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Introdução à JUSTIÇA RESTAURATIVA:

fundamentos básicos para uma


nova visão da justiça

MÓDULO 4

Grupos reflexivos para homens


autores de violência contra a mulher
EXPEDIENTE

GOVERNO FEDERAL Revisão Textual


Supervisão: Cleusa Iracema Pereira Raimundo
Presidente da República Victor Rocha Freire Silva
Luiz Inácio Lula da Silva Vivianne Oliveira Rodrigues
Vice-Presidente da República
Design Instrucional
Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho
Supervisão: Milene Silva de Castro
Ministro da Justiça e Segurança Pública Joyce Regina Borges
Flávio Dino de Castro e Costa Julia Dias Lopes
Larissa Usanovich de Menezes
Secretário da Secretaria Nacional de Políticas Penais – SENAPPEN
Rafael Velasco Brandani Design Gráfico
Supervisão: Mary Vonni Meürer de Lima
Diretora da Escola Nacional de Serviços Penais – ESPEN
Cleber da Luz Monteiro
Stephane Silva de Araújo
Giovana Aparecida dos Santos
Chefe da Divisão de Educação a Distância Guilherme Comerão Stecca Almeida
Haynara Jocely Lima de Almeida Julia Morato Leite Lucas
Nicole Alves Guglielmetti
Equipe ESPEN PRONASCI Renata Cristina Gonçalves
Ademir Santos da Silva Sonia Trois
Diógenes Gonçalves Bem Tiago Augusto Paiva
Eberson Trindade Rodrigues
Leonardo Conceição Cruz Programação
Maria de Fátima de Souza Moreno Supervisão: Alexandre Dal Fabbro
Luan Rodrigo Silva Costa
Luiz Eduardo Pizzinatto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Audiovisual
Coordenação Geral
Supervisão: Rafael Poletto Dutra
Luciano Patrício Souza de Castro
Angie Luiza Moreira de Oliveira
Financeiro Arthur Pereira Neves
Fernando Machado Wolf Daniele de Castro
Dilney Carvalho da Silva
Consultoria Técnica EaD Kimberly Araujo Lazzarin
Giovana Schuelter Marcelo Vinícius Netto Spillere
Marília Gabriela Salomao Dauer
Coordenação de Produção Rodrigo Humaitá Witte
Francielli Schuelter
Apresentação
Coordenação de AVEA Áureo Mafra de Moraes
Andreia Mara Fiala
Conteúdo
Carlos André dos Santos Pereira

Todo o conteúdo do curso Introdução à Justiça Restaurativa: fundamentos básicos para uma nova visão da
justiça, da Secretaria Nacional de Políticas Penais do Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo
federal – 2023, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição - Não Comercial - Sem
BY NC ND Derivações 4.0 Internacional. Para visualizar uma cópia desta licença, acesse: https://creativecommons.org/
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ESCLARECIMENTO

A partir de 1º de janeiro de 2023, o Departamento Penitenciário Nacional


(DEPEN) passou a ser denominado Secretaria Nacional de Políticas Penais
(SENAPPEN), instituída pelo Art. 59 da Medida Provisória nº 1.154; porém,
devido ao fato de o material deste curso ter sido produzido antes da vigência
da referida medida provisória, há conteúdos em que a atual SENAPPEN
é mencionada como DEPEN. É possível, ainda, que outros órgãos gover-
namentais federais citados nos materiais, como ministérios, secretarias
e departamentos, disponham de uma nova estrutura regimental e uma
nova nomenclatura e sejam mencionados de maneira diferente da atual.
SUMÁRIO

Apresentação................................................................................................................................................. 5
Objetivos do módulo 6

Unidade 1: Introdução........................................................................................................................8
1.1 Gênero 11

1.2 Perfil do agressor 14

Unidade 2: Grupos reflexivos.............................................................................................. 22


2.1 Conceito de grupos reflexivos 23

2.2 Contexto jurídico dos grupos reflexivos 24

2.3 Metodologia de acompanhamento 29

Síntese do Módulo������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������40

Referências���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 41
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA

APRESENTAÇÃO

Olá, cursista!

Seja bem-vindo(a) ao quarto e último módulo de estudos do curso sobre


Justiça Restaurativa.

As atividades de grupos reflexivos contribuem de maneira importante


para o combate à violência familiar, principalmente à violência contra
as mulheres.

No entanto, há certa dificuldade de se encontrar na literatura estudos


que tratem o tema de forma abrangente e que possam abarcar, portanto,
a realização de grupos para reflexão das pessoas que cometeram algum
tipo de violência.

Essa possibilidade de agregar os grupos reflexivos no processo de cura


das pessoas submetidas à prisão permite a aplicação de mais uma ação
restaurativa.

Contudo, a metodologia de grupos tem sua atenção principal no trabalho


voltado para homens autores de violência contra as mulheres, na busca
do enfrentamento desse grave problema de violência familiar que en-
volve questões sociais, culturais e históricas.

Neste módulo, será possível conhecer a metodologia da aplicação


de grupos reflexivos para autores de violência contra as mulheres,
considerando toda a complexidade que o tema abrange.

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INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA

Objetivos do módulo

• Proporcionar ao cursista o conhecimento sobre a metodologia de


acompanhamento de homens autores de violência contra as mulheres.

• Desenvolver de forma prática os processos reflexivos e de diálogo,


envolvendo vários atores das organizações da sociedade civil, movimentos
sociais e organismos ligados à segurança pública e à Justiça.

• Proporcionar orientação e construção de caminhos destinados ao


entendimento da autorresponsabilização e educação ou reeducação
dos homens que praticam violência contra as mulheres.

• Causar reflexão a respeito da necessidade de evolução sobre as ques-


tões de gênero, de necessidade do tratamento das questões históricas
e culturais sobre a violência contra as mulheres, a partir de um olhar de
respeito, de cura e enfrentamento que promova a paz social.

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UNIDADE 1

Introdução
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA

1. INTRODUÇÃO

As características de gênero fazem das mulheres e dos homens seres


iguais e diferentes ao mesmo tempo, iguais como espécie e diferentes
em comportamento. Cada um tem necessidades diferentes, levando
em consideração justamente essa condição.

Na história, percebe-se que há uma hierarquização entre homem e mu-


lher, em maior ou menor grau, e disso decorrem muitos dos problemas
de violência que enfrentamos atualmente.

Cada vez mais vemos o crescimento, o protagonismo e a independência


das mulheres, o que torna necessário o enfrentamento de normas cul-
turais que já não cabem nos dias de hoje.

