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Aula 12

Saúde dos Trabalhadores da APS


MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Atenção Primária à Saúde
Departamento de Prevenção e
Promoção da Saúde

Projeto Cuida APS

Curso de Extensão EaD


Gestão dos Serviços da APS e o
Monitoramento do Cuidado das Pessoas
com Condições Crônicas

Aula 12
Saúde dos Trabalhadores da APS

Iara de Oliveira Lopes

São Paulo – SP
2021-2023
Créditos

MINISTÉRIO DA SAÚDE HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ


Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Diretor Presidente:
Único de Saúde - PROADI/SUS José Marcelo de Oliveira
Projeto Cuida APS: Cuidado das Pessoas com Doenças Crônicas Diretora Executiva de Sustentabilidade e Responsabilidade Social:
Não Transmissíveis Ana Paula Neves Marques de Pinho
Diretora Executiva de Educação, Pesquisa, Inovação e
EQUIPES DIRETIVAS Saúde Digital:
MINISTÉRIO DA SAÚDE Maria Carolina Sanchez da Costa
Ministra da Saúde: Gerente de Projetos:
Nísia Verônica Trindade Lima Samara Kielmann
Secretaria de Atenção Primária à Saúde:
Nésio Fernandes de Medeiros Junior GRUPO EXECUTIVO DO PROJETO
Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde: Fernando Freitas Alves
Andrey Roosewelt Chagas Lemos Flávia Landgraf
Coordenadora-Geral de Prevenção às Condições Crônicas na Gilmara Lúcia dos Santos
Atenção Primária à Saúde: Lara Paixão
Gilmara Lúcia dos Santos Marcela Alvarenga de Moraes
Samara Kielmann
CONASEMS
Presidente:
Wilames Freire Bezerra
FECS - FACULDADE DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
Secretário Executivo:
Diretoria Acadêmica
Mauro Guimarães Junqueira
Elaine Emi Ito
Coordenação Geral de Pós-graduação:
Paula Zanelatto Neves
Secretaria Acadêmica e Apoio:
Bruna Aparecida de Souza Manoel

EQUIPE TÉCNICA DO HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ (HAOC)


Coordenadora: Gestão dos Processos de EaD:
Flávia Landgraf Débora Schuskel
Analistas: Gestão dos Processos do Curso:
Lígia Mendes Borges Aline de Almeida Simões
Tauana Sequalini Gestão do Ambiente Virtual de Aprendizagem:
Tiago Klein Potratz Rafael Fernando Alfieri
Equipe Técnico-pedagógica do Projeto: Produção Audiovisual:
Américo Yuiti Mori Vitor Hiroshi Pereira
Cristian Fabiano Guimarães Analista de Suporte a Sistemas Educacionais:
Debora Alcântara Mozar Jefferson Araújo de Oliveira
Flávio Adriano Melo Borges Design Instrucional:
Fernanda Ferreira Marcolino Camila Ferrarini Soares
Fernanda Rocco Oliveira
Lara Paixão Coordenação do Curso:
Luciana Soares de Barros Fernanda Rocco Oliveira (1ª Edição e 2ª Edição)
Mariana Fonseca Paes Iara de Oliveira Lopes (1ª Edição)
Maria Lúcia Teixeira Machado Supervisão de Processos Digitais Educacionais:
Maria Delzuita de Sá Leitão Fontoura Silva Fernanda Ferreira Marcolino
Sueli Fátima Sampaio Autora:
Rosemarie Andreazza Iara de Oliveira Lopes
Colaboradores: Revisão Técnica:
Adelson Guaraci Jantsch Fernanda Rocco Oliveira
Alexandre Sizilio Revisão de Conteúdo Digital:
Clarissa Willets Bezerra Fernanda Rocco Oliveira
Daniela de Almeida Pereira Iara de Oliveira Lopes
Iara de Oliveira Lopes Revisão Textual:
Leonardo Graever Emilene Lubianco de Sá
Patrícia Sampaio Chueiri

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 03


Sumário

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS

Apresentação da Aula ................................................................................................................................................................................................. 05

Objetivos de Aprendizagem ................................................................................................................................................................................. 05

Introdução ............................................................................................................................................................................................................................ 06

O campo da saúde dos trabalhadores ......................................................................................................................................................... 07

O trabalho na atenção primária em saúde .............................................................................................................................................. 09

A pandemia e o trabalho na APS .................................................................................................................................................... 11

Saúde mental e subjetividade no trabalho na APS ............................................................................................................................ 12


Satisfação no trabalho ............................................................................................................................................................................. 13

Organização do processo de trabalho ...................................................................................................................................... 14

Condições de trabalho ........................................................................................................................................................ 15

Participação nas decisões ................................................................................................................................................ 16

Burnout: o esgotamento profissional .................................................................................................................... 17

Violência e assédio no trabalho ........................................................................................................................................................................... 19

Violência no território ............................................................................................................................................................................... 21

Assédio, desigualdades e discriminação no trabalho ................................................................................................. 22

Violência institucional e metas abusivas ........................................................................................................... 24

Ações para a proteção da saúde dos trabalhadores da APS ..................................................................................................... 26

Vigilância em Saúde do Trabalhador ........................................................................................................................................ 26


Identificando os desgastes do trabalho na APS ......................................................................................... 27

Trabalho decente ....................................................................................................................................................................................... 28

Tempo de trabalho equilibrado ..................................................................................................................................................... 29

Segurança no território ......................................................................................................................................................................... 30

Ações para prevenção e cuidado do sofrimento psíquico e do esgotamento profissional ...... 32

Algumas propostas de ações para fortalecer a saúde dos trabalhadores da APS ....... 34

Construindo metas produtivas com a equipe .............................................................................................. 36

Considerações finais ..................................................................................................................................................................................................... 37

Referências ........................................................................................................................................................................................................................... 38

A Autora .................................................................................................................................................................................................................................. 43

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 04


Projeto Cuida APS

Apresentação da Aula

Caras gestoras e gestores da Atenção Primária em Saúde,

Sejam bem-vindos(as)!

Nesta aula, abordaremos um tema essencial, mas que constantemente é


negligenciado: a saúde dos trabalhadores e das trabalhadoras da saúde. Como veremos
durante a aula, as pesquisas indicam que os profissionais da APS estão trabalhando sob
condições adoecedoras. O primeiro passo para transformar essa realidade é buscar
compreender as causas e a dimensão dessa situação. A partir desse reconhecimento,
pretendemos pensar em caminhos para proteção da saúde – em especial da saúde
mental – daqueles que têm o cuidado como objeto de trabalho.

Objetivos de Aprendizagem

Ao final desta aula, vocês serão capazes de:


✓ refletir sobre o trabalho como dimensão essencial na saúde
individual;
✓ refletir sobre a saúde mental no trabalho e indicar propostas
para a gestão local na resposta aos agravos, como a síndrome
do esgotamento profissional;
✓ abordar o trabalho decente e enfrentamento à violência e ao
assédio no trabalho;
✓ refletir sobre assédio institucional e metas inalcançáveis;
✓ refletir sobre as possibilidades de ação e as responsabilidades
do gestor local na proteção à saúde dos trabalhadores da
atenção primária.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 05


Projeto Cuida APS

Introdução

Se o processo de trabalho é uma criação humana, a espécie humana se constituiu


através do trabalho. Apesar de outros animais apresentarem habilidades incríveis, o ser
humano, para além do instinto, consegue agir tendo autonomia sobre a finalidade da
ação que deseja executar. Através do trabalho – no seu sentido mais amplo – o ser
humano não apenas sobrevive, mas inaugura a cultura, sendo ao mesmo tempo um ser
biológico e também simbólico.

Na sociedade em que vivemos, o trabalho – remunerado ou não – é um elemento


central. Além de ser a fonte de renda, e por isso, de sobrevivência, de grande parte das
pessoas, o trabalho também é uma fonte de realização pessoal. A nossa identidade social
está intimamente vinculada com a ocupação, profissão ou cargo que exercemos.

