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Governo do Estado de São Paulo

Secretaria do Emprego
e Relações do Trabalho

Pr o g ra m a d e
Qualificação
C G
onteúdos erais
Profissional
Ca d e r n o  d o
Tra b a l h a d o r
Vo l u m e

6
Governo do Estado de São Paulo
Secretaria do Emprego
e Relações do Trabalho

Pr o g ra m a d e
Qualificação
Conteúdos Gerais
Profissional
C a d e r n o  d o
Tr a b a l h a d o r
Vo l u m e

6
ÍNDICE

Caderno do trabalhador – Volume 6

Saúde e segurança no trabalho 9


Cidadania ambiental 63

dados internacionais de catalogação na publicação (cip)


(bibliotecária silvia marques crb 8/7377)

P964
Programa de qualificação profissional / Conteúdos gerais
São Paulo : Fundação Padre Anchieta, 2010.
(Caderno do trabalhador, v. 6)
(vários autores, il.)
Programa de qualificação profissional da Secretaria do
Emprego e Relação do Trabalho-SERT
ISBN 978-85-61143-44-2
1. Trabalho – treinamento. 2. Meio ambiente – ecologia
3. Trabalho – saúde segurança I. Título. II. Série.

1-ª edição: 2010


GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Alberto Goldman
Governador

SECRETARIA DO EMPREGO E RELAÇÕES DO TRABALHO

Pedro Rubez Jehá (em exercício)


Secretário
Pedro Rubez Jehá
Secretário Adjunto
Luiz Antonio Monteiro Arcuri
Chefe de Gabinete
Juan Carlos Dans Sanchez
Coordenador de Políticas de Emprego e Renda
Antônio Sebastião Teixeira Mendonça
Coordenador de Políticas de Empreendedorismo
Diomedes Quadrini Filho
Coordenador de Políticas de Inserção no Mercado de Trabalho
Marcelo Oliveira de Mello
Coordenador de Operações
Coordenação do Projeto FUNDAÇÃO PADRE ANCHIETa
CPER/SERT Presidente
Juan Carlos Dans Sanchez Paulo Markun
Fundação Padre Anchieta Vice-Presidente
Fernando Moraes Fonseca Jr. Fernando José de Almeida
Fundação do Desenvolvimento Núcleo de Educação
Administrativo – Fundap Coordenador
José Lucas Cordeiro Fernando José de Almeida
Gerente
Apoio Técnico à Coordenação Monica Gardelli Franco
Fundação do Desenvolvimento Coordenador do Projeto
Administrativo – Fundap Fernando Moraes Fonseca Jr.
Maria Helena de Castro Lima, Selma Venco Equipe Editorial
Apoio à Produção Gerência editorial
Carlos Seabra
Fundação do Desenvolvimento
Administrativo – Fundap Secretaria editorial
Isabel da Costa M. N. de Araújo, Solange Mayumi Lemos
José Lucas Cordeiro, Apoio administrativo
Laís Schalch, Acrizia Araújo dos Santos,
Maria Helena de Castro Lima, Ricardo Gomes, Walderci Hipólito
Selma Venco, Edição de texto
Walkiria Rigolon Fernanda Spinelli, Marcelo Alencar
CPER/SERT Leitura crítica
Alan Pereira de Oliveira, Adriano Botelho, José Bruno Vicentino,
Ana Paula Alves de Lavos, Evanisa Arone, Hugo Fortes,
Bianca Briguglio, Luciane Genciano,
Cesar Henrique Concone, Marco Antonio Queiroz Silva
Cibele Rodrigues Silva, Preparação
Vania Gomes Soares Luciana Soares, Tamara Castro
Revisão
Textos de referência Beatriz Chaves, Fernanda Bottallo, Vera Ayres
Airton Marinho da Silva, Identidade visual
Alan Pereira de Oliveira, João Baptista da Costa Aguiar
Ana Paula Alves de Lavos, Arte e diagramação
Antonio Carlos Olivieri, Bianca Briguglio, Carla Castilho
Clélia La Laina, Cleusa Helena Pisani, Pesquisa iconográfica
Elaine Oliveira Teixeira, Elisa Rojas,
Fernanda Maria Macahiba Massagardi, Renato Luiz Ferreira
Hugo Capucci Jr., Jaquelina Maria Imprizi,
Ilustrações
Joana Scheidecker Rebelo dos Santos, Beto Uechi, Felipe Cohen, Gil Tokio,
Laís Schalch, Leonor Gonçalves Simões, Kellen Carvalho, Leandro Robles,
Maria de Souza Oliveira Tavares, Lúcia Brandão
Maria Helena de Castro Lima,
Renata Violante, Ricardo Mendes Antas Colaboradores
Junior, Roberto Cattani, Selma Venco, Eliana Kestenbaum, Gustavo Lico Suzuki,
Marcia Menin, Maria Carolina de Araújo,
Silvia Andrade da Silva Telles, Paulo Roberto de Moraes Sarmento
Sonia Regina Martins, Walkiria Rigolon
Caro(a) trabalhador(a),

É com grande satisfação que a Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho


(SERT) apresenta este material aos que procuram formação profissional.
Ao longo de sua história, esta Secretaria tem buscado oferecer ao trabalhador
a oportunidade de qualificar‑se para o ingresso ou a permanência no mercado
de trabalho, hoje cada vez mais exigente na formação dos profissionais. Nesse
processo, estabeleceu vínculos com renomadas instituições formadoras na área
da educação profissional.
Este material didático foi elaborado para ser utilizado pelos trabalhadores e
educadores em seus cursos ou oficinas de trabalho, trazendo, assim, subsídios
para a construção de novos programas de capacitação voltados à formação
profissional e, sobretudo, à humana.
Os sete cadernos ora apresentados, tal como os demais materiais já
disponibilizados por esta Secretaria, estão dirigidos a você, trabalhador,
trabalhadora, e também aos educadores, que os utilizarão no acompanhamento
das aulas, proporcionando, dessa forma, um melhor aprendizado, bem como um
ensino de qualidade.
Tenho certeza de que este passo será o primeiro de uma longa caminhada na
direção de nosso maior objetivo: mais oportunidades de trabalho e trabalhadores
mais bem preparados.
Boa sorte!

Guilherme Afif Domingos


Secretário de Estado do Emprego e Relações do Trabalho
Caro(a) trabalhador(a),

Gostaríamos de parabenizá‑lo(a) por sua iniciativa de buscar um programa de


qualificação profissional.
Seja qual for o motivo que o(a) trouxe aqui – procurar um trabalho, aperfeiçoar aquilo
que você já sabe fazer ou tentar mudar de profissão –, aprender, adquirir novos
saberes, aprimorar‑se é sempre bom; é um passo importante na vida das pessoas.
O curso que você está iniciando agora foi pensado para os trabalhadores que,
como você, estão com dificuldade de arrumar trabalho: seja em uma fábrica, uma
empresa, seja como autônomo ou cuidando do próprio negócio.
Pensamos que, à medida que sabemos um pouco mais, esse caminho pode se
tornar mais fácil.
Estudando as características do mercado de trabalho e as mudanças que
estão acontecendo nessa área – tanto no mundo como aqui no Brasil e no
estado de São Paulo –, a SERT preparou um programa de qualificação dividido
em duas partes.
A primeira, que chamamos de conteúdos gerais, trabalha os saberes básicos
necessários em qualquer ocupação. São conteúdos que objetivam preparar
você, trabalhador, para: ler melhor um texto; refletir de forma crítica sobre ele;
tirar conclusões sobre um fato; encontrar soluções possíveis para determinado
problema; entender o mercado de trabalho e inserir‑se melhor nele; participar
de um debate ou de um trabalho em equipe; raciocinar de forma lógica; entre
outros aspectos.
Na segunda parte deste curso, serão trabalhados os chamados conteúdos
específicos,que estão relacionados ao aprendizado de determinada ocupação
e são escolhidos de acordo com as características de cada região ou cidade.
Os cadernos que você está recebendo estão voltados exclusivamente para os
conteúdos gerais.
Neste caderno, você encontrará os temas: Saúde e segurança no trabalho e
Cidadania ambiental.
Nas primeiras unidades, apresentamos fatores que podem prejudicar a
integridade física dos profissionais, como as condições em que o trabalho ocorre
e a falta de equipamentos de proteção.
O módulo seguinte,que complementa este volume, busca definir conceitos
ligados ao meio ambiente, além de mostrar os principais problemas relacionados
ao tema e apontar meios para você ajudar a enfrentá-los.
O caderno mostra, ainda, algumas leis importantes ligadas aos dois assuntos.
Com esses conteúdos, que colocamos à sua disposição, esperamos que você
aproveite o curso de qualificação que irá fazer e possa ampliar seus saberes para
o mundo do trabalho.

Juan Carlos Dans Sanchez


Coordenadoria de Políticas de Emprego e Renda
Saúde e segurança no trabalho

Saúde
e segurança
no trabalho

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Saúde e segurança no trabalho

Caro(a) trabalhador(a),
Este caderno foi feito para debater com você e seus colegas as doenças e os acidentes
do trabalho.
Procuramos apresentar as principais situações que podem trazer problemas para a
saúde dos profissionais, entre elas as condições em que o trabalho ocorre e a falta de
equipamentos de proteção.
O caderno mostra também as principais leis relacionadas ao assunto para você saber
o que deve ser feito em caso de acidentes ou doenças do trabalho.
Conhecer as formas de prevenir doenças e acidentes é, com certeza, um grande passo
para melhorar as condições de trabalho e de vida dos brasileiros.
Assim, na Unidade 1 falamos sobre como o trabalho que desenvolvemos todos os
dias envolve riscos, possibilitando a ocorrência de acidentes e doenças profissionais.
Na Unidade 2 há alguns dados sobre doenças comuns nos ambientes de trabalho.
A legislação trabalhista brasileira é tratada na Unidade 3. Você poderá conhecer me-
lhor as responsabilidades das empresas e os direitos dos trabalhadores diante de pro-
blemas.
Já na Unidade 4 o assunto é proteção, ou seja, discutimos como podemos prevenir
acidentes e doenças no trabalho, bem como vários alertas sobre outros tipos de risco
presentes nesses locais: físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes.
Por fim, na Unidade 5 vamos saber como, em um local de trabalho, é construído o
mapa de riscos.
Bom trabalho!