Os homens, culturalmente, são animais vorazes quando se trata da de-


monstração de força sobre o seu desejo de dominação das mulheres,
questão essa que alimenta a intolerância sobre as diferenças de gênero
e provoca a violência para a manutenção do controle.

As relações sociais no Brasil e no mundo ainda promovem a ideia de


subalternidade e submissão de uns em relação a outros. Com isso,
a violência e o abuso cometidos contra as mulheres estão cada vez mais
evidentes. Se antes essa violência ocorria no âmbito doméstico, e por
isso obscura e de difícil identificação, agora alcança todos os lugares e
ocorre a qualquer hora. O que predomina na sociedade é um compor-
tamento machista, patriarcal, no qual o homem é o centro e as regras
são heteronormativas.

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FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA

Fonte: Adaptado de © [freepik] / Freepik.

Assim, prevalecem as injustiças nas relações, sendo necessário maior


apoio e disponibilização de debates públicos para a definição de ações
concretas de enfrentamento à violência, inclusive em nível educacional.

Nesse sentido, são muitos os caminhos para se chegar a uma sociedade


livre e consciente do papel e do direito das mulheres, que perpasse pela
afirmação de sua independência física, psíquica, emocional, financeira
e moral, possibilitando o surgimento de ações que acarretem conse-
quências positivas para a qualidade do convívio da mulher de acordo
com seus interesses.

Enquanto se busca a mudança de cultura em relação ao respeito


às mulheres para aqueles que cometeram tal violência, é neces-
sária a procura pelo entendimento individualizado do porquê da
violência, considerando, dentro do que promove a Justiça Restau-
rativa, a questão da autorresponsabilização, do entendimento das
consequências de seus atos em relação à vítima e da abertura do
canal de diálogo e escuta.

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FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA

QR CODE

Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet)


no QR Code ao lado para assistir ao vídeo de introdução sobre
a violência de gênero e a Justiça Restaurativa ou acesse o link:
https://youtu.be/JwyFLPIB5b0.

Nesse contexto, faz-se presente a realização de grupos reflexivos para


autores de violência, tendo como sentido a apresentação de informa-
ções que representem a ressignificação dos conceitos de convivência e
respeito às mulheres.

Rothman, Butchart e Cerdá (2003 apud SCOTT; OLIVEIRA, 2021) situam


o surgimento do atendimento aos homens autores de violência (HAV)
nos Estados Unidos, no final da década de 1970. Esses programas foram
denominados “Emerge” (em Boston), “Amend” (em Denver) e “Raven” (em
St. Louis). Na década seguinte, foi instituído o “Domestic Abuse Interven-
tion Programs” (DAIP), que ficou mais conhecido como modelo Duluth ou
“Duluth Model”. Em 1980 e 1990, os programas começaram a se disseminar
para outros locais, como Canadá, Europa, América Latina e África.

No Brasil, os serviços de atendimento aos homens autores de vio-


lência surgiram entre o final da década de 1990 e início dos anos 2000,
relacionados a organizações do terceiro setor que funcionavam em
parceria com o poder estatal e o sistema Judiciário (AMADO, 2014 apud
SCOTT; OLIVEIRA, 2021).

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Veja uma pequena linha do tempo sobre o surgimento de atividades


para homens autores de violência no Brasil.

Surgimento de atividades para homens


autores de violência no Brasil

1999 – Instituto NOOS (Instituto de Pesquisas Sistêmicas


e Desenvolvimento de Redes Sociais)

2004 – Programa da Prefeitura de Blumenau/SC

2005 – Programa Albam do Instituto Mineiro de Saúde


Mental e Social de Belo Horizonte/MG

Fonte: Adaptado de Beiras, Nascimento


e Incrocci (2019).

A ferramenta de aplicação de grupos reflexivos para autores de violência


doméstica vem sendo cada vez mais difundida e utilizada para a solução
de conflitos entre homens e mulheres, dentro de um movimento de
mudança cultural que envolve a afirmação dos direitos das mulheres e
a quebra do poder do homem sobre a mulher, herança machista que
deve ser desconstruída por meio de técnicas reflexivas.

SAIBA MAIS

Para saber mais sobre o Instituto Noos, acesse o conteúdo dis-


ponível em: https://noos.org.br/.

1.1 Gênero
Antes de entrar no tema de grupos reflexivos, vale muito a pena falarmos
sobre gênero, pois em todas as relações familiares e interpessoais perpassam
discussões cotidianas envolvendo direitos relacionados a esse assunto.

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Foto: Adaptado de © [itler] / Freepik.

Mas o que é gênero? Sem qualquer intenção de esgotar o tema,


buscamos entender esse conceito essencial para o estudo sobre os
grupos reflexivos para autores de violência contra a mulher. Como ponto
de partida, podemos dizer que “gênero” faz referência às diferenças ins-
tituídas historicamente entre homens e mulheres (SCOTT, 1990 apud
TORRÃO FILHO, 2005).

Para Judith Butler (2006 apud ARAN; PEIXOTO JÚNIOR, 2007),


gênero pode ser compreendido como uma forma de regula-
mentação social que produz e molda o comportamento e os
corpos dos sujeitos.

Essa regulamentação social pressupõe certa identificação de desigual-


dade entre homens e mulheres, que passa a ser entendida como se fosse
normal ou natural. Nesse sentido, a manutenção da ordem que estabelece
a superioridade do homem sobre a mulher acarreta problemas sociais
relacionados à violência contra elas.

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Diante desse cenário, é muito importante promover discussões e reflexões


sobre as relações de gênero que proponham a intervenção para desna-
turalizar o entendimento sobre as relações, posições, comportamentos e
ações que minimizam a importância das mulheres e criam discriminações.

Assim, cabe registrar que a menção sobre gênero neste curso busca trazer
a perspectiva sobre a relação entre mulher e homem, ainda que gênero
seja algo mais amplo e complexo do ponto de vista social. Isso porque
gênero não necessariamente coincidirá com a percepção do sexo no
sentido biológico, haja vista a questão do entendimento de gênero em
relação a travestis, transexuais e outras pessoas identificadas no âmbito
da sigla LGBTQIA+. Essas questões estão sendo debatidas e ressignificadas
para além da questão sexual biológica.

Fonte: © [Austler] / Freepik.

Portanto, a aplicação de grupos reflexivos nesse contexto permite a revisão


da experiência pessoal sobre aspectos sociais e políticos relacionados
aos direitos das mulheres (ou de outros grupos) na relação de casal,
na vida familiar, nas relações laborais e no exercício da cidadania.

