Você está na página 1de 60

Introdução à JUSTIÇA RESTAURATIVA:

fundamentos básicos para uma


nova visão da justiça

MÓDULO 2

Prática em Justiça Restaurativa


EXPEDIENTE

GOVERNO FEDERAL Revisão Textual


Supervisão: Cleusa Iracema Pereira Raimundo
Presidente da República Victor Rocha Freire Silva
Luiz Inácio Lula da Silva Vivianne Oliveira Rodrigues
Vice-Presidente da República
Design Instrucional
Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho
Supervisão: Milene Silva de Castro
Ministro da Justiça e Segurança Pública Joyce Regina Borges
Flávio Dino de Castro e Costa Julia Dias Lopes
Larissa Usanovich de Menezes
Secretário da Secretaria Nacional de Políticas Penais – SENAPPEN
Rafael Velasco Brandani Design Gráfico
Supervisão: Mary Vonni Meürer de Lima
Diretora da Escola Nacional de Serviços Penais – ESPEN
Cleber da Luz Monteiro
Stephane Silva de Araújo
Giovana Aparecida dos Santos
Chefe da Divisão de Educação a Distância Guilherme Comerão Stecca Almeida
Haynara Jocely Lima de Almeida Julia Morato Leite Lucas
Nicole Alves Guglielmetti
Equipe ESPEN PRONASCI Renata Cristina Gonçalves
Ademir Santos da Silva Sonia Trois
Diógenes Gonçalves Bem Tiago Augusto Paiva
Eberson Trindade Rodrigues
Leonardo Conceição Cruz Programação
Maria de Fátima de Souza Moreno Supervisão: Alexandre Dal Fabbro
Luan Rodrigo Silva Costa
Luiz Eduardo Pizzinatto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Audiovisual
Coordenação Geral
Supervisão: Rafael Poletto Dutra
Luciano Patrício Souza de Castro
Angie Luiza Moreira de Oliveira
Financeiro Arthur Pereira Neves
Fernando Machado Wolf Daniele de Castro
Dilney Carvalho da Silva
Consultoria Técnica EaD Kimberly Araujo Lazzarin
Giovana Schuelter Marcelo Vinícius Netto Spillere
Marília Gabriela Salomao Dauer
Coordenação de Produção Rodrigo Humaitá Witte
Francielli Schuelter
Apresentação
Coordenação de AVEA Áureo Mafra de Moraes
Andreia Mara Fiala
Conteúdo
Carlos André dos Santos Pereira

Todo o conteúdo do curso Introdução à Justiça Restaurativa: fundamentos básicos para uma nova visão da
justiça, da Secretaria Nacional de Políticas Penais do Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo
federal – 2023, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição - Não Comercial - Sem
BY NC ND Derivações 4.0 Internacional. Para visualizar uma cópia desta licença, acesse: https://creativecommons.org/
licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR.
ESCLARECIMENTO

A partir de 1º de janeiro de 2023, o Departamento Penitenciário Nacional


(DEPEN) passou a ser denominado Secretaria Nacional de Políticas Penais
(SENAPPEN), instituída pelo Art. 59 da Medida Provisória nº 1.154; porém,
devido ao fato de o material deste curso ter sido produzido antes da vigência
da referida medida provisória, há conteúdos em que a atual SENAPPEN
é mencionada como DEPEN. É possível, ainda, que outros órgãos gover-
namentais federais citados nos materiais, como ministérios, secretarias
e departamentos, disponham de uma nova estrutura regimental e uma
nova nomenclatura e sejam mencionados de maneira diferente da atual.
SUMÁRIO

Apresentação................................................................................................................................................. 7
Objetivos do módulo 8

Unidade 1: Prática de Justiça Restaurativa.....................................................10


1.1 Trocando as lentes  10

1.2 O que é a prática restaurativa? 13

1.3 Abolicionismo ou impunidade 15

Unidade 2: Metas e indicadores da Justiça Restaurativa............ 17


2.1 Objetivos dos programas de Justiça Restaurativa 17

2.2 Passos necessários para atingir as metas 18

2.3 Indicadores da Justiça Restaurativa 18

Unidade 3: Pessoas envolvidas em práticas restaurativas........ 21


3.1 Vítima 21

3.2 Ofensor 23

3.3 Comunidade 24

3.4 Facilitador 25
SUMÁRIO

Unidade 4: Metodologia.............................................................................................................. 28
4.1 Responsabilidades do Poder Executivo estadual 29

4.2 Responsabilidades do Poder Executivo municipal 30

4.3 Encaminhamento pelo Poder Judiciário 30

Unidade 5: Fases metodológicas.....................................................................................34


5.1 Encaminhamentos e relação com o Poder Judiciário 34

5.2 Acolhimento de pessoas junto ao programa 35

5.3 Preparação 36

5.4 Pré-encontro 37

5.5 Encontro 39

5.6 Construção do acordo 41

5.7 Encaminhamentos 43

5.8 Acompanhamento 43

Unidade 6: Tipos de práticas de Justiça Restaurativa ...................46


6.1 Círculos 46

6.2 Conferências de grupos familiares 49

6.3 Mediação vítima-ofensor-comunidade (MVO) 51


SUMÁRIO

Unidade 7: Grau de efetividade de uma


prática restaurativa.........................................................................................................................54

Síntese do Módulo�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������57

Referências��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 58
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

APRESENTAÇÃO

Olá, cursista!

Seja bem-vindo(a) ao segundo módulo.

A visão trazida pelo processo da Justiça Restaurativa implica a quebra do


paradigma de como devemos enxergar o conflito no âmbito criminal,
de modo a apresentar uma nova forma de resolução de problemas por vias
diversas das impostas pelas leis e pelos códigos, mas sem desconsiderar,
por óbvio, o modelo tradicional.

O novo paradigma não exclui a aplicação do modelo vigente, mas sugere


que pode conviver com este no tempo e espaço.

A proposta, portanto, é disponibilizar uma experiência de tratamento


penal por uma via alternativa, valorizando o aspecto restaurador em
detrimento do rigor retributivo.

Por fim, numa sociedade eivada de altos índices de violência, em que


o modelo tradicional de Justiça não dá conta de minimizar tais índices,
o estudo continuado no Módulo 2 tem o objetivo de trazer a prática
restaurativa como modelo viável de solução de conflitos.

Na sequência do estudo, portanto, será possível um aprendizado gradual


sobre como se pratica a Justiça Restaurativa, consoante uma abordagem
sobre a necessidade da troca das lentes sob o significado da aplicação
de um novo olhar acerca da responsabilização criminal.

Na Unidade 1, será abordado o conceito de prática de Justiça Restaurativa


frente ao posicionamento normativo, avançando sobre a questão da
distinção entre abolicionismo penal e impunidade.

Na Unidade 2, a estratégia é demonstrar os objetivos dos programas de


Justiça Restaurativa a partir da indicação de metas e princípios/indicadores
que norteiam a prática restaurativa.

Falar de prática de Justiça Restaurativa impõe o desvendamento de


todas as partes envolvidas no processo, assim sendo, na Unidade 3,
oferece-se o desdobramento conceitual e a importância de cada
ator no processo restaurador.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 7


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

Na unidade seguinte, enfim, será demonstrada a metodologia de execução


da Justiça Restaurativa, a partir do apontamento dos responsáveis pela
indução da prática, bem como de toda fase metodológica.

Na Unidade 6, é chegada a hora da realização efetiva do programa de


Justiça Restaurativa, portanto, não só haverá a demonstração do que é
uma prática, mas de como se deve realizá-la.

E por fim, na última unidade, ocorrerá a exposição acerca do grau de


efetividades da prática de Justiça Restaurativa para a reparação do dano
com a cura da vítima e a responsabilização do ofensor por meios não
tradicionais ao processo de punição e responsabilização criminal adotado
como regra no sistema brasileiro.

Vamos aos estudos!

Objetivos do módulo

• Demonstrar como se pratica a Justiça Restaurativa, fazendo entender


quem são os atores envolvidos e os caminhos a seguir.

• Promover habilidades para o desenvolvimento e a aplicação da Justiça


Restaurativa e da cultura da paz.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 8


UNIDADE 1

Prática de Justiça Restaurativa


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

1. PRÁTICA DE JUSTIÇA RESTAURATIVA

Vamos lá!

