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Módulo 4
Proteção e assistência às
vítimas do tráfico de pessoas
RESUMO:
será abordada a especificidade no atendimento e
encaminhamento para proteção das vítimas, bem
como os impactos das restrições de seus direitos
humanos, contemplando um olhar sensível diante
das interseccionalidades de raça e gênero.
CURSO
Módulo 4
Proteção e assistência às
vítimas do tráfico de pessoas
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
Secretário-Geral
Gabriel da Silveira Matos
EXPEDIENTE TÉCNICO
Secretário Especial de Programas,
Pesquisas e Gestão Estratégica Coordenação Executiva
Ricardo Fioreze Marcelo Torelly
Natália Maciel
Diretor-Geral
Johaness Eck Conteúdo original
Tatiana C. Waldman
Revisão de conteúdo
Jennifer Alvarez
Natália Maciel
Tatiana Waldman
2023
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
SAF SUL Quadra 2 Lotes 5/6 - CEP: 70070-600
Endereço eletrônico: www.cnj.jus.br
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO DO MÓDULO 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1
APRESENTAÇÃO
DO MÓDULO 4
Sejam bem-vindas e bem-vindos ao quarto módulo do curso Brasil sem tráfico
humano!
1 Cf. artigo 3.º da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Decreto n. 5.948/2006, e artigo 2.º da
Lei n. 13.344/2016.
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Proteção e assistência às vítimas do tráfico de pessoas
SAIBA MAIS:
Ao percorrer este módulo, você observará sugestões
de referências complementares como relatórios,
reportagens, podcasts, vídeos, sites etc.
Não deixe de explorar esse material que foi selecionado com o
objetivo de aprofundar as discussões apresentadas no curso!
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A PROTEÇÃO E O
ATENDIMENTO À
VÍTIMA DIRETA
OU INDIRETA DO
TRÁFICO DE PESSOAS:
A ATUAÇÃO DA
DEFENSORIA PÚBLICA
DA UNIÃO (DPU)
Artigo temático elaborado por Vivian Netto Machado Santarém, mestra em
Direitos Humanos pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/
SP). Defensora Pública Federal. Coordenadora do Grupo de Trabalho de As-
sistência e Proteção à Vítima de Tráfico de Pessoas da Defensoria Pública da
União (DPU). Autora da obra: “Tráfico de crianças para exploração sexual no
Brasil: o enfrentamento à luz dos direitos humanos.”
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2 Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas: dados 2017 a 2020. Brasília: Secretaria Nacional de Justiça, 2021.
3 SANTARÉM, Vivian Netto Machado. Tráfico de crianças para exploração sexual no Brasil: o enfrentamento à luz
dos direitos humanos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2022. p. 3.
4 Nesse sentido: CASTILHO, Ela Wiecko V. de. Problematizando o conceito de vulnerabilidade para o tráfico interna-
cional de pessoas. In DOS ANJOS, Fernanda Alves et. al. (org.). Tráfico de pessoas: uma abordagem para os direitos
humanos. Brasília: Ministério da Justiça, 2013. p. 139-141.
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Além disso, não se pode olvidar que pobreza e desigualdade social, sobretudo
após a crise econômica decorrente da pandemia de covid-19, são fenômenos
que têm o condão de gerar maior vulnerabilização ao tráfico de pessoas.
Constituição Federal
Artigo 134: a Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do
regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção
dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos
direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados,
na forma do inciso LXXIV do art. 5.º desta Constituição Federal.
Mirando atuação mais estratégica nessa seara, no âmbito da DPU, foi criado
o Grupo de Trabalho de Assistência e Proteção à Vítima de Tráfico de Pessoas
(GTTP/DPU), composto por cinco integrantes da carreira, com representativi-
dade regional e, atualmente, sob nossa coordenação.
5 PIOVESAN, Flávia e KAMIMURA, Akemi. Tráfico de pessoas sob a perspectiva de direitos humanos: prevenção, com-
bate, proteção às vítimas e cooperação internacional. In Revista Especial – Tráfico de Pessoas. Tribunal Regional
Federal da Terceira Região. São Paulo, 2019. p. 183.
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SAIBA MAIS:
Quer saber mais sobre Grupo de Trabalho de Assistência
e Proteção à Vítima de Tráfico de Pessoas e ter acesso
às notas técnicas, recomendações e publicações?