Enfim, o grupo reflexivo almeja a compreensão das pessoas sobre


sua igualdade de direitos, o reconhecimento das diferenças e a
solução de conflitos, procurando horizontalidade entre as partes
através do diálogo, do respeito e da paz individual, familiar e social
como reflexo de justiça.

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1.2 Perfil do agressor


Para a identificação do perfil do agressor, utilizaremos o estudo “Violência
contra a mulher: um olhar do Ministério Público brasileiro”, realizado a partir
do projeto “Grupo Reflexivo de Homens: por uma Atitude de Paz em Natal/
RN” e publicado pelo Conselho Nacional do Ministério Público em 2018.

A proposta se limitou a conhecer os dados referentes ao vínculo com a


mulher vitimada, à dependência química, à idade, à escolaridade, à ocu-
pação, à etnia, à religião, à renda familiar e ao estado civil, levando em
conta o perfil socioeconômico e familiar do universo dos 168 homens
que frequentaram o projeto.

Neste estudo, apresentaremos o que entendemos sobre requisitos


mínimos para a definição do perfil do agressor. No entanto, sugerimos
que o estudante faça uma pesquisa mais robusta e aprofundada, assim
como a leitura na íntegra do material aqui mencionado.

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SAIBA MAIS

Para ler na íntegra o estudo “Violência contra a mulher: um olhar do


Ministério Público brasileiro”, acesse o PDF disponível em: https://
www.cnmp.mp.br/portal/images/FEMINICIDIO_WEB_1_1.pdf.

A primeira análise de dado para identificação do perfil do agressor será


sobre o tipo de relacionamento e o vínculo estabelecido com a mulher.

Vínculo com a mulher

Extraconjugal 1%

Ex-namorado 7%

Namorado 4%

Familiar 5%

Ex-companheiro 34%

Companheiro 48%

0 10 20 30 40 50

Fonte: Adaptado de NAMVID (2012 apud VERAS; SILVA, 2018).

A definição do grau vinculativo vai permitir uma amos-


tragem sobre quais mulheres estão mais próximas do
contexto da violência de gênero, permitindo uma melhor
compreensão de quais políticas públicas ou ações podem
ser realizadas para minimizar a violência e provocar
mudanças positivas no comportamento do agressor.

Nesse sentido, o gráfico demonstra que quase metade dos homens que
participaram do projeto, ao cometerem a violência, mantinham vínculo
de convivência com a vítima, e 34% eram ex-companheiros.

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BOAS PRÁTICAS

Portanto, é visível a preocupação com as famílias e a necessidade


de intervenção nesse núcleo através da ferramenta de grupos
reflexivos, considerando a necessidade de diminuir a reincidência
da prática de violência, tendo em vista que estes poderão voltar
ao lar e continuar a ter relação de convivência com as vítimas.

Outra questão importante avaliada pelo estudo foi a questão do uso e


abuso de drogas, considerado por muitos como o gatilho da violência.

De acordo com o estudo, a maioria (68%) não se identificou como de-


pendente químico. No entanto, 32% dos homens que passaram pelos
grupos se assumem dependentes.

Dependência química

32%

68%

Sim Não

Fonte: Adaptado de NAMVID (2012 apud VERAS; SILVA, 2018).

O estudo alerta que “as drogas são substâncias que, em regra, inibem a
razão e, assim, podem potencializar a violência” (VERAS; SILVA, 2018, p. 55).

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A faixa etária de idade dos agressores adultos, entre 25 e 59 anos de


idade, corresponde a 95% do total de pessoas participantes do projeto,
enquanto jovens de até 24 anos são de apenas 5%.

Idade dos participantes

4% 5%

91%

Idoso Jovem até 24 anos Adulto

Fonte: Adaptado de NAMVID (2012 apud VERAS; SILVA, 2018).

Analfabetos correspondem a 6%; pessoas de baixa esco-


laridade correspondem a 52%; e 42% têm ensino médio
ou ensino superior, o que pode apontar para uma ausência
de interferência do grau de escolaridade para o cometi-
mento de violência contra as mulheres. Ou seja, ao falar
sobre educação nos grupos reflexivos, a proposta deve
levar em conta a educação sobre aspectos culturais de
respeito e convivência.

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Escolaridade dos participantes

42%
52%

6%

Ensino fundamental Não alfabetizados

Ensino médio ou
ensino superior

Fonte: Adaptado de NAMVID (2012 apud VERAS; SILVA, 2018).

Sobre o trabalho, questão essencial de análise, haja vista a conexão nas re-
lações afetivas entre poder derivado da atividade laborativa realizada pelo
homem e a submissão da mulher em razão de dependência econômica,
o estudo afirma que 86% desempenham algum tipo de atividade laboral,
12% não recebem qualquer tipo de renda e 2% são aposentados.

Não foi informado quantas das mulheres que foram vítimas da violência
praticada por homens no convívio familiar trabalham, mas o estudo
aponta que:

“Tais dados apenas reforçam a ideia bastante prolatada neste tra-


balho sobre as relações desiguais de gênero que culminam no uso
e abuso de poder, além do controle das esferas públicas e privadas,
demarcando os espaços como pertencentes a determinado gênero em
detrimento do outro, estabelecendo, assim, seus estereótipos, o que,
por vezes, perpetua a violência, haja vista ser constituída enquanto

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expressão das relações desiguais entre os gêneros, pelas quais se


afirma a superioridade do gênero masculino, provedor e mantenedor
da família, em contraponto ao feminino, dependente, comumente
detentor apenas do espaço privado da casa, sob o jugo e domínio
do seu provedor.” (NAMVID, 2012 apud VERAS; SILVA, 2018, p. 57).

Ocupação dos participantes

2%
12%

86%

Trabalha Não possui renda Aposentado

Fonte: Adaptado de NAMVID (2012 apud VERAS; SILVA, 2018).

Sobre a identificação do tipo de vínculo, quase metade


dos homens se encontra em relação estável, reforçando
a tese de que a maior parte dos casos de violência ocorre
dentro de casa, fomentada em função da hierarquização
entre gêneros.

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Estado civil

16%

33%

24%

27%

Casado Separado Solteiro União estável

Fonte: Adaptado de NAMVID (2012 apud VERAS; SILVA, 2018).

Portanto, o perfil do homem agressor é composto por pessoas


com relacionamento estável, com idade entre 25 e 29 anos de
idade, que trabalham e que tiveram no mínimo a educação básica.

