Você está na página 1de 444

Ministério do Turismo, Secretaria de Estado da Cultura

e Santander apresentam a Bienal 12 de Artes Visuais.


Ministério do Turismo, Secretaria de Estado da Cultura
e Santander apresentam a Bienal 12 de Artes Visuais.
Bienal 12 de Artes Visuais Gilberto Schwartsmann
do Mercosul Feminino(s) Hélio da Conceição Fernandes Costa
visualidades, ações e afetos Hermes Gazzola

DIRETORIA EXECUTIVA Ivo Abrahão Nesralla

Presidente Jayme Sirotsky


Gilberto Schwartsmann Jorge Gerdau Johannpeter

Vice-Presidente Jorge Polydoro


Arthur Bender Filho José Antônio Fernandes Martins

Diretores
Justo Werlang

André Jobim de Azevedo Manoel Marcos Madureira

Carlos Carrion de Britto Velho Maria Amélia Bulhões Garcia

Cláudia Laitano Mauro Knijnik

Eduardo Sferra Brunelli Patricia Fossati Druck

Glória Crystal Péricles de Freitas Druck

José Luis Pardo Santayana Cardoso Renato Malcon

José Rivair Macedo Ricardo Russowsky

Maria Berenice Dias Sérgio Silveira Saraiva

Maria Lúcia Bastos Kern Silvana Pretto Zanon

Mário Englert William Ling

CONSELHO ADMINISTRATIVO CONSELHO FISCAL


PRESIDENTE Alessandro Gasperin Barreto
Renato Nunes Vieira Rizzo Jarbas Lima da Silva
VICE-PRESIDENTE Mário Fernando Fettermann
Espíndola
Mathias Kisslinger Rodrigues
Rafael Dias Toffanello
CONSELHEIROS
Rogério Costa Rokembach
Adelino Raymundo Colombo
Wilson Ling
Ana Luiza Mariano da Rocha Mottin
Carlos Alberto Chateaubriand
CURADORIA DESIGN DAS EXPOSIÇÕES
CURADORA GERAL Ceres Storchi
Andrea Giunta Laura Hagel
CURADORES ADJUNTOS
COLABORAÇÃO
Dorota Maria Biczel
Natan Arend
Fabiana Lopes
RENDERIZAÇÕES
Igor Moraes Simões
Giana Flores da Rocha
Nathalia Danezi
PRODUÇÃO
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO EXECUTIVA MONTAGEM
Carina Dias COORDENAÇÃO

Alexandre Moreira
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO EXECUTIVA

Adauany Zimovski CENOTÉCNICO

Nelson Azevedo Vieira FAKE Cenografia

SUPERVISÃO PROJETO LUMINOTÉCNICO

Carolina Grippa André Domingues


Maurício Moura
PRODUTORAS

Fernanda Almeida LOGÍSTICA/TRANSPORTE

Liege Ferreira FINK Mobility

Taís Cardoso SEGURO

ASSISTENTES
Affinité Corretora de Seguros

Bruna Anele
PROGRAMA EDUCATIVO
Debora Plocharski Borges
ASSISTENTE E PRODUTOR GERAL
Isabella Mendonça Lucas Vilela Souza
Kailã Isaias
COORDENADORA DE MEDIAÇÃO
Laís Werneck Renata Sampaio
Renata Signoretti
PRODUÇÃO

Katiana Ribeiro
PESQUISA DE CONTEÚDO ARTÍSTICO REDES SOCIAIS

Cristina Barros Thais Leidens

PESQUISA DE MATERIAIS EDUCATIVOS Liege Heck


Carolina Mendoza WEB DESIGN E VÍDEOS

EROICA conteúdo
Câmara de professores
CRIAÇÃO DO LOGOTIPO DA BIENAL 12
TITULARES
Márcia Valadão
Cristina Barros
Ilana Peres Azevedo Machado FOTOGRAFIA

Juliana de Lima Veloso Thiéle Wiest

Maria Margarita Santi de Kremer DESIGN

Natalia Brock Reginato Néktar Design

Raquel Sampaio Alberti


GESTÃO DE PARCERIAS
Rejane Reckziegel Ledur COORDENAÇÃO
Renan Silva do Espirito Santo Roberta Manaa
Silvana Taquatia Ribeiro
ASSISTENTE DE MARKETING
Walter Karwatzki Viviane Kuhn
SUPLENTES
CATÁLOGO
Celi Teresinha Reinhardt
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Claiton Gonçalves da Silva
Andrea Giunta
Débora Stifelmann Sukster
José Francisco Alves
Lenira Costa dos Santos
DESIGN GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Mari Lucie da Silva Loreto
Néktar Design
COMUNICAÇÃO
ADMINISTRAÇÃO
ASSESSORIA DE IMPRENSA
COORDENAÇÃO GERAL
Liege Heck
Volmir Luiz Gilioli
Roger Lerina Ferreira
FINANCEIRO
Thais Leidens
Ana Carolina Verdun
Jéssica Tairine Rodrigues
Liverson Renan Quadros Souza
Luisa Schneider

ASSESSORIA JURÍDICA
Faraco de Azevedo – Advogados

CONSULTORIA JURÍDICA EM
PROPRIEDADE INTELECTUAL
Rodrigo Azevedo –
Silveiro Advogados

AUDITORIA
Capital Auditores e Consultores
Empresariais S/S
Catálogo da 12ª Bienal do Mercosul
COORDENAÇÃO EDITORIAL TRADUÇÕES / PORTUGUÊS-
INGLÊS-ESPANHOL
Andrea Giunta
José Francisco Alves Traduzca e Ana Vázquez

DESIGN GRÁFICO FUNDAÇÃO BIENAL DE ARTES


VISUAIS DO MERCOSUL
Néktar Design
Rua General Bento Martins,
24 – Conj. 1201 – Centro
FOTOGRAFIAS DAS OBRAS DE ARTE
NAS PÁGINAS DOS ARTISTAS 90010-080 Porto Alegre-RS Brasil
Fornecidas pelos artistas secretaria@bienalmercosul.art.br
e instituições +55 (51) 3254.7500
www.fundacaobienal.art.br
REVISÕES DE TEXTOS CURATORIAIS
Andrea Giunta: Português, Fabiana www.facebook.com/bienalmercosul/
Lopes; Inglês, Jane Brodie
Fabiana Lopes: Espanhol, Andrea
Giunta; Inglês, Fabiana Lopes
Dorota Biczel: Espanhol, Andrea
Giunta; Português, Igor Simões
Igor Simões: Espanhol, Andrea
Giunta; Inglês, Dorota Biczel

ISBN
978-65-992728-1-3
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Morganah Marcon, CRB-10/1024)
____________________________________________________________________________________________________
B588 Bienal 12 – Feminismo(s): visualidades, ações e afetos: catálogo da 12ª
Bienal do Mercosul / coordenado por José Francisco Alves. [livro eletrônico].–
Porto Alegre: Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul, 2020.
444 p. il.
Catálogo em edição trilíngue: português, espanhol e inglês.
Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader ou outro leitor de pdf.
Modo de acesso: https://www.bienalmercosul.art.br/
1. Artes Plásticas. 2. Arte contemporânea. 3. Curadoria de arte. I. Giunta,
Andrea. II. Biczel, Dorota. III. Lopes, Fabiana. IV. Simões, Igor. V. Título.
CDU: 73/76 (8) (058)
____________________________________________________________________________________________________
Sumário
Tabla de contenido / Table of contents

14 Um Ato de Resistência

Gilberto Schwartsmann

16 Uma longeva parceria

Beatriz Araujo

18 Onde queres revólver, sou coqueiro

Luciano Alabarse

19 FEMININO(S). VISUALIDADES, AÇÕES E


AFETOS

Andrea Giunta

21 Pensar tudo de novo

Andrea Giunta

38 Sobre Gatherings, Ajuntamentos e


Hábitos de Assemblagem

Fabiana Lopes

51 ATIVIDADES DE CUIDADO: Trabalhos de


Amor, Fúria e Luto

Dorota Biczel

62 Ensaio sobre o provisório ou a


insistência em estar junto: Programa
Educativo Bienal 12

Igor Simões

70 Curadores - Biografias Resumidas

BIENAL 12 CATÁLOGO 8
71 ARTISTAS E OBRAS

72 Alejandra Dorado 105 Dana Whabira

75 Aline Motta 107 Daniela Ortiz

79 Ana Gallardo 110 Eliana Otta

83 Ana Lira 112 Elina Chauvet


convida Marta
Supernova, 114 Élle de
Ola Elhassan e Bernardini
Suelen Mesmo
116 Eneida Sanches
85 Arpilleras Mmdh
118 Esther Ferrer
87 Brígida Baltar
120 Eugenia
89 Carmela Gross Vargas-Pereira

91 Carole Condé e 122 Fátima Pecci


Karl Beveridge Carou

93 Cecilia Vicuña 124 Geta Bratescu

96 Chiachio e 126 Gladys Kalichini


Giannone
128 Gonzalo Elvira
99 Claudia Paim
131 Grete Stern
101 Coco
134 Guerrilha Girls
103 Cristina Schiavi

9 BIENAL 12 CATÁLOGO
136 Gwladys Gambie 181 Liuska Astete
Salazar
138 Helô Sanvoy
185 Lorraine
140 Janaina Barros O’Grady

143 Janet Toro 187 Lucia Laguna

147 Jessica Kairé 190 Lungiswa


Gqunta
150 Joiri Minaya
192 Marcela Astorga
153 Jota Mombaça
194 Maruch Santiz
Gomez
155 Judy Chicago

158 Juliana Dos


197 Mirella Maria
Santos
199 Mónica Mayer
160 Juliana Góngora
201 Mujeres Públicas
162 Juliana Vidal
203 Musa Michelle
Mattiuzzi
164 Julieta Hanono

167 Kan Xuan


205 Natalia Iguiñiz

170 Kimiko Yoshida


210 Nosotras
Proponemos

173 La Vaughn Belle


214 Nury Gonzalez

176 Lídia Lisbôa


217 Pau Delgado
Iglesias
179 Liliana Porter e
Ana Tiscornia
219 Paz Errazuriz

BIENAL 12 CATÁLOGO 10
222 Pedro Lemebel 245 Vera Chaves
Barcellos
225 Priscila Rezende
247 Zorka Wollny
228 Rahima Gambo
249 Plantas baixas e
230 Renata Felinto vistas da Bienal
12 / Plantas
bajas y vistas
232 Rosana Paulino
de la Bienal 12 /
Floor plans
237 Sandra de and views of
Berduccy the Bienal 12

239 Santarosa 426 PROJETO


Barreto EDUCATIVO
/ PROYECTO
241 Sebastián EDUCATIVO /
Calfuqueo EDUCATIONAL
PROGRAM

282 TEXTOS EN ESPAÑOL

283 Un Acto de Resistencia


Gilberto Schwartsmann

284 Una longeva alianza


Beatriz Araujo

285 Donde quieres revólver, soy coqueiro


Luciano Alabarse

286 FEMENINO(S). VISUALIDADES, ACCIONES Y


AFECTOS
Andrea Giunta

11 BIENAL 12 CATÁLOGO
288 Pensar todo de nuevo
Andrea Giunta

302 Sobre Gatherings, Agrupación y Hábitos


de Assemblage
Fabiana Lopes

313 ACTIVIDADES DE CUIDADO: Trabajos de


Amor, Furia y Luto
Dorota Biczel

322 Ensayo sobre lo temporal o la insistencia


en estar junto: Programa Educativo
Bienal 12
Igor Simões

329 Curadores - Resúmenes Biográficos

330 ARTISTAS Y OBRAS

364 TEXTS IN ENGLISH

365 An Act of Resistance


Gilberto Schwartsmann

366 A long-standing partnership


Beatriz Araujo

367 Where you want a gun, I’m a coconut


tree
Luciano Alabarse

BIENAL 12 CATÁLOGO 12
368 FEMININE(S). VISUALITIES, ACTIONS, AND
AFFECTS
Andrea Giunta

370 Rethinking Everything


Andrea Giunta

383 On Gatherings, Ajuntamento and Habits


of Assemblage
Fabiana Lopes

393 CAREWORKS: Labors of Love, Rage, and


Mourning
Dorota Biczel

402 Essay about the Provisional or the


Insistence on Being Together:
12th Biennial Education Program
Igor Simões

408 Curators - Biographical Summaries

409 ARTISTS AND WORKS

13 BIENAL 12 CATÁLOGO
Um Ato de
Resistência
Como outros eventos culturais, a BIENAL Daí a relevância da temática da BIENAL
12 sofreu o impacto do imponderável – a 12. Como antecipa o título da mostra, as
pandemia. Por conta de impedimentos legais obras trazem reflexões sobre o feminismo,
e riscos sanitários, a tradicional mostra de iniquidades de gênero e a violência contra
arte contemporânea, em seu formato original, a mulher e os corpos feminizados, lançando
tornou-se inviável. Para nós, contudo, cancelar questionamentos de cunho social e político.
um evento artístico como este, com uma Mas sem prescindir da experiência estética.
temática tão relevante, seria impensável.
Com a BIENAL 12 “online”, a Fundação Bienal
Daí, a decisão de optarmos por um formato de Artes Visuais do Mercosul honrou sua longa
virtual. Obviamente, parte substancial tradição de comprometimento com a arte. Dela
do projeto curatorial, dependente da participam artistas de várias regiões do planeta,
presença física dos artistas na execução com obras de enorme impacto. Estas remetem
de obras e instalações artísticas, exigiu de a questões sobre violência e discriminação
nossa parte adaptações - a necessidade de contra a mulher, militância feminista e direitos
isolamento social cobrou seu alto preço. humanos. Da mesma forma, ecoam legados
coloniais e estereótipos raciais. Mas, como
A boa notícia é que a excelência de nossa
antes referi, transpira a poética da beleza.
curadora Andrea Giunta e de seus curadores
adjuntos, Igor Simões, Fabiana Lopes e Dorota Para nós brasileiros, refletir sobre o universo
Biczel garantiram a elevada qualidade e a feminino é especialmente relevante. O país
viabilização da BIENAL 12 “online”, mérito que herdamos é injusto. Sob o olhar de
que deve ser compartilhado com nossos quaisquer indicadores, mulheres e negros
conselheiros, diretores e apoiadores. vivem em piores condições que homens e
brancos. Nossos índices de violência contra a
A alternativa foi apresentar todas as obras
mulher são de arrepiar. A taxa de feminicídio
em fotografias e vídeos, enriquecidos com
no Brasil é das mais elevadas do mundo. Estes
depoimentos dos artistas participantes,
crimes de ódio são muito piores quando se
disponibilizando-os ao público, através
trata da mulher negra e dos transexuais.
do site de nossa fundação. Mas resta
a esperança que, num futuro próximo, Não há como fugir da realidade. Somos produto
possamos exibir a mostra original. de uma estrutura patriarcal, marcada de modo
“Feminino(s): visualidades, ações e afetos”. permanente pela violência da colonização,
genocídio do indígena e escravidão do negro
O título dado à mostra não diz respeito
africano. A injustiça impregna as tintas e
somente às questões referentes à mulher, mas
materiais utilizados pelos artistas, deixando
traz à superfície questões mais profundas e
muitos questionamentos ainda sem respostas.
fundamentais sobre gênero, como a agenda
“queer” e LGBT, violência contra transexuais, Um dos cartazes de rua das “Guerrilla Girls”,
a ilegalidade do aborto, enfim, as diferentes grupo ativista que há décadas busca ampliar
expressões da intolerância e desrespeito espaços de atuação para a mulher, pergunta:
ao indivíduo e às diversas identidades. Porque tão poucas mulheres artistas têm obras
expostas nos grandes museus, mas dominam
Infelizmente, há ainda pouca contribuição
a maior parte dos nus em exposições? É
dos femininos nas obras exibidas nos grandes
fundamental que façamos uma profunda
museus. E sua participação nas estruturas
reflexão sobre a temática dos feminino(s).
de poder do mundo da arte é modesta.

BIENAL 12 CATÁLOGO 14
Em meio à pandemia, fica o registro de que,
mesmo havendo óbvias razões para o seu
cancelamento ou postergação, a BIENAL
12 de fato aconteceu. E foi também um ato
de resistência, em defesa da cultura e das
artes visuais. Num momento em que as
humanidades parecem perder espaço na
agenda oficial em vários países, incluindo
o nosso, dando lugar à intolerância e ao
desrespeito às diferenças, nosso desejo é que
tenham vida longa as manifestações culturais
e artísticas. Vida longa às Bienais do Mercosul!

Gilberto Schwartsmann

Presidente da Fundação Bienal


de Artes Visuais do Mercosul

15 BIENAL 12 CATÁLOGO
Uma longeva
parceria
A Bienal do Mercosul é uma das mais Estado do Rio Grande do Sul se coloca como
relevantes e notáveis iniciativas da cultura do apoiador e incentivador desta grande iniciativa.
nosso Estado. Sua consolidada trajetória de
Desde que assumimos a Secretaria de Estado
sucesso e reconhecimento muito nos honra e
da Cultura, em 2019, temos nos empenhado
orgulha, sobretudo pelo seu já longevo legado
em colaborar e oferecer as melhores
para o público e a comunidade artística.
condições possíveis para o bom andamento
Desde a primeira edição, em 1997, o e prosseguimento do evento. Além de ser um
Rio Grande do Sul se inseriu no mapa dos projetos que se amparam nos mecanismos
internacional das exposições e eventos de da política de fomento à cultura do Estado do
grande porte da contemporaneidade, com a RS, por meio da nossa Lei de Incentivo (LIC-
cidade Porto Alegre firmando-se já há mais RS), a Bienal do Mercosul desde o seu início
de 20 anos como um ponto de referência também encontra em nossas instituições
deste circuito artístico globalizado. culturais do Estado alguns de seus principais
parceiros, como o Museu de Arte do Rio
Essa dimensão se reveste de importância não
Grande do Sul (MARGS) e o Memorial do Rio
apenas pelo alcance da repercussão externa;
Grande do Sul, que tradicionalmente abrigam
mas também, e em especial, com o modo com
exposições que integram a grande mostra.
que a Bienal do Mercosul tem contribuído
Em 2020, mesmo com a excepcionalidade
localmente para a formação de novos públicos
que levou à adoção de um formato virtual
e para a qualificação do meio artístico.
pela Bienal 12, por conta do fechamento
A cada edição, cria-se uma nova circunstância temporário das instituições em enfrentamento
a nos colocar em contato vivo e direto com à pandemia do covid-19, a parceria se renova
manifestações e produções artísticas dos em ações desenvolvidas conjuntamente
mais variados e distantes cenários, contextos nas redes sociais e plataformas digitais.
e geografias; muitas dos quais não teríamos
Nesta 12ª Bienal do Mercosul, a produção
a chance de conhecer e apreciar somente
artística feminina ganha evidência, com uma
por meio dos nossos acervos e coleções
edição focalizada em artistas mulheres. Tal
locais ou mesmo pela programação das
orientação se soma ao mesmo esforço a que
demais instituições que aqui atuam.
muitas instituições artísticas pelo mundo têm
Se formos apontar um dos legados da Bienal se empenhado, incluindo as atuais gestões
do Mercosul, podemos certamente afirmar que dos nossos museus de arte do Estado, como
temos um público para arte contemporânea o MARGS e o Museu de Arte Contemporânea
em boa parte iniciado pelo contato e do Rio Grande do Sul (MAC-RS). Trata-se
experiências proporcionados pela Bienal. O de um empenho conscientemente crítico
que nos leva ao dever de reconhecer que a de apontar e procurar reparar a maior
atuação da Fundação Bienal do Mercosul se predominância de artistas homens ao longo
coloca como fundamental para o nosso meio de um processo histórico hoje questionado.
artístico e educacional. E, ao mesmo tempo,
A disposição para o compromisso com a
indispensável para o nosso ambiente cultural.
inclusão está em convergência com a visão
É reconhecendo todos esses méritos da Secretaria de Estado da Cultura (SEDAC),
conquistados até aqui, bem como os desafios na qual temos, entre as principais metas,
de continuar e prosseguir, que o Governo do preservar e divulgar o nosso patrimônio
cultural e avançar no campo da economia

BIENAL 12 CATÁLOGO 16
da cultura, assumindo como premissa
fundamental a defesa dos valores democráticos
e cidadãos, como inclusão, diversidade,
pluralidade e representatividade.
Para esse desafio, mais do que confiança
política, contamos com a garantia do direito à
liberdade de expressão e manifestação, a qual
consideramos fundamental e indispensável
para o exercício e avanço da nossa produção
artística, criativa, científica e intelectual.

Beatriz Araujo

Secretária de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul

17 BIENAL 12 CATÁLOGO
Onde queres revólver,
sou coqueiro

Os versos de Caetano Veloso definem, de Viver em plenitude a Bienal, respirar o clima


forma clara e poética, o papel da Bienal do de descobertas e surpresas, tudo se move
Mercosul no cenário de nosso calendário e movimenta, para oferecer ao público um
cultural. Ao chegar à sua 12ª edição, evento realmente impactante e inesquecível.
consolidada e reconhecida como um dos
Para além de uma equipe qualificada e
grandes eventos do gênero na América
competente, é preciso destacar a figura
Latina, a Bienal é motivo de orgulho para
de Gilberto Schwartsmann, um dos mais
todos nós, gaúchos de corpo e alma.
ativos homens da cultura do Rio Grande
Num mundo polarizado e conflitante, onde do Sul. Com sua personalidade agregadora
ideologias e autoritarismos se misturam e e generosa, Gilberto consegue driblar
borram as fronteiras do bom senso, um evento todas as crises conjunturais para nos
do porte e da grandeza, e com a história proporcionar um momento singular do nosso
do evento, nossa Bienal é como bênção a calendário. Não há palavras para agradecer
clamar inteligência, reconhecimento e espaço sua dedicação e capacidade de envolver a
para as diferenças. Como frequentador sociedade na resolução de toda a logística
assíduo desde a primeira, espero muito que se impõe a evento dessa natureza.
dessa edição. Desde o nome. “Feminino(S).
Que a cidade desfrute e reconheça
Visualidades, Ações e Afetos” nos instiga
a excelência plural dessa edição. O
saber que Porto Alegre, mais uma vez, sediará
sucesso, desde já, está garantido.
um evento de nível internacional. Olhos e
ouvidos, atentos. Todos os sentidos, aliás.
Luciano Alabarse

Secretário Municipal de Cultura de Porto Alegre

BIENAL 12 CATÁLOGO 18
FEMININO(S).
VISUALIDADES,
AÇÕES E AFETOS

O título desta bienal instala uma interrogação


que remete à fricção central da cultura
democrática contemporânea: a participação
da sociedade desde o conceito de diferença
entendida como multiplicidade e não como
separação, tal como o expressou Denise Ferreira
da Silva. Toma também como ponto de partida
as perguntas que propôs a teórica Nelly Richard
em seu livro Masculino / Femenino (1993), feitas
no contexto latino-americano das transições
democráticas. As suas interrogações remetem
ao lugar social do feminino, suas construções,
suas incompatibilidades e o salto sobre as
lógicas binárias excludentes. As perguntas têm
plena vigência. Particularmente no momento
em que o feminino retoma agendas não
realizadas desde os anos sessenta, recupera
os questionamentos dos noventa e amplia
suas urgências como consequência das
aumentadas violências contra as mulheres e
os coletivos LGBTTQ+; o aumento da pobreza
e dos sistemas de exclusão e discriminação;
a observação crítica e atenta dos programas
que atacam os recursos naturais do planeta.
A bienal propõe elaborar um contrato
sensível, uma zona de intercâmbios de
visualidades, ações e afetos que permita
confirmar a riqueza da vida democrática
sem eludir sua complexidade.
Feminino(s) destaca a relevância da criatividade
para friccionar limites e condicionamentos.
Inspira-se, nesse sentido, em uma frase poética
de Carolina Maria de Jesus, camponesa, poeta
e cronista afro-brasileira, que abriu interstícios
entre o trabalho e o cuidado de seus filhos para
escrever. Ela escrevia na riqueza da favela e apesar
das limitações impostas por violências raciais (pós)
coloniais. Escrevia “Até passar a chuva”.

19 BIENAL 12 CATÁLOGO
As palavras e as imagens se depositaram de conceber o comum desde experiências
em seus papéis desenhando territórios de vida e relatos cotidianos que devem ser
que apontam para uma liberdade possível. escutadas como vozes de uma diversidade
Porque a escrita explora os limites que as sem diferenças. As experiências que expandem
circunstâncias apontam sobre a linguagem. a expressão da comunidade contribuem
A essas condições da criação provavelmente para a conversa, o intercâmbio e a necessária
aludia Clarice Lispector quando se referia à reconstrução de uma trama social ferida pelo
tarefa de sulcar impossibilidades: “Tudo o que abuso e a precariedade. Essa interação gera
sei não posso escrever”, escrevia, ao nomear intercâmbios a partir dos quais podemos
o “luxo do silêncio”. Mais do que a obviedade imaginar outras formas de conhecimento. Todas
dos sentidos, deslocados em um tempo no as linguagens nos pertencem sem hierarquias
qual se veem reduzidos a lugares comuns, de valor nem segregação de conteúdos.
em uma comunicação plana, o diagrama
Feminino(s) aspira a compartilhar o exercício
expositivo da bienal aponta para a leitura
coletivo de inventar novas formas de fazer,
atenta de uma comunidade interpretativa
dizer, pensar e criar. Uma plataforma que atue
capaz de abordar um tecido de sensibilidades
como um foro e como um coro de expressões
e discursos que admitem o dissenso como
e escutas. Quer funcionar como um espaço que
mola da argumentação e da deliberação.
mude a estrutura tradicionalmente excludente
Porque, sabemos, é necessário dizer, e
das representações simbólicas e culturais
explorar as diferentes maneiras de nomear
que regem o mundo da arte. A dimensão
para evitar as classificações uniformes.
educativa é central para criar territórios de
Feminino(s) centra-se nas propostas de artistas intercâmbios, debates e encontros entre os
mulheres e de todas as sensibilidades não diferentes públicos que criarão suas próprias
binárias, fluidas, não normativas. Sobretudo bienais. A bienal propõe-se como um espaço de
aquelas que se expressam em sua oposição às celebração coletiva do pensar e criar juntos para
mais diversas formas da violência. Trata-se de enfrentar com imaginação crítica os desafios de
envolver-se com as aspirações das maiorias fortalecer um pacto democrático que amplie
a que muitas obras nos direcionam, e que e diversifique os contornos da cidadania.
compreendem artistas afrodescendentes
e indígenas, cuja presença segue evocando Andrea Giunta
reflexões críticas no mundo da arte, que, no Curadora Chefe
entanto, é excludente. Trata-se de escutar Universidad de Buenos Aires / Conicet
em detalhe e abordar a sério tudo aquilo
que os estereótipos marginalizam. Todas
as vozes, desde sua heterogeneidade de
respostas e propostas, constituem a cultura.
Feminino(s) expande-se com as propostas de
artistas sócios ou aliados, que compartilham
o desejo de uma ordem social menos
opressiva e discriminatória em termos
de gênero. São muitas as poéticas que
inspiram o desenho de um novo horizonte
simbólico e cultural em que as diferenças de
gênero não se traduzam em desigualdades
ou subalternidades. Todas as histórias
necessitam ser relatadas e comunicadas
para que as narrativas tornem-se plurais.
Feminino(s) enriquece-se com a criação
daqueles que trabalham com materiais e
técnicas tradicionalmente atribuídos às artes
do feminino. Existe uma criatividade nas formas

BIENAL 12 CATÁLOGO 20
Pensar tudo de novo
Notas sobre a Bienal 12 l Porto Alegre, Feminino (s).
Visualidades, ações e efeitos

Andrea Giunta
Curadora Chefe
Universidad de Buenos Aires / Conicet

É difícil começar a escrever um texto, sem Volto ao dia 12, a percepções que tinha sobre
lembrar onde estávamos antes do isolamento os ritmos que espreitam a cultura quando esta
no qual ainda nos encontramos hoje, 19 se transforma em números em uma exposição.
de maio, quando começo este texto. Nós Se nos anos setenta e oitenta, fortes correntes
suspendemos a montagem da bienal em do pensamento sobre a arte previam o fim dos
13 de março. Eu estava prestes a viajar a museus, no século XXI, estes demonstraram
Porto Alegre para esse momento único que ser as peças mais esplendorosas das redes
representa dispor as obras nas salas, ou instalar entre arte e movimento turístico transnacional.
e produzir obras que se realizavam in situ, Os museus se transformaram em espaços
no local, que veremos emergir, assinalando de encontro para os moradores das cidades
experiências a partir de trajetos, a partir de nos quais se localizam. Os de arte moderna e
processos de imersão na ficção poética de contemporânea competiram por número de
um vídeo, nas salas nas quais as imagens e as milhões de espectadores. O movimento dos
cores se cruzam e inundam tudo. Penso no museus envolveu os arquitetos de maneira
desenho de Ana Gallardo sobre as mulheres poderosa. Prédios assinados se somaram,
assassinadas na Guatemala; na ação coletiva como ingrediente central, a essa dinâmica que
de Mónica Mayer, com as suas perguntas implicava grandes investimentos, exposições
sobre o lugar da mulher em Porto Alegre, a monumentais, afluência massiva de público.
cidade a interrogar, a intervir; na performance Visitar uma cidade significou também conhecer
de Janet Toro, que levaria o seu corpo desde os seus museus por sua forma externa, museus
um enterramento na Praça da Alfândega até que não contam apenas pela sua coleção, pelo
a fachada do Memorial; na instalação sobre que exibem, mas também pelo espetáculo das
a cor azul, que Juliana Dos Santos tinha suas curvas extremas, prateadas, luminosas,
desenvolvido em seus passos preliminares; na que descrevem no ar desde a sua pele metálica.
oficina de bordado que Chiachio & Giannone Um exemplo emblemático é o Guggenheim,
realizariam junto ao público, na Praça. Tudo de Bilbao. De maneira quase paralela, as
isso e, principalmente, muitas obras localizadas bienais se multiplicaram aceleradamente.
que a curadora adjunta Fabiana Lopes tinha Os encontros mundiais da contemporaneidade
proposto em sua seleção, como a de Dana somaram formas de turismo específico
Whabira sobre a história negra de Porto Alegre; dirigido aos públicos da arte. Contavam o
ou a escolha da outra curadora adjunta Dorota número de visitantes, contavam os números
Biczel, com a obra que Juliana Vidal iria realizar dos preços da arte, contavam os custos das
imprimindo o corpo no barro local, barro do exposições. Novas dinâmicas marcaram o
Rio Grande do Sul. A teia de pessoas, obras, mundo da arte: o protocolo no transporte
espaços, os encontros que esperávamos das obras, a concentração do valor no corpo
nos dias de montagem, não aconteceriam. da obra em si, ocasionalmente efêmera
E escrevo este texto sem saber se uma (instalações, site specific, performances, que
versão no espaço da bienal será possível. duram apenas meses, apenas dias, apenas um

21 BIENAL 12 CATÁLOGO
instante) e a sua consequente mercantilização, trabalhava na sua abertura ficava em um
que inclui os registros, os arquivos do suspense preocupante. Quando todos os
efêmero; a fetichização das obras à qual os contratos caíam e começavam as ondas
museus contribuem, inclusive, ao exibir as de demissões nos museus do mundo - o
fotografias que documentam ações, imagens MoMA, o Metropolitan, que podemos citar
digitalizadas que são impressas ad hoc, que como exemplos emblemáticos -, quando as
são emolduradas e nas quais é alterada a sua instituições de arte fechavam mostrando
disposição inicial, de modo algum supérflua, prescindir das próprias comunidades de
para que brilhem como espetáculo nas salas referência, artistas e equipes de trabalho,
dos museus;1 os preços no marcado de arte, compreendemos que era necessário
que reproduzem a alarmante concentração dar sustentação às relações que tinham
da riqueza em um momento exacerbado e sido tecidas ao redor da bienal.
impiedoso do capitalismo; as relações entre
Um cenário crítico no momento de
o mundo da arte e a dinâmica global, que
abertura abre para os seus curadores duas
faz de exposições e bienais estações de uma
possibilidades: afastar-se da cena, prescindir, ou
viagem acelerada pelas diferentes capitais
envolver-se nas teias dessa ruptura crítica para
da arte; o fluxo de corpos - artistas, diretores
participar nas dinâmicas desde as quais são
de instituições, colecionadores, curadores -,
gestados sentidos que mudam continuamente.
que vão de inauguração em inauguração, para
A tarefa não é apenas intelectual. Requer
celebrar e partir rumo ao próximo evento.
considerar as fontes de trabalho daqueles que
Os tempos do mundo da arte tinham participam no projeto, a responsabilidade sobre
enlouquecido. Essa era a percepção que as suas formas de sustento em um cenário
tinha antes da pandemia. Até que ponto no qual os financiamentos se diluem. A bienal
este universo, tal como existia antes destes online permitiu desenhar um cenário, uma
meses de isolamento, era também parte de arena tão pública quanto fosse possível nos
um tráfego e circulação que levou o planeta à tempos de isolamento gerado pela acelerada
condição exausta na qual se encontrava antes propagação do vírus. Um espaço cristalino,
de se deter? A esta altura dos acontecimentos nas telas, sem a condição física de expor no
e do isolamento, fala-se sobre voltar à espaço as obras, os textos, os depoimentos.
“normalidade”, ou a uma “nova normalidade”. O
É uma suspensão de quase todas as atividades
que significa o termo normalidade? Queremos
a única forma de pensar criticamente sobre
retornar ao mundo que conhecíamos antes
um presente no qual as relações sociais que
do isolamento, antes de ser declarada a
conhecíamos entram em crise, desmoronam?
pandemia? A globalização atravessou o
O silêncio, parar, são caminhos reflexivos.
horizonte de expectativas do mundo da arte
Também podemos optar por intervenções
com força. Hoje, o isolamento, o panóptico
críticas e afetivas em tempo presente, que
sanitário que nos regula, a paralisia do mundo
permitam pensar “entretanto”.2 A frase sintetiza
da arte, instalaram-se em escala global. O
a decisão de não abandonar o presente, um
mundo parou. Talvez, mais exatamente, nos
movimento que dá conta, também, de uma
parou. Para os circuitos da arte, as novas
necessidade afetiva. Durante um tempo que
condições representavam também uma
ainda não podemos determinar, não haverá
oportunidade para se deter e pensar.
uma normalidade, que possamos antecipar
com precisão, à qual voltar no mundo da arte.
Quebrar o isolamento Protocolos são analisados para a reabertura
dos espaços de exposição, mas, por enquanto,
Em 13 de março interrompemos a montagem
não é possível estabelecer uma data. Rastros
e a inauguração da bienal. A equipe que

1 Para uma análise da desativação crítica de uma obra a partir da manipulação espacial que se realiza na montagem, ver a pa-
lestra de Nelly Richard, “Archivos de arte chileno, memoria y resistencia crítica” (Arquivos de arte chileno, memória e resistên-
cia crítica), Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, 19 de outubro de 2017. https://www.museoreinasofia.es/buscar?bun-
dle=actividad&pasados=1&f%5B0%5D=im_field_obra_clasificaciongener%3A4277
2 Assim denominou María Moreno, diretora do Museu do Livro e da Língua, na Argentina, as atividades a serem desenvolvidas
durante o isolamento.

BIENAL 12 CATÁLOGO 22
do presente, do que vivemos durante estes que trabalhamos durante oito anos. Entre
meses, permanecerão no futuro, de diferentes essa exposição e o projeto da bienal existem,
formas. Atender ao “entretanto” como no entanto, muitas diferenças. Mulheres
possibilidade de gestar formas de intervir Radicais foi uma exposição histórica, de arte
na urgência - a nossa, a de quem nos rodeia latino-americana, entre 1960 e 1985. A bienal
-; pensar a partir dos instrumentos com os me permitia desenvolver questões que já
quais contamos hoje, no tempo presente, estavam presentes, de diferentes formas,
para elaborar alternativas, lugares reflexivos nesta exposição. Por exemplo, aquelas relativas
aos quais voltar, é outra opção. Desde esse a identidades fluidas, não binárias, trans, ou a
ponto nos envolvemos, com quase toda a representação de artistas negras ou indígenas,
equipe da bienal, quando resolvemos migrar a quem o mundo da arte, praticamente, não
do espaço físico ao espaço líquido das telas. tinha dado espaço entre os anos sessenta e
oitenta. Lembremos que Mulheres Radicais
A bienal online é a plataforma possível, mais
não propunha descobrir artistas que nunca
imediata, na qual expomos os materiais de dois
tinham participado do mundo da arte, mas sim
anos de trabalho. São imagens, vídeos, projetos.
rever como as histórias de arte tinham apagado
Em muitos casos, trata-se de materiais que
trajetórias existentes, que tinham tido lugar em
ficarão, por enquanto, inconclusos, uma vez que
diversos cenários artísticos latino-americanos,
eram obras que iriam ser realizadas na cidade,
mas que na escrita das histórias oficiais
nos espaços de exposição. Diante da incerteza
tinham ficado ocultas, quase desaparecidas.
a respeito do que acontecerá com as viagens
A pergunta, na hora de conceber a plataforma
internacionais, é quase certo que esses projetos
conceitual da Bienal, era o que acontecia
não chegarão a se materializar. Acrescento
nesse momento na arte latino-americano.
hoje, 19 de junho, que a Bienal de São Paulo,
Tinham uma maior presença artistas negras,
inicialmente adiada no calendário que se tinha
negros, afrodescendentes, os e as artistas
estabelecido em 2020, agora passou para
vinculados/as a comunidades indígenas?
o segundo semestre de 2021. O fato deixa
claro que é difícil antecipar quando o público Nos últimos anos, diversas instituições
retornará às salas de exposição. No Brasil, onde artísticas, principalmente de São Paulo,
a situação política e sanitária se agrava dia a realizaram exposições sobre a história e o
dia, é difícil afirmar em que data as atividades presente da arte afro-brasileira. O museu Afro
dos museus poderão ser retomadas dentro dos Brasil, Ateliê Oço, a Pinacoteca de São Paulo,
mesmos parâmetros anteriores ao isolamento. o Museu de Arte de São Paulo, a Fundação
Tomi Othake, foram alguns dos espaços nos
Primeiro cenário quais se articulou a história e o presente da
arte afro-brasileira.3 Está acontecendo uma
As seleções que, de forma independente, mudança de cenário à qual não são alheias
cada curador realizou para a bienal, estiveram as políticas de quotas que desde o ano 2003
em diálogo com uma proposta inicial, que permitiram o acesso às salas universitárias
começou no segundo semestre de 2018, quando setores da sociedade marginalizados por
apresentamos um projeto focado nx feminino(s). razões de classe e de raça.4 Considero, para
A fundação propunha focar-se na obra de dizê-lo com palavras claras, que a arte mais
artistas mulheres nesta edição da bienal. radical, nas suas linguagens e nas suas poéticas,
Nesse momento, eu me encontrava próxima à no Brasil, é o que atualmente realizam
inauguração da terceira estação, na Pinacoteca artistas afrodescendentes até há uns anos
de São Paulo, de Mulheres Radicais, a exposição ausentes nos cenários das artes visuais.
de cocuradoria com Cecilia Fajardo-Hill, e na

3 Reviso brevemente este mapa institucional em Andrea Giunta, “A arte negra é o Brasil”, em Z Cultural. Revista do Programa
Avançado de Cultura Contemporânea, Universidade Federal do Rio de Janeiro, No 1, Ano XV, 2020. http://revistazcultural.pacc.
ufrj.br/el-arte-negro-es-el-brasil/. Republicado pela revista Transas. Letras e artes da América Latina, Universidade Nacional
de San Martín, Escola de Humanidades, 2020 https://www.revistatransas.com/2020/05/21/artenegro_brasil_giunta/
4 Ver Igor Simoes, “Voix noires dans les arts visuels brésiliens”, Artpress No 53, Amérique Latine. Arts et combats, mars 2020, pp.
51-53.

23 BIENAL 12 CATÁLOGO
Curar uma bienal sobre a arte latino-americana, de cor, e a cujo arquivo de atividades se tem
focada nos feminino(s), abria a possibilidade acesso desde o site da bienal. A partir destes
de ampliar questões que tinham ficado encontros, foram levados adiante os vínculos
pendentes naquela pesquisa. Eram duas entre a cidade e o projeto educativo, a partir do
principais: por um lado, a ausência de artistas qual foi criado um território maravilhoso que
mulheres negras e indígenas na arte latino- permitiu expandir a textura da bienal online
americana; segundo, a possibilidade de pensar durante os (estes) tempos de isolamento.
para além do binarismo, em outras formas
No texto que serviu de plataforma conceitual
de entender os femininos e os feminismos,
da bienal são citadas autoras como Carolina
desde identidades e empoderamentos
Maria de Jesús, Clarice Lispector, Nelly Richard
que se ampliaram na arte contemporânea.
e Denise Ferreira da Silva, que permitiram
Feminino(s), como palavra, como intervenção,
introduzir reflexões sobre a necessidade de
foi uma articulação difícil de configurar. Em
criar, sem deixar de lado os condicionamentos
2018 encarei o processo de formar a equipe
de classe, sexo, raça; sobre o conceito de
curatorial. Tinha conectado a Igor Simões -
diferença sem separação; e sobre gênero
cujo trabalho conheci pesquisando na rede as
como construção e como identidade. O
intervenções que tinha realizado com o título
rascunho incorporou os comentários de
Vozes negras no cubo branco, durante 2018.
quem se integrava à equipe curatorial.
Conhecia a Dorota Biczel e as suas pesquisas
sobre arte peruano, ou sobre a arte do Leste Na seleção de artistas, convidamos artistas
Europeu, desde os anos nos que lecionei mulheres, trans, gay, com identidades que
em Austin. Perguntei que curadora poderia transita, raça, gênero, fluídas, localizadas, de
falar em primeira pessoa sobre a arte afro- diferentes formas empoderadas, e também
brasileira. A bienal me propôs o nome de artistas homens, envolvidos com as agendas
Fabiana Lopes, e a partir do contato com ela do feminismo. A seleção foi um processo
pude conhecer o seu trabalho de pesquisa texturizado, de conversas cruzadas, intensas
sobre a arte do Brasil, do Caribe, da África. Na ou pausadas, que se desenvolveu no contexto
hora de pensar a linha conceitual da bienal contínuo de financiamentos instáveis que
Nelly Richard foi uma escuta crítica atenta. colocavam o projeto em situações específicas
de emergência. Cheguei a pensar que
Em novembro de 2018 organizamos o primeiro
estávamos realizando uma bienal mágica,
seminário Arte, feminismos e emancipação
na qual as soluções surgiam, muitas vezes,
no contexto da Feira do Livro de Porto Alegre,
da emergência. Penso hoje, enquanto
na Praça da Alfândega, com a presença
escrevo, que o processo permitiu um arranjo
de artistas, performances, pesquisadoras,
de experiências que permitem voltar a
curadoras e curadores. O seminário contou
pensar, em sua totalidade, o projeto das
com a participação de Rosana Paulino, Igor
bienais tal como se inscreveu no cenário
Simões (logo, curador pedagógico da bienal),
global. Que sentido têm esses fastos que
Roberta Barros, Carmen Lucía Capra; com
envolvem viagens, traslados, produção,
artistas de Porto Alegre como Claudia Paim,
capitais, quando, por um tempo, veremos
Julha Franz, e com apresentações de duas
como esses grandes cenários se esvaziam
das diretoras da Fundação da bienal, María
de públicos? As relações com os espaços,
Berenice Días e Gloria Crystal, além de
com as obras, estão, momentaneamente,
Gilberto Schwartzman, seu presidente. Esse
em suspenso. Como incorporamos estes
seminário, que transcorreu com sala cheia, foi
meses extremos às possíveis experiências
uma extraordinária plataforma de ideias, e um
de um mundo da arte que hoje está voltado
dispositivo para evitar, desde o princípio, que
a imaginar formas de se reconfigurar?
a bienal pousasse como um corpo estranho
na cidade de Porto Alegre. Durante 2019,
Igor Simões levou adiante um programa de Jornal
encontros organizado em torno do conceito Durante a organização da bienal, planejamos
de “Território Kehinde”, que provém do uma publicação com os mapas da bienal e a
romance de Ana María Gonçalves, Um defeito lista de artistas e de obras com o propósito de

BIENAL 12 CATÁLOGO 24
orientar o público e com uma seleção de textos Um arquivo dos afetos
que reunisse vozes em primeira pessoa, de
algunxs dxs artistas presentes na bienal. Com Nos dias posteriores ao fechamento de
o novo formato da bienal online, tornamos fronteiras, museus e espaços da vida pública,
independentes os textos, as vozes dxs artistas e predominava a incerteza. Produziu-se uma
criamos com elxs um Jornal digital. A publicação acelerada e radical transformação da vida
foi desenhada com um formato específico cotidiana e das relações sociais suspensas
para dispositivos, que inclui a visualização pelo encerramento global. O que inicialmente
no celular. A proposta foi reunir tantas vozes tínhamos visto, com extrema surpresa, que
quanto fosse possível, quase todas em primeira acontecia na China, começava a se instalar
pessoa. São textos de artistas que se referem globalmente. O controle sobre as pessoas,
à sua obra ou intervenções que assumem o para o qual a pandemia criou um marco de
formato, quase que de um manifesto. Em legalidade, e cujo debate foi constante nestes
alguns casos, trata-se de ensaios ou entrevistas quase 100 dias de isolamento (hoje é 20
já publicados; em outros, são textos realizados de junho), instalou uma sociedade que não
para a publicação, documentos originais. imaginávamos e que ainda não sabemos até
Mantivemos a coexistência do português, o que ponto constituirá a ‘nova normalidade’. Não
espanhol e o inglês, seguindo o conceito de sabemos quanto do presente permanecerá
trilinguismo, que considera as três línguas nas no futuro próximo, em todo o futuro.
quais se escreve, predominantemente, sobre Passados os primeiros 10 dias desde
arte latino-americana. Esta é uma forma de a suspensão da sua abertura, fomos
colocar em cena essa complexidade, que é estabelecendo contato com xs artistas.
imprescindível assumir quando se encara Era necessário, com tudo o que estava
o estudo da arte da região. A publicação acontecendo, perguntar como estavam. Uma
propõe uma intervenção sobre o campo de pergunta simples, dirigida à comunidade
conhecimento da arte latino-americana e dxs artistas da bienal. As respostas geraram
constitui uma forma de dar visibilidade ao uma comunicação afetiva que ascendeu,
pensamento em primeira pessoa de muitxs inesperadamente, uma palavra que já
dxs artistas envolvidxs na bienal. O jornal reúne estava inserida no título da bienal: “afetos”.
entrevistas, ensaios teóricos, documentos de Um termo que assumiu um lugar diferente
obra, textos contextualizados na conjuntura na gramática do sentido que a cada dia se
específica de diferentes países. Apresenta-se reorganizava perante uma realidade que
como um documento para apreciar a pulsação mudava continuamente. Convidamos a aqueles
de diferentes escritas; como uma fonte que que nos respondiam, a que nos enviassem
permite analisar a diversidade de vozes, uma gravação, feita com o celular, para que
geografias e poéticas que, a partir deste suporte brevemente nos contassem como estavam,
específico, representa muitas das artistas onde e qual era a obra que iriam apresentar na
envolvidas na bienal. Apresenta-se, assim, bienal. Recebemos filmagens curtas, realizadas
como um documento desejoso de leituras desde o isolamento, com a precariedade do
ávidas por encontrar nas palavras chaves que celular, nas quais descreviam, desde diferentes
intersectem as visualidades. Quais serão os pontos do planeta, as suas singularidades
usos desses textos reunidos, pergunto, quando situadas. Na medida e que publicávamos
no futuro se estude este tempo de exceção esses depoimentos nas redes, gerava-se um
que cristalizou, entre muitas outras formas, arquivo de afetos desde essa nova condição,
no processo difícil, marcado por perdas (de o isolamento. Assim, gerou-se uma teia, uma
contatos, de afetos, de pessoas), nos materiais relação antes inexistente, entre a comunidade
concebidos pela bienal? É possível construir da bienal e um arquivo de sensibilidades
sentido quando a política e a vida naufragam cruzadas por uma nova condição planetária
a cada dia ao ritmo no qual se agudizam as marcada pelo estar em uma situação comum,
violências estabelecidas e se fundam outras? que podia ser descrita com palavras parecidas
É possível construir sentido a partir da arte? e nas quais, ao mesmo tempo, inscreviam-se
situações emocionais específicas. Um estado

25 BIENAL 12 CATÁLOGO
do mundo marcado por convivências intensas, Produz-se uma transformação na qual as
domesticidades extremas, urgências de distâncias entre obra e obra se tornam cruciais.
assistência axs muitxs outrxs que nos rodeiam. O campo magnético de cada obra incide
Muitas dessas novas condições podem ser sobre as outras e é fundamental observá-lo.
sentidas nesses relatos breves, realizados desde Durante a montagem, podem ser percebidas
casas, pátios, salas, jardins, nos quais os artistas essas zonas de ação e reação que levam xs
e a equipe da bienal registraram uma cápsula curadorxs a mudar a ordem e a distância
do tempo e de texturas afetivas múltiplas e entre as obras na sala. Essa combustão
localizadas. A visualidade e a presença das particular não pode ser experimentada
obras que não podiam estar no espaço físico no mapa da uma experiência online.
da bienal se traduziam em suas palavras e na Perdemos os tamanhos, as proximidades,
textura das suas vozes. Não podemos ver essas inevitavelmente, as obras se nivelam.
obras, não podemos percorrer os espaços em
Por sua vez, a bienal online permite
que seriam instaladas, mas podemos ouvi-
experiências que o espaço físico limita.
las. Gerou-se um arquivo de breves relatos
Fundamentalmente, a possibilidade de
sobre a visualidade, pronunciados em um
encontrar relações que não foram previamente
momento excepcional, nunca imaginado do
pensadas e que o próprio espaço da bienal
mundo. Um arquivo de texturas emocionais
- em diferentes prédios, em diversas salas
e de palavras que condensam poéticas.
- tornaria impossível de abordar como
experiência realizável. Na Bienal online é
Travessias / zonas de contato possível propor e pensar travessias diferentes,
nas quais se colocam em jogo conceitos
A bienal online permitiu se ter acesso a uma
que, inclusive, não estiveram inicialmente
visualidade simultânea das obras. Um acesso
apresentados. O interessante é que as
que inaugurou possibilidades que não tinham
novas propostas podem ser encaradas por
sido consideradas quando a concebemos para
qualquer pessoa, não ficam apenas nas mãos
o espaço de três prédios emblemáticos da
dos curadores. Em um sentido, o papel do
cidade de Porto Alegre, o Museu de Arte do
curador se neutraliza ou, mais exatamente,
Rio Grande do Sul, o Memorial, a Fundação
é compartilhado. Assim, produz-se uma
Iberê Camargo e a Praça da Alfândega, que em
democratização do papel do curador, um efeito
espanhol significa ‘aduana’, e que se vincula ao
inesperado que propõe percorrer a bienal
coração desta cidade-porto às margens do rio
desde uma participação ativa. Percorrê-la
Guaíba, que desemboca na Lagoa dos Patos, e
com o olhar que desliza sobre a tela, com o
que se comunica com o Atlântico. Na migração
som do mouse, abrindo janelas. Perdemos a
de um formato ao outro, as presenças e os
distância, os tamanhos, os sons, os cheiros.
sentidos das obras foram se transformando.
A experiência digital reproduz muitas das
A instalação de uma exposição permite, novas relações, exacerbações e apagamentos
pelo menos, duas experiências que a bienal que o isolamento impôs aos sentidos.
online não permite recriar. Por um lado, a de
Proponho, neste ensaio, duas situações para
percorrer o espaço e, em diversas travessias,
o leitor. Por um lado, uma visita imaginária,
experimentar os climas, as temperaturas
sala por sala, das razões pelas quais, desde a
específicas de cada sala. Alimentar cada
minha percepção individual, diversas obras
espaço desde a lembrança da anterior;
iriam dialogar no espaço, em cada prédio, em
mover-nos entre as salas seguindo mapas ou
casa sala. Trata-se de recompor o mapa dos
impulsos, caminhar entre uma obra e a que
espaços e das lógicas que guiaram as seleções
está na frente. A segunda é sentir as zonas
e a disposição das obras na sala. A palavra
de contato entre as obras. A experiência
escrita aspira a recriar a experiência no espaço;
de montagem de uma exposição é uma
a reconstruir desde o texto, desde o relato, os
experiência específica. Por mais planejamento
percursos organizados em diferentes salas,
que tenhamos realizado previamente com
tal como os concebemos para a bienal. Essas
arquitetxs e designers, no momento em que as
travessias constituem a textura principal
obras são instaladas no espaço, elas mudam.

BIENAL 12 CATÁLOGO 26
deste texto. Por outro lado, quero apresentar, sua, que como acontece em muitos outros
como coda, como abertura, algumas das lugares da América, finca as suas raízes em
relações que fui pensando exclusivamente uma história de escravidão, de exploração e
desde as obras, fora dos espaços imaginários de discriminação que são tramas ativas no
das salas. Reúno uma série de relações presente. Uma obra manifesto. À esquerda,
possíveis como um impulso para que o dois feminismos artísticos históricos, o das
leitor conceba outras. Quero compartilhar Guerrilla Girls, que desde 1985 assinalam a
novas zonas de contato, a experiência discriminação no mundo da arte, e a obra
diferente que encontrei ao pensar as obras de Mónica Mayer, com as suas perguntas
a partir da rede, fora do espaço das salas. lançadas inicialmente no México, em 1978,
a respeito do que é que incomoda a cada
Assim, nesta segunda opção, o leitor tem
mulher em sua própria cidade - geralmente
a possibilidade de realizar os seus próprios
o assédio e o abuso -. Uma ação que Mónica
itinerários. Todos os que eu proponho aqui
replicaria pesquisando em oficinas coletivas, os
são feitos em primeira pessoa. Eles remetem
incômodos das mulheres da cidade de Porto
àquilo que pensamos quando trabalhávamos
Alegre. Na mesma sala Mulheres do mundo,
os planos com Ceres Storchi, a arquiteta
de Vera Chaves Barcellos, um vídeo no qual
que desenhou os espaços da bienal. É
mulheres de diferentes geografias pronunciam
nesse momento, quando se trabalha com
o seu nome. Na galeria Aldo Locatelli,
as possibilidades e os limites da arquitetura,
aconteceria o diálogo entre as fotografias de
quando se estabelece a relação real entre
Paz Errázuriz, de El infarto del alma (O enfarte
as obras e o espaço. Não sei se ficariam
da alma), uma série sobre o amor em um
exatamente como os descrevo. Proponho
neuropsiquiátrico do Chile; as fotografias de
narrar aquilo que imagino que aconteceria
Natalia Iguiñiz (La otra) (A outra), que retratam
no espaço. Na sala, as relações planejadas
empregadas e empregadoras, uma relação e
para as obras podem mudar. Na rede, podem
um atrito de classe que atravessa o gênero
se multiplicar em muitas outras opções.
feminino no âmbito doméstico; e a série
Coyote (Coiote), de Alejandra Dorado, na que o
MARGS retrato familiar se cruza com o retrato animal.
Imaginava este espaço como uma afirmação Na sala da direita, propomos uma área
em primeira pessoa. Uma afirmação em monocromática, mínima, com obras sutis,
termos das poéticas de artistas feministas na mas extraordinariamente poderosas. As
Espanha, Estados Unidos e América Latina, linhas de cordas de Esther Ferrer cruzariam
das poéticas negras, das perspectivas de um ângulo da sala, criando uma membrana
classe, do confinamento dos diferentes afetos, quase imperceptível. Uma respiração no
das poéticas do etário, dos estereótipos espaço. Em frente a essa estrutura delicada,
que se fundem no exótico, dos conceitos os vídeos de Geta Bratescu, nos quais a
transformados de família, das poéticas do artista fala e desenha linhas contundentes
cabelo. Também imaginava estar perante e mínimas que requer cada um dos seus
a afirmação e o gozo do pincel, da pintura, desenhos. As suas mãos e braços, que levam
quando se concebe uma tradução ou uma na pele o tempo vivido por ela, contrapõem-se
recriação de favela nos planos da cor. aos movimentos simples e dinâmicos com
os que traça as linhas. Esta espacialidade
Dispusemos no começo da exposição com
estaria confrontada, em um contraponto
os retratos em bastidores de Rosana Paulino,
que também requeria o olhar próximo, com
rostos cruzados por costuras-suturas --olhos,
as fotomontagens com as quais Grete Stern
bocas, gargantas. Toda essa primeira sala
ilustrou, em meados do século XX, os sonhos
estava dedicada a essa artista brasileira que
que as leitoras comuns enviavam à revista Idilio.
atua como referência e como educadora para
as novas gerações de artistas negrxs. As suas Também nesse plano, em duas salas separadas,
análises sobre a relação entre a ciência e o apresentam-se os vídeos de Gladys Kalichini e
racismo, a sua peça memorial-monumento Marcela Astorga. Gladys ativa desde o corpo e
baseado no álbum de família; uma família, a

27 BIENAL 12 CATÁLOGO
o movimento uma história do colonialismo, as Mangueira, que se vê desde a sua janela, com
mulheres apagadas nos relatos sobre a África arquiteturas acumuladas que ela também
que ela repõe mediante uma performance imagina. Na galeria Oscar Boeira, a mágica
da lembrança. Mulheres que lutaram pela instalação em azuis de Juliana dos Santos, um
independência da Zâmbia. É interessante site specific para o qual a artista apenas pode
pensar que na sala oposta replicaria o som da realizar uma estadia de pesquisa em Porto
batida que perfura uma arquitetura a ponto Alegre. Uma proposta que instalava a pergunta
de ser destruída, de Marcela Astorga. Óculo, sobre as classificações, sobre como falar do azul
o registro de uma ação sobre um espaço quando todos ao seu redor gritam “negra”. A
escuro no qual as perfurações deixam entrar frase me faz lembrar essa outra performance,
luz, evoca a ideia de uma destruição que dá a da artista do Peru, Victoria Santa Cruz.
lugar a um processo inverso: uma linha de luz
Nesse mesmo andar, a obra de Helô Sanvoy
que gera uma geometria afetiva no espaço.
propunha abordar trança do cabelo como
No segundo andar do MARGS, outras poéticas lembrança, como narrativa que a sua mãe
entravam em combustão. Por um lado, na discorre enquanto faz, uma a uma, sucessivas
galeria Iberê Camargo, uma percepção crítica tranças. Um cabelo que já tem fios brancos. E
sobre os estereótipos que publicitam a mulher esse momento íntimo, confronta-se com outra
dominicana que revisa a proposta de Jori voz em primeira pessoa, a da artista Kan Xuan
Minaya. Ela cruza a pesquisa no google com as que atravessa uma estação do metrô na China,
telas, as estampas que dão conta também da gritando seu nome. Os seus filmes contrastam
globalidade que funde diferentes localidades pelo humor com o qual aborda tramas urbanas
em um clichê: a tela “havaiana” transformada que se sucedem com extrema velocidade;
em um padrão normalizado. A performance tramas urbanas nas quais tece dados sobre
Siboney, de Joiri, ‘despinta’ o colorido padrão uma sociedade de extrema vigilância. Na
dessa tela que a artista trasladou ao formato próxima sala, o filme de paisagem-cabelo de
de mural. Com a sua roupa molhada, ela Lorraine O’Grady em um close-up com imagens
arrasta o pigmento com o seu corpo, com o seu que se sucedem enquanto ouvimos o som
cabelo. Grupo de família, de Cristina Schiavi, à de pássaros e cigarras. No espaço seguinte,
que dá forma escultórica monumental desde também no primeiro andar, a obra de Chiachio
materiais domésticos, azulejos de banheiro, e & Giannone, um casal na vida e na arte, com
com a que transita um apagamento do gênero um imenso tapete de uma família no alegre
específico, introduz na experiência do espaço verdor, envolta pela natureza, que seria exposto
que antecipava uma figuração das novas pela primeira vez, com uma iconografia que
famílias que vimos se conformar a partir da lei atravessa o animal com o humano. Nesse
de casamento igualitário, sancionada há 10 anos mesmo espaço, o trabalho realizado em um
na Argentina. Novos afetos e formas dissímiles workshop coletivo, de bordados, que começou
da família hétero normativa transformaram em outros espaços coletivos e que seguiria na
e ampliaram as sensibilidades sociais. O Praça da Alfândega, uma experiência coletiva
ABC da Europa Racista, sobre o colonialismo de bordado, de trabalho com as mãos que
europeu, de Daniela Ortiz, leva a observar as esses artistas propõem com ações coletivas
formas de classificação e discriminação do em diferentes partes do mundo. No espaço
humano presentes e ativas na Europa atual; adjacente, os vídeos das ações na paisagem,
ativas, por exemplo, na expulsão dos migrantes com cores dispersas no ar pela fumaça,
provenientes em grande medida de países protagonizados por mulheres, nuas, que Judy
da África, empobrecidos pela exploração e a Chicago realizou entre 1968 e 1974. Corpos
espoliação que aconteceu durante a partilha cobertos com pintura, que se movem por fora
do mundo, perpetrada em Berlim, em 1895, e dos formatos que a dança imprimiu como
que se estendeu nos processos coloniais, nas disciplina no corpo. Arquiteturas, também,
economias do extrativismo em tempo presente. imersas na fumaça escura, em uma referência
Nessa mesma sala, a obra pictórica de Lucía localizada, histórica, à guerra do Vietnã que
Laguna se aproxima, em grandes telas, sacudia o mundo nos anos sessenta e setenta.
à gramática da favela, precisamente da

BIENAL 12 CATÁLOGO 28
Vimos artistas históricas como Rosana as marcas da destruição desde metáforas
Paulino, Paz Errázuriz, Grete Stern, Esther da arquitetura, as formas de organização
Ferrer, Mónica Mayer, Lucía Laguna, Judy da resistência coletiva, as relações com as
Chicago, Lorraine O’Grady, Vera Chaves comunidades indígenas em primeira pessoa
Barcellos, Geta Bratescu, las Guerrilla Girls. ou por processos de empatia, as reflexões
Referentes na arte feminista internacional sobre a cegueira, sobre o corpo doente.
e, especialmente, com Rosana, Vera e Lucía,
Íamos ingressar no Memorial entre os sapatos
no Brasil. E junto a elas, artistas jovens, como
vermelhos de Elina Chauvet. Uma instalação
Helô Sanvoy, Joiri Minaya, Juliana dos Santos,
na qual se sucede o tempo de reuni-los e
Gladys Kalichini, com artistas de uma geração
pintá-los de forma coletiva e que remete -
intermediária, como Chiachio & Giannone, Kan
com a ocupação ineludível do espaço urbano
Xuan, Natalia Iguiñiz, Daniela Ortiz, Cristina
que propõe - à violência contra as mulheres
Schiavi. Geografias e gerações entram em
no México e no mundo. Uma instalação que
diálogo e em fricção. Embora saibamos, no
propunha uma abertura desde o precário,
espaço, esses dados quase desaparecem
não desde o monumental, a um edifício em
frente à relação direta com as obras.
que se reuniam, sobretudo, experiências
Saio para praça habitada e luminosa para feministas, obras feministas, nas quais a
descansar nessa geografia verde, organizada, agenda interseccional tem uma poderosa
da natureza no espaço urbano, no espaço presença. Na abertura, tudo começaria com
público. Lembro dela transfigurada durante a a performance de Janet Toro, soterrada
feira do livro, em 2018. Quando cheguei, hoje durante umas horas na praça, da qual ela
pela manhã, ainda se sentia esse momento iria sacudir a terra descobrindo nomes de
em que as plantas conservam a umidade e a mulheres assassinadas, para levar, desde esse
luz fria do que foi a noite. A luz do meio-dia lugar, uma bandeira até a fachada da bienal,
queima a cor, exalta os brilhos, dilui as bordas. com a frase “este é o meu corpo”. A frase
Fecho os olhos para recapitular e sinto as ficaria ali durante todo o tempo da bienal.
marcas do sol que se movem na escuridão
Na entrada ao espaço do Memorial, um mural
forçada, enquanto contenho as pálpebras.
de Ana Gallardo, uma imensa superfície
Isso é comparável ao que acontece com as
coberta com grafite, na qual ela apaga as frases
obras, que conservam os sentidos a partir dos
(registros, testemunhos) pronunciadas por
quais foram pensadas, concebidas, realizadas;
mulheres violentadas na Guatemala. Nesse
ponto de partida que se expandem quando
mesmo espaço, duas instalações de Ana,
estamos frente a elas, em relação com
uma em forma mural, a outra escultórica, que
outras imagens, com novas espacialidades.
remetem ao aborto realizado por mulheres
A condição prismática das obras, que
pobres na Argentina, onde o ato é ilegal e
conservam um núcleo de sentido interno que
clandestino. Salsinha e agulha de tricotar
se expande em facetamentos desde os quais
são materiais domésticos com os quais uma
se projetam significados novos, mutantes.
mulher pode realizá-lo. Usá-los envolve duas
Voltarei a esta praça amanhã, para consequências. Por um lado, o fato de ser
percorrer os espaços do Memorial. realizado em condições sanitárias adversas,
que muitas vezes levam à morte. Por outro,
Memorial que esses objetos também destacam a
soberania sobre o próprio corpo: embora
Neste prédio se concentram agendas do esteja proibido, embora seja legalmente
feminismo levadas adiante por artistas e passível de punição, pode ser feito com
coletivos. Ativismos que se desenvolvem instrumentos domésticos. O próprio corpo
em relação com as ações que denunciam se coloca, assim, como o espaço jurídico
a violência contra as mulheres, as sobre o qual se decide. Uma disputa entre
consequências da ilegalidade do aborto, a ordem da lei do Estado e a das pessoas.
as formas de desmontar os estereótipos
À direita, as salas reúnem a obra de Carole
dos corpos, as heranças da exploração, da
Condé & Karl Beveridge. Em uma foto collage
escravidão e da discriminação no presente,

29 BIENAL 12 CATÁLOGO
mural, elas atravessam o imaginário de desarma em outros sentidos no registro da
Brueghel e o ativismo indígena na Bolívia, performance que Priscila Rezende realizou há
focado na disputa atual sobre a água, recurso dois anos atrás em Porto Alegre, em frente
natural sobre o qual avançam as políticas ao prédio do Memorial no qual agora iria
extrativistas globais. Abordam também em expor. Ali a vemos com roupa clara, de tecido
suas colagens, a agenda do cuidado dos idosos, cru, enquanto passa água e sabão em seu
os contextos nos quais se realizam e nos que cabelo. Rodeada por um conjunto de panelas
são receptores das atividades orientadas a e recipientes de cozinha, ela, sentada, “lava”
eles. Eles, por sua vez, são depositários de as panelas com o seu cabelo. Bombril é, no
conhecimentos. Liuska Astete Salazar parte Brasil, a marca de esponja de aço usada para
do seu corpo desnormativizado a respeito limpar a cozinha e a casa, e assim se denomina,
dos padrões sociais que classificam os pejorativamente, o cabelo da mulher negra.
corpos, o seu corpo nu, que cobre com tinta Ao final dessa parte do prédio, uma sala
vermelha, preta e amarela. Ela realiza essas apresenta o vídeo de Zorka Wollny, uma ‘ópera
ações em edifícios emblemáticos da cidade impossível’ na qual corpos e sons ativam
de Concepción, no Chile (Palácio da Justiça, gramáticas possíveis de configuração de uma
Catedral e Pinacoteca), uma cidade cuja cena cena pública, aquela que poderia se articular
artística se declara e se mantém independente a partir das dinâmicas da democracia se a voz
a respeito do centralismo da capital do país, e a escuta encontrassem forma de encontro.
Santiago. Nesses prédios emblemáticos da
Podemos refazer nossos passos e chegar ao
cidade, ela desenvolve essas performances nas
ponto de partida, ou podemos atravessar o
quais o seu corpo se impõe como escultura
espaço pelo corredor que se estende na parte
monocromática, em cujo brilho se conserva
posterior do Memorial para chegar à outra ala
a percepção de um ato (ilegal, lógico), que
do térreo. Vamos retomar desde o primeiro
acaba de se realizar. Na sala seguinte, em um
ponto, desde a obra de Ana Gallardo e vamos
espaço escurecido, a obra têxtil de Sandra
nos dirigir à esquerda. Ali encontraríamos o
de Bertuccy. Ela retoma tradições têxteis
vídeo da ação que Jota Mombaça realizou
andinas e tecnologias contemporâneas. Os
na Colômbia, em frente ao monumento
fios de fibras óticas com sensores introduzem
que realizou Beatriz González em Bogotá
luz e movimento. Esses materiais interpelam
(Columbario). A ação, cujo registro era reeditado
os espectadores contemporâneos e os
em versão dois canais para a bienal, mostra
trasladam a técnicas antigas, produzindo
Jota lendo e depois queimando textos que se
no ato de expectação uma experiência de
referem a pessoas desaparecidas. No sentido
sincronicidade dos tempos. Com as suas
lateral, estende-se a instalação na que Musa
imensas fotografias, Kimiko Yoshida atua
Michelle Matiuzzi propõe um jardim da abolição,
o seu rosto recorrendo à maquiagem ritual
mais de cem recipientes que contêm plantas
com a qual funde a tradição visual do Japão
de poder, cultivadas pelas comunidades
e do barroco. Ela transforma o seu rosto e o
afro-brasileiras. A palavra, o conceito de
atravessa com a história da arte. Nessa forma
‘abolição’, tem aqui ressonâncias, refere-se
de fundir linguagens visuais distantes, ela ativa
também à abolição dos condicionamentos
uma identidade feminina diaspórica, que fugiu
(reais, simbólicos) que impedem um presente
dos limites que lhe determinavam a cultura à
emancipado. À direita de Michelle, o muro de
qual pertencia e que descobriu, com surpresa,
sons de Eugenia Vargas. Um muro realizado
tramas visuais que inicialmente não conhecia.
com materiais industriais e dispositivos sonoros
A instalação de Élle de Bernardini propõe um
que fundem vozes que invocam a experiência e
itinerário pela construção da identidade. Uma
a memória, que convocam a um ato de escuta
pesquisa sobre o corpo transexual na qual
que reúne pulsações diversas, e que repõe um
percorre as formas contrassexuais de feltro,
ato inclusivo: nós, ali, ouvindo. À esquerda, do
som, ouro, pele, materiais com que aborda
outro lado dessa sala, os vídeos de Claudia Paim,
narrativas desarmadas em texturas e brilhos
que trazem para o presente as performances
para pesquisar como seria uma sociedade
desta artista de Porto Alegre que interrogou
baseada nos afetos. Transdialética, trans. Essa
com intensidade o corpo, o seu próprio corpo.
elaboração estética de brilhos e texturas se

BIENAL 12 CATÁLOGO 30
Ela traçou mapas da cidade; elaborou, a sobre o rosto, um autorretrato que realiza
partir da repetição, padrões de reflexão e desde o terreno jurídico liberado que
de emancipação. Claudia formula perguntas representa o próprio corpo - não temos que
sobre a ideia de paisagem - que significa pedir licença para intervir sobre o nosso rosto
paisagem? - e afoga as respostas com a água - e que transcorre no clima de confrontação.
que entra com força na sua boca e que torna Sobre o seu rosto coberto de pó branco, ela
incompreensível o que ela diz. Um trabalho de desenha os lábios. Tira a pintura 1000 vezes, a
título Entre minha boca e teu ouvido... Deixa esfrega com papel. O rosto se transforma em
as perguntas em suspenso, com palavras uma mancha na qual o vermelho e o branco se
sufocadas. Claudia e Pedro Lemebel. Não misturam. O retrato, também, no registro da
sei se eles conheceram o que fazia o outro, a sua performance no Museu da Memória e dos
outra, mas poderiam ter conversado. Penso Direitos Humanos de Santiago, Chile, na qual
na épica performance de Pedro, jogando-se um grupo de migrantes com espelhos leva os
envolto por uma escada em chamas. Como se cidadãos a se olharem neles. “Vocês podem
nesse movimento envolvente pudesse criar um ser nós”: esse poderia ser o texto subjacente
argumento diferente àquele patriarcal a partir dessa ação. Sebastián Calfuqueo, um artista
do qual a história da arte, incluído Duchamp, mapuche que vive na cidade de Santiago
escreveu quando dissecou o corpo feminino. do Chile, interroga com filmes nos quais
Uma obra, a de Pedro, que colocou em xeque colhe depoimentos, lembranças, relatos, as
os discursos heteronormativos e homofóbicos dificuldades de identidades que se constroem
quando leu frente aos seus camaradas do a partir da expulsão, da diferença, da suspeita.
Partido Comunista o seu texto manifesto Identidades colocadas em xeque em ambos
Hablo por mi diferencia (Falo através de minha os lados da Cordilheira, na Argentina e no
diferença). E frente a esse registro, a obra Chile. Interroga também a sua procura por
visual e sensual de Glwadys Gambie, as suas um sósia feminino, Marcela, a quem encontra.
aquarelas e colagens com mulheres ouriços, O vídeo reúne o relato desta relação, o seu
mulheres como frutos com protuberâncias, desenvolvimento, o desencontro que se segue.
corpos fundidos na flora e na fauna. Corpos As fotos registram os rostos e nos colocam
na natureza / corpos natureza. Junto a essas diante das semelhanças e das diferenças.
aquarelas e colagens extremas, os de Eneida A obra de Sebastián interroga a partir do gênero
Sanches, sobre as afeções e sobre as fricções, e da raça. Na última sala, Estar igual que el
com as suas ferramentas de santos nas quais resto (Estar igual ao resto), uma instalação que
bate, solda e amarra metais e os coloca em reúne cinco anos da pesquisa que Pau Delgado
diálogo com a gravura. Gostaria de descobrir os Iglesias realizou entrevistando pessoas cegas
seus desenhos em uma visão direta e próxima, de nascimento. Suas perguntas se vinculavam
observar os detalhes do metal no papel. Tinha à construção da sexualidade, o desejo, os
muitas perguntas sobre o sentido dessas obras estereótipos sociais que regem os nossos
que ficaram ali, para mim, em suspenso. interesses. Como é possível que uma pessoa
que nunca enxergou, saiba que gosta de uma
O corredor lateral direito do térreo do Memorial
pessoa loira de olhos azuis? Como se constrói
reuniria a obra de Fátima Pecci Carou: um
socialmente o desejo sem a visão? E edição,
imenso mural construído com mais de cem
em três canais, também pergunta sobre o amor
retratos pintados de mulheres assassinadas,
entre pessoas cegas. Durante estes 100 dias de
vítimas de feminicídios, cujo olhar a artista
isolamento, revisamos a relação e a distância
redirecionou para o espectador. Retratos que
entre os nossos sentidos. Aprendemos a
olham para nós, uma interpelação. E uma
isolá-los, a exacerbá-los e experimentamos
tela de pintura que ficou vazia, apenas com
a sua perda quando convivemos com o
a imprimatura, a base inicial da qual parte
vírus. Nesta exploração, a pesquisa de Pau
uma pintura, em cinza, que foi deixada como
propõe formular perguntas a partir de um
interrogação a respeito dessas mortes, cujos
suposto grau zero: se nunca enxergamos,
responsáveis continuam, em muitos casos,
como podemos construir hierarquias entre
livres. Mortes que não cessam. O registro das
as pessoas a partir da cor do cabelo?
performances de Janet Toro, suas intervenções

31 BIENAL 12 CATÁLOGO
O memorial é a zona mais intensa da bienal. Memorial. Rahima Gambo apresentaria uma
Preciso ir para a praça para pensar as instalação que incluía vídeo, fotografia, plantas.
imagens, o tempo dos vídeos, as perguntas Ficaria no corredor que une os outros dois
que foram surgindo. Ali, sentada, percorro grandes espaços do subsolo do prédio. Em
mentalmente o espaço. Tento não esquecer suas fotografias, Rahima documenta escolas
as formas nas quais se configurou a relação de regiões afetadas por conflitos na Nigéria.
das obras. Nenhuma experiência na web Espaços de jogo e de reconstrução de relações
replica a das obras no espaço. Voltaremos sociais, afetivas. As últimas duas salas reuniriam
a visitar museus? Voltaremos a conversar duas obras contrapostas. A de Carmela
na sala, diante das obras, com quem fomos Gross, que poderíamos considerar como
acompanhados? Quanto terão mudado um monumento achatado, no nível do solo,
as formas de experimentar a relação contrário a qualquer impulso memorialista -
com a arte nos espaços higienizados apesar da sua ampla superfície de 4 x 11 metros,
pelo gel, as máscaras e a distância? bem maior que Guernica -. Mas no lugar das
formas pungentes e heroicas, que podem ser
O subsolo do Memorial reuniria a obra de cinco
observadas na famosa pintura, em contrastes
artistas que trabalham no Brasil, no Caribe,
brancos, cinzas e pretos, a obra de Carmela
na Nigéria e no Equador. Não importa tanto
era uma bandeira rosa que devia permanecer
se deter em um ângulo local, mas sim, pensar
molhada durante toda a exposição. Uma
a configuração de um campo de propostas
bandeira queer, despojada da identidade
estéticas que tencionam o cenário global
masculina a partir da qual se hasteiam, em
contemporâneo. As impressões e a presença do
muitas oportunidades, os símbolos da nação.
corpo; as formas do vento que agita a natureza
Em todo caso, esta é a minha leitura, uma
do Caribe; os cenários de uma comunidade
vez que Carmela prefere pensar as suas
educativa; as formas de uma participação
obras como opacas intercepções críticas. Um
que inclui a música, o desenho, a poesia; os
horizonte expandido para a imaginação ativa
símbolos de uma nação fluida, desmarcada
e a participação dos corpos, o som, a poesia:
das normas patriarcais que assinalam a história
isso antecipava enquanto esperava conhecer
das suas bandeiras, dos seus emblemas.
a Ana Lira e a sua proposta, Chama, uma
Se seguíssemos a ordem que indica o espaço, experiência multissensorial, construída no
quando descemos ao subsolo encontraríamos, espaço expositivo a partir de tradições sonoras
primeiro, a obra de Juliana Vidal. Um projeto afro-ameríndias, dos territórios negros de
que se realizaria em Porto Alegre, com blocos Porto Alegre, do deslocamento, da articulação
de argila local, nos quais Juliana imprimiria de saberes coletivos. Penso nesse espaço de
partes do corpo, como “indícios de resistência”. múltiplos requerimentos, que comprometeria
Uma obra de caráter indicial que propõe o corpo e os afetos a partir da música. Penso
interceptar o livre trânsito por esse espaço na contraposição com a superfície úmida em
com esses blocos que conservam a presença rosa da bandeira-hino de Carmela, e na luz que
de um corpo. As tintas e desenhos com grafite entra pela claraboia. As palavras não podem
de La Vaugh Belle, uma artista de Saint Croix substituir a experiência do corpo no espaço,
- parte das Ilhas Virgens, antiga colônia da com os sentidos abertos para a percepção.
Dinamarca, que usou as ilhas como ponto para
Subo ao segundo andar, onde as obras
o intercâmbio de escravos, e que atualmente
instaladas em três espaços contrapõem tempos
pertencem aos Estados Unidos como “território
muito distintos. As peças bordadas de Brigida
não incorporado” -, multiplicam as formas
Baltar, que inserem em seus títulos uma
que o vento imprime às palmeiras no Caribe.
linguagem médica (hematomas, petéquias)
Assim, produz uma crítica sutil a colonialidade,
e que referem-se à sua própria experiência
com imagens de uma natureza sacudida que
com a doença. Com as limitações do corpo.
desorganiza os estereótipos de exuberância
Nesses fios, nos fios que comprimem a teia
e prazer contínuos com que o turismo as
e geram uma forma apertada, se sentem os
promove. Os seus desenhos, que realizaria
afetos do trauma, a dor e as referências ao
em Porto Alegre, cobririam as paredes do
transplante quimérico, da medula do seu irmão,

BIENAL 12 CATÁLOGO 32
como caminho para a cura. Os processos de percepção intensamente luminosa porque
empatia, de cruzamento de experiências estão todos os dias em que visitei Porto Alegre foram
também presentes, ainda que de outro modo, ensolarados. Nessa arena pública, diante
nas formas de trabalho que Julieta Hanono do Memorial, colocaríamos um carrinho de
propõe nos seus intercâmbios com os qom, pipoca completamente coberto com batom
com algumas dessas comunidades indígenas vermelho, Rouge, uma obra de Carmela Gross.
que migraram do grande Chaco, na Argentina, Cinco quilos de pasta vermelha em toda a
para os arredores da cidade de Rosário. Os sua superfície. Um sinal enigmático, urbano,
qom fazem os pequenos animais de argila que com certo humor, faria colidir registros
que ela coloca na instalação, e cujo preço do popular com o universo do feminino. E me
eles estabelecem em assembleia. São tantos lembro também que no ciclo de performances
animais quanto os quilômetros de distância da Bienal Mulheres Públicas, distribuiriam
que existem entre Rosário e Porto Alegre. um pequeno caderninho sintetizando, com
Um trajeto que adquire forma metafórica humor, com ironia, as vantagens de ser
nessa manada de pequenas formas que lésbica. Fecho os olhos para ouvir apenas o
resplandeceriam com a luz que entra, potente, barulho do movimento das pessoas. É tarde.
pela janela. Na última sala do Memorial,
um espaço no qual ardem os ativismos dos Fundação Iberê Camargo
coletivos feministas. Mujeres públicas, com
sua bandeira virada com a palavra em branco Na avenida às margens do rio Guaíba, o prédio
sobre fundo vermelho: “Demasiado” (Demais) da Fundação assinala um clima arquitetônico
‘Demasiado’ é uma referência móvel que pode diferente. Essa é a terceira sede da bienal.
ser aplicada a muitas formas de saturação: Formas minimalistas, um espaço de rampas,
injustiça demais, falta de vergonha demais, circular no seu interior, que desde o exterior
atropelos demais. Elas as levam também à se vê quase como uma mão cujos dedos
interrogação da palavra queer como trend word, envolvem o espaço. No átrio, no espaço
como palavra da moda entre os grupos brancos central, instalaríamos duas obras mínimas,
e ilustrados que a usam. “Gorda demais para ser contrapostas à espetacularidade do prédio.
queer”. Um comentário irônico que se ativava Semiya (Semente), de Cecilia Vicuña - um
a partir de um adesivo das palavras no muro. O desenho, um vídeo, um texto -, que narra
ativismo, também, de Nosotras Proponemos; quando Cecilia propôs a Salvador Allende, em
o seu arquivo de intervenções urbanas em 1971, estabelecer um “dia da semente”. No
uma agenda que abrange, simultaneamente, espaço, seria suspenso seu quipo realizado com
o machismo e a violência social, o machismo materiais mínimos, precários, que Cecilia estava
e as formas de violência real e simbólica trabalhando em seu ateliê e que chegariam
no mundo da arte. Visualizar as formas de por Correio urgente. Esses materiais seriam
apagamento, da invisibilização. Uma ação que complementados por outros, provenientes
é central no ativismo do coletivo COCO. Elas de diferentes comunidades de Porto Alegre,
pesquisam as porcentagens de representação que, somados, iriam configurar uma forma
de artistas mulheres em revistas, livros e frágil, metáfora - assim a concebia Cecilia -
catálogos de arte latino-americano. Na mesma da natureza ameaçada pelos incêndios na
sala seriam instaladas as bandeiras de Jota Amazônia. No mesmo andar, as fotografias e
Mombaça. Bandeiras realizadas com sangue, os textos de Maruch Sántiz Gómez. Fotografias
que condensam, em frases breves e poderosas, de objetos comuns, de animais domésticos e
o estado atual do mundo: “World – Wound”. frases em tzotzil que sintetizam conhecimentos
ancestrais que é preciso conservar ou recuperar
No memorial, estariam as oficinas do
para derramar como conhecimentos do
programa educativo. Nos terraços anexos
presente. Um tempo no qual, para pensar
se ativaria, periodicamente, como parte
o que virá, precisamos de conhecimentos e
do programa, a performance coletiva
práticas que estabeleçam outra relação com a
“Malha”, de Juliana dos Santos.
vida, com as comunidades, com a natureza.
Saio para a Praça da Alfândega. O sol
continua ali. Provavelmente conservo essa

33 BIENAL 12 CATÁLOGO
O primeiro andar, receberia um têxtil suspenso afro-brasileiro. Um dos projetos que assinalam
de Juliana Góngora. Ela procura, há tempo, com maior força a distância entre a experiência
tecer com a textura solidificada do leite. Esses no espaço a partir do qual a bienal estava
fios se entrelaçam com galhos alinhados, em sendo planejada e a realidade na rede desde a
um tecido suspenso no espaço. Nesta obra, que propunha estabelecer uma comunicação
planejamos trabalhar a luz tanto quanto fosse com os públicos, é o de Dana Whabira. Ela
possível. Para que fosse mais visível esse efeito desenvolvia uma pesquisa sobre a história
leve, rodeado de iridescências. Uma obra que é negra no Rio Grande do Sul; um trabalho com
quase um abrigo no espaço no qual circulamos. especialistas de Porto Alegre nos quilombos
Jessica Kairé, no mesmo espaço, explica da região em que a cidade está inserida. O
como fazer instrumentos de proteção perante projeto consistia em traduzir em desenho, nos
iminentes ataques, empregando elementos da seus desenhos abstratos, as suas observações
cozinha, vegetais que amarra e move enquanto sobre essas teias da cultura local. O diálogo
explica as suas utilidades. Uma referência à fricciona especialmente quando pensamos que
violência que ela desativa também com armas no espaço adjacente encontrava-se o vídeo
brandas, granadas de tecido quase aveludadas. de Aline Motta, no qual Aline aborda a viagem
Quando imaginei a série dos retratos das desde o Brasil até a Nigéria, para interrogar
mulheres do Chaco, realizada por Grete Stern raízes, relações, distâncias culturais. O texto, a
entre finais dos anos cinquenta e início dos voz, as imagens do espelho que atravessam o
sessenta, localizados neste mesmo andar—uma filme, instalam perguntas poéticas e políticas.
série da qual selecionamos os retratos das Imagino o clima afetivo no qual transcorreria
mulheres tobas, wichis e mocovíes—, pensei o itinerário entre essas obras que condensam
na identidade, em primeira pessoa, que repõe experiências de raça. Um deslocamento
o retrato, mesmo quando não conservemos nosso, hipotéticos espectadores, à distância
os nomes dessas mulheres. Embora a foto na direção das camisolas de Janaina. E, na
tenha sido feita por Grete, que tinha chegado estação seguinte, no espaço adjacente, a
há quase vinte anos na Argentina, vinda da imersão no filme de Aline. A partir dali, desde
Alemanha, onde tinha estudado na Bauhaus, esse clima reflexivo e emotivo, ingressaríamos
as fotos eram retratos. Um registro analógico, no espaço ocupado pela obra de Lungiswa
a maior proximidade visual que possamos Gqunta. Apenas temos os desenhos sobre
imaginar a respeito dessas mulheres no como seria disposta no espaço a instalação
presente. Antecipei, como contraponto, a obra translúcida de arame farpado envolto com
de Gonzalo Elvira, a série de desenhos nos tecido de algodão que Lungiswa realizaria
quais revisa e resgata a obra das mulheres da coletivamente em Porto Alegre. Ela remete
Bauhaus, excluídas das oficinas de metal e ao toque; à suavidade do toque feminino. Um
da escultura, ativas nos têxteis e cerâmicas. eco que pode ser encontrado em seu vídeo,
Ao citar, mediante o seu desenho, os retratos no qual o movimento no balanço se repete,
fotográficos dessas mulheres, Elvira resume e reitera-se, enquanto ouvimos uma canção.
ativa uma parte da agenda feminista na arte:
Pela rampa, no acesso ao terceiro andar, à
resgatar a história de artistas invisibilizadas. Os
minha esquerda, o vídeo de Kan Xuan. As
desenhos seriam instalados sobre um mural
imagens aceleradas, o som urbano, de buzinas
realizado pelo artista no local. A intervenção
e de pássaros se contrapõem aos instantes,
de Janaina Barros, com as suas camisolas
frações de segundos, nos quais a imagem se
e fotografias, produz um salto do rosto ao
detém em um uniforme militar. Na textura
corpo. Ao corpo inteiro, com o rosto apagado.
visual, que é a trama, é luz, é velocidade,
E ao retrato com o rosto coberto. Poderíamos
onde se superpõe a leveza e o comentário
pensar esse silêncio como uma deriva desde
político que remete a uma sociedade hiper
o pessoal ao social. Uma chave para pensar
vigiada. Nesse espaço, a instalação de Natalia
a relação entre uma primeira pessoa, negra,
Iguiñiz, Patria (Pátria). Um conjunto de
subjetiva, em relação com uma experiência
bandeiras das quais parecem se desprender
coletiva que atualiza a cada dia as estratégias
palavras que ficam dispostas no chão e que
de apagamento e violência sobre o coletivo
remetem à nação. Um comentário crítico

BIENAL 12 CATÁLOGO 34
sobre os seus fundamentos. Em parte, as se restabelecem a partir do movimento, a
obras dessa seção estão permeadas pela partir da dança. Ela dança na terra em que
memória. A força da pontada que fixa as pisa. E os cenários e a roupa que escolhe em
formas das arpilleras (jutas) que as mulheres cada canção indica uma relação diferente
no Chile costuraram durante a ditadura. Uma entre a música, o corpo, a cidade, o momento
forma de sobrevivência e de resistência. do dia. São minutos nos quais o corpo e a
Nelas se condensam os episódios da vida música se fundem em um clima de gozo, de
coletiva durante esses anos nos quais o medo dança, que transcorre no cenário público. A
dominou. No mesmo espaço, Mirella Maria nos grande sala lateral, que se abre ao espaço
apresenta o registro impresso das fotos da sua central que conecta espacial e visualmente
família, na qual o nome Maria retém a história todos os andares da Fundação, reúne as peças
colonial, da escravidão. As fotos configuram escultóricas têxteis e de cerâmica de Lidia
relações na forma sucessiva, adjacente, na Lisbôa. Ao percorrer o espaço, repercutiria em
que estão impressas em um vestido. minha lembrança a certeza com a que Lidia
Lisbôa declara que ela vive, pensa e respira
A memória da experiência chilena se redobra na
arte, como declara no breve filme que se somou
sala seguinte, na qual Nury González apresenta
ao arquivo dos afetos no local da bienal. Nessas
três ponchos mapuches antigos, pretos, aqueles
formas têxteis e cerâmicas, ela condensa as
que as mulheres usam, cujos furos produzidos
lembranças dos ninhos de cupins, das árvores
pela passagem do tempo, a artista contorna
na Avenida Atlântica de São Paulo, das crianças
com cuidadosas costuras que, em um sentido
de quem cuidou, das violências domésticas
simbólico, conservam, cuidam. Na frente da
na sociedade paranaense em que cresceu.
sua obra, duas intervenções de Paz Errázuriz:
Ela tece, amarra e coloca em um objeto essas
na primeira, a projeção dos retratos que fez de
experiências, cicatrizes, memórias do corpo.
seu filho, Tomás, nos últimos anos da ditadura
no Chile. Retratos feitos todos os meses. Uma Nas paredes das rampas da fundação
forma de medir a passagem do tempo, os anos instalaríamos a obra de Julieta Hanono, uma
finais de um período de violência, censura e Constelacion de las poetas (Constelação
opressão. Ao lado, a sua série de fotografias de das poetas), na qual com fitas de cor verde
pessoas dormindo no espaço urbano; corpos (pela campanha de legalização do aborto
quietos, metáfora da paralisia que marcou o na Argentina), violeta (cor vinculada às
golpe de Estado. A reflexão que as imagens lutas do feminismo) e laranja (que remete à
nos propõem se desloca rapidamente para o reinvindicação da separação entre a Igreja e
questionamento sobre a situação das mulheres o Estado nesse mesmo país) a artista rende
no espaço urbano. Natalia Iguiñiz mapeou homenagem `as poetas latino-americanas
Lima e planejava mapear Porto Alegre. Os as quais vincula às lutas do feminismo.
diagramas de fotos e geografias permitiriam
No andar superior, o quarto dessa seção da
estabelecer comparações. O mapa urbano se
bienal, a Fundação Iberê Camargo incluiu os
redobraria nos sinais de bandeiras urbanas e,
tapetes que este artista do Rio Grande do
ao mesmo tempo, antropomórficas, bandeiras
Sul realizou junto a mulheres especialistas
enfiadas em sapatos, bandeiras bordadas
na tecelagem. Muitas das obras dessa seção
com palavras de mulheres, de poetas como
da bienal se vinculam à trama, ao tecido,
Montserrat Álvarez e Carmen Ollé, realizadas
à costura, ao bordado. Um sentido de
por Eliana Otta. Nesse clima urbano, o mapa
intercâmbio, de reparação, de textura social.
urbano, as bandeiras com os seus paus
fincados nos sapatos, repunham a afetividade Lembro-me, enquanto imagino as obras nas
da manifestação. Uma demonstração salas, de outra obra que não poderei ver em
embandeirada na palavra poética e Porto Alegre. Them, a obra de teatro de Liliana
testemunhal, com perguntas incisivas, “como Porter e Ana Tiscornia, que seria representada
dissimular uma cicatriz da cesareana?” Não nos na Santa Casa, um complexo de hospitais
desapegamos do clima urbano, nem, em certo que conta com salas de exposição e um
sentido, da relação com a superfície, com o solo. auditório. No isolamento, elas realizaram um
Mas no vídeo de Renata Felinto esses contatos vídeo novo, Sin título con Helga (Sem título

35 BIENAL 12 CATÁLOGO
com Helga), no qual elaboram imagens que propõe Aline Motta e o que reflete aqueles
envolvem os afetos dos sentidos e os contatos que assistem a performance de Janet Toro na
interrompidos. E, muito especialmente, frente do Museu da Memória e dos Direitos
para fazê-lo recorrem a uma tecnologia Humanos. O conhecimento ancestral que
que utilizam todos os dias, o celular. recupera em suas fotografias e nas frases
que reúne Maruch Santíz Gómez e que
Na tarde de Porto Alegre, já fora do prédio
Sebastián Calfuqueo registra nos seus vídeos,
da Fundação, o sol se põe, e veria, nessa
conhecimento tzotzil, conhecimento mapuche.
paisagem atravessada pelo prédio minimalista
As mulheres do grande Chaco, retratadas por
de Álvaro Siza, à margem do rio Guaíba, a
Grete Stern e que agora estão nos arredores
luz dourada, o cartaz com led de Santarosa
da cidade de Rosário, indígenas qom com as
Barreto. Na frase na qual se sucedem as
que Julieta Hanono trabalha. A relação entre
palavras ‘rosa’, ‘mulher’, ‘bruxa’, em uma
os retratos de Grete Stern e os que Gonzalo
sequência tautológica, entrelaçam-se o título
Elvira realiza das mulheres da Bauhaus. As
de um filme, um verso, uma frase de Jean-
tramas de memórias negras que recuperam
Luc Godard, de Gertrude Stein, de Ernest
Dana Whabira, Aline Motta, Rosana Paulino.
Heminway, respectivamente. Uma relação
As reflexões sobre os idosos, sobre os seus
que permeia mulher, beleza, maldade. As
conhecimentos e criatividade, que podemos
palavras, silenciosas, são impregnadas com
observar nas fotografias de Carol Condé & Karl
o som do trânsito dessa parte da cidade.
Beveridge. Os estereótipos do turismo, que
Experiências sonoras, visuais. As da vida em
abordam Joiri Minaya e La Vaughe Belle. A
Porto Alegre, e as do itinerário imaginário,
contraposição entre o retrato de corpo inteiro,
que posso reconstruir a partir dos materiais
de Liuska Astete Salazar e os autorretratos
naweb, dos planos, dos conceitos e a partir
extremamente produzidos pela maquiagem
das palavras que muitxs dxs artistas enviaram
de Kimiko Yoshida. A cor como chave reflexiva
pelo celular, do lugar onde se encontravam
para abordar o corpo, nas obras com fumaça
quando começou o isolamento. Mas não
de Judy Chicago e nas performances de Liuska.
pude experimentar a percepção das obras
A relação entre violência, mulher, cidade, na
no espaço. O reverberar das obras nas salas,
obra de Natalia Iguiñiz, Mónica Mayer, Ana
suas zonas de contato, os diálogos, as fricções.
Gallardo, Fátima Pecci Carou. A imaginação
Essa forma específica que a arte assume nas
sobre novas formas de experimentar o
salas de exposição. O que perdemos? O que
conceito de família, nos bordados de Chiachio
ganhamos? Ainda não tenho respostas.
& Giannone e na escultura de Cristina Schiavi.
Muitos contatos e relações ente as obras As poéticas do afeto queer, trans, em Elle de
foram surgindo, como pequenos relâmpagos, Bernardini, em Jota Mombaça, em Sebastián
enquanto as reconstruía com as palavras, Calfuqueo quando busca o seu sósia, Marcela,
com a imaginação. Por exemplo, os sentidos na ação que Mujeres Públicas realizaria sobre
da costura, da pontada como sutura ou como as vantagens de ser lésbica. A pesquisa
reconstrução do sentido, nos bastidores de sobre o significado do cabelo negro, na obra
Rosana Paulino, nas Arpilleras (Jutas) das de Priscila Rezende, de Helô Sanvoy, de
mulheres do Chile, em Chiachio & Giannone, Lorraine O’Grady. As relações são infinitas. A
nos ponchos de Nury González ou nas constelação das obras na tela me permite saltar
bandeiras de Eliana Otta. A relação entre a o espaço físico e imaginar outros vínculos.
roupa e o corpo nas camisolas de Janaina
Pensar a bienal online não foi resultado de um
Barros, na peça que Lidia Lisbôa ativa, o
planejamento. Foi a forma de estabelecer um
de Mirella María. A extensão da bandeira
contato entre obras, artistas e público durante
de Janet Toro na fachada da bienal; a de
estes três meses nos quais, pela primeira vez
Mujeres Públicas, na zona dos ativismos, o
na história do mundo, estivemos, globalmente,
seu “demasiado” (Demais); a de Carmela
em nossas casas, com todas as precariedades
Gross, molhada, no subsolo do Memorial; as
e os riscos que a casa representa quando não
de Jota Mombaça realizadas com sangue;
responde aos estereótipos que a normalizam.
as de Natalia Iguiñiz em “Patria” (Pátria). O
Nem todas foram casas seguras, nas quais
espelho nessa viagem pela memória que nos

BIENAL 12 CATÁLOGO 36
esperar com os mínimos requisitos da vida.
Frente ao fechamento dos espaços urbanos,
dos espaços sociais, pensamos nos afetos,
nas relações possíveis, nos conhecimentos
com os que podíamos contribuir para gestar
em tempo presente. Pensamos em nos deter
nos instrumentos que permitirão abordar
o futuro se parte destas novas formas de
entender a vida social permanecerem.
Pensar, criticamente, a qual normalidade
queremos voltar, quais outras formas de
entender a nossa relação com a natureza e
com xs outrxs não desejáveis, possíveis.

37 BIENAL 12 CATÁLOGO
Sobre Gatherings, Ajuntamentos
e Hábitos de Assemblagem
Fabiana Lopes
Curadora Adjunta
New York University

Pode alguém teorizar efetivamente permitiriam experimentar o que seria uma


sobre um processo em expansão? … vivência prática das possibilidades criadas
Quais são as premissas filosóficas por Feminino(s), visualidades, ações e afetos.
por trás de minha práxis? Eu penso
Até então, as discussões com as artistas
como a articulação de uma teoria é
convidadas sobre os seus (possíveis) projetos
gathering place [lugar de encontro,
tinham acontecido através de encontros
de ajuntamento], às vezes um ponto
virtuais, na maior parte dos casos. Pensando na
de descanso enquanto o processo
proposta da Bienal 12|Porto Alegre, comecei a
avança, insistindo que você [o] siga. 1
considerar as artistas que já vinha conhecendo
Em meados de março de 2020, eu estava e acompanhando nos últimos 5 anos. Minha
há poucos dias de minha chegada a cidade contribuição específica para o projeto foi
de Porto Alegre (Rio Grande do Sul) para oferecer a possibilidade de pensar em
os preparos para a 12 edição da Bienal do Feminino(s), visualidades, ações e afetos à partir
Mercosul. Como uma das curadoras adjuntas da produção de artistas negrodescendentes
da Bienal 12|Porto Alegre, eu chegaria à — uma produção pouco explorada no Brasil e
cidade quatro semanas antes da abertura da na América Latina — e tentar ir apreendendo,
exposição, programada para o dia 16 de abril ainda que de maneira experimental, a “gama
e acompanharia, mais de perto, os processos de possibilidades de saber, de fazer e de
das artistas que também chegariam a cidade existir” que essa produção (poÉtica) anuncia.2
com antecedência para desenvolver pesquisas
Que desenho, ou impressões, da produção
adicionais, para produzir seus trabalhos e/
de artistas da diáspora negrodescendente
ou acompanhar a montagem dos mesmos. Eu
esse ajuntamento, esse gathering poderia
estava empolgada com esse gathering, com o
apresentar? O que a articulação desses
encontro em presença, com o estar por perto
trabalhos em diálogo num projeto de
durante a execução e instalação de muitas das
exposição faria/provocaria? Ainda que
obras do projeto, com o tempo do encontro
como um exercício reduzido e limitado,
para um café, da conversa demorada, do papo
seria esse gesto de aproximação da
rápido na rua, das múltiplas possibilidades
produção de artistas negras relevante para
de encontrar pessoas conhecidas na Praça
expandir o campo de referencias de artistas,
da Alfândega, espaço público em torno do
curadores, educadores, arte educadores no
qual estão dois dos três espaços expositivos
Brasil? Quais possibilidades e tensões esse
da bienal: o Memorial do Rio Grande do Sul
gathering poderia provocar? Como esse
e o Museu de Arte do Rio Grande do Sul.
ajuntamento nos ajuda a seguir pensando
Esses momentos de encontro ampliariam,
sobre a emergência de estratégias estéticas
em grande parte, meu entendimento dos
projetos e obras das artistas convidadas e me

1 Barbara Christian, Black Feminist Criticism: Perspectives on Black Women Writers, New York: Teachers College Press, 1985, pp.
9-10.
2 Denise Ferreira da Silva, “Toward a Black Feminist Poethics”, in The Black Scholar v. 44, n. 2, summer 2014, p. 81.

BIENAL 12 CATÁLOGO 38
pretas no contexto Brasileiro, meu ponto de processo de investigação. Em outros casos,
partida, mas também na América Latina? entretanto, gathering parece ser o juntar de
materiais, uma certa articulação de objetos, um
No caso do Brasil, em específico, e da América
acúmulo, quase. Por outro lado, ainda, minha
Latina em geral, há um longo caminho a ser
articulação de grupos de projetos e artistas que
percorrido no que diz respeito a atentar
se tangenciam em diálogo, se apresentou como
para produção de artistas negras, e para
gathering, como um campo para observação,
as pistas que essa produção oferece sobre
como um terreno de possíveis teorizações.
saberes, fazeres e modos de seguir existindo
na sociedade estruturalmente anti-preta O exercício que eu procuro fazer, então,
em que vivemos. Se a produção artística de é o de pensar alguns projetos a partir
autoria negra é ainda tão invisível (eu estava desses conceitos-tentativa de gathering,
tentando evitar fazer essa declaração, mas ajuntamento ou hábitos de assemblagem:
aqui estou enroscada nela), Fred Moten nos gathering como encontro (ou aglomeração)
lembra que [A] marca da invisibilidade é uma de pessoas; gathering como ajuntamento de
marca racial visível; invisibilidade tem, como coisas, como acúmulo de objetos; gathering
cerne, a visibilidade. Ser invisível é ser vista, como aquilo que emerge da articulação de
instantaneamente, e de forma fascinante conceitos (ou teorias) quando trabalhos são
reconhecida como o irreconhecível, como o colocados em diálogo. E é possível que esses
abjeto, como a ausência de auto-consciência conceito-tentativas não se sustentem, que
individual, como um vaso transparente eles se dissolvam a qualquer mo(vi)mento.
de significado totalmente independente
I can’t breathe, I can’t breathe
de qualquer influência do próprio vaso.
I can’t breathe
Uma questão relevante, então, é como
podemos, a despeito dessa marca (ou talvez “Pode alguém teorizar efetivamente sobre
motivadas por ela), seguir [f]onografando um processo em expansão? …Quais são as
esse problemático paradoxo [visual].3 premissas filosóficas por trás de minha práxis?”
Essas são algumas perguntas colocadas Barbara
Minha tentativa nesse texto é ir procurando
Christian em sua tentativa de desenhar uma
apreender como uma poÉtica negra, a mesma
crítica negra feminista no início dos anos
que levou mulheres negras a se organizarem
1980.4 Centrada na relação entre premissas
numa rede coletiva de ajuda—estou
filosóficas e práxis, Denise Ferreira da Silva
pensando aqui em como mulheres negras nos
empresta os comentários de Christian para
organizamos para apoiar nossas comunidades
considerar, ela mesma, como uma PoÉtica
durante a crise de saúde e financeira instaurada
Negra Feminista enfrentaria tal tarefa.
pela pandemia do COVID19—se manifesta
Expandindo a discussão, Da Silva nos oferece
no fazer artístico. Chamou minha a atenção,
as seguintes perguntas: “Será que a intenção da
por exemplo, como a proposta de algumas
poeta emanciparia a Categoria da Negridade
artistas evadiam o lugar do objeto de arte
dos mesmos modos científicos e históricos
[de comodity?], e/ou como suas propostas
de saber que a produziram...? Será que a
esgarçavam o conceito de espaço de exposição
Negridade emancipada da ciência e da história
para o objeto de arte—ainda que existindo
imaginaria uma outra práxis e perambularia
em relação a esse espaço. Essas artistas
pelo Mundo, com o mandado ético de abrir
circunscreviam o fazer artístico ao processo
outros modos de saber e fazer?” Oferecendo
de pesquisa em si, ao fazer coletivo, ao
uma resposta positiva (e provisória) para ambas
encontro, ao gathering ou ajuntamento e a
perguntas, Da Silva propõe que “[de] fora do
seus modos de articulação próprios. Em alguns
Mundo como o conhecemos, onde a Categoria
casos, o resultado final da pesquisa, o que é
de Negridade existe em/como pensamento
apresentado no espaço expositivo não é mais
— sempre, e de antemão, um referente de
que um resíduo mais ou menos explicito do
comodity, um objeto, e o outro, como fato além

3 Fred Moten, In the Break: The Aesthetics of the Black Radical Tradition. Mineapolis: University of Minesota, 2003, p. 68.
4 Denise Ferreira da Silva, “Toward a Black Feminist Poethics”, op. cit., p. 81.

39 BIENAL 12 CATÁLOGO
de evidência— uma PoÉtica de Negridade Quilombo para Whabira parece ter um sentido
anunciaria uma gama de possibilidades para de espaços historicamente formados e não,
saber, fazer e existir.”5 O que eu imagino fazer necessariamente, um sentido simbólico
aqui seja talvez uma oscilação (ou uma dança estendido que abarque, por exemplo, espaços
imperfeita e inacabada) entre a pergunta de pretos urbanos (ajuntamentos urbanos).
Christian “Pode alguém teorizar efetivamente Mas quais seriam as vantagens e limitações
sobre um processo em expansão?” e tentativas do cruzamento desses dois conceitos? É
de apreender algo da “gama de possibilidades possível, num momento contemporâneo,
para saber, fazer e existir” indicada por Da pensar num sem implicar o outro? Como
Silva. E fazer isso num momento em que considerar a pesquisa de Whabira em diálogo,
respirar é um evento—e um evento difícil. por exemplo, com o pensamento de Beatriz
Nascimento para quem quilombo é não
Gathering: apenas espaço formado historicamente mas
an assembly or meeting, especially a social or “um movimento geral de longa duração em
festive one or one held for a specific purpose. todo o Brasil”, uma organização social com
continuidade na contemporaneidade?6
Ajuntamento:
reunião, aglomerado de pessoas, aglomeração. O trabalho final, um desenho em grafite em
formato circular de larga escala, guardaria, de
Baseada em Zimbabwe, Dana Whabira, seria, alguma maneira, as informações apreendidas
possivelmente, a primeira artista que eu pela artista durante as três semanas de
encontraria. Whabira já havia passado duas pesquisa de campo. Esse desenho condensaria
semanas em Porto Alegre desenvolvendo as historias de displacement dessas
pesquisa de campo, acompanhada pela artista comunidades quilombolas cujas narrativas
local Miti Mendonça, nos quilombos Silva, historicamente construídas podem incluir
Fidelix, Lemos, Areal, a antiga área da Colônia práticas radicais como “plantar”, no cabelo,
Africana, e a região da Restinga. Essa pesquisa mapas de rotas de fuga, sementes e ouro. Essas
informaria a produção de um desenho, narrativas nos ajudam a identificar e pensar
comissionado pela Bienal 12|Porto Alegre, radicalidade em práticas pretas cotidianas e
parte da série Circles of Uncertainty/Circulos a re/conhecer nelas pistas de uma tradição
de incerteza—uma investigação continua ainda viva. O desenho também preserva
sobre histórias de mapeamento, migração certo grau de opacidade, não revelando as
e pistas de rotas de fuga em comunidades camadas do processo, não evidenciando
da diáspora Africana. Através das visitas aos explicitamente a pesquisa. Esse trabalho nos
quilombos, de entrevistas com seus líderes convida a refletir sobre como o fazer artístico
e membros, bem como com pesquisadores pode estar circunscrito na pesquisa e como
locais, Whabira procurava identificar diferentes opacidade (sugerida também pelo título
pontos de referência (e de entrada) para da obra) e invisibilidade continuam sendo
conhecer história passada e presente dessas mobilizadas como estratégias subversivas.
comunidades e delinear uma produção Ao realizar esse projeto no Brasil, Wabira
preta de espaço. Ao rastrear espacialidade, lança uma luz sobre como algumas práticas
temporalidade e radicalidade negras, a artista da Tradição Radical Preta—uma tradição
tentava entender a natureza complexa do que pode ser mapeada ao longo da história
quilombo, sua existência precária e delineação de resistência do povo preto às condições
ambígua no passado e no presente. A de opressão imposta pelas intervenções
pesquisa era também uma forma de acessar coloniais — se atualizam localmente. Estou
as políticas raciais no Brasil, conhecer o status pensando aqui tanto na contribuição oferecida
dos espaços ocupados pelos quilombos na pelo teórico estadunidense Cedric Robinson
psyche, mitologia e imaginário urbanos. que conecta a natureza da tradição radical

5 Denise Ferreira da Silva, op. cit., p. 81.


6 Maria Beatriz Nascimento, Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual: Possibilidades nos dias da destruição. São Paulo:
Editora Filhos da África, 2018, p. 134.

BIENAL 12 CATÁLOGO 40
preta com os levantes e práticas insurgentes, Reis, Malena Mendes, Mariana de Jesus e
como a formação de quilombos, com “o Paula Fernandes). O trabalho, produzido por de
desenvolvimento continuo de uma consciência mulheres negras, consistiria em manusear —
coletiva, informada por lutas históricas dobrando e redobrando, esticando e torcendo
por liberdade e motivada por um senso — uma quantidade expressiva de arame
de obrigação compartilhado em preservar farpado previamente encapado com tecido
o ser coletivo, a totalidade ontológica.”7 de algodão. A instalação final, uma versão
Ao mesmo tempo, penso na definição de da obra The Softness of A Woman’s Touch/A
Robinson em diálogo com o conceito de maciez do toque de uma mulher (2018-2020),
quilombo oferecido por Nascimento que, consistia de dois grandes emaranhados de
como mencionado anteriormente, o entendia arame farpado separados por uma passagem
como movimento de longa duração que entre eles e ocuparia uma sala toda no segundo
continua no momento contemporâneo. andar na Fundação Iberê Camargo. Na sala
também estaria a obra em video Feet Under
O impulso rizomático que (des)orienta meu
Fire, (2017), da mesma artista. Nessa versão de
pensamento, e a ideia de práticas radicais,
The Softness of A Woman’s Touch produzida
fuga, cabelo e cotidiano me levam ao projeto
por mulheres negras em gathering, num
Rotas de fuga (2017) da artista mineira Charlene
exercício de tecer coletivo, lírico e radical não
Bicalho. O projeto é uma performance em que
seria possível aos visitantes acessar todos
Bicalho, em colaboração com cinco outros
os nós formados e desmanchados durante o
artistas, caminha pelas ruas da cidade de
processo. Ainda assim, podemos considerar
Ouro Preto (MG) e entrega pepitas de “ouro”
como a obra — e seu processo de criação
(cascalho pintado de dourado) que tira de entre
complexo, intenso e trabalhoso — articula as
o cabelo às pessoas que vai encontrando pelo
ideias de toque, proximidade e intimidade,
caminho ou vai, alternativamente, deixando
de um lado e, de outro, paisagens coloniais,
traços de “ouro” pelas ruas, janelas, portas
legados espaciais e violência; podemos
e caixas de correio das casas do caminho.
também seguir pensando nas rupturas que essa
Acessar a pesquisa de artistas que não
poÉtica preta feminista colaborativa anuncia.
fazem parte do projeto da Bienal 12 | Porto
Alegre me ajuda a demonstrar como os E se Dana rastreia espacialidades e
processos de pensamento e criação delas/ temporalidades pretas e as codifica em
nossos estão em constante transborde.8 seus desenhos, no caso da artista visual do
Recife, Ana Lira, que faz o mapeamento
Hands up, don’t shoot! Hands up, don’t shoot!
de espacialidades das diásporas
Hands up, don’t shoot!
negrodescendentes por uma outra via, a
Hands up, don’t...
pesquisa está em como as codificações
Eu também encontraria, nos primeiros dias, a do conhecimento preto, suas vivências e
artista visual e escultora Sul Africana Lungiswa transmissões, seus modos de resistência
Gqunta que, durante o curso de quatro à opressão se dão por manifestações
semanas, começando em meados de março, poéticas — por textos ou palavra falada, e
engajaria em intenso trabalho colaborativo com por manifestações sonoras que vão desde
um gathering de quatro artistas locais (Daniele batidas de tambor com todas as suas

7 Cedric J Robinson, Black Marxism: The Making of the Radical Black Tradition, London: Zed Press, 1983 (University North Caroli-
na Press, 2000), p. 171.
8 Realizada na cidade de Ouro Preto (no estado de Minas Gerais) em colaboração com as artistas Priscila Rezende, Winny
Rocha, Ana Bárbara Coura, Fredd Amorim, e Karla Ribeiro, Rotas de fuga é, para a Charlene Bicalho, um misto de cotidiano
e performance. A artista pesquisava tranças nagô, possíveis caminhos de fuga que, as vezes, essas tranças representavam, e
a prática de esconder pepitas de ouro entre o cabelo. Para essa performance coletiva, os artistas se encontraram em frente
ao Museu da Inconfidência vestindo roupas pretas e vermelhas. Organizados em fileira, eles se sentaram entre as pernas uns
dos outros e, de forma cuidadosa, entregaram ao ori (cabeça) do companheiro a frente, pepitas de “ouro” (cascalho pintado
de dourado). Depois disso, os artistas se dividiram em duplas e saíram caminhando pelas ruas ao redor do museu, como em
rotas de fuga distintas, presenteando as pessoas que encontravam pelo caminho com as “pepitas de ouro” retiradas de seus
cabelos. Houve quem, tomados de pavor pela aproximação dos artistas, traçasse rotas distintas das deles. Durante os percur-
sos foram deixados rastros de “ouro” pelas ruas, janelas, caixas de correio e varandas das casas até a igreja Santa Efigênia. O
registro em fotografia e vídeo foi fei por Labibe Araújo.

41 BIENAL 12 CATÁLOGO
múltiplas variantes à musica eletrônica. Como nas vivência-das-entrelinhas, o projeto de Ana
a invisibilidade pode também ser uma forma Lira desloca o entendimento de fazer artístico
de empoderamento? Como o conhecimento para o espaço e processo de gathering tanto
codificado, não explicitamente revelado das rodas de conversa (ou vivências) quando
nos processos de manifestações poéticas e das celebrações, o lugar onde “os corpos
sonoras da diáspora afro-ameríndia podem liberam as angustias acumuladas no cotidiano”,
viajar e ser compartilhados por outros modos dançando em gathering, em ajuntamento,
de experimentação sensorial sem a imposição em movimento (negro), em performance
de processos de tradução? Essas são algumas (negra). Propondo o festejar como lugar de
proposições feitas por Ana Lira com o projeto pertecimento, o Chama nos convida para uma
Chama (2020), na definição da artista, “uma serie de experiências sensoriais, para ouvir,
experiência dedicada às poéticas da Diáspora sentir e pensar com o corpo, e para uma prática
e suas expressões sonoras, celebrativas, poÉtica feminista preta de fazer coletivo.9
sensoriais e escritas.” O projeto consiste de um
O trabalho da artista visual Juliana dos
ciclo de experimentações sensoriais que inclui
Santos, Entre o azul e o que não me deixo/
uma instalação sonora no espaço expositivo,
deixam esquecer é uma instalação interativa
nesse caso, o primeiro piso do Memorial do
e performativa, composta de luz azul, tecido
Rio Grande do Sul. A instalação é composta
branco, sensor de presença e som—uma
por livros de poemas criados por Ana Lira
edição da narrativa de um grupo de pessoas
(em português) e a poetisa sudanesa Ola
racializadas sobre suas experiências com o azul.
Elhassan (em inglês, dinamarquês e árabe),
Entre o azul surgiu das reflexões de Juliana
tecelagem da Guiné Bissau, e um espaço para
dos Santos sobre possibilidades poéticas
os visitantes estarem juntos, manusear os
e os limites de ser artista negra. Uma das
livros e ouvir sets das playlists criadas para o
possibilidades que artista procurava tecer
programa de radio online, uma outra ação do
era uma investigação sobre a cor azul, seus
projeto elaborada e executada pela artista.
desdobramentos na história da pintura e os
Além da instalação sonora e da rádio online, possíveis usos/aplicações no agora. Essas
compõe o projeto uma celebração coletiva— investigações, entretanto, esbarravam em
uma festa programada para acontecer fora do como a artista era racialmente interpelada.
espaço expositivo, na praça do Tambor durante “Seria possível falar do Azul se o tempo todo
a abertura da mostra em Abril de 2020—e não me deixam esquecer que meu limite está
uma roda de conversa/vivência com jovens muito aquém do céu? Quais são as demandas
DJs. No partilhar de suas investigações sobre que não me deixo/deixam esquecer? Podem
musicalidades e sonoridades da Diáspora artist_s negr_s abstrair? Como falar do azul
afro-amerindia, Ana Lira colabora com (e se o tempo todo gritam-me “negra”? Como
compartilha) as pesquisas da artista e DJ posso esquecer-me no azul se a lembrança
Marta Supernova (Rio de Janeiro, Brasil), e alheia me interrompe o sonho?” Essas são
da DJ Suelen Mesmo (Coletivo Turmalina em as perguntas que emergiram da investigação
Porto Alegre, Brasil). Um ponto importante no e experiências da artista. A pesquisa sobre
entendimento de como Lira articula o conceito azul abriu a possibilidade de gatherings,
de colaboração—também uma forma de ajuntamentos e encontros. Um deles foi o
gathering—é que o chamar/anunciar o nome encontro-performance em Porto Alegre para
da autora sempre implica o anunciar/chamar o qual Dos Santos convidou dez pessoas
o nome de suas colaboradoras. Por isso a frase para compartilhar suas experiências azuis.
que acompanha o título Chama (2020): Ana O encontro-performance resultou num
Lira convida Marta Supernova, Ola Elhassan “áudio specific”, uma paisagem sonora com
e Suelen Mesmo.Parte de uma pesquisa para depoimentos da artista intercalados com
a qual a “noção de coletividade e presença trechos de depoimentos dos participantes.
física é fundamental,” de uma pesquisa que A instalação/áudio-specific/paisagem
“acontece nas andanças e nas articulações,” sonora (que seria) apresentada no segundo

9 Fábia Prates, “Project Chama: Poetics of the Black Diaspora,” in interview with Ana Lira. ContemporaryAnd.com, acessado em
30/6/2020.

