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MULHERES

no Sistema Prisional

MÓDULO 2
Recebimento e procedimentos
de custódia em ambientes
prisionais femininos
EXPEDIENTE

GOVERNO FEDERAL Revisão Textual


Supervisão: Evillyn Kjellin
Presidente da República Victor Rocha Freire Silva
Luiz Inácio Lula da Silva Vivianne Oliveira Rodrigues
Vice-Presidente da República
Design Instrucional
Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho
Supervisão: Milene Silva de Castro
Ministro da Justiça e Segurança Pública Joyce Regina Borges
Flávio Dino de Castro e Costa
Design Gráfico
Secretário da Secretaria Nacional de Políticas Penais – SENAPPEN Supervisão: Mary Vonni Meürer de Lima
Rafael Velasco Brandani Airton Jordani Jardim Filho
Cleber da Luz Monteiro
Diretora da Escola Nacional de Serviços Penais – ESPEN
Giovana Aparecida dos Santos
Stephane Silva de Araújo
Guilherme Comerão Stecca Almeida
Equipe ESPEN Julia Morato Leite Lucas
Haynara Jocely Lima de Almeida Renata Cristina Gonçalves
Italo Rodrigues dos Santos Sonia Trois
Tiago Augusto Paiva

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Programação


Supervisão: Alexandre Dal Fabbro
Coordenação Geral Luan Rodrigo Silva Costa
Luciano Patrício Souza de Castro Luiz Eduardo Pizzinatto
Financeiro
Audiovisual
Fernando Machado Wolf
Supervisão: Rafael Poletto Dutra
Consultoria Técnica EaD Angie Luiza Moreira de Oliveira
Giovana Schuelter Arthur Pereira Neves
Dilney Carvalho da Silva
Coordenação de Produção Eduardo Corrêa Machado
Caroline Daufemback Henrique Kimberly Araujo Lazzarin
Francielli Schuelter Marcelo Vinícius Netto Spillere
Marília Gabriela Salomao Dauer
Coordenação de AVEA Maycon Douglas da Silva
Andreia Mara Fiala
Apresentação
Áureo Mafra de Moraes

Conteúdo
Carlos Rodrigo Martins Dias

Todo o conteúdo do curso Mulheres no Sistema Prisional, da Secretaria Nacional de Políticas Penais
do Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo federal – 2022, está licenciado sob a
Licença Pública Creative Commons Atribuição - Não Comercial - Sem Derivações 4.0 Internacional.
BY NC ND
Para visualizar uma cópia desta licença, acesse: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR.
ESCLARECIMENTO

A partir de 1º de janeiro de 2023, o Departamento Penitenciário Nacional


(DEPEN) passou a ser denominado Secretaria Nacional de Políticas Penais
(SENAPPEN), instituída pelo Art. 59 da Medida Provisória nº 1.154; porém,
devido ao fato de o material deste curso ter sido produzido antes da vigência
da referida medida provisória, há conteúdos em que a atual SENAPPEN
é mencionada como DEPEN. É possível, ainda, que outros órgãos gover-
namentais federais citados nos materiais, como ministérios, secretarias
e departamentos, disponham de uma nova estrutura regimental e uma
nova nomenclatura e sejam mencionados de maneira diferente da atual.
SUMÁRIO

Apresentação.................................................................................................................................................6
Objetivos do módulo 7

Unidade 1: Recebimento de mulheres nas unidades prisionais ....9


1.1 Mulheres presas no geral 11

1.2 Mulheres grávidas presas 13

1.3 Mulheres presas acompanhadas de criança 14

1.4 Mulheres e/ou homens transgênero presos 15

Unidade 2: Alocação........................................................................................................................... 19

Unidade 3: Produção de dados...........................................................................................24

Unidade 4: Maternidade............................................................................................................. 27

Unidade 5: Procedimentos de segurança em mulheres presas...... 33

Unidade 6: Acessos............................................................................................................................. 37
6.1 Acesso ao trabalho e à renda 37

6.2 Acesso à educação 39

6.3 Acesso à saúde 43


SUMÁRIO

6.4 Acesso à assistência social 45

6.5 Acesso à assistência religiosa 48

6.6 Atenção específica às mulheres indígenas 49

Síntese do módulo������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 52

Referências��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 53
MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

APRESENTAÇÃO

Olá, cursista!

No primeiro módulo do curso, abordamos o histórico do aprisionamento


feminino no sistema prisional brasileiro. Também falamos sobre as
legislações vigentes em nosso território, incluindo os acordos e pactos
nos quais o Brasil é signatário.

Neste módulo, trataremos sobre a atenção específica às mulheres em


situação de prisão. Assim, abordaremos como deve ser:

• O recebimento de mulheres nas unidades prisionais.


• A alocação de mulheres, crianças e homens trans.
• A produção de dados nas unidades prisionais femininas.
• A maternidade.
• Os procedimentos de segurança em mulheres presas.
• Os acessos ao trabalho e à renda, à educação, à saúde, à assistência
social e à assistência religiosa.

Antes de começarmos, vale lembrar que, nas penitenciárias femininas,


como será visto mais adiante, vivem mulheres, homens trans e crianças.
Dessa maneira, quando falamos sobre o funcionamento desse sistema,
é preciso ter todo esse grupo em mente. No entanto, como trataremos
muito sobre a especificidade das necessidades femininas, os assuntos
a seguir serão tratados no feminino.

Bom estudo!

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MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Objetivos do módulo

• Apresentar o conteúdo dos principais dispositivos legais que embasam


a atenção específica às mulheres presas.

• Esclarecer procedimentos de recebimento e de visita de mulheres e


crianças em unidades prisionais.

• Abordar questões relacionadas à custódia de mulheres presas:


saúde, educação, acesso ao mundo do trabalho, assistência social e
assistência religiosa.

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UNIDADE 1

Recebimento de mulheres
nas unidades prisionais
MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

1. RECEBIMENTO DE MULHERES NAS UNIDADES PRISIONAIS

Nesta unidade, abordaremos as especificidades no recebimento de


mulheres nas unidades prisionais. É indispensável reconhecer essas
especificidades para que haja acolhimento adequado. Sem esse reco-
nhecimento, a individualização da pena fica comprometida e há risco de
violência contra as mulheres – em especial contra as mulheres grávidas
ou acompanhadas de crianças.

A abordagem dessas especificidades se dará sobretudo a partir da Nota


Técnica n° 17/2020, produzida pela Divisão de Atenção às Mulheres e
Grupos Específicos (DIAMGE) do Departamento Penitenciário Nacio-
nal (DEPEN), vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Na nota, o órgão trata dos procedimentos em relação à custódia de
mulheres no sistema prisional brasileiro, atendendo aos regramentos
internacionais e nacionais.

De início, é importante discorrer sobre a porta de entrada das unida-


des prisionais femininas, pois é onde a mulher presa aguarda a de-
finição acerca de qual cela ou ala/pavilhão/raio ela será destinada.
Trata-se, portanto, de um momento decisivo e repleto de incertezas.

