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Créditos

Governo Federal Maria da Glória Lima


Nísia Verônica Trindade Lima Coordenação Pedagógica
Ministra da Saúde
Jitone Leônidas Soares
Isabela Cardoso de Matos Pinto Coordenador de produção
Secretária de Gestão do Trabalho e da de Educação a Distância
Educação na Saúde (SGTES)
Jonathan Gomes P. dos Santos
Maria Fabiana Damásio Passos Técnico de Tecnologia da Informação
Secretária Executiva da Universidade
Aberta do SUS Juliana Faria Fracon e Romão
Tatiana Karla dos Santos Borges
Alysson Feliciano Lemos
Coordenador de Monitoramento e Raul Luis de Melo Dusi
Avaliação Coordenação de Tutoria e Supervisão

Universidade de Brasília Raul Luis de Melo Dusi


Coordenação de EaD
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Reitora
Kátia Crestine Poças
Henrique Huelva Unternbaumen Coordenação de Assuntos Acadêmicos
Vice-Reitor
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Secretária Acadêmica
Faculdade de Medicina
Gustavo Adolfo Sierra Romero Suellaine Maria Silva Santos
Diretor Secretária Geral

Gilvânia Coutinho Silva Feijó


Vice-Diretoria Equipe Técnica
Jitone Leônidas Soares
Designer lnstrucional
Faculdade de Ciências da Saúde
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Diretor Gabriel Cavalcanti
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Solange Baraldi Web Designer
Vice-Diretora
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Faculdade Ceilândia Daniel Alves Tavares
João Paulo Chieregato Designer Gráfico - Diagramadores
Diretor
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Laura Davison Mangilli Toni Ilustradora
Vice-Diretora
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Comitê Gestor do Projeto Desenvolvedor de Vídeos Animados
UNA- SUS-UnB Luma Camila Rocha de Oliveira
Gilvânia Coutinho Silva Feijó
Rafael Silva Brito
Coordenação Geral UNASUS-UnB
Apoio Técnico
Celeste Aida Nogueira
Kátia Crestine Poças
Coordenação Administrativa
Odete Messa Torres
Revisoras de conteúdos

Sumário
Apresentação do Seminário Integrador I...........................................06

Objerivos Pedagógicos........................................................................09

Lição 1 Compreender a função Planejamento no processo de trabalho da Equipe de


Saúde da Família......................................................................................................09

Lição 2 Compreender conceitos e características definidoras de uma metodologia


de Planejamento do tipo Estratégico e Participativo.........................................................12

Lição 3 Compreender os conceitos de análise de situação, território


sanitário e territorialização, área de abrangência e de influência.............................21

Lição 4 Realizar análise das condições de saúde da população residente na área de


abrangência da Unidade de Saúde da Família.........................................................28

Lição 5 Analisar o processo de trabalho da Equipe de Saúde da Família e a rede de


serviços do Sistema Único de Saúde........................................................................33

Referências Bibliográficas.........................................................................................35
Apresentação do Seminário Integrador 1
06 Bem-vindo ao módulo Seminário Integrador 1!

Os seminários integradores correspondem a um conjunto de atividades que


deve funcionar como eixo integrador de todo o nosso curso. Fazem parte de sua

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função:

• articular horizontalmente os conteúdos trabalhados pelos diversos


módulos de cada unidade;

• articular verticalmente as unidades entre si, utilizando para essa função


integradora o planejamento; e

• subsidiar a elaboração do TCC.

Ao decorrer deste curso em Saúde da Família, você


participará de três seminários integradores, um em cada
unidade.

Neste curso de especialização em Saúde da Família, à distância, duas dimen-


sões (D1 e D2) e cinco perfis de competência (a, b, c, d, e) estão diretamente relacio-
nados à função Planejamento em Saúde:

D1. Analisar problemas de saúde no âmbito nacional e local:


a. Conhecer e analisar a organização/sistema de saúde;
b. Analisar os determinantes sócio-históricos, políticos, econômicos e
culturais dos processos saúde–doença no território;

D2. Planejar e gerenciar projetos e ações de intervenção em saúde:


c. Planejar ações de saúde utilizando os recursos epidemiológicos e
aplicando o princípio do cuidado integral à saúde;
d. Demonstrar capacidade de analisar sua realidade e sistematizar pro
postas de intervenção para o equacionamento de situações; e
e. Articular recursos intersetoriais para o enfrentamento dos problemas
de saúde e o atendimento das necessidades de saúde.

A dimensão 1 será abordada em Seminário Integrador


1, enquanto as competências da Dimensão 2 serão
discutidas durante os seminários integradores 2 e 3


Por se tratar de uma ação de educação permanente em saúde para profissio-
nais de nível superior com interesse em Saúde da Família, o Trabalho de Conclusão
de Curso (TCC) corresponderá a um Plano de Intervenção elaborado a partir da aná-

lise de uma situação de território sanitário escolhido pelo pós-graduando. O território • - “Estabelecer planos de ação coerentes, conforme critérios epidemiológi-
em questão poderá ser o próprio em que o estudante está inserido, ou o especializan- cos, éticos, econômicos e sociais, de modo a atender à responsabilidade
do poderá partir de uma situação real criada a partir de indicadores e dados dispo- 07 08 sanitária da ESF”
níveis ou outro dado obtido do DATASUS, como as Informações de Saúde (Tabnet
- http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?a- rea=02). A metodologia de planejamento em saúde será apresentada nos Seminários
Integradores 1, 2 e 3, de modo que o trabalho final possa ser realizado ao longo do
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SEMINÁRIO INTEGRADOR I

curso, aproveitando todo o conteúdo trabalhado pelos diversos módulos de suas três
Explore os dados do seu município: Unidades.
TABNET

http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/APRESENTACAO/ Embora a maioria das equipes da Estratégia Saúde


TABNET/Tutorial_tabNet_FINAL.pptx_html/html/index.html da Família (ESF) seja composta por profissionais com
limitada experiência gerencial, nossa missão é conduzi-
lo, em segurança, entre os conceitos e práticas de
Planejamento Local em Saúde (PLS), desmistificando-o
O TCC deverá ser desenvolvido de forma individual, pró-ativa, sendo composto
e seus instrumentos, tornando suas técnicas acessíveis
dos produtos finais esperados de cada Seminário Integrador (1 + 2 + 3 = TCC). Após
a quem não se considera “planejador”, mas que, sem
a elaboração dos produtos esperados de Seminário Integrador 1 e Seminário Integra-
dúvida, planeja e faz as coisas acontecerem nos serviços
dor 2 você terá chegado à um momento em que receberá apoio de um orientador, a
de saúde.
ser definido pela coordenação do curso e então desenvolverá o produto esperado do
Seminário Integrador 3.
Em Seminário Integrador 1, analisaremos a situação de saúde, o que envolve
Mas calma, uma coisa de cada vez. Para diminuir a sua ansiedade, segue a as condições de saúde da população e do sistema de saúde no território sanitário.
lista de competências esperadas para a reflexão durante todo o caminho (seminários
1, 2 e 3): De uma maneira geral, a análise das condições de saúde da população visa:

Entre as competências esperadas para reflexão durante as atividades de Se- • compreender a evolução do quadro epidemiológico e identificar seus
minário Integrador 1 estão: determinantes;

