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CONSELHO DA COMUNIDADE

E CONTROLE SOCIAL:
Formação de Conselheiros

MÓDULO 1
Histórico dos Conselhos
da Comunidade
EXPEDIENTE

GOVERNO FEDERAL Revisão Textual


Supervisão: Evillyn Kjellin
Presidente da República Victor Rocha Freire Silva
Luiz Inácio Lula da Silva Vivianne Oliveira Rodrigues
Vice-Presidente da República Design Instrucional
Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho Supervisão: Milene Silva de Castro
Flora Bazzo Schmidt
Ministro da Justiça e Segurança Pública
Gabriel de Melo Cardoso
Enrique Ricardo Lewandowski
Joyce Regina Borges
Secretário da Secretaria Nacional de Políticas Penais– SENAPPEN
Design Gráfico
André de Albuquerque Garcia
Supervisão: Mary Vonni Meürer de Lima
Diretora da Escola Nacional de Serviços Penais – ESPEN Airton Jordani Jardim Filho
Stephane Silva de Araújo Cleber da Luz Monteiro
Giovana Aparecida dos Santos
Equipe ESPEN Guilherme Comerão Stecca Almeida
Haynara Jocely Lima de Almeida Julia Morato Leite Lucas
Renata Cristina Gonçalves
Sonia Trois
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Tiago Augusto Paiva
Coordenação Geral Programação
Luciano Patrício Souza de Castro Supervisão: Alexandre Dal Fabbro
João Pedro Mendonça de Araujo
Financeiro
Luan Rodrigo Silva Costa
Fernando Machado Wolf
Luiz Eduardo Pizzinatto
Consultoria Técnica EaD
Audiovisual
Giovana Schuelter
Supervisão: Rafael Poletto Dutra
Coordenação de Produção Angie Luiza Moreira de Oliveira
Caroline Daufemback Henrique Dilney Carvalho da Silva
Francielli Schuelter Eduardo Corrêa Machado
Jacob de Souza Faria Neto
Coordenação de AVEA Kimberly Araujo Lazzarin
Andreia Mara Fiala Marcelo Vinícius Netto Spillere
Marília Gabriela Salomao Dauer
Maycon Douglas da Silva

Apresentação
Áureo Mafra de Moraes

Conteúdo
Tatiana Whately de Moura

Todo o conteúdo do curso Conselho da Comunidade e Controle Social: Formação de Conselheiros,


da Secretaria Nacional de Políticas Penais do Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo federal –
2022, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição - Não Comercial - Sem Derivações
4.0 Internacional. Para visualizar uma cópia desta licença, acesse: https://creativecommons.org/licenses/by-
BY NC ND
nc-nd/4.0/deed.pt_BR.
ESCLARECIMENTO

A partir de 1º de janeiro de 2023, o Departamento Penitenciário Nacional


(DEPEN) passou a ser denominado Secretaria Nacional de Políticas Penais
(SENAPPEN), instituída pelo Art. 59 da Medida Provisória nº 1.154; porém,
devido ao fato de o material deste curso ter sido produzido antes da vigência
da referida medida provisória, há conteúdos em que a atual SENAPPEN
é mencionada como DEPEN. É possível, ainda, que outros órgãos gover-
namentais federais citados nos materiais, como ministérios, secretarias
e departamentos, disponham de uma nova estrutura regimental e uma
nova nomenclatura e sejam mencionados de maneira diferente da atual.
SUMÁRIO

Apresentação  5
Objetivos do módulo  5

Unidade 1: A entrada da sociedade nas prisões através das


igrejas  7
1.1 Histórico   7

Unidade 2: Lei de Execução Penal  11


2.1 Os órgãos da execução penal  11

2.2 Os Conselhos da Comunidade   16

Síntese do Módulo  23

Referências  24
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FORMAÇÃO DE CONSELHEIROS

APRESENTAÇÃO

Olá, cursista!

Sejam bem-vindos(as) ao nosso primeiro módulo de estudos.

