ação civil pública (ACP)
Associação Brasileira de Defesa da Mulher, da Infância e da Juventude (ASBRAD)
Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC)
Comissão Municipal de Erradicação do Trabalho Escravo (COMTRAE)
Comitê de Migração e Refúgio (CER)
Comitê Municipal de Atenção aos Imigrantes, Refugiados, Apátridas e Vítimas do Tráfico de
Pessoas no Município de Porto Alegre (COMIRAT-POA)
Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (CONATRAP)
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB)
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)
Coordenação Geral de Proteção às Testemunhas e Defensores de Direitos Humanos (CGPTDDH)
Coordenação Geral de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Contrabando de Migrantes
do Departamento de Migrações da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça e
Segurança Pública (CGETP/SENAJUS/MJSP)
Defensoria Pública da União (DPU)
Departamento de Proteção e Defesa dos Direitos Humanos (DEPDDH)
Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (DETRAE)
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
Inquérito civil (IC)
Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC)
Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania
Ministério do Trabalho e Previdência (MTP)
Ministério Público Federal (MPF)
Ministério Público do Trabalho (MPT)
Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP)
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
Organização Internacional para as Migrações (OIM)
Organização por uma Cidadania Universal (OCU)
Polícia Federal (PF)
Polícia Rodoviária Federal (PRF)
Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (PNETP)
Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante (PAAHM)
Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM)
Projeto de Promoção dos Direitos de Migrantes (ProMigra)
Rede Advocacy Colaborativo (RAC)
Red Espacio Sin Fronteras (ESF)
Secretaria Nacional de Proteção Global (SNPG)
Sistema Único de Assistência Social (SUAS)
Sistema Único de Saúde (SUS)
Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

1
APRESENTAÇÃO
DO MÓDULO 2
Sejam bem-vindas e bem-vindos ao segundo módulo do curso Brasil sem
tráfico humano!

Depois das reflexões introdutórias sobre os dados e marcos jurídicos, interna-


cionais e nacionais, sobre a migração, o tráfico de pessoas e os crimes corre-
latos apresentados no módulo 1, adentramos o segundo momento do curso.

Neste módulo, serão apresentados os principais atores envolvidos na Política


Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil, bem como o papel
que desempenham frente a esse crime.

Em um primeiro momento, aproximar-nos-emos da atuação do Estado bra-


sileiro a partir da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e
do Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, assim como das
atribuições do Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e da
Coordenação Geral de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Contrabando
de Migrantes.

Logo em seguida, conheceremos atores chave no enfrentamento ao tráfico de


pessoas a partir de três frentes:
1) Denúncia e resgate.

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Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

2) Atenção às vítimas (assistência e proteção) – neste ponto também refle-


tiremos sobre a importância da construção de fluxos de atendimento
às vítimas de tráfico de pessoas.
3) Repressão e responsabilização adequada dos perpetradores.

Este módulo contou com as contribuições de representantes do Centro de


Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC), do Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), da Coordenação Geral de Proteção
às Testemunhas e Defensores de Direitos Humanos (CGPTDDH), do Ministé-
rio do Trabalho e Previdência (MTP), do Ministério Público do Trabalho (MPT),
do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), das Defensorias Públicas dos
Estados da Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro,
Rio Grande do Sul e Tocantins, da Defensoria Pública da União (DPU), do Ins-
tituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC), da Polícia Federal (PF), do Projeto de
Promoção dos Direitos de Migrantes (ProMigra) e da Rede Um Grito Pela Vida.

A proposta é que os atores envolvidos na Política Nacional de Enfrentamento


ao Tráfico de Pessoas no Brasil possam se conhecer e ser conhecidos. Ao fina-
lizar o módulo, a expectativa é que você esteja preparada(o) para identificá-los
e tenha conhecimento da sua atuação frente ao tráfico de pessoas.

Vamos dar início ao Módulo 2!

SAIBA MAIS:
Ao percorrer este módulo, você observará sugestões de referências
complementares como publicações, vídeos, sites etc.
Não deixe de explorar esse material que foi selecionado com o
objetivo de aprofundar as discussões apresentadas no curso!

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Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

2
SOBRE A POLÍTICA
NACIONAL DE
ENFRENTAMENTO
AO TRÁFICO
DE PESSOAS
No módulo anterior, vimos que em 2004 foi promulgado no Brasil o Protoco-
lo de Palermo. Em seguida, no ano de 2006, por meio do Decreto n. 5.948
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/d5948.htm,
o país aprovou a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas
que estabeleceu princípios, diretrizes e ações de prevenção e repressão ao
tráfico de pessoas e de atendimento às vítimas1.

A Política adota a definição de tráfico de pessoas apresentada pelo Protocolo


de Palermo2 e tem como princípios norteadores, entre outros, a “proteção
e assistência integral às vítimas diretas e indiretas, independentemente de
nacionalidade e de colaboração em processos judiciais” e a “proteção integral
da criança e do adolescente”3.

1 Cf. artigo 1º da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Decreto nº 5.948/2006.


2 Cf. artigo 2º da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Decreto nº 5.948/2006.
3 Cf. artigo 3º da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Decreto nº 5.948/2006.

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Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

Vale destacar que entre suas diretrizes estão a “estruturação de rede de en-
frentamento ao tráfico de pessoas, envolvendo todas as esferas de governo
e organizações da sociedade civil” e o “fortalecimento do pacto federativo,
por meio da atuação conjunta e articulada de todas as esferas de governo na
prevenção e repressão ao tráfico de pessoas, bem como no atendimento e
reinserção social das vítimas”4.

A aprovação da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas


preencheu uma lacuna de legislação específica sobre o tema no Brasil e teve
como mérito fortalecer e incluir o tráfico de pessoas de forma definitiva na
agenda do Poder Executivo Federal do país5.

Não deixe de conferir a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de


Pessoas: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/
d5948.htm !

Também em 2006, por meio do mesmo Decreto n. 5.948, foi instituído o Grupo
de Trabalho Interministerial para elaborar a proposta do Plano Nacional de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. O I Plano esteve vigente entre 2008 e
2010, o II Plano entre 2013 e 2016 e o III Plano foi aprovado em 2018 por meio
Decreto n. 9.440 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/
decreto/D9440.htm#:~:text=DECRETO%20N%C2%BA%209.440%2C%20DE%20
3,que%20lhe%20confere%20o%20art.

Não deixe de conferir o conteúdo do III Plano Nacional de Enfrentamento ao


Tráfico de Pessoas: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/
decreto/D9440.htm#:~:text=DECRETO%20N%C2%BA%209.440%2C%20DE%20
3,que%20lhe%20confere%20o%20art

4 Cf. artigo 4º da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Decreto nº 5.948/2006.


5 SILVA, Renata Braz; ALMEIDA, Marina Bernardes de (Org.). Coletânea de instrumentos de enfrentamento ao
tráfico de pessoas. Brasília: Ministério da Justiça e Segurança Pública, 2018. p. 12; 15.

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O III Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, programado


para ser executado em quatro anos (2018-2022), está distribuído em seis eixos
temáticos: I – gestão da política; II – gestão da informação; III – capacitação; IV –
responsabilização; V – assistência à vítima; e VI – prevenção e conscientização
pública. Estes eixos são compostos por metas que estão sendo implemen-
tadas por meio de ações articuladas nas esferas federal, estadual, distrital e
municipal e contam com a colaboração de organizações da sociedade civil e
de organismos internacionais6. O Grupo Interministerial de Monitoramento
e Avaliação do III Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas
também tem como missão propor ajustes na definição de prioridades para a
implementação de suas metas.

Ele foi instituído por meio do Decreto n. 9.796, de 20 de maio de 2019


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20192022/2019/decreto/D9796.htm

O monitoramento das metas do III Plano Nacional de Enfrentamento ao Trá-


fico de Pessoas pode ser acompanhado pela Plataforma de Monitoramen-
to de Planos da Meta 8.7 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável:
https://www.monitora87.org/.

É resultado da parceria entre o Ministério da Justiça e Segurança Pública e o Mi-


nistério Público do Trabalho e gerenciada por cooperação internacional entre
o Ministério Público do Trabalho e a Organização Internacional do Trabalho.

O MONITORA 8.7 é a plataforma de monitoramento de planos de erradicação


do Trabalho Forçado, da Escravidão Contemporânea, do Tráfico de Pessoas e
do Trabalho Infantil e permite o acompanhamento de planos nacionais, esta-
duais e municipais relativos aos temas.

Já em meio a um contexto de vigência da Política Nacional de Enfrentamento


ao Tráfico de Pessoas e do Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico

6 Cf. artigos 3º e 4º do III Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Decreto n. 9.440/2018.

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de Pessoas, a partir de 2013, por meio do Decreto n. 7.901 (posteriormente


revogado pelo Decreto n. 9.833, de 12 de junho de 2019 http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D9833.htm), foi instituído o Co-
mitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (CONATRAP), no
âmbito do Ministério da Justiça e Segurança Pública. O Comitê tem a incum-
bência de articular a atuação dos órgãos e das entidades públicas e privadas
no enfrentamento ao tráfico de pessoas7.

O CONATRAP é composto pelo Secretário Nacional de Justiça do Ministério


da Justiça e Segurança Pública; um representante de cada um dos seguintes
Ministérios: das Relações Exteriores, da Cidadania e da Mulher, da Família e
dos Direitos Humanos; e três representantes de organizações da sociedade
civil ou de conselhos de políticas públicas que exerçam atividades relevantes
e relacionadas ao enfrentamento ao tráfico de pessoas8.

Decreto n 9.833, de 12 de junho de 2019


Artigo 2º Compete ao CONATRAP:
I – propor estratégias para a gestão e a implementação das ações da Política
Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (PNETP), aprovada pelo De-
creto nº 5.948, de 26 de outubro de 2006, e dos planos nacionais de enfrenta-
mento ao tráfico de pessoas;
II – propor a elaboração de estudos e pesquisas e incentivar a realização de
campanhas relacionadas ao enfrentamento ao tráfico de pessoas;
III – fomentar e fortalecer a expansão da rede de enfrentamento ao tráfico de
pessoas, em especial dos Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e
dos Postos Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante;
IV – articular suas atividades àquelas dos Conselhos Nacionais de Políticas
Públicas que tenham interface com o enfrentamento ao tráfico de pessoas,
para promover a intersetorialidade das políticas;

7 Disponível em: https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/trafico-de-pessoas/politica-brasilieira/comite-


-nacional-de-enfrentamento-ao-trafico-de-pessoas-conatrap . Acesso em 8 jun. 2022.
8 Cf. artigo 3º do Decreto n 9.833, de 12 de junho de 2019.

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Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

V – articular e apoiar tecnicamente os comitês estaduais, distrital e municipais


de enfrentamento ao tráfico de pessoas na definição de diretrizes comuns de
atuação, na regulamentação e no cumprimento de suas atribuições;
VI – elaborar relatórios de suas atividades; e
VII – elaborar e aprovar o seu regimento interno.

SAIBA MAIS:
Para mais informações sobre o CONATRAP, acesse: https://www.gov.br/
mj/ptbr/assuntos/sua-protecao/trafico-de-pessoas/politica-brasilieira/
comite-nacional-de-enfrentamento-ao-trafico-de-pessoas-conatrap.

Ainda em âmbito federal, é importante mencionar também as atribuições da


Coordenação Geral de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Contraban-
do de Migrantes do Departamento de Migrações da Secretaria Nacional de
Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública (CGETP/SENAJUS/MJSP),
responsável por promover a articulação necessária para a adequada condução
da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

Portaria MJSP nº 1.223/2017, publicada no Diário Oficial da União de 26 de


dezembro de2017 (n. 246, Seção 1, página 847)
Artigo 36. À Coordenação-Geral de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (CGE-
TP), compete:
I – coordenar as instâncias de gestão integrada da política nacional de Enfren-
tamento ao Tráfico de Pessoas;
II – coordenar o processo de planejamento, elaboração, implementação, mo-
nitoramento e avaliação dos Planos Nacionais de Enfrentamento ao Tráfico
de Pessoas;
III – Orientar a rede no encaminhamento de denúncias para os serviços de
Justiça e segurança pública;

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IV – realizar articulação com instituições parceiras que trabalham com o en-


frentamento ao tráfico de pessoas nas suas diversas finalidades;
V – coordenar ações de cooperação técnica internacional para o enfrentamento
ao tráfico de pessoas (ETP); e
VI – promover o fomento de ações de pesquisa, produção de dados, gestão da
informação, capacitações, campanhas, prêmios, semana de mobilização e de-
mais ações que visem o fortalecimento da Política Nacional de Enfrentamento
ao Tráfico de Pessoas9.

Como vimos, a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas


tem como diretriz geral a estruturação da rede de enfrentamento ao tráfico de
pessoas, envolvendo todas as esferas de governo e organizações da sociedade
civil por meio da atuação conjunta e articulada.

É também indicada, como diretriz específica, a necessidade de ação integrada


e intersetorial em diversas áreas, inclusive na área de justiça em eixos como
o da prevenção e da repressão ao tráfico de pessoas. Os atores do sistema de
justiça são, portanto, fundamentais para o enfrentamento do crime de tráfico.

Há, deste modo, responsabilidade compartilhada entre o Governo Federal,


os Estados e os Municípios com a colaboração de organizações da sociedade
civil, institutos de pesquisa, organizações internacionais e atores do sistema
de justiça10. Todas as instituições e os atores envolvidos compõem a Rede de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

Em âmbito infranacional, quem executa a política em nível estadual e muni-


cipal é a rede de Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP), os
Postos Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante (PAAHM) e os
Comitês Estaduais de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. Estes são respon-
sáveis por materializar os princípios e as diretrizes da Política Nacional de

9 Disponível em: https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/trafico-de-pessoas/copy_of_politica-brasilieira/


coordenacao-geral-de-enfrentamento-ao-trafico-de-pessoas-e-contrabando-de-migrantes. Acesso em: 8 jun. 2022.
10 Disponível em: https://www.gov.br/mj/pt-br/acesso-a-informacao/perguntas-frequentes/gestao-da-politica-e-dos-
-planos-nacionais-de-enfrentamento-ao-traficico-de-pessoas . Acesso em: 9 jul. 2022.

