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Aula 11
Gestão Participativa no SUS
São Paulo – SP
2021-2023
Créditos
Diálogo ............................................................................................................................................................................................. 21
O Autor ..................................................................................................................................................................................................................................... 35
Apresentação da Aula
Sabe aquele dia em que a gente acorda e lembra: ”Vixe! Hoje tem conselho
gestor!”, ou “tem reunião com a comunidade!”. Muitos, assim como a Marilda, já passaram
por isso. Não tem como escapar. A participação é uma tarefa do gestor e dos conselhos
definidos por lei. A história deles é muito bonita e se funde à história do SUS.
Sempre ouvimos que o SUS foi uma das grandes conquistas da Constituição de
1988. Por ser uma conquista, teve luta, teve força coletiva. E por nascer da luta coletiva, a
participação foi incorporada no funcionamento da saúde. No fundo, o objeto de nossa
conversa nesta aula é a luta coletiva que travamos cotidianamente trabalhando nas
Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Objetivos de Aprendizagem
Iniciaremos esta aula com uma breve caminhada pela história do SUS, que é
ligada a conselhos populares de saúde. Passaremos pelas leis que regem nosso sistema
de saúde, como incluem a participação e como funcionam os conselhos gestores de
saúde do SUS. Finalizando essa etapa, abordaremos a participação para além dos
conselhos.
O SUS é uma conquista democrática. Entre o final dos anos 1970 e início dos anos
1980, o Brasil passou por uma importante transformação política, saindo de uma ditadura
militar, iniciada em 1964, para a Nova República, iniciada em 1985. Em meio à luta por
direitos civis, a luta pelo direito à saúde teve grande destaque. Além da formulação
acadêmica por um sistema de saúde que incluísse as pessoas desassistidas, movimentos
populares se organizaram para defender melhorias dos equipamentos de saúde.
Destacou-se o movimento de saúde da Zona Leste da cidade de São Paulo, que
organizou conselhos populares, chegando a realizar eleições com a participação de mais
de oito mil pessoas. O vídeo abaixo mostra como foi esse movimento. Não deixem de ver!
Saiba Mais
Vejam o vídeo sobre a história dos conselhos populares da Zona
Leste de São Paulo, movimento precursor e inspirador dos
conselhos gestores do SUS, clicando aqui.
Saiba Mais
No material anexo a esta aula vocês encontram a referência para o
Art. 198 da Seção II “Da Saúde”, da Constituição Federal, que tem a
diretriz: PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE.
Para um aprofundamento na história e nos valores participativos
que fundam o SUS, assistam ao discurso do professor Sérgio
Arouca na abertura da 8ª Conferência Nacional de Saúde, com o
tema Saúde e Democracia, clicando aqui.
Nesta aula, focaremos mais nos conselhos, e não tanto nas conferências. Os
municípios são obrigados a ter um conselho municipal de saúde e realizar as
conferências de saúde. Alguns municípios passaram a organizar conselhos dentro de
uma cidade, criando conselhos distritais e locais como os conselhos das Unidades Básicas
de Saúde. Esses conselhos não são obrigados por leis nacionais, e dependem da
legislação de cada município. Esse processo de capilarização dos conselhos de saúde foi
referendado por diversas resoluções do Conselho Nacional de Saúde (CNS), dentre as
quais a Resolução nº 453/2012 é a mais recente. E em seu município, como os conselhos
de saúde são organizados? Vocês já participaram ou participam frequentemente das
reuniões e debates?
Conceito-chave
Um conselho de saúde tem caráter permanente e deliberativo, é órgão
colegiado e “[…] atua na formulação de estratégias e no controle da
execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive
nos aspectos econômicos e financeiros”4.
Regimento
Composição
Reuniões
Deliberações
Se vocês estão pensando que o conselho gestor da sua unidade não está
organizado nem funcionando dessa forma, ainda é tempo de propor essa organização e
sentir os efeitos desse movimento. Vamos tentar?