Acesse:https://promocaodedireitoshumanos.dpu.def.br/gt-
assistencia-e-protecao-a-vitima-de-trafico-de-pessoas/
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A não punibilidade das vítimas nesses casos acontece em alguns países, como,
por exemplo, na Argentina6. Tal previsão não existe na lei brasileira. No entanto,
é preciso refletir sobre a situação de pessoas que, diante de contextos de hi-
pervulnerabilidade vivenciados, apresentam autonomia e liberdade substancial
6 ARGENTINA. Ley 26.364. PREVENCION Y SANCION DE LA TRATA DE PERSONAS Y ASISTENCIA A SUS VICTIMAS Dispo-
siciones Generales. Derechos de las Víctimas. Disposiciones Penales y Procesales. Disposiciones Finales. Sancionada:
abril 9 de 2008. Promulgada: abril 29 de 2008. “ARTICULO 5.º — No punibilidad. Las víctimas de la trata de personas no son
punibles por la comisión de cualquier delito que sea el resultado directo de haber sido objeto de trata. Tampoco les serán
aplicables las sanciones o impedimentos establecidos en la legislación migratoria cuando las infracciones sean consecuencia
de la actividad desplegada durante la comisión del ilícito que las damnificara”.
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7 DEFENSORIA PÚBLILCA DA UNIÃO. Guia Prático de Assistência às Vítimas de Tráfico de Pessoas. Disponível em:
https://www.unodc.org/documents/human-trafficking/GLO-ACT/DPU_ANTI-TIP_GUIDE.pdf
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SAIBA MAIS:
Quer saber mais sobre o tema? Consulte a publicação Guia Prático
de Assistência às Vítimas de Tráfico de Pessoas (Defensoria
Pública da União, 2019) disponível na biblioteca virtual do curso!
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A referida norma enumera diretrizes que devem ser observadas durante a oiti-
va, entre as quais a escolha de local apropriado e acolhedor para a entrevista;
o respeito à privacidade; a narrativa livre com o mínimo de intervenções; a
comunicação em linguagem de melhor compreensão para a criança ou o ado-
lescente e o respeito à sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
SAIBA MAIS:
Quer saber mais sobre as especificidades da escuta de crianças e
adolescentes migrantes e o método de escuta qualificada? Consulte
as publicações Manual de escuta de crianças e adolescentes
migrantes (Defensoria Pública da União, MIgration EU eXpertise
-MIEUX, 2020) e o Protocolo de Escuta Qualificada para Grupos
Vulneráveis ao Tráfico de Pessoas (Organização Internacional para
as Migrações, 2022), disponíveis na biblioteca virtual do curso!
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de ação perante o Poder Judiciário para a tutela dos direitos violados. Envolve,
assim, a atuação extrajudicial e judicial da DPU.
Vale dizer que, conforme determina o artigo 49, §4.º, da Lei 13.445/2017, ain-
da que presentes quaisquer dos motivos de impedimento de entrada no País
previstos pelo artigo 45 da aludida norma, não se procederá à repatriação:
I - de pessoa refugiada ou apátrida;
II - de menores de 18 anos desacompanhados ou separados (exceto quan-
do a repatriação for comprovadamente favorável);
III - de quem necessite de acolhimento humanitário; e
IV - nem de quem possa estar submetido a risco de vida, ou à integridade
pessoal ou à liberdade no país de origem.
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Por fim, é sempre importante ter em mente que a reparação dos danos tem
como objetivo contribuir para a recuperação física e psicológica da vítima,
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SAIBA MAIS:
Confira o Manual de atendimento jurídico a migrantes e
refugiados: atendimento a vítimas de tráfico de pessoas
(Organização Internacional para as Migrações, Defensoria Pública
da União, 2022) disponível na biblioteca virtual do curso!