A popular “porta de entrada do sistema prisional” trata-se não apenas da


entrada física, mas de uma expressão dada ao momento de chegada das
pessoas presas nas unidades prisionais, e, geralmente, possui procedimentos

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MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

bastante consolidados, os quais foram originalmente criados para recebi-


mento de homens cisgênero heterossexuais (pessoa com órgão masculino,
identidade de gênero masculino e heterossexual).

Nesse sentido, aponta-se como um dos procedimentos mais usuais


nas unidades prisionais o momento de preenchimento de fichas de
identificação, a fim de colher os dados sobre a mulher presa e divulgar
as informações a respeito das principais regras das unidades prisionais.
Assim, esse início de conversa foca em identificar e conhecer essa pes-
soa por meio de uma entrevista, entender quais são suas demandas
específicas (considerando o corpo feminino e a possível existência de
filhos(as) abandonados no momento da prisão) e como a administração
poderá garantir sua dignidade.

Sobre o ingresso em unidades prisionais femininas, as Regras de Ban-


gkok dispõem:

“Regra 2

1. Atenção adequada deve ser dedicada aos procedimentos de ingresso


de mulheres e crianças, devido à sua especial vulnerabilidade nesse
momento. Recém ingressas deverão ser providas de condições para
contatar parentes; acesso a assistência jurídica; informações sobre as
regras e regulamentos das prisões, o regime prisional e onde buscar
ajuda quando necessário e em um idioma que elas compreendam;
e, em caso de estrangeiras, acesso aos seus representantes consulares.

2. Antes ou no momento de seu ingresso, deverá ser permitido às mu-


lheres responsáveis pela guarda de crianças tomar as providências
necessárias em relação a elas, incluindo a possibilidade de suspender
por um período razoável a medida privativa de liberdade, levando em
consideração o melhor interesse das crianças.” (CONSELHO NACIONAL
DE JUSTIÇA, 2016, p. 21).

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MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Foto: © [Lueine Tuany] / Brasil de Fato.

Portanto, a equipe de triagem precisa entrevistar a mulher que aden-


tra a unidade prisional, a fim de obter informações necessárias para a
atenção específica. Considerando o que traz a Nota Técnica n° 17/2020,
apresentamos diversos pontos que devem ser abordados, na oportuni-
dade de entrevista à pessoa presa na porta de entrada.

1.1 Mulheres presas no geral


É fundamental, ao gestor prisional responsável pela presa na sua entre-
vista de entrada, observar a faixa etária, identidade de gênero, peso e se
a pessoa possui deficiência física ou mental. Confira a seguir um passo
a passo para você se basear ao levantar as informações iniciais sobre a
mulher presa; pergunte, investigue e registre essas informações.

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MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Informações coletadas pelo gestor

$
1 Se possui filhos menores de
idade e a localidade deles.

Informar à Vara da Infância e Juventude,


ao Conselho Tutelar, à Defensoria Pública
do Estado e à Vara de Execuções 2
Criminais ou Vara de Execuções Penais.

3 Se tem alguma doença e


se precisa de medicamentos.

Se está grávida, suspeita que esteja,


ou teve filho há menos de duas semanas. 4

$
5
Caso haja suspeita de gravidez,
providenciar teste.

Agendar consulta médica, se necessária. 6

Passado tempo de triagem,

7 alocar a pessoa idosa, gestante,


obesa ou parturiente em
espaço de vivência específico.

Registrar as informações por


formulários ou sistema
destinado a registro.
8

Caso a mulher presa seja idosa (nesse caso, provisória) e não possua do-
cumentação, considerar a priori a idade informada até confirmação oficial.

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1.2 Mulheres grávidas presas


Ao ser encaminhada à unidade prisional feminina, se a mulher se encontra
grávida ou com suspeita de gravidez, o (a) gestor prisional é responsável
por registrar e providenciar diferentes medidas. Veja abaixo um passo
a passo base.

Questões direcionadas às mulheres grávidas

$
1 Se possui filhos menores de
idade e a localidade deles.

Informar à Vara da Infância e Juventude,


ao Conselho Tutelar, à Defensoria Pública
do Estado e à Vara de Execuções 2
Criminais ou Vara de Execuções Penais.

3 Se tem alguma doença e


se precisa de medicamentos.

Providenciar teste de gravidez,


caso haja suspeita. 4

$
5
Organizar de imediato
consulta médica.

Passado o tempo de triagem,


alocar a gestante em espaço
de vivência específico.
6

7 Registrar as informações por


formulário ou sistema destinado.

Fonte: Adaptado da BRASIL, 2020.

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1.3 Mulheres presas acompanhadas de criança


Caso uma mulher presa acompanhada de criança(s) seja encaminhada
à unidade prisional feminina, o (a) gestor prisional é responsável por
levantar os seguintes dados:

Questões direcionadas às mulheres


acompanhadas de crianças

$
1 Se possui filhos menores de
idade e a localidade deles.

Informar à Vara da Infância e Juventude,


ao Conselho Tutelar, à Defensoria Pública
do Estado e à Vara de Execuções 2
Criminais ou Vara de Execuções Penais.

3 Se tem alguma doença e


se precisa de medicamentos.

Manter a mulher em triagem que


deve ser livre de insalubridade,
insetos, ruídos, sol, chuva ou qualquer
tipo de situação que não preserve a
4
saúde da criança e da mulher.

$ Aguardar confirmação se a mulher presa


5 deverá ou não permanecer
acompanhada da criança.

Alocar a mulher
acompanhada da criança em
espaço de vivência específico.
6

7 Registrar as informações em
formulários ou sistema destinado.

Fonte: Adaptado da BRASIL, 2020.

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MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Lembre-se que os três primeiros pontos já levantados no passo a passo


anterior, devem ser considerados aqui também.

1.4 Mulheres e/ou homens transgênero presos

Símbolo trans.
Fonte: © [ParaDox] / Wikipédia.

É possível haver encaminhamento da mulher transgênero (com ou


sem cirurgia e independentemente da retificação de seus documentos)
à unidade prisional feminina ou masculina, dependendo de manifes-
tação de vontade da pessoa presa e mediante expressa autorização da
Comissão Técnica de Classificação, observando a identidade de gênero
indicada pela pessoa presa, ou para cumprimento de ordem judicial.
É possível também que o homem trans (com ou sem cirurgia),
mesmo havendo a retificação do nome e sexo constante de seu regis-
tro civil (para masculino), seja encaminhado para unidades prisionais
femininas, para garantir sua segurança. Nesses casos, o gestor prisional
é responsável por levantar o passo a passo a seguir.

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Questões relacionadas às pessoas transgênero

$
1 Perguntar nome social da pessoa.

Perguntar a identidade de gênero. 2

3 Incluir o nome social da pessoa


nos formulários e documentos.

Perguntar se possui filhos menores de idade. 4

Informar à Vara da Infância e Juventude,


$
5
ao Conselho Tutelar, à Defensoria Pública
do Estado e à Vara de Execuções Criminais
ou Vara de Execuções Penais.