BIENAL 12 CATÁLOGO 42
piso do Museu de Arte do Rio Grande do Gathering:
Sul (MARGS) e, para Juliana, a elaboração collection, compilation.
de uma experiência imersiva que surge da
Ajuntamento:
busca do sensível e da experimentação num
ato ou efeito de ajuntar.
exercício -tentativa de falar do azul entre
outras possibilidades de gathering e partilha. Ajuntamento como compilação de objetos é
No justice, no Peace! No justice, no Peace! uma outra possibilidade de entendimento de
No justice, no Peace! gathering que emerge em minhas observações
dos trabalhos das artistas Michelle Mattiuzzi,
Eu incluo nesse grupo a artista nigeriana Lucia Laguna, Lidia Lisbôa, Janaina Barros e
Rahima Gambo que participa da exposição Jota Mombaça. Com os trabalhos Psicanálise do
com a série Tatsuniya (2017). Tatsuniya cafuné: catinga de mulata (2017) e Psicanálise
começou como uma foto-documentação sobre do cafuné: sobre remendos, afetos e territórios
estudantes da escola Shehu Sanda Kyarimi (2016-2019) a artista visual e pesquisadora
em Maiduguri, Nigeria—parte de um projeto Janaina Barros apresenta, respectivamente,
fotojornalístico maior, de título Education is um gathering de imagens fotográficas e de
Forbiden, sobre as experiências de estudantes peças do vestuário íntimo (camisolas). A série
que frequentavam escolas e universidades de foto-performance Psicanálise do cafuné:
afetados durante o conflito com o Boko Haram catinga de mulata apresenta oito imagens
na região. A série, entretanto, se desdobra num nas quais a artista é fotografada num cenario
desenrolar de narrativas e acontecimentos externo, rodeada de arbustos, pedras e água
relacionais em torno da produção das imagens de rio, o rosto encoberto com uma meia
nas quais a artista está totalmente implicada. calça da cor de sua pele, permitindo que se
Nesse processo de gathering com as jovens vejam apenas os contornos dos olhos, nariz
estudantes, Gambo acaba explorando os e boca. Nas imagens, a artista performa
acontecimentos intangíveis que geralmente gestos intrigantes, manuseando um pequeno
emergem de encontros, de ajuntamentos nos boneco/marionete feito também de meia-calça
quais há espaço para expressão criativa. Que de nylon. Psicanálise do cafuné: sobre
possibilidades podem emergir quando focamos remendos, afetos e territórios, por sua vez, é
no que não pode ser registrado pela câmera um trabalho formado por um conjunto de 6
de maneira completa e precisa: as conexões camisolas cor-de-rosa com textos bordados em
que são formadas quando nos juntamos suas barras. As camisolas—cujos sub-títulos
para falar e ouvir, para ensinar e aprender, individuais são Livro cor de rosa, Banhos para o
para brincar e nos expressar? Fazendo dessa Amor, Orações para o Amor, Livro de receitas,
questão um guia para seu processo, Gambo Simpatias para o Amor, Orações para todos os
desloca o conflito do Boko Haram e o trauma males-, estão penduradas desde o teto até a
associado a ele para uma posição secundária, e altura dos olhos de maneira que seja possível
compartilha seu encontro com a leveza, com a ler os textos bordados que, por sua vez, estão
energia relacional e com a fluidez num espaço associados aos conceitos evocados pelo
onde as diferenças entre imagem fixa e em subtítulo. Um exemplo é a peça, Psicanálise
movimento, entre fato e ficção são borradas. do cafuné: sobre remendos, afetos e territórios.
As fotografias e video-instalação apresentam (Livro cor de rosa), obra de 2016 na qual se lê
imagens de um grupo de adolescentes, em Desencanto: As melhores histórias de amor...
seus uniformes, brincando em sala de aula Eles se completavam na paixão, mas o seu
(Tatsuniya Playing Slow), ou juntas, cada amor era impossível... Amor em estado bruto:
uma segurando nas mãos uma vela acesa mais do que violento, profano... Atos de amor.
(Tatsuniya: Holiday is Coming). Na instalação,
composta de palmeiras e terra, as imagens A pesquisa sobre afeto e a costura como uma
do video são projetadas por entre/sobre as das categorias analíticas dessa investigação
folhagens diretamente na parede atrás delas. são partes integrantes do processo Barros.
A intervenção relevante, entretanto, é como
a artista mobiliza o conceito de cafuné (e de
afeto) como chave de aproximação e ponto de

43 BIENAL 12 CATÁLOGO
partida para observação e leitura das práticas Como uma junção de trabalhos tão distintos
de vida das famílias da população negra, e práticas tão específicas nos convidam,
uma população geralmente acessada apenas por diferentes vias, a olhar para as tradições
a partir de semas associados a violência e ancestrais presentes na contemporaneidade?
privação de direitos. Como mulheres negras, Como esse diálogo nos ajuda a pensar
cafuné e afetos se tangenciam? Que remendos criticamente sobre tradições radicais, sobre a
essa aproximação implica ou revela? Essas produção de artistas negras no Brasil e sobre
são questões que podem nos auxiliar a ter o contexto social para o qual elas apontam?
um diálogo mais aprofundado com a obra.
Na obra da pintora Lucia Laguna (Rio de
Igualmente relevante é o juntar, o gathering,
Janeiro, Brasil) gathering pode ser pensado
de objetos delicados e íntimos, de reflexões e
dentro do espaço pictórico. Os trabalhos
sugestões sobre conhecimentos do universo
da série Paisagem, alguns dos quais estão
coletivo (preto), sobre histórias e experiências
reunidos na Bienal 12|Porto Alegre, oferecem
que a artista vai acionando. O que esse trabalho
a possibilidade de vislumbrar os sentidos
evoca sobre conhecimentos e seus modos
estendidos do conceito de paisagem que a
de transmissão, sobre auto-cuidado e sobre
artista articula. Para Laguna, paisagem é o que
cuidado coletivo específicos das famílias
se vê a partir da janela de seu ateliê: o morro
pretas no Brasil? A obra deixa pistas de como
da Mangueira e a arquitetura do improviso,
voltamos ao nosso livro de receitas (pretas), e
do precário e do não acabado do subúrbio da
como mergulhamos em nossos conhecimentos
zona norte do Rio de Janeiro (e tantos outros
ancestrais: nas ervas, nos banhos, nas simpatias
subúrbios de grandes centros urbanos no
para o amor, e nas orações para todos os males.
Brasil)-parte do vocabulário estético da artista;
No caso da artista visual e performer Michelle paisagem é o jardim da casa de Laguna, uma
Mattiuzzi o gathering é o Jardim da Abolição espécie de sítio arqueológico da vida da artista,
(2020), uma instalação que articula cento e um espaço formado por uma ajuntamento de
onze vasos de tamanhos variados, onze ervas plantas e objetos acumulados por décadas
e flores de poder, terra e a frase em neon, “A —estatuetas e vasos quebrados, chaves,
intuição liberta a imaginação”. O conhecimento cadeados, grades e outros objetos descartados;
das ervas e flores de poder (algumas das quais paisagem é, também, o conjunto de objetos
são Alecrim, Arruda, Pimenta, Guiné—uma alocados em seu ateliê: pinturas prontas e
planta também conhecida como Amansa- em processo, pequenos estudos, escadas e
senhor, por seu uso subversivo por parte de trenas, embalagens de tinta, ferramentas e um
pessoas escravizadas para envenenar seus volume de fita crepe usada colado na parede
donos) é transmitido por práticas orais e por ou amontoada pelo chão. Paisagem aparece na
curandeiras do Brasil e da América Latina.10 obra de Laguna como gathering e gathering
A obra, um projeto inédito de Mattiuzzi, como espaço para articular a linguagem do
marca uma ruptura de sua produção até ajuntamento, da bagunça, e a assemblagem de
aqui já que nesse trabalho seu corpo não momentos da vida como lugar de teorização.
está diretamente implicado. A obra serve
I can’t breathe
como uma espécie de sugestão que declara a
You’re taking my life from me
liberdade do pensamento pela intuição para
I can’t breathe
um imaginar do presente à partir da força
Will anyone fight for me?11
dessas plantas. Ela serve tamém como um
relembrar, no presente, de gestos entendidos Lidia Lisbôa, a escultora, artista visual e de
historicamente como subversivos e radicais. performance que trabalha com uma forma
Será que o Jardim da Abolição nos dá pistas de assemblagem de tecidos (em sua maioria)
sobre as plantas de poder necessárias para os e de outros materiais descartados, ocuparia
Banhos para o Amor e para as Simpatias para uma sala Fundação Iberê Camargo com um
o Amor sugeridos na obra de Janaina Barros? conjunto de suas séries: Cicatrizes (2012-2015),

10 Para saber mais sobre a erva Amansa-Senhor”, veja Maria Thereza Lemos de Arruda Camargo, AMANSA-SENHOR: a arma dos
negros contra seus senhores, Revista Pós Ciências Sociais - São Luís, v. 4, n. 8, jul./dez. 2007, p. 31.
11 Gabriella Wilson, I can’t Breathe, New York, 2020.

BIENAL 12 CATÁLOGO 44
Cordões (2013-2020), Cupinzeiros (1993-2020), aprofundar investigações centradas na
Casulos pequenos (2014) e o Casulo grande experiência da mulher negra, enquanto tomam
(2012), e Chorões (2013). A sala proporciona, a performance como categoria central de
de forma ligeira e tangencial, à experiência de sua investigação: alguns possíveis exemplos
encontrar esses objetos no ateliê da artista. são Priscila Rezende, Renata Felinto, Janaina
As Cicatrizes –objetos redondos feitos de Barros, Val de Souza, Charlene Bicalho, e
meia calça de nylon preenchidas com tiras de Natalia Marques são alguns exemplos.
tecidos descartados, e marcadas, na superfície,
O conjunto de 21 bandeiras da série Nãovão
por costura grossa explícita (ou suturas) foram
(2017-2020) da artista Jota Mombaça
organizadas num grande volume, um monturo
evoca a ideia de gathering no contexto de
no chão e outro pendurado desde o teto.
coleção ou compilação de objetos. A prática
Apresentados pela primeira vez, arranjados
multidisciplinar de Mombaça deriva de seu
sobre um pedestal baixo no chão, os Cordões,
trabalho em poesia e em teoria crítica,
(umbilicais para a artista) são uma espécie de
e acontece num processo que entrelaça “a
grandes colares feitos da combinação de peças
materialidade sônica e visual das palavras,
em cerâmica produzidas por Lisbôa e partes
crítica anti-colonial e desobediência de
de corpos de bonecas—cabeças, braços e
gênero.” Essa prática também se desdobra
pernas. Os Cupinzeiros, peças também feitas
à partir de dois elementos chave que se
em cerâmica organizadas no chão em outro
esbarram, se articulam e se interpelam: os
espaço da sala estão associados à memória
processos de escrita e de performance
da infância da artista sobre pastagens
da artista. Os processos de escrita se
nas regiões rurais do Paraná onde Lisboa
manifestam em ensaios poéticos, ficção
observava de longe os cupinzeiros reais.
cientifica, e formas de ficção visionária que
Um conjunto de peças da série Casulos— incluem pressentimentos e prosa profética.
objetos de tecido crochetados—e Choroes, É precisamente do nódulo entre escrita e
também feitos de tecido crochetado sobre performance que emerge a série Nãovão,
arame foram organizados em diálogo. Entre cuja versão ampliada está na Bienal 12|Porto
esses dois grupos de obras, O Casulo, peça Alegre. Nãovão, na descrição da artista, é uma
de grande escala produzida também em “série de bandeiras brancas com pequenas
crochê, seria uma vez mais ativado em sentenças ou fórmulas conceituais escritas
performance por Lisbôa durante a abertura em/[com] sangue” —uma confluência
da exposição. Na performance, Lisbôa entre escrita e o gesto performativo de
caminha pelo espaço expositivo vestida com empregar o próprio sangue como tinta.13
o objeto.12 Existem duas questões relevantes
A referência ao uso do sangue na prática de
que emergem do contato com o universo de
performance de Mombaça vem do poeta,
objetos da artista: as intervenções propostas
artista visual e teórico Jota Medeiros (Natal,
no entendimento de costura e de crochê
Brasil), que quem a artista pretendia reproduzir
propostas, e as aproximações entre costura e
uma performance usando sangue. A falta
performance. A prática de Lisbôa apresenta
de documentação sobre a performance de
uma intrigante combinação entre objetos
Medeiros limitou a ação da artista, mas a levou
em assemblagem, geralmente tecido, e
a um entendimento da escassez de arquivos
performance. Essa combinação parece tornar
sobre a produção artística da região Nordeste
possível considerar a artista como numa
como índice de apagamento dessa produção
espécie de cruzamento entre um grupo de
do canon da história da arte do Brasil. A partir
artistas negras brasileiras que tomam a costura
dessa reflexão, Mombaça cria a obra Memória
como categoria analítica, e outro grupo, de
Fraca (Bad Memory) —composta por texto
uma geração mais jovem, que parece tentar

12 Minha primeira lembrança dessa ativação foi durante um almoço com outros artistas, na casa de Lidia em 2014. Ao ouvir o
som do pandeiro tocado por uma das convidadas, a artista se levantou da mesa, “vestiu” o Casulo e passou a dançar num
pequeno espaço entre a mesa e o fogão.
13 Will Furtado, “Exploring The Body As Colonial Occupation” interview with Jota Mombaça, ContemporaryAnd (10.March.2018),
acessado em 20/6/2020. www.contemporaryand.com.

45 BIENAL 12 CATÁLOGO
escrito com sangue na página de uma revista. alinhava historia e memória num gathering de
Esse trabalho é seguido de A Ferida Colonial foto-narrativas biográficas. A obra também
Ainda Dói (The Colonial Wound Still Hurts), no estabelece um diálogo bastante próximo com
qual a artista faz intervenções com o próprio Parede da memória (1994), trabalho seminal
sangue em “mapas icônicos, revistas, livros, e da artista Rosana Paulino, composto por 1,500
lugares para escrever, desenhar ou sublinhar pequenos objetos (patuás), irregularmente
discursos e representações que reforçam quadrados e costurados a mão, com imagens
a colonialidade e o sistema sem-fim de reproduzidas dos retratos de 11 membros
opressão e reprodução de guerra”. Nãovão, da família da artista. Parede da memória,
vem nessa esteira, com uma reflexão sobre a que completou 25 anos em 2019, faz parte
“violência [das] narrativas hegemônicas sobre do conjunto de trabalhos de Paulino que
paz, harmonia e ordem social.”14 Em suas ocupariam um espaço no andar térreo do
performances, escritas ou nos vãos entre elas, Museu de Arte do Rio Grande do Sul.
Mombaça produz um contínuo ensaio ao fim
Hands up, don’t shoot! Hands up, don’t shoot!
do mundo como o conhecemos. Ao mesmo
Hands up, don’t shoot!
tempo, ela propõe um exercício de imaginação
(ou “figuração”) do que poderia emergir em O video Estão sendo tecidos (2013/2018) do
substituição ao sujeito Moderno-Colonial. artista multidisciplinar Helô Sanvoy documenta
sua mãe, Maria Conceição, trançando o
Pensando em gathering como a articulação
cabelo do artista enquanto trava uma longa
(ou esgarçamento mesmo) de conceitos
conversa com Helô e sua parceira Dheyne
que emerge de obras em diálogo, observo
de Souza, sobre os eventos de sua infância:
possibilidades de uma reflexão em torno da
as condições de trabalho nas lavouras no
ideia de memória, performance, arquivo e
interior de Goiás nos anos 1950, a convivência
desaparecimento com as obras das artistas
entre descendentes de escravizados e
Mirella Maria, Priscila Rezende, Jota Mombaça,
pessoas que haviam, elas mesmas, sido
Gladys Kalichini e Renata Felinto, e do artista
escravas, as dificuldades da vida na região,
Helô Sanvoy. Referências a escravidão
os costumes da família, os cuidados com o
entrelaçada as experiências contemporâneas,
corpo e, especialmente, com os cabelos. O
ora coletivas ora individuais, das artistas
momento de cuidado com os cabelos como
atravessam o trabalho de Maria, Sanvoy e
contexto para discussões sobre temas sociais
Rezende. A obra As Marias de minha vida
e políticos é parte de um processo cultural
(2020) da artista visual e pesquisadora
de transmissão oral, e um evento recorrente
Mirella Maria, um vestido-objeto tecido com
na história das famílias negras no Brasil. As
reproduções fotográficas, ocuparia o segundo
narrativas da infância da mãe do artista se
piso da Fundação Iberê Camargo. Intrigada
confundem com o contexto geral da vida de
com seu sobrenome “Maria” (um sobrenome-
famílias no interior de Goiás e do Centro-
nome) e determinada a descobrir sua origem,
Oeste, no pós 1950, remetendo à formação
Maria engaja num processo de investigação
histórica do tecido social e cultural do interior
e mergulha nas histórias de sua família
do Brasil e, consequentemente, às condições de
paterna. “Maria” é o nome de proprietários de
desigualdades políticas e sociais vividas no país
africanos que foram escravizados, um nome
atualmente. É importante notar a recorrente
transferido, como sobrenome e marca de
menção à família negra —uma formação
poder e propriedade, para gerações de famílias
feita-impossível na sociedade eternamente-
pretas no Brasil. A pesquisa leva a artista a
colonial-brasileira— e aos processos de auto-
colecionar fotografias de membros de sua
cuidado e de cuidado coletivo entre os artistas
família, mulheres e homens, que carregam o
citados. Relevante também é o entendimento
sobrenome-nome “Maria”, e a organizá-las na
de cuidado coletivo como uma forma de
forma dessa vestimenta bastante usada em
gathering, como ethos de assemblagem, como
seu círculo familiar. As Marias de minha vida

14 Will Furtado, “Exploring The Body As Colonial Occupation” interview with Jota Mombaça, ContemporaryAnd (10.March.2018),
acessado em 20/6/2020. www.contemporaryand.com.

BIENAL 12 CATÁLOGO 46
momento de com/partilhar, como performance Nacional de Artista em Bogotá em Outubro
preta, como (tempo de) estudos pretos. de 2019. Nessa performance Mombaça,
posicionada em frente a obra Auras Anónimas
Na performance Bombril (2010-2018),
(2007-2009) da artista colombiana Beatriz
apresentada pela primeira vez em 2010, a
Gonzalez, lê, desde um papel em chamas,
artista de mineira Priscila Rezende faz do
textos escritos por vítimas do conflito armado
cabelo uma esponja de lavar louças e esfrega,
na Colômbia.16 O vídeo auxiliar retoma
com o cabelo, molhado e ensaboado, a
aspectos do arquivo queimado durante a
superfície de utensílios domésticos metálicos
performance. Uma questão a ser explorada é
usados na cozinha. O título Bombril refere-se
como Mombaça sobrepõe ideias de arquivos
ao nome de uma conhecida esponja de aço
históricos e arquivos humanos, performance
que serve como termo pejorativo usado, ainda
e apagamento, acionando a relação entre
com muita frequência, para referir-se ao cabelo
performance, reprodução e desaparecimento.
crespo, e é especialmente dirigido a meninas
e mulheres negras. A performance, entretanto, Em suas investigações, a artista visual e
não se restringe a indicar lacerações estéticas. pesquisadora da Zambia Gladys Kalichini
Com a vestimenta usada na performance, geralmente articula história colonial,
uma alusão a mulher escravizada, Rezende marginalização e memoria, focando em
aponta para a permanência de práticas sociais narrativas de mulheres deixadas de fora
e econômicas que confinam mulheres negras da memoria coletiva dentro dos contextos
a “invisíveis senzalas modernas.” O esfregar africanos. Instalada no MARGS, Erasing
objetos sentada no chão, uma posição de Erasure/Apagando o apagamento (2017)
desconforto físico e moral, serve como gesto é uma video-instalação imersiva cujas
de auto-objetificação, um momentâneo imagens são projetadas em voal branco de
transformar do corpo em cabelo-que- dimensões equivalentes ao tamanho da
esfrega, em corpo-a-serviço dos objetos, do parede da sala de projeção. No video a artista
espectador, em imagem de confronto.15 O aparece performando uma prática funeral
vídeo apresentado na Bienal 12| Porto Alegre comum na Zambia na qual pessoas enlutadas
é um documento da performance realizada cobrem-se de pó branco (chinbuyaring).
por Rezende em 2018 na Praça da Alfândega, Com a video-instalação, Kalichini procura
espaço público localizado em frente ao edifício criar um contexto para experiências de
do Memorial do Rio Grande do Sul, onde o luto e de lembraça individuais coletivas.
trabalho seria apresentado —um belo diálogo Ao mesmo tempo, a artista tenta abrir
entre o espaço expositivo e seu entorno. espaço para uma reflexão sobre perdas
pessoais, bem como sobre o apagamento
Como na série Nãovão, arquivo e
de mulheres historicamente relevantes—
desaparecimento fazem também parte
como é o caso de Alice Lenshina (1920-
da reflexão de Jota Mombaça na obra Así
1978) e Julia Chikamoneka (1910-1986),
desaparecemos (2019-2020), um vídeo em
figuras importantes na historia da luta
dois canais que ocuparia o primeiro piso do
pela independencia na Zambia no inicio
Memorial do Rio Grande do Sul. O projeto é
dos anos 1960, cujas participações não
pensado em relação a queima de arquivos
foram devidamente documentadas ou re/
históricos. No Brasil, a referência é a ordem
conhecidas. Assim, enquanto cria espaço
oficial para a queima de documentos
de ritual e luto evocando narrativas de
relacionados a escravidão por volta do ano
mulheres historicamente esquecidas, Erasing
de1890, mas também ao incêndio do Museu
Erasure serve como um gesto na direção de
Nacional no Rio de Janeiro em 2018. Um
mulheres contemporâneas, cujas histórias
dos vídeos apresenta a versão editada do
estão em processo de desaparecimento.
registro da performance de mesmo título (Así
desaparecemos) realizada durante o 45 Salón

15 Priscila Rezende, Declaração da artista compartilhada por e-mail com a autora em março de 2020.
16 A obra pública da artista Beatriz Gonzalez, Auras Anónimas é composta por 8947 lápides serigraficas em folhas de propileno com
a silhueta de carregadores levando mortos. A obra está instalada em quatro comumbarios do Cemitério Central de Bogotá.

47 BIENAL 12 CATÁLOGO
No caso da artista visual e pesquisadora de o público visitante experimentá-lo
paulistana, Renato Felinto, a reflexão tem com o corpo todo numa sala imersiva e
que ver com as memorias afetivas da artista de, quem sabe, dançar com a artista.18
em relação a alguns espaços da cidade de
if I should die, tomorrow at the
São Paulo. Na vídeo-performance Danço na
hands of the policeman,
terra em que piso (2014), Felinto dança de
and the paper say
maneira graciosa em sete espaços públicos
we’re going to call it a suicide, would
da cidade: em frente a Catedral da Sé, no Vale
you even question why?
do Anhangabaú, num terreno vazio na região
would you shake your head, and say
da Cracolândia, em frente da Estação da Luz,
the ain’t right,
na ponte Mie Ken no bairro da Liberdade, em
or do your best to forget about it,
frente ao estádio de futebol Itaquerão e num
please, please, please don’t
carrossel do parque de diversões Marisa (1974-
forget about me.
2020) em Itaquera, bairro onde a artista passou
a infância. Para cada espaço, Felinto escolheu say my name19
uma música que serve de paisagem sonora para
Minha última observação de/em gathering
sua performance, uma escolha que levou em
acontece em torno de reflexões sobre
conta a letra da música, questões de relevância
paisagem nas obras de Lorraine O’Grady, La
histórica e política e suas próprias memorias
Vaughn Belle e Gwladys Gambie, além das
sobre espaço. Numa sala imersiva na Fundação
de Lucia Laguna mencionada anteriormente.
Iberê Camargo, o vídeo em 3 canais projeta a
No trabalho em vídeo Landscape (Western
performance de cada espaço em alternância.
Hemisphere)/Pasagem (Hemisfério occidental)
Podemos acompanhar a artista dançando, por
(2010-2012), da artista estadunidense Lorraine
exemplo, o Pondo de Nanã, musica dedicada
O’Grady, a artista propõe um pensar sobre
a orixá Nanã, em frente a Catedral da Sé, ou
paisagem a partir das mechas de cachos do
dançando no Vale do Anhangabaú uma música
próprio cabelo, que se movem em diferentes
relacionada ao Kuarup —cerimônia-festa-ritual
direções ativadas pelo vento e acompanhadas
funeral de grupos indígenas do Alto Xingu.17
por uma composição sonora produzida por
Com essa associação de paisagem sonora e
canto de pássaros, barulho de grilos, cigarras
espaço, Felinto cria um corpo narrativo que
e do próprio vento. Refletindo sobre a obra,
revela as diferentes tradições que informam
pesquisador em estudos de performance
a paisagem urbana de São Paulo, cruzando e
Adrienne Edwards propõe que “[n]os
contrapondo epistemologias que geralmente
interstícios do cabelo de O’Grady, localizamos
não vão juntas. Outra intervenção importante
os resíduos da escravidão, a resiliência e
é como, dado que em alguns dos espaços
persistência dos espectros—um testamento
nos quais a artista performa negridade e
de sobrevida. Também encontramos caminhos
expropriação se entrelaçam, o` dançar da
de resistência transgressiva embutidos na
artista funciona como um gesto na direção da
altura, profundidade e expansão de suas
re-apropriação desses territórios, como uma
ondas.” Desde a menção de seus usos radicais
expansão das possibilidades de sua presença
na história da diáspora africana nas américas
(preta). Danço na terra em que piso sugere
(Whabira) até sua presença na composição
uma (re)flexão sobre território, espaço e lugar,
formal das obras (Rezende, Sanvoy e O’Grady)
reflexão que Felinto ativa com o corpo, pelo
o cabelo tem sido um elemento recorrente,
corpo, em movimento (negro), em performance
mobilizado como categoria analítica através
(preta). Embora o trabalho tenha sido produzido
da qual artistas refletem sobre escravidão,
em 2014, essa seria a primeira oportunidade
resistência e suas permanências.20

17 Ponto de Nana. Compositor: Roque Ferreira. Intérprete: Mariene de Castro, 2012; Kuarup Kamairurá, Coletiva: Grupo indígena
Kamayurá, 2012.
18 A Bienal 12 | Porto Alegre ofereceria diferentes experiências imersivas com as obras de, por exemplo, Renata Felinto, Lungiswa
Gqunta, Lidia Lisbôa, na Fundação Iberê Camargo e Juliana dos Santos, Gladys Kalichini e Lorraine O’Grady no MARGS. Eu
gosto de imaginar que tipo de reverberações e resquícios essas experiências produziriam.
19 Maimouna Youssef, Say My Name: Maimouna Youssef Music (ASCAP), 2017.
20 Adrienne Edwards, Blackness in Abstraction, “Lorraine O’Grady,” Pace, New York, 2016, pp. 173-176.

BIENAL 12 CATÁLOGO 48
Para a Bienal 12|Porto Alegre, a artista visual das artistas aciona? Como cada sentido se mostra
Ilhas Virgem, La Vaugh Belle, iria produzir uma atravessado pelas intervenções coloniais
versão do trabalho Storm (And Other Violent e suas sobrevidas?Como a obra Siboney
Interruptions Of The Pintoresco) (2016-2020). (2014) da artista Joiri Minaya complicaria
A obra original é composta por uma série de essas leituras? Na performance, cujo registro
desenhos em carvão sobre papel nos quais em vídeo seria apresentado no MARGS
a artista contrasta imagens da palmeira compartilhando espaço com as pinturas de
“sublime” presente em representações Lucia Laguna, Minaya engaja num longo,
coloniais com imagens de tempestades laborioso e detalhado trabalho de (re)construir
tropicais. Nessa versão da obra, entretanto, em mural, na parede de um museu, uma
La Vaugh Belle produziria um desenho de paisagem tropical a partir da estampa de um
grande escala feito diretamente na parede. tecido achado por ela. Em seguida, a artista
Storm propõe uma ruptura às narrativas sobre borra o mural (e a paisagem) e o transforma
o pitoresco com frequência relacionadas à esfregando seu corpo molhado contra ele, ao
paisagem do Caribe em discursos coloniais, ritmo da canção Siboney (Ernesto Lecuona,
tensionando os sentidos das ideias de 1927) interpretada por Connie Francis (1960).
fragilidade, vulnerabilidade e resistência.
As colagens de Gwladys Gambie seriam
Com uma prática em de desenho, colagens e apresentadas no Memorial do Rio Grande
performance, a artista Gwladys Gambie propõe do Sul dividindo a sala com os desenhos da
considerações sobre a mulher negra e suas série About Frictions (Sobre fricções) e About
representações tanto na Martinica, ilha onde Affections (Sobre afecções) da gravadora,
a artista vive e trabalha, quanto no Caribe arquiteta e mestre de ferramenta de santo
em geral. A paisagem do Caribe e o creole Eneida Sanches. Sanches é (re)conhecida
como parte da paisagem sonora da região como a primeira mulher a desenhar e produzir
são articulações importantes nessa reflexão. ferramentas de santo no Brasil, um importante
Esses elementos informam o imaginário da fazer ancestral que ela compartilha através de
artista e a iconografia específica que ela usa cursos e oficinas para jovens aprendizes. No
para representar, de modo decolonial, o corpo caso de Eneida, portanto, gestos e estratégias
da mulher negra—para Gambie, um espaço femininas se traduzem também em atos de
topográfico sensível, um espaço poético. Para martelar, marretar e soldar. Parte de sua
a Bienal 12| Porto Alegre, Gambie expandiu investigação sobre a gravura como im/pressão
a série de colagens The birth of Manman e seus desdobramentos, as gravuras-desenhos
Chadwon (2018). Manman Chadwon é uma (ou desenhos híbridos) apresentados na Bienal
figura de sua mitologia pessoal cuja criação 12| Porto Alegre articulam experimentações
foi inspirada em Manman Dlo, a deusa com o grafite sobre o papel, a ponta seca
do oceano na cultura Afro-Caribenha. O sobre o chumbo, e o desenho sobre o
significado da palavra Chadwon, em creole, cobre. Os desenhos da série About Frictions
também remete a ouriço do mar, uma emergem das fricções, rasgos e inserções
referência recorrente no trabalho da artista. que a artista faz sobre o metal. Em About
Affections a artista explora a ideia da imagem
Ao discutir a obra de O’Grady, Edwards
da gravura como carimbo pensada à partir
aponta também para os sentidos “múltiplos,
do corpo e suas possíveis afecções —o papel
matizados e correlatos” do termo “paisagem”.
(corpo) em sanfona ganha movimento de
“[C]omo substantivo,” ela explica, “pode
expansão e encolhimento, movimen tando,
significar gênero artístico (como na pintura de
expandindo e deslocando, também, nosso
paisagem), ou como uma topografia (como
entendimento sobre gravura e sobre desenho.
numa vista expansiva); e como verbo [em
inglês to landscape], conota o cultivo, disciplina “Pode alguém teorizar efetivamente sobre
e delineação do solo.”21 Quais são, então, os um processo em expansão?” Essas reflexões
sentidos de paisagem que cada uma dessas são frutos do meu oscilar, de minha dança

21 Idem.

49 BIENAL 12 CATÁLOGO
imperfeita e inacabada entre a pergunta de
Christian e a proposição de Da Silva, entre
tentativas de teorizar efetivamente sobre
um processo em expansão — de teorizar
como processo (sempre) em (processo de)
expansão, e de rast(r)ear, tateando no breu,
pistas da “gama de possibilidades para saber,
fazer e existir” que uma poÉtica de negridade
anunciaria. Invertendo e parafraseando a
afirmação de Christian, eu penso gathering
place, o lugar de encontro e aglomeração,
o espaço de ajuntamento, de hábitos de
assemblagem e acúmulo, como articulação de
teorias, como (lugar de) movimento (negro),
como performance (negra). Resta, entretanto,
uma última pergunta que eu quero fazer
de mim para mim mesma, bem baixinho,
sussurrando até: pode alguém teorizar (imaginar
e refletir, perambular e dançar) sem respirar?
I can’t breathe, I can’t breathe,
I can’t breathe,
I can’t
breathe.

BIENAL 12 CATÁLOGO 50
ATIVIDADES DE CUIDADO:
Trabalhos de Amor, Fúria e Luto
Dorota Biczel
Curadora Adjunta
University of Houston / Art Institute of Chicago

i. domésticos competem com as exigências do


trabalho remunerado: corrigir os malditos erros
Todo dia é preciso redescobrir tipográficos e finalizar textos e relatórios. Para
como viver.1 piorar a situação, a chatice da manutenção não
é valorizada nem social nem economicamente.
Após a revolução, quem recolherá o “A cultura confere uma péssima posição social
lixo na segunda-feira pela manhã?2 aos empregos de manutenção”, queixou-se
Laderman Ukeles, o que, em sua opinião, se
“Eu lavo, limpo, cozinho, reformo, apoio,
traduzia ou em salários-mínimos para aqueles
conservo, etc. demasiadamente”, escreveu a
contratados como zeladores ou trabalhadores
artista Mierle Laderman Ukeles in 1969.3 “Além
de serviços, ou em nenhum pagamento para
disso (até agora separadamente), eu ‘faço’ Arte”,
as donas de casa. Não é de se admirar, então,
continuou ela. Amplamente considerado um
que entre as demandas delas encaminhadas
dos textos fundamentais da arte feminista,
ao Museu do Brooklyn três anos depois, o
embora muitas vezes ignorado, a proposta
grupo de artistas negras “Where We At” tenha
dela para a exposição “Care” (Cuidado) ficou
insistido para que a instituição providenciasse
conhecida como “Manifesto pela Arte da
serviços de creche ou oficinas infantis para
Manutenção”.4 Embora não seja exatamente
que as mães pudessem frequentar as aulas.
um grito de guerra, ela se inflama com um
Elas solicitaram bolsas de estudo para
sentimento persistente de queixa. Afinal de
mulheres que trabalhavam durante o dia.5
contas, a “manutenção” – lavar, limpar, fazer
Elas também imploraram para que o Museu
compras, cozinhar, se alimentar, cuidar dos
ajudasse a garantir que as artistas pudessem
filhos, dos doentes, dos deficientes, dos idosos
obter espaços de convivência e de trabalho.
e assim por diante – “ocupa toda a porcaria
Em resumo, conforme tanto Laderman Ukeles
do tempo”, conforme Laderman Ukeles
como o grupo de artistas negras “Where We At”
zangadamente (imagino eu) escreveu sem
criticaram duramente, nos Estados Unidos da
qualquer preocupação com o decoro. A fúria
virada das décadas de 1960 e 1970, as pressões
fervilha não só porque as tarefas domésticas
de desempenhar tanto trabalho doméstico
são dolorosamente entediantes. Os afazeres
como uma carreira socialmente reconhecida,

1 Calamity Jane em Deadwood, “Tell Your God to Ready For Blood,” temporada 3, episódio 1, direção de Mark Tinker, escrito por
David Milch e Ted Mann, HBO, 11 de junho de 2006.
2 Mierle Laderman Ukeles, “Manifesto pela Arte da Manutenção”, 1969, https://queensmuseum.org/wp-content/uplo-
ads/2016/04/Ukeles-Manifesto-for-Maintenance-Art-1969.pdf.
3 Laderman Ukeles, “Manifesto pela Arte da Manutenção”.
4 Particularmente, Arte da Manutenção no Museu de Arte do Queens, organizada por Larissa Harris e cocuradora convidada
Patricia C. Phillips, foi a primeira retrospectiva institucional da artista com a idade madura de 77 anos (18 de setembro de 2016
a 19 de fevereiro de 2017). Laderman Ukeles nasceu em 1939.
5 Kay Brown, “Artistas Negras Where We At” Feminist Art Journal (abril de 1972): 25; reimpresso em We Wanted a Revolu-
tion: Black Radical Women, 1965–85: A Sourcebook, edição de Catherine Morris e Rujeko Hockley, Brooklyn, NY: Museu do
Brooklyn, 2017, pp. 62–64.

51 BIENAL 12 CATÁLOGO
especialmente do tipo capaz de estilhaçar efetivas que ela almejava revelar e criar, eu traço
telhados de vidro, eram simplesmente uma conexão entre os dois estados-nações
incompatíveis. O lar, se você tivesse um, poderia mais afetados pelo novo coronavírus. E, através
ser e ainda pode ser um abrigo semelhante da minha escrita, eu faço as distâncias
a um oásis que sustenta a vida. Ele também espaciais e temporais desmoronarem. O nosso
poderia lhe matar. E ainda pode fazer isso. atual apuro global manifesta os desafios
apresentados pelo “trabalho de manutenção”
Em meados de 2020, eu também lavo,
nas sociedades capitalistas pelos quais as
limpo, cozinho, reformo, apoio e conservo
feministas da segunda onda passaram, se
demasiadamente. De fato, nos últimos seis
identificaram e que nunca foram resolvidos.
meses, é possível que eu tenha realizado muito
Além disso, as mulheres nunca tiveram
mais trabalho de manutenção do que antes.
oportunidades realmente significativas, por
Assim que eu saí do recente purgatório da
qualquer parâmetro realista.6 E embora o
prestação de serviços e de serviços de babá
trabalho de manutenção não seja uma carga
para imigrantes, eu sustentei o meu barato
equitativamente distribuída, afligindo mulheres
trabalho acadêmico e de curadoria por delegar
negras e migrantes, para todos nós, as atuais
muitas tarefas de rotina de manutenção
circunstâncias põem em relevo mais claro
da minha vida à mão de obra mais barata
do que nunca a crise do cuidar e o associado
ainda, principalmente a mulheres negras e
aprofundamento das desigualdades.7 Os
outras mulheres migrantes. Sem filhos, em
meados de 2020 tornam claro como exige
um relacionamento, mas não legalmente
tempo e como é trabalhoso manter a vida.
amarrada por um casamento tradicional,
Eu sinto isso no meu corpo quando me
eu não prestava muita atenção aos meus
ocupo das tarefas banais que devoram as
pequenos privilégios: cafeterias americanas,
horas em que estou acordada. Sinto isso
almoços comprados em bons restaurantes,
sempre que pondero se estou com alguma
jantares e a possibilidade de curtir a vida
alergia sazonal ou apresentando sintomas de
noturna da cidade. Eu inclusive pagava para
COVID-19. Ao mesmo tempo, de forma mais
que uma pessoa fizesse uma faxina completa
lúcida do que nunca, compreendo o valor
na minha casa de vez em quando. Como
intrínseco da pequena vida que construí para
costuma acontecer, foi o fato de ser privada
mim mesma. Não quero perdê-la. E, mesmo
de privilégios que me tornou extremamente
assim, nossas vidinhas preciosas parecem não
ciente deles. O tratamento inesperado e brutal
significar nada para os parâmetros capitalistas
para salvar a vida do meu parceiro exigiu
macroeconômicos. Ou, em outras palavras,
dedicação total à preservação do seu corpo em
a economia capitalista é incompatível com a
rápida deterioração. As precauções contra a
tarefa básica de manter a vida: os cuidadores
pandemia global me privaram da possibilidade
e os profissionais considerados “essenciais”
de terceirizar as atividades de cuidado
durante a pandemia ao mesmo tempo correm
essenciais para manter a vida. Comprometida
mais risco e recebem a pior remuneração.
em manter as necessidades básicas, eu me
tornei profissionalmente inadequada. Em suma, o novo coronavírus simplesmente
torna visível e nomeável o valor indispensável
Mesmo assim, estou improvisando estas
do trabalho de cuidado e sua crise continuada
palavras de Houston, Texas, nos Estados
– o ponto crítico do paradoxo que as feministas
Unidos, onde moro, para o público da Bienal
de segunda onda pioneiras como Laderman
do Mercosul em Porto Alegre, no Brasil.
Ukeles identificaram há 50 anos. Desde seu
Independentemente da concepção original da
início, a exposição para a 12ª Bienal do Mercosul
exposição de 2020 e das redes conceituais e

6 Um retrato convincente da geração dos EUA que foi induzida ao erro de acreditar que eles “poderiam ter tudo” está pintado
na obra de Ada Calhoun intitulada Why We Can’t Sleep: Women’s New Midlife Crisis, Nova York: Grove Press, 2020.
7 No contexto dos EUA, o debate sobre o assunto tem mais de uma década. Veja, por exemplo, Nancy Fraser, “Contradictions of
Capital and Care” em New Left Review 100 (Julho/Agosto de 2016): 99–117. Em língua espanhola, veja, por exemplo, Mercedes
D’Alessandro, “La economía de los cuidados: Quién cuida y quién prepara la cena como problema social,” La Vanguardia, 9 de
outubro de 2019, https://www.lavanguardia.com/vanguardia-dossier/20191009/47872496945/feminismo-igualdad-mujeres-
-hombres-tareas-del-hogar-tareas-domesticas-baja-paternal.html.

BIENAL 12 CATÁLOGO 52
visava mapear as conexões entre os artistas continuamente o risco de exploração e
que surgiram no fim da década de 1960 e escravidão, visto que frequentemente elas
início da década de 1970 – hoje considerados trabalham como empregadas domésticas que
históricos, independentemente de suas moram no emprego sem contratos e benefícios.
atividades continuadas incansáveis – e de Para abordar isso, por volta da mesma
seus colegas contemporâneos. As posteriores época, Iguiñiz também criou pôsteres para as
gerações de mulheres negras e da comunidade campanhas de organizações de trabalhadoras
LGBTQ continuaram a lidar com as questões domésticas que articulavam suas demandas
com as quais seus antecessores se envolveram, por trabalho regulamentado e justo: jornada
lamentavlemente não sem criticar, atualizar, de oito horas de trabalho por dia, previdência
ajustar ou subverter os princípios das propostas social, bônus, folga e salário mínimo digno.8
históricas para explicar as interseções de gênero Neste sentido, Iguiñiz insiste que a situação
com classe, raça e sexualidade e as experiências das mulheres de classe média e alta não pode
de corpos diversos em não conformidade de ser comparada com a condição precária das
gênero no sistema capitalista heteropatriarcal. mulheres negras que enfrentam uma opressão
tripla na interseção entre gênero, classe e raça.
Considerem, por exemplo, a série de
Ao mesmo tempo, ao incluir um retrato de
fotografias La otra (A outra, 2001) da artista
duas mulheres que parecem irmãs (Verônica
peruana Natalia Iguiñiz. À primeira vista, os
e Norberta) – mesma altura, constituição
retratos combinados em tamanho natural de
física, postura, cabelos negros compridos e
mulheres tirados em ambientes domésticos,
ondulados, faces redondas e suaves similares,
geralmente em salas de estar, parecem indicar
e traje igualmente informal – a artista torna
as tradicionais hierarquias de classe e raça
visível o trabalho de cuidado na sociedade
no Peru: as mulheres crioulas de pele clara
imaginada como formada efetivamente apenas
são as donas de seus lares e as mulheres
por heróis masculinos: soldados, camponeses
corpulentas de pele escura dos Andes e da
e trabalhadores da indústria. São as mulheres
região amazônica, um suporte invisível relegado
invisíveis e perenemente marginalizadas que
às cozinhas e áreas de serviço que fazem essas
permitem o funcionamento desta sociedade.9
minissoberanias funcionarem como máquinas
bem lubrificadas. Neste nível, a série estabelece O interior da semente é mole.
uma hierarquia binária entre as mulheres que / Ele só pode ser conhecido
lucram e aquelas que vivem dentro do seu vivenciando-o. O que quer que isso
orçamento; entre aquelas que seguem carreiras seja. / Ainda resta descobri-lo.10
e aquelas que subsistem; entre aquelas cujas
Em uma infinidade de maneiras, o grupo
vidas podem adquirir status de celebridade e
de artistas intergeneracional incluído na 12ª
aquelas cujas vidas não importam no sistema
Bienal do Mercosul insiste em se voltar e
social. Aquelas mulheres que cuidam de bebês
retornar para questões multifacetadas de
e de animais de estimação diariamente são
manutenção e cuidado. O que é inspirador
muitas vezes duplamente marcadas como
neste conjunto de trabalho coletivo não é
as outras – obrigadas a vestir uniformes
apenas a urgência de suas queixas ou a força
para diferenciá-las clara e legivelmente das
de suas muitas indignações- contra a violência,
verdadeiras mães e famílias de sangue. Até
contra a opressão, contra o capitalismo,
recentemente fora do alcance da estrutura
contra o racismo, contra o colonialismo e o
das leis trabalhistas peruanas, elas sofrem

8 Miguel A López, “Natalia Iguiñiz en una genealogía de solidaridad y supervivencia: Arte, activismo y feminismo desde la tierra
de la misoginia” em Energías sociales / Fuerzas vitales. Natalia Iguiñiz: arte, activismo, feminismo (1994–2018), Lima: ICPNA,
2018, p. 38. A Lei nº 27986 que regulamenta o trabalho doméstico foi assinada oficialmente em junho de 2003.
9 Como Miguel A. López sugere, uma linha distinta em La otra é a crítica institucional conforme indicada pela oinclusão de
personalidades famosas do cenário de arte local tal como a galerista Claudia Polar. López, “Natalia Iguiñiz en una genealogía
de solidaridad y supervivencia,” Op. cit., p. 36.
10 Cecilia Vicuña, “The No Manifesto of Tribu No” em Manifestos and Polemics in Latin American Modern Art, edição de Patrick
Frank, Albuquerque: University of New Mexico Press, 2017, p. 206; reimpresso de Spit Temple: The Selected Performances of
Cecilia Vicuña, edição e tradução de Rosa Alcalá, Nova York: Ugly Duckling Presse, 2012, p. 58.

53 BIENAL 12 CATÁLOGO
imperialismo.11 Em vez disso, é a afirmação ou pelo “eterno retorno”. Para usar a teoria
das artistas do poder e importância das contemporânea para explicar o significado
atividades criadoras da vida e sua reivindicação inovador da Arte da Manutenção, com
para centralizar essas atividades como o sua contradistinção de desenvolvimento
ímpeto exclusivo para o nosso processo e manutenção, Laderman Ukeles chega a
de tomada de decisões. Essas atividades diagnosticar a preocupação capitalista com a
criadoras da vida abrangem todas as escalas, maximização da produção e dos lucros, por um
atravessando o falso binário do privado e lado, e a reprodução social – isto é, a ampla
do público. Assim, elas podem reconstituir variedade de atividades criadoras da vida que
nosso trabalho diário, as instituições que são o estímulo não reconhecido e subestimado
formam o nosso trabalho e todo o mundo do sistema econômico (isto é, a produção), por
onde vivemos. Podemos, assim, proclamar outro lado.13 E, como a artista prescientemente
não uma perda ou carência, mas o valor percebe, essas atividades criadoras da
intrínsico do que já possuímos, começando vida são de longo alcance, estendendo-se
com nossos próprios frágeis corpos mortais. muito além da privacidade do lar. Elas são
pessoais, gerais e planetárias, abrangendo
De fato, no “Manifesto pela Arte da
todas as dimensões e aspectos da vida e da
Manutenção!”, Laderman Ukeles confrontou um
política. Elas também exigem a reinvenção do
contra o outro dois sistemas antagônicos e dois
sistema econômico e das instituições sociais,
“instintos” de oposição que os geraram. Por
incluindo a instituição da arte, para priorizar a
um lado: o instinto da morte indo em direção
manutenção da vida – o trabalho de cuidado.
ao “desenvolvimento”, progresso e avanço.
Por outro lado: o instinto da vida preocupado Se o trabalho de cuidado contemporâneo
com a manutenção. Esses dois sistemas, como arte pode reivindicar outra mãe,
desenvolvimento e manutenção, fornecem trata-se da artista chilena Cecilia Vicuña, a
uma base firme para valores e formas de irmã quintessencial de Laderman Ukeles.
organização que estruturam a personalidade A centralidade da vida e da criação da vida,
e suas relações com os demais seres que de fato, seu controle mágico e magnético,
habitam nosso mundo e o próprio planeta. estão no âmago da obra subversiva de Vicuña
Para Laderman Ukeles, o desenvolvimento intitulada “No Manifesto of the Tribu No” que
motiva as práticas de vanguarda altamente ela escreveu em 1967, dois anos antes do texto
individualistas que exaltam a novidade e a de Laderman Ukeles. Escrito para um grupo
mudança constante – a atitude teimosa do vibrante de jovens artistas descaradamente
tipo “faça o que quiser”. Eu penso na caricatura sensuais e contestadores, incluindo Claudio
de um “gênio” heróico masculino que deve Bertoni, Sonia Jara, Francisco Rivera, Coca
tê-la atormentado quando era uma jovem Roccatagliata e Marcelo Charlín, que fizeram
artista. Por sua vez, a manutenção é orientada das ruas de Santiago o suporte para suas
coletivamente em direção ao que a artista ações e apresentações, o texto de Vicuña
chamou de sobrevivência – a perpetuação e exalta a própria vida como a única força vital
a manutenção das espécies e da terra que as significativa e como a única coisa pela qual
nutre.12 Este processo não linear, generativo vale a pena viver. “Enquanto a vida persistir
e regenerativo é caracterizado pela repetição em nossas experiências individuais, porém

11 Meus pensamentos foram perfeitamente sintetizados por Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya e Nancy Fraser em Feminism for
the 99%: A Manifesto (Londres: Verso, 2019).
12 Parafraseando quase literalmente, na parte final, “Earth Maintenace” [Manutenção da Terra], Laderman Ukeles pede a purifi-
cação dos resíduos urbanos, a despoluição do ar, a reabilitação da água e a preservação da terra.
13 Laderman Ukeles escreve: “retirem a poeira da criação individual pura, preservem o novo, mantenham a mudança, protejam o
progresso, defendam e prolonguem o avanço, renovem a empolgação”. Sobre a teoria da reprodução social, veja: Tithi Bhatta-
charaya, ed., Social Reproduction Theory: Remapping Class, Recentering Oppression, Londres: Pluto Press, 2017; Dossier: Social
Reproduction Theory, Radical Philosophy 2.04, Primavera de 2019, https://www.radicalphilosophy.com/issues/204; e Sarah
Jaffe, “Social Reproduction and the Pandemic, com Tithi Bhattacharya,” Dissent, 2 de abril de 2020, https://www.dissentma-
gazine.org/online_articles/social-reproduction-and-the-pandemic-with-tithi-bhattacharya. No contexto de arte e história da
arte, veja a edição especial do periódico Third Text 31.1 (2017), “Social Reproduction and Art,” editado por Angela Dimitrakaki &
Kirsten Lloyd. Um precedente clássico para essas recentes teorizações é o volume de Lise Vogel, Marxism and the Oppression
of Women: Toward a Unitary Theory, Rutgers University Press, 1983.

BIENAL 12 CATÁLOGO 54
unidas, nada irá nos incomodar”, ela escreve.14 e nós. Evocando as culturas pré-colombianas
A expressão “experiências individuais, dos Andes, o nome “quipu” funciona como um
porém unidas” sugere a interconexão e a cordão umbilical metafórico reconectando a
interdependência dos seres, humanos e não artista com seus ancestrais e raízes indígenas.
humanos, similar à ligação entre pessoal, No entanto, ele também propõe toda uma
geral e planetário que Laderman Ukeles cosmologia, uma visão de mundo e um sistema
explora. Quando Vicuña concebeu seu texto de valores alternativos à tradição judaico-cristã
de atitude contrária, ela já havia começado a patriarcal e logocêntrica imposta pelo assim
reunir seus minúsculos basuritos/precarios – chamado Ocidente. Vicuña imagina um quipu
assemblages íntimas formadas por materiais como um rizoma que inclui e une tudo que
e objetos encontrados, naturais e artificiais. existe. Ela escreve sobre cordões reais e fios
Eu a imagino recolhendo de forma cuidadosa imaginários: “o quipu e o ceque deram vida
e amorosa as peças e resíduos insignificantes aos vales que conectam as comunidades ao
do dia a dia e os ciclos da terra como a heroína todo, criando uma visão da terra e/ou dos
sem nome que Laderman Ukeles estava recursos como um ser vivo.”15 Para a Bienal,
implicitamente procurando. Vicuña encarna Vicuña imaginou o quipu Los Testigos / Spirit
o essencial, porém ignorado, trabalhador/ Poncho como uma testemunha contestadora
cuidador que recolhe o lixo após a revolução da destruição da região amazônica e
proverbial. Mais ainda, ela também atua do extermínio de seus povos indígenas.
como um agente alquímico que cria, a partir Incorporando materiais do ateliê da artista
do lixo, registros preciosos do cotidiano, com em Nova York e resíduos recolhidos em
todas as suas qualidades gloriosas e abjetas. diversas comunidades no Brasil, isso apresenta
uma rede planetária de responsabilidade e
Pode-se imaginá-la segurando um basurito
resistência. A sobrevivência e a reprodução
na palma da mão, agarrando-o firmemente
dizem respeito a todas as espécies e matérias.
como um punhado de pedras preciosas ou de
sementes conservadoras da vida – como as Muito já foi escrito sobre os paralelos entre
sementes que a artista implorou ao Presidente uma palavra e um fio, os escritos e os tecidos
Salvador Allende que ele pegasse e semeasse. no rico conjunto de trabalho de Vicuña que
Da mesma forma, muitas vezes em formato abrange poesia, criação de imagens em diversos
de miniatura, os livros únicos feitos à mão de meios e instalação escultural. No contexto da
Vicuña convidam os leitores/observadores a necessária abolição dos sistemas extrativos,
abrir suavemente minúsculos pergaminhos também penso em outra subversão da tradição
de tecido, sacudir diminutos pedacinhos de logocêntrica que o trabalho dela realiza: um
papel, desenredar fios delicados servindo como fio é um agente criador de vida alternativo à
vasos sanguíneos metafóricos conectando palavra generativa. Não apenas o fio e a fibra
traços de tinta ou caneta. Por sua vez, seus da artista conversam com suas tradições
“quipus” de tiras macias de lã não desfiada andinas ancestrais, mas eles também evocam
ou de sisal rígido – assim chamados por causa histórias de criação dos povos indígenas norte-
dos antigos dispositivos de registro dos incas americanos. Nessas histórias, não é a fala de
feitos de barbantes com nós – envolvem os Deus que leva o mundo a existir. Em vez disso,
corpos dos observadores como se estivessem é o fio fiado por uma mulher-aranha, que o
em um casulo, útero ou floresta. Entre os dois utiliza para tecer todas as criaturas da terra.
tamanhos e escalas, Vicuña estabelece uma Ela literalmente trabalha para criá-las através
relação recíproca entre cuidar e acariciar e ser de um ato corpóreo e material. As criações
cuidado e acariciado. Um toque concretizado dela são finitas e suscetíveis à violência: elas
estabelece relações: ele traz as obras à requerem cuidado. Recolhendo as fibras
existência e cria uma interdependência entre o fiadas por Vicuña, Laderman Ukeles e Iguiñiz,
sujeito e o objeto; entre o mundo, sua matéria no restante deste ensaio eu traço outras

14 Vicuña, “The No Manifesto of Tribu No” em Manifestos and Polemics in Latin American Modern Art, 205.
15 Cecilia Vicuña, “White/Red,” em About to Happen, Catskill, NY: Siglio Press, 2017, p. 27. Ceque é uma das 42 linhas rituais que
radiam para fora a partir do centro no templo Qorikancha em Cusco, que estabelece a rede dos locais cerimoniais dos incas.
Ver: Brian S. Bauer, The Sacred Landscape of the Inca: The Cusco Ceque System, Austin: University of Texas Press, 1998.

55 BIENAL 12 CATÁLOGO
manifestações do trabalho de cuidado e de do feminismo liberal que incentiva as
manutenção à medida que elas se relacionam mulheres a buscarem avanços profissionais
com a reprodução social, ou com a criação e cargos de liderança, Otta defende uma
da vida em geral, de diversas maneiras nas ampla solidariedade de bases como a única
obras de apenas um punhado dos artistas que plataforma viável para a luta das mulheres.
convidamos para a Bienal. Assim, este texto não
O que é mais importante, talvez, é que seus
compõe um tecido inteiro. Em vez disso, ele é
coloridos cartazes de protesto são bordados
uma urdidura para que você crie o seu próprio.
com citações de algumas das mais notáveis
poetisas peruanas de diversas gerações tais
como Blanca Varela, Carmen Ollé e Montserrat
Álvarez, que ecoam como slogans de fúria,
II. denúncia e autoafirmação. Contra a voz autoral
paternalista, Montserrat II afirma que a história
Quebre um osso para comer a medula de uma mulher não pode ser contada por
e invente um instrumento.16 nenhuma outra pessoa que não seja ela mesma.
O fato de que vir a existir no mundo não é “Não permita que eles escrevam / seu medo,
simplesmente o gesto de uma individualidade seu fim, sua queda / Não permita que eles
desincorporada ressoa profundamente na escrevam isso”, ela adverte.17 Carmen devolve
série de Eliana Otta intitulada Women’s Words a luta pela palavra ao corpo e fala com as
(Palavras de Mulheres, 2017). No contexto marcas profundas que as batalhas diárias pela
do machismo e da violência que permeiam sobrevivência entalham na carne: “Hoje você
a vida política, social e cultural do seu país perde um dente / amanhã um ovário / Como
natal, o Peru, Otta insiste na questão feminista esconder a cicatriz de um parto cesáreo?”18
quintessencial que nos últimos cinquenta anos A pergunta é, obviamente, retórica, visto
não perdeu sua urgência: “Como uma mulher que pede o impossível. Com suas constantes
pode reivindicar sua voz na esfera pública?” evocações do corpo e da fisiologia, as palavras
Sua série reúne um vídeo de entrevistas com das mulheres são violentas e insistem que
políticos e músicos veteranos mais velhos mesmo as pequenas lutas cotidianas não são
que relatam as histórias de suas próprias apenas psicológicas, intelectuais ou até mesmo
inserções no cenário peruano e as bandeiras ideológicas, mas inerentemente encarnadas –
fabricadas com lonas de plástico e tecidos como as complexas extensões emaranhadas do
domésticos. Como ferramentas para uma fio que escreve as histórias das protagonistas.
manifestação política, as bandeiras de Otta Aqui, também, o contexto é tudo. O projeto
trazem a público (seja numa galeria ou na rua) de Otta explora a onda de protestos por toda
panos de prato e de limpeza como substitutos a América Latina, que sob o clamor “Ni una
para o “artesanato” e o trabalho doméstico que menos” vinha varrendo o continente desde
haviam constituído historicamente o campo 2015.19 Mesmo assim, a série Women’s Words
para a autoexpressão e criatividade femininas nos faz lembrar as atuais mobilizações que
confinadas à esfera privada. Escorados em se aproveitaram dos benefícios e frustrações
postes fincados na variedade de calçados das gerações anteriores de porta-vozes e
usados, obtidos de amigos da artista, (na versão ativistas – o coro que se estende no tempo e
original da instalação em Lima), eles fazem no espaço. Mais ainda, nunca houve e nunca
referência às camadas do suporte necessário haverá essa tal de “luta menor” enquanto
tanto para a ação individual quanto coletiva. o simples fato de ser mulher ou um ser em
Qualquer voz singular depende de e faz não conformidade de gênero puder levar
parte de um coro. Contra o excepcionalismo alguém a ser tratado com brutalidade ou

16 Elaina Otta, Women’s Words, Montserrat I, 2017.


17 No les permitas escribir / tu miedo, tu final, tu caída / no les permitas escribir eso.
18 Hoy se pierde un diente / mañana un ovario / como hay que disimular una cicatriz de cesárea?
19 Perto da ocasião da exposição de Otta em Lima, Andrea Giunta, Luis Vargas Santiago e eu reunimos reflexões sobre violência
com base em gênero e #NiUnaMenos no dossiê “Descolonizaciones inciertas II: #NiUnaMenos/Descolonizações Incertas II:
#NiUnaMenos”, arteBA 4, Janeiro/Junho de 2017, pp. 100–111.

BIENAL 12 CATÁLOGO 56
assassinado (e independentemente dos A fibra pode puxar o privado para o público,
privilégios de classe ou pele clara). Há sangue desvendando uma entidade oculta em uma
no seu pão de cada dia mesmo que você não extensão secundária – como faz na obra
veja, insiste Otta com Montsserat Álvarez.20 de Otta. Ela também pode trançar diversas
entidades em uma rede interdependente.
A luta entre o que e quem tem e não tem
Assim como Vicuña, a fabricante de tecidos
permissão para ser visto e ouvido, e onde,
boliviana Sandra de Berduccy, conhecida como
também é uma constante na prática de Juliana
Aruma, entrelaça o passado e o futuro; criaturas
Vidal, natural da cidade de Cuenca (nascida
humanas e não humanas.21 Como Otta e outros,
Tania Marcela Vidal Barrera). Como uma perita
ela também aprendeu com suas ancestrais:
forense, ela vem recolhendo, catalogando
sua avó e as mestras tecelãs indígenas da
e exibindo diversos vestígios de corpos
área de Potosí que agora são suas vizinhas
humanos: pequenos umbigos parecidos com
na seca floresta ancestral nos arredores de
rosquinhas moldados em gesso, vulvas brancas
Cochabamba onde todas elas habitam. Aruma
e lustrosas desabrochando dos centros de
utiliza técnicas e ferramentas andinas antigas,
pratos de cerâmica, e os moldes de cicatrizes
como um osso de lhama que ela usa para
revestindo paredes imaculadas de galerias
empurrar a trama para baixo. Especificamente,
como fungos quase imperceptíveis. Os meios
ela utiliza um tear portátil que conecta seu
indexicais que ela utiliza – fotografia analógica
corpo às árvores enquanto trabalha, unindo-a
e várias formas de fundição escultural com
ao meio ambiente. Seu processo depende do
base nas impressões do corpo – insistem no
próspero ecossistema que cerca sua casa. De
caráter real de seus registros. Para a Bienal
fato, a floresta é o seu suporte, servindo de
de 2020, Vidal planejou uma variação em
ateliê, laboratório e galeria. A terra é a fonte
relação à sua instalação de 2017 intitulada
de tintas derivadas de plantas e insetos e das
Índices de resistencia (Sinais de resistência).
fibras naturais que Aruma tece em seus tecidos,
Formada por mais de cem tijolos de barro
instalações, apresentações e obras interativas
produzidos artesanalmente, sua estrutura
em imagens imóveis e em movimento. Na
carrega as marcas do próprio corpo da artista.
verdade, para ela, fios de fibra óptica e
Nas superfícies com crostas e enlameadas,
condutores, sensores de cor e movimento,
palmas abertas e solas dos pés como rastros
luzes de LED e alto-falantes servem como
numa praia são entremeados com orifícios
extensões óbvias de tecnologias antigas.
perfurados com os dedos do pé e punhos
cerrados: a matéria em confronto contra um Entrelaçando o novo e o velho, seus tecidos
ser vivo. Como os corpos insinuados na obra servem como canais de energia entre diferentes
de Otta intitulada Women’s Words (Palavras formas de vida: entre plantas, animais e
de Mulheres), o dela é também uma entidade humanos. Os tecidos dela captam bioenergia
agressiva, sugerindo uma luta compartilhada. da flora e fauna nativas: ayrampo cactus, por
É o corpo de uma mulher afirmando sua exemplo. No entanto, eles também extraem
presença no espaço público, reivindicando a energia dos corpos humanos e animais que
autonomia ao marcar seu território. Através da os ativam com seus movimentos, sons ou
alusão às práticas arquitetônicas vernaculares, ambos. Assim, cada um dos tecidos de Aruma
na escolha de Vidal do material, este também constitui um meio de transmissão e um lugar
é um corpo implicitamente classificado e específico de troca entre as espécies. Desta
determinado por meio da raça de um mestiço forma, eles simbolizam a ética da reciprocidade
ou indivíduo indígena. Finalmente, esse corpo e interdependência dos povos indígenas de
é antigo, séculos mais velho do que a própria Abya Yala. A criação da vida e o cuidado dizem
artista, intimamente familiarizado com a terra. ou devem dizer a respeito à todas as criaturas.
Integradas em um mundo e entrelaçadas, as

20 Montserrat III diz: “Porque você não vê o sangue na massa do pão do café da manhã”.
21 Para mais detalhes sobre a obra de Berduccy, veja: Valentina Montero Peña, “El telar como máquina sensorial y de pen-
samiento. La investigación artística de aruma—Sandra De Berduccy,” Artnodes 25, 2020, pp. 1-9; http://doi.org/10.7238/a.
v0i25.3277.

57 BIENAL 12 CATÁLOGO
espécies dão exatamente tanto quanto podem criação da vida ameaçadas pelo desejo de lucro
e recebem exatamente o que precisam para desembaraçado. Para voltar às palavras de
garantir a sobrevivência e o desenvolvimento Laderman Ukeles, Condé e Beveridge expõem
de todos. Os seres humanos não devem estar a guerra entre manutenção e desenvolvimento
isentos desta regra. Para Aruma, está em jogo, – isto é, entre princípios contraditórios que
da mesma forma, a preservação de seres geram a reprodução social e o capitalismo.
nativos não humanos e do conhecimento Com a franqueza que pode ferir no momento
rural que deriva do passado pré-colonial. atual, em sua obra de 2009 do mesmo título,
eles identificaram o capitalismo como a peste.
A luta pela sobrevivência e pela vida anima
as cenas de fotocolagem da dupla canadense De fato, os danos do capitalismo são um tema
formada por Carol Condé e Karl Beveridge. recorrente na fotografia documental dos
Uma ativista indígena de Cochabamba, que artistas canadenses com engajamento político
eu imagino que poderia ser um dos vizinhos e social realizada ao longo de quatro décadas.
de Aruma falantes do idioma quéchua, é o Condé e Beveridge vêm os interrogando
personagem central de The Fall of Water [A através da colaboração com uma ampla gama
Queda da Água] (2006–07). A obra redefine de trabalhadores de manutenção: mulheres
uma das obras-primas da Renascença do da classe operária, profissionais da saúde,
Norte da Europa, a pintura chamada Queda zeladores escolares e trabalhadores rurais
dos Anjos Rebeldes (1562), de Peter Bruegel migrantes, entre muitos outros. Para isso, eles
o Velho, para apresentar uma alegoria do revelam quão intimamente a justiça social
conflito global entre os defensores da água e está relacionada com a manutenção da vida
os abusadores da água como a batalha perene e com seu valor. Ao relacionar o trabalho
entre o bem e o mal. A cholita lutando contra de cuidado com a narração de histórias, a
a privatização da água substitui o principal série em quatro partes intitulada Stories
guerreiro do Deus cristão, o Arcanjo Miguel. [Histórias] (2016) aborda uma das formas
Em vez da capa azul dele, o aguayo (tecido mais delicadas de trabalho de cuidado nas
multicolorido) dela ondeia sobre uma massa de assim chamadas nações desenvolvidas – o ato
mercenários corporativos grotescos. Ela não é de cuidar dos idosos – e o papel dos idosos
um ser sagrado celestial imortal, mas sim uma na sociedade contemporânea. Analisando
habitante mortal e finita enraizada nos ciclos da cenários distintos, desde a comunidade, por
vida terrestre. Ladeada por uma indiana vestida meio de uma família nuclear e uma clínica
de sári à sua esquerda e por um ambientalista geriátrica, até o monitoramento remoto de
canadense à sua direita, ela prepara a ofensiva pacientes, a série registra quatro modos de
contra os agressores monstruosos, incentivada narração de histórias: sabedoria ancestral
pelos ativistas de várias outras culturas compartilhada, uma voz autoral didática de
que pairam no céu azul lá no alto. Condé e um artista, um anúncio publicitário feito por
Beveridge assim apontam para outra rede celebridades, e uma ferramenta de controle
de solidariedade centrada na preservação da incorporada às tecnologias de vigilância e
vida que conecta os movimentos indígenas monitoramento. Com a relegação do cuidado
globais e seus aliados. Com logotipos familiares a trabalhadores negros e migrantes mal
espalhados pela composição bem como remunerados, os idosos perdem seu status
objetos curiosos artificiais e originais de como repositórios vitais de conhecimento
Breugel, Condé e Beveridge citam por nome e como pilares de suas comunidades e se
os abusadores da água inequivocamente: as transformam em receptáculos ocos da mídia
empresas transnacionais que tratam como e da indústria farmacêutica. Visto que os
mercadoria o recurso precioso, a indústria protagonistas de Condé e Beveridge têm a
petroquímica, o Banco Mundial, o Fundo opinião final em criar suas representações nas
Monetário Internacional, a polícia e as forças fotocolagens meticulosamente orquestradas
armadas. Rivalizando com a agitação e da dupla, eles modulam seus personagens
complexidade da fonte, The Fall of Water é com desejos e anseios. Basicamente, a
igualmente inequívoca em sua mensagem. Em luta pelas histórias, assim como a luta pela
seu âmago está a luta pela fonte da vida e pela terra e pela água, é a luta em comum.

BIENAL 12 CATÁLOGO 58
As Stories [Histórias] de Condé e Beveridge riqueza da Europa foi extraída dos corpos dos
examinam as vicissitudes do cuidado sob povos escravizados e subjugados. As formas de
o regime capitalista no crepúsculo da vida. opressão são sofisticadas e às vezes parecem
Em sua cartilha intitulada ABC of Racist Europe infinitas. No entanto, como Ortiz afirma, o
(O ABC da Europa Racista, 2017), a artista empoderamento supera a exploração. Legal
peruana Daniela Ortiz estende as implicações não significa legítimo. Os migrantes rejeitarão
do cuidado da infância para a educação. Sua regimes neocoloniais. Seus wawas corajosos e
noção de ensino fundamental, no entanto, combativos carregarão a bandeira do wiphala
ultrapassa em muito a compreensão do (povo indígena da Região Central dos Andes).
alfabeto e da ortografia básica. Em vez disso, Assim, o livro de Ortiz reivindica o direito
a artista insiste que desde o início a educação indelével da mãe ao cuidado insurgente para
deve formar e conscientizar. Ela deve ser seu filho, adequado às maneiras em que
emancipatória e antirracista. Desde que ela tanto ela quanto seu wawa estão atados ao
migrou para Barcelona há mais de dez anos, sistema de morte e unidos às comunidades
Ortiz preparou sua prática multifacetada para de cuidado. Contra a necropolítica do
refletir sobre e criticar sua experiência como Reino da Espanha, Ortiz argumenta a favor
uma súdita racializada do antigo Império do direito das famílias migrantes a uma
Espanhol. Em sua obra, variando desde ações vida autônoma e a um lar seguro e estável
no espaço público a esculturas de cerâmica, onde quer que elas sonhem construí-lo.
placas decorativas pintadas e murais, ela
O lar, tanto físico quanto imaginário, como uma
fez uma crítica incontrita da persistência
plataforma necessária à vida, reúne alguns
do projeto colonial da Europa Ocidental
dos mais emocionantes projetos da artista
intimamente ligado à expansão global do
judaico-guatemalteca, sediada em Nova York,
capitalismo. Ambos são evidentes hoje nas leis
Jessica Kairé. Muitas vezes, a artista aborda
de imigração da União Europeia e em várias
a crítica das feministas da segunda onda dos
formas de opressão dos migrantes tanto em
supostos confortos da domesticidade e a
nível institucional quanto cotidiano. Nesse
atualiza para o contexto político volátil de seu
sentido, as obras de Ortiz ressoam com a
país natal e suas repercussões para a diáspora
fotografia dialógica de Condé e Beveridge
guatemalteca. Utilizando a linguagem contrária
focada na exploração e expropriação
à autoridade estabelecida desenvolvida no final
premeditada e sistêmica dos migrantes/
das décadas de 1960 e 1970, Kairé mobilizou a
nômades do assim chamado Sul Global.
participação pública e frequentemente recorreu
Uma cartilha, ferramenta para alfabetização aos alimentos, aos tecidos e a outros materiais
amplamente difundida, o ABC da Europa normalmente associados ao artesanato e ao
Racista também explora a experiência da trabalho das mulheres para comentar sobre
artista como mãe solteira racializada de um as seguranças e inseguranças da identidade,
wawa (bebê) de três anos de idade para de pertencer a e de viver em uma pele
condenar publicamente as diversas formas específica do gênero feminino. A série de vídeos
de perseguição que as crianças migrantes instrutivos e simpáticos intitulada Such is Life in
e suas famílias encontram e para fazer um the Tropics [Assim é a Vida nos Trópicos] (2012)
apelo feroz contra elas. As declarações de e a série relacionada de workshops televisivos
Ortiz adornadas com colagens coloridas são se apropriam de e invertem a premissa do
sucintas e claras, mantendo a sintaxe simples vídeo feminista fundamental de Martha Rosler
de uma cartilha. As barreiras impedem os intitulado Semiotics of the Kitchen [Semiótica da
migrantes de cruzar as fronteiras, obrigando-os Cozinha] (1975) para o contexto da Guatemala
a se esconder em barcos e ônibus. A Agência contemporânea. Quarenta anos atrás, Rosler
Europeia de Fronteiras e de Guarda Costeira se apropriou do formato de um programa de
(FRONTEX) destrói a liberdade das pessoas culinária e transformou a afável figura televisiva
e separa famílias. A polícia protege os de Julia Child em uma jovem dona de casa à
privilégios das pessoas que têm passaportes beira de uma rebelião. Para criticar o caráter
europeus. Os serviços sociais criminalizam opressor da saudável domesticidade burguesa
a maternidade das mulheres migrantes. A e o trabalho de manutenção invisível, sua

59 BIENAL 12 CATÁLOGO
protagonista demonstrou habilmente que de pelúcia da série CONFORTO poderiam
qualquer utensílio de cozinha familiar pode se ser abraçadas como brinquedos de pelúcia.
tornar mortal. Por sua vez, Kairé não mostra A artista encara sua tarefa como a metamorfose
nada da agressão reprimida de Rosler mesmo dos lugares específicos da violência em espaços
enquanto ela instrui seus telespectadores sobre e meios de sociabilidade. Ela insiste que a
como criar, passo a passo, armas funcionais verdadeira justiça deve ser restauradora e
para defesa pessoal do tipo faça você mesmo. transformadora – um trabalho de cuidado
em vez de acusação e repressão.23
No entanto, as armas dela não são armas
comuns. Elas são tão “exóticas” quanto as Implicitamente, então, Kairé implora para
frutas e verduras sazonais disponíveis em que nós reimaginemos o mundo e as relações
qualquer cozinha guatemalteca – bananas, dentro dele de acordo com novos termos. Na
iúcas e kiwano (melão com pontas) – a partir sociedade assolada por infinitas formas de
das quais elas podem ser inventivamente violência, reconhecer e identificar o cuidado
apanhadas por impulso. Uma clava, que pode e a própria vida como o princípio central
ser montada para empalar uma fruta dura cheia sobre o qual fazer uma convivência individual,
de pontas em uma raiz pontiaguda, remonta coletiva e planetária é um ato radical. É tão
às antigas cavernas. Uma “estrela ninja” radical e necessário quanto as queixas de
vem do Japão. Os nunchakus, ou chakus de Laderman Ukeles e quanto os gritos de deleite
banana, como Kairé os chama carinhosamente, de Vicuña cinco décadas atrás. E isso ainda
foram inspirados no filme Operação Dragão será igualmente radical e necessário daqui
de Bruce Lee. Como o dedicado instrutor a cinco décadas. Neste contexto, penso na
no vídeo promete, apenas o fato de vê-las obra de Zorka Wollny intitulada Impossible
já pode dissuadir potenciais invasores e Opera [Ópera Impossível] (Unmögliche Oper,
emergências. Por outro lado, Kairé comenta, 2017) como um clarão que incita o passado
assim, sobre a violência generalizada que e ilumina o futuro. Originalmente realizada
permeia as ruas da Guatemala e que ameaça como uma apresentação ao vivo de 40 minutos
os supostos portos seguros dos espaços em Oldemburg, na Alemanha, a obra faz uso
privados e que afeta as mulheres de modo de expressões da apresentação teatral, da
desproporcional. Conforme Pilar Tompkins composição musical e da livre improvisação
Rivas observou, a artista “situa sua posição para encenar uma busca por uma voz autônoma
feminista não em contradição ao trabalho e linguagem própria. Como outros projetos
das mulheres na cozinha, mas em harmonia de Wollny, ela reúne profissionais da arte e
com ele, à medida que os itens de cozinha se membros da comunidade. Em certo sentido,
tornam um meio de empoderamento para as por engajar e mobilizar indivíduos comuns
mulheres que vivem em … condições nacionais como artistas, Wollny evoca o espírito do
instáveis.”22 Por outro lado, no entanto, ao Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, e seu
escarnecer com orgulho dos estereótipos ideário do ensaio para revolução social. A Ópera
do exotismo, inclusive do gênero musical Impossível combina elementos de uma rotina
salsa, Kairé também parece ridicularizar a de repetição e de sons principalmente não
percepção dos EUA sobre a América Central verbais. Som e movimento são estruturados
como um lugar inerente e irreparavelmente como uma série de repetições organizadas por
perigoso. Basicamente, ela tanto critica a chamadas de atenção e assobios, entremeando
violência como se recusa a se submeter ao o ruído de murmúrios, zunidos, sibilos e
medo. No fim, uma vez desnecessárias, suas arquejos coletivos, respiração pesada e cantos
armas podem ser consumidas com prazer com solos operísticos e percussão. A maioria
voraz, aumentando a saúde e o relaxamento das vozes é abstrata e ininteligível. A partir
do sobrevivente. Suas esculturas macias dos fluxos e refluxos do som, surgem ecos

22 Pilar Tompkins Rivas, “Establishing and Destabilizing Notions of Home in the Americas,” em Home—So Different, So Appealing,
edição de Chon A. Noriega, Mari Carmen Ramírez e Pilar Tompkins Rivas, Los Angeles, UCLA Chicano Studies Center Press,
2017, p. 114.
23 Veja a declaração do projeto de Kairé em seu site: https://www.jessicakaire.com/such-is-life-in-the-tropics

BIENAL 12 CATÁLOGO 60
de movimentos sociais em três expressões O problema na leitura simples do projeto
essenciais: “voz para todos”, “renda básica de Wollny me obriga a perguntar sobre
garantida” e “este é o aspecto da democracia”. o lugar e espaço do luto tanto na prática
artística quanto na vida pública em geral,
A apresentação de Wollny atesta a
especialmente agora. Embora a indignação seja
importância duradoura de encontrar uma
celebrada como um propuslor da mudança
voz tanto individual quanto coletiva na
ou condenada publicamente como um sinal
busca pelo bem comum. Vozes encarnadas
de destruição, poucos parecem reconhecer
que habitam e reivindicam o espaço físico
a realidade e o trabalho essencial do luto.
concreto são as principais ferramentas
Adotamos a indignação porque ela ajuda a
que estruturam e moldam o debate na
construir uma narrativa e a fazê-la avançar.
esfera pública e na vida em comum.
Quer ela seja produtiva ou destrutiva, a ira
Celebrando a oportunidade do protesto, a obra projeta um futuro. Independentemente de
Ópera Impossível de Wollny conclui com uma ser revolucionária, utópica ou apocalíptica, ela
sequência que, no entanto, complica minha permite a existência de um futuro. O luto, na
leitura festiva e otimista. Essa sequência se melhor das hipóteses, é um estado a suplantar:
relaciona fortemente com o momento em espera-se que nós o superemos. Na pior das
que estou escrevendo, pensando nas formas hipóteses, ele anuncia retornos eternos: um
como os significados de muitos projetos se ciclo sem fim de perdas irreparáveis. Mas
transformaram e se consolidaram no tempo o que mais se considerarmos o tempo não
que parece suspenso (pela pandemia) e agitado como um rio, mas sim como um lago?24
ao mesmo tempo (por protestos). A estrutura
A aparente incompletude e impossibilidade da
ordenada do movimento de seus corpos
ópera de Wollny também sugere que, uma vez
sonoros é repentinamente perturbada quando
encontradas, a voz e a linguagem não são dadas
a câmera dá um zoom de aproximação em um
para sempre nem para todos. Em vez disso,
homem arrastando um corpo sem firmeza
elas devem ser exercidas continuamente. Elas
ao longo do perímetro do espaço delimitado
devem ser mantidas – com esforço, atenção e
para a ação. Logo depois, uma mulher corre
muito cuidado. Apenas a prática árdua invisível
para o quintal chorando e lamentando,
faz com que uma apresentação virtuosística
balançando seus braços freneticamente acima
pareça fácil e espontânea. No final, contudo, a
de sua cabeça como se estivesse implorando
prática depende da respiração, uma daquelas
para que os artistas parassem ou fizessem
funções fisiológicas básicas das quais raramente
algo. Embora não esteja claro o que ela está
temos consciência. Esquecemos da respiração
pedindo, a urgência de seus gestos sugere
até que ela nos falte, nos sufocando ou sendo
que isso importa. A obra Ópera Impossível
sufocados. Esquecemos como o corpo funciona
termina com a chegada de uma ambulância
para cuidar de nós 24 horas por dia e 7 dias por
que faz com que os artisats e, finalmente, o
semana. O que nós fazemos para cuidar do
solista solitário se dispersem. Os sinos que
corpo – do nosso e dos outros? Exigir todos os
assinalaram o início da apresentação marcam
tipos de abolições, começando com a polícia e
o seu fim. Assim que o veículo vai embora
as patrulhas de fronteira, e seguir com museus
e sua sirene cessa, tudo acaba. Pode-se até
(talvez), o presente infinito – o lago – nos
dizer que não há conclusão. De qualquer
chame a repensar o trabalho, a manutenção e
maneira, a promessa ou o potencial do coro
o cuidado outra vez. E se a ambição suprema
não foram realizados. Nós, o povo, ainda
for cozinhar, limpar e respirar? E se nós não
estamos ensaiando e continuaremos a ensaiar.
precisássemos compreender mais nada?

***
Houston, Texas, agosto de 2020

24 Este é o ensinamento de Robin Wall Kimmerer, Braiding Sweetgrass: Indigenous Wisdom, Scientific Knowledge and the Tea-
chings of Plants, Londres: Penguin Books, 2020.

61 BIENAL 12 CATÁLOGO
Ensaio sobre o provisório ou
a insistência em estar junto:
Programa Educativo Bienal 12
Igor Simões
Curador Educativo
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul

Qualquer escrito, em nossos dias, está tramado o lugar do curador a partir da educação? Era
na incerteza. Não há espaço para afirmações. importante manter os vínculos que vinham
Pelo contrário, se impõe a todes que pensam, da minha experiência como pesquisador e
escrevem, criam, uma dança constante com docente. Assim, temas como a racialização
a interrogação. Que mundos são esses que se e escritas insubmissas de histórias da arte; a
atravessam diante de nós e solapam toda e exposição como montagem; e a experiência
qualquer noção do que era viver? Esse escrito docente com uma não hierarquização entre
aqui não é uma exceção. Ele é escrito em as narrativas da história da arte e aquelas que
um tempo onde todas as coisas acontecem. se constroem a partir da prática educativa,
O mundo sucumbe, a morte secular de corpos serviram como lugar de pensamento.
negros provoca levantes e quedas de marcos
O que agora, enquanto tudo ainda se desdobra,
coloniais e racistas nos EUA e na Europa,
posso reunir são as anotações do percurso
enquanto balançam em outras partes do
muito mais do que a avaliação dos seus efeitos.
mundo. A vida do país está tomada por uma
Esse é um texto de partidas e não de chegadas.
infinda e dolorosa noite entre a doença e as
mazelas de um governo que ressoa toda a Havia, em meio a tudo de se escolher um ponto
dívida não paga pela história assimétrica do de partida. Esse ponto, quando visto desde
Brasil. A arte, lugar de onde falo, foi tomada e a educação e da arte, nunca pode ser neutro.
confrontada em suas bases contemporâneas, Não há neutralidade possível em um programa
em suas dinâmicas de funcionamento e a educativo. Não há neutralidade possível em
obsolescência de suas formas de existir. uma mostra. Não há neutralidade. As escolhas
de uma mostra, a sua seleção de artistas, as
Foi desde aqui, do Sul do Mundo ao Sul
suas narrativas, as vozes que ecoam por suas
do Brasil, que se instaura a vontade e a
elaborações, não permitem imparcialidade.
realização de uma mostra que escolhe
política e esteticamente a noção diversa de Tomar uma posição significou, nessa
Femininos. Feminino(s): Visualidades, Ações edição, situar o educativo no necessário
e Afetos são o rumo da escolha de artistas lugar de usina de pensamentos. Para
de diferentes lugares, desde as Américas tanto, é necessário que se compreenda o
insubmissas até as Europas revistas para além educativo não como o lugar de ilustração
do binário e olhando para a multiplicidade do pensamento curatorial e institucional,
contemporânea das formas de existência. mas como uma dimensão inseparável do
ato de pensar e erigir uma exposição.
Aqui, desde onde penso e luto com as palavras,
cabia a mim pensar uma curadoria educativa Os programas educativos, quando
ao Sul. Ao Sul dos conceitos e das noções, ao empoderados pelas instituições, o que
Sul do gênero e da Raça, ao Sul do Brasil. Por poucas vezes acontece, podem ser o lugar
onde caminhar e o que mover quando se toma de um trânsito muito intenso dos eixos

BIENAL 12 CATÁLOGO 62
conceituais que, em sua imensa trama de aconteceu a partir do convite realizado
poderes, constitui uma mostra. No entanto, pela professora, pesquisadora e curadora
pode se afirmar que diante dos inúmeros geral da Bienal 12, Andrea Giunta.
cortes institucionais durante a pandemia e
Se retomo aqui esses elementos, o faço para
mesmo antes, esses costumam ser os setores
demostrar a instabilidade do educativo que o
mais fragilizados, com contínuos cortes de
habita na mesma proporção à sua importância.
pessoal e consequente descontinuidade
São muitos os acordos necessários para
de ações que, como toda a dimensão
que, de fato, uma ação educativa possa se
educativa, só se forjam ao longo do tempo.
colocar como lugar de questionamento.
A escolha, nesta edição, pelo uso do termo
O programa educativo é na dinâmica de uma
curadoria educativa foi uma dessas estratégias.
exposição o lugar da desconfiança. Explico: ao
Aqui, para além dos debates que cercam
educativo, cabe desconfiar do que está dado
os termos que nomeiam a ação educativa,
como pronto, desconfiar das prerrogativas
estava em jogo negociar com a instituição a
institucionais, desconfiar da ideia das obras
centralidade do programa no pensamento
isoladas e seus contextos, e mesmo dos
curatorial. Usar o termo curadoria educativa,
possíveis trânsitos e espaços construídos no
nesta edição, foi a forma de reforçar que o
encontro de diferentes proposições. O que
educativo não está depois, ele está junto. Ele
quero afirmar aqui é, de um lado o papel
auxilia a forjar as áreas de trânsito infindo
distante das certezas que está conferido ao
de uma mostra. Não cabe aqui dissimular
educativo e, ao mesmo tempo, a necessidade
o fato de que há uma questão sistêmica.
de que se possa garantir essa possibilidade
Tratou-se de jogar com a hierarquização
de ação. Isso só se torna possível, quando
da posição curatorial para, a partir de tal,
no desenho institucional, criam-se as
reivindicar posições que o educativo sem o
condições para tal. É necessário, nos parece
termo curadoria parece nem sempre conseguir
ao educativo, abalar certezas, sabotar o que
atingir. Se a curadoria recorrentemente
pode surgir pronto e bem acabado, para
é entendida como o lugar de criação das
encontrar formas de voltar aos trabalhos, às
mostras, usar o termo curadoria educativa
mostras, às narrativas expositivas, com olhos
é situar o educativo a partir desse lugar e,
prenhes de novidades. Pensamentos não
consequentemente, lidar de forma direta com
previstos. O educativo tem sido, no cenário das
as expectativas e enquadramentos sistêmicos.
instituições que reconhecem sua centralidade,
Também há de se considerar que a Bienal 12 o novo espaço de uma crítica institucional
acontece a partir de uma Fundação a qual, contemporânea. Isso, desde que a instituição
ao longo dos anos, demonstrou que uma das esteja disposta a se confrontar com aquilo
forças principais das suas Bienais estava na que surge dos seus setores de educação.
centralidade do programa educativo. Havia
no uso do termo curadoria educativa um As experiências dos
esforço para falar à memória dessa instituição outres como caminho
que ajuda a forjar essa expressão, a partir
do trabalho de Luis Camnitzer quando na 6ª Outro fato relevante dessa etapa do nosso
edição da Bienal, no ano de 2007. O trabalho trabalho esteve em buscar pares constantes
da professora, pesquisadora e curadora nas experiências educativas de instituições
Monica Hoff, até a 9ª edição foi, de maneira locais. Uma das primeiras ações foi realizada
incontestável, uma contribuição para a firmar no Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado
a importância do programa educativo. Era a Malagoli – MARGS, a partir de um encontro
essa instituição, a qual possui esse registro, com os setores educativos dos museus e
que era preciso relembrar o lugar do educativo demais aparelhos culturais da cidade de
no caráter de construtor das suas mostras. Porto Alegre. Era preciso encontrar os seus
pares. Não se tece um programa sozinho,
Para tanto, foi indispensável encontrar
principalmente quando se fala da experiência
amparo na mesma compreensão por parte
de uma Bienal que contribuiu em grande parte
dos demais curadores, o que nessa edição
para as experiências de mediação e educação

63 BIENAL 12 CATÁLOGO
no cenário de origem da mostra, a capital capacidades de inventar outras possibilidades
gaúcha. Mais uma vez se ressalta: fazer um de mundos nos quais queremos existir.
programa educativo significa, em larga, medida
O primeiro lugar que ecoa essas vozes veio
estar junto. Ainda nessa direção, era preciso
da literatura. Há muito tempo que há um
que um dos principais públicos dos programas
aprendizado sobre as coisas que se dá a
educativos estivesse representado. Como
partir daquilo que a literatura nos informa.
pode ser possível pensar uma ação educativa
que não esteja constantemente informada das A imagem catalisadora das ações do
vozes das professoras e professores? Outra programa educativo é devedora das
estratégia adotada aqui foi a chamada pública palavras da escritora brasileira Ana Maria
para docentes, estudantes de licenciaturas e Gonçalves e do seu incontornável romance
mediadores que foram convidados a um debate Um defeito de Cor de onde aprendemos a
público sobre as dimensões de um programa pensar os Brasis e suas gentes a partir das
educativo e suas prioridades, quando pensados estratégias de vida da sua Kehinde. Antes
os protagonismos dos docentes de escolas e de tudo havia Kehinde. Em cada ação, em
universidades, bem como dos educadores das cada novo agrupamento, havia Kehinde.
instituições culturais. A partir de uma longa Kehinde diante do espelho descobrindo a
reunião, os próprios escolheram entre si os si. Kehinde inventando vida. Kehinde.
representantes que viriam a formar a Câmara
de professores da Bienal 12. Um grupo de O programa educativo
educadores que acompanhou todas as ações precisa tomar uma posição.
que foram desenvolvidas pelo programa e Kehinde foi a nossa.
que estiveram reunidos nas atividades e com
suas vozes asseguradas em todas as etapas “Olhando para um deles que tinha
do processo de trabalho. Mais uma vez, o tombado perto de mim, o corpo caído
sentido do programa esteve em estar junto de costas e se debatendo, meu peito
com a maior quantidade possível de vozes foi ficando apertado com a visão do
em frentes amplas de diálogo e debate. riozinho de sangue, ao mesmo tempo
que nascia em mim uma revolta muito
Talvez a principal chave para o programa grande pela nossa condição. Apesar da
educativo da Bienal 12 se explique pelo pouca idade, acho que foi naquele dia
encontro entre a vontade de criar espaços que tomei consciência de que tinha de
onde o estar junto pudesse ser privilegiado fazer alguma coisa, pelos meus mortos,
e a necessidade de que esse estar junto por todos os mortos que estavam ali,
estivesse baseado em decisões políticas que, por todos nós, que estávamos vivos
necessariamente, enfrentariam as diferentes como se não estivessem por que
dimensões do feminino, profundamente, nossas vidas valiam o que o Sinhô
aliadas às noções de raça. Havia de se tinha pago por elas, nada mais.”
ouvir, mas as vozes privilegiadas deviam
ser aquelas que sendo nomeadas como (p. 144)
silenciadas produzem os mais importantes O romance Um Defeito de Cor, de Ana Maria
sons dos nossos tempos. Essa, foi desde Gonçalves é, desde seu lançamento em
sempre, a principal seta do programa 2008, um marco na literatura contemporânea
educativo: estar junto, e juntos mirar no que brasileira. Mas ele vai além. Estabelece-se como
importa para forjar um olhar imbricado em marca porque revela uma herança contínua
perscrutar o mundo e suas assimetrias. da colonização e da eleição da sujeição e do
Havia, antes de tudo, um aprendizado direito de posse de humanos sobre humanos.
que ecoa nas vozes de feministas negras. Marco porque estabelece vínculos de uma
O feminismo negro tem sido, um lugar de memória que se acreditava, durante muito
confluência de inúmeras pautas que exigem tempo, estar perdida e que reaparece como
a constituição de olhares solidários com o relâmpago necessário na lacuna de um registro
outro, suas assimetrias e desvãos, e suas sobre onde viemos e de qual lugar surgem
nossas raízes. A escravização no Brasil não

BIENAL 12 CATÁLOGO 64
pode ficar relegada à experiência do passado. imagens de controle, as proximidades e
Antes disso, ela é elemento que atravessa distanciamentos entre indígenas e negros a
nossas maneiras de pensar e de existir em mediação e as urgências do contemporâneo.
uma sociedade assimétrica e, muitas vezes,
Em cada um dos encontros, um conjunto
desumanizadora. No entanto, a obra desenha,
de mulheres colocava em movimento suas
inscreve, rasga lugares para ver a existência
ideias e trajetórias, e ruíam e reconstruíam
negra no século XIX brasileiro. Há ali negros que
conceitos que viriam a forjar o que
leem e criam estratégias de aprendizado. Há o
imaginávamos que seria um programa
centro urbano tomado por homens e mulheres
educativo para essa edição da Bienal.
que se deslocam e negociam suas liberdades
e aprisionamentos. Há a vida da Bahia, do Assim, a primeira ação do programa educativo
Maranhão, do Rio de Janeiro, de São Paulo. foi abrir uma praça onde muitas ideias e
pensamentos pudessem fundar lugares
Há sobretudo uma mulher que acende a
mínimos para aquilo que estaria por vir, a
própria vida, ascende e atende sob o nome de
partir das falas das convidadas do Território
Kehinde. A personagem empreende de Savalu
Kehinde. Um sem número de contra narrativas
até o Brasil, dos Brasis até as Áfricas e Europas.
que podem ter seus vínculos reunidos a
Inventa formas de vida, olhos de ver e ser vista,
partir da imagem, do corpo e da voz da atriz,
morre algumas vezes, vive muitas, aprende
pesquisadora e professora negra Celina
e ensina. Kehinde é a mulher negra com suas
Alcântara que, na primeira noite do Território,
táticas de existir: a astúcia, a atenção, o olho
entoava a todos os participantes a canção
atento ao afeto não distante da luta e dos
cantada em uníssono, que afirmava: “Quando
saberes. É a capacidade criar territórios a cada
eu venho de Luanda, eu não venho só”.
chegada. Em uma mostra, no Sul do mundo,
como a Bienal 12, que toma como ponto de Desde o princípio, estava lançado o que
partida e de chegada os femininos e a arte trazemos aqui como um conjunto de
em seus tensionamentos e possibilidades de escolhas políticas do programa educativo:
invenção, tomar a figura de uma personagem os rumos seriam sempre referenciados
que está entre a vida e a ficção – entre a a partir de vozes indispensáveis dessas
memória e a escrita de passados necessários. mulheres e seus deslocamentos.
E sobre a marca da mulher negra significa
Não é possível a um corpo negro implicado
estabelecer que a mulher negra tem poder
assumir uma posição de olhar para o mundo
em diferentes sentidos de ser a imagem de
a partir de uma mostra sem trazer consigo
um mundo já vivido e aquele desejado.
saberes, epistemologias que se confundem
Sob o signo de Kehinde, o programa educativo com suas estratégias de sobrevivência.
foi desenhado por um conjunto de encontros Havia ali um corpo negro na posição de
que reuniram muitas mulheres e alguns homens fazer escolhas, de curar, a partir da arte, da
em conversas que se pretenderam tramadas na história, da história da arte, da educação. Foi
horizontalidade com diferentes públicos e as a partir da necessidade desse corpo negro
convidadas. Era preciso que todes estivessem de encontrar outras vozes que se constituiu
no mesmo espaço. Era preciso que se colocasse o programa público Território Kehinde.
em xeque os próprios eixos e conceitos por
Foi também a partir de um encontro entre
onde se esboçava o programa educativo. Foram
a perspectiva Kehinde, que agora havia
nove encontros debatendo raça e gênero como
se tornado conceito e seta, e a noção de
territórios da arte contemporânea, curadoria
dissenso do francês Jacques Ranciére,
e femininos, a sala de aula como espaço de
que foram construídos coletivamente
invenção e sabotagem, a proximidade entre
aquilo que chamamos de 12 Exercícios
as salas de exposições, as salas de aula e
Coletivos de Dissenso. Foram 12 encontros,
as salas de trabalho, femininos e culturas,
como o título alude, onde as experiências
os educativos e as instituições de arte, a
acerca da mediação precisavam fazer eco
presença das mulheres negras nas narrativas
com os saberes e fazeres de mulheres de
sobre arte, feminismos contemporâneos,
diferentes partes do país, convidadas para

65 BIENAL 12 CATÁLOGO
conduzir os exercícios. As perguntas que e do mundo da arte, a noção de exposição,
nos acompanhavam constantemente eram: o uso de tecnologias, e o principal dos eixos
o que acontece quando a mediação vem do programa: a ideia de estar junto. Nossos
atravessada por temas ligados a poéticas corpos estavam, em grande parte, privados do
que discursam sobre formas não binárias de encontro presencial por tempo indeterminado.
femininos? Qual o impacto de mediar com
ênfase aos debates de mulheres na arena A cisão entre os dias que tínhamos
democrática? Pensamos juntes, mais uma vez. e a incerteza do que viria
Era necessário que urgências se costurassem
Não se trata de escrever sobre um possível
e que estivesse no horizonte o debate
lamento dos dias que foram. Não se trata
sobre temas prementes, como as mulheres,
disso! Os dias passados tinham o tom de um
seus agrupamentos e vida democrática, as
mundo que exclui, segrega, mata, afasta. A
violências cotidianas, o debate legal e de
crença construída ainda na modernidade e
direitos, as noções de arte atravessadas por
em seus projetos vinha demonstrando suas
debates feministas, as colonialidades e a
falências. A parada foi súbita. O invisível foi
descolonização na arte contemporânea, a
ressignificado quando o vírus se espalhava
acessibilidade de um espaço expositivo de
sem respeitar fronteiras, escancarando
artes visuais pensado para todes, incluindo os
as mazelas do planeta, deixando à vista
não videntes, as questões dos corpos negros e
as formas mortais de funcionamento
trans nas exposições como artistas e públicos.
econômico e levando a uma quebra das
Acima de tudo, era indispensável que essas formas de vida e um questionamento sobre
discussões estivessem profundamente o mundo e os mundos da arte. Aqui, ao Sul,
alicerçadas nas poéticas das mais de 70 artistas a mostra em sua realidade presencial, muito
que compunham a Bienal 12. Os encontros rapidamente, virou uma miragem distante.
reuniram feministas de diferentes vertentes
Enquanto o planeta se convertia em regiões
teóricas, artistas, curadoras, educadoras,
divididas por cores que atestavam os
advogadas, antropólogas, historiadoras.
diferentes níveis de gravidades e mortes,
Os mais de 150 inscritos constituíram um
tabelas davam conta das vidas perdidas,
grande fórum, onde suas experiências pessoais
embates perversos que contrapunham
eram utilizadas como ponto de partida para
vidas e formas de sobrevivência econômica,
o enfrentamento necessário de pautas que
diferentes posicionamentos do Estado. No
tocam na exposição e provocam uma agenda
Brasil, há o vírus e a falta de direcionamento
contemporânea comprometida com a inscrição
para as formas mais adequadas de
de novas paisagens da vida no mundo e na arte.
enfrentamento da convulsão social.
Não havia no grupo uma hierarquização
Depois de anos de discurso sobre a
entre mediador da exposição e o professor
aproximação entre arte e vida, a agudização
na sala de aula. Juntes, essas diferentes
tanto de uma quanto de outra se misturavam.
formas de pensar a arte contemporânea
As noções de espaço e tempo se confundiam.
e suas confianças e desconfianças com a
Instituições das mais diferentes naturezas
educação mantiveram acesas formas de
junto a agentes dos sistemas da arte se
desenhar no espaço expositivo que viria
perguntavam qual o próximo passo. Mais uma
uma grande arena de diferentes dissensos.
vez, a busca por respostas não encontrava
Mas todas as coisas estavam na véspera da se não ensaios. Ensaios, experimentos,
convulsão e ainda não sabíamos. Falar da tentativas. Assistimos ao vivo e em diferentes
experiência educativa da Bienal 12 significa plataformas um misto de esforços para
falar de uma profunda cisão entre o mundo manter as coisas em seus lugares de origem,
que habitávamos, quando tudo teve início, e ao mesmo tempo que esses lugares prévios
aquele a que fomos jogados por uma pandemia davam provas de desgaste e impunham
que desmoronou ainda mais a possibilidade novos compromissos éticos e estéticos.
de certezas mínimas. Tudo veio à tona: o
isolamento social, as assimetrias do mundo

BIENAL 12 CATÁLOGO 66
No caso da Bienal, era preciso que nos de compreender de uma maneira particular
perguntássemos o que acontece a uma o modo em que se encontravam, assim
exposição quando sua existência física, como os agentes do campo da arte, todes
presencial e espacial se vê frustrada. Isso diante de situações reais de convivência com
nos remetia também a perguntas sobre a peste que atravessava os nossos dias.
a natureza do educativo, da arte e da
Afeto. A palavra que acompanhava o título da
mediação diante dessas novas limitações.
mostra foi o elemento que pulsou nessa etapa
Em um primeiro momento, a atitude adequada online da Bienal. As preocupações do educativo
foi de silêncio e observação. Ainda antes ganhavam limitações primeiras. Como estar
da pandemia, o programa educativo havia junto agora se tornava também como ativar
elaborado 12 proposições para a visita dos uma mostra que não está no espaço. Quais
públicos ao espaço expositivo. Naquele as formas de continuar estando juntes tendo
momento, o objetivo era que os rasgos dos como pretexto o imenso trabalho e os acordos
corpos na exposição pudessem ter suas que erguem uma exposição nessas proporções?
rotas provocadas e tensionadas. Queríamos
Nota necessária aqui é a atenção para a
saber quais as referências adotadas pelo
necessidade de manutenção da equipe do
público diante da presença desses femininos
educativo. Se saliento isso é porque o tempo da
não binários. Quem eram suas artistas
pandemia também foi o tempo de demissões
conhecidas? Quantas delas eram indígenas?
em massa das instituições que atingiram em
Negras? Trans? Como enfrentar a presença
cheio os programas educativos, e que como
das mulheres nas ressignificações do que seja
sempre tiveram um forte acento de raça e
mundo, Américas, Europas, colonizações e
gênero, ceifando trabalhos que vinham sendo
descolonizações? Quais as formas de entrada
desenvolvidos. Garantir a manutenção da
nos debates que a mostra propunha? No
equipe do educativo era condição inegociável
entanto, essas proposições estavam filtradas
para que o trabalho de busca a alternativas
pela necessidade de embate do corpo com o
pudesse acontecer. Não é possível dissimular
espaço e com as montagens circunstanciais
essa informação e o primeiro tempo foi de
que envolvem a experiência da exposição.
ajustes e negociações que contaram com o
O que acontece com uma mostra quando ela envolvimento direto da Fundação Bienal e,
deixa de ser espaço e passa a ser conceito? em especial, dos curadores da mostra. Mais
Essa dimensão conceitual da mostra foi o uma vez, era a horizontalidade do corpo
principal material de trabalho do programa curatorial e o reconhecimento da centralidade
educativo. A perda do espaço é irreparável, do educativo que criavam as condições para
mas existe um conjunto de conhecimentos que o trabalho pudesse acontecer. Afinal,
e saberes que estão presentes nas seleções reconheciam os curadores e a Fundação que
dos artistas, em suas tomadas poéticas do o educativo, em sua busca de formas de
mundo e das coisas. E esse era, sabíamos, mediação, podia ser peça-chave para encontrar
o material primordial dessa nova etapa de formas de vínculo e afeto com o público.
perguntas e questionamentos. Assim, as
Mas que público era esse? A migração para
12 proposições viraram convites para visitar
as redes nos coloca diante de uma série de
o site de uma existência da Bienal agora
dúvidas: estamos reforçando o público habitual
online. Elas se tornaram em um primeiro
das instituições de arte? Há, de fato, uma
momento a forma de conectar pessoas a
renovação mediada pelas ferramentas virtuais
esse multiverso de aprendizados possíveis
de acesso? Essas perguntas não encontraram
quando se reúne um grupo de artistas com
ainda suas respostas, mas mantê-las acesas
a potência de constantemente colapsar
pode ser indispensável para inscrever um futuro
ideias preestabelecidas sobre o que seja
nestes tempos incertos que ainda estão por vir.
a arte e as pautas do nosso tempo.
Seguindo a prerrogativa de produzir espaços
Diante dos depoimentos colhidos pela
de encontro, fala e escuta, o programa
mostra ouvindo as(os) artistas e seus afetos
educativo, seguindo o exemplo de instituições
durante a pandemia, íamos tateando formas
de diferentes lugares do mundo, investiu

67 BIENAL 12 CATÁLOGO
parte dos seus esforços em um programa como o WhatsApp, que se transformou
de lives. As lives, essa manifestação que em uma das principais plataformas de
ganhou protagonismo no cotidiano de tantas interação entre alunos e professores.
pessoas, era aqui a forma de conectar os
O espaço do site e a existência online da
públicos com as falas e elaborações poéticas
Bienal 12 permitiu que nos perguntássemos,
e conceituais da mostra. Curadoras, artistas,
ainda sem respostas, sobre quantas dessas
educadoras passaram a ser presença
experiências sobreviverão quando a chuva e a
constante no programa de lives da Bienal.
tempestade derem lugar a outras paisagens.
Algumas premissas se mantiveram, por Uma experiência que marcou essa etapa foi
exemplo, a ênfase em uma abordagem a chamada pública de professores que, no
racializada, mantendo a maioria de mulheres intuito de estabelecer vínculos, passou a figurar
negras entre as convidadas, a conexão como a Rede Bienal 12 de Arte e Docência. Em
com a produção latino-americana de arte poucos dias da chamada nas redes sociais,
contemporânea e o enfrentamento das mais de 1600 professores de diferentes partes
urgências de todes diante da pandemia. do Brasil e da América Latina passaram a
integrar uma rede de contatos que se atualiza
Mas as perguntas não cessam quando tudo
a partir de envio dos materiais produzidos.
é mudança. O antigo projeto de construção
Experiências como essas nos falam de novas
de um material didático da mostra que
formas de alcance de um público muito mais
que constituísse um auxílio para alunos e
amplo do que aquele que costuma estar
professores, agora, devia ser repensado.
no entorno da Bienal do Mercosul, que tem
Assistimos, diariamente, os relatos de
como forte característica a reverberação
docentes inflacionados com demandas antes
em educadores locais e escolas da região.
impensadas, como o uso de plataformas
digitais para sua prática educacional, alunos Ainda agora, quando tudo ainda se mantem
que enfrentavam as dificuldades de acessar instável, quando a única certeza está no fim
aulas e tudo isso embalado pela falsa crença das certezas, os desdobramentos das ações
de um acesso universal à internet. Uma crença e atitudes durante o desenho curatorial do
que, a cada dia, encontrava sua negação. programa educativo não são mesuráveis.
Era preciso perguntar uma e outra vez, qual Temos sim uma longa lista de erros e alguns
o sentido de um material educativo nesse acertos. Entre todas elas, talvez continuemos
contexto? As respostas, mais uma vez, surgiriam a insistir que estar junto é condição necessária
do compartilhamento de questionamentos. para que, a partir do não saber, possamos
No instante em que as salas de casa, as salas erigir construções mínimas, provisórias, mas
de aula, as salas de trabalho se confundem, prenhes de vida. O coro de vozes parece ser
a alternativa foi a constituição de uma sala nossa única saída. Buscar formas solidárias
virtual. Dessa forma, teve início o Laboratório de nos colocarmos em condição de fala e
Coletivo Bienal 12: material educativo em escuta talvez seja uma das premissas básicas
tempos de isolamento. Uma sala virtual que da mediação. Insistir que não voltemos ao
reunia professoras e professores de diferentes antes, mas que juntes possamos inscrever
áreas com forte acento nas artes visuais, os outros projetos para a arte do nosso tempo,
quais debatiam qual a necessidade e o formato e para o tempo em que essa arte surge. A
de um material educativo que toque nas pandemia, a cada dia que passa, nos soa não
urgências do tempo, e que possa se manter como o maior dos males, mas como um a
como uma memória dos saberes construídos mais. Males que nos atravessam ao longo dos
no processo da Bienal 12. Assim, artistas do séculos silenciando vozes que podem arquitetar
Brasil e da América Latina passaram a conversar mundos possíveis. A pandemia nos assola, mas
com as professoras sobre suas poéticas e ainda nos dilacera a imagem de um homem
as necessidades de materiais condizentes negro sufocado pelo policial branco, a morte
com o tempo. O material elaborado teve de dos meninos nas comunidades onde a mão
encontrar novos formatos e adequações, do Estado empunha armas. Mediação em
por exemplo, sua usabilidade em meios tempos de urgência talvez seja entender que
não se trata de estar entre, mas em estar com.

BIENAL 12 CATÁLOGO 68
A arte não é imune aos cerceamentos que se
produzem no mundo todos os dias. Há uma arte
contemporânea que se apresenta nas suturas
das partes diversas reunidas nos trabalhos de
Rosana Paulino. No acerto de contas urgente
que ressoa nas passeatas do coletivo Nosotras
Proponemos, na ancestralidade e memória da
poética de Aline Motta, no trançado do cabelo
de Helô Sanvoy, na história que nos contam
os bordados de luta das Arpilleras chilenas,
na existência trans de Élle de Bernardini, na
experiência mapuche e fluída de Sebastián
Calfuqueo. Na professora que afirma a escola
pública. Na exposição que reúne coisas diversas
a produzir sentidos imprevistos. Basta que
nos perfilemos e aceitemos o desafio de
estarmos juntes, olhar e apostar no arriscado
exercício de construir outros amanhãs. Como
afirmei no início desse escrito, esse não é
um tempo de certezas, mas sim de dúvidas
e perguntas que agora ganham contornos
imprevisíveis. Essas são as anotações do
programa educativo da Bienal 12, por ora.

69 BIENAL 12 CATÁLOGO
CURADORES – BIOGRAFIAS RESUMIDAS
Andrea Giunta é escritora, curadora e professora da Universidade de Buenos
Aires, onde obteve seu doutorado. Ela é pesquisadora principal do CONICET,
Argentina. É autora de vários livros sobre arte latino-americana, incluindo Avant-
garde, Internationalism and Politics: Argentine Art in the Sixties (Durham: Duke
University Press, 2007). Em 2018, ela publicou Feminismo y arte latinoamericano:
Historias de artistas que emanciparon el cuerpo (Buenos Aires: Siglo XXI, 2018,
a ser publicado pela University of California Press). Foi cocuradora de Radical
Women: Latin American Art, 1960–1985 (2017–2018, Hammer Museum, em
Los Angeles, Brooklyn Museum, em Nova York, e Pinacoteca de São Paulo).
Dorota Biczel (Polônia/EUA) é PhD pela Universidade do Texas em Austin e
atualmente atua como professor assistente visitante em História da Arte na
Universidade de Houston. Seus projetos de pesquisa, redação e curadoria
concentram-se na arte latino-americana contemporânea vista no contexto
global, particularmente nas interseções de experimentação material, prática
social e política. Publicou artigos e ensaios em revistas acadêmicas como Caiana,
Buildings & Landscapes, Art Journal, ARARA e alter / nativas e em catálogos
de exposições. Foi curadora de Moving Mountains: Extractive Landscapes of
Peru, no Centro de Artes Visuais da Universidade do Texas (2016), e cocuradora
de cronologia de Teresa Burga’s Chronology: Reports, Diagrams, Intervals
(2011, Württembergischer Kunstverein Stuttgart), entre outros projetos.
Fabiana Lopes é curadora independente radicada em Nova York e São Paulo
e doutoranda em Estudos de Performance pela New York University, onde
é uma Corrigan Doctoral Fellow. Sua pesquisa está centrada na produção
contemporânea de artistas da diáspora africana no Brasil e nas Américas.
Seus textos foram publicados na Harper’s Bazaar Art, O Menelick 2o Ato,
ARTE!Brasileiros, Contemporary And (C&) e em catálogos de exposições,
entre os quais Rosana Paulino: Costura da Memória, Pinacoteca, São Paulo
(2018), Lucia Laguna: Vizinhança, MASP, São Paulo (2018), Of Darkness
and of Light, Minnette Vári, Johanesburgo (2016), e Territórios: Artistas
Afrodescendentes no Acervo da Pinacoteca, Pinacoteca, São Paulo (2015).
Igor Simões é doutor em Artes Visuais-História, Teoria e crítica da Arte-
PPGAV-UFRGS. Professor adjunto de História, Teoria e Crítica da arte e
Metodologia e Prática do ensino da arte (UERGS). Membro do comitê de
curadoria da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas-
ANPAP, Membro do Núcleo Educativo UERGS-MARGS. Membro do comitê
de acervo do Museu de Arte do RS-MARGS. Trabalha com as articulações
entre exposição, montagem fílmica, histórias da arte e racialização na arte
brasileira e visibilidade de sujeitos negros nas artes visuais. Autor da tese
Montagem Fílmica e Exposição: Vozes Negras no Cubo Branco da Arte Brasileira.
Membro do Flume-Grupo de Pesquisa em Educação e Artes Visuais.

BIENAL 12 CATÁLOGO 70
ARTISTAS
E OBRAS

71 BIENAL 12 CATÁLOGO
Alejandra Dorado
(Cochabamba, Bolívia, 1969)

Alejandra Dorado Cámara nasceu em o arquivo que Alejandra elabora as propostas


Cochabamba, Bolívia. Graduada em Bacharel e leituras de um feminismo que aproxima o
em Belas Artes com ênfase em pintura pela humano e o não humano. Um feminismo que
Universidade ARCIS, em Santiago, Chile. Foi, se vincula aos debates sobre o Antropoceno e
por quinze anos, docente do curso de Design ao domínio (destrutor) com o qual o humano,
Gráfico da Universidade Privada Boliviana. como espécie que concebe e dispõe do mundo
Criadora e diretora do projeto “La caja verde”, desde a sua posição de supremacia, desmonta
uma oficina de artes visuais para jovens as condições da própria vida no planeta.
cegos. Expôs nos espaços mais importantes
da Bolívia. Foi convidada a realizar mostras Demolição do esquecimento
individuais e coletivas, festivais e residências / construção da memória,
no Chile, Estados Unidos, Cuba, Argentina, performance, 2011-2020.
Canadá, Venezuela e Equador. Convidada
também a participar de publicações como No ano de 2011 Alejandra Dorado é convidada
FIBRAS LATINO AMERICANAS do AAL a participar numa residência de artistas em
(Arte Al Límite). É curadora do CIMIENTOS, La Perla, no antigo centro clandestino de
festival internacional de performance e ação detenção, tortura e extermínio da província
da Bolívia. Ativista, feminista e fundadora de Córdoba, Argentina, por onde passaram
do coletivo Ni Una Menos Cochabamba. 2500 pessoas, que se encontram na sua grande
maioria desaparecidas. Conhecer as histórias
das mulheres que ali estiveram trouxe na artista
Sobre a Obras na Bienal lembranças da ditadura de Hugo Banzer Suárez
na Bolívia (1971-1978). São lembranças da sua
Coyote (Coiote) é uma série de colagens de infância que se entrelaçam com as histórias
fotografias digitais na que Alejandra Dorado familiares. Nesta performance, Dorado
faz uma intervenção no retrato familiar do produz um paralelismo entre a tortura das
século XIX, os casamentos, os batizados, mulheres na Argentina e na Bolívia. Ela pega
as fotos que marcam os momentos que a a experiência de uma mulher boliviana que
família quer lembrar e comemorar. Interfere a foi obrigada a se sentar sobre um bloque de
normalidade das representações que controlam gelo durante 24 horas, forma de tortura com
nossas relações sociais substituindo os rostos conotação sexual. Dorado senta-se sobre um
com cabeças de cachorros, girafas e cervos. bloque de gelo e ali permanece por uma hora.
“Coyote” é a palavra com a qual se nomeia a Ela repete, em seu próprio corpo, as práticas
pessoa nascida de uma índia e um mestiço, é da tortura. Desde esta experiência particular
um duplo mestiço. Quando Dorado trabalha a performance conecta, com uma quietude
sobre imagens de outro tempo, de outros comovedora, a proximidade entre as práticas
imaginários, e as mistura com animais, faz, ela das ditaduras latino-americanas. A lembrança,
mesma, uma obra “coyote”. As crianças, o grupo a memória, convocados desde intervenções
familiar, os amigos, mudam em grupo humano- simbólicas, são uma forma de nos avisar
animal. Uma forma de coexistência que junta sobre os perigos da repetição da história.

BIENAL 12 CATÁLOGO 72
Hielo
2012-2020
Performance
Cortesia da artista

73 BIENAL 12 CATÁLOGO
Da Série Coyote
2013
Fotografias com intervenções
Cortesia da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 74
Aline Motta
(Niterói, Brasil, 1974)

Nasceu em Niterói (RJ), vive e trabalha em Niterói (RJ), vive e trabalha em São Paulo. É
São Paulo. É bacharel em Comunicação bacharel em Comunicação Social pela UFRJ
Social pela UFRJ e pós-graduada em e pós-graduada em Cinema pela The New
Cinema pela The New School University School University (NY). Combina diferentes
(NY). Combina diferentes técnicas e técnicas e práticas artísticas, mesclando
práticas artísticas, mesclando fotografia, fotografia, vídeo, instalação, performance,
vídeo, instalação, performance, arte sonora, arte sonora, colagem, impressos e materiais
colagem, impressos e materiais têxteis. têxteis. Sua investigação busca revelar
Sua investigação busca revelar outras outras corporalidades, criar sentido,
corporalidades, criar sentido, ressignificar ressignificar memórias e elaborar outras
memórias e elaborar outras formas de formas de existência. Foi contemplada com
existência. Foi contemplada com o Programa o Programa Rumos Itaú Cultural 2015/2016,
Rumos Itaú Cultural 2015/2016, com a Bolsa com a Bolsa ZUM de Fotografia do Instituto
ZUM de Fotografia do Instituto Moreira Salles Moreira Salles 2018 e com 7º Prêmio
2018 e com 7º Prêmio Indústria Nacional Indústria Nacional Marcantonio Vilaça 2019.
Marcantonio Vilaça 2019. Recentemente Recentemente participou de exposições
participou de exposições importantes como importantes como “Histórias Feministas” -
“Histórias Feministas” - MASP, “Histórias MASP, “Histórias Afro-Atlânticas” - MASP/
Afro-Atlânticas” - MASP/Tomie Ohtake Tomie Ohtake e “O Rio dos Navegantes”
e “O Rio dos Navegantes” - Museu de - Museu de Arte do Rio/MAR.
Arte do Rio/MAR.Nasceu em Niterói (RJ),
vive e trabalha em São Paulo. É bacharel
em Comunicação Social pela UFRJ e Sobre a Obras na Bienal
pós-graduada em Cinema pela The New
Artista visual, fotografa e videasta, Aline Motta
School University (NY). Combina diferentes
reúne arquivos documentais com materiais
técnicas e práticas artísticas, mesclando audiovisuais e através destes materiais ela
fotografia, vídeo, instalação, performance, investiga as suas origens, sua relação com a
arte sonora, colagem, impressos e materiais ancestralidade negra e africana. Na Bienal 12
têxteis. Sua investigação busca revelar se apresentam duas obras da Aline. Um livro
outras corporalidades, criar sentido, visual e poético, Escravos de Jó (2016), no
ressignificar memórias e elaborar outras qual retoma a conhecida brincadeira e canção
formas de existência. Foi contemplada com popular e frases do Livro de Jó, da Bíblia,
o Programa Rumos Itaú Cultural 2015/2016, usando estas frases para se referir a escravidão
com a Bolsa ZUM de Fotografia do Instituto brasileira. As imagens e os textos impressos
em papel semitransparente remetem ao
Moreira Salles 2018 e com 7º Prêmio
poema visual, ao poema concreto, desde
Indústria Nacional Marcantonio Vilaça 2019.
um sentido emancipador e decolonial. No
Recentemente participou de exposições
vídeo (Outros) Fundamentos (2019) ela junta o
importantes como “Histórias Feministas” - arquivo visual que fez durante a sua residência
MASP, “Histórias Afro-Atlânticas” - MASP/ de pesquisa na Nigéria, àquele que mostra a
Tomie Ohtake e “O Rio dos Navegantes” história da escravidão na região cafeteira do
- Museu de Arte do Rio/MAR.Nasceu em Vale do Paraíba. No filme, relaciona Lagos

75 BIENAL 12 CATÁLOGO
com Cachoeira com a Baia de Guanabara.
A viagem, nos conta Aline, causou-lhe uma
sensação de estranhamento, a experiência
de não pertencimento, a ideia de uma
continuidade (remetida pela presença da água),
de disrupção (assinalada pelos espelhos) e
da ferida que a escravidão causou no Brasil,
cicatrização que não é possível sem políticas
adequadas. No filme, mistura o pessoal, o
familiar e o coletivo. Migrações, diásporas,
memória, são palavras centrais para encarar
este filme que, desde as imagens e textos nos
guia em uma travessia poética e política.

BIENAL 12 CATÁLOGO 76
(Outros) fundamentos
2017-2019
Vídeo
15’ 48”
Coleção da artista

77 BIENAL 12 CATÁLOGO
Ana Gallardo
(Buenos Aires, Argentina, 1958)

Nasci em Rosário, Argentina e vivi entre México, que se foca em suas próprias experiências de
Espanha e Buenos Aires. Sou autodidata e não fragilidade (laboral, habitacional), assim como
tive uma educação formal, mas tenho uma nas experiências dos rejeitados pela sociedade
formação adquirida em estúdios de artistas (idosos, pacientes, prostitutas). A Bienal
como Víctor Grippo, Miguel Dávila, Jorge apresenta um desenho monumental, em preto
Diciervo e Juan Doffo. Tenho uma ideia herdada compacto, feito como site specific pela artista.
de como perpassar pelas práticas artísticas já O grafite superposto gera um muro asfixiante,
que meus pais eram artistas. Minha mãe pintora uma reflexão de impulso memorialista sobre
e meu pai poeta. Nos anos 80 integrei o Grupo os tormentos experimentados pelas mulheres
de la X e com eles aprendi como se pensa a guatemaltecas, especialmente camponesas
arte. Vivi no México desde o final dos anos 80 e indígenas. Seus testemunhos aparecem
até início dos anos 90, onde nasceu a minha na borda inferior quase ilegível no preto
filha Rocío. Em paralelo a minha obra trabalho absoluto. “Emociona-me pensar no corpo da
em uma série de projetos independentes mulher como arma de combate, toda essa
que visam promover a arte local, a dar violência, essa tortura, para submeter a toda
visibilidade a práticas que não ingressam uma população e, sobretudo para tirar-lhes
nos circuitos comerciais ou institucionais e a a identidade aos maias”, declara a artista.
vincular artistas mulheres, principalmente,
de diferentes gerações. Estas atividades Material Descartável (Salsinha)
acontecem em todos os espaços que eu
tenho acesso inclusive em minha própria casa. Salsa
Nos anos 2005/2006 realizamos Periférica, Material Descartável é uma escultura mural
primeira feira de espaços autogestionados criada pela Ana Gallardo no ano de 2000 e
por artistas. Espaço Forest, foi um projeto que é reconstruída para a Bienal 12. Nesta,
realizado no ano de 2013 e atualmente La verdi Ana Gallardo amarra na parede ramalhetes de
(2014/2017) e La verdi México (2017/2018). salsinha, ferramentas utilizadas pelas mulheres
Me interessam os processos do trabalho. sem condições econômicas para fazer abortos,
Dar valor a todos aqueles momentos que que são ilegais e clandestinos na Argentina.
geram dúvidas, incertezas, desconfortos. São muitas as mulheres pobres que morrem
Particularmente tenho muita consideração por falta de condições de higiene. A agenda
por todo aquele que se considera fracassado. da legalização esta encaminhada neste país.
Me satisfaço muito no trabalho coletivo. Tem provocado caminhadas multitudinárias
Abordo diferentes planos da violência e que acompanham os processos de debate
atualmente foco na violência do envelhecer. no parlamento. Esta escultura de Gallardo
evocou no fim do milênio uma das principais
agendas do feminismo no país. Agenda esta
Sobre a Obras na Bienal que vem se intensificando desde 2015 com
amplas manifestações contra os feminicídios,
“Trato variados planos da violência e
protagonizada pelo movimento #NiUnaMenos.
atualmente enfoco na violência do envelhecer”.
Nesta frase Ana Gallardo expressa o eixo da sua
obra, na qual, com materiais simples (desenho,
objetos, fita adesiva, filmagens acidentais,
entrevistas, participação) desenvolve uma obra

BIENAL 12 CATÁLOGO 78
Material Descartável (Agulhas)
1.000 agulhas de tricô

Material Descartável é uma escultura criada


pela Ana Gallardo no ano de 2000 e que é
reconstruída para a Bienal 12. Nesta, Ana
Gallardo expõe com extrema contundência
um amontoado de agulhas de tricô, um
dos instrumentos utilizados por mulheres
sem condições econômicas utilizam para
fazer abortos, que são ilegais e clandestinos
na Argentina. São muitas as mulheres
pobres que morrem por falta de condições
de higiene. A agenda da legalização do
aborto seguro e gratuito esta encaminhada
neste país e vem provocando caminhadas
multitudinárias que acompanham os
processos de debate no parlamento.

Desenho
Carvão
Dimensões Variáveis

Coleção da artista

“Trato variados planos da violência e


atualmente enfoco na violência do envelhecer”.
Nesta frase Ana Gallardo expressa o eixo da sua
obra, na qual, com materiais simples (desenho,
objetos, fita adesiva, filmagens acidentais,
entrevistas, participação) desenvolve uma obra
que se foca em suas próprias experiências de
fragilidade (laboral, habitacional), assim como
nas experiências dos rejeitados pela sociedade
(idosos, pacientes, prostitutas). A Bienal
apresenta um desenho monumental, em preto
compacto, feito como site specific pela artista.
O grafite superposto gera um muro asfixiante,
uma reflexão de impulso memorialista sobre
os tormentos experimentados pelas mulheres
guatemaltecas, especialmente camponesas
e indígenas. Seus testemunhos aparecem
na borda inferior quase ilegível no preto
absoluto. “Emociona-me pensar no corpo da
mulher como arma de combate, toda essa
violência, essa tortura, para submeter a toda
uma população e, sobretudo para tirar-lhes
a identidade aos maias”, declara a artista.

79 BIENAL 12 CATÁLOGO
Material Descartable (Agujas)
2000
Agulhas de tricô
Dimensões variáveis
Coleccion Andrés Brun y Juan José Cattaneo

BIENAL 12 CATÁLOGO 80
Material Descartable
(Perejil)
2000
Salsa
Dimensões variáveis
Coleção da artista

Dibujo textual
(Carbonilla sobre pared)
2020
Carvão
Dimensões variáveis
Coleção da artista

81 BIENAL 12 CATÁLOGO
Ana Lira convida
Marta Supernova,
Ola Elhassan e
Suelen Mesmo
(Caruaru, Brasil, 1977 / Rio de Janeiro, Brasil, 1994 /
Khartoum, Sudão, 1990 / Porto Alegre, Brasil, 1996)

Ana Lira é artista baseada em Recife. Coleção da artista


Desenvolve criações coletivas observando
as entrelinhas das relações de poder na Saberes coletivos e suas articulações,
comunicação, nas articulações cotidianas e transmissão oral de conhecimento, diáspora
na produção de conhecimento no mundo. negrodescendente, dinâmicas de colonização-
Marta Supernova é artista e DJ. Constrói repressão, migração e deslocamento, produção
poéticas investigando ancestralidade, poética, camadas de visibilidade, lugar de
espiritualidade, seu corpo queernegrolatino pertencimento, mediação, processos de
e afetos-encontros que fazem criar-se e tradução/não-tradução e seus significados
recriar-se uma necessidade. Ola Elhassan é são conceitos chave na prática da jornalista,
poetisa sudanesa radicada em Londres que especialista em Teoria e Crítica da Cultura
se debruça sobre migração, melodias e o e fotógrafa Ana Lira. Como a invisibilidade
cotidiano sensível. Suelen Mesmo é DJ no pode ser uma forma de poder? Essa é uma
Coletivo Turmalina, cujas ações elaboraram das perguntas que Lira persegue no projeto
a presença do criar negrodescendente Chama (2020), um ciclo de experimentações
no cenário migrante do sul do Brasil. sensoriais criadas por meio da poesia e da
música da diáspora afro-ameríndia, através
do qual os participantes entram em contato
Sobre a Obra na Bienal com os conteúdos compartilhados e, sem
a imposição de processos de tradução,
constroem outros meios de conexão com
Chama eles. Dividido entre o espaço expositivo,
onde fica a instalação sonora, e espaço de
Instalação (instalação sonora com rádio
celebração coletiva e mediação em territórios
online), 4 livros de artista, 12 faixas de
negros de Porto Alegre, o Chama articula os
tecido de tecido, Celebração na Praça do
conceitos chave da artista por meio do que
Tambor com as DJs Suelen Mesmo (Porto
ela denomina vivência-das-entrelinhas.
Alegre) e Marta Supernova (Rio de Janeiro),
vivência com as DJs e roda de Conversa.