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P ro g ra m a d e Q u a l i f i ca ç ã o P ro f i s s i o n a l • Co n te ú d o s G e ra i s

Unidade 1 Adoecer no trabalho,


uma história antiga
O trabalho é muito importante para todos nós.
Por meio dele as pessoas desenvolvem a inteligência,
constroem uma profissão, sustentam a si mesmas e suas
famílias e se comunicam com outras pessoas.
Mas trabalhar também envolve certos riscos.
Nas próximas páginas vamos tratar desses riscos,
que estão relacionados à saúde e à possibilidade
de o trabalhador adoecer.

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Saúde e segurança no trabalho

São inúmeras as atividades que podem afetar a saúde dos profissionais.


Dependendo das condições, como o local de trabalho e o equipamento utilizado, os
trabalhadores podem sofrer vários tipos de acidentes e também de doenças, chamadas
doenças do trabalho ou doenças profissionais.
Vamos ver alguns exemplos?
• Quem atua em minerações e pedreiras respira a poei­ra da pedra, ou seja, fica
exposto a essa poeira e está sujeito a sofrer de silicose, um mal que ataca os pul-
mões e leva à morte.
• Os ambientes muito barulhentos, após alguns anos, deixam as pessoas surdas
e nervosas. É o risco que correm, por exemplo, os operadores de britadeira que
não usam protetores de ouvido.
• Andaimes mal construídos, com tábuas rachadas e amarrados com arame, pro-
vocam várias mortes em obras nas grandes cidades. Os pedreiros, por exemplo,
têm de conviver com o medo de cair de grandes alturas, de choques elétricos e
de doenças da coluna, entre outros problemas.

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P ro g ra m a d e Q u a l i f i ca ç ã o P ro f i s s i o n a l • Co n te ú d o s G e ra i s

• Faz parte da rotina de estivadores e carregadores trans-


Você sabia?
portar sacos pesados nas costas. Há profissionais que
As siglas LER/DORT sig­
nificam Lesões por Esfor­ precisam fazer o mesmo trabalho todos os dias, repe-
ços Repetitivos e Doen­ças tindo movimentos iguais várias vezes e de forma rápida,
Osteomusculares Rela­ isso acontece com metalúrgicos, digitadores, bancários,
cionadas ao Trabalho.
costureiras, açougueiros. Por causa dos movimentos
repetitivos, eles podem acabar tendo uma doença cha-
mada LER/DORT, que ataca coluna, músculos, nervos,
juntas, tendões, mãos, cotovelos e ombros, retirando a
capacidade de trabalho de pessoas ainda jovens.
• Há também ambientes de trabalho, como indústrias de
tintas e vernizes, oficinas de pintura e fábricas de sapatos,
onde os trabalhadores lidam o tempo todo com produtos
químicos tóxicos, respirando vapores, colas, gases e fuma-
ças. Nesses locais podem ocorrer intoxicações por chum-
bo, benzeno, tíner e outros solventes, que podem originar
até casos de leucemia, um tipo de câncer no sangue.

Atividade 1 – Debate de experiências


Forme um grupo com mais quatro colegas para discutir as experiências de trabalho de
vocês. Liste os locais e os riscos à saúde que, na opinião da equipe, estão relacionados
a cada um desses lugares e atividades profissionais.

Local Profissional Risco à saúde


Empresa de
Motoboy Acidente de trânsito
entregas rápidas

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Saúde e segurança no trabalho

Tristes estatísticas
Na América do Sul acontecem 20 milhões de acidentes de trabalho
por ano, causando 90 mil mortes, ou seja, aproximadamente 250 pes‑
soas perdem a vida a cada 24 horas por esse motivo.
No Brasil, a situação também é bastante complicada: pelo menos
3.000 profissionais morrem anualmente em decorrência de acidentes
de trabalho. Se juntarmos todas essas vítimas dos últimos dez anos,
teremos um estádio de futebol lotado. Dá para imaginar? E o pior:
esse total considera apenas quem tem carteira assinada, o que escon‑
de muitos acidentes de trabalho sofridos por pessoas que atuam por
conta própria ou no mercado informal, isto é, sem carteira assinada.
Segundo o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), todos os anos
mais de 350 mil pessoas são afastadas de suas funções, no Brasil, por
causa de doenças ligadas ao trabalho. Outro número preocupante diz
respeito aos mais de 10.000 trabalhadores que ficam inválidos anu‑
almente e passam a depender da ajuda do governo para sobreviver e
sustentar a família.

Como tudo isso poderia ser evitado?


Atualmente o progresso científico e as novas tecnologias poderiam poupar muito
sofrimento decorrente de doenças no trabalho mais do que em qualquer outra época
da história.
A partir do final do século 19 (XIX), as cidades foram crescendo mais e mais com a
concentração de indústrias, atraindo trabalhadores da roça, da zona rural. Indo para
as cidades, muita gente começou a lidar com máquinas e equipamentos perigosos sem
a devida proteção e em condições de trabalho ruins. Essa situação continua até hoje
e não é incomum.
Além disso, se os salários são baixos e a empresa pede, o funcionário acaba fazendo
hora extra regularmente. O cansaço e o esgotamento são maiores nessa situação e
podem provocar mais acidentes.

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Atividade 2 – Vamos pensar juntos


Retome o grupo do exercício anterior para responder às questões seguintes.
a) A tecnologia e as máquinas mais modernas são boas ou ruins para o trabalho?
E para o trabalhador? Por quê?

b) Os equipamentos listados abaixo são seguros para quem os manuseia?

Setor Equipamento Opinião do grupo


TASSO MARCELO/AE

Automobilístico
JOEL SILVA/FOLHA IMAGEM

Canavieiro
João Bacellar

Construção civil

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Saúde e segurança no trabalho

c) Na opinião do grupo, trabalhar muito além da jornada de 8 horas diárias pode


causar mais acidentes de trabalho? Por quê?

d) Registre sua opinião após debater o item anterior com o professor e os colegas
de classe.

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Unidade 2 Acidente de trabalho:


com quem fica
o problema?
Quando alguém sofre um acidente de trabalho ou tem
de se afastar de suas funções por doença profissional, fica
parecendo que o problema é apenas dessa pessoa e de
sua família. Mas não é bem assim. Essa é uma questão de
interesse coletivo, ou seja, de todos nós!
Muita coisa ainda precisa mudar para que os riscos à
saúde do trabalhador sejam reduzidos.
O INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) gasta
muitos bilhões por ano com os acidentes e as doenças do
trabalho. Mas vale lembrar que uma parte do dinheiro
do INSS é descontada do nosso salário, certo?
A fim de tentar diminuir o número de acidentes desse
tipo, todos os países do mundo têm leis específicas, com
normas para os ambientes de trabalho. No Brasil, a lei do
trabalho é a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho),
que garante o salário mínimo, as férias, o 13o salário, o
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, a estabilidade
para as mulheres grávidas, entre outras importantes
conquistas.
Essa lei também exige do empregador diversos cuidados
com a segurança e a saúde dos empregados. Fiscais e
juízes podem inclusive mandar parar a produção se
perceberem, constatarem, que os trabalhadores ficam
expostos a grandes riscos.

INSS e SUS são a mesma coisa?


Não! Algumas pessoas fazem confusão entre o INSS e o SUS (Sistema Único
de Saúde). O SUS é responsável pelos tratamentos médicos de todas as pessoas
doentes e acidentadas, independentemente de serem doenças ou acidentes rela-
cionados ao trabalho.

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Saúde e segurança no trabalho

O INSS é como se fosse uma companhia de seguros que garante que o trabalhador
com carteira assinada ou que contribua para esse órgão público como autônomo
não fique desamparado quando estiver doente ou sofrer um acidente de trabalho.
O INSS organiza informações sobre os principais acidentes e doenças do trabalho no
Brasil. Veja quais foram os principais em 2007, que infelizmente não mudaram muito
em relação aos anos passados.

Acidentes do trabalho e doenças profissionais – 2007 Total

Ferimento do punho + amputação de punho e mão 159.900


+ esmagamento da mão

Doenças da coluna (dorsalgia) 50.706

Luxação, entorse e fratura de tornozelo e pé 39.700

LER/DORT (sinovite e tenossinovite + outras doenças das juntas) 31.900

Lesões do ombro 18.896

Fratura da perna, incluindo tornozelo 17.207

Reações ao “estresse” grave 5.170

Depressão 3.560

Outros 326.051

Total 653.090

Atividade 1 – Discutindo as causas dos acidentes


1 Vamos nos reunir em grupos de cinco pessoas e discutir quais são as causas de tantos
ferimentos nos punhos, além de amputações e esmagamentos das mãos. Debatam
o assunto e organizem seus argumentos por ordem decrescente de importância. O
que causa esse problema em primeiro lugar? E em segundo, em terceiro?

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Causa do problema Como evitar

1º lugar
 

 

 

 

2º lugar
 

 

 

 

3º lugar
 

 

 

 

Em alguns países a lei diz que ninguém deve carregar mais de 25 ou 30 quilos de
cada vez, pois carregar peso em excesso, todos os dias e com as mãos (sem a ajuda
de carrinhos, por exemplo), pode trazer problemas permanentes à coluna.
2 Quais os trabalhos/serviços que, na opinião do grupo, provocam tantas doenças na
coluna dos trabalhadores?

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Saúde e segurança no trabalho

3 O que pode ser feito para evitar as doenças da coluna?

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O que acontece quando surge uma LER ou DORT?