Para se praticar a Justiça Restaurativa, será preciso trocar as lentes. Isso significa
pensar novas formas de resolver conflitos, desfazer-se de preconceitos
e julgamentos, e promover a cultura da paz incessantemente.

Em busca da aplicação de um modelo restaurativo, é necessário ressaltar


a importância das pessoas envolvidas na qualificação do ofensor, ou seja,
vítima, família, comunidade e sociedade de modo geral.

Cabe ao Estado a criação e a manutenção de uma estrutura na qual as


pessoas possam elaborar, dialogar e transformar suas controvérsias, seus
conflitos e suas relações, garantindo os direitos constitucionais de todas
as pessoas envolvidas e considerando também os interesses coletivos.

1.1 Trocando as lentes


A vítima de um processo é o foco inicial da proposta de utilização
da Justiça Restaurativa para a solução de conflitos. Por outro lado,
a responsabilidade pelo dano e a obrigação de corrigi-lo deve ser assu-
mida pelo ofensor que, nesse âmbito, não é enxergado como criminoso
estigmatizado, mas protagonista da cultura da paz.

É preciso ressaltar a importância da atuação da comunidade nesse pro-


cesso em busca da reparação dos danos, da restauração de relaciona-
mentos e do fortalecimento da própria comunidade.

No livro “Trocando as lentes”, Howard Zehr nos convida a enxergar o crime


de forma diferente, sem distorções e para além dos modelos de Justiça
tradicional, mostrando novos modelos e caminhos a explorar.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 10


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

Fonte: Palas Athena.

Para o autor, o gatilho para a mudança de pensamento sobre como ver


o conflito deu-se quando ele estava diante de um julgamento, em que
seu vizinho de dezoito anos passava por um processo criminal por ter
molestado a filha da vizinha, que não o queria preso, por entender que,
se fosse, se tornaria mais uma vítima.

Howard, ao ser questionado pelo juiz sobre como poderia ajudar a so-
lucionar o conflito, começou analisando sob o ponto de vista da Justiça
tradicional, justificando que seu pensamento começou a mudar, pois o
quadro mental permitiu a definição de como ele deveria interpretar os
acontecimentos, quais fatores eram relevantes, as reações, entre outros
aspectos, e concluiu que a lente através da qual enxergamos determina o
modo como configuraremos o problema e a solução. Vejamos o seguinte
relato adaptado do referido livro do autor:

PODCAST

O meu vizinho, um rapaz de dezoito anos, ia ser sentenciado.


Ele se declarou culpado de molestar uma menina, sua vizinha.
A mãe dela, porém, me pediu para ajudar, pois não queria que o
rapaz fosse para a cadeia. Ela sabia que lá ele se tornaria também
uma vítima. Ela só queria que o mau comportamento parasse.
“Se fosse outro, eu o quereria preso, mas sei que Ted só pre-
cisa de ajuda”. Ele já incomodou outras crianças antes, inclu-
sive as minhas filhas, relatou a mãe da vítima. “Vou postergar

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 11


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

esse sentenciamento”, disse-me o juiz. “Francamente, Howard,


não sei o que fazer. Quem sabe você pode me dar uma mão”.
Por onde começar em casos como esse? Eu comecei enquadrando
o caso da maneira convencional. Ele desobedeceu a lei. O que
prevê a lei? O que deve o juiz ordenar? Então me lembrei de tudo
que estive escrevendo e o meu quadro mental começou a mudar.
O quadro mental faz muita diferença. Como interpretaremos os
acontecimentos? Quais os fatores relevantes? Que reações são
possíveis e apropriadas? A lente através da qual enxergamos de-
termina o modo como configuraremos o problema e a “solução”
(ZEHR, 2008, p. 7).

Como foi exposto no Módulo 1, a contraposição entre Justiça Retributiva


e Justiça Restaurativa justifica a necessidade de se trocar as lentes na
análise de conflitos.

Em complemento ao que foi tratado no módulo anterior, utilizamo-nos


da fala de Zerh (2008, p. 12) para mencionar que:

“[...] a lente retributiva se concentra basicamente [...] nas dimensões


sociais. E o faz tornando a comunidade algo abstrato e impessoal.
A justiça retributiva define o Estado como vítima, define o compor-
tamento danoso como violação de regras e considera irrelevante o
relacionamento entre vítima e ofensor. Os crimes, portanto, estão em
outra categoria, separados dos outros tipos de dano.

A lente restaurativa identifica as pessoas como vítimas e reconhece a


centralidade das dimensões interpessoais. As ofensas são definidas
como danos pessoais e como relacionamentos interpessoais. O crime
é uma violação de pessoas e relacionamentos.” (ZERH, 2008, p. 12).

Nesse sentido, para iniciarmos os estudos para a realização da prática


restaurativa, será necessário trocar as lentes e desvelar preconceitos e
estigmas que acompanham a sociedade em função da cultura do retri-
bucionismo punitivo.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 12


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

1.2 O que é a prática restaurativa?


Mas o que vem a ser a prática restaurativa e como se aplica esse modelo?

Para introduzir o termo prática restaurativa como modo


de fazer a justiça, apoiamo-nos na Resolução CNJ
225/2016, que diz:

“Art. 1º. [...]

§ 1º Para efeitos desta Resolução, considera-se:

I - Prática Restaurativa: Forma diferenciada de tratar as situações


citadas no caput e incisos deste artigo.” (CNJ, 2016).

O artigo 1º, incisos I, II e III, traz o conceito de Justiça Restaurativa,


já apresentado no Módulo 1, que define a participação do ofensor e dos
demais envolvidos no fato danoso, bem como o modo de operação das
práticas restaurativas.

Nesse sentido, a prática restaurativa está permeada pelo processo


restaurativo, podendo ser entendida como qualquer técnica ou
ferramenta a ser utilizada dentro de um processo restaurativo
objetivando resultados de solução de conflitos estruturados no
instituto da Justiça Restaurativa.

Mas não é só. No inciso II, a resolução especifica o que vem a ser o pro-
cedimento restaurativo, que trata do conjunto de atividades e etapas
a serem promovidas objetivando a composição das situações a que se
refere o caput daquele artigo. A resolução também define o que vem a
ser o procedimento restaurativo, seus casos de aplicação, a sessão res-
taurativa e os elementos que compõem o enfoque restaurativo. Vejamos:

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 13


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

“Art. 1º. [...]

§ 1º [...]

II – Procedimento Restaurativo: conjunto de atividades e etapas a


serem promovidas objetivando a composição das situações a que
se refere o caput deste artigo;

III – Caso: quaisquer das situações elencadas no caput deste artigo,


apresentadas para solução por intermédio de práticas restaurativas;

IV – Sessão Restaurativa: todo e qualquer encontro, inclusive os pre-


paratórios ou de acompanhamento, entre as pessoas diretamente
envolvidas nos fatos a que se refere o caput deste artigo;

V – Enfoque Restaurativo: abordagem diferenciada das situações


descritas no caput deste artigo, ou dos contextos a elas relacionados,
compreendendo os seguintes elementos:

a) participação dos envolvidos, das famílias e das comunidades;

b) atenção às necessidades legítimas da vítima e do ofensor;

c) reparação dos danos sofridos;

d) compartilhamento de responsabilidades e obrigações entre ofensor,


vítima, famílias e comunidade para superação das causas e conse-
quências do ocorrido.” (CNJ, 2016).

Não menos importante, a menção feita no §2º do artigo 1º da Resolução


225/2016 estabelece que, em síntese, a aplicação de procedimento
restaurativo pode ocorrer de forma alternativa ou concorrente com o
processo convencional.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 14


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

1.3 Abolicionismo ou impunidade


Não se confunde Justiça Restaurativa e abolicionismo penal, assim como
uma não é substitutiva ou excludente da outra. A Justiça tradicional e a
Justiça Restaurativa podem conviver perfeitamente no espaço e no tempo.

O fato é que a Justiça tradicional é majoritariamente aplicada, ao passo


que a Justiça Restaurativa é vista como condição complementar.
Ou seja, a aplicação da metodologia pacificadora não exclui nem afasta
a aplicação da metodologia tradicional.

Portanto, a sanção penal com o caráter retributivo continuará a ser


aplicada pelo Poder Judiciário na medida em que se mostrar necessária
e adequada.

Por outro lado, a Justiça Restaurativa permitirá que, além da aplicação


da medida tradicional, se instaure um processo restaurativo que busque
a instauração da paz.