Contudo, ao mesmo tempo que é fonte de satisfação, o trabalho implica em


desgastes. Pela centralidade que ocupa na vida das pessoas, os desgastes advindos do
trabalho podem ser determinantes para o adoecimento de trabalhadoras e
trabalhadores.

Apesar de ser uma dimensão da vida não reconhecida pelas práticas de saúde,
não é difícil identificar que existem impactos, benéficos ou prejudiciais, desse trabalho no
processo de saúde das pessoas. O trabalho, portanto, “[…] pode ter um efeito protetor, ser
promotor de saúde, mas também pode causar mal-estar, sofrimento, adoecimento e
morte dos trabalhadores, aprofundar iniquidades e a vulnerabilidade das pessoas e das
comunidades e produzir a degradação do ambiente” (p. 17)1.

Durante nossa vida produtiva, que tende a ser cada vez mais extensa em número
de anos, passamos mais horas do nosso dia trabalhando do que com nossas famílias ou
em outras atividades. Não podemos esquecer também que, neste momento, vivemos
um contexto desfavorável à maior parte dos trabalhadores, marcado pelo desemprego e
pela precarização das relações de trabalho, inclusive nos serviços de saúde pública e
privada.

Apresentaremos a seguir o campo da saúde dos trabalhadores.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 06


Projeto Cuida APS

O campo da saúde dos trabalhadores

A saúde do trabalhador é um campo interdisciplinar, pois se utiliza das ciências


sociais e humanas, das ciências biomédicas e das áreas tecnológicas (importantes para a
segurança no trabalho). Assim como a APS, trata-se de um campo multiprofissional que
considera o trabalho como aspecto fundamental na vida social e, portanto, indissociável
do processo de saúde. As ações de saúde do trabalhador podem ser classificadas em três
eixos: promoção da saúde, assistência à saúde e vigilância da saúde do trabalhador
(VISAT).

A Saúde do Trabalhador é o campo da Saúde Pública que tem como


objeto de estudo e intervenção as relações produção-consumo e o
processo saúde-doença das pessoas e, em particular, dos(as)
trabalhadores(as). Neste campo, o trabalho pode ser considerado como
eixo organizador da vida social, espaço de dominação e resistência dos(as)
trabalhadores(as) e determinante das condições de vida e saúde das
pessoas. A partir dessa premissa, as intervenções devem buscar a
transformação dos processos produtivos, no sentido de torná-los
promotores de saúde, e não de adoecimento e morte, além de garantir a
atenção integral à saúde dos(as) trabalhadores(as), levando em conta sua
inserção nos processos produtivos (p. 18)1.

O Decreto n. 7.602/2011 afirma que a Política Nacional de Segurança e Saúde no


Trabalho (PNSST)2 tem como princípios: a universalidade; a prevenção; a precedência
das ações de prevenção e promoção sobre as de assistência, a reabilitação e
reparação; o diálogo social e a integralidade.

Estudos mostram que a saúde do trabalhador não tem feito parte do escopo de
avaliação e intervenção na APS, mesmo com a incidência relevante de acidentes e
doenças diretamente relacionadas ao trabalho3,4. Pensar na saúde das trabalhadoras e
dos trabalhadores da APS é um bom começo para que essa dimensão seja incorporada
nas práticas profissionais.

Saiba Mais
Conheça mais sobre as possibilidades de ações de saúde dos
trabalhadores no Caderno de Atenção Básica, n. 41 – A saúde do
trabalhador e da trabalhadora, clicando aqui.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 07


Projeto Cuida APS

Em uma abordagem baseada em riscos, os principais riscos que podem estar


presentes nos ambientes de trabalho são físicos, químicos, biológicos, antropométricos,
mecânicos e de acidentes, cognitivos e psicossociais.

Nesta aula adotaremos uma perspectiva que considere especificamente a


realidade do trabalho da APS a partir da identificação de potenciais de desgaste (entre
os quais estarão incluídos os riscos citados acima), mas também os potenciais de
fortalecimento5, que nos darão pistas e nos ajudarão a pensar em caminhos de ação
para proteção e promoção da saúde das nossas equipes.

Em seguida, destacaremos as principais características do trabalho na Atenção


Primária em Saúde (APS) para então pensarmos em caminhos possíveis para o cuidado
dos profissionais que constroem o Sistema Único de Saúde (SUS) com sua força de
trabalho diariamente.

Fonte: Imagem - Ser Gestor. Contratualização de serviços de saúde. Conasems©.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 08


Projeto Cuida APS

O trabalho na Atenção Primária em Saúde

Seja na modelo da Estratégia de Saúde da Família (ESF), na modalidade


tradicional ou em outras configurações, o trabalho na APS é intenso e exige muita
dedicação dos profissionais. Como pudemos ver na Aula 1 – Atributos da Atenção
Primária em Saúde, os atributos da APS implicam em grande responsabilidade por parte
da equipe. A Unidade de Saúde é o espaço de acesso, de acompanhamento ao longo do
tempo, e a atenção em saúde deve buscar contemplar a integralidade da vida dos
indivíduos e famílias. Como dizemos no dia a dia dos serviços, na APS “o usuário é sempre
nosso”, não há possibilidade de ter alta da unidade de saúde, independentemente do
momento que esteja vivendo ou do tratamento que esteja realizando. Da mesma forma,
boa parte dos aspectos da vida dos usuários são relevantes para os profissionais: o
contexto familiar, o trabalho, as dimensões afetivas e sociais etc.

A APS requer ações que são simultaneamente amplas e profundas. Na sua


amplitude há uma diversidade de tarefas e por isso um mesmo profissional deve possuir
muitas habilidades e responsabilidades e pode haver sobrecarga e acúmulo de funções.
Um tipo de sobrecarga presente é a cognitiva: enquanto desenvolve uma tarefa, o
trabalhador se preocupa com outras demandas que dependem dele. Assim, enquanto
acolhe um usuário, a enfermeira está preocupada com a fila na sala de vacina, com o
aparelho de esterilização que quebrou e com a gestante que faltou na consulta.

Fonte: Imagem - Ser Gestor. Contratualização de serviços de saúde. Conasems©.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 09


Projeto Cuida APS

Na profundidade do trabalho na APS está sua força e sua capacidade de


resolução. É através do vínculo entre usuários e profissionais que o cuidado em saúde, em
suas dimensões preventiva e curativa, se desenvolve.

Para os profissionais da APS o vínculo pode ser gerador de fortalecimentos, mas


também de desgastes. É por meio do vínculo que os profissionais obtêm o
reconhecimento do usuário sobre sua atuação profissional, que se torna explícito quando
o usuário se engaja no plano de cuidados, expressa preferência pelo atendimento de um
determinado profissional e por muitas outras demonstrações de afeto. Ao mesmo tempo,
os sentimentos envolvidos no vínculo podem ser desgastantes em situações em que as
ações da APS são insuficientes para responder às necessidades do usuário. Como no caso
de situações sociais complexas6,7 e extremas ou mesmo quando o número de famílias é
excessivo, impedindo a equipe de ofertar o cuidado adequado para todos.

A unidade de saúde comporta diferentes equipes: equipes de saúde da família no


caso da Estratégia Saúde da Família, equipe de enfermagem, equipe médica, equipe de
saúde bucal, equipe da farmácia, equipe multiprofissional – com múltiplas possibilidades
de configuração –, equipe de limpeza, equipe de segurança, equipe de profissionais
administrativos etc. Entre essas equipes há desgastes e fortalecimentos que são comuns
a todos os trabalhadores da UBS, mas também há desgastes específicos a cada equipe
e/ou categoria. Por exemplo, a equipe de saúde bucal está mais exposta a riscos
biológicos e ergonômicos, as enfermeiras estão sujeitas a maior sobrecarga cognitiva,
pois acumulam muitas tarefas administrativas e assistenciais.

Minha Prática
Olhando para o seu cotidiano como gestor(a) e para sua equipe, você
identifica situações de desgaste? Saberia listá-las em uma folha de
papel? São desgastes relacionados a uma equipe específica ou a um
determinado processo de trabalho que envolve diferentes
trabalhadores? Tente fazer este primeiro exercício!