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Sugestão de filmes
Pureza – 2019 – direção Renato Barbieri
Capharnaum – 2018 – direção Nadine Lebaki
Human Flow – 2017 – direção Ai Weiwei
Biutiful – 2011 – direção Alejandro Gonzálex Iñárritu
Shun Li e o poeta – 2011 – direção Andrea Segre
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AS
INTERSECCIONALIDADES
DE RAÇA E GÊNERO E OS
IMPACTOS CAUSADOS
PELO TRÁFICO DE
PESSOAS E VIOLAÇÕES
CORRELATAS NAS
VÍTIMAS DIRETAS
E INDIRETAS
Artigo temático elaborado por Michael Mary Nolan – Presidente do Instituto
Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC); Débora de Godoy Vasconcellos – Pesqui-
sadora vinculada ao Projeto Mulheres Migrantes (ITTC); Eliza Odila Conceição
Silva Donda – Pesquisadora vinculada ao Projeto Mulheres Migrantes (ITTC);
Heloísa de Freitas Magalhães Rodrigues – Pesquisadora vinculada ao Proje-
to Mulheres Migrantes (ITTC); Jacqueline Feitosa de Oliveira – Pesquisadora
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O Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC) atua, desde 1997, com o objetivo
de erradicar a desigualdade de gênero, garantir direitos e combater o encarce-
ramento. É estruturado em quatro eixos de ação: 1. Gênero e Drogas; 2. Justiça
Sem Muros; 3. Banco de Dados; e 4. Projeto Mulheres Migrantes (PMM) que
atua e acumula longa experiência no atendimento direto e acompanhamento
de mulheres migrantes em conflito com a lei em São Paulo.
SAIBA MAIS:
Quer saber mais sobre o Projeto Mulheres Migrantes?
Acesse: https://ittc.org.br/mulheres-migrantes/
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Assim, o ITTC é uma das instituições que promove a escuta ativa das vítimas,
a orientação processual, faz a mediação entre a mulher migrante em conflito
com a lei e sua defesa, e verifica a dificuldade que elas ainda enfrentam com
a regularização migratória.
A Lei de Migração, em seu artigo 30, II, alínea h, possibilita a obtenção da au-
torização de residência para fins de cumprimento de pena ou liberdade pro-
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Esses aliciadores, tendo certa noção de que muitas mulheres são as bases
familiares em seus países, responsáveis pelo sustento e cuidados dos filhos e
parentes, fazem essas propostas que são economicamente convidativas, mas,
na maioria das vezes, sob meio de coação, engano, ameaça ou abuso.
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drogas, mas que não compõe a organização criminosa, e tem, portanto, sua
pena atenuada em 1/6.
O Brasil oferece defesa gratuita por meio das Defensorias Públicas. Contudo,
verifica-se que a estrutura institucional pública sofre limitação em seus recur-
sos materiais e humanos9 e, para o cenário carcerário das “mulas” do tráfico,
suas defesas focam no aspecto criminal.
Nosso trabalho, embora não advogue por elas, e tendo uma equipe multidis-
ciplinar, inclui, além do contato direto, dentro e fora do presídio, o acompa-
nhamento e a mediação junto às defesas para que possam ter seus direitos
garantidos.
9 ICMPD et al. Guia de Assistência e referenciamento de vítimas do tráfico de pessoas, jun 2020. P. 77.
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Por meio do gráfico acima, observa-se que pelo menos 34% das mulheres víti-
mas de tráfico de pessoas são oriundas de países africanos, pelo menos 21%
de países da América do Sul e pelo menos 10% do Sul da Ásia.
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Para além disso, na medida em que essas mulheres são detidas e condenadas
no Brasil ou em outros países para os quais foram deslocadas, a realidade do
sistema carcerário é extremamente violenta, principalmente para mulheres
migrantes, racializadas e que não possuem rede de apoio por não estarem em
seu país de origem. A situação da mulher privada de liberdade é diferente em
muitos aspectos em relação a do homem.
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Para mais, parcela significativa das mulheres presas é formada por mães, por-
tanto os efeitos do encarceramento tomam forma complexa ao atingirem a
mulher acusada e condenada por algum crime e seus filhos e familiares que
dependem do seu trabalho e cuidado para sobreviver. Neste caso, pensando
na situação das mulheres presas que são migrantes, além de todo esse con-
texto, elas enfrentam também barreiras sociais, linguísticas, culturais e uma
falta ainda maior de rede de apoio.