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Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas nos estados e municípios de acordo


com suas atribuições.11

Os Comitês Estaduais de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas são espaços


de participação, articulação e contato entre o poder público e a sociedade civil
que atuam no enfrentamento ao tráfico de pessoas.

SAIBA MAIS:
Para conhecer os comitês estaduais, verifique o seguinte link que
disponibiliza os contatos e endereços: https://www.gov.br/mj/pt-
br/assuntos/sua-protecao/trafico-de-pessoas/politica-brasilieira/
redes-de-enfrentamento/nucleos-e-postos-de-etp/comites-1

SAIBA MAIS:
Há, ainda, comitês em âmbito municipal, como é o caso, por exemplo,
do Comitê Municipal de Atenção aos Imigrantes, Refugiados,
Apátridas e Vítimas do Tráfico de Pessoas no Município de Porto
Alegre (COMIRAT– POA), instituído pelo Decreto n. 20.821, de 30 de
novembro de 2020 https://leismunicipais.com.br/a/rs/p/porto-alegre/
decreto/2020/2082/20821/decreto-n-20821-2020-institui-o-comite-
municipal-de-atencao-aos-imigrantes-refugiados-apatridas-e-vitimas-
do-trafico-de-pessoas-no-municipio-de-porto-alegre-comirat-
poa-e-revoga-o-decreto-n-18815-de-10-de-outubro-de-2014

11 Disponível em: https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/trafico-de-pessoas/politica-brasilieira/redes-


-de-enfrentamento . Acesso em: 9 jul. 2022.

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Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

As atribuições dos Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e dos Pos-


tos Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante serão aprofundadas
mais adiante!

Com a diversidade de atores que formam a Rede de Enfrentamento ao Trá-


fico de Pessoas e que estão engajados em ações de prevenção e repressão
ao tráfico de pessoas, bem como de proteção, assistência e atendimento às
vítimas, é importante conhecer quem são e quais são as suas atribuições.

Para facilitar o nosso entendimento e a aproximação com um rol extenso, mas


não exaustivo, de atores envolvidos no enfrentamento ao tráfico de pessoas,
foram elaboradas fichas técnicas das principais instituições envolvidas a partir
de três frentes de atuação:
1. denúncia e resgate;
2. atenção às vítimas (assistência e proteção); e
3. repressão e responsabilização adequada dos perpetradores.

A seguir, você poderá ter acesso às fichas técnicas, muitas delas elaboradas a
partir do olhar dos próprios atores infográfico. É importante reparar que cada
ficha tem uma ou mais faixas coloridas no seu cabeçalho. As faixas indicam
quais frentes a instituição está envolvida: denúncia e resgate – faixa vermelha;
atenção às vítimas (assistência e proteção) – faixa verde; e repressão e respon-
sabilização adequada dos perpetradores – faixa azul.

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Módulo 2
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1
Denúncia e
resgate

2 3
Repressão e
Atenção às vítimas
responsabilização
(assistência e
adequada dos
proteção)
perpetradores

Lista de atores em cada frente:

Denúncia e resgate:
z Disque 100 (Disque Direitos Humanos) – Ministério da Mulher, da Família
e dos Direitos Humanos
z Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher) – Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos
z Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas
z Postos Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante
z Conselho Tutelar
z Ministério do Trabalho e Previdência
z Ministério Público Federal
z Ministério Público do Trabalho
z Ministério Público Estadual
z Polícia Federal

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z Polícia Rodoviária Federal


z Polícia Civil
z Polícia Militar
z Guardas Municipais
z Sistema Único de Assistência Social
z Divisão de Assistência Consular – Ministério das Relações Exteriores
z Ordem dos Advogados do Brasil
z Defensoria Pública da União
z Defensoria Pública do Estado
z Organizações da Sociedade Civil
z Projetos de extensão de universidades

Atenção às vítimas (assistência e proteção):


z Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas
z Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante
z Conselho Tutelar
z Ministério do Trabalho e Previdência
z Ministério Público do Trabalho
z Sistema Único de Assistência Social
z Sistema Único de Saúde
z Coordenação Geral de Proteção às Testemunhas e Defensores de Di-
reitos Humanos
z Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte
z Divisão de Assistência Consular – Ministério das Relações Exteriores
z Ordem dos Advogados do Brasil
z Defensoria Pública da União
z Defensoria Pública do Estado
z Organizações da Sociedade Civil
z Projetos de extensão de universidades

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Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

A construção de fluxos de atendimento a vítimas de


tráfico de pessoas

Confira a Cartilha de Orientação para a construção de fluxos de atendimento


a vítimas de tráfico de pessoas na biblioteca virtual!
Ela foi desenvolvida pela Organização Internacional para as Migrações e pela
Coordenação Geral de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Contrabando de
Migrantes, com o apoio de representantes dos Núcleos de Enfrentamento ao
Tráfico de Pessoas e de Postos Avançados de Atendimento Humanizado aos
Migrantes.
O material visa fortalecer o planejamento e desenvolvimento de fluxos de atendi-
mento a vítimas de tráfico de Pessoas cujo objetivo principal é proporcionar um
encaminhamento mais especializado e sistematizado a vítimas e sobreviventes
do crime de tráfico de pessoas.
A cartilha apresenta orientações para que os atores locais possam construir seus
próprios fluxos considerando a realidade específica da rede de enfrentamento
da sua localidade.

Repressão e responsabilização adequada dos perpetradores:


z Ministério Público Federal
z Ministério Público do Trabalho
z Ministério Público Estadual
z Polícia Federal
z Polícia Rodoviária Federal
z Polícia Civil
z Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
z Defensoria Pública da União
z Defensoria Pública do Estado

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Atores chave no enfrentamento ao tráfico de pessoas

Disque Direitos Humanos (Disque 100) – Ministério dos Direitos Humanos


e da Cidadania12

O Disque Direitos Humanos (Disque 100) é o serviço de divulgação de informa-


ções sobre direitos de pessoas em situação de vulnerabilidade e de denúncias
de violações de direitos humanos.

Ele atende situações de violações de direitos que acabaram de ocorrer ou que


ainda estão em curso, encaminhando aos órgãos de proteção e responsabili-
zação as denúncias.

Qualquer pessoa pode reportar situação de violações de direitos humanos,


seja a própria vítima ou não (caso tenha conhecimento), com a garantia de
sigilo da identidade do(da) denunciante.

O Disque 100 recebe, analisa e encaminha denúncias de violações de direitos


humanos incluindo as relacionadas ao tráfico de pessoas.

CANAIS DE PRESTAÇÃO

Telefone:
No Brasil: 100

O serviço funciona diariamente, 24 horas, incluindo sábados, domingos e fe-


riados.

As ligações podem ser feitas de todo o Brasil, gratuitamente, de qualquer te-


lefone fixo ou móvel (celular): basta discar 100.

12 Todas as informações da ficha técnica foram retiradas do link: https://www.gov.br/pt-br/servicos/denunciar-vio-


lacao-de-direitos-humanos

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Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

Em outros países:

Passo 1: Digite o número do país em que você estiver (confira abaixo)


Passo 2: Escolha o idioma. Tecle 1 para português ou 2 para inglês
Passo 3: Aperte 1 novamente
Passo 4: Ligue para o número 61 3535-8333

País Telefone
África do Sul 0800 99 00 55
Alemanha 0800 08 000 55
Argentina 0800 999 55 00
0800 999 55 01
0800 999 55 03
0800 555 55 00
Austrália 1800 88 15 50
Áustria 0800 200 255
Bélgica 0800 100 55
Bolívia 800 1000 55
Canadá 1800 46 366 56
Chile 800 360 220
800 800 272
China 800 4900 125
Chipre 800 932 91
Cingapura 8000 55 05 50
Colômbia 01800 955 00 10
Coreia do Sul 00722055
00309551
Dinamarca 808 855 25
Eslováquia 0800 00 55 00
Espanha 900 99 00 55
Estados Unidos 1800 745 55 21
Formosa 801550055

21
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

França 0800 99 00 55
Grécia 800 161 220 54 194
Guiana Francesa 0800 99 00 55
Holanda 08 000 220 655
Hungria 068 000 5511
Israel 1809494550
Itália 800 172 211
Japão 005 395 51
006 635 055
Luxemburgo 0800 200 55
México 01800 123 02 21
Noruega 800 195 50
Panamá 008 000 175
Paraguai 008 55 800
Peru 0800 50 190
Polônia 008 00 491 14 88
Portugal 800 800 550
Reino Unido 0800 89 00 55
República Dominicana 1800 7518500
Rússia 810 800 20 971 049
Suécia 207 990 55
Suíça 0800 555 251
Uruguai 000455
Venezuela 0800 100 15 50

Web: Disque 100 < https://mdh.metasix.solutions/portal/servicos >

E-mail: ouvidoria@mdh.gov.br

Aplicativo móvel: Direitos Humanos Brasil <https://www.gov.br/mdh/pt-br/apps >

22
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

Postal:

Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos


Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania
Esplanada dos Ministérios Bloco A – 9º andar
CEP: 70.049-900 – Brasília, DF

Presencial:
Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos
Esplanada dos Ministérios Bloco A – Térreo
CEP: 70.049-900 – Brasília, DF
Dias de atendimento: de segunda a sexta-feira (exceto feriados).
Horário de atendimento: das 9h às 12h e das 14h às 18h.

Aplicativo móvel:
O Disque 100 está disponível pelo WhatsApp.
Para receber atendimento ou fazer denúncias, basta o cidadão enviar mensa-
gem para o número: (61) 99656-5008
Após resposta automática, ele será atendido por uma pessoa da equipe da
central única dos serviços.

Aplicativo móvel:
Também é possível utilizar o Disque 100 por meio do Telegram, basta digitar
“Direitoshumanosbrasil” na busca do aplicativo.
Após uma mensagem automática inicial, o atendimento será realizado pela
equipe do Disque Direitos Humanos (Disque 100).

SAIBA MAIS:
Para mais informações, acesse: https://www.gov.br/pt-br/
servicos/denunciar-violacao-de-direitos-humanos

23
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher) – Ministério dos Direitos


Humanos e da Cidadania13

A Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 é o canal de denúncia de vio-


lência contra a mulher em âmbito nacional e internacional que funciona 24
horas por dia, todos os dias da semana, no Brasil e em outros 16 países: Argen-
tina, Bélgica, Espanha, EUA (São Francisco e Boston), França, Guiana Francesa,
Holanda, Inglaterra, Itália, Luxemburgo, Noruega, Paraguai, Portugal, Suíça,
Uruguai e Venezuela.

A ligação é gratuita e confidencial.

O canal registra denúncias de violações contra mulheres, encaminha aos ór-


gãos competentes, realiza seu monitoramento e divulga informações sobre
os direitos da mulher, o amparo legal e a rede de atendimento e acolhimento.

CANAIS DE PRESTAÇÃO

Brasil: telefone 180


Mensagem eletrônica (e-mail): ligue180@www.gov.br/mdh/pt-br
Aplicativo: Proteja Brasil
Ouvidoria Online: http://www.humanizaredes.gov.br/ouvidoria–online
Exterior – telefones:
Atenção: depois de marcar algum dos números abaixo, discar um e informar
o número (61) 3799-0180.
Argentina – ligar para 0800 999 5500.
Bélgica – ligar para 0800 10055.
Espanha – ligar para 900 990 055.
Estados Unidos – São Francisco – ligar para 1800 745 5521.
França – ligar para 0800 999 5500.
Guiana Francesa – ligar para 0800 99 5500.

13 Todas as informações da ficha técnica foram retiradas do link: https://www.gov.br/mdh/pt-br/ligue180

24
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

Holanda – ligar para 0800 022 0655.


Inglaterra – ligar para 0800 89 0055.
Itália – ligar para 0800 172 211.
Luxemburgo – ligar para 0800 2 0055.
Noruega – ligar para 8001 9550.
Paraguai – ligar para 0085 5800.
Portugal – ligar para 800 800 550.
Suíça – ligar para 0800 55 5251.
Uruguai – ligar para 000 455.
Venezuela – ligar para 0800 100 1550.

SAIBA MAIS:
Para mais informações, acesse: https://www.gov.br/mdh/pt-br/ligue180

Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas 14

Como já mencionamos, a rede de Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de


Pessoas e Postos Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante,
assim como a de Comitês Estaduais de Enfrentamento ao Tráfico de Pesso-
as, atuam para concretizar a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico
de Pessoas nos estados e municípios.

Os Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP’s) têm a atribui-


ção principal de articular e planejar as ações para o enfrentamento ao tráfico

14 As informações da ficha técnica foram retiradas do link: https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/


trafico-de-pessoas/politica-brasilieira/redes-de-enfrentamento

25
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

de pessoas no âmbito estadual (artigo 1.º, Portaria SNJ n. 31 de 20 de agosto


de 2009)15.

No momento, há 17 Núcleos em funcionamento. Estes são implementados


por meio da parceria entre o governo federal e os governos estaduais e, no
seu formato ideal, são compostos por equipes interdisciplinares que incluem
profissionais dos campos da psicologia, do serviço social e do direito.