BIENAL 12 CATÁLOGO 82
Chama
2017/...
Ana Lira (Caruaru, 1977) convida Marta Supernova (Rio de Janeiro, 1994), Ola Elhassan
(Khartoum, Sudão, 1990) e Suelen Mesmo (Porto Alegre, 1996)
Instalação sonora com rádio online, livros de artista e tecelagem
581 x 844 cm
Colaboração Mateus Winkelmann
Coleção da artista

83 BIENAL 12 CATÁLOGO
Arpilleras Mmdh
(Chile)

As arpilleras nasceram como uma ação peças de tapeçaria, geralmente pequenas,


comunitária e escrita de testemunho que nas quais contavam, através de fragmentos
reflete as experiências do processo social de tecidos costurados, as experiências de
durante a ditadura no Chile, na perspectiva repressão, dos corpos nas covas coletivas e dos
das mulheres. O Museo de la Memoria y los problemas que afetavam o cotidiano da vida
Derechos Humanos possui uma importante das pessoas durante a ditadura de Pinochet
coleção de serapilheiras que surgiram logo (1973-1990). As Arpilleras serviam como um
após o golpe de estado, quando mães, irmãs, suporte poético e político que comunicava e
esposas e filhas de detidos desaparecidos e denunciava ao mesmo tempo. As primeiras
presos políticos começam a relacionar a busca oficinas surgiram em contato com as igrejas
angustiante de seus parentes, expressando-se chilenas, em associação com o Comitê Pró
através de tecidos, fios e lã. Essas peças Paz, a Agrupação de Familiares de Detentos
reconhecem o olhar dessas mulheres, suas Desaparecidos, e mais adiante com a Vicária da
dores e incertezas, bem como suas lutas e a Solidariedade e outras organizações. Coleções
organização em relação ao que viveram. Elas que reúnem diferentes acervos estão em
reivindicam o valor da cooperação, tanto para instituições como o Museu da Memória e dos
denunciar violações dos direitos humanos, Direitos Humanos e no Museu da Solidariedade
como para enfrentar a fome de seus filhos e o Salvador Allende, ambos na cidade de Santiago
apoio ao sustento de suas famílias, em panelas do Chile. A coleção que se exibe na Bienal 12
comunitárias e lavanderias populares. Arpilleras pertence ao Museu da Memória e dos Direitos
significativa por suas palavras: mulheres Humanos. Estes tecidos são testemunhas
trabalhando em uma panela só para alimentar de práticas de resistência e solidariedade.
os mais necessitados, enquanto outras fazem Alertam sobre a dor social que acompanha a
faixas de protesto exigindo justiça e liberdade. militarização da vida cotidiana e a suspensão
dos direitos da democracia. Lembram
também a violência e os desaparecimentos
Sobre a Obra na Bienal durante a ditadura militar no Chile.

Durante os anos da ditadura chilena,


as mulheres, familiares de detentos e
desaparecidos, fizeram de forma coletiva

BIENAL 12 CATÁLOGO 84
Agrupación de
Familiares de Detenidos
Desaparecidos de Parral
1973-1990
Tecido e bordado
40 x 50 x 1,2 cm
Colección Gabriela Videla
133 x 159 x 1,2 cm
Colección AFDD Parral
Museo de la Memoria y los
Derechos Humanos

85 BIENAL 12 CATÁLOGO
Brígida Baltar
(Rio de Janeiro, Brasil, 1959)

Brígida Baltar estudou na Escola de Artes


Visuais do Parque Lage nos anos 1980 e fez
Sobre a Obras na Bienal
parte do grupo de artistas Visorama. Fez Brígida Baltar apresenta na Bienal 12 uma
registro de suas ações em fotografias e filmes, instalação que explora as suas experiências
por exemplo, o projeto Coletas (1996-2005), em pessoais, biográficas, recentes, marcadas
que colecionou em frascos de vidro elementos por internações que acabaram com um
naturais e transitórios, como neblina. Em outra transplante de medula. Os sinais destes
ação Abrigo, a artista desenha a forma do processos na sua pele transformaram-se
seu corpo e a escava na parede de sua casa- em metáforas (hematomas, petéquias)
ateliê. Com o pó de tijolo da casa, realiza uma que ela criou nos tempos de espera do seu
série de desenhos e instalações. Trabalha com tratamento. A única escultura que se inclui,
esculturas em tijolo, cerâmica e bronze, além chamada Irmãos, fala do processo que
de fazer bordados sobre tecidos. Toda sua obra permitiu descobrir a compatibilidade com
aborda o assunto corpo e fantasia. Participou um doador, o seu próprio irmão, estudo que a
de algumas exposições, como 25a Bienal de São medicina chama quimerismo: o transplantado
Paulo, São Paulo (2002); SAM Art Project, Paris, é um ser quimérico, tem outro dentro de
(2012); Abstracción textil, Casa Riegner, Bogotá si que deve ser descoberto. Delicados e
(2018). Suas obras estão em coleções como potentes ao mesmo tempo, estes bordados
Colección Isabel y Agustín Coppel, México; revelam as experiências do corpo e os
Museum of Contemporary Art, Cleveland, afetos dolorosos a partir de uma tradução
EUA; Fundação Joaquim Nabuco, Recife, minuciosa das cores da pele ao bordado.
Brasil; Middlesbrough Institute of Modern São abstrações orgânicas que condensam
Art, Middlesbrough, Inglaterra; Museu de Arte processos de mutação, afetos, emoções.
Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; Pinacoteca
do Estado de São Paulo, Brasil. Representada
pela Galeria Nara Roesler, em São Paulo.

BIENAL 12 CATÁLOGO 86
Irmãos
2016
Corações de bananeira germinados em bronze
34 x 35 x 5 cm
Cortesia da artista e Galeria Nara Roesler

Os hematomas
2016
bordado sobre tecido
74 x 42 cm

87 BIENAL 12 CATÁLOGO
Carmela Gross
(São Paulo, Brasil, 1946)

Carmela Gross tem realizado trabalhos em estar coberto com esta substância mole,
grande escala que se inserem no espaço vermelha e pegajosa. O carrinho de pipoca
urbano e que assinalam um olhar crítico sobre a se transforma num material que remete ao
arquitetura e a história urbana. O eixo comum, universo feminino. De certa forma, produz
para além da diversidade dos contextos e uma feminização dos objetos da cidade.
das propostas elaboradas em cada caso, é As interferências de Carmela Gross não
o conceito básico de trabalhar-na-cidade. proporcionam respostas. A autora mexe os
O conjunto de operações que envolvem desde sentidos conhecidos como materiais e signos e
a concepção do trabalho, passando pelo propõe pensá-los de uma maneira diferente.
processo de produção, até a disposição no
Hino à bandeira é um extenso tecido cor
lugar de exibição enfatizam a relação dialética
de rosa que será molhado diariamente na
entre a obra e o espaço, entre a obra e o
Bienal. Nela ecoam muitos sentidos possíveis.
público/transeunte. Os trabalhos procuram
Por uma parte, a bandeira, que não tremula no
engendrar novas percepções artísticas que
mastro, mas se apresenta molhada, no chão.
afirmam uma ação e um pensamento crítico
O emblema não se refere a nenhum país;
e que trazem à tona a carga semântica
poderia entender-se como uma pergunta
do lugar, seja ele um espaço público, uma
sobre os sentidos estabelecidos das bandeiras.
instituição ou o momento de uma exposição.
A cor rosa, que carrega os sentidos que a
sociedade imprime a cor quando esta é
associada ao feminino, inscreve a interrogação
Sobre a Obras na Bienal sobre as identidades masculinas que
tradicionalmente se associam aos fundamentos
Cinco quilos de batom vermelho foram
da nação. O tecido branco, que Carmela
necessários para cobrir este pequeno carrinho
descreve de forma analítica, se estende como
de pipoca. A cor e a textura do batom
uma proposta de reflexão crítica. Em todo
interceptam o sentido deste objeto vinculado
caso, a tarefa fica por conta de quem observa.
à vida na cidade, as crianças, ao consumo
Carmela acrescenta signos ambíguos, cujo
popular. Trata-se de um objeto comum,
sentido crítico nunca resulta evidente nem fixo.
habitual, que passaria despercebido de não

BIENAL 12 CATÁLOGO 88
HINO À BANDEIRA
2002
Instalação
Lençóis rosa cobertos com água
400 x 1100 cm
Coleção da artista

ROUGE
2018
185 x 126 x 70 cm
Batom e carrinho de pipoca
Coleção da artista

89 BIENAL 12 CATÁLOGO
Carole Condé e
Karl Beveridge
(Hamilton / Ottawa, Canadá, 1940 / 1945)

Carole Condé e Karl Beveridge vivem e Impressões digitais, 75 cm x 100 cm cada


trabalham em Toronto. Eles colaboraram com
Por mais de uma década, a dupla canadense
várias organizações sindicais e comunitárias
formada por Carole Condé e Karl Beveridge
na produção de seus trabalhos fotográficos
vem trabalhando em um formato único de
nos últimos 40 anos. Seu trabalho foi exibido
fotografia documental com engajamento
em todo o Canadá e internacionalmente,
político, a fim de expor as repercussões
tanto no movimento sindical quanto em
do capitalismo em escala global. Por meio
galerias de arte e museus. Recentemente,
de um diálogo contínuo com os artistas,
seu trabalho foi incluído em exposições:
os protagonistas - incluindo organizadores
Really Useful Knowledge, Museu Reina Sofía,
do setor trabalhista e trabalhadores rurais
Madrid; The Noorderlicht Photofestival,
imigrantes - têm a última palavra na concepção
Groningen, Holanda; Toronto: Tributes and
de suas representações através de fotocolagens
Tributaries, Galeria de Arte de Ontario. Carole
meticulosamente produzidas por Condé
e Karl receberam um doutorado honorário da
e Beveridge. Tomando como personagem
Faculdade de Arte e Design da Universidade
principal um ativista indígena de Cochabamba,
de Ontário (OCAD) em 2010 e da Universidade
Bolívia, A queda da água faz uma reencenação
de Arte e Design da Nova Escócia (NSCAD)
do quadro A queda dos anjos rebeldes
em 2015; o Prêmio Cultural Cesar Chavez
(1562), de Pieter Bruegel, o Velho, a fim de
Black Eagle do United Food and Commercial
apresentar uma alegoria do conflito mundial
Workers (UFCW), Canadá, em 2011; o Prêmio
entre defensores do direito à agua e quem
de mérito artístico da Universidade de
faz uso abusivo de tal recurso - corporações
Quebec, em Montreal (UQAM) em 2013.
transnacionais que transformam este precioso
bem em commodity, indústria do petróleo e o
Banco Mundial. Por sua vez, Histórias retrata
Sobre a Obras na Bienal diversas formas de cuidado a idosos em
distintos contextos sociais, onde a narrativa de
A queda da água histórias é elemento central; nesse trabalho,
os idosos se tornam não apenas meros
Impressão digital, tamanho a ser averiguado receptores de entretenimento, mas repositórios
Histórias (série de quatro imagens) essenciais de conhecimentos ancestrais.

BIENAL 12 CATÁLOGO 90
Série Stories
2016
4 adesivos
100 x 75 cm
Cortesia de Carolé Conde + Karl Beveridge

91 BIENAL 12 CATÁLOGO
Cecilia Vicuña
(Santiago, Chile, 1948)

Poeta, artista e cineasta chilena de longa primeiro no Chile, depois internacionalmente


trajetória internacional, criadora do “lo em cidades como Bogotá, Londres ou Nova
precario”, uma poética espacial de ações Iorque. Suas ações se conectam com as
e performances realizadas na natureza, agendas decoloniais e com o feminismo
ruas e museus como uma forma de “ouvir ecológico. Entre as suas obras se destacam os
um antigo silêncio esperando ser ouvido”. quipu (nó) com os quais Cecilia retoma uma
Desde os anos 60, sua obra tem reelaborado prática ancestral das culturas incaicas, onde,
o pensamento poético e espacial ameríndio com laços e nós se armazenavam informação
para enfrentar o desastre ecológico do nosso contável e relatos épicos. Quipu testigos (Quipu
tempo. Fundou a Tribu No no Chile, em 1967, e testemunhas) propõe partir de materiais do
cofundou Artists for Democracy, em Londres, seu estúdio em NY, de onde a artista enviará
em 1974. Em 2011 fundou oysi.org dedicado para a bienal por Fedex. Em Porto Alegre estes
a valorização do pensamento indígena. materiais iniciais se completarão com lixos,
Autora de 25 livros de arte e poesia, seu título galhos e despojos enviados por diferentes
mais recente é New & Selected Poems of comunidades, testemunhas de objetos
Cecilia Vicuña, 2018. Seu trabalho visual foi quebrados e maltratados que assumiriam a
exibido na documenta 14, Kassel e Atenas, forma de um quipu delicado, vazio, mínimo,
2017, e faz parte das coleções permanentes capaz de unir os fragmentos de uma forma
do MoMA e do Museu Guggenheim em visual e táctil. O quipu é a testemunha da
Nova Iorque e da Tate em Londres. destruição do Amazonas e do massacre dos
povos indígenas. Trata-se de um poema
coletivo, espacial, que envolve os corpos e os
Sobre a Obra na Bienal restos. É um projeto que se realizará no espaço
da Bienal como uma forma suave desdobrada
Quipu Testigos (Quipu Testemunhas), uma no espaço. Na sua união poética e escultórica
obra em processo para a bienal. Poeta, dos restos, se apresentará como uma forma
artista da performance, pintora, fazedora de de resistência perante a devastação Quipu
objetos precários, são muitas as formas de Testigos, una obra en proceso para la bienal.
nomear esta artista polifacética que desde os
anos sessenta desenvolve uma obra radical,

BIENAL 12 CATÁLOGO 92
Semiya
1971-2000
Projeto sementes na terra, instalação
precária
1971
Galeria Gabriela Mistral, Chile, 2000

93 BIENAL 12 CATÁLOGO
Semiya
1971-2000
Projeto sementes na terra, instalação
precária
1971
Galeria Gabriela Mistral, Chile, 2000

BIENAL 12 CATÁLOGO 94
Quipu testigo de la destruición de la Amazonia
2020
Desenho do projeto para a Bienal 12
Coleção da artista

95 BIENAL 12 CATÁLOGO
Chiachio e Giannone
(Buenos Aires/Córdoba, Argentina, 1969 / 1964)

Somos uma família queer, dois homens artistas O predomínio do verde mostra a plenitude
que são um casal na vida e na arte, com três da natureza onde o casal é protagonista junto
filhos de estimação que completam o nosso ao seu cachorro. O tapete comemora a união
ambiente familiar. O bordado é a técnica que entre a natureza e o humano, assinalando à
utilizamos geralmente para desenvolver o conservação do planeta. Propõe-se como um
nosso trabalho. Ambos decidimos transferir o tributo, como uma memória a ser transmitida
nosso conhecimento pictórico para o universo as futuras gerações. A temática introduz o
têxtil e ampliar os limites de suas próprias debate sobre o antropocentrismo, o domínio
configurações, uma vez que tentamos romper do homem sobre os ecossistemas do planeta,
o estereótipo entre gênero e tarefa. Para os efeitos devastadores da sua ação na
realizá-lo trabalhamos com materiais da nossa natureza. Comemora a integração entre o
casa como um conceito de “lar universal” e humano e as espécies animais e diz respeito
o carinho a eles vinculado. Os suportes dos a uma vida em comum baseada nos afetos.
nossos trabalhos são velhos lençóis, capas de
almofadas, cobertores, guardanapos, lenços, Um lugar onde viver
etc. Trabalhamos com dois conceitos: o uso de
materiais domésticos com sua carga afetiva Leo e Daniel se conheceram em 2003 e desde
e a reutilização dos mesmos enfatizando então trabalham juntos. Na sua obra utilizam
o cuidado com o meio ambiente e a ideia o bordado, técnica feminina com a qual
de dar uma segunda chance às coisas. recuperam o trabalho artesanal. Esta ação em
comunidade que dialoga com a peça exibida
na bienal La familia en el alegre verdor que
Sobre a Obras na Bienal pretende ser uma extensão do nosso trabalho
em colaboração convidando à comunidade
Leo e Daniel se conheceram em 2003 e a bordar pássaros e flores repensando e
desde então trabalham juntos. Na sua obra re-imaginando um lugar para viver em expansão
utilizam o bordado, técnica feminina com perpétua. Um mundo-lar onde também tem
a qual recuperam o trabalho artesanal. lugar todos os imaginários dissidentes de família
Em 2013 fizeram a pintura La familia en el e modos de afetividade queer. Estas pequenas
alegre verdor (A família no alegre verdor) e peças de telas bordadas que, com pequenos
começaram o bordado em tamanho grande. recortes de céu, buscam rastrear vínculos e
Esta obra, que se exibe pela primeira vez, redes afetivas de sociabilidade e pertencimento
retrata as novas configurações familiares. a partir deste saber doméstico: bordar.

BIENAL 12 CATÁLOGO 96
La Familia en el alegre verdor
2015-2019
Tapeçaria bordada a mão
270 x 440 cm
Coleção dos artistas

97 BIENAL 12 CATÁLOGO
Un lugar donde vivir
2020
Instalação com bordados
Dimensões variáveis
Coleção dos artistas

BIENAL 12 CATÁLOGO 98
Claudia Paim
(Porto Alegre, Brasil, 1961 – 2018)

Claudia Paim foi artista visual e professora na Em primeiro lugar, as relações entre corpo e
Universidade Federal de Rio Grande – FURG. afetos (Segredos, Entre mia boca e teu olvido)
Graduada em História (1989) pela Universidade e entre corpo e espaço (Corpopaisagem).
Federal do Rio Grande do Sul. Mestre (2004) Em suas performances o registro emocional
e Doutora (2009) em Artes Visuais pela também se une ao registro da violência
mesma Universidade, com estágio doutoral na (Discurso amoroso). O corpo é exposto em uma
Universidad Politécnica de Valencia (Espanha) performance extremadamente comovedora
em 2007-2008. Foi membro colaborador do em Devastação, quando a artista nos confronta
Núcleo de Arte e Design (NAD) do Instituto com os signos que a doença deixa no seu
de Investigação em Arte, Design e Sociedade cabelo. Em Possibilidades, enquanto a artista
da Faculdade de Belas Artes da Universidade quebra 420 ovos, pronuncia os nomes neles
do Porto – Portugal. Desenvolveu pesquisa inscritos. Com cada ruptura fricciona as
sobre coletivos e espaço público, performance relações entre corpo e gênero. Paim reitera
e corpo. Como artista atuou em coletivos e frases, reitera movimentos. A repetição,
individualmente com produção em vídeo, lembremos, é um instrumento central na
instalações, performance, desenho, arte meditação e em atos de resistência política.
sonora, ação urbana, fotografia, objetos e Com suas performances Paim instala uma
poesia. Teve textos publicados e exposições poderosa reflexão sobre os afetos, e o faz
individuais e coletivas no Brasil e exterior. desde o território do seu próprio corpo.

Sobre a Obras na Bienal


A antologia que apresentamos mostra aspectos
centrais nas performances que Cláudia
Paim fez desde finais dos anos noventa.

99 BIENAL 12 CATÁLOGO
Devastação
2016
Vídeo
5’34’’

Entre minha boca


e teu ouvido
2017
Vídeo
4’14’’

BIENAL 12 CATÁLOGO 100


Coco
(Montevidéu, Uruguai, 2016)

COCO é uma coletiva constituída em 2016 no COCO é um coletivo formado em 2016 por
Uruguai por mulheres latino-americanas que se quatro artistas uruguaias (Natalia de León,
propõem a reativar diálogos no domínio da arte Lucía Ehrlich, María Mascaró y Carolina
contemporânea ainda regida pelo patriarcado Sobrino). Curadoria, performance, fotografia,
das antigas capitais artísticas. Entendemos a vídeo, pintura e instalação são as ferramentas
arte como uma ferramenta de compreensão e que lês permitem questionar e reformular
poder de mudança. Propomo-nos a produzir o relato artístico dominante e transformar
ações concretas que motivem uma reflexão o imaginário simbólico do mundo que
profunda sobre a construção das identidades vivemos. Atualmente, as integrantes atuam
na pós-modernidade, questionando os desde Madri, Paris e Montevidéu. Na Bienal
mecanismos raciais, misóginos, homofóbicos, elas apresentam uma instalação Archivo X
transfóbicos, classistas, elitistas e colonialistas (Arquivo X), uma proposta de subversão do
que produzem desigualdades e violência nas arquivo hegemônico da arte. Com marcações
nossas culturas. Investigamos, produzimos, em catálogos e revistas de arte, elas expõem o
gerimos e participamos no campo da arte e do apagamento das artistas mulheres. Os stickers
seu cruzamento com os diferentes setores da sobre cada revista, catálogo ou livro assinala
sociedade. Participaram do coletivo Catalina a percentagem de artistas incluídas em cada
Bunge, Natalia de León y María Mascaró. publicação. Um formato eficiente para mostrar
que o mundo da arte é desigual e que seus
critérios de seleção são brancos e patriarcais.

101 BIENAL 12 CATÁLOGO


Iletradxs
2018/2020
Publicações impressas com etiquetas
Medidas variadas
Coleção das artistas

BIENAL 12 CATÁLOGO 102


Cristina Schiavi
(Buenos Aires, Argentina, 1954)

Vive e trabalha em Buenos Aires. Entre suas (Malba), Museu Franklin Rawson de San Juan,
últimas mostras estão: em 2020 ‘Para todes Museu de Arte Contemporânea de Rosário
tode” C.C.K; em 2019 ”Acople”, galeria Roldán (Macro), Museu de Arte Contemporânea
Moderno, ”Tácticas Luminosas”, Museu de Bahía Blanca, dentre outros.
Colección Fortabat; em 2018 “Asi!....quizás,
debería agregar algo más”, Galeria Pasaje
17, “Una llamarada pertinaz”, Museo de Arte Sobre a Obras na Bienal
Moderna de Buenos Aires; em 2017 “Untitled
fair”, Galeria Miranda Bosch, Miami; “Un ciprés Grupo de familia (Grupo de Família) é uma
para alcanzarte” Centro Cultural Kirchner; em obra que Cristina Schiavi cria em 1999, dois
2016 “Esta extraña forma mia de aparecer” anos depois da sua separação. Trata-se de
en galería Miranda Bosch, Dixit Arteba 2016; uma reflexão sobre a complexidade da família,
“Estoy aquí” no Centro Cultural Recoleta. Em sobre a sua própria família, muito próxima,
2014, “El teatro de la Pintura”, Museu de Arte com todas as virtudes e desvantagens que essa
Moderna de Buenos Aires, “Superpuestos proximidade pode gerar. Seu núcleo familiar se
con Battistelli” na galeria do Infinito, “Yente desmontou, em um sentido, durante a ditadura
Schiavi Kemble Saravia” na Galeria Van Riel, argentina, já que morar juntos ficou perigoso.
“Desborde y modulación” na Fundacão Klemm. Seu irmão emigrou para Barcelona, e ela morou
com a sua irmã e seu sobrinho, sendo o pai
Entre 2004 e 2009, junto com Tamara Stuby e
dele um desaparecido. Feita com materiais
Esteban Álvarez, dirigiu o projeto de residência
comuns (azulejos de banheiro), a obra insere
artística “El Basilisco”. Com Juan Tessi,
o tema família, com dimensão monumental.
desenvolveu o projeto Mark Morgan Perez
Este atrito entre o comum e o monumento
Garage em 2009. Seu trabalho faz parte, das
introduz um distanciamento irônico e crítico em
coleções do Museu Nacional de Belas Artes,
relação às formas de patriarcado que o conceito
Museu de Arte Moderna de Buenos Aires
tradicional de família reproduz no capitalismo.
(Mamba), Museu de Arte Latino-Americana

103 BIENAL 12 CATÁLOGO


Grupo Família
1999-2020
Madeira, resina e azulejos
Medidas variáveis
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 104


Dana Whabira
(Harare, Zimbábue, 1976)

Dana Whabira é uma artista, arquiteta e


facilitadora cultural do Zimbábue, que vive e
Sobre a Obras na Bienal
trabalha em Harare. Arquiteta por formação,
estudou arte e design no Central Saint Martin’s Obras sobre papel: Círculos de incerteza.
College, em Londres (2011). Ela emprega uma
prática experimental focada em pesquisa A prática experimental da artista visual e
e orientada ao contexto, preocupada com arquiteta Dana Whabira é centrada em espaço,
espaço, cartografia e dando forma ou formato a cartografia e entendimento crítico sobre
entendimentos críticos de como podemos viver como podemos viver conjuntamente. A série
juntos. Whabira representou o Zimbábue na 57ª Círculos de incerteza se trata de uma pesquisa
Bienal de Veneza (2017) e participou da Bienal contínua sobre histórias de mapeamento
de Dak’art (2018). Ela já expôs amplamente, e migração em comunidades da diáspora
além de participar de residências de arte e africana. Por meio destas formas circulares em
dar palestras local e internacionalmente. Sua grande escala, Whabira reconstitui histórias de
primeira exposição individual, “Suspended in comunidades quilombolas que encontraram a
Animation”, foi realizada na Galeria Nacional liberdade através de medidas extremas, como
do Zimbábue (2013). Ela participou de várias colocar mapas de rotas de fuga, sementes
exposições coletivas, incluindo Undefined e ouro em seus cabelos. Para o seu projeto
Territories: Reflections on Postcolonialism, em Porto Alegre, Whabira decidiu traçar a
MACBA, Barcelona (2019), (2019), Cosmopolis espacialidade, temporalidade e radicalidade
#1.5 Enlarged Intelligence, Mao Jihong Arts da comunidade negra local, mapeando
Foundation, Chengdu (2018), Measure the quilombos locais e área de ocupação negra,
Valleys, Parcours d’art contemporain en enxergando sua natureza complexa, sua
vallée du Lot, Maison des Arts Georges & existência precária e delineamento ambíguo,
Claude Pompidou, Cajarc (2018), Tracing tanto no passado quanto atualmente. Como
Obsolescence, Apexart, New York City (2018) forma de ter acesso a políticas raciais no
e Towards Intersections, Museum of Africa, Brasil, Whabira também mostrou interesse
Johannesburg e UNISA Art Gallery, Pretória no status/espaço ocupado pelos quilombos
(2015). Ela é a fundadora da Njelele Art na psique, mitologia e imaginário urbanos.
Station, um laboratório urbano e espaço para Em seus trabalhos, cartografia, caligrafia
projetos que se concentra na prática de arte e composição estão interligadas a fim de
contemporânea, experimental e pública. destacar redes de libertação, elos e conexões
transnacionais entre a América Latina e a África.

105 BIENAL 12 CATÁLOGO


Circles of Uncertainty (5)
2017
Processo: Circle of Uncertainty (5),
Studio, Harare, 2017.
Foto: Raphael Chikukwa, cortesia de
The National Gallery of Zimbabwe.

BIENAL 12 CATÁLOGO 106


Daniela Ortiz
(Cusco, Peru, 1985)

Vive e trabalha em Barcelona.


Sobre a Obras na Bienal
Através de seu trabalho, Daniela tenta gerar
narrativas visuais onde os conceitos de
O ABC da Europa racista
nacionalidade, racialização, classe social e
(El ABC de la Europa racista), 2017
gênero são entendidos criticamente para
analisar o poder colonial, capitalista e patriarcal. Por mais de uma década, a artista peruana
Seus projetos e pesquisas recentes abordam o Daniela Ortiz vive em Barcelona e suas vivências
sistema europeu de controle de imigração, sua enquanto imigrante mulher e racializada
ligação com o colonialismo e os mecanismos no território do antigo Império Espanhol se
legais criados pelas instituições europeias para tornaram o eixo de seus projetos multimídia,
poder exercer a violência contra populações que vão de ações em espaços públicos a
migrantes e racializadas. Ao mesmo tempo, esculturas em cerâmica e placas decorativas
ela desenvolveu vários projetos sobre a classe pintadas. Em seus trabalhos, Ortiz faz uma
alta peruana e sua relação exploradora com crítica direta da persistência do projeto colonial
trabalhadoras domésticas. Recentemente, seu espanhol e - de forma mais ampla - da Europa
trabalho artístico voltou a se concentrar no Ocidental, que se manifesta atualmente por
visual e no manual, realizando trabalhos em meio das leis de imigração da União Europeia e
cerâmica, colagem, desenho e formatos como diversas formas de opressão a imigrantes, tanto
livros infantis, com a intenção de se afastar da em nível institucional quanto na vida cotidiana.
estética conceitual eurocêntrica. Ferramenta para leitura e alfabetização política,
Além de seu trabalho artístico, ela é mãe de O ABC da Europa racista utiliza uma forma
um wawa (bebê) de três anos, dá palestras, familiar - um livro de alfabetização infantil -
workshops e participa de várias discussões e para inculcar informações nefastas sobre as
lutas contra o sistema europeu de controle diversas formas de perseguição enfrentadas
de imigração e o racismo institucional. por crianças imigrantes e suas famílias e
para formar um discurso feroz contra tais
perseguições, desde as operações do Frontex
(Agência Europeia de Gestão da Cooperação
Operacional nas Fronteiras Externas) até o uso
de linhas aéreas comerciais para deportações.

107 BIENAL 12 CATÁLOGO


Série ABC da Europa Racista
2017
Impressão papel fibermat
42 x 42 cm
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 108


109 BIENAL 12 CATÁLOGO
Eliana Otta
(Lima, Peru, 1981)

Artista visual e mestre em Estudos Culturais de uma ampla gama de mídias para tratar do
pela Universidade Católica do Peru (PUCP). desenvolvimento desigual, incongruências e
Expôs seu trabalho em cidades como Londres, pressões da vida cotidiana em megalópoles
Nova Iorque, Barcelona e Cali. Realizou atuais, como Lima, sua cidade natal. Feminista
residências como Planta Alta (Espanha), autodeclarada, demonstra interesse especial
Gapado Air (Coreia do Sul), Capacete (Grécia), em políticas de classe e gênero. Seu trabalho
Sommerakademie im Zentrum Paul Klee está intimamente antenado às maneiras
(Suíça). Coordenou a equipe curatorial para a através das quais corpos concretos e diversos
exposição permanente do Lugar de la Memoria, operam e reivindicam seus direitos em espaços
Lima (Peru). É membro e cofundadora do urbanos e na esfera pública. Para o projeto
espaço independente Bisagra. É docente na Palavras de mulheres (Palabras de mujeres,
Faculdade de Artes da PUCP, da Escola de 2017), cujas seleções são aqui exibidas,
Arte Corriente Alterna e da Escola Superior Otta cuidadosamente escolheu frases de
Nacional de Belas Artes. É representada pela poemas escritos pelas famosas escritoras
Galeria 80m2 Livia Benavides. Atualmente peruanas Montserrat Álvarez e Carmen Ollé,
é candidata para o Doutorado em Práticas transformando-as em slogans com fins de
da Escola de Belas Artes de Viena. denúncia e autoafirmação. Simultaneamente,
seus banners bordados e bem-humorados
- produzidos com plástico e panos de
Sobre a Obras na Bienal prato, apoiados por sapatos reciclados -
ressignificam o trabalho doméstico, tarefa
Da série Palabras de mujeres, 2017 à qual as mulheres eram tradicionalmente
Monteserrat e Carmen relegadas, e atuam como ferramentas
Vídeo Palabras de mujeres, 01:35:40 de autoexpressão e empoderamento.

Eliana Otta, artista peruana multifacetada,


desenvolve projetos participativos e faz uso

BIENAL 12 CATÁLOGO 110


Montserrat II
2017
Bastões de madeira, sapatos reciclados, pano de
cozinha e bordado
80 X 62 cm; 77 x 65 cm; 80 x 65 cm; 80 x 65 cm;
80 x 62 cm
Cortesia 80m2 Livia Benavides Galeria

111 BIENAL 12 CATÁLOGO


Elina Chauvet
(Casa Grandes, México, 1959)

Estudou arquitetura em Ciudad Juárez e marido, Elina Chauvet realiza nesta cidade
atualmente vive e trabalha na cidade de uma instalação com 33 pares de sapatos
Mazatlán Sinaloa. De formação inicialmente doados, pintados de vermelho. Desde então, a
autodidata, posteriormente agregou diversos instalação tem se tornado itinerante e passado
cursos e oficinas de pintura, desenho, cerâmica, por diferentes cidades do mundo e adquirido
gráficos, mídias alternativas e fotografia formatos variados. Na Bienal 12 se reatualiza
com professores do México, Estados Unidos partindo de um trabalho participativo da
e Canadá. Eliana conta com exposições comunidade de Porto Alegre em coparticipação
individuais e coletivas no México, América com a THEMIS, uma ONG criada por um grupo
do Sul, Estados Unidos e Europa. Criadora de advogadas e cientistas sociais feministas
da instalação de arte pública Zapatos Rojos, com o objetivo de confrontar as discriminações
sua obra mais representativa, a qual é um das mulheres no sistema judiciário. Por meio
projeto de arte participativa iniciado em da THEMIS se teve acesso a diferentes pontos
2009 em Ciudad Juárez e que tem sido da periferia da cidade de Porto Alegre e
replicada no México e em diversos países região metropolitana (dividida em 7 regiões:
como Itália, Noruega, Argentina, Chile, Restinga, Cruzeiro, Eixo Baltazar, Lomba do
Paraguai, Espanha, Equador, Estados Unidos, Pinheiro, Zona Leste, Canoas e Guaíba) com
Canadá, Brasil e outros. Zapatos Rojos é o objetivo de coletar pares de sapatos das
um projeto que promove a não violência às mulheres que estão numa situação de maior
mulheres e é um símbolo internacional. vulnerabilidade social e além disso, de alguma
maneira, fazer com que a bienal chegue
ativamente a estes espaços. Os sapatos se
Sobre a Obras na Bienal dispõem na escadaria do Memorial como uma
intervenção simbólica poderosa que lembra
Em 2009, em resposta a onda de feminicídios que a violência contra as mulheres continua se
acontecidos em Cidade Juárez nos anos reproduzindo, que não faz parte do passado,
noventa, e a morte da irmã da artista pelo seu mas integra dolorosamente o presente.

BIENAL 12 CATÁLOGO 112


Zapatos Rojos
2009-2020
Sapatos femininos pintados com tinta vermelha
Dimensões variadas
Cortesia da artista

113 BIENAL 12 CATÁLOGO


Élle de Bernardini
(Itaqui, Brasil, 1991)

Vive e trabalha em São Paulo. Tem formação foco na investigação do corpo transexual,
em ballet clássico pela Royal Academy of Dance o corpo que se apresenta desdobrado, em
de Londres. É uma mulher transexual com uma uma experiência que convida a ver, sentar-se,
produção permeada por sua biografia. Suas tocar, escutar, interatuar. Desde a cor, textura
obras integram importantes coleções como, do tecido, forma e som, propõe um espaço
Museu de Arte do Rio Grande do Sul / MARGS, de reestruturação dos sentidos. É uma obra
Porto Alegre. MAC- RS, Porto Alegre. MAC- que condensa, como teses e antíteses, obras
Niterói, Rio de Janeiro. Coleção Santander anteriores como Dance with me, na qual ela
Brasil, São Paulo. Museu de Arte do Rio, Rio de cobria seu corpo com camadas de ouro, ou
Janeiro. Museu de Arte Moderna do Rio, Rio Bruna: cidade, feminilidade e dissidência.
de Janeiro. Fundação de Artes Marcos Amaro, Nesta instalação, as formas, as texturas e
Itu, Museu Nacional da República, Brasília e sons se unem para investigar um modelo
Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo. de sociedade novo baseado no afeto.

Sobre a Obras na Bienal


TransDialética é um site specific que Élle
de Bernardini realiza para a Bienal 12, com

BIENAL 12 CATÁLOGO 114


Transdialética
2020
Materiais diversos
Dimensões variadas
Cortesia da artista

115 BIENAL 12 CATÁLOGO


Eneida Sanches
(Salvador, Brasil, 1962)

Eneida nasceu em Salvador, Bahia. Mora Alliance, primeiro espaço exclusivamente


e trabalha em São Paulo com atelier no para negros e pessoas de cor localizada em
Condomínio Cultural, Vila Anglo. Iniciou estudos Portland Maine. Torna-se parte do Conselho
em artes na escola de Arte da Bahia aos 6 anos Diretor desta instituição. Palestra no Fóruns
de idade. Cursou arquitetura, de 1980 a 1990, Internacionais LASA (Boston) Maio 2019 e
e, simultaneamente, acompanha o curso de Black Portraitures Outubro 2019 sobre o
Artes Plásticas na Escola de Belas Artes da Transe enquanto processo artístico. Ensinou
Universidade Federal da Bahia. Desde 1990 sobre o mesmo tema na Faculdade de Artes
passa a pesquisar a estética africana e afro- Visuais MECA (Maine College of Arts) para
brasileira e entre 1995 e 2000 estuda gravura os alunos do MFA. Em 2020 apresenta suas
em metal nas Oficinas do Museu de Arte obras na Mostra Estratégias do Feminino.
Moderna da Bahia. Expõe de 1992 a 2000 em
Museus e Galerias de NY com ferramentas de
uso litúrgico do candomblé yorubá. Apresenta Sobre a Obras na Bienal
obras relacionadas ao tema do Transe e passa
a usar a gravura em campo expandido, como A gravadora, arquiteta e mestre ferramenteira
ambos estrutura e conceito, em objetos e Eneida Sanches é (re)conhecida como a
instalações. Recebeu o prêmio do XXIV Salão primeira mulher a desenhar e produzir
de Artes MAM Bahia e participou de residência ferramentas de santo no Brasil, um importante
na Holanda. A partir de 2011, reúne gravura fazer ancestral que ela compartilha através
e vídeo-instalação através da série Transe – de cursos e oficinas para jovens aprendizes.
Deslocamento de Dimensões em um trabalho Portanto, no caso de Sanches, gestos e
colaborativo com o fotógrafo e videomaker estratégias femininas (e feministas) se traduzem
Tracy Collins (NY). Em 2013 tem seu trabalho também em atos de martelar, marretar e soldar.
publicado na Revista de Arte contemporânea Parte de sua investigação sobre a gravura
N/Paradoxa (Bisi Silva) e expõe instalação como im/pressão e seus desdobramentos,
Transe (vídeo instalação) no Festival Vídeo as gravuras-desenhos (ou desenhos híbridos)
Brasil 2013 – SP. Em 2014 foi selecionada para apresentados na Bienal 12 | Porto Alegre
uma residência em arte contemporânea no articulam experimentações com o grafite
NAFASI Artspace em Dar Es Salaam, Tanzânia sobre o papel, a ponta seca sobre o chumbo,
onde permaneceu por 3 meses. Em 2015 foi e o desenho sobre o cobre. Os desenhos da
indicada ao Prêmio PIPA e participa da Bienal série About Frictions (sobre fricções) emergem
da Bahia. Em 2016 apresenta sua obra no Itaú das fricções, rasgos e inserções que a artista
Cultural SP na coletiva Diálogos Ausentes faz sobre o metal. Em About Affections (sobre
com curadoria de Rosana Paulino e Diane afecções) a artista explora ideia da imagem
Lima. Em 2017 apresenta obras na Bienal de da gravura como carimbo pensada à partir
Gaia, Portugal. Em 2018, faz individual na do corpo e suas possíveis afecções — o
galeria Andrea Rehder SP, participa da mostra papel (corpo) em sanfona ganha movimento
PretAtitudes curadoria de Claudinei Silva e tem de expansão e encolhimento. Mas uma
artigo publicado na Revista Contemporary& pergunta importante evocada pelo trabalho
por Alexandre Bispo. Em 2019 participa como de Sanchez é como sua obra movimenta nosso
residente em Artes Visuais em INDIGO Arts entendimento sobre gravura e sobre desenho?

BIENAL 12 CATÁLOGO 116


Sem título, série Sobre as Afecções
2019
140 x 60 cm
Desenho, papel manteiga, grafite e chumbo
Coleção da artista

Sem título, série


Sobre as Afecções
2019
140 x 60 cm
Desenho, papel manteiga,
grafite e chumbo
Coleção da artista

117 BIENAL 12 CATÁLOGO


Esther Ferrer
(San Sebastián, Espanha, 1937)

Performer e artista visual desde 1966, representada nesta Bienal pela obra Instalación
individualmente e com o grupo espanhol ZAJ. esquina con triángulos (Instalação Esquina
Ela sempre privilegiou a prática efêmera da com Triângulos), uma obra que se adapta
arte/ação. A partir da década de 1970, dedicou ao espaço, feita com fios e pregos sobre
parte de sua atividade às artes plásticas, um muro. A instalação se origina de uma
instalações, fotos, telas baseadas na série de maquete que, como muitas outras, não esta
números primos, etc. Representou a Espanha datada. Os fios, materiais comuns e frágeis,
na Bienal de Veneza em 1999, recebeu, entre atravessam o espaço de forma seriada,
outros, o Prêmio Nacional de Artes Plásticas da reiterativa, equidistante. Embora a artista
Espanha 2008 e em 2014 o prêmio Velazquez e leve em consideração a fiação elétrica que
o prêmio MAV (Mujeres en las Artes Visuales). atravessa a paisagem, a sua instalação não diz
E. Ferrer já expôs em inúmeras galerias, museus respeito a uma funcionalidade prática. Os fios
e feiras e participou, como artista, em inúmeros determinam o volume, organizam o espaço.
festivais internacionais. Suas duas últimas “É, de certa forma, desenhar no vazio”, comenta
exposições são: Toutes les variations ont a artista. É frente a estes espaços ou paisagens
valables comprise celle ci, no Museo Centro de abstratas que a fragilidade se organiza, que
Arte Reina Sofia, 2017 e Espacios entrelazados, a nossa imaginação se deleita com múltiplas
no Museo Gugenheim-Bilbao, 2018. Ela associações possíveis com a natureza ou com
também é autora de duas peças radiofônicas. as relações sociais. Ou, pelo contrário, podemos
observar em estado de expectativa suspensa
esta obra minimalista, de ritmos repetidos.
Sobre as Obras na Bienal
Pioneira na arte da performance na Espanha,
feminista e ácrata, integrante do grupo Zaj
criado em 1964 na Espanha, Esther Ferrer é

BIENAL 12 CATÁLOGO 118


Esquina
1990-2016
Série Proyectos espaciales
378 x 508 x 508 cm
Coleção da artista

119 BIENAL 12 CATÁLOGO


Eugenia
Vargas-Pereira
(Chillán, Chile, 1949)

Artista multidisciplinar conhecida por seu


trabalho com fotografia, instalações e
Sobre as Obras na Bienal
performances. Sediada em Santiago, Chile, A performer e fotografa chilena Eugenia
seu trabalho foi exibido em locais como a Vargas apresenta na Bienal 12 a sua instalação
Bienal 12, Porto Alegre, Brasil 20/20, Radical sonora Lo que oyen los muros (O que os muros
Women, Museu Hammer, PST / LA / LA, EUA, ouvem). Trata-se de uma parede localizada na
2017; O LA Art Show 2017; We The People, sala do Memorial construída com materiais
Casablanca Biennale, Mezquita Hassan, industriais, na que incontáveis dispositivos
Marrocos, 2016; Limitrofe, XX Bienal de Santa de arte sonoros reproduzem e fixam-se na
Cruz da Serra, Bolívia, 2016. Em 2003, ela memória. É uma coletividade de mulheres cujas
representou seu país, Chile, na 50ª Bienal vozes vêm de uma só. No som se relacionam
de Veneza, Sonhos e Conflitos e convidou o o corpo e o gênero, se trata de ecos poéticos
fotógrafo da Plaza de Armas de Santiago, Luis e políticos. Não é um muro que divide.
Maldonado, para transportar seu estúdio móvel A reunião das suas peças convida a considerar
e câmera estenopeica para a Ilha Giudecca. a diversidade, a inclusão, a equidade de gênero
Em 2011, seu filme Meninas e Cavalos foi em todas as suas manifestações e, em geral,
apresentado na exposição Silence of The fortalecer a unidade, a empatia e proximidade
Beast, no Centro Pompidou, em Paris. Em com o outro. Trata-se de um processo de
Miami, em 2000, ela fundou uma rádio de construção criativa no qual o resultado fica
baixa frequência, a Talking Head Transmitters na sala como uma constante interrogação.
(THT), transmitida em FM, para construir uma O som que vem do muro reativa
ponte entre artistas e comunidade. A THT já continuamente a ideia de uma matéria viva,
transmitiu do Muzeum Anaheim Ca, como sonora, que convoca a escuta coletiva.
parte do PST / LA / LA; O LA Art Show; Nós,
o povo, a Bienal de Casablanca; New Works
Miami Art Museum; o Museu Quartier em
Viena, Áustria, Vienna Art Week, Intrude,
Zendai Moma, Xangai, China, entre outros.

BIENAL 12 CATÁLOGO 120


Lo que oyen los muros
2020
120 blocos lisos e 28 auto-falantes
285 x 147 cm x 38 cm
Coleção da artista

121 BIENAL 12 CATÁLOGO


Fátima Pecci Carou
(Buenos Aires, Argentina, 1984)

‘É pintora, musicista e ativista. Ela se formou jovens e adultos) que foram vítimas de
em Artes Visuais pela UMSA, estudou História feminicídios ou que estão desaparecidas.
da Arte na UBA e recebeu uma bolsa do Esta violência acontece no mundo todo.
Centro de Investigaciones Artísticas (CIA) em A violência contra os corpos femininos e
2015. Obteve acompanhamento e orientações feminizados é cotidiana. O excesso destas
artísticas de Ana Gallardo. Ganhou o 1º prêmio imagens evoca a brutalidade destas ausências.
em pintura no Salón Vincentín (Santa Fe) e, Muitas mulheres somem nas redes de trafico
em 2018, o Prêmio no Barrio Joven-ArteBA de pessoas, outras são assassinadas quando
com seu projeto Kunoichi (Solo Show-Galería vão dançar ou nas suas próprias casas,
Piedras). No ano de 2020, ela participa com geralmente por seus próprios companheiros.
o seu trabalho ‘’Algun día saldrá de aquí Fátima vai além da estatística quando pinta
(Feminicidios)’’ na 12ª Bienal do Mercosul seus rostos e redireciona seus olhares. Elas não
em Porto Alegre, a partir da curadoria de são um número, são pessoas, vidas, afetos. São
Andrea Giunta. Faz parte da Assembléia das rostos que reclamam por justiça. Os retratos
Trabalhadores da Arte Nosotras Proponemo partem das fotografias das organizações que
que busca tornar visível o trabalho de procuram estas pessoas, e que são publicadas
artistas femininas e identidades feminizadas nas redes sociais e meios de comunicação. Os
e denuncia as desigualdades existentes bastidores se adaptam ao formato das fotos.
no mundo das artes visuais. Ela também é Porém, a tradução para a pintura não é literal.
membro da Escuela de Brujas Feministas para Introduz o gesto radical de modificar a direção
crianças, junto a outras artistas e ativistas. do olhar. Os olhos apontam ao espectador e,
Ela produz o fanzine XOXO e realiza uma desta forma, interpelam as e os espectadores;
investigação histórica sobre pintoras argentinas interrogam a responsabilidade da sociedade
e latino-americanas com Deborah Pruden. nestes feminicídios e desaparições.

Sobre as Obras na Bienal


Pintora e música, Fátima Pecci Caron apresenta
na bienal 200 retratos pintados de mulheres,
travestis e pessoas trans argentinas (crianças,

BIENAL 12 CATÁLOGO 122


Algún dia saldré de
aquí (Femicídios)
2014-2016
150 pinturas
Medidas variáveis
Coleção da artista

123 BIENAL 12 CATÁLOGO


Geta Bratescu
(Bucareste, Romênia, 1926-2018)

Geta Brătescu é uma figura central da arte


contemporânea romena desde os anos
Sobre as Obras na Bienal
1960. Artista com uma carreira longa e rica, Arista visual que desenvolveu o seu trabalho
Brătescu desenvolveu um complexo corpo em desenhos, colagens, fotografias,
de trabalho que inclui desenho, colagem, performances, têxtis e filmes, Geta Brătescu
gravura, tapeçaria, objeto, fotografia, filme participa na bienal com uma série de vídeos
experimental, vídeo e performance. Ela curtos nos quais ela desenha. A câmera foca
estudou na Faculdade de Letras e Filosofia em suas mãos, no caderno espiral e na caneta
e, simultaneamente, na Academia de Belas escura e grossa que faz os traços. Cada toma
Artes de Bucareste e trabalhou como diretora é um desenho. A artista frente à folha em
artística da revista “Secolul 20 [século 20]”, branco, o traço preto que a atravessa, o tempo
rebatizada como “Secolul 21 [século 21]” na de reflexionar sobre qual será o seu próximo
virada do milênio. Geta Brătescu participou traço, a exclamação quando considera
de algumas das mais importantes exposições terminado o seu trabalho. Em certos momentos
de arte contemporânea, como Documenta algumas palavras fazem uma reflexão sobre
14, Atenas e Kassel (2017), Bienal de Veneza o que ela esta fazendo. Podemos ver as
(2013), Trienal, Paris, Palais de Tokyo (2012) mãos de Geta aos 88 anos, riscando com
e a 12ª Bienal de Istambul (2011), para citar segurança gestos que são também reflexivos.
apenas alguns. Em 2017, Geta Brătescu O desenho como gesto mental, como aventura
representou a Romênia na Bienal de Veneza do traço, como uma viagem no papel.
com o projeto “Apparitions”, a primeira
mostra individual de uma artista feminina
no Pavilhão Romeno. Entre suas exposições
individuais recentes estão as da Neuer
Berliner Kunstverein, Berlim (2018), Hauser &
Wirth Los Angeles (2018) e Nova York (2017),
Camden Arts Center, Londres e MSK Gent
(2018), Hamburger Kunsthalle, Hamburgo
( 2016), Tate Liverpool (2015), Berkeley Art
Museum e Pacific Film Archive (2014).

BIENAL 12 CATÁLOGO 124


Linia / The Line
2014
Video stills. HD video, 16:9, 14:50 min.
Image, sound, editing: Ștefan Sava
Cortesia de Instituto de Geta
Brătescu, Hauser & Wirth e Ivan
Gallery Bucharest

125 BIENAL 12 CATÁLOGO


Gladys Kalichini
(Chingola, Zâmbia, 1978)

Em seu trabalho plástico, a artista trabalha na qual algumas das pessoas em luto são
com o cruzamento entre pintura, mangá cobertas com um pó branco (chinbuyaring),
japonês e ativismo. No âmbito musical Kalichini propõe a criação de um contexto
ela fez parte das bandas Suripantas, Las para experiências pessoais e compartilhadas
Fantásticas Pupés e XOXOBOMBA. Em 2019, de luto e rememoração, ao mesmo tempo
ela publicou seu primeiro livro de pinturas dedicando um espaço para tratar a questão
‘’Femininjas’’, pela Ronda Editorial. da perda/desaparecimento de histórias de
mulheres de importância histórica — como
é o caso de Alice Lenshina (n.1920 - m.1978)
Sobre a Obra na Bienal e Julia Chikamoneka (n.1910 – m.1986), figuras
importantes durante a luta da Zâmbia pela
A prática artística de Gladys Kalichini se independência no início da década de 1960,
concentra em três temáticas principais: cujos papéis foram parcamente registrados
história colonial, marginalização e memória, ou reconhecidos pelas narrativas oficiais.
principalmente com relação a narrativas Ao criar um lugar de luto e ritual e evocar as
de mulheres, que estiveram ausentes da narrativas de mulheres de relevância histórica,
memória coletiva em contextos africanos. este trabalho também se propõe como um
Na videoinstalação Sepultamento: apagando gesto de luto para mulheres simples da
o apagamento (2017), na qual a artista encena atualidade cujas histórias já foram apagadas
uma prática de sepultamento zambiana ou estão em processo de desaparecimento.

BIENAL 12 CATÁLOGO 126


Burial: Erasing Erasure
2017
Vídeo instalação
4’29’’
Coleção da artista

127 BIENAL 12 CATÁLOGO


Gonzalo Elvira
(Patagônia, Argentina, 1971)

Vive e trabalha em Barcelona desde 2000. de Cortázar 62/Modelo para Armar. Paul Klee,
Hispano-Argentino, Gonzalo Elvira vem Vassily Kandisnki, Moholy Nagy, Marcel Breuer,
realizando uma prolongada e constante Josef Albers, Johannes Itten, dentre outros,
trajetória desde seu primeiro projeto individual, ensinavam na escola. A única presença docente
no ano de 1193. Trabalha normalmente em feminina era Günta Stolz. Elvira se propôs
projetos de pesquisa histórico-social de destacar o papel das mulheres da escola, que
longa duração. Estudou na escola de artes trabalhavam nas oficinas têxtis, cerâmica,
visuais Antonio Berni, em Buenos Aires. Nos sem ter participação nas oficinas de ferraria
últimos cinco anos vem realizando diversas nem arquitetura. Alegavam que as mulheres
exposições individuais e coletivas na Espanha, tinham problemas com a tridimensionalidade.
Argentina, Andorra, Colômbia, Brasil, Itália, Marianne Brandt, na oficina de ferraria, foi
exibindo seus projetos em diversos espaços uma exceção, da mesma forma Grete Stern
institucionais e privados, museus, galerias, que se formou como fotografa em Bauhaus
feiras e centros de pesquisa. Atualmente e desenvolveu a sua atividade na Argentina.
é um dos bolsistas da Fundação Botin. Gonzalo Elvira pega como ponto de partida
os retratos das mulheres de Bauhaus para
desenhar retratos que por sua vez fotografa e
Sobre a Obra na Bienal integra no desenho site specific na Bienal 12.
A sua obra faz reflexionar sobre a fotografia e
Bauhaus 1919, Modelo para Armar (Bauhaus ressalta o lugar das mulheres em Bauhaus.
1919, Modelo para Montar), faz referência ao ano
de criação desta escola de desenho e ao livro

BIENAL 12 CATÁLOGO 128


Série Mujeres de Bauhaus
2020
Impressões e desenhos
vermelhos e pretos na parede
400 x 650 cm
Cortesia do artista e Rocio
Santa Cruz Gallery

129 BIENAL 12 CATÁLOGO


Série Mujeres de Bauhaus
2020
Impressões e desenhos
vermelhos e pretos na parede
400 x 650 cm
Cortesia do artista e Rocio
Santa Cruz Gallery

BIENAL 12 CATÁLOGO 130


Grete Stern
(Wuppertal, Alemanha, 1904 - 1999)

Entre 1923 e 1925 estuda desenho gráfico Aires e sua arquitetura; paisagens do sul e
e tipografia na Technische Hochschule, em do norte da Argentina; a vida e o artesanato
Stuttgart. Em 1927, seguindo o conselho de dos aborígenas do Gran Chaco; retratos de
seu amigo, o grande fotógrafo Umbo, faz diversos artistas e intelectuais argentinos.
aulas particulares - junto a Ellen Auerbach -
com o aclamado professor Walter Peterhans.
Quando este inicia seus cursos na oficina de Sobre as Obras na Bienal
fotografia da Bauhaus, suas jovens discípulas
continuam ali seus aprendizados. Em 1932, A fotografa alemã Grete Stern, que foi aluna em
na Bauhaus, conhece o fotógrafo argentino Bauhaus, foi morar na Argentina nos anos trinta,
Horacio Coppola, com quem se casaria três durante o surgimento do nazismo. Em 1958
anos depois. Em 1929 Grete e Ellen abrem adotou a nacionalidade argentina. Entre 1958
ringl+pit, um ateliê de desenho gráfico e 1960 viajou para a Província argentina do
e fotografia altamente experimental em Chaco, convocada pela Universidade Nacional
Berlim. Com a ascensão e consolidação do do Nordeste para fotografar a vida e as
regime nazista no poder e o consequente costumes indígenas. A Universidade planejava
encerramento da Bauhaus, Grete migra para criar um museu e um arquivo etnográfico
Inglaterra, junto com seu marido e sua sócia, regional. Retratou tobas, suas moradias,
onde se instalaram na nova sede do ateliê seu trabalho e registrou aos linguistas que
ringl+pit. O ateliê londrino permanece aberto pesquisavam sobre as suas línguas aborígenes.
apenas por um ano já que Ellen se vê obrigada Em 1964 ficou durante quatro meses em
a viajar para os Estados Unidos. 1935 Grete viaja Resistencia, para dar continuidade ao projeto.
a Buenos Aires com Horario Coppola, onde Fotografou a tobas, wichis, mocovíes. Nestas
se instalaram permanentemente. Lá retoma fotografias Grete retoma, de certa forma, o
suas atividades fotográficas e publicitárias, interesse que a Bauhaus tinha nas culturas
focando no seu trabalho das ideias modernistas aborígenes, nos tecidos, nas suas linguagens.
da Nueva-Visión que trouxe consigo da Retrata o trabalho destas mulheres, mas
Europa. Sua obra fotográfica compreende, também seus pertences, seus sorrisos.
entre outros trabalhos, séries sobre Buenos Nota-se nelas o orgulho destas mulheres.

131 BIENAL 12 CATÁLOGO


Série Sueños
1948-1951
Gelatin Silver Print
Herdeiros de Grete Stern / Cortesia
da Galería Jorge Mara La - Ruche

BIENAL 12 CATÁLOGO 132


Mujer chorote
1958-1964
Aborígenes del Gran Chaco.
Fotografías de Grete Stern. 1958-1964
Mujer chorote
Tartagal, Salta. 28 de agosto de 1964.
Colección Matteo Goretti / Getty
Research Institute, Los Ángeles.

Mujer de la familia
del cacique Temai
1958-1964
Aborígenes del Gran Chaco.
Fotografías de Grete Stern. 1958-1964
Mujer de la familia del cacique
Temai. Legua 15, cerca de Tres Isletas,
Chaco. 14 de julio de 1964.
Colección Matteo Goretti / Getty
Research Institute, Los Ángeles.

133 BIENAL 12 CATÁLOGO


Guerrilha Girls
(Nova York, Estados Unidos , 1985)

Guerrilla Girls é um coletivo anônimo de que ponto a mulher tem sido representada,
artistas feministas e antirracistas de Nova geralmente nua, constituindo uma das
Iorque. Desde 1985, valendo-se de táticas temáticas principais, mas ignorada como artista.
de comunicação, denunciam com humor e As suas análises se focam no mundo da arte
eficácia a discriminação sofrida pelas mulheres e na indústria do cinema, a cultura popular,
no mundo da arte. Elas intervêm ruas e os estereótipos de gênero e a corrupção
galerias de Nova Iorque de forma anônima, que invade o sistema da arte. Seus cartazes
utilizando máscaras de Gorilas e nomes de utilizam o gráfico e o humor como ferramentas
artistas falecidas (como Kathe Kollwitz). Elas de alto impacto nas suas mensagens. As
entendem que o conteúdo denunciado é mais pessoas que atualmente participam do grupo
importante que a autoria individual. A sua enfatizam as campanhas contra a violência
agenda feminista também considera a crítica contra a mulher, defendem a igualdade
ao colonialismo e ao racismo. Em relação à racial e se opõem as guerras e ditaduras.
história da arte, colocam em evidência até

BIENAL 12 CATÁLOGO 134


As mulheres precisam estar nuas para entrar no Museu de Arte de São Paulo?
2017
Impressão digital sobre papel, 32 x 73
Acervo Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Doação das artistas, 2017-
MASP.10727
Foto Guerrilla Girls

135 BIENAL 12 CATÁLOGO


Gwladys Gambie
(Martinica, 1988)

Vive e trabalha em Forte da França, Martinica. interrogações sobre a mulher negra e suas
Formada no Campus Caraibéen des Arts representações tanto na Martinica, ilha
da Martinica em 2014, Gwladys Gambie onde a artista vive e trabalha, quanto no
apresentou sua obra artística em shows Caribe em geral. A paisagem do Caribe e o
coletivos e individuais na Martinica, Cuba, “creole” como parte da paisagem sonora
Aruba, Miami e Guiana Francesa. O principal da região são articulações importantes
questionamento de Gwladys é a condição e nessa reflexão e informam tanto a criação
representação da mulher negra através da do imaginário da artista quanto a de uma
prática de desenho e escultura. Ela é inspirada iconografia específica para representar, de
na paisagem caribenha que pertence ao modo decolonial, o corpo da mulher negra
seu imaginário e acrescenta uma dimensão que, imaginário de Gambie, é uma cartografia
onírica à sua escrita gráfica. Creole, uma forte sensível, um espaço poético. Para a Bienal
linguagem visual, torna-se um elemento 12 | Porto Alegre, Gambie expandiu a série
principal para criar uma iconografia específica de colagens The birth of Manman Chadwon
em seu trabalho sobre o corpo feminino negro. (2018), uma figura de sua mitologia pessoal
Ela está sempre procurando uma maneira de cuja criação foi inspirada em Manman Dlo, a
decolonial de representar corpos negros. deusa do oceano na cultura Afro-Caribenha.
O significado da palavra Chadwon, em
“creole”, também remete a ouriço do mar, uma
Sobre a Obra na Bienal referência recorrente no trabalho da artista.

O trabalho da artista Gwladys Gambie,


geralmente materializado através de desenho,
colagens e performance, está centrado em

BIENAL 12 CATÁLOGO 136


Sem título
Papel e tinta nanquim
460 x 320 cm
Coleção da artista

137 BIENAL 12 CATÁLOGO


Helô Sanvoy
(Goiânia, Brasil, 1985)

Vive em São Paulo. É licenciado em Artes trançando o cabelo do artista enquanto


Visuais pela FAV/UFG e mestrando pela ECA/ trava uma longa conversa com Sanvoy e sua
USP. É membro do coletivo de performance esposa, Dheyne de Souza, sobre os eventos
Grupo EmpreZa desde 2011, onde desenvolve de sua infância: as condições de trabalho nas
pesquisa acentuada sobre a poética do corpo e lavouras, a convivência com descendentes
seus derivados. Como artista individual, busca de escravizados, as dificuldades da vida no
significados através dos diferentes modos de interior de Goiás, os costumes da família, os
leitura, impossibilidades de comunicação e cuidados com o corpo e, especialmente, com
processos de silenciamento. Foi premiado no os cabelos. O momento de cuidar dos cabelos
23º SALÃO ANAPOLINO DE ARTE (2017) e no como contexto para conversas relevantes
7° SALÃO DE ARTES PLÁSTICAS DE SUZANO sobre a temas sociais e políticos é um evento
(2011). Realizou exposições individuais no MAC- recorrente na história das famílias negras
GO (2014) e na CAL/UNB (2014). Possui obras no Brasil. As histórias da infância da mãe do
em acervos no Museu de Arte do Rio Grande do artista se confundem com o contexto geral
Sul (MARGS), no Museu de Arte do Rio (MAR), da vida de famílias no interior de Goiás e do
no Museu de Arte Contemporânea de Goiás Centro-Oeste, no pós 1950, remetendo, assim,
(MAC-GO). Participou de exposições coletivas à formação do tecido social, histórico e cultural
como “ZONA DE PERIGO”, do 5ª Prêmio do interior do Brasil e, consequentemente,
Marcantonio Vilaça (2016), e “POROROCA: às condições de desigualdades políticas
A Amazônia no MAR”, no MAR-RJ (2014). e sociais vividas no país atualmente.

Sobre a Obra na Bienal


Na obra em vídeo, Estão sendo tecidos
(2013/2018), o artista multidisciplinar Helô
Sanvoy registra sua mãe, Maria Conceição,

BIENAL 12 CATÁLOGO 138


Estão sendo tecidos
2013-2018
Vídeo
16’40”
Coleção do artista

139 BIENAL 12 CATÁLOGO


Janaina Barros
(São Paulo, Brasil, 1979)

Artista visual, pesquisadora e professora no uma atenção ao domínio do doméstico e do


Departamento de Artes Plásticas na Escola privado pretos, suas performances acentuam
de Belas Artes da Universidade Federal de considerações sobre o sujeito feminino
Minas Gerais. Doutora pelo Programa de negro e as tensões e exotizações criadas por
Pós-Graduação Interunidades em Estética sua presença no espaço público. Nas séries
e História da Arte pela Universidade de Psicanálise do cafuné: catinga de mulata (2017)
São Paulo (PGEHA-USP). Mestre em Artes e Psicanálise do cafuné: sobre remendos,
pelo Instituto de Artes da Universidade afetos e territórios (2016-2019), Barros nos
Estadual Paulista (IA-UNESP). Especialista conduz a um espaço íntimo, feminino e preto
em Linguagens Visuais pela Faculdade e nos convida a considerar algumas questões:
Santa Marcelina (FASM). Graduada em Como pensar sobre afetos em relação a
Educação Artística com Habilitação em uma população em permanente situação de
Artes Plásticas pela Universidade Estadual violência e terror? Como atravessar os impactos
Paulista (IA-UNESP). Desenvolve pesquisa de naturalizações de violências coloniais e
sobre arquivo e epistemologias em arte des/velar epistemicídios contemporâneos
contemporânea de autoria negra. Possui e tecnologias de implementação dessas
publicações sobre o debate de autoria negra violências? Como acionar a memória
e gênero na arte brasileira contemporânea. como chave para reconstruir narrativas
coletivas como estratégia de resistência?
Quais as epistemologias, tradições e
Sobre as Obras na Bienal modos de aprendizagem específicos das
famílias pretas? Como voltar ao nosso
Janaina Barros é artista visual, arte educadora e livro de receitas pretas e mergulhar em
pesquisadora acadêmica cuja pesquisa envolve nossos conhecimentos ancestrais: nos
a criação de objetos com costura e bordado, e banhos de ervas, nas orações para todos
performance. Enquanto seus objetos revelam os males, e nas simpatias para o amor?

BIENAL 12 CATÁLOGO 140


Psicanálise do cafuné:
catinga de mulata
(Tanacetum vulgare)
2017
C-Print
90 x 60 cm
Coleção da artista

141 BIENAL 12 CATÁLOGO


Psicanálise do cafuné: sobre remendos,
afetos e territórios (Livro cor de rosa)
2016.
Objeto. Costura e bordado, tecido em malha e renda.
36 x 53 x 88 cm

BIENAL 12 CATÁLOGO 142


Janet Toro
(Osorno, Chile, 1963)

Artista visual e performer chilena. Estudou do corpo, principalmente em relação ao lugar


Licenciatura em Artes, na Facultad de Artes das mulheres na sociedade patriarcal. Em
da Univesidad de Chile. Participou no grupo Carmín (7’15’’, 2013), a artista pinta com batom
APJ (Artistas Plásticos Jóvenes) O trabalho vermelho seus lábios e depois esfrega 1000
da artista é uma reflexão visual e corporal papeis brancos neles. A beleza do primeiro
sobre a existência humana. Sua criação surge momento vai sumindo e o seu rosto manchado
da necessidade de aprofundar a existência fica com uma expressão de palhaço. Os seus
e desde ali, gerar um âmbito de resistência lábios sentem a dor da fricção, eco do tráfico
e um espaço de poesia. Ela trabalha com as de mulheres e meninas que ela evoca. Na
políticas do corpo, com o ser mulher em uma performance El reflejo (O reflexo, 2015), com
sociedade patriarcal e colonial. Trabalha desde o Museu da Memoria e dos Direitos Humanos
os limites, o mínimo, o controvertido e extremo no fundo, um grupo de migrantes interroga a
por vez. É uma das artistas da exposição identidade desde espelhos que devolvem a
Radical Women, que vem sendo exibida nos imagem dos seus rostos a quem olha. Existe
Museus Hammer, na Califórnia, Brooklyn, em uma continuidade entre a performance “Este
Nova Iorque e na Pinacoteca de São Paulo. es mi cuerpo” (“Este é meu corpo”) no MAC
de Santiago, que se amplía com Este é o
meu corpo, que acontece entre a Praça da
Sobre as Obras na Bienal Alfândega e o prédio do Memorial, durante
a abertura da Bienal 12. Do corpo da artista,
Integrante da Agrupação de Plásticos Jovens soterrada, surgem as fotos de mulheres
participou em ações urbanas contra a ditadura assassinadas no mundo. Deste lugar, Janet
do Pinochet, Janet Toro realiza performances parte para o Memorial e cruza a sua retórica
que falam da memória, dos limites e as políticas arquitetônica com uma tela que nos interpela.

143 BIENAL 12 CATÁLOGO


El reflejo - performance
2015
Performace
100 x 80 cm
Documentación fotográfica
Marileu Avendaño
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 144


Carmín
2013
Vídeo still
8' 02"
Documentação vídeo Sven Hahne
Coleção da artista

145 BIENAL 12 CATÁLOGO


Este és mi cuerpo
2017
Vídeo still
8'
Documentación video Sven Hahne
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 146


Jessica Kairé
(Cidade de Guatemala, Guatemala, 1980)

Artista e educadora, vive e trabalha em Nova outras formas de artesanato em projetos


York. Ela também é co-fundadora do NuMu que incitam a participação do público e
(Nuevo Museo de Arte Contemporáneo), um que revelam observações prazerosas e ao
museu em forma de ovo localizado na Cidade mesmo tempo dolorosas acerca de questões
da Guatemala que visa saciar a falta de outras de gênero e identidade nacional e regional.
instituições de arte contemporânea no país. Sob o véu de um humor ácido, os vídeos da
Em sua prática, Kairé emprega elementos série Tal é a vida nos trópicos e esculturas
artísticos e domésticos para criar obras que suaves coletivamente intituladas CONFORTO
frequentemente solicitam a participação do tratam da violência generalizada que permeia
público através de várias formas de ativação. o cotidiano na Guatemala. Ao se apropriar
Seu trabalho aborda questões relacionadas do formato de um programa televisivo de
à identidade guatemalteca e latina em culinária, a série Tal é a vida nos trópicos
assuntos gerais e específicos de seu país de pode ser vista como uma atualização do
origem: violência, subdesenvolvimento e emblemático vídeo feminista Semiótica da
tropicalidade. Ela já expôs internacionalmente, cozinha (1975) para o contexto da Guatemala
em locais como o Proyectos Ultravioleta, “tropical” contemporânea. Estrelando frutas
Cidade da Guatemala; Museo Jumex, Cidade nativas do país como meios para a produção
do México; Museu de Arte do Condado de de armas de autodefesa do “tipo faça-você-
Los Angeles (LACMA), Califórnia; 2da Gran mesmo”, os vídeos de Kairé, além de seus
Bienal Tropical, Loíza, Porto Rico; El Museo objetos macios de pelúcia, servem tanto como
del Barrio, Nova York; e as XVI e XIX Bienales uma denúncia de violências e como recusa de
de Arte Paiz, Cidade da Guatemala. submissão ao medo engendrado por elas.

Sobre as Obras na Bienal


Jéssica Kairé, artista guatemalteca de
descendência judaica radicada em Nova
York, utiliza alimentos, produtos têxteis e

147 BIENAL 12 CATÁLOGO


CONFORT
[Da série Confort]
2008-2009
Cortesia da artista e Proyectos
Ultravioleta, Cidade da
Guatemala

BIENAL 12 CATÁLOGO 148


Such is life in the tropics
2012
Vídeo stills
Cortesia da artista e Proyectos
Ultravioleta, Cidade da Guatemala

149 BIENAL 12 CATÁLOGO


Joiri Minaya
(Nova York, Estados Unidos, 1990)

Joiri Minaya (1990) é uma artista São representações em baixa resolução, que
multidisciplinar dominicana-americana, divide nas suas partes, expande a escala
cujos trabalhos recentes se concentram em humana, e imprime em formas que suspende
desestabilizar representações históricas e na sala de exposições. São partes de corpos que
contemporâneas de uma identidade tropical vestem estampas coloridas que se adaptam
imaginada. Minaya frequentou a Escuela as fantasias sobre as características típicas da
Nacional de Artes Visuales in Santo Domingo mulher tropical for export. O formato se parece
(2009), a Altos de Chavón School of Design com o de uma coleção e a sua classificação
(2011) e Parsons the New School for Design se associa a organização encontrada nas
(2013). Ela participou de residências na estufas tropicais. A acumulação faz uma
Skowhegan School of Painting and Sculpture, paródia dos estereótipos, os lugares comuns
Guttenberg Arts, Smack Mellon, Bronx e a imaginação masculina sobre os padrões
Museum’s AIM Program e NYFA Mentoring repetidos em relação à mulher tropical.
Program for Immigrant Artists, Red Bull House Trata-se de descolonizar histórias, culturas e
of Art, Lower East Side Printshop e Art Omi. ideias já instituídas. Siboney é o registro de
Ela foi premiada com uma bolsa do Socrates uma performance que consta de duas partes.
Sculpture Park Emerging Artist Fellowship, além A primeira é o vídeo que documenta o processo
de bolsas da Artadia, Joan Mitchell Foundation, de copiar em uma parede de um museu
Rema Hort Mann Foundation e Nancy Graves uma estampa tropical de um tecido achado
Foundation. O trabalho de Minaya está na pela artista. Ao mesmo tempo, ela explorou
coleção do Museo de Arte Moderno e Centro a coleção do Centro León na República
León Jiménes na República Dominicana. Dominicana e escolheu uma pintura da artista
Vela Zanetti, com a temática de uma mulata
dançando. Joiri trabalhou aproximadamente
Sobre as Obras na Bienal um mês para fazer este mural. Foi utilizada
tinta a base de água. Posteriormente, na
Jori Minaya nasceu em Nova Iorque, mas performance apresentada, a artista jogou água
morou na República Dominicana até os sobre o seu corpo e deslizou-o apertando-o
21 anos. Atualmente mora nos Estados Unidos, contra a parede, fazendo com que as cores
o Norte Global. A percepção crítica das se borrassem, se misturarem. Durante a
desconexões e interpretações estereotipadas performance se ouvia uma adaptação da canção
que percebe diariamente é um campo de Siboney da Connie Francis. A performance
exploração criativa para a artista. As imagens faz uma análise crítica sobre os conceitos
de #dominicanwomengooglesearch de monumentalidade, sobre o corpo que se
apareceram na pesquisa no Google, em inglês, transforma em pincel ou borracha e sobre a
que Joiri fez sobre a “mulher dominicana”. evanescência dos estereótipos da tropicalidade.

BIENAL 12 CATÁLOGO 150


Siboney
2014
Vídeo HD
10’
Cortesia da artista e da Coleção Eduardo León Jiimenes, Santiago, RD

151 BIENAL 12 CATÁLOGO


#dominicanwomengooglesearch
2016
Impressão digital sobre sintra e colagem sobre tela
Dimensões variadas
Cortesia da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 152


Jota Mombaça
(Natal, Brasil, 1991)

Jota Mombaça é uma artista interdisciplinar escrita desaguam em ensaios poéticos, ficção
cujo trabalho deriva da poesia, da teoria crítica cientifica, e formas de ficção visionária que
e da performance. A materialidade sônica e incluem pressentimentos e prosa profética.
visual das palavras opera um papel importante Desse nódulo vem a Série bandeiras (2017-
em sua prática, que em geral se relaciona 2020) cuja versão ampliada com 21 peças
com crítica anti-colonial e desobediência é apresentada na Bienal 12 | Porto Alegre.
de gênero. Através da performance, ficção Segundo elemento chave no processo de
visionária e estratégias situadas de produção investigação de Mombaça, a performance
de conhecimento, ela tenciona ensaiar o fim vem ganhando força à partir da série de
do mundo como conhecemos e a figuração ações A ferida colonial ainda dói (2015-2018).
daquilo que sucede à queda do sujeito É dentro da chave da performance que
Moderno-Colonial de seu pódio. Atualmente podemos pensar a obra Así desaparecemos
vive e trabalha entre Fortaleza, Lisboa e Berlim. (2019-2020). O projeto é pensado em
relação a queima de arquivos históricos. No
Brasil a referência a ordem oficial dada por
Sobre as Obras na Bienal Rui Barbosa para a queima dos arquivos
relacionados a escravidão em 1892 e ao
A prática multidisciplinar da artista Jota incêndio do Museu Nacional no Rio de Janeiro
Mombaça se desdobra à partir de dois em 2018. Posicionada em frente a obra Auras
elementos chave que se esbarram, se anônimas de Beatriz González, Mombaça lê,
articulam e se interpelam: seus processos desde um papel em chamas, textos escritos
de escrita e performance. Os processos de por vítimas do conflito na Colômbia.

153 BIENAL 12 CATÁLOGO


NÃOVÃO
2017-2019
Bandeiras em voal
Instalação
75 x 84 cm
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 154


Judy Chicago
(Chicago, Estados Unidos da America, 1939)

Judy Chicago é uma artista, autora


de 14 livros, educadora e humanista cuja
Sobre a Obra na Bienal
obra e vida são modelos para uma larga Judy Chicago foi a artista que estabeleceu a
definição de arte, um papel expandido para agenda do feminismo artístico nos Estados
artistas, e direito de livre expressão das Unidos desde finais dos anos sessenta.
mulheres. Chicago é mais conhecida pelo O programa de formação artística feminista
seu papel em criar uma arte feminista e pelo que levou adiante com a Miriam Schapiro em
programa de arte-educação na Califórnia CalArts (UCLA) foi pioneiro e determinante:
durante o início da década de 1970, e por influenciou a artista mexicana Mónica Mayer
seu trabalho monumental The Dinner Party, que estudou neste programa. Mónica participa
executado entre 1974 e 1979, o qual é a na Bienal 12 com a sua obra El Tendedero
peça central do Elizabeth A. Sackler Center (O Varal). Atmopheres é uma obra que
for Feminist Art no Brooklyn Museum em Judy faz entre 1968 e 1974 intervenções
Nova York. A obra de Chicago vem sendo com fogos de artificio de diferentes cores
exibida extensivamente nos Estados Unidos (fumaça colorida) em espaços naturais da
da América e internacionalmente e sua Califórnia. O objetivo era transformar e
influência continua sendo um conhecimento suavizar a paisagem, introduzindo um impulso
mundo afora. Judy Chicago é representada feminino no entorno, ou recriar atividades da
pela Salon 94 em Nova York e pela Galeria pré-história com foco nas mulheres – como
Jessica Silverman em São Francisco. acender fogueira ou adorar figuras de deusas.

155 BIENAL 12 CATÁLOGO


Atmosphere
1968-1974
Vídeo still
14’14”
Coleção Salon 94

BIENAL 12 CATÁLOGO 156


Atmosphere
1968-1974
Vídeo still
14’14”
Coleção Salon 94

157 BIENAL 12 CATÁLOGO


Juliana Dos Santos
(São Paulo, Brasil, 1987)

Artista visual e arte/educadora, com trabalhos performativa, composta de luz, som e sensor
em vídeo, performance, fotografia e multimídia. de presença. A obra surgiu das reflexões
Juliana tem investigado a cor Azul da flor de Juliana dos Santos sobre os limites e as
Clitoria Ternátea como possibilidade da cor possibilidades poéticas de ser artista negra,
como experiência sensível na exploração reflexões que a artista articula através das
dos sentidos. Realizou a primeira exposição perguntas: ‘Seria possível falar do Azul se o
individual em 2018 como artista/docente tempo todo não me deixam esquecer que meu
convidada na residência artística da Academia limite está muito aquém do céu? Quais são
de Belas Artes de Viena, Áustria. Sua primeira as demandas que não me deixo/deixam
individual no Brasil foi pelo edital Temporada esquecer? Podem artist_s negr_s abstrair?
de Projetos do Paço das Artes em 2019. Nesse Como falar do azul se o tempo todo gritam-me
mesmo ano foi contemplada com medalha “negra”? Como posso esquecer-me no azul se
de bronze no 16o Salão Ubatuba de Artes a lembrança alheia me interrompe o sonho?’
Visuais. Atualmente participa da exposição Assim, a instalação é uma elaboração de uma
Abre-Alas 16 da A Gentil Carioca galeria. experiência imersiva que surge dessa busca do
sensível e da experimentação plástico-formal,
num exercício e tentativa de falar do azul
Sobre a Obra na Bienal entre outras possibilidades de partilha.

“Entre o azul e o que não me deixo/deixam


esquecer” é uma instalação interativa e

BIENAL 12 CATÁLOGO 158


Entre o Azul e o que Não Me
Deixo/Deixam Esquecer II
2019/2020
Instalação
Dimensões variadas
Coleção da artista

159 BIENAL 12 CATÁLOGO


Juliana Góngora
(Bogotá, Colômbia, 1988)

Trabalha com materiais primitivos e orgânicos: montada pela artista Juliana Góngora no
terra, sal, fios de aranha, grãos de areia, pedras, espaço da Bienal 12, por cima da altura dos
vidro. Coleciona condições esculturais: força, espetadores. A artista pesquisa o processo de
sutileza, pressionar, esperar, suspender, transformar leite líquido em um fio sólido com
umedecer. Como artista incita a consciência o que é possível tricotar. O projeto nasce de um
material e afirma que, como espécie, conto da Marguerite Yourcenar, “La leche de la
precisamos cuidar de nossas ações diárias muerte” (“O leite da morte”), sobre uma mulher
em vez de expor nosso discursos de poder. sepultada cujo leite continua brotando para
Algumas de suas exposições e reconhecimentos alimentar o seu filho. Ou da história de Hera,
são: Art+château Burgandy, França, Bienal 12 que quando o leite do seu peito respingou
Porto Alegre (2020), Zona Maco CDMX 2020, criou a Via Láctea. Juliana investigou física e
“Pasado, tiempo, futuro. Arte en Colombia intuitivamente como traduzir estas histórias
en el siglo XXI” MAMM (2019), Artecámara em uma dimensão real, convertendo o leite em
ARTBO (2018), residência do MacVal Musèe fibra. Extraiu a caseína do leite, acrescentou
d’art contemporain du Val-de-Marne dentro cal e formou uma massinha que modela com
do marco do ano Colômbia-França (2017). as mãos e combina com terra. Depois de
Ganhadora da bolsa de estudos de criação para experimentar por dois anos primeiramente
artistas emergentes do Ministério da Cultura em laboratório e depois na cozinha da sua
(2015), Bolsa de estudos FLORA ars+natura casa, observando atentamente a emotividade
Artista en Residencia (2015); residência do seu material, o leite-sempre diferente,
em Mildred’s Lane New York, USA (2016) e extremadamente permeável ao meio que
ganhadora do prêmio Arte Joven em 2016. o rodeia—conseguiu o fio. O fio tem uma
aparência elástica e quase translúcida. Techo
de leche y tierra (Teto de leite e terra) acolhe
Sobre a Obra na Bienal os corpos que circulam baixo o seu espaço.

Techo de leche y tierra (Teto de leite e terra)


é uma delicada e monumental instalação

BIENAL 12 CATÁLOGO 160


Techo de leche y tierra
2018/2019
93 varas de terra e leite
140 x 500 cm
Coleção da artista

161 BIENAL 12 CATÁLOGO


Juliana Vidal
(Cuenca, Equador, 1993)

Licenciada em Artes Visuais, pela Universidad investiga o encanto físico duradouro dos
de Cuenca, co-fundadora do projeto de arte traços em diversas mídias, desde fotografia
pública, La Carretilla - Arte Ambulante.Em 2018 analógica até práticas de escultura baseadas
Vidal foi ganhadora do prêmio Paris na XVI em produção de moldes. Seja por meio de
Bienal de Cuenca, em 2019 foi residente na Cité uma câmera fotográfica ou de materiais
International des Arts, em Paris durante um maleáveis diversos como argila, gesso e
período de seis meses. Participou nas mostras, resinas dentárias modernas, ela registra sinais
“Arte mula”, Quito, No Luhar, Artefactos e indexicais que mediam a ausência no espaço
Artilugios, com a Bienal de Cuenca; DES e no tempo. Através dessas operações, seu
DOBLA MIENTO, Cuenca, El Después de estar, trabalho se revela como uma espécie de
Quito, La Forme du Temps, Paris, “Processo mediação estendida com relação à visibilidade
de Error”, InVeLaboratio de formação em e invisibilidade de tipos diversos de corpos
vídeo experimental, Valparaiso, Chile. (2014), humanos, sua persistência e as marcas por eles
“PCC’sPoPPUp Kino2” Berlim-Alemanha deixadas nos espaços sociais em que vivemos.
(2015). Seu trabalho tem sido publicado nos Mais especificamente, seus tijolos de barro,
livros, “Mapas del Arte Contemporáneo produzidos artesanalmente, fazem a alusão ao
en el Ecuador”; ”Artefactos y Artilugios”; conceito de classe, na medida em que estão
Estructuras Vivientes, El arte como experiencia imbricados em diferentes modos de construção
plural, Revista; INDEX, Arte Contemporáneo; encontrados em cidades latino-americanas,
Revista La Descarga,Plataforma Cultural, apontando questões relativas à sua
e em diversas plataformas digitais. organização e segregação espacial.

Sobre a Obra na Bienal


Juliana Vidal (Tania Marcela Vidal Barrera),
uma jovem artista nascida em Cuenca,

BIENAL 12 CATÁLOGO 162


Indícios de Resistencia
2017
150 tijolos de terra, água, cola e corante
15 x 30 x 7 cm
Coleção da artista

163 BIENAL 12 CATÁLOGO


Julieta Hanono
(Buenos Aires, Argentina, 1962)

Nasceu em Buenos Aires. Estudou Filosofia


e Artes Visuais na Universidade de Rosario
Sobre a Obra na Bienal
(Argentina). Ela foi a Paris em 1990, convidada A instalação Traducir la Impenetrable (Traduzir
para a Escola de Belas Artes. Atualmente, vive o Impenetrável) apresenta o trabalho feito
e produz em Paris, Rosario e Buenos Aires. Seu pela Julieta Hanono em colaboração com
trabalho está relacionado à sua experiência integrantes da comunidade de povos originários
política na Argentina na década de 1970, com Gom, procedentes do Impenetrável (Chaco),
o desaparecimento, prisão e exílio na França. que moram em Rouillón, na periferia da cidade
Hoje, sua obra é constituída como um ponto de Rosário, Argentina. Seus interlocutores
de encontro entre duas esferas geográficas nesta comunidade são Arsenio, quem faz as
diferentes, a América Latina e o hemisfério figuras de animais em argila, e Ruperta, quem
norte. Através de suas produções do ponto trasladou espécies vegetais do Chaco para
de vista feminista, Hanono se compromete a Rosário. A multidão de pequenos animais
pensar nos modelos críticos e estéticos entre representa a ideia da diáspora. São tantas
o Norte e o Sul, questionando a linguagem em vidas como os quilômetros que separam
sua capacidade de traduzir histórias pessoais Rosário de Porto Alegre: 1208. Além disso, a
e coletivas. Suas obras conceituais funcionam instalação reúne o herbário que Julieta criou
como proposições poéticas que se desdobram partindo da impressão direta das espécies
e declinam em texto, desenho, escultura, filme, vegetais que ela ganhou de presente do
néon, cartaz etc. Sua proposta está inscrita em jardim da Ruperta. As impressões em papel
um trabalho em andamento que se chama de vegetal translúcido se sobrepõem criando
Tradução Afetiva e é desenvolvido em vários uma delicada textura visual. A instalação inclui
projetos interdisciplinares com base no papel uma sequência de impressões em branco
da artista como intérprete tradutora. Últimas sobre branco de um texto no qual Julieta
exposições: (2017) Centro Hélio Oiticica, Rio condensa sua experiência de estar entre duas
de Janeiro, Brasil, (2018) Museu da Memória línguas, o espanhol e o francês. Ela acrescenta
Rosário, Argentina, (2019) Museu da Cárcova, uma versão em Gom traduzida pelo Arsenio.
Buenos Aires, Argentina, (2020) participarão Trata assim da experiência da diáspora
da Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil da comunidade Gom e a que ela mesma
e o Centro Pompidou, Paris, França. vivenciou entre Paris, Buenos Aires e Rosário.
Qom – Um povo, acho?

BIENAL 12 CATÁLOGO 164


1035km
2019
Cerâmica
1030 peças de 4 x 4 cm
Coleção da artista

165 BIENAL 12 CATÁLOGO


El jardin mágico
de Ruperta
2019
Papel gravado
Dimensões variadas
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 166


Kan Xuan
(Anhui, China, 1972)

Nascida em 1972 em Anhui, China. Kan Xuan É considerada uma das artistas de vídeo
agora vive e trabalha entre Pequim (China) femininas mais importantes da China.
e Amsterdã(Holanda).Kanxuan trabalha One by One (Um a um) é um vídeo no qual
principalmente em vídeo, destacando os ela registra a ideia de movimento, como se
elementos, sentimentos e sensaçõestriviais estivesse num trem se mexendo. Quando
que experimentamos diariamente, mas que a câmera para, foca vestimentas militares.
raramente percebemos. Reproduzindo-os No momento em que as imagens passam
damaneira mais direta possível, seu trabalho é aceleradamente, se ouve o som da cidade,
impressionante por sua imaginação, relevância pancadas e furadeiras, aos que se superpõe
eexatidão. Ela se entrega a um aprimoramento o canto dos pássaros. A velocidade das
das técnicas do observador, mas transforma imagens configura uma textura visual, uma
essaobservação passiva em um desempenho trama na qual as contradições da vida urbana
ativo em seus vídeos. Humor, leveza e graça são redobradas, as tensões entre a cidade
caracterizamos trabalhos de Kan Xuan, e a natureza, e a regulamentação da cidade.
acompanhando um profundo senso de ironia Os filmes de Kan Xuan, aparentemente leves,
crítica.As exposições individuais recentes “light”, fluidos, furtivos, inscrevem sutis alusões
incluem: “Racing Gravels”, Times Art Center, políticas. Neste vídeo ela parte da experiência
Berlim, Alemanha(2019); “Light”, Galleria pessoal, num filme que captura o movimento
Continua Les Moulins, França (2016); “Kan do corpo no momento que corre pelo corredor
Xuan”, IKON, Birmingham, ReinoUnido (2016); de um subterrâneo enquanto grita o seu
“Millet Mounds”, UCCA, Pequim, China (2012). próprio nome Kan Xuan, Ai ! Trata-se de um
vídeo simples, que nos coloca em contato com
a velocidade do movimento e com dissonâncias
Sobre a Obra na Bienal expressadas em primeira pessoa. “É sobre
tentar me aproximar e perseguir, em todo
Kan Xuan é uma artista visual conhecida momento, meu desejo de existir na distância
pelas suas obras de vídeo experimentais. entre “pensar” e “sentir””, diz a artista.

167 BIENAL 12 CATÁLOGO


Kan Xuan Ai!
1999
Vídeo
1'22''
Galleria Continua San Gimignano / Bei Jing / Les
Moulins / Habana / Roma

BIENAL 12 CATÁLOGO 168


One by one
2005
Vídeo still
3'
Galleria Continua San Gimignano
/ Bei Jing / Les Moulins / Habana /
Roma

169 BIENAL 12 CATÁLOGO


Kimiko Yoshida
(Tóquio, Japão, 1963)

Kimiko Yoshida nasceu em Tóquio, no Japão, Yoshida deixou o Japão e sua linhagem
em 1963. Sentindo-se oprimida como mulher, Samurai e se instalou na França. “Desde que
ela deixou o Japão em 1995 e mudou-se para a abandonei meu país para evitar a escravidão
França para perseguir suas ambições artísticas. e humilhação de muitas mulheres japonesas,
Desde que ganhou sua liberdade artística, tenho feito um protesto feminista contra
Yoshida vem trabalhando prolificamente. Seu os clichés contemporâneos em relação
trabalho gira em torno da identidade feminina a sedução e serviço de voluntariado das
e do poder transformador da arte. Em seu mulheres, assim como contra estereótipos de
projeto mais recente, “Painting. Self-Portrait”, gênero em geral”, declarou a artista. Situada
ela usa fantasias elaboradas e pinta a pele ante fundos monocromos, brancos, pretos,
em uma cor monocromática que combina vermelhos, azuis, amarelos, a artista procede
com o fundo. Para a artista, o figurino é “o numa complexa e cerimonial performance
campo do desvio, da distorção, e da deflexão”. que registra em uma fotografia. Com joias,
Os elementos visuais, juntamente com a chapéus e maquiagem se expressa por meio
referência dos títulos a artistas e pinturas do do seu corpo (body art) para aludir a traduções
passado, pretendem se unir para desafiar as culturais e a mulheres (Maria Antonieta,
noções e tradições convencionais de arte e Madame Pompadour, Medusa) ou a figuras
identidade cultural. “Quero uma imagem que como o Minotauro. Nestas representações
tente repensar seus próprios significados e faz menção a história da arte (Caravaggio,
referências”. Ela continua expondo em todo Boucher, Vigée-Lebrun, Picasso). Não é
o mundo, e seu trabalho é encontrado nas um autorretrato, mas sim um processo de
coleções permanentes do Museu de Belas transformação ritual, teatral, jubiloso, no qual
Artes de Houston, do Museu de Israel, do a artista se foca no fenômeno da identidade
Museu da Cidade de Kawasaki e da Maison feminina e no poder transformador da arte.
Européenne de la Photographie, em Paris.

Sobre a Obra na Bienal


Como reação perante a pressão de uma
sociedade conservadora e patriarcal, Kimiko

BIENAL 12 CATÁLOGO 170


Painting (Minotaur by Picasso). Self-portrait
2007-2009
Fotografia em adesivo
300 x 300 cm
Coleção Kimiko Yoshida & Jean-Michel Ribettes

171 BIENAL 12 CATÁLOGO


Painting (Queen Marie-Antoinette
in a Court Dress by Elisabeth
Vigée-Lebrun). Self-portrait
2010
Fotografia em adesivo
300 x 300 cm
Coleção Kimiko Yoshida & Jean-Michel Ribettes

BIENAL 12 CATÁLOGO 172


La Vaughn Belle
(Moriah , Trindade e Tobago, 1974)

La Vaughn Belle torna visível o não lembrado. vídeos, instalações, intervenções públicas
Ela é uma artista visual que trabalha em uma e performances - na colonialidade, suas
variedade de disciplinas que incluem: vídeo, implicações, marcas tangíveis e seus efeitos
performance, pintura, instalação e arte pública. no passado e presente? Como tornar visível
Ela explora a cultura material da colonialidade o que não é lembrado? Sua exploração dessa
e sua arte apresenta contra-visualidades e questão crucial por meio de seu envolvimento
narrativas que desafiam as hierarquias e a com elementos arquitetônicos, históricos e
invisibilidade coloniais. Ela já expôs no Caribe, arqueológicos é, ao mesmo tempo, magistral
EUA e Europa. Seu trabalho foi apresentado em e lírica, criando um espaço para a exploração
uma ampla variedade de mídias, incluindo: NY de contextos sociais e narrativas coletivas.
Times, Politiken, VICE, The Guardian, Caribbean Para a 12ª Bienal do Mercosul em Porto
Beat, BBC e Le Monde. Ela possui um MFA do Alegre, Belle produziu uma versão em larga
Instituto Superior de Arte em Havana, Cuba, escala do seu trabalho Tempestade (e outras
um MA e um BA da Columbia University em interrupções violentas do pitoresco) (2016-
NY. Seu estúdio é baseado nas Ilhas Virgens 2020). Originalmente uma série de desenhos
feitos com carvão sobre papel, os desenhos
estão, nesta versão, aplicados diretamente
Sobre a Obra na Bienal nas paredes. Ao contrastar uma majestosa
palmeira com imagens caóticas de uma
Vivendo e trabalhando em Saint Croix, parte tempestade, a obra se mostra como uma
das antigas Índias Ocidentais Dinamarquesas ruptura para narrativas do pitoresco geralmente
(atualmente Ilhas Virgens dos Estados Unidos), relacionadas à paisagem caribenha no discurso
a artista visual La Vaughn Belle concentra sua colonial. Ela revela a tensão entre as ideias de
investigação - através de desenhos, pinturas, fragilidade, vulnerabilidade e resistência.

173 BIENAL 12 CATÁLOGO


Storm
2015-2020
245 x 400 cm
Carvão
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 174


Storm
[Da série Storm] 2015-2020
245 x 400 cm
Carvão
Coleção da artista

175 BIENAL 12 CATÁLOGO


Lídia Lisbôa
(Guaíra, Brasil, 1970)

Artista visual e performer, natural de Guaíra, performance emerge suas diferentes linguagens
Paraná. Lídia tem formação em Gravura em artísticas como costura, crochê, amarração ou
Metal pelo Museu Lasar Segall, Escultura e assemblage de tecidos (em sua maioria) ou
Cerâmica pelo Museu Brasileiro de Escultura outros materiais descartados. No processo,
(MuBE) e Liceu de Artes e Ofícios, dentre outras o objeto criado fecha o círculo inspirando a
formações no Brasil e exterior. Seus trabalhos artista a realizar uma nova performance ou ação
buscam evocar a potência da mulher como performativa. Nessa sala, que faz uma ligeira e
força motriz da significação de sua própria tangencial referência à experiência de estar no
existência no mundo. A artista molda e tece ateliê da artista, Lisbôa apresenta um conjunto
histórias de vida suas, de seus familiares e de obras dessas diferentes linguagens: as
de pessoas próximas, que universalizam-se Cicatrizes com seu volume e costuras explícitas;
representando as histórias de muitas outras os Chorões e os Cordões—umbilicais para a
pessoas da realidade brasileira. Mulher, negra, artista, uma articulação de peças em cerâmica
crescendo e vivendo numa sociedade cheia e partes de corpos de bonecas; os Cupinzeiros,
de preconceitos e violências estruturais, esculturas em cerâmica que dão acesso a
veladas por costumes e comportamentos suas histórias de infância em ambientes rurais
naturalizados. Lídia parece tecer e moldar no Paraná; e os Casulos: os pequenos, uma
para desestruturar, para desfazer o que referência ao espaço uterino, e o Casulo grande,
deve ser desfeito e dar vistas a modos objeto em crochê comumente ativado pela
de vida e expressões que muitos anos de artista em algumas de suas performances. Sua
ocultação quiseram lançar ao ostracismo. prática nos permite vislumbrar uma possível
transição entre objeto e performance como
estratégia artística formal e tática feminista.
Sobre as Obras na Bienal
Embora Lidia Lisbôa tenha sido treinada
em escultura e pintura, performance é o
elemento central de sua prática. De ligação com

BIENAL 12 CATÁLOGO 176


Cicatrizes
2012 - 2015
Meia calça e retalhos
Medidas diversas
Coleção da artista
Agradecimento Tecidos Kite

177 BIENAL 12 CATÁLOGO


Chorões
2013
Tecido e arame
Medidas diversas
Coleção da artista
Agradecimento Tecidos Kite

Casulo Grande
2012
Tule
180 x 80 cm
Coleção da artista
Agradecimento Tecidos Kite

BIENAL 12 CATÁLOGO 178


Liliana Porter e
Ana Tiscornia
(Argentina / Uruguai, 1941 / 1951)

Liliana Porter Ana Tiscornia


Nascida na Argentina, em 1941, reside em Nascida no Uruguai, em 1951, reside em Nova
Nova York desde 1964. Trabalha em mídias de York desde 1991. É professora emérita de
gravura, pintura, desenho, fotografia, vídeo, arte da State University of New York em Old
instalação, teatro e arte pública. Seu trabalho Westbury e foi diretora da Galeria Amelie
foi exibido em muitas instituições, incluindo A Wallace dessa universidade. Sua prática
o Museum of Modern Art, Whitney Museum abrange instalações, colagens, objetos,
of American Art, New Museum, Museo gravuras e pinturas, e foi exibida em várias
Tamayo, Museo de Arte Latinoamericano exposições, entre elas: Left, Righ and Center,
(MALBA), Museo de Bellas Artes de Santiago Josee Bienvenu Gallery, New York 2020;
de Chile e muitos outros. Suas obras estão Ana Tiscornia at OMI, Ghent, New York 2018;
em coleções públicas e privadas no Museu Colateral o premeditado, Galería Nora Fisch,
Nacional de Belas Artes de Buenos Aires; Buenos Aires 2017; Des-habitaciones, Galería
TATE Modern, Londres; Museum of Modern del Paseo, Lima 2015; El estado de las cosas,
Art, NY; Whitney Museum of American Art, Museo Gurvich, Montevideo, 2013. Representou
NY; Philadelphia Museum of Art; Museo de o Uruguai na II e IX Bienal de Havana, em
Bellas Artes de Santiago; Fogg Art Museum Cuba, e na III Bienal de Lima, no Peru. Ela
da Harvard University, MA; Museo de Arte escreve para várias publicações de arte
Moderno de Bogotá; Museo del Barrio, NY; especializadas e é autora do livro “Vicissitudes
Metropolitan Museum of Art, NY; Smithsonian of the Visual Imaginary: Between Utopia
American Art Museum, WA; Museo Nacional and Fragmented Identity” (Vicissitudes do
Centro de Arte Reina Sofía, Madrid. imaginário visual: entre a utopia e a identidade
fragmentada), publicado pela White Wine
Press em colaboração com Distrito Cuatro.

179 BIENAL 12 CATÁLOGO


Sin Titulo con Helga / Untitled with Helga
2020
Digital video, 6:38 minutes
Conceived, directed, and edited by Liliana Porter and Ana Tiscornia
Music composed and performed by Sylvia Meyer
Technical adviser: Federico Lo Bianco
Rhinebeck Productions
© Porter-Tiscornia 2020

BIENAL 12 CATÁLOGO 180


Liuska Astete Salazar
(Santiago, Chile, 1984)

Mulher, mãe, artista visual de performance, Muralistas), a Bienal 12 apresenta três registros
pintura, muralismo e cerâmica. Bacharela da performance que Liuska realizou na frente
em artes visuais, diplomada em arteterapia, de prédios emblemáticos da cidade de
fitoterapeuta e monitora de oficinas Concepción, no Chile. São seus “exercícios
artísticas.Nascida em Santiago do Chile, em de protesto”, realizados em 2010, nos quais
5 de novembro de 1984, estudou terapia a artista expõe o seu corpo nu coberto de
ocupacional por 3 anos na Universidade do tinta vermelha, preta e amarela. O vermelho
Chile. Em 2008, mudou-se para estudar na frente do prédio dos Tribunais de Justiça
artes visuais na Universidade de Concepción. (que a artista renomeia de “In-justiça”), que
Desde 2009, se apresenta em espaços relaciona a diferentes tipos de violência que
naturais e urbanos, participando de vários se exercem sobre a população; o preto frente
encontros em Concepción, Lota e Santiago. à Catedral, que se contrapõe ao branco da
Em 2012, decidiu viajar pela América Latina, pureza ou castidade que a igreja procura
realizando um projeto chamado “Tierra transmitir; o amarelo que utiliza frente a
Andante”, que vinculava performance, barro Pinacoteca em Concepción, que relaciona
e viagem. No outono feminista de 2018, com a luz que não é vista pelos que seguem
ela participou da formação de “Efímeras, um mentor ou professor que reproduz um
colectiva de performance política” e, em sistema de educação mercantilizado e desigual.
2019, ingressa na “ Brigada de Mujeres A intervenção traz os ecos da luta estudantil
Muralistas “, pintando temas relacionados que tenta liberar os jovens endividados pelos
ao feminismo e defesa de territórios. empréstimos de uma educação tarifada.
O ponto de partida da Liuska é o seu próprio
corpo nu, que ela cobre durante a performance
Sobre as Obras na Bienal de tinta, para rejeitar os cânones de beleza
socialmente aceitos assim como os elementos
Artista da performance terapia (integrante repressivos representados pela justiça, a
do coletivo de performance política Efímeras, Igreja e o sistema educativo. O corpo se
Coletivo de Performance Política) e da pintura levanta como um instrumento de protesto.
mural (fazendo parte da Brigada de Mulheres

181 BIENAL 12 CATÁLOGO


Ejercicio protesta 1 - Rojo
2010
Tribunales de Concepción, Chile
C - Print 31 x 41,33cm
Fotografia Pamela Navarro
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 182


Ejercicio protesta 2 - Negro
2010
Catedral católica de Concepción, Chile
C - Print
31 x 41,33cm
Fotografia Paula Correa
Coleção da artista

183 BIENAL 12 CATÁLOGO


Ejercicio protesta 3 - Amarillo
2010
Pinacoteca o Casa del Arte Universidad de Concepción, Chile
C - Print 31 x 46,5 cm
Fotografia Pamela Navarro
Coleção a artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 184


Lorraine O’Grady
(Boston Massachusetts, Estados Unidos, 1934)

Lorraine O’Grady é uma artista conceitual e vem realizando aguçadas intervenções


crítica cultural cuja forma principal há quatro intelectuais através de sua prática artística
décadas em vários gêneros, incluindo texto, - utilizando diversos meios como textos,
foto-instalação, vídeo e performance, tem fotoinstalações, vídeos e performances - além
sido a do díptico, ou pelo menos o sentido de seus textos teóricos. Um exemplo é seu
do díptico. Na arte de O’Grady, sejam ensaio, atualmente considerado seminal,
performances ao vivo ou obras de parede intitulado “Olympia’s Maid: Reclaiming Black
bidimensionais, múltiplas emoções e ideias Female Subjectivity” (“A criada em Olympia:
coexistem, mesmo aquelas que podem ser reapropriando a subjetividade feminina
consideradas contraditórias, como raiva e negra”), escrito em 1992/1994, que aporta
alegria, ou classicismo e surrealismo, enquanto uma grande contribuição às áreas da história
os meios técnicos parecem ser governados da arte e feminismo interseccional. Na maior
pelo acaso e pelo controle total, a fim de parte do tempo, as investigações de O’Grady se
expressar argumentos políticos e beleza sem concentram em questões referente a diáspora,
desculpas, simultaneamente. No conjunto, hibridismo e subjetividade feminina negra,
ensaios e imagens se interpenetram. O objetivo além de seu papel formativo na história da
de seus dípticos - às vezes explícitos, duas modernidade. No vídeo-conceito Paisagem
imagens lado a lado, outras implícitas, como (hemisfério ocidental) (2010-2012), O’Grady
acontece com dois tipos de cabelos, seda e transforma seu cabelo em uma paisagem.
touca, gravados no mesmo couro cabeludo em Capturadas a partir de diferentes ângulos
momentos diferentes do mesmo dia e criando em close-up, as madeixas se movem em
mundos permeáveis ​​- não é efetuar uma mítica diversas direções e intensidade de acordo com
“reconciliação de opostos”, mas permitir (até o vento, acompanhadas por uma paisagem
forçar) uma conversa entre diferentes por sonora formada por sons de grilos, pássaros,
tempo suficiente para induzir a familiaridade cigarras e o próprio vento. A prática artística
e apresentar um tipo de pensamento de de O’Grady, em especial esta obra, oferece
ambos, necessários para desestabilizar as diversos pontos de mediação-conexão com
categorias hierárquicas do Ocidente. uma geração mais nova de artistas da diáspora
africana no Brasil, América Latina e Caribe.

Sobre a Obra na Bienal


Por mais de quatro décadas, a artista
conceitual e crítica cultural Lorraine O’Grady

185 BIENAL 12 CATÁLOGO


Landscape (Western Hemisphere)
2010/2011
Vídeo
18’
Cortesia da artista e Alexander Gray Associates, Nova
Iorque

BIENAL 12 CATÁLOGO 186


Lucia Laguna
(Campo dos Goytacazes, Brasil, 1941)

Lucia Laguna nasceu em Campo dos conceito de “paisagem” articulado pela artista.
Goytacazes (RJ) em 1941. Formou-se em Letras Para Laguna, paisagem é o que se vê a partir
em 1971, passando a lecionar Língua Portuguesa. da janela de seu ateliê, o morro da Mangueira
Em meados dos anos 1990, começou a e o subúrbio da zona norte do Rio de Janeiro;
frequentar cursos de Pintura e História da paisagem é o jardim da casa da artista, uma
Arte na Escola de Artes Visuais do Parque espécie de sítio arqueológico da vida, formado
Lage, no Rio de Janeiro, e realizou sua primeira por uma combinação
individual em 1998. Ganhou em 2006 o Prêmio de plantas e objetos acumulados por mais
Marcantônio Vilaça do CNI SESI. Entre suas de quarenta anos—estatuetas e vasos
exposições individuais recentes, destacam- quebrados, chaves, cadeados, grades e outros
se: Vizinhança, MASP (São Paulo, 2018); e objetos descartados; paisagem é, também, o
Enquanto bebo a água, a água me bebe, conjunto de objetos alocados em seu ateliê:
MAR (Rio de Janeiro, 2016). Suas principais pinturas prontas e em processo, pequenos
coletivas incluem participações em: 30a Bienal estudos, escadas e trenas, embalagens de
de São Paulo (2012), 32o Panorama da Arte tinta, ferramentas e massa de fita crepe
Brasileira, MAM-SP (2011), Programa Rumos usada colada na parede ou amontoada pelo
Artes Visuais do Itaú Cultural (São Paulo, chão. Ao afirmar “Paisagem é coisa da minha
2005–2006). Sua obra está presente em cabeça”, Laguna, continua alargando o conceito,
importantes coleções públicas, como MASP, ofuscando os limites entre espaço exterior
MAM-SP, MAM-RJ, MAR, entre outras. e seu universo interior e mais intimista.

Sobre as Obras na Bienal


Parte da série Paisagem, as obras de Lucia
Laguna em exposição oferecem a possibilidade
de vislumbrar os sentidos estendidos do

187 BIENAL 12 CATÁLOGO


Jardim n. 20
2014
Acrílico e óleo sobre tela
160 x 160 cm
Coleção Paulo Sartori

BIENAL 12 CATÁLOGO 188


Jardim n. 21
2014
Acrílico e óleo sobre tela
140 x 180 cm
Coleção Renata França Fadel

189 BIENAL 12 CATÁLOGO


Lungiswa Gqunta
(Port Elizabeth , África do Sul, 1990)

Lungiswa Gqunta lida com as complexidades os desníveis sociais advindos do colonialismo:


da paisagem cultural e política pós-colonial as paisagens coloniais e legados espaciais que
da África do Sul. Criando experiências delas resultam, como é o caso dos trabalhos
multissensoriais que tentam articular os apresentados na Bienal 12 | Porto Alegre, o
desequilíbrios sociais que persistem como video Feet Under Fire, (2017) e a instalação
um legado de domínio patriarcal e colonial, The Softness of A Woman’s Touch (2018-2020).
Gqunta expõe diferentes formas de violência No que é que pensamos quando pensamos
e desigualdade sistêmica.Lungiswa Gqunta no toque de uma mulher? Na construção da
(nascida em 1990) obteve sua graduação na atual versão da instalação The Softness of A
Universidade Metropolitana Nelson Mandela, Woman’s Touch, Gqunta engaja em intenso
em 2012, e seu MFA na Michaelis School trabalho colaborativo com quatro artistas e
of Fine Arts em 2017. Atualmente, ela está historiadoras da arte negras locais (Daniele
completando residência na Rijksakademie Reis, Malena Mendes, Mariana de Jesus e Paula
em Amsterdã.Recentemente, Gqunta expôs Fernandes) durante um período de quatro
em Gropius Bau, Berlim, Alemanha, em semanas. Embora não nos seja possível acessar
Kunstverein Braunschweig, Alemanha, na os nós formados e desmanchados durante esse
manifesta 12 e no Wanas Kunst Museum, tear lírico e radical, somos convidadas a fazer
Suécia e documenta 14.Os próximos projetos seguintes considerações adicionais: O que essa
para 2020 incluem o Ubuntu a Lucid Dream, intervenção no espaço expositivo produz em
Palácio de Tóquio, Paris, Overview Effect, nós? Como as ideias de toque, proximidade e
Museu de Arte Contemporânea de Belgrado, intimidade, de um lado, paisagens coloniais,
Sérvia e Bienal 12, Porto Alegre, Brasil. legados espaciais e violência, de outro, são
articuladas? Quais rupturas essa poética
preta feminina colaborativa anuncia?
Sobre as Obras na Bienal
As obras multissensoriais da escultora e artista
visual Sul Africana Lungiswa Gqunta exploram

BIENAL 12 CATÁLOGO 190


The softness of a woman’s touch
2020
Instalação de arame enfarpado envolvido por tecido de algodão
Medidas variáveis
Cortesia de Lungiswa Gqunta and WHATIFTHEWORLD

191 BIENAL 12 CATÁLOGO


Marcela Astorga
(Mendoza, Argentina, 1965)

Nasci em Mendoza, Argentina. Desde os 19 ideias de cuidado, de resgate. Ela cobre os


anos, moro em Buenos Aires.A onipresença dos escombros com lâminas de metal, cuidando
Andes, a família judaica católica em que nasci, a e protegendo eles. “Óculo” se consolida no
escola pública em que fui educada, o contexto pensamento e na possibilidade de mudar
dos meus primeiros anos de vida, foram a situação de um espaço real. Trata sobre
decisivos na minha maneira de produzir.Penso a ruptura que gera algo novo. Perfura a
que existe uma matriz que se baseia em nossas arquitetura e a torna permeável como uma
primeiras experiências.Lá aprendemos a ver, pele; comunica o interior com o exterior.
sentir, pensar. Experiências sucessivas apenas Este vídeo instalação registra a destruição
moldam esse arquétipo.O cume, o baixo; a luz, a parcial do teto de um espaço obscuro, no
sombra; o degelo, o dilúvio, a secura; repetição, qual a luz penetra e transforma a experiência
acumulação; a fronteira; a textura; a cor; o perceptiva do espaço. O som das batidas
abuso de poder e o desejo de uma realidade sobre o teto e as imagens dos feixes de luz
mais justa e tolerante ... TUDO está registrado que se geram são elementos narrativos deste
no corpo que não pode ser sustentado sem vídeo instalação. Os óculos se dispõem como
uma pele. Produzo com a consciência de que estrelas de uma constelação (Cruzeiro do Sul).
o sentido da visão está em mim, um centro Na destruição se constrói uma paisagem de
inevitável e a arte, um veículo de conhecimento. luzes, como um novo céu na escala humana.

Sobre as Obras na Bienal


Nas suas esculturas Marcela Astorga trata dos
entulhos dos desmoronamentos guiada pelas

BIENAL 12 CATÁLOGO 192


OCULO
2009
Vídeo instalacão
13’42”
Coleção La ph
Câmera: Jorge Martín

193 BIENAL 12 CATÁLOGO


Maruch Santiz Gomez
(Cruztón, Municipio de San Juan Chamula, México, 1975)

Fotógrafa, escritora e artesã. Ela é da


comunidade de Cruztón, município de San
Sobre as Obras na Bienal
Juan Chamula, Chiapas, México. Maruch Nesta série de fotografias e textos intitulada
começou a tirar fotos desde 1993. Em suas Creencias de Nuestros Antepasados (Crenças
fotos e textos em Tzotzil para lê-los como dos Nossos Antepassados, 1994), Maruch
comentários. Primeiro, foram uma série Santíz elabora um registro que surge da sua
de crenças dos ancestrais, aquela filosofia participação no Projeto Fotográfico de Chiapas,
prática que nos remete para além dos objetos projeto este que proporcionou câmeras, filmes
nas fotos, um nível invisível. Com o tempo, e materiais de laboratório para ser utilizados
ele criou várias séries, por exemplo “A Arte com fins artísticos em documentários. Isto
da Medicina Antiga”, entre outras. Maruch foi em 1993 quando Maruch tinha 17 anos.
aprendeu a pastorear ovelhas aos 5 anos de Ela vinculou fotografias de objetos comuns,
idade e, desde a infância, aprendeu com a mãe natureza e pessoas, à provérbios e crenças
e a avó os diferentes processos de lã para uma dos povos indígenas de Chiapas que não
roupa feita de 100% lã de ovelha, dedica-se ao tinham escrita registrada. Trata-se de um
desenho de bordados das blusas Chamula e ao conhecimento em estado de emergência
figurino de 100% lã de cordeiro e elaboração que ela compila em tzotzil, a sua língua.
de sabonetes com extrato vegetal. Em sua Não são fotografias sobre os indígenas, mas
trajetória, Maruch tem sido pesquisadora, suas fotografias feitas por uma mulher indígena.
imagens sempre acompanhadas em tzotzil Quando ela pega a câmera, a fotografia deixa
e espanhol, adotam idéias, pensamentos, de ser um instrumento de controle social
sentimentos: os passos do povo entre o para se transformar em um instrumento
passado e o presente, entre seres naturais. de afirmação da sua identidade cultural.
Formada no 8º Diploma de Produção de Artes
Visuais (2019), realizada em residência no
Centro de Artes San Agustín Etla, Oaxaca. Sua
formação tem sido em diferentes disciplinas.

BIENAL 12 CATÁLOGO 194


Divorcio
1999
Impressão a cor e texto em Tzotzil
49,5 x 33 cm
Cortesia da artista e Galeria OMR

195 BIENAL 12 CATÁLOGO


No apretar la trompa de un
perrito ni darle tamal
1994
Plata sobre gelatina y texto en Tzotzil
40.6 x 50.8 cm
Edición de 20 + 2 PA

BIENAL 12 CATÁLOGO 196


Mirella Maria
(São Paulo, Brasil, 1990)

Nascida em São Paulo (SP), vive e trabalha em educação, Mirella Maria articula tempo e
em São Paulo. É bacharel e licenciada em memória alinhavados em narrativas biográficas
Artes Visuais pela Universidade Estadual Júlio de membros de sua família. O ponto de
de Mesquita Filho (UNESP) e é mestra no partida para a pesquisa é a tentativa de a
programa de Artes Visuais/Arte Educação pela artista entender o por quê de seu sobrenome
mesma instituição. Criadora do projeto artístico ser “Maria” — um nome comum dentro do
Quilombo Mulheres Negras, que propicia contexto brasileiro. No processo, Mirella
seminários, exposições e vivências artísticas Maria faz registros orais e fotográficos de
produzidas por mulheres negras. No campo da membros da família, uma imersão na qual a
sua produção|vivência permeia-se a fotografia, artista descobre ricas histórias de familiares
colagens e arte têxtil, trazendo ressignificações vinculadas ao sobrenome-nome e a memórias
simbólicas no campo da plasticidade, da ancestrais. Na busca, uma curiosidade não
memória e existência. Sua atual investigação compartilhada por outras pessoas da família,
deriva de 2012, desenvolvendo uma pesquisa a artista depara-se com resíduos coloniais
sobre resgate de registros, relatos e produção presentes na construção de seu sobrenome-
visual de memórias de familiares de mesmo nome: “Maria” é o nome de proprietários de
sobrenome: Maria. Pela pesquisa aprofunda-se africanos escravizados, transferido, como
nas relações de afeto envolvidas na memória marca de poder, para gerações de famílias
desse sobrenome, por imagens bordadas, pretas no Brasil. Mirella Maria formata em
como uma recriação das histórias de diversos vestido imagens dessa rede de membros
Marias presentes na vida da artista. da família, formada principalmente por
mulheres, que carregam esse sobrenome-
nome. Assim, as “‘Marias’ que percorreram
Sobre a Obra na Bienal o tempo, continuam presentes em nome,
sobrenome, imagem e memória viva.”
Em Marias de minha vida (2019), a artista
visual, arte educadora, pesquisadora e mestre

197 BIENAL 12 CATÁLOGO


Marias da minha vida
2020
Impressão em tecido e bordado
150 x 50 cm aprox.
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 198


Mónica Mayer
(Cidade do México, México, 1954)

Mónica Mayer (México, 1954) estudou pela primeira vez no México no ano de 1978.
artes visuais na Escola Nacional de Artes Desde então, tem sido atualizada em muitas
Plásticas da UNAM e em 1980 obteve o seu oportunidades. É uma obra que utiliza a
mestrado em sociologia da arte no Goddard metodologia da enquete, com perguntas
College em Los Angeles, California, onde direcionadas ao público, que responde por
também participa há dois anos do Feminist escrito e deixa a sua resposta pendurada
Studio Workshop no Woman’s Building. em uma estrutura semelhante a um varal
Mayer é uma artista inconformada com usado para pendurar roupa – dando nome
as definições de arte. Inquieta, crítica e a obra, El Tendedero (O Varal). Na sua
com um bom senso de humor que aplica primeira versão Mónica convidava ao público
em todos os campos de sua produção, da cidade do México a completar a frase:
desenvolveu uma abordagem abrangente “Como mulher, o que eu mais odeio na
na qual, além de performances, desenhos cidade é...” Os feminicídios que continuam
ou intervenções, considera escrever, acontecendo têm sido o motor que vem
ensinar, arquivar e participar ativamente da aumentado os movimentos feministas a
comunidade como parte de sua produção nível internacional. Neste contexto, a obra
artística. Segundo várias publicações, é de Mayer adquire atualidade e urgência. As
considerada pioneira da performance perguntas focadas no assédio, na violação
e dos gráficos digitais no México e fazem desta obra um espaço de análise e
internacionalmente reconhecida como critica participativa sobre a violência contra
precursora e promotora da arte feminista. as mulheres na sociedade contemporânea.

Sobre a Obra na Bienal


El tendedero (O Varal) é uma instalação
participativa que Mónica Mayer apresenta

199 BIENAL 12 CATÁLOGO


El Tendedero
1978 - 2020
Instalação performativa
250 x 400 cm
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 200


Mujeres Públicas
(Buenos Aires/Córdoba, Argentina, 2003)

Mujeres Públicas (Mulheres Públicas)


é um colectivo feminista de ativismo
Sobre a Obra na Bienal
artístico formado por Fernanda Carrizo, Mujeres Publicas (Mulheres Públicas) é
Lorena Bossi e Magdalena Pagano, em um Grupo Feminista de Ativismo Artístico
Buenos Aires, em 2003. Realizaram e/ integrado por Fernanda Carrizo, Lorena Bossi
ou participaram em inúmeras ações, e Magdalena Pagano. Seu ativismo considera
intervenções, exposições e reuniões na que a criatividade e impacto visual são pontos
Argentina e em outros países. O seu chaves na eficácia. Utilizam materiais de
trabalho é exposto principalmente fora dos baixo custo, cartazes, biscoitos, múltiplos
espaços convencionais das artes visuais, objetos e intervenções urbanas para fazer
desenvolvendo-se em torno de materiais evidentes situações de opressão. Impulsionam
gráficos e ações no espaço público, do a apropriação coletiva das suas propostas
objeto, do vídeo e da instalação. O seu socializando os procedimentos para realizar
trabalho propõe questionar e alargar as os objetos. Desde 2003 conduzem ações a
fronteiras entre arte, política e ativismo, favor da legalização do aborto, denunciando
aspirando sempre a ser uma contribuição a violação de mulheres em conflitos bélicos,
para as lutas feministas contemporâneas. contra os modelos hegemônicos de beleza,
Participaram de: Fórum Feminista, Malmö, questionando a heteronormatividade, entre
Suécia (2006), III Encuentro Feminista outras problemáticas que afetam as mulheres.
Nacional de Paraguay, Encarnación (2007), Na Bienal 12 apresentam a sua bandeira
Fórum Social Europeu, Malmö (2008), “DEMASIADO” (“Demasiado”), que vem sendo
Primer Campamento Latinoamericano utilizada em muitas manifestações como
de Mujeres de Movimientos Populares, uma maneira de expressão do fastio frente a
Vargas, Venezuela (2009), Oncena Bienal ferocidade do atual capitalismo e suas inúmeras
de La Habana, Cuba (2012), Fundación consequências; uma ação que ironiza “Las
Proa, Buenos Aires (2014), Museo Reina ventajas de ser lesbiana” (“As vantagens de ser
Sofía, Madrid (2014), Teorética arte + lesbiana”) e uma colagem de cartazes grava
pensamiento, San José de Costa Rica criticamente a pergunta direcionada ao lado
(2015), Museo Emilio Caraffa, Córdoba, queer, entendendo que este conceito (libertário
Argentina (2016), Pratt Gallery, Nova na sua origem), esta se convertendo em um
Iorque, EUA (2016) entre outros espaços. padrão estético e comportamental excludente.