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 10


Projeto Cuida APS

A pandemia e o trabalho na APS

A pandemia de covid-19, que chegou ao Brasil em fevereiro de 2020, representou


uma piora nas condições de trabalho para os profissionais de saúde. Em muitos
municípios brasileiros, a APS foi responsável por realizar o atendimento, diagnóstico e
acompanhamento dos casos suspeitos e confirmados, rastrear comunicantes, mas sem o
incremento de profissionais para suprir essas ações que foram somadas ao rol de ações
de responsabilidade da APS.

Além da sobrecarga de trabalho, os profissionais vivenciaram o medo de se


contaminarem e de transmitirem o vírus para suas famílias.

Em 2021, os profissionais puderam contar com a proteção das vacinas disponíveis


contra o coronavírus. No entanto, novamente, em muitos municípios brasileiros as
campanhas de vacinação foram mais uma atividade a ser desenvolvida pelas equipes das
unidades de saúde sem um redimensionamento de profissionais. Mesmo considerando
as experiências prévias bem-sucedidas em grandes campanhas nacionais de vacinação, a
campanha de vacinação contra covid-19 impôs novas dificuldades aos profissionais da
APS, em especial à equipe de enfermagem. Profissionais já exauridos por mais de um ano
de pandemia precisaram operacionalizar a administração de imunobiológicos com
diferentes especificidades técnicas, em muitos casos sem prévia atualização técnica, para
um grande contingente de pessoas. Para suprir a demanda foi comum a extensão de
jornadas por muitas semanas.

O contexto pandêmico, que ainda não se encerrou, deve ser considerado no


planejamento de ações para proteção dos trabalhadores da APS.

Fonte: Imagem - Ser Gestor. Integração dos serviços da AB na Rede de Atenção à Saúde. Conasems©.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 11


Projeto Cuida APS

Saúde mental e subjetividade no


trabalho na APS

Um estudo publicado em 2022, realizado em um município de grande porte do


estado de São Paulo aponta que 45,3% dos profissionais da Atenção Primária
apresentavam ansiedade leve (25%), moderada (9,9%) ou grave (10,1%). O mesmo estudo
relata que a depressão tinha prevalência em 41% desses profissionais8. Apesar do estudo
se restringir à realidade de um município brasileiro, infelizmente, seus resultados não são
surpreendentes para quem acompanha o cotidiano da APS. Outro estudo de 2016,
realizado no município de Feira de Santana, no estado da Bahia, identificou que a
prevalência global de transtorno mental comum entre trabalhadores da APS foi de 22%9.

A dimensão subjetiva do trabalho, que abarca o risco psicossocial, será priorizada


nesta aula. As condições psicossociais vivenciadas no trabalho da APS, além de poderem
provocar transtornos psíquicos, podem também gerar agravos que incluem problemas
osteomusculares, dores e condições crônicas como hipertensão6.

Segundo Seligmann-Silva, o desgaste mental no trabalho também integra a


trama causal geradora de acidentes de trabalho, por atingir os âmbitos cognitivo e
psicoafetivo dos sujeitos: “[…] o desgaste prejudica de modo simultâneo, a concentração
da atenção, o uso da memória, o raciocínio, além de impedir rapidez necessária para
tomadas de decisão em situações de emergência” (p. 305)10.

De acordo com a Agência Europeia para a Saúde e Segurança do Trabalho as


condições psicossociais que podem ser precursoras de desgaste e adoecimento são:

• cargas de trabalho excessivas;

• exigências contraditórias e falta de clareza na definição das funções;

• falta de participação na tomada de decisões que afetam o trabalhador e falta


de controle sobre a forma como executa o trabalho;

• má gestão de mudanças organizacionais, insegurança laboral;

• comunicação ineficaz, falta de apoio da parte de chefias e colegas;

• assédio psicológico ou sexual e violência de terceiros11.

E então, você identifica algumas dessas condições psicossociais na lista de


situações de desgaste acima? Teve vontade de incluir mais algumas?

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 12


Projeto Cuida APS

Pensando Fora da Caixa


É muito comum falarmos do absenteísmo e dos seus impactos na
produtividade do serviço. Mas você sabia que existe um fenômeno
denominado presenteísmo? O presenteísmo é a situação em que o
trabalhador está presente no ambiente de trabalho, mas está
ausente mentalmente, por estar adoecido ou em sofrimento
mental10. Certamente essa situação também gera queda na
produtividade e outros riscos à saúde e segurança do trabalhador.
No entanto, nossa cultura tende a valorizar o profissional que nunca
falta ao trabalho, o que reforça a invisibilidade do presenteísmo.

Satisfação no trabalho

Diferentes abordagens teóricas presentes no campo da saúde do trabalhador


ressaltam o aspecto da satisfação pessoal como uma dimensão importante na avaliação
das condições de trabalho e no processo de saúde dos trabalhadores.

Para a teoria da psicodinâmica do trabalho, elaborada pelo psiquiatra Christophe


Dejours:

[…] o prazer e o sofrimento no trabalho são experiências que imprimem


maior ou menor vulnerabilidade ao adoecimento […]. O prazer encontra-se
amparado na percepção de realização profissional e liberdade de
expressão. Essa liberdade versa sobre a oportunidade de expressar
sentimentos e opiniões a colegas e chefias, incluindo a vivência da
confiança, solidariedade e cooperação, mas também sobre a possibilidade
de utilizar a criatividade no trabalho. Já a realização profissional se dá pelas
experiências de bem-estar, satisfação, motivação, reconhecimento e
orgulho pela atividade que realiza (p. 43)7.

Dentro da abordagem denominada Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) a


satisfação no trabalho envolve:

[…] satisfação com o trabalho executado; possibilidade de futuro na


organização; reconhecimento pelos resultados alcançados; salário
percebido; benefícios auferidos; relacionamento humano na equipe e na
organização; ambiente psicológico e físico de trabalho; liberdade de atuar
e responsabilidade de tomar decisões; possibilidade de estar engajado e
de participar ativamente (p. 784)12.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 13


Projeto Cuida APS

Para a QVT, a satisfação no trabalho é um indicador de avaliação que diz respeito


tanto ao sujeito trabalhador quanto à organização do trabalho em que este se encontra.
Para Lima, Gomes e Barbosa, “[…] aqueles profissionais que se consideram mais satisfeitos
apresentam menores chances de desenvolver síndrome de burnout, são menos
vulneráveis a riscos psicossociais” (p. 783)12. Segundo essa mesma pesquisa, o escore para
estresse de profissionais insatisfeitos é 94% maior do que para profissionais satisfeitos12. A
insatisfação desses trabalhadores advém de causas como “[…] trabalhar em local que não
é de sua escolha, a sobrecarga de trabalho e a violência” (p. 785)12.

Fonte: Imagem - Ser Gestor. Encerramento do curso. Conasems©.

Organização do processo de trabalho

A organização do trabalho expressa o modelo de atenção à saúde e envolve os


aspectos da gestão de pessoas (ritmos de trabalho, jornadas, divisão das tarefas,
dimensionamento de profissionais7) e também das condições materiais e estruturais
(ambiente físico, dispositivos de informática, instrumentos de trabalho, insumos etc.) dos
múltiplos processos de trabalho presentes no serviço de saúde.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 14


Projeto Cuida APS

Condições de trabalho

De forma geral, os trabalhadores da APS exercem suas tarefas sob condições de


trabalho insuficientes e desgastantes. Estudo que aplicou escala de prazer e sofrimento
no trabalho na APS em município no Rio Grande do Sul mostrou que o contexto de
trabalho foi avaliado como crítico pelos trabalhadores, os profissionais atribuíram a
insatisfação no trabalho à “[…] pressão para cumprimentos dos prazos, à cobrança por
resultados, número insuficiente de pessoas para realizar as atividades, tarefas repetitivas,
ritmo de trabalho acelerado, entre outros” (p. 46)7. Já uma pesquisa com profissionais da
APS no estado do Paraná apontou que as equipes submetidas a programa de qualidade
total com diferentes selos hierárquicos de acreditação, com metas estabelecidas sem a
participação dos trabalhadores, tinham maior chance de estresse ocupacional do que
equipes que não participaram do processo de acreditação13.