Portanto, não há que se falar em impunidade ou abolicionismo no processo


restaurativo, pois o objetivo é resolver conflitos de forma diferenciada e
pacífica, com a participação do ofensor no que tange ao reconhecimento
das consequências causadas pelo dano cometido, bem como oportunizar
a valorização e o interesse real da vítima no processo.

QR CODE

Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet)


no QR Code ao lado para assistir ao vídeo que elucida essa pos-
sível confusão entre Justiça Restaurativa e abolicionismo penal,
ou acesse o link: https://youtu.be/ZGwm_DOKovk.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 15


UNIDADE 2

Metas e indicadores da
Justiça Restaurativa
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

2. METAS E INDICADORES DA JUSTIÇA RESTAURATIVA

Nesta unidade, falaremos sobre os objetivos dos programas de Justiça


Restaurativa, o que é necessário para atingir tais metas e quais são os
indicadores da Justiça Restaurativa.

2.1 Objetivos dos programas de Justiça Restaurativa


Susan Sharpe, no “Manual Restorative Justice: A Vision for Healing and
Chage” (1998) (Justiça Restaurativa: uma visão para a cura e a mudança),
citada por Zehr (2015, p. 54), resume os objetivos dos programas de
Justiça Restaurativa.

Objetivos dos programas de Justiça Restaurativa

Reduzir a probabilidade
de ofensas futuras.

Fazer da justiça um processo


curativo e transformador.

Colocar as decisões nas mãos daqueles


que forem mais afetados pelo crime.

Ora, o objetivo da medida restaurativa é propor o que pode ser feito


para corrigir a situação em vez de simplesmente infligir a punição ao
causador do dano.

BOAS PRÁTICAS

Ou seja, em vez de definir a justiça como retribuição do mal cau-


sado por alguém, dever-se-ia defini-la como a restauração que
possibilita a reparação da lesão, de maneira que o foco seja o
ato lesivo, e não a pessoa.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 17


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

2.2 Passos necessários para atingir as metas


Meta é o marco que indica o objeto que se deseja alcançar. No caso da
Justiça Restaurativa, o que se busca é a solução do conflito pelas pes-
soas que realmente têm interesse, mas por meios que proporcionem a
verdadeira sensação de justiça. Dessa forma, confira o que é necessário
para atingir as metas da Justiça Restaurativa:

• Que as vítimas estejam inseridas no processo e saiam satisfeitas.


• Que os ofensores compreendam como suas ações afetam outras pessoas.
• Que o resultado do processo ajude a reparar danos.
• Que a vítima e o autor cheguem a uma sensação de resolução do
problema e sejam reintegrados à comunidade.

É importante mencionar que, a depender do dano, jamais será possível


retornar ao ponto anterior, mas pode haver a oportunidade de alcançar a
compreensão do dano pelo ofensor e a satisfação deste com o resultado
do acordo, na busca pela paz social e integração à comunidade, por meio
de uma convivência harmônica.

2.3 Indicadores da Justiça Restaurativa


A definição das metas possibilita a sua visualização por princípios ou
indicadores que avaliarão os programas de Justiça Restaurativa, no sen-
tido de buscar as respostas às situações específicas, consoante a sua
motivação de existência (ZERH, 2015).

Os dez indicadores a seguir são úteis para que se possa projetar ou avaliar
os programas de Justiça Restaurativa, de modo que se possam conceber
as respostas almejadas, vejamos a seguir.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 18


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA
Indicadores da Justiça Restaurativa

1 Foco nos danos e não nas leis.

2 Preocupação igual para vítima e ofensor no processo


de fazer justiça.

3 Trabalhar na recuperação da vítima, empoderando-a.

4 Apoiar os ofensores e encorajá-los a cumprir obrigações.

5 Reconhecer que as obrigações não são impostas como castigo.

6 Oferecer oportunidade de diálogo direta ou indiretamente.

7 Desenvolver a comunidade e tratar as causas.

8 Estimular a colaboração e a reintegração entre vítima e ofensor.

9 Dar atenção às consequências não intencionais e indesejadas


das ações e programas de Justiça Restaurativa.

10 Mostrar respeito por todas as partes.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 19


UNIDADE 3

Pessoas envolvidas em
práticas restaurativas
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

3. PESSOAS ENVOLVIDAS EM PRÁTICAS RESTAURATIVAS

As práticas restaurativas pressupõem a participação da vítima, do ofensor,


da comunidade e do facilitador.

Vítima, ofensor e facilitador são personagens necessárias no processo da


prática restaurativa. Já a comunidade, embora sua participação possa ser
importante, a depender do caso, nem sempre estará presente no processo.

3.1 Vítima
Em relação à vítima, Zehr (2015) destaca a preocupação com as necessi-
dades das vítimas de atos ilícitos, que por vezes se sentem negligenciadas
pelo sistema de Justiça criminal, pois o crime como definição jurídica é
visto como uma ofensa ao Estado, excluindo a vítima desse processo.

Diante da maneira como se vê o crime, considerando a sua definição


jurídica, quatro são as necessidades que parecem estar negligenciadas:

Informação: a vítima precisa ter informações reais e en-


tender o quê, como, por que aconteceu e o que ocorreu
depois; e ela quer ser informada sobre o processo.

Fala: a vítima sente a necessidade de contar a his-


tória àqueles que causaram o dano, com o obje-
tivo de fazê-los entender o impacto das suas ações.
Nesse processo, a vítima quer que a sua fala seja impor-
tante para a condução do processo de solução do conflito.

Empoderamento: em geral, as vítimas sentem que o fato


danoso as privou do controle sobre suas propriedades,
seus corpos, suas emoções, seus sonhos, seus bens;
portanto, envolvê-las num processo de resolução significa
devolver a sensação de poder.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 21


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

Restituição patrimonial: a restituição patrimonial por


parte daquele que causou o dano constitui elemento
importante. Todavia, nem sempre a restituição poderá
ser integral, devido às condições financeiras do ofensor,
mas, mesmo que seja parcial, o importante é que seja estabelecida con-
siderando-se o justo e possível frente a cada caso e de acordo com o
desejo de superação pelos envolvidos. O importante é que aquele que
causou o dano faça um esforço para corrigir o mal, assumindo a respon-
sabilidade e deixando às claras que a vítima não tem culpa do ocorrido.

A Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimas da


Criminalidade e de Abuso de Poder, adotada em 1985 pela Assembleia
Geral das Nações Unidas, reforça a necessidade de atenção às vítimas.
Essa declaração dispõe sobre a necessidade de adoção de medidas que
visem o reconhecimento dos direitos das vítimas e se empenha nos
seguintes pontos:

a. Aplicar medidas nos domínios da assistência social, da saúde (incluindo


a saúde mental), da educação e da economia, bem como medidas es-
peciais de prevenção criminal para reduzir a vitimização e promover a
ajuda às vítimas em situação de carência.

b. Incentivar os esforços coletivos e a participação dos cidadãos na


prevenção do crime.

c. Examinar regularmente a legislação e as práticas existentes, a fim de


assegurar a respectiva adaptação à evolução das situações, e adotar e
aplicar legislação que proíba atos contrários às normas internacionalmente
reconhecidas no âmbito dos direitos humanos, do comportamento das
empresas e de outros atos de abuso de poder.

d. Estabelecer e reforçar os meios necessários à investigação, à prosse-


cução e à condenação dos culpados da prática de crimes.

e. Promover a divulgação de informações que permitam aos cidadãos


a fiscalização da conduta dos funcionários e das empresas e promover
outros meios de acolher as preocupações dos cidadãos.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 22


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

f. Incentivar o respeito dos códigos de conduta e das normas éticas, e,


nomeadamente, das normas internacionais, por parte dos funcionários,
incluindo o pessoal encarregado da aplicação das leis, o dos serviços
penitenciários, o dos serviços médicos e sociais e o das forças armadas,
bem como por parte do pessoal das empresas comerciais.

g. Proibir as práticas e os procedimentos susceptíveis de favorecer os


abusos, tais como o uso de locais secretos de detenção e a detenção
em situação incomunicável.

h. Colaborar com os outros estados, no quadro de acordos de auxílio


judiciário e administrativo, em domínios como o da investigação e o da
prossecução penal dos delinquentes, da sua extradição e da penhora
dos seus bens para os fins de indenização às vítimas.