201 BIENAL 12 CATÁLOGO


As vantagens de ser lésbica
2020
Papel impresso
6 x 6 cm

DEMASIADO
2018-2019
Instalação- tecido, látex e madeira
600 x 600 cm
Coleção das artistas

BIENAL 12 CATÁLOGO 202


Musa Michelle Mattiuzzi
(São Paulo, Brasil, 1983)

Musa Michelle Mattiuzzi é performer, diretora a obra Jardim da Abolição (2020), uma
de cinema, escritora e pesquisadora do corpo. instalação que articula cento e onze vasos de
É graduada em Comunicação das Artes do tamanhos variados, onze ervas e flores de
Corpo pela Pontifícia Universidade Católica poder, cultivadas por tradições orais e por
de São Paulo. Seus trabalhos se apropriam curandeiras do Brasil e da América Latina
do/e subvertem o lugar exótico atribuído (como Alecrim, Arruda, Pimenta, Guiné, ou
ao corpo da mulher negra pelo imaginário amansa senhor, como é conhecida por seu
cisnormativo branco, que o transforma numa uso estratégico e subversivo por parte dos
espécie de aberração, entidade dividida entre escravos), terra e a frase em neon, “A intuição
o maravilhoso e o abjeto. Mattiuzzi participou liberta a imaginação”, emprestada do
da exposição Amor e Etnologia na HKW/Berlim texto “A Dívida Impagável: Lendo Cenas de
em 2019, ela apresentou o novo processo Valor Contra a Flecha do Tempo” de Denise
chamado Whitenography e a performance Ferreira da Silva. O Jardim da Abolição
sobre o papel branco na mesma exposição; se apresenta como um monumento-
seu filme Experimentando o Vermelho em memorial ao uso de vasos de camélias por
Dilúvio foi premiado como melhor curta abolicionistas durante o processo de abolição
metragem no festival X Janela Internacional da escravatura no Brasil. Por outro lado, a
de Cinema de Recife (BRA) e em 2019 o filme obra serve, também, como uma espécie de
foi selecionado para o Festival Internacional sugestão que declara a abolição intuitiva
de Roterdã. Em 2018, ela participou da XXXIII no pensamento para imaginar o presente
Bienal de São Paulo com o projeto Afinidades à partir dessas plantas de poder (preto) e
Afroafetivas. Mattiuzzi vive em Berlim. relembrar, no presente, gestos significativos,
estrategicamente subversivos e radicais.

Sobre a Obra na Bienal


Para a Bienal 12 | Porto Alegre, a performer e
artista visual Musa Michelle Mattiuzzi apresenta

203 BIENAL 12 CATÁLOGO


Jardim da Abolição
2020
Instalação
Dimensões variadas
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 204


Natalia Iguiñiz
(Lima, Peru, 1973)

É artista plástica e professora universitária. comunidade que as apoia. Estas fotografias se


De seus estudos em pintura na Pontifícia organizam em categorias de acordo com a cor
Universidade Católica do Peru-PUCP (1990- de seu cabelo, as atividades que estão fazendo,
95) e do Mestrado em Gênero, Sexualidade ou as pessoas que as acompanham. Natalia
e Políticas Públicas da UNMSM, seu trabalho desenvolve este processo de pesquisa na
explora a construção de discursos em torno cidade de Porto Alegre para expô-lo na Bienal
das concepções de feminino, sexualidade, 12. Quais são as caraterísticas que se percebem
trabalho doméstico e maternidade; bem nas fotografias das mulheres nesta cidade?
como o corpo e a doença. Seu trabalho se
É uma instalação que se origina da pergunta
move entre os espaços expositivos de arte, a
o que entendemos por Pátria?, que valores,
intervenção no espaço público e o ativismo
sentimentos atribuímos a este conceito? E
feminista. Ocasionalmente, trabalha em
principalmente o que se faz ou se justifica
design gráfico, comunicação social, redação
em nome da Pátria? Trata-se de cordas onde
e curadoria (destaca-se a co-curadoria da
se penduram bandeiras brancas, como se
exposição permanente O Lugar da Memória,
fossem lençóis recém-lavados. Na parte
Tolerância e Inclusão Social). Participou de
inferior se espalham palavras que respondem
12 projetos individuais e em mais de 200
a uma enquete virtual sobre as ideias/
exposições e bienais, nacionais e internacionais;
emoções associadas à pátria peruana. Esta
tendo seu trabalho comentado em várias
instalação foi feita a partir das ações Lava la
publicações. Sua obra faz parte de importantes
Bandera (Lava a Bandeira, 2000) realizadas
coleções, dentre as quais se destacam
pelo Coletivo Sociedade Civil. Natalia Iguiñiz
as dos museus MOLAA, MALI e El Reina
e Sandro Venturo eram integrantes deste
Sofía. Ela é mãe de Antonia e Vicente.
coletivo: cada sexta-feira a bandeira do Peru
era lavada em 27 praças do país e do exterior
como manifestação contra a corrupção e o
Sobre as Obras na Bienal abuso de poder. As bandeiras e as palavras de
Pátria interceptam as estruturas de poder do
Em Mujer de ver (Mulher de Ver) Natalia
Estado, da mesma forma que os ideais heroicos
Iguiñiz toma como ponto de partida o livro
e masculinos das sociedades militarizadas. Os
Modos de Ver, de John Berger, nele o autor
artistas intervêm na linguagem e nos símbolos
faz uma revisão sobre como se configuram
do poder a traves de ações domésticas como o
os imaginários sobre as mulheres, a beleza,
lavado e o pendurado dos tecidos - bandeiras.
o que deve ser mostrado ou não. As imagens
configuram identidades e prejuízos. Entre 4 La otra (A outra) é uma sequência de
e 10 de junho de 2017, Natalia fez um registro fotografias nas que Natalia Iguiñiz desenvolve
fotográfico das mulheres nas principais dispositivos para despregar de forma analítica
avenidas de Lima e Callao. O registro os códigos culturais que regulamentam as
considera também imagens bidimensionais ou relações entre a trabalhadora doméstica e da
tridimensionais (outdoors, cartazes, estatuas) empregadora. Entre esses corpos próximos
que podem observar-se nas ruas. Foca-se na se percebem relações de afeto, poder e
observação dos lugares nos que aparecem uma hierarquia. Trata-se de duas mulheres: uma
ou mais mulheres. O fato de observá-las na tem como a sua responsabilidade o cuidado
via pública leva implícito que são vistas para da casa da outra. Produz-se desta forma uma
ser vistas, que se apresentam frente a uma análise de classe sobre a relação da mulher

205 BIENAL 12 CATÁLOGO


com o trabalho. Entre as pessoas retratadas
estão as diretoras da galeria Forum de Lima
(Claudia Polar), da ARCO, a feira de arte da
Espanha (Rosario Wenzel) e a artista Maria
Elena Alvarado. A sua inclusão introduz uma
reflexão sobre a relação entre o mundo da arte
e o trabalho doméstico. As fotografias levantam
questões de classe: para que estas mulheres
desenvolvam suas profissões, outras mulheres
devem limpar as suas casas. A justaposição
introduz relações de poder, subordinação e
servidão que existem desde o Peru colonial e
republicano, quando as mulheres contratadas
ou escravizadas amamentavam e cuidavam
dos filhos das famílias da aristocracia.

BIENAL 12 CATÁLOGO 206


Mujeres De-ver e Mujeres
De-ver Porto Alegre
2017-2020
Quadro de mapa de Lima e de
Porto Alegre e fotografias
Dimensões variadas
Coleção da artista

207 BIENAL 12 CATÁLOGO


La Otra
2001
Fotografias
190 x 130 cm aprox.
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 208


Patria
2001
Colectivo La Perrera (Sandro Venturo e Natalia
Iguiñiz)
Instalação de bandeiras e adesivos
Dimensões variadas
Coleção dos artistas

209 BIENAL 12 CATÁLOGO


Nosotras Proponemos
(Buenos Aires, Argentina)

No dia 7 de novembro de 2017, em resposta


à partida inesperada e prematura da artista
Sobre as Obras na Bienal
Graciela Sacco, artista que confrontou No dia 7 de novembro de 2017, em resposta
persistentemente comportamentos à partida inesperada e prematura da artista
patriarcais do mundo da arte, e, a cem Graciela Sacco, artista que confrontou
anos da Revolução de Outubro, se cria a persistentemente comportamentos patriarcais
Assembleia Permanente de Trabalhadoras do mundo da arte, e, a cem anos da Revolução
da Arte e lança-se o Compromisso de de Outubro, se cria a Assembleia Permanente
Práticas Artísticas Feministas que consta de Trabalhadoras da Arte e lança-se o
de 37 tópicos escritos de forma coletiva Compromisso de Práticas Artísticas Feministas
nas redes sociais. Em poucos dias já tinha que consta de 37 tópicos escritos de forma
quase 3000 adesões. Nosotras Proponemos coletiva nas redes sociais. Em poucos dias
(Nós Propomos) reúne artistas, escritoras, já tinha quase 3000 adesões. Nosotras
curadoras e gestoras culturais que decidem Proponemos (Nós Propomos) reúne artistas,
as suas ações em assembleias. NP tem escritoras, curadoras e gestoras culturais
levado adiante ações efetivas para criar que decidem as suas ações em assembleias.
consciência sobre a discriminação das NP tem levado adiante ações efetivas para
artistas mulheres no mundo da arte a criar consciência sobre a discriminação das
favor da representação igualitária. Além artistas mulheres no mundo da arte a favor
disso, tem participado ativamente em da representação igualitária. Além disso, tem
mobilizações e ações performativas pelo participado ativamente em mobilizações e
direito ao aborto legal, seguro e gratuito, ações performativas pelo direito ao aborto legal,
juntamente com agrupações de mulheres, seguro e gratuito, juntamente com agrupações
lésbicas, trans, travestis e no binaries; e de mulheres, lésbicas, trans, travestis e no
tem se manifestado contra toda forma de binaries; e tem se manifestado contra toda
violência física, simbólica, econômica e forma de violência física, simbólica, econômica
institucional, contra os corpos femininos e e institucional, contra os corpos femininos e
feminizados. Apresentam bandeiras, cartazes, feminizados. Apresentam bandeiras, cartazes,
projeções e objetos, assim como um cartaz projeções e objetos, assim como um cartaz
produzido especificamente para a Bienal 12. produzido especificamente para a Bienal 12.

BIENAL 12 CATÁLOGO 210


Trenzar
2019
Objeto em tecido
25m x 30 cm
Archivo nP

211 BIENAL 12 CATÁLOGO


Campaña de Legalizacion del Aborto
2018/2020
Cartaz offset 46 x 64 cm
Archivo nP

BIENAL 12 CATÁLOGO 212


Cartaz feito para Bienal 12
2020
Cartaz offset 46 x 64 cm
Archivo nP

213 BIENAL 12 CATÁLOGO


Nury Gonzalez
(Santiago, Chile, 1960)

Bacharel em Artes pela Universidade do variadas. Na Bienal 12, apresenta Historia


Chile, onde atualmente é professora titular. natural de la destrucción (História natural
No Chile, ela obteve o prêmio FONDART da destruição), uma obra que consta de três
6 vezes. Em 1999, ela obteve a bolsa J.S. chamales, cobertas mapuches que, ao ser da
Guggenheim e em 2001 a bolsa de residência cor preta, devem ser usadas pelas mulheres.
da Fundação Rockefeller no Paraguai. São cobertas de aproximadamente cem
Desde 1983, ela expõe no Chile e no exterior. anos, furadas, amassadas ou desfiadas pelo
Destacam-se as Bienais de Havana (Cuba), tempo. Descartadas, foram compradas por
La Paz (Bolívia), Curitiba (Brasil), Xangai Nury no mercado de Temuco em 2011, ano das
(China), Pontevedra e Valência (Espanha). mobilizações estudantis. A artista percorre
Suas obras investigam certas histórias, sejam os furos costurando pequenos pontos com
históricas ou ficcionais, que demonstram uma fio branco. Os tecidos se transformam em
tradição autobiográfica de desenraizamento, mapas dessas marcas de destruição. Junto
grandes tragédias como a guerra e exílio e às três peças que integram a sua Historia
o que poderia ser chamado de “volatilidade natural de la destrucción (História natural
histórica”. Seu trabalho visa estabelecer da destruição): Al hilo de la historia, Con el
cruzamentos temáticos, processuais e alma en un hilo y Al hilo del pensamiento,
técnicos entre as práticas que determinam (Ao fio da história, Com a alma pelo fio e
o espaço feminino e particularizado do Ao fio do pensamento), apresenta o vídeo
privado e os discursos e práticas que Hasta que valga la pena vivir (Até valer a
são determinados como paradigma do pena viver, onde mistura imagens da costa
espaço político e histórico do público. do lago Riñinahue e de vestígios da lava da
erupção do Cordón del Caulle que flutuam
nas águas do lago, junto com outras do lago
Sobre a Obra na Bienal Rinihue, nas quais flutuam as suas pequenas
obras de feltro. O feltro não tem urdidura
A artista chilena multimídia e experimental (estrutura) nem trama (história). Funciona
Nury González tem abordado problemáticas como metáfora do tempo no qual criou os
da memória desde suportes e estratégias seus registros e do tempo atual do Chile.

BIENAL 12 CATÁLOGO 214


Hasta que valga la pena vivir
2019
Vídeo
3’’35’
Coleção da artista

215 BIENAL 12 CATÁLOGO


Sobre la historia natural
de la destrucción
2011
Telas bordadas a mão montadas
sobre telas de algodão
250 x 230 cm
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 216


Pau Delgado Iglesias
(Montevidéu, Uruguai, 1977)

Pau Delgado Iglesias é artista visual e


professora. Concluiu o mestrado em Indústria
Sobre as Obras na Bienal
Cultural na Goldsmiths, Universidade de Estar igual al resto (Estar igual aos restantes)
Londres e um diploma em Gênero e Políticas é o resultado de um intenso trabalho de
Públicas na Universidade da República investigação que Pau Delgado Iglesias fez por
(UdelaR). É professora na Escola Nacional cinco anos com pessoas cegas de nascimento
de Belas Artes (UdelaR) e na Faculdade de em diferentes cidades do mundo (Montevidéu,
Cultura da Universidade CLAEH, no Uruguai. Uruguai; Lima, Perú; Havana, Cuba; Santiago,
Escreve uma coluna de opinião duas vezes Chile; Buenos Aires, Argentina; Hereford,
por semana para o Semanario Búsqueda. Reino Unido; Assunção, Paraguai; Berna,
Ele apresentou seu trabalho individual ou Suíça). Num mundo onde a vida cotidiana
coletivamente em: Museo Nacional de Artes esta marcada por uma ‘hiper-visualidade’,
Visuales, Espaço de Arte Contemporânea, este trabalho explora como se constroem as
Espacio de Arte Contemporáneo, Centro de identidades quando as imagens estão ausentes,
Exposiciones SUBTE (Uruguai); Momenta em especial as identidades sexuais e de gênero.
Art, Slought Foundation, Art in General, O que é a beleza para às pessoas que não
The Armory Show (Estados Unidos); Galeria enxergam, e nem lembram ter alguma vez
parasito/hunt kastner artworks (República enxergado? Até que ponto os estereótipos da
Tcheca); Galería Belleza y Felicidad cultura atuam nas suas experiências? É possível
(Argentina); Galeria Xippas (Suíça e Uruguai); ficar de fora do que a sociedade determina em
MuseumsQuartier (Áustria); The Bag Factory relação ao corpo? Como se formam os nossos
Studios, (África do Sul); entre outros espaços. gostos e os nossos conceitos de beleza?

217 BIENAL 12 CATÁLOGO


Estar igual que el resto
2014 - 2019
Vídeo
16’
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 218


Paz Errazuriz
(Santiago, Chile, 1941)

Fotógrafa profissional. Trabalhou como representem aquilo que não tem referencial.
professora e atualmente se dedica ao Como dar conta do tempo que não foi vivido
seu trabalho como fotógrafa. Foi membra pelos corpos ausentes dos desaparecidos?
fundadora da Associação de Fotógrafos Errázuriz propõe um arquivo íntimo dos anos
Independentes, AFI (1981) e publicou os livros prévios ao começo da transição democrática no
“Amalia”, “La Manzana de Adán”, “El infarto Chile, depois de 17 anos de ditadura. Durante
del Alma”, “Kawesqar, hijos de la mujer Sol”, a transição continuaram em funcionamento
“La luz que me ciega”, “Ojos que no ven” estruturas do poder político e econômico do
y “Señales”. Foi jurada no Premio Casa de período da ditadura. Ao mesmo tempo, se
las Américas, em Cuba, e em Fondart, no deu inicio ao processo de revisão destes anos
Chile. Suas fotografias estão em coleções de violência. Paz Errázuriz o faz partindo das
como DAROS, Suíça; Tate Gallery, Londres; fotografias do seu filho. A série de retratos
Museu Reina Sofia, Espanha; MoMA e entre o final da ditadura e o começo do governo
Museu Guggenheim, Estados Unidos; Museu de Patricio Aylwin (1986-1990) se consolida
Nacional de Belas Artes, Chile e em coleções num filme em que as imagens passam uma
particulares. Obteve as bolsas Guggenheim, depois da outra. Un Cierto Tiempo (Um
Fulbright e Fondart. Foi reconhecida com o Certo Tempo) reúne mudanças leves, dados
Prêmio Altazor, o Prêmio de Carreira Artística do seu crescimento, das mudanças do seu
do Círculo de la Crítica, o prêmio PhotoEspaña rosto. Estas transformações dizem respeito
e o Prêmio Nacional de Arte do Chile em 2017. ao passar do tempo como experiência.
Na série de fotografias que reúne no livro
El infarto del alma (O infarto da alma), Paz
Sobre as Obras na Bienal Errázuriz mostra os afetos, as relações a
dois, os casais. São fotografias feitas no
Entre 1979 e 1980 Paz Errázuriz fotografou
hospital psiquiátrico de Putaendo. Muitos
pessoas dormindo na cidade de Santiago
dos que ali estão são indigentes. Entre esses
do Chile. Homens e mulheres adormecidos,
seres abandonados pela sociedade, existe a
inclusive animais, que esticam seus corpos
proximidade, a aproximação, sentimentos.
numa posição que desacomoda a normalidade
Paz percorre os corredores e os parques da
da cidade. Capturadas pela câmera, estas
instituição para fazer as fotografias; Diamela
pessoas cujos sentidos estão dormentes,
Eltit também o faz para escrever o que ela
reiteram as experiências coletivas do silêncio
vê. “Na metade do caminho, Paz Errázuriz
e a impossibilidade. Um adormecimento dos
e eu, chegamos no limite, onde temos que
sentidos. A série poderia fazer um paralelo com
enfrentar à disjuntiva de ter que cruzar as
a situação do cidadão chileno nos tempos da
fronteiras continuamente”. Fronteiras da
ditadura no Chile (1973-1990). Paz Errázuriz
separação, do isolamento, da loucura; o
constrói um arquivo diferenciado no qual a
isolamento do mundo exterior que prefere não
fotografia se distancia do retrato para capturar
olhar, não saber. As fotografias nos colocam
um estado social dos afetos coletivos.
em contato com a gramática de um amor
Um dos problemas mais complexos para quem que não conhecemos. Como se relacionam
cria imagens é como conseguir que estas as pessoas neste espaço de confinamento?

219 BIENAL 12 CATÁLOGO


Série El infarto del alma
1992
Impressão digital, 12 tintas pigmentadas
sobre papel Hahnemühle Baryta
40 x 27 cm
Propriedade da artista

Série Dormidos
1979 - 1987
Impressão digital, 12 tintas pigmentadas
sobre papel Hahnemühle Baryta
33,3 x 50 cm
Propriedade da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 220


Un cierto tiempo
1991
Vídeo stills
11'32"
Propriedade da artista

221 BIENAL 12 CATÁLOGO


Pedro Lemebel
(Santiago, Chile, 1952)

Nascido em Santiago do Chile em 1952, é em relação aos parâmetros patriarcais que


escritor e artista visual. Em 1987, juntamente atravessavam as formações da esquerda.
com Francisco Casas, funda o coletivo de Seu texto Hablo por mi diferencia (Falo pela
arte Las Yeguas del Apocalipsis, que realizou minha diferença), que leu no ano de 1986
extensos trabalhos plásticos em performance, na Estação Mapocho de trem, em Santiago,
fotografia, vídeo e instalação. Durante o durante uma reunião de dissidentes da
período da transição para a democracia e esquerda, marcava a rejeição dos seus colegas
na pós-ditadura, Lemebel publicou suas políticos frente a (e a sua) homossexualidade.
crônicas em vários meios de comunicação Pedro leu vestindo sapatos de salto alto
nacionais e estrangeiros. Desde 1990, ele vermelhos. Escutamos a sua voz na frente
escreveu como colaborador na seção de do seu autorretrato no qual os signos do
crônicas da Open Page Magazine. Desde Partido Comunista se travestem de rendas e
1994, ele escreveu a coluna “Ojo de Loca no brilhos. Os dois vídeos apresentados na Bienal
Equivoca ...” no jornal La Nación e realizou 12 foram feitos um ano antes da morte do
o programa “Cancionero” na Rádio Tierra. artista. Pedro apresentou Desnudo bajando la
No final dos anos 90, ele colaborou com as escalera (Nu descendo a escada) em fevereiro
revistas Punto Final e The Clinic Magazines. de 2014. O artista, nu, se enrola em um
Ele recebeu a bolsa Guggenheim em tecido protetor para rolar na escadaria em
1999, o Prêmio Anna Seghers em Berlim chamas do Museu de Arte Contemporâneo.
em 2005 e o Prêmio Ibero-Americano Em Abecedário ele acendeu as letras
de Literatura José Donoso em 2013. escritas com neoprene desenhadas numa
passarela de pedestres que vai em direção
ao cemitério, onde descansam os restos da
Sobre as Obras na Bienal sua mãe. Estes vídeos implicam uma reflexão
profunda sobre a vida, sobre o final da sua
Escritor, cronista, artista visual, Pedro Lemebel (que já sabia que iria acontecer), sobre o
representou um discurso dissidente. Um ritualismo da relação entre o corpo e o fogo.
discurso em oposição à ditadura e crítico

BIENAL 12 CATÁLOGO 222


Manifesto
s.d.
Áudio, imagem e texto
1h3’32’’
Fotografia Claudia Roman
Familia Pedro Lemebel e D21 proyectos de arte

223 BIENAL 12 CATÁLOGO


Desnudo bajando la escalera
2014
Vídeo still
2'10"
Familia Pedro Lemebel e D21
proyectos de arte

Abecedario
2014
Vídeo still
11'13"
Familia Pedro Lemebel e D21
proyectos de arte

BIENAL 12 CATÁLOGO 224


Priscila Rezende
(Belo Horizonte, Brasil, 1985)

Priscila Rezende é uma artista


interdisciplinar que trabalha
Sobre a Obra na Bienal
principalmente com a performance, Na performance Bombril, vivenciada pela
desenvolvendo também trabalhos em primeira vez em 2010, Priscila Rezende esfrega,
instalação e fotografia. Raça, identidade, com o cabelo, a superfície de utensílios
inserção e presença do indivíduo domésticos metálicos usados na cozinha.
negro e das mulheres na sociedade Título extraído da conhecida esponja de aço
contemporânea são os principais homônima, Bombril serve, com frequência,
norteadores e questionamentos como adjetivo pejorativo para referir-se
levantados no trabalho de Priscila ao cabelo de mulheres negras. Na versão
Rezende. Partindo de suas próprias apresentada na Bienal 12 | Porto Alegre,
experiências, limitações impostas, Rezende realiza a performance na Praça da
discriminação e estereótipos são expostas Alfândega, espaço público localizado em frente
em ações corporais viscerais, que buscam ao edifício do Memorial. A relevância de Bombril
estabelecer com o público um diálogo está no fato de ela ecoar uma das muitas
direto e claro.Priscila é graduada em Artes experiências cotidianas de violência vividas
Visuais pela Escola Guignard-UEMG (Belo pela população negra no Brasil. A performance
Horizonte, Brasil) com habilitação em também sustenta o tema de relações raciais,
Fotografia e Cerâmica. Dentre sua atuação um conteúdo social e político ainda evitado ou
destaca-se a presença em exposições em até proibido na sociedade brasileira, dentro de
diversas regiões do Brasil como Minas um espaço de reflexão do qual ele é geralmente
Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, abortado. Ao mesmo tempo, a ação provoca
Pernambuco, Amapá e Rio Grande do Sul uma ruptura: ela desloca o objeto do discurso
e em países como Alemanha, Inglaterra, de uma posição passiva à de protagonista (e
EUA, Espanha, Holanda e Polônia. enunciador) consciente de sua própria narrativa.

225 BIENAL 12 CATÁLOGO


Bombril
2010-2018
Vídeo
23’’31’
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 226


227 BIENAL 12 CATÁLOGO
Rahima Gambo
(Abuja, Nigéria, 1986)

Rahima Gambo é uma artista e fotógrafa Nigéria - parte de um projeto fotojornalístico


multimídia que iniciou sua prática artística mais amplo sobre as experiências de alunos
trabalhando de forma independente em afetados pelos conflitos com o Boko Haram
projetos de documentários transmídia. Ela na região. A série, entretanto, se transformou
incorpora escultura, desenho, som, vídeo, em um desdobramento lúdico de narrativas
instalação e performance em seu trabalho. e acontecimentos relacionais em torno da
Em 2020, ela foi nomeada uma FOAM Talent criação de imagens nas quais Rahima Gambo
e selecionada para o Prêmio Africano de está totalmente envolvida. Quais são os
Fotografia Contemporânea. Exposições elementos intangíveis que surgem quando
recentes: “Beyond the Image”, Stedelijk você reúne um grupo de jovens mulheres,
Museum, Amsterdã. “Have you seen the mantendo espaço para que a expressão
Horizon Lately?”, MACAAL, Marrakech, criativa aconteça? Quais possibilidades surgem
Marrocos. Bamako Encounters - Bienal Africana quando nos concentramos naquilo que não
de Fotografia “Streams of Consciousness”, pode ser precisa e completamente registrado
Mali. “Diaspora at Home”, Centre for pela câmera: os elos formados quando nos
Contemporary Art and Kadist Foundation, reunimos em comunidade para falar e ouvir,
Lagos, Nigeria. Bienal de Lagos; “How to ensinar e aprender, brincar e nos expressarmos?
Build a Lagoon with a Bottle of Wine”, Lagos, Ao enfatizar essas importantes questões,
Nigéria. Em 2019, Gambo fundou o A Walk Gambo relega o Boko Haram, além dos traumas
Space, um espaço de arte móvel e conceitual geralmente citados e associados ao conflito,
que explora as interseções interdisciplinares a uma nota de rodapé. Através de Tatsuniya,
da imagem “em movimento” por meio de ela compartilha o seu encontro com o lúdico,
projetos, eventos, exposições e oficinas. energia e interconectividade, além da fluidez
Ela vive e trabalha em Abuja, na Nigéria. presente no espaço ambíguo entre movimento
e imagens estáticas, entre a realidade e a ficção.

Sobre as Obras na Bienal


A série Tatsuniya (2017) teve início como
uma foto-documentação dos alunos da
escola Shehu Sanda Kyarimi em Maiduguri,

BIENAL 12 CATÁLOGO 228


Série Tatsuniya:
Playing Slowly
2017
6 fotografias
30 X 45 cm
Coleção da artista

229 BIENAL 12 CATÁLOGO


Renata Felinto
(São Paulo, Brasil, 1978)

Doutora e mestra em Artes Visuais pelo artística através de pintura, colagem, fotografia
Instituto de Artes da UNESP e especialista em e performance. É, entretanto, através da
Curadoria e Educação em Museus pelo Museu prática de performance que a artista realiza
de Arte Contemporânea da USP. Artista visual e um enfrentamento mais direto com as
professora adjunta de Teoria da Arte da URCA/ tensões criadas pela presença do sujeito
CE na qual compôs o Comitê de Pesquisa negro feminino no espaço público no Brasil.
Científica, foi coordenadora do Curso de Em Danço na terra em que piso (2014), Felinto
Licenciatura em Artes Visuais e do sub projeto dança da maneira graciosa em sete locais
PIBID do mesmo curso. Realizou trabalhos na públicos em São Paulo, alguns dos quais pontos
Pinacoteca do Estado de São Paulo, Instituto históricos da cidade como a Praça da Sé que
Itaú Cultural, Centro Cultural São Paulo, SESC, forma, com a Catedral da Sé, o marco zero
SESI/FIESP, dentre outros espaços. Compôs o do estado de São Paulo. Para cada espaço,
conselho editorial da revista O Menelick 2º ato e Felinto escolheu uma música para servir como
é membro da Comissão Científica do Congresso paisagem sonora para a performance. Cada
CSO da Faculdade de Belas Artes de Lisboa. escolha levou em conta a letra da música,
Coordenou o Núcleo de Educação do Museu questões de relevância histórica e política, e
Afro Brasil. Recentemente participou das até as memorias pessoais da artista ligadas
exposições FIAC/ França 2017, Negros Indícios, ao espaço. Desse modo, Felinto cria um corpo
na Caixa Cultural/SP, Diálogos Ausentes, no narrativo que destaca as diferentes tradições
Itaú Cultural e no Galpão Bela Maré no RJ que informam a paisagem urbana oferecendo,
e, por fim, de Histórias Afro-Atlânticas no assim, epistemologias adicionais para entendê-
Instituto Tomie Ohtake. A arte produzida las. Seu dançar funciona como um gesto de
por mulheres e homens negrodescendentes reivindicar territórios, como uma expansão
tem sido o principal tema de pesquisa. das possibilidades de sua presença negra.

Sobre a Obra na Bienal


Artista visual e pesquisadora acadêmica,
Renata Felinto tem realizado sua pesquisa

BIENAL 12 CATÁLOGO 230


Danço na terra em que piso
2014
Vídeo
16’’09’
Performance Renata Felinto
Registro audiovisual e edição de
Marcos Felinto
Coleção da artista

231 BIENAL 12 CATÁLOGO


Rosana Paulino
(São Paulo, Brasil, 1967)

Doutora em Artes Visuais e Bacharel em dos seus afetos. Em outra série, Bastidores,
Gravura pela ECA/USP é especialista em ela borda ou costura, olhos, bocas, pescoços.
gravura pelo London Print Studio, de Londres. Estas imagens inevitáveis mostram uma das
Foi bolsista da Fundação Ford nos anos de temáticas que a bienal pesquisa: a violência
2006 a 2008 e CAPES de 2008 a 2011. Em 2014 contra os corpos femininos. A mulher negra,
foi agraciada com a bolsa para residência no que se encontra na base da pirâmide da
Bellagio Center, da Fundação Rockefeller. Seus sociedade brasileira. Trata também nos seus
trabalhos têm como foco principal a posição desenhos a relação corpo-animal. Introduz
da mulher negra na sociedade brasileira e desta forma um dos debates mais recentes
os diversos tipos de violência sofridos por no seio do feminismo, aquele que se relaciona
esta população decorrentes do racismo e com o antropoceno, a capacidade do ser
das marcas deixadas pela escravidão. Possui humano de destruir o planeta, a centralidade
obras em importantes museus tais como o do humano que tem atentado contra a
MASP, Pinacoteca do Estado de São Paulo e natureza. Rosana Paulino introduz com suas
UNM - University of New Mexico Art Museum, obras duas perguntas relevantes para esta
USA. Tem participado ativamente de diversas Bienal, a primeira, que percorre seu livro de
exposições, tanto no Brasil como no exterior e artista ¿Historia natural?, é até que ponto o
seu trabalho tem sido objeto de vários estudos conhecimento científico tem contribuído para
acadêmicos, livros e revistas especializadas. estabelecer os fundamentos do racismo?
Em segundo lugar ela questiona até que
ponto o cânone da arte brasileira é branco e
Sobre a Obra na Bienal patriarcal? A sua série A geometría a brasileira
llega ao paraíso tropical (A geometria à
Principal artista na arte afro-brasileira brasileira chega ao paraíso tropical) envolve
desde os anos noventa, Rosana Paulino esta uma distância irônica sobre o cânone da arte
representada na Bienal 12 pela sua instalação abstrata que domina à percepção internacional
Parede da Memoria (Parede da Memoria), da arte brasileira. A obra de Rosana Paulino
na qual imprime retratos familiares sobre convida a uma profunda revisão de nossos
pequenos patuás configurando desta forma conceitos sobre a arte e a cultura.
um imenso memorial da sua família. Um retrato

BIENAL 12 CATÁLOGO 232


¿História Natural?
2016
Técnica mista sobre imagens transferidas em papel e tecido, linoleogravura, ponta seca e costura
Caixa para o livro ¿HISTÓRIA NATURAL 31,5 x 42,5 x 33,5 cm.
LIVRO: 29,5 x 39,5 cm.
Coleção da artista

233 BIENAL 12 CATÁLOGO


Parede da Memória
1994-2015
Peças em aquarela, manta acrílica e fotocópia sobre papel
colado sobre tecido e papel costurados
173,5 x 724 x 2 cm
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil.
Doação da Associação Pinacoteca Arte e Cultura - APAC,
2016
Crédito fotográfico: Isabella Matheus

BIENAL 12 CATÁLOGO 234


Série Tecelã
2013/2014
Grafite, pastel aquarelável e acrílica sobre papel
32,5 x 25,5 cm
Coleção da artista

235 BIENAL 12 CATÁLOGO


Bastidores
1997
Imagem transferida sobre
tecido, bastidor e linha e costura
30 cm

BIENAL 12 CATÁLOGO 236


Sandra de Berduccy
(Oruro, Bolivia, 1976)

Sou artista boliviana, tecelã, especialista em sua morada e estúdio. Sintonizada com seu
técnicas têxteis andinas e pesquisadora de entorno e suas complexas histórias, com um
tecidos e novas mídias.Enquanto trabalho legado colonial duradouro, ela centraliza suas
com ferramentas simples e rudimentares, práticas em torno de técnicas tradicionais
como fitas, ossos de lhama, fibras de de tecelagem andina, com fibras naturais
animais tecidas à mão e corantes naturais, e pigmentos obtidos a partir de plantas e
costumo tecer materiais incomuns para insetos, que servem como bases para seus
os tecidos andinos tradicionais, como fios trabalhos têxteis, instalações, performances
condutores, fibras ópticas, peças de cobre e obras interativas, com imagens estáticas e
como sensores, etc. Na estrutura complexa em movimento. Os pontos de partida para
desses tecidos, incluo circuitos eletrônicos, as interações geradas por seus projetos são
microcontroladores, sensores de movimento tecnologias contemporâneas entrelaçadas nos
ou de cor, LEDs digitais, alto-falantes, criando tecidos de suas obras: fios condutores e de
trabalhos interativos, de luz e som.No meu fibra óptica, sensores de cor e movimento, luzes
trabalho, as técnicas tradicionais andinas e as LED e alto-falantes, dentre outros recursos.
tecnologias da arte e das novas mídias estão Os trabalhos têxteis de Aruma incluídos na
entrelaçadas, resultando em trabalhos que dão exposição mobilizam os elementos extraídos
continuidade à antiga tradição têxtil da qual de conhecimentos ancestrais e do meio
me considero parte. Uma floresta nativa nos local da artista com a finalidade de incitar
vales interandinos da Bolívia, é o meu espaço espectadores contemporâneos a explorar e
de trabalho, laboratório e espaço fundamental preservar o potencial quase imperceptível,
para entender o tempo das tecelãs. porém gigantesco, da flora e fauna nativas,
além de reivindicar tecnologias rurais
originárias de um passado pré-colonial.
Sobre as Obras na Bienal
A artista boliviana Aruma (alcunha de Sandra
de Berduccy) faz da seca e antiga floresta
localizada na zona periférica de Cochabamba

237 BIENAL 12 CATÁLOGO


E-awayo
2017
Fibra óptica, componentes elétricos e sensor ultrassônico
180 x 80 cm
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 238


Santarosa Barreto
(São Paulo, Brasil, 1986)

Nascida em São Paulo, em 1986, e graduada


em Artes Plásticas pela FAAP, a artista visual
Sobre a Obra na Bienal
explora o processo de apropriação de imagens A obra Jean-Luc Godard, Gertrude Stein e
e de deslocamentos de narrativas que partem Hernest Hamingway, 2018, de Santarosa
da literatura, do cinema, da música e da própria Barreto, é um trabalho em Led com a
história da arte, através de diferentes mídias sequência de frases em loop: “A Woman Is A
como fotografia, escultura e instalação. Woman, A Rose Is A Rose, A Bitch Is A Bitch”—
Com o intuito de refletir e levantar questões respectivamente o título do filme de Godard
sobre autoria e de investigar textos e discursos (A Woman Is A Woman [Uma mulher é uma
como imagens, a artista também tem como mulher]); uma referência a frase do poema de
tema de pesquisa a imagem das mulheridades Stein “Sacred Emily” de 1913 (“Rose is a rose
na história da arte, além dos desdobramentos is a rose is a rose” [Rosa é uma rosa é uma
socioculturais provenientes da relação entre a rosa é uma rosa]); e uma referência a frase de
arte, a política e o feminismo. Hemingway dirigida a Stein, “A Bitch Is A Bitch
Entre as exposições coletivas das quais Is A Bich”. O trabalho de Barreto nos oferece
participou, destacam-se: 48a Anual de Arte algumas meditações: Que tipo de reflexão
FAAP, como artista convidada, após ter sido crítica as falas desses homens sobre mulheres
selecionada para o programa de residência evocam? Que possíveis rupturas podem
artística realizado em parceria entre FAAP e provocar a frase (e voz) de Stein colocada
Cité Internationale des arts (Paris, França); entre essas falas? O uso do painel Led como
Verzuimd Braziel - Brasil Desamparado, meio ecoa as imagens do centro da cidade de
mostra itinerante curada por Josué Mattos, São Paulo no qual o trabalho foi produzido.
contemplado pelo Prêmio CNI SESI SENAI A frase em loop ecoa o ritmo da poesia.
Marcantônio Vilaça para as Artes Plásticas
e Histórias feministas: artistas depois de
2000, curada por Isabella Rjeille, no MASP.

239 BIENAL 12 CATÁLOGO


Jean-Luc Godard, Gertrude Stein e Ernest Hemingway
2018
Painel de Led
20 x 100 cm
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 240


Sebastián Calfuqueo
(Quinta Normal, Chile, 1991)

Sebastián Calfuqueo (Santiago, Chile, 1991) vive pesquisar poeticamente os preconceitos e


e trabalha em Santiago do Chile. os paradoxos expostos na sociedade chilena.
Mestre em Artes Visuais pela Universidade do Reconstrói as tramas urbanas da marginalização
Chile. De origem mapuche, seu trabalho utiliza dos mapuches, na periferia da cidade de
seu patrimônio cultural como ponto de partida Santiago, trabalhando em atividades precárias
para propor uma reflexão crítica sobre o status e subalternas, trabalho doméstico, trabalho
social, cultural e político do sujeito mapuche informal, ou trabalho em segurança. O racismo
na atual sociedade chilena. Seu trabalho inclui marcou as experiências da sua infância, quando
instalação, cerâmica, performance e vídeo, chamavam os seus avós de índios, como insulto.
com o objetivo de explorar as semelhanças No vídeo Buscando a Marcela (Procurando
e diferenças culturais, como os estereótipos Marcela), o artista acha na cidade seu dublê
que se produzem no cruzamento entre modos feminino, e a sua identidade feminina.
de pensamento indígenas e ocidentalizados, Mirar (Olhar) é a série de fotografias com as
além de tornar visíveis questões em torno quais Sebastián nos mostra provas desta
do feminismo e das dissidências sexuais. Seu semelhança. Asentamiento (Assentamento)
trabalho foi exibido no Chile, Peru, Brasil, reúne tomas de filmes nas quais os
México, Estados Unidos, Alemanha, Espanha, protagonistas, mapuches que moram na cidade
Reino Unido, Suécia, Suíça e Austrália. Vencedor de Santiago, contam suas relações familiares
do Prêmio Municipal de Santiago em 2017 e dão conta dos processos diaspóricos e de
e do Prêmio FAVA Foundation em 2018. identidade que tramam as suas experiências.
A sua obra na totalidade, aborda de forma
crítica, a noção de identidade construída
Sobre as Obras na Bienal desde a raça, o gênero, o estrato social.

Artista mapuche, nascido no Chile, Sebastián


Calfuqueo utiliza o vídeo, a fotografia, a
performance, a instalação e a escultura para

241 BIENAL 12 CATÁLOGO


Mirar
2019
5 fotografias digitais impressas em
Hahnemühler Rag Baryta
100 x 66,7 cm
Cortesia do artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 242


Asentamiento
2015
Vídeo stills
12'49''
Câmera: Alejandra Caro Rivera
Edição: Juan Pablo Faus
Coleção do artista

243 BIENAL 12 CATÁLOGO


Buscando a Marcela Calfuqueo
2018
Video full HD, 10’

BIENAL 12 CATÁLOGO 244


Vera Chaves Barcellos
(Porto Alegre, Brasil, 1938)

Realiza obra gráfica nos anos 1960, após Brasil, e desde 1986, de forma simultânea, em
frequentar o Instituto de Belas Artes de Porto Barcelona, Espanha. Fez obras paradigmáticas
Alegre, e estudos na Inglaterra, Holanda e como Epidermic Scapes (1977-1982) na qual
França. Em 1975, bolsista do British Council, expôs a relação entre a paisagem e a pele,
estuda no Croydon College, Londres. Em em um registro analógico amplificado. Em
1976, participa da Bienal de Veneza. Em 2005, Mulheres do mundo, diversas mulheres,
instituiu a Fundação Vera Chaves Barcellos, frente a câmera, pronunciam seus nomes.
dedicada à arte contemporânea. Entre suas Ao mesmo tempo em que se registram estes
mostras individuais estão: Visitant Genet, rostos que se nomeiam, numa roda evidente
Museu D’Art de Girona (2000), O Grão da de empoderamento, se oferece um arquivo
Imagem, Santander Cultural, Porto Alegre de afeto particular que cada uma delas
(2007), Imagens em Migração, MASP, São Paulo comunica: confiança, otimismo, pessimismo.
(2009) e V.C.B, fotografias, manipulações e Trata-se de um projeto que Vera iniciou em
apropriações, Paço Imperial, Rio de Janeiro 1999, numa exposição que fez na Catalunha,
(2017). Participou de quatro Bienais de São e finalizou entre 2012-2013, realizando o
Paulo e coletivas na América Latina, Alemanha, registro de gravações num processo que
Bélgica, Coréia, Espanha, França, Holanda, contou com a colaboração do vídeo maker
Inglaterra e Japão. Integra a mostra Radical Hopi Chapmann. A versão que se apresenta na
Women: Latin American Art 1960-1985, Bienal 12 reúne a voz de quatrocentas mulheres
Hammer Museum, LA, (2017), e Brooklyn de diferentes partes do mundo, de variadas
Museum, New York (2018). Trabalha em Viamão, idades, nacionalidades e raças que, de forma
RS, Brasil e em Barcelona, Espanha, desde 1986. sucessiva, pronunciam, uma vez, seu nome

Sobre a Obra na Bienal


Gravadora, educadora e artista multimídia,
Vera Chaves Barcellos desenvolveu uma
extensa obra na cidade de Porto Alegre,

245 BIENAL 12 CATÁLOGO


As Mulheres do Mundo
1999-2010
Vídeo
19’17”
Câmera e montagem: Hopi Chapman
Finalização: João Moura
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 246


Zorka Wollny
(Cracóvia, Polônia, 1980)

Zorka Wollny é compositora e artista de teatro. livre, a artista polonesa Zorka Wollny cria
Cria obras site-specific que respondem ao performances que evocam o espírito do
ambiente arquitetônico. Ela colabora - como Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, o
diretora - com músicos, atores, dançarinos seu ethos de ensaio com vias à revolução
e membros das comunidades locais em que social. Em suas obras interdisciplinares,
trabalha.O estilo de produção colaborativa corpos e vozes são mobilizados e exercitados
de Wollny geralmente envolve ensaios e enquanto ferramentas primárias que
oficinas públicas nas quais ela cria estruturas servem para estruturar e moldar debates na
de cooperação com indivíduos, grupos e esfera pública. Trabalhando com músicos,
comunidades. Em um de seus trabalhos dançarinos e atores profissionais, além de
mais recentes, “Unmögliche Oper” (2017), membros da comunidade, Wollny já encenou
ela envolveu vários coros e cidadãos da performances em museus, fábricas, edificações
cidade alemã Oldenburg na exploração abandonadas e ruas da vizinhança. O vídeo
da voz como ferramenta de expressão e Ópera impossível foi originalmente concebido
debate público. Participou da Bienal de como uma performance de quarenta minutos
Arquitetura de Chicago (2019), Steirischer em Oldenburg, Alemanha, em colaboração
Herbst Festival em Graz (2019), Festival Novas com a compositora Anna Szwajgier (n. 1979).
Frequências no Rio de Janeiro (2019), CTM Ao combinar elementos de coreografia
Festival em Berlim (2020), entre outros. sistemática e sons não verbais em sua maioria,
desde respiração ofegante até murmúrios e
assobios, que se juntam em no canto “This
Sobre a Obra na Bienal is what democracy looks like” (“É com isso
que se parece a democracia”), a obra atesta
Inspirando-se em elementos de performance a importância continuada de encontrar uma
teatral, composição musical e improvisação voz própria na busca pelo bem comum.

247 BIENAL 12 CATÁLOGO


Impossible Opera
2017
Vídeo
23›31»
Coleção da artista

BIENAL 12 CATÁLOGO 248


Plantas baixas e
vistas da Bienal 12
PLANTAS BAJAS Y VISTAS DE LA BIENAL 12 / FLOOR PLANS AND VIEWS OF THE BIENAL 12

FIC BIENAL

ACESSO

projeção pavimento superior


projeção pavimento superior

O
ÃO A D
ER
A
T
AL
IS
EV
R

0 1 2 3 4 5m
PAVIMENTO TÉRREO . PLANTA BAIXA

249 BIENAL 12 CATÁLOGO


Semiya

Semiya

BIENAL 12 CATÁLOGO 250


Reforço da fixação

SALA 2.1
HALL 2.1 SALA 2.2

SALA 2.3

SALA 2.4

HALL 2.2

0 1 2 3 4 5m
PLANTA BAIXA 2° PAVIMENTO

251 BIENAL 12 CATÁLOGO


BIENAL 12 CATÁLOGO 252
Reforço da fixação
9
13

12

11

10

HALL 3.2

SALA 3.1 SALA 3.2

PEITORIL H=1.05CM

SALA 3.3

1/100

SALA 3.4

HALL 3.1

0 1 2 3 4 5m
PLANTA BAIXA 3° PAVIMENTO

253 BIENAL 12 CATÁLOGO

VISTA 1
Terceiro Pavimento

BIENAL 12 CATÁLOGO 254


MARGS

0 1 2 3 4 5m
PAVIMENTO TÉRREO . PLANTA BAIXA

255 BIENAL 12 CATÁLOGO


PINACOTECA ALA DIREITA
ESTHER FERRER . instalação ESQUINA CON TRIÀNGULOS

BIENAL 12 CATÁLOGO 256


LORRAINE O’GRADY
videoprojeção LANDSCAPE (WESTERN HEMISPHERE), 2010-2011

0 1 2 3 4 5m
SEGUNDO PAVIMENTO . PLANTA BAIXA

257 BIENAL 12 CATÁLOGO


BIENAL 12 CATÁLOGO 258
MEMORIAL

0 1 2 3 4 5m
PAVIMENTO TÉRREO . PLANTA BAIXA

259 BIENAL 12 CATÁLOGO


BIENAL 12 CATÁLOGO 260
0 1 2 3 4 5m
SEGUNDO PAVIMENTO . PLANTA BAIXA

261 BIENAL 12 CATÁLOGO


Representação de uma obra da artista. O trabalho apresentado
na Bienal 12 seria produzido em Porto Alegre.

0 1 2 3 4 5m
SEGUNDO PAVIMENTO . PLANTA BAIXA

BIENAL 12 CATÁLOGO 262


VITRINE

JULIETA HANONO
escultura 1030 peças

0 1 2 3 4 5m
TERCEIRO PAVIMENTO . PLANTA BAIXA

263 BIENAL 12 CATÁLOGO


BIENAL 12 CATÁLOGO 264
PROJETO
EDUCATIVO
PROYECTO EDUCATIVO /
EDUCATIONAL PROGRAM

265 BIENAL 12 CATÁLOGO


EQUIPE PROGRAMA
EDUCATIVO
CURADORIA EDUCATIVA
Programa Educativo -
Igor Simões Território Kehinde
2° semestre de 2019
​COORDENAÇÃO DE MEDIAÇÃO

Renata Santos Sampaio Porto Alegre, dia 14 de setembro na Sala da Música


Espaço Multipalco Theatro São Pedro

10h às 17h - Formação Câmara de Professores


ASSISTÊNCIA E PRODUÇÃO GERAL

Lucas Vilela Souza


TITULARES

Cristina Barros
​PRODUÇÃO
Ilana Peres Azevedo Machado
Katiana Ribeiro
Juliana de Lima Veloso
Maria Margarita Santi de Kremer
PESQUISA DE CONTEÚDO ARTÍSTICO

Cristina Barros Natalia Brock Reginato


Raquel Sampaio Alberti

PESQUISA DE MATERIAIS EDUCATIVOS Rejane Reckziegel Ledur


Carolina Mendoza Renan Silva do Espirito Santo
Silvana Taquatia Ribeiro
Walter Karwatzki

Suplentes

Celi Teresinha Reinhardt


Claiton Gonçalves da Silva
Débora Stifelmann Sukster
Lenira Costa dos Santos
Mari Lucie da Silva Loreto

BIENAL 12 CATÁLOGO 266


CADERNO
DE IMAGENS

Imagem Legenda/crédito

1 Território Kehinde: Os Femininos e o


Pensamento Curatorial da Bienal 12.
Outubro de 2019.
Foto: Lucas Vilela Souza

2 Território Kehinde: Os Femininos e o


Pensamento Curatorial da Bienal 12.
Fabiana Lopes, Igor Simões,
Andrea Giunta e públicos.
Outubro de 2019
Foto: Lucas Vilela Souza

3 Território Kehinde: - Femininos e Cultura


com Winnie Bueno, Joanna Burigo e Fernanda Bastos.
Novembro de 2019
Foto: Thiele Elissa

4 Território Kehinde: As Instituições


de Arte e os Educativos
com Mônica Hoff, Carla Batista e Marga Kremer.
Outubro de 2019
Foto: Lucas Vilela Souza

5 Território Kehinde: A Sala de Aula como


Espaço de Criação e Sabotagem
com Carmen Capra e Estêvão da Fontoura. Outubro
de 2019
Foto: Lucas Vilela Souza

267 BIENAL 12 CATÁLOGO


6 Território Kehinde: Territórios de Kehinde
com Ana Maria Gonçalves
Participação: Izis abreu e Dedy Ricardo.
Novembro de 2019
Foto: Lucas Vilela Souza

7 Território Kehinde: Artes, Femininos


e Pensamentos Contemporâneos
com Daniela Kern e Mitti Mendonça. Novembro de
2019
Foto: Lucas Vilela Souza

8 12 exercícios coletivos de Dissenso:


Curadoria e mediação contemporânea
em mostras de arte: políticas e poéticas
com Mara Pereira. Março de 2020
Foto: Thiele Elissa

9 12 exercícios coletivos de Dissenso:


Gênero e Raça na Arte-Educação
com Juliana dos Santos. Março de 2020
Foto: Thiele Elissa

10 12 exercícios coletivos de Dissenso:


Curadoria e mediação contemporânea
em mostras de arte: políticas e poéticas
com Mara Pereira. Março de 2020
Foto: Thiele Elissa

BIENAL 12 CATÁLOGO 268


11 12 exercícios coletivos de Dissenso:
Acessibilidades: O espaço
Expositivo para todes
com Camila Alves Araújo. Março de 2020
Foto: Thiele Elissa

12 12 exercícios coletivos de Dissenso:


Curadoria e mediação contemporânea
em mostras de arte: políticas e poéticas
com Mara Pereira. Março de 2020
Foto: Thiele Elissa

13 12 exercícios coletivos de Dissenso:


formação de mediadores
Fevereiro de 2020
Foto: Lucas Vilela Souza

14 12 exercícios coletivos de dissenso:


Estratégias de mediação em
Instituição local: Museu de Arte
do Rio Grande do Sul-MARGS
Março de 2020
Foto: Lucas Vilela Souza

15 12 Exercícios Coletivos de Dissenso:


Estratégias de mediação em Instituição
local: Fundação Iberê Camargo-FIC
Março de 2020
Foto: Lucas Vilela Souza

269 BIENAL 12 CATÁLOGO


16 12 Exercícios coletivos de Dissenso:
Entre professores, mediadores
e a exposição: Estratégias
Ilana Machado e Luciana Loponte
Foto: Lucas Vilela Souza

17 Programa de Lives: Conversa com


Rosana Paulino e Igor Simões
Maio de 2020
Material de Divulgação Bienal 12.

18 Programa de Lives: Conversa com


Rosana Paulino e Igor Simões
Maio de 2020
Print: Equipe Educativo Bienal 12

19 Programa de Lives: Conversa com


Andrea Giunta, Pau Delgado, Helô
Sanvoy, Juliana Góngora
Julho de 2020
Material de Divulgação Bienal 12.

20 Programa de Lives: Conversa com


Andrea Giunta, Ana Gallardo,
Sebastian Calfuqueo, Joiri Minaya.
Julho de 2020
Print: Equipe Educativo Bienal 12

BIENAL 12 CATÁLOGO 270


21 Programa de Lives: Conversa com Juliana
dos Santos, Ana Lira e Fabiana Lopes.
Junho de 2020
Print: Equipe Educativo Bienal 12

22 Programa de Lives: Conversa com Hélio


Menezes, Fabiana Lopes e Igor Simões.
Julho de 2020
Material de Divulgação Bienal 12

23 Programa de Lives: Conversa com Natalia


Iguiñiz, Eliana Otta e Dorota Biczel
Junho de 2020
Material de Divulgação Bienal 12

24 Programa de Lives: Conversa com


Janaina Machado, Hugo Oliveira
e Renata Santos Sampaio
Julho de 2020
Print: Equipe Educativo Bienal 12

271 BIENAL 12 CATÁLOGO


25 Laboratório Coletivo Bienal 12-
Material educativo em tempos de
isolamento. Mulheres na arte
com Renata Felinto.
Junho de 2020
Print: Equipe Educativo Bienal 12

26 Laboratório Coletivo Bienal 12:


Material educativo em tempos de
isolamento. Visibilidade Trans na
Arte e na História da Arte
com Élle de Bernardini
Julho de 2020
Material de Divulgação Bienal 12

27 Laboratório Coletivo Bienal 12- Material


educativo em tempos de isolamento.
Colonialismo e decolonialidade
com Aline Motta.
Junho de 2020.
Print: Equipe Educativo Bienal 12

28 Laboratório Coletivo Bienal 12- Material


educativo em tempos de isolamento.
Colonialismo e decolonialidade
com Aline Motta.
Junho de 2020
Material de Divulgação Bienal 12

BIENAL 12 CATÁLOGO 272


29 Laboratório Coletivo Bienal 12: Material
educativo em tempos de isolamento.
Material de Divulgação Bienal 12

30 Laboratório Coletivo Bienal 12:


Material educativo em tempos
de isolamento. Agrupamentos de
mulheres e vida democrática
com Nosotras Proponemos.
Junho de 2020
Print: Equipe Educativo Bienal 12

31 Laboratório Coletivo Bienal 12-


Material educativo em tempos de
isolamento. Mulheres e violências
com Fátima Pecci Carou. Junho de 2020
Print: Equipe Educativo Bienal 12

32 Rede Bienal 12 de Arte e Docência


Material de Divulgação Bienal 12

273 BIENAL 12 CATÁLOGO


33 12 Proposições para pensar a Bienal 12
Proposição 1: #Mulheres na Arte
Card

34 12 Proposições para pensar a Bienal 12


Proposição 1: #Mulheres na Arte
Card

35 12 Proposições para pensar a Bienal 12


Proposição 2: #Essencialismo
Card

BIENAL 12 CATÁLOGO 274


36 12 Proposições para pensar a Bienal 12
Proposição 3: #Natureza e Mundo Contemporâneo
Card

37 12 Proposições para pensar a Bienal 12


Proposição 4: #Artistas Trans
Card

38 12 Proposições para pensar a Bienal 12


Proposição 4: #Artistas Trans
Card

275 BIENAL 12 CATÁLOGO


39 12 Proposições para pensar a Bienal 12
Proposição 5: #Representação e Representatividade
Card

40 12 Proposições para pensar a Bienal 12


Proposição 6: #Mulheres e Curadoria
Card

41 12 Proposições para pensar a Bienal 12


Proposição 7: #Tramas, Tecidos, Fissuras
Card

BIENAL 12 CATÁLOGO 276


42 12 Proposições para pensar a Bienal 12
Proposição 8: #Fio
Card

43 12 Proposições para pensar a Bienal 12


Proposição 9: #Colonialismo
Card

44 12 Proposições para pensar a Bienal 12


Proposição 9: #Colonialismo
Card

277 BIENAL 12 CATÁLOGO


45 12 Proposições para pensar a Bienal 12
Proposição 10: #Imigrantes
Card

46 12 Proposições para pensar a Bienal 12


Proposição 11: #Agrupamentos e Vida Democrática
Card

47 12 Proposições para pensar a Bienal 12


Proposição 12: #Violências contra Mulheres
Card

BIENAL 12 CATÁLOGO 278


TERRITÓRIO KEHINDE
Porto Alegre, dia 08 de outubro no CHC Santa Casa Pelotas, dia 07 de novembro na Biblioteca Pública
Pelotense
19h - Mesa 0 - Os Femininos e o
Pensamento Curatorial da Bienal 12 Com 19h - Mesa 6 - Território de Mulheres Negras
Andrea Giunta e Fabiana Lopes e a Arte Com Izis Abreu e Dedy Ricardo

20h - Mesa 1 - Educativos, Mostras e Docências


em Artes: Lugares de Criação Com Carmen
Capra, Luciana Loponte e Celina Alcântara Porto Alegre, dia 12 de novembro no CHC Santa Casa

10h - Mesa 7 - Artes, Femininos e


Pensamentos Contemporâneos Com
Porto Alegre, dia 31 de outubro no CHC Santa Casa Daniela Kern e Mitti Mendonça

10h - Mesa 2 - As Instituições de Arte 14h - Mesa 8 - Femininos e Cultura Com Winnie
e os Educativos Com Mônica Hoff, Bueno, Joanna Burigo e Fernanda Bastos
Carla Batista e Marga Kremer
14h - Mesa 3 - Mediações e Mediadores,
Professoras e Professores Com Mônica Porto Alegre, dia 12 de novembro no Centro Cultural
Hoff, Carol Mendoza e Larissa Fauri CEEE - Erico Verissimo
17h - Mesa 4 - A Sala de Aula como 18h - Mesa 9 - Territórios de Kehinde
Espaço de Criação e Sabotagem Com Com Ana Maria Gonçalves |
Carmen Capra e Estêvão da Fontoura Participação: Izis abreu e Dedy Ricardo

Caxias do Sul, dia 06 de novembro no Sesc Caxias do


Sul

19h - Mesa 5 - Raça e Artes Visuais em Terra


Brasil Com Xadalu e Renata Santos Sampaio

279 BIENAL 12 CATÁLOGO


Programa Educativo - 12 Porto Alegre, via plataformas digitais

Exercícios coletivos de
Programa de Lives Bienal 12
dissenso
28 de maio - Conversa com Rosana
Paulino e Igor Simões
1° semestre de 2020
04 de junho - Conversa com Juliana dos
Porto Alegre, Sala da Música Espaço Multipalco Santos, Ana Lira e Fabiana Lopes
Theatro São Pedro
11 de junho - Conversa com Mara Pereira,
Renata Santos Sampaio e Igor Simões
12 exercícios coletivos de dissenso
- seleção de mediadores 18 de junho - Conversa com Natalia
Iguiñiz, Eliana Otta e Dorota Biczel,
08 de fevereiro - O Educativo, a Bienal
e o dissenso como rumo com a Equipe 25 de junho - Conversa com
educativa (apresentação do projeto) Arissana Pataxó e Igor Simões
13 de fevereiro - Feminino, mediação, 02 de julho - Conversa com Andrea Giunta,
arte e cultura Com Joanna Burigo Ana Gallardo, Sebastian Calfuqueo,
e Mulheres nos Acervos Joiri Minaya e Andrea Giunta
14 de fevereiro - Entre professores, 09 de julho - Conversa com Andrea
mediadores e a exposição: Estratégias Giunta, Pau Delgado, Helô Sanvoy,
com Ilana Machado e Luciana Loponte Juliana Góngora e Andrea Giunta
19 de fevereiro - A supervisão e a mediação e o 16 de julho - Conversa com Janaina Machado,
espaço expositivo com Carolina Mendoza Hugo Oliveira e Renata Santos Sampaio
20 de fevereiro - Estratégias de 23 de julho - Conversa com Hélio
mediação em Instituição local: FIC Menezes, Fabiana Lopes e Igor Simões
05 de março - Estratégias de mediação 30 de julho - Conversa com Andrea Giunta,
em Instituição local : MARGS Fabiana Lopes, Dorata Biczel e Igor Simões
06 de março - Cidadania, cultura
democrática e práticas de mediação
Com Themis e Winnie Buenno

7 de março - Curadoria e mediação


contemporânea em mostras de arte:
políticas e poéticas com Mara Pereira

13 de março- Acessibilidades: O espaço


Expositivo para todes Com Camila Alves Araújo

14 de março- Gênero e Raça na Arte-


Educação Com Juliana dos Santos

20 de março - não aconteceu

21 de março - não aconteceu

BIENAL 12 CATÁLOGO 280


GRUPO DE PROFESSORES E
LABORATÓRIO COLETIVO BIENAL INTEGRANTES DA CÂMARA
12: MATERIAL EDUCATIVO EM DE PROFESSORES
TEMPOS DE ISOLAMENTO Ana Letícia Schweig

02 de junho - Mulheres na arte


Ário Gonçalves
com Renata Felinto
Mariana Schnorr Thomas
9 de junho - Agrupamentos de mulheres e
vida democrática com Nosotras proponemos Ana Paula Freitas dos Santos

16 de junho - Mulheres e violências Daniela Costanzo


com Fátima Pecci Carou
Ana Paula Caneda Jardim
23 de junho - Colonialismo e
decolonialidade com Aline Motta Carla Zimmer Trautmann
30 de junho - Visibilidade Trans na Arte e na Shayda Cazaubon Peres
História da Arte com Élle de Bernardini
Ilana Peres Azevedo Machado
Laboratório composto por Maria Margarita Santi de Kremer
CURADOR PEDAGÓGICO Natalia Brock Reginato
Igor Simões Raquel Sampaio Alberti
Rejane Reckziegel Ledur
COORDENAÇÃO GERAL
Renan Silva do Espirito Santo
Cristina Barros
Débora Stifelmann Sukster

EQUIPE

Katiana Ribeiro
Lucas Vilela Souza
Renata Santos Sampaio

SETORES EDUCATIVOS

CHC Santa Casa -


Gabriela Portela Moreira
Fundação Iberê Camargo -
Larissa Fauri
Museu de Arte do Rio Grande do
Sul - Mariah De Godoy Pinheiro

281 BIENAL 12 CATÁLOGO


textos en
español

BIENAL 12 CATÁLOGO 282


Un Acto de Resistencia
Al igual que otros eventos culturales, la BIENAL 12 legados coloniales y estereotipos raciales. Pero, como
sufrió el impacto de lo imponderable: la pandemia. lo he dicho antes, transpira la poética de la belleza.
Debido a impedimentos legales y riesgos sanitarios,
Para nosotros brasileños, reflexionar sobre el
la tradicional muestra de arte contemporánea, en
universo femenino es especialmente relevante. El
su formato original, se volvió inviable. Para nosotros,
país que heredamos es injusto. Desde el punto de
sin embargo, cancelar un evento artístico como este,
vista de cualquier indicador, mujeres y negros viven
con una temática tan relevante, sería impensable.
en peores condiciones que hombres y blancos.
Por esta razón decidimos optar por un formato Nuestros índices de violencia contra la mujer
virtual. Obviamente, parte sustancial del proyecto son alarmantes. La tasa de feminicidio en Brasil
curatorial, dependiente de la presencia física de es una de las más elevadas del mundo. Estos
los artistas en la ejecución de obras e instalaciones crímenes de odio son mucho peores cuando se
artísticas, exigió adaptaciones de nuestra parte: la trata de la mujer negra y de los transexuales.
necesidad de aislamiento social cobró un alto precio.
No tenemos cómo huir de la realidad. Somos producto
La buena noticia es que la excelencia de nuestra de una estructura patriarcal, marcada de forma
curadora Andrea Giunta y de sus curadores permanente por la violencia de la colonización,
adjuntos, Igor Simões, Fabiana Lopes y Dorota Biczel el genocidio del indígena y la esclavitud del
aseguraron la elevada calidad y la viabilidad de la negro africano. La injusticia impregna las tintas
BIENAL 12 “online”, un mérito que debemos compartir y materiales utilizados por los artistas, dejando
con nuestros consejeros, directores y apoyadores. muchos cuestionamientos aun sin respuestas.

La alternativa fue presentar todas las obras Uno de los carteles urbanos de “Guerrilla Girls”,
en fotografías y videos, enriquecidos con grupo activista que desde hace décadas busca
testimonios de los artistas participantes, y ampliar espacios de actuación para la mujer,
colocarlos a disposición del público a través pregunta: ¿Por qué tan pocas mujeres artistas
de la página web de nuestra fundación. Resta, tienen obras expuestas en los grandes museos,
sin embargo, la esperanza de que, en un futuro pero dominan la mayor parte de los desnudos en
próximo, podamos exhibir la muestra original. exposiciones? Es fundamental que reflexionemos
“Femenino(s): visualidades, acciones y afectos”. profundamente sobre el tema de los femenino(s).

El título dado a la muestra no se relaciona En medio de la pandemia, queda el registro de


solamente con los asuntos referentes a la mujer, que, aunque existan obvias razones para que sea
sino que trae a la superficie temas más profundos cancelada o postergada, la BIENAL 12 de hecho
y fundamentales sobre género, como la agenda se llevó a cabo. Y ha sido también un acto de
“queer” y LGBT, violencia contra transexuales, resistencia, en defensa de la cultura y de las artes
la ilegalidad del aborto, en fin, las diferentes visuales. En un momento en el que las humanidades
expresiones de la intolerancia y falta de respeto parecen perder espacio en la agenda oficial en
al individuo y a las diversas identidades. varios países, incluyendo el nuestro, dando lugar
a la intolerancia y a la falta de respeto por las
Lamentablemente, todavía existe poca contribución
diferencias, anhelamos que las manifestaciones
de los femeninos en las obras exhibidas en los
culturales y artísticas tengan una larga vida.
grandes museos. Y su participación en las estructuras
¡Larga vida a las Bienales del Mercosur!
de poder del mundo del arte es modesta. Es por
ello que el tema de la BIENAL 12 es tan relevante.
Como lo anticipa el título de la muestra, las obras Gilberto Schwartsmann
traen reflexiones sobre el feminismo, iniquidades de
género y la violencia contra la mujer y los cuerpos
Presidente de la Fundación Bienal de Artes Visuales
feminizados, lanzando cuestionamientos sociales y
del Mercosur
políticos. Pero sin prescindir de la experiencia estética.

Con la BIENAL 12 “online”, la Fundación Bienal de


Artes Visuales del Mercosur honró su extensa tradición
de compromiso con el arte. En ella participan artistas
de varias regiones del planeta, con obras de enorme
impacto, que remiten a asuntos sobre violencia y
discriminación contra la mujer, militancia feminista
y derechos humanos. De la misma forma, resuenan

283 BIENAL 12 CATÁLOGO


Una longeva alianza
La Bienal del Mercosur es una de las más Memorial de Rio Grande do Sul, que tradicionalmente
relevantes y notables iniciativas de la cultura de abrigan exposiciones que integran la gran muestra.
nuestro Estado. Su consolidada trayectoria de En 2020, incluso con la excepcionalidad que llevó a
éxito y reconocimiento mucho nos honra y nos la adopción de un formato virtual por la Bienal 12,
enorgullece, sobre todo por su ya longevo legado por cuenta del cierre temporal de las instituciones en
para el público y la comunidad artística. enfrentamiento a la pandemia del Covid-19, la alianza
se renueva en acciones desarrolladas conjuntamente
Desde la primera edición, en 1997, Rio Grande
en las redes sociales y plataformas digitales.
do Sul se insirió en el mapa internacional de
las exposiciones y eventos de gran porte de la En esta 12ª Bienal del Mercosur, la producción artística
contemporaneidad, con la ciudad Porto Alegre femenina gana evidencia, con una edición enfocada
firmándose ya hace más de 20 años como un punto en artistas mujeres. Tal orientación se suma al mismo
de referencia de este circuito artístico globalizado. esfuerzo a que muchas instituciones artísticas por el
mundo se están empeñando, incluyendo las actuales
Esa dimensión se reviste de importancia no
gestiones de nuestros museos de arte del Estado,
solo por el alcance de la repercusión externa;
como el MARGS y el Museo de Arte Contemporáneo
sino también, y en especial, con el modo con el
de Rio Grande do Sul (MAC-RS). Se trata de un
que la Bienal drl Mercosur viene contribuyendo
empeño conscientemente crítico de señalar y buscar
localmente para la formación de nuevos públicos
reparar la mayor predominancia de artistas hombres
y para la calificación del medio artístico.
a lo largo de un proceso histórico hoy cuestionado.
En cada edición, se crea una nueva circunstancia
La disposición para el compromiso con la inclusión
a colocarnos en contacto vivo y directo con
está en convergencia con la visión de la Secretaría
manifestaciones y producciones artísticas de los
de Estado de la Cultura (SEDAC), en la cual tenemos,
más variados y distantes escenarios, contextos y
entre las principales metas, preservar y divulgar
geografías; muchos de los cuales no tendríamos
nuestro patrimonio cultural y avanzar en el campo
la oportunidad de conocer y apreciar solamente
de la economía de la cultura, asumiendo como
por medio de nuestros acervos y colecciones
premisa fundamental la defensa de los valores
locales o incluso por la programación de las
democráticos y ciudadanos, como inclusión,
demás instituciones que actúan aquí.
diversidad, pluralidad y representatividad.
Se fuéramos a señalar uno de los legados de la Bienal
Para este desafío, más que confianza política,
del Mercosur, podemos seguramente afirmar que
contamos con la garantía del derecho a la
tenemos un público para el arte contemporáneo en
libertad de expresión y manifestación, la cual
buena parte iniciado por el contacto y experiencias
consideramos fundamental e indispensable
proporcionados por la Bienal. Lo que nos lleva al
para el ejercicio y avance de nuestra producción
deber de reconocer que la actuación de la Fundación
artística, creativa, científica e intelectual.
Bienal del Mercosur se coloca como fundamental para
nuestro medio artístico y educacional. Y, al mismo
tiempo, indispensable para nuestro ambiente cultural. Beatriz Araujo
Es reconociendo todos esos méritos conquistados
hasta aquí, así como los retos de continuar Secretaria de Estado de la Cultura
y proseguir, que el Gobierno del Estado de de Rio Grande do Sul
Rio Grande do Sul se coloca como apoyador
e incentivador de esta gran iniciativa.

Desde que asumimos la Secretaría de Estado de


la Cultura, en 2019, nos empeñamos en colaborar
y ofrecer las mejores condiciones posibles para la
buena marcha y proseguimiento del evento. Además
de ser uno de los proyectos que se amparan en los
mecanismos de la política de fomento a la cultura del
Estado de RS, por medio de nuestra Ley de Incentivo
(LIC-RS), la Bienal del Mercosur desde su inicio
también encuentra en nuestras instituciones culturales
del Estado algunos de sus principales aliados, como
el Museo de Arte de Rio Grande do Sul (MARGS) y el

BIENAL 12 CATÁLOGO 284


Donde quieres revólver, soy coquero
Los versos de Caetano Veloso definen, de manera
clara y poética, el papel de la Bienal del Mercosur
en el escenario de nuestro calendario cultural. Al
llegar a su 12ª edición, consolidada y reconocida
como uno de los grandes eventos del género en
América Latina, la Bienal es motivo de orgullo
para todos nosotros, gaúchos de cuerpo y alma.

En un mundo polarizado y lleno de conflictos,


donde ideologías y autoritarismos se mezclan y
borran las fronteras del buen sentido, un evento
del tamaño y de la grandeza, y con la historia del
evento, nuestra Bienal es como una bendición a
clamar inteligencia, reconocimiento y espacio para
las diferencias. Como frecuentador asiduo desde
la primera, espero mucho de esta edición. Desde el
nombre. “Feminino(S). Visualidades, Ações e Afetos”
nos instiga a saber que Porto Alegre, una vez más,
será sede de un evento de nivel internacional. Ojos
y oídos, atentos Mejor dicho, todos los sentidos.

Vivir en plenitud la Bienal, respirar el clima


de descubrimientos y sorpresas, todo se
mueve, para ofrecerle al público un evento
realmente impactante e inolvidable.

Para más allá de un equipo cualificado y


competente, es preciso destacar la figura de Gilberto
Schwartsmann, uno de los más activos hombres de
la cultura de Rio Grande do Sul. Con su personalidad
agregadora y generosa, Gilberto logra driblar todas
las crisis coyunturales para proporcionarnos un
momento singular de nuestro calendario. No hay
palabras para agradecer su dedicación y capacidad
de involucrar a la sociedad en la resolución de toda la
logística que se impone el evento de esta naturaleza.

Que la ciudad disfrute y reconozca la excelencia plural


de esta edición. El éxito, desde ya, está garantizado.

Luciano Alabarse

Secretario Municipal de Cultura de Porto Alegre

285 BIENAL 12 CATÁLOGO


FEMENINO(S).VISUALIDADES,
ACCIONES Y AFECTOS
El título de esta bienal instala un interrogante que
remite a la fricción central de la cultura democrática
contemporánea: la participación de la sociedad
desde el concepto de diferencia entendida como
multiplicidad y no como separación, tal como lo
expresó Denise Ferreira da Silva. Toma también
como punto de partida las preguntas que propuso
Nelly Richard en su libro Masculino / Femenino (1993),
formuladas en el contexto latinoamericano de las
transiciones democráticas. Sus interrogantes remiten
al lugar social de lo femenino, sus construcciones,
sus descalces, y al salto respecto de las lógicas
binarias excluyentes. Las preguntas tienen plena
vigencia. Particularmente en un momento en el que
lo femenino retoma agendas incumplidas desde los
años sesenta, recoge los cuestionamientos de los
noventa y amplía sus urgencias a consecuencia de
las incrementadas violencias hacia las mujeres y
los colectivos LGBTTQ+; el aumento de la pobreza
y los sistemas de exclusión y discriminación; la
observación crítica y atenta de los programas que
acechan los recursos naturales del planeta.

La bienal propone elaborar un contrato sensible,


una zona de intercambios de visualidades, acciones
y afectos que permita confirmar la riqueza de la
vida democrática sin eludir su complejidad.

Femenino(s) destaca la relevancia de la creatividad


para friccionar límites y condicionamientos. Se inspira,
en este sentido en una frase poética de Carolina Maria
de Jesus, campesina, poeta y cronista afrobrasileña,
quien abría intersticios entre el trabajo y el cuidado
de sus hijos para escribir. Ella escribía en la riqueza
de la favela y a pesar de las limitaciones impuestas
por violencias raciales (pos)coloniales. Escribía “Até
passar a chuva”. La palabras y las imágenes se
depositaron en sus papeles diseñando territorios que
apuntan a una libertad posible. Porque la escritura
explora los límites que las circunstancias señalan
sobre el lenguaje. A estas condiciones de la creación
probablemente aludía Clarice Lispector cuando se
refería a la tarea de surcar imposibilidades: “Todo
lo que sé no lo puedo escribir”, escribía, al tiempo
que nombraba el “lujo del silencio”. Más que la
obviedad de los sentidos, desplazados en un tiempo
en el que se ven reducidos a lugares comunes, en
una comunicación plana, el diagrama expositivo
de la bienal apunta a la lectura atenta de una
comunidad interpretativa capaz de abordar un
tejido de sensibilidades y discursos que admiten
el disenso como resorte de la argumentación y
la deliberación. Porque, lo sabemos, es necesario
decir, explorar las diferentes maneras de nombrar
para evitar las clasificaciones uniformes.

BIENAL 12 CATÁLOGO 286


Femenino(s) se centra en las propuestas de artistas
mujeres y de todas las sensibilidades no binarias,
fluidas, no normativas. Sobre todo aquellas que
se expresan en su oposición a las más diversas
formas de la violencia. Se trata de involucrarse con
las aspiraciones de las mayorías a las que muchas
obras nos dirigen, y que comprenden artistas afro
descendientes e indígenas, cuya presencia sigue
evocando reflexiones críticas en un mundo del arte que
todavía es excluyente. Se trata de escuchar en detalle
y abordar en serio todo aquello que los estereotipos
marginan. Todas las voces, con sus heterogéneas
respuestas y propuestas, constituyen la cultura.

Femenino(s) se expande con las propuestas de artistas


socios o aliados, que comparten el deseo de un orden
social menos opresivo y discriminatorio en términos de
género. Son muchas las poéticas que inspiran el diseño
de un nuevo horizonte simbólico y cultural en que las
diferencias de género no se traduzcan en desigualdades
o subalternidades. Las transformaciones requieren
de coaliciones transversales entre identidades que
se enriquecen unas a otras mediante el cruce de sus
diferencias. Todas las historias necesitan ser relatadas y
comunicadas para que las narrativas se vuelvan plurales.

Femenino(s) se enriquece con la creación de quienes


trabajan con materiales y técnicas tradicionalmente
atribuidos a las artes de lo femenino. Existe una
creatividad en las formas de concebir lo común desde
experiencias de vida y relatos cotidianos que deben
ser escuchadas como voces de una diversidad sin
diferencias. Las experiencias que expanden la expresión
de la comunidad contribuyen a la conversación,
al intercambio, y a la necesaria reconstrucción
de una trama social herida por el maltrato y la
precariedad. Tal interacción genera intercambios
desde los que podemos imaginar otras formas de
conocimiento. Todos los lenguajes nos pertenecen sin
jerarquías de valor ni segregación de contenidos.

Femenino(s) aspira a compartir el ejercicio colectivo de


inventar nuevas formas de hacer, decir, pensar y crear.
Una plataforma que actúe como un foro y como un coro
de expresiones y escuchas. Quiere funcionar como un
espacio en el que mute la estructura tradicionalmente
excluyente de las representaciones simbólicas y
culturales que rigen el mundo del arte. La dimensión
educativa es central para crear territorios de
intercambios, debates y encuentros entre los diferentes
públicos que crearan sus propias bienales. La bienal se
propone como un espacio de celebración colectiva del
pensar y crear juntos para enfrentar con imaginación
crítica los desafíos de fortalecer un pacto democrático
que amplíe y diversifique los contornos de la ciudadanía.

Andrea Giunta
Curadora Jefe
Bienal 12, Porto Alegre

287 BIENAL 12 CATÁLOGO


Pensar todo de nuevo
Notas sobre la Bienal 12 l Porto Alegre, Femenino (s). Visualidades, acciones y afectos

Andrea Giunta
Curadora en Jefe
Universidad de Buenos Aires / Conicet

Es difícil comenzar hoy un texto sin recordar dónde piezas más esplendorosas de las redes entre arte y
estábamos antes del aislamiento en el que nos movimiento turístico transnacional. Los museos se
encontramos todavía, hoy, 19 de mayo, cuando convirtieron en espacios de cita para los habitantes
comienzo este texto. Suspendimos el montaje de de las ciudades en los que se ubican. Los de arte
la bienal el 13 de marzo. Estaba por viajar a Porto moderno y contemporáneo compitieron por cifras
Alegre para ese momento único que representa ubicar de millones de espectadores. El movimiento de los
las obras en las salas, o instalar y producir obras museos involucró poderosamente a los arquitectos.
que se realizaban in situ, en el lugar, que veremos Edificios firmados se sumaron, como ingrediente
emerger, señalando experiencias desde recorridos, central, a esta dinámica que implicaba grandes
desde procesos de inmersión en la ficción poética inversiones, exposiciones monumentales, afluencia
de un video, en las salas en las que las imágenes masiva de público. Visitar una ciudad significó
y los colores se cruzan o lo inundan todo. Pienso también conocer sus museos por su forma externa,
en el dibujo de Ana Gallardo sobre las mujeres museos que no cuentan solo por su colección, por
asesinadas en Guatemala; en la acción colectiva lo que exhiben, sino también por el espectáculo
de Mónica Mayer, con sus preguntas sobre el lugar de las curvas extremas, plateadas, luminosas,
de la mujer en Porto Alegre, la ciudad a interrogar, que desde su piel metálica describen en el aire.
a intervenir; en la performance de Janet Toro, que El ejemplo emblemático es el Guggenheim de
llevaría su cuerpo desde un enterramiento en la Bilbao. En forma casi paralela las bienales se
plaza de Alfândega a la fachada del Memorial; multiplicaron aceleradamente. Las citas mundiales
en la instalación sobre el color azul, que había de la contemporaneidad sumaron formas de
desarrollado en sus pasos preliminares Juliana Dos turismo específico dirigido a los públicos del arte.
Santos; en el taller de bordado que en la Plaza iban Contaban las cifras de visitantes, contaban las
a realizar junto al público Chiachio & Giannone. cifras de los precios del arte, contaban los costos
Todo eso, y, sobre todo, muchas obras localizadas de las exposiciones. Nuevas dinámicas señalaron el
que había propuesto en su selección la curadora mundo del arte: el protocolo en el traslado de las
adjunta Fabiana Lopes, como la de Dana Whabira obras, la concentración del valor en el cuerpo mismo
sobre la historia negra de Porto Alegre; o la elección de la obra, en ocasiones efímero (instalaciones, site
de la otra curadora adjunta Dorota Biczel, con la specific, performances, que duran apenas meses,
obra que Juliana Vidal iba a realizar imprimiendo apenas días, apenas un instante) y su consecuente
el cuerpo en barro local, barro de Rio Grande do mercantilización, que incluye los registros, los archivos
Sul. La trama de personas, obras, espacios, los de lo efímero; la fetichización de las obras a la que los
encuentros que esperábamos en los días de montaje, museos contribuyen, incluso, al exhibir las fotografías
no iban a suceder. Y escribo este texto sin saber si que documentan acciones, imágenes digitalizadas
una versión en el espacio de la bienal será posible. que se imprimen ad hoc, que se enmarcan, y en las
que se altera su disposición inicial, de ningún modo
Vuelvo al día 12, a percepciones que tenía sobre
superflua, para que brillen como espectáculo en las
los ritmos que acechan a la cultura cuando esta
salas de los museos;1 los precios en el mercado de
se transforma en números en una exposición. Si en
arte, que reproducen la alarmante concentración de
los años setenta y ochenta corrientes fuertes en el
la riqueza en un momento exacerbado y despiadado
pensamiento sobre el arte auguraban el fin de los
del capitalismo; las relaciones entre el mundo del
museos, en el siglo XXI estos demostraron ser las
arte y la dinámica global, que hace de exposiciones y

1 Para un análisis de la desactivación crítica de una obra desde la manipulación espacial que se realiza en el montaje ver la con-
ferencia de Nelly Richard, “Archivos de arte chileno, memoria y resistencia crítica”, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía,
19 de octubre de 2017. https://www.museoreinasofia.es/buscar?bundle=actividad&pasados=1&f%5B0%5D=im_field_obra_
clasificaciongener%3A4277

BIENAL 12 CATÁLOGO 288


bienales estaciones de un viaje acelerado por distintas ¿Es la suspensión de casi todas las actividades la
capitales del arte; el flujo de cuerpos –artistas, única forma de pensar críticamente sobre un presente
directores de instituciones, coleccionistas, curadores-- en el que las relaciones sociales que conocíamos
que se trasladan de inauguración en inauguración, entran en crisis, se desmoronan? El silencio, parar,
para celebrar y partir rumbo al próximo evento. son caminos reflexivos. Podemos también optar
por intervenciones críticas y afectivas en tiempo
Los tiempos del mundo del arte habían enloquecido.
presente, que permitan pensar “mientras tanto”.2
Esa era la percepción que tenía antes de la pandemia.
La frase sintetiza la decisión de no abandonar el
¿Hasta qué punto este universo, tal como existía antes
presente, un movimiento que da cuenta, también, de
de estos meses de aislamiento, era también parte
una necesidad afectiva. Por un tiempo que aun no
de un tráfico y circulación que llevó al planeta a la
podemos determinar, no habrá una normalidad, que
condición exhausta en la que se encontraba antes
podamos anticipar con precisión, a la que volver en el
de detenerse? Se habla a esta altura de los hechos
mundo del arte. Se analizan protocolos para reabrir
y del confinamiento, de volver a la ‘normalidad’, o
los espacios de exhibición, pero por el momento no es
a una ‘nueva normalidad’, ¿qué significa el término
posible establecer una fecha. Rastros del presente, de
normalidad?, ¿queremos retornar al mundo que
lo que hemos vivido en estos meses, permanecerán,
conocíamos antes del aislamiento, antes de que se
de distintas formas, en el futuro. Atender el “mientras
declarase la pandemia? La globalización atravesó
tanto” como posibilidad de gestar formas de
el horizonte de expectativas del mundo del arte con
intervenir en la urgencia - la nuestra, la de quienes
fuerza. Hoy el aislamiento, el panóptico sanitario
nos rodean-; pensar desde los instrumentos que
que nos regula, la parálisis del mundo del arte, se
hoy tenemos, en tiempo presente, para elaborar
instalaron a escala global. El mundo paró. Quizás,
alternativas, lugares reflexivos a los que volver, es
más exactamente, nos paró. Para los circuitos del
otra opción. Desde allí nos involucramos, con casi
arte las nuevas condiciones representan también
todo el equipo de la bienal, cuando decidimos migrar
una oportunidad para detenerse y pensar.
del espacio físico al espacio líquido de las pantallas.

Quebrar el aislamiento La bienal online es la plataforma posible, más


inmediata, en la que desplegamos los materiales
El 13 de marzo detuvimos el montaje y la inauguración de dos años de trabajo. Son imágenes, videos,
de la bienal. El equipo que trabajaba en su apertura proyectos. Se trata en muchos casos de materiales
quedaba en un preocupante suspenso. Cuando todos que quedarán, por el momento, inconclusos, en
los contratos caían y comenzaban las olas de despidos tanto eran obras que iban a realizarse en la ciudad,
en los museos del mundo –el MoMA, el Metropolitan, en los espacios de exhibición. Ante la incertidumbre
podrían citarse como ejemplos emblemáticos—, sobre qué sucederá con los viajes internacionales,
cuando las instituciones del arte cerraban y se es casi seguro que estos proyectos no llegarán
mostraban prescindentes respecto de sus propias a materializarse. Agregó hoy, 19 de junio, que la
comunidades de referencia, artistas y equipos de Bienal de San Pablo, inicialmente postergada en
trabajo, entendimos que era necesario sostener las el calendario que se había establecido en el 2020,
relaciones que se había tejido en torno a la bienal. pasó ahora a la segunda mitad de 2021. El hecho
pone de manifiesto que es difícil anticipar cuando
Un escenario crítico en el momento de apertura abre va a producirse el retorno del público a las salas
para sus curadores dos posibilidades: alejarse de la de exposición. En Brasil, donde la situación política
escena, prescindir, o involucrarse en las tramas de y sanitaria se agudiza día a día, es difícil asegurar
esa ruptura crítica para participar en las dinámicas cuál será la fecha en la que las actividades de
desde las que se gestan sentidos que continuamente los museos podrán volver a realizarse dentro
mutan. La tarea no es tan solo intelectual. Requiere de los parámetros anteriores al aislamiento.
considerar las fuentes de trabajo de quienes
participan en el proyecto, la responsabilidad sobre sus
formas de sustento en un escenario en el se diluyen Primer escenario
las financiaciones. La bienal online permitió diseñar
Las selecciones que en forma independiente cada
una escena, una arena tan pública como fuese posible
curador realizó para la bienal estuvieron en diálogo
en los tiempos del aislamiento generado por la
con una propuesta inicial, que comenzó en la
acelerada propagación del virus. Un espacio cristalino,
segunda mitad de 2018, cuando presentamos un
en las pantallas, sin la condición física de desplegar
proyecto centrado en lxs femenino(s). La fundación
en el espacio las obras, los textos, los testimonios.

2 Así denominó María Moreno, directora del Museo del Libro y de la Lengua en Argentina, las actividades a desarrollar durante
el aislamiento.

289 BIENAL 12 CATÁLOGO


proponía centrarse en la obra de las artistas mujeres un lado, la ausencia de artistas mujeres negras e
en esta edición de la bienal. Me encontraba en ese indígenas en el arte latinoamericano; segundo, la
momento cerca de la inauguración de la tercera posibilidad de pensar más allá del binarismo, en otras
estación, en la Pinacoteca de Sao Paulo, de Mulheres formas de entender los femeninos y los feminismos,
Radicais, la exposición que co-curamos con Cecilia desde identidades y empoderamientos que se han
Fajardo-Hill, y en la que trabajamos durante ocho expandido en el arte contemporáneo. Femenino(s),
años. Entre esta exposición y el proyecto de la como palabra, como intervención, fue una articulación
bienal existen, sin embargo, muchas diferencias. difícil de configurar. En 2018 encaré el proceso de
Mulheres Radicais fue una exposición histórica, de formar el equipo curatorial. Había contactado a
arte latinoamericano entre 1960 y 1985. La bienal Igor Simões --cuyo trabajo conocí investigando en
me permitía desarrollar cuestiones que ya estaban la red las intervenciones que había realizado con el
presentes, de distintas formas, en esta exposición. título Voces negras en el cubo blanco, durante 2018.
Por ejemplo, aquellas relativas a identidades fluidas, Conocía a Dorota Biczel y sus investigaciones sobre
no binarias, trans, o la representación de artistas arte peruano, o sobre el arte de Europa del Este,
negras o indígenas, a quienes el mundo del arte, desde los años en los que enseñé en Austin. Indagué
prácticamente, no había dado lugar entre los años qué curadora podía hablar en primera persona
sesenta y ochenta. Recordemos que Mulheres Radicais sobre el arte afrobrasileño. La bienal me propuso el
no proponía descubrir artistas que nunca habían nombre de Fabiana Lopes, y a partir del contacto
participado del mundo del arte sino revisar cómo con ella pude conocer su trabajo de investigación
las historias del arte habían borrado trayectorias sobre el arte de Brasil, del Caribe, de África. En el
existentes, que habían tenido lugar en diversas momento de pensar la línea conceptual de la bienal
escenas artísticas latinoamericanas, pero que en la Nelly Richard fue una escucha crítica atenta.
escritura de las historias oficiales habían quedado
En noviembre de 2018 organizamos el primer
ocultas, casi desaparecidas. La pregunta, a la
seminario, Arte, feminismos y emancipación en el
hora de concebir la plataforma conceptual de la
contexto de la Feria del Libro de Porto Alegre, en
Bienal, era qué sucedía en este momento en el arte
la Plaza de Alfândega, con la presencia de artistas,
latinoamericano. ¿Tenían las y los artistas negros,
performers, investigadoras, curadoras y curadores.
afrodescendientes, los y las artistas vinculados a
Contó con participaron de Rosana Paulino, Simões
comunidades indígenas, una mayor presencia?
(luego curador pedagógico de la bienal), Roberta
En los últimos años, diversas instituciones artísticas, Barros, Carmen Lucía Capra; con artistas de
sobre todo de San Pablo, realizaron exposiciones Porto Alegre como Claudia Paim, Julha Franz, y
sobre la historia y el presente del arte afro brasileño. con presentaciones de dos de las directoras de
El museo Afro Brasil, Ateliê Oço, la Pinacoteca de Sao la Fundación de la bienal, María Berenice Días y
Paulo, el Museo de Arte de Sao Paulo, la Fundación Gloria Crystal, además de Gilberto Schwartzman,
Tomi Othake, han sido algunos de los espacios en su presidente. Ese seminario, que transcurrió a sala
los que se articuló la historia y el presente del arte completa, fue una extraordinaria plataforma de ideas,
afrobrasileño.3 Se está produciendo un cambio y un dispositivo para evitar, desde un principio, que la
de escenario al que no son ajenas las políticas bienal aterrizase como un cuerpo extraño en la ciudad
de cuotas que desde el año 2003 permitieron de Porto Alegre. Durante 2019 Igor Simões llevó
acceder a las aulas universitarias a sectores de la adelante un programa de encuentros organizado en
sociedad marginalizados por razones de clase y de torno al concepto de “Territorio Kehinde”, que proviene
raza.4 Considero, para decirlo con palabras claras, de la novela de Ana María Gonçalves, Un defeito
que el arte más radical, en sus lenguajes y en sus de color, y a cuyo archivo de actividades se accede
poéticas, en Brasil, es el que actualmente realizan desde el site de la bienal. Desde estos encuentros
artistas afrodescendientes hasta hace unos años se llevaron adelante los vínculos entre la ciudad
casi ausentes en las escenas de las artes visuales. y el educativo, desde donde se creó un territorio
precioso que permitió expandir la textura de la bienal
Curar una bienal sobre arte latinoamericano,
online durante los (estos) tiempos de aislamiento.
centrada en los femenino(s), abría la posibilidad de
expandir cuestiones que habían quedado pendientes En el texto que sirvió de plataforma conceptual
en aquella investigación. Dos eran principales: por de la bienal se cita a autoras como Carolina

3 Reviso brevemente este mapa institucional en Andrea Giunta, “El arte negro es el Brasil”, en Z Cultural. Revista del Programa
Avançado de Cultura Contemporanea, Univérsidade Federal do Rio de Janeiro, No 1, Año XV, 2020. http://revistazcultural.pacc.
ufrj.br/el-arte-negro-es-el-brasil/. Republicado por la revista Transas. Letras y artes de América Latina, Universidad Nacional
de San Martín, Escuela de Humanidades, 2020 https://www.revistatransas.com/2020/05/21/artenegro_brasil_giunta/
4 Ver Igor Simoes, “Voix noires dans les arts visuels brésiliens”, Artpress No 53, Amérique Latine. Arts et combats, mars 2020, pp.
51-53.

BIENAL 12 CATÁLOGO 290


Maria de Jesús, Clarice Lispector, Nelly Richard o imprescindible asumir cuando se encara el estudio
Denise Ferreira da Silva, que permitieron introducir del arte de la región. La publicación propone una
reflexiones sobre la necesidad de crear, sin dejar intervención sobre el campo de conocimiento del
de lado los condicionamientos de clase, sexo, raza; arte latinoamericano y constituye una forma de
sobre el concepto de diferencia sin separación; dar visibilidad al pensamiento en primera persona
y sobre el género como construcción y como de muchxs de lxs artistas involucradxs en la bienal.
identidad. El borrador incorporó los comentarios El jornal reúne entrevistas, ensayos teóricos,
de quienes se integraban al equipo curatorial. documentos de obra, textos situados en la coyuntura
específica de distintos países. Se presenta como
En la selección de artistas, invitamos artistas
un documento para apreciar la pulsión de diversas
mujeres, trans, gay, con identidades que transitan
escrituras; como una fuente que permite analizar
la raza, el género, fluidas, situadas, de distintas
la diversidad de voces, geografías y poéticas que,
maneras empoderadas, y también artistas varones
desde este soporte específico, representa muchas
involucrados con las agendas del feminismo. La
de las artistas incluidas en la bienal. Se presenta
selección fue un proceso texturado, de conversaciones
así, como un documento deseoso de lecturas ávidas
cruzadas, intensas o pausadas, que se desarrolló en
por encontrar en las palabras claves que intersecten
el contexto continuo de financiaciones inestables
las visualidades. ¿Cuáles serán los usos de estos
que colocaban el proyecto en específicas situaciones
textos reunidos, me pregunto, cuando en el futuro
de emergencia. Llegué a pensar que estábamos
se estudie este tiempo de excepción que cristalizó,
realizando una bienal mágica, en la que las soluciones
entre muchas otras formas, en el proceso difícil,
surgían, muchas veces, de la emergencia. Pienso
marcado por pérdidas (de contactos, de afectos, de
hoy, mientras escribo, que el proceso permitió un
personas), en los materiales que la bienal concibió?
atado de experiencias que permiten volver a pensar,
¿Puede construirse sentido cuando la política y
en su totalidad, el proyecto de las bienales tal
la vida naufragan cada día, al ritmo en el que se
como se inscribió en la escena global. ¿Qué sentido
exacerban las violencias establecidas y se fundan
tienen esos fastos que involucran viajes, traslados,
otras? ¿Puede construirse sentido desde el arte?
producción, capitales, cuando por un tiempo
veremos cómo esos grandes escenarios se vacían
de públicos? Las relaciones con los espacios, con las Un archivo de los afectos
obras, están, por el momento, en suspenso. ¿Cómo
incorporamos estos meses extremos a las posibles En los días posteriores al cierre de fronteras,
experiencias de un mundo del arte que hoy está museos y espacios de la vida pública, predominaba
abocado a imaginar formas de reconfigurarse? la incerteza. Se produjo una acelerada y radical
transformación de la vida cotidiana y de las relaciones
sociales suspendidas por el encierro global. Lo que
Jornal inicialmente habíamos visto con extrema sorpresa
que sucedía en China, se instalaba globalmente. El
Durante la organización de la bienal planeamos una
control sobre las personas al que la pandemia creó
publicación con los planos de la bienal y el listado
un marco de legalidad, y cuyo debate fue constante
de artistas y de obras con el propósito de orientar al
en estos casi 100 días de aislamiento (hoy es 20 de
público y con una selección de textos que reuniese
junio), instaló una sociedad que no imaginábamos y
voces en primera persona, de algunxs de lxs artistas
que no sabemos aun hasta qué punto constituirá la
presentes en la bienal. Con el nuevo formato de la
‘nueva normalidad’. No sabemos cuánto del presente
bienal on line, independizamos los textos, las voces de
perdurará en el futuro cercano, en todo futuro.
lxs artistas y creamos con ellas un Jornal digital. La
publicación se diseñó con un formato específico para Pasados los primeros 10 días desde la suspensión
dispositivos, que incluye la visualización en el celular. de su apertura, fuimos estableciendo contacto con
La propuesta fue reunir tantas voces como fuesen los artistas. Era necesario, ante todo, preguntarles
posibles, casi todas en primera persona. Son textos cómo estaban. Una pregunta sencilla, dirigida a la
de artistas que se refieren a su obra o intervenciones comunidad de lxs artistas de la bienal. Las respuestas
que asumen el formato, casi, de un manifiesto. generaron una comunicación afectiva que encendió,
En algunos casos son ensayos o entrevistas ya inesperadamente, una palabra que ya estaba inserta
publicados, en otras ocasiones textos realizados para en el título de la bienal: “afectos”. Un término que
la publicación, documentos originales. Mantuvimos tomó un lugar distinto en la gramática del sentido
la coexistencia del portugués, el español y el inglés, que cada día se rearmaba ante una realidad que
siguiendo el concepto de trilinguismo, que considera continuamente mutaba. Invitamos, a quienes nos
las tres lenguas en las que, predominantemente, respondían, a enviar una grabación, hecha con el
se escribe sobre arte latinoamericano. Es esta una celular, para que brevemente nos contaran cómo
forma de poner en escena esta complejidad que es estaban, dónde, y cuál era la obra que iban a

291 BIENAL 12 CATÁLOGO


presentar en la bienal. Recibimos cortas filmaciones, planificación que hayamos previamente realizado
realizadas desde el aislamiento, con la precariedad con arquitectxs y diseñadorxs, en el momento en
del celular, en las que describían, desde distintas el que las obras se ubican en el espacio, cambian.
partes del planeta, sus singularidades situadas. En Se produce una transformación en la que las
la medida en que subíamos estos testimonios a las distancias entre obra y obra se vuelven cruciales.
redes se gestaba un archivo de afectos desde la nueva El campo magnético de cada obra incide sobre las
condición, el aislamiento. Se generó así una trama, otras y resulta central observarlo. En el montaje
una relación antes inexistente, entre la comunidad pueden sentirse esas zonas de acción y reacción
de la bienal, y un archivo de sensibilidades cruzadas que llevan a lxs curadores a cambiar el orden y la
por una nueva condición planetaria marcada por el distancia entre las obras en sala. Esa particular
estar en una situación común, que podía describirse combustión no puede experimentarse en el mapa de
con palabras parecidas en las que, al mismo tiempo, una experiencia online. Perdemos los tamaños, las
se inscribían específicas situaciones emocionales. proximidades, las obras inevitablemente se aplanan.
Un estado del mundo señalado por convivencias
Por su parte, la bienal online permite experiencias
intensas, domesticidades extremas, urgencias de
que el espacio físico limita. Fundamentalmente, la
asistencia a lxs muchxs otrxs que nos rodean. Muchas
posibilidad de encontrar relaciones que no estuvieron
de estas nuevas condiciones pueden sentirse en
previamente pensadas y que el espacio mismo de la
esos relatos breves, realizados desde casas, patios,
bienal, en distintos edificios, en diversas salas, haría
salas, jardines, en los que artistas y equipo de la
imposible abordar como experiencia realizable. En la
bienal registraron una capsula de tiempo y de
Bienal online es posible proponer y pensar travesías
texturas afectivas múltiples y situadas. La visualidad
distintas, en las que se ponen en juego conceptos
y presencia de las obras que no podían estar en el
que, incluso, no estuvieron inicialmente planteados.
espacio físico de la bienal se traducían a sus palabras
Lo interesante es que las nuevas propuestas pueden
y a la textura de sus voces. No podemos ver esas
ser encaradas por cualquiera, estas no quedan
obras, no podemos recorrer los espacios en los
solo en manos de los curadores. En un sentido,
que se iban a instalar, pero podemos escucharlas.
su papel se neutraliza o, más exactamente, se
Se generó un archivo de breves relatos sobre la
comparte. Se produce así una democratización del
visualidad pronunciados en un momento excepcional,
rol del curador, un efecto inesperado que propone
nunca imaginado del mundo. Un archivo de texturas
recorrer la bienal desde una participación activa.
emocionales y de palabras que condensan poéticas.
Recorrerla con la mirada que se desliza sobre la
pantalla, con el sonido del mouse, abriendo ventanas.
Travesías / zonas de contacto Perdimos la distancia, los tamaños, los sonidos, los
olores. La experiencia digital replica muchas de las
La bienal online permitió acceder a una visualidad nuevas relaciones, exacerbaciones y borramientos
simultánea de las obras. Un acceso que inauguró que el aislamiento impuso a los sentidos.
posibilidades que no había considerado cuando
la concebimos para el espacio de tres edificios Propongo en este ensayo dos situaciones para el
emblemáticos de la ciudad de Porto Alegre, el lector. Por un lado, un recorrido imaginario, sala por
Museu de Arte do Rio Grande do Sul, el Memorial, la sala, de las razones por las que desde mi percepción
Fundación Iberé Camargo y la plaza de Alfândega, singular diversas obras iban a dialogar en el espacio,
que en español significa aduana, y que se vincula en cada edificio, en cada sala. Se trata de reponer el
al corazón de esta ciudad-puerto a orillas del mapa de los espacios y de las lógicas que guiaron las
río Guaíba, que desemboca en la laguna de Los selecciones y la disposición de las obras en la sala.
Patos, y que se comunica con el Atlántico. En la La palabra escrita aspira a recrear la experiencia
migración de un formato a otro, las presencias y los en el espacio; a reconstruir desde el texto, desde el
sentidos de las obras se fueron transformando. relato, los recorridos organizados en distintas salas tal
como los concebimos para la bienal. Estas travesías
La instalación de una exposición permite al menos constituyen la textura principal de este texto. Por
dos experiencias que la bienal online no permite otra parte quiero dejar planteadas, como coda, como
recrear. Por un lado la de recorrer el espacio y, en apertura, algunas de las relaciones que fui pensando
diversas travesías, experimentar los climas, las exclusivamente desde las obras, fuera de los
temperaturas específicas de cada sala. Alimentar espacios imaginarios de las salas. Reúno una serie de
cada espacio desde el recuerdo de la anterior; relaciones posibles como un impulso para que el lector
movernos entre las salas siguiendo mapas o impulsos, conciba otras. Quiero compartir zonas de contacto
caminar entre una obra y la que se encuentra nuevas, la experiencia distinta que encontré al pensar
enfrente. La segunda es sentir las zonas de contacto las obras desde la red, fuera del espacio de las salas.
entre las obras. La experiencia de montaje de una
exposición es una experiencia específica. Por mayor

BIENAL 12 CATÁLOGO 292


Así, en esta segunda opción se extiende al lector una serie sobre el amor en un neuropsiquiátrico de
la posibilidad de plantear sus propios itinerarios. Chile; las fotografías de Natalia Iguiñiz (La otra),
Todos los que aquí despliego los propongo en que retratan a empleadas y empleadoras, una
primera persona. Remiten a lo que pensamos relación y una fricción de clase que atraviesa el
cuando trabajábamos los planos con Ceres Storchi, género femenino en el ámbito de lo doméstico; y
la arquitecta que diseñó los espacios de la bienal. la serie Coyote de Alejandra Dorado, en la que el
Es en ese momento, cuando se trabaja con las retrato familiar se cruza con el retrato animal.
posibilidades y los límites de la arquitectura, cuando
En la sala de la derecha propusimos un área
se establece la relación real entre las obras y el
monocroma, mínima, con obras sutiles pero
espacio. No sé si iban a quedar exactamente como
extraordinariamente poderosas. Las líneas de
los describo. Propongo narrar lo que imagino que
cuerdas de Esther Ferrer cruzarían un ángulo de la
iba a suceder en el espacio. En sala las relaciones
sala creando una membrana casi imperceptible.
planeadas para las obras pueden modificarse. En la
Una respiración en el espacio. Frente a esta
red, pueden multiplicarse en muchas otras opciones.
estructura delicada los videos de Geta Bratescu,
en los que la artista habla y dibuja las líneas
MARGS contundentes y mínimas que requiere cada uno de
sus dibujos. Sus manos y sus brazos, que llevan en
Imaginaba este espacio como una afirmación en la piel el tiempo que ella vivió, se contraponen a los
primera persona. Una afirmación en términos de las movimientos simples y dinámicos con los que traza
poéticas de artistas feministas en España, Estados las líneas. Esta espacialidad estaría confrontada,
Unidos y América latina, de las poéticas negras, en un contrapunto que también requería la mirada
de las perspectivas de clase, del confinamiento de cercana, con los fotomontajes con los que Grete
los afectos distintos, de las poéticas de lo etario, Stern ilustró, a mediados del siglo XX, los sueños que
de los estereotipos que se fundan en lo exótico, las lectoras comunes enviaban a la revista Idilio.
de los conceptos transformados de familia, de
las poéticas del cabello. También imaginaba También en esta planta, en dos salas separadas
estar ante la afirmación y el goce del pincel, de la se disponen los videos de Gladys Kalichini y
pintura, cuando se concibe una traducción o una Marcela Astorga. Gladys activa desde el cuerpo y
recreación de la favela en los planos del color. el movimiento una historia de la colonialidad, las
mujeres borradas en los relatos sobre África que ella
Dispusimos en el comienzo de la exposición con los repone mediante una performance del recuerdo.
retratos en bastidores de Rosana Paulino, rostros Mujeres que lucharon por la independencia de
cruzados por costuras-suturas --ojos, bocas, Zambia. Es interesante pensar que en la sala opuesta
gargantas. Toda esa primera sala estaba dedicada iba a replicar el sonido del golpe que perfora una
a esta artista brasileña que funge como referente arquitectura a punto de ser destruída de Marcela
y como educadora para las nuevas generaciones Astorga. Óculo, el registro de una acción sobre un
de artistas negrxs. Sus análisis sobre la relación espacio oscuro en el que las perforaciones dejan
entre la ciencia y el racismo, su pieza memorial- entrar la luz, evoca la idea de una destrucción que
monumento basado en el album de familia; una da lugar a un proceso inverso: una línea de luz que
familia, la suya, que como sucede en muchos otros genera una geometría afectiva en el espacio.
lugares en América, hunde sus raíces en una historia
de esclavitud, de explotación y de discriminación En el segundo piso de MARGS otras poéticas
que son tramas activas en el presente. Una obra entraban en combustión. Por un lado, en la galería
manifiesto. Hacia la izquierda dos feminismos Iberé Camargo, una percepción crítica hacia los
artísticos históricos, el de las Guerrilla Girls, que estereotipos que publicitan a la mujer dominicana
desde 1985 señalan la discriminación en el mundo que revisa la propuesta de Jori Minaya. Ella cruza la
del arte, y la obra de Mónica Mayer, con sus búsqueda en google con las telas, los estampados
preguntas lanzadas inicialmente en México, en que dan cuenta también de la globalidad que funde
1978, sobre qué es lo que molesta a cada mujer distintas localidades en un cliché: la tela “hawaiana”
de su propia ciudad --generalmente el acoso y convertida en un patrón normalizado. La performance
el abuso--. Una acción que Mónica iba a replicar Siboney, de Joiri, ‘despinta’ el colorido patrón de
investigando en talleres colectivos las incomodidades esta tela que la artista trasladó al formato mural.
de las mujeres de la ciudad de Porto Alegre. En Con su ropa mojada ella arrastra el pigmento con su
la misma sala Mujeres del mundo de Vera Chaves cuerpo, con su cabello. Grupo de familia, de Cristina
Barcellos, un video en el que mujeres de distintas Schiavi, a la que da forma escultórica monumental
geografías pronuncian su nombre. En la galería desde materiales domésticos, azulejos de baño,
Aldo Locatelli, iba a desplegarse el diálogo entre las y con la que transita un borramiento del género
fotografías de Paz Errázuriz, de El infarto del alma, específico, introduce en la experiencia del espacio que

293 BIENAL 12 CATÁLOGO


anticipaba una figuración de las nuevas familias que por mujeres, desnudas, que Judy Chicago realizó
vimos conformarse a partir de la ley de matrimonio entre 1968 y 1974. Cuerpos cubiertos con pintura que
igualitario sancionada hace 10 años en la Argentina. se mueven por fuera de los formatos que la danza
Nuevos afectos y formas disímiles de la familia imprimió como disciplina en el cuerpo. Arquitecturas,
hetero normativa transformaron y ampliaron las también, inmersas en el humo obscuro, en una
sensibilidades sociales. El ABC de la Europa racista, referencia situada, histórica, a la guerra de Vietnam
sobre el colonialismo europeo, de Daniela Ortiz, lleva que sacudía al mundo en los años sesenta y setenta.
a observar las formas de clasificación y discriminación
Vimos artistas históricas como Rosana Paulino,
de lo humano presentes y activas en la Europa actual;
Paz Errazuriz, Grete Stern, Esther Ferrer, Mónica
activas, por ejemplo, en la expulsión de los migrantes
Mayer, Lucía Laguna, Judy Chicago, Lorraine
provenientes en gran medida de países de África,
O’Grady, Vera Chaves Barcellos, Geta Bratescu,
empobrecidos por la explotación y la expoliación
las Guerrilla Girls. Referentes en el arte feminista
que sucedió al reparto del mundo que se perpetró
internacional y, especialmente, con Rosana, Vera
en Berlín, en 1895, y se extendió en los procesos
y Lucía, en el Brasil. Y junto a ellas artistas jóvenes
coloniales, en las economías del extractivismo en
como Helo Sanvoy, Joiri Minaya, Juliana dos
tiempo presente. En esa misma sala la obra pictórica
Santos, con artistas de una generación intermedia,
de Lucía Laguna se aproxima, en grandes telas, a la
como Chiachio & Giannone, Kan Xuan, Natalia
gramática de la favela, precisamente Mangueira,
Iguiñiz, Daniela Ortiz, Cristina Schiavi. Geografías
la que ve desde su ventana, con arquitecturas
y generaciones entran en diálogo y en fricción.
acumuladas que ella también imagina. En la galería
Aunque sabemos, en el espacio, esos datos casi
Oscar Boeira la mágica instalación en azules de
se borran ante la relación directa con las obras.
Juliana dos Santos, un site specific para el que la
artista solo pudo realizar una estadía de investigación Salgo a la plaza habitada y luminosa para descansar
en Porto Alegre. Una propuesta que instalaba la en esa geografía verde, ordenada, de la naturaleza en
pregunta sobre las clasificaciones, sobre cómo el espacio urbano, en el espacio público. La recuerdo
hablar del azul cuando todos a su alrededor le gritan transfigurada durante la feria del libro en 2018.
“negra”. La frase me recuerda esa otra performance, Cuando hoy llegué, en la mañana, se sentía todavía ese
la de la artista de Perú, Victoria Santa Cruz. momento en que las plantas conservan la humedad y
la luz fría de lo que fue la noche. La luz del mediodía
En este mismo piso, la obra de Helo Sanvoy proponía
quema el color, exalta los brillos, diluye los bordes.
abordar el trenzado del cabello como recuerdo, como
Cierro los ojos para recapitular y siento las marcas
narrativa que su madre desgrana mientras realiza,
del sol que se desplazan en una obscuridad forzada,
una tras otra, sucesivas trenzas. Un cabello que ya
mientras contengo los párpados. Comparable a lo
tiene canas. Y este momento íntimo se confronta
que sucede con las obras, que conservan los sentidos
con otra voz en primera persona, la de la artista Kan
desde los que fueron pensadas, concebidas, realizadas;
Xuan en el subterráneo en China, que se nombra;
puntos de partida que se expanden cuando estamos
mientras corre, grita. Sus films contrastan por el
frente a ellas, en relación con otras imágenes, con
humor con el que aborda tramas urbanas que se
nuevas espacialidades. La condición prismática
suceden con extrema velocidad; tramas urbanas en
de las obras, que conservan un núcleo de sentido
las que teje datos sobre una sociedad de extrema
interno que se expande en facetamientos desde los
vigilancia. En la sala próxima, el film del paisaje-
que se proyectan significados nuevos, mutantes.
cabello de Lorraine O’Grady, en un close-up, con
imágenes que se suceden mientras escuchamos Volveré a esta plaza mañana, para
el sonido de pájaros y chicharras. En la siguiente recorrer los espacios del Memorial.
espacio, también en el primer piso, la obra de Chiachio
& Giannone, pareja en la vida y en el arte, con un
Memorial
inmenso tapiz de una familia en el alegre verdor,
rodeada de naturaleza, que iba a ser por primera vez En este edificio se concentran agendas del feminismo
expuesto, con una iconografía que cruza lo animal que llevan adelante artistas y colectivos. Activismos
con lo humano. En ese mismo espacio el trabajo que se desarrollan en relación con las acciones
realizado en un workshop colectivo, de bordados, que denuncian la violencia hacia las mujeres, las
que comenzó en otros espacios colectivos y que consecuencias de la ilegalidad del aborto, las formas
seguiría en la plaza de Alfândega, una experiencia de desmontar los estereotipos de los cuerpos, las
colectiva de bordado, de trabajo con las manos que herencias de la explotación, de la esclavitud y de
estos artistas proponen con acciones colectivas en la discriminación en el presente, las huellas de la
distintas partes del mundo. En el espacio adyacente destrucción desde metáforas de la arquitectura, las
los videos de las acciones en el paisaje, con colores formas de organización de la resistencia colectiva,
dispersos en el aire por el humo, protagonizados las relaciones con las comunidades indígenas en

BIENAL 12 CATÁLOGO 294


primera persona o por procesos de empatía, las artística se declara y se sostiene independiente
reflexiones sobre la ceguera, sobre el cuerpo enfermo. respecto del centralismo de la capital del país,
Santiago. En estos edificios emblemáticos de la
Íbamos a ingresar al Memorial entre los zapatos
ciudad ella desarrolla estas performances en las que
rojos de Elina Chauvet. Una instalación en la que
su cuerpo se impone como escultura monocromática,
se sucede el tiempo de recolectarlos y pintarlos en
en cuyo brillo se conserva la percepción de un acto
forma colectiva y que remite --con la ocupación
(ilegal, por supuesto), que acaba de realizarse. En la
ineludible del espacio urbano que propone--, a la
sala que sigue, en un espacio obscurecido, la obra
violencia hacia las mujeres en México y en el mundo.
textil de Sandra de Bertuccy. Ella retoma tradiciones
Una instalación que proponía una apertura desde
textiles andinas y tecnologías contemporáneas.
lo precario, no desde lo monumental, a un edificio
Los hilos de fibras ópticas con sensores introducen
en el que se reunían, sobre todo, experiencias
luz y movimiento. Estos materiales interpelan a
feministas, obras feministas, en las que la agenda
los espectadores contemporáneos y los trasladan
interseccional tiene una poderosa presencia. En la
a técnicas antiguas produciendo en el acto de
apertura todo iba a comenzar con la performance
expectación una experiencia de sincronicidad de los
de Janet Toro, enterrada durante unas horas
tiempos. Con sus inmensas fotografías Kimiko Yoshida
en la plaza, quien iba a sacudir de ella la tierra
actúa su rostro recurriendo al maquillaje ritual con el
descubriendo nombres de mujeres asesinadas,
que funde la tradición visual del Japón y del barroco.
para llevar, desde allí, una bandera a la fachada
Ella transforma su rostro y lo cruza con la historia
de la bienal con la frase “este es mi cuerpo”. Allí iba
del arte. En esta forma de fundir lenguajes visuales
a quedar la frase durante el tiempo de la bienal.
distantes activa una identidad femenina diaspórica,
En el ingreso al espacio del Memorial, un mural de que escapó de los límites que le señalaban la cultura
Ana Gallardo, una inmensa superficie cubierta con a la que pertenecía y que descubrió, con sorpresa,
carbonilla, en la que ella borra las frases (registros, tramas visuales que inicialmente no conocía. La
testimonios) que pronunciaron mujeres violentadas en instalación de Élle de Bernardini propone un recorrido
Guatemala. En ese mismo espacio, dos instalaciones por la construcción de la identidad. Una investigación
de Ana, mural una, escultórica la otra, que remiten sobre el cuerpo transexual en la que recurre a formas
al aborto que realizan las mujeres pobres en contrasexuales de fieltro, sonido, oro, piel, materiales
Argentina, donde es ilegal y clandestino. Perejil y con los que aborda narrativas desarmadas en
aguja de tejer son materiales domésticos con los texturas y brillos para investigar cómo sería una
que una mujer puede realizarlo. Usarlos involucra sociedad basada en los afectos. Transdialéctica,
dos consecuencias. Por un lado que se realizan en trans. Esta elaboración estética de brillos y texturas
condiciones sanitarias adversas, que muchas veces se desarma en otros sentidos en el registro de la
llevan a la muerte. Por otro que estos objetos también performance que Priscila Rezende realizó dos años
subrayan la soberanía sobre el propio cuerpo: aunque atrás en Porto Alegre, frente al Memorial edificio en
esté prohibido, aunque sea legalmente punible, el que ahora iba a exponerse el registro de la acción.
con los instrumentos domésticos puede realizarse. Allí se la ve con ropa clara, de tela cruda, mientras
El propio cuerpo se coloca así como el espacio coloca agua y jabón en su cabello. Un conjunto de
jurídico sobre el que se decide. Una disputa entre ollas y recipientes de cocina la rodean mientras
el orden de la ley del Estado y la de las personas ella, sentada, las ‘lava’ con su cabello. Bombril es en
Brasil la marca de virulana para limpiar la cocina
Hacia la derecha las salas reúnen la obra de Carole
y la casa y así se denomina, despectivamente, el
Condé & Karl Beveridge. En una foto collage mural
cabello de la mujer negra. Al final de esta área del
ellos cruzan el imaginario de Brueguel y el activismo
edificio, una sala presenta el video de Zorka Wollny,
indígena en Bolivia, centrado en la disputa actual
una ‘opera imposible’ en la que cuerpos y sonidos
sobre el agua, recurso natural sobre el que avanza
activan gramáticas posibles de configuración de
las políticas extractivistas globales. Abordan también
una escena pública, aquella que podría articularse
en sus collages la agenda del cuidado de adultos
desde las dinámicas de la democracia si la voz y
mayores, los contextos en los que se realizan y en
la escucha encontrasen formas de encuentro.
los que son receptores de las actividades que hacia
ellos se orientan. Ellos son, a la vez, depositarios de Podemos desandar nuestros pasos y llegar al punto
conocimientos. Liuska Astete Salazar parte de su de partida, o podemos atravesar el espacio por
cuerpo desnormativizado respecto de las pautas el pasillo que se extiende en la parte posterior del
sociales que clasifican los cuerpos, su cuerpo desnudo, Memorial para llegar a la otra ala de la planta baja.
que cubre con pintura roja, negra y amarilla. Ella Retomemos desde el primer punto, desde la obra de
realiza estas acciones en edificios emblemáticos de la Ana Gallardo y desplacémonos hacia el ala izquierda.
ciudad de Concepción, en Chile (Palacio de Justicia, Allí encontraríamos el video de la acción que Jota
Catedral y Pinacoteca), una ciudad cuya escena Mombaça en Colombia, en el monumento que realizó

295 BIENAL 12 CATÁLOGO


Beatriz González en Bogotá (Columbario). La acción, retratos pintados de mujeres asesinadas, víctimas de
cuyo registro se reeditaba en versión doble canal para femicidios, cuya mirada la artista redireccionó hacia el
la bienal, muestra a Jota leyendo y luego quemando espectador. Retratos que nos miran, una interpelación.
textos en los que se refiere a personas desaparecidas. Y una tela que quedó vacía, solo con la imprimatura,
En sentido lateral se extiende la instalación en la la base inicial de la que parte una pintura, en gris,
que Musa Michelle Matiuzzi propone un jardín de la que fue dejada como interrogación respecto de estas
abolición, más de cien recipientes en que contienen muertes, cuyos responsables siguen, en muchos
plantas con poderes, cultivadas por las comunidades casos, libres. Muertes que no cesan. El registro de las
afrobrasileñas. La palabra, el concepto de ‘abolición’ performances de Janet Toro, sus intervenciones sobre
tiene aquí resonancias, refiere también a la abolición el rostro, un auto retrato que realiza desde el terreno
de los condicionamientos (reales, simbólicos) que jurídico liberado que representa el propio cuerpo
impiden un presente emancipado. A la derecha de --no tenemos que pedir permiso para intervenir sobre
Michelle el muro de sonidos de Eugenia Vargas. nuestro rostro--, y que transcurre en el clima de una
Un muro realizado con materiales industriales y confrontación. Sobre su rostro cubierto de polvo
dispositivos sonoros que funden voces que invocan blanco ella dibuja los labios. Quita la pintura 1000
la experiencia y la memoria, que convocan un acto veces, la refriega con papel. El rostro muta en una
de escucha que reúne pulsiones diversas, y que mancha en la que el rojo y el blanco se mezclan. El
repone un acto inclusivo: nosotros, ahí, escuchando. retrato, también, en el registro de su performance en
Hacia la izquierda, en el otro lado de esta sala, los el Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos
videos de Claudia Paim, que nos traen al presente de Santiago, Chile, en la que un grupo de migrantes
las performances de esta artista de Porto Alegre que con espejos lleva a la ciudadanía a mirarse en ellos.
interrogó con intensidad el cuerpo, su propio cuerpo. “Ustedes pueden ser nosotros”: tal podría ser el texto
Ella trazó mapas de la ciudad; elaboró, desde la subyacente de esta acción. Sebastián Calfuqueo, un
repetición, patrones de reflexión y de emancipación. artista mapuche que vive en la ciudad de Santiago
Claudia formula preguntas sobre la idea de paisaje de Chile, interroga con films en los que recoge
--¿qué significa el paisaje?-- y ahoga las respuestas testimonios, recuerdos, relatos, las dificultades de
con el agua que entra con fuerza en su boca y que identidades que se construyen desde la expulsión,
vuelve incompresible lo que dice. Entre mi boca y tu la diferencia, la sospecha. Identidades jaqueadas a
olvido, titula. Deja las preguntas en suspenso, con ambos lados de la cordillera, en Argentina y en Chile.
palabras sofocadas. Claudia y Pedro Lemebel. No Interroga también su búsqueda de un doble femenino,
se si ellos conocieron lo que hacía el otro, la otra, Marcela, que encuentra. El video reúne el relato de
pero podrían haber conversado. Pienso en la épica esta relación, su desarrollo, el desencuentro que le
performance de Pedro arrojándose envuelto por sigue. Las fotos registran los rostros, nos colocan
una escalera en llamas. Como si en ese movimiento ante las semejanzas y las diferencias. La obra de
envolvente pudiese crear un argumento distinto a Sebastián interroga desde el género y la raza. En la
aquel patriarcal desde el que la historia del arte, última sala, Estar igual que el resto, una instalación
incluido Duchamp, se escribió cuando diseccionó el que reúne cinco años de la investigación que Pau
cuerpo femenino. Una obra, la de Pedro, que jaqueó Delgado Iglesias realizó entrevistando a personas
los discursos heteronormativos y homófobos cuando ciegas de nacimiento. Sus preguntas se vinculaban
leyó ante sus camaradas del Partido Comunista su a la construcción de la sexualidad, el deseo, los
texto-manifiesto Hablo por mi diferencia. Y frente estereotipos sociales que norman nuestros intereses.
a este registro la obra visual y sensual de Glwadys ¿Cómo es posible que una persona que nunca vio
Gambie, sus acuarelas y collages con mujeres erizos, sepa que le gusta una persona rubia con ojos azules?
mujeres como frutos con protuberancias, cuerpos ¿Cómo se construye socialmente el deseo sin la vista?
fundidos en la flora y en la fauna. Cuerpos en la La edición, en tres canales, pregunta también sobre
naturaleza / cuerpos naturaleza. Junto a estas el amor entre personas ciegas. Durante estos 100 días
acuarelas y collage extremos, los de Eneida Sanches, de aislamiento revisamos la relación y la distancia
sobre las afecciones y sobre las fricciones, con sus entre nuestros sentidos. Aprendimos a aislarlos, a
herramientas de santos en las que golpea, suelda y exacerbarlos, y experimentamos su pérdida cuando
amarra metales y los pone en diálogo con el grabado. convivimos con el virus. En esta exploración la
Hubiese querido descubrir sus dibujos en una visión investigación de Pau Delgado Igleasias propone
directa y cercana, observar los detalles del metal en formular preguntas desde un supuesto grado cero:
el papel. Tenía muchas preguntas sobre el sentido de si nunca vimos, ¿cómo podemos construir jerarquías
estas obras que han quedado, para mí, en suspenso. entre las personas a partir del color del cabello?