Se tem alguma doença e se


precisa de medicamentos. 6

7 Se necessário, organizar consulta médica.

Promover que todos os agentes prisionais


e demais servidores se reportem à pessoa
fazendo uso do nome social.
8

$ Alocar a pessoa em espaço de vivência


9 específico, separada do convívio das demais
presas (não alocar em isolamento).

Registrar em formulário ou
sistema destinado. 1010

Fonte: Adaptado da BRASIL, 2020.

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MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Diante do exposto sobre a população trans, é preciso se atentar ao fato


de que, para se autodeclarar pessoa trans, não há obrigação de retificação
de documentos (trocando o nome de registro para o feminino ou do
feminino para o masculino) ou ter passado por procedimentos médicos
como a redesignação sexual.

Tampouco, por exemplo, o fato de acontecer a retificação de nome


de um homem trans (alteração de nome feminino para o masculino)
conduz o preso a ser transferido para um presídio masculino. Assim sendo,
recomenda-se que o homem trans que teve seu nome retificado ou que
passou por redesignação sexual seja mantido em unidade prisional feminina.

Pessoas admitidas em unidades prisionais femininas

Unidades prisionais femininas

Mulheres cisgênero Mulheres transgênero Homens transgênero

No caso das mulheres trans, caso a pessoa tenha sido destinada à unidade
feminina, mesmo sem retificação de nome e comprovação de que houve
redesignação sexual, o tratamento dado deve ser sempre no feminino.
Na sequência, veremos a grande preocupação dos gestores e operadores
de segurança, que é a alocação da mulher trans.

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UNIDADE 2

Alocação
MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

2. ALOCAÇÃO

Relembrando o que já tratamos na Unidade 1, as primeiras arquiteturas


prisionais não consideraram o corpo feminino. E, com isso, as construções
dos espaços prisionais não consideraram que as regras de segurança da
unidade podem ser diferentes das realizadas nas unidades masculinas.
Por isso, a alocação das mulheres presas – em especial, as que este-
jam acompanhadas de filhos(as), as idosas, as grávidas, as parturientes,
as deficientes físicas, as mulheres e homens trans – deve ser pensada
de maneira que respeite suas condições específicas.

É nesse sentido que o DEPEN, através da Nota Técnica n° 17/2020,


recomenda que seja garantido alocação com:

“a) espaço adequado para o descanso (cama, colchão, lençol e travesseiro);


b) boa ventilação e iluminação;
c) água corrente e potável disponível na cela; e
d) fácil acesso ao setor de saúde e de assistência social.” (BRASIL, 2020).

Evidente que tais recomendações também podem (e devem) ser direcio-


nadas à realidade das unidades prisionais masculinas. Entretanto, voltemos
ao assunto das especificidades femininas. As demandas das mulheres são
diferentes ou mais intensas em alguns pontos. Mulheres e homens suportam
o cárcere de formas diferentes.

PODCAST

Para entender essa diferença, podemos pensar em dois exemplos:

Primeiro exemplo: a garantia de espaço específico e adequado


para o descanso das mulheres presas e, também, boa ventila-
ção, iluminação, água corrente e potável disponível na cela são
fundamentais quando a mulher está grávida, acompanhada de
um bebê ou menstruada.

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MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Segundo exemplo: seguindo o exemplo anterior, faz-se neces-


sário o fácil acesso ao setor de saúde e, principalmente, ao de
assistência social. Isso é ainda mais importante para as mães,
quando consideramos a necessidade de acesso às notícias de
filhos e como isso traz um peso psicológico à mulher presa.
Por isso, essa necessidade vai além de interesses pessoais.

Não obstante, o DEPEN também aponta, na mesma nota técnica,


que os interiores das celas devem conter:

Espaço para aleitamento materno

Lixeira com tampa

Chuveiro aquecido

Essa recomendação é direta para as necessidades das mulheres,


em especial, as mulheres grávidas ou acompanhadas de seus filhos(as).
É na lixeira com tampa que se descarta as fraldas usadas, por exemplo.
Para além do uso da própria mulher presa, dependendo do clima de
algumas regiões do país, é necessário garantir acesso à temperatura
aceitável da água do banho para os bebês que acompanham suas mães.
É incompreensível a indução de banho gelado em bebês, principalmente
durante o inverno de algumas regiões do país.

Pensando em garantir esses acessos, bem como a alocação adequada,


o DEPEN sugeriu um agrupamento de presas(os), com a pretensão de
juntar demandas parecidas de alguns grupos. Os agrupamentos foram
os seguintes:

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MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

“I - mulheres idosas e grávidas – esse agrupamento se dá devido


à possibilidade das mulheres idosas auxiliarem as mulheres grávi-
das. Além disso, há relatos de que misturar mulheres grávidas com
mulheres que acabaram de ter bebê pode gerar conflitos. Ex: uma
mulher grávida com dificuldades para dormir (devido ao tamanho da
barriga) entrar em conflito com a mulher com bebê de colo, devido a
eventualidade do choro da criança;

II - doentes crônicas ou que tenham doenças respiratórias,


obesas e deficientes físicos – este agrupamento tem a ver com o
acesso à saúde, em especial, quanto à pandemia;

III - mulheres que estejam acompanhadas de filhos/as – este agrupa-


mento pretende juntar mulheres com a mesma demanda: a atenção
às necessidades das crianças. Com este agrupamento alguns produtos
e experiências podem ser compartilhados;

IV - mulheres trans (caso tenha na unidade prisional) – agrupar as


mulheres trans tem o sentido de garantir a segurança e dignidade
sexual destas mulheres e das mulheres cisgênero; e

V - homens trans.” (BRASIL, 2020).

Considerando a necessidade de manutenção de vínculos familiares,


as Regras de Bangkok apontam:

“4. Alocação

Regra 4

Mulheres presas deverão permanecer, na medida do possível,


em prisões próximas ao seu meio familiar ou local de reabilita-
ção social, considerando suas responsabilidades como fonte de
cuidado, assim como sua preferência pessoal e a disponibilidade
de programas e serviços apropriados.” (CONSELHO NACIONAL
DE JUSTIÇA, 2016, p. 22).

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MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Trataremos de forma mais aprofundada sobre o tema da manutenção


de vínculos familiares um pouco adiante. Mas vale já ressaltar que é co-
mum as filas que se formam para visitas em unidades masculinas serem
enormes, ao passo que na frente das unidades femininas pouquíssimas
pessoas (na maioria das vezes mulheres e crianças) aguardam o momento
de ver as mulheres em situação de prisão.

A frase “O homem não costuma pagar cadeia com mulher” é dita nos
corredores das unidades femininas. Os supostos motivos são vários:

• Parte dos maridos ou namorados estão presos ou mortos.


• Muitas unidades prisionais femininas não possuem espaços ou organi-
zação para recebimento de visitas íntimas.

• O simples abandono por parte do cônjuge.