Neste módulo será apresentado um breve histórico da entrada da so-


ciedade nas prisões através das igrejas e de comissões de cidadãos que
exerciam funções de fiscalização nas prisões. Esse histórico contribui
para o entendimento do que foi previsto legalmente como função dos
Conselhos da Comunidade. Na segunda unidade deste módulo, serão
apresentados os órgãos de execução penal, instituídos pela Lei de Execução
Penal, delineando funções específicas de execução, fiscalização e/ou de
orientação. Este módulo apresentará as bases históricas e legais para a
atuação dos Conselhos da Comunidade, que passaram por transforma-
ções em suas práticas, as quais serão abordadas nos módulos seguintes.

Objetivos do módulo

• Identificar a história da entrada da sociedade nas prisões.


• Identificar os órgãos da execução penal e suas funções.
• Caracterizar as funções e características dos Conselhos da Comunidade.

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UNIDADE 1

A entrada da sociedade nas


prisões através das igrejas
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1. A ENTRADA DA SOCIEDADE NAS PRISÕES ATRAVÉS DAS IGREJAS

A atuação dos Conselhos da Comunidade foi se transformando ao longo


dos anos, mas é importante fazer um resgate histórico para entender
seu surgimento e as bases nas quais se anteparam as funções previstas
em lei para esses conselhos. Avance para os tópicos a seguir e conheça
mais sobre a história dos Conselhos da Comunidade.

1.1 Histórico

QR CODE

Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet)


no QR Code ao lado para assistir ao vídeo de animação sobre
os antecedentes históricos dos Conselhos da Comunidade, ou
acesse o link: https://youtu.be/zMsA_HNAey4.

Os antecedentes históricos que costumam ser relacionados aos Conselhos


da Comunidade remetem a origens religiosas, com a prática de visitar
os reclusos para fornecer alimentos, vestimentas e dar apoio espiritual.

Foto: © [Thoom] / Shutterstock.

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Eugenio Cuello Calón aponta que a prática foi criada no Congresso de


Niceia no ano de 235, em que foram criados os procuratores pauperum
Procuratores Pauperum (1958 apud FERREIRA, 2014). As fraternidades religiosas surgiram no
Sacerdotes e leigos que século XIII na Itália e no século XIV na França, com os mesmos objetivos.
costumavam visitar as
Outro marco importante remonta ao ano de 1480, em que os reis católicos
pessoas privadas de
liberdade para prover
atribuíram a juízes e promotores a função de inspecionar prisões (LEAL, 2012).
alimentos, vestimentas
e apoio religioso.
“A igreja católica tem longa tradição na atividade de visitação dos
cárceres, embora várias igrejas evangélicas nos dias atuais realizem
esta atividade, e com intensidade, deflagrando uma relação muito
estreita entre a visitação no cárcere e a religião cristã. Foi a partir dos
jesuítas que uma história no cárcere passou a ser escrita, e, atualmente,
tem continuidade a partir das experiências da Pastoral Carcerária,
mundo afora e especialmente no Brasil, por seus serviços religiosos
prestados aos encarcerados e para a melhoria das condições car-
cerárias.” (LEAL, 2012, p. 62-63).

No Brasil, a Lei de 1º de outubro de 1828, que estabelece as atribuições


das Câmaras Municipais, instituiu a base para o que depois vieram a se
tornar os Conselhos da Comunidade, estipulando a criação de comissão
de cidadãos para realização de inspeções a unidades prisionais.

Art. 56. Em cada reunião, nomearão uma commissão de cidadãos


probos, de cinco pelo menos, a quem encarregarão a visita das
prisões civis, militares, e ecclesiasticas, dos carceres dos conventos
dos regulares, e de todos os estabelecimentos publicos de ca-
ridade para informarem do seu estado, e dos melhoramentos,
que precisam.

Art. 57. Tomarão por um dos primeiros trabalhos, fazer construir


ou concertar as prisões publicas, de maneira, que haja nellas
a segurança, e commodidade, que promette a Constituição.
(BRASIL, 1828).