Portaria SNJ n. 31 de 20 de agosto de 2009


Artigo 2.º Compete aos Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas:
I – articular e planejar o desenvolvimento das ações de enfrentamento ao
tráfico de pessoas, visando à atuação integrada dos órgãos públicos e da so-
ciedade civil;
II – operacionalizar, acompanhar e avaliar o processo de gestão das ações,
projetos e programas de enfrentamento ao tráfico de pessoas;
III – fomentar, planejar, implementar, acompanhar e avaliar políticas e planos
municipais e estaduais de enfrentamento ao tráfico de pessoas;
IV – articular, estruturar, ampliar e consolidar, a partir dos serviços, programas
e projetos existentes, uma rede estadual de referência e atendimento às víti-
mas de tráfico de pessoas. (Redação dada ao inciso pela Portaria SNJ nº 41, de
06.11.2009, DOU 09.11.2009)
V – integrar, fortalecer e mobilizar os serviços e redes de atendimento;
VI – fomentar e apoiar a criação de Comitês Municipais e Estaduais de Enfren-
tamento ao Tráfico de Pessoas;
VII – sistematizar, elaborar e divulgar estudos, pesquisas e informações sobre
o tráfico de pessoas;
VIII – capacitar e formar atores envolvidos direta ou indiretamente com o en-
frentamento ao tráfico de pessoas na perspectiva da promoção dos direitos
humanos;
IX – mobilizar e sensibilizar grupos específicos e comunidade em geral sobre
o tema do tráfico de pessoas;

15 As atribuições dos Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas foram definidas pela Portaria n. 31, de 20
de agosto de 2009.

26
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

X – potencializar a ampliação e o aperfeiçoamento do conhecimento sobre o


enfrentamento ao tráfico de pessoas nas instâncias e órgãos envolvidos na
repressão ao crime e responsabilização dos autores;
XI – favorecer a cooperação entre os órgãos federais, estaduais e municipais
envolvidos no enfrentamento ao tráfico de pessoas para atuação articulada
na repressão a esse crime e responsabilização dos autores;
XII – impulsionar, em âmbito estadual, mecanismos de repressão ao tráfico de
pessoas e consequente responsabilização dos autores;
XIII – definir, de forma articulada, fluxo de encaminhamento que inclua com-
petências e responsabilidades das instituições inseridas no sistema estadual
de disque denúncia;
XIV – prestar auxílio às vítimas do tráfico de pessoas, no retorno a localidade
de origem, caso seja solicitado;
XV – instar o Governo Federal a promover parcerias com governos e organiza-
ções estrangeiras para o enfrentamento ao tráfico de pessoas; e
XVI – articular a implementação de Postos Avançados a serem instalados nos
pontos de entrada e saída de pessoas, a critério de cada Estado ou Município.

SAIBA MAIS:
Para saber se o seu estado tem um NETP, verifique no
seguinte link que disponibiliza os contatos e o endereço
para atendimento presencial: https://www.gov.br/mj/pt-br/
assuntos/sua-protecao/trafico-de-pessoas/politica-brasilieira/
redes-de-enfrentamento/ nucleos-de-enfrentamento

Assista o vídeo Redes de Apoio e Encaminhamento


com Graziela Rocha (ASBRAD)

27
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante16

Como já mencionamos, a rede de Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de


Pessoas e Postos Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante,
assim como a de Comitês Estaduais de Enfrentamento ao Tráfico de Pesso-
as atuam para concretizar a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico
de Pessoas nos estados e municípios.

Os Postos Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante têm como


atribuição principal prestar serviço de recepção a pessoas brasileiras não admi-
tidas ou deportadas nos pontos de entrada. Eles não recebem denominações
que os vinculem explicitamente ao enfrentamento ao tráfico de pessoas com
o objetivo de favorecer o acolhimento das vítimas (artigos 3.º e 5.º, Portaria
SNJ n. 31 de 20 de agosto de 2009)17.

Os Postos Avançados estão situados em locais de entrada e saída do Brasil


em diferentes regiões do país e, assim como os NETP’s, no seu formato ideal,
são compostos por equipes interdisciplinares que incluem profissionais dos
campos da psicologia, do serviço social e do direito. Nos Postos é adotada a
metodologia de atendimento humanizado, identificando possíveis vítimas de
tráfico de pessoas e oferecendo, de acordo com cada situação, o acolhimento
por meio da rede local.

Portaria SNJ n. 31 de 20 de agosto de 2009


Artigo 4.º Compete aos Postos Avançados:
I – Implementar e consolidar uma metodologia de serviço de recepção a brasi-
leiros(as) não admitidos ou deportados(as) nos principais pontos de entrada;
II – Fornecer informações sobre:

16 As informações da ficha técnica foram retiradas do link: https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/


trafico-de-pessoas/politica-brasilieira/redes-de-enfrentamento
17 As atribuições dos Postos Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante foram definidas pela Portaria
n. 31, de 20 de agosto de 2009.

28
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

a) documentos e procedimentos referentes a viagens nacionais e internacio-


nais;
b) direitos e deveres de brasileiros(as) no exterior;
c) direitos e deveres de estrangeiros(as) no Brasil;
d) serviços consulares; e
e) quaisquer outras informações necessárias e pertinentes.
III – Prestar apoio para:
a) localização de pessoas desaparecidas no exterior; e
b) orientações sobre procedimentos e encaminhamentos para as redes de
serviço.

SAIBA MAIS:
Para saber se o seu estado tem um Posto Avançado, verifique
o seguinte link que disponibiliza os contatos e o endereço para
atendimento presencial: https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/
sua-protecao/trafico-de-pessoas/politica-brasilieira/redes-de-
enfrentamento/nucleos-e-postos-de-etp/postos-avancados

Conselho Tutelar

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069, de 13 de


julho de 1990 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm), o Conselho
Tutelar é “órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela
sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente”
(artigo 131) e “em cada Município e em cada Região Administrativa do Distrito
Federal haverá, no mínimo, um Conselho Tutelar como órgão integrante da
administração pública local” (artigo 132).

Dentre as atribuições do Conselho Tutelar está receber denúncias de amea-


ças ou violações dos direitos de crianças e adolescentes e realizar os encami-

29
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

nhamentos e o acompanhamento dos atendimentos que se fizerem necessá-


rios para a sua proteção, incluindo os casos de tráfico de pessoas nos quais
os Conselhos podem ser acionados pela rede para garantir a assistência e a
proteção adequada (independentemente da nacionalidade da criança ou do
adolescente).

Ao tomar contato com a ocorrência do crime de tráfico de pessoas envolvendo


vítimas com menos de 18 de idade, o Conselho Tutelar deverá encaminhar a
notícia ao Ministério Público (artigo 136, IV) e poderá, entre outras providên-
cias, “requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social,
previdência, trabalho e segurança” (artigo 136, III, a).

Ministério do Trabalho e Previdência (MTP)18

O Ministério do Trabalho e Previdência é o órgão da administração pública


federal direta que tem como área de competência, entre outros assuntos, a
fiscalização do trabalho, inclusive do trabalho portuário, e a aplicação das san-
ções previstas em normas legais ou coletivas. Dentro de sua estrutura insere-se
a Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), à qual estão subordinados os
Auditores Fiscais do Trabalho.

SAIBA MAIS:
Para saber mais sobre o MTP:
https://wwwgov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br
Para saber mais sobre a Subsecretaria de Inspeção do Trabalho:
https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/
orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao

18 Para esta ficha houve a contribuição escrita de um representante do Ministério do Trabalho e Previdência (MTP).

30
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

O Auditor Fiscal do Trabalho tem o dever de agir ao encontrar trabalhador


submetido a regime de trabalho forçado ou reduzido a condição análoga à de
escravo, resgatando-o daquela situação.

Importante ressaltar que as denúncias de tráfico de pessoas para fins de tra-


balho análogo à de escravo podem ser feitas de forma anônima no Sistema
Ipê: https://ipe.sit.trabalho.gov.br/.

Para saber como realizar uma denúncia no Sistema


Ipê, acesse o vídeo Sistema Ipê: plataforma online
para receber denúncias de trabalho escravo:

https://www.youtube.com/watch?v=yYLnmwZrle4

Após tratadas tais denúncias, são designadas equipes de fiscalização para ave-
riguar a situação reportada e, caso o trabalhador venha a ser identificado como
submetido a regime de trabalho forçado ou reduzido a condição análoga à de
escravo, será dessa situação resgatado pela Auditoria Fiscal do Trabalho. Esta
mesma também é competente para a emissão das guias de seguro-desempre-
go do trabalhador resgatado, no valor de um salário-mínimo por cada uma das
três parcelas (artigo 2.º- C da Lei n. 7.998 de 1990, Lei do Seguro Desemprego).

O “resgate” de trabalhadores da condição análoga à de escravo não se resume


à retirada física do local de trabalho, compreendendo também um conjunto
de procedimentos administrativos que reconhecem o trabalhador resgatado
como pessoa detentora de direitos. Entre esses procedimentos administra-
tivos, ressalta-se a rescisão do contrato de trabalho, a reparação dos danos
trabalhistas por meio do pagamento das verbas contratuais e rescisórias de-
correntes da relação de trabalho abusiva, incluindo o labor de natureza sexual,
o retorno ao local de origem, caso tenham sido vítima de tráfico de pessoas,

31
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

e o seu encaminhamento para serviços de acolhimento pelos aparelhos de


assistência social competentes.

Constatada a ocorrência de submissão de trabalhadores à condição análoga


à de escravo, são lavrados os competentes autos de infração pelos ilícitos
administrativos praticados. A lavratura de documentos fiscais pela Inspe-
ção do Trabalho subsidia a estratégia da publicação do Cadastro de Empre-
gadores que tenham submetido trabalhadores a condições análogas à de
escravo, popularmente conhecida como Lista Suja do Trabalho Escravo
https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/pt-br/composicao/orgaos-
-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/areas-de-atuacao/combate-ao-
-trabalho-escravo-e-analogo-ao-de-escravo

No que diz respeito ao procedimento operacional a ser adotado pela Inspeção


do Trabalho nos casos de trabalho em condições análogas à de escravo, a Au-
ditoria Fiscal do Trabalho conta com as disposições emitidas pela Secretaria do
Trabalho do Ministério do Trabalho e da Previdência: capítulo V da Instrução
Normativa n. 02 de 2021.

No referido instrumento são fixadas as medidas a serem tomadas quando do


“resgate” de trabalhadores, com base nos princípios da presunção de legali-
dade e autoexecutoriedade dos atos da Administração Pública:

Instrução Normativa n. 02 de 2021


Artigo 33. O Auditor-Fiscal do Trabalho, ao constatar trabalho em condição
análoga à de escravo, em observância ao art. 2.º– C da Lei n. 7.998, de 1990,
notificará por escrito o empregador ou preposto para que tome, às suas ex-
pensas, as seguintes providências:
I – a imediata cessação das atividades dos trabalhadores e das circunstâncias
ou condutas que estejam determinando a submissão desses trabalhadores à
condição análoga à de escravo;
II – a regularização e rescisão dos contratos de trabalho, com a apuração dos
mesmos direitos devidos, no caso de rescisão indireta;

32
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

III – o pagamento dos créditos trabalhistas por meio dos competentes instru-
mentos de rescisão de contrato de trabalho;
IV – o recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e da
Contribuição Social correspondente;
V – o retorno aos locais de origem daqueles trabalhadores recrutados fora da
localidade de prestação dos serviços; e
VI – o cumprimento das obrigações acessórias ao contrato de trabalho, enquan-
to não tomadas todas as providências para regularização e recomposição dos
direitos dos trabalhadores.
Parágrafo único. Quando constatado que o recebimento das verbas rescisórias
previstas no inciso III ocasionar situação de risco adicional ao trabalhador res-
gatado, deverão ser envidados esforços para que os pagamentos sejam feitos
por meio de depósito em conta bancária em nome do trabalhador.
Artigo 34. O Auditor-Fiscal do Trabalho providenciará, manual ou eletroni-
camente, a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) ao trabalhador
resgatado que não possua este documento, sempre que o encaminhamento
às unidades descentralizadas do Ministério do Trabalho e Previdência possa
implicar prejuízo à efetividade do atendimento da vítima.
Artigo 35. Na hipótese de haver recusa do empregador em adotar as providên-
cias previstas no inciso I do art. 33 desta Instrução Normativa, e esgotados os
esforços administrativos de sua competência para afastar os trabalhadores
da situação de condição análoga à de escravo, o Auditor– Fiscal do Trabalho
comunicará os fatos imediatamente à sua chefia de fiscalização, para que in-
forme à Polícia Federal ou a qualquer outra autoridade policial disponível, e
ao Ministério Público Federal, ressaltando a persistência do flagrante do ilícito.
Artigo 36. Na hipótese de haver negativa do empregador em acatar as deter-
minações administrativas previstas nos incisos I a VI do art. 33, o fato será
comunicado ao Ministério Público do Trabalho, à Defensoria Pública da União
e à Advocacia-Geral da União para a adoção das medidas judiciais cabíveis para
a efetivação dos direitos dos trabalhadores.
Artigo 39. Com o objetivo de proporcionar o acolhimento do trabalhador sub-
metido à condição análoga à de escravo, seu acompanhamento psicossocial
e o acesso a políticas públicas, o Auditor-Fiscal do Trabalho deverá, no curso
da ação fiscal, observar a regulamentação vigente.
Artigo 40. Os trabalhadores migrantes não nacionais que estejam em situa-
ção migratória irregular e que tenham sido vítimas de tráfico de pessoas, de
trabalho análogo ao de escravo ou violação de direito agravada por sua con-

33
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

dição migratória deverão ser encaminhados para concessão de autorização


de residência no território nacional, de acordo com o que determinam o art.
30 da Lei n. 13.445, de 24 de maio de 2017, o art. 158 do Decreto n. 9.199, de
20 de novembro de 2017, bem como as demais normas vigentes.
Artigo 44. O Auditor-Fiscal do Trabalho habilitado no sistema de concessão de
seguro-desemprego deverá cadastrar os dados do trabalhador resgatado para
fins de concessão do benefício, conforme instruções da Coordenação-Geral
de Gestão de Benefícios da Subsecretaria de Políticas Públicas de Trabalho e
orientações da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho, ambas vinculadas à
Secretaria de Trabalho do Ministério do Trabalho e Previdência.