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UNIDADE 3

Produção de dados
MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

3. PRODUÇÃO DE DADOS

Diante das constantes necessidades de atendimentos administrati-


vos, judiciais, de saúde e de assistência social, é importante manter
uma listagem atualizada das mulheres presas e suas especificidades,
principalmente as que estão na condição de grávidas ou de mães de
crianças de até 12 anos. Nota-se que, para fins de atualização de listagem,
a condição de mãe considera as que possuem crianças de até 12 anos.
Isso quer dizer que não basta ter listagem de mulheres com filhos(as)
que a acompanham no cárcere. É preciso ter listagem de mulheres que,
ainda que presa, são responsáveis por seus filhos(as) extramuros.

Eventualmente, será exigido da direção prisional feminina listagens atu-


alizadas diante das hipóteses previstas no art. 318, inciso IV, do Código
do Processo Penal (BRASIL, 1941). Por isso, diante da produção desses
dados, a título de conhecimento e possíveis providências, o DEPEN re-
comenda que mensalmente seja enviada listagem aos seguintes órgãos:

1. Ministério Público do Estado

2. Vara de Execuções Criminais

3. Vara de Execuções Penais

4. Defensoria Pública do Estado

5. OAB

As Regras de Bangkok também trazem à baila a coleta de dados quando


se refere ao registro. É o que segue:

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 24


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

“3. Registro

Regra 3

1. No momento do ingresso, deverão ser registrados o número e os da-


dos pessoais dos/as filhos/as das mulheres que ingressam nas prisões.
Os registros deverão incluir, sem prejudicar os direitos da mãe, ao menos
os nomes das crianças, suas idades e, quando não acompanharem a mãe,
sua localização e situação de custódia ou guarda. 2. Toda informação
relativa à identidade das crianças deverá ser confidencial e o uso de tais
informações deverá sempre obedecer à exigência de garantir o melhor
interesse das crianças.” (CONSELHO NACIONA DE JUSTIÇA, 2016, p. 22).

Diante da demanda relacionada às mulheres que estão grávidas,


vale relembrar que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) lançou a Reso-
lução n° 252/2018, que, em seu escopo, possui o artigo 8º, que diz que
o poder público agirá para:

“[...] assegurar a interlocução entre as varas com competência na


área de família, da infância e juventude, criminal e de execução penal
nos casos relativos aos filhos cujos genitores estejam encarcerados.”
(CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2018).

QR CODE

Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet)


no QR Code ao lado para assistir o vídeo sobre a coleta de informa-
ções a respeito das mulheres nas unidades prisionais, especialmente
as grávidas, ou acesse o link: https://youtu.be/6GiiNrbkP6c.

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UNIDADE 4

Maternidade
MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

4. MATERNIDADE

Ao falar de maternidade em unidades prisionais, principalmente no


que diz respeito à primeira infância (período que abrange o período os
primeiros 6 anos completos ou 72 meses de vida da criança), é urgente
recorrer aos seguintes normativos:

• Lei n° 13.257, de 8 de março de 2016, que altera a Lei n° 8.069,


de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente)
(BRASIL, 2016).

• O Decreto-Lei n° 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de


Processo Penal) (BRASIL, 1941).

• A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo


Decreto-Lei nº 5.452, de 1° de maio de 1943 (BRASIL, 1943).

• A Lei n° 11.770, de 9 de setembro de 2008 (BRASIL, 2008).

• A Lei n° 12.662, de 5 de junho de 2012 (BRASIL, 2012).

Entre os dispositivos citados, vamos recorrer agora diretamente ao Mar-


co Legal da Primeira Infância: a Lei n° 13.257, de 8 de março de 2016.
Essa lei dispõe, em seu art. 3º, uma mensagem direta, que deve nortear
a atenção às mulheres que estão na condição de mães:

“A prioridade absoluta em assegurar os direitos da criança, do ado-


lescente e do jovem, nos termos do art. 227 da Constituição Federal
e do art 4º da Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, implica o dever do
Estado de estabelecer políticas, planos, programas e serviços para a
primeira infância que atendam às especificidades dessa faixa etária,
visando a garantir seu desenvolvimento integral.” (BRASIL, 2016).

Portanto, a atenção às mulheres que são mães (inclusive as que estão


presas) deve ser coerente ao que é dever do Estado: proteger as crianças
em prioridade absoluta.

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 27


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Nesse sentido, é possível que haja consecutivas decisões de juízes para


substituir a prisão preventiva pela domiciliar. Portanto, novamente,
recorreremos aos dados das mulheres presas. As gestões prisionais
não podem furtar-se a saber das especificidades de cada mulher presa.
Caso haja decisão de substituição de pena, as gestões prisionais precisam
remeter aos juízos detalhes sobre a pessoa em questão.

Porém, caso o juízo não substitua a prisão preventiva pela domiciliar,


cabe à gestão prisional garantir a convivência e a manutenção dos vínculos
entre mulheres e seus filhos(as) em espaço específico (já mencionados
na Unidade 1 deste módulo). Outro ponto a ser considerado é o tempo
de vínculo entre mãe e filho(a).

Vamos lá! Qual é o tempo ideal para que a mulher presa tenha a
companhia de seu filho(a)? Ou, qual é o tempo ideal para que a
criança tenha a companhia de sua mãe? É nessa seara que pre-
cisamos conversar sobre a permanência da criança em unidade
prisional e a preparação da saída do filho(a) da mulher presa para
o lar dos cuidadores.

Assim, o DEPEN considera que deve ser recebido:

a) o artigo 5º da Constituição de 1988 que se lê que:

“L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam


permanecer com seus filhos durante o período de amamentação.”
(BRASIL, 1984).

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 28


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

b) o artigo 83, § 2º da LEP que diz que:

“Os estabelecimentos penais destinados a mulheres serão dotados de


berçário, onde as condenadas possam cuidar de seus filhos, inclusive
amamentá-los, no mínimo, até 6 (seis) meses de idade.” (BRASIL, 1984).

c) a Resolução n° 04/2009 do Conselho Nacional de Política Criminal e


Penitenciária (CNPCP), que em seu art. 2º aponta que:

“deve ser garantida a permanência de crianças no mínimo até um ano


e seis meses para as(os) filhas(os) de mulheres encarceradas junto as
suas mães, visto que a presença da mãe nesse período é considerada
fundamental para o desenvolvimento da criança, principalmente
no que tange à construção do sentimento de confiança, otimismo e
coragem, aspectos que podem ficar comprometidos caso não haja
uma relação que sustente essa primeira fase do desenvolvimento
humano; esse período também se destina para a vinculação da mãe
com sua(seu) filha(o) e para a elaboração psicológica da separação
e futuro reencontro.” (BRASIL, 2009).

d) A Nota Técnica: COVID-19 e crianças privadas de liberdade, organizada pela


Aliança para a Proteção da Criança em Ações Humanitárias e pelo UNICEF,
no título 2.3 Proteção contra a discriminação, diz que:

“Os Estados devem implementar medidas adequadas para ga-


rantir abordagens sensíveis ao gênero em atendimentos frente a
emergência COVID-19 em locais onde as crianças são privadas de
liberdade, incluindo o atendimento das necessidades especiais de
bebês e crianças privadas de liberdade com suas mães, em particular
mães que amamentam.” (UNICEF, 2020).

e) a Resolução n° 252, de 4 de setembro de 2018, do Conselho Nacional


de Justiça que expressa o seguinte:

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 29


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

“Art. 8º. A convivência entre mães e filhos em unidades prisionais ou


de detenção deverá ser garantida, visando apoiar o desenvolvimento
da criança e preservar os vínculos entre mãe e filhos, resguardando-se
sempre o interesse superior destes, conforme disposto no Estatuto da
Criança e do Adolescente. § 1º Para garantia da convivência das mulhe-
res privadas de liberdade com seus filhos, o poder público adotará as
seguintes ações mínimas: I - garantir a convivência entre mães e filhos,
respeitando-se o período de amamentação exclusiva, no mínimo, nos seis
primeiros meses de vida da criança, sem prejuízo de complementação,
caso necessário.” (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2018).