• - “Identificar as principais patologias e agravos que acometem a população • estabelecer uma hierarquia de fatores de risco e vulnerabilidades aos
adscrita e sua distribuição no território por subgrupos populacionais: etários, agravos mais relevantes; e
territoriais, étnicos, econômicos e\ou por outros determinantes sociais”;
• identificar os grupos/famílias mais vulneráveis.
• - “Identificar as cadeias causais das principais patologias e agravos
atuantes no território, desde os determinantes fisiopatológicos imediatos
até aqueles distais, de caráter social”; Afinal, por que a população adoece e morre por determinadas doenças/agravos?
Concretamente, as populações adoecem e morrem por razões bem determinadas.
• - “Conhecer e ser capaz de utilizar sistemas de informação e outros
instrumentos de suporte para a realização desse conjunto de competências Perceba que não se trata de um fenômeno aleatório, ao acaso, mas, ao contrário,
de caráter social e epidemiológico” estruturado, com determinações que podem ser razoavelmente bem identificadas
porque já integram o diagnóstico familiar e comunitário realizado pelas ESF.
Entre as competências esperadas para reflexão durante as atividades de Se-
minário Integradores 1 e 2 estão: A compreensão da situação sanitária, portanto, demanda a análise dos de-
terminantes socioeconômicos e ambientais, que ajudam a explicar a ocorrência dos
• - “Identificar as prioridades para a recuperação, proteção e promoção da agravos e óbitos.
saúde da população adscrita”;
A estrutura e desempenho da ESF e do sistema de saúde como um todo tam-
• - “Identificar as redes sociais e as forças políticas que atuam no território bém são fatores-chave. Esta análise está subdividida em Análise de Ambiente
de cobertura da ESF e que podem influenciar na atuação da ESF e no Interno e de Ambiente Externo.
cumprimento de sua responsabilidade sanitária”;
Em síntese, o que se pensou inicialmente foi o mapeamento dos principais
E, finalmente, entre as competências esperadas para reflexão durante as ativi- problemas de saúde e seus determinantes a partir das fichas vigentes do e-SUS APS,
dades de Seminário Integrador 3 citamos: baseando-se na Classificação Internacional de Atenção Primária (CIAP).
A Análise de Ambiente Interno corresponde a um esforço de diagnóstico
Mas a função Planejamento é inerente à toda ação
do trabalho da equipe de SF e do SUS ao qual se conecta, buscando construir uma
social que se destina a um fim, que tem uma finalidade
visão integrada das suas características internas. O objetivo é identificar pontos fortes 09 10
(ação teleológica, ação estratégica). Nesse sentido, o
e fracos.
universo do Planejamento não é impenetrável para os
não iniciados, pois planejamento, tanto quanto avaliação,
O ambiente externo de uma organização inclui todos os fatores externos

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SEMINÁRIO INTEGRADOR I
é algo que fazemos todo o tempo, todos os dias, na
relevantes que podem afetar o desempenho organizacional: atores, “oportunidades” e nossa vida pessoal e na vida profissional também.
“ameaças” no nível da USF, mas também da região de saúde, da UF e do país: pesso-
as (lideranças comunitárias, por exemplo), mas também instituições governamentais Embora, muitas vezes, depois automatizemos as ações
e não governamentais com potencial para contribuir ou prejudicar o trabalho. planejadas (que assim se tornam tradicionais, por força
do hábito), planejamos o percurso que fazemos de casa
Objetivos Pedagógicos até o trabalho, as roupas que vamos usar quando as
adquirimos, planejamos as nossas famílias, o número
Ao final do Seminário Integrador 1, esperamos que você seja capaz de: de filhos que pretendemos ter, onde queremos morar, os
alimentos que pretendemos consumir etc.
Lição 1 Compreender a função Planejamento no processo de trabalho da
Equipe de Saúde da Família;
Planejamento para quê?
Lição 2 Compreender conceitos e características definidoras de uma
metodologia de Planejamento do tipo Estratégico e Participativo;
Mas, afinal, qual é a utilidade do Planejamento à ESF?
Lição 3 Compreender os conceitos de análise de situação, território sani-
tário e territorialização, área de abrangência e de influência;

Lição 4 Realizar análise das condições de saúde da população residente


na área de abrangência da Unidade de Saúde da Família;

Lição 5 Analisar o processo de trabalho da Equipe de Saúde da Família e O planejamento serve exatamente para isto: determinar aonde queremos che-
a rede de serviços do Sistema Único de Saúde. gar (para que direção queremos conduzir nossa ação) e tomar as decisões pertinen-
tes que, acreditamos, nos levarão à Situação Objetivo (So). Na Saúde, o planejamen-
Vamos começar? to é a função que permite melhorar o desempenho, isto é, a eficiência e a eficácia dos
serviços no desenvolvimento das suas funções finalísticas de proteção, promoção,
Lição 1: A função do planejamento no processo de trabalho da ESF recuperação e reabilitação da saúde.

O que é Planejamento?
Além de poder contribuir para uma compreensão
mais ampla da “problemática” e para a construção das
melhores “ações” para o seu enfrentamento, trata-se de
O que você entende por Planejamento? Como pode
excelente ferramenta para a construção de consensos,
ser o planejamento aplicado no processo de trabalho da
compatibilizando as exigências de distintas visões de
ESF?
mundo e interesses dos atores.

Nessas circunstâncias, o planejamento é um processo político que busca


Pode-se dizer que Planejamento é um método, uma técnica gerencial, um pro- pontos comuns nas distintas visões de futuro e acordos sobre as estratégias para
cesso de trabalho ou uma prática social que procura “analisar e entender um sistema, alcançá-los. A negociação entre grupos torna-se mais fácil e o compromisso de todos
avaliar suas capacidades, formular suas metas e objetivos, formular cursos de ação com a concretização dos ideais é ampliada. Dentro de organizações, o planejamento
para atingir essas metas, avaliar a efetividade dessas ações (...) e estabelecer um participativo tem o poder de criar uma nova cultura de compromisso.
monitoramento contínuo do sistema, a fim de atingir um nível ótimo de relacionamento
entre o plano e o sistema” (LEEVEY e LOOMBA, 1973).

Na esteira das políticas nacionais de descentralização administrativa e de res- Lição 2: Metodologia de Planejamento Local em Saúde
gate do poder local, há uma expectativa de que a Atenção Básica (AB) assuma a
responsabilidade pela definição de uma direcionalidade para suas práticas que seja, 11 12 Existem dezenas de metodologias diferentes de Planejamento em Saúde; todo
simultaneamente, coerente com os princípios doutrinários e organizativos do livro-texto sobre o assunto possui a sua. Para fins deste curso, optamos por selecionar
SUS, mas também com a realidade sócio-sanitária do território sob responsabilidade das uma que fosse adequada às necessidades da ESF no seu cotidiano, considerando-se
equipes multiprofissionais. a variável, crítica, “tempo” e a formação dos profissionais de saúde que a compõem.
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Optamos por eleger uma abordagem que oferecesse um instrumental prático, de fácil
operacionalização no nível local e que fosse coerente com os princípios doutrinários
Para saber mais sobre os Princípios doutrinários e e organizativos do SUS.
Organizativos do SUS e Atenção Básica, vá para o
material do módulo 3 da Unidade 1. Por todas as suas qualidades, o Método Altadir de Planificação Popular
(MAPP), de Carlos Matus, adaptado à realidade da ESF no Brasil, mas fundamentado
nos mesmos princípios do Planejamento Estratégico Situacional (PES), constituiu-
se no método eleito para este planejamento no nível local. É simples e criativo,
elaborado com o objetivo de viabilizar a planificação a partir de uma base popular,
Para se ter uma ideia de como a função Planejamento é central ao trabalho realizado mas suficientemente embasado teoricamente e testado empiricamente em centenas
pelas equipes de Saúde da Família, de 13 competências consideradas pelo Ministério da de experiências em toda a América Latina.
Saúde (MS) comuns a todos os profissionais da ESF, 5 se relacionam diretamente com
esta função:
Que tal conhecer algumas experiências usando o
1. Participar do processo de territorialização e mapeamento da área de atuação MAPP?
da equipe, identificando grupos, famílias e indivíduos expostos a riscos e
vulnerabilidades; Vá até o conteúdo do módulo 2 e utilize a mesma
estratégia de pesquisa em bases de dados (lição 4)
2. Manter atualizado o cadastramento das famílias e dos indivíduos no sistema e procure por outras experiências usando MAPP, por
de informação indicado pelo gestor municipal e utilizar, de forma sistemática, exemplo.
os dados para a análise da situação de saúde, considerando as características
sociais, econômicas, culturais, demográficas e epidemiológicas do território,
priorizando as situações a serem acompanhadas no planejamento local; O planejamento deve resolver, na opinião de Matus, quatro questões cujo
enfrentamento corresponde a quatro “momentos” de um “processo contínuo”,
3. Realizar reuniões de equipes a fim de discutir em conjunto o planejamento apresentados no Quadro 1:
e avaliação das ações da equipe, a partir da utilização dos dados disponíveis;
Quadro 1 – Momentos do Planejamento Estratégico Situacional (PES)
4. Garantir a qualidade do registro das atividades nos sistemas nacionais de
informação da Atenção Básica; Questões a serem enfrentadas Momentos do PES
1º) Qual é a nossa “situação” (“a
5. Planejar e realizar outras ações e atividades de acordo com as prioridades
realidade a partir de várias perspectivas
locais. Momento Explicativo: como foi, é, tende
situacionais”, “explicações situacionais
a ser?
por problemas” e “explicação situacional
Coloque-se na situação de membro de uma equipe de síntese”)?
de Saúde da Família que tem, entre outras atribuições, 2º) Para onde queremos ir? Quais as me-
a de planejar e avaliar as ações que realiza. Mas, Momento Normativo: como deve ser?
tas a atingir? O que devo fazer?
considerando-se o tempo, sempre escasso, você 3º) Qual é a viabilidade do nosso Plano
concorda que planejar é, de fato, uma ação a ser (considerando-se os desafios representa-
priorizada pela equipe? Momento Estratégico: o que pode ser?
dos pelas restrições de recursos, sempre
escassos, e pelos obstáculos colocados)?
Reflita sobre uma uma intervenção que foi planejada,
4º) O que devo e posso fazer hoje, e
comparando-a, em termos de resultados, com outra que
todos os dias quando forem hoje, para Momento Tático-Operacional: o que fazer?
não foi.
que avancemos em direção à nossa
situaçãoobjetivo (So)?
Quer ajuda? Reveja o material do módulo 2 da Unidade 1
– Sobre comunicação.
Para Matus, todo processo de planejamento tem a pretensão de ampliar a
“capacidade de governo” (conjunto de destrezas, experiências, habilidades, teorias poderia ser útil para a transformação do atraso e da
e métodos de direção que uma equipe de trabalho dispõe), dar-lhe “direcionalidade” 13 14
pobre- za. “Entretanto, há uma coerência lógica entre
e, por esta via, ampliar a “governabilidade” (relação entre as variáveis que controla a história da Rússia, o processo revolucionário do
e que não controla), visando ao cumprimento de algum “projeto/propósito de governo”, início do século passado, a criação do Estado soviético
o que corresponde ao “triângulo de governo” matusiano (Figura 1). e o Planejamento Normativo no traçado dofuturo.