A precarização das condições de trabalho, como o aumento da jornada (em


especial para as mulheres trabalhadoras que cumprem dupla ou tripla jornada)6,8
vínculos trabalhistas precarizados, sobrecarga de trabalho por falta de profissionais e
excesso de demanda, condições materiais de trabalho insuficientes e remuneração baixa,
é causadora de sofrimento e adoecimento psíquico, como ansiedade e depressão, entre
os profissionais de saúde8,14.

Diante de condições inadequadas de trabalho, o tempo de descanso é insuficiente


para que o trabalhador possa se recuperar dos desgastes provocados pelo trabalho, em
especial para os profissionais que cumprem jornada semanal de 40 horas ou mais,
comprometendo suas habilidades cognitivas e consequentemente a qualidade e
segurança na atenção aos usuários.

Fonte: Imagem - Ser Gestor. Mapa Estratégico da Gestão. Conasems©.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 15


Projeto Cuida APS

Participação nas decisões

Questões relacionadas à autonomia do profissional como controle sobre o próprio


trabalho, a participação nas decisões e as possibilidades de uso da criatividade no
trabalho são essenciais para a saúde dos trabalhadores. A rigidez e o alto nível de
exigência da chefia, que se reflete na ausência ou insuficiência de participação do
profissional no processo de trabalho e da sua liberdade de expressão, são desgastes
geradores de transtornos mentais e problemas psíquicos6.

Estudos realizados na APS no Brasil indicam a insatisfação dos profissionais com a


organização do trabalho, com destaque para relações hierárquicas inflexíveis que
excluem a participação desses trabalhadores nas tomadas de decisões7,16,17:

O forte sistema hierárquico e a divisão de atividades são elementos que


causam sofrimento ao trabalhador à medida que o excluem do processo
de produção do trabalho e em consequência deterioram a cooperação,
elemento imprescindível para a manutenção da saúde (p. 46)7.

O incentivo à participação dos profissionais estimula a solidariedade, a


cooperação, o trabalho interprofissional e pode evitar o isolamento e situações de
violência no trabalho.

Ligando Pontos
Na Aula 11 – Gestão Participativa refletimos sobre a importância
da participação dos trabalhadores e autonomia das equipes no seu
processo de trabalho, assim como foram apresentados os passos
fundamentais para ampliar a participação nos serviços da APS.

Fonte: Imagem - Ser Gestor. Gestão do trabalho e da educação em saúde. Conasems©.

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Projeto Cuida APS

Burnout: o esgotamento profissional

Em 1970, o psicólogo Herbert Freudenberger escreveu sobre a exaustão vivida por


uma equipe que atendia pessoas com transtornos psiquiátricos. Em 1980 o autor associa
esse tipo de exaustão à imagem de um incêndio interno que transforma os afetos
relacionados ao trabalho – energia, expectativa e autoimagem – em cinzas em um livro
denominado burnout10. Em português, o termo foi traduzido para esgotamento
profissional.

Para as autoras Christina Maslach e Susan Jackson, a síndrome do esgotamento


profissional se caracteriza pela exaustão emocional decorrente da exposição ao trabalho,
despersonalização e baixa/perda da realização profissional. A exaustão profissional
desencadeia reações de defesa no trabalhador que podem levar a sentimentos de
cinismo e desapego em relação aos usuários. Ao mesmo tempo, o profissional se
autoavalia negativamente e vive sentimentos de incompetência e ineficácia18. Para
Seligmann-Silva, no burnout “[…] o que se torna característico é a perda de concretizar
algo que tinha se configurado como missão” (p. 525)10.

Trata-se de um grave adoecimento que coloca em risco a segurança dos usuários


atendidos e a própria vida dos trabalhadores, existindo a possibilidade de suicídio em
casos mais severos19.

Uma pesquisa multicêntrica20 realizada com profissionais de enfermagem que


atuam na APS ou na assistência hospitalar identificou que 42% das profissionais
brasileiras* apresentavam burnout moderado (29,8%) ou elevado (11,9%), uma incidência
alarmante e que merece ações assertivas de enfrentamento.

Outra pesquisa realizada em um município brasileiro sobre o nível de estresse em


profissionais da APS afirma que:

Os níveis elevados de estresse predispõem os profissionais à síndrome de


burnout. O trabalho na APS faz com que os profissionais estejam mais
próximos da comunidade e de suas realidades, sentindo-se cobrados e
pressionados a dar respostas às necessidades das comunidades que
atendem. Além disso, são cobrados por produtividade num cenário com
carência de recursos humanos, materiais e de infraestrutura e com visão
curativista que diverge dos ideais da APS (p. 785)12.

* Fazemos a opção de utilizar o gênero feminino para se referir à categoria da enfermagem, não por não
reconhecer a participação dos 15% de trabalhadores homens na profissão, mas para dar visibilidade às
disparidades de gênero que estão profundamente relacionadas com os desgastes vivenciados pela categoria.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 17


Projeto Cuida APS

Já uma pesquisa publicada em 2015 realizada com profissionais da APS de Aracajú


(SE) revelou que na ocasião 6,7% a 10,8% dos profissionais estavam em burnout, ao passo
que 54,1% dos profissionais apresentavam risco elevado ou moderado para desenvolver o
quadro. Nesse município, o esgotamento profissional foi associado aos seguintes fatores:
idade mais jovem, carga horária de trabalho excessiva e insatisfação profissional21.

Minha Prática
Você, gestor ou gestora, está inserido em uma realidade de trabalho
que também pode ser extenuante. Atualmente, quais são os seus
sentimentos em relação ao trabalho que desenvolve? Qual é a
principal situação que provoca tensão em sua rotina? Você conta
com algum apoio da gestão municipal? Há apoio de alguma
referência de serviço de saúde mental?

A realidade da APS é complexa e os desgastes se intensificaram com a pandemia.


Precisamos ficar atentos à saúde de todos os membros da equipe. No tópico Ações para
a proteção da saúde dos trabalhadores da APS vamos apresentar e refletir sobre as
possibilidades de ações para prevenir e responder às manifestações de adoecimento
profissional.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 18


Projeto Cuida APS

Violência e assédio no trabalho

Em 2019 a Organização Internacional do Trabalho (OIT) adotou a Convenção n. 190


que trata da Eliminação da Violência e do Assédio no Mundo do Trabalho. No artigo 1º,
violência e assédios são definidos como “um conjunto de comportamentos inaceitáveis,
práticas ou ameaças que por uma ocorrência única ou de forma recorrente, que
visam, resultam ou são suscetíveis de causarem danos físicos, psicológicos, sexuais ou
econômicos” e que ocorram no local de trabalho ou locais relacionados ao trabalho,
como o lugar em que ocorre o pagamento de salário, reuniões, ambiente virtual etc. (p.
8)22.

A Convenção n. 190/2019 da OIT é um marco importante para o reconhecimento


das violências e assédios no trabalho e oferece uma definição abrangente sobre tais
situações. Segundo a entidade, a violência e o assédio no trabalho podem ocorrer em
diferentes dinâmicas:

• violência e assédio horizontal: quando ocorre entre colegas de trabalho;

• violência e assédio vertical: quando é perpetrada entre supervisores e


subordinados;

• violência e assédio por parte de terceiros: quando é praticada por


consumidores/ clientes/ pacientes22.

Fonte: Imagem - Shutterstock©.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 19


Projeto Cuida APS

No entanto, a OIT também compreende que a violência e o assédio têm maior


possibilidade de ocorrer sob determinadas condições. Ou seja, nem sempre a violência
ocorre devido a uma ação individual intencional, podem existir práticas institucionais
que muitas vezes permitem ou estimulam que a violência ocorra. No manual intitulado
Ambientes de trabalho seguros e saudáveis livres de violência e de assédio estão listados
os fatores psicossociais presentes no processo de trabalho que favorecem a ocorrência de
violência e assédio22, os quais são descritos no Quadro 1.

Quadro 1. Fatores psicossociais do processo de trabalho que favorecem a ocorrência de


violência e assédio.