Ainda sobre os cuidados com os filhos (as) de mulheres presas, é impor-


tante ter em mente o seguinte.

Informações sobre amamentação

Faz-se necessário e urgente dar ênfase a não


interrupção da permanência mínima de seis
meses de convivência entre mãe e filho(a).
Mais especificamente: o período de a criança
deixar de se alimentar com leite materno
deve ser após 6 meses de vida. Não se deve
iniciar a separação de mãe e filho(a) por
motivo algum, inclusive com risco de
promover o chamado “desmame”.

Para o desmame, mais uma vez, recorre-se


ao art. 2º da Resolução n° 04/2009
(BRASIL, 2009), do Conselho Nacional de
Política Criminal e Penitenciária (CNPCP),
quando se evoca a visita gradual dos futuros
cuidadores da criança.

A atividade de repassar filhos de mulheres


presas aos seus futuros cuidadores deve ser
acompanhada pela gestão prisional,
de preferência pelo serviço de assistência
social ou psicossocial disponível para
atuação conjunta com:

I – a Vara da Infância e Juventude.

II – o Conselho Tutelar.

III – a Vara de Execuções Criminais ou Vara


de Execuções Penais.

IV – a Defensoria Pública do Estado.

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 30


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

As administrações prisionais devem, sempre, liberar os filhos das mu-


lheres presas através da anuência ou solicitação de ao menos uma das
instituições citadas acima.

Também é necessário reforçar que a manutenção dos vínculos entre


mães e seus filhos(as) compreende organizar visitas que respeitem a
dignidade das crianças. Por isso, as gestões prisionais devem priorizar
espaços e momentos em que filhos(as) de mães presas possam ter
contato em ambiente que não aparente prisional ou que não seja numa
cela, por exemplo.

Imagens de uma visita social de filhos(as) de mulheres presas.


Foto: Penitenciária feminina do Distrito Federal.

A visita de filhos(as) pode ser o momento em que as mães sejam dirigidas


por profissionais de educação a observarem os cadernos da escola dos
filhos, verem um desenho ou simplesmente brincarem juntos.

Imagens de uma visita social de filhos(as) de mulheres presas.


Foto: Penitenciária feminina do Distrito Federal.

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 31


UNIDADE 5

Procedimentos de segurança
em mulheres presas
MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

5. PROCEDIMENTOS DE SEGURANÇA EM MULHERES PRESAS

É sempre muito importante recomendar o uso do aparelho de scanner


corporal (aparelho que detecta substâncias ou objetos suspeitos no
corpo humano) ou detectores de metais em substituição às revistas ín-
timas. O principal motivo da recomendação é evitar constrangimentos
de mulheres presas e de servidores, além de prevenir possíveis abusos
e acusações de abusos.

Contudo, considerando os procedimentos operacionais padronizados,


consolidados e organizados pelas administrações estaduais e bastante
difundidos nas unidades prisionais, há a necessidade de especificar como
podem ser as abordagens em mulheres. Além disso, recomenda-se que,
caso haja necessidade de revista íntima, que seja feita por outra mulher.

O DEPEN, através da Nota Técnica n° 17/2020, orientou os gestores


estaduais sugerindo que:

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 33


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

“I - seja organizado procedimento alternativo ao “sentado -


Sentado - enfileirado - enfileirado - encaixado um ao outro - com as mãos na cabeça”;
encaixado um ao outro -
com as mãos na cabeça
II - evite-se o uso de espargidores de pimenta e afins;
Procedimento muito
utilizado pelo meio
operacional (segurança) III - seja considerado as possíveis condições de surdez, doenças neu-
nas unidades prisionais. rológicas e dificuldades das pessoas mulheres idosas e deficientes
Consiste em ordenar que presas em atender rapidamente aos comandos de voz;
as pessoas sentem com as
pernas abertas, encaixadas
IV - ao transportar gestantes e parturientes a hospital, mater-
de maneira enfileirada.
As pessoas também
nidade ou qualquer outro lugar, utilizar carro adequado (não
devem permanecer com utilizar carro cela, por exemplo);
as duas mãos entrelaçadas
na altura da nuca. V - a condução de mulheres gestantes e parturientes não seja utiliza-
da algemas desde sua saída da unidade prisional até o seu retorno,
Espargidores
conforme prevê o art. 3º do Decreto nº 8.858/2016 e; e
São aerossóis de defesa
(sprays) muito utilizados
para controlar multidões VI - gestantes, mães com filhos ou em período de amamentação não
ou conter pessoas que sejam colocadas em isolamento, nos termos da Regra 22 das Regras
ofereçam algum risco ao de Bangkok.” (BRASIL, 2020, grifo nosso).
operador de segurança.
É um dos equipamentos
não-letais utilizados
Como dito na nota técnica, os carros adequados para o transporte de
por policiais penais nas
unidades prisionais em gestantes e parturientes segue o padrão apresentado na imagem.
alternativa ao uso de
equipamentos letais.

No ano de 2021, o Depen produziu 99 carros adaptados para mulheres gestantes,


parturientes, idosas e deficientes físicas que foram doados aos estados.
Foto: Penitenciária Feminina do Distrito Federal.

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 34


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Quando o assunto é segurança, é sempre muito importante enfatizar o


uso de algemas em mulheres.

A começar, é vedado o uso de algemas em mulheres grávidas


durante o parto e em mulheres que acabaram de ter bebê.

A Lei n° 13.434, de 12 de abril de 2017, que acrescenta parágrafo único


ao art. 292 do Decreto-Lei n° 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código
de Processo Penal), veda a utilização de algemas nesses casos. Para re-
forçar essa ideia, recorreremos à Resolução n° 2, de 1º de junho de 2012,
do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciário (CNPCP),
que recomenda cuidado no transporte de pessoas presas. Tal resolução
aponta, em seu art. 6º:

“Devem ser destinados cuidados especiais à pessoa presa ou inter-


nada idosa, gestante, com deficiência, acometida de doença ou que
necessite de tratamento médico.” (BRASIL, 2012).

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 35


UNIDADE 6

Acessos
MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

6. ACESSOS

A seguir, veremos atividades de muita relevância para a execução penal.