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A história e o Plano se continuam. Essa coerência
Figura 1 – Representação do Triângulo de Governo de Carlos Matus e essa continuidade não existem no caso latino-
americano// (TESTA/ 1992). Em suma/ o principal mal-
entendido consistiu em procurar utilizar a ferramenta
do Planejamento Normativo/ que se revelou útil e
eficaz em situações de poder concentrado/ para decidir
problemas econômicos de apropriação de recursos
e de distribuição de produtos em situações de poder
compartilhado.

Na América Latina/ a grande corrente do pensamento


gerada em conseqüência da crítica ao Planejamento
Normativo pode ser englobada sob a denominação
genérica de Planejamento Estratégico e está
representado principalmente pelos pensamentos de
Carlos Matus e Mario Testa . A característica definidora
desta tendência é sua explícita incorporação do político/
não como marco referencial/ mas como parte de seu
objeto específico de trabalho. Com raízes no marxismo/
Carlos Matus procedeu a uma aguda crítica ao Plane-
jamento Normativo/ construindo sua proposta sobre a
noção de “situação//: lugar social onde está situado o
ator que planeja e a ação/compondo uma “totalidade
complexa”. O Planejamento é/ para Matus/ um traçado
de mudanças situacionais em um contexto de forças
Um Pouco de História sociais oponentes/ portanto “açãoestratégica. Sobre
estas bases/ Matus (2003) analisa as condições para a
O planejamento desenvolvido no Brasil e na América construção da viabilidade política.
Latina durante a maior parte das cinco últimas décadas
foi vítima de vários mal-entendidos que geraram Mário Testa, argentino, embora considere a intenção
sucessivos períodos de euforia/ decepção/ crise e de Matus “cheia de originalidade e atitude construtiva”,
recuperação parcial. A origem do planejamento se acredita “que Matus substitui a normatividade técnico-
encontra nos países socialistas/ inicialmente na ex- econômica por uma normatividade política, o que reduz
União Soviética/ quando o Plano foi utilizado para a eficácia de sua proposta” (1992:108). A principal
substituir o mecanismo do mercado como procedimento crítica de Testa a Matus é, fundamentalmente, uma
de alocação de recursos e distribuição de produtos. crítica histórica porque, apesar de concordar com a
Naquelas circunstâncias/ os problemas principais eram necessidade de “continuidade entre história e Plano”,
referentes ao uso eficiente dos recursos. Este tipo de não compartilha da visão de Matus de se colocar em
problema pode ser enfrentado de forma eficaz com posição de “dirigir as forças consideradas progressistas,
base na teoria dos sistemas/ cujo equivalente/ é o entendendo que estas não estão, de fato, tão bem
Planejamento Normativo. identificadas” (1992:109).

A experiência soviética/ e depois a de reconstrução eu-


ropéia e do Japão no pós-guerra/ convenceu muitos
intelectuais latino-americanos de que o planejamento

Jogo dos 13 Erros: um Decálogo lhe dá um grande sentido prático: “não ção tradicional da estratégica. Releia a Quanto aos prognósticos sobre
e três Advertências de Carlos deixa tempo para escrever 18 volumes”. Primeira Consideração. Invertendo ainda a evolução do ambiente externo,
Se não estiver ligada à ação no mais os termos de muitas das boas teorias relevantes para planos de longo prazo,
Matus 15 16
presente, pode ser futurologia, história, da Administração, Matus compreende costumam ser realizados pela adoção
não planificação. a Gestão como um momento (tático- de técnicas de cenários.
Os erros cometidos ao longo das
operacional) do processo, mais amplo, de
últimas décadas precisam ter servido como
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“lições aprendidas”. Compreendido não mais