Para fazer força e trabalhar, o corpo utiliza músculos e tendões. O uso
forçado dessas partes do corpo em serviços rápidos e repetidos, sem
pausas, provoca as chamadas LER/DORT. A medicina dá vários nomes
complicados a essas doenças, como tendinite, tenossinovite, epicon‑
dilite e outros. Os serviços em linhas de montagem, supermercados,
bancos, frigoríficos e abatedouros de frango são os principais causado‑
res de LER/DORT em todo o mundo. Geralmente as partes do corpo
mais afetadas são as juntas de dedos, punhos, cotovelos e ombros. No
início essas doenças não se manifestam de forma muito intensa, mas
em poucos anos elas podem tirar as condições de trabalho das pessoas.
Grande parte das LER/DORT que atingiram mais de 30 mil pessoas
no Brasil em 2007 poderia ser evitada com ritmos de trabalho menos
acelerados e mais pausas para o descanso dos braços e das mãos.

E o estresse de que tanto se


João Bacellar

fala hoje?
É importante também falar de outros
dois motivos que, somados, afastaram do
trabalho quase 9.000 pessoas no país em
2007. São as doenças provocadas pelo
estresse (ou “doenças dos nervos”, como
se diz popularmente).
Os estados de estresse e depressão atin-
gem muita gente, principalmente quem
exerce funções de grandes responsabili-
dades e muitas exigências, como precisar
sempre cumprir metas e, ainda, supe-
rá‑las. Os caixas de banco, por exemplo,
precisam de muita concentração para
não errar nas contas. Além disso, eles
estão sujeitos a assaltos e têm de lidar o

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Saúde e segurança no trabalho

dia inteiro com clientes nervosos e, muitas


vezes, desrespeitosos.
Você já parou para pensar?
• Os bancários têm culpa se, por exem-
plo, o computador e o sistema do
banco não funcionam? Não! No en-
tanto, para quem “sobram” as ofen-
sas dos clientes?
• Os caixas dos supermercados são cul-
pados se a fila está grande e há pou-
cos guichês para atender o público?
Também não…
Precisamos lembrar que aquelas pessoas
estão ali trabalhando, ganhando seu sus-
tento, e merecem o respeito de todos nós.
Essas coisas parecem simples, mas, somadas a outros problemas do cotidiano, vão
estressando os profissionais.
O estresse ainda é pouco reconhecido pelos médicos e peritos como uma doença
profissional, levando muitas vezes à perda do emprego e a uma situação em que o
trabalhador fica sem nenhuma garantia.

Atividade 2 – Doença de hoje?


1 Os mais velhos podem pensar no assunto, e os mais jovens podem perguntar aos pais,
tios e avós: há 30 anos era comum as pessoas falarem de estresse? E de depressão?

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2 Agora faça uma redação sobre o tema: o trabalho e o estresse.

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Saúde e segurança no trabalho

Atividade 3 – As causas do estresse


1 Faça uma lista daquilo que, na sua opinião, provoca estresse dentro e fora do tra-
balho na vida das pessoas.

Situação No trabalho Fora do trabalho


Trânsito parado
Irritação Maus-tratos dos clientes
e ônibus cheio

2 Como o trabalho pode ajudar a melhorar ou piorar as situações de estresse?

Situações que O trabalho pode O trabalho pode


causam estresse ajudar a melhorar ajudar a piorar
Chegar atrasado ao Chefia pune o
Chefia compreende
trabalho porque houve um trabalhador com uma
a situação
acidente no caminho carta de advertência

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Unidade 3 Quanto custam os


acidentes e as doenças
do trabalho?
Não há máquina ou dado estatístico capaz de calcular o
sofrimento dos profissionais – e seus familiares – que vivem
algum acidente ou adoecem no trabalho ou por causa dele.
O país gasta anualmente 32 bilhões de reais com
despesas relacionadas a acidentes do trabalho. Esse
total inclui as despesas com afastamentos pagas pelo
INSS, os custos do SUS para atender aos acidentados
e recuperá‑los e a perda de produtividade das vítimas e
de lucratividade das empresas. Só o INSS desembolsa
8 bilhões de reais em acidentes e aposentadorias
especiais todo ano.

Só para você ter uma ideia, com 32 bilhões de reais dá para construir
1,5 milhão de casas populares ou 15 mil hospitais equipados!

Como a legislação trata os acidentes do trabalho?


Quando ocorre um acidente de trabalho, em geral a empresa é fiscalizada e pode rece-
ber multas se não estiver cumprindo a lei corretamente. Além disso, o trabalhador tem
o direito de pedir uma indenização se sofreu lesão ou doença grave. Os juízes devem
julgar a responsabilidade sobre o caso, baseando‑se nas leis do país.
É comum escutarmos que o trabalhador se descuidou, não prestou atenção ou não
usou equipamento de proteção individual (o chamado EPI) e que os acidentes ou
as doenças são causados por esse motivo. Será que, na maior parte das vezes, isso é
verdade? Muita gente esquece, mas a lei exige que as empresas ofereçam máquinas e
equipamentos com dispositivos de proteção. Mesmo que o profissional seja bastante
cuidadoso e experiente, trabalhar em condições ruins pode facilitar os acidentes.
A Constituição Federal do Brasil, o mais importante conjunto de leis do país, tem
vários artigos que procuram proteger o trabalhador e garantir seus direitos. Sobre
acidentes e doenças do trabalho ela é muito clara.

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Saúde e segurança no trabalho

Artigo 7o. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais:


(…)
XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio Inerentes quer dizer liga­
de normas de saúde, higiene e segurança (…). dos, relacionados.

A CLT, legislação trabalhista do Brasil, também não deixa


dúvida sobre a responsabilidade dos empregadores no que
diz respeito a reduzir as situações de risco no trabalho.
Artigo 157. Cabe às empresas:
I ‑ cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e
medicina do trabalho (…).
Outra obrigação dos empregadores está na lei que con-
trola o INSS.
Artigo 19 da Lei 8.213 de 1991:
– A empresa é responsável pela adoção e uso das medidas
coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde
do trabalhador.
– Constitui contravenção penal, punível com multa,
deixar a empresa de cumprir as normas de segurança e
higiene do trabalho.
– É dever da empresa prestar informações pormenoriza-
das sobre os riscos da operação a executar e do produto a
manipular.
Sendo assim, quando uma empresa contrata alguém
para trabalhar com instalações elétricas na rua, por
exemplo, ela deve oferecer veículos bem equipados,
boas escadas e boa sinalização, além de instruir o fun-
cionário sobre os riscos de choque e queda, entre ou-
tros. Essas medidas e esses equipamentos são chamados
de “proteções coletivas”.
E tem mais: o empregador também deve fornecer luvas,
capacetes, botas e tudo que for necessário para o trabalha-
dor ter mais segurança durante a realização dos serviços.
Adiante, neste mesmo caderno, voltaremos a falar de pro-
teção coletiva e equipamentos de proteção individual.

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P ro g ra m a d e Q u a l i f i ca ç ã o P ro f i s s i o n a l • Co n te ú d o s G e ra i s

Atividade 1 – Vamos fazer teatro!


Junte‑se a cinco colegas e forme uma equipe. Vocês devem discutir o que foi estudado
até agora e criar uma peça teatral para ser encenada.
Roteiro para o grupo:
• Descobrindo/escolhendo uma ideia: o argumento da peça vai surgir das histó-
rias contadas por você e seus colegas sobre os acidentes de trabalho que sofreram
ou de que ouviram falar. Escreva‑as a seguir de forma resumida.

• Quais são os personagens da história? Quem está envolvido nela? Trabalhador?


Vizinho? Dono da empresa? Cliente?

28
Saúde e segurança no trabalho

• Em que época a história se passa?

• Como a história acontece? Qual é o enredo? Por que o acidente ocorre?

• Qual é o público que vai assistir à peça? Que linguagem deve ser usada para a
peça ser compreendida por esse público?

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P ro g ra m a d e Q u a l i f i ca ç ã o P ro f i s s i o n a l • Co n te ú d o s G e ra i s

Você precisa saber


• O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) pode fechar uma empre‑
sa que oferece risco ao trabalhador. Como? Imagine a construção de um
prédio: nela há um andaime sem proteção de onde os operários podem
cair. Um fiscal do MTE pode mandar parar totalmente a obra até que
tudo esteja dentro das normas, a fim de evitar acidentes.
• Toda empresa com mais de 20 empregados deve ter uma Comissão
Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), formada por trabalhadores
eleitos pelos colegas.
• Há normas específicas para a proteção de profissionais que atuam em
vários tipos de trabalho, como para quem lida com máquinas perigosas
ou trabalha em área rural, hospitais, construção civil, minas e fornos.
• Toda empresa é obrigada a fornecer gratuitamente os equipamentos
de proteção individual. Há uma lista enorme deles: protetores de ou‑
vido contra ruído, máscaras contra produtos químicos e poeira, luvas,
calçados e cintos de segurança, capacetes etc. Mas, mesmo fornecen‑
do os EPIs, o empregador também deve garantir que o ambiente de
trabalho seja seguro.
• As empresas devem mandar fazer exames médicos e de laborató‑
rio em todos os trabalhadores e pagar por esses serviços. Os exames
devem ocorrer de 6 em 6 meses ou anualmente, dependendo do pe‑
rigo que cada tipo de trabalho apresenta. Quem lida com produtos
químicos, por exemplo, deve fazer exames de sangue ou urina a cada
semestre. Já os trabalhadores que respiram poeira de pedras têm de
fazer exames especiais todo ano.
• As atividades de telemarketing e aquelas exercidas em supermerca‑
dos, por exemplo, devem seguir várias regras para evitar que os traba‑
lhadores fiquem doentes.
• E mais: o MTE obriga as empresas a estabelecer pausas quando e
onde o trabalho for muito desgastante e penoso. Móveis, máquinas
e equipamentos devem ser mais bem adaptados ao corpo humano.
• Se você se interessou pelo assunto, visite o site http://www.mte.gov.br
e saiba mais sobre as normas que protegem o trabalhador.

30
Saúde e segurança no trabalho

• Todos podem ser atores! Quem se candidata? Que personagem cada um vai
interpretar?

Agora que todas as peças foram assistidas pela turma, que conclusões podem ser tira-
das a partir das encenações?

O que fazer em caso de acidente?