Grande parte das mulheres que atendemos são presas no Brasil por tráfico
internacional de drogas e relatam justamente que, por não terem condições
financeiras de sustentar seus filhos e filhas, sendo muitas vezes mães solo,
se encontram em posição na qual recebem oferta de trabalho e, às vezes não
sabendo do que se trata, acabam por aceitar a atividade por estas razões:
Além disso, “determinados grupos raciais são mais vulneráveis à punição es-
tatal, em especial no que tange à ação policial”10. Por isso, é necessário consi-
10 ALVES, Dina. Rés negras, juízes brancos: uma análise da interseccionalidade de gênero, raça e classe na produção
da punição em uma prisão paulistana. 2015. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Ciências Sociais da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2015. apud ITTC, 2022
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SAIBA MAIS:
Quer saber mais sobre o tema? Acesse a publicação Raça/cor/
etnicidade e território: analisando as penas de mulheres
migrantes em conflito com a lei (ITTC, 2021):
https://ittc.org.br/raca-cor-etnicidade-e-territorio-analisando-
as-penas-de-mulheres-migrantes-em-conflito-com-a-lei/
Confira também o Manual de atendimento jurídico a
migrantes e refugiados: cuidados básicos no atendimento
de pessoas em situação de vulnerabilidade (Agência
da ONU para as Migrações, Defensoria Pública da União,
2022) disponível na biblioteca virtual do curso!
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A posição do Judiciário e sua relação com os demais poderes e atores são ex-
tremamente potentes para a efetiva defesa dos direitos humanos e o combate
ao tráfico humano.
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11 ILO. R203 - Forced Labour (Supplementary Measures) Recommendation, 2014 (No. 203). Tradução nossa: “Members
should, in accordance with the basic principles of their legal systems, take the necessary measures to ensure that
competent authorities are entitled not to prosecute or impose penalties on victims of forced or compulsory labour
for their involvement in unlawful activities which they have been compelled to commit as a direct consequence of
being subjected to forced or compulsory labour”.
12 UNODC. Manual contra o tráfico de pessoas para profissionais do sistema de justiça penal, 2010.
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Observa-se que a legislação nacional apresenta definição que pode ser interpre-
tada de maneira restritiva no que diz respeito às vítimas do tráfico, excluindo
aquelas que realizaram alguma atividade ilícita no país e que consentiram com o
que fora proposto, fatores considerados irrelevantes pelo Protocolo de Palermo.
Ao ser condenada, com sentença transitada em julgado, ela passa a ter sua
regularização migratória garantida, que terá a validade na quantidade de pena
que ela tem que cumprir no Brasil. Outras modalidades de cooperação inter-
nacional, na seara criminal, firmadas por acordos bilaterais ou multilaterais,
são: transferência de pessoas para cumprimento de pena e expulsão.
Para o segundo (expulsão), o Ministério da Justiça autoriza que ela tenha sua
pena finalizada e seja deportada para seu país de origem. A expulsão aconte-
ceria, em tese, de qualquer forma: ou ela é antecipada, ou ela é cumprida no
final da sentença. Caso a mulher ou sua representação consular não possa
arcar com os custos da viagem, o governo assim o fará, mas poderá levar um
tempo considerável.
13 INSTITUTO Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC). ITTC explica: você sabe o que é tráfico de pessoas? 2020.
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Fato, também, que se elas demoram para conseguir regularizar sua situação
migratória, ficam dependentes de ajuda do terceiro setor, pois os serviços
públicos assistenciais exigem a regularidade. Verificamos casos de mulheres
que reincidem na vida delituosa por falta de opção.
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A NECESSIDADE DE
ATUAÇÃO NO EIXO
DE PREVENÇÃO AO
TRÁFICO DE PESSOAS
Artigo temático elaborado por Dalila Eugênia Maranhão Dias Figueiredo, ativista dos direitos
humanos, advogada e assistente social, especialista no atendimento a vítimas de violência sexual
pela Escola de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo e em mediação de conflitos
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, presidente e diretora executiva da Associa-
ção Brasileira de Defesa da Mulher, da Infância e da Juventude (Asbrad) e Graziella do Ó Rocha,
comunicóloga e doutora em Política Social pela Universidade Federal Fluminense, especialista
nos temas de tráfico de pessoas, trabalho análogo ao escravo e contrabando de migrantes, foi
consultora das agências da ONU e, desde 2015, coordena os projetos para o enfrentamento do
tráfico de pessoas e promoção dos direitos de migrantes e refugiados na Asbrad.
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14 Em 2008, o Ministério da Justiça reconheceu a nossa experiência como uma prática exemplar e produziu a siste-
matização da metodologia de atendimento humanizado que motivou a celebração de convênios para construção de
Postos Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante (PAAHM) em 17 Estados do Brasil e no Distrito Federal.
Equipamentos estes, ainda hoje, presentes em diversos aeroportos e portos do país. Na cidade de Guarulhos-SP, o
PAAHM está incorporado como equipamento da assistência social de média complexidade do município.