Os Conselhos da Comunidade surgem como versões laicizadas da tra-


dição de entrada da sociedade nos cárceres, mas mantendo uma lógica
assistencialista em sua atuação, especialmente em relação à assistência

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material, buscando a disponibilização de materiais básicos de higiene,


colchões, vestimentas, etc.

A característica laica nem sempre é verificada na prática, uma vez que


a influência de entidades religiosas, em geral católica ou evangélica,
ainda é forte em muitos desses conselhos. A própria constituição de
alguns Conselhos da Comunidade é apontada como resultado de uma
Campanha da Fraternidade de 1997 da Igreja Católica, que tratou do
tema das prisões e despertou o interesse da comunidade católica para
a temática (DAUFEMBACK, 2010).

SAIBA MAIS

Veja informações sobre a Campanha da Fraternidade de 1997,


disponível em: https://campanhas.cnbb.org.br/campanha/
fraternidade1997.

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UNIDADE 2

Lei de Execução Penal


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2. LEI DE EXECUÇÃO PENAL

Nesta unidade, serão apresentados os órgãos da execução penal, institu-


ídos pela Lei de Execução Penal em 1984. Também veremos as funções
dos Conselhos da Comunidade e como estes se relacionam com os
demais órgãos e suas funções orientadoras, fiscalizadoras e executivas.

2.1 Os órgãos da execução penal


Conheça a seguir os órgãos da execução penal instituídos pela Lei de
Execução Penal – LEP (Lei n° 7.210, de 1984):

O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) é um


órgão subordinado ao Ministério da Justiça, com 13 membros designados
pelo Ministro da Justiça, entre professores e profissionais da área do Direito
Penal, Processual Penal, Penitenciário e ciências correlatas, bem como
representantes da comunidade e dos Ministérios da área social.

Os membros do CNPCP são renovados um terço em cada ano e seu man-


dato tem duração de dois anos. Cabe a este órgão os itens listados a seguir.

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Responsabilidades do CNPCP

1 Propor diretrizes da política criminal.

2 Contribuir na elaboração de planos nacionais.

3 Promover a avaliação periódica


do sistema criminal.

4 Estimular e promover a pesquisa criminológica.

5 Elaborar programa nacional


penitenciário de formação do servidor.

6 Estabelecer regras sobre a arquitetura e


construção de estabelecimentos penais.

7 Estabelecer critérios para a


elaboração de estatística criminal.

8
Inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos
penais, propondo às autoridades dela incumbida
as medidas necessárias ao seu aprimoramento.

Representar ao juiz da execução ou à autoridade

9 administrativa para instauração de sindicância ou


procedimento administrativo, em caso de violação
das normas referentes à execução penal.

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Além disso, também é sua responsabilidade representar à autoridade


competente para a interdição de estabelecimento penal (Capítulo II).

Vejamos as responsabilidades dos demais órgãos, a seguir.

• Juízo da Execução
O Juízo da Execução Penal compete ao juiz indicado na lei local de orga-
nização judiciária e, na sua ausência, ao juiz responsável pela sentença.
O juiz responsável pela execução penal tem, entre outras, as seguintes
competências: a) decidir administrativamente sobre a execução da pena
concedida; b) zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de
segurança; c) inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos penais,
tomando providências para o adequado funcionamento e d) compor e
instalar o Conselho da Comunidade (Capítulo III).

• Ministério Público
O Ministério Público é responsável pela fiscalização da execução da
pena e da medida de segurança, oficiando no processo executivo e nos
incidentes da execução. Cabe também ao Ministério Público realizar
visitas mensais aos estabelecimentos penais (Capítulo IV).

• Conselho Penitenciário
O Conselho Penitenciário é instituído como órgão consultivo e fis-
calizador da execução da pena. Seus membros são nomeados pelo
governador do estado, do Distrito Federal e dos territórios. É integrado,
assim como no CNPCP, por professores e profissionais da área do Direito
Penal, Processual Penal, Penitenciário e ciências correlatas. Incumbe ao
Conselho Penitenciário: a) emitir parecer sobre indulto e comutação da
pena; b) inspecionar os estabelecimentos e serviços penais; c) apresentar
ao CNPCP relatórios anuais dos trabalhos realizados e d) supervisionar
os patronatos e a assistência aos egressos (Capítulo V).