3.2 Ofensor
A Justiça Restaurativa reservou para o ofensor o segundo lugar em pre-
ocupação, pois é preciso assegurar que este assuma a responsabilidade
pelo dano causado.

O sistema tradicional busca assegurar a punição, mas dificilmente esti-


mula a compreensão das consequências de seus atos.

BOAS PRÁTICAS

É importante que não se crie um ambiente adversarial, em que o


ofensor, na defesa de seus interesses, não reconheça a sua res-
ponsabilidade por medo da aplicação de penas longas.

De acordo com Zehr (2015), para um processo restaurativo pleno, é preciso


considerar as necessidades dos ofensores com as seguintes sugestões:

• Responsabilização que repare os danos, estimule a empatia e trans-


forme a sensação de vergonha pelo cometimento do ato.

• Estímulo para a experiência e a transformação pessoal em busca da


cura dos males que contribuíram para o comportamento lesivo.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 23


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

• Estímulo para a reintegração à sociedade, considerando a superação


de comportamentos lesivos, oportunidades de tratamentos para de-
pendências químicas ou de outros problemas e o aprimoramento de
competências pessoais.

• Para alguns, detenção, mesmo que temporária.


3.3 Comunidade
A comunidade sofre com o impacto do crime; portanto, em muitos
casos, deve ser considerada como parte interessada, na condição de
vítima secundária.

PODCAST

A participação da comunidade, como prevê o “Manual de Gestão


para as Alternativas Penais” (BRASIL, 2020), pode ocorrer na
prática restaurativa de forma:

i) Direta – integrando os encontros com as pessoas envolvidas


no caso.

ii) Indireta – via interlocução estabelecida pelos facilitadores


em outros momentos que não no encontro com as pessoas en-
volvidas em cada caso.

Segundo o manual, a participação da comunidade pressupõe,


sobretudo, um entendimento sobre as relações conflituosas, indo
além de uma perspectiva meramente individual ou relacional.

É importante pontuar, a partir das informações trazidas, que a


participação da comunidade permite o alcance da responsabi-
lização do ofensor, considerando elementos culturais, sociais
e estruturantes do envolvimento da rede para a construção da
solução dos conflitos.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 24


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

3.4 Facilitador
Para a aplicação da prática e das técnicas restaurativas, a figura do faci-
litador exerce um papel peculiar no processo, pois demanda do sujeito
uma capacidade de empatia, equilíbrio e comunicação que estimulem
a composição entre vítima e ofensor.

BOAS PRÁTICAS

No exercício da atividade, o facilitador deve dispor de escuta ativa


e comunicação assertiva, demonstrando conhecimento e sensi-
bilidade quanto ao problema apresentado pelos participantes.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 25


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

Para Maria Petronela Boonen, “a pessoa do facilitador é vista como uma


das mais valiosas chaves para um procedimento exitoso da restauração,
ao mesmo tempo em que pode ser o ponto de muitas armadilhas ca-
pazes de corroer o mesmo” (BOONEN, 2011, p. 47). Ainda segundo a
autora, o facilitador deve:

“[...] colocar-se no segundo plano para que os principais sujeitos do


procedimento ocupem suas posições de destaque, uma vez que são eles
que vão saber encontrar a melhor saída para o caso, pois é seu caso.
Esta postura, de certa forma humilde, no sentido de assumir o que
se é – um humano ao lado e com posição igual ao outro –, pede que
os facilitadores tenham clareza de sua posição e de seus interesses.”
(BOONEN, 2011, p. 47).

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 26


UNIDADE 4

Metodologia
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

4. METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste curso se baseia no “Manual de Gestão


para as Alternativas Penais”, proposto pelo Departamento Penitenciário
Nacional, por meio de parceria com o PNUD Brasil – United Nations
Development Programme (Programa de Desenvolvimento das Nações
Unidas), e republicado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

A metodologia propõe a condução das práticas restaurativas a serem


implementadas nas Centrais Integradas de Alternativas Penais ou a partir
de iniciativas de outras instituições comunitárias que desenvolvam tais
práticas, utilizando o modelo a seguir.

De acordo com o manual (BRASIL, 2020, p. 114), o Sistema de Justiça


deverá considerar os seguintes elementos para aderir a um programa de
Justiça Restaurativa desenvolvido pela política de alternativas penais ou
por um programa comunitário de Justiça Restaurativa:

Orientar-se pela Resolução 2002/2012 da ONU e pela


Resolução 225/2016 do CNJ.

Em casos em que programas específicos de Justiça Res-


taurativa são desenvolvidos de forma autônoma na co-
munidade ou por iniciativa do Poder Executivo, deverá
ser firmado Termo de Cooperação, com detalhamento
dos fluxos a serem seguidos quanto ao encaminhamento, à capacidade
de atendimento, às metodologias, aos instrumentos de trabalho etc.

O encaminhamento deverá ser feito em fase inicial do


processo, e a instauração do procedimento de Justiça Res-
taurativa somente será efetivada a partir de escuta qua-
lificada das partes pelas equipes do projeto, respeitada
a faculdade de as pessoas aceitarem voluntariamente o procedimento;
caso contrário, sendo desejo de quaisquer delas, em fase ainda inicial
ou em qualquer fase do procedimento, este poderá ser interrompido
para dar-se seguimento ao curso do processo penal, sem qualquer
ônus por essa decisão.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 28


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

Adequações e/ou alterações no acordo estabelecido


pelas pessoas no procedimento de Justiça Restaura-
tiva somente poderão ser feitas pelo Poder Judiciário,
excepcionalmente, se o acordo claramente ferir direitos
humanos fundamentais e a partir de diálogo efetivo com a equipe que
conduziu o procedimento, para que a discussão sobre o caso concreto
oriente a melhor solução, sobretudo respeitando a autonomia e garan-
tindo a participação efetiva das pessoas na solução do problema.

4.1 Responsabilidades do Poder Executivo estadual


O Estado deve ser o principal fomentador da Justiça Restaurativa, que se
dará por meio da instituição de órgão executor das alternativas penais
no estado, à qual caberão a gestão, a articulação e a execução da política
em nível estadual, o fomento de instâncias de participação das polí-
ticas intersetoriais, bem como a participação ativa da sociedade civil na
concepção, no acompanhamento e na avaliação do programa.

Nesse momento da implantação é preciso dar atenção à estruturação


do projeto de Justiça Restaurativa, com equipe qualificada, número de
profissionais adequados, saberes especializados e direitos trabalhistas
assegurados, bem como garantir a interdisciplinaridade como método
de trabalho no acompanhamento das práticas restaurativas.

As atividades de Justiça Restaurativa devem considerar as diretrizes


da política nacional de alternativas penais, principalmente no que diz
respeito ao modelo de gestão e às orientações metodológicas, além
de buscar formas de financiamento para melhor qualificar as ações,
com recursos próprios e de parcerias.

Todas as atividades de Justiça Restaurativa devem conter a caracte-


rização de participação voluntária, bem como deve o Estado propor
a construção de redes de apoio junto aos serviços sociais da União,
dos estados e dos municípios.

QR CODE

Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet)


no QR Code ao lado para assistir ao vídeo sobre as responsabili-
dades do Poder Executivo estadual em relação à Justiça Restau-
rativa, ou acesse o link: https://youtu.be/5U7_YO6N0jM.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 29


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

4.2 Responsabilidades do Poder Executivo municipal


O município deve assegurar a disponibilização dos serviços da rede pú-
blica municipal e, em conjunto, propor a articulação com organizações
da sociedade civil, visando ampliar e complementar a rede de serviços.

Também deve propor e instituir mecanismos de partici-


pação social nas ações de Justiça Restaurativa.

4.3 Encaminhamento pelo Poder Judiciário


As metodologias trazidas pelo “Manual de Gestão para as Alternativas
Penais” (BRASIL, 2020) propõem a forma de encaminhamento dos casos
de Justiça Restaurativa ao Poder Judiciário, veja a seguir.

Verificar se já existem tais projetos implantados em sua comarca,


inclusive no âmbito de atuação das Centrais Integradas
de Alternativas Penais.

Estabelecer parceria com o projeto de Justiça Restaurativa e/ou


Centrais Integradas de Alternativas Penais, estabelecendo os fluxos
de encaminhamento e metodologias que serão desenvolvidos.