El pasillo lateral derecho de la planta baja del El memorial es la zona más intensa de la bienal. Preciso
memorial iba a reunir la obra de Fátima Pecci Carou: salir a la plaza para pensar las imágenes, el tiempo
un inmenso mural construido con más de cien de los videos, las preguntas que fueron surgiendo.

BIENAL 12 CATÁLOGO 296


Allí, sentada, recorro mentalmente el espacio. Trato negros, la obra de Carmela era una bandera rosa que
de no olvidar las formas en las que se configuró la debía permanecer mojada durante toda la exposición.
relación de las obras. Ninguna experiencia en la red Una bandera queer, despojada de la identidad
replica la de las obras en el espacio. ¿Volveremos a masculina desde la que se enarbolan, en muchas
visitar museos? ¿Volveremos a conversar en la sala, oportunidades, los signos de la nación. En todo caso,
ante las obras, con quienes fuimos, acompañados? esta es mi lectura, ya que Carmela prefiere pensar
¿Cuánto habrán cambiado las formas de sus obras como opacas intercepciones críticas. Un
experimentar la relación con el arte en los espacios horizonte expandido para la imaginación activa y la
sanitarizados por el gel, los barbijos y la distancia? participación de los cuerpos, el sonido, la poesía: eso
anticipaba mientras esperaba conocer a Ana Lira y
El subsuelo del Memorial iba a reunir la obra de cinco
su propuesta Chama, una experiencia multisensorial,
artistas que trabajan en Brasil, el Caribe, Nigeria y
construida en el espacio expositivo desde tradiciones
Ecuador. No importa tanto detenerse en el ángulo
sonoras afro-amerindias, los territorios negros
local, sino pensar la configuración de un campo de
de Porto Alegre, la dislocación, la articulación
propuestas estéticas que tensan el escenario global
de saberes colectivos. Pienso en ese espacio de
contemporáneo. Las impresiones y la presencia del
múltiples requerimientos, que comprometería el
cuerpo; las formas del viento que agita la naturaleza
cuerpo y los afectos desde la música. Pienso en la
del Caribe; las escenas de una comunidad educativa;
contraposición con la superficie húmeda en rosa
las formas de una participación que incluye la música,
de la bandera-himno de Carmela, y en la luz que
el diseño, la poesía; los símbolos de una nación fluida,
cae desde una claraboya. Las palabras no pueden
desmarcada de las normas patriarcales que señalan
reponer la experiencia del cuerpo en el espacio,
la historia de sus banderas, de sus emblemas.
con los sentidos desplegados para la percepción.
Si siguiésemos el orden que señala el espacio cuando
Subo al primer piso (segundo andar), donde las obras
bajamos al subsuelo encontraríamos, primero, la obra
instaladas en tres espacios contraponen tiempos
de Juliana Vidal. Un proyecto que iba a realizarse en
muy distintos. Las piezas bordadas de Brigida Baltar,
Porto Alegre, con bloques de arcilla local, en los que
que insertan en sus títulos un lenguaje médico
Juliana imprimiría partes del cuerpo, como “indicios
(hematomas, petequias) y que refieren a su propia
de resistencia”. Una obra de carácter indicial que
experiencia con la enfermedad. Con las limitaciones
propone interceptar el transitar libre por ese espacio
del cuerpo. En esos hilos, en los hilos que comprimen
con esos bloques que conservan la presencia de un
la tela y generan una forma estrujada se sienten
cuerpo. Las tintas y dibujos con grafito de La Vaugh
los afectos del trauma, el dolor y las referencias al
Belle, una artista de Saint Croix --parte de las islas
transplante quimérico, de la médula de su hermano,
vírgenes, ex colonia de Dinamarca, que usó las islas
como camino para la cura. Los procesos de empatía,
como punto para el intercambio de esclavos, y que
de cruce de experiencias están también presentes,
pertenecen actualmente a los Estados Unidos como
aunque de otro modo, en las formas de trabajo que
“territorio no incorporado”--, multiplican las formas
Julieta Hanono propone en sus intercambios con los
que el viento imprime a las palmeras en el Caribe.
qom, con algunas de estas comunidades indígenas
Produce así una crítica sutil a la colonialidad, con
que migraron del gran Chaco, en Argentina, a las
imágenes de una naturaleza sacudida que desordena
afueras de la ciudad de Rosario. Los qom realizan
los estereotipos de exuberancia y placer continuos
los pequeños animales de arcilla que ella despliega
con que las promociona el turismo. Sus dibujos, que
en la instalación, y cuyo precio ellos establecen en
iba a realizar en Porto Alegre, cubrirían las paredes
asamblea. Son tantos animalitos como kilómetros
del Memorial. Rahima Gambo iba a presentar una
de distancia existen entre Rosario y Porto Alegre.
instalación que incluía video, fotografía, plantas.
Una ruta que adquiere forma metafórica en esa
Estaría en el pasillo que conecta con los otros dos
manada de pequeñas formas que resplandecerían
grandes espacios del subsuelo del edificio. En sus
con la luz que entra, potente, desde la ventana. En la
fotografías Rahima documenta escuelas de áreas
última sala del Memorial un espacio en el que arden
afectadas por conflictos en Nigeria. Espacios de
los activismos de los colectivos feministas. Mujeres
juego y de reconstrucción de relaciones sociales,
públicas, con su bandera dada vuelta con una palabra
afectivas. Las últimas dos salas reunían dos obras
en blanco sobre rojo: “demasiado”. Demasiado es
contrapuestas. La de Carmela Gross, que podríamos
una referencia móvil que puede aplicarse a muchas
considerar un monumento chato, al nivel del piso,
formas de hartazgo: demasiada injusticia, demasiada
contrario a todo impulso memorialista --más allá de
desvergüenza, demasiados atropellos. Ellas las
su amplia superficie de 4 x 11 metros, mucho mayor
llevan también a la interrogación de la palabra queer
que la de Guernica--. Pero en lugar de las formas
como trend word, como palabra de moda entre los
punzantes y heroicas que pueden observarse en la
grupos blancos e ilustrados que la usan. “Demasiado
famosa pintura, en contrapuestos blancos, grises y
gorda para ser queer”. Un comentario irónico que

297 BIENAL 12 CATÁLOGO


se activaba desde una pegatina de las palabras en el Amazonas. En la misma planta las fotografías
en el muro. El activismo, también, de Nosotras y los textos de Maruch Sántiz Gómez. Fotografías de
Proponemos; su archivo de intervenciones urbanas objetos comunes, de animales domésticos, y frases
en una agenda que abarca, simultáneamente, el en tzotzil que sintetizan conocimientos ancestrales
machismo y la violencia social, el machismo y las que es preciso conservar o recuperar para volcarlos
formas de violencia real y simbólica en el mundo como conocimientos del presente. Un tiempo en
del arte. Visualizar las formas del borramiento, de el que, para pensar lo que vendrá, precisamos de
la invisibilización. Una acción que es central en el conocimientos y prácticas que planteen otra relación
activismo del colectivo COCO. Ellas investigan los con la vida, con las comunidades, con la naturaleza.
porcentajes de representación de artistas mujeres en
En el primer piso nos recibiría un textil suspendido
revistas, libros y catálogos de arte latinoamericano.
de Juliana Góngora. Ella busca desde hace tiempo
En la misma sala iban a instalarse las banderas de
tejer con la textura solidificada de la leche. Estos
Jota Mombaça. Banderas realizadas con sangre,
hilos se enlazan con ramas alineadas, en un tejido
que condensan, en frases breves y poderosas, el
suspendido en el espacio. Planeamos trabajar tanto
estado actual del mundo: “World – Wound”.
como fuese posible la luz en esta obra. Para que fuese
En el memorial iban a estar las oficinas del programa más visible ese efecto leve, rodeado de iridiscencias.
educativo. En las terrazas anexas se iba a activar, Una obra que es casi un abrigo en el espacio en el
periódicamente, como parte del programa, la que circulamos. Jessica Kairé, en el mismo espacio,
performance colectiva “Malha”, de Juliana dos Santos. explica cómo hacer instrumentos de protección ante
inminentes ataques empleando elementos de cocina,
Salgo a la plaza de Alfândega. Sigue allí el sol.
vegetales que ata y desplaza al tiempo que explica
Probablemente conservo esa percepción intensamente
sus utilidades. Una referencia a la violencia que ella
luminosa porque todos los días en los que visité Porto
desactiva también con armas blandas, granadas
Alegre fueron soleados. En esa arena pública, frente
de tela casi aterciopelada. Cuando imaginé la serie
al Memorial, íbamos a colocar un carrito de pochoclo
de los retratos de las mujeres del Chaco realizadas
cubierto, en su totalidad, con lápiz de labios rojo,
por Grete Stern entre fines de los años cincuenta y
Rouge, una obra de Carmela Gross. Cinco kilos de
comienzos de los sesenta, ubicados en esa misma
pasta roja en toda su superficie. Un signo enigmático,
planta, una serie de la que seleccionamos los retratos
urbano, que con cierto humor colisionaba registros de
de las mujeres tobas, wichis y mocovíes, pensé en
lo popular con el universo de lo femenino. Y recuerdo
la identidad, en la primera persona que repone el
también que en el ciclo de performances de la Bienal
retrato, aun cuando no conservemos los nombres
Mujeres Públicas iban a repartir un pequeño cuadernito
de esas mujeres. Aunque la foto la haya tomado
sintetizando, con humor, con ironía, las ventajas de
Grete, que había llegado casi veinte años antes a la
ser lesbiana. Cierro los ojos para escuchar solo el
Argentina, desde Alemania, donde había estudiado
rumor del movimiento de las personas. Es tarde.
en la Bauhaus, las fotos eran retratos. Un registro
analógico, la mayor cercanía visual que podamos
Fundación Iberé Camargo imaginar respecto de estas mujeres en el presente.
Anticipé, como contrapunto, la obra de Gonzalo
En la rambla, sobre la ruta que bordea el río Elvira, la serie de dibujos en los que revisa y rescata
Guaíba, el edificio de la Fundación señala un clima la obra de las mujeres de la Bauhaus, excluidas de
arquitectónico distinto. Es la tercera sede de la bienal. los talleres de metal y de escultura, activas en los
Formas minimalistas, un espacio de rampas, circular de textil y cerámica. Al citar mediante su dibujo los
en su interior, que desde el exterior se ve casi como retratos fotográficos de estas mujeres, Elvira asume
una mano cuyos dedos envuelven el espacio. En el y activa una parte de la agenda feminista en el arte:
atrio, en el espacio central, instalaríamos dos obras rescatar la historia de artistas invisibilizadas. Los
mínimas, contrapuestas a la espectacularidad del dibujos iban a instalarse sobre un mural realizado
edifico. Semiya, de Cecilia Vicuña --un dibujo, un por el artista en el lugar. La intervención de Janaina
video, un texto--, que narra cuando Cecilia propuso Barros, con sus camisolas y fotografías, produce un
a Salvador Allende, en 1971, establecer un “día de salto del rostro al cuerpo. Al cuerpo entero, con el
la semiya”. En el espacio se suspendería su quipu rostro borrado. Y al retrato con el rostro cubierto.
realizado con materiales mínimos, precarios, que Podría pensarse ese silencio como una deriva desde
Cecilia estaba trabajando en su estudio y que iban lo personal hacia lo social. Una clave para pensar la
a llegar por correo urgente. Estos materiales se relación entre una primera persona, negra, subjetiva,
completarían con otros provenientes de distintas en relación con una experiencia colectiva que
comunidades de Porto Alegre, que sumados iban a actualiza cada día las estrategias de borramiento y
configurar una forma frágil, metáfora –así la concebía violencia sobre lo colectivo afrobrasileño. Uno de los
Cecilia- de la naturaleza amenazada por los incendios proyectos que señalan con mayor fuerza la distancia

BIENAL 12 CATÁLOGO 298


entre la experiencia en el espacio desde el que la La memoria de la experiencia chilena se redobla en
bienal se planeaba, a la realidad en la red desde la la sala siguiente, en la que Nury González presenta
que proponía establecer una comunicación con los tres ponchos mapuches antiguos, negros, los que
públicos, es el de Dana Whabira. Ella desarrollaba una usan las mujeres, cuyas perforaciones producidas por
investigación sobre la historia negra de Rio Grande el paso del tiempo la artista rodea con cuidadosas
do Sul; un trabajo con especialistas de Porto Alegre costuras que, en un sentido simbólico, conservan,
en los quilombos del área en la que se encuentra esta cuidan. Frente a su obra dos intervenciones de Paz
ciudad. El proyecto radicaba en traducir en dibujo, Errázuriz: en la primera la proyección de los retratos
en sus diseños abstractos, sus observaciones sobre que realizó de su hijo, Tomás, en los últimos años de
estas tramas de la cultura local. El diálogo se fricciona la dictadura en Chile. Los realizó todos los meses. Una
particularmente cuando pensamos que en el espacio forma de medir el paso del tiempo, los años finales
adyacente se situaba el video de Aline Motta, en el de un período de violencia, censura y opresión. Al
que Aline aborda el viaje desde Brasil a Nigeria, para lado, su serie de fotografías de personas dormidas
interrogar raíces, relaciones, distancias culturales. El en el espacio urbano; cuerpos quietos, metáfora
texto, la voz, las imágenes del espejo que cruzan su de la parálisis que señaló el golpe de Estado. La
film, instalan preguntas poéticas y políticas. Imagino reflexión que nos proponen las imágenes se desplaza
el clima afectivo en el que iba a transcurrir el recorrido rápidamente a la pregunta por la situación de
entre estas obras que condensan experiencias de las mujeres en el espacio urbano. Natalia Iguiñiz
raza. Un desplazamiento de nosotros, hipotéticos mapeó Lima y planeaba mapear Porto Alegre.
espectadores, desde la distancia, hacia las camisolas Los diagramas de fotos y geografías permitirían
de Janaina. Y, en la siguiente estación, en el espacio establecer comparaciones. El mapa urbano iba a
adyacente, la inmersión en el film de Aline. Desde allí, redoblar en los signos de banderas urbanas y a la vez
desde ese clima reflexivo y emotivo ingresaríamos antropomórficas, banderas encastradas en zapatos,
en el espacio ocupado por la obra de Lungiswa banderas bordadas con palabras de mujeres, de
Gqunta. Solo tenemos los dibujos sobre cómo iba a poetas como Montserrat Álvarez y Carmen Ollé,
disponerse en el espacio la instalación translúcida realizadas por Eliana Otta. En ese clima de lo urbano,
de alambre envuelto con tejido de algodón que del mapa urbano, las banderas de con sus palos
Lungiswa iba a realizar en forma colectiva en Porto dentro de zapatos, reponían la afectividad de la
Alegre. Ella remite al toque; a la suavidad del toque manifestación. Una demostración embanderada
femenino. Un eco que puede encontrarse en su video en la palabra poética y testimonial, con preguntas
en el que el movimiento en el columpio se repite, incisivas, “¿cómo hay que disimular una cicatriz de
se reitera, mientras escuchamos una canción. cesárea?”. No nos despegamos del clima urbano,
y tampoco, en un sentido, de la relación con la
Por la rampa, en el ingreso al tercer piso, a mi
superficie, con el suelo. Pero en el video de Renata
izquierda, el video de Kan Xuan. Las imágenes
Felinto estos contactos se restablecen desde el
aceleradas, el sonido urbano, de bocinas y de
movimiento, desde la danza. Ella danza en la tierra
pájaros, se contraponen a los instantes, fracciones
que pisa. Y los escenarios y la ropa que selecciona
de segundos en los que la imagen se detiene en un
en cada canción indica una relación distinta entre la
uniforme militar. En la textura visual, que es trama,
música, el cuerpo, la ciudad, el momento del día. Son
es luz, es velocidad, se sobreimprimen la levedad
minutos en los que el cuerpo y la música se funden
y el comentario político que remite a una sociedad
en un clima de goce, de danza que transcurre en la
hiper vigilada. En ese espacio la instalación de
escena pública. La gran sala lateral, que se abre al
Natalia Iguiñiz, Patria. Un conjunto de banderas de
espacio central que conecta espacial y visualmente
las que parecen desprenderse las palabras que se
todos los pisos de la Fundación, reúne las piezas
despliegan en el suelo y que remiten a la nación.
escultóricas textiles y de cerámica de Lidia Lisboa.
Un comentario crítico sobre sus fundamentos. En
Al recorrer el espacio iba a repercutir en mi recuerdo
parte, las obras de esta sección, están atravesadas
la certeza con la que Lidia Lisboa declara que ella
por la memoria. La fuerza de la puntada que sujeta
vive, piensa y respira arte, según lo pronuncia en el
las formas de las arpilleras que las mujeres de
pequeño film que se sumó al archivo de los afectos
Chile cosieron durante la dictadura. Una forma de
en el sitio de la bienal. En esas formas textiles y
supervivencia y de resistencia. En ellas se condesan
cerámicas ella condensa los recuerdos de los nidos
los episodios de la vida colectiva durante esos años
de termitas, de los árboles en la avenida Atlántica de
en los que dominó el miedo. En el mismo espacio
San Pablo, de los niños que cuidó, de las violencias
Mirella Maria nos presenta el registro impreso de
domésticas en la sociedad paranaense en la que
las fotos de su familia, en la que el nombre Maria
creció. Ella teje, anuda y coloca en un objeto esas
retiene la historia colonial, de la esclavitud. Las
experiencias, cicatrices, memorias del cuerpo.
fotos configuran relaciones en la forma sucesiva,
adyacente, en la que están impresas en un vestido.

299 BIENAL 12 CATÁLOGO


En las paredes de las rampas de la fundación Por ejemplo, los sentidos de la costura, de la puntada
instalaríamos la obra de Julieta Hanono, una como sutura o como reconstrucción del sentido, en
Constelación de las poetas, en la que con cintas los bastidores de Rosana Paulino, en las Arpilleras
de color verde (por la campaña por la legalización de las mujeres de Chile, en Chiachio & Giannone, en
del aborto en Argentina), violeta (color vinculado los ponchos de Nury González o en en las banderas
a las luchas del feminismo) y naranja (que remite de Eliana Otta. La relación entre la ropa y el cuerpo
al reclamo de la separación entre la Iglesia y en las camisolas de Janaina Barros, el vestido para
el Estado en este mismo país), la artista rinde danzar de Lidia Lisboa, el de Mirella María. La
homenaje a las poetas latinomericanas a las extensión de la bandera de Janet Toro en la fachada
que vincula a las luchas del feminismo. de la bienal; la de Mujeres públicas en la zona de los
activismos, su “demasiado”; la de Carmela Gross,
En el piso superior, el cuarto, de esta sección de
mojada, en el subsuelo del Memorial, las de Jota
la bienal, la Fundación Iberé Carmago sumó los
Mombaça realizadas con sangre, las de Mujeres
tapices que este artista de Rio Grande do Sul realizó
Públicas y su “Demasiado”, las de Natalia Iguiñiz
junto a mujeres expertas en el textil. Muchas de las
en “Patria” . El espejo en ese viaje por la memoria
obras de esta sección de la bienal se vinculan a la
que propone Aline Motta y el que refleja a quienes
trama, al tejido, a la costura, al bordado. Un sentido
asisten a la performance de Janet Toro frente al
de intercambio, de reparación, de textura social.
Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos.
Recuerdo mientras imagino las obras en las salas El conocimiento ancestral que recupera en sus fotos
otra obra que no voy a ver en Porto Alegre. Them, y en las frases que recopila Maruch Santíz Gómez
la obra de teatro de Liliana Porter y Ana Tiscornia, y que Sebastián Calfuqueo registra en sus videos,
que iba a tener una puesta en la Santa Casa, un conocimiento tzotzil, conocimiento mapuche. Las
conjunto de hospitales que cuenta con salas de mujeres del gran Chaco que retrató Grete Stern y que
exposición y con un auditorio. En el aislamiento ellas ahora están en las afueras de la ciudad de Rosario,
realizaron un video nuevo, Sin título con Helga, en el indígenas qom con quienes trabaja Julieta Hanono.
que elaboran imágenes que involucran los afectos La relación entre los retratos de Grete Stern y los que
de los sentidos y los contactos interrumpidos. Y, Gonzalo Elvira realiza de las mujeres de la Bauhaus.
muy especialmente, recurren para hacerlo a una Las tramas de memorias negras que recuperan
tecnología que utilizan todos los días, el celular. Dana Whabira, Aline Motta, Rosana Paulino. Las
reflexiones sobre los adultos mayores, sobre sus
En la tarde de Porto Alegre, ya fuera del edificio de la
conocimientos y creatividad que pueden observarse
Fundación, cae el sol, y vería, en ese paisaje cruzado
en las fotografías de Carol Condé & Karl Beveridge.
por el edificio minimalista de Álvaro Siza, la rivera
Los estereotipos del turismo que abordan Joiri Minaya
del río Guaíba, y la luz dorada, el cartel en led de
y La Vaughe Belle. La contraposición entre el retrato
Santarosa Barreto. En la frase en la que se suceden
de cuerpo entero, desnuda, de Liuska Astete Salazar
las palabras ‘rosa’, ‘mujer’, ‘bruja’, en la parodia de
y los autorretratos extremadamente producidos
una secuencia tautológica, se enlazan el título de una
por el maquillaje de Kimiko Yoshida. El color como
película, un verso, una frase de Jean-Luc Godard, de
clave reflexiva para abordar el cuerpo en las obras
Gertrude Stein, de Ernest Heminway respectivamente.
con humo de Judy Chicago y en las performances
Una relación que cruza mujer, belleza, maldad. Las
de Liuska. La relación entre violencia, mujer, ciudad,
palabras, silenciosas, se impregnan con el sonido
en la obra de Natalia Iguiñiz, Mónica Mayer, Ana
del tránsito de esa parte de la ciudad. Experiencias
Gallardo, Fátima Pecci Carou. La imaginación sobre
sonoras, visuales. Las de la vida en Porto Alegre, y
nuevas formas de experimentar el concepto de
las del recorrido imaginario, que puedo reconstruir
familia en los bordados de Chiachio & Giannone y
desde los materiales en la red, desde los planos,
en la escultura de Cristina Schiavi. Las poéticas del
desde los conceptos y desde las palabras que muchxs
afecto queer, trans, en Elle de Bernardini, en Jota
de lxs artistas enviaron con el celular, desde donde
Mombaça, en Sebastián Calfuqueo cuando busca
se encontraban, cuando el aislamiento comenzaba.
su doble, Marcela, en la acción que mujeres públicas
Pero no he podido experimentar el percepción de
iba a realizar sobre las ventajas de ser lesbianas.
las obras en el espacio. El reverberar de las obras
La investigación sobre el significado del pelo negro
en las salas, sus zonas de contacto, los diálogos, las
en la obra de Priscila Rezende, de Helo Sanvoy, de
fricciones. Esa forma específica que el arte asume
Lorraine O’Grady. Las relaciones son infinitas. La
en las salas de exposición. ¿Qué hemos perdido, qué
constelación de las obras en la pantalla me permite
hemos ganado? No tengo, todavía, respuestas.
saltar el espacio físico e imaginar otros vínculos.
Muchos contactos y relaciones entre las obras fueron
Pensar la bienal online no fue el resultado de un
estallando, como pequeños relámpagos, mientras
plan. Fue la forma de establecer un contacto entre
las reconstruía con las palabras, con la imaginación.
obras, artistas y público durante estos tres meses

BIENAL 12 CATÁLOGO 300


en los que por primera vez en la historia del mundo
estuvimos, globalmente, en nuestras casas, con
todas las precariedades y los peligros que la casa
representa cuando no responde a los estereotipos
que la normalizan. No todas fueron casas seguras,
en las que esperar con los mínimos requerimientos
de la vida. Ante la clausura de los espacios urbanos,
de los espacios sociales, pensamos en los afectos,
en las relaciones posibles, en los conocimientos que
podíamos contribuir a gestar en tiempo presente.
Pensamos en detenernos en los instrumentos que
permitirán abordar el futuro si parte de estas nuevas
formas de entender la vida social permanecen. Pensar,
críticamente, a qué normalidad queremos volver,
qué otras formas de entender nuestra relación con la
naturaleza y con lxs otrxs, son deseables, posibles.

301 BIENAL 12 CATÁLOGO


Sobre Gatherings, Agrupación y Hábitos de Assemblage
Fabiana Lopes
Curadora Adjunta
New York University

“¿Alguien podría teorizar efectivamente ofrecer la posibilidad de pensar en Femenino(s).


sobre un proceso en expansión? Visualidades, acciones y afectos a partir de la
…¿Cuáles son las premisas filosóficas producción de artistas afro descendientes –poco
que subyacen tras mi praxis? Pienso explorada en Brasil y en América Latina– y tratar
de ir aprendiendo, aunque de forma experimental,
cómo la articulación de una teoría es
la “gama de posibilidades de saber, de hacer y de
gathering place [lugar de encuentro,
existir” que esa producción (poÉtica) anuncia.2
de agrupación], a veces un punto de
descanso mientras el proceso avanza, ¿Qué diseño de la producción de artistas de la
insistiendo en que uno [lo] siga. 1 diáspora afro descendiente esta agrupación, este
gathering podría presentar? ¿Qué es lo que la
A mediados de marzo de 2020 estaba a punto de articulación de estos trabajos en diálogo durante un
llegar a la ciudad de Porto Alegre (Rio Grande do Sul) proyecto de exposición haría/provocaría? Aunque
para los preparativos de la 12ª edición de la Bienal como ejercicio reducido y limitado, ¿sería este gesto
del Mercosur. Como una de las curadoras adjuntas de aproximación de la producción de artistas negras
de la Bienal 12|Porto Alegre, llegaría a la ciudad relevante para expandir el campo de referencias de
cuatro semanas antes de la apertura de la exposición, artistas, curadores, educadores, educadores de arte en
programada para el día 16 de abril y acompañaría, Brasil? ¿Qué posibilidades y tensiones este gathering
más de cerca, los procesos de las artistas que podría provocar? ¿Cómo esta agrupación nos ayuda a
también llegarían a la ciudad con anticipación para seguir pensando sobre el surgimiento de estrategias
desarrollar investigaciones adicionales, producir sus estéticas negras en el contexto brasileño, que es mi
trabajos y/o acompañar el montaje de los mismos. punto de partida, pero también en América Latina?
Estaba entusiasmada con ese gathering, con el
encuentro presencial, con estar cerca durante la En el caso de Brasil, específicamente, y de América
ejecución e instalación de muchas de las obras del Latina en general, existe un largo camino por
proyecto, con el tiempo del encuentro para tomar recorrer en lo que se refiere a la consideración de
un café, conversar sin prisa, charlar rápidamente en las producciones de las artistas negras, y a las
la calle, por los múltiples encuentros en la Plaza da pistas que esta producción ofrece sobre saberes,
Alfândega, en el espacio público alrededor del que creaciones y modos de seguir existiendo en la
se encuentran dos de los tres espacios expositivos sociedad estructuralmente anti-negra en la que
de la bienal: el Memorial de Rio Grande do Sul vivimos. Si la producción artística de autoría negra
y el Museo de Arte de Rio Grande do Sul. Estos todavía no es invisible (estaba tratando de evitar
momentos de encuentro ampliarían, en gran parte, esta declaración, pero aquí estoy, involucrada
mi comprensión de los proyectos y obras de las con ella), Fred Moten nos recuerda que [La] marca
artistas invitadas y me permitirían vivir lo que sería de la invisibilidad es una marca racial visible; la
una experiencia práctica de posibilidades creadas invisibilidad tiene, como núcleo, la visibilidad. Ser
por Femenino(s). Visualidades, acciones y afectos. invisible es ser vista, instantáneamente, y en forma
fascinante ser reconocida como lo irreconocible, como
Hasta entonces, las discusiones con las artistas lo abyecto, como la ausencia de autoconsciencia
invitadas sobre sus (posibles) proyectos habían individual, como un jarrón transparente con un
ocurrido en la mayor parte de los casos a significado totalmente independiente de cualquier
través de encuentros virtuales. Pensando en la influencia más allá del propio jarrón. Una cuestión
propuesta de la Bienal 12|Porto Alegre, comencé relevante, entonces, es cómo podemos, pese a
a pensar en las artistas que ya había conocido esta marca (o tal vez motivadas por ella), seguir ‘[f]
y acompañado durante los últimos 5 años. Mi onografiando’ esta problemática paradoja [visual].”3
contribución específica para el proyecto fue

1 Barbara Christian, Black Feminist Criticism: Perspectives on Black Women Writers, New York: Teachers College Press, 1985, pp.
9-10.
2 Denise Ferreira da Silva, “Toward a Black Feminist Poethics”, in The Black Scholar v. 44, n. 2, Summer 2014, p. 81.
3 Fred Moten, In the Break: The Aesthetics of the Black Radical Tradition. Mineapolis: University of Minesota, 2003, p. 68.

BIENAL 12 CATÁLOGO 302


Mi intento en este texto es tratar de aprender la poeta emanciparía la Categoría de la Negridad
cómo una poÉtica negra, la misma que llevó a las de los mismos modos científicos e históricos de
mujeres negras a organizarse en una red colectiva conocimiento que la produjeron...? ¿Será que la
de ayuda –estoy pensando aquí en la forma en que Negridad emancipada de la ciencia y de la historia
las mujeres negras nos organizamos para apoyar imaginaría otra praxis y deambularía por el Mundo,
a nuestras comunidades durante la crisis sanitaria con el mandato ético de abrir otros modos de saber
y financiera que se instauró debido a la pandemia y hacer?” Ofreciendo una respuesta positiva (y
del coronavirus– se manifestará en la labor artística. provisoria) para ambas preguntas, da Silva propone
Llamó mi atención, por ejemplo, cómo la propuesta que “fuera del Mundo como lo conocemos, donde la
de algunas artistas evadía el lugar del objeto de Categoría de Negridad existe en/como pensamiento
arte [¿de comodity?], y/o cómo sus propuestas –siempre, y de antemano, como un referente de
fragmentaban el concepto de espacio de exposición comodity, un objeto, y por otra parte, como un hecho
del objeto de arte (aun cuando existiera en relación más allá de evidencia– una PoÉtica de Negridad
con este espacio). Estas artistas circunscribían la anunciaría una gama de posibilidades para saber,
labor artística al proceso de investigación en sí, crear y existir.”5 Lo que imagino hacer aquí, quizás
a la labor colectiva, al encuentro, al gathering o sea, tal vez, una oscilación (o una danza imperfecta e
agrupación y a sus modos de articulación propios. En inacabada) entre la pregunta de Christian “¿alguien
algunos casos, el resultado final de la investigación, podría teorizar eficazmente sobre un proceso en
lo que aparece en el espacio expositivo, no es más expansión?” y el intento de aprender algo de la
que un residuo más o menos explícito del proceso “gama de posibilidades para saber, crear y existir”
de investigación. En otros, sin embargo, gathering indicada por da Silva. Y hacerlo en un momento en
parece ser la acción de juntar materiales, una cierta que respirar es un evento—y un evento difícil.
articulación de objetos, una acumulación, casi. Por
otro lado, también, mi articulación de grupos de
Gathering:
proyectos y artistas cercanos en diálogo, se presentó
como gathering, como un campo para la observación, an assembly or meeting, especially a social or
como un terreno de posibles teorizaciones. festive one or one held for a specific purpose.

El ejercicio que busco realizar, entonces, es el Agrupación:


de pensar algunos proyectos a partir de estos
Reunión, aglomerado de personas, aglomeración
conceptos-tentativas de gathering, de agrupación
o de hábitos de assemblage: gathering como
encuentro (o aglomeración) de personas; gathering Radicada en Zimbabwe, Dana Whabira sería,
como agrupación de cosas, como acumulación posiblemente, la primera artista con la que iba a
de objetos; gathering como aquello que emerge encontrarme. Whabira ya había pasado dos semanas
de la articulación de conceptos (o teorías) cuando en Porto Alegre desarrollando una investigación
los trabajos se presentan en diálogo. Y es posible de campo, acompañada por la artista local Miti
que estos conceptos-intentos no se sustenten, Mendonça, en los quilombos (comunidades formadas
que se disuelvan en cualquier mo(vi)m(i)ento. por descendientes de esclavos) Silva, Fidelix, Lemos,
Areal, la antigua área de la Colonia Africana, y
I can’t breathe, I can’t breathe la región de Restinga. Esta investigación sería
I can’t breathe la información para la producción de un dibujo
comisionado por la Bienal 12|Porto Alegre, parte de la
“¿Alguien podría teorizar eficazmente sobre un
serie Circles of Uncertainty/Círculos de incertidumbre,
proceso en expansión? …¿Cuáles son las premisas
una investigación continua sobre historias de mapeo,
filosóficas que sustentan mi praxis?” Estas son
migración y pistas de rutas de fuga en comunidades
algunas de las preguntas propuestas por Barbara
de la diáspora Africana. A través de las visitas
Christian en su intento de diseñar una crítica
a los quilombos, de entrevistas con sus líderes y
negra feminista a comienzos de los años ochenta.4
miembros, como también con investigadores locales,
Centrada en la relación entre premisas filosóficas y
Whabira buscaba identificar diferentes puntos de
praxis, Denise Ferreira da Silva toma prestados los
referencia (y de entrada) para conocer la historia
comentarios de Christian para considerar, ella misma,
pasada y presente de estas comunidades y delinear
cómo una PoÉtica Negra Feminista enfrentaría tal
una producción negra del espacio. Rastreando
tarea. Expandiendo la discusión, da Silva nos propone
la espacialidad, la temporalidad y la radicalidad
las siguientes preguntas: “¿Será que la intención de
negras, la artista intentaba entender la naturaleza

4 Denise Ferreira da Silva, “Toward a Black Feminist Poethics”, op. cit., p. 81.
5 Idem.

303 BIENAL 12 CATÁLOGO


compleja del quilombo, su existencia precaria y su Al realizar este proyecto en Brasil, Whabira lanza
delineación ambigua en el pasado y en el presente. una luz sobre cómo algunas prácticas de la Tradição
La investigación era, también, una forma de acceder Radical Preta –una tradición que puede ser mapeada
a las políticas raciales en Brasil, conocer el estado a lo largo de la historia de resistencia del pueblo
de los espacios ocupados por los quilombos en la negro frente a las condiciones de opresión impuestas
psyche, la mitología y el imaginario urbanos. por las intervenciones coloniales– se actualizan
localmente. Estoy pensando aquí tanto en la
Quilombo para Whabira es un concepto que
contribución que el teórico estadounidense Cedric
parece tener el sentido de espacios históricamente
Robinson ofrece, que conecta la naturaleza de la
formados y no, necesariamente, un sentido
tradición radical negra con las rebeliones y prácticas
simbólico extendido que abarque, por ejemplo,
insurgentes, como la formación de quilombos,
espacios negros urbanos (agrupaciones urbanas).
con “el desarrollo continuo de una consciencia
Pero ¿cuáles serían las ventajas y limitaciones
colectiva, informada por luchas históricas por la
del cruce de estos dos conceptos? ¿Es posible, en
libertad y motivada por un sentido de obligación
un momento contemporáneo, pensar en uno sin
compartido de preservar el ser colectivo, la totalidad
incluir el otro? ¿Cómo considerar la investigación
ontológica.”7 Al mismo tiempo, pienso en la definición
de Whabira en diálogo, por ejemplo, con el
de Robinson en diálogo con el concepto de quilombo
pensamiento de Beatriz Nascimento, para quien
que ofrece Nascimento que, como ya se mencionó,
quilombo no es solamente un espacio históricamente
lo entendía como un movimiento de larga duración
formado sino “un movimiento general de larga
que continúa en el momento contemporáneo.
duración en todo Brasil”, una organización social
con continuidad en la contemporaneidad?6 El impulso rizomático que (des)orienta mi
pensamiento, y la idea de prácticas radicales, fuga,
El trabajo final, un diseño en grafito de forma
cabello y cotidiano me llevan al proyecto Rotas de
circular y de larga escala, guardaría, de alguna
fuga (2017) de la artista minera Charlene Bicalho.
forma, la información a la que la artista accedió
El proyecto es una performance en la que Bicalho,
durante las tres semanas de investigación de
en colaboración con otros cinco artistas, camina
campo. Este diseño condensaría las historias de
por las calles de la ciudad de Ouro Preto (MG) y
displacement (desplazamiento) de esas comunidades
entrega pepitas de “oro” (piedras pintadas de color
quilombolas cuyas narrativas históricamente
dorado) que saca de su cabello a las personas
construidas pueden incluir prácticas radicales
que va encontrando por el camino o va dejando,
como “plantar” en el cabello mapas de rutas de
alternativamente, trazos de “oro” por las calles,
fuga, semillas y oro. Estas narrativas nos ayudan a
ventanas, puertas y cajas de correo de las casas por
identificar y pensar la radicalidad en las prácticas
donde va. Acceder a la investigación de artistas que no
negras cotidianas y a re/conocer en ellas pistas
forman parte del proyecto de la Bienal 12|Porto Alegre
de una tradición que aún vive. El dibujo abstracto
me ayuda a compartir cómo nuestros procesos de
producido por la artista también preserva cierto
pensamiento y creación se superponen y conectan.8
grado de opacidad, sin revelar las capas del
proceso, ni mostrar explícitamente la investigación. Hands up, don’t shoot! Hands up, don’t shoot!
Este trabajo nos invita a reflexionar sobre cómo Hands up, don’t shoot!
la labor artística puede estar involucrada con la Hands up, don’t...
investigación y cómo la opacidad (sugerida también
por el título de la obra) y la invisibilidad siguen
siendo movilizadas como estrategias subversivas.

6 Maria Beatriz Nascimento, Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual: Possibilidades nos dias da destruição. São Paulo:
Editora Filhos da África, 2018, p.134.
7 Cedric J Robinson, Black Marxism: The Making of the Radical Black Tradition, London: Zed Press, 1983 (University North Caroli-
na Press, 2000), p.171.
8 Realizada en la ciudad de Ouro Preto (en el estado de Minas Gerais) en colaboración con las artistas Priscila Rezende, Winny
Rocha, Ana Bárbara Coura, Fredd Amorim, y Karla Ribeiro, Rotas de fuga es, para Charlene Bicalho, una mezcla de lo cotidiano
y la performance. La artista investigaba trenzas típicas de la cultura nagô, posibles caminos de fuga que, a veces, este peinado
representaba, y la práctica de esconder pepitas de oro en el cabello. Para esta performance colectiva, los artistas se encontra-
ron frente al Museo da Inconfidência vistiendo ropas negras y rojas. Organizados en fila, se sentaron entre las piernas unos de
los otros y, cuidadosamente, entregaron al ori (cabeza) del compañero de adelante, pepitas de “oro” (piedras pintadas de color
dorado). Después, los artistas se dividieron en pares y salieron caminando por las calles alrededor del museo, como en rutas
de fuga distintas, regalándoles a las personas que encontraban por el camino las “pepitas de oro” que sacaban de sus cabellos.
Hubo quienes, asustados por la aproximación de los artistas, tomaban caminos distintos. Durante su recorrido dejaron rastros
de “oro” por las calles, ventanas, cajas de correo y barandas de las casas hasta la iglesia Santa Efigênia. El registro en fotografía
y video lo ha hecho Labibe Araújo.

BIENAL 12 CATÁLOGO 304


También iba a encontrarme, en los primeros días, con instalación sonora en el espacio expositivo del
la artista visual y escultora Sudafricana Lungiswa subsuelo del Memorial de Rio Grande do Sul. La
Gqunta quien, por cuatro semanas, comenzando a instalación está compuesta por libros de poemas
mediados de marzo, se dedicaría a un intenso trabajo creados por Ana Lira (en portugués) y la poetisa
colaborativo con un gathering de cuatro artistas sudanesa Ola Elhassan (en inglés, dinamarqués
locales: Daniele Reis, Malena Mendes, Mariana de y árabe); un tejido de Guinea Bissau; y un espacio
Jesus y Paula Fernandes. El trabajo, producido por para que los visitantes puedan estar juntos, hojear
mujeres negras, consistiría en manipular –doblando los libros y oír sets de las playlists creadas para
y redoblando, estirando y torciendo– una cantidad el programa de radio en línea, otra acción del
expresiva de alambre de púas previamente forrado proyecto elaborada y ejecutada por la artista.
con tela de algodón. La instalación final, una
Además de la instalación sonora y de la radio online,
versión de la obra The Softness of A Woman’s Touch/
integra el proyecto una celebración colectiva –una
La suavidad del toque de una mujer (2018-2020),
fiesta programada para que se realizara fuera del
consistía en dos grandes marañas de alambre de
espacio expositivo, en la plaza do Tambor durante la
púas separadas por un espacio entre ellas y ocuparía
apertura de la muestra en abril de 2020– y una rueda
una sala entera en el segundo piso en la Fundación
de conversación/experiencia con jóvenes DJs. En sus
Iberê Camargo. En la sala también estaría la obra
investigaciones sobre musicalidades y sonoridades
en video Feet Under Fire (2017), de la misma artista.
de la Diáspora afroamerindia, Ana Lira colabora
En esta versión de The Softness of A Woman’s Touch
con (y comparte) las investigaciones de la artista
producida por mujeres negras en gathering, en un
y DJ Marta Supernova (Río de Janeiro, Brasil), y de
ejercicio de entrelazar colectivo, lírico y radical,
la DJ Suelen Mesmo (Colectivo Turmalina en Porto
no sería posible que los visitantes accedieran a
Alegre, Brasil). Un punto importante para entender
todos los nudos formados y desarmados durante
como Lira articula el concepto de colaboración –que
el proceso. Aún así, podemos considerar cómo la
también es una forma de gathering– propuesta por
obra –y su proceso de creación complejo, intenso y
la artista, es que el llamar/anunciar el nombre de
laborioso– articula las ideas de toque, proximidad
la artista siempre implica el anunciar/llamar a sus
e intimidad, por un lado, y paisajes coloniales,
colaboradoras. Por eso la frase que acompaña el
legados espaciales y violencia, por el otro; podemos
título Chama: Ana Lira invita a Marta Supernova, Ola
también seguir pensando en las rupturas que esta
Elhassan y Suelen Mesmo. Parte de una investigación
poÉtica negra feminista colaborativa anuncia.
para la que la “noción de colectividad y presencia
Y si Dana rastrea espacialidades y temporalidades física es fundamental”, de una investigación que
negras y las codifica en sus dibujos, en el caso de “sucede en los caminos y las articulaciones”, en
la artista visual de Recife, Ana Lira, que mapea las las experiencias-de-las-entrelíneas, el proyecto
espacialidades de las diásporas afro descendientes de Ana Lira desplaza la comprensión de la labor
por una otra vía, la investigación está en cómo artística para el espacio y proceso de gathering
las codificaciones del conocimiento negro, sus tanto en las charlas (o experiencias) como en las
experiencias y transmisiones, sus modos de resistencia celebraciones, el lugar donde “los cuerpos liberan
a la opresión, se materializan por manifestaciones las angustias acumuladas en el cotidiano” danzando
poéticas, por textos o palabra pronunciada, y por en gathering, en agrupación, en movimiento
manifestaciones sonoras que van desde golpes de (negro), en performance (negra). Proponiendo el
tambor, con todas sus múltiples variantes, hasta la festejo como el lugar de pertenencia, Chama nos
música electrónica. ¿Cómo la invisibilidad también invita a una serie de experiencias sensoriales, a
puede ser una forma de empoderamiento? ¿Cómo el oír, sentir y pensar con el cuerpo, y a una práctica
conocimiento codificado, no explícitamente revelado poÉtica feminista negra de trabajo colectivo.9
en los procesos de manifestaciones poéticas y sonoras
El trabajo de la artista visual Juliana dos Santos,
de la diáspora afroamerindia puede viajar y ser
Entre o azul e o que não me deixo/deixam esquecer es
compartido por otros modos de experimentación
una instalación interactiva y performativa, compuesta
sensorial sin la imposición de procesos de traducción?
por luz azul, telas blancas, sensor de presencia y
Estas son algunas de las propuestas de Ana Lira con
sonido. Una edición de la narrativa de un grupo de
el proyecto Chama (2020) que, en la definición de la
personas racializadas sobre sus experiencias con el
artista, “una experiencia dedicada a las poéticas de
color azul. Entre o azul surgió en las reflexiones de
la Diáspora y sus expresiones sonoras, celebrativas,
Juliana dos Santos sobre las posibilidades poéticas
sensoriales y escritas”. El proyecto consiste en un
y los límites de ser una artista negra. Una de las
ciclo de experiencias sensoriales que incluye una

9 Fábia Prates, “Project Chama: Poetics of the Black Diaspora,” in interview with Ana Lira. ContemporaryAnd.com, consultado el
30/6/2020.

305 BIENAL 12 CATÁLOGO


posibilidades que la artista buscaba tejer era una Haram y el trauma asociado a este a una posición
investigación sobre el color azul, sus desdoblamientos secundaria, y comparte su encuentro con la ligereza,
en la historia de la pintura y los posibles usos/ la energía relacional y con la fluidez en un espacio
aplicaciones en el presente. Estas investigaciones, donde se abordan las diferencias entre imagen
sin embargo, tropezaban con cómo la artista era fija y en movimiento, entre realidad y ficción. Las
racialmente interpelada. “¿Sería posible hablar del fotografías y la videoinstalación presentan imágenes
Azul si todo el tiempo no me dejan olvidar que mi de un grupo de adolescentes con sus uniformes,
límite está muy por debajo del cielo? ¿Cuáles son las jugando en la sala de clase (Tatsuniya Playing
demandas que no me dejo/dejan olvidar? ¿L_s rtist_s Slow), o juntas, cada una con una vela encendida
negr_s pueden abstraer? ¿Cómo hablar sobre el azul en sus manos (Tatsuniya: Holiday is Coming). En la
si todo el tiempo me gritan “negra”? ¿Cómo puedo instalación, compuesta por palmeras y tierra, las
perderme en el azul si el recuerdo ajeno interrumpe imágenes del video se proyectan entre/sobre las hojas
mi sueño?” Estas son preguntas que surgieron de directamente en la pared que está detrás de ellas.
la investigación y las experiencias de la artista. La
investigación sobre el azul abrió la posibilidad de
Gathering:
gatherings, agrupaciones y encuentros. Uno de ellos
fue el encuentro-performance en Porto Alegre para el collection, compilation.
que dos Santos invitó a diez personas para compartir Agrupación:
sus experiencias azules. El encuentro-performance
acto o efecto de juntar.
trajo como resultado un “audio specific”, un paisaje
sonoro con testimonios de la artista intercalados
con fragmentos de declaraciones hechas por los La agrupación como recopilación de objetos es otra
participantes. La instalación/audio-specific/paisaje posibilidad para entender el gathering que emerge
sonoro (que sería) presentada en el segundo piso del en mis observaciones de los trabajos de las artistas
Museo de Arte de Rio Grande do Sul (MARGS) é, para Michelle Mattiuzzi, Lucia Laguna, Lidia Lisbôa,
Juliana, la elaboración de una experiencia inmersiva Janaina Barros y Jota Mombaça. Con los trabajos
que surgía con la búsqueda de lo sensible y la Psicanálise do cafuné: catinga de mulata (2017) y
experiencia en un ejercicio-intento de hablar del azul Psicanálise do cafuné: sobre remendos, afetos e
entre otras posibilidades de gathering e intercambio. territórios (2016-2019) la artista visual e investigadora
Janaina Barros presenta, respectivamente, un
No justice, no Peace! No justice, no Peace! gathering de imágenes fotográficas y de piezas
No justice, no Peace! del vestuario íntimo (camisones). La serie de foto-
performance Psicanálise do cafuné: catinga de
Incluyo en este grupo a la artista nigeriana Rahima
mulata presenta ocho imágenes en las que a la artista
Gambo que participa en la exposición con la serie
se la fotografia en un escenario externo, rodeada de
Tatsuniya (2017). Tatsuniya comenzó como una foto-
arbustos, piedras y agua de río, con el rostro cubierto
documentación sobre estudiantes de la escuela Shehu
con una media fina del color de su piel que permite
Sanda Kyarimi en Maiduguri, Nigeria –parte de un
que se vean solamente los contornos de sus ojos, nariz
proyecto fotoperiodístico más grande, que lleva el
y boca. En las imágenes, la artista performa gestos
título Education is Forbiden, sobre las experiencias
intrigantes con un pequeño muñeco/marioneta en
de estudiantes que frecuentaban escuelas y
sus manos hecho también con una media fina de
universidades afectadas durante el conflicto con
nylon. Psicanálise do cafuné: sobre remendos, afetos
Boko Haram en la región. La serie, sin embargo,
e territórios, a su vez, es un trabajo formado por un
se desdobla en un despliegue de narrativas y
conjunto de 6 camisones se color rosado con textos
acontecimientos relacionales en torno a la producción
bordados en el ruedo. Los camisones, cuyos subtítulos
de las imágenes en las que la artista está totalmente
individuales son Livro cor de rosa, Banhos para o Amor,
involucrada. En este proceso de gathering con las
Orações para o Amor, Livro de receitas, Simpatias para
jóvenes estudiantes, Gambo termina explorando
o Amor, Orações para todos os males, están colgados
los acontecimientos intangibles que, por lo general,
del techo hasta la altura de los ojos de tal forma
surgen en los encuentros de las agrupaciones en
que puedan leerse los textos bordados que, a su vez,
los que hay espacio para expresión creativa. ¿Qué
están asociados con los conceptos que cada subtítulo
posibilidades pueden surgir cuando nos enfocamos
evoca. Un ejemplo es la obra teatral, Psicanálise do
en lo que no puede ser registrado por la cámara de
cafuné: sobre remendos, afetos e territórios. (Livro cor
forma completa y precisa: las conexiones que se
de rosa), obra de 2016 en la que se lee Desencanto: Las
forman cuando nos agrupamos para hablar y oír,
mejores historias de amor... Ellos se completaban en
para enseñar y aprender, para jugar y expresarnos?
pasión, pero su amor era imposible... Amor en estado
Transformando esta cuestión en una guía para
bruto: más que violento, profano... Actos de amor.
su proceso, Gambo desplaza el conflicto del Boko

BIENAL 12 CATÁLOGO 306


La investigación sobre el afecto y la costura como prácticas tan específicas nos invitan, por diferentes
una de las categorías analíticas de esta investigación vías, a ver la presencia de las tradiciones ancestrales
son partes integrantes del proceso de Barros. La en la contemporaneidad? ¿Cómo nos ayuda este
intervención relevante, sin embargo, es cómo la diálogo a pensar críticamente sobre tradiciones
artista moviliza el concepto de cafuné (y de afecto) radicales, sobre la producción de artistas negras en
como clave de aproximación y punto de partida Brasil y sobre el contexto social que ellas señalan?
para observar y leer prácticas de vida de familias
En la obra de la pintora Lucia Laguna (Río de Janeiro,
de la población negra, una población a la que
Brasil) gathering puede ser pensado dentro del
generalmente se accede solo a partir de semas
espacio pictórico. Los trabajos de la serie Paisagem,
asociados a violencia y privación de derechos. ¿Cómo
algunos de los que están reunidos en la Bienal
se relacionan las mujeres negras, cafuné (expresión
12|Porto Alegre, ofrecen la posibilidad de vislumbrar
de afecto) y los afectos? ¿Qué remiendos implica o
los sentidos extendidos del concepto de paisaje que la
revela esta aproximación? Estas son cuestiones que
artista articula. Para Laguna, paisaje es lo que se ve
pueden ayudarnos a tener un diálogo más profundo
desde la ventana de su atelier: el cerro da Mangueira
con la obra. Igualmente relevante es la combinación,
y la arquitectura de la improvisación, de lo precario y
el gathering, de objetos delicados e íntimos, de
de lo no terminado del suburbio de la zona norte de
reflexiones y sugerencias sobre conocimientos
Río de Janeiro (y tantos otros suburbios de grandes
del universo colectivo (negro), sobre historias y
centros urbanos en Brasil), es parte del vocabulario
experiencias que la artista va accionando. ¿Qué es lo
estético de la artista; paisaje es el jardín de la casa
que este trabajo evoca sobre los conocimientos y sus
de Laguna, una especie de sitio arqueológico de
modos de transmisión, sobre el autocuidado y sobre el
la vida de la artista, un espacio formado por una
cuidado colectivo específico de las familias negras en
agrupación de plantas y objetos acumulados por
Brasil? La obra nos deja pistas sobre cómo volvemos
décadas: pequeñas estatuas y jarrones rotos, llaves,
a nuestro libro de recetas (negras), y cómo nos
candados, rejas y otros objetos descartados; paisaje
sumergimos en nuestros conocimientos ancestrales:
es, también, el conjunto de objetos encontrados en
en las hierbas, en los baños, en las santerías para
su atelier: pinturas listas y en proceso, pequeños
el amor y en las oraciones para todos los males.
estudios, escaleras y cintas métricas, embalajes
En el caso de la artista visual y performer Michelle de pintura, herramientas y rollos de cinta de pintor
Mattiuzzi gathering es el Jardim da Abolição (2020), pegada en la pared o amontonada en el piso. El
una instalación que articula ciento once jarrones paisaje aparece en la obra de Laguna como gathering
de tamaños diferentes, once hierbas y flores de y gathering, como espacio para articular el lenguaje
poder, tierra y la frase en neón, “A intuição liberta a de la agrupación, del desorden y el assemblage de
imaginação” (La intuición libera la imaginación). El momentos de la vida como lugar de teorización.
conocimiento de las hierbas y flores de poder (como
el romero, la arruda, la pimienta, la guinea –una
I can’t breathe
planta también conocida como amansa-senhor, por You’re taking my life from me
su uso subversivo por parte de personas esclavizadas I can’t breathe
para envenenar a sus dueños–) se transmite a través Will anyone fight for me?11
de prácticas orales y por curanderas de Brasil y
Lidia Lisbôa, escultora, artista visual y de
de América Latina.10 La obra, un proyecto inédito
performance que trabaja con una forma de
de Mattiuzzi, marca una ruptura de la producción
assemblage de telas (en su mayoría) y de otros
que hasta aquí realizó, ya que en este trabajo su
materiales descartados, ocuparía una sala de la
cuerpo no está directamente involucrado. La obra
Fundación Iberê Camargo con un conjunto de sus
sirve, también, como una especie de sugerencia que
series: Cicatrizes (2012-2015), Cordões (2013-2020),
declara el liberar del pensamiento por la intuición
Cupinzeiros (1993-2020), Casulos pequeños (2014)
para imaginar el presente a partir del poder de
y el Casulo grande (2012), y Chorões (2013). Visitar
esas plantas y recordar, en el presente, gestos que
la sala remite, de forma suave y tangencial, a la
se han entendido históricamente como subversivos
experiencia de encontrar estos objetos en el atelier
y radicales. ¿Será que Jardim da Abolição nos trae
de la artista. Las Cicatrizes –objetos redondos
pistas sobre las plantas de poder, necesarias para
hechos con medias finas de nylon rellenas con tiras
los Banhos para o Amor y para las Simpatias para
de telas desechadas, y marcadas, en la superficie,
o Amor sugeridos en la obra de Janaina Barros?
por una costura gruesa explícita (o suturas)– fueron
¿Cómo la combinación de trabajos tan distintos y
organizadas en un gran grupo, un montón en el

10 Para saber más sobre la hierba “Amansa-Senhor”, ver Maria Thereza Lemos de Arruda Camargo, “AMANSA-SENHOR: a arma
dos negros contra seus senhores”, Revista Pós Ciências Sociais, São Luís, v. 4, n. 8, jul./dic. 2007, p. 31.
11 Gabriella Wilson, I can’t Breathe, New York, 2020.

307 BIENAL 12 CATÁLOGO


piso, y en otro colgado del techo. Presentados por de la artista. Los procesos de escrita se manifiestan
primera vez en una exposición, dispuestos sobre un en ensayos poéticos, ficción científica, y formas de
pedestal bajo en el piso, los Cordões (umbilicales ficción visionaria que incluyen presentimientos y
para la artista) son una especie de grandes collares prosa profética. Es precisamente del nódulo entre
hechos con la unión de piezas cerámicas producidas escritura y performance que emerge la serie Nãovão,
por Lisbôa y partes de cuerpos de muñecas (cabezas, cuya versión ampliada está en la Bienal 12|Porto
brazos y piernas). Los Cupinzeiros, piezas cerámicas Alegre. Nãovão es, en la descripción de la artista, una
también organizadas en el piso, en otro espacio de “serie de banderas blancas con pequeñas frases o
la sala, están asociados con memorias de la infancia fórmulas conceptuales escritas en/[con] sangre”; una
que la artista tiene de los pastos en regiones rurales confluencia entre la escritura y el gesto performativo
en Paraná en las que ella observaba de lejos los de emplear, ella misma, la sangre como tinta.13
cupinzeiros reales (nidos gigantes de termitas).
La referencia al uso de la sangre en la práctica de la
Un conjunto de piezas de la serie Casulos –objetos de performance de Mombaça proviene del poeta, artista
tela unidos con crochet– y Chorões, también hechos visual y teórico Jota Medeiros (Natal, Brasil), de quien
con tela y crochet sobre alambre, fueron organizados la artista pretendía reproducir una performance en
en diálogo. Entre estos dos grupos de obras, O Casulo, la que usaba sangre. La falta de documentos sobre
pieza de gran escala producida también en crochet, la performance de Medeiros limitó la acción de la
sería una vez más activada en una performance artista, pero la condujo a entender la escasez de
realizada por Lisbôa durante la apertura de la archivos sobre la producción artística de la región
exposición. En la performance, Lisbôa camina por noreste como indicio de la eliminación de esta
el espacio expositivo vestida con el objeto.12 Existen producción del canon de la historia del arte de Brasil.
dos cuestiones relevantes que emergen por el A partir de esta reflexión, Mombaça crea la obra
contacto con el universo de objetos de la artista: Memória Fraca (Mala memoria) compuesta por el
las intervenciones propuestas en la comprensión texto escrito con sangre en la página de una revista.
de la costura y del crochet; las aproximaciones A este trabajo le siguió A Ferida Colonial Ainda Dói (La
entre costura y performance. La práctica de Lisbôa herida colonial todavía duele), en el que la artista
presenta una intrigante combinación entre los crea intervenciones con la propia sangre en “mapas
objetos en assemblage, generalmente telas, y la icónicos, revistas, libros, y lugares para escribir,
performance. Esta combinación parece hacer que sea dibujar o subrayar discursos y representaciones que
posible considerar a la artista como en una especie refuerzan la colonialidad y el sistema infinito de
de cruce entre un grupo de artistas negras brasileñas opresión y reproducción de la guerra”. Nãovão, viene
que consideran la costura como una categoría en esta línea, con una reflexión sobre la “violencia
analítica, y otro grupo, de una generación más joven, [de las] narrativas hegemónicas sobre paz, armonía
que parece tratar de profundizar investigaciones y orden social.”14 En sus performances, escrituras,
centradas en la experiencia de la mujer negra, y o en los espacios entre ellas, Mombaça produce
que ven la performance como una categoría central un continuo ensayo del fin del mundo como lo
de su investigación: algunos posibles ejemplos son conocemos. Al mismo tiempo ella propone un ejercicio
Priscila Rezende, Renata Felinto, Janaina Barros, de imaginación (o “figuración”) del que podría
Val de Souza, Charlene Bicalho, y Natalia Marques. emerger la sustitución del sujeto Moderno-Colonial.

El conjunto de 21 banderas de la serie Nãovão (2017- Pensando en gathering como la articulación (o


2020) de la artista Jota Mombaça evoca la idea de incluso fragmentación) de conceptos que emergen
gathering en el contexto de colección o recopilación de obras en diálogo, veo posibilidades de reflexión
de objetos. La práctica multidisciplinaria de Mombaça en torno a la idea de memoria, performance, archivo
deriva de su trabajo en poesía y en teoría crítica, y desaparecimiento en las obras de las artistas
y se desarrolla en un proceso que entrelaza “la Mirella Maria, Priscila Rezende, Jota Mombaça,
materialidad sónica y visual de las palabras, la Gladys Kalichini y Renata Felinto, y del artista Helô
crítica anticolonial y la desobediencia de género”. Sanvoy. Las referencias a la esclavitud, entrelazada
Esta práctica también se desdobla a partir de dos a las experiencias contemporáneas de las artistas,
elementos clave que colisionan, se articulan y se que en un momento pueden ser colectivas y en otro
interpelan: los procesos de escrita y performance individuales, atraviesan el trabajo de Maria, Sanvoy

12 Mi primer recuerdo de esta activación fue durante un almuerzo con otros artistas, en la casa de Lidia, en 2014. Cuando
escuché el sonido del pandero tocado por una de las invitadas, la artista se levantó de la mesa, “vistió” el Casulo y comenzó a
danzar en un pequeño espacio entre la mesa y la cocina.
13 Will Furtado, “Exploring The Body As Colonial Occupation” interview with Jota Mombaça, ContemporaryAnd (10.March.2018),
consultado el 20/6/2020. www.contemporaryand.com.
14 Will Furtado, “Exploring The Body As Colonial Occupation” entrevista con Jota Mombaça, ContemporaryAnd (10.March.2018),
consultado el 20/6/2020. www.contemporaryand.com.

BIENAL 12 CATÁLOGO 308


y Rezende. La obra As Marias de minha vida (2020) importante notar la recurrente mención a la familia
de la artista visual e investigadora Mirella Maria, un negra –una formación hecha-imposible en la sociedad
vestido-objeto tejido con reproducciones fotográficas, eternamente-colonial-brasileña– y a los procesos de
ocuparía el segundo piso de la Fundación Iberê autocuidado y de cuidado colectivo entre los artistas
Camargo. Intrigada con su apellido “Maria” (un citados. Relevante también es entender el cuidado
apellido-nombre) y determinada a descubrir su colectivo como una forma de gathering, como ethos
origen, Maria se entrega a un proceso de investigación de assemblage, como un momento de compartir, como
y se sumerge en las historias de su familia paterna. performance negra, como (tiempo de) estudios negros.
“Maria” es el nombre de propietarios de africanos
En la performance Bombril (2010-2018), presentada
que han sido esclavizados; un nombre transferido,
por primera vez en 2010, la artista minera Priscila
como apellido y marca de poder, a generaciones
Rezende transforma en cabello en una esponja
de familias negras en Brasil. Su investigación la
para lavar platos y friega, con el cabello mojado
lleva a coleccionar fotografías de miembros de su
y con jabón, la superficie de utensilios domésticos
familia, mujeres y hombres, que llevan el apellido-
metálicos que se usan en la cocina. El título del
nombre “Maria” y a organizarlas en la forma de esa
trabajo, Bombril, es una referencia al nombre de una
vestimenta bastante usada en su círculo familiar. As
esponja de acero conocida en Brasil que sirve como
Marias de minha vida unía historia y memoria en un
término despectivo que se ha usado –y que aún
gathering de foto-narrativas biográficas. La obra
se utiliza muy a menudo– para referirse al cabello
también establece un diálogo bastante cercano
crespo especialmente de niñas y mujeres negras. La
con Parede da memória (1994), un trabajo seminal
performance, sin embargo, no se restringe a indicar
de la artista Rosana Paulino, compuesto por 1.500
laceraciones estéticas. Con la vestimenta utilizada en
pequeños objetos (escapularios), irregularmente
la performance, una alusión a la mujer esclavizada,
cuadrados y cosidos a mano, con imágenes que
Rezende marca la permanencia de prácticas sociales
reproducen los retratos de 11 miembros de la familia
y económicas que confinan a mujeres negras a
de la artista. Parede da memória, que completó 25
“invisibles senzalas modernas.” Fregando objetos
años en 2019, forma parte del conjunto de trabajos
sentada en el piso, una posición incómoda física y
de Paulino que ocuparían un espacio en la planta
moralmente, sirve como gesto de auto-objetificación,
baja del Museo de Arte de Rio Grande do Sul.
una momentánea transformación del cuerpo en
Hands up, don’t shoot! Hands up, don’t shoot! cabello-que-friega, en cuerpo-al-servicio de los
Hands up, don’t shoot! objetos, del espectador, en imagen de conflicto.15 El
video presentado en la Bienal 12| Porto Alegre es un
El video Estão sendo tecidos (2013/2018) del artista documento de la performance que Rezende llevó a
multidisciplinario Helô Sanvoy, documenta a su cabo en 2018 en la Plaza da Alfândega, un espacio
madre, Maria Conceição, trenzando el cabello del público ubicado frente al edificio del Memorial de Rio
artista mientras entabla una larga conversación Grande do Sul, donde el trabajo sería presentado; un
con Helô y su esposa, Dheyne de Souza, sobre los bello diálogo entre el espacio expositivo y su entorno.
eventos de su infancia: las condiciones de trabajo
en las plantaciones del interior de Goiás durante Como en la serie Nãovão, archivo y desaparición
los años 1950; la convivencia con descendientes de también forma parte de la reflexión de Jota Mombaça
esclavos y personas que habían, ellas mismas, sido en la obra Así desaparecemos (2019-2020), un video
esclavas; las dificultades de la vida en la región, las en dos canales que ocuparía la planta baja del
costumbres de la familia, los cuidados del cuerpo y, Memorial de Rio Grande do Sul. El proyecto se pensó
especialmente, del cabello. El momento de cuidar el en relación con la quema de archivos históricos. En
cabello como contexto para discusiones sobre temas Brasil, refiere a la orden oficial dada alrededor del
sociales y políticos forma parte de un proceso cultural año 1890 de quemar documentos relacionados con
de transmisión oral, y un evento que se repite en la la esclavitud, pero también al incendio del Museo
historia de las familias negras en Brasil. Las narrativas Nacional en Río de Janeiro en 2018. Uno de los
de la infancia de la madre del artista se confunden videos presenta la versión editada del registro de la
con el contexto general de la vida de las familias en el performance con el mismo título realizada durante
interior de Goiás y en el centro oeste, durante los años el 45º Salón Nacional de Artista en Bogotá en
posteriores a 1950, y remiten a la formación histórica octubre de 2019. En esta performance, Mombaça se
del tejido social y cultural del interior de Brasil y, posiciona frente a la obra Auras Anónimas (2007-
consecuentemente, a las condiciones de desigualdad 2009) de la artista colombiana Beatriz González,
política y social vividas en el país actualmente. Es y lee en un papel en llamas, textos escritos por

15 Priscila Rezende, Declaración de la artista [compartida con la autora por correo electrónico en marzo de 2020] (no publicada).
Archivo Priscila Rezende.

309 BIENAL 12 CATÁLOGO


víctimas del conflicto armado en Colombia.16 Liberdade, frente al estadio de fútbol Itaquerão
El video auxiliar recupera aspectos del archivo y en un carrusel del parque de diversiones Marisa
quemado durante la performance. Una cuestión (1974-2020) en Itaquera, barrio donde la artista
que debe explorarse es cómo Mombaça superpone vivió durante su infancia. Para cada espacio, Felinto
ideas de archivos históricos y archivos humanos, eligió una música que sirve como paisaje sonoro
performance y eliminación, accionando la relación para su performance, una elección que tomó en
entre performance, reproducción y desaparición. cuenta la letra de la música, cuestiones de relevancia
histórica y política y sus propias memorias sobre
En sus investigaciones, la artista visual e investigadora
el espacio. En una sala inmersiva en la Fundación
de Zambia, Gladys Kalichini, generalmente articula
Iberê Camargo, el video en 3 canales proyecta la
historia colonial, marginalización y memoria,
performance de cada espacio alternadamente.
enfocándose en narrativas de mujeres dejadas
Podemos acompañar a la artista danzando, por
a un lado en la memoria colectiva dentro de los
ejemplo, Pondo de Nanã, música dedicada a la orixá
contextos africanos. Instalada en el MARGS,
Nanã, frente a la Catedral da Sé, o danzando en el
Erasing Erasure/Eliminando la eliminación (2017)
Valle de Anhangabaú con una música relacionada
es una videoinstalación inmersiva cuyas imágenes
con el Kuarup, una ceremonia-fiesta-ritual funeral de
se proyectan en un voile blanco de dimensiones
grupos indígenas del Alto Xingu.17 Con esta asociación
equivalentes al tamaño de la pared de la sala.
de paisaje sonoro y espacio, Felinto crea un cuerpo
En el video la artista aparece performando una
narrativo que revela las diferentes tradiciones que
práctica funeral común en Zambia, en la que las
informan el paisaje urbano de São Paulo, cruzando
personas enlutadas se cubren con polvo blanco
y comparando epistemologías que generalmente
(chinbuyaring). Con la videoinstalación, Kalichini
no van juntas. Otra intervención importante es
busca crear un contexto para experiencias de luto
cómo, dado que en algunos de los espacios en los
y de recuerdos individuales colectivos. Al mismo
que la artista performa negridad y expropiación se
tiempo, la artista intenta abrir un espacio para
entrelazan, la danza de la artista funciona como un
reflexionar sobre pérdidas personales, como
gesto que piensa sobre la reapropiación de estos
también sobre cómo mujeres históricamente
territorios, como una expansión de las posibilidades
relevantes fueron borradas/eliminadas, como
de su presencia (negra). Danço na terra em que piso
es el caso de Alice Lenshina (1920 - 1978) y Julia
sugiere una (re)flexión sobre el territorio, el espacio
Chikamoneka (1910–1986), figuras importantes en la
y el lugar, reflexión que Felinto activa con el cuerpo,
historia de la lucha por la independencia en Zambia
por el cuerpo, en movimiento (negro), en performance
a comienzos de los años 1960, cuyas participaciones
(negra). Aunque el trabajo se haya producido en 2014,
no fueron debidamente documentadas o re/
esta sería la primera oportunidad para que el visitante
conocidas. De esta manera, mientras crea un espacio
lo pudiera experimentar con todo su cuerpo en una
de ritual y luto evocando narrativas de mujeres
sala inmersiva y, quién sabe, danzar con la artista.18
históricamente olvidadas, Erasing Erasure sirve
como un gesto hacia las mujeres contemporáneas, if I should die, tomorrow at the hands
cuyas historias están en proceso de borramiento. of the policeman,
En el caso de la artista visual e investigadora and the paper say
paulistana, Renata Felinto, la reflexión tiene que we’re going to call it a suicide, would
ver con las memorias afectivas de la artista con you even question why?
respecto a algunos espacios de la ciudad de São would you shake your head, and say
Paulo. En la video-performance Danço na terra the ain’t right,
em que piso (2014), Felinto danza elegantemente or do your best to forget about it,
en siete espacios públicos de la ciudad: frente a la please, please, please don’t
Catedral da Sé, en el Valle de Anhangabaú, en un
forget about me.
terreno vacío en la región de Cracolândia, frente a
la Estación da Luz, en el puente Mie Ken en el barrio Say my name19

16 La obra pública de la artista Beatriz González, Auras Anónimas está compuesta por 8947 lápidas serigráficas en hojas de
propileno con la silueta de cargadores llevando a los muertos. La obra está instalada en cuatro columbarios del Cementerio
Central de Bogotá.
17 Ponto de Nana. Compositor: Roque Ferreira. Intérprete: Mariene de Castro, 2012; Kuarup Kamairurá, Colectiva: Grupo indíge-
na Kamayurá, 2012.
18 La Bienal 12|Porto Alegre ofrecería diferentes experiencias inmersivas con las obras de, por ejemplo, Renata Felinto, Lungiswa
Gqunta, Lidia Lisbôa, en la Fundación Iberê Camargo y Juliana dos Santos, Gladys Kalichini y Lorraine O’Grady en el MARGS.
Me gusta imaginar qué tipo de reverberaciones y resquicios estas experiencias producirían.
19 Maimouna Youssef, Say My Name: Maimouna Youssef Music (ASCAP), 2017.

BIENAL 12 CATÁLOGO 310


Mi última observación de/en gathering quiero sensible, un espacio poético. Para la Bienal 12 | Porto
hacerla alrededor de reflexiones sobre paisaje en Alegre, Gambie expandiría la serie de collage The
las obras de Lorraine O’Grady, La Vaughn Belle y birth of Manman Chadwon (2018). Manman Chadwon
Gwladys Gambie, además de Lucia Laguna que es una figura de su mitología personal cuya creación
ya he mencionado. En el video Landscape (Western se inspiró en Manman Dlo, la diosa del océano en
Hemisphere)/Paisaje (Hemisferio occidental) (2010- la cultura afrocaribeña. El significado de la palabra
2012), de la artista estadounidense Lorraine O’Grady, Chadwon, en “creole”, también remite al erizo de mar,
la artista propone pensar sobre el paisaje a partir de una referencia recurrente en el trabajo de la artista.
mechas de rulos de su propio cabello, que se mueven
Discutiendo la obra de O’Grady, Edwards llama la
en diferentes direcciones, llevadas por el viento y
atención para los sentidos “múltiples, matizados y
acompañadas por una composición sonora producida
correlatos” del término “paisaje”. “[C]omo sustantivo,”
por el canto de pájaros, el ruido de grillos, chicharras
ella lo explica, “puede significar género artístico (como
y el propio viento. Reflexionando sobre la obra, la
en la pintura de paisaje), o como una topografía
investigadora en estudios de performance Adrienne
(como en una vista expansiva); y como verbo [en inglés
Edwards propone que “[en] los intersticios del cabello
to landscape], connota el cultivo, la disciplina y el
de O’Grady localizamos los residuos de la esclavitud,
delineamiento del suelo.”21 ¿Cuáles son, entonces, los
la resiliencia y persistencia de los espectros; un
sentidos de paisaje que cada una de estas artistas
testamento de supervivencia. También encontramos
pone en evidencia? ¿Cómo cada sentido se muestra
caminos de resistencia transgresiva embutidos en
atravesado por las intervenciones coloniales y sus
la altura, profundidad y expansión de sus ondas.”
supervivencias? ¿Cómo la obra Siboney (2014) de
Desde la mención de sus usos radicales en la historia
la artista Joiri Minaya complicaría estas lecturas?
de la diáspora africana en las américas (Whabira),
En su performance, cuyo registro en video sería
hasta su presencia en la composición formal de las
presentado en el MARGS junto con las pinturas de
obras (Rezende, Sanvoy y O’Grady), el cabello ha sido
Lucia Laguna, Minaya se involucra en un largo,
un elemento recurrente, movilizado como categoría
laborioso y detallado trabajo para (re)construir en
analítica a través de la que las artistas reflexionan
mural, en la pared de un museo, un paisaje tropical a
sobre esclavitud, resistencia y sus permanencias.20
partir del estampado de una tela que ella encontró.
Para la Bienal 12|Porto Alegre, la artista visual de las Enseguida, la artista borra el mural (y el paisaje) y
Islas Vírgenes, La Vaugh Belle, produciría una versión lo transforma fregando sobre él su cuerpo mojado
del trabajo Storm (And Other Violent Interruptions al ritmo de la canción Siboney (Ernesto Lecuona,
Of The Pintoresco) (2016-2020). La obra original está 1927) interpretada por Connie Francis (1960).
compuesta por una serie de dibujos en carbón sobre
Los collages de Gwladys Gambie serían presentados
papel en los que la artista contrasta imágenes de
en el Memorial de Rio Grande do Sul compartiendo
la palmera “sublime”, presente en representaciones
la sala con los dibujos de la serie About Frictions
coloniales con imágenes de tempestades tropicales.
(Sobre fricciones) y About Affections (Sobre afectos)
En esta versión de la obra, sin embargo, La Vaugh
de la grabadora, arquitecta y maestra fabricante
Belle produciría un dibujo de gran escala hecho
de herramientas de santo Eneida Sanches. Sanches
directamente en la pared. Storm propone una
es (re)conocida como la primera mujer en diseñar
ruptura con las narrativas sobre lo pintoresco que
y producir ferramentas de santo (artefactos de
a menudo se relaciona con el paisaje del Caribe en
hierro destinados al culto en religiones de origen
discursos coloniales, tensionando los sentidos de las
africana) en Brasil, un importante trabajo ancestral
ideas de fragilidad, vulnerabilidad y resistencia.
que ella comparte a través de cursos y talleres para
Con una práctica en dibujo, collage y performance, jóvenes aprendices. En el caso de Eneida, por lo
la artista Gwladys Gambie propone interrogaciones tanto, gestos y estrategias femeninas se traducen
sobre la mujer negra y sus representaciones tanto también en actos de martillar y soldar. Parte de su
en la Martinica, isla donde la artista vive y trabaja, investigación sobre el grabado como im/presión y
como en el Caribe en general. El paisaje del Caribe y sus desdoblamientos, los grabados-dibujos (o dibujos
el “creole” como parte del paisaje sonoro de la región, híbridos) presentados en la Bienal 12 | Porto Alegre
son articulaciones importantes en esta reflexión. articulan experimentaciones con el grafito sobre
Estos elementos informan el imaginario de la artista el papel, la punta seca sobre el plomo, y el dibujo
y la iconografía específica que ella utiliza para sobre el cobre. Los dibujos de la serie About Frictions
representar, de modo decolonial, el cuerpo de la mujer emergen de las fricciones, rasgos e inserciones que
negra que para Gambie, es un espacio topográfico la artista hace sobre el metal. En About Affections

20 Adrienne Edwards, Blackness in Abstraction, “Lorraine O’Grady”, Pace, New York, 2016, pp. 173-176.
21 Idem.

311 BIENAL 12 CATÁLOGO


la artista explora la idea de la imagen del grabado
como sello pensada a partir del cuerpo y sus
posibles afectos: el papel (cuerpo) en acordeón
adquiere movimiento de expansión y contracción,
moviendo, expandiendo y desplazando, también,
nuestra comprensión sobre el grabado y el diseño.

“¿Alguien podría teorizar efectivamente sobre


un proceso en expansión?” Estas reflexiones son
frutos de mi oscilación, de mi danza imperfecta
e inacabada, entre la pregunta de Christian y la
propuesta de da Silva, entre intentos de teorizar
sobre un proceso en expansión, de teorizar como
proceso (siempre) en (proceso de) expansión, y de
rast(r)ear, tanteando en la oscuridad, pistas de la
“gama de posibilidades para saber, hacer y existir”
que una poÉtica de negridad anunciaría. Invirtiendo
y parafraseando la afirmación de Christian, pienso
gathering place, el lugar de encuentro y aglomeración,
el espacio de agrupación, de hábitos de assemblage
y acumulación, como articulación de teorías, como
(lugar de) movimiento (negro), como performance
(negra). Resta, sin embargo, una última pregunta
que quiero hacerme a mí misma, bien bajito, incluso
susurrando: ¿alguien podría teorizar (imaginar y
reflexionar, deambular y danzar) sin respirar?

I can’t breathe, I can’t breathe,


I can’t breathe,
I can’t
breathe.

BIENAL 12 CATÁLOGO 312


ACTIVIDADES DE CUIDADO: Trabajos de Amor, Furia y Luto
Dorota Biczel
Curadora Adjunta
University of Houston / Art Institute of Chicago

I. servicios, como en la ausencia de pago para las


amas de casa. No sorprende, entonces, que entre
las demandas enviadas al Museo de Brooklyn tres
Todo los días necesitamos
años después, el grupo de artistas negras “Where
redescubrir cómo vivir, carajo.1 We At” haya insistido para que la institución les
Después de la revolución, brindara servicios de guardería o talleres infantiles
¿quién va a recoger la basura para que las madres pudieran participar en las
clases. Ellas solicitaron becas de estudio para
los lunes por la mañana?2
mujeres que trabajaban durante el día.5 También
“Yo, demonios, lavo, limpio, cocino, reformo, pidieron que el Museo ayudara a garantizar que
apoyo, conservo, etc.”, escribió la artista Mierle las artistas tuviesen espacios de convivencia y
Laderman Ukeles en 1969.3 “Además de todo esto de trabajo. Conforme Laderman Ukeles tanto
(hasta ahora por separado), ‘hago’ Arte”, continuó. como el grupo de artistas negras “Where We At”
Ampliamente considerado uno de los textos realizaban sus duras críticas en los Estados Unidos
fundamentales del arte feminista --aunque muchas de los años sesenta y setenta, las presiones por
veces ignorado--, su propuesta para la exposición desempeñar el trabajo doméstico y realizar una
“Care” (Cuidado) se conoce como “Manifiesto carrera socialmente reconocida, capaz de quebrar los
por el Arte del Mantenimiento”.4 Aunque no sea “techos de cristal”, eran simplemente incompatibles.
exactamente un grito de guerra, este se inflama El hogar, si tienes uno, podía y aún puede ser un
con un sentimiento persistente de queja. Después refugio semejante a un oasis que sustenta la vida.
de todo, el “mantenimiento” –lavar, limpiar, hacer También podía matarte. Y aún puede hacerlo.
compras, cocinar, alimentarse, cuidar de los hijos, de
A mediados de 2020, también lavo, limpio, cocino,
los enfermos, de los discapacitados, de los ancianos
reformo, apoyo y preservo. De hecho, en los últimos
etc.– “ocupa toda la porquería del tiempo”, conforme
seis meses, es posible que haya realizado mucho
Laderman Ukeles enojadamente (imagino yo) escribió
más trabajo de cuidado que antes. Tan pronto como
sin guardar preocupación por el decoro. La furia
salí del purgatorio de prestación de servicios de
emerge no solo porque las tareas domésticas son
inmigrantes, sustenté mi barato trabajo académico
dolorosamente aburridas. Los quehaceres domésticos
y de curaduría delegando muchas tareas rutinarias
compiten con las exigencias del trabajo remunerado:
de mantenimiento de mi vida en mano de obra aún
corregir los malditos errores tipográficos o finalizar
más barata, principalmente de mujeres negras y
textos e informes. Para empeorar la situación, las
otras mujeres migrantes. Sin hijos, en una relación,
tediosas tareas de cuidado no se valorizan social ni
pero no legalmente casada, no prestaba mucha
económicamente. “La cultura otorga una pésima
atención a mis pequeños privilegios: cafés, almuerzos
posición social a los empleos de mantenimiento”,
y cenas comprados. Incluso pagaba para que una
se quejó Laderman Ukeles, algo que, en su opinión,
persona hiciera una limpieza completa en mi casa
se traduce tanto en salarios mínimos para aquellos
de vez en cuando. Como suele suceder, el hecho de
contratados como porteros o trabajadores de
estar privada de privilegios me hizo extremadamente

1 Calamity Jane en Deadwood, “Tell Your God to Ready For Blood”, temporada 3, episodio 1, dirección de Mark Tinker, escrito por
David Milch y Ted Mann, HBO, 11 de junio de 2006.
2 Mierle Laderman Ukeles, “Manifiesto por el Arte del Mantenimiento”, 1969, https://queensmuseum.org/wp-content/uplo-
ads/2016/04/Ukeles-Manifesto-for-Maintenance-Art-1969.pdf.
3 Laderman Ukeles, “Manifiesto por el Arte del Mantenimiento”.
4 Notablemente, Arte de Mantanimiento en el Museo de Arte de Queens, organizada por Larisa Harris y la cocuradora invitada
Patricia C. Phillips, fue la primera retrospectiva institucional de la artista a la edad madura de 77 años (18 de septiembre de
2016 a 19 de febrero de 2017). Laderman Ukeles nació en 1939.
5 Kay Brown, “‘Where We At’ Black Women Artists”, Feminist Art Journal (abril de 1972): 25; reimpreso en We Wanted a Revo-
lution: Black Radical Women, 1965–85: A Sourcebook, edición de Catherine Morris y Rujeko Hockley (Brooklyn, NY: Museo de
Brooklyn, 2017), 62–4.

313 BIENAL 12 CATÁLOGO


conciente de su existencia. El tratamiento Por lo tanto, el nuevo coronavirus simplemente
inesperado, brutal, necesario para salvar la vida hace visible y nombrable el valor indispensable del
de mi compañero, exigió una dedicación total a fin trabajo de cuidado y su continua crisis; el punto
de preservarlo del acelerado proceso de deterioro crítico de la paradoja que feministas críticas y
de su cuerpo. Las precauciones de la pandemia pioneras de la segunda ola como Laderman Ukeles
global me privaron de la posibilidad de tercerizar las identificaron hace 50 años. Desde el comienzo del
actividades de cuidado esenciales para mantener proyecto, la 12ª Bienal del Mercosur buscaba mapear
la vida. Dedicada a mantener las necesidades las conexiones entre artistas que surgieron a fines
básicas, me volví profesionalmente inadecuada. de los años sesenta y comienzos de los setenta
–hoy considerados históricos, aun cuando sus
Aun así, estoy improvisando estas palabras desde
actividades han continuado en forma incansable–
Houston, Texas, en los Estados Unidos, donde vivo,
y sus colegas contemporáneos. Las generaciones
para el público de la Bienal del Mercosur en Porto
posteriores de mujeres negras y de la comunidad
Alegre, Brasil. Independientemente de la concepción
LGBTQ siguieron enfrentando las cuestiones con las
original de la exposición de 2020 y de las redes
que sus antecesoras se involucraron, no sin criticar,
conceptuales y afectivas que esta anhelaba revelar
actualizar, ajustar o subvertir los principios de las
y crear, trazo una conexión entre los dos estados-
propuestas históricas para explicar las intersecciones
naciones más afectados por el nuevo coronavirus.
de género con clase, raza y sexualidad y las
Y, a través de mi escritura, busco que las distancias
experiencias de cuerpos diversos, en disidencias de
espaciales y temporales se desmoronen. La actual
género con el sistema capitalista heteropatriarcal.
urgencia global manifiesta los desafíos que plantea
el “trabajo de mantenimiento” en las sociedades Consideremos, por ejemplo, la serie de fotografías
capitalistas, problemas que abordaron las feministas La otra (2001) de la artista peruana Natalia Iguiñiz.
de la segunda ola y que nunca fueron solucionados. A primera vista, los retratos combinados en tamaño
Las mujeres, además, nunca tuvieron oportunidades natural de mujeres fotografiados en ambientes
realmente significativas, desde ningún parámetro domésticos, generalmente en salas de estar, parecen
realista.6 Y aunque el trabajo de mantenimiento indicar las tradicionales jerarquías de clase y de raza
no sea una carga equitativamente distribuida, en Perú: las mujeres criollas de piel clara son las
afectando sobre todo a las mujeres racializadas y amas de sus hogares y las mujeres corpulentas de
migrantes, las actuales circunstancias revelan con piel oscura de los Andes y de la región amazónica,
mayor claridad que nunca la crisis de las taresas de el soporte invisible de las cocinas y lavaderos, hacen
cuidado y su relación con la profundización de las que esas mini soberanías funcionen como máquinas
desigualdades.7 Estos meses de 2020 dejan bien claro bien lubricadas. En este nivel, la serie establece una
el tiempo que exige y lo laborioso que es mantener jerarquía binaria entre las mujeres que lucran y las
la vida. Lo siento en mi cuerpo cuando me ocupo de que viven dentro del presupuesto; entre las que siguen
las tareas triviales que devoran las horas en las que carreras y las que subsisten; entre aquellas cuyas
estoy despierta. Lo siento cada vez que me pongo vidas pueden adquirir status de fama y aquellas
a analizar si estoy con alguna alergia estacional cuyas vidas no importan en el sistema social. Aquellas
o presentando síntomas de COVID-19. Al mismo mujeres que cuidan diariamente de bebés y de
tiempo, más lúcidamente que nunca, entiendo el mascotas están muchas veces doblemente marcadas
valor intrínseco de la pequeña vida que construí para en relación con las otras: están obligadas a vestir
mí misma. No quiero perderla. Y, aun así, nuestras uniformes que las diferencien clara y legiblemente de
vidas preciosas parecen no significar nada para los las “verdaderas” madres, de las familias de sangre.
parámetros capitalistas macroeconómicos. O, en otras Hasta hace poco tiempo fuera del alcance de la
palabras, la economía capitalista es incompatible estructura de las leyes laborales peruanas, estas
con la tarea básica de mantener la vida: quienes mujeres sufren continuamente el riesgo de exploración
cuidan y los profesionales considerados “esenciales” y esclavitud, ya que frecuentemente trabajan como
durante la pandemia, al mismo tiempo que corren los empleadas domésticas cama adentro sin contratos
mayores riesgos reciben las peores remuneraciones. ni beneficios. Para abordar esto, alrededor de la
misma época, Iguiñiz también creó afiches para las

6 Un retrato convincente de la generación de los EUA que fue llevada al error de creer que ellas sí “podrían tenerlo todo” está
representado en la obra de Ada Calhoun llamada Why We Can’t Sleep: Women’s New Midlife Crisis (Nueva York: Grove Press,
2020).
7 En el contexto de los EUA, el debate sobre este tema tiene más de una década. Ver, por ejemplo, Nancy Fraser, “Contradic-
tions of Capital and Care” en New Left Review 100 (Julio/Agosto de 2016): 99 - 117. En español, ver, por ejemplo, Mercedes
D’Alessandro, “La economía de los cuidados: Quién cuida y quién prepara la cena como problema social,” La Vanguardia, 9 de
octubre de 2019, https://www.lavanguardia.com/vanguardia-dossier/20191009/47872496945/feminismo-igualdad-mujeres-
-hombres-tareas-del-hogar-tareas-domesticas-baja-paternal.html.

BIENAL 12 CATÁLOGO 314


campañas de las organizaciones de trabajadoras atravesando el falso binarismo de lo privado y lo
domésticas que articulaban sus demandas por un público. Así pueden reconstituir nuestro trabajo
trabajo reglamentado y justo: jornada de ocho horas diario, las instituciones que formulan nuestro
laborales por día, previsión social, bonos, día de trabajo y el mundo donde vivimos. Podemos, así,
descanso y salario mínimo digno.8 En este sentido, proclamar no una pérdida o carencia, sino el valor
Iguiñiz insiste en que la situación de las mujeres de intrínseco de lo que ya tenemos, comenzando con
clase media y alta no puede ser comparada con la nuestros propios frágiles cuerpos mortales.
condición precaria de las mujeres racializadas que
De hecho, en el “¡Manifiesto por el Arte del
enfrentan una opresión triple en la intersección entre
Mantenimiento!”, Laderman Ukeles confrontó dos
género, clase y raza. Al mismo tiempo, al incluir
sistemas antagónicos y dos “instintos” de oposición
un retrato de dos mujeres que parecen hermanas
que los generaron. Por un lado: el instinto de la muerte
(por ejemplo, Verônica y Norberta) –misma altura,
que se dirige al “desarrollo”, el progreso y el avance.
constitución física, postura, cabellos negros largos
Por el otro, el instinto de la vida preocupado por el
y ondulados, rostros redondos y suaves similares,
mantenimiento. Estos dos sistemas, de desarrollo
y traje igualmente informal– la artista vuelve
y de mantenimiento, ofrecen una base firme para
visible el trabajo de cuidado en una sociedad
valores y formas de organización que estructuran la
imaginada por ser efectivamente compuesta solo
personalidad y sus relaciones con los demás seres
por héroes masculinos: soldados, campesinos y
que habitan nuestro planeta y con el propio planeta.
trabajadores de la industria. Aunque son las mujeres
Para Laderman Ukeles, el desarrollo motiva las
invisibles y perenemente marginalizadas las que
prácticas de vanguardia altamente individualistas
permiten el funcionamiento de esta sociedad.9
que exaltan la novedad y el cambio constante; la
la parte interior de las semillas es actitud que sostiene el “haga lo que quiera”. Pienso
suave. / ELLO se conoce únicamente en la caricatura de un “genio” heroico masculino
viviéndolo. Sea lo que fuere ELLO / que debe de haberla atormentado cuando era
ELLO está todavía por descubrirse.10 una joven artista. A su vez, el mantenimiento se
orienta colectivamente en dirección a lo que la
En una infinidad de formas, el grupo de artistas artista denominó supervivencia: la perpetuación
intergeneracional incluido en la 12ª Bienal del y el mantenimiento de las especies y de la tierra
Mercosur insiste en dedicarse y regresar a temas que las nutre.12 Este proceso no linear, generativo y
multifacéticos de mantenimiento y cuidado. Lo regenerativo se caracteriza por la repetición o por el
que es inspirador en este conjunto de trabajos no “eterno regreso”. Para usar la teoría contemporánea
es solamente la urgencia de sus quejas o la fuerza y explicar el significado innovador del Arte del
de sus muchas indignaciones: contra la violencia, Mantenimiento, con su distinción entre desarrollo y
contra la opresión, contra el capitalismo, contra el mantenimiento, Laderman Ukeles llega a diagnosticar
racismo, contra el colonialismo y el imperialismo.11 la preocupación capitalista con la maximización
Lo es también la afirmación de las artistas del poder de la producción y de las ganancias, por un lado, y
y de la importancia de las actividades creadoras la reproducción social, en otras palabras, la amplia
de la vida y su reivindicación para centralizar estas variedad de actividades creadoras de la vida que
actividades como ímpetu exclusivo de nuestro son el estímulo no reconocido y subestimado del
proceso de toma de decisiones. Estas actividades sistema económico (o sea, la producción), por el
creadoras de la vida abarcan todas las escalas,

8 Miguel A López, “Natalia Iguiñiz en una genealogía de solidaridad y supervivencia: Arte, activismo y feminismo desde la tierra
de la misoginia” en Energías sociales / Fuerzas vitales. Natalia Iguiñiz: arte, activismo, feminismo (1994–2018) (Lima: ICPNA,
2018), 38. La Ley nº 27986 que reglamenta el trabajo doméstico fue firmada oficialmente en junio de 2003.
9 Como Miguel A. López sugiere, una línea distinta en La otra es la crítica institucional señalada por la inclusión de personali-
dades famosas del escenario de arte local tales como la galerista Claudia Polar. López, “Natalia Iguiñiz en una genealogía de
solidaridad y supervivencia,” 36.
10 Cecilia Vicuña, “No manifesto de la tribu No,” 1967, manuscrito inédito.
11 Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya y Nancy Fraser sintetizan perfectamente mis pensamientos en Feminism for the 99%: A
Manifesto (Londres: Verso, 2019).
12 Parafraseando casi literalmente, en la parte final, “Earth Maintenace” [Mantenimiento de la tierra], Laderman Ukeles pide la
purificación de los residuos urbanos, la descontaminación del aire, la rehabilitación del agua y la preservación de la tierra.

315 BIENAL 12 CATÁLOGO


otro.13 Y, como la artista persistentemente nota, estas Sería posible imaginar tener una basurita en la
actividades creadoras de la vida son de largo alcance, palma de la mano, agarrándolo firmemente como
y se extienden mucho más allá de la privacidad del un puñado de piedras preciosas o de semillas
hogar. Son personales, generales y planetarias y conservadoras de la vida (como las semillas que la
abarcan todas las dimensiones y aspectos de la vida artista imploró al Presidente Salvador Allende que él
y de la política. Estas también exigen la reinvención tomara y sembrara). De la misma manera, muchas
del sistema económico y de las instituciones sociales, veces en miniatura, los libros únicos hechos a mano
incluyendo la institución del arte, para priorizar el de Vicuña invitan a los lectores/observadores a
mantenimiento de la vida (el trabajo de cuidado). abrir suavemente minúsculos pergaminos de tela,
sacudir diminutos pedacitos de papel, desenredar
Si el trabajo del arte contemporáneo del cuidado
hilos delicados que sirven como vasos sanguíneos
puede reivindicar otra referente, esta es la artista
metafóricos conectando trazos de tinta o bolígrafo.
chilena Cecilia Vicuña, hermana quintaesencial de
A su vez, sus “quipus” de tiras suaves de lana no
Laderman Ukeles. La centralidad de la vida y de la
deshilachada o de sisal rígido –llamados así por los
creación de la vida, de hecho, su control mágico y
antiguos dispositivos de registro de los incas hechos
magnético, están en el centro de la obra subversiva
con cordeles anudados– envuelven los cuerpos de
de Vicuña titulada “No manifiesto de la tribu No”
los observadores como si estuvieran en un capullo,
que ella escribió en 1967, dos años antes del texto
útero o floresta. Entre los dos tamaños y escalas,
de Laderman Ukeles. Escrito para un grupo vibrante
Vicuña establece una relación recíproca entre
de jóvenes artistas descaradamente sensuales y
cuidar y acariciar; ser cuidado y acariciado. El toque
contestadores, incluyendo Claudio Bertoni, Sonia
concretizado establece relaciones: trae las obras
Jara, Francisco Rivera, Coca Roccatagliata y Marcelo
a la existencia y crea una interdependencia entre
Charlín, que utilizaron las calles de Santiago como
el sujeto y el objeto; entre el mundo, su materia y
soporte para sus acciones y performance, el texto
nosotros. Evocando las culturas precolombinas de los
de Vicuña exalta la propia vida como la única fuerza
Andes, el nombre “quipu” funciona como un cordón
vital significativa y como la única cosa por la que
umbilical metafórico reconectando a la artista con
vale la pena vivir. “Mientras que la vida persista en
sus ancestrales raíces indígenas. También propone
nuestras experiencias individuales, aunque unidas,
una cosmología, una visión de mundo y un sistema de
nada nos molestará”, ella escribe.14 La expresión
valores alternativos a la tradición judaico-cristiana
“experiencias individuales, aunque unidas” sugiere
patriarcal y logocéntrica impuesta por el así llamado
la interconexión y la interdependencia de los seres,
Occidente. Vicuña imagina un quipu como un rizoma
humanos y no humanos, similar al vínculo entre
que incluye y une todo lo que existe. Ella escribe
personal, general y planetario que Laderman Ukeles
sobre cordones reales e hilos imaginarios: “El quipu
explora. Cuando Vicuña creó su texto oposicional,
y el ceque dieron vida a los valles que conectan las
ella ya había comenzado a reunir sus minúsculas
comunidades con el todo, creando una visión de la
basuritas/precarios: assemblages íntimas formadas
tierra y/o de los recursos como un ser vivo.”15 Para
por materiales y objetos encontrados, naturales y
la Bienal, Vicuña imaginó el quipu Los Testigos /
artificiales. La imagino juntando de forma cuidadosa
Spirit Poncho como un testigo contestador de la
y amorosa las piezas y residuos insignificantes del
destrucción de la región amazónica y el exterminio
día a día y los ciclos de la tierra como la heroína sin
de sus pueblos indígenas. Incorporando materiales
nombre que Laderman Ukeles estaba buscando
del atelier de la artista en Nueva York y residuos
implícitamente. Vicuña encarna al esencial, aunque
recogidos en diversas comunidades en Brasil, esto
ignorado, trabajador/cuidador que recoge la basura
presenta una red planetaria de responsabilidad
después de la revolución proverbial. Más, todavía: ella
y resistencia. La supervivencia y la reproducción
también actúa como un agente alquímico que crea, a
conciernen a todas las especies y materias.
partir de la basura, registros preciosos de lo cotidiano,
con todas sus cualidades gloriosas y abyectas.

13 Laderman Ukeles escribe: “Retiren el polvo de la creación individual pura, preserven lo nuevo, mantengan el cambio, pro-
tejan el progreso, defiendan y prolonguen el avance, renueven el entusiasmo”. Sobre la teoría de la reproducción social, vea:
Tithi Bhattacharaya, ed., Social Reproduction Theory: Remapping Class, Recentering Oppression (Londres: Pluto Press, 2017);
Dossier: Social Reproduction Theory, Radical Philosophy 2.04 (Primavera de 2019), https://www.radicalphilosophy.com/is-
sues/204; y Sarah Jaffe, “Social Reproduction and the Pandemic, with Tithi Bhattacharya,” Dissent, 2 de abril de 2020, https://
www.dissentmagazine.org/online_articles/social-reproduction-and-the-pandemic-with-tithi-bhattacharya. En el contexto del
arte y de la historia del arte, ver la edición especial del periódico Third Text 31.1 (2017), “Social Reproduction and Art,” editado
por Angela Dimitrakaki & Kirsten Lloyd. Un precedente clásico para estas recientes teorizaciones es el volumen de Lise Vogel,
Marxism and the Oppresion of Women: Toward a Unitary Theory (Rutgers University Press, 1983).
14 Vicuña, “The No Manifesto of Tribu No” en Manifestos and Polemics in Latin American Modern Art, 205.
15 Cecilia Vicuña, “White/Red,” in About to Happen (Catskill, NY: Siglio Press, 2017), 27. Ceque es una de las 42 líneas rituales que
irradian hacia afuera a partir del centro en el templo Qorikancha en Cusco, que establece la red de los lugares ceremoniales de
los incas. Ver Brian S. Bauer, The Sacred Landscape of the Inca: The Cusco Ceque System (Austin: University of Texas Press, 1998).

BIENAL 12 CATÁLOGO 316


Mucho ya se ha escrito sobre los paralelos entre campo para la autoexpresión y creatividad femeninas
una palabra y un hilo, los escritos y los tejidos en confinadas a la esfera privada. Los postes colocados
el rico conjunto de trabajo de Vicuña que incluye en una variedad de calzados usados que obtuvo de
poesía, creación de imágenes en diversos medios amigos (en la versión original de la instalación en
y la instalación escultural. En el contexto de la Lima), refieren a los diversos soportes necesarios
necesaria abolición de los sistemas extractivos, tanto para la acción individual como para la colectiva.
también pienso en otra subversión de la tradición Cualquier voz singular depende de y forma parte de
logocéntrica que el trabajo de ella realiza: un hilo es un coro. Contra el excepcionalismo del feminismo
un agente creador de vida alternativo a la palabra liberal que incentiva a las mujeres a buscar avances
generativa. No solo el hilo y la fibra de la artista profesionales y cargos de liderazgo, Otta defiende
conversan con sus tradiciones andinas ancestrales; una amplia solidaridad de bases como la única
estos también evocan historias de creación de plataforma viable para la lucha de las mujeres.
los pueblos indígenas norteamericanos. En estas
Lo que es más importante, tal vez, es que sus coloridos
historias, no es la palabra de Dios la que lleva a la
carteles de protesta están bordados con citas de
existencia del mundo. En su lugar, es el hilo tejido por
algunas de las más notables poetisas peruanas de
una mujer araña, que lo utiliza para tejer a todas las
diversas generaciones como Blanca Varela, Carmen
criaturas de la tierra. Ella literalmente trabaja para
Ollé y Montserrat Álvarez, que resuenan como
crearlas a través de un acto corpóreo y material.
slogans de furia, denuncia y autoafirmación. Contra
Sus creaciones son finitas y sensibles a la violencia:
la voz autoral paternalista, Montserrat II afirma que
requieren cuidado. Recogiendo las fibras hiladas
la historia de una mujer no puede ser contada por
por Vicuña, Laderman Ukeles y Iguiñiz, en lo que
ninguna otra persona que no sea ella misma. “No
resta de este ensayo trazo otras manifestaciones
les permitas escribir / tu miedo, tu final, tu caída /
del trabajo de cuidado y de mantenimiento que
No les permitas escribir eso”, ella advierte. Carmen
se relacionan con la reproducción social o con la
le devuelve la lucha por la palabra al cuerpo y habla
creación de la vida en general, de diversas formas,
con las marcas profundas que las batallas diarias
en las obras de algunos de los artistas invitados
por la supervivencia producen en la carne: “Hoy se
a la Bienal. Por esta razón, este texto no abarca
pierde un diente / mañana un ovario / ¿cómo hay
todas las obras. Por el contrario, es una urdiembre
que disimular una cicatriz de cesárea?” La pregunta
para que usted pueda crear su propio tejido.
es, obviamente, retórica, ya que pide lo imposible.
Rompe un hueso para comer el Con sus constantes evocaciones del cuerpo y de la
tuetano e inventa el instrumento.16 fisiología, las palabras de las mujeres son violentas e
insisten en que hasta las pequeñas luchas cotidianas
El hecho de que venir a existir en el mundo no no son solamente psicológicas, intelectuales o incluso
es simplemente el gesto de una individualidad ideológicas, sino intrínsecamente encarnadas, como
desincorporada, resuena profundamente en la serie las complejas extensiones enmarañadas del hilo
de Eliana Otta titulada Women’s Words (Palabras que escribe las historias de las protagonistas. Aquí,
de mujeres, 2017). En el contexto del machismo y también, el contexto es todo. El proyecto de Otta
de la violencia que dominan la vida política, social explora la ola de protestas en toda América Latina,
y cultural de su país natal, Perú, Otta insiste en la que bajo el clamor “Ni una menos” viene barriendo
cuestión feminista quintaesencial que en los últimos el continente desde 2015.17 Aun así, la serie Women’s
cincuenta años no perdió urgencia: “¿Cómo una mujer Words nos hace recordar las actuales movilizaciones
puede reivindicar su voz en la esfera pública?” Su serie que se apoyan en los beneficios y las frustraciones
reúne un video de entrevistas con políticos y músicos de las generaciones anteriores de portavoces y
veteranos que relatan las historias de sus propias activistas (el coro que se extiende en el tiempo y en
inserciones en el escenario peruano junto a banderas el espacio). Más aun, nunca hubo y nunca habrá esa
fabricadas con lonas de plástico y telas domésticas. tal “lucha menor” mientras el simple hecho de ser
Como herramientas para una manifestación política, mujer o un ser en disidencia de género pueda llevar
las banderas de Otta revelan en público (sea en a que alguien le trate con brutalidad o le asesine
una galería o en la calle) repasadores y trapos de (independientemente de los privilegios de clase o
limpieza como sustitutos de la “artesanía” y el trabajo piel clara). Hay sangre en tu pan de cada día aunque
doméstico que habían constituido históricamente el no lo veas, insiste Otta con Montserrat Álvarez.18

16 Eliana Otta, Women’s Words, Montserrat I, 2017.


17 Acerca de la exposición de Otta en Lima, Andrea Giunta, Luis Vargas Santiago y yo reunimos reflexiones sobre la violencia de
género y #NiUnaMenos en el dossier “Descolonizaciones inciertas II: #NiUnaMenos/Descolonizações Incertas II: #NiUnaMe-
nos”, arteBA 4 (Enero/Junio de 2017), 100–11.
18 Montserrat III dice: “Porque no ves la sangre con que se amasa el pan del desayuno”.

317 BIENAL 12 CATÁLOGO


La lucha entre qué y quién tiene y no tiene permiso próspero ecosistema que rodea su casa. De hecho, la
para ser visto y oído y dónde, también es una floresta es su soporte, le sirve como atelier, laboratorio
constante en la práctica de Juliana Vidal, natural y galería. La tierra es la fuente de tintas derivadas de
de la ciudad de Cuenca (nacida Tania Marcela Vidal plantas e insectos y de las fibras naturales que Aruma
Barrera). Como una perita forense, ella recoge, trama en sus tejidos, instalaciones, presentaciones
cataloga y exhibe diversos vestigios de cuerpos y obras interactivas de imágenes inmóviles y en
humanos: pequeños ombligos parecidos moldeados movimiento. En realidad, para ella, los hilos de la
en yeso, vulvas blancas y brillosas abriéndose en fibra óptica, los conductores, sensores de color y
el centro de platos de cerámica, y los moldes de movimiento, las luces de LED y los altoparlantes
cicatrices revistiendo paredes inmaculadas de galerías sirven como extensiones de tecnologías antiguas.
como hongos casi imperceptibles. Los medios de
Al entrelazar lo nuevo y lo viejo, sus tejidos sirven
catalogación que ella emplea –fotografía analógica y
como canales de energía entre diferentes formas
varias formas de fundición escultural con base en las
de vida: entre plantas, animales y humanos. Sus
impresiones del cuerpo– insisten en el carácter real
tejidos captan bioenergía de la flora y fauna nativas:
de sus registros. Para la Bienal de 2020, Vidal planeó
el cactus ayrampo, por ejemplo. Ellos también
una variación con respecto a su instalación de 2017
extraen la energía de los cuerpos humanos y los
titulada Índices de resistencia. Formada por más de
animales que los activan con sus movimientos,
cien ladrillos de barro producidos artesanalmente,
sonidos o ambos. Por esta razón, cada uno de
su pieza lleva las marcas del propio cuerpo de la
los tejidos de Aruma constituye un medio de
artista. En las superficies con costras, embarradas, las
transmisión y un lugar específico de intercambio
palmas abiertas y las suelas de los pies, como huellas
entre las especies. Estos simbolizan la ética de la
en una playa, se intercalan con orificios perforados
reciprocidad e interdependencia de los pueblos
por los dedos del pie y los puños cerrados: la materia
indígenas de Abya Yala. La creación de la vida y el
está en conflicto con un ser vivo. Como los cuerpos
cuidado conciernen, o deben concernir a todas las
insinuados en la obra de Otta titulada Women’s Words
criaturas. Integradas en un mundo y entrelazadas,
(Palabras de mujeres), los de Vidal también es una
las especies dan exactamente tanto como
entidad agresiva que sugiere una lucha compartida.
pueden y reciben exactamente lo que necesitan
Es el cuerpo de una mujer que afirma su presencia
para garantizar la supervivencia y el desarrollo
en el espacio público, reivindicando autonomía al
de todos. Los seres humanos no deben ser la
marcar su territorio. La elección del material, que
excepción a esta regla. Para Aruma, están en juego
alude a las prácticas arquitectónicas vernaculares,
la preservación de seres nativos no humanos y el
también refiere a un cuerpo implícitamente
conocimiento rural oriundo del pasado precolonial.
clasificado y determinado por medio de la raza de
un mestizo o individuo indígena. Finalmente, este La lucha por la supervivencia y por la vida anima
cuerpo es antiguo, siglos más antiguo que la propia las escenas de fotocollage de la pareja canadiense
artista, íntimamente familiarizado con la tierra. formada por Carole Condé y Karl Beveridge. Una
activista indígena de Cochabamba, que imagino que
La fibra puede llevar lo privado a lo público,
podría ser uno de los vecinos de Aruma hablantes del
revelando una entidad oculta en una expresión
idioma quechua, es el personaje central de The Fall
secundaria, como lo hace en la obra de Otta.
of Water [La Caída del Agua] (2006–07). El trabajo
También puede trenzar diversas entidades en una red
redefine una de las obras maestras del Renacimiento
interdependiente. Al igual que Vicuña, la fabricante
del Norte de Europa, la pintura llamada Caída de los
de telas boliviana Sandra de Berduccy, conocida
Ángeles Rebeldes (1562), de Peter Bruegel el Viejo,
como Aruma, entrelaza el pasado y el futuro;
para presentar una alegoría del conflicto global
criaturas humanas y no humanas.19 Como Otta y
entre los defensores y los abusadores del agua
otros, ella también aprendió con sus antepasados:
como una batalla perene entre el bien y el mal. La
su abuela y las maestras tejedoras indígenas del
cholita luchando contra la privatización del agua
área de Potosí que ahora son sus vecinas en la seca
sustituye al principal guerrero del Dios cristiano,
floresta ancestral en los alrededores de Cochabamba,
el Arcángel Miguel. En lugar de su capa azul, un
donde todas ellas habitan. Aruma utiliza técnicas y
aguayo (tejido multicolor) ondea sobre una masa de
herramientas andinas antiguas, como un hueso de
grotescos mercenarios corporativos. Ella no es un
llama que ella usa para apretar la trama hacia abajo.
ser sagrado celestial inmortal, sino una habitante
Específicamente, ella utiliza un telar portátil que
mortal y finita enraizada en los ciclos de la vida
conecta su cuerpo con los árboles mientras trabaja,
terrestre. Flanqueada por una mujer india vestida de
uniéndola al medio ambiente. Su proceso depende del

19 Para más detalles sobre la obra de Berduccy, ver Valentina Montero Peña, “El telar como máquina sensorial y de pensamiento.
La investigación artística de aruma - Sandra De Berduccy,” Artnodes 25 (2020): 1-9; http://doi.org/10.7238/a.v0i25.3277.

BIENAL 12 CATÁLOGO 318


sari a su izquierda y por un ambientalista canadiense en receptáculos huecos de los medios y de la
a su derecha, ella prepara la ofensiva contra los industria farmacéutica. Dado que los protagonistas
agresores monstruosos, incentivada por los activistas de Condé y Beveridge tienen la opinión final al
de varias otras culturas que se ciernen sobre el cielo crear sus representaciones en los fotocollages
azul, allá, en lo alto. Condé y Beveridge apuntan a meticulosamente orquestados por la pareja, ellos
una red de solidaridad, centrada en la preservación los modulan con deseos y anhelos. Básicamente,
de la vida, que conecta los movimientos indígenas la lucha por las historias, como también la lucha
globales con sus aliados. Con logotipos familiares, por la tierra y por el agua, es la lucha en común.
dispersos por la composición como artificialia de
Las Stories [Historias] de Condé y Beveridge examinan
Breugel (objetos curiosos hechos por el hombre),
las vicisitudes del cuidado bajo el régimen capitalista
Condé y Beveridge citan por su nombre a quienes
en el momento final de la vida. En su libro para niños
inequívocamente abusan del agua: las empresas
ABC of Racist Europe (El ABC de la Europa Racista,
transnacionales que tratan como mercancía ese
2017), la artista peruana Daniela Ortiz extiende las
recurso precioso, la industria petroquímica, el Banco
implicaciones de la educación infantil. Su noción de
Mundial, el Fondo Monetario Internacional, la policía
enseñanza primaria, sin embargo, supera en mucho la
y las fuerzas armadas. Rivalizando con la agitación
comprensión del alfabeto y de la ortografía básica. En
y complejidad de la fuente, The Fall of Water es
vez de ello, la artista insiste en que desde el comienzo
inequívoca en su mensaje. En su núcleo está la lucha
la educación debe formar y concientizar. Debe ser
por la fuente de la vida y por la creación de la vida
emancipatoria y antirracista. Desde que ella migró
amenazadas por el deseo de libre ganancia. Para
a Barcelona hace más de diez años, Ortiz preparó
volver a las palabras de Laderman Ukeles, Condé y
su práctica multifacética para reflexionar sobre y
Beveridge exponen la guerra entre mantenimiento y
criticar su experiencia como súbdita racializada del
desarrollo, o sea, entre los principios contradictorios
antiguo Imperio Español. En su obra, que incluye
que impulsan la reproducción social y el capitalismo.
desde acciones en el espacio público a esculturas de
Con una franqueza que puede herir en el momento
cerámica, placas decorativas pintadas y murales,
actual, en su obra de 2009, del mismo título,
ella realiza una crítica continua a la persistencia
ellos identificaron al segundo como la peste.
del proyecto colonial de la Europa Occidental,
De hecho, los daños del capitalismo son un tema íntimamente vinculado a la expansión global del
común en la fotografía documental de estos artistas capitalismo. Ambos resultan hoy evidentes en las
canadienses cuya participación política y social leyes de inmigración de la Unión Europea y en varias
se extiende a lo largo de cuatro décadas. Condé formas de opresión de los migrantes tanto a nivel
y Beveridge vienen interrogándolos a través de la institucional como en lo cotidiano. En este sentido,
colaboración con una amplia gama de trabajadores en las obras de Ortiz resuena la fotografía dialógica
de mantenimiento: mujeres de la clase obrera, de Condé y Beveridge, enfocada en la exploración
profesionales de la salud, porteros escolares y y expropiación premeditada y sistémica de los
trabajadores rurales migrantes, entre muchos otros. migrantes/nómadas del así llamado Sur Global.
Para ello, revelan cuán íntimamente la justicia social
Como herramienta para la alfabetización concebida
está relacionada con el sostenimiento de la vida y
desde un criterio amplio, el ABC de la Europa Racista
con su valor. Al relacionar el trabajo de cuidado con
también explora la experiencia de la artista como
la narración de historias, la serie en cuatro partes
madre soltera racializada de un wawa (bebé) de tres
titulada Stories [Historias] (2016) aborda una de
años para condenar públicamente las diversas formas
las formas más delicadas del trabajo de cuidado
de persecución que los niños migrantes y sus familias
en las así llamadas naciones desarrolladas –el
experimentan. Las declaraciones de Ortiz, rodeadas
acto de cuidar a los ancianos– y el papel de los
de collages coloridos, son breves, claras, y mantienen
ancianos en la sociedad contemporánea. Analizando
la sintaxis simple de un abecedario. Las barreras
escenarios distintos, desde la comunidad, a través
impiden que los migrantes crucen las fronteras y
de una familia nuclear y una clínica geriátrica,
los obligan a esconderse en barcos y autobuses. La
hasta el monitoreo remoto de pacientes, la serie
Agencia Europea de Fronteras y de Guardia Costera
registra cuatro formas de narrar historias: sabiduría
(FRONTEX) destruye la libertad de las personas y
ancestral compartida, la voz autoral didáctica
separa familias. La policía protege los privilegios
de un artista, un anuncio publicitario hecho por
de las personas que tienen pasaportes europeos.
famosos, y una herramienta de control incorporada
Los servicios sociales criminalizan la maternidad
a las tecnologías de vigilancia y monitoreo. Con
de las mujeres migrantes. La riqueza de Europa se
la relegación del cuidado a trabajadores negros y
extrajo de los cuerpos de los pueblos esclavizados y
migrantes mal remunerados, los ancianos pierden su
subyugados. Las formas de opresión son sofisticadas
status como repositorios vitales de conocimiento y
y a veces parecen infinitas. No obstante, como afirma
como pilares de sus comunidades y se transforman

319 BIENAL 12 CATÁLOGO


Ortiz, el empoderamiento supera la explotación. Sus armas, sin embargo, no son armas comunes. Son
Legal no significa legítimo. Los migrantes rechazarán tan “exóticas” como las frutas y verduras de estación
regímenes neocoloniales. Sus wawas valientes y disponibles en cualquier cocina guatemalteca –
combativas levantarán la bandera del wiphala bananas, yucas y kiwano (melón con puntas)–. Ellas
(pueblo indígena de la Región Central de los Andes). pueden ser inventivamente utilizadas. Una maza,
De esta forma el libro de Ortiz reivindica el derecho que puede realizarse incrustando una fruta dura
indeleble de la madre al cuidado insurgente de su llenas de puntas en una raíz puntiaguda, remonta a
hijo, adecuado a las formas en que tanto ella como las antiguas cavernas. Una “estrella ninja” viene de
su wawa están atados a un sistema de muerte y Japón. Los nunchakus, o chakus de banana, como
unidos a las comunidades de cuidado. Contra la Kairé los llama cariñosamente, fueron inspirados
necropolítica del Reino de España, Ortiz argumenta en la película Operación Dragón de Bruce Lee.
a favor del derecho que las familias migrantes Como la dedicada instructora promete en el video,
tienen a una vida autónoma y a un hogar seguro y solamente el hecho de verlas puede disuadir a
estable dondequiera que ellas sueñen construirlo. potenciales invasores y prevenir emergencias. De
este modo Kairé comenta la violencia generalizada
El hogar, tanto físico como imaginario, como una
que domina las calles de Guatemala, que amenaza
plataforma necesaria para la vida, reúne algunos
los supuestamente seguros espacios privados y
de los más emocionantes proyectos de la artista
que afecta a las mujeres de modo desproporcional.
judaico-guatemalteca que vive en Nueva York,
Tal y como Pilar Tompkins Rivas observó, la artista
Jesica Kairé. Muchas veces, la artista aborda la
“sitúa su posición feminista no en contradicción,
crítica de las feministas de la segunda ola sobre
sino en armonía con el trabajo de las mujeres en la
las supuestas comodidades de la domesticidad
cocina, a medida que los ítems de cocina se vuelven
y la actualiza al contexto político volátil de su
un medio de empoderamiento para las mujeres que
país natal y sus repercusiones para la diáspora
viven en … condiciones nacionales inestables.”20 Por
guatemalteca. Utilizando un lenguaje en contra al
otro lado, al burlarse con orgullo de los estereotipos
orden establecido que dominaba en las décadas
del exotismo, incluso del género musical de la salsa,
de 1960 y 1970, Kairé activó la participación pública
Kairé también parece ridiculizar la percepción que
y a menudo recurrió a los alimentos, a los tejidos y
los Estados Unidos tienen de América Central como
a otros materiales normalmente asociados con la
un lugar inherente e irreparablemente peligroso.
artesanía y el trabajo de las mujeres, para comentar
Ella no solo critica la violencia sino que también
sobre la seguridad e inseguridad de la identidad,
se niega a someterse al miedo. Finalmente, una
de pertenecer a y de vivir en una piel específica de
vez se vuelvan innecesarias, sus armas pueden ser
género femenino. La serie de videos instructivos y
consumidas con placer voraz, aumentando la salud
humorísticos titulada Such is Life in the Tropics [Así es
y el relajamiento del sobreviviente. Sus esculturas
la Vida en los Trópicos] (2012) y la serie relacionada
suaves de peluche de la serie CONFORT podrían ser
de workshops televisivos se apropian de e invierten la
abrazadas como juguetes. La artista encara su tarea
premisa del video feminista fundamental de Martha
como la metamorfosis de los lugares específicos de
Rosler titulado Semiotics of the Kitchen [Semiótica
la violencia en espacios y medios de sociabilidad.
de la Cocina] (1975) adaptándolo al contexto de la
Ella insiste en que la verdadera justicia debe ser
Guatemala contemporánea. Cuarenta años atrás,
restauradora y transformadora; un trabajo de
Rosler se apropió del formato de un programa
cuidado en lugar de la acusación y la represión.21
culinario y transformó la afable figura televisiva de
Julia Child en una joven ama de casa al borde de Implícitamente, entonces, Kairé nos pide que
una rebelión. Para cuestionar el carácter opresor de reimaginemos el mundo y sus relaciones en nuevos
la saludable domesticidad burguesa y el trabajo términos. En una sociedad asolada por infinitas
de cuidados invisible, su protagonista demostró formas de violencia, reconocer e identificar el cuidado
con habilidad que cualquier utensilio cotidiano de y la propia vida como el principio central sobre el que
cocina puede volverse letal. Por su parte, aunque se debe construir una convivencia individual, colectiva
Kairé instruye a sus telespectadores sobre cómo y planetaria, es un acto radical. Es tan radical y
crear, paso a paso, armas funcionales para defensa necesario como las quejas de Laderman Ukeles y
personal al estilo “hágalo usted mismo”, no muestra los gritos de deleite de Vicuña cinco décadas atrás.
en absoluto la agresión reprimida de Rosler. Y esto todavía será igualmente radical y necesario
dentro de cinco décadas. En este contexto, pienso

20Pilar Tompkins Rivas, “Establishing and Destabilizing Notions of Home in the Americas”, en Home - So Different, So Appealing,
edición de Chon A. Noriega, Mari Carmen Ramírez e Pilar Tompkins Rivas (Los Angeles, UCLA Chicano Studies Center Press,
2017), 114.
21 Ver la declaración del proyecto de Kairé en su página web: https://www.jessicakaire.com/such-is-life-in-the-tropics.