• Departamentos Penitenciários
Entre os Departamentos Penitenciários, são instituídos, no capítulo VI,
o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) e os Departamentos
Penitenciários locais (estaduais). O DEPEN, subordinado ao Ministério
da Justiça, é órgão executivo da Política Penitenciária Nacional e de
apoio administrativo e financeiro do CNPCP e tem entre suas atri-
buições: a) acompanhar a aplicação das normas da execução penal
no país; b) inspecionar e fiscalizar periodicamente os estabelecimentos
e serviços penais; c) assistir tecnicamente as unidades federativas na

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implantação dos princípios e regras estabelecidos na LEP; d) colaborar


com as unidades federativas mediante convênios, na implantação de
estabelecimentos e serviços penais; e) colaborar com a unidades federa-
tivas para a realização de cursos de formação de pessoal penitenciário e
de ensino profissionalizante do condenado e do internado e f) coordenar
e supervisionar os estabelecimentos penais federais; etc.

• Patronato
O Patronato, público ou particular, destina-se a prestar assistência aos
albergados e aos egressos (entendidos como os liberados definitivos,
pelo prazo de um ano a contar da saída do estabelecimento, e os liberados
condicionais, durante o período de prova). Tem por atribuição: a) orientar
os condenados à pena restritiva de direitos; b) fiscalizar o cumprimento
das penas de prestação de serviços à comunidade e de limitação de fim
de semana e c) colaborar na fiscalização do cumprimento das condições
da suspensão e do livramento condicional (Capítulo VII).

• Conselhos da Comunidade
Os Conselhos da Comunidade, instituídos pelos juízes da execução,
são constituídos no âmbito das comarcas no Brasil. Atualmente, há 2.702
comarcas que congregam os 5.570 municípios brasileiros (CONSELHO
NACIONAL DE JUSTIÇA, 2019). De acordo com o texto legal, o conselho
deve ser composto, no mínimo, por um representante da associação
comercial ou industrial, um advogado indicado pela Seção da Ordem
dos Advogados do Brasil, um defensor público indicado pelo Defensor
Público Geral (incluído pela Lei n. 12.313/2010) e um assistente social
escolhido pela Delegacia Seccional do Conselho Nacional de Assistentes
Sociais (art. 80). Na falta da representação prevista, fica a critério do juiz
da execução a escolha dos integrantes. A instalação do conselho é uma
atribuição do juiz de execução penal (artigo 66, inciso IX). Tais conselhos
são responsáveis por: a) visitar estabelecimentos penais; b) entrevistar
presos; c) apresentar relatórios mensais ao juiz e ao Conselho Penitenciário
e d) diligenciar a obtenção de recursos materiais e humanos para melhor
assistência ao preso (capítulo VIII).

• Defensoria Pública
Por fim, a Defensoria Pública, introduzida na LEP como órgão da exe-
cução penal pela Lei n° 12.313, de 2010. Cabe à Defensoria Pública velar
pela regular execução da pena e da medida de segurança, oficiando no
processo executivo e nos incidentes da execução. Entre suas atribuições,
consta: a) visitar os estabelecimentos penais, tomando providências para

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o adequado funcionamento e b) requerer, quando for o caso, a apuração


de responsabilidade (capítulo IX).

Veja a seguir os órgãos da execução penal por tipo de função.

Orgãos da execução penal, por tipo de função

Consultiva/
orientadora

Conselho
Penitenciário

CNPCP
DEPEN
Ministério Público
Departamentos
Patronato
penitenciários locais
Defensoria Pública Conselho da
Comunidade
Juiz

Fiscalizadora Executiva

Há uma complexidade interinstitucional a ser considerada nas funções


dos órgãos de execução penal que envolve a diferença entre os Poderes
Executivo e Judiciário e entre os níveis federativos.