Sobre os dados analisados de forma geral, identifica-se o cenário e o


perfil das pessoas que podem ser submetidas ao processo de grupos
reflexivos, que tenham por objetivo estimular mudanças que promovam
igualdade de direitos entre homens e mulheres, rompendo o ciclo da
violência doméstica.

SAIBA MAIS

Para aprofundar o estudo sobre gênero e violência, acesse a tese


de doutorado de Érica Verícia Canuto de Oliveira Veras, intitulada
“A masculinidade no banco dos réus: um estudo sobre gê-
nero, sistema de justiça penal e a aplicação da Lei Maria da
Penha”, disponível em: https://repositorio.ufrn.br/jspui/bits-
tream/123456789/26639/1/Masculinidadebancor%c3%a9us_
Veras_2018.pdf.

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UNIDADE 2

Grupos reflexivos
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2. GRUPOS REFLEXIVOS

A violência contra a mulher ou a qualquer outro componente do grupo de


gênero pressupõe a aplicação de sanção pelo ato praticado. No entanto,
como já mencionado, tal violência advém de um processo histórico-cul-
tural baseado em educação machista, que promove a discriminação das
mulheres e o desrespeito de seus direitos em função da desigualdade
de gênero.

Dessa forma, a resposta para o ato violento pressupõe a aplicação da lei


para sanar a violência por meio de coerção punitiva, mas, para a mudança
de comportamento, a punição somente não basta, sendo necessária a
aplicação de metodologia que induza a pessoa a refletir e criar um outro
significado sobre a relação entre homem e mulher.

Nesse sentido, surge a perspectiva de aplicação de metodologias de


tratamento e acompanhamento psicossocial para o agressor, além de
submetê-lo à participação de grupos de apoio.

Assim, os grupos reflexivos surgem com a natureza de educar ou


reeducar as pessoas através do estímulo de mudanças compor-
tamentais, do conhecimento sobre igualdade de direitos entre
homens e mulheres, da consciência sobre as consequências dos
atos violentos e da promoção da convivência com base no respeito.

Fonte: Coordenadoria Estadual da mulher em situação de violência doméstica e familiar do Tribunal de


Justiça do Rio Grande do Sul (2023).

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2.1 Conceito de grupos reflexivos


Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher são
encontros de grupos de pessoas para a promoção da discussão sobre
padrões de comportamentos, na busca do desenvolvimento de uma
nova abordagem que faça sentido para a transformação individual.

Andrade (2014), posicionando-se sobre as características e objetivos dos


grupos reflexivos na especialidade sobre a qual comentamos, afirma:

“O grupo para homens autores de violência contra a mulher é um


modelo de investigação grupal que deve ter por objetivo provocar a
desconstrução e a mudança dos padrões naturalizados de gênero,
violência de gênero e de masculinidade hegemônica. Nesses grupos,
espera-se, por um lado, destacar e desconstruir a ideologia patriarcal/
machista e, por outro, apresentar e possibilitar a construção individual
e coletiva de processos de socialização que têm como referência a
equidade de gênero e a formação de novas masculinidades.” (AN-
DRADE, 2014, p. 181).

O objetivo do grupo reflexivo, portanto, é trazer a consciência dos atos


cometidos pelos agressores, trabalhando diversos temas para provocar
o estímulo das mudanças, gerar conhecimento e promover relações
com base no respeito.

Foto: © [fizkes] / Shutterstock.

Segundo Araújo (2009 apud MOREIRA; TOMAZ, 2019), durante as in-


tervenções do grupo é necessário lembrar que, apesar de ele não possuir
caráter punitivo, a responsabilização pelos atos que foram praticados é
extremamente necessária. Todavia, não cabe ao grupo reflexivo o poder
de julgamento, pois este é feito durante o decorrer do processo judicial.

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INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
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Cabe ao grupo reflexivo somente a psicoeducação e a provocação da


reflexão sobre os atos de cada um dos participantes, com o propósito
de perceberem e entenderem suas responsabilidades diante das ações
que os levaram ao grupo.

De acordo com Acosta, Andrade Filho e Bronz (2004), a contribuição dos


grupos reflexivos no enfrentamento da violência consiste na promoção de
diálogos entre os componentes, favorecendo a compreensão sobre situ-
ações de violência e a construção de relações de gênero mais equitativas.

Esses autores esclarecem que o diferencial dos grupos reflexivos,


em comparação a outros tipos de atendimento em grupo, reside
na realização de ações reflexivas em um espaço interativo em que
os homens compartilham suas dores, temores e o silêncio sobre
a sua vida pública e privada. O grupo reflexivo funciona, portanto,
como um espaço acolhedor e facilitador de mudanças por meio
do diálogo e do compartilhamento de vivências e experiências
entre homens que viveram situações semelhantes.

Nesse sentido, as ações reflexivas compõem-se de espaço participativo


entre os homens que compartilham os seus porquês e justificam suas
dores e experiências que os levaram à prática da violência. As informações
são acolhidas e tratadas com técnica e facilitadas por meio de diálogo.
E o resultado é a geração de conhecimento e mudança de cultura para
uma convivência pacífica e de respeito.

QR CODE

Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet)


no QR Code ao lado para assistir ao vídeo sobre a contribuição dos
grupos reflexivos no enfrentamento da violência contra mulher,
ou acesse o link: https://youtu.be/EXV07OB0Oow.

2.2 Contexto jurídico dos grupos reflexivos


A Lei Maria da Penha (Lei n° 11.340/2006) é o grande marco da regula-
mentação da proteção dos direitos das mulheres, sendo considerada uma
das três leis mais avançadas sobre o direito das mulheres no mundo pelo
Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (UNIFEM).

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INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA

Maria da Penha ficou paraplégica depois de ter levado um tiro nas costas
enquanto dormia.
Foto: © [Jarbas Oliveira] / Nações Unidas Brasil.

Antes, contudo, a violência contra a mulher era tratada no âmbito


da Lei n° 9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais),
nos casos em que o crime fosse considerado de menor potencial ofensivo,
a pena mínima não ultrapassasse um ano e pudesse ocorrer a substi-
tuição condicional no processo ou a transação penal. A proposta dessa
lei era a rápida solução dos conflitos, pronta entrega da resposta jurídica
e aplicação imediata da pena não privativa de liberdade.

O fato é que a lei dos juizados especiais, considerada um avanço jurí-


dico para os crimes de menor potencial ofensivo, não funcionou para
as questões de violência contra as mulheres e gerava uma sensação de
banalização da violência e de impunidade do agressor, pois, no âmbito
do processo penal, este poderia livrar-se do problema sem que tivesse
havido a discussão da punibilidade.