Saiba Mais
Colocamos aqui alguns compilados de legislação feitos por
municípios, que podem ser usados para pesquisa e referência
pelos(as) gestores(as):
• Florianópolis
• Fortaleza
• São Paulo
Entendemos que a gestão participativa não deve ser compreendida como mera
tarefa burocrática. Trabalhamos com a gestão dos serviços de saúde e devemos cumprir
essa tarefa reconhecendo que ela terá mais sentido à medida que estivermos ligados às
origens da participação no SUS. A boa gestão participativa é uma ação de promoção de
saúde.
Ligando Pontos
Na Aula 10 – Gestão de Pessoas, foi abordado o papel do gestor e
o trabalho em equipes.
Encontros com usuários dentro da unidade (grupos, salas de espera etc.) são
oportunidades de amplificar a escuta sobre os problemas do serviço. É bom ouvir mais
pessoas além daquelas que ocupam os espaços formais de participação. Aproveitem
essas oportunidades e favoreçam esses encontros. Na Videoaula 1 - Participação da
Comunidade, apresentamos como exemplo um caso de ampliação de multiplicadoras
de um grupo de alimentação saudável que ocupavam e atuavam nos espaços
administrativos da Unidade de Saúde.
Videoaula
Vocês podem acessar a Videoaula 1 -
Participação da Comunidade por este
QR Code (aponte a câmera do celular
para visualizar) ou clicando aqui.
As ações fora dos muros da unidade têm papel fundamental na troca entre
comunidade e serviço. Segundo a definição de território que compõe a formulação da
Estratégia Saúde da Família (ESF) expressa nos documentos oficiais, propõe-se uma
territorialização dos equipamentos que supera o olhar burocrático da área de
abrangência e avança para a compreensão do modo de vida, dos contextos ambientais,
urbanísticos e culturais da comunidade atendida. O território é definido também pela
abrangência dos espaços de participação nos conselhos de saúde na Política Nacional de
Atenção Básica (PNAB) de 20125.
Ligando Pontos
A aula 3, sobre Planejamento em Saúde, traz o conceito de
território de Milton Santos, que inspira a perspectiva de território
que tratamos aqui.
Além disso, apesar de os conselhos serem deliberativos por lei, muitas vezes suas
deliberações não serão capazes de se impor, prevalecendo a decisão de quem detém o
poder administrativo. Existem políticas públicas que acabam por ser implantadas à
revelia das conferências, por exemplo. Por isso, trabalhar com conselhos demanda
atenção às complexas correlações de forças em nossa sociedade.
A participação está em toda parte na sociedade civil e faz parte da realidade social
mesmo quando não está estruturada, podendo ser considerada uma necessidade
humana. Sua natureza é relacional e é fruto e consequência da transformação da
sociedade, variando de lugar para lugar com os contextos sociais e históricos. A
participação é um conceito amplamente utilizado, seja no senso comum, seja na política
e nas ciências humanas, e tem uma quantidade imensa de significados. Nas análises
teóricas sobre participação, frequentemente se considera uma gradação de intensidade.
Seu significado pode ser forte ou fraco: existem concepções e práticas fracas, meramente
informativas e simbólicas, que decidem questões de menor importância, e existem
concepções e práticas fortes, com caráter deliberativo real sobre questões importantes6.
Dirigentes
Membros
Maior participação
Nós nos alinhamos com uma perspectiva forte da participação, definida, conforme
Carlos Milani, da seguinte forma:
Nesse sentido, a participação é um vetor que rema contra a corrente para superar
a desigualdade, talvez a pior doença do nosso país.
Fonte: O SUS em fotos : promoção da saúde, produção de sentidos. Biblioteca Virtual em Saúde. Imagem: Radilson Carlos
Gomes da Silva.
Minissérie
Vocês se lembram da minissérie do curso? No
Episódio 7 podemos perceber a importância de
Marilda ouvir as necessidades de todas e todos
para melhor atender à população. Decisões que
precisam ser tomadas com urgência podem ser
submetidas ao coletivo para que sejam avaliadas
e ratificadas. A formação de pequenos grupos
consultores pode ser uma saída útil para a
tomada de decisões sensíveis e que exijam
presteza ou confidencialidade.
Vocês podem acessar a minissérie por este QR
Code (aponte a câmera do celular para visualizar)
ou clicando aqui.