Triagem dos casos por equipe capacitada em práticas restaurativas


para encaminhamentos ao projeto de Justiça Restaurativa e/ou
Central Integrada de Alternativas Penais.

Verificar se estão presentes os requisitos jurídicos mínimos


(objetivos e subjetivos), tais como relevância penal do fato,
autoria e materialidade; e, caso esses requisitos não estejam
identificados, que se proceda o arquivamento do processo
penal. Também, se for de interesse das pessoas, que haja
encaminhamento a um projeto de Justiça Restaurativa
comunitário, sem qualquer interveniência do sistema penal.

Suspensão do processo penal até decisão final do caso junto ao


projeto de Justiça Restaurativa e/ou Central Integrada de
Alternativas Penais – orientação adequada às pessoas envolvidas
em cada caso, principalmente quanto a:

a. Voluntariedade de participação em tal procedimento.


b. Sigilo das informações tratadas.
c. Suspensão do processo penal até decisão final do caso na
instância da Justiça Restaurativa.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa Encaminhamento da ata de audiência ao projeto, para que este 30
recepcione as pessoas e dê seguimento à prática restaurativa.
Verificar se estão presentes os requisitos jurídicos mínimos
(objetivos e subjetivos), tais como relevância penal do fato,
autoria e materialidade; e, caso esses requisitos não estejam
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: identificados, que se proceda o arquivamento do processo
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃOpenal.
DA Também, se for de interesse das pessoas, que haja
JUSTIÇA encaminhamento a um projeto de Justiça Restaurativa
comunitário, sem qualquer interveniência do sistema penal.

Suspensão do processo penal até decisão final do caso junto ao


projeto de Justiça Restaurativa e/ou Central Integrada de
Alternativas Penais – orientação adequada às pessoas envolvidas
em cada caso, principalmente quanto a:

a. Voluntariedade de participação em tal procedimento.


b. Sigilo das informações tratadas.
c. Suspensão do processo penal até decisão final do caso na
instância da Justiça Restaurativa.

Encaminhamento da ata de audiência ao projeto, para que este


recepcione as pessoas e dê seguimento à prática restaurativa.

Homologação do acordo estabelecido entre as pessoas,


não cabendo ao juiz a aplicação de condicionalidades extras,
o que feriria e invalidaria a autonomia conferida às pessoas
no procedimento restaurativo.

Para a aplicação efetiva da nova metodologia de responsabilização cri-


minal, é muito importante a sensibilização dos magistrados que atuam
com a Justiça Criminal, propondo o convencimento para a adesão dos
juízes aos programas de Justiça Restaurativa.

Já sobre o projeto de Justiça Restaurativa propriamente dito, a execução


no âmbito municipal, onde exista uma Central Integrada de Alternativas
Penais vinculada ao órgão estadual, poderá compor a central; no entanto,
seguindo metodologia do referido manual (BRASIL, 2020).

Ademais, existindo o projeto no município, este poderá


estabelecer parceria com a central integrada para aten-
dimento dos casos, a partir de entendimento conjunto
com o Sistema de Justiça.

Quando existe a central no município, esta fica incumbida de construir


espaço de diálogo entre os projetos, perseguindo os pontos em comuns,
conforme descritos a seguir:

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 31


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

a. Constituir e participar de redes amplas de atendimento e assistência


social para favorecer o acesso a direitos pelos usuários dos projetos.

b. Promover capacitações, palestras, seminários e cursos sobre Justiça


Restaurativa, a fim de disseminá-la junto à sociedade, buscando agregar
diversos órgãos governamentais e não governamentais.

c. Garantir a coleta, armazenamento e gestão dos dados e das informa-


ções sobre o público, contribuindo com dados estatísticos quantitativos
e qualitativos para estudos, bem como promovendo pesquisas na área.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 32


UNIDADE 5

Fases metodológicas
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

5. FASES METODOLÓGICAS

Desdobrando a metodologia, a seguir iniciam-se as fases metodoló-


gicas, que disciplinarão os pormenores da prática de Justiça Restaurativa.
Logo adiante, poderá ser exercitada a aplicação das técnicas restaurativas
para a composição de conflitos por meios diversos dos da Justiça tradicional.

5.1 Encaminhamentos e relação com o Poder Judiciário


O programa de Justiça Restaurativa, conforme o “Manual de Gestão para
as Alternativas Penais” (BRASIL, 2020), deverá construir com o Judiciário
fluxos ágeis e céleres, além de buscar a realização de reuniões com pe-
riodicidade razoável para discussão de fluxos e casos, incluindo outros
atores do sistema de Justiça e rede parceira no processo.

No tribunal será indicado um(a) técnico(a) de referência de cada órgão


para facilitar o diálogo e os trâmites, e os casos deverão ser encaminhados
da forma descrita a seguir (BRASIL, 2020).

1 Realização de triagem dos casos no âmbito do Poder Judiciário, feita


por equipe qualificada em técnica de Justiça Restaurativa.

2 Prestação de informação clara sobre o programa de Justiça


Restaurativa, endereço e horário de comparecimento.

3 Apresentação das atas de audiências a cada 15 dias.

Também deverá ser feito um relatório mensal para a Vara, com informação
sobre os que compareceram e iniciaram o procedimento.

As metodologias de Justiça Restaurativa devem ser


previamente definidas em fluxos com o sistema de
Justiça, onde o processo penal deverá ser suspenso até
decisão final junto ao programa de Justiça Restaurativa
(BRASIL, 2020).

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 34


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

5.2 Acolhimento de pessoas junto ao programa


A pessoa que será incluída no programa de Justiça Restaurativa é enca-
minhada pelo sistema de Justiça, que realizará a acolhida individualizada,
com informações iniciais sobre o programa, agendamento do início do
processo e encontro com os facilitadores.

Foto: © [YuriArcusPeopleImages] / Freepik.

Essa proposta compõe o “Manual de Gestão para as Alternativas Penais”


(BRASIL, 2020, p. 126), que ensina que, no primeiro comparecimento,
a pessoa será informada de que a outra parte será contatada e que poderá
acontecer um encontro das pessoas envolvidas no caso.

Por se tratar de um primeiro contato com a pessoa, deve-se buscar


identificação geral e visual sobre seu estado emocional, suas condições
sociais e suas relações interpessoais e familiares, com a finalidade de
contribuir para o estabelecimento de uma relação de confiança.

BOAS PRÁTICAS

É primordial no primeiro contato e na execução das atividades


de Justiça Restaurativa que o atendimento promova um espaço
de escuta, e não só de orientação, uma vez que a percepção da
pessoa sobre a capacidade de ser ouvida poderá determinar uma
construção de vínculo que contribua para a quebra de resistências.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 35


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

5.3 Preparação
Na preparação do atendimento, segundo o referido manual (BRASIL,
2020), os facilitadores tomam contato com o caso e constroem o pro-
cedimento a partir dos pontos apresentados no infográfico a seguir.

Processo de preparação do atendimento


feito por facilitadores

1 Realização de leitura das informações preliminares


encaminhadas pelo Judiciário.

2 Conhecimento de quem são as pessoas envolvidas


em cada caso.

3 Identificação acerca da falta de informações relevantes,


antes de contatar as pessoas envolvidas no caso.

4 Verificar se há algum impedimento legal, físico, material,


moral, psíquico etc., que inviabilize o procedimento.

5 Estabelecer a identificação e a individualização das pessoas.

Convite às pessoas, individualmente, para entrevista privada,


6 objetivando a aplicação da prática de Justiça Restaurativa.
O convite deve conter informações suscintas sobre o programa.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 36


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

5.4 Pré-encontro
A fase de pré-encontro é aquela que se realiza a partir de encontros pri-
vativos com as pessoas diretamente envolvidas em cada caso (BRASIL,
2020). Essa fase preza pelos seguintes procedimentos.

Procedimentos da fase de pré-encontro

Realização de um ou quantos encontros


$
1 forem necessários, até que os facilitadores
percebam o momento adequado de realizar
o encontro entre as pessoas.

Cuidado com o primeiro encontro,


informando sobre a voluntariedade do
procedimento, uma vez que uma
orientação inadequada sobre a condução 2
do caso e sobre a participação das pessoas
poderá resultar em desmotivação.

3 Preparação prévia (do facilitador,


do lugar, das pessoas convidadas).

Garantia do estabelecimento de uma


atmosfera agradável e de confiança. 4

$ Comunicação adequada pelos facilitadores


5 (linguagem, tom, clareza, perguntas
apropriadas, receptividade e escuta).