Tudo o que fazemos para explorar Planejamento, e não o Planejamento como Sétima Consideração
o futuro só tem importância se orienta a método, ferramenta, instrumento da Gestão.
como panacéia, o Planejamento passou a
ação hoje. O produto final é a decisão Voltaremos a este ponto mais tarde! Os cenários são, segundo
ser valorizado como um processo essencial
que devo tomar hoje; contudo, a decisão Porto (1998), “descrições sistêmicas
a uma gestão moderna, eficiente e efi- caz;
mas deixou mitos e fantasias que precisam
de hoje não pode ser racional se não Sexta Consideração de futuros qualitativamente distintos e
transcende o presente, porque o que dos caminhos que os conectam com
ser esclarecidos a fim de que não se repitam
ocorre amanhã é o que dará eficácia à “A planificação, por definição, sua situação de origem”, e segundo
as atitudes e crenças inadequadas de um
minha decisão. é necessariamente política”, porque Matus (1993), “conjunto de condições e
passado não tão distante assim!
um dos recursos que restringem nossas pressupostos em que se situa o plano”.
Esta exploração do futuro é capacidades de produção social de ações O objetivo geral da técnica de construção
Com esta finalidade desmistifica-
importante, mas não é o coração do são as restrições de poder. A característica de cenários é, segundo Schwartz (citado
dora, recorreremos a um resumo comen-
Plano. O coração do Plano é a tentativa definidora do PES é sua explícita por RIVERA, 2003:152), “permitir a
tado de conferência proferida por Carlos
de governar um processo social, e um incorporação do político, não como marco formulação de planos para todas as
Matos na Venezuela em 1984: Um decá-
processo social só se governa por meio referencial, mas como parte de seu objeto alternativas de futuros possíveis ou
logo para a planificação e Três Advertên-
da ação. de trabalho. A planificação situacional imaginados”. Por apoiar-se em métodos
cias, ambos enriquecidos por comentá-
rios dos conteudistas e outros autores da materializa as questões políticas como e técnicas de análise do futuro, a
área de Planejamento, como se verá. Terceira Consideração variáveis e trata de operar com elas. construção de cenários de futuro corres-
ponde ao ramo mais formalizado da
Decálogo de Carlos Matus “A planificação exige um Sétima Consideração Prospectiva (RIVERA, 2003:151).
cálculo situacional”.
“A planificação nunca Mais importante do que conseguir
Primeira Consideração determinar o futuro com precisão é
A planificação supõe um cálculo está referida à adivinhação do
complexo, orientado por múltiplos recursos adotar as decisões presentes sobre
“Planifica quem governa”, futuro”. Nesta questão, a planificação
escassos que cruzam muitas dimensões as possibilidades de futuro a partir da
quem tem a capacidade de decidir estratégica propõe trabalhar com
da realidade (recursos organizacionais, análise de tendências de longo prazo
e a responsabilidade de conduzir, “cenários de cálculo”. Nossa obrigação
financeiros, políticos etc.). e da especulação sobre fatos novos
considerando, simultaneamente, múltiplos é ter um plano e uma estratégia para
e inesperados, utilizando-se técnicas
recursos (sempre) escassos. Mesmo um vários cenários que se localizam dentro
Quarta Consideração diversas. O verdadeiro resultado
contexto de democracia plena, em que a de extremos aparentemente possíveis.
esperado é um melhor entendimento
gestão seja participativa e os processos dos condicionantes em jogo e das
decisórios, colegiados, “ter clareza sobre “A planificação se refere
a oportunidades e a problemas oportunidades de futuro. Por outro
quem assina o plano é um bom ponto de lado, o futuro, para virar realidade,
partida”, ensina Cecílio (1997), tornando a reais”. O Plano corresponde, pois, a
requer decisões e ações factíveis e
assertiva ainda mais clara. É relativamente um conjunto de ações que enfrentam
alcançáveis (não desejos ou boas
fácil imaginar processos de planejamento/ um conjunto de fraquezas e ameaças,
intenções). Planejar exige a ousadia
orçamento participativo em que muitos aproveitando ao máximo suas forças e
de visualizar um futuro melhor, mas
podem participar mas, por obrigação oportunidades.
não é simplesmente “sonhar grande”.
legal, alguns se responsabilizam Exige maturidade para se acomodar
mais fortemente pelos compromissos Quinta Consideração às restrições impostas pelo ambiente
assumidos, sua exequibilidade (recursos), ou pelo grau de desenvolvimento da
viabilidade etc. “A planificação é inseparável da organização e, muitas vezes, obriga
gerência”. A única forma de fazer com que a selecionar as melhores ações para
Segunda Consideração a planificação funcione é que responda às alcançar o objetivo desejado. Releia a
necessidades da gestão. Planificar é uma Segunda Consideração.
“A planificação refere-se ao forma de organizar-se para a ação. Este
é ponto crucial que diferencia a planifica-
presente”, ou não é planificação, e isso
Oitava Consideração um modelo único aplicável a todo 2. Desenho do Plano Estraté-
e qualquer contexto, pode-se dizer, gico (Momentos Normativo e
“O Plano é modular” porque, 17 18 seguindo a sugestão do PLANEJA- Estratégico de Matus);
diante de mudanças de cenário de SUS, que o processo de Planejamento
cálculo do Plano, podemos introduzir, divide-se em três “momentos”: 3. Gestão Estratégica do Pla-
retirar ou redefinir algumas operações. no (Momento Tático-Opera-

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O caráter modular do Plano permite 1. Análise de Situação (Mo- cional de Matus).
seu ajustamento racional à realidade, mento Explicativo de Matus);
possibilitando-o expandir ou restringir-
se, conforme as mudanças vão
ocorrendo na realidade. Para conhecer: Sistema de Planejamento do SUS
(Planeja-SUS): uma construção coletiva – trajetória e
orientações de operacionalização (2009)
Plano e Planejamento é a mesma
coisa?

Segundo a práxis do Planejamento


Participativo, a organização se constrói Figura 2 – Representação dos Momentos do Planejamento
a partir de Planos de Ação formulados
da forma mais participativa possível,
Nona Consideração como parte de um processo contínuo de
aprendizagem organizacional operado por
“A planificação não é mecanismos de ajustamento mútuo que
monopólio nosso”. Nosso Plano possibilitam aos seus membros trabalhar
enfrenta oponentes que também com objetivos comuns, embora parciais
planejam. A idéia central da planificação e provisórios, em um ambiente complexo
estratégica consiste em considerar que, e em evolução. Fala-se, pois, em
além de nós, há outros atores na realidade “organizações aprendizes”, permeáveis a
(que também planificam) com objetivos, mudanças, que as fazem desenvolver-se
no mais das vezes, diferentes dos nossos, visando cumprir sua missão.
o que supõe algum grau de conflito pois
nem tudo é redutível à negociação. A Mas o Planejamento não
planificação pratica-se, pois, no contexto deve ser confundido com o Plano.
de um “conflito de planos”. O Plano é um dos produtos de um
amplo processo de análises e acordos;
Décima Consideração o Plano documenta e enuncia as
conclusões desses acordos, indicando
“A planificação não domina o para onde queremos conduzir o sistema
tempo nem se deixa enrijecer por (objetivos gerais ou estratégicos) e
como pretendemos agir para que nossas O centro do processo de planejamento é uma
ele”. Isso quer dizer que, na planificação
metas sejam alcançadas (estratégias e necessidade social, a partir da qual se constrói uma
estratégica, o tratamento do tempo deve
objetivos específicos). lógica e uma metodologia. Basicamente, planejar
ser dis- tinto e o mais flexível possível.
consiste em questionar e procurar responder às
Enquanto a planificação tradicional
A depender, pois, do grau de perguntas decorrentes desse questionamento, ou seja,
centra o problema na arte de desenhar,
formalização do “cálculo que precede e “o quê fazer”, “por quê”, “como”, “quando”, “com quem”
e o melhor Plano é o que tem o melhor
preside a ação”, o seu produto pode ou não e “com o quê”. Como se poderá perceber adiante, as
desenho, o desenho mais coerente, o
estar estruturado na forma de um “Plano”. técnicas é que precisaram se adequar ao perfil dos
problema da planificação estratégica
atores, ao tempo disponível para o trabalho (variável
começa com o desenho. Por isso, existe
Quanto ao processo de crítica) e ao conhecimento sobre a realidade objeto de
o momento estratégico e o momento
Planejamento, que inclui a elaboração planejamento, o que está de acordo com as três adver-
tático-operacional.
do Plano mas não se esgota nele, a tências de Carlos Matus, apresentadas a seguir.
despeito da dificuldade de se identificar

Três Advertências de Carlos de analisar a situação e chegar a definir


Matus “o que queremos” e “como alcançá- Antes de responder esta pergunta, leia a seguir a curiosa
lo”. É esse processo que deve ser 19 20 fábula “Os Cegos e o Elefante”, frequentemente citada,
Primeira Advertência permanente. Embora peça secundária, mas pouco conhecida. Ela sintetiza, de forma singela, o
o Livro-Plano deve existir, entre outras principal desafio do planejamento e ainda nos ajuda a
razões, porque é preciso documentar os refletir sobre esta pergunta. Afinal, qual seria este desafio?
“Cada âmbito problemático
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acordos.
requer um método particular dentro
do método geral estabelecido”.
Terceira Advertência
Nesse trabalho de construção, vocês
enfrentarão muitos problemas de Cientes de que não dispomos de
adaptação ou de criação metodológica uma ciência social suficientemente só-
que vocês mesmos terão de resolver, lida para acertar na análise causal das
caso a caso. conseqüências das decisões que to-
mamos, “devemos entender a pla- OS CEGOS E O ELEFANTE
Segunda Advertência nificação como um processo de John Godfrey Saxe (1816-1887)
aprendizagem-correção-aprendi-
“Devemos entender a Foram seis homens do Hindustão, inclinados para aprender muito, ver o Elefante.
zagem”.
planificação como uma dinâmica Embora todos fossem cegos,cada um, por observação, poderia satisfazer a sua mente.
de cálculo que precede e preside Temos de corrigir a trajetória a
a ação, que não cessa nunca, cada tempo, pois não somos capazes O Primeiro aproximou-se do Elefante e aconteceu de chocar-se contra seu am-
sendo processo contínuo, que de fazer um cálculo único de toda a plo e forte lado. imediatamente começou a gritar: “Deus me abençoe, mas o Elefante
acompanha a realidade mutável”. trajetória para atingir o objetivo. é semelhante a um muro”.