A Auditoria Fiscal do Trabalho tem sua atuação preponderante nas fases de


denúncia, planejamento e execução da operação de resgate. Conforme o Fluxo
Nacional de Atendimento às Vítimas de Trabalho Escravo (Portaria n. 3.484,
de 6 de outubro de 2021, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos), durante o resgate, incumbe ao MTP comunicar à COETRAE (e/ou
ao NETP em caso de tráfico de pessoas) e ao órgão gestor da assistência social
acerca do resgate, tão logo ocorra; proceder à qualificação dos trabalhadores
resgatados, inclusive com obtenção de dados para contato, como endereços
e telefones; encaminhar o resgatado para atendimento emergencial de saúde,
quando for o caso; e providenciar o abrigamento emergencial e transporte ao
local de origem do resgatado.

Saiba mais sobre o Fluxo Nacional de Atendimento às


Vítimas do Trabalho Escravo por meio do vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=M7AapzXbkLE

O MTP integra o Grupo Interministerial de Monitoramento e Avaliação do III


Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas 2018-2022, o qual tem
como uma das metas estabelecidas a incorporação da temática do tráfico de
pessoas nas rotinas de fiscalização da Inspeção do Trabalho, tendo como indi-

34
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

cador de progresso as ações realizadas para a extração de dados de tráfico de


pessoas dos relatórios de fiscalização. Anualmente, a atual SIT/MTP consolida
informações sobre trabalhadores que foram resgatados de trabalho análogo
ao de escravo relacionado a tráfico de pessoas.

Os dados oficiais consolidados e detalhados das ações concluídas de combate


ao trabalho escravo desde 1995, assim como o módulo específico Trabalho
Escravo/Tráfico de Pessoas, estão na plataforma Radar do Trabalho Escravo
da SIT https://sit.trabalho.gov.br/radar/, sendo compilados pela Divisão de
Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (DETRAE/CGFIT/SIT) a partir
da análise qualitativa dos relatórios de fiscalização elaborados pelos Auditores
Fiscais do Trabalho desde a vigência da Lei n. 13.344/2016.

SAIBA MAIS:
Acesse também a Portaria n. 3.484, de 6 de outubro de 2021,
que torna público o Fluxo Nacional de Atendimento às Vítimas
de Trabalho Escravo no Brasil: https://www.in.gov.br/en/web/
dou/-/portaria-n-3.484-de-6-de-outubro-de-2021-350935539

Ministério Público

Ao Ministério Público compete “a defesa da ordem jurídica, do regime demo-


crático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” (artigo 127, Consti-
tuição Federal), entendendo estes últimos como aqueles que são de interesse
público e que as pessoas não podem renunciar, como o direito à vida.

O Ministério Público brasileiro não integra os três poderes (Executivo, Legisla-


tivo e Judiciário) e tem independência funcional.

35
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

O Ministério Público brasileiro é composto:


z Pelos Ministérios Públicos dos Estados que estão presentes nos 26 es-
tados do Brasil.
z Pelo Ministério Público da União (MPU), que, por sua vez, possui quatro
ramos:
y Ministério Público Federal (MPF)
y Ministério Público do Trabalho (MPT)
y Ministério Público Militar (MPM)
y Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT)19.

Ministério Público Federal (MPF)

O Ministério Público Federal tem como atribuição promover, privativamente,


a ação penal pública em casos de crimes de competência da Justiça Federal,
bem como o inquérito civil e ação civil pública (artigo 129, I, III, Constituição
Federal).

No que diz respeito a atuação do MPF na área criminal, este recebe a denúncia
ou representação e ingressa na Justiça Federal com denúncia criminal contra
o autor (com base em inquérito policial ou não). O MPF pode ajuizar ações
cautelares como, por exemplo, de busca e apreensão, escutas telefônicas,
quebra de sigilo e sequestro de bens.20

Por ser titular da ação penal pública, o MPF pode acompanhar os trabalhos
das operações de resgate.

Conheça um pouco da atuação do MPF a partir da Operação Resgate!

19 Cf. artigo 128 da Constituição Federal e link: http://www.mpf.mp.br/o-mpf/sobre-o-mpf . Acesso em: 11 jul. 2022.
20 Disponível em: http://www.mpf.mp.br/servicos/sac/acesso-a-informacao/perguntas-frequentes. Acesso em: 11
jul. 2022.

36
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

“Como titular da ação penal pública, o MPF acompanha o trabalho dos órgãos de
autuação com o objetivo de garantir a legalidade da operação e, principalmente,
a produção qualitativa de provas relevantes para a persecução penal do crime de
redução a condição análoga à de escravo, previsto no art. 149 do Código Penal
Brasileiro, e outros delitos associados, como o aliciamento de trabalhadores e o
tráfico internacional de pessoas”
(Procurador regional da República Marcus Vinícius Macedo)

Acesse o artigo Operação Resgate: força-tarefa interinstitucional liberta


140 trabalhadores de condições análogas à escravidão http://www.mpf.
mp.br/pgr/noticias-pgr/operacao-resgate-forca-tarefa-interinstitucional-liber-
ta- 140-trabalhadores-de-condicoes-analogas-a-escravidao

O MPF produziu uma série de três matérias jornalísticas chamada Mercado


Humano: os vestígios do tráfico de pessoas que foram exibidas no Programa
Interesse Público da TV Justiça. O primeiro episódio aborda o tráfico de pessoas
para fim de exploração sexual; o segundo episódio aborda o trabalho escravo;
e o terceiro episódio relaciona o desaparecimento de crianças e adolescentes
ao tráfico de órgãos e à adoção ilegal. Não deixe de conferir!

Série Mercado Humano, matéria 1: Exploração sexual


das vítimas de tráfico de pessoas – IP 859
https://www.youtube.com/watch?v=xmy4KYP5Cvo

Série Mercado Humano, matéria 2: vítimas de tráfico


de pessoas sofrem trabalho escravo – IP 860
https://www.youtube.com/watch?v=cE58kywuDUE&t=11s

Série Mercado Humano, matéria 3: crianças também


podem ser vítimas de tráfico de pessoas – IP 861
https://www.youtube.com/watch?v=3AjIiVqvudo

37
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

SAIBA MAIS:
Para mais informações, acesse:
http://www.mpf.mp.br/o-mpf/sobre-o-mpf

No módulo seguinte, será abordada a questão da atuação do Ministério Público


Federal sob a perspectiva da centralidade da vítima!

Ministério Público do Trabalho (MPT)21

O Ministério Público do Trabalho tem como atribuição fiscalizar o cumpri-


mento da legislação trabalhista quando houver interesse público, buscando
regularizar e mediar as relações entre empregados e empregadores22.

O órgão pode receber denúncias pelo site: https://mpt.mp.br/pgt/servicos/


servico-denuncie

No que diz respeito ao resgate, o MPT participa das operações de resgate e


adota medidas trabalhistas de punição e de reparação às vítimas e à sociedade.

O MPT busca dar proteção aos direitos fundamentais e sociais da vítima de


tráfico de pessoas diante de ilegalidades praticadas no campo trabalhista,
tendo, portanto, uma atuação cível-trabalhista.

Nesse sentido, no que tange à atenção às vítimas (assistência e proteção) e à


repressão e responsabilização adequada dos perpetradores, o MPT busca a
condenação ao pagamento das verbas devidas, as indenizações às vítimas e
à sociedade, o acionamento da rede de proteção e a proibição de novamente
adotar aquelas práticas.

21 Para esta ficha houve a contribuição escrita de um representante do Ministério Público do Trabalho.
22 Disponível em: https://mpt.mp.br/pgt/mpt-nos-estados . Acesso em 12 jul. 2022.

38
Módulo 2
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Assista os seguintes vídeos com Tatiana Leal Bivar Simonetti


(Procuradora do Trabalho e Coordenadora do Grupo
de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do MPT):
Formas de Atuação Repressiva
Produção Antecipada de Prova
Dificuldades Práticas Dicas de Conduta
Caso Prático: Caso dos Vendedores de Laticínios
Caso Prático: Caso das Seitas Religiosas
Formas de Atuação: Preventiva

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Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

Possíveis percursos do inquérito civil público no


Ministério Público do Trabalho sob a perspectiva da
centralidade da vítima

Texto elaborado por Andrea Rocha Carvalho Gondim, Procuradora


do Trabalho, Gerente do Projeto Liberdade no Ar – CONAETE (MPT),
Coordenadora Nacional da CONAP e Mestre em Direito pela USP

A República Federativa do Brasil, constituída em Estado Democrático de Direito,


conforme dispõe a Lei Maior, tem como fundamentos, entre outros, a cidadania,
a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho (artigo 1º, Cons-
tituição Federal).
Nossa ordem econômica é fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, buscando assegurar a todos a existência digna, observado o princípio
da busca do pleno emprego (artigos 170, VIII e 193 da Constituição Federal).
O trabalho digno, portanto, é um dos meios para se alcançar os objetivos fun-
damentais de construir uma sociedade livre, justa e solidária, garantir o desen-
volvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desi-
gualdades sociais e regionais e promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (artigo
3º da Constituição Federal).

O Ministério Público do Trabalho


O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional
do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e
dos interesses sociais e individuais indisponíveis, garantindo que o trabalho seja
realizado observando a dignidade da pessoa humana (artigo 127 da Constituição
Federal).
Com o fim de instrumentalizar o papel do Ministério Público, o texto constitucio-
nal, em seu artigo 129, III, prevê a promoção do inquérito civil (IC) e da ação civil
pública (ACP) para proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente,
nele inserido o meio ambiente do trabalho, e outros interesses difusos e coletivos.

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Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

De acordo com a Lei Complementar n. 75/1993, compete ao MPT promover ACP


no âmbito da Justiça do Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando
desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos, propondo as
ações necessárias à defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores e traba-
lhadoras, menores, incapazes e índios, decorrentes das relações de trabalho.
O desrespeito à ordem jurídica trabalhista, traduz-se em grave lesão não só aos
direitos individuais, mas de toda sociedade. Com efeito, a Constituição da Repú-
blica, ao zelar pelos direitos sociais, em seu artigo 7º, inciso XXII, estabelece que
são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social, a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por
meio de normas de saúde, higiene e segurança, sempre com o fim de preservar
a dignidade da pessoa que exerce atividade laborativa.
Todo o arcabouço jurídico normativo fundamenta a atuação do MPT que defende
a pessoa que trabalha, sempre com foco na proteção dos direitos sociais indis-
poníveis das pessoas.

Tráfico de Pessoas para fins de redução a condição análoga à de escravo


No que diz respeito especificamente à vítima do tráfico de pessoas para fins de
trabalho escravo, o Protocolo de Palermo e a Lei n. 13.344/2016 contemplam
uma série de medidas práticas de caráter material, processual e procedimental
que norteiam a atuação do membro do Ministério Público do Trabalho e possi-
bilitam a universalização do combate ao tráfico de pessoas. Seu combate é meta
prioritária do MPT na defesa dos interesses coletivos e difusos dos trabalhadores
e das trabalhadoras, do regime jurídico e da ordem democrática.
Caso seja noticiado fato que indique a ocorrência de tráfico de pessoas com o
fim de redução a condição análoga à de escravo, é instaurada uma investigação
ou ajuizada, na Justiça do Trabalho, uma ação para tutela dos direitos da vítima
e responsabilização dos culpados .
Há, ainda, a possibilidade de persecução penal por se tratar de conduta tipificada
nos artigos 149 e 149-A do Código Penal, que decorre da adoção pelo sistema

41
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

pátrio da independência de instâncias23. Isso significa que uma conduta pode


ser classificada, ao mesmo tempo, como ilícito penal, civil e administrativo, com
apuração em cada uma das esferas. Todavia, há exceções à vinculação entre as
instâncias, o que significa que o suposto autor não poderá ser condenado na se-
ara trabalhista quando criminalmente houver o reconhecimento da inexistência
de fato ou quando o suposto autor não foi o acusado (negativa de autoria).
Considerando que se trata de uma oferta de trabalho com ocorrência de ex-
ploração no exercício de atividade laboral, a Justiça do Trabalho é competente
para processar e julgar ação objetivando a defesa de toda a sociedade brasileira
por condições justas equitativas de contratação no mercado trabalho livre de
exploração provocada pela fraude no oferta de emprego, e/ou com submissão a
jornadas exaustivas, e/ou a condições degradantes de trabalho, e/ou à restrição
de locomoção ou e/ou retenção de documentos, que caracterizam, em última
análise o tráfico de pessoas para fins de redução do trabalhador em condição
análoga à de escravo, sem prejuízo de ajuizamento da ação penal cabível.
O inquérito civil público possui natureza unilateral e facultativo sendo instaurado
para apurar fato que pode autorizar a tutela de interesses ou direitos a cargo
tuteladas pelo Ministério Público nos termos da legislação, servindo como pre-
paração para o exercício de atribuições inerentes a suas funções institucionais,
a exemplo da assinatura de um termo de ajustamento de conduta.
Caso os fatos narrados, as vítimas, o local e as provas sejam suficientes, o Minis-
tério Público do Trabalho pode atuar prontamente em conjunto com o Grupo
Especial de Fiscalização Móvel (GEFM) da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho
(SIT), com o fim de resguardar os direitos das vítimas e retirá-la do cenário de
exploração, acionando a rede de parceiros, sempre com o objetivo maior de
proteger a vítima.
É importante, nesses casos, uma escuta qualificada da vítima, pois esta pode até
reconhecer o cenário de endividamento, a vigilância ostensiva, a dificuldade de
acesso ao local de trabalho, e consequentemente de fuga, os altos preços pratica-
dos na “venda de barracão” do empregador e o não pagamento de salários, mas

23 Neste sentido: “[...] as esferas criminal e administrativa são independentes, estando a Administração vincula-
da apenas à decisão do juízo criminal que negar a existência do fato ou a autoria do crime [...]”. In: RMS 32.641/
DF, Rel. p/ Acórdão Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 08/11/2011, DJe 11/11/2011.