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 37


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

Uma correta apresentação do caso:

a) Como o caso chegou ao programa.

b) Apresentação adequada da prática


restaurativa que será desenvolvida
(etapas, pessoas envolvidas,
tempo do procedimento).
6
c) Voluntariedade da participação.

d) Alcance do acordo e seus efeitos jurídicos.

Controle do método por parte dos facilitadores

7 e construção de uma relação de confiança


(que se deve estabelecer com cada uma das
pessoas em relação ao método).

Obtenção de informações que orientem


os facilitadores na correta condução do
procedimento restaurativo.
8
Verificação com cada uma das pessoas
$ quanto à necessidade e ao desejo de que outras
9 pessoas do seu grupo de apoio (familiares,
amigos, agentes de políticas públicas) sejam
convidadas a participar do caso.

Diálogo sobre as expectativas


de cada pessoa. 10

Depois da realização dos encontros, deve ocorrer a preparação com cada


uma das pessoas envolvidas, considerando os seguintes elementos para
afirmar se é possível seguir com a prática restaurativa:

a. Livre vontade de participação por parte de todos os envolvidos.

b. Se as pessoas envolvidas desejam encontrar-se pessoalmente,


e qual seria a oportunidade e as condições para isso.

c. Se surge a expressão de responsabilização e/ou arrependimento


e vontade/ possibilidade de responsabilizar-se, bem como de
reparar os danos causados.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 38


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

d. Se ambas as partes se mostram dispostas a escutar e expressar


seus pontos de vista.

e. Capacidade de aportar alternativas e propostas para superar


as controvérsias.

f. Ausência de impedimento legal, físico, material, moral, psí-


quico e outros.

5.5 Encontro
Os encontros das pessoas envolvidas são desenvolvidos a partir das
especificidades de cada caso e de cada tipo de prática restaurativa a ser
realizada. No entanto, devem ocorrer tantos encontros quantos forem
necessários para a realização do objetivo.

Os encontros são: círculos; conferências de grupos familiares; mediação


entre vítima, ofensor e comunidade.

O manual (BRASIL, 2020) traz a sugestão na página 128 sobre os ele-


mentos a serem observados.

1) Apresentação das pessoas envolvidas:

a. Facilitadores

b. Pessoas envolvidas no caso

c. Grupos de apoio

2) Apresentação da prática adotada:

a. Suas etapas e características, seus princípios e alcances


e suas consequências legais.

b. Pacto de confidencialidade e acordos de comporta-


mento durante o transcurso do procedimento (respeito
à fala do outro, escuta ativa, evitar agressões, não utilizar

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 39


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

palavras grosseiras, entre outros acordos que foram ou


forem consensuados ou relativos ao método que será
desenvolvido).

c. Tirar dúvidas e esclarecer pontos ainda obscuros sobre


a prática.

3) Exploração do problema:

a. Por meio de perguntas às pessoas envolvidas,


o facilitador começa a construir uma narrativa comum
sobre o caso, buscando sempre sustentar sua fala a partir
do que escuta.

b. O caso que chega ou pode chegar a uma denúncia


penal resulta de uma relação conflitiva anterior, que
tende a resultar em um acontecimento de maior conflito
ou violência. Nesse sentido, através da prática restaura-
tiva, as camadas do conflito são descobertas e revelam
causas anteriores que, em muitos casos, não apareceram
no primeiro relato ou na denúncia penal, e esses ele-
mentos não podem ser desconsiderados.

c. Após a elaboração do caso pelas partes, a partir


de perguntas feitas pelo facilitador, cabe a este rea-
lizar um resumo para melhor compreensão por todos.
Nesse momento, as pessoas envolvidas no caso poderão
complementar e redefinir o problema, buscando um
consenso sobre o caso.

d. A partir da elaboração do problema, os facilitadores


devem seguir as especificidades da prática restaurativa
adotada, com dinâmicas e procedimentos próprios.

e. A partir da elaboração do problema, os facilitadores de-


verão colaborar para a construção das soluções e do acordo.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 40


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

4) Agenda de trabalho:

Em muitos casos, é impossível chegar a um acordo no


primeiro encontro. Então, estabelece-se uma agenda para
o(s) próximo(s) encontro(s). Se for necessário, também
são realizados novos encontros particulares.

Incidentes
Em caso de incidentes, ou seja, qualquer situação que interfira no curso
do procedimento, inclusive o não comparecimento (mais comum de
ocorrer), a equipe deverá averiguar os motivos, justificativas e avaliar os
procedimentos a serem tomados de forma a construir a melhor solução,
como se afirma na página 130 do referido manual (BRASIL, 2020).

5.6 Construção do acordo

O objetivo primordial de todo processo é a construção do acordo, que,


no modelo do “Manual de Gestão para as Alternativas Penais” (BRASIL,
2020), tem as seguintes características:

1. Quando o facilitador percebe que se chegou a uma narrativa comum


e há abertura para a construção de um acordo, deverá solicitar às pes-
soas que façam suas propostas de acordo para uma possível solução do
problema. Cada pessoa deverá falar, primeiramente ouvindo a vítima.
A fala de ambas é importante para caracterizar a disposição de todos na
construção da solução.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 41


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

2. O facilitador não pode descartar ou desaprovar um pedido de acordo


feito por qualquer uma das pessoas. Caso observe que se trata de
um pedido incapaz de gerar consenso ou que possa ferir direitos da
outra pessoa, ou então que seja impossível à outra pessoa cumprir,
deve sempre, por meio de perguntas, solicitar esclarecimentos, buscando
destacar pontos de consenso até que seja possível chegar a um acordo.
As entrevistas individuais são importantes para conhecer as condições
socioeconômica, familiar e habitacional das pessoas, o que dá ao facili-
tador condições de perceber a construção de acordos realistas e possíveis
de serem cumpridos.

3. Definindo-se o acordo, o facilitador deverá tomar nota e ler para ve-


rificar se está de acordo com o estabelecido entre as pessoas, fazendo
as adequações e correções ainda destacadas. O facilitador deve, então,
perguntar às pessoas se querem consultar alguém de confiança e se estão
dispostas a assinar o acordo. Pode acontecer de pedirem a marcação de
um último encontro para a assinatura, para que tenham tempo de pensar
a respeito e consultar pessoas de confiança ou advogados, o que deverá
ser respeitado pelo facilitador.

4. O facilitador deverá redigir o acordo final, com condições, prazos e:

a. Local, data(s) de realização e os dados de todos os participantes,


incluindo os facilitadores.

b. De forma sucinta, os princípios que regem o procedimento.

c. Todos os pontos acordados de maneira clara e precisa, com as


condutas que assumem as pessoas, garantias e consequências frente
ao descumprimento.

d. A forma de acompanhamento do cumprimento, inclusive com marcação


de encontro(s) posterior(es) e/ou contatos telefônicos com as pessoas.

e. A assinatura das partes e de todas as demais pessoas que participaram


do procedimento, incluindo grupos de apoio e facilitadores.

f. Em casos que não cheguem a um acordo, o documento deve conter


apenas os dados dos participantes e a informação de que se instaurou o
procedimento sem que tenha sido possível chegar a um acordo.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 42


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

g. Em caso de não acordo, a ata deve ser sucinta, sem expor sob ne-
nhuma hipótese o que se discutiu ou o(s) motivos(s) pelos quais não se
chegou a um acordo.

5.7 Encaminhamentos
Os encaminhamentos são realizados pela equipe de acordo com as
demandas apresentadas pelas pessoas envolvidas antes, durante ou a
partir dos acordos firmados na Justiça Restaurativa (BRASIL, 2020).

Retorno do caso ao Judiciário


O documento do resultado do procedimento (BRASIL, 2020), cons-
tando o acordo ou o não acordo, deverá ser encaminhado à origem do
processo para:

a. Homologação do acordo pelo Judiciário.

b. Retomada do processo, se for necessário, em caso de não acordo.

Caso os facilitadores considerem importante, pode-se marcar encontro


presencial com o Judiciário para discussão do caso ou de especificidades
em relação ao acordo ou não acordo.