BIENAL 12 CATÁLOGO 320


en la obra de Zorka Wollny titulada Imposible Opera termina con la llegada de una ambulancia que
[Ópera Imposible] (Unmögliche Oper, 2017) como una hace que los artistas y, finalmente, el solista, se
luz intensa que incita el pasado e ilumina el futuro. dispersen. Las campanas que señalaron el comienzo
Originalmente realizada como una presentación de la presentación marcan su final. Tan pronto el
en vivo de 40 minutos en Oldemburgo, Alemania, vehículo desaparece y su sirena cesa, todo termina.
la obra utiliza expresiones de la presentación Podemos incluso decir que no existe una conclusión.
teatral, de la composición musical y de la libre De cualquier manera, la promesa o el potencial del
improvisación para escenificar la búsqueda de una coro no se realizaron. Nosotros, el pueblo, todavía
voz autónoma y un lenguaje propio. Como otros estamos ensayando y seguiremos haciéndolo.
proyectos de Wollny, ella reúne a profesionales
***
del arte e integrantes de la comunidad. En cierto
sentido, al involucrar y movilizar a individuos comunes La lectura de los pliegues del proyecto de Wollny
tanto como artistas profesionales, Wollny evoca el me obliga a preguntar sobre el lugar y espacio del
espíritu del Teatro del Oprimido, de Augusto Boal, luto, tanto en la práctica artística como en la vida
y su propuesta para ensayar una revolución social. pública en general, especialmente ahora. Aunque
La Ópera Imposible combina elementos de una la indignación sea celebrada como un propulsor del
rutina de repetición y de sonidos principalmente no cambio o se la condene públicamente como una
verbales. Sonido y movimiento se estructuran como señal de destrucción, pocos parecen reconocer la
una serie de repeticiones organizadas por llamadas realidad y el trabajo esencial del luto. Adoptamos
de atención y silbidos que se mezclan con el ruido la indignación porque ella ayuda a construir una
de murmullos, zumbidos, seseos y jadeos colectivos, narrativa y a ir más allá. Sea productiva o destructiva,
respiración pesada y cantos con solos operísticos y la ira proyecta un futuro. Independientemente de que
de percusión. La mayoría de las voces son abstractas sea revolucionaria, utópica o apocalíptica, permite
e ininteligibles. A partir de los flujos y reflujos del que exista un futuro. El luto, en la mejor de las
sonido, surgen ecos de movimientos sociales en tres hipótesis, es un estado que debe ser suplantado: se
expresiones esenciales: “Voz para todos”, “renta espera que nosotros lo superemos. En la peor de las
básica garantizada” y “así se ve la democracia”. hipótesis, anuncia regresos eternos: un ciclo sin fin de
pérdidas irreparables. Pero ¿qué más si consideramos
La presentación de Wollny demuestra la importancia
el tiempo no como un río, sino como un lago?22
de encontrar tanto una voz individual como colectiva
en la búsqueda del bien común. Voces encarnadas que La aparente ausencia de final y la imposibilidad de
habitan y reivindican el espacio físico concreto son las la ópera de Wollny también sugiere que, una vez que
principales herramientas que estructuran y moldean se encuentran, la voz y el lenguaje no están dados
el debate en la esfera pública y en la vida en común. para siempre ni para todos. Por el contrario, deben
practicarse continuamente. Deben mantenerse
Celebrando la oportunidad de la protesta, la obra
con esfuerzo, atención y mucho cuidado. Solo la
Ópera Imposible de Wollny concluye con una
práctica ardua e invisible hace que una presentación
secuencia que, no obstante, complica mi lectura
virtuosa parezca fácil y espontánea. Al final, no
festiva y optimista. Esta secuencia se relaciona
obstante, la práctica depende de la respiración, una
fuertemente con el momento en que estoy
de aquellas funciones fisiológicas básicas de las
escribiendo, pensando en las formas en las que los
que raramente somos concientes. Nos olvidamos
significados de muchos proyectos se transformaron y
de la respiración hasta que nos falta cuando nos
se consolidaron en un tiempo que parece suspendido
ahogamos o nos ahogan. Olvidamos cómo funciona
(por la pandemia) y agitado al mismo tiempo (por
el cuerpo para cuidar de nosotros 24 horas por
protestas). La estructura ordenada del movimiento de
día y 7 días por semana. ¿Qué es lo que hacemos
los cuerpos sonoros es repentinamente perturbada
para cuidar de nuestro cuerpo y el de los otros?
cuando la cámara hace un zoom de aproximación
Exigir todos los tipos de aboliciones, comenzando
a un hombre que arrastra un cuerpo debilitado
por la de la policía y las patrullas de frontera,
por el perímetro del espacio delimitado para la
y seguimos con los museos (tal vez); el presente
acción. Poco después, una mujer corre hacia el patio
infinito –el lago– nos obliga a repensar el trabajo,
llorando y lamentándose, moviendo sus brazos
el mantenimiento y el cuidado de nuevo. ¿Y si la
frenéticamente sobre su cabeza, como si estuviera
ambición suprema fuese cocinar, limpiar y respirar?
implorando para que los artistas se detengan o
¿Y si nosotros no necesitáramos entender nada más?
hagan algo. Aunque no queda claro qué es lo que
ella está pidiendo, la urgencia de sus gestos sugiere
que es algo que importa. La obra Ópera Imposible Houston, Texas, agosto de 2020

22 Esta es la enseñanza de Robin Wall Kimmerer, Braiding Sweetgrass: Indigenous Wisdom, Scientific Knowledge and the Teachin-
gs of Plants (Londres: Penguin Books, 2020).

321 BIENAL 12 CATÁLOGO


Ensayo sobre lo temporal o la insistencia en estar junto:
Programa Educativo Bienal 12
Igor Simões
Curador Educativo
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul

Cualquier escrito, en nuestros días, se articula desde puedo reunir las notas de un recorrido más
la incertidumbre. No hay espacio para afirmaciones. que la evaluación de sus efectos. Este es
Todo lo contrario; se impone a todes los que un texto de partidas, no de llegadas.
piensan, escriben o crean, una danza constante con
Había, en medio de todo, que elegir un punto
los interrogantes. ¿Qué mundos son estos que se
de partida. Este punto, cuando se lo ve desde la
atraviesan delante de nosotros y sabotean toda y
educación y desde el arte, nunca puede ser neutro.
cualquier noción de lo que era, hasta ahora, vivir?
No existe neutralidad posible en un programa
Este texto no es una excepción. Ha sido escrito en un
educativo. No existe neutralidad posible en una
tiempo en el que todo sucede. El mundo sucumbe, la
muestra. No existe neutralidad. Las elecciones
muerte secular de cuerpos negros provoca rebeliones
de una exposición, su selección de artistas, sus
y caídas de estructuras coloniales y racistas en
narrativas, las voces que reverberan por sus
los EUA y en Europa, en tanto se tambalean en
elaboraciones, no permiten la imparcialidad.
otras partes del mundo. La vida de Brasil ha sido
tomada por una infinita y dolorosa noche entre la Tomar una posición significó, en esta edición,
enfermedad y las penurias de un gobierno en el que situar lo educativo en el necesario lugar de una
resuena toda la deuda no pagada por la historia usina de pensamientos. Por lo tanto, es necesario
asimétrica de este país. El arte, lugar desde donde que se comprenda lo educativo no como el lugar
hablo, ha sido tomado y confrontado en sus bases de ilustración del pensamiento curatorial e
contemporáneas, en sus dinámicas de funcionamiento institucional, sino como una dimensión inseparable
y en la obsolescencia de sus formas de existir. del acto de pensar y construir una exposición.

Fue desde aquí, desde el sur del mundo, al sur Los programas educativos, cuando las instituciones
de Brasil, que se instaura la decisión de realizar los empoderan --algo que pocas veces sucede--,
una exposición que elige política y estéticamente pueden ser el lugar de un tránsito muy intenso
una noción diversa de los femeninos. Feminino(s): de los ejes conceptuales que, en su inmensa
Visualidades, Acciones y Afectos reúne los trama de poderes, constituye una exposición.
sentidos que, más allá de las identidades Sin embargo, podemos afirmar que ante los
binarias, han seguido artistas de diferentes incontables cortes institucionales producidos
lugares, desde las Américas insumisas hasta durante la pandemia, e incluso antes, estos suelen
las Europas, enfocándose en la multiplicidad ser los sectores más fragilizados, con continuos
de las formas de existencia contemporánea. cortes de personal y consecuente discontinuidad de
acciones que, como sucede en toda la dimensión
Aquí, desde donde pienso y lucho con las palabras, a
educativa, solo se forjan a lo largo del tiempo.
mí me correspondía pensar una curaduría educativa
para el sur. El sur de los conceptos y de las nociones, La decisión de utilizar en esta edición el término
el sur del género y de la raza, el sur de Brasil. ¿Por “curaduría educativa” fue una de estas estrategias.
dónde caminar y qué mover cuando se tiene el Aquí, más allá de los debates que rodean los
lugar de curador a partir de la educación? Era términos que nombran la acción educativa, estaba
importante mantener los vínculos que venían de mi en juego negociar con la institución la centralidad
experiencia como investigador y docente. Así, temas del programa en el pensamiento curatorial. Usar
como la racialización y las escrituras insumisas de el término “curaduría educativa”, en esta edición,
las historias del arte, la exposición como montaje fue la forma de reforzar que lo educativo no viene
y una experiencia docente que romple con la después, sino que está junto. Es lo que ayuda a
jerarquía entre las narrativas de la historia del arte forjar las áreas de tránsito infinito de una muestra.
y aquellas que se construyen a partir de la práctica No me corresponde aquí disimular el hecho de
educativa, sirvieron como lugares de pensamiento. que existe una cuestión sistémica. Se ha intentado
jugar con la jerarquización de la posición curatorial
Lo que ahora, mientras todo aún se desdobla,
para, a partir de ello, reivindicar posiciones que

BIENAL 12 CATÁLOGO 322


lo educativo sin el término curaduría no siempre con lo que surge en sus sectores de educación.
parece alcanzar. Si la curaduría es comúnmente
entendida como el lugar de creación de las
Las experiencias de
exposiciones, usar el término curaduría educativa
implica situar lo educativo partiendo de este lugar
otres como camino
y, consecuentemente, enfrentar de forma directa Otro hecho relevante de esta etapa de nuestro trabajo
las expectativas y encuadramientos sistémicos. radicó en buscar pares constantes en las experiencias
También se deberá considerar que la Bienal 12 se lleva educativas de instituciones locales. Una de las
a cabo a partir de una Fundación que, a lo largo de los primeras acciones se realizó en el Museo de Arte de
años, demostró que una de las fuerzas principales de Rio Grande do Sul Ado Malagoli - MARGS, a partir
sus Bienales estaba en la centralidad del programa de un encuentro con los sectores educativos de los
educativo. Había en el uso del término curaduría museos y demás aparatos culturales de la ciudad de
educativa un esfuerzo de dialogar con la memoria de Porto Alegre. Era necesario encontrar interlocutores.
la institución que ayuda a forjar esta expresión, que Un programa no se teje solo, principalmente cuando
parte del trabajo de Luis Camnitzer en la 6ª edición de se habla de la experiencia de una Bienal que ha
la Bienal, en el año 2007. El trabajo de la profesora, contribuido en gran parte a las experiencias de
investigadora y curadora Monica Hoff, presente mediación y educación en el escenario de origen de
hasta la 9ª edición fue, incontestablemente, una la muestra, la capital gaúcha. Una vez más, insisto:
contribución que afirmó la importancia del programa hacer un programa educativo significa, en gran
educativo. Era a esa institución, que tiene este registro, medida, estar juntos. Todavía en esta dirección, era
que era necesario recordarle el lugar de lo educativo necesario que uno de los principales públicos de
en el carácter de constructor de sus muestras. los programas educativos estuviese representado.
¿Cómo es posible pensar una acción educativa que no
Por lo tanto, fue indispensable encontrar el eco esté constantemente informada por las voces de las
de la misma comprensión de parte de los demás profesoras y profesores? Otra estrategia adoptada
curadores, lo que en esta edición sucedió a partir de aquí fue la convocatoria pública de docentes,
la invitación realizada por la profesora, investigadora estudiantes de licenciaturas y mediadores que fueron
y curadora general de la Bienal 12, Andrea Giunta. invitados a un debate público sobre las dimensiones
Si vuelvo aquí a estos elementos, lo hago para de un programa educativo y sus prioridades.
mostrar que la inestabilidad de lo educativo es Docentes, escuelas, universidades y educadores
proporcionalmente equivalente a su importancia. de las instituciones culturales fueron pensados
Son muchos los acuerdos necesarios para como protagónicos. A partir de una larga reunión,
que, de hecho, una acción educativa pueda ellos mismos eligieron entre sí a los representantes
elaborarse como un lugar de indagación. que formarían la Cámara de Profesores de la
Bienal 12. Este grupo de educadores acompañó
El programa educativo representa, en la dinámica de todas las acciones desarrolladas por el programa,
una exposición, el lugar de la desconfianza. Explico: estuvo reunido en todas las actividades y sus voces
a lo educativo le corresponde desconfiar de lo que estuvieron aseguradas en las etapas del proceso
está dado como listo, desconfiar de las prerrogativas de trabajo. Una vez más, el sentido del programa
institucionales, desconfiar de la idea de las obras estuvo en estar junto a la mayor cantidad posible de
aisladas de sus contextos, e incluso de los posibles voces en frentes amplios de diálogo y de debate.
tránsitos y espacios que se construyen en el encuentro
de diferentes proposiciones. Lo que quiero afirmar Tal vez la principal clave para el programa educativo
aquí es, por un lado, el papel distante de las certezas de la Bienal 12 se explique por el encuentro entre
que se confiere a lo educativo y, al mismo tiempo, la el deseo de crear espacios donde el estar juntos
necesidad de que pueda garantizarse esa posibilidad pudiera ser privilegiado y la necesidad de que este
de acción. Esto solo es posible cuando en el diseño estar juntos se estableciese en decisiones políticas
institucional se crean las condiciones para suceda. que, necesariamente, enfrentarían las diferentes
Es necesario, entendemos desde lo educativo, avalar dimensiones de lo femenino, profundamente
certezas, sabotear lo que puede surgir ya listo y bien aliadas a las nociones de raza. Había de oírse,
acabado, para encontrar formas de volver a las obras, pero las voces privilegiadas debían ser aquellas
a las muestras, a las narrativas expositivas, con ojos que, nombradas como silenciadas producen los
llenos de novedades. Pensamientos no previstos. Lo sonidos más importantes de nuestros tiempos.
educativo ha sido, en el escenario de las instituciones Esta ha sido, desde siempre, el principal objetivo
que reconocen su centralidad, el nuevo espacio de una del programa educativo: estar juntos, y enfocarse
crítica institucional contemporánea. Esto, siempre y en lo que importa para forjar un punto de vista
cuando la institución esté dispuesta a confrontarse imbricado en el análisis del mundo y sus asimetrías.

323 BIENAL 12 CATÁLOGO


Existía un aprendizaje que resonaba en las voces no puede quedar relegada a la experiencia del
de las feministas negras. El feminismo negro ha pasado. Por el contrario, atraviesa nuestras formas
sido el lugar de confluencia de incontables pautas de pensar y de existir en una sociedad asimétrica y,
que exigen la constitución de visiones solidarias muchas veces, deshumanizadora. En este sentido, la
con el otro, de sus asimetrías y escondrijos, y novela diseña, inscribe, rasga lugares que permiten
de sus capacidades de inventar otros mundos ver la existencia negra en el siglo XIX brasileño.
posibles en los que querramos existir. Existen allí negros que leen y crean estrategias de
aprendizaje. Existe el centro urbano tomado por
El primer lugar que resuena en esas voces proviene
hombres y mujeres que se desplazan y negocian
de la literatura. Desde hace mucho tiempo existe
sus libertades y cautiverios. Existe la vida de Bahia,
un aprendizaje sobre las cosas que se dan a
de Maranhão, de Río de Janeiro, de São Paulo.
partir de lo que la literatura nos informa.
Existe principalmente una mujer que enciende la
La imagen catalizadora de las acciones del
propia vida, que asciende y que responde al nombre
programa educativo es deudora de las palabras
de Kehinde. El personaje parte de Savalou hasta
de la escritora brasileña Ana Maria Gonçalves y
Brasil, de los Brasiles hasta las Áfricas y Europas.
de su insoslayable novela Um defeito de Cor (Un
Inventa formas de vida, formas de ver y de ser
defecto de color) en la que aprendimos a pensar los
vista, muere algunas veces, vive muchas, aprende y
Brasiles y sus gentes a partir de las estrategias de
enseña. Kehinde es la mujer negra con sus tácticas
vida de su Kehinde. Antes de todo había Kehinde.
de existencia: la astucia, la atención, la mirada
En cada acción, en cada nueva agrupación, había
atenta al afecto no distante de la lucha y de los
Kehinde. Kehinde delante del espejo descubriéndose
saberes. Es la capacidad de crear territorios en cada
uno mismo. Kehinde inventando vida. Kehinde.
llegada. En una muestra en el sur del mundo, como
es la Bienal 12, que toma como punto de partida y
El programa educativo de llegada los femeninos y el arte en sus tensiones
precisa tomar una posición. y posibilidades de invención, elegimos un personaje
Kehinde fue la nuestra. que está entre la vida y la ficción, entre la memoria
y la escritura de pasados necesarios. Partir de la
“Mirando hacia uno de los que habían marca de la mujer negra significa establecer que
tumbado cerca de mí, el cuerpo caído ella tiene el poder, en diferentes sentidos, de ser la
de espaldas y sacudiéndose, mi pecho imagen entre un mundo ya vivido y otro deseado.
fue acongojándose con la visión del Bajo el signo de Kehinde, el programa educativo
pequeño río de sangre, al mismo fue diseñado por un conjunto de encuentros que
tiempo que nacía en mí una indignación reunieron a muchas mujeres y algunos hombres
muy grande por nuestra condición. en charlas que se concibieron tramadas en la
A pesar de mi corta edad, creo que horizontalidad con diferentes públicos y las personas
aquel día me di cuenta de que tenía invitadas. Era necesario que todes estuvieran en
que hacer algo por mis muertos, por el mismo espacio. Era necesario que se pusieran
todos los muertos que estaban allí, en juego los propios ejes y conceptos desde los
que se preparaba el programa educativo. Fueron
por todos nosotros, que estábamos
nueve encuentros en los que raza y género fueron
vivos como si no estuviéramos porque
debatidos como territorios del arte contemporáneo,
nuestras vidas valían lo que el Señor las curaduría y los femeninos. La sala de clase
había pagado por ellas, nada más.” funcionó como espacio de invención y sabotaje, la
(p. 144) proximidad entre las salas de exposiciones, las salas
de clase y las salas de trabajo, los femeninos y las
La novela Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves culturas, los educativos y las instituciones de arte,
es, desde su lanzamiento en 2008, un hito en la la presencia de las mujeres negras en las narrativas
literatura contemporánea brasileña. Pero es mucho sobre arte, los feminismos contemporáneos,
más. El libro se establece como un hito porque revela las imágenes del control, las proximidades y
la herencia continua de la colonización y de la la distanciamientos entre indígenas y negros, la
sumisión, del derecho de la posesión de humanos mediación y las urgencias de lo contemporáneo.
por humanos. Es un hito porque establece vínculos
con una memoria que se creía, durante mucho En cada uno de los encuentros, un conjunto de
tiempo, perdida, y que reaparece como relámpago mujeres ponía en movimiento sus ideas y trayectorias,
necesario ante la ausencia de un registro para saber y derrumbaban y reconstruían conceptos que
de dónde hemos venido y cuál es el lugar del que forjarían lo que imaginábamos que sería el
provienen nuestras raíces. La esclavitud en Brasil programa educativo para esta edición de la Bienal.

BIENAL 12 CATÁLOGO 324


Así, la primera acción del programa educativo Ante todo, era indispensable que estas discusiones
fue abrir una plaza en la que muchas ideas y estuvieran profundamente fundamentadas en las
pensamientos pudieran fundar lugares mínimos poéticas de les más de 70 artistas que integraban
para lo que vendría, a partir de los discursos de la Bienal 12. Los encuentros reunieron a feministas
las invitadas del Território Kehinde. Un sinnúmero de diferentes vertientes teóricas, artistas, curadoras,
de contra narrativas cuyos vínculos puedieron educadoras, abogadas, antropólogas, historiadoras.
reunirse a partir de la imagen, del cuerpo y de la Los más de 150 inscriptos constituyeron un gran
voz de la actriz, investigadora y profesora negra fórum, en el que sus experiencias personales se
Celina Alcântara, quien, en la primera noche del utilizaban como punto de partida para el necesario
Território, entonó frente a todos los participantes la abordaje de pautas que tocaban el problema
canción que fue cantada al unísono y que afirmaba: de la exposición y que provocaban una agenda
“Cuando vengo de Luanda, no vengo sola”. contemporánea, comprometida con la creación de
nuevos paisajes de la vida en el mundo y en el arte.
Desde el principio, estaba lanzado lo que traemos
aquí como un conjunto de decisiones políticas del No había en el grupo una jerarquización entre
programa educativo: los rumbos serían siempre el mediador de la exposición y el profesor en la
referenciados a partir de las voces indispensables sala de clase. Juntas, estas diferentes formas de
de esas mujeres y sus desplazamientos. pensar el arte contemporáneo, sus confianzas
y desconfianzas en relación con la educación,
A un cuerpo negro involucrado no le es posible
mantuvieron encendidas las formas de diseñar
asumir la posición de ver el mundo a partir de
un espacio expositivo que se transformaría
una perspectiva que no traiga consigo saberes,
en una gran arena de diferentes disensos.
epistemologías que se confunden con sus estrategias
de supervivencia. Había allí un cuerpo negro en Todas las cosas, sin embargo, estaban en la
la posición de tomar decisiones, de curar a partir víspera de una convulsión. Aún no lo sabíamos.
del arte, de la historia, de la historia del arte, de Hablar de la experiencia educativa de la Bienal 12
la educación. Fue a partir de la necesidad de este significa hablar de una profunda división entre el
cuerpo negro de encontrar otras voces que se mundo que habitábamos cuando todo comenzó,
constituyó el programa público Território Kehinde. y aquél al que nos ha empujado una pandemia
que desmoronó más aún la posibilidad de certezas
Fue también a partir de un encuentro entre la
mínimas. Todo se aceleró: el aislamiento social,
perspectiva Kehinde, que ahora se había tornado
las asimetrías del mundo y del mundo del arte,
concepto y vector, junto a la noción de disenso
la noción de exposición, el uso de tecnologías,
propuesta por el francés Jacques Ranciére, que se
y el principal eje del programa: la idea de estar
construyeron colectivamente lo que se conoce como 12
juntos. Nuestros cuerpos estarían privados del
Ejercicios Colectivos de Disenso. Fueron 12 encuentros,
encuentro presencial por tiempo indeterminado.
como el título indica, en los que las experiencias
acerca de la mediación necesitaban resonar con los
saberes y labores de mujeres de diferentes partes del La ruptura entre los días que
país, invitadas a conducir los ejercicios. Las preguntas vivíamos y la incertidumbre
que nos acompañaban constantemente eran: ¿qué es de lo que vendría
lo que sucede cuando la mediación está atravesada
por temas vinculados a poéticas que abordan formas No se trata de escribir un posible lamento sobre los
no binarias de los femeninos? ¿Cuál es el impacto de días que se han ido. ¡No es eso! Los días pasados
mediar con un énfasis en los debates de mujeres en la tenían el tono de un mundo que excluye, segrega,
arena democrática? Pensamos juntes, una vez más. mata, aleja. Las creencias construidas desde la
modernidad, tanto como sus proyectos, venían
Era necesario hilvanar urgencias y que estuviera en el mostrando sus falencias. Todo esto se detuvo
horizonte el debate sobre temas apremiantes, como súbitamente. Lo invisible fue resignificado en
las mujeres, sus agrupamientos y vida democrática, tanto el virus se difundía sin respetar fronteras,
las violencias cotidianas, el debate legal, los derechos, dejando en evidencia las penurias del planeta,
las nociones de arte atravesadas por debates mostrando las formas mortales de funcionamiento
feministas, las colonialidades y la descolonización económico y llevando a una ruptura de las formas
en el arte contemporáneo, la accesibilidad de de vida y un cuestionamiento sobre el mundo y los
un espacio expositivo de artes visuales pensado mundos del arte. Aquí, en el sur, pronto hizo que la
para todes, incluyendo los no videntes, las exposición presencial se volviese un espejismo.
cuestiones de los cuerpos negros y trans en las
exposiciones, tanto de artistas como de públicos. Mientras, el planeta se convertía en regiones
divididas por colores que representaban los

325 BIENAL 12 CATÁLOGO


diferentes niveles de contagio y de muertes, tablas nueva etapa de preguntas y cuestionamientos. Las
que daban cuenta de las vidas perdidas, de los 12 proposiciones, entonces, se transformaron en
conflictos perversos que atentan contra las vidas invitaciones para visitar la página web cuando la
y las formas de supervivencia económica, y de las Bienal paso a existir online. Se volvieron, en un primer
diferentes posiciones del Estado. En Brasil existe momento, la forma de conectar a las personas
el virus y faltan políticas sobre las formas más con el conjunto de aprendizajes que son posibles
adecuadas de enfrentar la convulsión social. cuando se reúne a un grupo de artistas, cuyas
obras proponen colapsar ideas preestablecidas
Después de años de discursos sobre la aproximación
sobre qué es el arte y sobre nuestro tiempo.
entre el arte y la vida, el agravamiento tanto de
uno como de la otra, se mezclaban. Las nociones Ante los testimonios de les artistas y agentes del
de espacio y tiempo se confundían. Instituciones arte reunidos por la Bienal 12 sobre los efectos de la
de las más diferentes naturalezas junto a agentes pandemia, íbamos tanteando formas de comprender
de los sistemas del arte se preguntaban cuál era de una manera particular, en la que todes nos
el siguiente paso. Una vez más, se buscacaban aproximaban a situaciones reales de convivencia
respuestas que sólo podían ensayarse. Ensayos, con la peste que atravesaba nuestros días.
experimentos, intentos. Vimos en vivo y en diferentes
Afecto. La palabra que acompañaba el título de
plataformas una mezcla de esfuerzos por mantener
la exposición fue el elemento que palpitó en esta
las cosas en sus lugares habituales, al mismo
etapa de la Bienal online. Las preocupaciones del
tiempo que estos lugares demostraban su desgaste
programa educativo encontraban sus primeras
y exigían nuevos compromisos éticos y estéticos.
limitaciones. Cómo estar juntos ahora era también
En el caso de la Bienal, era necesario que nos la pregunta sobre cómo activar una muestra que
preguntásemos qué es lo que le sucede con una no está en el espacio. ¿Cuáles son las formas de
exposición cuando su existencia física, presencial y continuar estando juntos teniendo como pretexto
espacial se ve imposibilitada. Ello nos remitía también el inmenso trabajo y los acuerdos sobre los que se
a preguntas sobre la naturaleza de lo educativo, del construye una exposición de estas proporciones?
arte y de la mediación ante estas nuevas limitaciones.
Es necesario señalar aquí la necesidad de mantener el
En un primer momento, la actitud asumida fue equipo del proyecto educativo. Si lo destaco es porque
de silencio y observación. Antes de la pandemia el tiempo de la pandemia también fue el tiempo de
el programa educativo había elaborado sus 12 expulsiones masivas de las instituciones artísticas, que
proposiciones para el público que visitaría las afectaron completamente los programas educativos,
exposiciones. En aquel momento, el objetivo era que, como siempre, tuvieron un fuerte acento de raza
que los rasgos de los cuerpos se quebrasen, que y de género, y que cortaron trabajos que estaban
fuesen provocados y tensionados en el espacio en proceso. Garantizar el mantenimiento del equipo
de la exposición. Queríamos saber cuáles eran las educativo era una condición innegociable para que
referencias que el público adoptaría ante la presencia el trabajo de búsqueda de alternativas pudiera
de estos femeninos no binarios. ¿Qué artistas llevarse a cabo. No es posible eludir esta información;
conocían? ¿Cuántas eran indígenas? ¿Negras? ¿Trans? el primer tiempo fue de ajustes y negociaciones
¿Cómo enfrentar la presencia de las mujeres en las que contaron con la participación directa de la
resignificaciones de lo que sea el mundo, las Américas, Fundación Bienal y, en especial, del equipo curatorial
las Europas, las colonizaciones y descolonizaciones? de la muestra. Una vez más, era la horizontalidad
¿Cuáles eran las formas que la muestra proponía del cuerpo curatorial y el reconocimiento de la
para entrar en los distintos debates? Estas centralidad del programa educativo los que creaban
proposiciones, no obstante, estaban filtradas por las condiciones para que el trabajo pudiera llevarse
la necesidad de la confrontación del cuerpo con a cabo. Después de todo, reconocían tanto curadores
el espacio, con las circunstancias que implican los como la Fundación, el proyecto educativo, en su
montajes en la experiencia de la exposición. búsqueda de formas de mediación, podía actuar
como una pieza clave para encontrar formas
¿Qué es lo que sucede con una muestra cuando esta
de vínculo y contacto afectivo con el público.
deja de ser espacio y pasa a ser concepto? Esta
dimensión conceptual de la exposición fue central Pero ¿qué público era éste? La migración a las
en el material de trabajo del programa educativo. redes nos colocaba frente a una serie de dudas:
La pérdida del espacio es irreparable, pero existe ¿estábamos reforzando el público habitual de
un conjunto de conocimientos y saberes que están las instituciones de arte? ¿Existe, de hecho, una
presentes en las selecciones de los artistas, en sus renovación mediada por las herramientas de acceso
conquistas poéticas del mundo y de las cosas. Y virtual? Estas preguntas no han encontrado todavía
éste era, sabíamos, el material primordial de la sus respuestas, pero mantenerlas encendidas

BIENAL 12 CATÁLOGO 326


puede ser indispensable para trazar un futuro El espacio de la página web y la existencia online de
en los tiempos inciertos que aún vendrán. la Bienal 12 permitió que nos preguntáramos, aunque
sin respuestas, sobre cuántas de estas experiencias
Con el propósito de producir espacios de encuentro,
sobrevivirán cuando la lluvia y la tempestad den
de habla y escucha, el programa educativo,
lugar a otros paisaje. Una experiencia que marcó esta
siguiendo el ejemplo de instituciones de diferentes
etapa fue la convocatoria pública de profesores que,
lugares del mundo, invirtió parte de sus esfuerzos
con el propósito de establecer vínculos, comenzaron
en un programa de comunicación en vivo. La
a figurar como la red Bienal 12 de Arte y Docencia.
transmisión en vivo, manifestación que adquirió
Pocos días después de la convocatoria en las redes
protagonismo en la vida cotidiana de tantas
sociales, más de 1600 profesores de diferentes
personas, era el medio que permitía conectar los
partes de Brasil y de América Latina formaron una
públicos con los discursos y elaboraciones poéticas
red de contactos que se activó a partir del envío
y conceptuales de la exposición. Curadoras, artistas,
de los materiales producidos. Experiencias como
educadoras pasaron a ser una presencia constante
estas nos hablan de nuevas formas de relación con
en el programa de comunicación de la Bienal.
un público mucho más amplio que aquel que suele
Algunas premisas se mantuvieron. Por ejemplo, la estar en el entorno de la Bienal del Mercosur, que
énfasis en un abordaje racializado que mantuviera tiene como fuerte característica la reverberación
a las mujeres negras predominando entre las en educadores locales y escuelas de la región.
invitadas, así como la conexión con la producción
Todavía ahora, cuando todo se mantiene aún
latinoamericana de arte contemporáneo y el abordaje
inestable, cuando la única certeza radica en el fin de
de las urgencias de todes ante la pandemia.
las certezas, no podemos medir los desdoblamientos
Pero las preguntas no terminan cuando todo está producidos por las acciones y actitudes desarrollados
en proceso de cambio. El proyecto preliminar de durante el diseño curatorial del programa educativo.
construcción de un material didáctico de la Bienal Tenemos, sí, una larga lista de errores y algunos
como herramienta de trabajo para alumnos y aciertos. Entre todos, tal vez continuemos insistiendo
profesores debía ser repensado. Escuchamos en que estar juntos es la condición necesaria para
diariamente los relatos de docentes con demandas que, a partir del no saber, podamos articular
antes impensadas por el uso de plataformas construcciones mínimas, temporales, pero plenas de
digitales para su práctica educacional, y de alumnos vida. El coro de voces parece ser nuestra única salida.
que enfrentaban las dificultades de acceder a las Tal vez una de las premisas básicas de la mediación
clases. Todo esto acompañado por la falsa creencia radique en buscar formas solidarias de colocarnos
de un acceso universal a internet. Una creencia en la condición de hablar y de escuchar. Insistir en no
que, cada día, negaban los hechos. Era necesario volver al pasado, sino en crear juntos otros proyectos
preguntarnos una y otra vez, ¿cuál es el sentido para el arte del nuestro tiempo, y para el tiempo
de un material educativo en este contexto? Las en el que surge este arte. La pandemia, cada día
respuestas, una vez más, surgirían de las preguntas que pasa, nos suena no como el más grande de los
compartidas. En el momento en que los espacios males, sino como uno más. Males que a lo largo
domésticos se confundieron con las salas de clase y de los siglos nos atraviesan, silenciando voces que
de trabajo, la alternativa fue crear una sala virtual. pueden construir mundos posibles. La pandemia
De esta forma comenzó a funcionar el Laboratorio nos asola, pero todavía nos desgarra ver la imagen
Colectivo Bienal 12: material educativo en tiempos de de un hombre negro asfixiado por un policía blanco,
aislamiento, una sala virtual que reunía a profesoras o la muerte de los niños en las comunidades en
y profesores de diferentes áreas con fuerte acento las que el Estado empuña sus armas. Mediación
en las artes visuales, en la que discutía cuál era la en tiempos de urgencia tal vez sea entender que
necesidad y el formato de un material educativo no se trata de “estar entre”, sino en “estar con”.
que abordara las urgencias del tiempo presente, y
El arte no es inmune a las restricciones que
que pudiera mantenerse como una memoria de los
cada día se imponen en el mundo. Existe un arte
saberes construidos en el proceso de la Bienal 12. Así,
contemporáneo que se presenta en las suturas
artistas de Brasil y de América Latina comenzaron
de las diversas partes reunidas en los trabajos
a conversar con las profesoras sobre sus poéticas y
de Rosana Paulino. Las interpelaciones urgentes
sobre la necesidad de materiales acorde con el tiempo
del presente resuenan en las manifestaciones del
presente. El material elaborado tuvo que encontrar
colectivo Nosotras Proponemos, en la ancestralidad
nuevos formatos y adaptaciones; por ejemplo, que
y memoria de la poética de Aline Motta, en el
pudiera usarse en medios como WhatsApp, que se
trenzado del cabello de Helô Sanvoy, en la historia
transformó en una de las principales plataformas
que nos cuentan los bordados de lucha de las
de interacción entre alumnos y profesores.
Arpilleras chilenas, en la existencia trans de Élle de

327 BIENAL 12 CATÁLOGO


Bernardini, en la experiencia mapuche y fluida de
Sebastián Calfuqueo. En la profesora que afirma la
escuela pública. En la exposición que reúne cosas
diferentes y que produce sentidos imprevistos. Solo
necesitamos vincularnos y aceptar el desafío de
estar juntes, de mirar y apostar en el arriesgado
ejercicio de construir otros mañanas. Como afirmé
al comienzo de este escrito, este no es un tiempo de
certezas, sino de dudas y preguntas que por ahora
tienen contornos imprevisibles. Hasta aquí las notas
del programa educativo de la Bienal 12, por ahora.

BIENAL 12 CATÁLOGO 328


CURADORES - RESÚMENES BIOGRÁFICOS
Andrea Giunta es escritora, curadora y profesora de la Universidad de Buenos Aires, donde
obtuvo su doctorado. Es investigadora principal del CONICET, Argentina. Es autora de
varios libros sobre arte latinoamericano, entre ellos Avant-garde, Internationalism and
Politics: Argentine Art in the Sixties (Durham: Duke University Press, 2007). En 2018, Andrea
publicó Feminismo y arte latinoamericano: Historias de artistas que emanciparon el
cuerpo (Buenos Aires: Siglo XXI, 2018, a ser publicado por la University of California Press).
Fue co-curadora de Radical Women: Latin American Art, 1960–1985 (2017–2018, Hammer
Museum, en Los Angeles, Brooklyn Museum, en Nueva York, y Pinacoteca de São Paulo).

Dorota Biczel (Polonia / EE. UU.) Tiene un doctorado de la Universidad de Texas en Austin
y actualmente es profesora asistente visitante de Historia del Arte en la Universidad
de Houston. Sus proyectos de investigación, escritura y curaduría se enfocan en el arte
latinoamericano contemporáneo visto en un contexto global, particularmente en las
intersecciones de la experimentación material, la práctica social y política. Ha publicado
artículos y ensayos en revistas académicas como Caiana, Buildings & Landscapes, Art
Journal, ARARA y alter / nativas, y en catálogos de exposiciones. Fue la curadora de
Moving Mountains: Extractive Landscapes of Peru, en el Centro de Artes Visuales de la
Universidad de Texas (2016), y co-curadora de Teresa Burga's Chronology: Reports, Diagrams,
Intervals (2011, Württembergischer Kunstverein Stuttgart), entre otros proyectos.

Fabiana Lopes es curadora independiente con sede en Nueva York y São Paulo. Doctoranda
en Estudios de Performance en la Universidad de Nueva York, donde es becaria (Corrigan
Doctoral Fellow). Su investigación se centra en la producción contemporánea de artistas
de la diáspora africana en Brasil y Américas. Sus textos fueron publicados en Harper's
Bazaar Art, O Menelick 2o Ato, ARTE! Brasileiros, Contemporary And (C &) y en catálogos
de exposiciones: Rosana Paulino: costura de la memoria, Pinacoteca, São Paulo (2018),
Lucia Laguna: vizinhança, MASP, São Paulo (2018), Of Darkness and Of Light, Minnette Vári,
Johannesburg (2016), y Territórios: artistas afrodescendentes, acervo de la Pinacoteca (2015).

Igor Simões tiene doctorado en Artes Visuales-Historia, Teoría y Crítica de Arte, PPGAV-
UFRGS. Profesor Adjunto de Historia, Teoría y Crítica del Arte y Metodología y Práctica de
la Enseñanza del Arte (UERGS). Miembro del comité de curaduría de la Asociación Nacional
de Investigadores en Artes Plásticas (ANPAP), Miembro del Núcleo Educativo UERGS-
MARGS. Miembro del comité de colección del Museo de Arte RS (MARGS). Trabaja con
las articulaciones entre exhibición, edición de películas, historias del arte y racialización
en el arte brasileño y la visibilidad de los sujetos negros en las artes visuales. Autor de
la tesis Edición y exhibición cinematográfica: Voces negras en el cubo blanco del arte
brasileño. Miembro del do Flume-Grupo de Investigación en Educación y Artes Visuales.

329 BIENAL 12 CATÁLOGO


Artistas y obras

Alejandra Demolición del olvido /


construcción de la memoria,
Dorado performance, 2011-2020.
(Cochabamba, Bolívia, 1969) En el año 2011 Alejandra Dorado es invitada a
participar en una residencia de artistas en La Perla,
Nacida en Cochabamba, Bolivia. Titulada de la en el ex centro clandestino de detención, tortura y
carrera de Licenciatura en Bellas Artes con mención exterminio de la provincia de Córdoba, Argentina,
pintura de la Universidad ARCIS, Santiago, Chile. por donde pasaron 2500 personas, que están, en su
Ejerció por 15 años como docente de la carrera de mayoría, desaparecidas. Conocer las historias de
Diseño Gráfico en la Universidad Privada Boliviana. las mujeres que allí estuvieron provocó en la artista
Creadora y directora del proyecto “La caja verde” un recuerdos de la dictadura de Hugo Banzer Suárez
taller de artes visuales para jóvenes ciegos. Expuso en en Bolivia (1971-1978). Son recuerdos de su infancia
los espacios más importantes de Bolivia. Fue invitada que se cruzan con las historias familiares. En esta
a muestras individuales y colectivas, festivales performance Dorado produce un paralelismo entre
y residencias en Chile, estados Unidos, Cuba, la tortura a las mujeres en Argentina y en Bolivia.
Argentina, Canadá, Venezuela y Ecuador. Invitada Toma la experiencia de una mujer boliviana que fue
a participar de publicaciones como FIBRAS LATINO obligada a sentarse sobre un bloque de hielo durante
AMERICANAS de AAL (Arte Al Límite). Es curadora 24 horas, forma de tortura que tiene una connotación
de CIMIENTOS festival internacional de performance sexual. Dorado se sienta sobre un bloque de hielo
y accionismo de Bolivia. Activista, feminista y y allí permanece durante una hora. Repite, en su
fundadora del colectivo Ni Una Menos Cochabamba. propio cuerpo, las prácticas de la tortura. Desde esta
experiencia singular la performance conecta, con una
quietud conmovedora, la cercanía entre las prácticas
Sobre las Obras de la Bienal de las dictaduras latinoamericanas. El recuerdo,
la memoria, convocados desde intervenciones
Coyote es una serie de collages de fotografías simbólicas, son una forma de advertirnos sobre
digitales en la que Alejandra Dorado interviene los peligros de la repetición de la historia.
el retrato familiar decimonónico, las bodas, los
bautismos, las fotos que marcan los momentos que
la familia quiere recordar y celebrar. Interfieren la Aline Motta
normalidad de las representaciones que regulan
nuestras relaciones sociales reemplazando los (Niterói, Brasil, 1974)
rostros con cabezas de perros, de jirafas, de ciervos.
“Coyote” es la palabra con la que se nombra a Nacida en Niterói (RJ), vive y trabaja en São Paulo.
la persona nacida de una india y un mestizo, es Es graduada en Comunicación Social de la UFRJ y
un doble mestizo. Cuando Dorado trabajas sobre post-graduada en Cine en la New School University
imágenes de otro tiempo, de otros imaginarios, (Nueva York). Combina diferentes técnicas y prácticas
y las mezcla con animales, realiza, ella misma, artísticas, mezclando fotografía, video, instalación,
una obra “coyote”. Los niños, el grupo familiar, los performance, arte sonoro, collage, material impreso
amigos, mutan en grupo humano-animal. Una y materiales textiles. Su investigación busca revelar
forma de coexistencia que acerca el archivo que otras corporeidades, crear significado, replantear
Alejandra elabora a las propuestas y las lecturas recuerdos y elaborar otras formas de existencia.
de un feminismo que aproxima lo humano y lo no Fue galardonada con el Programa Cultural Rumos
humano. Un feminismo que se vincula a los debates Itaú 2015/2016, con la Beca de Fotografía ZUM del
sobre el Antropoceno y al dominio (destructor) Instituto Moreira Salles 2018 y con el Séptimo Premio
con el que lo humano, como especie que concibe y Nacional de la Industria Marcantonio Vilaça 2019.
dispone del mundo desde su supremacía, desmonta Recientemente participó en importantes exposiciones
las condiciones de la vida misma en el planeta.

BIENAL 12 CATÁLOGO 330


como “Histórias Feministas” - MASP, “Histórias actividades han tenido lugar en cada espacio que
Afro- Atlânticas” - MASP/Tomie Ohtake y” O Rio he tenido, incluso en mi propia casa. En los años
dos Navegantes “ - Museo de Arte de Rio/MAR. 2005/2006 realizamos Periférica, primera feria de
espacios auto-gestionados por artistas. Espacio
Forest, fue un proyecto realizado en el año 2013, y
Sobre las Obras de la Bienal actualmente La Verdi (2014/2017) y La Verdi México
(2017/2018). Me interesan los procesos de trabajo.
Artista visual, fotógrafa y videasta, Aline Motta reúne Darle valor a todos aquellos estados que generan
materiales audiovisuales con archivos documentales dudas, incertidumbre, malestar. Particularmente
por medio de los cuales investiga sus orígenes, su tengo mucha consideración por todo aquello que
relación con la ancestralidad negra y africana. En la se considera fracasado. Me regodeo en el trabajo
Bienal 12 se presentan dos obras de Aline. Un libro colectivo. Abordo diferentes planos de la violencia y
visual y poético, Escarvos de Jó (2016), que retoma actualmente lo focalizo en la violencia del envejecer.
el conocido juego y la canción popular y frases del
Libro de Jo, de la Biblia, desde los que se refiere a
la esclavitud brasilera. Las imágenes y los textos Sobre las Obras de la Bienal
impresos en papel semi transparente remiten al
poema visual, al poema concreto, desde un sentido
emancipador y decolonial. En el video (Outros) Material Descartable (Perejil)
Fundamentos (2019) reúne el archivo visual que
Salsa
realizó durante una residencia de investigación en
Nigeria, con aquél que proviene de la historia de la Material descartable es una escultura mural que
esclavitud en la zona cafetera del Vale do Paraiba. Ana Gallardo realiza en el año 2000 y que se
En el film vincula Lagos con Cachoeira y la Bahia de reconstruye para la Bienal 12. En esta Ana Gallardo
Guanabara. El viaje, cuenta Aline, produjo en ella ata en la pared racimos de perejiles, instrumentos
un efecto de extrañamiento, la experiencia de una que las mujeres sin recursos económicos utilizan
no pertenencia, la idea de una continuidad (a la que para realizar abortos que, en la Argentina, son
remite desde la presencia del agua), de disrupción ilegales y clandestinos. Muchas mujeres pobres
(que señalan los espejos), y la de la herida que la fallecen por falta de condiciones de salubridad.
esclavitud imprimió en Brasil, cuya cicatrización no es La agenda de la legalización está en marcha en
posible sin políticas de reparación. En el film trama este país. Ha generado marchas multitudinarias
lo personal, lo familiar y lo colectivo. Migraciones, acompañando los procesos de debates
diásporas, memoria, son palabras centrales para parlamentarios. Esta escultura de Gallardo abordó
abordar este film que, desde las imágenes y los en el filo del milenio una de las agendas centrales
textos inscribe una travesía poética y política. en el feminismo que se intensifica desde 2015, con
las grandes manifestaciones contra los femicidios
que protagonizó el movimiento #NiUnaMenos
Ana Gallardo
(Buenos Aires, Argentina, 1958) Material Descartable (Agujas)
1.000 agulhas de tricô
Nací en Rosario, Argentina, y he vivido entre México,
España y Buenos Aires. No tuve educación formal, Material descartable es una escultura que Ana
soy autodidacta. Tengo una formación adquirida Gallardo realiza en el año 2000 y que se reconstruye
en talleres de artistas como Víctor Grippo, Miguel para la Bienal 12. En esta Ana Gallardo expone
Dávila, Jorge Diciervo y Juan Doffo. Tengo una idea con extrema contundencia un amontonamiento
heredada de como atravesar las prácticas artísticas, de agujas de tejer, uno de los instrumentos que
ya que mis padres, eran artistas. Mi madre pintora las mujeres sin recursos económicos utilizan
y mi padre poeta. En los 80 integré el Grupo de la para realizar abortos que, en la Argentina, son
X y con ellos aprendí cómo se piensa el arte. Viví ilegales y clandestinos. Muchas mujeres pobres
en México desde fin de los 80 y principio de los 90, fallecen por falta de condiciones de salubridad.
en dónde nació mi hija Rocío. Trabajo en paralelo a La agenda de la legalización del aborto legal,
mi obra, en una serie de proyectos independientes seguro y gratuito está en marcha en este país. Ha
dirigidos a promover el arte local, a dar visibilidad a generado marchas multitudinarias acompañando
prácticas que no ingresan a los circuitos comerciales los procesos de debate parlamentarios.
o institucionales y a vincular artistas mujeres,
principalmente, de distintas generaciones. Estas

331 BIENAL 12 CATÁLOGO


Dibujo acciones han elaborado la presencia del crear
negro en la escena migratoria del sur de Brasil.
Carbón
Dimensiones variables
Colección de la artista
Sobre las Obras de la Bienal
“Abordo diferentes planos de la violencia y Chama
actualmente lo focalizo en la violencia del envejecer”.
En esta frase Ana Gallardo expresa el eje de su Instalación (instalación sonora con radio online),
obra, en la que, con materiales simples (dibujo, 4 libros de artista, 12 tiras de tela, Celebración en
objetos, cinta adhesiva, filmaciones accidentales, la Plaza del Tambor con las DJs Suelen Mesmo
entrevistas, participación) desarrolla una obra (Porto Alegre) y Marta Supernova (Río de Janeiro),
que se centra en sus propias experiencias de vivencia con las DJs y ronda de Conversación.
fragilidad (laboral, habitacional) y en aquellas de
quienes son descartados por la sociedad (ancianos,
Colección de la artista
pacientes, prostitutas). La bienal presenta un dibujo
monumental, en negro compacto, realizado como Saberes colectivos y sus articulaciones, transmisión
site specific por la artista. El grafito superpuesto oral de conocimiento, diáspora negrodescendiente,
genera un muro asfixiante, una reflexión de impulso dinámicas de colonización-represión, migración
memorialista sobre los tormentos experimentados y desplazamiento, producción poética, capas
por las mujeres guatamaltecas, especialmente de visibilidad, lugar de pertenencia, mediación,
campesinas e indígenas. Sus testimonios procesos de traducción/no-traducción y sus
aparecen en el borde inferior, apenas visibles significados son conceptos clave en la práctica de
en ese negro absoluto. “Me conmueve pensar la periodista, especialista en Teoría y Crítica de la
el cuerpo de la mujer como arma de combate, Cultura y fotógrafa Ana Lira. ¿Cómo la invisibilidad
toda esa violencia, esa tortura, para someter a puede ser una forma de poder? Esta es una de las
todo un pueblo y sobre todo para quitarles la preguntas que Lira persigue en el proyecto Chama
identidad a los mayas”, declara la artista. (2020), un ciclo de experimentaciones sensoriales
creadas por medio de la poesía y de la música de
la diáspora afro-amerindia, a través del que los
Ana Lira participantes entran en contacto con los contenidos

convida Marta compartidos y, sin la imposición de procesos de


traducción, construyen otros medios de conexión
Supernova, con ellos. Dividido entre el espacio expositivo, donde

Ola Elhassan e se encuentra la instalación sonora, y el espacio de


celebración colectiva y mediación en territorios negros
Suelen Mesmo de Porto Alegre, Chama articula los conceptos clave
de la artista por medio de lo que ella denomina
(Caruaru, Brasil, 1977 / Rio “vivência-das-entrelinhas” (vivencia de lo implícito).
de Janeiro, Brasil, 1994 /
Khartoum, Sudão, 1990 /
Porto Alegre, Brasil, 1996)
Arpilleras Mmdh
(Chile)
Ana Lira es una artista que vive en Recife. Desarrolla
creaciones colectivas observando las líneas de Las arpilleras nacen como una acción comunitaria y
las relaciones de poder en la comunicación, las escritura de testimonio que refleja las vivencias del
articulaciones cotidianas y la producción de proceso social durante la dictadura en Chile, desde
conocimiento en el mundo. Marta Supernova es la mirada de las mujeres. El Museo de la Memoria
una artista y DJ. Construye poéticas investigando y los Derechos Humanos cuenta una importante
la ancestralidad, la espiritualidad, su cuerpo colección de arpilleras originadas poco después
queernegrolatino y los afectos-encuentros que del Golpe de Estado, cuando madres, hermanas,
hacen que uno cree y recree una necesidad. Ola esposas e hijas de detenidos desaparecidos y de
Elhassan es una poetisa sudanesa que vive en prisioneros políticos comienzan a relatar la angustiosa
Londres y que se centra en la migración, las búsqueda de sus familiares, expresándose a través
melodías y la sensible vida cotidiana. Suelen de telas, hilos y lanas. En estas piezas se reconoce
Mesmo es DJ en el Coletivo Turmalina, cuyas la mirada de aquellas mujeres, sus dolores e

BIENAL 12 CATÁLOGO 332


incertidumbres, también sus luchas y organización encuentran en colecciones como Colección Isabel y
frente a los que vivían. Reivindican el valor de la Agustín Coppel, México; Museum of Contemporary
colaboración tanto para denunciar las violaciones Art, Cleveland, EUA; Fundação Joaquim Nabuco,
a los derechos humanos, como para enfrentar el Recife, Brasil; Middlesbrough Institute of Modern
hambre de sus hijos y el apoyo al sustento familiar, Art, Middlesbrough, Inglaterra; Museu de Arte
en ollas comunes y lavandería populares. Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; Pinacoteca
do Estado de São Paulo, Brasil. Representada
por Galeria Nara Roesler, em São Paulo.
Sobre las Obras de la Bienal
Durante los años de la dictadura en Chile, las mujeres, Sobre las Obras de la Bienal
familiares de presos y desaparecidos, realizaron en
forma colectiva tapices generalmente pequeños Brígida Baltar presenta en la Bienal 12 una
en los que narraban, mediante fragmentos de tela instalación que explora sus experiencias personales,
cocidos, las experiencias de la represión, de los biográficas, recientes, señaladas por internaciones
cuerpos que se encontraron en fosas colectivas, que culminaron en un trasplante de médula. Las
los problemas que afectaban la vida cotidiana marcas de estos procesos en su piel, mutaron en
durante la dictadura de Pinochet (1973-1990). Las metáforas (hematomas, petequias) que ella bordó
arpilleras servían como un soporte poético y político en los tiempos de espera de su tratamiento. La
que comunicaba y denunciaba al mismo tiempo. única escultura que se incluye, Irmãos, refiere al
Los primeros talleres surgieron en contacto con proceso que permitió descubrir la compatibilidad
las iglesias de Chile, en relación con el Comité Pro con un donante, su propio hermano, estudio que la
Paz, la Agrupación de Familiares de Detenidos medicina denomina quimerismo: el trasplantado
Desaparecidos, y luego la Vicaría de la Solidaridad y es un ser quimérico, tiene un otro dentro de sí que
otras organizaciones. Colecciones que reúnen distintos debe ser descubierto. Delicados y potentes al mismo
acervos se encuentran en instituciones como el Museo tiempo, estos bordados comprimen las experiencias
de la Memoria y los Derechos Humanos y el Museo de del cuerpo y los afectos dolientes a partir de una
la Solidaridad Salvador Allende, ambos en la ciudad traducción minuciosa de los colores de la piel al
de Santiago de Chile. La colección que se exhibe en bordado. Son abstracciones orgánicas que condensan
la Bienal 12 pertenece al Museo de la Memoria y los procesos de mutación, afectos, emociones.
Derechos Humanos. Estos textiles son testigos de
prácticas de resistencia y solidaridad. Advierten sobre
el dolor social que acompaña a la militarización de Carmela Gross
la vida cotidiana y a la suspensión de los derechos
de la democracia. Recuerdan también la violencia y (São Paulo, Brasil, 1946)
las desapariciones de la dictadura militar en Chile.
Carmela Gross ha llevado a cabo obras en gran
escala que se insertan en el espacio urbano y
Brígida Baltar marcan una mirada crítica sobre la arquitectura
y la historia urbana. El eje común, más allá de la
(Rio de Janeiro, Brasil, 1959) diversidad de contextos y propuestas elaboradas
en cada caso, es el concepto básico de trabajar en
Brígida Baltar estudió en la Escuela de las Artes la ciudad. El conjunto de operaciones que implican
Visuales Parque Lage en los años 80 y formó parte desde la concepción de la obra, pasando por el
del grupo de los artistas Visorama. Grabó sus acciones proceso de producción, hasta la disposición en el
en fotografías y películas, por ejemplo,el proyecto lugar de exposición, enfatizan la relación dialéctica
Coletas (1996-2005), donde coleccionó elementos entre la obra y el espacio, entre la obra y el público/
naturales y transitorios en botellas de vidrio, como transeunte. Las obras buscan engendrar nuevas
la niebla.En otra acción Abrigo, la artista dibuja la percepciones artísticas que afirmen una acción y
forma de su cuerpo y lo excava en la pared de su un pensamiento crítico y que pueda sacar a la luz
casa-estudio. Con el polvo de ladrillo de la casa, la carga semántica del lugar, sea un espacio.
realiza una serie de dibujos y instalaciones. Trabaja
Cinco kilos de batón rojo se requirieron para
con esculturas en ladrillo, cerámica y bronce, así como
cubrir este pequeño carrito de pipoca. El color
bordados en telas. Todo su trabajo aborda el tema
y la textura del batón interceptan el sentido de
de cuerpo y la fantasía. Participó de exposiciones
este objeto vinculado a la vida en la ciudad, a los
como la 25a Bienal de São Paulo, São Paulo
niños, al consumo popular. Se trata de un objeto
(2002); SAM Art Project, Paris, (2012); Abstracción
común, habitual, que pasaría desapercibido si no
textil, Casa Riegner, Bogotá (2018). Sus obras se

333 BIENAL 12 CATÁLOGO


se hubiese cubierto con esa substancia blanda,
Sobre las Obras de la Bienal
roja, pegajosa. El carrito de pipoca se transforma
con un material que remite al universo femenino.
En un sentido, produce una feminización de los La caída del agua
objetos de la ciudad. Las interferencias de Carmela
Gross no proporcionan respuestas. Ella desplaza Impresión digital
los sentidos conocidos con materiales, con signos, Historias (serie de cuatro imágenes)
que proponen pensarlos de una manera distinta.
Impresiones digitales, cada una de 75 cm x 100 cm

Durante más de cuatro décadas, el dúo canadiense


Sobre las Obras de la Bienal de Carole Condé y Karl Beveridge ha estado
trabajando en un modo único de fotografía
Hino à bandeira es una extensa tela de color rosa
documental políticamente comprometida para
que cada día de de la bienal será humedecida. En
exponer las consecuencias del capitalismo global. A
ella redoblan muchos sentidos posibles. Por un lado
través de un diálogo sostenido con los artistas, sus
el de la bandera, que no flamea en un mástil sino
protagonistas, incluidos los organizadores laborales
que se presenta mojada, en el suelo. La insignia no
y los trabajadores agrícolas migrantes, tienen la
refiere a ningún país; podría entenderse como una
última palabra al diseñar sus representaciones en
pregunta sobre los sentidos establecidos de las
los fotocollages meticulosamente orquestados de
banderas. El color rosa, que porta los sentidos que
Condé y Beveridge. Tomando como protagonista a un
la sociedad imprime al color cuando lo asocia con
activista indígena de Cochabamba, Bolivia, La caída
lo femenino, inscribe la interrogación acerca de las
del agua retrata la pintura de Peter Bruegel el viejo
identidades masculinas que tradicionalmente se
La caída de los ángeles rebeldes (1562) para presentar
asocian con los fundamentos de la nación. La tela
la alegoría del conflicto mundial entre los defensores
blanda, que Carmela describe en forma analítica,
del agua y los que abusan del agua, corporaciones
se extiende como la propuesta de una reflexión
transnacionales que mercantilizan este precioso
crítica. En todo caso, la tarea queda a cargo de
recurso, la industria petrolera y el Banco Mundial.
quien observa. Carmela inserta signos ambiguos,
A su vez, las Historias representan diversas formas de
cuyo sentido crítico nunca resulta evidente ni fijo.
cuidado de ancianos en diferentes entornos sociales,
en los que la narración de historias constituye la

Carole Condé e clave del trabajo y los ancianos se convierten no


solamente en receptores de entretenimiento sino
Karl Beveridge en depositarios vitales de conocimiento ancestral.

(Hamilton / Ottawa,
Canadá, 1940 / 1945) Cecilia Vicuña
(Santiago, Chile, 1948)
Carole Condé y Karl Beveridge viven y trabajan en
Toronto. Han colaborado con muchas organizaciones
sindicales y comunitarias en la producción de sus Poeta, artista y cineasta chilena de larga trayectoria
trabajos fotográficos en los últimos 40 años. El internacional, creadora de “lo precario”, una poética
trabajo de ellos fue exhibido en todo Canadá y espacial de actos y performances realizados en la
internacionalmente, tanto en el movimiento sindical naturaleza, calles y museos como una forma de “oir
como en galerías de arte y museos. Recientemente un antiguo silencio esperando ser oído.” Desde los
su trabajo fue incluido en exposiciones: Really sesentas su obra ha re-elaborado el pensamiento
Useful Knowledge, Museo Reina Sofía, Madrid; poético y espacial amerindio para enfrentar el
The Noorderlicht Photofestival, Groningen, desastre ecológico de nuestro tiempo. Fundó la Tribu
Holanda; Toronto: Tributes and Tributaries, Galería No en Chile en l967, y co-fundó Artists for Democracy,
de Arte de Ontario. Carole y Karl recibieron un en Londres en l974. En 2011 fundó oysi.org dedicado a
doctorado honorario de la Facultad de Arte y la valoración del pensamiento indígena. Autora de 25
Diseño de la Universidad de Ontario (OCAD) libros de arte y poesía, su título más reciente es New
en 2010 y de la Universidad de Arte y Diseño & Selected Poems of Cecilia Vicuña, 2018. Su obra
de Nueva Escocia (NSCAD) en 2015; el Premio visual se expuso en documenta 14, Kassel y Atenas,
Cultural César Chávez Black Eagle de United Food 2017, y forma parte de las colecciones permanentes
and Commercial Workers (UFCW), Canadá, en del MoMA de Nueva York, el Guggenheim
2011; Premio al Mérito Artístico en la Universidad Museum de Nueva York y la Tate de Londres.
de Quebec en Montreal (UQAM) en 2013.

BIENAL 12 CATÁLOGO 334


Sobre las Obras de la Bienal Sobre las Obras de la Bienal
Poeta, artista de la performance, pintora, hacedora Leo y Daniel se conocieron en 2003 y desde entonces
de objetos precarios, son muchas las formas de trabajan juntos. En su obra utilizan el bordado,
nombrar a esta artista polifacética que desde los técnica femenina con la que recuperan el trabajo
años sesenta desarrolla una obra radical, primero artesanal. En 2013 realizaron la pintura La familia
en Chile, y luego en una escena internacional que en el alegre verdor y comenzaron a bordarla en
incluye ciudades como Bogotá, Londres o Nueva gran tamaño. Esta obra, que se exhibe por primera
York. Sus acciones se enlazan con las agendas vez, involucra los nuevos modelos de configuración
decoloniales y con el feminismo ecológico. Entre familiar. El predomino de los verdes cita la plenitud
sus obras se destacan los quipu (nudo), en los que de la naturaleza en la que se ubican ellos, como
Cecilia retoma una práctica ancestral de las culturas protagonistas, junto a su perro. El tapiz celebra
incaicas, que con lazos y nudos guardaba información la unión entre la naturaleza y lo humano, un
contable y también relatos épicos. El Quipu testigos señalamiento sobre la conservación del planeta.
propone partir de materiales de su estudio en NY que Se propone como un tributo, como una memoria a
Cecilia va a enviar a la bienal por Fedex. En Porto transmitir a generaciones futuras. El tema introduce
Alegre esos materiales iniciales se completarán el debate sobre el antropoceno, el dominio del
con basuritas, ramas y despojos enviados por hombre sobre los ecosistemas del planeta, los efectos
distintas comunidades, testigos de objetos rotos devastadores de su acción en la naturaleza. Celebra la
y maltratados que tomarían la forma de un quipu integración entre lo humano y las especies animales
delicado, vacío, mínimo, capaz de unir los fragmentos y refiere a una vida en común basada en los afectos.
en una forma visual y táctil. El quipu es el testigo
de la destrucción del Amazonas y de la masacre
Un lugar donde vivir
de los pueblos indígenas. Se trata de un poema
colectivo, espacial, que involucra los cuerpos y los Leo y Daniel se conocieron en 2003 y desde entonces
restos. Es un proyecto que se realizará en el espacio trabajan juntos. En su obra utilizan el bordado,
de la Bienal como una forma suave desplegada técnica femenina con la que recuperan el trabajo
el espacio. En su unión poética y escultórica de artesanal. Esta acción en comunidad que dialoga
los restos, se presentará como una forma de con la pieza exhibida en la bienal La familia en
resistencia frente a la devastación del planeta. el alegre verdor pretende ser una extensión de
nuestro trabajo en colaboración al invitar a bordar
a la comunidad pájaros y flores repensando y re-
Chiachio e imaginando un lugar donde habitar en perpetua

Giannone expansión. Un mundo-hogar en donde también


tienen lugar todos los imaginarios disidentes
(Buenos Aires/Córdoba, de familia y modos de afectividad queer. Estas
pequeñas piezas de telas bordadas a modo de
Argentina, 1969 / 1964) pequeños recortes de cielo buscan rastrear vínculos
y redes afectivas de sociabilidad y pertenencia
Somos una familia desde una concepción queer, a partir de este saber doméstico: bordar.
dos hombres artistas que son pareja en la vida y
en el arte, que completan su entorno familiar con
sus tres hijos mascotas. El bordado es la técnica Claudia Paim
que utilizamos generalmente para desarrollar
nuestro trabajo. Ambos decidimos trasladar nuestro (Porto Alegre, Brasil, 1961 – 2018)
conocimiento pictórico al universo textil y ampliar
los límites de sus propias configuraciones, a la Claudia Paim fue artista visual y profesora en la
vez que intentamos romper el estereotipo entre Universidad Federal de Rio Grande - FURG. Graduada
género y tarea. Para llevarlo a cabo trabajamos en Historia (1989) por la Universidad Federal de Rio
con materiales de nuestro hogar como concepto Grande do Sul. Master (2004) y Doctor (2009) en
del “hogar universal” y el afecto ligado a ellos. Los Artes Visuales por la misma Universidad, con una
soportes de nuestros trabajos son viejas sábanas, pasantía doctoral en la Universidad Politécnica
fundas de almohadones, cobijas, servilletas, de Valencia (España) en 2007-2008. Fue miembro
pañuelos, etc. Trabajamos con dos conceptos colaborador del Centro de Arte y Diseño (NAD) del
el uso de los materiales hogareños con su carga Instituto de Investigación en Arte, Diseño y Sociedad
afectiva y la reutilización de los mismos haciendo de la Facultad de Bellas Artes de la Universidad
hincapié en el cuidado del medioambiente y la idea de Porto - Portugal. Desarrolló investigación sobre
de darles una segunda oportunidad a las cosas.

335 BIENAL 12 CATÁLOGO


colectivos y espacio público, performance y cuerpo.
Como artista trabajó en colectivos e individualmente
Cristina Schiavi
con producción de video, instalaciones, performance,
(Buenos Aires, Argentina, 1954)
dibujo, arte sonoro, acción urbana, fotografía, objetos
y poesía. Publicó textos y participó en exposiciones
individuales y colectivas en Brasil y en el extranjero. Vive y trabaja en Buenos Aires. Entre sus ùltimas
muestras se encuentran: en 2020 “Para todes
tode” C.C.K; 2019 ”Acople”,Roldán Moderno
galería,”Tácticas Luminosas, Museo Colección
Sobre las Obras de la Bienal
Fortabat; 2018 “Asi!....quizás, debería agregar algo
La antología que presentamos señala aspectos más”, Galería Pasaje 17, “Una llamarada pertinaz”,
centrales en las performances que Claudia Paim Museo de arte Moderno de Buenos Aires; 2017-Untitled
realizó desde fines de los años noventa. En primer fair. Galería Miranda Bosch, Miami; “Un ciprés
lugar, las relaciones entre cuerpo y afectos (Segredos, para alcanzarte”Centro Cultural Kirchner; en 2016
Entre mia boca e teu olvido) y entre cuerpo y espacio “Esta extraña forma mia de aparecer” en galería
(Corpopaisagem). En sus performances el registro Miranda Bosch, Dixit Arteba 2016; “Estoy aquí” en
emocional también se anuda con el de la violencia Centro Cultural Recoleta. En 2014, “El teatro de la
(Discurso amoroso). El cuerpo es expuesto en una Pintura” Museo de Arte Moderno de Buenos Aires,
performance extremadamente conmovedora en Superpuestos con Battistelli en galería del Infinito,
Devastaçao, cuando la que la artista nos confronta Yente Schiavi Kemble Saravia en Galerìa Van Riel,
con los signos que la enfermedad deja sobre su “Desborde y modulación” Fundación Klemm.
cabello. En Possibilidades, mientras quiebra 420 Entre el año 2004 y el 2009 dirigió junto con
huevos, Claudia pronuncia los nombres en ellos Tamara Stuby y Esteban Álvarez el proyecto de
inscriptos. Con cada quiebre fricciona las relaciones residencias para artistas “El Basilisco”. Con Juan
entre cuerpo y género. Paim reitera frases, reitera Tessi desarrolló el proyecto Mark Morgan Perez
movimientos. La repetición, recordémoslo, es un Garage durante el año 2009. Su trabajo forma parte
instrumento central en la meditación y en los actos entre otras de las colecciones del Museo Nacional
de resistencia política. Con sus performances Paim de Bellas Artes, Museo de Arte Moderno de Buenos
instala una poderosa reflexión sobre los afectos, Aires (Mamba), Museo de Arte Latinoamericano
y lo hace desde el territorio de su propio cuerpo. (Malba), Museo Franklin Rawson de San Juan,
Museo de Arte Contemporáneo de Rosario (Macro),
Museo de arte Contemporáneo de Bahía Blanca.
Coco
Grupo de familia es una obra que Cristina
(Montevidéu, Uruguai, 2016) Schiavi concibe en 1999, dos años después de su
separación. Se trata de una reflexión sobre la
COCO es un colectivo que en 2016 forman cuatro complejidad de la familia, sobre su propia familia,
artistas uruguayas (Natalia de León, Lucía Ehrlich, muy cercana, con todas las virtudes y desventajas
María Mascaró y Carolina Sobrino). Curaduría, que tal proximidad puede generar. Su núcleo
performance, fotografía, video, pintura e instalación familiar se desarmó, en un sentido, durante la
son las herramientas que les permiten cuestionar dictadura argentina, ya que vivir juntos se tornó
y reformular el relato artístico dominante y peligroso. Su hermano emigró a Barcelona, y ella
transformar el imaginario simbólico del mundo vivió con su hermana y su sobrino, cuyo padre
en el que vivimos. Actualmente sus integrantes está desaparecido. Realizada con materiales
actúan desde Madrid, Paris y Montevideo. En la comunes (azulejos de baño), la obra engarza el
bienal presentan una instalación de Archivo X, una tema, la familia, con la dimensión monumental.
propuesta de subversión del archivo hegemónico Esta fricción entre lo común y el monumento
del arte. Con señalizaciones en catálogos y revistas introduce una distancia irónica y crítica respecto
de arte ellas exponen el borramiento de las artistas de las formas del patriarcado que el concepto
mujeres. Los stikers sobre cada revista, catálogo o tradicional de familia reproduce en el capitalismo.
libro, señalan los porcentajes de artistas incluidas
en cada publicación. Un formato eficaz para
señalar que el mundo del arte es desigual y que sus
criterios de selección son blancos y patriarcales.

BIENAL 12 CATÁLOGO 336


Dana Whabira como en el presente. Como una forma de acceder a
la política racial en Brasil, Whabira también estaba
(Harare, Zimbábue, 1976) interesada en el estatus / espacio que ocupan los
quilombos en la psique urbana, la mitología y el
imaginario. En su trabajo, la cartografía, la caligrafía
Dana Whabira es una artista, arquitecta y facilitadora y la composición se entrelazan para resaltar las
cultural de Zimbabwe, que vive y trabaja en Harare. redes de liberación y los vínculos y conexiones
Arquitecta de formación, estudió arte y diseño transnacionales entre América Latina y África.
en Central Saint Martin’s College, Londres (2011).
Emplea una práctica experimental centrada en la
investigación y orientada al contexto, preocupada
por el espacio, la cartografía y dando forma o
Daniela Ortiz
formato a la comprensión crítica de cómo podemos (Cusco, Peru, 1985)
vivir juntos. Whabira representó a Zimbabwe en
la 57a Bienal de Venecia (2017) y participó en la
Vive y trabaja en Barcelona.
Bienal de Dak’art (2018). Ha exhibido extensamente,
además de participar en residencias de arte y dar A través de su trabajo daniela pretende generar
conferencias a nivel local e internacional. Su primera narraciones visuales donde los conceptos de
exposición individual, “Suspended in Animation”, se nacionalidad, racialización, clase social y género
celebró en la Galería Nacional de Zimbabwe (2013). son entendidos de manera crítica para analizar
Participó en varias exposiciones colectivas, como el poder colonial, capitalista y patriarcal.
Undefined Territories: Reflections on Postcolonialism,
Sus proyectos e investigaciones recientes abordan
MACBA, Barcelona (2019), (2019), Cosmopolis #1.5
el sistema de control migratorio Europeo, su vínculo
Enlarged Intelligence, Mao Jihong Arts Foundation,
con el colonialismo y los mecanismos legales
Chengdu (2018), Measure the Valleys, Parcours d’art
creados por las instituciones europeas para poder
contemporain en vallée du Lot, Maison des Arts
ejercer violencia contra las poblaciones migrantes
Georges & Claude Pompidou, Cajarc (2018), Tracing
y racializadas. A su vez ha desarrollado diversos
Obsolescence, Apexart, New York City (2018) y Towards
proyectos sobre la clase alta peruana y su relación
Intersections, Museum of Africa, Johannesburg y
de explotación con las trabajadoras domésticas.
UNISA Art Gallery, Pretória (2015). Es la fundadora
Recientemente su hacer artístico ha vuelto a
de Njelele Art Station, un laboratorio urbano y
centrarse en lo visual y manual haciendo trabajos
espacio para proyectos que se enfoca en la práctica
en cerámica, collage, dibujo y formatos tales
del arte contemporáneo, experimental y público.
como libros para niños con la intención de alejarse
de las estéticas conceptuales eurocéntricas.

Sobre las Obras de la Bienal Además de su trabajo artístico es mamá de una


wawa de tres años, da charlas, talleres, y participa de
diversas discusiones y luchas en contra del sistema de
Trabajos en papel: Círculos de incertidumbre control migratorio europeo y el racismo institucional.

La práctica experimental de la artista visual y


arquitecta Dana Whabira se centra en el espacio,
la cartografía y una comprensión crítica de
Sobre las Obras de la Bienal
cómo podemos vivir juntos. La serie Círculos de
incertidumbre es una investigación en curso sobre ABC of Racist Europe (El ABC
las historias de la cartografía y la migración en las de la Europa racista), 2017
comunidades africanas de la diáspora. A través de
estas formas circulares a gran escala, Whabira recorre Durante más de una década la artista peruana
las historias desplazadas de las comunidades aisladas Daniela Ortiz se ha establecido en Barcelona y sus
que encontraron la libertad a través de medios experiencias como una mujer migrante discriminada
radicales como ocultar mapas de rutas de escape, en el territorio del antiguo Imperio español se han
semillas y oro en sus cabellos. Para su proyecto convertido en el quid de sus proyectos multimedia
en Porto Alegre, Whabira se propuso rastrear la que van desde acciones en espacios públicos hasta
espacialidad, la temporalidad y la radicalidad negras esculturas de cerámica y platos decorativos pintados.
locales mediante la cartografía de los Quilombos o En su trabajo, Ortiz retoma una crítica sin disculpas
palenques locales y las áreas de ocupación negra, de la persistencia del proyecto colonial español y
entendiendo su naturaleza compleja, su existencia en términos más generales, de Europa occidental
precaria y su delineación ambigua tanto en el pasado que se manifiesta hoy en día a través de las leyes

337 BIENAL 12 CATÁLOGO


de inmigración de la Unión Europea y diversas y Carmen Ollé para convertirlas en consignas de
formas de opresión de los inmigrantes, tanto a denuncia y autoafirmación. Simultáneamente sus
nivel institucional como cotidiano. Una herramienta graciosas pancartas bordadas hechas de plástico y
para la lectura y la alfabetización política, el ABC toallas de cocina, apoyadas en zapatos reciclados,
de la Europa racista despliega la forma familiar reclaman el trabajo doméstico al que las mujeres
de un abecedario infantil para implantar un habían sido relegadas tradicionalmente como
doloroso conocimiento de las diversas formas de herramientas de autoexpresión y empoderamiento.
persecución que enfrentan los niños migrantes y
sus familias, un llamado feroz contra ellos: desde
las operaciones de Frontex (La Agencia Europea de Elina Chauvet
la Guardia de Fronteras y Costas) para el uso de
líneas aéreas comerciales para deportaciones. (Casa Grandes, México, 1959)
Nació en Casas Grandes, Chihuahua, México,
Eliana Otta estudió arquitectura en Cd. Juárez y actualmente
vive y trabaja en la ciudad de Mazatlán Sinaloa. De
(Lima, Peru, 1981) formación inicial autodidacta posteriormente ha
tomado diversos cursos y talleres de pintura, dibujo,
Eliana Otta (Lima, 1981) es artista visual y Magíster cerámica, grafica, medios alternativos y fotografía con
en Estudios Culturales por la Universidad Católica maestros de México, Estados Unidos y Canadá. Elina
del Perú (PUCP). Ha expuesto su trabajo en ciudades cuenta con exposiciones individuales, y exposiciones
como Londres, New York, Barcelona, Cali. Ha realizado colectivas en México, Sudamérica, Estados Unidos y
residencias como Planta Alta (España), Gapado Air Europa. Creadora de la instalación de Arte Público
(Corea del Sur), Capacete (Grecia), Sommerakademie Zapatos Rojos, su obra más representativa, la cual
im Zentrum Paul Klee (Suiza). Coordinó el equipo es un proyecto de arte participativo iniciado en el
curatorial para la exposición permanente del Lugar de año 2009 en Cd. Juárez y que se ha replicado en
la Memoria, Lima (Perú). Es miembro y cofundadora México y en diversos países como Italia, Noruega,
del espacio independiente Bisagra. Ha sido docente en Argentina, Chile, Paraguay, España, Ecuador,
la Facultad de Arte de la PUCP, de la Escuela de Arte Estados Unidos, Canadá, Brasil, y otros, Zapatos
Corriente Alterna y de la Escuela Superior Nacional Rojos es un proyecto que promueve la no violencia
de Bellas Artes. Es representada por la Galería 80m2 a las mujeres y es un símbolo internacional.
Livia Benavides. Actualmente es candidata para el
Phd in Practice de la Escuela de Bellas Artes de Viena.
Sobre las Obras de la Bienal
Sobre las Obras de la Bienal En 2009, como respuesta a la oleada de femicidios
sucedidos en Ciudad Juárez en los años noventa, y a
la muerte de la hermana de la artista en manos del
De la serie Palabras de mujeres, 2017 marido, Elina Chauvet realiza en la citada ciudad
una instalación con 33 pares de zapatos donados,
Monteserrat y Carmen pintados de rojo. Desde entonces la instalación
ha itinerado por distintas ciudades del mundo y
Video Palabras de mujeres, 01:35:40
adquirido distintos formatos. En la Bienal 12 se
La multifacética artista peruana Eliana Otta reactualiza a partir de un trabajo participativo de
desarrolla proyectos participativos y despliega una la comunidad de Porto Alegre en coparticipación
amplia gama de medios para profundizar en el con la THEMIS, una ONG creada por un grupo de
desarrollo desigual, las incongruencias y las presiones abogadas y científicas sociales feministas con el
de la vida cotidiana en las megalópolis de hoy, como propósito de confrontar las discriminaciones a las
su Lima natal. Feminista autoidentificada, está mujeres en el sistema de justicia. Por medio de la
particularmente interesada en la política de clase y THEMIS se accedió distintos puntos periféricos de
género. Su trabajo está en sintonía con las formas la ciudad de Porto Alegre y Región Metropolitana
en que los cuerpos concretos y diversos funcionan y (repartida en 7 regiones: Restinga, Cruzeiro, Eixo
reclaman sus derechos al espacio urbano y la esfera Baltazar, Lomba do Pinheiro, Zona Leste, Canoas y
pública. Para el proyecto Women’s Words (Palabras Guaíba) con la intención de colectar pares de zapatos
de mujeres, 2017), cuyas selecciones se muestran de las mujeres que se encuentran en una situación de
aquí, Otta seleccionó frases de los poemas de las mayor vulnerabilidad social y también, de alguna
conocidas escritoras peruanas Montserrat Álvarez forma, hacer que la Bienal llegue activamente a estos

BIENAL 12 CATÁLOGO 338


espacios. Los zapatos se disponen en la escalinata entre 1995 y 2000 estudió grabado en metal en los
del Memorial como una intervención simbólica talleres del Museo de Arte Moderno de Bahía. Expone
poderosa que recuerda que la violencia hacia las de 1992 a 2000 en Museos y Galerías de Nueva York
mujeres se sigue reproduciendo, que no es parte del con herramientas para el uso litúrgico del candomblé
pasado sino que integra dolorosamente el presente. yoruba. Presenta trabajos relacionados con el tema
de Trance y comienza a utilizar el grabado en un
campo expandido, como estructura y concepto,
Élle de en objetos e instalaciones. Recibió el premio en

Bernardini el XXIV Salón de Artes MAM Bahía y participó en


una residencia en los Países Bajos. A partir de 2011,
(Itaqui, Brasil, 1991) reúne el grabado y la instalación de video a través
de la serie Transe – Deslocamento de Dimensões,
(Trance - Dimensiones de cambio) en un trabajo
Vive y trabaja en São Paulo. Tiene formación en colaborativo con la fotógrafa y productora de video
ballet clásico por la Royal Academy of Dance de Tracy Collins (NY). En 2013, su trabajo fue publicado
Londres. Es una mujer transexual con una producción en la Revista de Arte Contemporánea N/Paradoxa
impregnada de su biografía. Sus obras integran (Bisi Silva) y exhibe la instalación Transe (instalación
importantes colecciones como Museu de Arte do de video) en el Festival Vídeo Brasil 2013 - SP. En
Rio Grande do Sul / MARGS, Porto Alegre; MAC- 2014 fue seleccionada para una residencia en arte
RS, Porto Alegre; MAC-Niterói, Rio de Janeiro; contemporáneo en el NAFASI Artspace en Dar Es
Coleção Santander Brasil, São Paulo; Museu de Salaam, Tanzania, donde permaneció durante 3
Arte do Rio, Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna meses. En 2015 fue nominada para el Premio PIPA y
do Rio, Rio de Janeiro; Fundação de Artes Marcos participa en la Bienal de Bahía. En 2016, presentó su
Amaro, Itu; Museu Nacional da República, Brasília trabajo en Itaú Cultural SP en el colectivo Diálogos
y Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo. Ausentes, curada por Rosana Paulino y Diane
Lima. En 2017 presenta obras en la Bienal de Gaia,
Portugal. En 2018, realizó un trabajo individual en la
Sobre las Obras de la Bienal galería Andrea Rehder SP, participa en la exposición
PretAtitudes curada por Claudinei Silva y tiene un
TransDialética es un site specific que Élle de
artículo publicado en Revista Contemporary & por
Bernardini realiza para la Bienal 12, centrado en la
Alexandre Bispo. En 2019 participa como residente
investigación del cuerpo transexual, el cuerpo que
en Artes Visuales en INDIGO Arts Alliance, el primer
se presenta desdoblado, en una experiencia que
espacio exclusivo para negros y personas de color
invita a ver, sentarse, tocar, escuchar, interactuar.
ubicado en Portland Maine. Se convierte en parte de la
Desde el color, la textura de la tela, la forma, el
Junta Directiva de esta institución. Conferencia en los
sonido, propone un espacio de reestructuración de
foros internacionales LASA (Boston) en mayo de 2019
los sentidos. Se trata de una obra que condensa,
y Black Portraitures en octubre de 2019 sobre Trance
como tesis y antítesis, obras anteriores como Dance
como proceso artístico. Enseñó la misma asignatura
with me, en la que cubría su cuerpo con láminas
en el MECA College of Visual Arts (Maine College of
de oro, o Bruna: cidade, feminilidade e disidencia.
Arts) para estudiantes de MFA. En 2020 presenta sus
En esta instalación las formas, las texturas y
trabajos en la exposición Estratégias do Feminino.
los sonidos se unen para investigar un nuevo
modelo de sociedad basada en el afecto.

Sobre las Obras de la Bienal


Eneida Sanches La grabadora, arquitecta y maestra fabricante de
herramientas, Eneida Sanches es (re)conocida como
(Salvador, Brasil, 1962) la primera mujer en diseñar y producir ferramentas
de santo (artefactos de hierro destinados al culto en
Eneida nació en Salvador, Bahía. Vive y trabaja en religiones de origen africana) en Brasil, un importante
São Paulo con un estudio en Condomínio Cultural, Vila trabajo ancestral que ella comparte a través de cursos
Anglo. Comenzó a estudiar arte en la Escuela de Arte y talleres para jóvenes aprendices. En el caso de
de Bahía a la edad de 6 años. Estudió arquitectura, Sanches, por lo tanto, gestos y estrategias femeninas
de 1980 a 1990, y, simultáneamente, sigue el curso (y feministas) se traducen también en el acto de
de Artes Plásticas en la Escuela de Bellas Artes de la martillar y soldar. Parte de su investigación sobre el
Universidad Federal de Bahía. Desde 1990 comenzó grabado como im/presión y sus desdoblamientos, los
a investigar la estética africana y afrobrasileña y grabados-dibujos (o dibujos híbridos) presentados en

339 BIENAL 12 CATÁLOGO


la Bienal 12 | Porto Alegre articulan experimentaciones múltiples asociaciones posibles con la naturaleza
con el grafito sobre papel, la punta seca sobre el o con las relaciones sociales. O, por el contrario,
plomo, y el dibujo sobre el cobre. Los dibujos de la podemos observar en estado de expectación
serie About Frictions (Sobre Fricciones) emergen de suspendida esta obra mínima, de ritmos repetidos
las fricciones, rasgos e inserciones que la artista
hace sobre el metal. En About Affections (Sobre
Afectos) la artista explora idea de la imagen del Eugenia Vargas-
grabado como sello pensada a partir del cuerpo y sus
posibles afecciones: el papel (cuerpo) en acordeón
Pereira
adquiere movimiento de expansión y contracción. Sin
embargo, una pregunta importante evocada por el
(Chillán, Chile, 1949)
trabajo de Sanchez es: ¿cómo su obra mueve nuestro
entendimiento sobre grabado y sobre dibujo? Artista multi-disciplinaria conocida por sus
fotografías, instalaciones y performances. Reside
en Santiago de Chile y ha participado en la Bienal
Esther Ferrer 12, Porto Alegre, Brasil 20/20, Radical Women, The
Hammer Museum, PST/LA/LA, USA, 2017; The LA
(San Sebastián, Espanha, 1937) Art Show 2017; We The People, Casablanca Biennale,
Mezquita Hassan, Morocco, 2016; Limítrofe, La XX
Bienal de Santa Cruz de la Sierra de Bolivia en 2016.
Performer y artista visual desde 1966, individualmente
En 2003, representó a su país Chile en la 50a Bienal
y con el grupo espanhol ZAJ. Ella siempre privilegió
de Venecia, Dreams and Conflicts, e invitó a Luis
la práctica efímera del arte/acción. Desde de la
Maldonado, un fotógrafo de la Plaza de Armas en
década de 1970, dedicó parte de su actividades
Santiago, a trasladar su estudio callejero de retratos
a los artes visuales, instalaciones, fotos, canvas
con cámara estenopeica a la Isla Giudecca. En 2011,
baseadas en serie de números primos, etc. Representó
su pelicula Girls and Horses fue parte de la exhibición
España en la Bienal de Venecia en 1999, recibió,
Silence of The Beast el Centre Pompidou en Paris. En
entre otros, el Premio Nacional de Artes Plásticas
Miami en 2000, ella fundó la radio de baja frecuencia,
de España 2008 y en 2014 el premio Velázquez y el
Talking Head Transmitters (THT), transmitiendo en la
premio MAV (Mujeres en las Artes Visuales). E. Ferrer
banda FM para construir puentes entre los artista y
ya exhibió en inúmeras galerías, museos y ferias
la comunidads. THT ha transmitido desde Muzeum
y participó, como artista, en inúmeros festivales
en Anaheim de California como parte de PST/LA/
internacionales. Sus dos últimas exhibiciones son:
LA; The LA Art Show; We The People, La Bienal de
Toutes les variations ont valables comprise celle ci,
Casablanca; New Works Miami Art Museum; Museum
no Museo Centro de Arte Reina Sofia, 2017 y Espacios
Quartier en Viena de Austria, Vienna Art Week,
entrelazados, no Museo Gugenheim-Bilbao, 2018.
Intrude, Zendai Moma, Shanghai, China, entre otros.
Ella también es autora de dos piezas radiofónicas.

Sobre las Obras de la Bienal Sobre las Obras de la Bienal


La fotógrafa y performer chilena Eugenia Vargas
Pionera del arte de la performance en España,
presenta en la Bienal 12 su instalación sonora Lo
feminista y ácrata, integrante de grupo Zaj creado
que oyen los muros. Se trata de una pared ubicada
en España en 1964, Esther Ferrer está representada
en la sala del Memorial construida con materiales
en esta bienal por la obra Instalación esquina con
industriales en la que numerosos dispositivos de arte
triángulos, una obra adaptable al espacio, realizada
sonoro reproducen y fijan la memoria. Se trata de
con hilos y clavos sobre el muro. La instalación
una colectividad de mujeres cuyas voces provienen
proviene de una maqueta que, como muchas otras, no
de una sola voz. En el sonido se vinculan el cuerpo
está fechada. Los hilos, materiales comunes y frágiles,
y el género, se trata de ecos poéticos y políticos. No
cruzan el espacio en forma seriada, reiterativa,
se trata de un muro que divide. La reunión de sus
equidistante. Aunque la artista tiene presente las
piezas invita a considerar la diversidad, la inclusión, la
líneas del cableado eléctrico que se cruzan cuando
equidad de género en todas sus manifestaciones y en
atraviesan el paisaje, su instalación no refiere a
general, fortalecer la unidad, la empatía y cercanía
una funcionalidad utilitaria. Las líneas determinan
con el otro. Se trata de un proceso de construcción
el volumen, organizan el espacio. “Es, de alguna
colectiva cuyo resultado queda en la sala como una
manera, dibujar en el vacío”, señala la artista. Ante
interrogación constante. El sonido que proviene del
estos espacios o paisajes abstractos, en los que la
muro reactiva continuamente la idea de una materia
fragilidad se organiza, nuestra imaginación goza con
viva, sonora, que convoca la escucha colectiva.

BIENAL 12 CATÁLOGO 340


Fátima Pecci Geta Bratescu
Carou (Bucareste, Romênia, 1926-2018)
(Buenos Aires, Argentina, 1984)
Geta Brătescu ha sido una figura central en el arte
contemporáneo rumano desde la década de 1960.
Es pintora, música y activista. Se graduó en Artes
Artista con una larga y rica carrera, Brătescu ha
Visuales por la UMSA, estudió Historia del Arte en
desarrollado un complejo cuerpo de trabajo que
UBA y fue becada em el Centro de Investigaciones
incluye dibujo, collage, grabado, tapiz, objeto,
Artísticas (CIA) en 2015. Realizó clínica de obra con
fotografía, cine experimental, video y performance.
Ana Gallardo. Ganó el 1º premio en Pintura Salón
Estudió en la Facultad de Artes y Filosofía y,
Vincentín (Santa Fe) y en 2018 obtuvo el Premio
simultáneamente, en la Academia de Bellas Artes
en obra en Barrio Joven-ArteBA con su proyecto
de Bucarest y trabajó como directora artística de
Kunoichi (Solo Show-Galería Piedras). En el año
la revista “Secolul 20 [siglo XX]”, rebautizada como
2020 participa con su obra ‘’Algun día saldrá de aquí
“Secolul 21 [siglo XXI]” en el cambio de milenio. Geta
(Feminicidios)’’ en la 12º Bienal del Mercosul en Porto
Brătescu participó en algunas de las exposiciones
Alegre, curaduría de Andrea Giunta. Forma parte
de arte contemporáneo más importantes, como
de la Asamblea de Trabajadoras del Arte Nosotras
Documenta 14, Atenas y Kassel (2017), Bienal de
Proponemos que busca visibilizar la obra de artistas
Venecia (2013), La Trienal, París, Palacio de Tokio
mujeres e identidades femenizadas y denunciar
(2012) y la 12ª Bienal de Estambul (2011), por nombrar
las desigualdades dentro del mundo de las artes
unos cuantos. En 2017, Geta Brătescu representó a
visuales. También integra el colectivo Escuela de
Rumania en la Bienal de Venecia con el proyecto
Brujas Feministas para niñes junto a otras artistas y
“Apparitions”, la primera muestra individual de
activistas. Produce el fanzine XOXO y lleva adelante
una artista femenina en el Pabellón Rumano.
una investigación histórica sobre pintoras argentinas
Exposiciones individuales recientes incluyen Neuer
y latinoamericanas junto a Deborah Pruden
Berliner Kunstverein, Berlín (2018), Hauser & Wirth
Los Angeles (2018) y Nueva York (2017), Camden
Arts Centre, Londres y MSK Gent (2018), Hamburger
Sobre las Obras de la Bienal Kunsthalle, Hamburgo (2016), Tate Liverpool (2015),
Berkeley Art Museum y Pacific Film Archive (2014).
Pintora y música, Fátima Pecci Carou presenta en la
bienal 200 retratos pintados de mujeres, travestis y
personas trans argentinas (niñas, jóvenes y adultas)
que fueron víctimas de femicidios o que están Sobre las Obras de la Bienal
desaparecidas. Estas violencias suceden en todo el
Artista visual que desarrolló su trabajo en dibujos,
mundo. La violencia hacia los cuerpos femeninos
collage, fotografías, performance, textiles y films,
y feminizados es cotidiana. La masividad de estas
Geta Brătescu participa en la bienal con una serie de
imágenes evoca lo brutal de estas ausencias. Muchas
cortos videos en los que dibuja. La cámara se enfoca
mujeres desaparecen en las redes de la trata, otras
en sus manos, en el cuaderno de papel anillado y en
son asesinadas cuando salen a bailar o en sus
la fibra oscura y gruesa con la que realiza los trazos.
propias casas, generalmente por sus propias parejas.
Cada toma es un dibujo. La artista frente al papel
Fátima va más allá de las estadísticas cuando pinta
en blanco, el trazo negro que lo atraviesa, el tiempo
sus rostros y redirige sus miradas. Ellas no son un
de reflexión sobre cuál será la próxima línea, la
número, son personas, vidas, afectos. Son rostros
exclamación con la que da por finalizado el trabajo.
que reclaman justicia. Los retratos parten de las
En ocasiones algunas palabras reflexionan sobre lo
fotografías de las organizaciones que buscan a
que está realizando. Podemos ver las manos de Geta
estas personas, y que se publican en redes sociales y
a los 88 años, que trazan con seguridad gestos que
medios de comunicación. Los bastidores se adaptan
son también reflexivos. El dibujo como gesto mental,
al formato de las fotos. Sin embargo, la traducción a
como aventura de la línea, como viaje en el papel.
la pintura no es literal. Introduce el gesto radical de
modificar la dirección de la mirada. Los ojos apuntan
al espectador y, en tal sentido, interpelan a las y
los espectadores; interrogan la responsabilidad de
la sociedad en estos femicidios y desapariciones.

341 BIENAL 12 CATÁLOGO


Gladys Kalichini Sobre la Obra de la Bienal
(Chingola, Zâmbia, 1978) Bauhaus 1919, modelo para armar, refiere al año
de creación de esta escuela de diseño y al libro de
Cortázar 62/Modelo para armar. Paul Klee, Vassily
En su obra plástica trabaja con el cruce entre pintura,
Kandisnki, Moholy Nagy, Marcel Breuer, Josef Albers,
manga japonés y activismo. Con la música formó
Johannes Itten, entre otros, enseñaban en la escuela.
parte de bandas Suripantas, Las Fantásticas Pupés
La única presencia docente femenina era Günta
y XOXOBOMBA. En el 2019 publicó su primer libro
Stolz. Elvira se propuso destacar el papel de las
de pinturas ‘Femininjas’ por Ronda Editorial.
mujeres dentro de la escuela, que trabajaban en los
talleres de textil, cerámica, sin participación en los
talleres de herrería y arquitectura. Se alegaba que las
Sobre las Obras de la Bienal mujeres tenían problemas con la tridimensionalidad.
Marianne Brandt, en el taller de herrería, fue una
La práctica artística de Gladys Kalichini se enfoca
excepción. Grete Stern que se formó como fotógrafa
en tres categorías principales: historia colonial,
en la Bauhaus y desarrolló su actividad en Argentina.
marginación y memoria, especialmente con respecto
Gonzalo Elvira parte de los retratos de las mujeres
a las narrativas de mujeres que han estado ausentes
de la Bauhaus para dibujar retratos que a su vez
de la memoria colectiva en contextos africanos. En la
fotografía e integra en el dibujo site specific en la
exhibición del video Entierro: Borrando lo borrado (2017),
Bienal 12. Su obra reflexiona sobre la fotografía y
donde la artista escenifica una práctica de entierro
destaca el lugar de las mujeres en la Bauhaus.
zambiano en la que algunos dolientes están cubiertos
con polvo blanco (chinbuyaring), Kalichini propone
crear un contexto para las experiencias personales y
comunitarias de duelo y recuerdo mientras mantiene Grete Stern
un espacio para lidiar con el pérdida / desaparición
de historias sobre mujeres que son históricamente
(Wuppertal, Alemanha,
importantes, como en el caso de Alice Lenshina (n.1920 1904 - 1999)
- m.1978) y Julia Chikamoneka (n.1910 – m.1986),
figuras importantes durante la lucha de Zambia Entre 1923 y 1925 estudia diseño gráfico y tipografía
por la independencia a principios de la década de en la Technische Hochschule, en Stuttgart. En
1960, cuyos papeles apenas fueron registrados o 1927, siguiendo el consejo de su amigo, el gran
reconocidos en la narrativa oficial. Mientras crea fotógrafo Umbo, toma clases particulares - junto a
un lugar de duelo ritual evocando las narrativas de Ellen Auerbach - con el aclamado profesor Walter
mujeres históricamente relevantes, el trabajo también Peterhans. Cuando éste inicia sus cursos en el taller
se erige como un gesto de luto para las mujeres de fotografía de la Bauhaus sus jóvenes discípulas
contemporáneas y cotidianas cuyas historias ya han prosiguen allí su aprendizaje. En 1932, en la Bauhaus,
sido borradas o están en proceso de desaparición. conoce al fotógrafo argentino Horacio Coppola, con
quien se casaría tres años después. En 1929 Grete y
Ellen abren ringl+pit, un estudio de diseño gráfico
Gonzalo Elvira y fotografía altamente experimental en Berlín.

(Patagônia, Argentina, 1971)


Sobre las Obras de la Bienal
Vive y trabaja en Barcelona desde el año 2000.
Hispano-Argentino. Gonzalo Elvira viene realizando La fotógrafa alemana Grete Stern, quien fue
una larga y sostenida trayectoria desde su alumna de la Bauhaus, se radicó en Argentina en
primer proyecto individual en el año 1993. Trabaja los años treinta, durante el ascenso del nazismo.
habitualmente en proyectos de investigación En 1958 adoptó la nacionalidad argentina. Entre
históricos-sociales de larga duración. Estudio 1958 y 1960 viajó a la Provincia argentina de Chaco,
en la escuela de artes visuales Antonio Berni en hasta convocada por la Universidad Nacional del
Buenos Aires. En los últimos cinco años ha realizado Nordeste para tomar fotografías de la vida y las
diversas exposiciones individuales y colectivas en costumbres indígenas. La universidad planeaba
España, Argentina, Andorra, Colombia, Brasil, Italia, crear un museo y archivo etnográfico regional.
exhibiendo sus proyectos en diversos espacios Retrató tobas, sus viviendas, su trabajo, y registró
institucionales y privados, museos, galerías, a los lingüistas que investigaban sobre sus lenguas
ferias y centros de investigación. Actualmente aborígenes. En 1964 permaneció cuatro meses en
es uno de los becarios de la Fundación Botín. Resistencia, para continuar el proyecto. Fotografió

BIENAL 12 CATÁLOGO 342


a tobas, wichis, mocovíes, En estas fotografías sur y del norte de Argentina; la vida y la artesanía
Grete retoma, en un sentido, el interés que la de los aborígenes del Gran Chaco; retratos de
Bauhaus tenía en las culturas aborígenes, en sus diversos artistas e intelectuales argentinos.
tejidos, en sus lenguajes. Retrata a estas mujeres
en su trabajo, pero también posando, sonriendo.
Se percibe en ellas el orgullo de la retratada. Sobre las Obras de la Bienal
El trabajo de la artista Gwladys Gambie,
Guerrilha Girls generalmente materializado a través de dibujos,
de collage y performance, está centrado em
(Nova York, Estados interrogaciones sobre la mujer negra y sus
Unidos , 1985) representaciones tanto en Martinica, isla donde la
artista vive y trabaja, como en el Caribe en general.
El paisaje del Caribe y el “creole” como parte del
Guerrilla Girls es un colectivo anónimo de artistas
paisaje sonoro de la región son articulaciones
feministas y antirracistas de Nueva York que desde
importantes en esta reflexión e informan tanto la
1985 utiliza tácticas de comunicación que permiten
creación del imaginario de la artista como la de
denunciar con humor y eficacia la discriminación
una iconografía específica para representar, de
de las mujeres en el mundo del arte. Intervienen las
modo decolonial, el cuerpo de la mujer negra que
calles y las galerías de Nueva York en forma anónima,
en el imaginario de Gambie, es una cartografía
utilizando máscaras de Gorilas y sobre nombres de
sensible, un espacio poético. Para la Bienal 12 |
artistas fallecidas (como Kathe Kollwitz). Entienden
Porto Alegre, Gambie expandió la serie de collage
que lo que denuncian es más importante que la
The birth of Manman Chadwon (2018), una figura
autoría individual. Su agenda feminista también
de su mitología personal cuya creación se inspiró
considera la crítica del colonialismo y del racismo.
en Manman Dlo, la diosa del océano en la cultura
Respecto de la historia del arte ellas vuelven visible
afrocaribeña. El significado de la palabra Chadwon,
hasta qué punto la mujer ha sido representada,
en “creole”, también remite a erizo de mar, una
generalmente desnuda, constituyendo uno de los
referencia recurrente en el trabajo de la artista.
temas principales de la historia del arte, pero borrada
como artista. Sus análisis se centran en el mundo del
arte y en la industria del cine, la cultura popular, los
estereotipos de género y la corrupción que atraviesa
Helô Sanvoy
el sistema del arte. Sus carteles recurren a la gráfica (Goiânia, Brasil, 1985)
y el humor como instrumentos de alto impacto
en sus mensajes. Quienes actualmente integran
Es licenciado en Artes Visuales por FAV / UFG y
el grupo enfatizan las campañas en contra de la
estudiante de maestría en ECA / USP. Es miembro del
violencia contra la mujer, abogan por la igualdad
colectivo de performance Grupo EmpreZa desde 2011,
racial, y se oponen a las guerras y las dictaduras.
donde desarrolla investigaciones acentuadas sobre
la poética del cuerpo y sus derivados. Como artista

Gwladys Gambie individual, busca significados a través de diferentes


modos de lectura, imposibilidades de comunicación
(Martinica, 1988) y procesos de silenciamiento. Fue premiado en el 23
° SALÓN ANAPOLINO ARTE (2017) y en el 7 ° SALÓN
DE ARTES PLÁSTICAS DE SUZANO (2011). Realizó
Con el ascenso y consolidación del régimen
exposiciones individuales en MAC-GO (2014) y en
nazi en el poder y la consecuente clausura de la
CAL / UNB (2014). Tiene obras en colecciones en el
Bauhaus, Grete emigra a Inglaterra, junto con
Museo de Arte de Rio Grande do Sul (MARGS), en
su marido y su socia, donde instalan la nueva
el Museo de Arte de Río (MAR), en el Museo de Arte
sede del estudio ringl+pit. El estudio Londinense
Contemporáneo de Goiás (MAC-GO). Participó en
permanece abierto apenas un año ya que Ellen
exposiciones colectivas como ‘ZONA DE PERIGO’, del
se ve obligada a viajar a Los Estados Unidos. En
5º Premio Marcantonio Vilaça (2016), y ‘POROROCA:
1935 Grete viaja a Buenos Aires junto a Horacio
A Amazônia no MAR’, en MAR-RJ (2014).’’
Coppola, donde se instalan permanentemente.
Allí retoma su actividad fotográfica y publicitaria,
volcando en su trabajo las ideas modernistas de la
Nueva-Visión que había traído de Europa. Su obra
Sobre las Obras de la Bienal
fotográfica comprende, entre otros trabajos, series En la obra en video, Estão sendo tecidos (2013/2018),
sobre Buenos Aires y su arquitectura; paisajes del el artista multidisciplinario Helô Sanvoy registra a

343 BIENAL 12 CATÁLOGO


su madre, Maria Conceição, tranzando el cabello femenino y negro y nos invita a considerar algunas
del artista mientras entabla una larga conversación cuestiones: ¿Cómo se puede pensar sobre afectos con
con Sanvoy y su esposa, Dheyne de Souza, sobre los respecto a una población en permanente situación
eventos de su infancia: las condiciones de trabajo en de violencia y terror? ¿Cómo atravesar los impactos
las plantaciones, la convivencia con descendientes de naturalizaciones de violencias coloniales y des/
de esclavos, las dificultades de la vida en el interior velar epistemicidios contemporáneos y tecnologías
de Goiás, las costumbres de la familia, los cuidados de implementación de esas violencias? ¿Cómo activar
con el cuerpo y, especialmente, con el cabello. El la memoria como llave para reconstruir narrativas
momento de cuidar del cabello como contexto para colectivas como estrategia de resistencia? ¿Cuáles
conversaciones relevantes sobre temas sociales y son las epistemologías, tradiciones y modos de
políticos es un evento que se repite en la historia aprendizaje específicos de las familias negras?
de las familias negras en Brasil. Las historias de ¿Cómo volver a nuestro libro de recetas negras y
la infancia de la madre del artista se confunden sumergirnos en nuestros conocimientos ancestrales:
con el contexto general de la vida de familias en el en los baños de hiervas, en las oraciones para
interior de Goiás y del centro oeste, durante los años todos los males, y en las simpatías para el amor?
posteriores a 1950, y remiten, así, a la formación del
tejido social, histórico y cultural del interior de Brasil y,
consecuentemente, a las condiciones de desigualdad Janet Toro
política y social vividas en el país actualmente.
(Osorno, Chile, 1963)
Janaina Barros Artista visual y performista chilena. Estudió
Licenciatura en Arte, en la Facultad de Artes de
(São Paulo, Brasil, 1979) la Universidad de Chile. Participó en el grupo
APJ (Artistas Plásticos Jóvenes) El trabajo de la
Artista visual, investigadora y profesora del artista es una reflexión visual y corporal acerca
Departamento de Artes Plásticas de la Facultad de la existencia humana. Su creación surge de la
de Bellas Artes de la Universidad Federal de Minas necesidad de profundizar en la existencia y desde
Gerais. Doctorado por el Programa Interuniversitario ahí generar un ámbito de resistencia y un espacio
de Postgrado en Estética e Historia del Arte de la de poesía. Ella trabaja con las políticas del cuerpo,
Universidad de São Paulo (PGEHA-USP). Máster en con el ser mujer en una sociedad patriarcal y
Artes por el Instituto de las Artes de la Universidad colonial. Trabaja desde los límites, lo mínimo, lo
Estatal de São Paulo (IA-UNESP). Especialista en controvertido y extremo a la vez. Es una de las
Lenguajes Visuales por Faculdade Santa Marcelina artistas de la exposición Radical Women, que se
(FASM). Graduada en Educación Artística con ha mostrado en los Museos Hammer, de California,
Titulación en Artes Plásticas por la Universidade Brooklyn de New York y la Pinacoteca de Sao Paulo.
Estadual Paulista (IA-UNESP). Desarrolla
investigaciones sobre archivos y epistemologías
en la arte contemporánea de autoría negra. Tiene Sobre las Obras de la Bienal
publicaciones sobre el debate sobre autoría negra
y género en el arte brasileña contemporánea. Integrante de la Agrupación de Plásticos Jóvenes
que realizó acciones urbanas contra la dictadura
de Pinochet, Janet Toro realiza performances que
Sobre las Obras de la Bienal abordan la memoria, el dolor, y las políticas del
cuerpo, principalmente en relación con el lugar de
Janaina Barros es una artista visual, arte educadora las mujeres en la sociedad patriarcal. En Carmín
e investigadora académica cuya investigación (7’15’’, 2013), la artista pinta con labial rojo sus labios
involucra la creación de objetos con costura y y luego refriega 1000 papeles blancos. La belleza del
bordado, y performance. Mientras sus objetos primer momento va cediendo y su cara manchada
revelan una atención al dominio de lo doméstico y toma un cariz bufonesco, irónico. Sus labios sienten el
de lo privado negros, sus performances acentúan dolor del roce, eco de la trata de mujeres y niñas en
consideraciones sobre el sujeto femenino negro y la que piensa. En la performance El reflejo (2015), con
las tensiones y exotismos creados por su presencia el Museo de la Memoria y los Derechos Humanos de
en el espacio público. En las series Psicanálise do fondo, un grupo de migrantes interroga la identidad
cafuné: catinga de mulata (2017) y Psicanálise do desde espejos que devuelven sus rostros a quienes
cafuné: sobre remendos, afetos e territórios (2016- miran. Este é meu corpo transcurre entre la Plaza
2019), Barros nos conduce a un espacio íntimo, de Alfandega y el edificio del Memorial, durante la

BIENAL 12 CATÁLOGO 344


apertura de la Bienal 12. Del cuerpo de la artista, bajo
tierra, surgen las fotos de mujeres asesinadas en el
Joiri Minaya
mundo. Desde allí Janet parte al Memorial y cruza su
(Nova York, Estados
retórica arquitectónica con la frase “este es mi cuerpo”.
Unidos, 1990)

Jessica Kairé Joiri Minaya (1990) es una artista multidisciplinaria


dominico-estadounidense cuya obra desestabiliza
(Cidade de Guatemala, representaciones históricas y contemporáneas de
Guatemala, 1980) una identidad tropical imaginada. Minaya asistió a la
Escuela Nacional de Artes Visuales en Santo Domingo
(2009), la Escuela de Diseño Altos de Chavón (2011)
Artista y educadora, vive y trabaja en Nova York.
y Parsons the New School for Design (2013). Ha
También es cofundadora de NuMu (Nuevo Museo
participado en residencias como Skowhegan School
de Arte Contemporáneo), un museo en forma
of Painting and Sculpture, Guttenberg Arts, Smack
de huevo ubicado en la ciudad de Guatemala
Mellon, AIM Bronx Museum, Mentoría NYFA para
que tiene como objetivo saciar la falta de otras
Artistas Inmigrantes, Red Bull House of Art, Lower
instituciones de arte contemporáneo en el país.
East Side Printshop, Art Omi y Vermont Studio
En su práctica, Kairé emplea elementos artísticos
Center. Ha sido galardonada con subvenciones de
y domésticos para crear obras que a menudo
Socrates Sculpture Park, la Fundación Joan Mitchell,
solicitan la participación pública a través de diversas
la Fundación Rema Hort Mann y la Fundación Nancy
formas de activación. Su trabajo aborda cuestiones
Graves. El trabajo de Minaya ha sido mostrado
relacionadas con la identidad guatemalteca y
internacionalmente, especialmente en Estados
latina en temas generales y específicos de su país
Unidos y el Caribe, y es parte de colecciones como
natal: violencia, subdesarrollo y tropicalidad.
la Colección Eduardo León Jimenes y la Colección
del Museo de Arte Moderno de Santo Domingo.

Sobre las Obras de la Bienal


La guatemalteca de ascendencia judía Jéssica Sobre las Obras de la Bienal
Kairé, con domicilio en Nueva York, despliega
Jori Minaya nació en Nueva York pero vivió hasta
alimentos, textiles y otras formas de artesanía
los 21 años en República Dominicana. Hoy vive en
en proyectos que requieren la participación del
los Estados Unidos, el Norte Global. La percepción
público y que desentrañan un comentario agridulce
crítica de las desconexiones e interpretaciones
sobre los temas de identidad de género, nacional
estereotipadas que diariamente percibe es un campo
y regional. Bajo el velo del humor mordaz, los
de exploración creativa para la artista. Las imágenes
videos de la serie Tal es la vida en los trópicos y
de #dominicanwomengooglesearch provienen de la
las esculturas blandas colectivamente tituladas
búsqueda en google, en inglés, que Joiri realizó sobre
CONFORT hablan de la violencia generalizada
la “mujer dominicana”. Son representaciones de baja
que impregna la vida cotidiana de Guatemala. Al
resolución, que divide en sus partes, expande a escala
adoptar el formato de un programa de cocina de
humana, e imprime en formas que suspende en la
televisión, Tal es la vida en los trópicos puede verse
sala de exposición. Son partes de cuerpos vestidos con
como la actualización del icónico video feminista de
estampados coloridos que se ajustan a las fantasías
Martha Rosler Semiótica de la cocina (1975) para el
acerca de los rasgos típicos de la mujer tropical for
contexto de la Guatemala “tropical” contemporánea.
export. La forma se asemeja a una colección y a su
Protagonizada por las frutas nativas del país como
clasificación, se relaciona con la organización de los
el medio para construir armas de autodefensa de
invernaderos tropicales. La acumulación parodia los
bricolaje, los videos de Kairé, así como sus objetos
estereotipos, los lugares comunes y la imaginación
apretables de felpa, sirven tanto para denunciar
masculina sobre los patrones repetidos respecto
la violencia como para rechazar el miedo a ella.
de la identidad de la mujer tropical. Se trata de
descolonizar historias, culturas e ideas impuestas.
Siboney es el registro de una performance que consta
de dos partes. La primera es el video que documenta
el proceso de copiar sobre la pared de un museo
el estampado tropical de una tela que la artista
encontró. Al mismo tiempo, exploró la colección del
Centro León en la República Dominicana y escogió

345 BIENAL 12 CATÁLOGO


una pintura de la artista Vela Zanetti, con el tema
de una mulata danzante. Joiri trabajó alrededor
Judy Chicago
de un mes en la realización de este mural. Para
(Chicago, Estados Unidos
éste utilizó pintura al agua. En la performance que
luego realizó, la artista echó agua sobre su cuerpo da America, 1939)
y lo deslizó y estrujó contra la pared, con lo que los
colores se borronearon, se entremezclaron. Durante Judy Chicago es una artista, autora de 14 libros, y
la performance se escucha una adaptación de la humanista la cual, trabajo y vida sonmodelos para un
canción Siboney por Connie Francis. La performance largo definición de arte, un papel expandido para la
involucra un análisis crítico sobre los conceptos artista, y el derecho delibre expresión de las mujeres.
de monumentalidad, sobre el cuerpo que se Chicago es más conocida por su papel de crear un
transforma en pincel o en goma de borrar, sobre la arte feministay por el programa de arte-educación
evanescencia de los estereotipos de la tropicalidad. en California durante el inicio de la década de 1970, y
porsu obra monumental The Dinner Party, ejecutado
entre 1974 y 1979, la cual es la pieza centralde
Jota Mombaça Elizabeth A. Sackler Center for Feminist Art en
Brooklyn Museum en New York. El trabajo de Chicago
(Natal, Brasil, 1991) ha sido exhibido extensivamente en Estados Unidos
de América y internacionalmente ysu influencia
Jota Mombasa es una artista interdisciplinaria cuyo permanece siendo un conocimiento afuera. Judy
trabajo deriva de la poesía, de la teoría crítica y Chicago es representada por Salon 94 en New York
del performance. La materialidad sónica y visual y por la Galería Jessica Silverman en San Francisco.
de las palabras tiene un papel importante en su
práctica, que en general se relaciona a la crítica
anticolonial y la desobediencia de género. A través Sobre la Obra de la Bienal
del performance, ficción visionaria y estrategias
de producción de conocimiento, ella tiene la Judy Chicago estableció la agenda del feminismo
intención de ensayar el fin del mundo como lo artístico en los Estados Unidos desde fines de los
conocemos y la figuración de lo que sucede con la años sesenta. El programa de formación artística
caída del sujeto moderno-colonial desde su podio. feminista que llevo adelante junto a Miriam Schapiro
Actualmente vive y entre Fortaleza, Lisboa y Berlín. en CalArts (UCLA) fue pionero e influyente: la artista
mexicana Mónica Mayer –que participa en la Bienal 12
con su obra El Tendedero—estudió en este programa.
Atmopheres es una obra que Judy realiza entre 1968 y
Sobre las Obras de la Bienal
1974 intervenciones con fuegos artificiales de distintos
La práctica multidisciplinaria de la artista Jota colores (humo de colores) en espacios naturales de
Mombaça se desdobla a partir de dos elementos California. El propósito era transformar y suavizar
clave que coliden, se articulan y se interpelan: sus el paisaje, introduciendo un impulso femenino en
procesos de escrita y performance. Los procesos el entorno, o bien recrear actividades de tiempos
de escrita desaguan en ensayos poéticos, ficción prehistóricos centradas en las mujeres –como
científica, y formas de ficción visionaria que incluyen encender el fuego o adorar a figuras de diosas.
presentimientos y prosa profética. De este nódulo
surge la Serie bandeiras (2017-2020) cuya versión
ampliada con 21 piezas se presenta en la Bienal 12 | Juliana Dos
Porto Alegre. Segundo elemento clave en el proceso
de investigación de Mombaça, la performance viene
Santos
adquiriendo fuerza a partir de la serie de acciones (São Paulo, Brasil, 1987)
A ferida colonial ainda dói (2015-2018). Dentro de la
clave de la performance podemos pensar la obra Así
Artista visual y educadora de arte, con trabajos
desaparecemos (2019-2020). El proyecto se piensa
en video, performance, fotografía y multimedia.
con respecto a la quema de archivos históricos. En
Juliana ha estado investigando el color azul de la flor
Brasil la referencia a la orden oficial dada por Rui
Clitoria Ternátea como una posibilidad de la color
Barbosa para quemar los archivos relacionados
como una experiencia sensible en el la exploración
con la esclavitud en 1892 y al incendio del Museo
de los sentidos. Realizó su primera exposición
Nacional en Río de Janeiro en 2018. Posicionada en
individual en 2018, como artista/profesora invitada
frente a la obra Auras anônimas de Beatriz González,
en la residencia de la Academia de Bellas Artes de
Mombaça lee, desde un papel en llamas, textos
Viena, Austria. Su primera exposición individual en
escritos por víctimas del conflicto en Colombia.

BIENAL 12 CATÁLOGO 346


Brasil fue por el edicto Temporada de Proyectos el espacio de la Bienal 12, por encima de la altura de
del Paço das Artes en 2019. Ese mismo año recibió los espectadores. La artista investiga el proceso de
una medalla de bronce en el 16º Salón Ubatuba convertir la leche líquida en un hilo sólido con el que
de las Artes Visuales. Actualmente participa en la tejer. El proyecto nace de un cuento de Marguerite
exposición Abre-Alas 16 de la galería A Gentil Carioca. Yourcenar, “La leche de la muerte”, sobre una mujer
tapiada cuya leche sigue brotando para alimentar
a su hijo. O de la historia de Hera, cuando la leche
Sobre la Obra de la Bienal de su pecho salpicó y creó la Vía Láctea. Juliana
investigó en forma física e intuitiva cómo traducir
“Entre el azul y lo que no me dejo/dejan olvidar” es estas historias a una dimensión real, convirtiendo
una instalación interactiva y performativa, compuesta la leche en fibra. Extrajo la caseína de la leche, le
por luz, sonido y sensor de presencia. La obra surgió agregó cal, y formó una masilla que modela con sus
con las reflexiones de Juliana dos Santos sobre los manos y combina con tierra. Después de dos años
límites y las posibilidades poéticas de ser artista de experimentación primero en un laboratorio, luego
negra, reflexiones que la artista articula a través de en la cocina de su casa, observando atentamente
las preguntas: ¿‘Sería posible hablar del Azul si todo la emocionalidad de su material, la leche --siempre
el tiempo no me dejan olvidar que mi límite está muy distinta, extremadamente permeable al medio que
por debajo del cielo? ¿Cuáles son las demandas que la rodea-- logro el hilo. La hebra tiene una apariencia
no me dejo/dejan olvidar? ¿Artist_s negr_s pueden elástica y semi translúcida. Techo de leche y tierra
abstraer? ¿Cómo hablar sobre el azul si todo el cobija los cuerpos que circulan bajo su espacio.
tiempo me gritan “negra”? ¿Cómo puedo perderme
en el azul si el recuerdo ajeno me interrumpe el
sueño?’ Así, la instalación es una elaboración de una Juliana Vidal
experiencia inmersiva que surge de esa búsqueda
de lo sensible y de la experimentación plástico- (Cuenca, Equador, 1993)
formal, en un ejercicio e intento de hablar sobre el
azul entre otras posibilidades de intercambio. Licenciada en Artes Visuales, en la Universidad
de Cuenca, co-fundadora del proyecto de arte
público, La Carretilla - Arte Ambulante.En 2018
Juliana Góngora Vidal fue ganadora del premio Paris en la XIV
Bienal de Cuenca, en 2019 fue residente en la Cité
(Bogotá, Colômbia, 1988) International des Arts, en Paris durante un periodo
de seis meses.Ha participado en las muestras, “Arte
Trabaja con materiales primitivos y orgánicos: mula”, Quito, No Lugar, Artefactos y Artilugios,
tierra, sal, hilos de araña, granos de arena, piedras, con la Bienal de Cuenca; DES DOBLA MIENTO,
vidrio. Colecciona condiciones escultóricas: fuerza, Cuenca, El Después de estar, Quito, La Forme du
sutileza, presionar, esperar, suspender, humedecer. Temps, Paris, “Proceso de Error”, InVeLaboratorio
Como artista incita a la conciencia material y de formación en vídeo experimental, Valparaiso,
afirma que como especie necesitamos cuidar de Chile. (2014), “PPC’sPoPUp Kino2” Berlin-Alemania
nuestras acciones diarias en vez de exponer nuestros (2015). Su trabajo ha sido publicado en los libros,“
discursos de poder. Algunas de sus exposiciones y Mapas del Arte Contemporáneo en el Ecuador”;
reconocimientos son: Art+château Burgandy, Francia, ”Artefactos y Artilugios”; Estructuras Vivientes, El
Bienal 12 Porto Alegre (2020), Zona Maco CDMX arte como experiencia plural, Revista; INDEX, Arte
2020, “Pasado, tiempo, futuro: Arte en Colombia en el Contemporáneo; Revista La Descarga Plataforma
siglo XXI” MAMM (2019), Artecámara ARTBO (2018), Cultural, y en diversas plataformas digitales.
residencia del MacVal Musèe d’art contemporain du
Val-de-Marne dentro del marco del año Colombia-
Francia (2017). Ganadora de la beca de creación para Sobre la Obra de la Bienal
artistas emergentes del Ministerio de la cultura (2015),
beca FLORA ars+natura Artista en Residencia (2015); La joven artista nacida en Cuenca, Juliana Vidal
residencia en Mildred’s lane New York, USA (2016) (Tania Marcela Vidal Barrera) investiga el atractivo
y ganadora del premio de Arte Joven en el (2016). físico duradero de las huellas a través de los medios
que van desde la fotografía analógica hasta las
prácticas escultóricas basadas en la fabricación de
Sobre la Obra de la Bienal moldes. Ya sea por medio de una cámara fotográfica
o materiales maleables tan diversos como arcilla, yeso
Techo de leche y tierra es una delicada y monumental y compuestos dentales contemporáneos, ella registra
instalación que la artista Juliana Góngora monta en

347 BIENAL 12 CATÁLOGO


signos indexados que median la ausencia a través del de diáspora. Son tantas vidas como los kilómetros que
espacio y el tiempo. A través de estas operaciones, separan Rosario de Porto Alegre: 1208. La instalación
su trabajo es una especie de meditación extendida reúne también el herbario que Julieta realiza a partir
sobre la visibilidad e invisibilidad de diversos de la impresión directa de las especies vegetales que
cuerpos humanos, su persistencia y las huellas Ruperta le regaló de su jardín. Las impresiones en
que dejan en los espacios sociales que habitamos. papel vegetal translúcido se superponen creando
Específicamente sus ladrillos de tierra producidos una textura visual delicada. La instalación incluye
artesanalmente aluden a la clase, ya que está también una serie de impresiones en blanco sobre
imbricada con los diferentes modos de construcción blanco de un texto en el que Julieta condensa su
en las ciudades latinoamericanas, señalando los experiencia de estar entre dos lenguas, el español
problemas de su organización y segregación espacial. y el francés. Ella agrega una versión en qom que
traduce Arsenio. Aborda así la experiencia diaspórica
de la comunidad qom y la que ella misma condensa
Julieta Hanono en su vida entre Paris, Buenos Aires y Rosario.