Essa sensação de despreocupação e insegurança causada à vítima acar-


retou a criação da Lei Maria da Penha, que proibiu a utilização da lei
dos juizados especiais para as questões de violência contra a mulher,
nos termos de seu art. 41.

MÓDULO 4 | Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher 25


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA

“Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar


contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica
a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.” (BRASIL, 2006).

Contudo, a lei apresenta a violência doméstica em cinco categorias:

“Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher,


entre outras:

I – a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda


sua integridade ou saúde corporal;

II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que


lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou
controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante
ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento,
vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,
violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação
do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à
saúde psicológica e à autodeterminação;

III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a cons-


tranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não
desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força;
que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua
sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou
que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição,
mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite
ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV – a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta


que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de
seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens,
valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a
satisfazer suas necessidades;

V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure


calúnia, difamação ou injúria.” (BRASIL, 2006).

MÓDULO 4 | Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher 26


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA

Nesse contexto, a definição da violência doméstica e familiar contra a


mulher compreende não só a violência física, mas também a violência
psicológica, sexual, patrimonial e moral, e inova ainda mais, quando
permite que, para o combate à violência, sejam realizadas ações de
recuperação e reeducação do agressor, com o fomento da criação de
centros de atendimento.

​​Para isso, o art. 35 da referida lei prevê a possibilidade


de criação e promoção de centros de educação e de
reabilitação para os agressores, além de rede de apoio
para as mulheres vítimas de violência. Vejamos.

“Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão


criar e promover, no limite das respectivas competências:

I – centros de atendimento integral e multidisciplinar para mulheres e


respectivos dependentes em situação de violência doméstica e familiar;

II – casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores


em situação de violência doméstica e familiar;

III – delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de saúde e


centros de perícia médico-legal especializados no atendimento à
mulher em situação de violência doméstica e familiar;

IV – programas e campanhas de enfrentamento da violência do-


méstica e familiar;

V – centros de educação e de reabilitação para os agressores.” (BRASIL,


2006).

O legislador, quando da elaboração da Lei Maria da Penha, não só endu-


receu as condições legais sobre o crime contra as mulheres, mas também
estabeleceu a possibilidade de tratamento e a obrigatoriedade, por de-
terminação do juiz, do comparecimento do agressor nos programas de
recuperação e reeducação.

MÓDULO 4 | Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher 27


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA

Sendo assim, o art. 45 acrescentou o parágrafo único ao art. 152, da Lei


de Execução Penal (Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984): “nos casos de
violência doméstica contra a mulher, o juiz poderá determinar o compare-
cimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação”
(BRASIL, 1984).

Gaulia et al. (2012 apud MOREIRA; TOMAZ, 2019) acrescentam que

“[...] com a intenção de atender ao cumprimento da medida judicial


presente no art. 45 da Lei nº 11.340/2006, que permite ao juiz de-
terminar o comparecimento obrigatório dos homens agressores aos
programas de recuperação e reeducação, existem alguns princípios
com a finalidade de nortear o grupo reflexivo, como por exemplo a
responsabilização dos atos em aspectos legais, culturais e sociais, a
discussão sobre a igualdade e respeito da diversidade de gênero, a
garantia dos direitos universais, a promoção e o fortalecimento da
cidadania, e o respeito aos direitos e deveres individuais e coletivos.”
(GAULIA et al. 2012 apud MOREIRA; TOMAZ, 2019, p. 6).

Com efeito, a obrigatoriedade do comparecimento em grupos refle-


xivos é medida útil ao processo de reeducação do agressor, haja vista a
possibilidade que se cria no sentido de impedir o avanço da violência
contra as mulheres.

Para Freitas e Cabrera (2011), esses trabalhos com os homens permitem


que eles tenham consciência de seus atos e pensem em formas alter-
nativas de agir em seu contexto familiar, deixando a violência de lado.

Fonte: Adaptado de © [pikisuperstar] / Freepik.

MÓDULO 4 | Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher 28


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA

Por fim, como visto, a Lei Maria da Penha trouxe uma nova perspectiva
sobre o tratamento da violência contra as mulheres, acenando para a
necessidade da proteção da vítima e inovando com a criação de espaços
de atenção e acolhimento, nos quais se prevê a realização de programas
de recuperação e reeducação do agressor.

SAIBA MAIS

Para enriquecer os estudos sobre violência contra as mulheres


no contexto familiar, acesse a live “Justiça Restaurativa no Con-
texto da Violência Doméstica”, realizada pelo Ministério Público
do Estado do Pará, disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=loNgA3weRyk.

2.3 Metodologia de acompanhamento


A metodologia de aplicação e acompanhamento de grupos reflexivos no
contexto da violência contra a mulher varia na literatura e é realizada de
acordo com a proposta do aplicador, seguindo regras básicas e intuitivas
sobre mudança de cultura, educação e diálogo, com técnicas apropriadas
e em espaço adequado.

Neste curso, o norteador para o estudo e aplicação prática de como realizar


um grupo de reflexão para homens autores de violência é o Manual de
Gestão para as Alternativas Penais (2020, p. 186-192), proposto pelo De-
partamento Penitenciário Nacional em parceria com o Conselho Nacional
de Justiça e PNUD Brasil – United Nations Development Programme.

2.3.1 Órgão fomentador e executor


Os grupos de responsabilização podem ter iniciativa comunitária ou
governamental. O mais indicado é que, mesmo se tratando de execução
de medida obrigatória, sejam realizados fora do ambiente judiciário.

Caso não haja Central Integrada de Alternativa Penal na Comarca, o Judici-


ário poderá desenvolver parceria com instituições especialistas em gênero
para o desenvolvimento dos grupos reflexivos.

MÓDULO 4 | Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher 29


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FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA

​Deve-se salientar que atualmente é o órgão federal


de políticas penais, vinculado ao Ministério da Justiça
e Segurança Pública, que fomenta a implantação de
centrais por meio de repasse de recursos financeiros
aos estados da Federação.

2.3.2 Caráter consensual ou obrigatório


Os homens encaminhados pelo sistema de Justiça como medida protetiva
ou pena restritiva de direito terão participação compulsória.

Outros homens poderão ser convidados a participar dos grupos, de maneira


consensual e não judicial, encaminhados e/ou sensibilizados em outros
contextos sociais e comunitários.