Quem nunca ficou transtornado com uma orientação geral vinda de esferas
centrais (às vezes distantes), que determinaram um procedimento que não condiz com a
realidade local? Houve uma época em que diziam: “— Brasília que mandou!” — Aí não
dava nem para brigar com “a Brasília”!
Ligando Pontos
Na aula 12, sobre Saúde do Trabalhador, será possível identificar
como a organização do processo de trabalho e a sobrecarga podem
adoecer os profissionais da saúde. Muitos casos de assédio moral
podem estar relacionados com regras e metas institucionais.
A unidade e a força dos conselhos gestores podem ser muito efetivas em apoiar o
gestor na mediação entre as necessidades locais e as instâncias centrais da gestão.
Nunca devemos nos esquecer que tais conselhos são deliberativos e têm poder de
decisão sobre o processo de trabalho.
Participação burocrática
Diálogo
Saiba Mais
O livro Pedagogia da Autonomia é um ótimo caminho para
introduzir a obra de Paulo Freire. É nele que se apresentam os
fundamentos de uma prática que visa à construção coletiva,
portanto participativa, da transformação da realidade.
A conversa coletiva
O cenário central da gestão participativa sempre será a conversa coletiva pela qual
se constitui um grupo.
Em outras palavras, um grupo operativo é aquele que tem uma tarefa comum.
Para as conversas coletivas, fiquem atentos(as) e planejem:
• a coordenação e os papéis;
• os recursos necessários.
• a estrutura física;
• a disponibilidade de recursos;
• o tamanho do coletivo.
Tentando promover uma síntese, elencamos abaixo dez ações que podem
orientar a prática da gestão participativa e que podem ser apropriadas e desenvolvidas
pelos(as) gestores(as) do SUS:
1. garantir a palavra;
2. garantir informação;
Videoaula
Conhecendo os principais passos para a gestão
participativa, vamos agora aos exemplos práticos.
A videoaula 1 aborda a importância da presença dos
usuários no serviço.
Vocês podem acessar a Videoaula 1 - Participação
da Comunidade por este QR Code (aponte a
câmera do celular para visualizar) ou clicando aqui.
Exemplos práticos
Passada a aridez das leis e das reflexões abstratas, terminamos com mais leveza. A
intenção é ampliar o repertório de possibilidades de atuação para que vocês
desenvolvam roteiros e ferramentas na sua prática.
Pequenas equipes
A participação dentro das equipes deve contar com: reunião, pauta, pacto,
avaliação, cumprimento de combinados e execução das sanções. Deve-se garantir que
haja momentos nos quais todos estejam juntos, escutando atentamente e olho no olho,
como falamos anteriormente.
Comunidade imediata
Caros(as) colegas gestores(as), sempre que possível, vão para a rua! Conheçam o
território e os atores sociais, saibam como vivem, como se divertem e como sofrem as
pessoas das quais a unidade de saúde cuida. Uma territorialização que supera uma
divisão burocrática é um poderoso instrumento de participação, conforme já
descrevemos na ação 4 do Quadro 2. Na videoaula 2, falamos da dimensão territorial da
participação.
Videoaula
Na Videoaula 2 – Dimensão territorial da
participação, vocês verão um relato sobre isso!
Vocês podem acessá-la por este QR Code
(aponte a câmera do celular para visualizar) ou
clicando aqui.
Ligando Pontos
Lembrem-se da Aula 9, sobre Educação Permanente. Os conse-
lhos e as reuniões das equipes são espaços importantes para que os
aprofundamentos teóricos e as capacitações técnicas estejam
voltadas para as necessidades reais do trabalho.
Fonte: O SUS em fotos : promoção da saúde, produção de sentidos. Biblioteca Virtual em Saúde. Imagem: Radilson Carlos
Gomes da Silva.
Videoaula
Na videoaula 3 são apresentados exemplos
práticos da gestão participativa no trabalho
com a equipe.
Vocês podem acessar a aula Participação no
Processo de Trabalho na UBS por este QR
Code (aponte a câmera do celular para
visualizar) ou clicando aqui.