Quando acontece um acidente ou uma doença do trabalho, o profissional afetado
deve ser encaminhado para tratamento no SUS. Nesse caso, a empresa precisa pre-
encher um formulário chamado Comunicação de Acidentes de Trabalho (CAT),
informando ao hospital e ao INSS o que houve.
Esse procedimento está na lei. Veja:
Artigo 336 do Decreto 3.048 de 1999
(…) a empresa deverá comunicar à previdência social o acidente [ou doença profissio-
nal] ocorrido com o empregado até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência (…)
A CAT também pode ser preenchida pelo profissional que sofreu o acidente, pelo
sindicato que o representa ou por qualquer autoridade pública, como delegados de
polícia, promotores e juízes, a fim de que o trabalhador não fique sem seus direitos.

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A Constituição Federal dá ao trabalhador o direito de receber do INSS o chamado


salário de benefício, que funciona como um seguro em caso de acidente de trabalho.
Enquanto a vítima do acidente permanece sem condições de trabalhar, ela fica
afastada de suas funções. Nos primeiros 15 dias, a empresa é quem paga o salário.
Depois disso, o trabalhador passa por uma perícia médica no INSS e começa a re-
ceber mensalmente o salário de benefício. Quando o médico perito der alta a esse
trabalhador (ou seja, constatar a melhora de sua saúde), ele volta ao trabalho.
O INSS calcula o valor do benefício pela média dos salários anotados na carteira de
trabalho, considerando todos os ganhos da pessoa desde que ela começou a pagar a
Previdência. Vamos ver um exemplo.

Número de meses
Salário em que o profissional Total
recebeu

R$ 300,00 6 R$ 300 x 6 = R$ 1.800

R$ 500,00 2 R$ 500 x 2 = R$ 1.000

R$ 550,00 4 R$ 550 x 4 = R$ 2.200

Total 12 meses R$ 5.000,00

Média: 1.800,00 + 1.000,00 + 2.200,00 = 5.000,00 12 meses


Valor do benefício a receber: r$ 417,00

E se o trabalhador não ficar completamente curado,


o que ele ou sua família podem fazer?
A Constituição diz que, mesmo que o trabalhador tenha recebido o seguro do INSS,
ele pode acionar o empregador na Justiça se o acidente ou a doença for consequência
de más condições de trabalho.
Artigo 7o. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais:

32
Saúde e segurança no trabalho

XXVIII – seguro contra aci-


dentes de trabalho, a cargo
do empregador, sem excluir
a indenização a que [o em-
pregador] está obrigado,
quando incorrer em dolo
ou culpa [não cuidar da
segurança do trabalho, por
exemplo] (…).
Outro direito fundamental do
trabalhador é a aposentadoria
especial. Quando o profissio-
nal atua durante boa parte da
sua vida em ambientes nocivos
à saúde – como um lugar muito
barulhento ou repleto de poeira de amianto –, ele tem direito a se aposentar com menos
tempo de serviço. Dessa forma, alguém que iria aposentar‑se após 35 anos de trabalho,
por exemplo, muitas vezes pode pedir aposentadoria dez anos mais cedo, saindo dos
ambientes ruins antes que fique doente. Veja o que manda a legislação.
Artigo 64 do Decreto 3.048 de 1999
A aposentadoria especial será devida ao segurado (trabalhador) que tenha trabalha-
do durante quinze, vinte ou vinte e cinco anos, conforme o caso, sujeito a condições
especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.
Os empregadores são obrigados a fornecer informações sobre o ambiente de trabalho
ao INSS a fim de facilitar a vida dos trabalhadores. Essas informações são fornecidas
num documento chamado Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP). Está na lei.
Artigo 68, § 6o, do Decreto 3.048 de 1999:
A empresa deverá elaborar e manter atualizado perfil profissiográfico previdenciário
(PPP), abrangendo as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e fornecer a este,
quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica deste documento, sob
pena da multa (…).
Esses são apenas alguns exemplos de leis de proteção aos trabalhadores.
A seguir, vamos comentar como deve ser a proteção contra os riscos de acidentes e
doenças no trabalho dentro das empresas.

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Unidade 4 Redução de perigos


no trabalho: proteções
coletivas e individuais
Quase todo mundo acha que os equipamentos de
proteção individual (EPIs) podem evitar acidentes ou
doenças do trabalho. Claro que a proteção é muito
importante e pode diminuir os problemas e as lesões. Mas
somente esses equipamentos (luvas, capacete, óculos etc.)
não impedem nem evitam acidentes ou doenças.
Além deles, são necessários dispositivos (equipamentos)
de proteção em máquinas, andaimes e quadros de energia
elétrica; é preciso ventilação adequada nos ambientes com
vapores e poeira; os níveis de ruído devem ser reduzidos.
Essas são as proteções mais importantes, porque são
coletivas, isto é, protegem a todos os que estão no mesmo
ambiente. Os equipamentos de proteção individual, por
sua vez, complementam os coletivos.
Todos os países do mundo têm normas para que os
empregadores cuidem das situações de perigo no
trabalho, além de programas de redução de riscos
relacionados a cada ambiente profissional.
No Brasil, as indústrias em geral devem ter um
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA).
Na construção civil há o Programa de Condições
e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria
da Construção (PCMAT).

Todo programa desse tipo precisa seguir os seguintes passos:


1. Conhecimento dos perigos – O empregador contrata profissionais de segurança
para estudar as condições de trabalho, as máquinas e os produtos químicos usados,
propondo proteções e correções. Nessa fase, a empresa pode diminuir o perigo es-
colhendo trabalhar com maquinário mais seguro ou usar produtos menos tóxicos,
por exemplo.

34
Saúde e segurança no trabalho

2. Análise da exposição dos trabalhadores aos perigos – Nessa etapa, a empresa


estuda o tempo e o modo como cada funcionário fica exposto às situações de
risco, tais como ruído, calor, produtos tóxicos e radiação. São produzidos laudos,
relatórios que descrevem as condições de trabalho e servem para os engenheiros e
médicos melhorarem essas condições. Os laudos também podem comprovar, na
Justiça, que os trabalhadores devem receber adicionais de insalubridade (quando
há risco para a saúde/risco de doença) ou periculosidade (quando o trabalhador é
colocado em situação de perigo). Servem também para a aposentadoria especial,
quando for o caso.
3. Proposta de melhorias e proteção – A empresa, após estudar os perigos, escreve
um documento, que deve ser apresentado ao Ministério do Trabalho e Empre-
go, mostrando e reconhecendo que esses perigos existem nos locais de trabalho.
Também precisa listar tudo o que já fez ou está fazendo nesses locais para reduzir
riscos, colocando as datas dessas melhorias a fim de permitir que a fiscalização as
acompanhe. Quando não cumpre essa lista, a empresa fica sujeita a multas pesadas.
Essas melhorias nas condições de trabalho podem ser de quatro tipos e a empresa deve
obedecer à seguinte ordem:
• trocar os produtos tóxicos ou usar máquinas menos barulhentas ou mais seguras;
• instalar proteções contra ruído e acidentes nas máquinas e usar ventilação especial
no caso de produtos tóxicos, evitando que os trabalhadores respirem venenos.
Os dois itens citados acima são as chamadas proteções coletivas.
A empresa também precisa:
• reduzir o tempo de exposição dos trabalhadores às situações de risco; essa prote-
ção, chamada de administrativa, infelizmente é muito pouco usada no Brasil,
onde as horas extras são bastante comuns.
• fornecer equipamento de proteção individual (EPI).

Equipamentos necessários… e gratuitos


O Ministério do Trabalho e Emprego tem uma lista grande de equipamentos pessoais
que devem ser fornecidos gratuitamente aos empregados. Esses materiais precisam ser
substituídos quando necessário e estar sempre funcionando perfeitamente.
A proteção pessoal costuma ser a opção mais usada pelas empresas no Brasil. Já as pro-
teções coletivas, que são mais eficientes (funcionam melhor), são menos utilizadas,
pois exigem técnicas mais modernas e, geralmente, custam mais caro.

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São muitas as empresas que não levam em conta o desconforto e o incômodo de seus
funcionários com o uso de máscaras, óculos, capacetes, aventais, protetores auditi-
vos, luvas, botas etc. Às vezes não é fácil entender que os profissionais estão mais bem
protegidos quando não precisam usar todos esses equipamentos e trabalham num
ambiente pouco barulhento, com ar limpo e pisos bem cuidados.
Depois de providenciar todas essas proteções, a empresa deve acompanhar as condi-
ções de trabalho, verificando os exames médicos dos trabalhadores e acompanhando
o número de acidentes, graves ou não. As queixas que os trabalhadores fazem no servi-
ço médico e na CIPA também devem ser levadas em conta, a fim de ver se as proteções
coletivas e individuais estão funcionando de verdade.
Toda empresa que realmente protege seus trabalhadores, como manda a lei, deve
seguir esses passos, na ordem em que foram citados aqui, com o auxílio de bons pro-
fissionais de segurança e saúde no trabalho.

Atividade 1 – Agora você e seus colegas serão os patrões!


Passo 1 – Convide quatro colegas para formar um grupo. O primeiro desafio de vocês
é pensar no negócio que vão montar. Descreva‑o a seguir.

Passo 2 – Que equipamentos são necessários para montar esse negócio?

36
Saúde e segurança no trabalho

Passo 3 – Como deve ser o ambiente de trabalho para que ele ofereça segurança aos
funcionários?

Passo 4 – Os profissionais que atuam nesse setor devem usar equipamentos especiais
para terem maior segurança? Quais e por quê?