(Buenos Aires, Argentina, 1962) Qom – ¿Un pueblo, creo?

Nace en Buenos Aires. Estudió Filosofía y Artes


Visuales en la Universidad de Rosario. Llega a
Kan Xuan
París en 1990 invitada a la Escuela de Bellas Arte; (Anhui, China, 1972)
actualmente vive y produce entre París, Rosario y
Buenos Aires. Su trabajo está relacionado con su
Nacida en 1972, Anhui, China. Kan Xuan ahora vive y
experiencia política en Argentina en los años ‘70,
trabaja entre Beijing (China) y Amsterdam(Holanda).
con la desaparición, la prisión y el exilio a Francia.
Kanxuan trabaja principalmente en video, destacando
Hoy se constituye como un punto de encuentro entre
los elementos, los sentimientos y lassensaciones
dos esferas geográficas diferentes, América Latina
triviales que experimentamos a diario, pero que a
y el hemisferio norte. A través de sus producciones
menudo rara vez notamos. Alreproducirlos lo más
desde un punto de vista feminista, se compromete
directamente posible, su trabajo es sorprendente
a pensar los modelos críticos y estéticos entre Norte
por su imaginación, relevanciay exactitud. Ella se
y Sur, interrogando el lenguaje en su capacidad
entrega a perfeccionar las técnicas del observador,
de traducir los relatos personales y colectivos. Sus
pero transforma estaobservación pasiva en actuación
obras conceptuales funcionan como proposiciones
activa en sus piezas de video. El humor, la ligereza
poéticas que se despliegan y se declinan en texto,
y la graciacaracterizan las obras de Kan Xuan,
dibujo, escultura, film, neón, afiche, etc. Su propuesta
junto con un profundo sentido de ironía crítica.Las
esta inscripta en un work in progress que llama
exposiciones individuales recientes incluyen: “Racing
Traducción afectiva y se desarrolla en diversos
Gravels”, Times Art Center, Berlín,Alemania (2019);
proyectos interdisciplinarios a partir del rol del artista
“Light”, Galleria Continua Les Moulins, Francia
como interprete traductor. Últimas exposiciones:
(2016); “Kan Xuan”, IKON,Birmingham, Reino Unido
(2017) Centro Helio Oiticica, Río de Janeiro, Brasil,
(2016); “Millet Mounds”, UCCA, Beijing, China (2012).
(2018) Museo de la Memoria Rosario, Argentina,
(2019) Museo de la Cárcova, Buenos Aires, Argentina,
(2020) participará de la Bienal Mercosur, Porto
Alegre, Brasil y el Centro Pompidou, París, Francia.
Sobre la Obra de la Bienal
One by One es un video en que registra la idea de
movimiento, como si estuviese filmado desde un tren
Sobre la Obra de la Bienal en marcha. Cuando la cámara se detiene, enfoca
vestimentas militares. En tanto las imágenes se
La instalación Traducir la impenetrable presenta el
suceden aceleradamente, se escucha el sonido de la
trabajo que Julieta Hanono realizó en colaboración
ciudad, golpes y taladros, a los que se superpone el
con integrantes de la comunidad de pueblos
canto de los pájaros. La velocidad de las imágenes
originarios qom, provenientes de El Impenetrable
configura una textura visual, una trama en la que
en Chaco, que viven en Rouillón, en las afueras de
redoblan las contradicciones de la vida urbana,
la ciudad de Rosario, Argentina. Sus interlocutores
las tensiones entre ciudad y naturaleza, y la
en esta comunidad son Arsenio, quien realiza las
regimentación de la ciudad. Los films de Kan Xuan,
figuras de animalitos de barro, y Ruperta, quien
aparentemente livianos, “light”, fluidos, furtivos,
trasladó especies vegetales desde Chaco a Rosario.
inscriben sutiles alusiones políticas. En este video
La multitud de pequeños animales representa la idea
parte de la experiencia personal, desde un film que

BIENAL 12 CATÁLOGO 348


capta el movimiento del cuerpo al momento que (Caravaggio, Boucher, Vigée-Lebrun, Picasso). No
corre por el pasillo de un subterráneo pronunciando se trata de un autorretrato sino de un proceso de
su propio nombre Kan Xuan, Ai ! Se trata de un video transformación ritual, teatral, gozoso, en el que la
sencillo, que nos pone en contacto con la velocidad del artista se concentra en el fenómeno de la identidad
movimiento y con disonancias expresadas en primera femenina y en el poder transformador del arte.
persona. “Se trata de tratar de acercarme y tratar
de seguir, en todo momento, mi deseo de existir en la
distancia entre ‘pensar’ y ‘sentir’”, expresa la artista. La Vaughn Belle
(Moriah , Trindade e
Kimiko Yoshida Tobago, 1974)
(Tóquio, Japão, 1963) La Vaughn Belle hace visible lo no recordado.
Es una artista visual que trabaja en una variedad
Kimiko Yoshida nació en Tokio, Japón, en 1963. de disciplinas que incluyen: video, performance,
Sintiéndose oprimida como mujer, dejó Japón en 1995 pintura, instalación y arte público. Ella explora
y se mudó a Francia para perseguir sus ambiciones la cultura material de la colonialidad y su arte
artísticas. Desde que ganó su libertad artística, presenta contravisualidades y narrativas que
Yoshida ha estado trabajando prolíficamente. Su desafían las jerarquías coloniales y la invisibilidad.
trabajo gira en torno a la identidad femenina y Ha expuesto en el Caribe, Estados Unidos y Europa.
el poder transformador del arte. En su proyecto Su trabajo ha aparecido en una amplia gama de
más reciente, “Painting. Self-Portrait”, usa trajes medios que incluyen: NY Times, Politiken, VICE,
elaborados y pinta la piel en un color monocromático The Guardian, Caribbean Beat, BBC y Le Monde.
que combina con el fondo. Para la artista, el disfraz Tiene un MFA del Instituto Superior de Arte en La
es “el campo de desvío, distorsión y desviación”. Los Habana, Cuba, una maestría y una licenciatura
elementos visuales, junto con la referencia de los de la Universidad de Columbia en Nueva York.
títulos a artistas y pinturas del pasado, se unen para Su estudio está basado en las Islas Vírgenes.
desafiar las nociones y tradiciones convencionales
del arte y la identidad cultural. “Quiero una imagen
que intente repensar sus propios significados y
Sobre la Obra de la Bienal
referencias”. Ella continúa exhibiendo en todo el
mundo, y su trabajo se encuentra en las colecciones Viviendo y trabajando en Saint Croix, parte de las
permanentes del Museo de Bellas Artes de Houston, el antiguas Indias Occidentales Danesas y las actuales
Museo de Israel, el Museo de la Ciudad de Kawasaki Islas Vírgenes de EE. UU., La artista visual La Vaughn
y la Maison Européenne de la Photographie en París. Belle centra su investigación en la colonialidad, a
través del dibujo, la pintura, el video, la exhibición,
la intervención pública y la representación; sus
Sobre la Obra de la Bienal implicaciones, marcas tangibles y los efectos en
el pasado y el presente. ¿Cómo hacer visible lo no
Como reacción a la presión de una sociedad recordado? La búsqueda de Belle de esta pregunta
conservadora y patriarcal, Kimiko Yoshida crucial a través de su compromiso con los elementos
abandonó Japón y su linaje Samurai y se instaló en de la arquitectura, la historia y la arqueología es
Francia. “Desde que abandoné mi país para evitar magistral y lírica, creando espacio para explorar
la esclavitud y humillación de muchas mujeres contextos sociales y narrativas colectivas. Para
japonesas, he desarrollado una protesta feminista la Bienal 12 | Porto Alegre, Belle produjo una
contra los clichés contemporáneos en relación con versión a gran escala de la obra Tormenta (y otras
la seducción y el servicio voluntario de las mujeres, interrupciones violentas del Pintoresco) (2016-2020).
así como contra los estereotipos de género en Originalmente una serie de dibujos al carbón sobre
general”, declaró el artista. Ubicada ante fondos papel, en esta versión el dibujo al carbón se aplica
monocormos, blancos, negros, rojos, azules, amarillos, directamente en la pared. Contrastando la sublime
la artista procede a una compleja y ceremonial palmera con imágenes del caos de la tormenta, el
performance que registra en una fotografía. Con trabajo se presenta como una interrupción de las
joyas, sombreros y maquillaje se expresa a través narraciones de los pintorescos paisajes del Caribe
de su cuerpo (body art) para referir a tradiciones tan asociados al discurso colonial. Revela la tensión
culturales y a mujeres (María Antonieta, Madame entre ideas de fragilidad, vulnerabilidad y resistencia.
Pompadour, Medusa) o a figuras como el Minotauro.
En estas representaciones cita la historia del arte

349 BIENAL 12 CATÁLOGO


Lídia Lisbôa Liliana Porter e
(Guaíra, Brasil, 1970) Ana Tiscornia
(Argentina / Uruguai, 1941 / 1951)
Artista visual e performer, nacida en Guaíra, Brasil.
Lídia tiene licenciatura en Grabado en metal del
Museu Lasar Segall, Escultura y Cerámica del
Liliana Porter
Museu Brasileiro de Escultura (MuBE) y el Liceu
de Artes e Ofícios, entre otros antecedentes en Nacida en Argentina en 1941, reside en Nueva
Brasil y en el extranjero. Sus obras buscan evocar York desde 1964. Trabaja en medios de grabado,
el poder de las mujeres como la fuerza impulsora pintura, dibujo, fotografía, video, instalación,
detrás del significado de su propia existencia en el teatro y arte público. Su trabajo ha sido exhibido
mundo. La artista forma y teje historias de su vida, en muchas instituciones, incluido el Museum of
la de sus familiares y personas cercanas, que se Modern Art, el Whitney Museum of American Art,
vuelven universales, representando las historias de el New Museum, El Museo Tamayo, el Museo de
muchas otras personas en la realidad brasileña. Arte Latinoamericano (MALBA), el Museo de Bellas
Una mujer negra, que crece y vive en una sociedad Artes de Santiago de Chile y muchos otros. Sus
llena de prejuicios y violencia estructural, velada obras se encuentran en colecciones públicas y
por costumbres y comportamientos naturalizados. privadas en el Museo Nacional de Bellas Artes de
Lídia parece tejer y moldear para interrumpir, Buenos Aires; TATE Modern, Londres; Museum of
deshacer lo que se debe deshacer y dar un vistazo a Modern Art, NY; Whitney Museum of American Art,
las formas de vida y expresiones que muchos años NY; Philadelphia Museum of Art; Museo de Bellas
de ocultamiento querían condenar al ostracismo. Artes en Santiago; Fogg Art Museum at Harvard
University, MA; Museo de Arte Moderno de Bogotá;
Museo del Barrio, NY; Metropolitan Museum of Art,
Sobre las Obras de la Bienal NY; Smithsonian American Art Museum, WA; Museo
Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid.
Aunque Lidia Lisbôa haya sido entrenada en escultura
y pintura, performance es el elemento central de
su práctica. Ligado a la performance emergen sus Ana Tiscornia
diferentes lenguajes artísticos como costura, crochet,
Nacida en Uruguay en 1951, reside en Nueva York
anudado o assemblage de telas (em su mayoría) u
desde 1991. Es profesora emérita de Arte de la
otros materiales desechados. Durante el proceso,
Universidad Estatal de Nueva York en Old Westbury
el objeto creado cierra el círculo inspirando a la
y fue directora de la Galería Amelie A Wallace de
artista a realizar una nueva performance o acción
esa universidad. Su práctica abarca instalaciones,
performativa. En esta sala, que hace una ligera y
collages, objetos, grabados y pinturas, y se ha
tangencial referencia a la experiencia de estar en el
mostrado en varias exposiciones, entre ellas: Left,
atelier de la artista, Lisbôa presenta un conjunto de
Righ and Center, Josee Bienvenu Gallery, New York
obras de esos diferentes lenguajes: las Cicatrices con
2020; Ana Tiscornia at OMI, Ghent, New York 2018;
su volumen y costuras explícitas; los Chorões y los
Colateral o premeditado, Galería Nora Fisch, Buenos
Cordões-umbilicais para la artista, una articulación de
Aires 2017; Des-habitaciones, Galería del Paseo,
piezas en cerámica y partes de cuerpos de muñecas;
Lima 2015; El estado de las cosas, Museo Gurvich,
los Cupinzeiros, esculturas en cerámica que dan
Montevideo, 2013. Representó a Uruguay en la II y IX
acceso a sus historias de infancia en ambientes rurales
Bienal de La Habana, Cuba, y en la III Bienal de Lima,
en Paraná; y Casulos: os pequenos, una referencia al
Perú. Escribe para varias publicaciones especializadas
espacio uterino, y Casulo grande, objeto en crochet
de arte y es autora del libro “Vicissitudes of the Visual
comúnmente activado por la artista en algunas de
Imaginary: Between Utopia and Fragmented Identity”
sus performances. Su práctica nos permite vislumbrar
(Las vicisitudes del imaginario visual: entre la utopía
una posible transición entre objeto y performance
y la identidad fragmentada), publicado por White
como estrategia artística formal y táctica feminista.
Wine Press en colaboración con Distrito Cuatro.

BIENAL 12 CATÁLOGO 350


Liuska Astete Lorraine
Salazar O’Grady
(Santiago, Chile, 1984) (Boston Massachusetts,
Estados Unidos, 1934)
Mujer, Madre, Artista Visual de performance, pintura,
muralismo y cerámica. Licenciada en artes visuales, Lorraine O’Grady es una artista conceptual y
diplomada en arte terapia, fitoterapeuta y monitora crítica cultural cuya forma principal durante cuatro
de talleres artísticos.Nacida en Santiago de Chile décadas en varios géneros, incluido el texto, la
el 5 de Noviembre de 1984, estudio 3 años Terapia foto-instalación, el video y la actuación, ha sido la
Ocupacional en la Universidad de Chile, luego en el del díptico, o al menos el significado del díptico. En
año 2008 se muda a estudiar Artes Visuales en la el arte de O’Grady, ya sean actuaciones en vivo u
Universidad de Concepción.Desde el 2009 realiza obras de pared bidimensionales, coexisten múltiples
performances en espacios naturales y urbanos, emociones e ideas, incluso aquellas que pueden
participa de diversos encuentros de performance considerarse contradictorias, como la ira y la alegría, o
en Concepción, Lota y Santiago. El año 2012 decide el clasicismo y el surrealismo, mientras que los medios
viajar por Latinoamérica, realizando un proyecto técnicos parecen regirse por el azar. y por un control
llamado “Tierra Andante” que vincula performance, total, para expresar argumentos políticos y belleza
arcilla y viaje.En el otoño feminista del 2018 sin excusas, simultáneamente. En su conjunto, los
participa en la formación de “Efímeras, colectiva ensayos y las imágenes se interpenetran. El propósito
de performance política”, y el 2019 se integra a la de sus dípticos - a veces explícito, dos imágenes una
“Brigada de Mujeres Muralistas” pintando temáticas al lado de la otra, otras implícitas, como dos tipos de
relacionadas al feminismo y defensa de los territorios. cabello, seda y tocado, grabados en el mismo cuero
cabelludo en diferentes momentos del mismo día y
creando mundos permeables - no es llevar a cabo una
Sobre las Obras de la Bienal mítica “reconciliación de los opuestos”, pero permitir
(incluso forzar) una conversación entre diferentes el
Artista de la performance (integrante del colectivo
tiempo suficiente para inducir familiaridad y presentar
de performance política Efímeras, Colectivo de
un tipo de pensamiento de ambos, necesario para
Performance Política) y de la pintura mural, la
desestabilizar las categorías jerárquicas de Occidente.
Bienal 12 presenta tres registros de la performance
que Liuska realizó ante edificios emblemáticos de
la ciudad de Concepción, en Chile. Se trata de sus
“ejercicios de protesta”, realizados en 2010, en los
Sobre las Obras de la Bienal
que la artista expone su cuerpo desnudo cubierto Durante más de cuatro décadas, la artista conceptual
con pintura roja, negra y amarilla. El rojo frente al y crítica cultural Lorraine O’Grady ha estado haciendo
edificio de los Tribunales de Justicia (que la artista fuertes intervenciones intelectuales a través de su
renombra como de la “in-justicia”), que vincula a práctica artística; realizada en varios medios como
la violencia de distinto orden que se ejerce sobre texto, fotoinstalación, video y actuación y a través de
la población; el negro ante la Catedral, que se sus textos teóricos. Un ejemplo es su ensayo canónico
contrapone al blanco de la pureza o castidad que de 1992/94 “La doncella de Olympia: Reclamando
busca transmitir la Iglesia; el amarillo que utiliza la subjetividad femenina negra”, una contribución
frente a la Pinacoteca en Concepción, que vincula importante a los campos de la historia del arte y
a la luz que no ven quienes siguen a un mentor o el feminismo interseccional. La investigación de
profesor que reproduce un sistema de educación O’Grady aborda en su mayor parte, los problemas
mercantilizado y desigual. La intervención trae los de la diáspora, la hibridación y la subjetividad de
ecos de la lucha estudiantil que busca liberar a los las mujeres negras, así como su papel formativo en
jóvenes que se educan de los préstamos que los la historia del modernismo. En el video conceptual
endeudan en una educación arancelada. Liuska Paisaje (Hemisferio Occidental) (2010-2012), O’Grady
parte de su propio cuerpo desnudo, al que cubre convierte su cabello en un paisaje. Capturado desde
durante la performance de pintura, para rechazar diferentes ángulos de primer plano, los hilos se
los cánones de belleza socialmente aceptados. El mueven en diferentes direcciones e intensidades
cuerpo se erige como un instrumento de protesta. por el viento, acompañados por el sonido de grillos,
pájaros, cigarras y del mismo viento. La práctica
de O’Grady y este trabajo en particular, ofrece
varios puntos de conexión meditativa con una

351 BIENAL 12 CATÁLOGO


generación más joven de artistas de la diáspora
africana en Brasil, América Latina y el Caribe.
Lungiswa
Gqunta
Lucia Laguna (Port Elizabeth , África
do Sul, 1990)
(Campo dos Goytacazes,
Brasil, 1941) Lungiswa Gqunta lidia con las complejidades del
paisaje cultural y político poscolonial sudafricano.
Lucia Laguna nació en Campo dos Goytacazes (Rio Al crear experiencias multisensoriales que intentan
de Janeiro, Brasil) en 1941. Es licenciada en letras en articular los desequilibrios sociales que persisten
1971 y comenzó a enseñar portugués. Al comienzo como un legado de dominio patriarcal y colonialismo,
de la década de 1990, empezó a asistir a cursos de Gqunta expone diferentes formas de violencia
Pintura e Historia del Arte en la Escuela de Artes y desigualdad sistémica.Lungiswa Gqunta (n.
Visuales de Parque Lage, en Río de Janeiro, y realizó 1990) obtuvo su licenciatura en la Universidad
su primer exposición individual en 1998. En 2006 ganó Metropolitana Nelson Mandela, en 2012, y su
el Premio Marcantônio Vilaça del CNI SESI. Entre maestría en la Escuela de Bellas Artes Michaelis en
sus exposiciones individuales recientes, destacan 2017. Actualmente está completando su residencia
las siguientes: Vizinhança, MASP (São Paulo, 2018); en la Rijksakademie en Amsterdam.Recientemente,
y Enquanto bebo a água, a água me bebe, MAR Gqunta ha expuesto en Gropius Bau, Berlín, Alemania,
(Río de Janeiro, 2016). Sus principales exposiciones Kunstverein Braunschweig, Alemania, Manifesta
colectivas incluyen participaciones en: 30ª Bienal de Biennial 12 y Wanas Kunst Museum, Suecia y
São Paulo (2012), 32º Panorama da Arte Brasileira, Documenta 14.Los próximos proyectos para 2020
MAM-SP (2011), Programa Rumos Artes Visuais incluyen Ubuntu a Lucid Dream, Palais de Tokyo,
do Itaú Cultural (São Paulo, 2005–2006). Su obra Paris, Overview Effect, Museum of Contemporary Art
está presente en importantes colecciones públicas, Belgrade, Serbia y Biennial 12, Porto Alegre, Brazil
como MASP, MAM-SP, MAM-RJ, MAR, entre otras.

Sobre las Obras de la Bienal


Sobre las Obras de la Bienal
Las obras multisensoriales de la escultora y artista
Parte de la serie Paisagem, las obras de Lucia Laguna visual sudafricana Lungiswa Gqunta exploran los
en exposición ofrecen la posibilidad de vislumbrar desniveles sociales oriundos del colonialismo: los
los sentidos extendidos del concepto de “paisaje” paisajes coloniales y legados espaciales que estos
articulado por la artista. Para Laguna, paisaje es lo generan, como es el caso de los trabajos presentados
que se ve a partir de la ventana de su atelier, el Morro en la Bienal 12 | Porto Alegre, el video Feet Under Fire,
da Mangueira y el suburbio de la zona norte de Río (2017) y la instalación The Softness of A Woman’s
de Janeiro; paisaje es el jardín de la casa de la artista, Touch (2018-2020). ¿En qué es lo que pensamos
una especie de sitio arqueológico de la vida, formado cuando pensamos en el toque de una mujer? En la
por una combinación construcción de la actual versión de la instalación The
de plantas y objetos acumulados por más de cuarenta Softness of A Woman’s Touch, Gqunta se involucra en
años: estatuillas y jarrones rotos, llaves, candados, un intenso trabajo colaborativo con cuatro artistas
rejas y otros objetos descartados; paisaje es, también, e historiadoras del arte negras locales (Daniele Reis,
el conjunto de objetos colocados en su atelier: Malena Mendes, Mariana de Jesus y Paula Fernandes)
pinturas listas y en proceso, pequeños estudios, durante un período de cuatro semanas. Aunque
escaleras y trenas, envases de tinta, herramientas no nos sea posible acceder a los nudos formados y
y masa de cinta pintor usada pegada en la pared o desarmados durante este telar lírico y radical, somos
amontonada en el piso. Al afirmar “Paisaje es una invitadas a hacer las siguientes consideraciones
cosa de mi cabeza”, Laguna continúa ampliando adicionales: ¿Qué es lo que esta intervención en el
el concepto, nublando los límites entre espacio espacio expositivo produce en nosotras? ¿Cómo
exterior y su universo interior y más intimista. las ideas de toque, proximidad e intimidad, de un
lado, paisajes coloniales, legados espaciales y
violencia, del otro, se articulan? ¿Cuáles rupturas
esta poética negra femenina colaborativa anuncia?

BIENAL 12 CATÁLOGO 352


Marcela Astorga práctica que remite más allá de los objetos en las
fotos, un nivel invisible. Con el tiempo ha creado
(Mendoza, Argentina, 1965) varias series por ejemplo “El Arte de la Medicina
Ancestral”, y entre mas series. Maruch aprendió a
pastorear borregos a los 5 años y desde su infancia
Nací en Mendoza, Argentina. Desde los 19 años vivo aprendió de su mamá y de su abuela los diferentes
en Buenos Aires.La omnipresencia de Los Andes, la procesos de lana para una prenda hecha 100%
familia judía católica en la que nací, la escuela pública lana de borrego, se dedica al diseño del bordado
en la que me eduqué, el contexto de mis primeros de blusas de Chamula y diseño traje de 100% Lana
años, fueron determinantes en mi manera de producir. de borrego, Elaboración de jabones con extracto
Pienso que hay una matriz que se arma de nuestras de plantas. Maruch ha sido una investigadora
primeras experiencias.Ahí aprendemos a ver, a sentir, durante su trayectoria, las imágenes de ella siempre
a pensar. Las vivencias sucesivas, sólo moldean ese acompañada en tzotzil y español, adoptan las ideas,
arquetipo.La cumbre, lo bajo; la luz, la sombra; el pensamientos, sentimientos: los pasos de pueblo entre
deshielo, el aluvión, la sequedad; la repetición, la el pasado y el presente, entre los seres naturales.
acumulación; la frontera; la textura; el color; el abuso Diplomada en el 8º diplomado de producción de
de poder y el deseo de una realidad más equitativa Artes Visuales (2019), que fue realizado en residencia
y tolerante... TODO se registra en el cuerpo que no en Centro de las Artes San Agustín Etla, Oaxaca.
se sostiene sin una piel.Produzco siendo consciente Su formación ha sido en diferentes disciplinas.
que el sentido de la vista es en mí, un centro
inevitable y el arte, un vehículo de conocimiento.
Sobre las Obras de la Bienal
Sobre las Obras de la Bienal En esta serie de fotografías y textos titulada Creencias
de nuestros antepasados (1994) Maruch Santíz
En sus esculturas Marcela Astorga aborda los restos elabora un registro que parte de su participación en
de derrumbes guiada por las ideas de cuidado, de el Proyecto Fotografico de Chiapas que proporcionó
rescate. Ella recubre los escombros con láminas cámaras, películas y materiales de laboratorio para
de metal, los cuida, los proteje. “Óculo” se asienta utilizarlos con fines artísticos o documentales. Era
en el pensamiento y la posibilidad de cambiar la 1993, Maruch tenía 17 años. Ella vinculó fotografías
situación de un espacio real. Aborda la ruptura de objetos comunes, de la naturaleza, y de personas,
que da lugar a algo nuevo. Perfora la arquitectura con refranes y creencias de los pueblos indígenas de
y la vuelve permeable como una piel; comunica el Chiapas que no contaban con un registro escrito. Se
adentro con el afuera. Esta video instalación registra trata de un conocimiento en estado de emergencia
la destrucción parcial del techo de un espacio que ella compila en tzotzil, su lengua. No se trata de
oscuro en el que penetra la luz y transforma la fotografías sobre los indígenas sino de fotografías
experiencia perceptiva del espacio. El sonido de los realizadas por una mujer indígena. Cuando ella
golpes sobre el techo y las imágenes de los haces toma la cámara la fotografía deja de ser un
de luz que se generan, son los elementos narrativos instrumento de control social para convertirse en un
de esta video instalación. Los óculos se disponen instrumento de afirmación de su identidad cultural.
como estrellas de una constelación (la Cruz del
Sur). En la destrucción se construye un paisaje de
luces, como un nuevo cielo a escala humana.
Mirella Maria
(São Paulo, Brasil, 1990)
Maruch Santiz
Gomez Nacida en São Paulo (SP), vive y trabaja en São
Paulo. Tiene licenciatura en Artes Visuales de la
(Cruztón, Municipio de San Universidad Estatal Júlio de Mesquita Filho (UNESP)
Juan Chamula, México, 1975) y una maestría en el programa de Artes Visuales y
Educación Artística de la misma institución. Creadora
del proyecto artístico Quilombo Mulheres Negras, eso
Fotógrafa, Escritora y Artesana. Es originaria de
proporciona seminarios, exposiciones y experiencias
la comunidad de Cruztón, Municipio de San Juan
artísticas producidas por mujeres negras. En el campo
Chamula, Chiapas, México. Maruch comenzó a tomar
de su producción, la fotografía, los collages y el
fotos desde el año 1993. En sus fotos y textos en Tzotzil
arte textil se impregnan, trayendo resignificaciones
para leerlos como comentarios. Primero fueron serie
simbólicas en el campo de la plasticidad, la
de creencias de los antepasados, aquella filosofía

353 BIENAL 12 CATÁLOGO


memoria y la existencia. Su investigación actual como pionera del performance y de la gráfica digital
deriva de 2012, desarrollando investigaciones en México y a nivel internacional es reconocida
sobre la recuperación de registros, informes y como precursora y promotora del arte feminista.
producción visual de recuerdos de familiares del
mismo apellido: Maria. A través de la investigación,
profundiza las relaciones de afecto involucradas en Sobre la Obra de la Bienal
la memoria de ese apellido, a través de imágenes
bordadas, como una recreación de las historias de El tendedero es una instalación participativa que
varias Marias presentes en la vida del artista. Mónica Mayer presentó por primera vez en México
en el año 1978. Desde entonces ha sido actualizada
en varias oportunidades. Es una obra que se vale de
Sobre la Obra de la Bienal los métodos de la encuesta, con preguntas dirigidas
al público, al que se invita a responder por escrito
En Marias de minha vida (2019), la artista visual, arte y a dejar su respuesta colgada en una estructura
educadora, investigadora y maestra en educación, que recuerda las que se utilizan para colgar la
Mirella Maria articula tiempo y memoria hilvanados ropa –de ahí el título de la obra, El Tendedero--. En
en narrativas biográficas de miembros de su su primera versión Mónica invitaba al público de
familia. El punto de partida para la investigación la ciudad de México a completar la frase: “Como
es el intento de la artista en entender por qué su Mujer, lo que más detesto de la Ciudad es…” Los
apellido es “Maria” (un nombre común dentro del femicidios que siguen actuando contra los cuerpos
contexto brasileño). Durante el proceso, Mirella Maria de las mujeres han sido el motor de un incremento
hace registros orales y fotográficos de miembros internacional de los movimientos feministas. En tal
de la familia, una inmersión en la que la artista contexto, la obra de Mayer adquiere actualidad
descubre ricas historias de familiares vinculadas al y urgencia. Las preguntas centradas en el acoso,
apellido-nombre y a memorias ancestrales. En su en la violación, hacen de esta obra un espacio de
búsqueda, una curiosidad no compartida por otras análisis y crítica participativa sobre la violencia
personas de la familia, la artista se depara con hacia las mujeres en la sociedad contemporánea.
residuos coloniales presentes en la construcción
de su apellido-nombre: “Maria” es el nombre de
propietarios de africanos esclavizados, transferido, Mujeres Públicas
como marca de poder, para generaciones de
familias negras en Brasil. Mirella Maria formata, (Buenos Aires/Córdoba,
en vestido, imágenes de esa red de miembros de Argentina, 2003)
la familia, formada principalmente por mujeres,
que llevan ese apellido-nombre. Así, las “‘Marias’
Mujeres Públicas es un colectivo feminista de
que recorrieron el tiempo, continúan presentes
activismo artístico integrado por Fernanda Carrizo,
en nombre, apellido, imagen y memoria viva.”
Lorena Bossi y Magdalena Pagano constituido en
Buenos Aires en 2003. Han realizado y/o participado

Mónica Mayer en numerosas acciones, intervenciones, exposiciones


y encuentros en Argentina y otros países. Su trabajo
(Cidade do México, México, 1954) se despliega sobretodo fuera de los espacios
convencionales de las artes visuales, desarrollándose
en torno a la gráfica y a acciones en el espacio
Mónica Mayer (México, 1954) estudió artes visuales público, el objeto, el video y la instalación. Su trabajo
en la Escuela Nacional de Artes Plásticas de la propone cuestionar y ampliar los límites entre arte,
UNAM y en 1980 obtuvo la maestría en sociología política y activismo siempre aspirando a ser un
del arte en Goddard College en Los Ángeles, aporte a las luchas feministas contemporáneas.
California, en donde también participa dos años Han participado en: Feminist Forum, Malmö, Suecia
en el Feminist Studio Workshop en el Woman’s (2006), III Encuentro Feminista Nacional de Paraguay,
Building. Mayer es una artista inconforme con las Encarnación (2007), Foro Social Europeo, Malmö
definiciones del arte. Inquieta, crítica y poseedora (2008), Primer Campamento Latinoamericano
de un fino sentido del humor que aplica en todos de Mujeres de Movimientos Populares, Vargas,
los campos de su producción, ha desarrollado un Venezuela (2009), Oncena Bienal de La Habana,
enfoque integral en el que, además de performances, Cuba (2012), Fundación Proa, Buenos Aires (2014),
dibujos o intervenciones, considera como parte de Museo Reina Sofía, Madrid (2014), Teorética arte +
su producción artística el escribir, enseñar, archivar pensamiento, San José de Costa Rica (2015), Museo
y participar activamente en la comunidad. De Emilio Caraffa, Córdoba, Argentina (2016), Pratt
acuerdo a diversas publicaciones es considerada Gallery, Nueva York, USA (2016) entre otros espacios.

BIENAL 12 CATÁLOGO 354


Sobre la Obra de la Bienal Sobre la Obra de la Bienal
Mujeres Publicas es un Grupo Feminista de Para la Bienal 12 | Porto Alegre, la performer y
Activismo Artístico que integran Fernanda Carrizo, artista visual Musa Michelle Mattiuzzi presenta la
Lorena Bossi y Magdalena Pagano. Su activismo obra Jardim da Abolição (2020), una instalación que
considera que la creatividad y el impacto visual articula ciento once jarrones de varios tamaños,
son centrales en la eficacia. Utilizan materiales once hiervas y flores de poder, cultivadas por
de bajo costo, afiches, obleas, objetos múltiples e tradiciones orales y por curanderas de Brasil y de
intervenciones urbanas para visibilizar situaciones América Latina (como Romero, Ruda, Pimienta,
de opresión. Impulsan la apropiación colectiva de Guiné (Petiveria alliacea), o “amansa señor”, como
sus propuestas socializando los procedimientos para se la conoce por su uso estratégico y subversivo por
realizar sus objetos. Desde 2003 realizan acciones a parte de los esclavos), tierra y la frase en neón, “A
favor de la legalización del aborto, denunciando la intuição liberta a imaginação” (La intuición liberta la
violación de mujeres en conflictos bélicos, contra los imaginación), retirada del texto “A Dívida Impagável:
modelos hegemónicos de belleza, cuestionando la Lendo Cenas de Valor Contra a Flecha do Tempo”
heteronormatividad, entre otras problemáticas que de Denise Ferreira da Silva. Jardim da Abolição se
afectan a las mujeres. En la Bienal 12 presentan presenta como un monumento-memorial al uso de
su bandera “DEMASIADO”, que han empleado en jarrones de camelias por parte de los abolicionistas
diversas marchas como una forma de expresión del durante el proceso de abolición de la esclavitud en
hastío frente a la ferocidad del actual capitalismo Brasil. Por otro lado, la obra sirve, también, como
y sus innúmeras consecuencias; una acción que una especie de sugerencia que declara la abolición
ironiza acerca de “Las ventajas de ser lesbiana”; y intuitiva en el pensamiento para imaginar el
una pegatina de afiches que inscribe críticamente presente a partir de esas plantas de poder (negro)
la pregunta hacia lo queer, entendiendo que este y recordar, en el presente, gestos significativos,
concepto (libertario en su origen) está deviniendo estratégicamente subversivos y radicales.
en un patrón estético y conductual excluyente.

Natalia Iguiñiz
Musa Michelle
(Lima, Peru, 1973)
Mattiuzzi
(São Paulo, Brasil, 1983) Es artista visual y docente universitaria. Desde sus
estudios de Pintura en la Pontificia Universidad
Católica del Perú–PUCP (1990-95) y de la Maestría
Musa Michelle Mattiuzzi es performer, directora
Género, Sexualidad y Políticas Públicas en la UNMSM,
de cine, escritora y investigadora del cuerpo. Es
su trabajo explora la construcción de discursos
licenciada en Comunicación de Artes Corporales por
en torno a las concepciones de lo femenino, la
la Pontificia Universidad Católica de São Paulo. Sus
sexualidad, el trabajo doméstico y la maternidad;
obras se apoderan del/y subvierten el lugar exótico
así como el cuerpo y la enfermedad. Su trabajo se
atribuido al cuerpo de la mujer negra por el imaginario
desplaza entre los espacios expositivos de arte, la
cisnormativo blanco, que lo transforman en una
intervención en el espacio público y el activismo
especie de aberración, una entidad dividida entre lo
feminista. Ocasionalmente trabaja en diseño gráfico,
maravilloso y lo abyecto. Mattiuzzi participó en la
la comunicación social, escritura y curaduría (destaca
exposición Amor y Etnologia en HKW/Berlín en 2019,
la co-curaduría de la muestra permanente de El
presentó el nuevo proceso llamado Whitenography
Lugar de la Memoria, la Tolerancia y la Inclusión
y la performance sobre lo papel blanco en la misma
Social). Ha participado en 12 proyectos individuales
exposición; Su película Experimentando o Vermelho
y en más de doscientas muestras y bienales a nivel
em Dilúvio fue premiada como mejor cortometraje en
nacional e internacional. Así como su trabajo ha
el X Festival Internacional de Cine de Recife (BRA) y
sido reseñado en publicaciones diversas. Su obra
en 2019 la película fue seleccionada para el Festival
forma parte de importantes colecciones entre las
Internacional de Rotterdam. En 2018, participó
que destacan las de los museos MOLAA, MALI y El
en la XXXIII Bienal de São Paulo con el proyecto
Reina Sofía. Es Mamá de Antonia y de Vicente.
Afinidades Afroafetivas. Mattiuzzi vive en Berlín.

355 BIENAL 12 CATÁLOGO


arte de España (Rosario Wenzel), y la artista María
Sobre las Obras de la Bienal
Elena Alvarado. Su inclusión introduce una reflexión
En Mujer de ver Natalia Iguiñiz parte del libro Modos sobre la relación entre el mundo del arte y el trabajo
de ver, de John Berger, en el que el autor revisa cómo doméstico. Las fotografías interrogan cuestiones
se configuran los imaginarios sobre las mujeres, de clase: para que estas mujeres desarrollen su
la belleza, lo que debe mostrarse sobre ellas y lo trabajo profesional, otras limpian las casas en las
que no. Las imágenes configuran identidades y que viven. La yuxtaposición introduce relaciones
prejuicios. Entre el 4 y el 10 de junio de 2017, Natalia de poder, subordinación y servidumbre que existen
realizó un registro fotográfico de las mujeres en las desde el Perú colonial y republicano, cuando las
principales avenidas de Lima y el Callao. El registro mujeres contratadas o esclavizadas amamantaban y
considera también imágenes bidimensionales o cuidaban a los hijos de las familias de la aristocracia.
tridimensionales (vallas, afiches, estatuas) que
pueden observarse en las calles. Se focaliza en la
observación de los lugares en los que aparecen una Nosotras
o más mujeres. El hecho de observarlas en la vía
pública lleva implícito que son vistas para ser vistas,
Proponemos
que se presentan ante una comunidad que las avala. (Buenos Aires, Argentina)
Estas fotografías se ordenan en categorías que
remiten al color de su pelo, a las actividades que están
El 7 de noviembre 2017, como respuesta ante la
realizando, o a las personas que las acompañan.
partida inesperada y prematura de la artista Graciela
Natalia desarrolla este proceso de investigación
Sacco, quien persistentemente tuvo que confrontar
en la ciudad de Porto Alegre para exponerlo en la
comportamientos patriarcales del mundo del arte,
Bienal 12. ¿Cuáles son los rasgos que se perciben
y a cien años de la Revolución de Octubre, se funda
en las fotografías de las mujeres en esta ciudad?
la Asamblea Permanente de Trabajadoras del Arte
Es una instalación que surge de la pregunta y se lanza el Compromiso de Prácticas Artísticas
¿Qué entendemos por Patria?, ¿qué valores, qué Feministas que consta de 37 puntos escritos en forma
sentimientos atribuimos a este concepto?, y, colectiva en redes sociales. En pocos días sumó
sobre todo, ¿qué se hace o se justifica en nombre casi 3000 adhesiones. Nosotras Proponemos reúne
de patria? Se trata de unos cordeles en los que artistas, escritoras, curadoras y gestoras culturales
cuelgan banderas blancas, como si fuesen sábanas que deciden sus acciones en asambleas. NP ha llevado
recién lavadas. Debajo se esparcen palabras que adelante acciones efectivas para crear conciencia
responden a una encuesta virtual sobre las ideas/ sobre la discriminación de las artistas mujeres en
emociones asociadas a la patria peruana. Esta un mundo del arte en pos de la representación
instalación se realizó a partir de las acciones Lava la igualitaria. También ha participado activamente
Bandera (2000) realizadas por el Colectivo Sociedad en movilizaciones y acciones performativas por el
Civil que Natalia Iguiñiz y Sandro Venturo integraban: derecho al aborto legal, seguro y gratuito, junto a
cada viernes se lavaba la bandera del Perú en 27 agrupaciones de mujeres, lesbianas, trans, travestis y
plazas del país y del exterior como manifestación no binaries: y se ha manifestado contra toda forma de
contra la corrupción y el abuso de poder. Las violencia, física, simbólica, económica e institucional,
banderas y las palabras de Patria interceptan hacia los cuerpos femeninos y feminizados. Presentan
las estructuras de poder del Estado, así como los banderas, afiches, proyecciones y objetos, así como
ideales heroicos y masculinos de las sociedades un afiche diseñado específicamente para la Bienal 12.
militarizadas. Los artistas intervienen el lenguaje y
los símbolos del poder desde acciones domésticas
como el lavado y el colgado de las telas-banderas. Sobre las Obras de la Bienal
La otra es una serie de fotografías en la que Natalia
El 7 de noviembre 2017, como respuesta ante la
Iguiñiz desarrolla dispositivos para desplegar en
partida inesperada y prematura de la artista
forma analítica los códigos culturales que regulan
Graciela Sacco, quien persistentemente tuvo que
las relaciones entre la trabajadora doméstica y la
confrontar comportamientos patriarcales del
empleadora. Entre esos cuerpos próximos se perciben
mundo del arte, y a cien años de la Revolución de
relaciones de afecto, poder o jerarquía. Se trata de dos
Octubre, se funda la Asamblea Permanente de
mujeres: una tiene a su cargo el cuidado de la casa de
Trabajadoras del Arte y se lanza el Compromiso
la otra. Se produce así un análisis de clase respecto
de Prácticas Artísticas Feministas que consta de 37
de la relación de la mujer con el trabajo. Entre las
puntos escritos en forma colectiva en redes sociales.
retratadas se encuentran las directoras de la galería
En pocos días sumó casi 3000 adhesiones. Nosotras
Forum de Lima (Claudia Polar), de ARCO, la feria de
Proponemos reúne artistas, escritoras, curadoras y

BIENAL 12 CATÁLOGO 356


gestoras culturales que deciden sus acciones en hilo de la historia, Con el alma en un hilo y Al hilo del
asambleas. NP ha llevado adelante acciones pensamiento), presenta el video Hasta que valga la
efectivas para crear conciencia sobre la discriminación pena vivir, en el que cruza imágenes del borde del
de las artistas mujeres en un mundo del arte en lago Riñinahue y de los restos de lava de la erupción
pos de la representación igualitaria. También del Cordón del Caulle que flotan en las aguas del
ha participado activamente en movilizaciones y lago, con otras del lago Rinihue, en las que flotan
acciones performativas por el derecho al aborto sus pequeñas obras de fieltro. El fieltro no tienen
legal, seguro y gratuito, junto a agrupaciones de urdimbre (estructura) ni trama (historia). Funciona
mujeres, lesbianas, trans, travestis y no binaries: y se como una metáfora del tiempo en el que creó sus
ha manifestado contra toda forma de violencia, registros y también del tiempo presente de Chile.
física, simbólica, económica e institucional, hacia
los cuerpos femeninos y feminizados. Presentan
banderas, afiches, proyecciones y objetos, así como Pau Delgado
un afiche diseñado específicamente para la Bienal 12.
Iglesias
(Montevidéu, Uruguai, 1977)
Nury Gonzalez
(Santiago, Chile, 1960) Pau Delgado Iglesias es artista visual y docente.
Realizó una maestría en Industria Cultural en
Goldsmiths, University of London y un diploma en
Licenciada en Artes, Universidad de Chile, donde
Género y Políticas Públicas en la Universidad de
hoy es Profesora Titular. En Chile ha obtenido 6
la República (UdelaR). Es profesora en la Escuela
veces la Beca FONDART. En 1999 obtiene la beca
Nacional de Bellas Artes (UdelaR) y en la Facultad
J.S. Guggenheim y en 2001 la beca de Residencia
de la Cultura de la Universidad CLAEH. Escribe
de la Rockefeller Foundation en Paraguay.Desde
quincenalmente una columna de opinión en el
1983 expone tanto en Chile como en el extranjero.
Semanario Búsqueda. Ha presentado sus trabajos
Destacan las Bienales de La Habana Cuba, La Paz
en forma individual o colectiva en: Museo Nacional
Bolivia, Curitiba Brasil, Shangai China, Pontevedra
de Artes Visuales, Espacio de Arte Contemporáneo,
y Valencia en España entre otras.Sus obras
Centro de Exposiciones SUBTE (Uruguay); Momenta
interpelan ciertos relatos, sean históricos o de ficción,
Art, Slought Foundation, Art in General, The Armory
que acreditan una tradición autobiográfica de
Show (Estados Unidos); galeria parasito/hunt
desarraigo, tragedias mayores como la guerra y el
kastner artworks (República Checa); Galería Belleza
exilio y de lo que podría denominar “inestabilidad
y Felicidad (Argentina); Galería Xippas (Suiza y
histórica”. Su trabajo pretende establecer cruces
Uruguay); MuseumsQuartier (Austria); The Bag
temáticos, procedimentales y técnicos entre las
Factory Studios, (Sudáfrica); entre otros espacios.
prácticas que determinan el espacio femenino y
particularizado de lo privado y aquellos discursos
y prácticas que se determinan como paradigma
del espacio político e histórico de lo público. Sobre las Obras de la Bienal
Estar igual al resto es el resultado de un intenso
trabajo de investigación que Pau Delgado Iglesias
Sobre las Obras de la Bienal realizó durante cinco años con personas ciegas
de nacimiento en distintas ciudades del mundo
La artista chilena multimedia y experimental Nury
(Montevideo, Uruguay; Lima, Perú; La Habana, Cuba;
González ha abordado problemáticas de la memoria
Santiago, Chile; Buenos Aires, Argentina; Hereford,
desde soportes y estrategias diversas. En la Bienal
Reino Unido; Asunción, Paraguay; Berna, Suiza). En
12, presenta Historia natural de la destrucción, una
un mundo en que la vida cotidiana está signada por
obra que consta de tres chamales, mantas mapuches
una ‘hiper-visualidad’, este trabajo explora cómo
que, al ser de color negro, deben ser usadas por
se construyen las identidades cuando las imágenes
mujeres. Son mantas de unos cien años, perforadas
están ausentes, en particular las identidades
o deshilachadas por el tiempo. Desechadas, Nury
sexuales y de género. ¿Qué es la belleza para
las compró en el mercado de Temuco en 2011, año de
aquellas personas que no ven, ni recuerdan haber
las movilizaciones estudiantiles. La artista recorre
visto nunca? ¿Hasta qué punto en sus experiencias
sus perforaciones con pequeñas puntadas de hilo
actúan los estereotipos de la cultura? ¿Es posible
blanco. Las telas se transforman en mapas de esas
permanecer al margen de lo que la sociedad
marcas de destrucción. Junto a las tres piezas que
dictamina sobre los cuerpos? ¿Cómo se forman
integran su Historia natural de la destrucción (Al
nuestros gustos y nuestros conceptos de belleza?

357 BIENAL 12 CATÁLOGO


Paz Errazuriz cambios leves, datos de su crecimiento, de los
cambios sutiles de su rostro. Estas transformaciones
(Santiago, Chile, 1941) refieren al paso del tiempo como experiencia.

En la serie de fotografías que reúne en el libro El


Fotógrafa profesional. Se desempeñado como infarto del alma, Paz Errázuriz retrata los afectos,
docente y actualmente se dedica de lleno a su las relaciones entre dos, las parejas. Son fotografías
trabajo fotográfico. Fue socia fundadora de la realizadas en el psiquiátrico de Putaendo. Muchos
Asociación de Fotógrafos Independientes, AFI (1981) de sus residentes son indigentes. Entre esos seres
y ha publicado los libros “Amalia”, “La Manzana de abandonados por la sociedad, existe cercanía,
Adán”, “El infarto del Alma”, “Kawesqar, hijos de la aproximación, sentimientos. Paz recorre los pasillos
mujer Sol”, “La luz que me ciega”, “Ojos que no ven” y los parques de la institución para realizar las
y “Señales”. Ha sido jurado en el Premio Casa de las fotografías; Diamela Eltit también lo hace para
Américas, Cuba y en Fondart, Chile. Sus fotografías escribir sobre lo que ve. “A medio camino, Paz Errázuriz
se encuentran en colecciones como DAROS, Suiza; y yo estamos ubicadas en el límite, nos enfrentamos
Tate Gallery, Londres; Museo Reina Sofía, España; a la disyuntiva de tener que cruzar continuamente
MoMA y Museo Guggenheim, Estados Unidos; Museo las fronteras”. Las fronteras de la separación,
Nacional de Bellas Artes, Chile y en colecciones del aislamiento, de la locura; el aislamiento del
particulares. Ha obtenido las becas Guggenheim, mundo exterior que prefiere no mirar, no saber. Las
Fulbright y Fondart. Ha sido reconocida con el fotografías nos ponen en contacto con la gramática
Premio Altazor, el premio a la Trayectoria Artística de un amor que no conocemos. ¿Cómo se vinculan
del Círculo de la Crítica, el premio PhotoEspaña y el las personas en ese espacio de confinamiento?
Premio Nacional de Arte de Chile en el año 2017.

Pedro Lemebel
Sobre las Obras de la Bienal
(Santiago, Chile, 1952)
Entre 1979 y 1980 Paz Errázuriz fotografió personas
dormidas en la ciudad de Santiago de Chile. Nace en Santiago de Chile en 1952, es escritor y
Dormidos, hombres y mujeres, incluso animales, artista visual. En 1987, junto a Francisco Casas fundó
que expanden sus cuerpos en una posición que el colectivo de arte las Yeguas del Apocalipsis, que
desacomoda la normalidad de la ciudad. Capturadas realiza un extenso trabajo plástico en performance,
por la cámara, estas personas cuyos sentidos se fotografía, video e instalación. Durante el periodo
encuentran dormidos, reiteran las experiencias de la transición a la democracia y en postdictadura,
colectivas del silencio y la imposibilidad. Un Lemebel publicó sus crónicas en diversos medios
adormecimiento de los sentidos. La serie podría nacionales y extranjeros. Desde 1990 escribió
ponerse en paralelo con la situación del ciudadano como colaborador en la sección de crónicas para
chileno en tiempos de dictadura en Chile (1973- la Revista Página Abierta. Desde 1994 escribió la
1990). Paz Errázuriz construye un archivo singular columna “Ojo de Loca no se Equivoca...” en el Diario
en el que la fotografía se distancia del retrato para La Nación y realizó el programa “Cancionero” en
capturar un estado social de los afectos colectivos. Radio Tierra. Hacia finales de los 90 colaboró con
las Revistas Punto Final y The Clinic. Recibió la
Uno de los problemas más complejos para quienes
beca Guggenheim en 1999, el premio Anna Seghers
crean imágenes es cómo lograr que estas representen
en Berlín el año 2005 y el Premio Iberoamericano
aquello que carece de referentes. ¿Cómo dar cuenta
de Literatura José Donoso el año 2013.
del tiempo no vivido por los cuerpos ausentes de
los desaparecidos? Errázuriz propone un archivo
íntimo de los años previos al comienzo de la
transición democrática en Chile, después de 17 años Sobre las Obras de la Bienal
de dictadura. Durante la transición se mantuvieron
Escritor, cronista, artista visual, Pedro Lemebel
en funcionamiento estructuras del poder político
representó un discurso disidente. Un discurso
y económico de la dictadura. A la vez, comenzó el
opuesto a la dictadura y también crítico respecto
proceso de revisión de esos años de violencia. Paz
de los parámetros patriarcales que atravesaban
Errázuriz lo hace a partir de las fotografías de su hijo.
a las formaciones de la izquierda. Su texto Hablo
La serie de retratos que hizo de él entre el final de
por mi diferencia, que leyó en 1986 en la Estación
la dictadura y el comienzo del gobierno de Patricio
Mapocho del ferrocarril, en Santiago, durante una
Aylwin (1986-1990) se funde en un film en el que las
reunión de disidentes de izquierda, señalaba el
imágenes se suceden. Un cierto tiempo compendia
rechazo de sus compañeros políticos hacia la (y

BIENAL 12 CATÁLOGO 358


su) homosexualidad. Pedro leyó con tacones rojos. cotidianas de violencia vividas por la población negra
Escuchamos su voz frente a su autoretrato en el que en Brasil. La performance también sustenta el tema
los signos del Partido Comunista se travisten con de relaciones raciales, un contenido social y político
encajes y brillos. Los dos videos que se presentan que aún se evita o hasta se prohíbe en la sociedad
en la Bienal 12 fueron realizados un año antes de la brasileña, dentro de un espacio de reflexión del cual
muerte del artista. Pedro presentó Desnudo bajando es generalmente abortado. Al mismo tiempo, la
la escalera en febrero de 2014. El artista, desnudo, se acción provoca una ruptura: desplaza el objeto del
envuelve en una tela protectora para rodar sobre las discurso de una posición pasiva a la de protagonista
escaleras encendidas con neopren del Museo de Arte (y enunciador) consciente de su propia narrativa.
Contemporáneo. En Abecedario encendió las letras
escritas con neoprén, dibujadas en el cruce peatonal
que baja hacia el cementerio, donde descansan los Rahima Gambo
restos de su madre. Estos dos videos implican una
reflexión profunda sobre la vida, sobre el final de (Abuja, Nigéria, 1986)
la suya (que ya sabía que iba a acontecer), sobre la
ritualidad de la relación entre el cuerpo y el fuego. Rahima Gambo es una artista multimedia y fotógrafa
que comenzó su práctica artística trabajando
independientemente en proyectos documentales
Priscila Rezende transmedia. Incorpora escultura, dibujo, sonido, video,
instalación y performance en su trabajo. En 2020,
(Belo Horizonte, Brasil, 1985) fue nombrada Talento FOAM y seleccionada para el
Premio de Fotografía Contemporánea Africana.
Priscila Rezende es una artista interdisciplinaria que Exposiciones recientes: “Beyond the Image”, Stedelijk
trabaja principalmente con performance, también Museum, Amsterdam. “Have you seen the Horizon
desarrolla trabajos en instalación y fotografía.La raza, Lately?”, MACAAL, Marrakech, Marruecos. Bamako
la identidad, la inserción y la presencia del individuo Encounters - Bienal de Fotografía Africana “Streams
negro y las mujeres en la sociedad contemporánea of Consciousness”, Mali. “”Diaspora at Home”, Centre
son los principales impulsores y preguntas planteadas for Contemporary Art and Kadist Foundation, Lagos,
en el trabajo de Priscila Rezende. Con base en sus Nigeria. Bienal de Lagos; “How to Build a Lagoon
propias experiencias, las limitaciones impuestas, with a Bottle of Wine”, Lagos, Nigeria. En 2019,
la discriminación y los estereotipos se exponen en Gambo fundó A Walk Space, un espacio de arte
acciones corporales viscerales, que buscan establecer conceptual y móvil que explora las intersecciones
un diálogo directo y claro con el público.Priscila es interdisciplinarias de la imagen “en movimiento”
licenciada en Artes Visuales por Escola Guignard- a través de proyectos, eventos, exposiciones y
UEMG (Belo Horizonte, Brasil) con especialidad talleres. Ella vive y trabaja en Abuja, Nigeria.
en Fotografía y Cerámica. Entre sus actividades,
se destaca la presencia en exposiciones en varias
regiones de Brasil como Minas Gerais, São Paulo, Sobre las Obras de la Bienal
Río de Janeiro, Ceará, Pernambuco, Amapá y Rio
Grande do Sul y en países como Alemania, Inglaterra, La serie Tatsuniya (2017) comenzó como una
Estados Unidos, España, Holanda y Polonia documentación fotográfica de los estudiantes de la
escuela Shehu Sanda Kyarimi en Maiduguri, Nigeria,
parte de un proyecto de fotoperiodismo más amplio
Sobre la Obra de la Bienal sobre las experiencias de los estudiantes afectados
por el conflicto de Boko Haram en la región. La serie,
En la performance Bombril, vivenciada por primera sin embargo, evolucionó en un desarrollo lúdico
vez en 2010, Priscila Rezende friega, con su cabello, la de la narrativa y los acontecimientos relacionales
superficie de utensilios domésticos metálicos usados en torno a la creación de las imágenes en las que
en la cocina. Título extraído de la conocida esponja Rahima Gambo está completamente implicada.
de acero homónima en Brasil, Bombril sirve, con ¿Cuáles son las cosas intangibles que suceden cuando
frecuencia, como adjetivo despectivo para referirse se reúne a un grupo de mujeres jóvenes, dejando
al cabello de las mujeres negras. En la versión espacio para que surja la expresión creativa? ¿Qué
presentada en la Bienal 12 | Porto Alegre, Rezende posibilidades surgen cuando nos centramos en lo
realiza la performance en la Plaza da Alfândega, que la cámara no puede grabar de manera precisa y
espacio público localizado frente al edificio del completa: los lazos formados cuando nos reunimos
Memorial. La relevancia de Bombril está en el comunalmente para hablar y escuchar, enseñar y
hecho de reverbera una de las muchas experiencias aprender, jugar y expresar? Al concentrarse en estas

359 BIENAL 12 CATÁLOGO


preguntas clave, Gambo convierte a Boko Haram y Felinto crea un cuerpo narrativo que destaca las
el trauma a menudo mencionado relacionado con diferentes tradiciones que informan el paisaje
el conflicto a una nota de pie de página. A través urbano ofreciendo, así, epistemologías adicionales
de Tatsuniya, comparte su encuentro con alegría, para entenderlas. Su danza funciona como un gesto
la energía relacional, la interconexión y la fluidez de reivindicación territorial, como una expansión
presentes en el espacio ambiguo entre las imágenes de las posibilidades de su presencia negra.
en movimiento y las fijas, entre la realidad y la ficción.

Rosana Paulino
Renata Felinto
(São Paulo, Brasil, 1967)
(São Paulo, Brasil, 1978)
Doctora en Artes Visuales y Licenciada en Grabado
Doctorado y Máster en Artes Visuales por el por la ECA / USP. Es especialista en grabado por la
Instituto de Artes de la UNESP y especialista en London Print Studio, Londres. Recibió una beca de
curaduría y educación en museos en el Museo de la Fundación Ford en los años 2006 a 2008 y CAPES
Arte Contemporáneo de la USP. Artista visual y de 2008 a 2011. En 2014, recibió la beca de residencia
profesora adjunta de Teoría del Arte en URCA / en el Bellagio Center, de la Fundación Rockefeller.
CE en el que compuso el Comité de Investigación Sus obras se centran principalmente en la posición
Científica, fue la coordinadora del Grado en Artes de las mujeres negras en la sociedad brasileña y los
Visuales y el subproyecto PIBID del mismo curso. diversos tipos de violencia que sufre esta población
Realizó trabajos en la Pinacoteca do Estado de São debido al racismo y las marcas dejadas por la
Paulo, el Instituto Itaú Cultural, el Centro Cultural esclavitud. Tiene obras en importantes museos
São Paulo, SESC, SESI / FIESP, entre otros espacios. como MASP, Pinacoteca do Estado de São Paulo
Fue miembro del consejo editorial de la revista O y UNM - University of New Mexico Art Museum,
Menelick 2nd acto y es miembro del Comité Científico Estados Unidos. Ha participado activamente en
del Congreso de OSC de la Facultad de Bellas Artes varias exposiciones, tanto en Brasil como en el
de Lisboa. Coordinó el Centro de Educación del extranjero, y su trabajo ha sido objeto de varios
Museo Afro Brasil. Recientemente participó en las estudios académicos, libros y revistas especializadas.
exposiciones FIAC / France 2017, Negros Indícios,
en Caixa Cultural / SP, Absent Dialogues, en Itaú
Cultural y Galpão Bela Maré en RJ y, finalmente, Sobre la Obra de la Bienal
Afro-Atlantic Stories en el Instituto Tomie Ohtake.
El arte producido por mujeres y hombres negros Artista central en el arte afrobrasileño desde los años
ha sido el principal tema de investigación. noventa, Rosana Paulino está representada en la
Bienal 12 por su instalación Parede da Memoria, en
la que imprime retratos familiares sobre pequeños
Sobre la Obra de la Bienal patuas con los que configura un inmenso memorial de
su familia. Un retrato de sus afectos. En otra serie, la
Artista visual e investigadora académica, Renata de los bastidores, borda, o sutura, ojos, bocas, cuellos.
Felinto ha realizado su investigación artística a través Estas imágenes ineludibles señalan uno de los temas
de pintura, collage, fotografía y performance. Es, sin que la bienal investiga: la violencia hacia los cuerpos
embargo, a través de la práctica de la performance femeninos. La mujer negra, quien se encuentra en la
que la artista realiza un enfrentamiento más base de la pirámide de la sociedad brasileña. En sus
directo con las tensiones creadas por la presencia dibujos también aborda la relación cuerpo-animal.
del sujeto negro femenino en el espacio público de Introduce así uno de los debates más recientes
Brasil. En Danço na terra em que piso (2014), Felinto en el seno del feminismo, aquel que se vincula al
danza de forma graciosa en siete locales públicos antropoceno, a la capacidad del ser humano de
en São Paulo, algunos de los puntos históricos de destruir el planeta, a la centralidad de lo humano que
la ciudad como la Plaza da Sé, que forma, con la ha atentado contra la naturaleza. Rosana Paulino
Catedral da Sé, el marco cero del estado de São introduce con sus obras dos preguntas relevantes
Paulo. Para cada espacio, Felinto eligió una música para esta Bienal, ¿hasta qué punto el conocimiento
para que sirviera como paisaje sonoro para la científico ha contribuido a establecer los fundamentos
performance. Cada elección tomó en cuenta la letra del racismo?, pregunta que recorre su libro de
de la música, cuestiones de relevancia histórica artista ¿Historia natural? En segundo lugar ¿hasta
y política, y hasta las memorias personales de qué punto el canon del arte brasileño es blanco y
la artista vinculadas al espacio. De esta forma, patriarcal? Su serie A geometría a brasileira llega

BIENAL 12 CATÁLOGO 360


ao paraíso tropical involucra una distancia irónica
sobre el canon del arte abstracto que domina en la
Santarosa
percepción internacional del arte brasilero. La obra Barreto
de Rosana Paulino invita a una profunda revisión
de nuestros conceptos sobre el arte y la cultura (São Paulo, Brasil, 1986)
Nacida en São Paulo, en 1986, y graduada en Bellas
Sandra de Artes en FAAP, la artista visual explora el proceso
Berduccy de apropiación de imágenes y el desplazamiento
de narrativas desde la literatura, el cine, la música
(Oruro, Bolivia, 1976) y la historia del arte, a través de diferentes medios
como fotografía, escultura e instalación. Para
reflexionar y plantear preguntas sobre la autoría
Soy artista boliviana, tejedora, especialista en técnicas
e investigar textos y discursos como imágenes, la
textiles andinas y investigadora del textil y nuevos
artista también tiene como tema de investigación
medios.Mientras trabajo con herramientas simples
la imagen de la mujeridad en la historia del arte,
y rudimentarias como listones, huesos de llama,
además de los desarrollos socioculturales que
fibras de animales hiladas a mano y tintes naturales,
surgen de la relación entre el arte, la política y
utilizo para tejer materiales inusuales para el textil
feminism. Entre las exposiciones grupales en las que
tradicional andino, como hilo conductivos, fibra óptica,
participó, se destacan las siguientes: 48ª edición
piezas de cobre como sensores, etc. En la estructura
anual de Art FAAP, como artista invitada, después
compleja de esos tejidos incluyo circuitos electrónicos,
de ser seleccionada para el programa de residencia
microcontroladores, sensores de movimiento o color,
artística realizado en asociación entre FAAP y Cité
LED digitales, parlantes, creando obras interactivas,
Internationale des arts (París, Francia); Verzuimd
lumínicas y sonoras. En mi obra las técnicas
Braziel - Brasil Desamparado, espectáculo itinerante
tradicionales andinas y las tecnologías del arte y los
curado por Josué Mattos, otorgado por el CNI
nuevos medios, se entrelazan, dando como resultado
SESI SENAI Premio Marcantônio Vilaça de Artes
obras que dan continuidad a la antigua tradición
Plásticas e Historias Feministas: artistas después de
textil de la que me considero parte. Un bosque nativo
2000, con curaduría de Isabella Rjeille, en MASP.
en los valles interandinos de Bolivia, es mi espacio
de trabajo, laboratorio y espacio fundamental
para entender el tiempo de las tejedoras.
Sobre la Obra de la Bienal
La obra Jean-Luc Godard, Gertrude Stein e Hernest
Sobre las Obras de la Bienal Hamingway, 2018, de Santarosa Barreto, es un trabajo
con luces Led y la secuencia de frases en loop: “A
La artista boliviana Aruma (el apodo de Sandra de
Woman Is A Woman, A Rose Is A Rose, A Bitch Is A
Berduccy) tiene su hogar y estudio en el ancestral
Bitch” respectivamente, el título de la película de
bosque seco que se encuentra a las afueras de la
Godard (A Woman Is A Woman [Una mujer es una
ciudad de Cochabamba. En sintonía con su entorno
mujer]); una referencia a una frase del poema de
y sus elaboradas historias con un legado colonial
Stein “Sacred Emily” de 1913 (“Rose is a rose” [Rosa es
duradero, centra su práctica en técnicas tradicionales
una rosa]); e una referencia a la frase de Hemingway
del tejido andino, fibras naturales y tintes derivados
dirigida a Stein “A Bitch Is A Bitch” [Una perra es
de plantas e insectos que sirven de base para sus
una perra]. El trabajo de Barreto nos ofrece algunas
telas interactivas, exposiciones de instalación,
meditaciones: ¿Qué tipo de reflexión crítica evocan
actuaciones y trabaja en imágenes fijas y en
las frases de esos hombres sobre mujeres? ¿Qué
movimiento. Las plataformas para las interacciones
posibles rupturas puede provocar la frase (y voz) de
engendradas por sus proyectos son tecnologías
Stein colocada entre esas frases? El uso del panel
contemporáneas entretejidas en el lienzo de sus
Led como medio repite las imágenes del centro de la
obras: hilos de fibra óptica y conductores, sensores
ciudad de São Paulo donde el trabajo fue producido.
de movimiento y color, luces LED y altavoces, entre
La frase en loop es un eco del ritmo de la poesía.
otros. Las telas interactivas de Aruma incluidos en
la exposición activan los elementos tomados del
entorno local de la artista y el conocimiento ancestral
para incitar a los espectadores contemporáneos
a explorar y preservar el potencial a menudo
apenas perceptible pero tremendo de la flora y
fauna nativa y para revindicar las tecnologías
rurales derivadas del pasado precolonial.

361 BIENAL 12 CATÁLOGO


Sebastián Vera Chaves
Calfuqueo Barcellos
(Quinta Normal, Chile, 1991) (Porto Alegre, Brasil, 1938)
Sebastián Calfuqueo (Santiago, Chile, 1991) vive Realiza obra gráfica en los años de 1960, después de
y trabaja en Santiago de Chile. Magister en Artes frecuentar el Instituto de Belas Artes de Porto Alegre,
Visuales de la Universidad de Chile. De origen y estudios en Inglaterra, Holanda y Francia. En 1975,
Mapuche, su obra recurre a su herencia cultural tenendo una beca del British Council, estudia en lo
como un punto de partida para proponer una Croydon College, Londres. En 1976, participa de la
reflexión crítica sobre el estatus social, cultural Bienal de Veneza. En 2005, instituyó la Fundação Vera
y político del sujeto Mapuche al interior de la Chaves Barcellos, dedicada al arte contemporáneo.
sociedad chilena actual. Su trabajo incluye la Dentre sus exposiciones individuales están: Visitant
instalación, la cerámica, performance y el video, Genet, Museu D’Art de Girona (2000), O Grão da
con el objetivo de explorar tanto las similitudes y Imagem, Santander Cultural, Porto Alegre (2007),
diferencias culturales como los estereotipos que se Imagens em Migração, MASP, São Paulo (2009) y
producen en el cruce entre modos de pensamiento V.C.B, fotografias, manipulações e apropriações,
indígenas y occidentalizados, y también visibilizar Paço Imperial, Rio de Janeiro (2017). Participó
problemáticas en torno al feminismo y disidencias de cuatro Bienales de São Paulo y colectivas en
sexuales. Su obra ha sido exhibida en Chile, Perú, América Latina, Alemania, Bélgica, Corea, España,
Brasil, México, Estados Unidos, Alemania, España, Francia, Holanda, Inglaterra e Japón. Integra la
Reino Unido, Suecia, Suiza y Australia. Ganador mostra Radical Women: Latin American Art 1960-
del Premio de la Municipalidad de Santiago en 1985, Hammer Museum, LA, (2017) y Brooklyn
2017 y del premio Fundación FAVA en 2018. Museum, New York (2018), Trabaja en Viamão, RS,
Brasil y en Barcelona, Espanha, desde 1986.

Sobre las Obras de la Bienal


Sobre la Obra de la Bienal
Artista mapuche, nacido en Chile, Sebastián
Calfuqueo se vale del video, la fotografía, la Grabadora, educadora, artista multimedia, Vera
performance, la instalación y la escultura para Chaves Barcellos desarrolló una obra extensa en la
investigar poéticamente los preconceptos y las ciudad de Porto Alegre, Brasil, y desde 1986, y en
paradojas que estos plantean a la sociedad chilena. forma simultánea, en Barcelona, España. Realizó
Reconstruye las tramas urbanas de la marginación de obras paradigmáticas como Epidermic Scapes (1977-
los mapuches, en los cordones periféricos de la ciudad 1982) en las que planteó la relación entre el paisaje
de Santiago, ocupados en actividades precarias y la piel, en un registro analógico amplificado. En
y subalternas, el trabajo doméstico, el trabajo Mulheres do mundo distintas mujeres, frente a la
informal, o el trabajo en la seguridad. El racismo cámara, pronuncian sus nombres. Al mismo tiempo
señaló las experiencias de su infancia, cuando a sus que se registran esos rostros que se nombran, en
abuelos, como un insulto, los llamaban indios. En el un claro giro de empoderamiento, se ofrece un
video Buscando a Marcela, el artista encuentra en la archivo del afecto particular que cada una de ellas
ciudad su doble femenino, y su identidad femenina. comunica: confianza, optimismo, pesimismo. Se
Mirar es la serie fotográfica en la que Sebastián trata de un proyecto que Vera comenzó en 1999,
nos muestra las pruebas de esta semejanza. En en una exposición que realizó en Catalunya, y lo
Asentamiento reúne tomas fílmicas en las que los finalizó entre 2012-2013, en un proceso de registro
protagonistas, mapuches que viven en la ciudad de las grabaciones que contó con la colaboración
de Santiago, relatan sus vínculos familiares y dan del video maker Hopi Chapmann. La versión
cuenta de los procesos diaspóricos y de identidad que se presenta en la Bienal 12 reúne la voz de
que traman sus experiencias. En conjunto, su obra cuatrocientas mujeres de distintas partes del mundo,
aborda, en forma crítica, la noción de identidad de diversas edades, nacionalidades y razas que, en
construida desde la raza, el género, la clase social. forma sucesiva, pronuncian, una vez, su nombre.

BIENAL 12 CATÁLOGO 362


Zorka Wollny
(Cracóvia, Polônia, 1980)
Zorka Wollny es una compositora y artista teatral.
Crea obras site-specific que responden a su entorno
arquitectónico. Colabora, como directora, con
músicos, actores, bailarines y miembros de las
comunidades locales en las que trabaja.El estilo
de producción colaborativa de Wollny a menudo
implica ensayos públicos y talleres en los que
crea estructuras de cooperación con individuos,
así como con grupos y comunidades. En uno de
sus trabajos más recientes, “Unmögliche Oper”
(2017), involucró a varios coros y ciudadanos de la
ciudad alemana de Oldenburg en una exploración
de la voz como herramienta de expresión y debate
público. Participó en la Chicago Architecture
Biennial (2019), Steirischer Herbst Festival en Graz
(2019), Novas Frequencias Festival en Río de Janeiro
(2019), CTM Festival en Berlín (2020), entre otros.

Sobre la Obra de la Bienal


A partir de los modismos de la representación teatral,
la composición musical y la improvisación libre, la
artista polaca Zorka Wollny crea representaciones
que evocan el espíritu del Teatro de los oprimidos
de Augusto Boal y su espíritu del ensayo para una
revolución social. En sus trabajos interdisciplinarios,
los cuerpos y las voces se movilizan y ejercen
como las herramientas principales que sirven para
estructurar y formar el debate en la esfera pública.
Trabajando con músicos profesionales, bailarines,
actores y miembros de la comunidad, Wollny ha
presentado actuaciones en museos, fábricas, edificios
abandonados y calles de barrio. La Ópera imposible
se realizó originalmente como una actuación de
cuarenta minutos en Oldenburg, Alemania, en
colaboración con la compositora Anna Szwajgier
(n. 1979). La combinación de elementos de una rutina
de ejercicios y sonidos en su mayoría no verbales;
desde la respiración agitada, pasando por murmullos,
hasta silbidos, que se unen en el canto “Así es como se
ve la democracia”, da fe de la importancia perdurable
de encontrar la voz en la búsqueda del bien común.

363 BIENAL 12 CATÁLOGO


texts in
English

BIENAL 12 CATÁLOGO 364


An Act of Resistance For us Brazilians, reflecting on the female universe
is especially relevant. The country we inherited is
unjust. Based on any indicators, women and black
Like other cultural events, the 12th Biennial suffered
people live in worse conditions than men and white
the impact of the unimaginable - the pandemic.
people. Our indexes on violence against women are
Due to legal impediments and health risks, the
chilling. The rate of femicide in Brazil is one of the
traditional contemporary art exhibition, in its
highest in the world. These hate crimes are far worse
original format, has become unfeasible. For us,
when talking about black women and transgender.
however, canceling an artistic event like this, with
such a relevant theme, would be unthinkable. There is no escape from reality. We are the product
of a patriarchal structure, permanently marked
And so, we have opted for a virtual format.
by the violence of colonization, genocide of the
Obviously, a substantial part of the curatorial
indigenous, and slavery of black Africans. Injustice
project, which depends on the physical presence
is infused in the paints and materials used by
of the artists in the execution of works and artistic
artists, leaving many questions unanswered.
installations, demanded adaptations from us - the
need for social isolation charged a high price. One of the street signs of the “Guerrilla Girls”, an
activist group that has sought to expand spaces for
The good news is that our curator Andrea Giunta
women for decades, asks: Why do so few women
has done an excellent job with her team of assistant
artists have work on display in major museums,
curators, namely Igor Simões, Fabiana Lopes and
though they are dominantly featured in most of
Dorota Biczel, in guaranteeing a viable and high-
the nudes on exhibition? It is essential that we
quality “online” 12th Biennial, an achievement shared
reflect deeply on the theme of the feminine.
by our board members, directors and sponsors.
In the midst of a pandemic, may it be remembered
The alternative was to present all the works through
that, even with obvious reasons for cancellation and
photographs and videos, bolstered by statements
delay, the 12th Biennial took place. And it too was
from participating artists, made available to the
an act or resistance, in defense of culture and visual
public through our foundation’s website. But the
arts. At a time when the humanities are seeming
hope remains that, in the near future, we will be
to lose space on the official agenda in several
able to exhibit the original show. The exhibition is
nations, including our own, giving way instead to
entitled “Feminino(s): visualidades, ações e afetos”
intolerance and a disrespect for differences, our
(Feminine: visualities, actions and affections),
wish is that cultural and artistic manifestations
though it is not only about issues related to enjoy a long life. Long live the Mercosur Biennials!
women. Instead, it brings to the surface deeper
and fundamental issues related to gender, such
Gilberto Schwartsmann
as the queer and LGBT agenda, violence against
transsexuals, the illegality of abortion, basically
the different ways of expressing intolerance and President of the Mercosur Biennial Visual Arts
disrespect to individuals and different identities. Foundation

Regrettably, there are still very few female artwork


contributions in the major museums. And their
participation in the power structures of the world of
art is still modest. Hence the relevance of the 12th
Biennial’s theme. As revealed in the title, the works
instigate reflections about feminism, gender inequality
and violence against women and feminized bodies,
raising questions of a social and political theme.
But without neglecting the aesthetic experience.

With the online 12th Biennial, the Mercosur Biennial


Foundation for Visual Arts has honored its long
tradition of commitment to art. It includes artists
from various regions of the planet, with works of
enormous impact. These raise questions about
violence and discrimination against women, feminist
activism, and human rights. Likewise, it echoes
colonial legacies and racial stereotypes. Though, as
previously stated, it exudes the poetry of beauty.

365 BIENAL 12 CATÁLOGO


A long-standing circumstances that led to the adoption of a virtual
format for the 12th Bienal, due to the temporary
partnership closure of institutions facing the covid-19 pandemic,
the partnership is renewed through joint actions
developed on social networks and digital platforms.
The Mercosul Biennial is one of the most relevant In this 12th Mercosul Biennial, female artistic
and notable cultural initiatives in our State. Its production is placed in the forefront, with an edition
consolidated path of success and recognition fills us focused on female artists. This orientation is added
with honor and pride, especially for its long-standing to the same effort that many artistic institutions
legacy to the public and the artistic community. around the world have been engaged in, including the
Since the first edition, in 1997, Rio Grande do Sul has current management of our state art museums, such
entered the international map of contemporary as MARGS and the Museum of Contemporary Art of
exhibitions and major events, with the city of Porto Rio Grande do Sul (MAC-RS). It is a conscientiously
Alegre establishing itself for more than 20 years as critical effort to point out and seek to repair the
a point of reference for this global artistic circuit. greater predominance of male artists throughout
a historical process that is now questioned.
This dimension is important, not only because of
the scope of external repercussions; but also with The willingness to commit to inclusion is in line
the specific way in which the Mercosul Biennial has with the vision of the State Secretary of Culture
contributed locally to the formation of new audiences (SEDAC), where our main goals include the
and to the qualification of the artistic milieu. preservations and dissemination of our cultural
heritage and to advance in the field of our cultural
With each edition, a new circumstance is created economy, assuming as a fundamental premise the
to put us in direct and live contact with artistic defense of democratic and citizen values, such as
manifestations and productions from the most inclusion, diversity, plurality, and representation.
varied and distant scenarios, contexts, and
geography; many of which we would not have the For this challenge, beyond political trust, we have a
chance to know and appreciate only through our guarantee of the right to freedom of expression and
local collections or even through the programming demonstration, which we consider fundamental and
of the other institutions that operate here. indispensable for the exercise and advancement of our
artistic, creative, scientific, and intellectual production.
If we are going to point out one of the legacies of
the Mercosul Biennial, we can certainly say that
we have an audience for contemporary art, largely
Beatriz Araujo
initiated by the contact and experiences provided
by the Biennial. This creates a duty to recognize State Secretary for Culture of Rio Grande do Sul
that the performance of the Mercosul Biennial
Foundation is fundamental to our artistic and
educational environment. And, at the same time,
it is indispensable for our cultural environment.

By recognizing all these merits achieved so far, as well


as the challenges of continuing and moving forward,
the State Government of Rio Grande do Sul stands as
a supporter and cheerleader of this great initiative.

Since we took over the State Secretary of Culture


in 2019, we have endeavored to collaborate and
offer the best possible conditions for the event to be
held and run smoothly. In addition to being one of
the projects that are supported by the mechanisms
of the policy to promote culture in the State of RS,
through our Incentive Law (LIC-RS), the Mercosul
Biennial has also, since the beginning, found some of
its main partners in our State’s cultural institutions,
such as the Rio Grande do Sul Museum of Art
(MARGS) and the Rio Grande do Sul Memorial,
which traditionally host exhibitions that are part
of the major exhibition. In 2020, despite the unique

BIENAL 12 CATÁLOGO 366


Where you want a gun, I’m a
coconut tree
Caetano Veloso’s verses clearly and poetically define
the role of the Mercosul Biennial in the landscape of
our cultural calendar. Upon reaching its 12th edition,
consolidated and recognized as one of the greatest
events of its kind in Latin America, the Biennial is a
source of pride for all of us, gaúchos in body and soul.

In a polarized and conflicting world, where ideologies


and authoritarianism mix and blur the borders of
common sense, an event of size and grandeur with
the historical significance of the Biennial is like
a blessing to claim intelligence, recognition, and
space for differences. As a regular visitor since the
first, I expect a lot from this edition. Starting with
the name. “Feminine(s). Visualities, Actions and
Affections” instigates us to know that Porto Alegre,
once again, will host an international level event.
Eyes and ears, attentive. All the senses, by the way.

Live the Biennial to the full, breathe the


atmosphere of discoveries and surprises, everything
moves and is moved to offer the audience a
truly impactful and unforgettable event.

In addition to a qualified and competent team, we


must highlight the figure of Gilberto Schwartsmann,
one of the most active men in the culture of Rio
Grande do Sul. With his friendly and generous
personality, Gilberto manages to circumvent all
economic crises to provide us with a unique moment
in our calendar. There are no words to thank him for
his dedication and ability to involve society to resolve
all the logistics that are required for such an event.

May the city enjoy and recognize the plural excellence


of this edition. Success is already guaranteed.

Luciano Alabarse

Porto Alegre Municipal Secretary of Culture

367 BIENAL 12 CATÁLOGO


FEMININE(S).VISUALITIES,
ACTIONS, AND AFFECTS
The title of this biennial poses a question that
points to the tension at the core of contemporary
democratic culture: participation in society on
the basis of “difference” understood—as Denise
Ferreira da Silva puts it—as multiplicity rather than
separation. It looks as well to the questions Nelly
Richard asked in her book Masculino/Femenino
(1993) in the context of the democratic transitions in
Latin America. Her questions interrogate the social
place of the feminine, its constructions and gaps,
and the radical departure from exclusive binary
logics. These questions are as relevant as ever at a
time when feminism is revisiting agendas—and still
unmet goals—first formulated in the sixties and
voiced again in the nineties, while also responding to
a series of pressing issues: growing violence against
women and LGBTTQ+ collectivities; rising poverty and
other systems of exclusion and discrimination; and
worldviews that imperil the planet’s natural resources.

This biennial attempts to devise a contract


of sensibility, a zone to exchange visualities,
actions, and affects, and confirm the bounties of
democratic life without eliding its complexities.

Feminine(s) underscores creativity’s ability to push


limits and constraints. It is inspired by the poetic
words of Carolina Maria de Jesus, an Afro-Brazilian
peasant, poet, and chronicler, who insisted on finding
room between paid working and taking care of
her children to write. She wrote in the fertile terrain
of the Brazilian favela and despite the limitations
imposed by (post)colonial racial violence. “Until
the rain has stopped” is what she wrote on pages
where words and images would create territories
of potential freedom. Because the act of writing
explores the limits that circumstances impose
on language. Writer Clarice Lispector was likely
alluding to the conditions surrounding creation when
she spoke of the task of making the way through
impossibilities: “I cannot write everything I know,”
she wrote, while also speaking of the “luxury of
silence.” More than the obviousness of the senses,
displaced at a time when they have been reduced to
commonplace, to flat communication, the biennial’s
exhibition layout is geared to careful reading by
an interpretative community capable of tackling a
complex mesh of sensibilities and discourses that
embrace dissent as springboard of argumentation
and deliberation. Because, as we know, we must
speak and explore different ways of naming
things in order to avoid blanket classifications.

Feminine(s) focuses on the proposals of female


artists and of all non-binary, gender-fluid, and

BIENAL 12 CATÁLOGO 368


non-normative sensibilities, especially the ones that
come out against the most varied forms of violence.
It is about getting involved with the aspirations of
the majorities that many works direct us toward,
including artists of African or Indigenous descent
whose presence continues to incite critical reflections
in an art world that is still resoundingly exclusive. It
is about listening carefully and taking on everything
that the stereotypes marginalize. All voices, with their
heterogeneous visions and revisions, constitute culture.

Feminine(s) expands with the proposals of artists,


regardless of gender, who, as partners or allies,
share the desire for a less gender oppressive
and discriminatory social order. There are many
poetics that aspire to design a new symbolic and
cultural horizon, where gender differences do not
translate into inequality or subalternity. Changes
require cross-sectional coalitions of identities
that enrich one another thanks to crossings
over difference. All stories need to be told and
spread so that narratives become plural.

Feminine(s) is enriched by the creations of those


who work with traditionally feminine materials and
techniques. The creativity at play in conceptions
of the common in a set of life experiences and
everyday stories that must be heard as voices of
diversity without differences. Experiences that
expand the expression of a community contribute
to conversation and exchange, to the much-needed
reconstruction of a social fabric scarred by abuse and
precarity. That interaction gives rise to exchanges
from which we can begin to imagine other forms
of knowledge. All languages belong to us, without
hierarchy of value or segregation of content.

Feminine(s) aspires to share the collective exercise of


inventing new ways of doing, saying, thinking, and
creating—a platform, a forum, a chorus of many
forms of expression and ways to listen. It intends
to act as a space where the traditionally exclusive
structure that regulates the art world’s symbolic
and cultural representations mutates. The biennial’s
educational component is key to creating territories
of exchanges and debate, gatherings of the many
audiences that will create their own biennials. The
biennial envisions itself as a space of collective
celebration, a space to think and create together,
to confront, with critical imagination, the challenge
of strengthening a democratic pact that expands
and diversifies the very shape of the citizenry.

Andrea Giunta

Curator Bienal 12, Porto Alegre

369 BIENAL 12 CATÁLOGO


Rethinking Everything
Notes on the Bienal 12 l Porto Alegre, Feminine(s). Visualities, Actions, and Affects

Andrea Giunta
Chief Curator
Buenos Aires University / Conicet

It is difficult to begin writing a text today—May 19, architects eager to work on their design, bringing with
2020—without remembering where we were before them large investments, monumental exhibitions,
lockdown. On March 13, we decided to cancel the and masses of visitors. Visiting a city came to
Biennial. I was about to travel to Porto Alegre for mean, among other things, visiting its museums to
that precious moment when artworks are put up appreciate their architectonic forms; many museums
in galleries or—in the case of site-specific works— are famous not only for the collections they exhibit,
materialized in situ. Many works would highlight the but also for a spectacular architectural display of
experience of journeys or delve into the poetic fiction slick curves carving the air like metallic skin. The most
of video in galleries where images and colors would famous example is the Guggenheim Bilbao. The 21st
intersect and inundate everything. I think, for instance, century has also witnessed the quiet proliferation
of Ana Gallardo’s drawings depicting the women of biennials and major events aimed at tourists and
murdered in Guatemala; Mónica Mayer’s collective art audiences. The number of visitors skyrocketed, as
action, which questions the place of women in Porto did the price of artwork and the cost of exhibitions. A
Alegre itself; Janet Toro’s performance, which also new set of dynamics began: more rigorous protocols
interrogates the city by carrying the artist’s body from for shipping artworks; the concentration of value
a burial site in Alfândega Square to the main entrance in the body of the work itself, even if that body is
of the Memorial; Juliana dos Santos’s incipient ephemeral (installations, site-specific works, and
installation on the color blue; and the embroidery performances that last only a few months, days,
workshop Chiachio & Giannone were going to hold in or even a moment); an art market on which even
the plaza. I think as well of the many localized works the records and archives of those ephemeral works
Adjunct Curator Fabiana Lopes had chosen for her circulate; the fetishization of works thanks to—among
selection, such as Dana Whabira’s piece on Black other factors—museums, even when what they
history in Porto Alegre, and of the piece by Juliana exhibit are photographs documenting actions, digital
Vidal selected by Adjunct Curator Dorota Biczel in images printed ad hoc, framed, and then rearranged
which the artist molds her body using local clay to be exhibited as art;1 prices in the art market, which
(clay from Rio Grande do Sul). The interconnections reproduce the alarming concentration of wealth
and exchanges of people, works, and spaces, the at a particularly ruthless moment in the history of
encounters we looked forward to through assembly, capitalism; the relationship between the art world
are, for now, not going happen. As I write this, it is still and global dynamics, which turn exhibitions and
unclear whether an in-person version of the Biennial biennials into stopovers in a quick journey through
in its original space will ever actually happen. cultural capitals; the stream of people—artists,
directors of institutions, collectors, curators—who
I go back to March 12, to my pre-pandemic
glide from opening to opening for the celebration.
perceptions of the state of culture as revealed by
numbers. If in the 1970s and 1980s there was reason The art world had gone mad—at least, that was how
to predict museums would be no more, in the 21st I saw it before the pandemic. To what extent did that
century museums have proven to be cherished hubs universe, as it existed before these months of social
in networks connecting art and the transnational distancing, form part of the dizzying movement and
movement of tourists. Museums have become meeting circulation that brought the planet to the depleted
places for people who live in the cities where they are state it was in before it came to a standstill? At
located. Modern and contemporary art museums this stage of lockdown, we talk about things going
attract millions of visitors, as well as often-famous back to “normal” or about a “new normal”; but

1 For an analysis of the critical deactivation of a work from the time it is manipulated spatially for installation, see Nelly Richard’s
lecture “Archivos de arte chileno, memoria y resistencia crítica,” Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, October 19,
2017. https://www.museoreinasofia.es/buscar?bundle=actividad&pasados=1&f%5B0%5D=im_field_obra_clasificacionge-
ner%3A4277 (visited 05-20-20).

BIENAL 12 CATÁLOGO 370


what does the word “normal” even mean? Do we what we have experienced during these months, will
really want to go back to the world we knew before linger in the future. But another option is to heed
lockdown and the pandemic? Globalization took the this “meantime” as a possibility to create methods
art world beyond our wildest expectations. Social to intervene in emergencies—ours or those of the
distancing, the health panopticon that regulates people around us—and to seize the instruments
us all, and the paralysis of the art world are, today, available to us today, in the present, to develop
global in scale. The whole world has stopped. Or, and enact alternatives and spaces of reflection
more accurately, it has stopped us. For art circuits, we can later return to. Hence, almost the entire
this turn of events represents an opportunity to Biennial team took part in the effort to move from
take a moment to reflect on where we stand. the physical space to the liquid space of the screen.

The online Biennial is the most immediate, feasible


Breaking Isolation platform to exhibit the results of two years of hard
work—images, videos, projects. The works that were
On March 13, we stopped the installation of works to be developed in the city, in the exhibition venues,
and called off the Biennial’s opening. The installation will remain unfinished for the time being. Indeed,
team was left in an anxious state of suspense. As given the uncertainty about international travel,
employment contracts were being terminated most of these projects will never be materialized.
and a wave of layoffs overtaking museums across And today, June 19, 2020, it was announced that the
the globe (MoMA and the Metropolitan in New São Paulo Biennial has been further postponed until
York being the most emblematic examples), as sometime in the second half of 2021—more proof
closing art institutions showed little or no regard that it is difficult to anticipate when viewers will be
for their own communities or the artists and others able to return to museums and exhibitions. In Brazil
who work there, we understood how important in particular, where the political and healthcare
it was to respect all of our commitments. situation worsens every day, it is impossible to know
Curators have two options in the critical scenario that when museums will resume operations in the form
ensues after an opening: to step back from the event, we knew prior to lockdown and social distancing.
or to get involved in what unfolds from this critical
juncture on, to participate in the dynamics that give First Stage
rise to continually changing meanings. And that task,
that engagement, is not only intellectual. It requires Each curator’s selection was independent, yet tied
taking into account that the biennial is a source of to the initial proposal formulated in the second half
employment for many and, as such, responsible for of 2018 when we presented a project focused on the
their livelihoods in a scenario of scarce funding. An feminine(s). The Foundation proposed that this edition
online version of the Biennial allowed us to design of the Biennial concentrate on work by female artists.
an arena as public as possible in times of social At that time, I was finishing up work on the opening of
distancing with the spread of the new coronavirus: the third presentation of Mulheres Radicais—a project
the crystalline space of screens without the need co-curator Cecilia Fajardo-Hill and I had worked on
to physically display works, texts, or testimonies. for eight years—to be held at the Pinacoteca de São
Paulo. That exhibition and the Biennial project are
Is it only through the suspension of almost all our
quite different. Mulheres Radicais was a historical
activities, at a moment when the social relations
exhibition of Latin American art from 1960 to 1985;
we once knew are in crisis, that we are capable of
the Biennial allowed me to further develop issues
critically reflecting on the present time? Reflection
at play in that project, among them the question of
can take the form of being silent and standing still.
gender-fluid, non-binary, and trans identities and
Or we can intervene on the present critically and
the representation of Black and Indigenous artists, to
affectively, thinking “in the meantime.”2 That second
whom the art world was largely closed in the 1960s,
option was the stance we took when we decided
1970s, and 1980s. Mulheres Radicais did not set to
not to abandon the present time, but rather to
discover artists who had never participated in the art
attend to an affective need. For a period yet to be
world, but rather to examine how art histories had
determined, there will be no normalcy; we cannot
erased what had actually happened in a number of
really anticipate anything or return to the art world in
Latin American art scenes (entire segments of that
the terms we knew it. Safety protocols for reopening
history that had been left out and concealed almost to
exhibition venues are under assessment, but it is still
the point of disappearance). The question to address
not possible to set a date. Traces of the present, of

2 This is how María Moreno, director of the Museo del Libro y de la Lengua in Argentina, described the activities that would take
place during lockdown.

371 BIENAL 12 CATÁLOGO


in devising a conceptual platform for the Biennial was Roberta Barros, and Carmen Lucía Capra, as well
what was happening in Latin American art now. Was as Porto Alegre-based artists such as Claudia Paim
there more room today for Black artists and artists and Julha Franz. The seminar featured presentations
of African descendant, whether male or female? by María Berenice Días and Gloria Crystal, two of
What about artists from Indigenous communities? the Biennial Foundation’s directors, and by Gilberto
Schwartzman, its president. Extremely well attended,
In recent years, various art institutions, in São Paulo
the seminar was an extraordinary platform to
in particular, have held exhibitions on the history and
exchange ideas; it was a device that, right from
current status of Afro-Brazilian art, or the relationship
the beginning, ensured that the Biennial would
between the two. I am thinking of the Museu Afro
not be a foreign body in the city of Porto Alegre. In
Brasil, Ateliê Oço, the Pinacoteca de São Paulo, the
2019, Igor Simões held a series of meetings on the
Museu de Arte de São Paulo, and the Tomi Othake
“Kehinde Territory”, a concept taken from Ana María
Foundation.3 A change is underway, not unlike the
Gonçalves’s novel Un defeito de color (details of those
change ushered in by affirmative action policies which,
meetings are available on the Biennial’s website).
since 2003, have helped give sectors of Brazilian
Those meetings reinforced the ties between the city
society marginalized for reasons of class and race
and education, giving rise to a precious territory that
access to a university education.4 To be perfectly clear,
enabled the Biennial, in all its complexity, to operate
I believe the most radical art, on the level of language ​​
online during (these) times of social distancing.
and poetics, being produced in Brazil today is the art
made by Afro-Brazilian artists who, until just a few The text that served as the Biennial’s conceptual
years ago, were largely absent from visual arts scenes. platform looks to authors such as Carolina Maria de
Jesús, Clarice Lispector, Nelly Richard, and Denise
Curating a biennial on Latin American art focused
Ferreira da Silva. Through them, we reflected on
on the feminine(s) provided the opportunity to
the need to create from our specific class, sex, and
further explore questions and issues opened up in
race positions, and on the concept of difference
previous research, namely: the absence of Black
without separation and gender as a construct
and Indigenous female artists in Latin American
and an identity. Members of the curatorial team
art; the possibility of thinking beyond binarism
were actively involved in drafting the text.
in order to devise other ways of understanding
women and feminisms on the basis of the identities We selected female, trans, and gay artists with
and empowerments enabled in contemporary art. identities that move through race and gender lines,
Feminine(s), as a word, as an intervention, was not artists whose fluid and empowered identities are
easy to configure. In 2018, I began putting together organized in a number of different ways. We also
the curatorial team. I contacted Igor Simões, whose invited male artists close to feminist agendas. The
work I first saw while doing online research into his selection process was multilayered; prolonged and
Voces negras en el cubo blanco [Black Voices in the intense conversations took place in a context of
White Cube]. I was familiar with Dorota Biczel and chronic financial scarcity that gave the project a
her research on Peruvian and Eastern European sense of urgency. Indeed, I sometimes thought we
art thanks to the years I taught in Austin, Texas. I were organizing a magic biennial—solutions often
looked for a curator who could speak about Afro- appeared out of nowhere. Now, while writing this
Brazilian art in the first person. The Biennial put me text, I believe that this process allowed for a bundle
in touch with Fabiana Lopes, and I learned about her of experiences through which to rethink biennial
research on Brazilian, Caribbean, and African art. projects as a whole insofar as part of the global
Nelly Richard was a thoughtful and critical listener scene. What is the point of in-person pageants,
as I developed the Biennial’s conceptual framework. with all the travel, shipping, production, and capital
they require when, for an unpredictable period of
In November 2018, the Biennial organized the seminar
time, fastuous art venues will be devoid of viewers?
Art, Feminisms, and Emancipation at the Porto Alegre
Our relationships with art spaces and artworks are,
Book Fair, in Alfândega Square. Among the artists,
for the time being, on hold. How can we bring the
performers, researchers, and curators who attended
experience of these harsh months to bear on an art
the event were Rosana Paulino, Igor Simões (he would
world that must re-imagine and re-organize itself?
later be named the Biennial’s pedagogy curator),

3 I briefly review this institutional map in Andrea Giunta, “El arte negro es el Brasil,” Z Cultural. Magazine of the Programa Avan-
çado de Cultura Contemporanea, Univérsidade Federal do Rio de Janeiro, No 1, Year XV, 2020. http://revistazcultural.pacc.ufrj.
br/el-arte-negro-es-el-brasil/. Republished by Transas magazine. Letras y artes de América Latina, Universidad Nacional de
San Martín, School of Humanities, 2020 https://www.revistatransas.com/2020/05/21/artenegro_brasil_giunta/ (visited 01-06-
20).
4 See Igor Simões, “Voix noires dans les arts visuels brésiliens,” Artpress No. 53, Amérique Latine. Arts et combats, March 2020,
pp. 51-53.

BIENAL 12 CATÁLOGO 372


Journal question addressed to the Biennial’s community of
artists. Those interactions unexpectedly ignited a
We planned a publication for the Biennial with a word included in the Biennial’s title: affects. That word
floor plan of the venue and a list of artists and works. assumed a new position in a grammar of meaning
The idea was to guide the public and provide them that had to be reworked in light of a constantly
with, among other things, first-person accounts by changing lived experience. We asked those who
some of the participating artists. The Biennial’s new responded to send a video message recorded on their
online format loosened the ties between the texts, cellphones telling us briefly how they were, where they
the artists’ voices, and the exhibition itself. This more were, and what work they were going to present at
malleable network gave rise to the idea of publishing the Biennial. In these videos made in different points
a digital journal. The journal was designed for smart across the planet, they described the singularities
devices such as cell phones. The idea was to gather of their new realities. In uploading these testimonies
as many voices as possible, almost entirely first- onto the Internet, an archive of affects was created
person accounts. The artists’ texts sometimes take the in the context of isolation; a network—a previously
form of a manifesto. Some are essays or interviews non-existent set of relationships—was established
that have already been published, while others were in the Biennial community; an archive of sensibilities
written for this publication. Versions in Portuguese, took shape as a common situation (isolation) was
Spanish, and English—the three languages ​​in which experienced by everyone and described with similar
most texts on Latin American art are written—are words despite emotional specificities. A global
available as a way to underscore the complexity we scenario marked by intense coexistence, extreme
embrace in studying the region’s art. The publication domesticity, and the urgent impulse to help those
acts as an intervention in the field of Latin American around us. Much of that is evident in these short films
art; it is a way to give visibility in the first person to shot in houses, patios, and backyards. The Biennial’s
the thoughts and expressions of many of the artists artists and team recorded a time capsule that
featured in the event. The journal includes interviews, captured the multiple textures of situated affects. The
theoretical essays, documents, and other texts written visuality and physical presence of works that would
in different countries with also different contexts. not be exhibited in the physical space of the Biennial
It is a resource with which to analyze the diversity were translated by the artists’ words and the texture
of voices, geographies, and poetics that represent of their voices. We cannot see these works or be in their
many of the artists included in the Biennial. These presence, but we can hear them. What we have, then,
writings grasp for key words where different visual is an archive of short stories about visuality produced
perspectives intersect. I wonder how this collection of at a remarkable juncture in the world, in times we
texts will be used in the future, when we study these could never have imagined. An archive that condenses
exceptional times rife with losses (of contacts, affects, and encapsulates the poetics of these strange times.
people). Is it possible to build meaning when politics
and life are diminished on a daily basis, when existing Crossings/Zones of Contact
forms of violence are exacerbated and new ones
invented? Is it possible to build meaning from art? In the online version of the Biennial, the works can
be seen simultaneously, opening up new possibilities
An Archive of Affects I had not considered when organizing the event for
three emblematic buildings in the city of Porto Alegre
Uncertainty prevailed in the days following the (the Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS),
closure of borders, museums, and public spaces. Memorial do Rio Grande do Sul, and the Iberê
Daily life was radically and quickly transformed, and Camargo Foundation), and Alfândega Square.
social relationships suspended by a global lockdown. Alfândega is the Portuguese word for customs, and
What had startled and jarred us in China was now the square is at the heart of Porto Alegre, a port city
taking place globally. The pandemic created a legal on the banks of the Guaíba River, which flows into
framework for control over persons, and debate on the Patos Lagoon and from there to the Atlantic.
that control and framework has been a constant for As they migrated from one format to another, the
these almost one hundred days of isolation (today presences and meanings of the works changed.
is June 20). We had never imagined a society like
At least two facets of an in-person experience of
this, and we do not yet know to what extent it will
the Biennial could not be re-created in the online
be the “new normal.” Nor can we say for certain
version. First, the experience of moving through
how long this particular present moment will last.
the galleries and, on various visits, taking in the
Ten days after the decision to suspend the Biennial’s atmosphere, the specific temperature in each one;
opening, we began contacting the artists, first and bringing the memory of the previous space to bear on
foremost to ask them how they were doing: a simple the next one; moving between the galleries following

373 BIENAL 12 CATÁLOGO


maps or impulses, going back and forth between own visits and itineraries. The ones I offer here are
works facing one another. At stake in the second from my own point of view. They are tied to what
impossible-to-reproduce experience are the zones of Ceres Storchi, the architect who designed the spaces
contact between works. Assembling an exhibition is for the Biennial, and I were grappling with while
a very specific experience. Regardless of exhaustive working on the floor plans. It is at that moment,
planning with architects and designers, the works when working with the real possibilities and limits
change at the very moment they are set up in an afforded by architecture, that the relationship
exhibition venue; the distance between artworks between the works and the space is established. I
becomes crucial; the magnetic field of each work do not know if the layout was going to be exactly
irradiates toward the others—and that is an essential as I describe it here. I will set out to narrate what I
phenomenon. In installing exhibitions, we perceive imagined was going to happen in the physical space.
these zones of action and reaction, and in response to In a gallery, the relationships envisioned between
them curators change a gallery’s layout. That specific the works often change. On the Internet, those
combustion that cannot be experienced online. relationships can proliferate as many other options.
The online experience cannot capture the sizes and
proximities of works, but inevitably flattens them out.
Museu de Arte do Rio
On the other hand, the online version of the Biennial Grande do Sul (MARGS)
is not stifled by the limits innate to a physical space.
In its absence, unforeseen and otherwise infeasible I imagined the museum space as a first-person
relationships between works arise. With the online statement, an affirmation of the poetics of feminist
version of the Biennial, concepts that were not artists in Spain, the United States, and Latin
initially taken into account were brought into play, America, of Black poetics, of class perspectives,
as were ways of exploring the works. And these new of the confinement of different affects, of the
experiences were available to anyone; the curator’s poetics of age, of the stereotypes based on the
ability to guide the experience was limited, her role exotic, of the changing conceptions of family, and
neutralized or, more accurately, shared, democratized of the poetics of hair. I also imagined being in the
through active participation. Moving through the physical presence of that affirmation, relishing the
exhibition as our eyes slide over the screen, opening brushstrokes with which painting translates or re-
new tabs and windows with the click of a mouse. We creates a favela, for instance, as planes of color.
may have lost the experience of distance, of size, of At the exhibition’s entrance we placed portraits on
sound, and of smell in the digital experience, but the embroidery hoops by Rosana Paulino, images of
new relationships, exacerbations, and erasures that faces crossed by seams at the eye, mouth, throat.
emerge in the online version of the Biennial replica The entire first gallery was to be dedicated to this
the isolation imposed on the senses by lockdown. Brazilian artist, a point of reference and an educator
In this essay, I put two proposals before the reader. for new generations of Black artists. Her art analyses
First, taking an imaginary journey, gallery by gallery, the relationship between science and racism. Her
to understand why, from my specific position, some memorial-monument is based on the family album
works were going to dialogue with others in the spaces of a family—hers—which, like so many others
and galleries of each building. At stake in this journey throughout the Americas, has its roots in a history of
is attempting to replicate the layout of the spaces and slavery, exploitation, and discrimination that lives
the logics that guided the selection and arrangement on today. Hers is a work/manifesto. To the left were
of the works. The written word (this text and the to be two historical examples of feminist art: one
artists’ stories and accounts) aspires to re-create by the Guerrilla Girls, a group that has pointed out
a visit organized in different galleries, as originally discrimination in the art world since 1985, and one
conceived for the Biennial. Indeed, those journeys are by Mónica Mayer that deals with what bothered
the fabric, the very stuff, of this text. Second, I would women in Mexico City in 1978—mostly harassment
like to point out, as a coda or as a prelude, some and abuse, which continue to hound them today
of the relationships I was developing based solely in every city. Mayer was going to hold workshops
on the works, that is, outside the imaginary spaces with women in Porto Alegre to investigate what
of the galleries. I put together a series of possible irks them now. Planned for that same gallery was
relationships as a starting point from which the Mujeres del mundo [Women of the World] by Vera
reader can come up with others. I would like to share Chaves Barcellos, a video installation in which women
some of the new zones of contact and experiences from different places say their names. In the Aldo
I discovered when engaging the works on the Locatelli gallery, we were planning to establish
Internet, outside the physical space of the galleries. a dialogue between Paz Errázuriz’s photographs
from the El infarto del alma [Heart Attack of the
With this second option, readers can propose their

BIENAL 12 CATÁLOGO 374


Soul] series on love at a neuropsychiatric hospital in European colonialism by Daniela Ortiz, lays bare the
Chile; La otra [The Other], photographs by Natalia forms of human classification and discrimination still
Iguiñiz that portray domestic workers and their operative in Europe: the deportation of impoverished
bosses in intra-gender class relationships fraught and exploited migrants from African countries; the
with tensions; and Alejandra Dorado’s Coyote series plundering that followed the division of the world
that intersects family and animal portraits. at the Berlin Conference in 1895 and continues with
contemporary postcolonial processes and extractivist
On display in the minimalist, monochromatic gallery
economies. Lucía Laguna’s large canvases planned
to the right would have been subtle but extraordinarily
for display in the same gallery take a close look at
powerful works. Esther Ferrer’s string lines were to
the language of the favela, Mangueira, to be specific,
cross the gallery at a given angle to create a barely
the one the artist sees from her window, overlaid with
perceptible membrane, a breath in the physical space.
architectural structures she sees in her imagination.
Facing that delicate structure would have been videos
For the Oscar Boeira gallery, we had planned a
by Geta Bratescu in which the artist renders the strong
magical blue installation by Juliana dos Santos, a
minimalist lines in each one of her drawings. The artist
site-specific work for which the artist was able to
speaks in these videos, and the marks on her hands
have only one of the planned research visits to Porto
and arms, evidence of the life she has lived, contrast
Alegre. Dos Santos’s proposal also raises the question
with the simple and dynamic movements with
of classifications and of how to talk about the color
which she draws the lines. These videos would have
blue when everyone around her yells “black”—a
confronted, in a spatial counterpoint that required
problematic that brings to mind a performance by
a close look, the photo-montages with which, in the
Peruvian artist Victoria Santa Cruz. Planned for this
mid-twentieth century, Grete Stern illustrated the
same floor was a work by Helô Sanvoy that addresses
dreams that women readers sent into Idilio magazine.
hair braiding as memory, as narrative told by her
Two separate galleries on this floor would have mother—her hair flecked with gray—as she makes
featured videos by Gladys Kalichini and Marcela braid after braid. That intimate moment is confronted
Astorga. With the body and movement, Kalichini by another first-person voice: artist Kan Xuan runs
activates a history of colonialism; the women erased through a subway train in China, shouting out her
in histories of Africa are replaced with a performance name. The humor of her films contrasts with the
of memory that addresses the women who fought for quick succession of urban grids, a fabric into which
the independence of Zambia. In the gallery opposite, she weaves data from a society marked by extreme
the sound of the blow that pierces a building about surveillance. In the next gallery, a film by Lorraine
to be destroyed would have been heard in Marcela O’Grady would have depicted a landscape of hair,
Astorga’s video Óculo. The piece records an action a series of images against the sound of birds and
effected on a dark space that leaves perforations cicadas. In another gallery on the first floor, Chiachio
through which light filters, evoking the idea of ​​ & Giannone, partners in life and in art, were to exhibit
destruction that gives rise to its reversal: a line of an immense tapestry of a family in joyful greenery, in
light generates an affective geometry in space. nature. This would have been the premier exhibition
of this work with iconography in which the animal
Other poetics would have been in full combustion on
and the human intersect. The gallery would also have
MARGS’s second floor. In the Iberê Camargo gallery,
featured works produced in a collective embroidery
Jori Minaya would have critically reanalyzed the
workshop to culminate in Alfândega Square—a
stereotypes in advertisements featuring Dominican
collective experience in embroidery and crafts that the
women. She crosses Google searches with the
artist-duo has held previously, with the same pieces
clichéd fabrics and patterns that reduce different
of fabric in different parts of the world. On exhibit in
locations to a single exotic place (“Hawaiian” fabric
the adjacent gallery would have been videos made
as standardized pattern, for instance). Minaya’s
by Judy Chicago between 1968 and 1974 showing
performance Siboney “unpaints” a colorful pattern
actions performed by naked women in landscapes,
that the artist first renders in mural format. She drags
the colors scattered in the air by smoke. Here,
pigments with her body, clad in wet clothes, and hair.
paint-covered bodies move outside the dictates that
In Grupo de familia [Family Group], Cristina Schiavi
classical dance imposes on the body. The architecture
uses domestic materials such as bathroom tiles to
in these videos is also enveloped in dark smoke—a
make a monumental sculptural form that effaces
situated historical reference to the Vietnam War,
specific genders, a figuration of the new family
which shook the world in the 1960s and 1970s.
ushered in in Argentina after the enactment, ten
years ago, of the marriage equality law: new affects MARG, then, was to feature historical artists such
and forms different from the heteronormative family as Rosana Paulino, Paz Errazuriz, Grete Stern,
altered and expanded social sensibilities. El ABC de la Esther Ferrer, Mónica Mayer, Lucía Laguna, Judy
Europa racista [The ABCs of Racist Europe], a work on Chicago, Lorraine O’Grady, Vera Chaves Barcellos,

375 BIENAL 12 CATÁLOGO


Geta Bratescu, and the Guerrilla Girls; references to work’s occupation of the urban space is a reference to
international feminist art, especially in the work of violence against women in Mexico and in the world.
Paulino, Chaves Barcellos, and Laguna in Brazil. But Looking to the precarious, not the monumental, this
alongside those crucial historical references were to installation would have ushered us into a building
be young artists such as Helô Sanvoy, Joiri Minaya, that gathered feminist experiences and works with an
Juliana dos Santos, Gladys Kalichini, as well as artists intersectional agenda. A performance by Janet Toro
from an intermediate generation such as Chiachio was planned for the opening. Buried under the square
& Giannone, Kan Xuan, Natalia Iguiñiz, Daniela for a number of hours, Toro was going to shake the
Ortiz, and Cristina Schiavi. Dialogues and frictions soil off of her body to uncover the names of murdered
between different geographies and generations. women, and then carry a flag that read “this is my
We understand so well, however, that in a physical body” to the facade of the Memorial (the flag would
space, that information is overridden by the direct have remained there throughout the Biennial).
relationship established between viewers and works.
Planned for the entrance to the Memorial was a
I head out to the city square, that mural by Ana Gallardo, an immense surface covered
brightly lit, peopled space, to rest in with charcoal on which she erases phrases (records,
its green ordered geography: nature in testimonies) uttered by women who had been raped
the city. I remember what it looked like in Guatemala. Two installations by Gallardo in the
same space—a mural and a sculpture—make use of
during the 2018 book fair. When I arrive
parsley and knitting needles in reference to the unsafe
today, in the morning, I can still feel the
abortions performed by poor women in Argentina,
dew on the plants and the night’s cold where until recently the procedure was illegal (parsley
light. The midday sunlight burns color, and knitting needles are among the household items
heightens glare, and blurs edges. I close women use in unsafe abortions). Despite the risks,
my eyes to gather my thoughts, and among them death, of illegal abortions and the
I feel the marks of the sun moving in legal consequences including—in some places—
the forced darkness of my eyelids held punishment by law, performing an abortion using
shut. Something similar happens with the household objects in this work underscores
artworks: they hold onto the senses at a woman’s sovereignty over her own body. The
play in their conception and production; body itself is the legal space where decisions are
carried out: a dispute between two orders, the
starting points that expand when we
order of the Law and the order of the people.
stand before them, that expand in
relation to other images and new spatial The galleries to the right would have featured work by
perspectives. Prismatic works, their Carole Condé & Karl Beveridge. In their photo-collage
core of internal meaning seeps out into mural, the imaginary of Brueghel and Indigenous
activism in Bolivia intersect around the current dispute
facets, and from there new and ever-
over water, a natural resource being ravished by
changing meanings are projected.
global extractivism. Other collages address care for
I will come back tomorrow the elderly, the contexts in which, along with other
to visit the Memorial. services, it is provided to a population that is also the
repository of knowledge. Liuska Astete Salazar’s body
is denormatized with respect to the social categories
Memorial used to classify bodies. Her naked body covered
Planned for exhibit in this building were the feminist in red, black, and yellow paint performs actions in
agendas of artists and collectives. Activisms in the emblematic buildings (the Palace of Justice, the
shape of actions that condemn violence against Cathedral, and the Pinacoteca) in Concepción, a city
women, the consequences of illegal abortion, in Chile with an art scene consciously independent
bodily stereotypes, the heritage of exploitation, from the one in the country’s capital, Santiago. In
present-day slavery and discrimination, traces of these performatic actions, Salazar’s body acts as a
destruction in architectural metaphors, collective monochrome sculpture; gleaming, it bears traces of
resistance, relations with Indigenous communities the perception of the illegal act that has just been
in first-person accounts or through empathy, and carried out. A dark space in the next gallery would
reflections on blindness and diseased bodies. have housed a textile work by Sandra de Bertuccy
that makes use of both Andean textile traditions
We would have entered the Memorial through Elina and contemporary technologies—specifically fiber-
Chauvet’s red shoes, an installation in which shoes optic thread with sensors to introduce light and
are gathered and painted collectively. At stake in the movement. The work’s juxtaposition of materials from

BIENAL 12 CATÁLOGO 376


different times challenges the viewer and produces work enables an act of listening that brings together
an unlikely experience of synchronicity. In her very different impulses and proposes an inclusive action:
large photographs, Kimiko Yoshida paints her face we, there, listening. On the left side of the gallery
with ritual makeup, fusing the visual traditions of would have been videos by Porto Alegre artist Claudia
Japan and the Baroque; her transformed face is Paim showing performances, also of her authorship,
inserted into art history. By combining disparate that question and challenge the body, her own body.
visual languages, she activates a female identity Paim drew maps of the city and, by dint of repetition,
in diaspora, an identity that escaped the limits of developed patterns of reflection and emancipation.
her own culture to reveal startling visual fabrics She interrogates the idea of landscape—what
​​ does
unknown even to her. Élle de Bernardini’s installation landscape mean?—and drowns out any possible
also proposes a journey through the construction of answer with a mouth full of water that makes
identity. In her investigation of transsexual bodies, whatever she says incomprehensible. The work’s
she makes use of counter-sexual forms in felt, gold, poignant title is Entre mi boca y tu olvido [Between
and skin—even sound. With those materials, she My Mouth and Your Forgetting]. Her questions are on
approaches disassembled narratives. Their textures hold, and her words stifled. I don’t know if either Paim
and brightness are a means to ponder what a or Pedro Lemebel was aware of what the other was
transdialectical or “trans” society, a society based doing, but their works certainly dialogue. In an epic
on affect, would be like. The aesthetic elaboration of performance, Lemebel threw himself down a burning
glitter and texture is disassembled in other ways in staircase. In that enveloping movement, he seemed
the register of the performance Priscila Rezende did to create an argument different from the patriarchal
in front of the Memorial in Porto Alegre two years argument that has written art history by dissecting
ago (that venue was to house the register of the the female body, something even Duchamp did.
performance). Rezende wears pale clothing made Lemebel attacked heteronormative and homophobic
of raw fabric while putting soap and water in her discourses when he read his text-manifesto Hablo
hair, which she then uses to wash a set of pots and por mi diferencia [I Speak for My Difference] before
kitchen utensils. In Brazil, Bombril is the name of a his comrades in the Communist Party. Across from
brand of steel wool used to clean house, but it is also Lemebel’s work would have been Glwadys Gambie’s
used disparagingly to refer to Black women’s hair. sensual watercolors and collages with women-
The gallery at the end of this section of ​​the building hedgehogs, women as fruits with protrusions, bodies
would have featured a video by Zorka Wollny: an fused in flora and fauna. Bodies in nature/nature
“impossible opera” in which bodies and sounds bodies. Alongside those watercolors and collages
activate hypothetical grammars for the configuration would have been Eneida Sanches’s works on affections
of a public scene that could be articulated from and frictions. In these collages of metal and drawing,
the dynamics of democracy if only the acts of she uses the tools of Saints to hit, weld, and bind
speaking and hearing could find ways to meet. metals, thus establishing a dialogue with printmaking.
I would have wanted to scrutinize her drawings from
At this juncture in the exhibition, viewers could either
up close, to observe the details of how the metal
have retraced their steps to go back to the starting
acts on the paper. My many questions about the
point or gone down the corridor at the back of the
meaning of these works have been put on hold.
Memorial to reach the other wing on the ground floor.
If we were to have gone back to Ana Gallardo’s work The right-side corridor on the Memorial’s ground
and from there to the left wing, we would have found floor was to be used to exhibit a work by Fátima Pecci
the video of an action performed by Jota Mombaça at Carou: an immense mural with over one hundred
Columbario, the monument Beatriz González made in painted portraits of murdered women, victims
Bogotá. It shows Mombaça reading and then burning of femicide, whose gaze the artist has redirected
texts that mention missing persons. (A double- toward the viewer; these women look at us, question
channel version of this piece was produced for the us. One canvas was left empty, just its primer, the
Biennial.) To one side would have been an installation gray underlayer of a painting, left as blank as
by Musa Michelle Matiuzzi conceived as a garden of an interrogation of the ceaseless murders whose
abolition: over one hundred recipients holding plants perpetrators remain, in many cases, free. Janet
with healing powers cultivated by Afro-Brazilian Toro’s performances are interventions on her face, a
communities. Abolition has multiple resonances self-portrait using the legally liberated zone of the
insofar as it refers to the doing away with the (real body—we do not have to ask permission to intervene
and symbolic) conditions that prevent emancipation on our own faces—created in an atmosphere of
in the present. Immediately to the right would have confrontation. She draws her lips on her face covered
been Eugenia Vargas’s wall of sound, a work in with white powder. She removes the paint with paper
industrial materials with sound devices that combine one thousand times, turning her face into a smudge
voices speaking of experience and memory. The of red and white. Her performance at the Museo de

377 BIENAL 12 CATÁLOGO


la Memoria y de los Derechos Humanos in Santiago, Upon arriving downstairs, we would have come upon
Chile, whose recording would have been featured a work by Juliana Vidal, a project to be produced
in this show, also makes use of the portrait. In it, in Porto Alegre using blocks of local clay on which
a group of migrants holding mirrors have citizens the artist would have imprinted parts of her body
look at themselves. “You could be us” is the action’s as “signs of resistance.” An indicative work that
subtext. Sebastián Calfuqueo, a Mapuche artist who interrupts free transit with blocks that preserve the
lives in Santiago, Chile, makes films with testimonies, presence of a body. Ink and graphite drawings by
memories, and stories that examine the problematics La Vaugh Belle, an artist from Saint Croix (part of
of identities built from exclusion, difference, and the Virgin Islands, a former Danish slave-trading
suspicion, identities tormented on both the Argentine post that is now an “unincorporated territory” of the
and the Chilean sides of the Andes. In his work, United States), multiply the shapes the wind leaves
Calfuqueo also recounts his search for his female on palm trees as it blows in the Caribbean. Its subtle
double, Marcela. The video traces that relationship, critique of colonialism consists of rustled images
from its inception to its decline. Images of faces that disorganize tourist stereotypes of exuberance
place us before similarities and differences as we and endless pleasure. Her drawings were going to
interrogate gender and race. The final gallery was to be produced on site on the walls of the Memorial.
feature Estar igual que el resto [Being the Same as Rahima Gambo’s installation of video, photographs,
the Rest], an installation resulting from five years of and plants was to be located on the corridor
research in which Pau Delgado Iglesias interviewed connecting the other two large spaces in the building’s
people blind from birth. Her questions revolved underground level. Rahima’s photographs document
around the construction of sexuality, desire, and schools in conflict-ridden areas of Nigeria, places
social stereotypes. How is it possible that someone for play as well as for the reconstruction of social
who has never seen knows that they are attracted and affective relationships. The last two galleries
to someone with blond hair and blue eyes? How is would have featured two opposing works: Carmela
desire socially constructed, even without sight? The Gross’s flat monument on the floor in opposition to
three-channel edition also examines love between any memorial-making impulse, regardless of its vast
blind people. During these one hundred days of size (​​4 x 11 meters). Though the work is much larger
isolation, we have analyzed the relationships and than Guernica, it has none of that famous painting’s
distances between our senses. We have learned how sharp and heroic forms in contrasting shades of white,
to isolate them, how to exacerbate them, and we have gray, and black but is instead a sort of pink flag that
experienced their loss while living with the virus. In would have remained wet throughout the exhibition.
this exploration, Pau Delgado Iglesias asks questions This is a queer flag, stripped of the masculine identity
from an alleged degree zero: if we do not see, how can on which national symbols are so often based. But
we build hierarchies of people based on hair color? that is my interpretation: Gross thinks of her works as
opaque critical interruptions, an expanded horizon for
The Memorial is the Biennial’s most intense venue. I
active imagination and the participation of bodies,
need to go to the square to think about the images,
sound, poetry. Something like what I anticipated
the videos, the questions raised. Sitting there, I
while waiting to meet Ana Lira, creator of Chama, a
wander through the Memorial in my mind. I try not
multisensory experience to be built in the exhibition
to forget how the relationships between the works
space on the basis of Afro-Amerindian sounds, a
took shape. No online experience can replicate the
work that would address the Black territories of Porto
experience of seeing works in a physical space. Will
Alegre, the problem of dislocation, and the articulation
we visit museums again? Will we once again converse
of collective knowledge. That complex space would
in their galleries, appreciating the works with others?
engage the body and affect through music, in contrast
How much does our relationship to art change if
with the wet pink surface of Gross’s flag-anthem and
it is seen in sanitized spaces with people walking
the light coming in from a skylight. Words cannot
around in masks while practicing social distancing?
replace the experience of a physical body in a physical
The Memorial’s underground level was to hold the space, where senses are the instruments of perception.
work of five artists from Brazil, the Caribbean, Nigeria,
Each of the works to be installed in the three galleries
and Ecuador. Rather than think from a solely local
on the second level engages a very different time.
perspective, we must grapple with the configuration
The titles of Brigida Baltar’s embroidered pieces
of a field of aesthetic proposals that strains and
make use of medical language (bruises, petechiae)
interrogates the contemporary global scene. The
and refer to her own experience with illness, with the
body, the wind rustling in a Caribbean setting, an
limitations of her body. Astir in these threads that
educational community, participation through music,
compress and squeeze the fabric are the affects of
design, poetry, symbols of a fluid nation without
trauma and pain, as well as references to the chimeric
the patriarchal norms of flags and coats of arm.
transplant of her brother’s bone marrow as a way

BIENAL 12 CATÁLOGO 378


to heal. Empathy and exchange of experiences also I close my eyes to take in the sound of
make themselves felt, although in a different way, people bustling about. It’s getting late.
in Julieta Hanono’s exchanges with members of the
Qom people who migrated from Chaco, in Argentina,
to the outskirts of Rosario. In this installation, she
Iberê Camargo Foundation
displays the small clay animals the Qom people On the boardwalk on the Guaíba river, the
make; the price of each piece is established at an Foundation’s building—the Biennial’s third venue—
assembly. There are as many little animals as there has a distinct architectural feel. Its minimalist shapes
are kilometers between Rosario and Porto Alegre, a with ramps and circular interior look, from the outside,
route rendered metaphorical by this herd of miniature like a hand whose fingers wrap around the building.
animals illuminated by the powerful light coming in Two minimalist works were planned for the central
from the window. Planned for the last gallery of the atrium in order to generate a contrast with the
Memorial were works where the activisms of feminist spectacular building. Cecilia Vicuña’s drawing/video/
groups burn bright. In Mujeres públicas’ upside-down text Semiya narrates her marriage proposal in 1971
flag the word “demasiado” (too much) is written in to Salvador Allende, Chile’s president at the time, in
white against a red background. There are, after all, an event she termed “the day of the semiya” (seed).
so many reasons to be weary: too much injustice, too We were going to suspend the quipu Vicuña was
much shame, too many outrages. In other installation, making in minimal, precarious materials (a seminal
the group questions the word “queer” as a buzzword part of the work was to be sent from the artist’s
used by educated white people. “Too fat to be studio to the Biennial via express mail). Materials
queer”: an ironic remark on a sticker glued to the provided by different communities in Porto Alegre
wall. The archive of Nosotras Proponemos’s activism were to be added to Vicuña’s quipu to shape a fragile
features their urban interventions, part of an agenda form, which Vicuña considers a metaphor for nature
that challenges machismo and social violence, threatened by fires in the Amazon. Planned for the
chauvinism, and forms of real and symbolic violence same level were Maruch Sántiz Gómez’s photographs
in the art world. Visualizing forms of effacement and texts of ordinary objects and domestic animals,
and invisibility is central to the activism of the COCO as well as phrases in Tzotzil that capture ancestral
collective. They investigate the percentages of female knowledge to be preserved or recovered for the
artists featured in Latin American art magazines, sake of present knowledge. As these times have
books, and catalogues. The same gallery was to made clear, to think about what is to come we
feature Jota Mombaça’s flags made with blood need knowledge and practices that foster another
and bearing a concise and powerful description of relationship with life, our communities, and nature.
the state of the world today: “World–Wound.”
A textile by Juliana Góngora was to be suspended
The education program workshops were to be held in on the upper level. For years, Góngora has made
the Memorial, adjacent to the terraces where Juliana woven fabric from solidified milk, its threads sewn into
dos Santos’s collective performance “Malha” was to branches. Light was to be a fundamental component
be carried out periodically as part of the program. of this work, its effects rendered more visible by means
The sun is still up in Alfândega Square. of iridescence. The work is almost like a shelter in the
space through which we move. A work by Jessica
The sun was shining every single day I
Kairé planned for that same space explains how to
spent in Porto Alegre, and I remember it
use kitchen utensils and vegetables, which she ties
as intensely bright. In that square, that
together and moves about, to ward off imminent
public space in front of the Memorial, attack. She defuses violence with soft weapons like
we were planning to place Rouge, a velvety cloth grenades. In selecting the portraits
work by Carmela Gross that consists of of Toba, Wichi, and Mocoví women from the series
a popcorn cart entirely covered in red that Grete Stern took in Chaco province in Argentina
lipstick (five kilograms of red paste). An between the late 1950s and early 1960s, works to be
enigmatic element in the city’s space installed on the same level, I thought about identity,
that, with a dose of humor, produces a of the first person that the portrait restores, even if
collision between the popular and the we don’t know the names of those women. Although
Stern, the author of the photographs, had arrived
universe of the feminine. I remember
in Argentina from Germany, where she studied at
that the Biennial’s performance series
the Bauhaus, not even twenty years earlier, these
was to include one in which Mujeres
photographs constitute portraits in all the complexity
Públicas would have distributed a small that term entails. They are an analog record, the
notebook summarizing, with humor and greatest visual closeness we can imagine to these
irony, the advantages of being a lesbian.