Um dos fatos que caracterizam o Planejar amplia a possibilidade O Segundo, pegando na presa, gritou: “Oh ! O que poderia ser assim tão re-
mundo atual é a velocidade e a intensidade de influir nos resultados futuros sem, dondo, liso e pontiagudo? Para mim está muito claro: esta maravillha de elefante é
das mudanças que ocorrem nos mais entretanto, garantir que se tenha muito semelhante a uma lança!”
variados campos da realidade. Isso nos controle total sobre eles.
coloca um sério problema de velocidade O Terceiro aproximou-se do animal e aconteceu de pegar a sinuosa tromba
de cálculo que devemos solucionar Planejamento Participativo em com suas mãos. Assim, falou em voz alta: “Vejo”, disse ele,”o Elefante é muito pare-
para não sermos historiadores. Além Saúde cido com uma cobra!”
disso, inviabiliza qualquer expectativa de
“controle total” ou de “predição”. O “planejador”, hoje em dia, é O Quarto esticou a mão, ansioso,e apalpou em torno do joelho. “Com que este
visto como facilitador do processo. Não animal se parece é muito fácil”, disse elle. Está muito claro que o Elefante é muito
Em verdade, o Plano deve que seu trabalho seja prescindível (e as semelhante a uma árvore!”
ser encarado como uma peça organizações tenham se dado conta de
O Quinto, por acaso, tocou a orelha e disse,: “Até um cego pode dizer com o que ele
de vida efêmera – o processo de que é perfeitamente possível apropriar-
se dos conceitos e ferramentas do se parece: negue quem puder. Esta maravilha de Elefante é muito parecido com um leque!’
planejamento, em si, é que deve ser
permanente – porque rapidamente planejamento e, desta forma, economizar
com consultores especializados), mas O Sexto, mal havia começado a apalpar o animal,pegou na cauda que balançava
vai perdendo sua atualidade face ao
por que este Planejamento deve ser e veio ao seu alcance. “Vejo”, disse ele, “”o Elefante é muito semelhante a uma corda!”
desenrolar da realidade, razão pela qual
precisa ser permanentemente revisado Participativo, o que alterou o papel
desempenhado pelo planejador! E assim esses homens do Hisdunstão discutiram por muito tempo, cada um
para se manter atual. A riqueza do
com a sua opinião, excessivamente rígida e forte. Embora cada um estivesse, em
planejamento está no processo em si
parte, certo, todos estavam errados!

Há vantagens no envolvimento de não especialistas Moral da História:


nesse processo?
Com frequência em guerras teleológicas, os disputantes prosseguem em total
ignorância daquilo que cada um dos outros quer dizer e discutem sobre um elefante
que nenhum deles viu!
Análise da Fábula apresentar aqui uma “receita de bolo”, Considerando a diversidade e complexidade de situações com as
mas, ao contrário, demonstrar que quais a atenção básica lida, há que se ter/construir capacidades
O enfrentamento de “problemas o Método é auxiliar e não o centro do 21 22 de análise e intervenção ampliadas diante das demandas e
complexos” obriga-nos a dispor de processo do planejamento. Nesse necessidades para a construção de uma atenção integral e
todas as visões/opiniões que possam sentido, subordina-se aos objetivos e resolutiva. Isso requer tanto a presença de diferentes formações
contribuir para a compreensão e, ao contexto: reconhece a complexidade profissionais quanto um alto grau de articulação entre os

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solidariamente, para o enfrentamento dos problemas de saúde e enfatiza o profissionais de modo que não só as ações sejam compartilhadas,
dos problemas definidos por todos diálogo gerador de compromissos e a mas também tenha lugar um processo interdisciplinar no qual
como prioritários. O planejamento deve negociação entre os agentes na gestão progressivamente os núcleos de competência profissionais
ser feito pelos atores sociais envolvidos das organizações. específicos vão enriquecendo o campo comum de competências
na ação. ampliando assim a capacidade de cuidado de toda a equipe.
O melhor “método” é aquele Essa organização pressupõe o deslocamento do processo de
Como ensina Matus: “todos que melhor ajudar numa determinada trabalho centrado em procedimentos profissionais para um
podem opinar pois todos devem opinar situação. processo centrado no usuário, onde o cuidado do usuário é o
sobre os problemas reais que os afetam imperativo ético-político que organiza a intervenção técnico-
e as soluções mais eficazes”. Além disso, o planejamento científica (BRASIL, 2011).
é, como vimos, uma arma poderosa
Na área de abrangência de uma para apoiar o desenvolvimento das O Momento Explicativo matusiano corresponde à construção de uma Análise
equipe de Saúde da Família, além organizações e dos sistemas. de Situação a partir da reunião de um conjunto de informações básicas que orientarão
da equipe multiprofissional, pode-se a formulação do Plano:
envolver uma variada composição de Promover uma cultura institucional
atores sociais, representando a rede de em que os agentes estejam habituados Quais as necessidades de
serviços, o governo, o conselho local a refletir sobre a finalidade das ações Qual a atual oferta de
saúde da população e a ordem
de saúde e outros representantes da empreendidas é uma excelente forma X serviços existentes e sua
de prioridade
sociedade civil etc. de melhorar a qualidade e efetividade capacidade de
dessas necessidades?
do trabalho. Assim, o Planejamento
Objetivos amplamente discutidos é, também, uma excelente forma de
Essas informações devem expressar as características que evidenciam as
e em que há consenso são mais educação permanente no nível gerencial.
condições de vida e de saúde dessa população e que são responsáveis pela geração
facilmente aceitos e compreendidos
dessas demandas ao SUS e, em especial, é equipe de Saúde da Família, bem como
por aqueles que, de alguma forma, Lição 3: Análise de situação, se estas demandas estão sendo satisfeitas.
participarão da execução das ações território sanitário e territoriali-
necessárias para atingi-los.
zação Para que essa Análise de Situação se viabilize, é necessário, pois, dispor de
dados de saúde que sejam suficientemente específicos em relação aos grupos popu-
Pode-se acrescentar que,
Análise de situação, território lacionais que se pretende atingir. E será preciso inserir esse diagnóstico de saúde em
como vimos no Módulo 3, a “gestão
participativa” é uma obrigação legal dos sanitário e territorialização seu contexto social, político, econômico e cultural, buscando identificar os fatores que
determinam a situação insatisfatória.
gestores no âmbito do SUS, mas o melhor
efeito desse processo participativo O centro do processo de
planejamento é, como vimos, uma A análise das condições de saúde da população e seus determinantes, o que
advém do compromisso coletivo
necessidade social que, frequentemente, inclui o sistema de saúde, visa, pois, construir uma visão integrada da situação de
assumido por todos o participantes,
se traduz como uma demanda aos saúde da população (Figura 3).
o que confere legitimidade ao Plano e
facilita a implantação de mecanismos governos, e isso em todos os níveis
de “cobrança e responsabilização”. de gestão. Em se tratando de uma
necessidade de saúde (das pessoas/
É sabido que a implementação usuários, famílias, comunidade ou dos
de decisões é muito mais ágil e eficiente serviços de saúde), pode-se dizer que
quando as pessoas conhecem suas o centro do processo de planejamento
razões e origens e, em particular, quando está referido a um “problema de saúde”,
tomaram parte na sua elaboração. aqui definido como uma situação que
se afasta de um determinado padrão
Embora seja este o desenho de qualidade, meta ou expectativa
geral proposto, não se pretende justificada.