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Principais situações de riscos de acidentes


e doenças no trabalho
Como já vimos, a lista de doenças e acidentes que levam o INSS a afastar trabalhadores
de suas funções é grande. Além daqueles problemas que atingiram o maior número de
profissionais, o Brasil continua a apresentar, todos os anos, milhares de casos ligados
a outras doenças profissionais:
• surdez e estresse causados pelo barulho;
• doenças de pele e alergias provocadas por produtos químicos (as chamadas
dermatites);
• doenças do sangue como leucemia e leucopenia, causadas principalmente por
vapores de solventes e colas;
• sufocamentos e intoxicações por gases e vapores de produtos químicos como
amônia, cloro, monóxido de carbono e gás de cozinha;
• doenças graves provocadas por pesticidas e agrotóxicos;
• contaminação por fumaça de fundição de chumbo e outros metais;
• doenças pulmonares causadas por poeira de mineração (sílica, amianto,
manganês); e
• vários tipos de câncer provocados por produtos químicos como benzeno e
amianto (asbestos).
Todos esses problemas são consequências de condições inadequadas no ambiente
de trabalho.
Quando falamos em ambiente de trabalho estamos tratando de todas as condições de
vida no local de trabalho.
O ambiente pode ser negativo, de-
pendendo de várias condições:
• o tamanho do local e o espa-
ço disponível nele;
• a iluminação;
• a ventilação;
• o ruído; e
• a presença de poeira, gases
ou vapores e fumaças.
É importante também levar em
conta o tipo, o ritmo e o horário
de trabalho, a posição em que o

38
Saúde e segurança no trabalho

profissional permanece durante a jornada, as obri-


gações de tempo e de produção, os turnos, as horas
extras, o trabalho noturno e o salário, entre diversos
outros fatores.
Quando várias condições negativas estão presentes num
mesmo local de trabalho, a chance de ocorrerem aciden-
tes e doenças do trabalho é muito maior. Vamos, então,
falar sobre as principais situações de perigo presentes
nesses ambientes.

Riscos nos locais de trabalho


De acordo com estudos de engenheiros e médicos, as cau-
sas mais comuns de doenças do trabalho são ruído, calor,
radiação, gases, substâncias tóxicas e os perigos de contato
com micróbios. Esses são riscos físicos, químicos e bio-
lógicos, e há também riscos ergonômicos e de acidentes.

Riscos físicos

1) Ruído
Apesar de todo o desenvolvimento tecnológico atual, o
ruído no trabalho e a perda da capacidade de ouvir que
ele provoca ainda são preocupações para trabalhadores,
empresários e governos no mundo inteiro.
Mas o que é ruído?
Ruído lembra barulho, incômodo, perturbação. O baru-
lho é um som inútil e desagradável.
Você sabia?
Duas coisas são importantes quando pensamos em como
Decibel é uma unidade
os sons nos incomodam e podem causar doenças: de medida. Nós dizemos
a) o volume ou a intensidade do barulho, que medimos “quero 1 metro de tecido”
ou “quero 1 quilo de bata­
em decibéis; e tas”, certo? Com os deci­
b) o tipo do som, que pode ser mais grave (como um béis é quase a mesma coi­
trovão) ou mais agudo (uma sirene, por exemplo). sa… mas eles são usados
Os técnicos chamam isso de frequência do som, e para medir a intensidade
dos sons.
ela é medida em hertz.

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Um liquidificador funcionando
perto de você produz 85 decibéis,
um nível de ruído considerado pe-
rigoso para a audição humana se
escutado durante 8 horas por dia.
O ouvido humano é formado por
três partes: ouvido externo, ouvi-
do médio e ouvido interno. Ele
percebe as ondas de som que exis-
tem no ambiente e as leva ao cére-
bro. Quando algo cai no chão, por
exemplo, o ouvido sabe informar a que distância estamos desse local, de que material
é feito o objeto que caiu e de que altura foi a queda, entre outras informações. Isso
tudo com base no volume e no tipo de frequência do som. Assim, podemos diferenciar
vozes de pessoas e animais, instrumentos musicais, máquinas em funcionamento…
simplesmente pelo ruído emitido por cada um.

Ficar exposto a um ruído excessivo durante muitas horas por dia produz várias conse-
quências negativas ao trabalhador, como:
• dor de ouvido provocada por barulhos intensos, como o que ocorre em aeropor-
tos, áreas de mineração e indústrias de tecidos;

40
Saúde e segurança no trabalho

• trauma acústico, que é a perda auditiva repentina, provocada por um ruído que
também acontece de repente (de forma súbita), e com grande intensidade (ex-
plosão, detonação, ruídos fortes em fones); esse tipo de ruído pode trazer surdez
completa ou afetar temporariamente o sistema nervoso das pessoas;
• perda auditiva temporária, que acontece após algumas horas de ruídos intensos
e permanece nas 24 horas seguintes; isso acontece depois de um dia em uma
fábrica barulhenta sem uso de proteção, ou depois de uma festa com música em
alto “volume” (grande intensidade), por exemplo.
• perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR), lesão permanente e irreversível
(não tem tratamento) que costuma ocorrer nos dois ouvidos porque atinge
o caracol do ouvido interno, uma parte muito sensível e que não se recupera
quando afetada. A audição não melhora nem com o auxílio de aparelhos;
geralmente o problema acontece após 5 a 12 anos de trabalho em ambiente
barulhento sem o uso de proteção. A Justiça e o INSS consideram esse tipo de
perda como doença profissional.
• zumbidos, que afetam todos os trabalhadores expostos a ruídos sem a devida
proteção, além daqueles que têm PAIR; os zumbidos são muito incômodos e
não melhoram com tratamento.
Todos esses problemas, é claro, dependem do nível de ruído (volume ou intensida-
de), do tempo em que o trabalhador esteve exposto a ele sem usar proteção correta
e do tipo de ruído (frequência). Quanto maior a intensidade e o tempo de exposição
sem proteção, maior será o risco de perda auditiva.
Além dos problemas de escuta, o ruído também provoca mudanças físicas e emo-
cionais nas pessoas, como batedeiras no coração (taquicardia), aumento da pressão
arterial (pressão alta), dores de cabeça, tonturas, irritabilidade, ansiedade, estresse e
dificuldade para dormir (insônia).
Há também uma sensível queda de rendimento do trabalho do profissional, prin-
cipalmente nas atividades em que é necessária muita precisão e atenção (o uso de
computadores, por exemplo) e nas atividades que dependem mais da comunicação
entre as pessoas. Sem dúvida podem ocorrer mais acidentes quando o trabalhador não
entende as ordens e não escuta os avisos de cuidado e emergência por causa do excesso
de ruído no ambiente.

Controle da exposição ao ruído


Existem situações em que diminuir o barulho do ambiente é muito difícil. Então, a
fim de reduzir os perigos do ruído, é necessário investir em máquinas melhores, mais

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novas e modernas, fechadas e com partes tampadas e, portanto, mais silenciosas.


Fábricas ou locais de trabalho maiores com separações entre as máquinas dos setores
mais barulhentos, podem ajudar bastante nesse sentido. Certos tipos de máquinas,
como policortes, serras e esmeris, podem ser usadas durante apenas uma parte do dia,
evitando expor os trabalhadores que lidam com elas a períodos longos de ruído.

A importância do uso dos equipamentos de proteção individual


Para evitar as consequências dos ruídos excessivos nos locais de trabalho, os equipa-
mentos de proteção individual (EPIs) devem ser usados, sendo obrigação das empre-
sas fornecer equipamentos do tipo concha ou os plugues descartáveis.
Fotos: João Bacellar

Plugues descartáveis para os ouvidos.

Segundo a legislação, esses equipa-


mentos devem ser confortáveis e es-
colhidos pelos próprios trabalhadores
que irão usá‑los. Devem também ser
utilizados todos os dias, pois muitas vezes os profissionais não dispõem de outra pro-
teção para manterem a audição. Além disso, o empregador deve providenciar exames
médicos com audiometrias (exames de audição) todos os anos, a fim de averiguar se
há perdas auditivas nos trabalhadores.

2) Calor
Aqui não estamos falando do calor das praias durante o verão. O
calor que faz mal à saúde é aquele que vem de fornos e caldeiras, Vale reforçar…
por exemplo, nas indústrias siderúrgicas, nas fundições, nas co- Essas medidas não desobrigam
as empresas de reduzir os níveis
zinhas industriais e nas lavanderias.
de ruído ou o tempo em que as
Esse tipo de calor obriga o corpo a agir fora de suas condições pessoas ficam expostas ele.

normais, forçando o coração e os rins dos trabalhadores. As pes-


soas mais velhas quando sujeitas a esse problema acabam sendo
as mais prejudicadas.

42
Saúde e segurança no trabalho

O esforço físico, o sol, a umidade e a falta de ventilação


pioram a sensação de calor. Um dia quente na montanha Você sabia?
Para medir o calor dos
com brisa é menos incômodo do que na praia em dia de
am­­bientes, os técnicos
chuva, por exemplo. Usar roupa escura sob o sol provoca usam os três tipos de ter­
muito mais calor do que roupa clara, isso porque o traje mômetro que aparecem
escuro absorve radiação de calor. na foto abaixo.

Sendo assim, quando um profissional precisa trabalhar


pesado em ambientes muito quentes, a lei (Norma Regu-
lamentadora 15) diz que ele deve ter pausas de descanso
em local fresco. A duração dessa pausa depende da inten-
sidade do calor e do esforço feito pelo indivíduo.
As piores situações de calor ocorrem em áreas subterrâneas de

DIvULGAÇÃO
mineração, fornalhas, siderúrgicas, fundições e cozinhas in-
dustriais, onde também há muita umidade e radiação, pouca
ventilação e os trabalhadores fazem grandes esforços físicos. O aparelho em forma
de globo escuro me­
Nesses locais, os trabalhadores podem sofrer choques de de a radiação, o termô-
calor, que provocam desmaios, além de estados graves de metro úmido verifica a
desidratação (perda de líquidos e sais do organismo). umidade relativa do ar e
a ventilação e o termô-
metro seco serve para
Controle da exposição ao calor aferir a temperatura do
A fim de proteger os trabalhadores do calor excessivo, ar. Então, uma fórmula
e uma tabela permitem
as empresas devem dar atenção especial às condições de
calcular a temperatura
ventilação e circulação de ar no ambiente, à redução dos do ambiente com base
esforços físicos dos trabalhadores e ao uso de equipamen- nessas três medições.
tos adequados. Além disso, devem permitir pausas para
descanso e oferecer líquidos em quantidade correta. Em
muitos casos, a instalação de aparelhos de ar condiciona-
do seria a melhor solução, mas muitos empregadores con-
sideram essa alternativa cara demais por causa dos custos Você sabia?
do equipamento e da energia elétrica. Quando o calor é mui­
to grande, a lei manda o
3) Radiação trabalhador ficar até 45
minutos descansando a
Há dois tipos de radiação que podem atingir as pessoas cada hora trabalhada. Se
em seus locais de trabalho. Uma delas é a gerada pelos essa pausa não for feita o
aparelhos de raios X e produtos radioativos. Essa radiação empregador pode sofrer
é perigosa e pode atingir uma parte dos profissionais que multas e, pior ainda, o tra­
balhador pode adoecer.
atuam em indústrias e hospitais.