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SAIBA MAIS:
Confira o Manual de atendimento jurídico a migrantes e
refugiados: atendimento a mulheres e meninas em situação
de violência (Agência da ONU para as Migrações, Defensoria
Pública da União, 2022) disponível na biblioteca virtual do curso!
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Informação é poder!
Para muitos, essa frase pode parecer clichê e com pouca relevância. Porém,
quando nos deparamos com vítimas do tráfico de pessoas temos a clara di-
mensão do quanto a falta de informação é determinante para a manutenção
dos mecanismos de controle que garantem o “sucesso” na exploração dos
indivíduos.
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Exemplo de Campanha:
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SAIBA MAIS:
Quer saber mais sobre a campanha? Acesse:
www.asbrad.org.br/liberdadenoar
Menino de Ouro
https://drive.google.com/file/d/1Qneb7pNdKu4Q-_XrwQYxeBxxxCUzYOKN/view
O bilhete
https://drive.google.com/file/d/1D03Da1CBe0Gfg26CX-oghYuzIFAo3xmk/view
Acolhida
https://drive.google.com/file/d/1hA8qOuYJOJf0ssMP5rnb1buywhSHof4W/view
Viagem
https://drive.google.com/file/d/19AWSDU5Eoc8Ect_Lrem3Ksg6Ms9Wtcqc/view
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O ideal é reforçar os canais oficiais do Disque 100 e Ligue 180, Sistema Ipê e
do aplicativo MPT Pardal, que fazem parte de políticas públicas desenvolvidas
e consolidadas no âmbito do Governo Federal e que garantem o anonimato.
SAIBA MAIS:
Para saber mais sobre o aplicativo MPT Pardal, acesse:
https://www.prt2.mpt.mp.br/622-aplicativo-mpt-
pardal-foi-utilizado-para-encaminhar-mais-de-11-mil-
denuncias-de-irregularidades-trabalhistas-em-2018
O tráfico de pessoas é fenômeno social complexo. Erra quem associa esse cri-
me somente às decisões pontuais de perpetradores perversos. Essencialmente,
questões sociais estruturais garantem a perseverança da prática criminosa.
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Há, ainda, fatores criados por traficantes para o abuso em relação à posição de
vulnerabilidade das vítimas (por exemplo, o uso de rituais religiosos ou cultivo
de ligação romântica ou emocional)16 que facilitam a relação de mercantilização
do ser humano.
SAIBA MAIS:
Leia a reportagem Cerca de 37% das vítimas de tráfico de
pessoas confiavam no aliciador <https://www.cnnbrasil.com.
br/nacional/cerca-de-37-das-vitimas-de-trafico-de-pessoas-
confiavam-no-aliciador/> de Mylena Guedes (CNN)!
15 UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME. Documento Temático: O Abuso de uma Posição de Vulnerabi-
lidade e outros ‘Meios’ no âmbito da Definição de Tráfico de Pessoas. 2012. Disponível em https://www.unodc.org/
documents/human-trafficking/2015/APOV_Issue_Paper_PT.pdf Acesso em: 17 jul. 2022. p. 79.
16 UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME. Documento Temático: O Abuso de uma Posição de Vulnerabi-
lidade e outros ‘Meios’ no âmbito da Definição de Tráfico de Pessoas. 2012. Disponível em https://www.unodc.org/
documents/human-trafficking/2015/APOV_Issue_Paper_PT.pdf Acesso em: 17 jul. 2022.p. 79.
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A seguir, desenvolvemos dicas úteis para ajudar a tomar decisões para o desen-
volvimento de abordagens para a prevenção ao tráfico de pessoas no Brasil.17
17 Esses tópicos foram destacados a partir de pesquisa realizada pela Asbrad em 2021. As listas não possuem a
pretensão de esgotar os debates sobre o tema. Ver: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DA MULHER DA INFÂNCIA E
DA JUVENTUDE- ASBRAD. Mapeamento do Tráfico de Pessoas no Brasil. Características regionais do trabalho escravo.
Guarulhos, 2021. Disponível em: https://www.asbrad.org.br/wp-content/uploads/2021/07/Trafico-de-Pessoas_VOL-
01-FINAL.pdf Acesso em: 17 jul. 2022.
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SAIBA MAIS:
Confira o Guia de Assistência e Referenciamento de
Vítimas de Tráfico de Pessoas (International Centre
for Migration Policy Development Brasil, 2020) e o Guia
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas: Aplicação ao
Direito (International Centre for Migration Policy Development
Brasil, 2020) disponíveis na biblioteca virtual do curso!