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Módulo 2
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não se enxergar como vítima de um crime, acreditando que possui uma dívida
de honra com seu aliciador.
No tráfico de pessoas para fins de redução à condição análoga à de escravo em
casas de prostituição, a pessoa pode concordar com o fato de que iria se prosti-
tuir (profissão prevista na Classificação Brasileira de Ocupação), mas é enganada
quanto às condições a que iria ser submetida, às dívidas e ao cerceamento de
liberdade, com a coação que lhe retira a liberdade, perdendo o controle sobre o
próprio corpo, e, consequentemente, sua liberdade, inclusive para decidir com
quantos parceiros se relacionará em um único dia.
A criatividade dos envolvidos surpreende. A forma de aliciamento se renova,
com situações que ocorrem pela rede mundial de computadores, recrutando
youtubers e instagramers com muitos seguidores para uma teia de exploração24.
Há, ainda, relatos relacionados com migrantes que buscam melhores condições
de vida e de trabalho em outros países e, após o ingresso no destino de forma
irregular, acabam sendo vítimas de quadrilhas que as exploram em regime de
trabalho forçado, com trabalho primoroso da OIM nesta seara.
A escuta das vítimas precisa ser cuidadosa , atenta e humanizada, evitando a
repetição dos depoimentos, tendo consciência de que estas pessoas já sofreram
demasiadamente com toda a situação de exploração25.
O ideal é acolher as vítimas e as testemunhas em local reservado para que pos-
sam ser ouvidas com segurança e tranquilidade, afastando julgamentos morais,
e oferecendo alternativa de acolhimento, considerando que se trata de pessoas
vítimas de um crime e que isso deve ser considerando pelas autoridades com
encaminhamento à assistência social.
Considerando que os crimes são realizados de forma sub reptícia, vivenciamos
um contexto de subnotificação de casos de tráfico de pessoas para fins de traba-
lho escravo no país (interno e internacional), e de situações em que são erronea-

24 GOLFIERI, Daniela. G1. Operação Harem: quadrilha investigada por tráfico de mulheres escolhia vítimas por
fotos nas redes sociais. 27/04/202 Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2021/04/27/
operacao-harem-quadrilha-investigada-por-trafico-de-mulheres-escolhia-vitimas-por-fotos-nas-redes-sociais.
ghtml. Acesso: junho, 2022.
25 Sobre a escuta qualificada, a Asbrad realiza trabalho pioneiro. Guia para atendimento humanizado. Dispo-
nível em https://www.asbrad.org.br/.

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Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

mente classificados como outros crimes, sendo fundamental a atuação do MPT


na seara laboral, garantindo o pagamento das verbas rescisórias, com indeniza-
ção por dano moral coletivo, emissão do requerimento do benefício seguro-de-
semprego de trabalhador resgatado e com a exigência do custeio da viagem de
retorno aos locais de origem pelo empregador, além do encaminhamento aos
órgãos de assistência social, para atendimento prioritário. Como explicou a Dra.
Graziella Rocha: “Problemas complexos exigem respostas complexas. O crime
organizado só é possível de ser combatido por meio da cooperação e articulação
interinstitucional”26.

Trabalho infantil e Tráfico de Pessoas para fins de redução a condição


análoga à de escravo
Os percursos do inquérito civil público no âmbito do MPT sob a perspectiva da
centralidade da vítima é a tônica, sobretudo, nas coordenações temáticas do
MPT em que as vítimas apresentam maior vulnerabilidade. Este são os casos das
vítimas do tráfico de pessoas para fins de trabalho escravo e de vítimas crianças
e adolescentes, sujeitos de direitos que devem ser respeitados, sobretudo pela
condição própria de pessoas em desenvolvimento, com prioridade absoluta con-
soante disposição constitucional pelo princípio da proteção integral (artigo 227,
da Constituição Federal e ECA).
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O trabalho infantil priva as crianças de sua infância, seu potencial e sua dignidade,
sendo prejudicial ao desenvolvimento físico e mental, interferindo na escolariza-
ção ou exigindo que se combine frequência escolar com trabalho excessivamente
longo e pesado (Convenção n. 182 da OIT).

26 Disponível em https://www.asbrad.org.br/

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Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

Não é diferente quando crianças e adolescentes são traficados para fins de sub-
missão ao trabalho escravo, com prejuízos gravíssimos das mais diversas ordens,
representando uma grave violação dos direitos humanos e dos direitos e princí-
pios fundamentais no trabalho, uma das principais antíteses do trabalho decente.
O conjunto de direitos próprios à infância, diferentemente dos direitos funda-
mentais reconhecidos aos demais cidadãos, concretiza pretensões relacionadas
a comportamento negativo (abster-se da violação daqueles direitos) e positivo
através dos adultos encarregados de assegurar esta proteção27.
A criança tem o direito de ser educada sem o uso de castigo físico ou de tratamen-
to cruel ou degradante, como forma de disciplina, pelos pais, pelos integrantes
da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de
medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de seu cuidado
(artigo 18-A da Lei n. 8.069/90, Estatuto da Criança do de Adolescente - ECA).
O uso de ameaças como forma de dominação para realização de trabalho para
o qual a criança não poderia sequer se voluntariar é o que mais evidencia a anu-
lação de sua individualidade, sobretudo no caso dos jovens que são obrigados
a trabalhar sob constante ameaça, ao mesmo tempo em que veem sonegado o
direito à educação28.
No combate ao trabalho infantil, o membro do MPT deve se guiar por princípios
e normas da Constituição Federal; da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT);
do ECA; e das Convenções Internacionais ratificadas pelo Brasil (Convenção n.
138 e 182 da Organização Internacional do Trabalho).
As notícias de fato (denúncias) devem ter prioridade absoluta, impondo a
ação articulada e integrada com os órgãos que compõem a rede de proteção de
crianças e adolescentes, no âmbito de cada Estado da Federação, para avaliar se o
trabalho realizado ocorre em condições análogas à de escravo, se é proibido, se é
considerado educativo (artigo 68 do ECA), se caracteriza o estágio de estudantes,
nos termos da Lei n. 11.788/08, ou aprendizagem (artigo 428 e seguintes, CLT).

27 CURY, Munir (coord.). Estatuto da criança e do adolescente comentado: comentários jurídicos e sociais.
9ª ed., atual. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 36.
28 Dica: o documentário Rezar e obedecer, retrata como a dominação realizada por seitas religiosas mascaram
o tráfico de crianças para fins de exploração do trabalho em condição análoga à de escravo e exploração sexual.

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Módulo 2
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Se não preencher os requisitos legais, haverá o imediato afastamento das crian-


ças e/ou adolescentes do trabalho com o pagamento das verbas trabalhistas
decorrentes do tempo de serviço laborado, com ciência ao Conselho de Direito
da Criança e do Adolescente. A atuação, nestes casos, impõe cautela redobrada
em respeito à peculiar condição de pessoa em desenvolvimento.
Importante citar o esforço para mapear o trabalho infantil e o trabalho escravo
ao longo de rodovias federais29, indicando os principais pontos que merecem
atenção redobrada. Todavia, alertamos que os dados são apenas indicativos do
problema, em razão do alto índice de subnotificação.

SAIBA MAIS:
Confira também os dados do tráfico de pessoas e do trabalho
escravo no Brasil organizados pelo Observatório da Erradicação
do Trabalho Escravo e do Tráfico de Pessoas, em parceria do
MPT, com a OIT e a Secretaria de Inspeção do Trabalho, dentre
outros parceiros: https://smartlabbr.org/trabalhoescravo

Para ilustrar o trabalho de crianças exploradas para fins de trabalho escravo,


importante trazer o registro do caso da Madalena, explorada em regime análogo
à de escravo desde os oito anos, quando bateu numa porta para pedir comida30.
O mais recente resgate do ano de 2022 envolveu uma mulher resgatada aos
oitenta e quatro anos de idade e que laborava desde os doze anos no trabalho

29 Mapeamento do Tráfico de Pessoas no Brasil foi Resultado de projeto executado em parceria entre a Polícia
Rodoviária Federal (PRF), o Grupo de Trabalho de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do MPT, a Childhood
Brasil- Programa na Mão Certa e a Associação Brasileira de Defesa da Mulher da Infância e da Juventude (As-
brad). Consulte o estudo na página da Associação Brasileira de Defesa da Mulher, da Infância e da Juventude
também designada pela sigla ASBRAD Disponível em: https://www.asbrad.org.br/trafico-de-pessoas/projeto-
-mapear-etp/. Acesso: Junho, 2022.
30 GORTÁZAR, Naiara: Caso de Madalena, escrava desde os oito anos, expõe legado vivo da escravidão no
Brasil. Disponível em: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-01-14/madalena-escrava-desde-os-oito-a-
nos-expoe-caso-extremo-de-racismo-no-brasil-do-seculo-xxi.html. Acesso: junho, 2022.

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Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

doméstico, sem ter acesso aos direitos trabalhistas e sem ir à escola. A vítima foi
resgatada em maio, após passar 72 anos nessa situação, sem salários e férias31.
Há relatos em que os pais vendem seus filhos para que a criança seja explorada
no trabalho doméstico, clássico caso de exploração e que aponta a necessidade
de atuação articulada entre os Ministérios Públicos, em razão da independência
de instância trabalhista e criminal e da inviolabilidade do domicílio.
Em caso notabilizado na mídia, a vítima foi resgatada após quarenta anos de ex-
ploração, revelando persistência das desigualdades para domésticas, que ainda
recebem parcelas limitadas do seguro-desemprego e convivem com a ausência
de abono do PIS, evidenciando que as discriminações na legislação que precisam
ser superadas32.
Em relação ao trabalho escravo doméstico, é necessário pontuar que há a invio-
labilidade de domicílio, sendo necessário o ajuizamento, em caráter antecedente,
de ação judicial para fiscalização no domicílio, acompanhada de pedido de ante-
cipação de prova (artigo 5º, inciso XI, Constituição Federal).
O cenário trazido acima é uma pequena amostra da realidade cruel vivenciada
por milhares de crianças e retratados na literatura33 e na dramaturgia34. Precisa-
mos unir esforços de todas as instituições para erradicar de uma vez por toda
o trabalho infantil em nosso território, sobretudo quando se fala de exploração
em condição análoga à de escravo.

31 SAKAMOTO, Leonardo e outro: Trabalhadora negra de 84 anos foi doméstica para três gerações de uma
família sem receber salário; essa é a mais longa exploração de escravidão contemporânea registrada no Brasil
desde criação do sistema de fiscalização. Disponível em: https://reporterbrasil.org.br/2022/05/mulher-e-res-
gatada-apos-72-anos-de-trabalho-escravo-domestico-no-rio/. Acesso: junho, 2022.
32 G1:Doméstica resgatada após passar mais de 4 décadas em condições análogas à escravidão foi vendida pelo
próprio pai quando tinha 11 anos. Disponível em: https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2022/07/01/
domestica-resgatada-apos-passar-mais-de-4-decadas-em-condicoes-analogas-a-escravidao-foi-vendida-pelo-
-proprio-pai-quando-tinha-11-anos.ghtml. Acesso: junho, 2022.
33 SOUZA, Luíza: ‘Casa Abandonada’: dona é acusada de trabalho análogo à escravidão. Disponível em: https://
www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2022/07/07/o-que-e-trabalho-analogo-a-escravidao-e-por-que-ne-
gras-sao-maiores-vitimas.htm. Acesso: junho, 2022.
34 Segue dica de filmes e documentários envolvendo a temática trabalho infantil e tráfico de pessoas para fins
de submissão ao trabalho análogo à de escravo: Orange e Sunshines e a Informante.

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Módulo 2
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Considerações finais
No ano de 2022, só até o mês de maio, foram 500 trabalhadores são resgatados
de regime análogo à escravidão. Em um único resgate que ocorreu em lavoura de
cana-de-açúcar, 285 trabalhadores foram libertados35. Muitos anos se passaram
desde a abolição da escravidão, mas as notícias revelam que pouco se avançou.
A abolição não foi acompanhada por uma alteração social que fosse capaz de
extinguir tal chaga de nossa história, razão pela qual o MPT e demais parceiros
devem atuar de forma articulada para robustecer o combate a tais práticas, tão
arcaicas e tão presentes em nosso cotidiano.
Por isso, além da ação repressiva, o MPT atua no eixo da prevenção com o Projeto
Liberdade no Ar para disseminar conteúdo sobre o tema, evitando que pessoas
aceitem propostas encantadoras de emprego e busquem informação antes de
embarcar atrás de um emprego que apresenta a possibilidade de viagem36. No
entanto, sabemos que a mais importante ação no campo da prevenção só ocor-
rerá quando o Brasil efetivamente realizar reformas estruturais que reduzam
a pobreza, a desigualdade social e o subdesenvolvimento, e isso só se constrói
garantindo o direito ao trabalho decente.
Devemos ter em mente, como se fosse um mantra, que sem trabalho não há
vida digna. Assim, a maior contribuição dos operadores do ramo juslaboral para
alterar esta realidade é reconhecer a vítima do trabalho escravo e do tráfico de
pessoas como vítima de uma grave violação de direitos humanos, devendo atu-
ar incessantemente para garantir um patamar civilizatório mínimo de direitos
no trabalho, o que efetivamente rompe com o ciclo da exploração, promove a
inclusão e resgata a cidadania.
Em suma, é necessário voltar o olhar para a vítima e para os fatores que fazem
com que as pessoas se desloquem em busca de melhores condições de vida
e de trabalho, pois só com a cooperação interinstitucional e com o esforço do
Estado para a superação das desigualdades sociais, do subdesenvolvimento e
da pobreza, poderemos efetivamente superar o tráfico de pessoas para fins de
trabalho escravo.