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A outra, mais comum nos ambientes industriais, é a radiação ultravioleta (UV). Boa
parte da indústria metalúrgica utiliza soldas em grande quantidade, e toda solda,
quando o metal é aquecido e fundido, produz radiação UV, que pode causar câncer
de pele e catarata nos olhos, além de queimaduras diversas.

Controle da exposição à radiação


A proteção dos trabalhadores contra os raios UV deve
ser feita com barreiras e cortinas de bloqueio de radia-
ção e com o uso de lentes especiais em máscaras de solda
e óculos, além de roupas que cubram toda a pele. Esses
trajes, em ambiente quente, podem trazer desconforto
devido ao calor, o que também precisa ser observado
pela empresa.

Riscos químicos
A poeira e os produtos químicos que, no ambiente de trabalho, entram no corpo
do trabalhador por meio da respiração, da pele e até dos alimentos podem levar a
doenças respiratórias ou afetar outros órgãos e sistemas do corpo. Esses males po-
dem demorar a aparecer (é o caso da silicose, provocada pela poeira de mineração,
cerâmicas e pedreiras), mas também podem manifestar‑se de maneira muito rápida
e até fatal, como, por exemplo, o envenenamento por monóxido de carbono na
saída de um forno de fundição.
No caso da aspiração de produtos químicos, o sistema respiratório pode ter problemas
na parte mais externa dos pulmões ou nas porções mais profundas. No primeiro caso
temos as bronquites e a asma profissional, que costumam atacar padeiros e trabalha-
dores em fábricas de espuma de colchões, entre outros. No segundo caso, ocorrem as
chamadas pneumoconioses, doenças lentas e que não têm cura. Elas podem ocorrer se,
ao longo de muitos anos, o trabalhador respirar poeira contendo material de sílica,
estanho ou fibras de amianto.
Em todos esses casos o profissional deve ser afastado do contato com esses produtos e,
mesmo assim, as doenças podem continuar piorando e levar à incapacidade e até morte.
Algumas doenças produzidas no sistema respiratório por produtos químicos são:
• inflamação crônica e perfuração do septo nasal (a parede que separa o nariz),
causadas por produtos como sais de cromo e de arsênico;
• câncer de brônquios, também provocado pelo cromo e outros compostos
químicos;

44
Saúde e segurança no trabalho

• asma e bronquite, provocadas por poeira de farinha em padarias e por produtos


químicos (por exemplo, uma substância chamada TDI, usada na fabricação de
espuma de borracha para colchões); e
• pneumoconioses, causadas pelas poeiras de quartzo (sílica) e de carvão.

Controle da exposição a poeiras e produtos


químicos
O empregador deve adotar medidas que modi-
fiquem o ambiente de trabalho de modo perma-
nente, a fim de não depender do esforço ou da
boa vontade dos trabalhadores para controlar a
situação de risco.
Daí a importância da proteção coletiva – usar pro-
dutos menos tóxicos, por exemplo –, que deve sem-
pre ser indicada em primeiro lugar. Contudo, em
algumas situações, a proteção individual também
precisa ser utilizada obrigatoriamente.
O ideal é obedecer à sequência já mencionada antes.
1. Correção no ambiente, substituindo produtos tóxicos ou nocivos por outros me-
nos prejudiciais à saúde, por exemplo, uma tinta à base de água em vez de uma tinta
à base de solventes de petróleo.
2. Mudanças na forma de trabalho, como lixar a úmido no lugar de fazer polimento
a seco e usar máquinas para ensacar sem expor o trabalhador
a esforços e a poeiras.
3. Isolamento da atividade, realizando o trabalho em cabines
Dica
Não deixe de ver Erin Brocko­ fechadas.
vich – uma mulher de talento.
Dirigido por Steven Soder­
4. Aspiração da poeira ou de vapores por meio de bocais que
bergh e estrelado por Julia fiquem bem próximos às peças. A fumaça da solda, por
Roberts, o filme, lançado em exemplo, não precisa chegar ao nariz do trabalhador; ela
2000, conta a história real de
uma dona de casa que ajudou pode ser aspirada logo que é gerada.
a descobrir que uma grande
empresa nos Estados Unidos 5. Limpeza de pisos por lavagem, com a proibição de vassou-
usava produtos químicos peri­ ras secas.
gosos, poluindo o ambiente e
provocando doenças. O caso Se essas medidas ainda não forem suficientes, a empresa deve for-
foi à Justiça e a empresa aca­
necer e trocar sempre que necessário uma máscara de proteção
bou sendo condenada.
respiratória confortável e adequada, o que também deve ocorrer

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enquanto medidas de controle do ambiente estiverem sendo


implantadas e em operações eventuais, como a manutenção
e a limpeza de equipamentos geradores de poeira.
Porém é preciso lembrar mais uma vez que o desconforto
causado pelos equipamentos individuais de proteção deve
ser levado em conta pelo empregador, ou seja, não parece
correto pedir que alguém trabalhe dia após dia fazendo
esforços físicos e usando máscaras de borracha, pesadas e
desconfortáveis, em ambientes quentes e úmidos. A pri-
meira obrigação é corrigir o ambiente contaminado.

Riscos biológicos
Com o progresso da ciência, sabe‑se hoje que é muito
perigoso trabalhar em hospitais, laboratórios e limpeza de
esgotos e sanitários por causa do chamado risco biológico.
Os causadores desse perigo são diversos micróbios (fun-
gos, bactérias e vírus, por exemplo), que só podem ser
vistos com a ajuda de microscópios.
Esses micróbios podem penetrar no corpo do trabalhador
através dos olhos, da boca, do nariz e da pele (ou de feri-
Microscópios são apare­
mentos dela) e provocar doenças sérias e até fatais, como
lhos equipados com len­ aids, hepatites B e C, tuberculose, diarreias, entre outras.
tes que aumentam as ima­
Quando um trabalhador da área da saúde sofre um cor-
gens, permitindo enxergar
coisas e seres minúscu­ te ou uma perfuração de agulha, o sangue de pacientes
los, que não conseguimos contaminados pode entrar em seu corpo. Esse tipo de
ver a olho nu. Essas lentes acidente é chamado de pérfuro‑cortante, e é hoje a maior
podem ampliar uma ima­
gem mais de mil vezes.
preocupação dos países avançados com relação à saúde
dos trabalhadores que cuidam da saúde da população.
Dorling Kindersley/GEtty images

Controle de riscos biológicos


As empresas hospitalares e as clínicas de saúde devem se-
guir diversas normas da Anvisa (Agência Nacional de Vi-
gilância Sanitária, órgão ligado ao Ministério da Saúde)
e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) a fim de
realizar uma melhor limpeza dos ambientes de trabalho e
evitar infecções.

46
Saúde e segurança no trabalho

Além disso, outros procedimentos devem ser


respeitados. É proibido comer nos locais de
trabalho e usar roupas contaminadas fora do
hospital ou da clínica. Todos devem usar lu-
vas e lavar as mãos antes e depois de qualquer
contato com pacientes, sangue ou material
que possa conter micróbios nocivos. Todas as
seringas e os objetos cortantes devem ser des-
cartados (jogados fora) em caixas especiais,
rígidas (se isso não for feito, os garis e faxinei-
ros podem sofrer acidentes ao manipular esse
material). Os trabalhadores devem receber
roupas corretas gratuitamente e ser vacinados, por conta
da empresa, além de fazer exames médicos todos os anos.
Quando ocorre um acidente, o hospital ou a clínica são
obrigados a preencher um documento notificando o pro-
blema e providenciar imediatamente tratamento e acom-
panhamento da pessoa acidentada, por causa dos riscos de- Você sabia?
correntes da contaminação, como o perigo de contato com Tendões são fibras que li­
o HIV (vírus causador da aids). gam qualquer músculo­
a um osso permitindo os
movimentos de braços,­
Riscos ergonômicos pernas, dedos e partes dos
dedos. Apesar de resisten­
Muitas situações de trabalho levam o profissional a con- tes, os tendões podem in­
trair doenças e inflamações nos tendões, nas juntas dos flamar quando usados em
ossos (ou articulações) e nos músculos. Esses são os cha- excesso ou exigidos além
de sua natureza, gerando
mados riscos ergonômicos, como a obrigação de movi- as tendinites.
mentos repetitivos muito rápidos e constantes e de mo-
vimentos forçados em posições ruins. Essas situações são
provocadas, entre outras coisas, pelo uso de mobiliário e
ferramentas inadequados e de métodos de trabalho que
não levam em conta as dificuldades dos trabalhadores
em suas tarefas.
Nos últimos anos o número de pessoas com LER/DORT
aumentou muito. Essas siglas, vale repetir, significam le-
sões por esforços repetitivos e distúrbios osteomusculares re- Tendões dos dedos.

lacionados ao trabalho. Elas representam um conjunto de

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distúrbios que podem aparecer em quem sofre os riscos ergonômicos no exercício de


suas funções. Essas pessoas trabalham fazendo muita força ou com repetição cons-
tante de movimentos rápidos, sem pausas corretas e com braços, ombros e mãos em
posições ruins. As doenças desse grupo têm nomes difíceis, técnicos, como tendinite,
bursite, sinovite, tenossinovite, epicondilite, síndrome do túnel do carpo e síndrome
da tensão do pescoço. E são causadas quase sempre pelo mesmos motivos: condições
em que o trabalho é realizado.
Quando uma LER/DORT começa a se manifestar, o trabalhador sente dormência
nos braços e dores ainda suportáveis. Com o agravamento do problema, uma traba-
lhadora pode chegar ao ponto de não conseguir carregar o próprio bebê.
Esse tipo de doença é muito comum entre pessoas que trabalham em frigoríficos,
supermercados, bancos, indústrias eletrônicas e automobilísticas e como digitadores.