• Nível elevado de exigência de tarefas: tempo prolongado; esforço físico, mental ou


emocional; tarefas incompatíveis com o conhecimento ou habilidade do
trabalhador;

• pouco controle e autonomia sobre o trabalho;

• planejamento das atividades: ritmo, tempo e engajamento exigido pela atividade;

• imprecisão na definição de papéis e atribuições;

• relações de trabalho: comunicação precária, conflitos interpessoais, críticas


inadequadas;

• estilos de liderança;

• justiça organizacional;

• gestão da mudança organizacional;

• trabalho em contato com o público;

• ambientes de trabalho com contato físico;

• discriminação:

As discriminações podem ocorrer com base num número de


diferenças reais ou percebidas, tais como etnia, sexo e género, religião,
opinião política, a nacionalidade ou a origem social, responsabilidades
familiares, gravidez ou idade, deficiência, existência real ou
percecionada de HIV/AIDS, estatuto migratório e de povos indígenas
ou tribais (p. 15);

• trabalhadores e trabalhadoras em situação de vulnerabilidade.

Fonte: adaptado de OIT (p. 15)22.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 20


Projeto Cuida APS

Provavelmente você identificou alguns desses riscos nas situações que vivencia na
unidade de saúde. No trabalho em saúde, o contato físico é necessário nos atendimentos
que envolvem exame físico, por exemplo. Também é importante destacar o trabalho no
território e dentro dos domicílios. Boa parte dos fatores descritos já foram abordados
nesta e em outras aulas, como na Aula 10 – Gestão de Pessoas na APS e na Aula 11 –
Gestão Participativa no SUS, o que reforça a importância da gestão e da sua relação com
a equipe.

A seguir, discorreremos sobre algumas situações que podem submeter os


trabalhadores da APS a situações de violência.

Violência no território

Os trabalhadores da APS têm o território de abrangência da unidade de saúde


como seu local de trabalho. Em geral, devido ao vínculo construído com as famílias
atendidas, os profissionais são muito bem recebidos quando percorrem o território. No
entanto, existem territórios com áreas de conflito armado, violência urbana, rural ou nas
regiões de floresta e os trabalhadores das equipes podem ficar expostos a situações de
risco.

Os profissionais também podem sofrer ameaças ou agressões quando identificam


e realizam o acompanhamento de situações de violência de gênero, de abuso sexual e
violência contra a criança23.

Os agentes comunitários de saúde, apesar de terem um grande conhecimento do


território e serem uma referência para a equipe na avaliação dos riscos locais, estão ainda
mais expostos à violência urbana ou rural, uma vez que residem no território onde
trabalham e seu endereço de moradia é conhecido pelos usuários24.

Fonte: Imagem - Ser Gestor. Integração dos serviços da AB na Rede de Atenção à Saúde. Conasems©.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 21


Projeto Cuida APS

Assédio, desigualdades e discriminação no trabalho

Além dos riscos para violência citados neste tópico, como trabalho em contato
com o público e com contato físico, o conjunto de profissionais da APS está mais sujeito a
situações de assédio, por questões que envolvem gênero, raça/cor e escolaridade.

Em relação aos agentes comunitários de saúde, não há levantamento nacional


que investigue o perfil sociodemográfico dessa categoria. Pesquisa realizada em
município do estado da Bahia aponta que 81% dos ACS são mulheres, por volta de 83,5%
se autodeclaram pessoas pretas ou pardas, 13% pessoas brancas e 1,38% indígenas26.
Pesquisas afirmam que esse grupo vivencia desgastes físicos, cognitivos e psíquicos
relacionados à exposição à violência, sobrecarga e escassez e precariedade de
recursos8,27–29.

É importante ressaltar que há desigualdades sociais presentes entre as categorias


que compõem a APS. Estudo realizado na APS de um município do interior paulista
aponta que agentes de saúde têm maior incidência de depressão: 56,6% dos ACS
apresentam algum nível de agravo, ao passo que, entre os médicos, a incidência é de
5,2%8. Para além dos riscos da violência, o fato dessa categoria viver e trabalhar no mesmo
território pelo qual é responsável, também pode ser desencadeador de desgastes. Os
ACS, “[…] ainda que desenvolvam estratégias para amenizar o sofrimento gerado pelo
contato intenso e prolongado, o fato de morarem na comunidade agudiza essa imersão,
evidenciando a contaminação do tempo do não trabalho” (p. 133)25.

A equipe de enfermagem – importante força de trabalho no SUS – é composta, no


Brasil, por 85,1% de mulheres. Em relação a raça (conforme nomenclatura do IBGE),
segundo autodeclaração, a enfermagem é composta por 42,3% de pessoas brancas, 57,2%
de pessoas pardas e pretas e 0,6% de indígenas. No entanto, há diferenças internas nas
categorias: 58% das enfermeiras se declaram pessoas brancas, 38% se declaram pessoas
pretas e pardas e 0,3% indígenas, ao passo que entre auxiliares e técnicas de enfermagem
37,6% se declaram brancas, 57,5% se declaram pretas ou pardas e 0,6% indígenas30.

O ambiente de trabalho pode ser um espaço de reprodução das desigualdades


presentes na sociedade. Como vimos no Quadro 1, a discriminação por gênero e raça
pode se manifestar em violência e assédio no trabalho. A composição racial e de gênero
das categorias de ACS e de enfermagem faz com que essas profissionais, em especial as
trabalhadoras do nível médio, estejam mais sujeitas a serem vítimas de assédio e
violência no trabalho.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 22


Projeto Cuida APS

Corrobora com esse risco o fato de esse conjunto de trabalhadores, em sua


maioria mulheres, com diferenças raciais de acordo com o cargo ocupado e escolaridade,
viver intensos desgastes no exercício da profissão: “[…] no setor público, a Enfermagem
configurou-se como uma profissão estressante, com excesso de atividades executadas,
número reduzido de profissionais, dificuldades de relacionamento entre a própria equipe,
redução salarial, dupla ou tripla jornada, vários vínculos de trabalho, entre outros
aspectos” (p. 8)6.

As assimetrias dentro da própria equipe, que se refletem em diferentes tipos de


reconhecimento, salários, condições e benefícios, também é uma condição de risco para
situações de assédio e violência no trabalho. Tal como, grandes diferenças salariais dentro
de uma equipe simbolizam uma desvalorização dos trabalhadores com remuneração
mais baixa: “[…] os salários mais baixos são geralmente atribuídos ao trabalho
desqualificado, encarado como o ‘trabalho que qualquer um pode fazer’ e que não
necessita de treinamento ou experiência prévia”(p. 222)31.

Com base no exposto, é preciso estar alerta para os sinais de discriminação de


gênero, de raça e de abusos de poder nas relações de trabalho.

A violência no trabalho tem como manifestações:

• agressão física;

• violência psicológica e assédio, que incluem humilhações como bullying e


comportamentos ofensivos, e podem ocorrer presencialmente ou por meio
virtual;

• violência sexual e assédio sexual22.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 23


Projeto Cuida APS

Violência institucional e metas abusivas

Como também pudemos observar no Quadro 1, é necessário estar atento ao


contexto em que os episódios de assédio e violência no trabalho ocorrem. A própria
organização do trabalho pode se configurar como uma forma de violência institucional.

A violência institucional é evidente quando os trabalhadores sofrem danos


causados pela exposição a riscos físicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais que
foram deliberadamente negligenciados pela organização do trabalho10.

Na dimensão psicossocial, os valores sociais que são difundidos pela organização


podem se configurar como violência institucional quando a integridade do sujeito
trabalhador não é priorizada. Assim, pode-se dizer que o conjunto de trabalhadores sofre
assédio institucional ou organizacional quando a organização do trabalho cultiva valores
como individualismo, competitividade e rivalidade ou utiliza-se de mecanismos
gerenciais que constrangem ou inferiorizam o trabalhador ao pressionar por resultados10.