A rigor, os estados e o Distrito Federal são os responsáveis pela formulação


e implementação da política penal e são submetidos a medidas orien-
tadoras e consultivas de outros órgãos, como o Conselho Penitenciário
– no mesmo nível federativo –, o CNPCP e o DEPEN, em suas orientações
e recomendações realizadas no âmbito federal. E são, ainda, passíveis
de fiscalização por todos os órgãos da execução penal.

MÓDULO 1 | Histórico dos Conselhos da Comunidade 15


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Entretanto, é possível identificar a natureza executiva em outros órgãos


da execução penal.

O Departamento Penitenciário Nacional também possui uma


função executiva na política penal, ao gerenciar as cinco peniten-
ciárias federais existentes no Brasil; os patronatos, além de sua
função de fiscalização da pena, possuem função de assistência
direta aos albergados e egressos do sistema prisional; e os juízes
da execução são responsáveis por decidir administrativamente
sobre o cumprimento da pena.

E, por fim, os Conselhos da Comunidade têm a possibilidade de executar


diretamente medidas de assistência às pessoas privadas de liberdade,
além de fiscalizar as condições dos estabelecimentos penais.

2.2 Os Conselhos da Comunidade


Os Conselhos da Comunidade incorporam cidadãos e representantes
de entidades de classe na lógica de inspeção e fiscalização do sistema
prisional, mas há uma lacuna normativa em relação a potenciais pon-
tos de interlocução e encaminhamento de demandas diretamente ao
Poder Executivo.

Foto: © [rafapress] / Shutterstock.

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Ou seja, interpretando a letra da lei, uma vez identificadas demandas


nas inspeções, os conselheiros podem realizar diligências para obtenção
de recursos materiais e humanos (art. 81, inciso IV, da Lei de Execução
Penal) ou incluir eventuais outras questões no relatório mensal que
deve ser apresentado ao juiz (art. 81, inciso III, da Lei de Execução Penal),
que, supõe-se, daria o devido encaminhamento judicial.

Não há, assim, um mecanismo instituído em lei de participação


dos Conselhos da Comunidade no processo de tomada de decisão
da política penal, em geral, ou da política prisional, especificamente.

Conheça as funções dos Conselhos da Comunidade segundo a LEP.

Funções dos Conselhos da Comunidade

• Visitar estabelecimentos penais.


• Entrevistar pessoas presas.

Apresentar relatórios mensais


Diligenciar a obtenção de
ao juiz da execução e ao
recursos materiais e humanos.
Conselho Penitenciário.

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Veja, a seguir, como a Lei de Execução Penal (LEP) influencia na criação


e atuação dos Conselhos da Comunidade.

PODCAST

Após a edição da Lei de Execução Penal (LEP), os Conselhos da


Comunidade passaram a ser criados em diversas localidades
no Brasil, de acordo com o “senso de solidariedade de cada um,
na percepção, tato ou aceitação de cada juiz, mas em número
insuficiente comparado com a quantidade de prisões e comarcas
desse país continental” (VALOIS, 2011, p. 8).

Apesar da LEP prever as atribuições do Conselho da Comunidade,


não há definição de seus objetivos ou da forma de efetivação
das diligências. Além disso, não há previsão de recursos e não
é definida a natureza jurídica desses conselhos. Assim, os Con-
selhos da Comunidade têm sido instituídos de formas variadas.
Há uma dependência dos Conselhos da Comunidade em relação
ao Judiciário – seja para a própria instituição dos conselhos,
que dependem do juiz de execução penal, seja para obtenção de
recursos para desenvolvimento de suas atividades, através de
repasse da pena pecuniária.

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Veja a seguir o que foi identificado em uma pesquisa realizada junto a


conselheiros do Paraná por Rocha (2017).

Formas de ingresso nos conselhos

37% dos
respondentes iniciaram
o trabalho como
conselheiro por
indicação/convite do juiz

23,5% foram indicados


como consequência da sua 23,5% foram
atividade profissional (por indicados por
exemplo, representantes outro conselheiro
da OAB, de associação
comercial, etc.)