Para os grupos com mulheres, estas serão sensibilizadas a participar de


maneira voluntária.

MÓDULO 4 | Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher 30


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA

2.3.3 Modelos teóricos ou conceituais


A realização dos grupos deverá considerar os seguintes elementos,
que deverão ser desenvolvidos e aprofundados em capacitações e
estudos periódicos das equipes:

a) Perspectiva de gênero, prevenção à violência contra a mulher,


masculinidades e violências.

b) Responsabilização: o trabalho com homens autores de violência


deve pautar a capacidade de mudança e responsabilização frente
aos conflitos e violências, marcando a autonomia do homem
quanto à sua escolha a partir de amplas possibilidades de agir
frente ao conflito com uma mulher.

c) Autonomia e empoderamento da mulher: deve-se abordar, tanto


nos grupos com homens quanto nos grupos com as mulheres,
a autonomia, a liberdade, a dignidade e a integridade da mulher,
bem como a afirmação e o respeito aos seus direitos e decisões.

d) Integração à Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher.

e) Integração à rede de inclusão social: vulnerabilidades sociais


devem fomentar o encaminhamento para outros serviços e polí-
ticas de proteção social, em conformidade com demandas espe-
cíficas (álcool, drogas, questões relacionadas à saúde mental etc.),
sem que sirvam para justificar a violência contra a mulher ou inter-
romper a participação do homem no grupo de responsabilização,
considerando que são problemas autônomos e independentes.

f) Enfoque nas dimensões centrais para o uso da violência pelos


homens: abordagens que permitam entender a complexidade
do fenômeno da violência exercida pelos homens a partir de fa-
tores múltiplos socioculturais, relacionais e pessoais (cognitivos,
emocionais e de comportamento).

MÓDULO 4 | Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher 31


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FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA

2.3.4 Capacidade e qualificação da equipe de profissionais


Os grupos devem ser conduzidos por profissionais preferencialmente
das áreas das Ciências Humanas, com qualificação, especialização ou
trajetória na perspectiva de gênero, teorias de masculinidades, conhe-
cimentos e sensibilidade.

A equipe deve ainda contar com supervisões e assessoramento per-


manentes e adequados. É indicado que a central realize parcerias com
instituições da sociedade civil especialistas em gênero, aptas técnica e
metodologicamente a desenvolverem os grupos reflexivos.

2.3.5 Controle da qualidade, documentação e avaliação do programa


A avaliação do programa é parte integrante do processo de realização
de grupos reflexivos, uma vez que, a partir do registro documental e
do controle da qualidade da atividade, é possível empregar melhor os
recursos da metodologia reflexiva para a solução de conflitos baseados
na mudança de cultura.

Portanto, o controle pode ser realizado pelo registro documental que


permita a avaliação, bem como por meio de indicadores e metas que
medirão a qualidade do programa.

2.3.6 Observação do formato e do tempo adequado de intervenção


O serviço pressupõe encontros/intervenções grupais, podendo incluir
atendimentos individuais frente a demandas específicas apresentadas
pelos homens.

​​ Quanto ao número de encontros, o ideal é a participação


em 16 a 20 encontros, com periodicidade semanal e
duração de 2 horas para cada.

Deve-se contar com a participação mínima de 8 pessoas e máxima


de 20, para que a metodologia seja funcional.

BOAS PRÁTICAS

Deve-se construir horários de grupos alternativos, que não pre-


judiquem a rotina de trabalho das pessoas, principalmente com
grupos realizados à noite e aos finais de semana.

MÓDULO 4 | Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher 32


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Esses aspectos devem ser alinhados previamente em juízo, uma vez que
devem constar na ata da decisão de forma expressa.

QR CODE

Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet)


no QR Code ao lado para assistir ao vídeo de animação sobre o
formato e o tempo adequado de intervenção para o serviço dos
grupos reflexivos, ou acesse o link: https://youtu.be/S7i2CqsrPFA.

2.3.7 Papel dos facilitadores


Facilitador(a) é a pessoa que promove a realização do grupo, e essa ter-
minologia marca uma posição menos hierárquica desse(a) profissional
na condução do encontro.

BOAS PRÁTICAS

O grupo não tem formato de palestra, formação, aula, terapia,


assistência ou punição. Assim, o facilitador não deve assumir uma
postura de professor, pedagogo, terapeuta ou outras posturas
que cristalizem uma distância marcada por relações de poder,
mas deve ter a capacidade de promover círculos dialógicos e
dialéticos, com caráter reflexivo.

O
​ ideal é que os grupos contem com a facilitação de dois
profissionais, e recomenda-se que sejam uma mulher
e um homem para grupos com homens, para que se
possa também ressignificar as representações sobre o
gênero a partir da condução dos facilitadores.

​​Nos grupos para mulheres, recomenda-se que sejam


duas facilitadoras mulheres, uma vez que, devido à
vulnerabilidade de algumas mulheres em função das
violências sofridas, algumas não se sentem confortáveis
com a condução por homens.

MÓDULO 4 | Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher 33


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FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA

2.3.8 Formato dos grupos


Os grupos podem ter o formato aberto, fechado ou misto. A seguir,
é possível compreender como funciona cada um deles.

Grupo aberto: considera-se grupo aberto aquele que é contínuo e agrega


novos homens. Assim, haverá homens encerrando a participação en-
quanto também se incluem novos participantes.

As instituições que atuam com esse formato destacam a importância dessa


metodologia porque os homens com algum tempo de participação estarão
menos resistentes à abordagem, muitos já terão aderido à metodologia,
entendendo seu propósito e seus resultados, e ajudarão a acolher novos
participantes, que normalmente chegam resistentes à participação.

BOAS PRÁTICAS

Pode-se sugerir a um participante mais antigo que acolha um


novato, dando-lhe as boas-vindas e explicando os acordos de
participação e metodologia. Percebe-se que há menor resistência
no acolhimento quando o novo integrante é acolhido por um outro
que ele considera em situação semelhante à sua.

Quando um grupo se inicia com todos os homens em um mesmo


momento, pode-se demorar mais para a aderência dos integrantes,
uma vez que os homens tendem a formar “pactos” de resistência,
buscando dificultar o trabalho.

Grupo fechado: é aquele que se inicia e termina com os mesmos partici-


pantes. Esse formato contribui para a formação de uma identidade grupal;
porém, é mais aconselhável para grupos de mulheres, uma vez que o
sentimento de pertencimento, afeto e acolhimento promovido por um
grupo fixo contribui para o fortalecimento e empoderamento da mulher.
É diferente dos grupos de homens, onde o grupo fechado pode levar à
pactuação de resistências e sedimentação de comportamentos e lide-
ranças que dificultam processos de responsabilização, ressignificação e
quebra de resistências.