35 Disponível em: https://www.cut.org.br/noticias/500-trabalhadores-sao-resgatados-de-regime-analogo-a-es-


cravidao-em-2022-7a2b. Acesso em junho.2022.
36 GONDIM, Andrea. Tráfico de Pessoas – Uma Visão Plural do Tema. Disponível em: https://mpt.mp.br/pgt/
publicacoes?td=livros. Acesso em: junho.2022. p. 765.

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Módulo 2
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SAIBA MAIS:
Para mais informações: www.mpt.mp.br e
https://mpt.mp.br/pgt/areas-de-atuacao/conaete
Contato por e-mail: pgt.conaete@mpt.mp.br
Para conhecer um pouco mais sobre atuação do MPT nas operações
de resgate, acesse o artigo Operação Resgate: força-tarefa
interinstitucional liberta 140 trabalhadores de condições
análogas à escravidão http://www.mpf.mp.br/pgr/noticias-
pgr/operacao-resgate-forca-tarefa-interinstitucional-liberta-
140-trabalhadores-de-condicoes-analogas-a-escravidao e MPT-RJ
colhe depoimentos de trabalhadores resgatados em situação
análoga à escravidão em Duque de Caxias (RJ) https://mpt.
mp.br/pgt/noticias/mpt-rj-colhe-depoimentos-de- trabalhadores-
resgatados-em-situacao-analoga-a-escravidao-em-duque-de-caxias-rj
Consulte a publicação Tráfico de pessoas: uma visão plural do
tema (MPT, 2021) disponível na biblioteca virtual do curso!

Para se aprofundar na atuação do MPT frente ao tráfico de


pessoas, fica como sugestão o Webinar “O papel do MPT no
enfrentamento ao tráfico de pessoas: técnicas de atuação”,
transmitido ao vivo no dia 6 de novembro de 2020. O evento foi
promovido pela Escola Superior do Ministério Público da União
(ESMPU) e contou com a participação das(os) procuradoras(es) do
Trabalho: Tatiana Leal Bivar Simonetti, Augusto Grieco Sant’anna
Meirinho, Alzira Melo Costa, Marina Rocha Pimenta, Alline Pedrosa
Oishi, Cristiane Maria Sbalqueiro e Ulisses Dias de Carvalho, com
mediação da procuradora do Trabalho Lys Sobral Cardoso.

https://www.youtube.com/watch?v=orGvfySigSo

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Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

Ministério Público Estadual

O Ministério Público Estadual tem como atribuição promover, privativa-


mente, a ação penal pública em casos de crimes de competência da Justiça
Estadual, bem como o inquérito civil e ação civil pública (artigo 129, I, III,
Constituição Federal).

Polícia Federal37 (PF)

A Polícia Federal, organizada e mantida pela União, é um dos órgãos responsá-


veis pela segurança pública, “exercida para a preservação da ordem pública e
da incolumidade das pessoas e do patrimônio” (artigo 144, § 1.º, Constituição
Federal).

Decreto n. 11.103, de 24 de junho de 2022 http://www.planalto.gov.br/cci-


vil_03/_ato2019-2022/2022/decreto/D11103.htm

ANEXO I
Artigo 39. À Polícia Federal cabe exercer as competências estabelecidas no §
1.º do art. 144 da Constituição, e, especificamente:
I -– apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento
de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e
empresas públicas, além de outras infrações cuja prática tenha repercussão
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, conforme previsto
em lei;
II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas e o contra-
bando e o descaminho de bens e de valores, sem prejuízo da ação fazendária
e de outros órgãos públicos nas suas áreas de competência;
III – exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
IV – exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União;
[...]

37 Para esta ficha houve a contribuição escrita de um representante da Polícia Federal.

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Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

Suas atribuições no enfrentamento ao tráfico de pessoas se concentram na


repressão, interrupção e denúncia do crime.

Por meio do inquérito policial, procedimento anterior ao processo penal, bus-


ca-se verificar a autoria e as circunstâncias do fato que parece ser crime. Em
âmbito federal, o inquérito policial é conduzido pela polícia judiciária, sendo
desempenhado pela Polícia Federal38.

É importante ressaltar que “qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento


da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente
ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedên-
cia das informações, mandará instaurar inquérito” (artigo 5º, § 3º, Código de
Processo Penal).

O resultado do inquérito policial é apresentado ao Ministério Público, que


a partir dele faz a proposição de ação penal (denúncia criminal)39. Ou seja,
o inquérito policial reúne elementos que subsidiarão a proposição da ação
penal por parte do seu titular.

Código de Processo Penal


Artigo 13. Incumbirá ainda à autoridade policial:
I – fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução
e julgamento dos processos;
II – realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;
III – cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias; e
IV – representar acerca da prisão preventiva.
Artigo 13A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3.º do art. 158
e no art. 159 do Decreto – Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Pe-
nal), e no art. 239 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança

38 Centro Internacional para o Desenvolvimento de Políticas Migratórias (ICMPD, International Centre for Migration
Policy Development). Guia Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas: aplicação no direito (2020). p. 77-78.
39 Disponível em: http://www.transparencia.mpf.mp.br/conteudo/atividade-fim/inqueritos-policiais . Acesso em 17
jul. 2022.

51
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

e do Adolescente), o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia


poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da
iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos.
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro)
horas, conterá:
I – o nome da autoridade requisitante;
II – o número do inquérito policial; e
III – a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investi-
gação.
Artigo 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados
ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia
poderão requisitar, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras
de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediata-
mente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que
permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso.
§ 1.º Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação de
cobertura, setorização e intensidade de radiofrequência.
§ 2.º Na hipótese de que trata o caput, o sinal:
I – não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer natureza,
que dependerá de autorização judicial, conforme disposto em lei;
II – deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por período
não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por igual período;
III – para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será necessária a
apresentação de ordem judicial.
§ 3.º Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá ser instau-
rado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado do registro da
respectiva ocorrência policial.
§ 4.º Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a auto-
ridade competente requisitará às empresas prestadoras de serviço de tele-
comunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios
técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a
localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com imediata co-
municação ao juiz.

52
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

SAIBA MAIS:
Para saber mais sobre o inquérito policial, confira o Livro I (do processo
em geral), Título II (do inquérito policial) do Código de Processo Penal:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm
Para saber mais sobre a Polícia Federal,
acesse: https://www.gov.br/pf/pt-br
A Polícia Federal divulga o endereço e contato de cada unidade
de atendimento em seu site oficial: https://www.gov.br/pf/
pt-br/acesso-a-informacao/institucional/quem-e-quem

Denúncias de tráfico de pessoas, com garantia de sigilo, podem ser realizadas


por meio do Serviço de Repressão ao Tráfico de Pessoas da Polícia Federal no
e-mail: srtp.cgdihc.dicor@pf.gov.br

Assista o vídeo Agente Policial: Olhar Humanizado


com Anália Ribeiro (ABR Consultoria)

No módulo seguinte serão abordados os possíveis percursos da investigação


criminal sob a perspectiva da centralidade da vítima!

Polícia Rodoviária Federal (PRF)

A Polícia Rodoviária Federal, organizada e mantida pela União, é um dos órgãos


responsáveis pela segurança pública, “exercida para a preservação da ordem

53
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”, realizando o patrulha-


mento ostensivo das rodovias federais (artigo 144, § 2.º, Constituição Federal).

Decreto n. 11.103, de 24 de junho de 2022 http://www.planalto.gov.br/cci-


vil_03/_ato2019-2022/2022/decreto/D11103.htm

ANEXO I
Artigo 49. À Polícia Rodoviária Federal cabe exercer as competências estabe-
lecidas no § 2.º do art. 144 da Constituição, no art. 20 da Lei n. 9.503, de 23 de
setembro de 1997 -– Código de Trânsito Brasileiro, no Decreto n. 1.655, de 3
de outubro de 1995, e, especificamente:
I – planejar, coordenar e executar o policiamento, a prevenção e a repressão
de crimes nas rodovias e estradas federais e nas áreas de interesse da União;
II – exercer os poderes de autoridade de trânsito nas rodovias e nas estradas
federais;
III – executar o policiamento, a fiscalização e a inspeção do trânsito e do trans-
porte de pessoas, cargas e bens;
[...]
VII – manter articulação com os órgãos de trânsito, transporte, segurança públi-
ca, inteligência e defesa civil, para promover o intercâmbio de informações[...]

Suas atribuições no enfrentamento ao tráfico de pessoas se concentram na


repressão, interrupção e denúncia do crime. A ela cabe planejar, coordenar
e executar o policiamento, a prevenção e a repressão do crime de tráfico de
pessoas nas rodovias e estradas federais e nas áreas de interesse da União.

O Decreto n. 1.655, de 3 de outubro de 1995, http://www.planalto.gov.br/cci-


vil_03/decreto/d1655.htm#:~:text=D1655&text=DECRETO%20N%C2%BA%20
1.655%2C%20DE%203,que%20lhe%20confere%20o%20art. define a
competência da Polícia Rodoviária Federal e estabelece,entre as suas atribui-
ções, “colaborar e atuar na prevenção e repressão aos crimes contra a vida,
os costumes, o patrimônio, a ecologia, o meio ambiente, os furtos e roubos
de veículos e bens, o tráfico de entorpecentes e drogas afins, o contrabando,
o descaminho e os demais crimes previstos em leis” (artigo 1.º, X)”.

54
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

SAIBA MAIS:
Conheça o Projeto MAPEAR, iniciativa desenvolvida em todo
o país pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), com apoio do
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, do
Ministério Público do Trabalho e da Childhood Brasil.
O projeto realiza um levantamento dos pontos vulneráveis à
exploração sexual de crianças e adolescentes às margens das
rodovias federais e elabora relatórios bienais sobre tais ocorrências:
https://www.gov.br/prf/pt-br/noticias_anteriores/estaduais/
paraiba/maio-2022/mapear-prf-combate-ao-abuso-e-exploracao-
sexual-de-criancas-e-adolescentes-nas-rodovias-federais-1
Acesse o relatório Mapear 2019/2020 na biblioteca digital!

Polícia Civil

A Polícia Civil é um dos órgãos responsáveis pela segurança pública, “exer-


cida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e
do patrimônio”, é dirigida por delegados de polícia de carreira, e são de sua
competência, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judi-
ciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares (artigo 144, § 4.º,
Constituição Federal).

Suas atribuições no enfrentamento ao tráfico de pessoas se concentram na


repressão, interrupção e denúncia do crime.

Por meio do inquérito policial, procedimento anterior ao processo penal, bus-


ca-se verificar a autoria e as circunstância do fato que parece ser crime. Em

55
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

âmbito estadual, o inquérito policial é conduzido pela polícia judiciária, sendo


desempenhado pela Polícia Civil40.

É importante ressaltar que “qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento


da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente
ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedên-
cia das informações, mandará instaurar inquérito” (artigo 5.º, § 3.º, Código de
Processo Penal).

O resultado do inquérito policial é apresentado ao Ministério Público Es-


tadual, que a partir dele faz a proposição de ação penal (denúncia crimi-
nal)41. Ou seja, o inquérito policial reúne elementos que subsidiarão a propo-
sição da ação penal por parte do seu titular.

SAIBA MAIS:
Para saber mais sobre o inquérito policial, confira o Livro I (do processo
em geral), Título II (do inquérito policial) do Código de Processo Penal:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm

Código de Processo Penal


Artigo 13. Incumbirá ainda à autoridade policial:
I – fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução
e julgamento dos processos;
II – realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;
III – cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias; e
IV – representar acerca da prisão preventiva.

40 Centro Internacional para o Desenvolvimento de Políticas Migratórias (ICMPD, International Centre for Migration
Policy Development). Guia Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas: aplicação no direito (2020). p. 77-78.
41 Disponível em: http://www.transparencia.mpf.mp.br/conteudo/atividade-fim/inqueritos-policiais . Acesso em 17
jul. 2022.

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Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

Artigo 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3.º do art.
158 e no art. 159 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), e no art. 239 da Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança
e do Adolescente), o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia
poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da
iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos.
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro)
horas, conterá:
I -– o nome da autoridade requisitante;
II – o número do inquérito policial; e
III – a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investi-
gação.
Artigo 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados
ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia
poderão requisitar, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras
de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediata-
mente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que
permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso.
§ 1.º Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação de
cobertura, setorização e intensidade de radiofrequência.
§ 2.º Na hipótese de que trata o caput, o sinal:
I – não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer natureza,
que dependerá de autorização judicial, conforme disposto em lei;
II – deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por período
não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por igual período;
III – para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será necessária a
apresentação de ordem judicial.
§ 3.º Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá ser instau-
rado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado do registro da
respectiva ocorrência policial.
§ 4.º Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a auto-
ridade competente requisitará às empresas prestadoras de serviço de tele-
comunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios
técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a
localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com imediata co-
municação ao juiz.