Formas de
ingresso nos
conselhos

21,6% foram
indicados pela 3,9% se
liderança da entidade voluntariaram
à qual pertence

0,2% foi indicado por


promotor de justiça

Para Rocha, o protagonismo dos juízes em relação à integração dos con-


selheiros reforça seu protagonismo em relação ao conselho. As entrevistas
realizadas por Rocha também identificaram que os conselheiros(as) tinham
aproximação prévia com o universo dos Conselhos da Comunidade por
conta de sua atuação profissional ou por relações profissionais.

MÓDULO 1 | Histórico dos Conselhos da Comunidade 19


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No que se refere à natureza jurídica:

“Vê-se que há Conselhos que possuem a feição de ‘pessoas jurídicas de


direito público’, sem estatutos ou mecanismos internos de regramento
e que atuam, simplesmente, após a constituição pela autoridade
judiciária, como se fossem auxiliares do juízo, prestando-lhe contas.
Outros há que, mesmo como ‘pessoas jurídicas de direito público’
adquirem e buscam maior autonomia em relação à figura do juiz,
seja para que o trabalho a ser desenvolvido não seja pessoalizado,
centrado na figura do juiz ‘x’ ou ‘y’ [...]. Há, ainda, outros membros de
Conselhos que, após serem convocados pelo magistrado a assumirem
seus cargos, tratam de organizar e constituir uma pessoa jurídica
de direito privado, com personalidade jurídica e estatutos próprios,
com diretoria periodicamente eleita, não só para ter independência
em relação ao juízo, como, também, para mais facilmente conseguir
obter recursos públicos e privados, apresentando projetos a entidades
públicas e privadas dispostas a financiar iniciativas na seara penal.”
(LOSEKANN, 2010, p. 46).

Diante da pluralidade de formas e da ausência de estruturas institucionais


prefixadas, inclusive quanto ao modo de implantação e financiamento
das atividades, os conselhos da comunidade têm buscado diferentes
estratégias de formalização institucional para possibilitar a operação
de recursos. A maioria dos conselhos possuem recursos próprios, pro-
venientes da Pena Pecuniária repassada pelo Poder Judiciário ou de
convênios com secretarias municipais e estaduais (DAUFEMBACK, 2010).

O Código Penal estabelece, em seu art. 43, inciso I, a prestação pecu-


niária como uma das penas restritivas de direitos, ou seja, trata-se de
uma pena que pode ser aplicada pelo juiz, atribuindo ao réu a obrigação
de pagamento em espécie.

MÓDULO 1 | Histórico dos Conselhos da Comunidade 20


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A Resolução CNJ nº 154, de 2012, alterada pelas Resoluções nº 206/2015


e 225/2016, define a política institucional do Poder Judiciário na utilização
dos recursos oriundos da aplicação da pena de prestação pecuniária e es-
tabelece, em seu art. 2º, que os valores, quando não destinados à vítima
ou aos seus dependentes, serão, preferencialmente, destinados à entidade
pública ou privada com finalidade social, previamente conveniada, ou para
atividades de caráter essencial à segurança pública, educação e saúde.

Essa resolução apresenta os Conselhos da Comunidade como um dos


possíveis projetos a serem financiados com o recurso proveniente da
prestação pecuniária. Em 2007 foi realizado um levantamento, durante
o II Encontro de Conselhos da Comunidade da Região Sul, junto a 65
conselheiros. Veja a seguir os dados levantados no encontro.

Levantamento realizado em 2007 durante o


II Encontro de Conselhos da Comunidade da Região Sul

73% dispõem
• 38% se constituíram de recursos próprios
como Associação.
• 35% outros tipos. 57 Conselhos • Desses, 69%
• 10% não possuíam de Comunidade dos recursos eram
personalidade jurídica. provenientes de
• 17% não responderam. penas pecuniárias.

MÓDULO 1 | Histórico dos Conselhos da Comunidade 21


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Estudo posterior realizado no Paraná (ROCHA, 2017) identificou que,


em 2016, todas as 161 comarcas do estado possuíam Conselhos da
Comunidade criados e 116 estavam regularizados e aptos a receber recursos.