5.8 Acompanhamento
Para o acompanhamento (BRASIL, 2020), e como garantia de cumpri-
mento do acordo estabelecido, deve-se: anexar o acordo junto ao pro-
cesso penal sempre que os casos forem encaminhados pelo Judiciário;
estabelecer contato telefônico ou encontro com as pessoas separada-
mente, para verificar o cumprimento do acordo; em casos em que se
perceba cumprimento parcial ou descumprimento, pode-se buscar rea-
lizar novo encontro entre as pessoas ou separadamente, para reafirmar
o acordo e restabelecer o prazo, caso seja de interesse das pessoas.

Havendo descumprimento do acordo, advindo o caso do sistema de Justiça,


a informação deverá ser anexada no processo, e as pessoas deverão ser
orientadas sobre as possíveis consequências dos descumprimentos, para
que se possa tomar as medidas cabíveis, tais como: seguir com o processo
penal, executar a dívida (se havia pagamento em espécie), entre outras.

Retornos ao programa
Os retornos ao programa serão feitos a partir do passo a passo da prática
restaurativa adotada, com marcação dos encontros estabelecidos de forma
consensual e conforme o desenvolvimento de cada caso (BRASIL, 2020).

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 43


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

Gestão da informação
É fundamental que os documentos de cada caso sejam devidamente
arquivados, garantindo o sigilo e a gestão adequada da informação
(BRASIL, 2020).

QR CODE

Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet)


no QR Code ao lado para assistir ao vídeo sobre o que deve ser
feito durante a fase de acompanhamento dos acordos, ou acesse
esse link: https://youtu.be/24-YYx09M0U.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 44


UNIDADE 6

Tipos de práticas de
Justiça Restaurativa
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

6. TIPOS DE PRÁTICAS DE JUSTIÇA RESTAURATIVA

De acordo com o referido manual, são tipos de práticas restaurativas:


círculos; conferências de grupos familiares; e mediação vítima-ofen-
sor-comunidade (MVO) (BRASIL, 2020). A seguir, vamos conhecer um
pouco mais sobre cada uma delas.

6.1 Círculos

Barton (2000 apud BOONEN, 2011) define o círculo restaura-


tivo como sendo um encontro para discutir um comportamento
errado ou ofensivo entre os principais enredados na questão:
vítima, ofensor e suas respectivas comunidades de suporte.
O foco está nas causas e consequências desse determinado fato
e na busca de uma solução satisfatória, através de uma tomada
de decisão consensual.

Para representar o conceito acima, numa visão ampla de Justiça


Restaurativa, utilizamos o esquema em forma de círculo elaborado por
Zehr (2015). No centro está o foco principal: corrigir os danos e os males.
Nos quadrantes estão os elementos essenciais: focalizar o dano e
as necessidades; abordar as obrigações; envolver os interessados;
e usar processos inclusivos e cooperativos. E na circunferência está
o princípio que permeia a prática da Justiça Restaurativa: o respeito
por todos os envolvidos.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 46


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

todos Re
sp
r eit
po

op
o
eit

or
sp

tod
Re
Focalizando danos Abordando

os
e necessidades as obrigações

Corrigindo
danos e males

Usando processos Envolvendo


inclusivos e os interessados

Res
cooperativos
s
do

pe
o

ito
t
or

p
p or
eito tod
os
p
Res

Esquema de um círculo restaurativo.


Fonte: Adaptado de Zehr (2015).

A representação real seria a seguinte:

Representação real de um círculo restaurativo.


Foto: Banco de imagens da Prefeitura de Praia Grande.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 47


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

Nesse contexto, o modo de operação, conforme o “Manual de Gestão


para as Alternativas Penais” (BRASIL, 2015), é o seguinte:

1. Os participantes devem se sentar em círculo.

2. Um objeto chamado “bastão de fala” é passado ao longo do círculo


por todos os membros do grupo, e tem a fala quem está de posse desse
objeto, garantindo-se, assim, que todos tenham direito à fala.

3. O grupo é iniciado com a construção do círculo a partir de valores que


integram o grupo, como o respeito, a sinceridade e a escuta.

4. São convidados, além das pessoas diretamente envolvidas, familiares,


pessoas de confiança que possam contribuir para a resolução do conflito,
profissionais de políticas públicas relevantes para cada caso, instituições
e pessoas da comunidade.

5. O círculo é realizado a partir da elaboração de questões pelo facilitador,


a serem expressas individualmente pelos integrantes da roda a partir do
movimento circular do bastão de fala.

6. É comum que em cada círculo haja um facilitador, que desenvolverá o


círculo, e um cofacilitador, que poderá fazer anotações importantes das
questões apresentadas pelos participantes para a elaboração do acordo.
Ao final, se houver acordo, os facilitadores devem conduzir o círculo à
construção coletiva de um plano de ação para a reparação dos danos
decorrentes do ato ofensivo.

QR CODE

Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet)


no QR Code ao lado para assistir ao vídeo de animação sobre
como funciona um círculo restaurativo, ou acesse o link: https://
youtu.be/QNqkqJTogYM.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 48


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA
Veja a seguir o desenho de um círculo restaurativo.

Processo e resultado como


responsabilidade de todos

Apoios Facilitador

Parte Parte

Outros Apoios

Desenho de um círculo restaurativo.


Fonte: Adaptado de CDHEP (2014 apud BRASIL, 2020, p. 135).

6.2 Conferências de grupos familiares


De acordo com Pedroso Olegario e Ayres Bourguignon (2021), confe-
rências de grupo familiar são reuniões entre membros de uma família,
da comunidade e da rede de apoio, realizadas para proteger e resguardar
os direitos dos vulneráveis. Para as autoras, a expressão “grupo familiar”
é utilizada de forma ampla, visto que as famílias são plurais, com dife-
rentes configurações e composições.

Nesse sentido, compreende-se família na sua acepção mais ampla:


a comunidade, as pessoas que possuem alguma vinculação afetiva,
alguma identificação cultural, ou ainda as pessoas que possam con-
tribuir de alguma maneira para a construção de um plano de ação.

Já o “Manual de Gestão para as Alternativas Penais”, na página 136,


apresenta o formato das conferências familiares como um modelo que
busca construir uma rede de apoio ao ofensor para que ele assuma a
sua responsabilidade junto à vítima, a seus familiares e a pessoas do seu
vínculo social afetivo, possibilitando também construir estratégias que
respondam às suas necessidades sociais.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 49


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

Processo como
responsabilidade do facilitador

Apoios Facilitador

Parte Parte

Outros Apoios

Resultado como
responsabilidade de todos

Desenho de uma conferência de grupo familiar.


Fonte: Adaptado de CDHP (2014 apud BRASIL, 2020, p. 136).

Nessa prática, como ensina Zehr (2015, p. 66), “temos a ampliação do


círculo básico de participantes, que passa a incluir os familiares ou outras
pessoas significativas para as partes diretamente envolvidas”.

Deve-se salientar que, nesse contexto, participam a família do ofensor


e a do ofendido, e o objetivo é não só responsabilizar o ofensor mas
também fazer com que mude seu comportamento.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 50


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

6.3 Mediação vítima-ofensor-comunidade (MVO)

A mediação entre ofensor e vítima oferece às vítimas uma oportu-


nidade de conhecer os ofensores dentro de um ambiente seguro
e participar de uma discussão ou conversa sobre o crime. Com a
assistência de um mediador treinado, a vítima é capacitada para
falar ao ofensor quais foram os impactos do crime, físicos, emo-
cionais e financeiros, e pode, eventualmente, receber respostas
para perguntas persistentes sobre o crime. “O autor do crime ou
da ofensa, por sua vez, tem a oportunidade de dizer sua história
e assumir sua responsabilidade.” (BOONEN, 2011, p. 34).

A MVO é realizada com a participação da vítima e do ofensor, mas pode


ter a presença de familiares ou da comunidade. Ressalta-se que não ne-
cessariamente os encontros são presenciais, pois a vítima ou o ofensor
podem não desejar. Nesse caso, o encontro presencial entre as pessoas
envolvidas também poderá ser substituído por encontro individual.

VÍTIMA FACILITADOR OFENSOR


Fonte: Petrópolis da Paz (2022).

No entanto, a ocorrência fundamental do pré-encontro, realizada de


forma individualizada com cada parte, possibilita aos mediadores o
entendimento adequado das situações que levaram à necessidade da
mediação para melhor condução dos trabalhos.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 51


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

De acordo com o “Manual de Gestão para as Alternativas Penais” (BRASIL,


2020), a mediação é uma atividade mais aberta do que o círculo, e não
necessariamente requer a presença de familiares, como acontece nas
conferências de círculos familiares. Todavia, é um procedimento que
também segue as diretrizes e os princípios da Justiça Restaurativa.