Figura 3 – Modelo explicativo das condições de saúde da população ções. Na saúde, as informações necessárias dizem respeito tanto à caracterização
dos serviços de saúde como das pessoas que os utilizam (usuários).Antes disso, po-
23 24 rém, é preciso caracterizar o Território Sanitário onde as pessoas vivem e a equipe
multiprofissional trabalha.

Território Sanitário e Territorialização


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O conceito de “território sanitário” que está sendo adotado neste curso é coeren-
te com o método de planejamento sugerido. Sendo assim, não é compreendido apenas
como um espaço geográfico, mas, sim, como o local em que se dá o processo de
vida da comunidade, a interação de distintos atores sociais com qualificações sociais,
econômicas, culturais, políticas, epidemiológicas e históricas distintas. Chama-se
de territorialização ao processo de reconhecimento e apropriação do território pelos
atores sociais.

O processo de territorialização consiste em uma etapa funda-


mental de apropriação/conhecimento do território pelas equipes
de trabalhadores da atenção básica, onde ocorre a cartogra-
fia do território a partir de diferentes mapas (físico, socioeco-
nômico, sanitário, demográfico, rede social etc.). Por meio da
territorialização se amplia a possibilidade de reconhecimento
das condições de vida e da situação de saúde da população de
uma área de abrangência, bem como dos riscos coletivos e das
Fonte: Adaptado de VIACAVA et al. Uma metodologia de avaliação do desempenho do sistema de potencialidades dos territórios (BRASIL, 2011).
saúde brasileiro. Ciência & Saúde Coletiva, 9(3):711-724, 2004.
O estabelecimento dessa base territorial é o primeiro passo para a caracteri-
O esforço é no sentido de construir uma visão integrada da “totalidade sanitária”, zação da situação de saúde da população (o que inclui os determinantes), bem como
embora esta realidade sanitária seja, na maioria das vezes, complexa demais para para o dimensionamento do trabalho a ser realizado pela equipe. Esta base territorial
ser conhecida em sua totalidade e, mesmo este reconhecimento parcial, incompleto, deve ser detalhada a nível de domicílio, de modo a possibilitar a adscrição da clientela
só se realize por aproximações sucessivas, de modo que, mais uma vez, a variável à equipe, bem como o monitoramento e avaliação das ações.
crítica é “tempo”.

Vimos no Quadro 1 que o planejamento deve resolver, na opinião de Matus, Mas atenção: este processo de territorialização não deve
quatro macro-questões cujo enfrentamento corresponde a quatro “momentos” de um se constituir em procedimentos rígidos pois a rigidez
processo contínuo de planejamento. No nível local, o primeiro momento, de Análise normativa é o caminho certo para o fracasso!
de Situação, também pode ser realizado por meio de quatro passos que, igualmente,
se retroalimentam:

1. Reconhecimento/apropriação do território sanitário (territorialização); Como os dados epidemiológicos coletados pelo IBGE e pela Secretaria de
Saúde não são suficientemente desagregados para construir o perfil demográfico e
2. Análise das condições de saúde da população adscrita e de seus epidemiológico da população residente na área de abrangência de cada equipe, o
determinantes sociodemográficos, ambientais e culturais; método de Estimativa Rápida Participativa (ERP) poderá ser adotado para
realizar esse processo de territorialização na micro-área.
3. Avaliação da estrutura e desempenho da Unidade de Saúde da
Família e do SUS em que se insere a Equipe; A estimativa rápida trabalha, fundamentalmente, com três fontes de dados:
registros dos SIS (fichas do e-SUS APS, registros do e-SUS.); entrevistas com
4. Identificação, descrição, seleção e análise dos problemas prioritários. informantes chave; e observação de campo. Para garantir o sucesso da pesquisa é
preciso realizar, minimamente, uma análise dos dados produzidos pela própria equipe,
De qualquer forma, só é possível planejar a partir do conhecimento do sistema a seleção dos informantes-chave e coordenar o trabalho de campo:
de saúde e do contexto em que ele se insere. O sucesso do planejamento, ou seja,
a efetividade dos resultados mantém relação direta com a qualidade dessas informa- a) Quanto às fontes dos dados, recomenda-se ecletismo, aproveitando-
se de todas as fontes que mereçam confiança, o que inclui:
• Os dados censitários e dos sistemas de informação em saúde (SIS) Figura 4 – Exemplo de Mapa utilizado pelo PSF/PACS
utilizados pelas equipes de saúde (fichas do e-SUS APS, registros do
e-SUS, certamente); 25 26

• Mas também informações coletadas de professores, cuidadoras


sociais, líderes comunitários, dono da farmácia, moradores antigos

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ou que participam ativamente da vida da comunidade, entre outros
informantes.

b) A observação de campo visa ao delineamento das fronteiras das


micro-áreas e a definição dos riscos a que a população está submetida.
Compete aos profissionais registrar suas impressões quanto ao:

• ambiente físico da área (características locais de infraestrutura);

• perfil dos moradores (sócio-econômico, cultural, ambiental,


demográfico, epidemiológico);

• tipos de serviços públicos oferecidos (quanto à acessibilidade,


qualidade e adequação à demanda).

Recomenda-se a análise de algumas questões gerais, Fonte: http://dalecioconsultoria.files.wordpress.com/2011/05/mapa-territc3b3rio.jpg (Acesso em 7


tais como: referências históricas, características do solo, nov. 2014)
do meio ambiente, sócio-econômicas e políticas.
Figura 5 – Exemplo de Mapa geocodificado

c) É de fundamental importância a visualização do território a ser trabalhado


por meio de algum mapa. Além da micro-área de abrangência da equipe, é
fundamental a visualização, no mapa, do conglomerado urbano em que se
localiza a micro-área, de modo que possam ser mapeados os principais
equipamentos urbanos e barreiras geográficas que limitam o acesso das
pessoas aos serviços de saúde.

Fonte: https://info.saude.df.gov.br/ubssalasit/. (Acesso em 20 dez. 2022)

Podemos ter mapas confeccionados manualmente com auxílio da comunida- Lição 4: Análise das condições de saúde da população adscrita
de, mas também fotos de territórios utilizando recursos de informática ou internet. O
conjunto dos mapas feitos formará um grande mapa da área de atuação da equipe de 27 28 De uma maneira geral, a análise das condições de saúde da população visa:
Saúde da Família. Esse mapa, feito com todas as informações sobre a área, pode dar
origem a outros mais específicos em que podem ser destacadas informações das ruas, a) Compreender a evolução do quadro epidemiológico e identificar seus
caminhos e as linhas de ônibus de uma comunidade. Em uma região que chove muito, determinantes demográficos e socioambientais;
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é importante conhecer bem os rios, açudes, lagos e locais propensos à inundação.


b) Estabelecer uma hierarquia de fatores de risco e vulnerabilidades aos
É necessário que você identifique no território de sua equipe quais os riscos agravos considerados mais relevantes;
de sua micro-área. Como já foi dito anteriormente, o mapa retrata o território onde
acontecem mudanças, portanto, ele é dinâmico e deve ser constantemente atualizado c) Identificar os grupos/famílias mais vulneráveis aos agravos conside-
para facilitar o seu trabalho: conhecer os caminhos mais fáceis e marcar as barreiras rados mais relevantes e as situações de risco sanitário a serem priori-
geográficas; identificar com símbolos os grupos prioritários: gestantes, idosos, hiper- zadas.
tensos, diabéticos, pessoas acamadas, crianças menores de cinco anos, pessoas
com deficiência, usuário de drogas, pessoas com hanseníase ou com tuberculose etc. A Demografia, a Epidemiologia e as Ciências Sociais são, pois, fun-
damentais para definir as necessidades de saúde e auxiliar o planejamento dos
Recomendamos a leitura a seguir, disponível na biblioteca serviços. Seria de vital importância que houvesse dentro de cada Secretaria da Saúde
do módulo: um serviço de informações em saúde que sistematizasse esses dados demográficos,
de morbidade e mortalidade num grau de desagregação cuja análise retroalimentasse
Mendes, E. V. et al. Território: Conceito Chave. as ESF.
In: Distrito sanitário: o processo social de
mudança das práticas sanitária do Sistema Na micro-área, o cadastro/Ficha A é o primeiro passo para o conhecimento
Único de Saúde. São Paulo, HUCITEC; Rio das famílias residentes e territorialização da área de responsabilidade da equipe de
de Janeiro, ABRASCO, 1993, p. 166-169. saúde. Este conhecimento pode ser complementado pela observação de campo e
entrevista com informantes-chave. É, além disso, um momento importante para esta-
belecimento do vínculo entre a equipe de saúde e a família, a partir do qual se dará
o acompanhamento das várias situações apresentadas.
Está com tempo e seguro da compreensão do conteúdo
disponibilizado até agora? Vamos fazer uma pausa?
Um café? O trabalho “pesado” está para começar Se e-SUS Atenção Primária à Saúde (e-SUS APS) MANUAL
não estiver seguro do conteúdo até agora, volte, releia DE USO
e explore!
https://cgiap-saps.github.io/Manual-eSUS-APS/
Que tal começar a pensar no território que abordará no
seu trabalho de conclusão de curso?
Acesse e conheça:

Fichas vigentes em
Vamos construir um mapa?
https://sisaps.saude.gov.br/esus/
Você conhece o projeto WIKIMAPIA –Vamos descrever
o mundo todo! : https://pt.wikipedia.org/wiki/WikiMapia
O objetivo é conhecer as famílias residentes nas áreas de responsabilidade
Explore essa ferramenta. Será que já descreveram os das equipes de saúde, relacionando os seus integrantes, a situação de moradia e
centros de saúde mais próximos de você? Existe um outras informações necessárias para a programação das ações de saúde. A meta:
mapa da sua área de atuação (escolha para o TCC)? identificar e cadastrar 100% das famílias residentes na área de responsabilidade.
Contempla os logradouros (ruas, praças, caminhos), as
unidades residenciais sob responsabilidade da atenção
básica? http://wikimapia.org/
o indicador não traduz “risco” de adoecer nem de morrer. Exemplo: Mortalidade
Observe-se que o foco desta análise é dependente da Proporcional (n° de óbitos por uma causa ou grupo de causas dividido pelo total de
definição da Clientela adscrita. 29 30 óbitos ocorridos no mesmo período Δt). Neste caso, fala-se que “representam a fração
de contribuição de cada categoria com relação ao todo”, mas não um “risco” de
adoecer ou morrer.

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E diferente é o caso da razão, quando o numerador não está incluído no
O que são indicadores e para (magnitude e distribuição de problemas denominador. Embora sejam sempre da mesma natureza e tenham a mesma unidade
de medida, numerador e denominador são mutuamente excludentes. Exemplo: Razão
que servem? relacionados à saúde) e, assim, guiar-nos
na direção da nossa missão: a garantia de Sexos (no de homens dividido pelo no de mulheres).
Para responder a essa pergunta, do direito à atenção integral em saúde.
inspire-se no ditado popular: “onde Quanto aos indicadores de saúde Por fim, na forma de índice, os indicadores de saúde podem expressar,
existe fumaça, há fogo”. E no exemplo: quantitativos, podem corresponder simultaneamente, múltiplas dimensões de uma determinada situação de saúde.
“nuvens no céu podem indicar chuva”. a números absolutos, estar Exemplo: Índice de Massa Corporal (peso dividido pela altura2).
“relativizados” (caso das proporções,
Sim, a fumaça e as nuvens são, coeficientes e razões) ou, ainda, INDICADORES DEMOGRÁFICOS
comumente, tomadas como “indicadores” assumir a forma de um índice.
de fogo e chuva, respectivamente. Portanto, Quanto aos indicadores demográficos, o conhecimento da população total e
os “indicadores” indicam, anunciam, anteci- sua distribuição por sexo e faixa etária (Tabela 1) é fundamental para:
Na forma de um número
pam, descrevem, identificam situações de absoluto (total de gestantes ou de
forma menos ou mais direta. Mas há uma • Construir a Pirâmide Etária;
fumantes, por exemplo), podem expressar
diferença nesses dois exemplos. Você seria a dimensão de um problema e, assim, ser
capaz de identificar? • Calcular a Razão de Sexos e a Razão de Dependência;
muito úteis ao planejamento/programação
das ações (de atenção ao pré-natal ou • Estimar o número e a proporção da população feminina em idade fértil;
Praticamente não é possível assistência aos fumantes que desejam
que haja fumaça sem fogo, embora o parar de fumar, respectivamente), mas
fogo possa já ter sido apagado ou não • Estimar o número de gestantes residentes na micro-área.
apresentam grande limitação quando
ser proporcional à fumaça produzida. utilizados para comparações entre
Quanto às nuvens, “podem” indicar Tabela 1 – População residente na micro-área segundo idade e sexo*
territórios de tamanhos diferentes (Brasil
chuvas, mas enquanto a fumaça é efeito versus Uruguai, por exemplo).
do fogo, as nuvens são a causa das
Faixa Etária Menor de 1 ano Homens Mulheres Total 0

chuvas, embora seus efeitos estejam na


1a4 0
Na forma de uma proporção,
dependência, também, dos ventos, da
5a6 0
todas as unidades do numerador estão
pressão atmosférica, tipo de nuvens etc.
contidas no denominador, mas somente
7a9 0

traduzem “risco” se o denominador


10 a 14 0
Em ambos os casos, entretanto,
corresponder à população sob risco
15 a 19 0
os indicadores nos servem como
de adoecer ou morrer, situação em
guia para a ação: seja a de chamar o
20 a 24 0
que o indicador será denominado
Corpo de Bombeiros para “apagar um
25 a 29 0
coeficiente. Exemplo: Coeficiente de
provável fogo”, seja a de correr para
30 a 34 0
Mortalidade Geral (no de óbitos dividido
um lugar protegido da “chuva que se
35 a 39 0
pela população total acompanhada
anuncia”. O Corpo de Bombeiros pode
durante um período Δt). Nesta situação,
40 a 44 0
chegar após o fogo já ter consumido
qualquer indivíduo que estiver incluído
45 a 49 0
tudo enquanto a chuva pode, de fato,
no denominador populacional deve ter
50 a 54 0
nunca chegar! De qualquer maneira,
a chance (possibilidade) de se tornar
servem de guia para nossa ação.
55 a 59 0
parte do numerador. 60 a 64 0

Igualmente, os Indicadores de
65 a 69 0
Diferente é o caso da fração,
Saúde são medidas, quantitativas ou
70 ou mais 0
quando todas as unidades do numerador
qualitativas, utilizadas para dimensionar estão contidas no denominador, mas *Excluídos os Ignorados/Sem Informação.
Total 0 0 0 0
as condições de saúde de uma população

INDICADORES DE MORBIMORTALIDADE
Problemas relevantes para Crianças e Adolescentes:
A análise dos dados demográficos nos permite antecipar informações 31 32
importantes a respeito da população adscrita, prever necessidades em saúde maiores a) Puericultura (DNPM, rastreamento, h) Regurgitação e vômitos;
ou menores em tal sexo ou faixa etária, bem como permite antecipar a demanda prevenção de acidentes);
aos serviços de assistência pré-natal a partir da estimativa de gestantes residentes b) Aleitamento Materno e Alimentação i) Pé torto, Pé Chato;
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na micro-área. Mas estas informações terão outra função importantíssima: permitir Infantil;
a construção dos indicadores de morbimortalidade, servindo como denominadores c) Cólicas do lactente; j) Enurese;
para o cálculo dos coeficientes de incidência e prevalência. A incidência refere-se à d) Icterícia do RN; k) Puberdade precoce ou tardia;
ocorrência de casos novos de algum agravo ou doença em um intervalo de tempo e) Dermatite de Fraldas e Seborrêica; l) Acne e Seborréia;
Δt, enquanto a prevalência corresponde ao estoque de suscetíveis com o agravo ou
f) Problemas cirúrgicos (hérnia, fimose, m) Transtornos de aprendizagem e déficit
doença em um certo instante t.
criptoquirdia, hidrocele); de atenção;
De que adoece/morre a população? g) Problemas no umbigo do recém- n) Fluorose dentária;
nascido;
A pergunta a ser respondida aqui é: de que adoece/morre a população? o) Ortodontia preventiva e interceptativa p) Má Oclusão.
na APS;