Grupo misto: é um grupo que se inicia aberto, acolhendo novos inte-


grantes até determinado encontro e então se torna um grupo fechado.

MÓDULO 4 | Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher 34


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2.3.9 Intervisão
A intervisão vai permitir o trabalho em equipe, com o desenvolvimento
da autoaprendizagem, do autoconhecimento e do desenvolvimento
qualitativo do grupo.

Assim, é necessário que, ao menos quinzenalmente, ocorram encontros


entre os profissionais que facilitam grupos para estudos de caso, troca
de experiências, capacitações e orientações metodológicas.

Nesses encontros, pode-se convidar outros atores da rede para discutir


casos, de acordo com as demandas.

2.3.10 Incidentes
São incidentes de execução quaisquer situações que interfiram no
cumprimento regular da medida, por exemplo: cumprimento irregular,
suspensão do cumprimento e descumprimento.

2.3.11 Cumprimento
O último encontro no grupo deve ser um momento de avaliação de cada
homem perante os demais participantes, o que demanda aos facilitadores
estarem atentos ao fim do cumprimento de cada um dos integrantes,
promovendo esse rito de desligamento.

2.3.12 Retorno ao grupo


Alguns homens podem querer retornar aos grupos em cenários dife-
rentes, por exemplo, depois de encerrada a medida judicial ou mesmo
com a interrupção do cumprimento. Leia a seguir sobre as possibilidades
de retorno ao grupo.

PODCAST

Pode acontecer de o homem querer continuar no grupo


mesmo encerrada a medida judicial, o que deverá ser avaliado
pelos facilitadores.

Acontecem também casos em que o homem retorna à instituição


tempos depois do término ou da interrupção do cumprimento,
querendo retomá-lo em busca de novas orientações/diálogos
em decorrência de novas circunstâncias. Deve-se acolher esses
casos e buscar construir a melhor solução.

MÓDULO 4 | Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher 35


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA

No caso de haver sido comunicado o descumprimento, deve-se


buscar informações atualizadas do caso junto ao processo e à
rede de proteção, orientando o homem a se apresentar no juizado
ou vara para regularizar a sua situação judicial.

2.3.13 Pesquisas e avaliação de efetividade


É importante que sejam promovidos alguns encontros voluntários com
os homens após o encerramento do grupo, para que seja possível per-
ceber os seus efeitos.

​​
Indica-se a realização de encontros trimestrais por um
ano ou semestrais por dois anos. Além disso, as experi-
ências devem buscar meios de realizar pesquisas quanti/
qualitativas em relação à sua prática, com instituições
externas e autônomas.

2.3.14 Temas e estratégias do grupo reflexivo


Se você chegou até aqui, lembra que a aplicação de grupos reflexivos tem
como premissa a identificação da igualdade de direitos entre gêneros
por parte do indivíduo e sua autorresponsabilidade na conscientização
de questões de violência contra as mulheres.

O tratamento do agressor na perspectiva dos grupos reflexivos, como dito,


pressupõe a realização de intervenções grupais, com a realização de 16
a 20 encontros, com periodicidade semanal, duração de 2 horas cada e
participação de 8 a 20 pessoas.

Aproveitando-se dos estudos aplicados por Prates (2013), em experiência


de aplicação de grupos reflexivos para homens autores de violência,
foram definidos temas e estratégias para discussão em 16 encontros
grupais, de forma que, em momentos pontuais, foram abordadas
questões que corriqueiramente motivam ou são consequências de
agressões às mulheres.

A proposta de Prates pode servir de exemplo para o início da prática


de grupos reflexivos, pois constitui ferramentas testadas, cujo mo-
delo descreve o momento da realização de determinada abordagem.
No entanto, é importante registrar que, dos 16 encontros, somente 11
foram documentados, o que cria uma lacuna na estratégia aplicada sobre
quais ações foram realizadas nos encontros não documentados.

MÓDULO 4 | Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher 36


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA

Mesmo assim, o modelo desenvolvido reflete estratégias importantes,


permitindo, inclusive, a abertura de oportunidade para adequações,
a depender das necessidades identificadas pelos facilitadores.

Portanto, no encontro 1, os facilitadores podem realizar uma ava-


liação do indivíduo para identificação de vulnerabilidades que possam
ter contribuído para o cometimento do ato de violência, no sen-
tido de encaminhá-lo a serviços sociais que possam impactar no
desenvolvimento dessa pessoa.

É nesse momento que a abordagem alcança o comprometimento do


indivíduo para participação nos grupos reflexivos como alternativa ou
complementação do cumprimento de medida aplicada no âmbito do
processo criminal.

A partir do encontro 2 – primeiro encontro grupal –, faz-se a primeira


discussão sobre a temática, proporcionando ambiente de escuta,
acolhimento e esclarecimento sobre os objetivos do grupo.

Nos encontros 3, 7, 12 e 13, podem ser realizadas atividades de continui-


dade dos encontros anteriores ou a inserção de outros temas de discussão
que reforcem o processo de autorresponsabilização e cura do indivíduo
pelo processo de reflexão e mudança de cultura.

No quadro de Prates, sugerimos atividades que complementam aquelas


apontadas pela autora, entretanto a proposta apresenta a realização de
atividades para grupos fechados, mas que podem ser adaptadas para
grupos abertos ou mistos.

Quanto aos encontros documentados, salientamos que se trata de suges-


tões que podem ser alteradas pelos facilitadores, desde que a proposta
metodológica seja mantida.

Por fim, como proposta de iniciação dos trabalhos com grupos reflexivos,
apesenta-se o quadro de Prates (2013, p. 95), com adaptações para
complementação de atividades para os encontros não documentados.

MÓDULO 4 | Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher 37


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA

Temas e estratégias de grupos reflexivos

Encontro Temas Estratégias


• Identificação de
vulnerabilidades que possam ter
contribuído para a violência;
1 • Avaliação individual. • Encaminhamento para a rede
de atenção à pessoa e
compromisso para realização
dos encontros.

• Justiça e LMP;
• Escuta;
2
• Implicações sobre a suspensão do processo;
• Acolhimento;
• Percepções sobre o papel da mulher na violência;
• Esclarecimentos.
• Sentidos atribuídos à participação no grupo.

3 • Comunicação não violenta e relações de poder;


• Saúde mental: álcool e outras drogas.
• Discussão em grupo.