SAIBA MAIS

Conhecer os instrumentos de trabalho é importante para a apli-


cação da Justiça Restaurativa na prática. Para acessar os modelos
dos documentos de rotina que podem ser utilizados para os
procedimentos e fluxos de trabalho, acesse o “Manual de Gestão
para as Alternativas Penais” e confira as páginas 141 a 153. O do-
cumento está disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/
uploads/2020/09/manual-de-gest%C3%A3o-de-alternativas-
-penais_eletronico.pdf.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 52


UNIDADE 7

Grau de efetividade de
uma prática restaurativa
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

7. GRAU DE EFETIVIDADE DE UMA PRÁTICA RESTAURATIVA

Ficou alguma dúvida sobre a prática de Justiça Restaurativa? Já se ques-


tionou se realmente funciona?

No cenário habitual, em que a resposta a uma ofensa é a punição, enxergar


outras formas de solução de conflito parece muito complexo. No entanto,
a prática restaurativa possibilita um meio mais simples de reparação de
danos, com a cura da vítima e a responsabilização do ofensor.

Dessa forma, para saber se, de fato, a proposta restaurativa é efetiva,


podemos fazer alguns questionamentos próprios no momento da escolha
do modelo a ser aplicado, conforme explica Zehr (2015):

1 O modelo dá conta de danos, necessidades e causas?

2 É adequadamente voltado para a vítima?

3 Os ofensores são estimulados a assumir responsabilidades?

4 Os interessados relevantes estão sendo envolvidos?

5 Há oportunidade para diálogo e decisões participativas?

6 Todas as partes estão sendo respeitadas?

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 54


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

Com a resposta ao questionário-chave mencionado, pode-se identificar o


grau de efetividade do procedimento. Assim, de acordo com Zehr (2015),
é possível medir o grau de efetividade do método:

Totalmente restaurativa

Majoritariamente restaurativa

Parcialmente restaurativa

Potencialmente restaurativa

Pseudo ou não restaurativa

O objetivo demonstrado, a partir das informações acima, é a busca pela


medição da eficiência e eficácia dos modelos de Justiça Restaurativa
aplicados, identificando à medida que vai da pontuação não restaurativa
até a totalmente restaurativa.

Por fim, para sistematizar os tipos e graus de práticas restaurativas, apre-


sentamos o diagrama a seguir.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 55


INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA:
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA
JUSTIÇA

Tipos e graus de práticas de Justiça Restaurativa

Reparações Reconciliação por


às vítimas comunidades de assistência

Serviços às vítimas Círculos de


Serviço a famílias
apoio a vítimas
de transgressores

JUSTIÇA RESTAURATIVA Serviço social


Compensação para as famílias
por crime Círculos Conferências
de paz restaurativas Disciplina
Restituição positiva
Conferências de
às vítimas grupos familiares
Conferências
sem vítimas
Mediação entre
vítima e transgressor
Comunidades
terapêuticas

Serviços comunitários Alguns conselhos


relacionados reparativos

Alguns painéis Treinamento de


de auxílio a jovens sensibilização
para vítimas

Responsabilidade
do transgressor

Totalmente Na maior parte Parcialmente


restaurativas restaurativas restaurativas

Fonte: Adaptado de Bianchini (2012 apud MCCOLD; WACHTEL, 2003 apud BRASIL, 2020, p. 113).

No diagrama, podemos verificar o encontro de planos que se cruzam e


formam uma interseção, de modo a definir o papel de cada ação dentro
da prática de Justiça Restaurativa, revelando aquelas com maior ou menor
potencial restaurativo.

Veja a seguir uma retomada dos principais pontos do nosso estudo.

MÓDULO 2 | Prática em Justiça Restaurativa 56


SÍNTESE DO MÓDULO

Neste módulo, nós aprendemos o que é a prática em Justiça Restaurativa,


considerando a necessidade da troca de lentes para pensar novas formas
de resolver conflitos. Falamos sobre as metas e indicadores da Justiça
Restaurativa, sobre as pessoas envolvidas nesta prática e apresentamos
uma metodologia pontuando as responsabilidades do Poder Executivo
estadual e municipal, bem como as formas de encaminhamentos ao
Poder Judiciário.

Nós aprendemos também sobre a fase de acolhimento de pessoas junto


aos programas de Justiça Restaurativa. Foram apresentadas orientações
para um pré-encontro e encontro com as pessoas envolvidas, para a
construção e acompanhamento dos acordos e para os encaminhamentos.

Por fim, foi possível conhecer os tipos de práticas de Justiça Restaurativa,


como círculos e conferências de grupos familiares, além de aprender
sobre o grau de efetividade dessas práticas.

Você finalizou o Módulo 2!


No próximo módulo, você aprenderá mais sobre a Justiça Restaurativa no
sistema prisional.

57
REFERÊNCIAS

BIANCHINI, E. H. Justiça Restaurativa: um desafio à práxis jurídica. Cam-


pinas: Servanda, 2012.

BOONEN, P. M. A Justiça Restaurativa, um desafio para a educação.


2011. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Univer-
sidade de São Paulo, São Paulo, 2011. Disponível em: https://teses.usp.
br/teses/disponiveis/48/48134/tde-10062011-140344/publico/PETRO-
NELA_MARIA_BOONEN.pdf. Acesso em: 22 out. 2022.

BRASIL. Manual de Gestão para as Alternativas Penais. Brasília, DF:


Conselho Nacional de Justiça, 2020. Disponível em: https://biblioteca-
digital.cnj.jus.br/jspui/handle/123456789/279. Acesso em: 12 fev. 2022.

CARAVELLAS, E. M. C. T. M. Justiça restaurativa. In: LIVIANU, R. (coord.).


Justiça, cidadania e democracia. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de
Pesquisa Social, 2009. p. 120-131. p. 120-131. ISBN 978-85-7982-013-7.

CDHEP – CENTRO DE DIREITOS HUMANOS E EDUCAÇÃO POPULAR


DE CAMPO LIMPO. Prática Restaurativa Conferência do Grupo Familiar.
São Paulo, 2019.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução CNJ 225, de 31 de


maio de 2016. Dispõe sobre a Política Nacional de Justiça Restau-
rativa no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências. Bra-
sília, DF: CNJ, 2016. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/files/reso-
lucao_225_31052016_02062016161414.pdf. Acesso em: 22 dez. 2022.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Seminário de Justiça Restaurativa:


Mapeamento dos Programas de Justiça Restaurativa. Brasília: Conselho
Nacional de Justiça, 2019. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-
-content/uploads/conteudo/arquivo/2019/06/8e6cf55c06c5593974b-
fb8803a8697f3.pdf. Acesso em: 9 dez. 2022.
REFERÊNCIAS

ONU. Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimas


da Criminalidade e de Abuso de Poder. 1985. Disponível em: http://www.
dhnet.org.br/direitos/sip/onu/ajus/prev29.htm. Acesso em: 22 out. 2022.

ONU. Resolução 2002/12. Princípios básicos para utilização de programas


de Justiça Restaurativa em matéria criminal. 2002.

PALLAMOLLA, R. da P. Justiça Restaurativa: da teoria à prática. São Paulo:


IBCCRIM, 2009.

PEDROSO O, M. L.; BOURGUIGNON, J. A. Conferências de grupo familiar:


práticas restaurativas como ferramentas da proteção social. Publicatio
UEPG: Ciências Sociais Aplicadas, [S. l.], v. 29, n. dossiê JR, 2021. Dispo-
nível em: https://revistas.uepg.br/index.php/sociais/article/view/18515.
Acesso em: 5 dez. 2022.

PETRÓPOLIS (Rio de Janeiro). Programa Municipal de Pacificação Res-


taurativa. Centro, Petrópolis, 2022. Disponível em: https://www.petropolis.
rj.gov.br/petropolisdapaz/justica-restaurativa.php. Acesso em: 9 nov. 2022.

ZEHR, H. Justiça Restaurativa. São Paulo: Palas Athena, 2015.

ZEHR, H. Uma lente restaurativa. In: ZEHR, H. Trocando as lentes. São


Paulo: Palas Athena, 2008.

Você também pode gostar