Um meio de assédio institucional é a exigência pelo cumprimento de metas


abusivas ou inalcançáveis10. Metas são consideradas abusivas quando é muito difícil ou
impossível para o trabalhador atingir o resultado estabelecido. Na APS, metas
consideradas inalcançáveis podem ocorrer:

• pela falta de condições de trabalho, como o número insuficiente de


profissionais, ou de recursos materiais necessários;

• pela exigência quantitativa da meta, tal como o número de atendimentos


estabelecido não considerar intervalos do profissional nem as falta ou os atrasos
dos usuários;

• quando o resultado a ser alcançado envolve condições que são alheias às


responsabilidades do trabalhador, como metas que demandam ou
estabelecem mudanças de comportamentos dos usuários, sem que estes
tenham condições materiais e subjetivas para tal e também situações de
desorganização intensa do processo de trabalho da equipe, como situações
pontuais que possam ocorrer no serviço (episódios de violência armada
envolvendo usuários, enchentes no local de trabalho etc.).

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 24


Projeto Cuida APS

Vamos imaginar, hipoteticamente, que a equipe recebe como meta a exigência


de que 70% das crianças recebam aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de
idade. A equipe de saúde se esforça para sensibilizar, orientar e estimular as famílias
desde o pré-natal. No entanto, muitas mães do território não têm direito à licença
maternidade, pois trabalham como autônomas, muitas outras têm apenas 120 dias de
licença e fazem a introdução do leite artificial aos 4 meses de vida do bebê. Algumas
mulheres não têm energia elétrica ou geladeira em casa, impedindo o armazenamento
de leite materno ou não têm local apropriado no trabalho para a ordenha do leite.
Podemos concluir que essa é uma meta inatingível para a equipe. Além do aleitamento
materno depender do desejo da mulher em amamentar (uma dimensão subjetiva
inerente a qualquer plano de cuidado), é necessário que as famílias tenham condições
para sustentar tal prática. Mesmo que a equipe se dedique ao máximo, essa meta é
impossível de ser cumprida se não houver a ampliação dos direitos e das políticas
públicas.

Metas inatingíveis ou abusivas implicam em um grande desgaste para a


equipe, podem gerar frustração, diminuir a autoconfiança e a motivação dos
profissionais10,14. São uma forma de gerenciamento desgastante e fonte de
adoecimento ocupacional10,14.

Tendo em vista que as metas são um instrumento necessário para a organização


do trabalho, no tópico seguinte abordaremos quais aspectos devem estar presentes na
definição de metas de forma a prevenir desgastes aos trabalhadores.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 25


Projeto Cuida APS

Ações para a proteção da saúde dos


trabalhadores da APS

No decorrer da aula pudemos trazer à tona a complexidade do contexto de


trabalho da APS no Brasil, com suas dificuldades, desgastes e situações adoecedoras.
Abordamos questões que podem ou não estar presentes na sua realidade de trabalho.
Agora vamos pensar em quais ações são possíveis para evitar tal tipo de exigência. O
primeiro passo é pensar em maneiras de captar as condições de trabalho e a situação de
saúde do serviço, depois apresentaremos princípios e diretrizes para sabermos aonde
queremos chegar e, finalmente, traremos propostas de ação.

Vigilância em Saúde do Trabalhador

Dentro do campo da saúde do trabalhador encontra-se a Vigilância em Saúde do


Trabalhador (VISAT) que segue as diretrizes da Vigilância em Saúde. A VISAT tem como
finalidade “[…] promover a saúde e reduzir o adoecimento dos trabalhadores, por meio de
ações integradas com foco nos determinantes associados ao processo produtivo e ao
desenvolvimento” (p. 8)32.

A VISAT implica em uma ação contínua de monitoramento e ação para proteger a


saúde dos trabalhadores. Não existe vigilância se só ocorrerem ações pontuais. O
princípio da vigilância consiste em captar continuamente informações pertinentes à
saúde dos trabalhadores para que ações sejam realizadas como resposta às necessidades
identificadas. As ações não encerram a captação das informações, e o monitoramento da
situação de saúde é contínuo.

A VISAT é desenvolvida pelas instâncias responsáveis pela Vigilância em Saúde e


pelos Centros de Referência de Saúde do Trabalhador, com participação dos serviços de
Atenção Primária.

Na unidade de saúde onde você trabalha, existem ações de vigilância em


saúde do trabalhador para os profissionais da equipe?

Saiba Mais
Para conhecer mais sobre as propostas de avaliação e ações da
Vigilância em Saúde do Trabalhador, acesse o Manual do Curso
Básico de Vigilância em Saúde do Trabalhador, clicando aqui.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 26


Projeto Cuida APS

Identificando os desgastes do trabalho na APS

Como gestor(a), para além de ter conhecimento de relatórios oficiais de captação


de riscos do trabalho, como o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), é importante
que com a participação dos trabalhadores você identifique quais são os principais
desgastes presentes no trabalho e também quais são os aspectos do trabalho que
mais fortalecem os profissionais. Esse levantamento pode ser feito de algumas formas:

• por meio de reuniões específicas sobre saúde do trabalhador: que podem ser
com as equipes já constituídas (por exemplo equipe de saúde da família,
equipe de saúde bucal, equipe da farmácia etc.), por categoria profissional
(agentes comunitários, médicos, enfermagem, administrativos etc.) ou com
todos os trabalhadores do serviço. É recomendável que essas reuniões tenham
questões a serem respondidas, tais como: “o que me desgasta no trabalho?”; “o
que eu mais gosto no trabalho?”, entre outras. Os registros devem ser bem
feitos para que seu material sirva como subsídio de análise da situação de
saúde. A reunião, se bem coordenada, pode ser um primeiro momento aos
trabalhadores em sofrimento. A troca de experiências pode diminuir as tensões
no trabalho e algumas propostas já podem começar a surgir para alimentar o
planejamento de ações.

• por meio das reuniões que já ocorrem no serviço: mesmo que a pauta não
seja a saúde do trabalhador, é importante identificar nas falas e nos
posicionamentos dos profissionais as questões relacionadas às condições de
saúde do ambiente e no processo de trabalho.

• através de levantamentos via questionário ou formulário: pode ser feito com


perguntas fechadas e abertas. Uma vantagem desse meio é que o trabalhador
pode responder anonimamente e assim se sentir mais livre para expressar seus
desconfortos com o trabalho. Outra vantagem é a possibilidade de tabular os
dados e obter informações quantitativas sobre determinada situação. Por
exemplo: “após levantamento, verificou-se que 55% dos profissionais da UBS
não conseguem usufruir do seu horário de almoço pelo menos uma vez na
semana”.

• pelo monitoramento de eventos sentinela: que indicam que o processo de


trabalho é inseguro ou adoecedor. Observar e registrar sem identificar o
trabalhador: afastamentos de saúde, acidentes de trabalho, alta rotatividade
entre os profissionais, mudanças no comportamento do profissional, existência
de conflitos ou agressões, comportamentos de cunho racista etc.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 27


Projeto Cuida APS

Trabalho decente

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) defende que a promoção do


trabalho decente é uma estratégia não apenas para melhorar as condições de trabalho,
mas também para enfrentar a pobreza e a desigualdade. A ideia de trabalho decente se
apoia em quatro pilares estratégicos:

1. o respeito aos direitos no trabalho, especialmente aqueles definidos


como fundamentais (liberdade sindical, direito de negociação coletiva,
eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de
emprego e ocupação e erradicação de todas as formas de trabalho
forçado e trabalho infantil);

2. a promoção do emprego produtivo e de qualidade;

3. a ampliação da proteção social;

4. e o fortalecimento do diálogo social (p. 8)33.

Os princípios para um trabalho decente devem ser considerados na análise da


situação de saúde e no planejamento das ações de proteção à saúde dos trabalhadores.
Para tanto, é necessário considerar a totalidade dos trabalhadores da Unidade de Saúde,
profissionais de saúde de nível universitário e nível médio, profissionais administrativos e
equipes de apoio, como profissionais de limpeza, segurança e manutenção. É comum
que existam diferentes formas de contratação e muitas vezes os profissionais da equipe
de apoio são os que têm os vínculos e as condições mais precárias de trabalho. Esses
profissionais são essenciais para o funcionamento do serviço e devem ser valorizados pelo
trabalho que desenvolvem.