Ao passo que a pessoa presa perde provisoriamente a sua liberdade,
o seu direito ao acesso à saúde, à educação, à assistência jurídica,
ao acesso à visitação permanece. Estas atividades aparecem na Lei de
Execução Penal (LEP) com muita clareza, basta relembrarmos o artigo 10.
São atividades de direito de toda pessoa presa.

Já o trabalho é direito social, previsto no artigo 6° da Constituição Federal,


e dever social, condição de dignidade humana, de finalidade educativa e
produtiva de todas as pessoas presas, segundo o artigo 28, caput, da LEP.
Cabe ao Estado proporcionar o acesso das pessoas presas ao trabalho.

Por isso, nesta unidade 6, trataremos dessas atividades voltadas às


mulheres presas.

6.1 Acesso ao trabalho e à renda


Pensar no aprisionamento feminino é também pensar no mundo do
trabalho. E o mundo do trabalho está relacionado à autonomia financeira
e à possibilidade de sustento dos filhos(as), principalmente quando a
mulher presa progredir de regime ou se tornar uma egressa.

Passa pelo aprisionamento feminino a oferta de vagas de capacitação e


de trabalho nas oficinas ligadas ao Programa de Capacitação Profissional
e Implementação de Oficinas Permanentes (PROCAP) ou demais oficinas
que as gestões prisionais conseguirem organizar.

Por isso, deve ser garantido o acesso das mulheres presas ao mundo
do trabalho e à renda. As gestões prisionais precisam se esforçar no
sentido de ofertar vagas de trabalho para todas as mulheres presas.
Nesse sentido, relembramos as Regras de Mandela (CONSELHO NACIO-
NAL DE JUSTIÇA, 2016), entre as quais, temos a regra n° 96, que observa:

“1. Todos os reclusos condenados devem ter a oportunidade de traba-


lhar e/ou participar ativamente na sua reabilitação, em conformidade
com as suas aptidões física e mental, de acordo com a determinação
do médico ou de outro profissional de saúde qualificado.” (CONSELHO
NACIONAL DE JUSTIÇA, 2016, p. 41).

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 37


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Portanto, no sentido de oportunizar vagas de trabalho às mulheres presas,


recomenda-se que sejam ofertados nas unidades prisionais femininas
as seguintes oportunidades:

• Vagas para cursos profissionalizantes.









Cursos profissionalizantes em presídios de Minas Gerais.
Foto: © [Ascom Sedectes] / Depen MG.

• Vagas para atuação em oficinas do PROCAP e demais oficinas.









Cursos PROCAP em presídios do Espírito Santo.
Foto: Sejus, ES.

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 38


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

• Vagas de trabalho remunerado, quando houver oportunidade.









Confecção de lençóis por mulheres privadas de liberdade em MS.
Foto: © [Tatyane Santinoni] / Agepen, MS.

6.2 Acesso à educação


Com relação ao mundo do trabalho: do mesmo modo que o acesso à
educação contribui para a autonomia da mulher presa – ao conseguir o
aumento de escolaridade e a posse de certificação de uma profissão –,
ele também contribui para a continuação dessa autonomia para além
da prisão, já que torna o sucesso ao procurar emprego mais garantido.

Foto: © [Itana Alencar] / G1 BA.

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 39


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

É necessário que as gestões das unidades prisionais se esforcem no


sentido de não somente oferecer vagas, mas acompanhar a evolução
da execução das atividades com intuito de confirmar se, por exemplo,
os cursos de qualificação profissional fazem sentido para a promoção
da autonomia financeira da mulher custodiada.

Os responsáveis pedagógicos que acompanham as ofertas de cur-


sos, em especial os da Educação de Jovens e Adultos, geralmente,
são importantes parceiros na busca do sucesso escolar.

Também, é valioso dar acesso à leitura às mulheres presas. Entretanto,


solicita-se que a leitura seja organizada para fins de remição de pena, não ape-
Remição de pena nas para leitura recreativa. Para isso, é preciso considerar que o Poder Judiciário
É um instituto jurídico já foi orientado para recepcionar os pedidos de remição de pena, conforme é
utilizado para diminuição
recomendado na Resolução 391, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
do tempo de cumprimento
de pena. Para tanto,
a pessoa presa precisa O Conselho Nacional de Justiça estabeleceu procedimentos e diretrizes
estudar e/ou trabalhar. a serem observados pelo Poder Judiciário para o reconhecimento do
direito à remição de pena por meio de práticas sociais educativas em
unidades de privação de liberdade.

SAIBA MAIS

Veja mais sobre os procedimentos e diretrizes mencionados


acima, disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3918.

Ainda sobre leitura, o DEPEN orientou as administrações prisionais sobre


como atuar com as atividades de remição de leitura em consonância
com o que o CNJ recomendou aos juízes. Na oportunidade, também foi
tratado sobre o acesso à cultura, aos esportes e aos exames nacionais.

SAIBA MAIS

O DEPEN produziu nota técnica sobre procedimentos quanto às


ações de fomento à leitura, cultura e esportes em ambientes de
cárcere, integrando a política de educação para o sistema prisional,
disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/09/
nota-tecnica-72-fomento-a-leitura-cultura-esportes.pdf.

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 40


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Para facilitar a produção das atividades de leitura para fins de remição,


recomenda-se o uso dos formulários a seguir:

Anexo I – Formulário para elaboração do relatório de leitura

Parte I - Informações pessoais

Nome do(a) leitor(a) e n° de registro:

Nome do estabelecimento prisional:

Município/Estado:

Diretor(a) responsável:

Comarca/Vara de execução:

Parte II - Informações sobre a leitura

Nome do livro:

Data do empréstimo: Data de devolução:

Relatório de leitura: conte-nos sua compreensão a respeito do livro lido

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 41


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Produzido o relatório de leitura, após a aprovação feita pela Comissão de


Validação, a unidade prisional deverá encaminhar um outro formulário
ao juízo. Esse formulário é de encaminhamento à Vara de Execuções
Penais (VEP). É o que segue:

Anexo II – Formulário padrão para validação dos relatórios

Parte I - Informações institucionais

Nome do estabelecimento prisional:

Município/Estado:

Diretor(a) responsável:

Comarca/Vara de execução:

Parte II - Informações sobre a leitura

Nome do(a) leitor(a) e n° de registro:

Nome do livro:

Data do empréstimo: Data de devolução: Data da validação:

Parte III - Informações sobre a validação

O relatório atende ao critério de estética textual (legibilidade e


( ) Sim ( ) Não
organização do relatório)?

O relatório atende ao critério de fidedignidade (autoria)? ( ) Sim ( ) Não

O relatório atende ao critério de clareza (tema e assunto do livro lido)? ( ) Sim ( ) Não

O relatório habilita o(a) leitor(a) à remição de pena pela leitura? ( ) Sim ( ) Não

Justifique abaixo os itens analisados como “não”:

Nome do(a) responsável pela análise


Data:
do relatório:

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 42


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Portanto, diante do exposto sobre educação, recomenda-se que seja


ofertado às mulheres presas:

• Vagas na Educação de Jovens e Adultos.