Por que as LER/DORT são mais frequentes nessas situações?


Geralmente porque trata‑se de trabalhos feitos de forma muito rápida e contínua, em
que as pessoas ficam horas e horas em pé ou sentadas, sem descanso, movimentando
constantemente os braços e as mãos em posições ruins.
Muitas vezes, o medo do desemprego faz com que os trabalhadores não reclamem
dessas situações nem procurem cuidados médicos, a CIPA ou seu sindicato.
Como vimos no começo deste caderno, as doenças da coluna também são numero-
sas: carregar peso de forma constante representa um perigo para a coluna vertebral e
também é um risco “ergonômico”.
Além das LER/DORT e de problemas na coluna, as alterações psíquicas geradas pela
organização do trabalho, como estresse, depressões, estados de ansiedade, insônias e
crises de pânico podem estar ligadas a riscos ergonômicos.
Sendo assim, os riscos classificados como ergonômicos são variados:
• esforço físico intenso;
• levantamento e transporte manual constante de peso;
• exigência de postura inadequada;
• controles rígidos de metas e produtividade;
• imposição de ritmos excessivos;
• trabalho em turnos;
• trabalho noturno;
• jornadas de trabalho prolongadas (horas extras, jornadas “12 por 36”, em que a
pessoa trabalha 12 horas seguidas e tem 36 horas de descanso etc.);

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Saúde e segurança no trabalho

• trabalho monótono e repetitivo; e


• qualquer situação que cause estresse físico e/ou psíquico.

Controle dos riscos ergonômicos


Essa proteção depende diretamente da forma como o trabalho é comandado.
O ideal seria um ritmo de trabalho leve, sem horas extras, para que todo profissional
pudesse descansar corretamente. As metas de produção deveriam sempre levar em
conta as dificuldades que as pessoas têm, principalmente os mais novatos (com menos
experiência de trabalho) e as pessoas de mais idade.
Deveria haver também uma preocupação com os controles de máquinas e com ban-
cadas, cadeiras e móveis em geral: eles devem ser adequados, com possibilidade de
regular a altura e a posição de trabalho, evitando maiores esforços e cansaço.
Há ainda vários equipamentos que podem facilitar o trabalho, evitando o carrega-
mento de peso e os esforços desnecessários, diminuindo, dessa forma, os riscos ergo-
nômicos. Confira dois exemplos nas ilustrações abaixo.

Riscos de acidentes
Os acidentes não decorrem apenas
de “descuidos” dos trabalhadores,
como muita gente acredita. Diver-
sos fatores ajudam a provocá‑los,
como máquinas sem proteção
(prensas, serras); ferramentas ina-
dequadas, improvisadas ou defeituosas; iluminação fraca e fios desencapados com
risco de choque; e produtos químicos mal guardados, apenas para citar algumas situ-
ações mais comuns.

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Há outras situações igualmente arriscadas. Um trabalhador muito cansado, ao ten-


tar operar uma máquina perigosa, tem menos chance de se cuidar e se proteger, por
exemplo. E quem precisa produzir muito rapidamente ou ganha por produção acaba
passando por cima de certos cuidados que podem evitar acidentes.
Veja o caso de um trabalhador que conserta telefones e executa 15 ou mais tarefas
por dia em locais diferentes. Se ele cai de um poste, é comum todos dizerem que
foi descuido, que ele não amarrou a escada corretamente nem usou o cinto de segu-
rança. O problema é que o trabalhador gasta muitos minutos em cada uma dessas
operações, minutos que somados atrapalham sua produção no final do dia. Assim ele
tenta ser mais rápido. Do mesmo modo, um motoboy às vezes trafega na contramão
ou ultrapassa os carros pela direita: ele procura, antes de mais nada, ganhar tempo e
pode sofrer uma queda ou colisão e até atropelar alguém. Observando o que acontece
nesses casos, percebemos que a forma como o trabalho é controlado pode ampliar a
possibilidade de acidentes.

O controle dos riscos de acidentes


O Ministério do Trabalho e Emprego estabelece normas rígidas sobre a proteção de
partes perigosas de máquinas e sobre riscos elétricos, de incêndios e explosões. Veja
alguns exemplos.
Uma máquina não pode ser acionada por acaso ou acidentalmente pelo próprio ope-
rador ou por quem quer que seja. Ela deve ter trancas e dispositivos para impedir isso.
As prensas “de chaveta”, conhecidas por todos os metalúrgicos, só podem ser operadas
com proteção, a fim de evitar os acidentes mais comuns – amputações e esmagamen-
tos de dedos dos trabalhadores.
Todas as partes que envolvem energia em qualquer máquina devem ser fechadas,
de energia elétrica, de motores, correias, correntes ou engrenagens. As motosserras,
equipamentos muito perigosos usados na exploração florestal e nas carvoeiras, devem
apresentar formas seguras de proteção. Os cilindros de massa de padarias também têm
de ser fechados para evitar que os dedos dos padeiros sofram esmagamento.
Toda manutenção e todo conserto de máquina só pode ser feito com ela parada e des-
ligada. Se isso não acontece, os mecânicos e as outras pessoas que estiverem por perto
correm um risco muito grande.
Na construção civil, as “armadilhas” também são várias. Por isso, as empresas do
setor têm obrigação de fechar todas as aberturas nos prédios, cuidar das escadas e
pisos e fornecer cinto de segurança adequado, além de ferramentas e equipamentos

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Saúde e segurança no trabalho

seguros, como guinchos, betoneiras e elevadores de material. Há exigências legais


muito claras, e seu cumprimento torna uma obra segura. Por isso elas devem ser
seguidas em todas as obras.

João Bacellar

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Unidade 5 Como os trabalhadores


podem conhecer e
entender os riscos no
trabalho?
A legislação brasileira, além da proteção que já
comentamos, dá aos trabalhadores o direito de participar
da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA),
também garantida por lei.
Por que é importante que os trabalhadores participem
das CIPAs? Porque no dia a dia de suas tarefas
eles descobrem, na prática, muito sobre os riscos
existentes no próprio trabalho, e os técnicos (médicos
do trabalho, engenheiros de segurança e técnicos de
segurança) têm muito a aprender com essa vivência.
Sendo assim, todo programa de prevenção de
acidentes ou doenças do trabalho deve valorizar
o conhecimento dos trabalhadores diretamente
envolvidos nas funções.
É importante que os profissionais de todas as áreas
e os técnicos trabalhem lado a lado nesse sentido.
A experiência dos trabalhadores, com o conhecimento
técnico dos especialistas, pode reduzir muito o risco
de acidentes e doenças.
Por exemplo, quem usa tíner em seu trabalho todos
os dias é capaz de saber pelo cheiro, pelas tonturas e pelo
mal‑estar que sente se o ar está muito contaminado.
Mas, ainda que haja tíner em quantidades bem pequenas
e exalando pouco cheiro, os médicos e engenheiros
podem descobrir, por meio de aparelhos, os riscos que os
trabalhadores não percebem. Desse modo, eles orientam
o empregador a controlar a situação antes que ocorram
doenças graves.

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Saúde e segurança no trabalho

Todo membro de CIPA tem direito a um treinamento de


20 horas, durante a jornada de trabalho, em que recebe
noções sobre:
• como estudar o ambiente e as condições de trabalho a
fim de descobrir riscos provocados pelas tarefas;
• o que os técnicos podem fazer para controlar os riscos;
• como investigar e analisar um acidente ou uma doença
do trabalho;
• quais os riscos existentes em sua empresa e em seu
setor de trabalho; e
• como as leis trabalhistas e previdenciárias protegem
os trabalhadores em relação à segurança e à saúde no
trabalho.

O mapa de riscos
Todo membro de CIPA tem também uma obrigação básica: ajudar a montar um
mapa de riscos para alertar seus colegas e o empregador sobre os perigos existentes
no ambiente de trabalho. Cópias desse mapa devem ficar penduradas nas paredes de
espaços de grande circulação da empresa, mostrando seus departamentos ou setores.
No mapa exposto em cada setor os membros da CIPA vão desenhar bolas coloridas, de
tamanhos diferentes, com o objetivo de representar as situações de risco de acidentes
ou doenças que existem ali. O mapa deve ser elaborado com base em visitas e obser-
vações dos membros da CIPA e em conversas com seus colegas. Não são os técnicos
que devem dizer o que colocar no mapa nem o tamanho das bolinhas. O mapa deve
sempre representar o que os profissionais de cada área percebem como perigoso ou
arriscado em seu trabalho.
Você já sabe o que são riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes.
Se achar necessário, releia a definição de cada um. As bolas do mapa de riscos devem
ser das seguintes cores:
• verde – riscos físicos;
• vermelho – riscos químicos;
• marrom – riscos biológicos;
• amarelo – riscos ergonômicos; e
• azul – riscos de acidentes.