4 • Família (pensão alimentícia);


• Conflitos e resolução de conflitos.
• Discussão em grupo.

• Gênero e violência;

5
• Implicações sobre a suspensão do processo;
• Discussão em grupo.
• Percepções sobre o papel da mulher na violência;
• Sentidos atribuídos à participação no grupo.

• Gênero e violência;

6
• Justiça e LMP;
• Discussão em grupo.
• Percepções sobre o papel da mulher na violência;
• Sentidos atribuídos à participação no grupo.

7 • Masculinidades;
• Gênero e violência de gênero.
• Discussão em grupo.

• Gênero e violência; • Filme “Fale sem Medo”


(percepção da necessidade
8 • Justiça e LMP;
• Percepções sobre o papel da mulher na violência;
de discutir paternidade);
• Discussão de
• Sentidos atribuídos à participação no grupo. caso real (borracheiro).

• Gênero e violência; • Discussão em grupo


• Família (paternidade); direcionada para a questão
9 • Implicações sobre a suspensão do processo;
• Sentidos atribuídos à participação
da paternidade –
demanda percebida no
no grupo (direitos). encontro anterior.

• Gênero e violência;

10
• Propaganda Axe;
• Percepções sobre o papel da mulher na violência;
• Filme “Homem com H”.
• Sentidos atribuídos à participação no grupo.

• Gênero e violência;

11
• Implicações sobre a suspensão do processo;
• Filme “Fale sem Medo”.
• Percepções sobre o papel da mulher na violência;
• Sentidos atribuídos à participação no grupo.

12
MÓDULO 4 | Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a medos
• Relacionamentos, mulhere afetos. • Discussão em grupo. 38
• Gênero e violência; • Discussão em grupo
• Família (paternidade); direcionada para a questão
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 9 • Implicações sobre a suspensão do processo; da paternidade –
demanda percebida no
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA• Sentidos atribuídos à participação encontro anterior.
no grupo (direitos).
Temas e estratégias de grupos reflexivos
• Gênero e violência;

10
• Propaganda Axe;
• Percepções sobre o papel da mulher na violência;
• Filme “Homem com H”.
• Sentidos atribuídos à participação no grupo.
Encontro Temas Estratégias
• Identificação de
• Gênero e violência; vulnerabilidades que possam ter

11
• Implicações sobre a suspensão do processo; contribuído para a violência;
1 •• Percepções sobre o papel da mulher na violência;
Avaliação individual.
• Sentidos atribuídos à participação no grupo.
• Filme “Fale sem Medo”.
• Encaminhamento para a rede
de atenção à pessoa e
compromisso para realização
dos encontros.

12 • Relacionamentos, medos e afetos.


• Justiça e LMP;
• Discussão em grupo.
• Escuta;
2
• Implicações sobre a suspensão do processo;
• Acolhimento;

13
• Percepções sobre o papel da mulher na violência;
Responsabilização;
•• Esclarecimentos.
Discussão em grupo.
• Sentidos
Direitos, deveres e dignidade
atribuídos humana.
à participação no grupo.

3 Comunicação
• Gênero
Saúde mental:
• Família
não violenta e relações de poder;
e violência;
álcool e outras drogas.
(paternidade);
• Discussão em grupo.
• Trabalho em grupo –
14
• Justiça e LMP; cartazes com figuras de
• Implicações sobre a suspensão do processo; homens e mulheres.

4
• Percepções sobrealimentícia);
Família (pensão o papel da mulher na violência;
• Discussão em grupo.
• Sentidos
Conflitos atribuídos
e resoluçãoà de
participação
conflitos. no grupo.

• Gênero e violência
GêneroeeLMP;
• Justiça violência;

15
5
• Implicações sobre a suspensão do processo;
• Percepções sobre o papel da mulher na violência;
• Filme “Jim em
Discussão é assim”.
grupo.

• Sentidos atribuídos à participação no grupo.

• Gênero e violência;
• Homens e saúde;
6
• Justiça e LMP;
• Autoconhecimento; • Discussão em grupo.

16
• Percepções sobre o papel da mulher na violência;
• Crenças e valores; • Discussão em grupo.
• Sentidos atribuídos à participação no grupo.
• Autorresponsabilização;
• Avaliação.

7 • Masculinidades;
• Gênero e violência de gênero.
• Discussão em grupo.
Fonte: Adaptado de Prates (2013).
• Gênero e violência; • Filme “Fale sem Medo”
(percepção da necessidade
8
Veja a seguir uma retomada dos principais pontos
• Justiça e LMP;
• Percepções sobre o papel da mulher na violência;
destepaternidade);
de discutir módulo.
• Discussão de
• Sentidos atribuídos à participação no grupo. caso real (borracheiro).

MÓDULO 4 | Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher 39


SÍNTESE DO MÓDULO

Neste módulo vimos que gênero é uma forma de regulamentação so-


cial na medida em que produz e molda o comportamento e os corpos
dos sujeitos, e abordamos alguns dados que ajudam a compreender e
identificar o perfil de homens agressores de acordo com o estudo do
Ministério Público.

Além disso, aprendemos o que são os grupos reflexivos, quais são suas
finalidades e falamos sobre seu contexto jurídico. Foi apresentada uma
metodologia de acompanhamento desses grupos de acordo com o
Manual de Gestão para as Alternativas Penais, abordando o formato
e o tempo adequado dos grupos, o caráter consensual ou obrigatório
destes, algumas orientações teóricas, o papel dos facilitadores e alguns
temas acompanhados de estratégias para a aplicação das intervenções.

Você finalizou o Módulo 4!


Esperamos que o curso tenha sido proveitoso para o desenvolvimento do
seu conhecimento sobre Justiça Restaurativa.

40
REFERÊNCIAS

ACOSTA, F.; ANDRADE FILHO, A.; BRONZ, A. Conversas homem a


homem: grupo reflexivo de gênero – metodologia. Rio de Janeiro: Ins-
tituto NOOS, 2004.

AMADO, R. M. Os serviços de educação e responsabilização para homens


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em Faculdade de Economia) – Universidade de Coimbra, Coimbra, 2014.

ANDRADE, L. F. Grupos de homens e homens em grupos: novas dimen-


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BRASIL. Departamento Penitenciário Nacional. Manual de gestão para as


alternativas penais. Conselho Nacional de Justiça, Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento; LANFREDI, L. G. S. et al. (coord.). Brasília,
DF: Conselho Nacional de Justiça, 2020. Disponível em: https://www.cnj.
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