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Agradecemos por ter chegado até aqui e esperamos que tenha gostado do
curso!
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PIOVESAN, Flávia; KAMIMURA, Akemi. Tráfico de pessoas sob a perspectiva de direitos humanos:
prevenção, combate, proteção às vítimas e cooperação internacional. In Revista Especial – Tráfico
de Pessoas. Tribunal Regional Federal da Terceira Região. São Paulo, 2019.
Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas: dados 2017 a 2020. Brasília: Secretaria Nacional
de Justiça, 2021.
SANTARÉM, Vivian Netto Machado. Tráfico de crianças para exploração sexual no Brasil: o en-
frentamento à luz dos direitos humanos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2022. p. 3.
Referências bibliográficas do artigo temático elaborado por Michael Mary Nolan, Débora de
Godoy Vasconcellos, Eliza Odila Conceição Silva Donda, Heloísa de Freitas Magalhães Rodri-
gues e Jacqueline Feitosa de Oliveira
ANJOS, Neli Oliveira dos. Tráfico de pessoas e trabalho escravo. Notícia. Brasil de Direitos, 2019.
Disponível em: <https://brasildedireitos.org.br/atualidades/trfico-de-pessoas>. Acesso em: 13
jul 2022.
BRASIL. Lei n. 13.344, de 6 de outubro de 2016. Dispõe sobre prevenção e repressão ao tráfico
interno e internacional de pessoas e sobre medidas de atenção às vítimas; altera a Lei nº 6.815,
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BRASIL. Lei n. 13.445 de 24 de maio de 2017. Institui a Lei de Migração. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13445.htm>. Acesso em: 18 jul. 2022.
ICMPD et al. Guia de Assistência e referenciamento de vítimas do tráfico de pessoas, jun 2020.
Disponível em: <https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/trafico-de-pessoas/publi-
cacoes/guia_assistencia_icmpd_versao_digital_simples_final.pdf>.
BRASIL. Tráfico de Pessoas: uma abordagem para os direitos humanos. Secretaria Nacional de
Justiça, Departamento de Justiça; organização de Fernanda Alves dos Anjos ... [et al.]. – 1.ed. Brasília:
Ministério da Justiça, 2013.
ILO. R203 – Forced Labour (Supplementary Measures) Recommendation, 2014 (No. 203). Dispo-
nível em: <https://www.ilo.org/dyn/normlex/en/f?p=NORMLEXPUB:12100:0::NO::P12100_INS-
TRUMENT_ID:3174688>. Acesso em: 14 jul. 2022.
INSTITUTO Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC). ITTC explica: você sabe o que é tráfico de pessoas?
2020. Disponível em: <http://ittc.org.br/ittc-explica-trafico-de-pessoas/>. Acesso em: 14 jul. 2022.
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INSTITUTO Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC). Tráfico de pessoas: por que as mulheres migrantes
atendidas pelo ITTC estão sujeitas a isso? 2020. Disponível em: http://ittc.org.br/trafico-pessoas-
-mulheres-migrantes-ittc/. Acesso em: 14 jul 2022.
PISCITELLI, Adriana. Trabalho Sexual. In: CAVALCANTI, Leonardo ... [et al], (org.). Dicionário crítico
de migrações internacionais. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2017.
UNODC. Manual contra o tráfico de pessoas para profissionais do sistema de justiça penal,
2010. Disponível em: <https://www.unodc.org/documents/human-trafficking/2009_UNODC_
TIP_Manual_PT_-_wide_use.pdf>. Acesso em: 14 jul. 2022.
Referências bibliográficas do artigo temático elaborado por Dalila Eugênia Maranhão Dias
Figueiredo e Graziella do Ó Rocha
BRASIL, Presidência da República. Lei nº 13.344, de 6 de outubro de 2016. Dispõe sobre prevenção
e repressão ao tráfico interno e internacional de pessoas e sobre medidas de atenção às vítimas e dá
outros procedimentos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/
lei/l13344.htm. Acesso em: 17 jul. 2022.
UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME. Documento Temático: O Abuso de uma Posição
de Vulnerabilidade e outros ‘Meios’ no âmbito da Definição de Tráfico de Pessoas. 2012. Disponível
em https://www.unodc.org/documents/human-trafficking/2015/APOV_Issue_Paper_PT.pdf
Acesso em: 17 jul. 2022.
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