Fonte: Imagem - Ser Gestor. Integração dos serviços da AB na Rede de Atenção à Saúde. Conasems©.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 28


Projeto Cuida APS

Tempo de trabalho equilibrado

Durante a pandemia de covid-19 muitos trabalhadores da APS foram escalados


para trabalhar longas jornadas ou a trabalhar muitos dias ou semanas sem folgas. As
longas jornadas de trabalho são prejudiciais ao trabalhador, que não repousa o tempo
suficiente. Ao final de uma longa jornada, o trabalhador não consegue manter o mesmo
nível de atenção, o que pode comprometer a segurança do profissional e dos usuários,
aumentando o risco de acidentes34,35.

Além da jornada formal executada no local de trabalho é comum que ainda seja
prolongada informalmente, seja por meio de dispositivos tecnológicos, como grupos de
trabalho acessados pelo celular, seja pela sobrecarga de trabalho, fazendo com que o
profissional “leve trabalho para casa” (o que é comum entre gestores e enfermeiras que
acumulam funções assistenciais e administrativas). Nesse caso, mesmo estando no
domicílio, o profissional tem seu tempo de não trabalho reduzido.

Os profissionais que trabalham rotineiramente mais do que 48 horas por semana,


presencial ou virtualmente, sofrem prejuízos a curto e a longo prazo. A extensão das
jornadas também apresenta maior risco de adoecimento, por ter maior dificuldade de
manter hábitos saudáveis como alimentação, atividade física e lazer35.

O tempo de trabalho equilibrado é benéfico para os serviços de saúde, pois


melhora a produtividade, reduz o absenteísmo e a rotatividade do pessoal entre os
trabalhadores e favorece a motivação para o trabalho35. Sobre esse assunto, para que
exista equilíbrio entre tempo de trabalho e de descanso, a OIT define algumas ações,
conforme descritas no Quadro 2.

Fonte: Imagem - Ser Gestor. Integração dos serviços da AB na Rede de Atenção à Saúde. Conasems©.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 29


Projeto Cuida APS

Quadro 2. Ações a serem consideradas na organização do trabalho.

• Ser compatível com a saúde do trabalhador;

• priorizar um tempo de trabalho que seja produtivo, evitando que o profissional


trabalhe cansado;

• respeitar o tempo reservado com a família;

• promover a igualdade de gênero;

• permitir que o profissional possa participar da decisão sobre seus horários de


trabalho, optando pelo melhor horário ou ao menos influenciando na decisão.

Fonte: adaptado de OIT35

Saiba Mais
Saiba mais sobre a organização do tempo de trabalho equilibrado
consultando o Guia para estabelecer uma organização do tempo
de trabalho equilibrada, clicando aqui.

Segurança no território

Principalmente quando for a primeira vez que um território recebe uma equipe
de saúde, os cuidados com a segurança dos profissionais devem ser prioritários para o
serviço de saúde.

Em territórios sabidamente mais violentos, a presença do ACS é muito facilitadora


para a presença segura dos profissionais do território. Nas UBSs que não contam com os
ACS, as saídas para o território devem ocorrer somente após contato com as lideranças
comunitárias. Os moradores que são líderes na área podem fornecer informações
importantes que orientem medidas de segurança no território e também podem
divulgar e explicar para outras lideranças sobre o trabalho que será realizado pela equipe
no território. Nas situações em que o profissional se sentir inseguro de percorrer o
território ou algum perímetro específico, é importante que essa preocupação seja
compartilhada com a equipe e com a gestão do serviço.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 30


Projeto Cuida APS

Em determinadas regiões do país, há territórios em que o conflito armado é


presente e ostensivo. Nesses casos, são necessárias políticas institucionais para garantir a
segurança dos trabalhadores de saúde, como a estratégia de “Acesso mais seguro para
serviços públicos essenciais”, formulada pela Cruz Vermelha Internacional36 para países
com regiões de violência armada. Segundo Santos e colaboradores, essa estratégia dá
mais autonomia para as equipes tomarem decisões frente aos momentos de conflito
armado, contribuindo com a preservação da segurança dos profissionais e melhorando o
acesso dos usuários37.

Outras orientações, já muito conhecidas, e que devem ser sempre relembradas:

• o profissional deve estar sempre acompanhado de um ou mais profissionais


para percorrer o território;

• os profissionais devem estar sempre identificados com crachá e


uniforme/jaleco;

• ao caminhar no território e abordar os moradores, os profissionais devem


sempre se apresentar e explicar os motivos da sua presença no território.

Fonte: Imagem - Ser Gestor. Integração dos serviços da AB na Rede de Atenção à Saúde. Conasems©.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 31


Projeto Cuida APS

Ações para prevenção e cuidado do sofrimento psíquico


e do esgotamento profissional

Até o momento, nossa aula abordou os desgastes presentes no processo de


trabalho da APS. No entanto, para pensarmos em propostas para cuidar da saúde mental
dos trabalhadores da APS é necessário identificar também quais são os potenciais de
fortalecimento presentes no trabalho.

Entre os principais potenciais de fortalecimento indicados estão o


reconhecimento profissional por parte dos usuários e da gestão7,12, iniciativas de
educação permanente6, como grupos e momentos de estudo e atualização12, e as
possibilidades de participação e controle sobre o próprio trabalho6,7,16,17.

Em relação às estratégias de cuidado aos trabalhadores com sofrimento psíquico


provocado pelo trabalho, uma revisão sistemática concluiu que há evidência moderada
de que terapia cognitivo-comportamental e meditação produzem melhoras sobre o
estresse e burnout em enfermeiras38. Já estudo de revisão sistemática e metanálise
realizada com médicos da APS e atenção secundária indicou que as medidas individuais
oferecem benefícios limitados, ao passo que intervenções organizacionais de melhoria da
gestão e do processo de trabalho proporcionam melhores resultados na redução do
burnout39. Um estudo longitudinal para prevenção de suicídio de enfermeiras nos
Estados Unidos recomenda que, além das medidas de cuidado individuais, sejam
realizadas intervenções organizacionais que reduzam os agentes estressores no
ambiente de trabalho40.

Certamente, pessoas com sofrimento psíquico, esgotamento e outros agravos


causados pelo trabalho devem ter acesso a tratamento individual e apoio psicológico.
Atividades de relaxamento podem ser benéficas para os trabalhadores que desejarem
esse tipo de intervenção. No entanto, é necessário que essas medidas sejam
complementares às ações que respondam às causas do adoecimento39–42: diminuição da
sobrecarga, ações de reconhecimento, gestão do tempo equilibrada, condições de
trabalho, autonomia e participação.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 32


Projeto Cuida APS

Exercício de reflexão
Ao longo desta aula abordamos os diversos desgastes aos quais os trabalhadores da
APS podem estar submetidos, os quais envolvem várias dimensões do trabalho e
requerem diferentes ações para seu enfrentamento. Alguns desgastes são de
responsabilidade direta do gestor local, outros dependem de ações de outras
instâncias governamentais e de políticas públicas. Você é o maior especialista na sua
realidade de trabalho. Considerando os desgastes apresentados no quadro abaixo,
responda às seguintes perguntas:
a) Quais os desgastes são de responsabilidade exclusiva da gestão local do
serviço de saúde?

b) Quais desgastes não são de responsabilidade/governabilidade da gestão


local, mas que você, gestor local, pode contribuir apoiando ou mobilizando
ações para redução desses desgastes?

c) Quais são os desgastes que você, gestor local, não tem nenhuma
possibilidade de atuação?

Quadro de respostas do exercício de reflexão: desgastes e riscos presentes no


trabalho da APS.