Queixas mais frequentes em Atenção Primária em Saúde (APS) Problemas relevantes para as Mulheres:

a) Anemias; n) Transtorno Mental leve (ansiedade e a) Assistências Pré-Natal e ao Puerpério; d) Dor pélvica;
depressão); b) Intercorrências comuns (Emese, e) Doenças da mama;
b) Desnutrição energético-protéica; m) Dor torácica; DHEG, ITU, DM);
c) Gastrenterites; o) Tabagismo; c) Saúde Bucal no Pré Natal e Puerpério; f) Sangramento uterino anormal.
d) Cefaléias; r) Dor Abdominal;
Problemas relevantes para os Homens:
e) Doenças Respiratórias Agudas; s) Sintomas do Climatério;
f) Rinite, Asma e DPOC; t) Vaginites, vulvites e vaginoses; a) Dor escrotal;
g) Cárie Dentária e Gengivites; u) Infecções do Trato Urinário; b) Disfunção erétil;
h) Obesidade; v) Dermatites de Contato e diagnósticos c) Hiperplasia prostática benigna.
diferenciais;
i) Distúrbios do Metabolismo dos Lipídios w) Amenorréia; Problemas relevantes para os Idosos:
j) Hipertensão Arterial (infância e adulto); x) Dispepsias;
k) Diabetes - Tipo 1 e 2; y) Pediculoses; a) Perda da Acuidade Auditiva e Visual; e) Doença de Parkinson e tremores;
l) Síndrome Metabólica; z) Parasitoses b) Avaliação Cognitiva e Funcional: f) Osteoporose e Prevenção de quedas
autonomia, dependência e riscos; e fraturas;
Problemas relevantes comuns a todas as Idades: c) Demências; g) Envelhecimento saudável.
d) Incontinência Urinária;
a) Urgências e Emergências em APS h) Distúrbios do Sono;
(urticária, intoxicações, abdome agudo,
epistaxe, mordedura, queimadura, olho
vermelho, AVC);
b) Traumatismo dentário, doença perio- i) Convulsão/ Epilepsia;
dontal e gengivites;
c) Somatização e sintomas físicos inex- j) Perda de peso involuntária;
plicáveis;
d) Diagnóstico dermatológico; k) Desidratação;
e) Mancha e nevos; l) Dismenorréia;
f) Otite externa; m) Halitose;
g) Constipação; n) Hérnias da parede abdominal.
Porque a população adoece e Lição 5: Análise do processo de Análise do Ambiente Externo e potencial para contribuir ou prejudicar
morre por essas causas? trabalho da equipe e do Sistema Mapeamento dos Atores Sociais o trabalho da equipe, isto é, para as
condições de saúde da população sob
Local de Saúde
33 34
Mas porque a população adoece O ambiente externo de responsabilidade da ESF.
e morre por essas causas? Obviamente, a estrutura e uma organização inclui todos os
fatores externos que podem afetar o Oportunidades “são situações,

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desempenho da ESF e do sistema

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Concretamente, as populações desempenho organizacional e até a sua tendências ou fenômenos externos à
de saúde como um todo também são
adoecem e morrem por razões bem sobrevivência. organização, atuais ou potenciais, que
fatores-chave para o êxito das ações de
determinadas. Perceba que não se podem contribuir em grau relevante e
saúde. Esta análise pode ser subdividida
trata de um fenômeno aleatório, ao Na busca de informações, a por longo tempo para a realização de
em Análise de Ambiente Interno e
acaso, mas, ao contrário, estruturado, organização precisa observar grande sua missão ou objetivos permanentes e
de Ambiente Externo. para o alcance de um bom desempenho”
com determinações que podem ser quantidade de sinais, bem como
razoavelmente bem identificadas porque diagnosticar as suas causas, para, enquanto as ameaças “podem
Análise do Ambiente Interno prejudicar o cumprimento de sua missão
já integram o diagnóstico familiar e seletivamente, analisá-los, visando
comunitário realizado comumente pelas compreendê-lo, pois a “organização que e o alcance de um bom desempenho”
A Análise de Ambiente Interno (PORTO, 1998).
ESF, no mínimo em termos de normas não conhece o ambiente externo onde
corresponde a um esforço de
antecedentes. está inserida e a sua potencialidade está
diagnóstico do trabalho da equipe Evidentemente, a relevância
fadada ao insucesso por despen- der
de SF e do SUS ao qual se conecta, desta exploração do ambiente externo
Indicadores Socioeconômicos buscando construir uma visão integrada
esforços redundantes e, muitas vezes,
de baixa eficácia” (MORESI, 2001). é bastante variável a depender
e Ambientais das suas características internas. Muito da organização que estivermos
comumente, o objetivo desta ativi- dade planejando e do território em que a
A compreensão da situação A elaboração do Plano exige,
é o de identificar pontos fortes e fracos. organização estiver situada. No caso
sanitária, portanto, demanda a análise, além disso, a necessidade de explicar a
realidade não apenas a partir de nosso de uma USF, pode se tratar de uma
também, dos indicadores e determinantes As “forças” são situações, micro-área “pobre” em termos de
socioeconômicos e ambientais, que lugar situacional, mas também a partir
tendências ou fenômenos internos organizações comunitárias, mas “rica”
ajudam a explicar a ocorrência dos da “visão dos outros”.
à organização que podem contribuir de organizações governamentais, por
agravos, doenças e óbitos na população. em grau relevante e por longo tempo exemplo; ou o contrário. De qualquer
O que é problema para mim pode
para o seu desempenho, enquanto forma, as oportunidades e ameaças,
Quanto aos determinantes ambien- ser, inclusive, oportunidade para outros
as “fraquezas” podem prejudicar este algumas vezes, serão definidas pelo
tais, o que se propõe é a análise do tipo de ato- res sociais. Portanto, não existe
desempenho. ambiente externo local; outras vezes,
habitação e abastecimento de água, desti- uma verdade única para os distintos
atores sociais. A explicação do “outro” pelo ambiente externo municipal/
no dos dejetos e do lixo, acesso à energia De uma maneira geral, a análise estadual/distrital/nacional/ internacional.
elétrica e situação da moradia; quanto aos é parte da realidade que devo explicar,
do ambiente interno visa:
determinantes socioeconômicos, o acesso faz parte da “situação”. Sugere-se
aos equipamentos urbanos, renda familiar, consolidar essa discussão em quadros Conclusão
1. Avaliar a estrutura e o
inserção no mercado de trabalho e ocupa- que sumarizem os “consensos”.
desempenho da organização Chegamos ao fim do material
ção do chefe de família e escolaridade da em relação ao cumprimento
Recomenda-se fortemente o teórico que o ajudará na construção do
mãe. da sua Missão institucional;
levantamento dos atores relevantes, seu trabalho de conclusão de curso.
É nossa expectativa de que “Oportunidades” e “Ameaças” no nível
2. Identificar e estabelecer Aguarde a disponibilização das
estes indicadores relativos à micro- da USF mas também da região de
uma hierarquia de forças e tarefas avaliativas e o do campo para
área adscrita, quando comparados saúde, da UF e do país nesta etapa do
fraquezas que determinam incluir o produto 1 do seu TCC.
com as médias nacionais, estaduais planejamento.
as potencialidades da
ou municipais, permitirão avaliar/julgar organização;
Observe que os atores sociais Até lá, continue explorando o
situações sanitárias problemáticas
podem ser pessoas (lideranças conteúdo disponibilizado e acompanhe
e priorizar problemas geradores de 3. Identificar as principais
comunitárias, por exemplo), mas a liberação das tarefas no ambiente
problemas que, se corretamente causas dessas forças e
também instituições governamentais virtual.
enfrentados, permitirão melhorar as fraquezas.
condições de saúde e a qualidade de e não-governamentais que têm
Boa reflexão!
vida da população.

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