57
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

Polícia Militar

A Polícia Militar é um dos órgãos responsáveis pela segurança pública, “exer-


cida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas
e do patrimônio”, é força auxiliar e reserva do Exército e subordina-se aos
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. Cabe a ela
a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública (artigo 144, § 5.º e § 6.º,
Constituição Federal).

No seu trabalho cotidiano, a Polícia Militar pode identificar possíveis casos


de tráfico de pessoas e encaminhar as informações à Polícia Federal ou ao
Ministério Público, por exemplo.

Guardas Municipais

As guardas municipais podem ser constituídas por municípios para proteger


seus bens, serviços e instalações (artigo 144, § 4.º, Constituição Federal).

São instituições de caráter civil com a função de proteção municipal preven-


tiva, ressalvadas as competências da União, dos Estados e do Distrito Federal
(artigo 2.º, Estatuto Geral das Guardas Municipais).

A atuação das guardas municipais deve ser pautada na proteção dos direitos
humanos fundamentais e na preservação da vida (artigo 3º, Estatuto Geral das
Guardas Municipais) e entre as suas competências está o encaminhamento
“ao delegado de polícia, diante de flagrante delito, o autor da infração, preser-
vando o local do crime, quando possível e sempre que necessário” (artigo 5.º,
XIV, Estatuto Geral das Guardas Municipais).

No seu trabalho cotidiano, as guardas municipais podem identificar possíveis


casos de tráfico de pessoas e encaminhar as informações à Polícia Federal ou
ao Ministério Público, por exemplo.

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Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

SAIBA MAIS:
Para saber mais sobre as guardas municipais, conheça o Estatuto Geral
das Guardas Municipais (Lei n. 13.022, de 8 de agosto de 2014):
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13022.htm

Sistema Único de Assistência Social (SUAS)42

A Assistência Social será prestada a quem dela necessitar, independentemente


de contribuição à seguridade social (artigo 203, Constituição Federal). Ela está
organizada por meio do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), presente
em todo o Brasil, e tem como finalidade garantir a proteção social por meio
de serviços, benefícios, programas e projetos.

O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à


Fome é responsável pela gestão federal do Sistema Único de Assistência Social.

Suas atribuições no enfrentamento ao tráfico de pessoas se concentram na


atuação em âmbito pós-resgate, no atendimento das vítimas e de suas famí-
lias, e na prevenção ao trabalho escravo e ao tráfico de pessoas. Entre as suas
atribuições estão, por exemplo, a identificação das necessidades das pessoas
resgatadas, o encaminhamento para acolhimento institucional, se necessário, o
encaminhamento para o recebimento de benefícios e para políticas e serviços
de assistência social e a realização de atendimento às famílias.

A rede do SUAS pode realizar denúncias ao tomar conhecimento de situação


que envolva o tráfico de pessoas.

42 Para esta ficha houve a contribuição escrita de um representante do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

59
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

SAIBA MAIS:
Para saber mais sobre o SUAS, acesse:
https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e-programas/assistencia-social
Acesse a publicação O Sistema Único de Assistência social
no combate ao trabalho escravo e ao tráfico de pessoas
(Ministério da Cidadania, 2020) na biblioteca do curso!

Sistema Único de Saúde (SUS)

A saúde é direito universal de todas as pessoas e dever do Estado brasileiro


(artigo 196, Constituição Federal).

O Sistema Único de Saúde (SUS) é o sistema de saúde pública brasileiro, abran-


gendo a atenção primária, média e alta complexidades, os serviços urgência
e emergência, a atenção hospitalar, as ações e serviços das vigilâncias epide-
miológica, sanitária e ambiental e assistência farmacêutica43.

Suas atribuições no enfrentamento ao tráfico de pessoas se concentram na


atuação em âmbito pós-resgate, no atendimento das vítimas por meio da atu-
ação de profissionais de saúde de secretarias estaduais e municipais de saú-
de. Há, ainda, a atuação preventiva, por meio da atenção básica, na atenção
especializada à saúde das pessoas resgatadas e no seu acompanhamento
psicossocial44.

43 Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/sus-estrutura-principios-e-como-fun-


ciona . Acesso em: 17 jul. 2022.
44 Brasil. Ministério da Saúde. Saúde, migração, tráfico e violência contra mulheres: o que o SUS precisa fazer: caderno
pedagógico / Ministério da Saúde, Universidade de Brasília. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013. p. 8.

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Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

SAIBA MAIS:
Para saber mais sobre o SUS, acesse: https://www.gov.br/saude/pt-br/
assuntos/saude-de-a-a-z/s/sus-estrutura-principios-e-como-funciona
Consulte a publicação Enfrentamento ao tráfico de
pessoas para profissionais de saúde (Ministério da Saúde,
2022) disponível na biblioteca virtual do curso!

Programas de Proteção à vítima

A Coordenação Geral de Proteção às Testemunhas e Defensores de Direi-


tos Humanos (CGPTDDH45, vinculada à Secretaria Nacional de Proteção Global
(SNPG/MDHC), é executora do Programa Federal de Assistência a Vítimas e
a Testemunhas Ameaçadas e atua no atendimento e acompanhamento de
casos de vítimas ou testemunhas que estejam coagidas ou expostas a grave
ameaça em razão de contribuírem com a investigação ou processo criminal,
nos termos da Lei Federal n. 9.807/99 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/l9807.htm), do Decreto n. 3.518/00 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/d3518.htm), e do Manual Geral de Procedimentos do Sistema Na-
cional de Proteção a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas, publicado pela
Portaria n. 1.772 de 16 de agosto de 2011, da Secretaria de Direitos Humanos
da Presidência da República.

Coordenação Geral de Proteção à Testemunha e aos Defensores de Direitos


Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (CGPTDDH),
Departamento de Proteção e Defesa dos Direitos Humanos (DEPDDH)
Secretaria Nacional de Proteção Global (SNPG)
Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania

45 Para esta ficha houve a contribuição escrita de um representante da Coordenação Geral de Proteção às Testemu-
nhas e Defensores de Direitos Humanos (CGPTDDH).

61
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

(+55 (61) 2027-3152


Caixa Postal: 10831 – CEP: 70.306-970
Contatos:
E-mail: testemunha@mdh.gov.br
Telefone: +55 (61) 2027-3152

O Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte


(PPCAAM)46 tem como objetivo preservar a vida das crianças e dos adolescentes
ameaçados de morte, quando esgotados os meios convencionais, por meio
da prevenção ou da repressão da ameaça, priorizando a proteção integral e a
convivência familiar. O PPCAMM é executado em diferentes estados por meio
do convênio entre a Presidência da República, governos estaduais e organiza-
ções não governamentais.

A identificação da ameaça e a inclusão no PPCAAM é realizada por meio da


autoridade judicial competente, dos conselhos tutelares, do Ministério Públi-
co e da Defensoria Pública. A proteção deverá durar um ano, prorrogável por
tempo indeterminado.

46 Todas as informações sobre o PPCAMM foram retiradas do link: https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/


programas-de-protecao/ppcaam-1/ppcaam#:~:text=O%20tem%20por%20objetivo%20preservar,Estaduais%20e%20
Organiza%C3%A7%C3%B5es%20N%C3%A3o%20Governamentais.

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Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

SAIBA MAIS:
Para saber mais sobre o PPCAAM, acesse:
https://www.gov.br/mdh/ptbr/navegue-por-temas/
programas-de-protecao/ppcaam-1/ppcaam#:~:text=O%20
tem%20por%20objetivo%20preservar,Estaduais%20e%20
Organiza%C3%A7%C3%B5es%20N%C3%A3o%20Governamentais.
O Decreto n 9.579, de 22 de novembro de 2018, nos seus artigos
109 a 125, trata do PPCAAM. Acesse:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/decreto/D9579.htm

Divisão de Assistência Consular – Ministério das Relações Exteriores

Dentre os princípios e diretrizes que regem as políticas públicas para as pes-


soas brasileiras no exterior estão a proteção e a prestação de assistência con-
sular por meio das representações do Brasil no exterior (artigo 77, I, Lei de
Migração, Lei n. 13.445, de 24 de maio de 2017, http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato20152018/2017/lei/l13445.htm )

O Consulado deve prestar assistência e proteção às pessoas de nacionalidade


brasileira domiciliadas, residentes ou em trânsito nos territórios sob a sua juris-
dição. A assistência compreende as vítimas brasileiras de tráfico de pessoas47.

Caso a vítima brasileira de tráfico de pessoas se encontre no exterior, a orienta-


ção é que busque a Assistência Consular do Ministério das Relações Exteriores
do país onde se encontra.

47 Disponível em: https://www.gov.br/mre/pt-br/consulado-bruxelas/assistencia-consular/trabalho-irregular-trafi-


co-de-pessoas. Acesso em: 17 jul. 2022.

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Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

SAIBA MAIS:
Para saber mais sobre as representações brasileiras no
exterior, acesse: https://www.gov.br/mre/pt-br/assuntos/
representacoes/representacoes-brasileiras-no-exterior

Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)48

O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), com a sanção


da Lei n. 8.906, de 4 de julho de 1994, tornou-se a principal entidade da socie-
dade civil brasileira a zelar pela Constituição Federal e pelo desenvolvimento
democrático do país.

O CFOAB tem por finalidade defender os direitos humanos, a justiça social,


e pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e
pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas, além de promo-
ver, com exclusividade, a representação, a defesa, a seleção e a disciplina dos
advogados em todo o país.

O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, por meio de sua Co-
missão Nacional de Direitos Humanos, é competente para acompanhar os
casos de tráfico de pessoas eventualmente denunciados a essa instituição, bem
como por acionar os órgãos de justiça competentes para investigar, processar
e julgar, com base na Resolução n. 27/2022.

Se acionado por meio de denúncia, poderá atuar no acompanhamento da


investigação e demais atos decorrentes a fim de verificar o respeito e atendi-
mento das normas de direitos humanos.

48 Para esta ficha houve a contribuição escrita de um representante do Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil (CFOAB)

64
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

No que diz respeito à atuação na atenção às vítimas, esta se dá apenas por


meio de acompanhamento, se for o caso, junto aos órgãos e equipamentos
públicos de assistência às vítimas a fim de verificar o respeito e atendimento
às normas de direitos humanos.

Por fim, esta instituição não atua diretamente na ponta junto aos órgãos de
repressão a exemplo das forças de segurança pública, no entanto, se acionada
poderá atuar para acompanhamento de casos concretos.

SAIBA MAIS:
Para mais informações, acesse: www.oab.org.br

Contato: ri@oab.org.br

Defensorias Pública da União49

A Defensoria Pública é instituição permanente que tem como atribuição a


orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos
os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma
integral e gratuita, às pessoas necessitadas (artigo 134, Constituição Federal).

A Defensoria Pública da União (DPU) oferece serviço de assistência jurídica


gratuita para pessoas brasileiras no exterior – e para não brasileiras no Brasil
– que não têm condições de pagar um(a) advogado(a). A instituição desenvol-
ve atividades em âmbitos nacional e internacional para prevenir o tráfico de
pessoas, reprimir o crime, responsabilizar seus autores e oferecer assistência
e proteção às vítimas50.

49 Para esta ficha houve a contribuição escrita de um representante da Defensoria Pública da União.
50 Disponível em: https://www.dpu.def.br/enfrentamento-ao-trafico-de-pessoas

65
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

A DPU promove assistência e proteção à vítima do tráfico de pessoas por meio


da promoção dos direitos humanos e da garantia de acesso à justiça.

No que diz respeito a atuação no momento da denúncia e resgate, a DPU pode


representar a vítima no momento da denúncia, acompanhar os processos
judiciais na representação da vítima e atuar no resgate, principalmente por
meio da participação do Grupo Móvel de Fiscalização do Trabalho Escravo.

No que diz respeito à atuação na atenção às vítimas, a DPU possui o Grupo


de Trabalho de Assistência e Proteção à Vítima de Tráfico de Pessoas
https://www.dpu.def.br/enfrentamentoao-trafico-de-pessoas cuja função é a
atuação estratégica no campo da assistência e proteção à vítima. Além disso,
defensores e defensoras públicas em todo país podem atuar nessa função.

No que diz respeito à atuação na repressão e responsabilização adequada, a


DPU pode atuar como assistência de acusação em casos envolvendo perse-
cução criminal pela prática do crime de tráfico de pessoas. Além disso, a DPU
pode atuar buscando a reparação adequada às vítimas, seja na esfera cível,
seja na trabalhista.

Para ser atendido no Brasil, é necessário procurar uma unidade da Defensoria


Pública da União. No exterior, entre em contato com uma repartição consular
brasileira (Embaixada ou Consulado). Se não for possível, entre em contato com
o Grupo de Trabalho Acolhimento, assistência e proteção à vítima de tráfico
de pessoas por meio do e-mail: etp@dpu.def.br.

Consulte os endereços da DPU: https://www.dpu.def.br/contatos-dpu

Caso o município não seja atendido pela DPU, uma sugestão é procurar a
subseção da Justiça Federal da cidade.

66
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

SAIBA MAIS:
Para mais informações sobre a Defensoria Pública
da União, acesse: www.dpu.def.br

Em um módulo futuro será abordada a atuação da DPU na proteção e atendi-


mento à vítima direta ou indireta do tráfico de pessoas!

Defensorias Públicas do Estado51

A Defensoria Pública é instituição permanente que tem como atribuição a


orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos
os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma
integral e gratuita, às pessoas necessitadas (artigo 134, Constituição Federal).

A Defensoria Pública do Estado, ao receber denúncia direta ou identificar du-


rante os atendimentos individuais ou coletivos situação que enseje suspeita de
ocorrência de tráfico de pessoas, registra atendimento específico sobre o caso
e encaminha o fato às autoridades competentes em forma de notícia crime.