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Depois de visitar todos os locais de trabalho, os membros da CIPA discutem em que


pontos do mapa colocar as bolinhas e quais as cores e dimensões de cada uma. O
tamanho das bolinhas traz uma informação importante: quanto maiores elas forem,
maior o risco no local.
• Se, por exemplo, houver muito barulho num setor, a CIPA vai desenhar uma
bola verde grande no local do mapa de riscos que simboliza esse setor.
• Se em outra área forem usados produtos químicos tóxicos – como formol, éter
ou querosene –, dependendo da quantidade, os trabalhadores podem indicar o
risco com bolas maiores ou menores, de cor vermelha, e o nome de cada produto
dentro delas.
• Se constatado que num departamento da empresa se faz muito esforço físico, os
trabalhadores chamarão a atenção para o fato e os membros da CIPA incluirão,
na parte correspondente do mapa, uma bola amarela grande, alertando para os
riscos ergonômicos de doenças profissionais.
• Se as máquinas não estiverem bem protegidas num setor de prensas deverá haver
no mapa uma bola azul bem nítida mostrando isso.
Em qualquer caso, o objetivo principal do mapa de riscos é ilustrar o ponto de vista dos
trabalhadores, sem muitos números, laudos ou aparelhos. Esse mapa não tem valor de
lei para recebimento de adicional de insalubridade ou aposentadoria especial, mas a
empresa é obrigada pelo Ministério do Trabalho e Emprego a levar suas informações
em conta na hora de tomar medidas de controle e melhorias no ambiente de trabalho.

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Saúde e segurança no trabalho

Os mapas de riscos devem ser expostos em lugares onde todos possam vê‑los, fazendo
com que o trabalho da CIPA se torne conhecido. Também servem para estimular o
empregador a melhorar as condições de trabalho. Nas reuniões da CIPA as informa-
ções devem ser atualizadas e é preciso escrever nas atas tudo o que for observado de
errado. É importante saber que as atas e o mapa de riscos são fiscalizados pelo Minis-
tério do Trabalho e Emprego.

Atividade 1 – Vamos fazer um mapa de risco do local onde estamos?


1 O professor deve dividir os alunos em cinco grupos. Cada grupo irá a um local e
fará um mapa, anotando tudo o que encontrar. Por exemplo:
Na casa das máquinas dos elevadores do prédio:
• uma bolinha verde para o nível de ruído;
• uma bolinha azul para o risco de acidentes com máquinas e quedas; e
• uma bolinha vermelha para os óleos e as graxas.
No banheiro:
• uma bolinha marrom para os riscos biológicos (fezes, urina, lixo);
• uma bolinha vermelha para os produtos químicos utilizados; e
• uma bolinha azul para os riscos de escorregões e quedas.
Para conhecer esses riscos é preciso conversar com as pessoas, observar, anotar e
discutir tudo com muita atenção.
2 Agora, na classe, vocês podem fazer um cartaz com apenas um desenho, reunindo
as observações de todos os grupos. Quais os riscos a que os trabalhadores estão
sujeitos no ambiente onde se localiza sua sala de aula?

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3 Em sua opinião, quais as vantagens de os trabalhadores fazerem o próprio mapa de


riscos?

4 Você acha que um mapa de riscos elaborado por técnicos seria diferente daquele
feito pelos trabalhadores? Por quê?

Analisando um acidente ou uma doença do trabalho


Sempre que ocorre um acidente do trabalho ou uma doença profissional é sinal de
que houve falha na prevenção e nos cuidados da empresa. A lei diz que a CIPA deve
participar da investigação e da análise desses acidentes para conhecer melhor o que
realmente acontece nos ambientes de trabalho.
As empresas impõem muitas regras do tipo “não faça isso” e “não faça aquilo”, mas, no
dia a dia da produção, muitas vezes os trabalhadores são obrigados a arriscar a própria
segurança a fim de atingir as metas que o empregador estabelece.

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Saúde e segurança no trabalho

Os trabalhadores raramente podem contar com todos os equipamentos corretos e em


bom estado de funcionamento e nem sempre têm tempo suficiente para executar sua
tarefa com segurança e cuidado. Porém, quando há um acidente, é muito comum a
empresa tentar culpar a vítima, dizendo que o trabalhador acidentado foi quem de-
sobedeceu às regras e cometeu um “ato inseguro”. Mas essa ideia está ultrapassada em
todos os estudos mais modernos sobre acidentes nos locais de trabalho.

Os acidentes não acontecem por uma única razão, mas decorrem de vários fatos
que, um após o outro, levam a consequências sérias.
Assim, se não existe uma caixa firme para receber as agulhas usadas num hospital, por
exemplo, os faxineiros, sempre com pressa porque têm de limpar o prédio todo, vão
improvisar, colocando os restos cortantes e perfurantes dentro de sacos comuns, de
papel ou plástico. Isso acaba expondo os responsáveis pelo transporte do lixo a cortes
e perfurações por material contaminado por vírus e bactérias.
A análise de um acidente desse tipo não pode culpar os trabalhadores de descuido. A
fim de evitar problemas assim, as caixas especiais – obrigatórias por lei – devem estar
em todos os locais onde forem necessárias, e os envolvidos (gerentes, médicos, enfer-

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meiros, faxineiros etc.) precisam ser informados e alertados sobre sua importância a
fim de valorizar e respeitar essas regras. O trabalhador que sofreu o acidente não é,
portanto, o único culpado.
Da mesma forma, num canteiro de obras ninguém deve usar uma serra circular sem
proteção contra acidentes. A lei prevê multas pesadas para tais casos, e muitos juízes
consideram crime oferecer esse tipo de máquina para um trabalhador realizar suas
tarefas. Mesmo que o profissional seja experiente e rápido, as mãos ficam expostas à
serra, e a qualquer momento pode acontecer um acidente sério.

Os técnicos chamam de barreiras as proteções contra acidentes. Por


exemplo, fechar com madeira um poço de elevador vazio e aberto numa
obra é uma forma de construir uma barreira contra um acidente grave.
Colocar uma tranca na chave elétrica de uma máquina também é uma
barreira. Permitir pausas e descansos durante uma jornada exaustiva,
idem, e é obrigação de todos os empregadores criar barreiras para
prevenir e evitar acidentes ou doenças.

Atividade 2 – Relato de acidente


1 Você vai ler agora o relato de um acidente de trabalho. Preste atenção em todos os
detalhes e destaque os fatores que contribuíram para que ele acontecesse. Separe‑os
em fatores relacionados às pessoas, aos equipamentos e à forma de produção.

José era novato na obra. Chegou da roça há 2 meses com a família e, depois de pegar
“bicos”, está no primeiro emprego com carteira assinada. A empresa em que traba-
lha é uma empreiteira pequena que terceiriza serviços para uma grande construto-
ra. O supervisor disse que, se a obra terminasse antes do prazo, a turma ganharia
uma gratificação. José cortava tábuas velhas para fazer formas de concreto numa
serra circular. O disco da serra não tinha nenhuma proteção. A instalação elétrica
apresentava fios desencapados e espalhados pelo chão, que estava molhado. Ao final
do dia, a turma ficou no canteiro para fazer duas horas extras. Às 18h20min, José
não escutou o que seu colega disse e foi desligar a máquina. Quando encostou a
mão no botão, levou um choque, assustou‑se e apoiou a outra mão sobre a serra,
que ainda não tinha parado. Perdeu 3 dedos e ficou afastado do trabalho por três
semanas. Agora ele é auxiliar no escritório da obra, enquanto dura sua estabilida-
de no emprego, que vai acabar em um ano.

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Saúde e segurança no trabalho


Fatores relacionados 
às pessoas




Fatores relacionados 
aos equipamentos




Fatores relacionados 
à forma de produção



2 Agora pense: de que forma esse acidente poderia ter sido evitado? Registre a respos-
ta por escrito.

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A análise de acidentes e doenças do trabalho tem de ser feita por quem conhece o
dia a dia da produção, e não apenas por técnicos de fora, pagos pelas empresas e nem
sempre interessados diretamente na saúde e na segurança dos trabalhadores.
Na Itália, trabalhadores e sindicalistas, já na década de 1970, tinham como lema não
transferir a responsabilidade e o cuidado de sua saúde e segurança para os técnicos,
mesmo que fossem médicos ou até fiscais do governo.
Por quê?
Eles sabiam, desde aquele tempo, que quem precisa lutar contra a exploração dos
maus empregadores, as condições ruins de trabalho e a falta de segurança são os pró-
prios trabalhadores.
Uma categoria organizada tem mais chances de lutar, e as convenções e os acordos
coletivos podem ser ferramentas muito importantes na melhoria da segurança dos
ambientes de trabalho.
Há dois direitos trabalhistas garantidos por lei que muitas vezes são esquecidos.
1. O trabalhador tem o direito de saber, por escrito, em declaração assinada pelo
médico do trabalho da empresa, quais são os riscos existentes em seu ambiente de
trabalho. Podem ser riscos físicos, químicos, ergonômicos ou quaisquer outros.
2. O trabalhador tem o direito de se recusar a trabalhar em condições inseguras,
sem perder o emprego ou ser punido pelo empregador.
Cabe a todos nós exercer esses direitos e diminuir o drama dos acidentes do trabalho
e das doenças profissionais em nosso país.
Vamos encerrar este módulo ouvindo uma canção composta por Cartola e refletir
sobre os cuidados que devemos ter com nossa saúde. Você encontra um vídeo desse
samba no seguinte endereço virtual: http://j.mp/sert6001.
Som na caixa! 

O samba do operário
Cartola

Se o operário soubesse Abafa‑se a voz do oprimido


Reconhecer o valor que tem seu dia Com a dor e o gemido
Por certo que valeria Não se pode desabafar
Duas vezes mais o seu salário Trabalho feito por minha mão
Mas como não quer reconhecer Só encontrei exploração
É ele escravo sem ser Em todo lugar
De qualquer usurário

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Saúde e segurança no trabalho

Bibliografia
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1998.
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fissional – Conheça seus direitos. Belo Horizonte, s/d.
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prego em São Paulo. Prevenção dos riscos respiratórios na indústria metalúrgica.
Osasco, s/d.
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não é de ferro. São Paulo, 2001.
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lho na construção civil/ES: NR‑18. Vitória, 2007. Disponível em: http://j.mp/
sert6002.
SESI – Serviço Social da Indústria/Sebrae. Dicas de prevenção de acidentes e doenças no
trabalho – saúde e segurança no trabalho – micro e pequenas empresas. Brasília,
2005. Disponível em: http://j.mp/sert6003.
Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região. Ler – Lesões por
esforços repetitivos. Você pode virar essa página. São Paulo, 1995.

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