• insuficiência do número de profissionais e sobrecarga de atividades;


• insuficiência de recursos materiais;
• falta de reconhecimento profissional;
• contratação e/ou vínculo empregatício precários;
• desigualdades internas na equipe: falta de reconhecimento salarial, divisão
desigual de tarefas, carga horária;
• ritmo acelerado de trabalho;
• longas jornadas de trabalho ;
• extensão da jornada por meio do uso de aplicativos de comunicação e grupos de
trabalho no celular;
• pressão por resultados;
• ausência ou insuficiência de momentos de estudo e atualização;
• exposição à violência no território e no serviço de saúde ;
• riscos biológicos e risco de acidentes de trabalho;
• ausência de liberdade de expressão, de participação nas decisões e de controle
sobre o próprio trabalho;
• comunicação ineficaz;
• conflitos interpessoais;
• manifestações de preconceito e disparidades raciais e de gênero no ambiente de
trabalho.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 33


Projeto Cuida APS

Minissérie
Nos Episódios 8 e 9 da minissérie Unidade de
Saúde Dona Ivone Lara o tema da saúde dos
trabalhadores da APS está presente. O que você
achou? O que você acha da atuação da Marilda
em relação à saúde dos trabalhadores da equipe?
Você proporia algum encaminhamento
diferente?
Vocês podem acessar a minissérie por este QR
Code (aponte a câmera do celular para visualizar)
ou clicando aqui.

Algumas propostas de ações para fortalecer a


saúde dos trabalhadores da APS

Após o levantamento local dos desgastes. como sugerido no início deste tópico e
cientes das diretrizes necessárias para o trabalho decente, apresentamos abaixo algumas
propostas de ações. Essas propostas podem ou não dialogar com a realidade do seu
serviço e terão muito mais impacto se forem construídas coletivamente com os
profissionais da equipe43. Observe no Quadro 3 quais são as propostas que fazem mais
sentido e são possíveis no seu local de trabalho.

Veja o quadro 3 na próxima página.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 34


Projeto Cuida APS

Quadro 3. Propostas de ações para prevenção e cuidado ao adoecimento dos


trabalhadores da APS.

• Oferecer espaços de apoio e escuta para os profissionais;

• acolhimento individual dos trabalhadores que manifestarem sofrimento psíquico


com encaminhamento para serviço de referência de saúde mental e/ou saúde do
trabalhador;

• promover oficinas e grupos sobre os desgastes no trabalho, que encaminhem


respostas coletivas para a prevenção de agravos;

• garantir a realização de pausas e horários de descanso durante a jornada;

• evitar o uso de aplicativos de comunicação nos momentos de descanso dos


trabalhadores;

• reservar espaço exclusivo para descanso e convivência dos trabalhadores;

• promover oficinas e grupos sobre desigualdades de gênero e raça, que possam


contar com a presença de convidados especialistas no assunto;

• observar e equilibrar a divisão de responsabilidades e tarefas entre os trabalhadores;

• estimular a cooperação entre os trabalhadores e apoiar na mediação de conflitos


entre os profissionais;

• garantir momento semanal de atualização técnica;

• apoiar atividades que estimulem a autonomia e criatividade das equipes;

• priorizar o diálogo e valorizar a participação dos trabalhadores nos espaços


decisórios da unidade de saúde;

• avaliar constantemente como se dão as formas de gerenciamento da equipe,


modificar comportamentos autoritários;

• participar e/ou incentivar a pauta das necessidades relacionadas à saúde dos


trabalhadores da APS nos espaços de gestão macroinstitucionais.

Fonte: elaboração própria

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 35


Projeto Cuida APS

Construindo metas produtivas com a equipe

O planejamento com a definição de objetivos e metas faz parte do trabalho da


Atenção Primária. Como as metas estabelecidas no seu serviço foram formuladas? Você e
sua equipe participaram dessa pactuação?

Você lembra que na Aula 5 – Melhoria da Qualidade falamos sobre metas de


qualidade? O processo de melhoria da qualidade parte do princípio da Quádrupla Meta,
que considera a satisfação dos profissionais e condições de trabalho como indispensáveis
ao processo. Na mesma aula também foi abordada a necessidade do protagonismo da
equipe na escolha dos problemas (que devem estar dentro da governabilidade de
solução pela equipe) e na definição das metas quantitativas. Seguindo os critérios da sigla
SMART, não há riscos de exigir metas abusivas aos trabalhadores: específico (Specific),
mensurável (Measurable), atingível (Attainable), relevante (Relevant) e temporalmente
viável (Time-bound).

Fonte: Imagem - Ser Gestor. Integração dos serviços da AB na Rede de Atenção à Saúde. Conasems©.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 36


Projeto Cuida APS

Considerações Finais

Pelo exposto durante a aula, podemos concluir que, infelizmente, para os


trabalhadores da APS os potenciais de desgaste estão mais presentes do que os
potenciais de fortalecimento e, por isso, muitos profissionais estão estressados ou
adoecidos. Para transformarmos essa realidade é necessário ampliar os potenciais de
fortalecimento, mas também reduzir os potenciais de desgaste.

Apesar do trabalho ser central nas nossas vidas, é comum que deixemos de
relacionar o trabalho com a nossa saúde. E a saúde de quem cuida da saúde? A intenção
desta aula foi destacar a importância de proteger a saúde dos profissionais da APS, que
são essenciais ao SUS e que cuidam da saúde de tanta gente. Sabemos que nem todas as
questões relacionadas às condições de trabalho estão dentro da sua governabilidade
como gestor local. No entanto, refletir sobre as raízes do sofrimento e do adoecimento no
trabalho talvez seja um primeiro passo para um diálogo acolhedor e para a busca de
soluções coletivas juntamente com os profissionais.

Esperamos que seu estudo tenha sido proveitoso! Muito obrigada por nos
acompanhar até aqui!

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 37


Projeto Cuida APS

Referências

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Ministério da Saúde; 2018 [acesso em 11 jul 2022]. (Caderno de Atenção Básica, n.
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http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/cadernoab_saude_do_trabal
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Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho - PNSST. Diário Oficial da União,
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implementação de políticas públicas. Ciênc Saúde Coletiva. 2021;26:6005–16.
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4. Andrade AGM, Neves RF, Carvalho RCP, Dias EC, Lima MAG. (In)Visibilidade do
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Unidade de Saúde da Família. Interface. 2021 [acesso em 11 jul 2022];25. Disponível
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5. Viana N, Campos CMS, Soares CB. Reprodução social e processo saúde-doença:


para compreender o objeto da Saúde Coletiva. In: Soares CB, Campos CMS,
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Barueri: Manole; 2013. p. 107-142.

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Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 42


Projeto Cuida APS

A Autora

Iara de Oliveira Lopes

Enfermeira graduada pela Universidade Federal de São


Paulo e bacharel em Filosofia pela Universidade de São
Paulo. Especialista em Saúde Coletiva e Mestre em Ciências
pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.
Atuou como enfermeira da Atenção Primária em Saúde do
município de São Paulo de 2005 a 2021. Atuou como
enfermeira da Atenção Primária em Saúde do município de
São Paulo, de 2005 a 2021, e como assessora técnica no
Projeto Cuida APS, Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC),
PROADI-SUS. Atualmente é analista de saúde em Unidade
de Vigilância à Saúde no município de São Paulo.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 43


Projeto Cuida APS

Este material integra a coleção de e-books do Curso de Extensão “Gestão dos Serviços da
APS e o Monitoramento do Cuidado das Pessoas com Condições Crônicas”. O curso faz
parte do conjunto de ofertas do Projeto Cuida APS: cuidado das pessoas com doenças
crônicas não transmissíveis (DCNT), iniciativa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC) em
parceria com o Ministério da Saúde (MS) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de
Saúde (CONASEMS), estabelecida por meio do Programa PROADI-SUS, para o triênio de
2021-2023.

O curso teve elaboração e produção de seus materiais educacionais iniciada em 2021 e se


estendeu até a abertura da primeira oferta do curso, ocorrida entre julho de 2022 e janeiro
de 2023. Portanto, os referenciais técnico-políticos estiveram em consonância com o seu
momento de produção. Uma segunda oferta do curso foi realizada no período de junho a
novembro de 2023.

Os recursos gráficos e educacionais e a linguagem abordada foram escolhidos para atender


às necessidades formativas do público do curso. Todos os textos, imagens, vídeos e outros
materiais são protegidos por direitos autorais e outros direitos. O direito de propriedade dos
materiais é do Ministério da Saúde e poderão ser utilizados apenas para fins de forma
gratuita, condicionada à citação do autor, conforme licença Creative Commons.

Aula 12 - Saúde dos Trabalhadores da APS 44


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