• Oportunidade de inscrição em exames nacionais, como Enem PPL
e Encceja PPL.

• Oportunidade de inscrição em cursos profissionalizantes.


• Oportunidade de leitura e, com isso, remição pela leitura.
6.3 Acesso à saúde
Primeiramente, salienta-se a necessidade de atenção à saúde das presas,
considerando as suas especificidades enquanto mulheres.

A recomendação n° 6, das regras das Nações Unidas, para o tratamento


de mulheres presas e medidas não privativas de liberdade para mulheres
infratoras (Regras de Bangkok), aponta como devem ser os exames mé-
dicos no ingresso de mulheres em unidades prisionais, sendo o seguinte:

“O exame médico de mulheres presas deverá incluir avaliação ampla


para determinar a necessidade de cuidados de saúde básicos e deverá
também determinar:

(a) A presença de doenças sexualmente transmissíveis ou de transmis-


são sanguínea; e, dependendo dos fatores de risco, mulheres presas
poderão optar por realizar testes de HIV, com orientação antes e
depois do teste;
(b) Necessidades de cuidados com a saúde mental, incluindo transtorno
de estresse pós-traumático e risco de suicídio e de lesões auto infligidas;
(c) O histórico de saúde reprodutiva da mulher presa, incluindo gravidez atual
ou recente, partos e qualquer questão relacionada à saúde reprodutiva;
(d) A existência de dependência de drogas;
(e) Abuso sexual ou outras formas de violência que possa ter sofrido ante-
riormente ao ingresso.” (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2016, p. 24).

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 43


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

É nesse sentido que as gestões prisionais não


podem se furtar a oportunizar a oferta da
atenção integral na rede de serviços do SUS
para a população feminina presa e o acesso à
Fonte: Câmara dos Deputados. saúde especializada.

É de responsabilidade dos gestores da administração prisional garantir


os acessos aos serviços de saúde, articulando o atendimento médico
na própria unidade prisional (através das unidades básicas de saúde,
por exemplo) ou garantindo transporte e escolta para locomoção das
mulheres presas aos serviços externos (hospitais, prontos-socorros,
unidades básicas de saúde etc.).

Carros adaptados doados aos estados.


Foto: Penitenciária Feminina do Distrito Federal.

Considerando a realidade da mulher presa e sua saúde, não se pode es-


quecer da saúde das crianças que as acompanham (inclusive durante a
gestação). Com relação a esse assunto, o Conselho Nacional de Justiça lançou
a Resolução n° 252/2018, que em seu art. 10, especificamente, aponta:

“Todas as crianças filhas de mulheres privadas de liberdade acolhi-


das junto a sua mãe no período legalmente permitido têm direito ao
acesso a ações de atenção integral à saúde, que incluem cobertura
vacinal, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento e re-
alização de exames e consultas médicas.” (CONSELHO NACIONAL
DE JUSTIÇA, 2018).

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 44


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Os profissionais de saúde costumam ser bastante atentos quanto ao


estabelecido no SUS. Portanto, as gestões prisionais precisam estar em
contato com o serviço de saúde para que seja garantido o que é direito
das mulheres e suas crianças.

Foto: Penitenciária Feminina do Distrito Federal.

QR CODE

Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet)


no QR Code ao lado para assistir o vídeo que trata sobre o acesso
das mulheres à saúde nas unidades prisionais, ou acesse o link:
https://youtu.be/VDH2XeMRYU8.

6.4 Acesso à assistência social


Pesa ao aprisionamento de mulheres a palavra abandono. No cotidiano
das unidades prisionais femininas, observa-se que o contexto que a
assistência social atua é ligado à tentativa de estabelecer ou contribuir
para a continuidade de vínculos familiares.

Quem conhece in loco unidades


prisionais femininas e masculinas
deve ter percebido que as filas de
entrada para visitas sociais são
menores do que as que se formam
nas unidades prisionais para homens.

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 45


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Perceber isso faz parte das experiências adquiridas de quem, de algu-


ma maneira, teve acesso à realidade da mulher presa. Nesse sentido,
atividades rotineiras, quando relacionadas à visitação prisional para
mulheres, trazem prejuízos, quais sejam:

• Agravo da saúde mental relacionado ao abandono amoroso.


• Falta de recebimento de itens de higiene e vestuário.
• Falta de notícias de filhos(as) e sentimento de incapacidade maternal.
Com a ausência familiar em visitação às unidades prisionais, parte da
população feminina fica entregue ao Estado como único fornecedor de
itens básicos.

Itens fornecidos unicamente pelo Estado

Itens de higiene Alimentos Vestuário

Por isso, as gestões prisionais precisam valorizar a assistência social


voltada às mulheres presas. O serviço social possui em sua natureza a
compreensão da vivência da mulher presa e de seus filhos. É esse serviço
que auxilia na manutenção de vínculos familiares da mulher presa.

Portanto, a assistência social das unidades prisionais precisa desenvolver


ações voltadas às mulheres presas, em especial, no sentido de opor-
tunizar o acesso ao que um familiar, eventualmente, e com sacrifícios,
poderia fornecer.

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 46


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Os serviços de assistência social das unidades prisionais devem


estar atentos às demandas específicas de toda pessoa presa em
unidades femininas. Por isso, sempre que houver uma dificul-
dade que impeça a mulher presa de viver com dignidade por
conta de questões que envolvem suas demandas específicas,
os serviços de assistência social devem produzir relatórios ex-
pondo os entraves e sugerindo soluções, encaminhando às ges-
tões prisionais para possíveis providências. A título de exemplo,
o acesso a absorventes.

A própria Política Nacional de Atenção às Mulheres Presas e Egressas


(PNAMPE) tem como uma de suas metas que os estabelecimentos
prisionais contemplem as mulheres presas, considerando o que segue:

“a) assistência material: alimentação, vestuário e instalações higiê-


nicas, incluindo itens básicos, tais como:
1. alimentação: respeito aos critérios nutricionais básicos e casos de
restrição alimentar;
2. vestuário: enxoval básico composto por, no mínimo, uniforme es-
pecífico, agasalho, roupa íntima, meias, chinelos, itens de cama e
banho, observadas as condições climáticas locais e em quantidade
suficiente; e
3. itens de higiene pessoal: kit básico composto por, no míni-
mo, papel higiênico, sabonete, creme e escova dental, xampu,
condicionador, desodorante e absorvente, em quantidade suficiente.”
(BRASIL, 2014, p. 3).

Diante do exposto, vale comentar cada item.

1. Alimentação: é preciso se atentar ao corpo feminino, em especial às


demandas que vêm junto com a gestação. Assim, é preciso considerar,
para fins de alimentação, a criança que a mulher carrega. Para isso,
os serviços de saúde e de nutrição devem ser acionados. A gestão
prisional deve garantir que a mulher presa tenha acesso a vitaminas
necessárias (sempre quando prescritas) e que sua dieta seja balanceada
para sua saúde e a do bebê. E isso, muitas vezes, passa pela garantia
em contratos de alimentação.