Considerações Finais
DEMOCRACIA É SAÚDE
Caros(as) colegas gestores(as), depois de tanta conversa, vamos nos apegando,
mas é hora de nos despedirmos.
Por fim, esperamos que fique alimentada em cada alma a mensagem de que,
para além dos cuidados técnicos, remédios e procedimentos que devemos realizar com
competência para cuidar da saúde de nossos pacientes, a participação é uma prática
transformadora de um sistema de saúde (e de uma sociedade) que ainda tem muito para
avançar até que garanta uma cidadania plena e uma atenção à saúde de qualidade para
todos.
ANEXO 1
Legislação sobre a participação no SUS
http://conselho.saude.gov.br/
Seção II da Seção do Capítulo sobre
web_sus20anos/20anossus/l
Constituição de seguridade social que fala
egislacao/constituicaofedera
1988 sobre Saúde
l.pdf
http://www.planalto.gov.br/c
Lei n. 8.080/1990 Institui e regula o SUS
civil_03/leis/l8080.htm
Descreve as normas de
https://conselho.saude.gov.b
Resolução 453/2012 funcionamento e as
r/resolucoes/2012/Reso453.p
do CNS competências dos conselhos
df
de saúde
Regimento do https://cmsf.sms.fortaleza.ce.
Conselho Regimento de uma cidade gov.br/wp-
Municipal de de grande porte content/uploads/2020/04/re
Fortaleza (CE) gimento_interno.pdf
https://leismunicipais.com.br
/a/sc/p/pomerode/decreto/2
Regimento do
021/398/3977/decreto-n-
Conselho Regimento de uma cidade
3977-2021-homologa-o-
Municipal de de pequeno porte
regimento-interno-do-
Pomerode (SC)
conselho-municipal-de-
saude-de-pomerode
Regimento de
Conselho Gestor
Exemplo de Regimento de
de Saúde da
um Conselho Sub Municipal Consultar o material
Supervisão Técnica
de um distrito de mais de complementar.
de Saúde do
300 mil pessoas
Butantã, São Paulo
(SP)
http://www.docidadesp.impr
ensaoficial.com.br/NavegaEd
Regimento do
icao.aspx?ClipID=DL1LR4GK
Conselho Gestor Exemplo de Regimento de
06NKIe5AFVK6L7Q6J95&Pal
da UBS Jardim um conselho gestores de
avraChave=regimento%20int
D’Abril, São Paulo saúde de uma UBS
erno%20do%20conselho%20
(SP)
gestor%20da%20ubs%20jard
im
Exemplo de como
Regimento Consultar o material
estabelecer as regras para a
Eleitoral de UBS complementar.
eleição de uma UBS
Referências
6. Gohn MG. Teorias sobre participação social: desafios para a compreensão das
desigualdades sociais. Cad CRH. Jan/abr 2019 [acesso 27 fev 2022];32(85):63-81.
Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ccrh/a/Lc4THRCyDjMdgWmHHJhpdzb/?format=pdf&lan
g=pt.
7. Bordenave JED. O que é participação? 8ª. ed. São Paulo: Brasiliense; 1994.
9. Martins PC, Cotta RMM, Mendes FF, Franceschinni SC, Priore SE, Dias G, Batista
RS. Conselhos de saúde e a participação social no Brasil: matizes da utopia.
Physis. 2008 [acesso em 2 mar 2022];18(1):105-21. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/physis/a/hgVTrtn7Vfswpq5MB37xjPr/?format=pdf&lang=
pt.
10. Freire P. Pedagogia do oprimido. 40ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2005.
O Autor
Este material integra a coleção de e-books do Curso de Extensão “Gestão dos Serviços da
APS e o Monitoramento do Cuidado das Pessoas com Condições Crônicas”. O curso faz
parte do conjunto de ofertas do Projeto Cuida APS: cuidado das pessoas com doenças
crônicas não transmissíveis (DCNT), iniciativa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC) em
parceria com o Ministério da Saúde (MS) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de
Saúde (CONASEMS), estabelecida por meio do Programa PROADI-SUS, para o triênio de
2021-2023.