Um levantamento realizado pelo Ministério da Justiça em 2008 identificou


a existência de 639 Conselhos da Comunidade no Brasil e levantamento
posterior, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça, identificou que,
em 2012, já havia 1.046 Conselhos da Comunidade.

Há uma concentração das atividades dos Conselhos da Comu-


nidade nas unidades prisionais, cerca de um terço das comarcas
possuem unidades prisionais. Mas Daufemback (2010) aponta
que a instalação dos Conselhos da Comunidade em locais que
não têm unidade prisional favorece o envolvimento destes em
programas de alternativas penais, que demandam um envolvi-
mento maior da sociedade.

Veja a seguir uma retomada dos principais pontos deste módulo.

MÓDULO 1 | Histórico dos Conselhos da Comunidade 22


SÍNTESE DO MÓDULO

Neste módulo foram apresentados os antecedentes históricos de entrada


da sociedade nas prisões, que acabou sendo reproduzido em moldes
similares pela Lei de Execução Penal. A LEP previu aos Conselhos da
Comunidade apenas atividades de fiscalização e de diligências voltadas a
recursos materiais e humanos para melhorar assistência ao(à) preso(a) e
internado(a) – atividades relacionadas ao que já era exercido pela comissão
de cidadãos probos, criada pela Lei das Câmaras Municipais em 1828.

A LEP estabeleceu os órgãos da execução criminal, indicando suas res-


ponsabilidades e respectivas funções consultiva/orientadora; fiscalizadora
e executiva. Apesar da lei prever poucos membros para integrarem os
Conselhos da Comunidade, uma atuação restrita e não prever recur-
sos financeiros para a realização de suas atividades, os Conselhos da
Comunidade passaram a buscar diferentes estratégias de formalização
institucional e de atuação.

Você finalizou o Módulo 1!


No próximo módulo você verá um panorama da atuação dos Conselhos
da Comunidade.

23
REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei de 1º de outubro de 1828. Dá nova fórma ás Camaras


Municipaes, marca suas atribuições, e o processo para a sua eleição, e dos
Juizes de Paz. Rio de Janeiro, 1828. Disponível em: https://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/lim/lim-1-10-1828.htm. Acesso em: 25 fev. 2022.

BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui e lei de Execução


Penal. Brasília, DF: Presidência da República, 1984. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm. Acesso em: 25 fev. 2022.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números 2019. Brasília:


CNJ, 2019. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/
conteudo/arquivo/2019/08/justica_em_numeros20190919.pdf. Acesso
em: 25 fev. 2022.

DAUFEMBACK, V. Questões sobre o contexto e a atuação dos Conselhos da


Comunidade: a experiência da Região Sul. In: BRASIL. Ministério da Justiça.
Departamento Penitenciário Nacional. Ouvidoria do Sistema Penitenciário.
Fundamentos e análises sobre os Conselhos da Comunidade. Brasília:
Ministério da Justiça, 2010. p. 67-86.

FERREIRA, J. C. Os Conselhos da Comunidade e a reintegração social.


Dissertação (Mestrado em Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia)
– Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 2014.

LEAL, C. B. Execução Penal na América Latina à luz dos direitos humanos:


uma viagem pelo caminho da dor. Curitiba: Juruá, 2012.

LOSEKANN, L. O juiz, o poder judiciário e os conselhos da comunidade:


algumas reflexões sobre a participação social na execução penal. In:
BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional.
Ouvidoria do Sistema Penitenciário. Fundamentos e análises sobre os
Conselhos da Comunidade. Brasília: Ministério da Justiça, 2010. p. 41-63.

MOURA, T. W. Conselhos da Comunidade – do assistencialismo à


política? Projeto de Qualificação de Doutorado apresentado ao Programa
de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade de Brasília, 2020.
REFERÊNCIAS

ROCHA, M. A. A atuação dos Conselhos da Comunidade do estado do


Paraná no processo de execução penal: possibilidades, limites e desafios.
Universidade de Londrina, 2017.

VALOIS, L. C. Prisão, participação social e a Região Norte. In: Fundamentos


e Análises sobre os Conselhos da Comunidade. Brasília: Ministério da
Justiça, 2011.

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