No âmbito criminal, sua atuação se limitará ao encaminhamento aos órgãos com-


petentes pela repressão do crime e eventual habilitação nestes autos para acom-
panhamento e conferência de sua adequação às garantias de direitos humanos.

No âmbito civil, sendo possível e objeto de competência da Justiça Estadual, é


possível o ajuizamento de ações civis com vistas à reparação dos danos morais
e materiais, além de ações civis públicas com vistas a compelir órgão públicos
ou privados a fazerem ou deixar de fazer determinados fatos.

51 Para esta ficha houve a contribuição escrita de representantes da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro,
Defensoria Pública do Estado de Goiás, Defensoria Pública do Estado de Tocantins, Defensoria Pública do Estado
do Rio Grande do Sul, Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso do Sul, Defensoria Pública do Estado da Bahia,
Defensoria Pública do Estado do Paraná, Defensoria Pública do Estado do Ceará.

67
Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

Por contar com equipes multidisciplinares composta por psicólogos e assisten-


tes sociais, que fazem atendimentos para elaboração de relatórios psicosso-
ciais e também encaminhamento para a rede municipal e estadual de atenção.

SAIBA MAIS:
Para mais informações sobre as Defensorias Públicas do
Estado, acesse: http://condege.org.br/defensorias-publicas

Organizações da Sociedade Civil52

Cabe destacar que existem diversas organizações da sociedade civil que tra-
balham no enfrentamento ao tráfico de pessoas. É importante conhecer as
organizações que atuam de forma mais próxima da sua localidade. Conhecer
a Rede é fundamental.

Nesta ficha, vocês encontrarão alguns exemplos de organizações da sociedade


civil que atuam com o tema.

Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC)

O Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC) é umaorgani-


zação da sociedade civil que tem como objetivo promover, organizar, realizar
e articular ações que visem à construção de uma política migratória respeitosa
dos direitos humanos de imigrantes e pessoas em situação de refúgio.

A atuação se dá em quatro eixos: defesa e promoção de direitos das pessoas


migrantes e em situação de refúgio, incidência e advocacy nos espaços de

52 Para esta ficha houve a contribuição escrita de representantes da Rede Um Grito Pela Vida, do Instituto Terra,
Trabalho e Cidadania (ITTC) e Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC).

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Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

decisão, promoção dos direitos das crianças e adolescentes migrantes e em


situação de refúgio e mobilização e articulação de redes e parcerias.

A proposta é fornecer à população imigrante e refugiada informações sobre


legislação migratória e acesso a serviços públicos, além de ferramentas de
prevenção e denúncia sobre violações de direitos.

A instituição realiza ações de prevenção e de atendimento gratuito a vítimas


de tráfico de pessoas a partir de assessorias nas áreas jurídica, psicossocial e
de regularização migratória, auxílio e informações sobre os serviços públicos
de educação, habitação, emprego e saúde, rodas de conversa, mutirões de
atendimento etc.

O CDHIC faz parte da Rede de Promoção do Trabalho Decente, iniciativa que


é fruto de uma construção coletiva iniciada em 2018 e agrega organizações
da sociedade civil dedicadas a combater o trabalho escravo e a promover os
direitos de migrantes. Atua na incidência para a adoção de políticas públicas
de acolhimento a vítimas resgatadas do trabalho forçado.

O CDHIC também compõe a Comissão Municipal de Erradicação do Trabalho


Escravo (COMTRAE) da cidade de São Paulo, o Comitê de Migração e Refúgio
(CER) do estado de São Paulo, a Comissão de Emprego e Trabalho Decente do
Estado de São Paulo, a Rede Advocacy Colaborativo (RAC), a Red Espacio Sin
Fronteras (ESF), a Organização por uma Cidadania Universal (OCU), o Comitê
Internacional do Fórum Social Mundial das Migrações e a Campanha latino-a-
mericana pelo direito à Educação.

O CDHIC monitora políticas públicas e a atuação legislativa e judicial, prepara


e organiza intervenções nesses ambientes, participa de cursos, seminários,
palestras e elabora materiais de ampla divulgação.

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Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

SAIBA MAIS:
Para saber mais, acesse: https://www.cdhic.org.br/

Contato: contato@cdhic.org

Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC)

O Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC) é uma organização de Direitos


Humanos fundada em 1997 cuja visão é erradicar a desigualdade de gênero,
garantir direitos e combater o encarceramento.

A missão do ITTC é promover o acesso à justiça e garantir os direitos das pes-


soas em situação de cárcere e produzir conhecimento, por meio de atuação
constante e sistemática nos seguintes eixos de ação: atendimento direto, diá-
logo público e educação para a cidadania.

A atuação tem como objetivo que as mulheres que transportam drogas, como
vítimas de tráfico humano, possam ficar no Brasil com base na proteção da
vítima de tráfico de pessoas.

Hoje, as mulheres migrantes detidas no transporte internacional de drogas


são, em sua maioria, vítimas de tráfico humano, pois ou não sabem da droga
e são cooptadas para transportar algo, ou são forçadas, seja pela circunstância
econômica, seja pela força/ameaça.

A legislação brasileira não permite que pessoas condenadas por tráfico de


drogas sejam beneficiárias das proteções internacionais. O Estatuto dos Refu-
giados (Lei n. 9.747/97) poderia ser acionado, dependendo do fundado temor
de perseguição, porém a referida lei brasileira proíbe a solicitação do reco-
nhecimento da condição de refugiada das pessoas que tenham participado
de tráfico de drogas. Por mais que a Lei de Migração permita que mulheres

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Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

migrantes cumprindo pena ou em liberdade provisória possam se regularizar,


tal documento fica vinculado ao término da pena, no qual ela será expulsa.

A partir do atendimento a mulheres migrantes em conflito com a lei, quando


são identificadas situações que possivelmente envolvam o tráfico de pessoas,
estas são encaminhadas para os atores públicos competentes, como a De-
fensoria Pública. O ITTC oferece atendimento humanizado às mulheres e de
acordo com suas necessidades.

SAIBA MAIS:
Para saber mais, acesse: https://ittc.org.br/

Contato: https://ittc.org.br/fale-conosco/

Rede Um Grito Pela Vida

A Rede Um Grito Pela Vida é iniciativa da Conferência dos Religiosos e Reli-


giosas do Brasil e atua no enfrentamento ao tráfico de pessoas por meio de
ações de prevenção, atenção às vítimas e incidência política.

As pessoas que integram a Rede Um grito pela Vida atuam nas diversas
regiões do país, articuladas em mais de vinte núcleos, integradas com as or-
ganizações eclesiais e civis.

Com o lema: “enfrentar o tráfico de pessoas é nosso compromisso”, a Rede


desenvolve um conjunto de atividades de:
z sensibilização e informação, priorizando os grupos em situação de vul-
nerabilidade, lideranças comunitárias, agentes de pastoral e outros;
z organização de grupos de reflexão e estudo, aprofundando as causas e
situações que o favorecem como: questões de gênero, violência, modelo

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Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

de desenvolvimento, grandes construções e projetos, grandes eventos,


hedonismo midiático, aumento da precariedade do trabalho, corrupção,
impunidade, entre outras;
z capacitação de multiplicadores(as), visando ampliar a ação de enfren-
tamento ao tráfico de pessoas, principalmente para fins de exploração
sexual; e
z participação e mobilização social e política de incidência na definição e
efetivação de políticas públicas de enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

A Rede um Grito pela Vida realiza atendimento e encaminhamento das víti-


mas às instituições competentes e monitora os casos encaminhados. A Rede
também realiza o acompanhamento da vítima, quando solicitada, junto à rede
de proteção.

SAIBA MAIS:
Para mais informações, acesse:
http://gritopelavida.blogspot.com/p/quem-somos.html

Vocês poderão conhecer, ainda, o trabalho da Associação Brasileira de Defesa


da Mulher, da Infância e da Juventude (ASBRAD) no último módulo!

Projetos de extensão de universidades53

Cabe destacar que existem diversos projetos de extensão de universidades


que trabalham no enfrentamento ao tráfico de pessoas. É importante conhe-
cer aqueles que atuam de forma mais próxima da sua localidade. Conhecer a
Rede é fundamental.

53 Para esta ficha houve a contribuição escrita de representante do ProMigra - Projeto de Promoção dos Direitos
de Migrantes.

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Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

Nesta ficha, vocês encontrarão exemplo de projetos de extensão que atua


com o tema.

ProMigra – Projeto de Promoção dos Direitos de Migrantes

O Projeto de Promoção dos Direitos de Migrantes (ProMigra) – é projeto de


extensão da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FDUSP) que
atua na promoção, conscientização e efetivação dos direitos dos migrantes na
cidade de São Paulo e região metropolitana. Nascido no ano de 2015, diante
da crescente complexidade dos fenômenos migratórios que evidenciava, além
da necessidade de apoio – principalmente jurídico – à população migrante,
também busca pela efetivação e cristalização destes mesmos direitos por meio
de políticas públicas.

O ProMigra realiza o trabalho em prol dessa população que se encontra dis-


tante de suas origens e, por isso, enfrenta obstáculos de acesso à informação
sobre seus direitos, sobre a cultura local e, muitas vezes, é refém da ambição
de empregadores locais.

O projeto também luta contra qualquer tipo de atividade xenófoba e busca


a inserção dos migrantes à sociedade brasileira, auxiliando-os também nas
dificuldades enfrentadas por conta do desconhecimento do idioma.

Em relação ao enfrentamento ao tráfico de pessoas, o ProMigra realiza forma-


ções internas entre os membros e ao público externo, de modo a sensibilizar
a população geral sobre a temática.

O projeto dispõe de espaço seguro para denúncias de tráfico de pessoas, além


de realizar a escuta qualificada, o que permite identificar possíveis situações
de tráfico humano que podem ser encaminhadas às autoridades competentes.

O ProMigra atua ativamente dentro da rede de atendimento à população mi-


grante e refugiada em São Paulo e, graças à capilaridade entre as entidades da

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Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

sociedade civil, é possível articular encaminhamentos efetivos para a atenção


às vítimas.

SAIBA MAIS:
Para saber mais sobre o ProMigra, acesse: http://promigra.com.br/
Instagram: @promigra
Facebook: ProMigra
Contato: promigra.coordenacao@gmail.com

Chegamos ao fim do Módulo 2!

Ao longo do módulo foram apresentados alguns dos principais atores envolvi-


dos na Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil, bem
como o papel que desempenham frente a esse crime, a partir de três frentes
de ação: 1) denúncia e resgate; 2) atenção às vítimas (assistência e proteção);
e 3) repressão e responsabilização adequada dos perpetradores.

É muito importante ter conhecimento da rede local de enfrentamento ao


tráfico de pessoas. Procure conhecer a da sua localidade!

O passo seguinte é a realização da atividade avaliativa para apropriação do


conteúdo e reflexão sobre os temas que abordamos no Módulo 2.

Nos vemos em breve no Módulo 3. Até lá!

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Módulo 2
Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

Referências bibliográficas

BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde, migração, tráfico e violência contra mulheres: o que o SUS
precisa fazer: caderno pedagógico. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.

Centro Internacional para o Desenvolvimento de Políticas Migratórias (ICMPD, International Centre


for Migration Policy Development). Guia Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas: aplicação no di-
reito. Brasil: ICMPD, 2020.

SILVA, Renata Braz; ALMEIDA, Marina Bernardes de (Org.). Coletânea de instrumentos de enfren-
tamento ao tráfico de pessoas. Brasília: Ministério da Justiça e Segurança Pública, 2018.

Bibliografia consultada para o box temático elaborado por Andrea Rocha Carvalho Gondim

CURY, Munir (coord.). Estatuto da criança e do adolescente comentado: comentários jurídicos


e sociais. 9ª ed., atual. São Paulo: Malheiros, 2008.

GOLFIERI, Daniela. G1. Operação Harem: quadrilha investigada por tráfico de mulheres escolhia
vítimas por fotos nas redes sociais. 27/04/202 Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sorocaba-
-jundiai/noticia/2021/04/27/operacao-harem-quadrilha-investigada-por-trafico-de-mulheres-
-escolhia-vitimas-por-fotos-nas-redes-sociais.ghtml. Acesso: jun. 2022.

GORTÁZAR, Naiara: Caso de Madalena, escrava desde os oito anos, expõe legado vivo da escravidão
no Brasil. Disponível em: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-01-14/madalena-escra-
va-desde-os-oito-anos-expoe-caso-extremo-de-racismo-no-brasil-do-seculo-xxi.html. Acesso:
jun. 2022.

G1: Doméstica resgatada após passar mais de 4 décadas em condições análogas à escravidão foi
vendida pelo próprio pai quando tinha 11 anos. Disponível em: https://g1.globo.com/pe/pernam-
buco/noticia/2022/07/01/domestica-resgatada-apos-passar-mais-de-4-decadas-em-condicoes-
-analogas-a-escravidao-foi-vendida-pelo-proprio-pai-quando-tinha-11-anos.ghtml. Acesso:
jun. 2022.

SAKAMOTO, Leonardo e outro: Trabalhadora negra de 84 anos foi doméstica para três gerações
de uma família sem receber salário; essa é a mais longa exploração de escravidão contemporânea
registrada no Brasil desde criação do sistema de fiscalização. Disponível em: https://reporterbrasil.
org.br/2022/05/mulher-e-resgatada-apos-72-anos-de-trabalho-escravo-domestico-no-rio/.
Acesso: jun. 2022.

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Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil

SOUZA, Luíza: ‘Casa Abandonada’: dona é acusada de trabalho análogo à escravidão. Disponível
em: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2022/07/07/o-que-e-trabalho-analo-
go-a-escravidao-e-por-que-negras-sao-maiores-vitimas.htm. Acesso: jun. 2022.

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