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 47


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

2. Vestuário: os uniformes masculinos, muitas vezes, não cabem no


corpo feminino. Geralmente, os uniformes masculinos são “retos” e não
contemplam os formatos corporais de uma mulher.

3. Itens de higiene pessoal: é preciso se atentar à quantidade suficiente de


papel higiênico. A quantidade de uso de papel higiênico por uma mulher
é maior do que por um homem. Também, é preciso fornecer absorven-
tes em quantidade suficiente. Cada mulher possui um fluxo menstrual
diferente e, por isso, é preciso fornecer absorventes de acordo com a
necessidade. Ainda, é necessário que as gestões prisionais compreendam
que xampu e condicionador são essenciais para higiene feminina.

Vale também ressaltar o que consta nas Regras de Bangkok:

“5. Higiene pessoal

Regra 5

A acomodação de mulheres presas deverá conter instalações e mate-


riais exigidos para satisfazer as necessidades de higiene específicas das
mulheres, incluindo absorventes higiênicos gratuitos e um suprimento
regular de água disponível para cuidados pessoais das mulheres
e crianças, em particular mulheres que realizam tarefas na cozinha
e mulheres gestantes, lactantes ou durante o período da menstruação.”
(CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2016, p. 23).

6.5 Acesso à assistência religiosa


A assistência religiosa é muito valiosa à população feminina presa.
Contudo, recomenda-se atenção na oferta, no sentido de que as mulheres
presas precisam manifestar vontade de receber ou não a visita de um
religioso ou de participar de alguma celebração religiosa; seja um culto,
uma missa ou um passe feito por religião de matriz africana.

Culto Missa Passe

Fotos: © [NoonVirachada], © [wideonet], © [JoaSouza] / Shutterstock.

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 48


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

De maneira alguma é aceitável a assistência religiosa impositiva. A própria


Lei de Execução Penal trata desse assunto em seu artigo 24:

“A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos


presos e aos internados, permitindo-se lhes a participação nos serviços
organizados no estabelecimento penal, bem como a posse de livros de
instrução religiosa. § 1º No estabelecimento haverá local apropriado
para os cultos religiosos. § 2º Nenhum preso ou internado poderá ser
obrigado a participar de atividade religiosa.” (BRASIL, 1984).

6.6 Atenção específica às mulheres indígenas


Quanto às questões específicas das mulheres que se autodeclaram in-
dígenas, recorremos inicialmente à Resolução 287/2019, do Conselho
Nacional de Justiça. Na oportunidade, o CNJ produziu um documento
baseado na resolução, intitulado de “Manual de procedimentos relativos
a pessoas indígenas acusadas, rés, condenadas ou privadas de liberdade”.
Chama-se atenção ao que traz a página 37, ao apontar que:

“a) o juízo da execução monitore atentamente as condições dos es-


tabelecimentos penais nos quais essas mulheres ficarão recolhidas,
de forma contínua durante toda a execução da pena; e

b) garanta que as mulheres indígenas desfrutem de proteção e de


garantias plenas contra todas as formas de violência e discriminação.”
(CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2019, p. 37).

Na mesma esteira sobre os acessos ao mundo do trabalho, educação,


saúde, assistência social e religiosa, as mulheres indígenas possuem
direitos de acesso, respeitando suas especificidades étnicas.

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 49


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Fotos: Unifesp.

Também, ressaltamos a necessidade de coletar dados de mulheres indí-


genas que sejam mães de filhos(as) de até 12 anos de idade ou deficientes.
E, ainda sobre a maternidade, o referido manual traz o previsto no art.
83, parágrafo 2º e no art. 89 da Lei de Execução Penal:

“[...] deve-se respeitar a autonomia da mãe para conduzir a amamen-


tação, a alimentação e todas as práticas de cuidado em conformidade
com seus costumes.” (BRASIL, 1984 apud CONSELHO NACIONAL DE
JUSTIÇA, 2019, p. 38).

Ademais, ainda no referido manual, é apresentado:

“a) os agentes estatais devem zelar para que não haja nenhuma forma
de violência antes, durante e após o parto, e que os procedimentos
estejam em conformidade com os costumes da cultura da parturiente; e

b) entre as práticas que poderiam configurar violência estão o uso


de algemas – vedado pelo art. 292, parágrafo único do CPP –,
intervenções médicas não consentidas, negação de recursos solicita-
dos para alívio da dor ou exigência de que o parto ocorra na posição
litotômica (deitada de barriga para cima).” (CONSELHO NACIONAL
DE JUSTIÇA, 2019).

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 50


MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL

Respeitar as especificidades dos diversos povos indígenas é imprescin-


dível. Entenda mais sobre o tema, lendo a resolução na íntegra.

SAIBA MAIS

Para conhecer as recomendações da Resolução 287/2019, do CNJ,


sobre as pessoas indígenas, acesse o link, disponível em: https://
www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2019/09/Manual-Resolu%-
C3%A7%C3%A3o-287-2019-CNJ.pdf.

Veja a seguir uma retomada dos principais pontos abordados neste módulo.

MÓDULO 2 | Recebimento e procedimentos de custódia em ambientes prisionais femininos 51


SÍNTESE DO MÓDULO

Vimos grande parte do contexto das pessoas em situação de prisão nas


unidades prisionais femininas. Começamos por entender os dados a
serem levantados no recebimento delas, respeitando suas diversidades
(grávidas, acompanhadas de crianças e pessoas trans). Em seguida,
entendemos a alocação dessas pessoas e como suas necessidades se
diferenciam das dos homens em unidades prisionais masculinas.

Depois, passamos a entender o processo da formação de dados e para quais


órgãos públicos esses devem ser enviados. Sobre a maternidade, aprendemos
e fomos instigados a pensar na melhor forma possível de tratar, no contexto
do cárcere, mulheres grávidas e com filhos de diversas idades.

Em seguida, foram apresentados os procedimentos de segurança em


mulheres presas que incluem a revista menos invasiva, transporte ade-
quado e o não uso das algemas nas grávidas. Por fim, focamos nos di-
versos acessos que levam essas pessoas presas à uma vida mais digna
dentro da prisão.

Você finalizou o Módulo 2!


Esperamos que tenham sido esclarecedoras as orientações trazidas no curso
sobre os procedimentos que as unidades precisam executar para garantir
dignidade e segurança às mulheres em privação de liberdade.

52
REFERÊNCIAS

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do


Brasil. Organizado por Juarez de Oliveira. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990.
168 p. (Série Legislação Brasileira).

BRASIL. Decreto-Lei n° 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Pro-


cesso Penal. Brasília, DF: Presidência da República, 1941. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm. Acesso
em: 27 jul. 2022.

BRASIL. Decreto-Lei n° 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Con-
solidação das Leis do Trabalho. Brasília, DF: Presidência da República,
1941. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
del5452.htm. Acesso em: 27 jul. 2022.

BRASIL. Lei n° 7210 de 11 de julho de 1984. Lei de execução Penal. Diário


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do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de
1943, a Lei nº 11.770, de 9 de setembro de 2008, e a Lei nº 12.662, de 5
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