379 BIENAL 12 CATÁLOGO


women from the present day. As a counterpoint, I carefreeness and political commentary on our
had envisioned installing Gonzalo Elvira’s series of highly monitored society. Also planned for this
drawings that reexamines and reanalyzes the work space was Patria [Homeland], an installation by
of Bauhaus women excluded from the school’s metal Natalia Iguiñiz in which words unfurl on flags on
and sculpture workshops, but active in its textiles the ground in reference to the artist’s nation and its
and ceramic studios. By referencing photographic foundations. The works in this section are informed
portraits of these women in his drawings, Elvira by the problem of memory. The strident, powerful
activates a component of the feminist art agenda, stitches Chilean women used to render images on
namely telling the history of invisible artists. The pieces of burlap during the dictatorship document
drawings were to be placed on a site-specific mural. a form of survival and resistance. In them, we find
Janaina Barros’s intervention with shirtdresses and episodes from those years when fear dominated
photographs produces a leap from face to body—to the collective life. In that same gallery would have
the entire body, face erased, or to the portrait, face been Mirella Maria’s prints of family photos in which
covered. A silence that could well mark the drift from the name Maria bears traces of the colonial history
the personal to the social, a notion key to grappling of slavery. Printed in sequence on a dress, those
with the relationship between a Black subject in photos establish unprecedented relationships.
the first person and a collective experience where
The three old black Mapuche ponchos Nury González
new strategies of effacement and violence against
would have presented in the next gallery reinforce
the Afro-Brazilian collectivity are invented every
the memory of the Chilean experience. The passage
day. Dana Whabira’s project is among those that
of time has left holes in those garments worn by
most strikingly highlights the distance between the
women, and the artist stitched them up in a symbolic
experience in the physical space for which the Biennial
act of care and preservation. Planned for across
was planned and the reality of the Internet. She was
from González’s work were two interventions by Paz
investigating Black history in Rio Grande do Sul with
Errázuriz. The first is a projection of the portraits
Porto Alegre-based specialists on the quilombos5 near
she made of her son, Tomás, during the final years
where the city is now located. The project entailed
of the Chilean dictatorship. By taking those photos
translating her observations of local quilombos into
every month, she measured the passage of time,
drawings with abstract patterns. The dialogue is
counting down the final years of a period of intense
rife with frictions in relation to the adjacent space,
violence, censorship, and oppression. Next to it, the
which was to house Aline Motta’s video about a trip
second project: a series of photographs of people
from Brazil to Nigeria. In that work, Motta poses
sleeping in urban spaces, still bodies that act as a
questions about roots, relationships, and cultural
metaphor for the paralysis ushered in by the coup
distances. The text, the voice, and the mirror images
d’état. These images reflect on the situation of
that intersect in the film give rise to questions both
women in the urban space. Natalia Iguiñiz mapped
poetic and political. I can imagine the affective climate
Lima and had planned to map Porto Alegre in
in which the back and forth between these works on
photos and diagrams that allow for comparison.
experiences of race would have taken place: a kind
Those maps would have been offset by Eliana Otta’s
of displacement as we, the would-be spectators,
anthropomorphic banners embedded in slippers
move from Barros ‘s shirtdresses to Motta’s immersive
and embroidered with the words of women such as
film in the next space. From that contemplative and
poets Montserrat Álvarez and Carmen Ollé. In this
emotional climate, we would have entered the gallery
gallery’s urban climate and next to Iguiñiz’s map,
featuring Lungiswa Gqunta’s work. All we have are
the banners with their poles inside shoes revive the
preliminary sketches for the translucent installation
affect astir in political demonstrations emblazoned
of wire wrapped in cotton fabric that Lungiswa had
by poetic and testimonial words and questions like
planned to produce on site with others in a collective
“How do you hide the scar from a Cesarean?” We do
process. The work is bound to the femininity of
not turn our back to this urban climate or, in a sense,
touch and to the quality of softness. The echo of
to the surface, the soil. In Renata Felinto’s video, those
the swing in her film is repeated as a song plays.
contacts are reestablished by way of movement
Up a ramp to the left, at the entrance to the third and dance. She dances on the ground she treads.
level, would have been a video by Kan Xuan. The The setting and wardrobe she selects for each song
quick images and urban sound of horns and birds indicates a different relationship between music, body,
are brought jarringly to a standstill for moments city, and time of day. The body and music merge in
when a military uniform appears. The visual a dance performance in public space enveloped in
texture—a fabric of light and speed—combines an atmosphere of enjoyment. Planned for the large

5 Translator’s note: Quilombo​, derived from the Kimbundu word for war camp, refers a settlement of African people, often esca-
ped slaves, in the Brazilian hinterland. Source: Wikipedia (visited 02-10-21).

BIENAL 12 CATÁLOGO 380


side gallery that opens onto the central space where social distancing began. I have not, however, been
all the levels of the Foundation’s building converge able to experience these works in the physical space,
visually and spatially were Lidia Lisboa’s textile and to feel them reverberate in the galleries, to sense their
ceramic sculptures. As I walked through the space, I zones of contact, dialogues, frictions, that specific life
thought of the impact those works would undoubtedly art takes on only in exhibition spaces. What have we
have made, as well as the short film in the archive of lost and what have we gained? I do not know yet.
affects on the Biennial’s website in which the artist
Many of the points of contact and relationships
declares that she lives, thinks, and breathes art. These
between the works came to me suddenly, like a flash
textile and ceramic shapes convey the memories of
of lightning, as I reconstructed them with words and
termite nests, the trees on Atlántica Avenue in São
in my imagination. Sewing and stitches as suture or
Pablo, the children she has cared for, and the domestic
as reconstruction of meaning in Rosana Paulino’s
violence rife in the state of Paraná, where she grew
embroidery loops, Chilean women’s works on burlap,
up. She weaves and knots all those experiences,
Chiachio & Giannone’s tapestries, Nury González
scars, and bodily memories into an object.
ponchos, and Eliana Otta’s flags. The relationship
Planned for exhibit on the walls of the Foundation’s between clothing and the body in Janaina Barros’s
ramp was Julieta Hanono’s Constelación de las shirtdresses and Lidia Lisboa’s and Mirella María’s
poetas [Constellation of Women Poets]. With ribbons dance dresses. The banner by Janet Toro on the
of green (the color for the campaign to legalize Biennial’s façade, the one in Mujeres Públicas’
abortion in Argentina), purple (the color of feminist demasiado on display in the activism gallery, Carmela
struggles the world over), and orange (the color of Gross’s wet banner in the Memorial’s underground
the demand for the separation of church and state in level, Jota Mombaça’s blood flag, and Natalia
Argentina), the artist pays tribute to Latin American Iguiñiz’s “Patria.” The mirror in Aline Motta’s journey
women poets whom she ties to feminist struggles. through memory and the one that reflects the
audience in Janet Toro’s performance in front of the
The upper level, the Biennial’s fourth section at the
Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos in
Iberê Carmago Foundation, would have featured the
Chile. The ancestral knowledge reclaimed in Maruch
tapestries that Iberé Camargo who was based in Rio
Santíz Gómez’s photographs and phrases, and
Grande do Sul, made with women sewers. Many of the
recorded in Sebastián Calfuqueo’s videos (Tzotzil
works in this section of the Biennial are tied to fabric,
knowledge, Mapuche knowledge). The women
to weaving, sewing, and embroidery, and through
from the great Chaco who now live on the outskirts
them to a sense of exchange and social restoration.
of Rosario in Grete Stern’s portraits and the Qom
Another work I will not see in Porto Alegre is Them, people in Julieta Hanono’s works. The relationship
a play by Liliana Porter and Ana Tiscornia that was between the portraits taken by Grete Stern and
to be staged at Santa Casa, a hospital complex with the ones of Bauhaus women taken by Gonzalo
exhibition galleries and an auditorium. In isolation, Elvira. The networks of Black memories restored by
they made a new video titled Sin título con Helga Dana Whabira, Aline Motta, and Rosana Paulino.
[Untitled with Helga] with images that involve the Reflections on the elderly, their knowledge and
senses and interrupted contacts. They made the work creativity, in photographs by Carol Condé & Karl
using an everyday technological device: a cell phone. Beveridge. The stereotypes of tourism in the work
of Joiri Minaya and La Vaughe Belle. The contrast
The sun would be going down outside the Foundation’s
between Liuska Astete Salazar’s full-body nude
building and, in that landscape marked by Álvaro
portrait and Kimiko Yoshida’s extreme self-portraits
Siza’s minimalist building and the Guaíba River
with self-applied makeup. The body approached
boardwalk, I would see a LED sign by Santarosa
through color in Judy Chicago’s works with smoke
Barreto where the words “rosa,” “mujer, and “bruja”
and Liuska’s performances. The relationship between
(“pink,” “woman,” and “witch”) appear in a parody of
violence, women, and the city in works by Natalia
a tautological sequence. With them, Barreto connects
Iguiñiz, Mónica Mayer, Ana Gallardo, and Fátima Pecci
the title of a movie, a verse, and a phrase from Jean-
Carou. The new experiences of the family conveyed
Luc Godard, Gertrude Stein, and Ernest Hemingway
by Chiachio & Giannone’s works in embroidery and
respectively. A relationship in which women, beauty,
by Cristina Schiavi’s sculpture. The poetics of queer
and evil intersect. The silent words are drowned in
and trans affects in works by Elle de Bernardini,
the sound of traffic. Experiences of sound and vision,
Jota Mombaça, and Sebastián Calfuqueo—when
of life in Porto Alegre. But also the experiences of the
he searches for his double, Marcela—and Mujeres
imaginary journey I can reconstruct with the materials
Públicas’ work on the advantages of being a
on the web, the plans in my mind, and the ideas and
lesbian. Research into the meaning of Black hair
words many of the artists sent in with their cellphones
by Priscila Rezende, Helô Sanvoy, and Lorraine
from wherever they were when the lockdown and
O’Grady. The relationships are endless. I forego

381 BIENAL 12 CATÁLOGO


the physical space in the constellation of works
on the screen, imagining other connections.

We had not planned the Biennial to take place online.


It was a way to establish contact between works,
artists, and viewers during three months when, for
the first time in the history of the world, we have been
confined to our homes on a global scale—homes so
often rife with dangers to those who do not fit the
stereotypes the home enshrines. Not all homes are
safe havens; many do not meet even the minimum
standards for decent living. Before urban and social
spaces were shut down, many of us were thinking
about affect, about possible relationships, about
the knowledge we might contribute to help create
a more equitable present. We were thinking about
the instruments that would allow us to approach
the future if our new ways of understanding social
life were activated. We can and must think critically
about exactly what kind of “normal” we want to
return to, as well as new ways of understanding
our relationship to nature and each other.

BIENAL 12 CATÁLOGO 382


On Gatherings, Ajuntamento and Habits of Assemblage
Fabiana Lopes
Associate Curator
New York University

“Can anyone really theorize about visualities, actions and affections based on the
an expanding process? … What are production of black artists - a production little
the philosophical premises behind explored in Brazil and in Latin America – while
my praxis? I think about how the trying to learn, even if in an experimental way,
the “range of possibilities of knowing, doing and
articulation of a theory is a gathering
existing” that this (poethic) production announces.2
place, and sometimes a resting
point while the process progresses, What type of arrangement, or impressions of the
insisting that you follow it.1 production by artists from the black diaspora could
this gathering, this ajuntamento bring together? What
In mid-March 2020, I was just a few days away from would the articulation of these works in dialogue
arriving in the city of Porto Alegre (Rio Grande do in an exhibition project do/provoke? Even if as a
Sul, Brazil) in preparation to the 12th edition of the reduced and limited exercise, would this gesture
Mercosur Biennial. As one of the assistant curators of approaching the production of black artists be
to Bienal 12|Porto Alegre, I would arrive four weeks relevant to expanding the field of references for
prior to the opening of the exhibition, scheduled artists, curators, educators, art educators in Brazil?
for April16th, and would closely follow the artists’ Which possibilities and tensions could emerge from
processes. They would also arrive in advance to this gathering? How does this ajuntamento help
develop additional research, produce their work and/ us to continue thinking about the emergence of
or accompany the installation process. I was excited black aesthetic strategies in the context of Brazil,
about this gathering, about in-person meetings, about my starting point, but also in Latin America?
being around during the execution and installation
of many of the works, about the catch up coffees, In the case of Brazil, in particular, and of Latin America
the long conversations, the quick chat at the street, in general, there is a long way to go when it comes to
the multiple possibilities for bumping into people paying attention to the production of black (woman)
at Praça da Alfândega, the public space around artists, and to the clues that this production offers
which are located two of the three exhibition spaces about knowing, doing, and ways of keeping on existing
where the Biennial would take place: Memorial within the structurally anti-black society in which
do Rio Grande do Sul and Museu de Arte do Rio we live. If the artistic production of black authorship
Grande do Sul (or Rio Grande do Sul Art Museum). is still so invisible (I was trying to avoid making that
These moments of encounter would broaden my statement, but here I am en/tangled in it), Fred
understanding of the invited artists’ projects and Moten reminds us that [The] mark of invisibility is
works to a great extent. They would also allow me to a visible, racial mark; invisibility has visibility at its
have a taste, in practice, of the possibilities generated heart. To be invisible is to be seen, instantly and,
by Feminine(s), visualities, actions and affections. fascinatingly recognized as the unrecognizable,
as the abject, as the absence of individual self-
Up to that point, my discussions with the invited consciousness, as a transparent vessel of meanings
artists about their (possible) projects had taken wholly independent of any influence of the vessel
place, for the most part, through virtual meetings. itself. A relevant question, then, is how can we, despite
Thinking about the proposal for Bienal 12|Porto this mark (or perhaps motivated by it), continue to
Alegre, I started to consider the artists that I had phonograph this problematic [visual] paradox.3
been meeting and following over the past 5 years.
My specific contribution to the biennial project was My attempt in this text is to try to apprehend how
to offer the possibility of thinking about Feminine(s), a black poethics, the same that led black women to

1 Barbara Christian, Black Feminist Criticism: Perspectives on Black Women Writers, New York: Teachers College Press, 1985, pp.
9-10.
2 Denise Ferreira da Silva, “Toward a Black Feminist Poethics”, in The Black Scholar v. 44, n. 2, summer 2014, p. 8
3 Fred Moten, In the Break: The Aesthetics of the Black Radical Tradition. Mineapolis: University of Minesota, 2003, p. 68.

383 BIENAL 12 CATÁLOGO


organize themselves in a collective help network - I Offering a positive (and provisional) answer to
am thinking here of how we, black women, organized both questions, Da Silva proposes: “[from] without
ourselves to support our communities during the the World as we know it, where the Category of
health and financial crisis brought about by the Blackness exists in/as thought – always already a
Covid-19 pandemic — will manifest itself in artistic referent of commodity, an object, and the other,
practices. It caught my attention, for example, how as fact beyond evidence - a Poethics of Blackness
the proposal of some artists evaded the place of would announce a whole range of possibilities for
the art object [of commodity?], and/or how their knowing, doing and existing.”5 What I imagine doing
proposals frayed the concept of exhibition space here is, perhaps, an oscillation (or an imperfect and
made for an art object — even though they existed unfinished dance) between Christian’s question “Can
in relation to that space. These (women) artists were one theorize effectively about an evolving process?”
circumscribing their artistic doing (or practice) to the and attempts to apprehend something from the
research process itself, to the collective practices, “range of possibilities for knowing, doing and existing”
the meetings, the gatherings or ajuntamentos, and indicated by Da Silva. And I will do it in a moment
their proper modes of articulation. In some cases, when breathing is an event—a difficult one.
the research final result, what is presented in the
exhibition space is nothing more than a residue,
Gathering:
more or less explicit, of the investigation process
itself. In other cases, however, gathering seems to be an assembly or meeting, especially a social or
the collection of materials, a certain articulation of festive one or one held for a specific purpose.
objects, an accumulation almost. Still, my articulation
of groups of projects and artists in tangent dialogue Ajuntamento:
presented itself as a ajuntamento, as a field for a meeting, a group of people, agglomeration.
observation, as ground for possible theorizations.

The exercise that I try to do here, then, is to think of Based in Zimbabwe, Dana Whabira would possibly
some projects based on these tentative-concepts of be the first artist I would meet. Whabira had
gathering, ajuntamento, or habits of assemblage: already spent two weeks in Porto Alegre doing field
ajuntamento as crowd; ajuntamento as a gathering research, assisted by local artist Miti Mendonça, in
of things, amassing of objects; ajuntamento as the quilombos Silva, Fidelix, Lemos, Areal-the former
what emerges from the articulation of concepts (or area of the African Colony-, and the Restinga area.
theories) when works are placed in dialogue. And The finds of this research would inform the production
it is possible that these tentative-concepts won’t of a drawing, commissioned by the Bienal 12|Porto
hold, that they will dissolve at any mo(vi)ment. Alegre, as part of the series Circles of Uncertainty
— an ongoing investigation into stories of mapping,
I can’t breathe, I can’t breathe migration and escape route clues in communities of
I can’t breathe the African Diaspora. Through visits to quilombos,
interviewing leaders and members, and local
“Can one theorize effectively about an evolving
researchers, Whabira sought to identify different
process? … What are the philosophical assumptions
points of reference (and entry points) to learn about
behind my praxis?” These are some of the questions
the past and present history of these communities
asked by Barbara Christian in her attempt to
and outline a black production of space. By tracking
craft a black feminist criticism in the early 1980s.4
black spatiality, temporality, and radicality, the
Centered on the relationship between philosophical
artist tried to understand the complex nature of the
assumption and praxis, Denise Ferreira da Silva
quilombo, its precarious existence, and ambiguous
borrows Christian’s comments to consider, herself, how
delineation in the past and the present. The research
a Black Feminist Poethics would tackle such a task.
was also a way to access racial policies in Brazil, to
Expanding the discussion, Da Silva offers the following
know the status of spaces occupied by quilombos
questions: “Would the poet’s intention emancipate
in the urban psyche, mythology and imagination.
the Category of Blackness from the scientific and
historical ways of knowing that produced it in the For Whabira, quilombo seems to hold the meaning of
first place ...? Would Blackness emancipated from historically formed spaces as oppose this extended
science and history wonder about another praxis symbolic meaning which encompasses, for example,
and wander in the World, with the ethical mandate black urban spaces (or urban gatherings). But what
of opening up other ways of knowing and doing?” would be the advantages and limitations of crossing

4 Denise Ferreira da Silva, “Toward a Black Feminist Poethics”, op. cit., p. 81.
5 Idem.

BIENAL 12 CATÁLOGO 384


these two concepts? Is it possible, in the contemporary concept of quilombo offered by Nascimento who,
moment, to think of one without involving the as mentioned earlier, understood it as a long-term
other? How can we consider Whabira’s research in movement that continues in contemporary time.
dialogue, for example, with the thought of the late
The rhizomatic impulse that (mis)guides my thinking,
scholar Beatriz Nascimento for whom quilombo is
and the idea of ​​radical practices, escape, hair, and
not only a space historically formed but “a long-
everyday life lead me to the project Rotas de fuga
term general movement throughout Brazil,” a social
(Escape Routes) (2017) by artist Charlene Bicalho
organization with continuity in contemporary times?6
(Minas Gerais/Espirito Santo, Brazil). The project is
The final work, a circular, large-scale graphite pencil a performance in which Bicalho, in collaboration
drawing, would somehow keep the information with five other artists, walks through the streets of
collected by the artist during the three weeks of field the city of Ouro Preto (MG) and delivers nuggets of
research. This drawing would condense the history “gold” (gravel with golden paint) that she takes from
of displacement of these quilombola communities her hair to the people she meets along the way or
whose historically constructed narratives may walks, alternatively, leaving traces of “gold” in the
include radical practices such as “planting,” in the streets, windows, doors and mailboxes of the houses
hair, escape route maps, seeds and gold. These along the way. Accessing the research of artists who
narratives help us to identify and think of radicality are not part of the Bienal 12|Porto Alegre project
in everyday black practices and to re/cognize in them helps me to demonstrate how their/our processes of
clues to a tradition that is still alive. The abstract thought and creation are constantly overflowing.8
drawing Wabira produced would also preserve a
certain degree of opacity, thus it does not reveal
Hands up, don’t shoot! Hands up, don’t shoot!
the layers of the process, nor makes the research Hands up, don’t shoot!
explicitly evident. The work invites us to reflect Hands up, don’t...
on how artistic production can be circumscribed In the first few days, I would also meet South African
in the research process and how opacity (also visual artist and sculptor Lungiswa Gqunta who,
suggested by the title of the work) and invisibility over the course of four week period beginning in mid
continue to be mobilized as subversive strategies. March, would engage on an intense collaborative
While carrying out this project in Brazil, Wabira sheds effort with an ajuntamento of four local artists: Daniele
light on how some practices of the Black Radical Reis, Malena Mendes, Mariana de Jesus and Paula
Tradition - a tradition that can be mapped throughout Fernandes. The work, produced by black women,
the history of black people resistance to the conditions would entail handling – by folding and unfolding,
of oppression imposed by colonial interventions stretching and twisting - an expressive amount of
– actualize themselves locally. I am thinking here barbed wire previously covered with cotton fabric.
of both the contribution offered by the American The final installation, a version of The Softness of
scholar Cedric Robinson, who connects the nature A Woman’s Touch (2018-2020), included two large
of the Black Radical Tradition with the insurgent tangles of barbed wire separated by a passage
uprisings and practices, such as the formation of between them, and would occupy an entire room on
quilombos, with “the continuing development of a the second floor at the Iberê Camargo Foundation.
collective consciousness, informed by the historical Gqunta’s video work Feet Under Fire (2017) would be
struggles for liberation and motivated by the presented in the same room, In this version of The
shared sense of obligation to preserve the collective Softness of A Woman’s Touch produced by black
being, the ontological totality.”7 At the same time, women in ajuntamento, in an exercise of collective,
I think of Robinson’s definition in dialogue with the lyrical, and radical weaving, visitors would not be

6 Maria Beatriz Nascimento, Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual: Possibilidades nos dias da destruição. São Paulo:
Editora Filhos da África, 2018, p. 134.
7 Cedric J Robinson, Black Marxism: The Making of the Radical Black Tradition, London: Zed Press, 1983 (University North Caroli-
na Press, 2000), p. 171.
8 Held in the city of Ouro Preto (in the state of Minas Gerais) in collaboration with artists Priscila Rezende, Winny Rocha, Ana
Bárbara Coura, Fredd Amorim, and Karla Ribeiro, Rotas de fuga is, according to Charlene Bicalho, a mix of the everyday
life and performance. The artist had been researching Nagô braids, possible escape routes that these braids sometimes
represented, and the practice of hiding gold nuggets in the hair. For this collective performance, the artists met in front of the
Museu da Inconfidência (Inconfidência Museum) wearing black and red clothes. Organized in a row, they sat between each
other’s legs and, carefully, handed to the ori (head) of their companion in front of them the “gold” nuggets (gravel painted
golden). After that, they split into pairs and went walking through the streets around the museum, as if they were on different
escape routes, giving the people they met along the way the “gold nuggets” removed from their hair. Some of the people who
received the gift were so terrified when approached by the artists that they traced different routes. Along their way, the artists
left traces of “gold” on the streets, windows, mailboxes, and balconies of the houses up to the Santa Efigênia church. The pho-
to and video recording was done by Labibe Araújo.

385 BIENAL 12 CATÁLOGO


able to access all the nodes formed and dismantled the name of the author always implies announcing/
during the process. Even so, we can consider how calling the name of those with whom she collaborates.
the work - and its complex, labor intense creative Hence the sentence that accompanies the title
process - articulates the ideas of touch, proximity and Chama (2020): Ana Lira invites Marta Supernova, Ola
intimacy on the one hand, and of colonial landscapes, Elhassan e Suelen Mesmo.” Part of a research process
space legacies, and violence on the other; We can in which the “notion of collectivity and physical
also keep thinking about the ruptures that this presence is key,” of a research process that “happens
collaborative black feminist poethics announces. in wanderings and articulations,” in the experiences
of between-the-lines, Ana Lira’s project shifts the
If Wabira traces black spatialities and temporalities
understanding of artistic practice to the space and
and encodes them in her drawings, in the case of
process of ajuntamento of both the conversation
Recife’s visual artist, Ana Lira, who maps spatialities
program (or experiences) and the celebrations—a
of the black diaspora in different ways, the research
space where “bodies release the anguish amassed in
is in how the codifications of black knowledge, their
the everyday,” dancing in gathering, in ajuntamento,
experiences and transmissions, and their ways
in (black) movement, in (black) performance.
of resisting oppression happen through poetic
Proposing celebration as place of belonging, Chama
manifestations - through texts or the spoken word,
invites us to a series of sensory experiences, to
and though sound manifestations that range
listen, feel and think with the body, and to a black
from drum beats with all their multiple variants to
feminist poethic practice of doing in collectivety.9
electronic music. How can invisibility be a way to
empower? How can codified knowledge, not explicitly The work of visual artist Juliana dos Santos, Entre
revealed in the processes of poetic and sound o azul e o que não me deixo/deixam esquecer
manifestations of the Afro-Amerindian diaspora, (Between blue and what I/they don’t allow myself/
travel and be shared by other modes of sensory me to forget) is an interactive and performative
experimentation without the imposition of translation installation, composed of blue light, white fabric, a
processes? These are some of the proposals made presence sensor, and sound — an edited narrative of
by Ana Lira with Chama (2020), a project defined a group of racialized people about their experiences
by her as “an experience dedicated to the poetics of with blue. Entre o azul emerged from Dos Santos’
the Diaspora and its sound, celeberatory, sonsorial, reflections on the poetic possibilities and limits of
and written expressions.” The project comprises a being a black artist. One of the possibilities that Dos
cycle of sensory experiments that includes a sound Santos’ sought to weave was an investigation into
installation in the exhibition space, in this case the the color blue, its unfolding in the history of painting
first floor of Memorial do Rio Grande do Sul. The and its possible uses/applications today. These
installation includes books of poems created by Ana investigations, however, came up against how the
Lira (in Portuguese), and by the Sudanese poet Ola artist had been racially interpellated. “Would that
Elhassan (in English, Danish and Arabic), textile art be possible to talk about Blue if they never let me
pieces from Guinea Bissau, and a space for visitors forget that my limit is far below the sky? What are
to be together, to handle the books and listen to sets the demands that I/they don’t allow myself/me to
of playlists created for the online radio program, forget? Can black artists think in abstraction? How
another project piece designed and executed by Lira. can I talk about blue if all the time they scream at
me “black lady”? How can I immerse myself in blue
In addition to the sound installation and the online
if someone else’s memory interrupts my dream? ”
radio, Chama includes a collective celebration — a
These are the questions that emerge from the artist’s
party that had been scheduled to take place outside
investigation and experiences. The research on blue
the exhibition space, at Praça do Tambor during
opened up the way for gatherings, ajuntamentos,
the opening of the show in April 2020 — and a
and encounters. One of them was the gathering-
conversation program/experience with young DJs. In
performance in Porto Alegre to which Dos Santos
sharing her research on musicalities and sounds from
invited ten people to share their blue experiences.
the Afro-Amerindian Diaspora, Lira collaborates with
The gathering-performance resulted in an “audio
(and shares) two researches: one by artist and DJ
specific,” a soundscape with testimonials from the
Marta Supernova (Rio de Janeiro, Brazil), and other by
artist intertwined with excerpts from the participants’
DJ Suelen Mesmo (Coletivo Turmalina in Porto Alegre,
testimonies. The installation/audio-specific/
Brazil). An important point in understanding how Lira
soundscape (which would have been) presented on
articulates de concept of collaboration – which is also
the second floor of the Museu de Arte do Rio Grande
a form of ajuntamento – is that calling/announcing
do Sul (MARGS) is, for Dos Santos, the elaboration

9 Fábia Prates, “Project Chama: Poetics of the Black Diaspora,” in interview with Ana Lira. ContemporaryAnd.com (visited 06-30-
20).

BIENAL 12 CATÁLOGO 386


of an immersive experience that arises from the Affection And Territories (2016-2019), visual artist
search for what is sensitive, and the experimentation and scholar Janaina Barros presents, respectively, a
on a tentative-exercise to talk about blue among gathering of photographic images and of intimate
other possibilities of gathering and sharing. clothing items (nightgowns). The photo-performance
series Psicanálise do cafuné: catinga de mulata entails
No justice, no Peace! No justice, no Peace! eight images in which the artist is photographed in
No justice, no Peace! an external setting, surrounded by bushes, stones,
I include in this group, Nigerian artist Rahima Gambo and river water, her face covered with a pantyhose
who participates in the exhibition with the series in her skin color, allowing the viewer to see only
Tatsuniya (2017). Tatsuniya began as a photo- the contours of her eyes, nose and mouth. In these
documentation of students at the Shehu Sanda images, Barros is depicted in intriguing gestures,
Kyarimi school in Maiduguri, Nigeria — part of a handling a small doll/marionette also made of nylon
larger photojournalistic project, titled Education pantyhose. Psicanálise do cafuné: sobre remendos,
is Forbidden, about the experiences of students afetos e territórios, in its turn, is a set of six pink
attending affected schools and universities during nightgowns with texts embroidered on their seams.
the conflict with Boko Haram in the region. The series, Carrying individual subtitles (Livro cor de rosa/Pink
however, are developed as an unfolding of narratives Book, Banhos para o Amor/Baths for Love, Orações
and relational events around the production of images para o Amor/Prayers for Love, Livro de receitas/
in which the artist is fully implicated. In this process Recipe Books, Simpatias para o Amor/ “Simpatias”
of gathering with young students, Gambo ends for Love, Orações para todos os males/Prayers for
up exploring the intangible events that oft emerge All Kinds of Evil/Illness), the nightgowns are installed
from encounters, from gatherings in which space is hanging from the ceiling to the eye level so that the
made for creative expression. Which possibilities can embroidered text-development of concepts addressed
emerge when we focus on what cannot be recorded in the subtitles- can be read. One example is the
by the camera in a complete and accurate way: the 2016 piece, Psicanálise do cafuné: sobre remendos,
connections that are formed when we come together afetos e territórios. (Livro cor de rosa)/Cafuné
to speak and to listen, to teach and to learn, to play Psychoanalysis on Patches, Affection And Territories
and to express ourselves? Making this issue a guide to (Pink Book), on which one reads Disenchantment:
her process, Gambo shifts Boko Haram’s conflict and The best love stories... They completed each other in/
the trauma associated to it to a secondary position, with passion, but their love was impossible... Love in a
sharing her encounter with lightness, relational brute state: more than violent, profane... Acts of love.
energy, and fluidity in a space where the differences Intrinsic part of Barros’ investigation process is her
between fixed and moving images, between fact research on affection and sewing taken as category
and fiction are blurred. The photographs and video of analysis. The relevant intervention, however, is how
installation present images of a group of adolescents, she mobilizes the concept of cafuné-the act of running
wearing their uniforms, playing in the classroom one’s fingers through his/her someone else’s hair- (and
(Tatsuniya Playing Slow), or together, each holding of affection) as a key to approach, and a starting point
a lit candle in their hands (Tatsuniya: Holiday is for observing and reading the life practices of black
Coming). The installation iscomposed of palm trees families in Brazil, a group often accessed only through
and earth with the video images projected through hints associated with violence and disfranchisement.
the foliage and directly on the wall behind it. How do black women, cafuné, and affection intersect?
Which patches does this intersection imply or reveal?
Gathering: These are questions that can help us to engage
collection, compilation. in a deeper dialogue with Barros’ work. Equally
relevant is the ajuntamento of delicate and intimate
objects, of reflections and suggestions about the
Ajuntamento:
wisdom coming from the (black) collective world,
the act of effect of gathering on stories and experiences that Barros activates.
What does this work evoke about knowledge and
Ajuntamento as amassing of objects is another its modes of transmission, about self-care and the
possibility of understanding gathering that emerges collective care specific to black families in Brazil?
in my observations of the works of artists Michelle The work leaves clues as to how we return to our
Mattiuzzi, Lucia Laguna, Lidia Lisbôa, Janaina Barros (black) recipe book, and how we immerse ourselves
and Jota Mombaça. With Psicanálise do cafuné: in our ancestral knowledge: in herbs, baths, simpatia
catinga de mulata/ Cafuné Psychoanalysis: mulata’s for love, and prayers for all kinds of evil/illness.
song (2017) and Psicanálise do cafuné: sobre remendos,
In the case of visual artist and performer Michelle
afetos e territórios/Cafuné Psychoanalysis: on Patches,

387 BIENAL 12 CATÁLOGO


Mattiuzzi, ajuntamento is the Jardim da Abolição/ used masking tape glued to the wall or piled on
Garden of Abolition (2020), an installation that brings the floor. Landscape appears in Laguna’s work
together one hundred and eleven pots of varying as ajuntamento and ajuntamento as a space to
sizes, eleven herbs and flowers of power, earth and articulate the language of gathering, of mess, and the
a neon sign saying A intuição libera a imaginação assemblage of life moments as place for theorization.
(Intuition frees up the imagination). The knowledge
about what Mattiuzzi is calling herbs and flowers of
I can’t breathe
power (some of which are Rosemary, Arruda, Pepper, You’re taking my life from me
and Guinea — a herb also known as Amansa-Senhor I can’t breathe
[Taming-Master] for its subversive use by enslaved Will anyone fight for me?11
people to poison their owners) is passed on through
A sculptor, visual and performance artist who works
oral traditions and by healers from Brazil and Latin
with a form of assemblage of fabric pieces (for the
America.10 The work, a new project by Mattiuzzi,
most part) and other discarded materials, Lidia
marks a change on her production so far since in
Lisbôa would occupy a room at Iberê Camargo
this piece her body is not directly implicated. The
Foundation with a set of works: Cicatrizes/Wounds
work serves as a kind of suggestion that claims the
(2012-2015), Cordões/Cords (2013-2020), Cupinzeiros/
intuitive freeing of our thought, so we can imagine
Termites (1993-2020), Casulos pequenos/small
a different present empowered by these herbs and
Cocoon (2014) and Casulo grande/large Cocoon
flowers of power. It also serves as a reminder, in
(2012), and Chorões (2013). This room provides, in a
the present, of gestures historically understood as
light and tangential way, the experience of finding
subversive and radical. Does Jardim da Abolição
these objects in the artist’s studio. Cicatrizes – a set
give us hints about the herbs and flowers of power
of round objects made of nylon pantyhose, filled
necessary for the Baths for Love and for the Simpatias
with strips of discarded fabrics and marked on the
for Love suggested in Janaina Barros’ work? How
surface by explicit thick stitching (or sutures) were
can a gathering of such different works and specific
organized in two large amounts, one pilling up on the
practices invite us to look at ancestral traditions
floor, and another hanging down from the ceiling.
present in contemporary time? How does this dialogue
For the first time on display, and arranged on a low
help us to think critically about radical traditions,
pedestal on the floor, the Cordões, umbilical cords for
about the production of black artists in Brazil and
the artist, are a kind of large necklaces made of the
about the social context to which they point out?
combination of ceramic pieces produced by Lisbôa
With painter Lucia Laguna (Rio de Janeiro, Brazil) and parts of doll bodies - heads, arms and legs.
, gathering can be thought of within the pictorial Ceramic pieces also arranged directly on the floor,
space. The works in the series Paisagem, some Cupinzeiros are associated with the artist’s childhood
of which are gathered at Bienal 12|Porto Alegre, memory of ladscapes in rural Paraná where she
offer us the opportunity to glimpse the extended observed the real termite mounds from a distance.
meanings of landscape that Laguna articulates. For
A set of pieces from the Casulos series - crocheted
Laguna, landscape is what she sees from her studio
fabric objects - and Choroes, this ones made of
window: Morro da Mangueira and the improvised,
crocheted fabric on wire, were organized in dialogue.
precarious and unfinished architecture from the
Between these two groups of works, the large-
northern suburb of Rio de Janeiro (and so many
scale Casulo, a piece also produced in crochet,
other suburbs of large urban centers in Brazil)—
would once again be activated in a performance
which is part of the artist’s aesthetic vocabulary;
by Lisbôa during the opening of the exhibition.
landscape is the garden in Laguna’s house, a kind
During the activation, Lisbôa walks through the
of archaeological site in her life, a space formed by
exhibition space dressed with the object.12 There
a collection of plants and objects accumulated over
are two relevant issues that arise from the contact
decades - broken statues and vases, keys, padlocks,
with Lisbôa’s world of objects: the interventions
grids and other discarded objects; Landscape is also
she proposes to the understanding of sewing and
the set of objects allocated in her studio: finished
crochet; the bringing together of the practices of
paintings, paintings in process, small studies, leaders
sewing and performance. Lisbôa’s practice presents
and measuring tapes, paint packages, tools and
an intriguing combination of assemblage of objects,

10 To learn more about the herb “Amansa-Senhor”, see Maria Thereza Lemos de Arruda Camargo, “AMANSA-SENHOR: a arma
dos negros contra seus senhores”, Revista Pós Ciências Sociais - São Luís, v. 4, n. 8, jul./dez. 2007, p. 31.
11 Gabriella Wilson, I can’t Breathe, New York, 2020.
12 My first memory of this activation was during a lunch meeting with other three artists at Lidia’s house in 2014. Upon hearing
the sound of the tambourine played by one of the guests, the artist got up from the table, “dressed” the Cocoon and started
dancing in a small space between the table and the stove.

BIENAL 12 CATÁLOGO 388


usually fabric, and performance. This combination and reproduction of war.” Nãovão comes in this wake
seems to make it possible to consider the artist as of a reflection about the “violence [of] hegemonic
a kind of nexus between a group of black Brazilian narratives about peace, harmony and social
women artists who take sewing as category of order.”14 In her performances, writing and the gaps
analysis, and another group, a younger generation, between them, Mombaça engages in a continuous
which seems to be trying to deepen investigations rehearsal of the end of the world as we know it,
focused on the experience of black women, while while, at the same time, proposing an exercise
making performance the central category of these in imagining (or “figuring”) what could emerge in
investigation: some possible examples are Priscila substitution for the Modern-Colonial subject.
Rezende, Renata Felinto, Janaina Barros, Val de
Thinking of ajuntamento as the articulation (or
Souza, Charlene Bicalho, and Natalia Marques.
even fraying) of concepts that emerges from works
The set of 21 flags from the Nãovão series (2017- in dialogue, I observe possibilities of reflections
2020) by artist Jota Mombaça evokes the idea around the idea of memory, performance, archive,
ajuntamento in the context of collection or compilation and disappearance with the works of artists
of objects. Mombaça’s multidisciplinary practice Mirella Maria, Priscila Rezende, Jota Mombaça,
comes from her work in poetry and critical theory, Gladys Kalichini, Renata Felinto, and Helô Sanvoy.
and takes place in a process that interweaves “the References to slavery intertwined with the artists’
sonic and visual materiality of words, anti-colonial contemporary experiences, sometimes individual,
criticism and gender disobedience.” This practice sometimes collective, intersects Maria, Sanvoy and
also derives from two key elements that collide, Rezende’s work. The work As Marias de minha vida/
articulate and affect each other: the artist’s writing The Maries of My Life (2020), a dress-object woven
and performance processes. Her writing process with photographic reproductions by visual artist and
is manifested in poetic essays, science fiction, and scholar Mirella Maria, would occupy the second floor
forms of visionary fiction that include foreboding of the Iberê Camargo Foundation. Intrigued by her
and prophetic prose. It is precisely from the link surname “Maria” (a first name made family name)
between writing and performance that the Nãovão and determined to discover its provenance, Maria
series emerges, an expanded version of which is engages in an investigation process, immersing herself
at Bienal 12|Porto Alegre. Nãovão, in the artist’s in the history of her father’s family. “Maria” is the
description, is a “series of white flags with small name of African slave owners, a name transferred,
sentences or conceptual formulas written in/[with] as a surname and a mark of power and property, to
blood”) - a confluence between writing and the generations of black families in Brazil. The research
performative gesture of using one’s blood as ink.13 leads the artist to collect photographs of members of
her family, women and men, who carry the surname-
Mombaça draws inspiration to use blood in her
name “Maria,” and to organize them in the form of
performance practice from the poet, visual artist
this clothing piece widely used in her family circle. As
and theorist Jota Medeiros (Natal, Brazil). Mombaça
Marias de minha vida stitched history and memory
intended to reproduce one of Medeiro’s performance
in a gathering of biographical photo-narratives. The
using blood. However, the lack of documentation on
work also establishes a close dialogue with Parede
Medeiros’ performance limited the artist’s action.
da memória (Memory wall) (1994), a seminal work
That led her to understand the scarcity of archives
by the artist and scholar Rosana Paulino, composed
about the artistic production from the Northeast
of 1,500 small objects (patuás), in irregular square
region as index for the erasure of this production
forms stitched by hand, carrying images reproduced
in the Brazilian art historical canon. Based on this
from the portraits of 11 members of the artist’s
reflection, Mombaça creates the work Memória
family. Parede da memória, which celebrated its
Fraca (Bad Memory) - a text written with blood on
25th anniversary in 2019, is part of a set of works
the page of a magazine. This work is followed by
by Paulino that would be displayed on the ground
A Ferida Colonial Ainda Dói (The Colonial Wound
floor of the Museu de Arte do Rio Grande do Sul.
Still Hurts), a piece in which the artist makes
interventions with her own blood in “iconic maps, Hands up, don’t shoot! Hands up, don’t shoot!
magazines, books, and places to write, draw or Hands up, don’t shoot!
underline speeches and representations that reinforce
colonialism and the endless system of oppression

13 Will Furtado, “Exploring The Body As Colonial Occupation” interview with Jota Mombaça, ContemporaryAnd (10.March.2018).
www.contemporaryand.com (visited 06-20-20).
14 Will Furtado, “Exploring The Body As Colonial Occupation” interview with Jota Mombaça, ContemporaryAnd (10.March.2018).
www.contemporaryand.com (visited 06-20-20).

389 BIENAL 12 CATÁLOGO


The video Estão sendo tecidos/They are being woven in front of Memorial do Rio Grande do Sul where the
(2013/2018) by multidisciplinary artist Helô Sanvoy work would be presented – in a beautiful dialogue
documents his mother, Maria Conceição, braiding the between the exhibition space and its surroundings.
artist’s hair while having a long conversation with Helô
As in the case of the Nãovão series, archive and
and her partner, Dheyne de Souza, about the events
disappearance are also part of Jota Mombaça’s
of her childhood: labor conditions in the fields of the
reflections in her process of creating the work Así
countryside of Goiás in the 1950s, the coexistence
desaparecemos/Thus we disapear (2019-2020), a video
between descendants of enslaved people and people
work presented in two channels that would occupy
who had themselves been slaves, the hardships of life
the first floor of Memorial do Rio Grande do Sul. The
in the region, family customs, including moments of
project is thought out in relation to the burning of
body care and, especially, of hair care. The moment
historical archives. In Brazil, the reference is related
of hair care as frame for discussions about social and
to the official order to burning documents related to
political issues is part of a cultural process of oral
slavery, given around 1890. It also refers to the fire
transmission, and a recurring event in the history of
that assaulted the Museu National in Rio de Janeiro in
black families in Brazil. The narratives of the childhood
2018. One of the videos presents the edited version of
of the artist’s mother are conflated with the general
the performance documentation (Así desaparecemos)
context of the lives of families in the interior of Goiás
enacted during the 45 Salón Nacional de Artista
and Midwest Brazil in the post 1950s. It also refers
(National Salon of Artists) in Bogotá in October 2019.
to the historical formation of the social and cultural
fabric of inland Brazil and, consequently, to political In this performance, positioned in front of the
and social inequality issues experienced in the country work Auras Anónimas (2007-2009) by Colombian
today. It is important to note the recurrent comments artist Beatriz Gonzalez, Mombaça reads, from
about the black family – this made-impossible- a burning paper, texts written by victims of the
formation in the forever-colonial Brazilian society – as armed conflict in Colombia.16 The auxiliary video
well as about the processes of self-care and collective resumes aspects of the archive burned during
care among the artists mentioned so far. It is also the performance. A issue to be explored here is
relevant to understand collective care as a mode of how Mombaça superimposes ideas of historical
gathering, as ethos of assemblage, as time to share, archives and human archives, of performance
as black performance, as (time for) black studies. and erasure activating the relationship between
performance, reproduction and disappearance.
With Bombril (2010-2018), a performance presented
for the first time in 2010, Priscila Rezende (Minas In her investigations, visual artist and scholar from
Gerais, Brazil) turns her hair into steel wool and scrubs, Zambia, Gladys Kalichini, generally articulates
with her hair wet and covered with soap, the surface colonial history, marginalization, and memory,
of metallic household items used in the kitchen. focusing on narratives of women left out of the
The title Bombril refers to the well-known Brazilian collective memory within African contexts. Installed
steel wool namesake that serves as a derogatory at MARGS, Erasing Erasure (2017) is an immersive
adjective to kinky hair, and is especially aimed at video installation whose images are projected on
black girls and women. However, this performance a white voile the size of the exhibition room wall. In
is not limited to point out to aesthetic lacerations. the video Kalichini appears performing a common
Through the clothes she uses in the performance, funeral practice in Zambia in which bereaved people
an allusion to enslaved women, Rezende points cover themselves with white powder (chinbuyaring).
to the social and economic practices that confine With this video installation, Kalichini seeks to
black women to “invisible modern slave quarters.” create a context for experiences of mourning and
While sitting on the floor—a position of physical and remembering both collective and individual. At the
moral discomfort—rubbing objects with her hair, same time, she tries to open up a space for reflection
Rezende engages in a gesture of self-objectification, on personal losses, and the erasing of historically
a momentary transformation of the body into the- relevant women - such as Alice Lenshina (1920-1978)
hair-that-rubs, into the body-in-service of objects, and Julia Chikamoneka (1910-1986), important
of the viewer, into an image of confrontation.15 figures in Zambian fight for independence in the
The video presented at Bienal 12|Porto Alegre is the early 1960s, and whose participation was not fully
documentation of a performance enected by Rezende documented and recognized. Thus, while creating
in 2018 at Praça da Alfândega, a public space located space for ritual and mourning evoking narratives

15 Priscila Rezende, artist statement [email shared with the autor, March 2020]. Priscila Rezende Archive
16 The public work of the artist Beatriz Gonzalez, Auras Anónimas is composed of 8947 serigraphic headstones in propylene
sheets with the silhouette of porters carrying the dead. The work is installed in four communes of the Central Cemetery of
Bogotá.

BIENAL 12 CATÁLOGO 390


of historically forgotten women, Erasing Erasure we’re going to call it a suicide, would
serves as a gesture towards contemporary women, you even question why?
whose stories are in the process of disappearing. would you shake your head, and say
Visual artist and scholar Renata Felinto (São Paulo the ain’t right,
and Ceará, Brazil) proposes a reflection about her or do your best to forget about it,
affective memories related to certain spaces in the please, please, please don’t
city of São Paulo. In the video-performance Danço forget about me.
na terra em que piso (2014) Felinto dances gracefully
in seven public spaces in the city: in front of the Sé say my name19
Cathedral, in the Anhangabaú Valley, on an empty
lot at Cracolândia district, in front of Estação da Luz
(Luz train station), on the Mie Ken bridge at Liberdade My last observation of/in ajuntamento happens
district, in front of the Itaquerão football stadium, around reflections on landscape in the works of
and on a merry-go-round at the Marisa amusement Lorraine O’Grady, La Vaughn Belle and Gwladys
park (1974-2020) in Itaquera, the neighborhood where Gambie, in addition to Lucia Laguna’s work I’ve
the artist spent her childhood. For each space, Felinto mentioned before. In the video work Landscape
chose a song that serves as a soundscape for her (Western Hemisphere) (2010-2012), by American
performance, a choice that took into account the artist Lorraine O’Grady, the artist invites us to think
lyrics of the song, issues of historical and political about landscape taking as point of departure the
relevance, and her own memories about the space. In curly strands of her own hair, moving in different
an immersive room at the Iberê Camargo Foundation, directions activated by the wind, and accompanied
the three-channel video presents the performance by a sound composition made of birdsong, crickets,
in each space in loop. We can follow Felinto dancing, cicadas and the wind itself. While discussing
for example, Pondo de Nanã, a song dedicated to the O’Grady’s work, art historian and performance
orisha Nanã, in front of the Sé Cathedral, or dancing studies scholar Adrienne Edwards states that “[i]n the
at Anhangabaú Valley a song related to Kuarup — interstices of O’Grady’s hair, we locate the remains
funeral ritual ceremony of indigenous groups from of enslavement, the resilience and persistence of the
Alto Xingu.17 With this association of soundscapes specters—it is a testament of survival. We also find
and space, Felinto creates a body of narratives the pathways to transgressive resistance embedded
showing the different traditions that inform the urban in the heights, depths, and expanse of the waves of
landscape of São Paulo, crossing and contrasting her hair.” From the indication of its radical uses in
epistemologies that usually don’t go together. Another the history of the African diaspora in the Americas
important intervention is how, given that in some of (Whabira), to its presence in the formal composition
the spaces in which the artist performs blackness of artworks (Rezende, Sanvoy and O’Grady),
and expropriation are intertwined, Felinto’s dance hair has been a recurring element, mobilized as
functions as a gesture towards the re-appropriation category of analysis through which artists reflect
of these territories, as an expansion of the possibilities on slavery, resilience, survival and permanence.20
of her (black) presence. Danço na terra em que piso For Bienal 12|Porto Alegre, Virgin Islands based
suggests a (re)flexion on territory, space, and place, a visual artist La Vaugh Belle would produce a version
reflection that Felinto activates with her body, through of the work Storm (And Other Violent Interruptions
her body, in (black) movement, in(black) performance. Of The Pintoresco) (2016-2020). The original work
Despite the fact that the work was produced in consists of a series of charcoal drawings on paper in
2014, this would be the first opportunity for a visitor which the artist contrasts images of the “sublime”
to experience it fully embodied in an immersive palm tree present in colonial representations with
room and even, perhaps, dance with the artist.18 images of tropical storms. In this version of the
if I should die, tomorrow at the hands work, however, La Vaugh Belle would produce a
large-scale drawing done directly on the wall.
of the police man,
Storm proposes a break with narratives about
and the paper say
the picturesque, often related to the Caribbean

17 Ponto de Nana. Composer: Roque Ferreira. Interpreted by: Mariene de Castro, 2012; Kuarup Kamairurá, Coletiva: Grupo indí-
gena Kamayurá, 2012.
18 The 12th Biennial of Porto Alegre would offer immersive experiences with works of artists such as Renata Felinto, Lungiswa
Gqunta, and Lidia Lisbôa, at the Iberê Camargo Foundation and Juliana dos Santos, Gladys Kalichini and Lorraine O’Grady at
MARGS. I’d like to imagine the types of reverberations and effects these experinces produce.
19 Maimouna Youssef, Say My Name: Maimouna Youssef Music (ASCAP), 2017.
20 Adrienne Edwards, Blackness in Abstraction, “Lorraine O’Grady,” pp. 173-176. Pace, New York, 2016.

391 BIENAL 12 CATÁLOGO


landscape in colonial speeches, thus stretching the also translate into acts of hammering and welding.
meaning of fragility, vulnerability and resistance. Part of her investigation on/as printmaking and
its developments, the print-drawings (or hybrid
With her practice in drawing, collage and
drawings) presented at Bienal 12|Porto Alegre
performance, artist Gwladys Gambie proposes
articulate experiments with graphite on paper, with
considerations about the black woman and her
dry point on lead, and with drawing on copper. The
representations both in Martinique, the island where
drawings of About Frictions series emerge from the
the artist lives and works, and in the Caribbean
frictions, tears, and insertions which the artist makes
in general. The Caribbean landscape and creole
on metal. In About Affections, Sanches explores
as part of the region’s soundscape are important
the idea of the print image as stamp thought out
articulations in this reflection. They also inform the
by taking the body and its possible affections
artist’s imagery and the specific iconography she
as point of departure - in one of her works, the
uses to represent, in a decolonial way, the body of the
accordion form folded paper (the body) expands
black woman — for Gambie, a sensitive topographical
and shrinks, also moving, expanding and displacing
space, a poetic space. For Bienal 12|Porto Alegre,
our understanding of drawing and printmaking.
Gambie would expand the collage series The birth
of Manman Chadwon (2018). Manman Chadwon “Can one theorize effectively about an evolving
is a figure from her personal mythology whose process?” These reflections are fruit of my oscillation,
creation was inspired by Manman Dlo, the ocean my imperfect and unfinished dance between
goddess in Afro-Caribbean culture. The meaning Christian’s question and Da Silva’s proposition,
of the word Chadwon, in creole, also refers to sea between attempts to effectively theorize about an
urchin, a recurring reference in the artist’s work. evolving process - to theorize as a process (always)
in (process of ) expansion-, and to track, groping in
In discusssing O’Grady’s work, Edwards also points
pitch dark, clues to the “whole range of possibilities
to the “multiple nuanced and interrelated meanings”
for knowing, doing and existing” that a poethics
of the term landscape. “[A]s a noun,” she explains, “it
of blackness would announce. Inverting and
can imply an art genre (as in landscape painting) or a
paraphrasing Christian’s statement, I think gathering
topography (as in an expansive vista); and as a verb
place, the place of meetings and of crowds, the space
it connotes cultivation, disciplining, and contouring
of ajuntamento, of habits of assemblage and a/
of the ground.”21 Taking Edwards’ considerations as
ccumulation, as articulation of theories, as (the space
point of departure, I ask a few questions: What are the
of) (black) movement, as (black) performance. There is,
understanding of landscape that each of these artists
however, one last question that I want to ask myself,
activates? How is each meaning crossed by colonial
quietly, whispering even: can anyone theorize (imagine
interventions and their after lives? How does Siboney
and reflect, wander and dance) without breathing?
(2014), a work by artist Joiri Minaya complicate
these readings? In her performance, whose video I can’t breathe, I can’t breathe,
documentation would be presented at MARGS sharing I can’t breathe,
space with Lucia Laguna’s paintings, Minaya engages I can’t
in a long, labor intense and detailed work of (re) breathe.
building, as a mural on the museum wall, a tropical
landscape taken from the print of a found fabric piece.
In continuation, the artist blurs and transforms the
mural (and the landscape) by rubbing her wet body
against it to the rhythm of the song Siboney (Ernesto
Lecuona, 1927) performed by Connie Francis (1960).

Gwladys Gambie’s collages would be presented at


Memorial do Rio Grande do Sul where they would
share the exhibition room with the drawings from
the series About Frictions and About Affections by
printmaker, architect and metalsmither Eneida
Sanches. Sanches is recognized as the first woman to
design and produce orisha tools in Brazil, an important
ancestral practice that she shares teaching courses
and workshops to young apprentices. Therefore,
in Eneida’s case, feminine gestures and strategies

21 Adrienne Edwards, Blackness in Abstraction, “Lorraine O’Grady”, op. cit., pp. 173-176.

BIENAL 12 CATÁLOGO 392


CAREWORKS: Labors of Love, Rage, and Mourning
Dorota Biczel
Associate Curator
University of Houston / Art Institute of Chicago

I. scholarships for women who held daytime jobs.5 They


also implored the Museum to help assure women
artists could obtain living and working spaces. In
Every day takes figuring out all
short, as both Laderman Ukeles and “Where We At”
over again how to fucking live.1 Black Women Artists blasted, in the United States
After the revolution, who’s going to pick of the turn of the 1960s and 1970s, the exigencies of
up the garbage on Monday morning?2 performing both domestic labor and socially anointed
career, especially of the sort capable of shattering
“I do a hell of a lot of washing, cleaning, cooking, glass ceilings, were simply not compatible. Home,
renewing, supporting, preserving, etc.,” wrote the if you had it, could be and can still be an oasis-like,
artist Mierle Laderman Ukeles in 1969.3 “Also (up to life-sustaining shelter. It could also kill you. It still can.
now separately) I ‘do’ Art,” she continued. Widely
considered one of the foundational, albeit too often In mid 2020, I, too, do a hell of a lot of washing,
overlooked, texts of feminist art, her proposal for cleaning, cooking, renewing, supporting, and
the exhibition “Care” became known as “Manifesto preserving. In fact, in the last six months, I might
for Maintenance Art.”4 Not quite a battle cry, it have done much more maintenance work than ever
festers with a nagging sense of complaint. Afterall, before. Once I had left recent immigrants’ purgatory
“maintenance”—washing, cleaning, shopping, of service labor and nannying, I supported my cheap
cooking, feeding, caring for children, sick, disabled, academic and curatorial labor by delegating many
and elderly, and so on—“takes all the fucking time” chores sustaining my life to even cheaper labor,
as Laderman Ukeles angrily (I imagine) typed out mostly of women of color and other migrant women.
without any concern for decorum. The fury simmers Child-free, in a partnership, but not bound by a
not just because domestic tasks are painfully tedious. traditional marriage, I did not pay much attention
Housework competes with the requirements of to my small privileges: coffee-shop americanos,
remunerated employment: damn typos to correct, deli-bought lunches, on-the-town dinners. I even paid
reports and texts to finish. To add insult to injury, someone to deep-clean the house every now and
the drag of maintenance is neither socially nor then. As it often happens, it was being deprived of
economically valued. “The culture confers lousy status privileges that made me acutely aware of them. My
on maintenance jobs,” griped Laderman Ukeles, partner’s unexpected lifesaving but brutal treatment
which, in her view, translated either to minimum called for complete dedication to the preservation of
wages for those hired as janitors or service workers, their rapidly deteriorating body. Precautions against
or to no pay for housewives. No wonder, then, that the raging global pandemic have stripped me of
among their demands addressed to the Brooklyn the possibility to outsource care and essential, life-
Museum three years later, the group “Where We sustaining activities. Committed to maintaining bare
At” Black Women Artists insisted the institution life, I have been rendered professionally inadequate.
provided daycare centers or children’s workshops so Still, I am cobbling together these words from
that mothers could attend classes. They called for Houston, Texas in the United States, where I live, to the

1 Calamity Jane in Deadwood, “Tell Your God to Ready For Blood,” season 3, episode 1, directed by Mark Tinker, written by David
Milch and Ted Mann, HBO, June 11, 2006.
2 Mierle Laderman Ukeles, “Manifesto for Maintenance Art,” 1969, https://queensmuseum.org/wp-content/uploads/2016/04/
Ukeles-Manifesto-for-Maintenance-Art-1969.pdf.
3 Laderman Ukeles, “Manifesto for Maintenance Art.”
4 Notably, Maintenance Art at the Queens Museum of Art, organized by Larissa Harris and guest co-curator Patricia C. Phillips,
was the artist’s first institutional retrospective at the ripe age of seventy-seven (September 18, 2016–February 19, 2017). Lader-
man Ukeles was born in 1939.
5 Kay Brown, “‘Where We At’ Black Women Artists,” Feminist Art Journal (April 1972): 25; reprinted in We Wanted a Revolution:
Black Radical Women, 1965–85: A Sourcebook, edited by Catherine Morris and Rujeko Hockley (Brooklyn, NY: Brooklyn Mu-
seum, 2017), 62–4.

393 BIENAL 12 CATÁLOGO


publics coalescing around Mercosur Biennial in Porto without critiquing, updating, finetuning, or subverting
Alegre, Brazil. Regardless of the original conception of the tenets of the historical proposals to account for the
the 2020 exhibition and the conceptual and effective intersections of gender with class, race, and sexuality,
networks it aimed to unveil and create, I happen to and for experiences of diverse, gender-nonconforming
trace a connection between the two nation-states bodies in the hetero-patriarchal capitalist system.
most affected by the novel coronavirus. And through
Take, for example, the series of photographs La otra
my writing, I make spatial and temporal distances
(The other, 2001) by Peruvian artist Natalia Iguiñiz. At
collapse. Our current global predicament manifests
first glance, the life-sized twinned portraits of women
the challenges posed by “maintenance work” in the
taken in domestic settings, mostly in living rooms,
capitalist societies that the second-wave feminists
seem to point to the long-established class and racial
experienced and identified, have never been solved.
hierarchies in Peru: light-skinned criolla women are
Neither have women ever gotten any significant
the masters of their homes and corpulent, darker-
breaks, by any realistic metrics.6 And even though the
skinned women from the Andes and Amazon—an
labor of maintenance is not an equitably distributed
invisible support relegated to kitchens and service
burden, afflicting women of color and migrant women,
quarters that makes those mini-sovereignties run
for all of us, the present circumstances cast the crisis
as well-oiled machines. At this level, the series
of care and the attendant deepening of inequalities
establishes a binary hierarchy between those women
in the relief sharper than ever.7 Mid-2020 renders
who make profit and those who make ends meet;
flesh how time-consuming and toilsome sustaining
between those who pursue careers and those who
life really is. I feel it in my body as I go about the
subsist; between those whose lives might acquire a
mundane tasks devouring my waking hours. I feel
celebrity status and those whose lives do not matter
it whenever I ponder if I am suffering from seasonal
in the social system. Those women who attend to
allergies or exhibiting symptoms of COVID-19. At the
babies and pets daily are often doubly marked as
same time, more lucidly than ever before, I grasp
others—required to don uniforms to clearly and
the intrinsic value of the small life I have slowly
legibly distinguish them from actual mothers and
constructed for myself. I don’t want to lose it. And,
blood families. Until recently beyond the framework
yet, our precious little lives seem to mean nothing for
of the Peruvian labor laws, they are continuously
the macroeconomic capitalist metrics. Or, in other
at the risk of exploitation and enslavement as they
words, capitalist economy is incompatible with the
often work as live-in maids without contracts and
basic task of maintaining life: caretakers and the
benefits. To this end, around the same time, Iguiñiz
workers deemed “essential” during the pandemic are
also created posters for the campaigns by domestic
both most at risk and most poorly compensated.
workers’ organizations that articulated their demands
In short, the novel coronavirus merely renders visible for a regulated and fair employment: eight hours a
and nameable the indispensable value of care work day, social security, bonuses, time off, and livable
and its ongoing crisis—the crux of the paradox the minimum wage.8 In this sense, Iguiñiz insists that the
pioneering second-wave feminists like Laderman plight of middle- and upper-class women cannot
Ukeles identified fifty years ago. From its very be compared with women of color who face triple
inception, the exhibition for the Twelfth Mercosur oppression at the intersection of gender, class, and
Biennial aimed to map the links between the artists race. At the same time, by including one portrait
who emerged in the late 1960s and early 1970s— of two women who look like sisters (Veronica and
today considered historical, regardless of their Norberta)—same height, built, posture, long dark
tireless continued activities—and their contemporary wavy hair, similar soft round faces, and equally
counterparts. The subsequent generations of women casual attire—the artist renders visible care work
of color and queer folx have continued to grapple with in the society imagined to effectively comprise of
the issues that their predecessors engaged, alas not heroic males only: soldiers, peasants, and industry

6 A convincing portrait of the U.S. generation who was misled into believing they “could have it all” is painted in Ada Calhoun’s Why
We Can’t Sleep: Women’s New Midlife Crisis (New York: Grove Press, 2020).
7 In the US context, the debate on the subject is over a decade old. See, for example, Nancy Fraser, “Contradictions of Capital
and Care” in New Left Review 100 (July/August 2016): 99–117. For Spanish language, see, for example Mercedes D’Alessandro,
“La economía de los cuidados: Quién cuida y quién prepara la cena como problema social,” La Vanguardia, October 9, 2019.
https://www.lavanguardia.com/vanguardia-dossier/20191009/47872496945/feminismo-igualdad-mujeres-hombres-tareas-
-del-hogar-tareas-domesticas-baja-paternal.html.
8 Miguel A López, “Natalia Iguiñiz en una genealogía de solidaridad y supervivencia: Arte, activismo y feminismo desde la tierra
de la misoginia” in Energías sociales / Fuerzas vitales. Natalia Iguiñiz: arte, activismo, feminismo (1994–2018) (Lima: ICPNA,
2018), 38. Law #27986 regulating domestic employment was officially signed in June 2003.

BIENAL 12 CATÁLOGO 394


workers. It is the invisible and perennially marginalized “genius” that must have plagued her as a young artist.
women who allow this society to function.9 In turn, maintenance is oriented collectively towards
what the artist called survival—the perpetuation and
The interior of the seed is soft. / IT sustenance of the species and the earth that nurtures
is known only by living IT. Whatever them.12 This non-linear, generative and regenerative
IT is. / IT is yet to be discovered.10 process is characterized by repetition or “the eternal
In myriad ways the cross-generational group of return.” To use contemporary theory to expound on
artists included in the Twelfth Mercosur Biennial insists the groundbreaking significance of Maintenance
on turning and returning to multifaceted issues of Art, with its counter-distinction of development and
maintenance and care. What is galvanizing about this maintenance, Laderman Ukeles arrives at diagnosing
collective body of work is not only the urgency of its the capitalist preoccupation with the maximization
complaints or the force of its many outrages: against of production and profits, on the one hand, and
violence, against oppression, against capitalism, social reproduction—that is, the wide range of
against racism, against colonialism and imperialism.11 life-making activities that are the unacknowledged
Rather, it is the artists’ affirmation of the power and and undervalued fuel for the economic system (i.e.
importance of life-making activities and their claim production), on the other.13 And as the artist presciently
to center these activities as the sole impetus for our realizes these life-making activities are far reaching,
decision-making process. These life-making activities extending far beyond the privacy of home. They are
encompass every scale, cutting across the false binary personal, general, and planetary, encompassing
of private and public. As such, they can reconstitute all dimensions and aspects of life and politics. They
our daily labor, institutions that frame our labor, and also demand the reinvention of the economic system
the entire world we live in. We can thus proclaim not a and social institutions, including the institution of
loss or lack but the intrinsic value of what we already art, to prioritize maintenance of life—carework.
possess, starting with our own fragile mortal bodies. If contemporary carework as art can claim another
Indeed, in “Manifesto for Maintenance Art!,” mother, it is the Chilean artist Cecilia Vicuña,
Laderman Ukeles pitched against each other two Laderman Ukeles’s quintessential sister. The centrality
antithetical systems and two oppositional “instincts” of life and life-making, indeed, their magical,
that engendered them. On the one hand: the death magnetic command, are at the heart of Vicuña’s
instinct driving towards “development,” progress, subversive “No Manifesto of the Tribu No” that she
and advancement. On the other: the life instinct penned in 1967, two years before Laderman Ukeles’s
concerned with maintenance. These two systems, text. Written for a vibrant group of unabashedly
development and maintenance, undergird values sensuous and defiant young artists, including
and forms of organization that structure the self Claudio Bertoni, Sonia Jara, Francisco Rivera, Coca
and its relationships with other beings inhabiting our Roccatagliata and Marcelo Charlín, who made the
planet and the planet itself. For Laderman Ukeles, streets of Santiago the support for their performances
the development motivates the highly individualistic and actions, Vicuña’s text extols life itself as the sole
avant-garde practices that extoll novelty and significant vital force and as the only thing worth
constant change—the stubborn “do your own thing” living for. “As long as life persists in our individual,
attitude. I think of the caricature of a heroic male yet united, experiences, nothing will bother us,”

9 As Miguel A. López suggests a separate thread in La otra is institutional critique as implied by the inclusion of well-known
personalities of the local art scene such as the gallerist Claudia Polar. López, “Natalia Iguiñiz en una genealogía de solidaridad y
supervivencia,” 36.
10 Cecilia Vicuña, “The No Manifesto of Tribu No” in Manifestos and Polemics in Latin American Modern Art, edited by Patrick
Frank (Albuquerque: University of New Mexico Press, 2017), 206; reprinted from Spit Temple: The Selected Performances of
Cecilia Vicuña, edited and translated by Rosa Alcalá (New York: Ugly Duckling Presse, 2012), 58.
11 My thoughts had been perfectly encapsulated by Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya, and Nancy Fraser in Feminism for the 99%:
A Manifesto (London: Verso, 2019).
12 Paraphrasing almost verbatim, in the final part, “Earth Maintenace,” Laderman Ukeles calls for the purification of urban refuse,
depollution of air, rehabilitation of water and conservation of earth/land.
13 Laderman Ukeles writes: “keep the dust off the pure individual creation, preserve the new, sustain the change, protect pro-
gress, defend and prolong the advance, renew the excitement.” On social reproduction theory, see: Tithi Bhattacharaya, ed.,
Social Reproduction Theory: Remapping Class, Recentering Oppression (London: Pluto Press, 2017); Dossier: Social Reproduc-
tion Theory, Radical Philosophy 2.04 (Spring 2019), https://www.radicalphilosophy.com/issues/204; and Sarah Jaffe, “Social
Reproduction and the Pandemic, with Tithi Bhattacharya,” Dissent, April 2, 2020, https://www.dissentmagazine.org/online_ar-
ticles/social-reproduction-and-the-pandemic-with-tithi-bhattacharya. In context of art and art history, see the special issue
of the journal Third Text 31.1 (2017), “Social Reproduction and Art,” edited by Angela Dimitrakaki & Kirsten Lloyd. A classic pre-
cedent for these recent theorizations is Lise Vogel’s volume, Marxism and the Oppression of Women: Toward a Unitary Theory
(Rutgers University Press, 1983).

395 BIENAL 12 CATÁLOGO


she writes.14 The phrase “individual, yet united, Spirit Poncho as a defiant witness to the destruction
experiences” suggests the interconnectedness and of the Amazon and extermination of its Indigenous
interdependence of beings, human and non-human, peoples. Weaving together materials from the
akin to the link between personal, general, and artist’s studio in New York and refuse gathered by
planetary that Laderman Ukeles explores. By the different communities in Brazil, it casts a planetary
time Vicuña conceived of her contrarian text, she had web of responsibility and resistance. Survival and
already began assembling her miniscule basuritos/ reproduction pertain to all species and matter.
precarios—intimate assemblages made up of found
Much has been written on the parallels between
materials and objects, natural and man-made. I
a word and thread, writing and textiles in Vicuña’s
think of her carefully and lovingly picking up the
rich body of work that encompasses poetry, image-
insignificant pieces and refuse of daily life and cycles
making in diverse media, and sculptural installation.
of the earth as the unnamed shero that Laderman
In the context of the necessary abolition of extractive
Ukeles was implicitly searching for. Vicuña embodies
systems, I think also of another subversion of the
the essential but overlooked worker-caretaker who
logocentric tradition her work performs: a thread is
picks up the garbage after the proverbial revolution.
an alternative life-making agent to the generative
Even more, she also acts as an alchemical agent
word. Not only do the artist’s string and fiber speak to
who forges out of trash precious records of the
her ancestral Andean traditions, but they also evoke
everyday, with all its glorious and abject qualities.
creation stories of the North American Indigenous
One can imagine clasping a basurito within a palm peoples. In these stories, it is not the utterance of God
of one hand, holding on to it tightly like a fistful of that wills the world into existence. Rather, it is the
gemstones or life-preserving seeds—like the seeds the thread spun by a spider woman, who uses it to weave
artist implored President Salvador Allende to collect all the earth’s creatures. She literally labors them
and saw. Similarly, often miniature in size, Vicuña’s into being through a corporeal and material act. Her
one-of-the-kind handmade books invite readers/ creations are finite and susceptible to violence: they
viewers to gently unfurl tiny fabric scrolls, flip tiny require care. Picking up the fibers spun by Vicuña,
pieces of paper, untangle delicate threads serving Laderman Ukeles, and Iguiñiz, in the remainder of this
as metaphoric blood vessels connecting strokes of essay I trace other manifestations of carework and
ink or pen. In turn, her “quipus” of soft swaths of maintenance as they relate to social reproduction,
unspun wool or stiff sisal—named after the ancient or life-making in general, in manifold ways in the
Inka record- and story-keeping devices of knotted works of only a handful of the artists we invited to
strings—envelop viewers’ bodies as if in a cocoon, the Biennial. Thus, this text does not make up a whole
womb, or forest. Between the two sizes and scales, fabric. Rather, it is a warp for you to create your own.
Vicuña sets up a reciprocal relationship between
caring and caressing, and being cared for and
Break a bone to eat the marrow,
caressed. An enacted touch establishes relationships: and invent an instrument.16
it conjures the works into existence and creates an The fact that coming into being in the world is
interdependence between the subject and the object; not merely the gesture of a disembodied self
between the world, its stuff, and us. Evoking the pre- reverberates deeply in Eliana Otta’s series Women’s
Columbian cultures of the Andes, the moniker “quipu” Words (Palabras de mujeres, 2017). In the context
functions as a metaphoric umbilical cord reconnecting of machismo and violence that pervade political,
the artist with her ancestors and Indigenous roots. social, and cultural life of her native Peru, Otta
However, it also posits an entire cosmology, world insists on the quintessential feminist question that
view, and value system alternative to the patriarchal in the last fifty years has not lost its urgency: “How
and logocentric Judeo-Christian tradition imposed can a woman claim her voice in the public sphere?”
by the so-called West. Vicuña conceives of a quipu Her series brings together a video of interviews
as a rhizome that includes and binds together all with older veteran politicians and musicians who
that exists. She writes of actual cords and imaginary recount the stories of their own insertions into the
threads: “the quipu and the ceque gave life to [the] Peruvian scene, and the banners crafted out of plastic
valleys connecting communities to the whole, creating tarps and domestic textiles. As tools for a political
a vision of the commons as a living being.”15 For the demonstration, Otta’s standards bring into the public
Biennial, Vicuña envisioned quipu Los Testigos / (be it a gallery or a street) kitchen towels and cleaning

14 Vicuña, “The No Manifesto of Tribu No” in Manifestos and Polemics in Latin American Modern Art, 205.
15 Cecilia Vicuña, “White/Red,” in About to Happen (Catskill, NY: Siglio Press, 2017), 27. A ceque is one of the forty two ritual lines
radiating outwards from the center in Qorikancha temple in Cusco, which establish the network of Inka ceremonial sites. See:
Brian S. Bauer, The Sacred Landscape of the Inca: The Cusco Ceque System (Austin: University of Texas Press, 1998).
16 Elaina Otta, Women’s Words, Montserrat I, 2017.

BIENAL 12 CATÁLOGO 396


rags as the stand-ins for “craft” and domestic labor The struggle between what and who is and is not
that had historically constituted the field for female allowed to be seen and heard, and where, is also a
self-expression and creativity confined in private. constant in the practice of Cuenca-born Juliana Vidal
Propped by the posts staked in the assortment of (born Tania Marcela Vidal Barrera). Like a forensic
second-hand shoes sourced (in the installation’s scientist, she has been collecting, cataloging, and
original version in Lima) from the artist’s friends, putting on display diverse traces of human bodies:
they allude to the layers of the support necessary mini-donut-like belly buttons cast in plaster, stark
for both individual and collective action. Any singular white glossy vulvas blossoming from the centers of
voice depends on and is a part of a chorus. Against ceramic plates, and the molds of scars lining pristine
the exceptionalism of “lean-in” liberal feminism, gallery walls like barely perceptible fungi. Indexical
Otta advocates for broad, grassroots solidarity as media she uses—analog photography and various
the only viable platform for the women’s struggle. forms of sculptural casting based on impressions
of the body—insist on the realness of her registers.
Most importantly, perhaps, her colorful protest
For the 2020 Biennial, Vidal planned a variation on
signs are embroidered with quotations from some
her 2017 installation Índices de resistencia (Signs of
of the most notable Peruvian female poets of
resistance). Comprised of over a hundred artisanally
different generations, Blanca Varela, Carmen Ollé,
produced earthen bricks, her structure bears the
and Montserrat Álvarez, that ring as slogans of
imprints of the artist’s own body. On the crusty,
rage, denunciation, and self-assertion. Against the
muddy surfaces, open palms and soles of the feet
paternalistic authorial voice, Montserrat II affirms
like tracks on a beach are interspersed with holes
that a woman’s story cannot be told by anyone else
punched with the toes and clenched fists: the matter
but herself. “Don’t let them write / your fear, your
pitched against a living being. Like the bodies implied
ending, your fall / Don’t let them write that,” she
in Otta’s Women’s Words, hers is also an aggressive
warns.17 Carmen returns the fight over the word back
entity, suggesting a shared struggle. This is a woman’s
to the body, and speaks to the deep marks that daily
body asserting her presence in public space, claiming
battles for survival carve into the flesh: “Today you
autonomy by marking her territory. Through the
lose a tooth / tomorrow an ovary / How to conceal
allusion to vernacular architectural practices in Vidal’s
a caesarean delivery’s scar?”18 The question is, of
choice of the material, this is also an implicitly classed
course, rhetoriacal since it asks for the impossible.
and raced body of a mestizo or Indigenous denizen.
With their constant evocations of the body and
Finally, this body is ancient, centuries older than the
physiology, women’s words are violent, and insist
artist herself, intimately familiar with the earth.
that even small, everyday struggles are not only
psychological, intellectual, or even ideological, but Fiber can pull out the private into the public,
inherently embodied—as the complex tangled unraveling a hidden entity into a spillover—as it does
extensions of the thread that writes the protagonists’ in Otta’s work. It can also weave together different
stories. Here, too, the context is everything. Otta’s entities into one interdependent network. Like Vicuña,
project harnesses the wave of Latin America-wide the Bolivian textile-maker Sandra de Berduccy,
protests, which under the outcry “Ni una menos” had known as aruma, interlaces the past and the future;
been sweeping through the continent since 2015.19 human and non-human creatures.21 Like Otta and
Still, Women’s Words remind us current mobilizations others, she too has been learning from her female
have been built on the gains and frustrations of prior ancestors: her grandmother and the Indigenous
generations of spokespeople and activists—the master weavers from the Potosí area who are now her
chorus that extends through time and space. Even neighbors in the dry ancestral forest on the outskirts
more, there has never been such a thing and there of Cochabamba they all inhabit. Aruma uses ancient
will be no such a thing as a “minor struggle” as long Andean techniques and tools, like a llama bone
as the mere fact of being a woman or a gender- she uses to push down the weft. Most notably, she
nonconforming being can get one brutalized or deploys a portable loom that connects her body to
murdered (and regardless of the privileges of class or trees as she works, linking her with the environment.
light skin). There is blood in your daily bread even if Her process depends on the thriving ecosystem
you don’t see it, insists Otta with Montsserat Álvarez.20 surrounding her home. Indeed, the woods are her

17 No les permitas escribir / tu miedo, tu final, tu caída / no les permitas escribir eso.
18 Hoy se pierde un diente / mañana un ovario / como hay que disimular una cicatriz de cesárea?
19 Around the time of Otta’s exhibition in Lima, Andrea Giunta, Luis Vargas Santiago, and I gathered reflections on gender-based
violence and #NiUnaMenos in the dossier “Descolonizaciones inciertas II: #NiUnaMenos/Uncertain Decolonizations II: #NiU-
naMenos,” arteBA 4 (January/June 2017), 100–11.
20 Montserrat III reads: “Because you don’t see the blood in the dough of the breakfast’s bread.”
21 For more on de Berduccy’s work, see: Valentina Montero Peña, “El telar como máquina sensorial y de pensamiento. La investi-
gación artística de aruma—Sandra De Berduccy,” Artnodes 25 (2020): 1-9; http://doi.org/10.7238/a.v0i25.3277.

397 BIENAL 12 CATÁLOGO


support, serving as a studio, laboratory, and gallery. the water abusers unequivocally: the transnational
The land is the source of plant- and insect-derived corporations that commodify the precious resource,
dyes and natural fibers that Aruma weaves into petrochemical industry, World Bank, International
her interactive textiles, installations, performances, Monetary Fund, police, and the military. Rivaling
and works in still and moving image. Indeed, for the tumultuousness and complexity of the source,
her, fiberoptic and conductive threads, movement The Fall of Water is equally unambiguous in its
and color sensors, LED lights, and speakers serve message. At its heart is the fight for the source of life
as the obvious extensions of ancient technologies. and life-making threatened by the unencumbered
desire for profits. To return to Laderman Ukeles’s
Interlacing the new and the old, her textiles serve as
words, Condé and Beveridge expose the war between
the energy conduits between different forms of life:
maintenance and development—that is, between
between plants, animals, and humans. Her textiles
contradictory principles that drive social reproduction
gather bioenergy of the native flora and fauna;
and capitalism. With the directness that might hurt
ayrampo cactus, for example. However, they also
in the current moment, in their 2009 work of the
draw the energy of the human and animal bodies
same title, they identified the latter as the plague.
who activate them with their movements, sounds,
or both. As such, each of aruma’s textiles constitutes Indeed, the ravages of capitalism are a reoccurring
both a means of transmission and a locus of exchange theme in the Canadian artists politically and socially
between species. In this way, they embody the engaged documentary photography realized over the
ethics of reciprocity and interdependence of the course of four decades. Condé and Beveridge have
Indigenous peoples of Abya Yala. Life-making and been interrogating them through collaboration with
care pertain to, or should pertain to, all creatures. a wide array of maintenance workers: working-class
Embedded in one world and interwoven together, the women, healthcare professionals, school janitors, and
species give exactly as much as they are able and migrant farm workers, among many others. To this
receive exactly as much as they need to guarantee end, they reveal how closely social justice is related
everyone’s survival and flourishing. Humans should to life sustenance and its value. By relating care work
not be exempt from this rule. For aruma, at stake is to storytelling, the four-part series Stories (2016)
the preservation of nonhuman native beings and rural engages one of the most fraught forms of carework
knowledge stemming from pre-colonial past, alike. in the so-called developed nations—eldercare—
and the role of elders in the contemporary society
The struggle for survival and life animates photo-
Dissecting distinct settings, from the community,
collage tableaus by the Canadian duo of Carol Condé
through a nuclear family and an assisted-living
and Karl Beveridge. An indigenous activist from
facility, to remote patient monitoring, it captures
Cochabamba, who I imagine could be one of aruma’s
four modes of storytelling: shared ancestral wisdom,
Quechua-speaking neighbors, is the central character
a didactic authorial voice of an artist, celebrity-
of The Fall of Water (2006–07). The work redefines
endorsed sales pitch, and tool of control embedded
one of the masterpieces of the Northern European
in the surveillance and tracking technologies. With
Renaissance, Peter Bruegel the Elder’s Fall of The
the relegation of care to underpaid workers of
Rebel Angels (1562), to present an allegory of the
color and migrants, elders lose their status as vital
global conflict between water defenders and water
repositories of knowledge and backbones of their
abusers as the perennial battle between good and
communities and turn into hollowed-out receptacles
evil. The cholita fighting against water privatization
of media and pharmaceuticals. Because Condé
replaces Christian God’s chief warrior, Archangel
and Beveridge’s protagonists have a final say in
Michael. Instead of his blue cape, her rainbow-striped
fashioning their representations in the couple’s
aguayo billows over a mass of grotesque corporate
meticulously orchestrated photocollages, they
hacks. She is not an immortal celestial holy being but
inflect their characters with desires and longings.
rather a finite earthborn dweller rooted in the cycles
Ultimately, the struggle over stories, like the one
of the terrestrial life. Flanked by a sari-clad Indian
for earth and water, is the struggle in common.
woman to her left and a Canadian environmentalist
to her right, she mounts the offensive against the Condé and Beveridge’s Stories examine vicissitudes
monstrous offenders, encouraged by the activists of care under capitalism at the dusk of life. In her
from multiple other cultures hovering in the blue skies alphabet book, ABC of Racist Europe (El ABC de la
above. Condé and Beveridge thus point to another Europa racista, 2017), Peruvian artist Daniela Ortiz
network of solidarity centered on the preservation of extends the implications of childcare to education.
life that connects global Indigenous movements and Her notion of elementary education, however, far
their allies. With familiar logos scattered through the exceeds the comprehension of the alphabet and basic
composition like Breugel’s original artificialia (man- spelling. Rather, the artist insists that from inception
made curious objects), Condé and Beveridge name education has to form and raise consciousness. It has

BIENAL 12 CATÁLOGO 398


to be emancipatory and antiracist. Since she migrated presumed comforts of domesticity and updates it
to Barcelona over a dozen years ago, Ortiz has geared for the volatile political context of her native country
her multifaceted practice to reflect on and denounce and its repercussions for the Guatemalan diaspora.
her experience as a racialized female subject of Drawing upon the anti-establishment language
the former Spanish Empire. In her work, ranging developed in the late 1960s and 1970s, Kairé has
from actions in public space to ceramic sculptures, mobilized public participation and frequently
painted decorative plates, and murals, she has taken resorted to food, textiles, and other materials
up an unapologetic critique of the persistence of typically associated with craft and women’s work to
the Western European colonial project intimately comment on the securities and insecurities of identity,
tied to the global expansion of capitalism. Both are belonging, and living in a particular, female-gendered
evident today in the European Union’s immigration skin. The series of good-natured instructional videos
laws and in various forms of migrants’ oppression on Such is Life in the Tropics (2012) and related series
both institutional and everyday level. In that sense, of televisual workshops appropriate and invert the
Ortiz’s works resonates with Condé and Beveridge’s premise of Martha Rosler foundational feminist
dialogical photography focused on the premeditated video Semiotics of the Kitchen (1975) for the context
and systemic exploitation and dispossession of the of contemporary Guatemala. Forty years ago, Rosler
migrants-vagabonds from the so-called Global South. appropriated the format of a cooking show and
turned Julia Child’s affable TV persona into a young
A tool for broadly conceived literacy, ABC of Racist
housewife on the brink of an uprising. To denounce
Europe harnesses also the artist’s experience as a
the oppressive character of wholesome bourgeois
racialized single mother of a three-year-old wawa
domesticity and invisible maintenance labor, her
(baby) to decry diverse forms of persecution that
protagonist deftly demonstrated that any familiar
migrant kids and their families encounter and to
kitchen utensil could become deadly. In turn, Kairé
mount a fierce call against them. Ortiz’s statements
shows none of Rosler’s pent-up aggression even
adorned with colorful collages are succinct and
while she instructs her viewers on how to fashion
clear, maintaining the simple syntax of a primer.
functional DIY self-defense weapons step by step.
Barriers block migrants from crossing borders,
forcing them to hide on boats and buses. Frontex (The Hers are no ordinary arms weapons, nonetheless. They
European Border and Coast Guard Agency) destroys are as “exotic” as the seasonal fruit and vegetables
individuals’ freedom and breaks up families. Police readily available in any Guatemalteca kitchen—
protects privileges of the people with European bananas, yuccas, and kiwano fruit (horned melon)—
passports. Social services criminalize migrant women’s from which they can be inventively assembled on a
motherhood. The wealth of Europe was extracted whim. Mace, which can be put together by impaling
from the bodies of enslaved and subjugated peoples. a spiky hard fruit on a pointed root, dates to the
The modes of oppression are sophisticated and ancient caves. A “ninja star” comes from Japan.
seem infinite at times. However, as Ortiz asserts, Nunchucks, or banana-chacos as Kairé tenderly calls
empowerment trumps exploitation. Legal does not them, were inspired by Bruce Lee’s Enter the Dragon.
mean legitimate. Migrants will reject neocolonial As the zealous instructor in the video swears, their
regimes. Their brave and combative wawas will sight alone can deter potential home invaders and
carry the flag of the wiphala (Indigenous people of emergencies. On the one hand, Kairé thus comments
the Central Andes). Thus, Ortiz’s book asserts the on pervasive violence that permeates Guatemalan
mother’s indelible right to insurgent care for her streets and threatens safe harbors that private spaces
child appropriate for the ways in which both she are imagined to be, and which disproportionately
and her wawa are tethered to the system of death affects women. As Pilar Tompkins Rivas observed,
and united with communities of care. Against the the artist “locates her feminist positionality not in
necropolitics of the Kingdom of Spain, Ortiz argues for contradiction to women’s work in the kitchen but in
the migrant families’ right to autonomous life and a harmony with it, as kitchen items become a means
safe, stable home wherever they dream to make it. of empowerment for women living in … unstable
national conditions.”22 On the other hand, however,
Home, both physical and imaginary, as a necessary
by proudly flouting stereotypes of exoticism, salsa
platform for life links together some of the most
music included, Kairé also seems to mock the U.S.
compelling projects of the New York-based Jewish-
perception of Central America as an inherently and
Guatemalan artist Jessica Kairé. Often, the artist
irreparably dangerous place. Ultimately, she both
takes up the second-wave feminists’ critique of the
denounces violence and refuses to subject herself to

22 Pilar Tompkins Rivas, “Establishing and Destabilizing Notions of Home in the Americas,” in Home—So Different, So Appealing,
edited by Chon A. Noriega, Mari Carmen Ramírez, and Pilar Tompkins Rivas (Los Angeles, UCLA Chicano Studies Center Press,
2017), 114.

399 BIENAL 12 CATÁLOGO


fear. In the end, once unnecessary, her weapons can which I am writing, thinking of the ways in which
be consumed with voracious pleasure, augmenting the meanings of many projects have morphed and
a survivor’s health and relaxation. Her plush soft consolidated in time that seems suspended (by the
sculptures from the CONFORT series could be cuddled pandemic) and agitated at once (by protests). The
like plush stuffed toys. The artist sees her task as the orderly structure of the movement of her sounding
metamorphosis of loci of violence into spaces and bodies is suddenly upset when the camera zooms
means of conviviality. She insists that real justice to a man dragging a limp body along the perimeter
must be restorative and transformative—a labor of the space staked out for action. Shortly after, a
of care rather than prosecution and repression.23 woman runs into the yard weeping and wailing,
hectically waving her arms above her head as if
Implicitly, then, Kairé implores us to reimagine the
imploring the performers to stop or do something.
world and relations within it according to new terms.
Although it is unclear what she is asking, the urgency
In the society ravaged by infinite forms of violence to
of her gestures suggests it matters. Impossible Opera
recognize and name care and life itself as the central
ends with the arrival of an ambulance that prompts
principle on which to make individual, communal,
the performers and, eventually, the lone soloist to
and planetary living is a radical act. It is as radical
disperse. The bells that signaled the beginning of
and necessary as Laderman Ukeles’s complaints
the performance mark its finish. Once the vehicle
and Vicuña’s cries of delight five decades ago. And it
has departed and its siren stopped, everything is
will still equally radical and necessary five decades
over. One could even say, there is no conclusion.
from now. In this context, I think of Zorka Wollny’s
At the very least, the promise or the potential of
Impossible Opera (Unmögliche Oper, 2017) as a flash
the chorus has not been realized. We, the people,
that incites the past and illuminates the future.
are still rehearsing and will continue to rehearse.
Originally realized as a forty-minute live performance
in Oldenburg, Germany, the work draws from the ***
idioms of theatrical performance, music composition,
The wrinkle in the straightforward reading of
and free improvisation to stage a search for an
Wollny’s project compels me to ask about the place
autonomous voice and own language. Like other
and space for mourning both in artistic practice
projects by Wollny, it brings together art practitioners
and in public life in general, especially now. While
and community members. In a sense, by engaging
outrage is either celebrated as a propeller of change
and mobilizing ordinary denizens as performers,
or decried as a harbinger of destruction, few seem
Wollny evokes the spirit of Augusto Boal’s Theater of
to acknowledge the reality and essential work of
the Oppressed and its ethos of the rehearsal for social
mourning. We embrace outrage because it helps
revolution. Impossible Opera combines elements of a
construct a narrative and move it forward. Whether
drill routine and mostly nonverbal sounds. Sound and
productive or destructive, wrath projects a future.
movement are structured as a series of repetitions
Regardless whether revolutionary, utopian, or
organized by calls for attention and whistles,
apocalyptic, it allows a future to exist. Mourning,
interspersing the drone of collective murmurs, hums,
at best, is a state to supersede: we are supposed to
hisses, wheezes, heavy breathing, and chants with
get over it. At worst, it annunciates eternal returns:
operatic solos and drumming. Most of the voices are
an endless cycle of irreparable losses. But what else
abstract and unintelligible. From the ebbs and flows
if we consider time not as a river but as a lake?24
of sound echoes of social movements emerge in three
essential phrases: “voice for everyone,” “guaranteed The apparent incompleteness and impossibility
basic income,” “this is what democracy looks like.” of Wollny’s opera also suggests that once found,
voice and language are not given forever and for
Wollny’s performance attests to the enduring
all. Rather, they must be exercised continuously.
importance of finding both individual and collective
They must be maintained—with effort, mindfulness,
voice in the search for common good. Embodied
and a whole lot of care. Only invisible grueling
voices that inhabit and claim concrete physical
practice makes a virtuosic performance seem
space are primary tools that structure and shape
effortless and spontaneous. In the end, however,
debate in the public sphere and life in common.
the practice depends on breath, one of those basic
Celebrating expediency of protest, Wollny’s Impossible physiological functions we are rarely consciously
Opera concludes with a sequence that complicates aware of. We forget about breath until we are short
my festive and optimistic reading, however. That of it, choking, or being choked. We forget how the
sequence resonates strongly with the moment in body works to take care of us twenty-four seven.

23 See Kairé´s project statement on her website: https://www.jessicakaire.com/such-is-life-in-the-tropics.


24 This is the teaching from Robin Wall Kimmerer, Braiding Sweetgrass: Indigenous Wisdom, Scientific Knowledge and the Tea-
chings of Plants (London: Penguin Books, 2020).

BIENAL 12 CATÁLOGO 400


What do we do to take care of the body—ours and
others? Calling for all kinds of abolitions, starting
with police and border patrols, and following with
museums (perhaps), the infinite present—the
lake—compels us to rethink labor, maintenance,
and care all over again. What if the ultimate
ambition is to cook, clean up, and breathe? What
if we didn’t have to figure out anything else?

Houston, TX, August 2020

401 BIENAL 12 CATÁLOGO


Essay about the Provisional or the Insistence on Being
Together: 12th Biennial Education Program
Igor Simões
Educational Curator
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul

At the current moment, any writing is woven into In the midst of everything to choose from, there
uncertainty. There is no room for assertions. On the was a starting point. This point, when seen from a
contrary, anyone who thinks, writes, and creates is perspective of education and art, can never be neutral.
obliged to constantly dance with uncertainty. What There is no neutrality possible in an educational
worlds are these that arise before us and shake up program. There is no neutrality possible in an exhibit.
any notion of what it was like to live? This text here is There is no neutrality. The choices of an exhibit, its
no exception. It is written in a time when everything selection of artists, its narratives, the voices that echo
happens. The world succumbs, the secular death of through its preparation, do not allow impartiality.
Black bodies causes the rise and fall of colonial and
In this edition, to take a stand meant to place
racist landmarks in the US and Europe, while they
the educational program in the necessary
sway in other parts of the world. The country’s life is
role of a thought factory. Therefore, it is
taken over by an endless and painful night between
necessary to understand education not as
the disease and the disfunction of a government
an illustration of curatorial and institutional
that echoes the entire unpaid debt from Brazil’s
thinking, but as an inseparable factor in the
unequal history. Art, where I am coming from, was
act of conception and creation an exhibit.
taken over and confronted in its contemporary
bases, in the dynamics of its functioning and Educational programs, when empowered by
the obsolescence of its forms of existence. institutions (which rarely happens), can be the place
of a very intense transit of the conceptual axes
It was from here, from the South of the World
that, in their immense network of powers, constitute
to the South of Brazil, that the will emerges
an exhibit. However, in view of the numerous
to realize an exhibition that would establish a
institutional cuts during the pandemic and even
different notion of the Feminine(s), politically and
earlier, it can be said that these tend to be the most
aesthetically. Feminine(s): Visualities, Actions and
fragile sectors, with continuous staff cuts and the
Affects dictates the choice of artists from different
resulting discontinuity of actions that, like the entire
places, from the unruly Americas to Europe,
educational system, are only forged over time.
expanding beyond the binary and looking at the
contemporary multiplicity of forms of existence. In this edition, the choice of the term “curation of
education” was one of these strategies. Here, in
Here, from where I think and struggle with words, it
addition to the debates of the terms that name the
was up to me to think of the curation of education
educational action, at stake were the negotiations
in the South. The South of concepts and ideas,
with the institution regarding the centrality of the
South of gender and race, South of Brazil. Where
program in curatorial thinking. Using the term
do we go and what do we move when the role of
“curation of education,” in this edition, was a way
the curator is articulated from the viewpoint of
to reiterate that the education does not come
education? It was important to maintain the bonds
afterwards, it is part of the exhibit. It helps to create
that came from my experience as a researcher
the traffic ways through an exhibition. There is no
and professor. Thus, my thinking encompassed
need to hide the fact that there is a systemic issue. It
themes such as racialization and insubordinate
was a question of playing with the hierarchy of the
writings of art histories; the exhibit as a montage;
curatorial positions in order use it to claim the position
and the teaching experience that collapsed the
that education detached from the term curator
hierarchy between the narratives of art history
seems unable to achieve. If curation is recurrently
and those developed from educational practice.
understood as the place where the exhibitions are
What I can now gather, while everything is still created, using the term “curation of education” is to
unfolding, are the notes on the route rather than the situate education in that place, and thus deal directly
evaluation of its effects. This is a text of departures, with the expectations and systemic frameworks.
not arrivals.

BIENAL 12 CATÁLOGO 402


It is also important to consider that 12th Biennial is was necessary to find our peers. A program is not
organized by a Foundation which, over the years, created in a vacuum, especially when it comes to
has shown that one of the main strengths of its the experience of a Biennial that contributed in large
Biennials is the centrality of its educational program. part to the experiences of mediation and education in
The use of the term “curation of education” was an the context where the exhibit originated, the capital
effort to speak to the memory of this institution that of Rio Grande do Sul. Once again it is important to
helped coin this expression, based on the work of emphasize: making an education program means,
Luis Camnitzer, during the 6th edition of the Biennial, to a large extent, being together. Also in this regard,
in 2007. The work of the professor, researcher, and it was necessary to ensure representation of the
curator Monica Hoff, up to the 9th edition, undeniably main audiences of the education programs. How
contributed to the establishment of the importance could it be possible to think of educational actions
of the educational program. It was this institution, that are not constantly informed by the voices of
with its record, that needed to be reminded of the teachers? Another strategy adopted here was the
role of the education in building of its exhibitions. public call to teachers, undergraduate students, and
mediators who were invited to a public debate on the
Therefore, it was essential to find support through
aspects of an educational program and its priorities,
the same understanding on the part of the other
when considering the roles of teachers in schools
curators, which in this edition happened through the
and universities, as well as educators from cultural
invitation made by the professor, researcher, and
institutions. After a long meeting, they chose among
chief curator of the 12th Biennial, Andrea Giunta.
themselves the representatives who would form the
If I return here to these elements, I do so in order to Chamber of Teachers for the 12th Biennial. This was the
demonstrate the precarity the education inhabits in group of educators who followed all the actions that
relation to its importance. There are many necessary were developed by the program, participated in all the
agreements before an educational action can, in activities, and whose voices were heard in all stages
fact, be established as the place of questioning. of the work process. Once again, the goal of the
program was to be together with the greatest possible
The educational program is the place of distrust in
number of voices in diverse dialogue and debate.
the dynamics of an exhibition. I explain: it is up to
the educational program to be suspicious of what Perhaps the key of the educational program of
is considered ready, to be suspicious of institutional 12th Biennial can be explained as the intersection
prerogatives, to be suspicious of the idea of isolated between the desire to create spaces where being
works and their contexts, and even of the possible together could be prioritized and the need for this
transits and spaces built as the encounter of different being together to be based on political decisions
propositions. What I want to say here is, on the one that would face the different dimensions of the
hand, the distinct role of certainties that is conferred feminine, deeply linked to the notions of race. It
on education, and at the same time, the need to would be heard, but the privileged voices must be
guarantee this possibility of action. This is only those that having been named as silenced, produce
possible when the appropriate conditions are created the most important sounds of our times. This has
on the institutional design level. It seems to me that it always been the main goal of the education program:
is necessary for the education to shake off certainty, being together, and aiming together at what is
to sabotage what may appear ready and neatly important to forging an intersectional perspective
finished, and to find ways to return to the works, the to examine the world and its asymmetries.
exhibitions, and the exhibitions’ narratives with fresh
There was, above all, learning that echoes in the
eyes. Unexpected thoughts. In the context of the
voices of Black feminists. Black feminism has been
institutions that recognize its centrality, education
a place of convergence for countless topics that
has been the new space of contemporary institutional
demand the establishment of solidarity with the other,
critique. This is true as long as an institution is willing
its asymmetries and deviations, and its capacities to
to confront what arises from its education endeavors.
invent other possible worlds where we want to exist.

The Experiences of Others As a Path The first place where these voices echo was in
literature. For a long time, there was learning about
Another relevant factor of this stage of our work things that happen from what literature tells us.
was to seek constant educational partners among The catalytic image of the actions of the education
local institutions. One of the first actions was program is indebted to the words of the Brazilian
carried out at the Rio Grande do Sul Ado Malagoli writer Ana Maria Gonçalves and her compelling novel
Art Museum - MARGS, during a meeting with Um defeito de Cor (A Color Defect) from which we
the education programs of museums and other learn to think of “Brazils” and its peoples based on
cultural organizations in the city of Porto Alegre. It

403 BIENAL 12 CATÁLOGO


the protagonist Kehinde’s life strategies. First of all, world, like the 12th Biennial, which takes the feminine
there was Kehinde. In each action, in each new group, and art and their tensions and possibilities to invent
there was Kehinde. Kehinde in front of the mirror as its starting point, takes the figure of the character
discovering himself. Kehinde inventing life. Kehinde. who is between life and fiction—between memory
and the writing of the necessary pasts. And the mark
The Education Program Needs to of a Black woman means to establish that a Black
woman has the power in different senses of being the
Take a Stand. Kehinde Was Ours. image of a world already lived and the desired one.
“Looking at one of them who had Under the sign of Kehinde, the education program
fallen close to me, his body lying on was designed through a number of meetings that
his back and struggling, my chest brought together many women and some men in
became tight with the sight of the conversations that were intended to be developed
little stream of blood, at the same time horizontally with different audiences and guests. It
that a huge revolt was born in me due was necessary that everyone was in the same space.
to our condition. Despite my young It was necessary to call into question the very axes
and concepts that outlined the education program.
age, I think it was on that day that I
There were nine meetings debating race and gender
realized that I had to do something,
as territories of contemporary art, curatorship and
for my dead, for all the dead who were the feminine, the classroom as a space for invention
there, for all of us, who were alive and sabotage, the proximity between exhibition
as if they hadn’t been because our rooms, classrooms and workplaces, women and
lives were worth what the ‘Master’ cultures, education and art institutions, the presence
had paid for them, nothing more.” of Black women in the art narratives, contemporary
feminisms, images of control, the proximity and
(p. 144) distances between Indigenous and Black people,
The novel Um Defeito de Cor by Ana Maria Gonçalves mediation and the urgencies of the contemporary.
has been a landmark in contemporary Brazilian
At each of the meetings, a group of women set their
literature since its release in 2008. But it goes further.
ideas and trajectories in motion, and crumbled
It has become a landmark because it reveals a
and reconstructed concepts that would come to
continuous heritage of colonization and the choice of
forge what we imagined would be the education
subjection and the right of humans to possess other
program for this edition of the Biennial.
humans. A landmark because it establishes links with
the memory that, for a long time, was believed to be Thus, the first action of the education program was
lost and that reappears as the necessary light on the to open a space where many ideas and thoughts
lacuna in the record about where we come from and could find minimum places for what was to come,
where our roots stem from. Slavery in Brazil cannot based on the talks of the guests from the Kehinde
be relegated to the experience of the past. First, it is Territory. Countless counter-narratives that can be
an element that underlies our ways of thinking and tied together through the image, body, and voice of
existing in an asymmetric and often dehumanizing the actress, researcher and Black professor Celina
society. However, the work draws, inscribes, and tears Alcântara, who on the first night of the Territory sang
away places to see Black existence in the nineteenth- the song in unison with all the participants, stating:
century Brazil. There are Blacks there who read “When I come from Luanda, I don’t come alone”.
and create learning strategies. There is the urban
From the beginning, we launched a set of policy
center taken over by men and women who move and
choices in the education program: our direction
negotiate their freedoms and imprisonments. There is
would always be determined by the indispensable
the life of Bahia, Maranhão, Rio de Janeiro, São Paulo.
voices of these women and their displacements.
There is, above all, a woman who ignites her own life,
It is not possible for an implicated Black body to
ascends and attends under the name of Kehinde.
assume the position of looking at the world from an
The protagonist ventures from Savalu to Brazil, from
exhibit without bringing knowledge, epistemologies
Brazil to Africa and to Europe. She invents life forms,
that are mixed with its survival strategies. There was
eyes to see and be seen, dies sometimes, lives many
a Black body in the position to make choices, to heal,
times, learns and teaches. Kehinde is a Black woman
based on art, history, art history, and education. The
with her tactics of existence: cunning, attention, and
public program “Kehinde Territory” was created from
a careful eye for the affect not far from the struggle
the need of this Black body to find other voices.
and knowledge. It is the ability to create territories
with each arrival. In the exhibit in the South of the What we called 12 Collective Exercises of Dissent

BIENAL 12 CATÁLOGO 404


were collectively created at the intersection between The Rupture Between the Days
the Kehinde perspective, which had now become We Had and the Uncertainty
the concept and direction, and the idea of dissent
of What Was to Come
by the French philosopher Jacques Ranciére.
As the title suggests, there were 12 meetings in It is not the matter of writing about a possible regret
which the experiences of mediation needed to of the days that have gone by. That’s not what
resonate with the knowledge and practices of this is about! The days gone by had the shade of a
women from different parts of the country who world that excludes, segregates, kills, separates. The
were invited to lead the exercises. The questions belief vested in modernity and in its projects was
that accompanied us constantly were: What demonstrating its failures. The stop was sudden. The
happens when mediation comes across the themes invisible was resignified when the virus spread without
related to the poetics that talk about non-binary respect for borders, opening up the planet’s sores,
women? What is the impact of mediation with the exposing the deadly forms of economic operations,
emphasis on women’s debates in the democratic and leading to the breakdown of life forms and to
arena? We thought together, once again. the questioning of the world and the art worlds.
It was necessary for the urgencies to be stitched Here in the South, the exhibit in its face-to-face
together and that the debate on pressing issues, such reality very quickly became a distant mirage.
as women, their collectives and democratic life, daily While the planet turned into the regions divided
violence, legal debates about rights, and the notions according to the colors that attested to different
of art crossed feminist debates, colonialization and levels of severity and death, tables accounted
decolonization in contemporary art, accessibility of an for the lost lives, perverse clashes that opposed
art exhibition space designed for everyone, including lives and forms of economic survival, different
the non-obvious, the issues of Black and transgender positions of the State. In Brazil, there is the virus
bodies in exhibitions as artists and audiences. and the lack of direction for the most adequate
Above all, it was essential that these discussions ways of dealing with the social upheaval.
were deeply rooted in the poetics of more than After the years of discourse on bridging the art and
seventy artists who made up the 12th Biennial. life, the intensification of both became mixed. The
The meetings brought together feminists with notions of space and time were confused. Various
different theoretical perspectives, artists, curators, types of institutions along with the agents of art
educators, lawyers, anthropologists, and historians. systems wondered what the next step was. Over
More than 150 attendees made up a great forum again, the search for answers found nothing but
in which their personal experiences served as trials. Trials, experiments, attempts. We attended
starting points for the necessary confrontation of a mix of efforts live and on different platforms that
topics that ring through the exhibit and generate tried to keep things in their original places, while
a contemporary agenda committed to registering these previous places showed wear and tear and
new landscapes of life in art and in the world. imposed new ethical and aesthetic commitments.
There was no hierarchy in the group between an In the case of the Biennial, we had to ask ourselves
exhibition mediator and a teacher in the classroom. what happened to an exhibition when its physical,
Together, these different ways of thinking about spatial, and personal existence was disrupted. This
contemporary art and their trust and mistrust also led us to questions about the nature of education,
in education animated the exhibition space as art, and mediation in the face of these new limitations.
a great arena of diverse forms of dissent.
At first, the appropriate attitude was one of silence
But all things were on the verge of the upheaval and observation. Even before the pandemic, the
and we didn’t know. To speak of the educational education program had prepared twelve proposals
experience of 12th Biennial means to talk about for public visits. At that time, the goal was to provoke
a profound rupture between the world we used and tense the routes of the flight of the bodies in
to live in, when it all started, and the one we were the exhibition. We wanted to know what references
thrown into by the pandemic that collapsed the would the public adopt in the presence of these
possibility of basic certainties. Everything came up: non-binary feminines. Who were their well-known
social isolation, the asymmetries of the world and artists? How many of them were Indigenous?
the art world, the notion of exhibition, the use of Black? Transgender? How to face the presence of
technologies, and the main axis of the program: the women in the reinterpretations of the world, the
idea of being together. Our bodies were, for the most Americas, Europe, colonization and decolonization?
part, deprived of face-to-face meetings indefinitely. What forms of entry into the debates did the
exhibition propose? However, these propositions

405 BIENAL 12 CATÁLOGO


were filtered by the need of the body to clash Are we reinforcing the typical audience of art
with space and with the circumstantial montages institutions? Is there, in fact, a renewal mediated
that the experience of the exhibition involves. by virtual access tools? We haven’t found the
answers to these questions yet, but keeping them
What happens to an exhibition when it stops being
alive may be indispensable to inscribe a future
a space and becomes a concept? This conceptual
into the uncertain times that are yet to come.
dimension of the exhibition was the main work
material of the education program. The loss of space Following the prerogative of producing spaces for
is irreparable, but there is whole knowledge and meeting, speaking, and listening, the education
wisdom in the selected artists’ poetic takes on the program, following the example of institutions
world and on things. We knew this was the primary from different parts of the world, invested part
material of this new phase of questions and inquiries. of its efforts into the program of live broadcasts.
Thus, the twelve proposals became invitations to Live broadcast, a form that gained prominence
visit the website of the Biennial that was now online. in the daily lives of so many people, was the way
At first, they became the way to connect people to connect audiences with the discourse and
with this multiverse of potential learning when a poetic and conceptual working outs of the show.
group of artists comes together with the power Curators, artists, and educators became a constant
to constantly abolish preestablished ideas about presence in the Biennial’s live broadcast program.
what was the art and agenda of our time are.
Some premises remained. For example, the emphasis
In view of the testimonies the exhibition collected, on a racialized approach, ensuring the majority of
listening to the artists and their feelings during Black women among the invitees, the connection
the pandemic, we were looking for the ways to with Latin American contemporary art, and facing
understand the particular mode in which they everyone’s urgencies vis-à-vis the pandemic.
found themselves, as well as the agents in the
But the questions do not stop when everything is
art field, all in the face of the real situations of
changing. The former project of creating teaching
coexistence with the plague we were facing.
materials based on the exhibit that would help
Affect. The word that accompanied the title of the students and teachers now had to be rethought.
show was the element that pulsed in this online We watch, on a daily basis, the reports of teachers
stage of the Biennial. The educational concerns barraged with previously unthinkable demands
were given their first limitations. How to be together such as the use of digital platforms for their
now became also how to activate the show that educational practice, students who had difficulties
was not in space anymore. What are the ways accessing classes, and all this driven by the false
to continue being together while having as the belief in the universal access to the Internet. A belief
pretext the immense work and negotiations that that, every day, was denied. It was necessary to
build the exhibition of these proportions? ask again and again: What was the meaning of
educational materials in this context? The answers,
A necessary note here is the attention to the need
once again, would come from sharing questions.
to maintain the education team. If I stress this, it
At the moment when living rooms, classrooms,
is because the time of the pandemic was also the
and work rooms become confused, the alternative
time of mass layoffs at the art institutions that hit
was the creation of a virtual room. Thus began the
education programs hard, and that, as always, were
Collective Laboratory 12th Biennial: Educational
tinted by race and gender, destroying the efforts that
Material in Times of Isolation. The virtual room
were being developed. Ensuring the preservation of
brought together teachers and professors from
the education team was a non-negotiable condition
different disciplines with a strong emphasis on visual
so that the search for alternatives could happen. It is
arts, who debated the format and needs of the
not possible to conceal this information and the first
educational material that touched upon the urgencies
stage was adjustments and negotiations that directly
of time and that could preserve the memory of the
involved the Biennial Foundation and the exhibition
knowledge created during the 12th Biennial. Thus,
curators. Once again, it was the horizontality of the
artists from Brazil and Latin America began to talk
curatorial body and the recognition of the centrality
to teachers about their poetics and the needs for
of education that created the conditions for the
materials consistent with the times. The material
work to occur. In the end, the curators and the
produced had to find new formats and adaptations,
Foundation recognized that education, in its search
for example, its functionality in tools such as
for forms of mediation, could be the key element
WhatsApp, which became one of the main platforms
in finding ways to bond and feel with the public.
of interaction between students and teachers.
But what audience was that? The migration to
the Internet presents us with a series of doubts:

BIENAL 12 CATÁLOGO 406


The website and the online existence of 12th of being together, consider and bet on the risky
Biennial allowed us to ask ourselves, still without exercise of building other tomorrows. As I stated
answers, how many of these experiences would in the beginning of this text, this is not the time for
survive when the rain and storm gave way to other certainty, but for doubts and questions that now
landscapes. The experience that marked this stage take on unpredictable shape. These are the notes
was the public call for teachers who, in order to of the education program of 12th Biennial, for now.
create relationships, became the Art and Teaching
Network for the 12th Biennial. Within a few days of
the call on social media, more than 1600 teachers
from different parts of Brazil and Latin America
joined the network that was being updated with
newly produced materials. The experiences like
this one reveal to us new ways of reaching a much
wider audience than the one which surrounds the
Mercosul Biennial, which is characterized by its
impact on local educators and schools in the region.

Even now, while everything remains unstable,


when the only certainty is the end of certainty, the
ramifications of the actions and attitudes during
the curatorial design of the education program are
not measurable. We do have a long list of mistakes
and some things that we got right. Among all of
them, perhaps we will continue to insist that being
together is a necessary condition so that, based on
not knowing, we can construct minimal, temporary
buildings, but rife with life. The chorus of voices
seems to be our only way out. Seeking solidarity in
the ways we speak and listen is perhaps one of the
basic premises of mediation. Insisting that we do not
go back to what was before, but that together we
register other projects for the art of our time, and for
the time when this art appears. The pandemic, with
each passing day, seems to us not the greatest evil,
but one among many. Evil that has been among us
for centuries, silencing voices that could build possible
worlds. The pandemic is plaguing us, but the image
of the Black man suffocated by a white policeman
and the death of boys in the communities where the
State holds the weapons lacerates us. Mediation in
times of urgency may mean understanding that it
is not about being among, but about being with.

Art is not immune to the restrictions that are produced


in the world every day. There is a contemporary
art that is present in the sutures of different parts
gathered in the works of Rosana Paulino. In the urgent
reckoning that resonates in the demonstrations
of the Nosotras Proponemos collective, in the
ancestry and memory of Aline Motta’s poetics, in
the braiding of Helô Sanvoy’s hair, in the story told
by the embroidery of the struggle of the Chilean
Arpilleras, in the transgender existence of Élle
Bernardini, in the Mapuche and fluid experience of
Sebastián Calfuqueo. In the teacher who affirms
public schools. In the exhibition that brings together
different things to produce unforeseen meanings. We
just need to pay attention and accept the challenge

407 BIENAL 12 CATÁLOGO


CURATORS - BIOGRAPHICAL SUMMARIES
Andrea Giunta is a writer, curator, and professor at the Universidad de Buenos Aires, where she
received her Ph.D. She is a principal researcher at the CONICET, Argentina. She is the author
of several books on Latin American art, including Avant-garde, Internationalism and Politics:
Argentine Art in the Sixties (Durham: Duke University Press, 2007). In 2018, she published
Feminismo y arte latinoamericano: Historias de artistas que emanciparon el cuerpo (Buenos
Aires: Siglo XXI, 2018, and forthcoming in translation by the University of California Press).
She was a co-curator of Radical Women: Latin American Art, 1960–1985 (2017–2018, Hammer
Museum, Los Angeles, Brooklyn Museum, New York, and the Pinacoteca de São Paulo).

Dorota Biczel (Poland/USA) holds a Ph.D from the University of Texas at Austin. She is
currently a visiting assistant professor of art history at the University of Houston. Her
research, writing, and curatorial projects focus on contemporary Latin American art seen
in the global context, particularly at the intersections of material experimentation, social
practice, and politics. She has published articles and essays in academic journals such as
Caiana, Buildings & Landscapes, Art Journal, ARARA, and alter/nativas, and in exhibition
catalogs. She curated Moving Mountains: Extractive Landscapes of Peru at the UT’s
Visual Arts Center (2016) and co-curated Teresa Burga’s Chronology: Reports, Diagrams,
Intervals (2011, Württembergischer Kunstverein Stuttgart), among other projects.

Fabiana Lopes is a New York- and São Paulo-based independent curator, writer,
and Ph.D. candidate in Performance Studies at New York University, where she is a
Corrigan Doctoral Fellow. Her research centers on the contemporary production of
artists of the African diaspora in Brazil and the Americas in general. Her writings have
appeared in Harper’s Bazaar Art, O Menelick 2o Ato, ARTE!Brasileiros, Contemporary
And (C&), and in exhibition catalogs such as Rosana Paulino: The Sewing of Memory,
Pinacoteca, São Paulo (2018), Lucia Laguna: Neighborhood, MASP, São Paulo (2018),
Of Darkness and Of Light, Minnette Vári, Johannesburg (2016), Territories: Artists
of African Descent at Pinacoteca’s Collection, Pinacoteca, São Paulo (2015).

Igor Simões has a PhD in Visual Arts - Art History, Theory and Criticism from the PPGAV
(Graduate Program in Visual Arts) at UFRGS. Assistant professor in the Art History, Theory and
Criticism and Art Teaching Methodology and Practice course at UERGS. Member of the curating
committee of the National Association of Plastic Art Researchers-ANPAP, and member of
the UERGS-MARHS Education Hub. Member of the collection committee at the Rio Grande
do Sul Museum of Art-MARGS. He works with articulations between exhibitions, film editing/
montage, art history, and the racialization of Brazilian art and the visibility of black individuals
in the visual arts world. Author of thesis Film Montage and exhibitions: Black Voices in the
White Cube of Brazilian Art. Member of Flume - Education and Visual Arts Research Group.

BIENAL 12 CATÁLOGO 408


ARTISTS AND WORKS

Alejandra similarities among the Latin American dictatorships’


practices. The memories and recollections, summoned
Dorado from symbolic interventions, are a way of warning
us about the dangers of repeating the history.
(Cochabamba, Bolívia, 1969)
Born in Cochabamba, Bolivia. Graduated from Aline Motta
the Bachelor of Fine Arts degree with emphasis
in painting from the ARCIS University, Santiago, (Niterói, Brasil, 1974)
Chile. She practiced for 15 years as a teacher of
the Graphic Design course at the Private Bolivian Born in Niterói (RJ), lives and works in São Paulo. She
University. Creator and director of the project “The holds a bachelor’s degree in social communication
Green Box” a visual arts workshop for young blind at UFRJ and a postgraduate in Cinema at The New
people. She exhibited her work in the most important School University (NY). In her work, she combines
spaces in Bolivia. She was invited to individual and different artistic techniques and practices, mixing
group shows, festivals and residences in Chile, the photography, video, installation, performance,
United States, Cuba, Argentina, Canada, Venezuela sound art, collage, printed matter and textile
and Ecuador. Invited to participate in publications materials. Her investigation seeks to reveal other
such as FIBRAS LATINO AMERICANAS de AAL corporealities, create meaning, reframe memories
(Arte Al Límite). She is the curator of CIMIENTOS, and elaborate other forms of existence. She was
an international performance and action festival awarded with the Rumos Itaú Cultural Program
in Bolivia. Activist, feminist and founder of the 2015/2016, with the ZUM Photography Scholarship
collective Ni Una Menos Cochabamba. from Instituto Moreira Salles 2018 and with the 7th
Prêmio Indústria Nacional Marcantonio Vilaça 2019.
She recently participated in important exhibitions
About the Works at the Biennial such as “Histórias Feministas” - MASP, “Histórias
Afro- Atlânticas” - MASP/Tomie Ohtake and “O Rio
dos Navegantes” - Museum of Art of Rio/MAR.
Crashing oblivion / memory
building, performance, 2011-2020.
About the Works at the Biennial
In 2011, Alejandra Dorado was invited to an artist’s
residence in La Perla, which was a former clandestine Visual artist, photographer and video maker, Aline
detention center. 2500 people, most of them still Motta gathers documentary files with audiovisual
missing, have passed in this torture and extermination materials and, through them, investigates her origins
place in the provinces of Córdoba, Argentina. Aware and her relationship with black and African ancestry.
of the stories of the women who were there reminded At the Biennial 12, two works by Aline are presented.
Dorado of Hugo Banzer Suárez’s dictatorship in Her visual and poetic book, Escravos de Jó (Slaves of
Bolivia (1971-1978). These are her childhood memories Job), 2016 resumes the well-known circle game and
that intertwine with similar family histories. In this popular song with phrases from the Book of Job, from
performance, Dorado draws a parallel between the the Bible. Through the sentences, the artist refers to
tortured women in Argentina and Bolivia. She brings Brazilian slavery. The images and texts printed on a
an experience from a Bolivian woman who was forced semitransparent paper address the visual concrete
to sit on a block of ice for 24 hours, a clear form of poem, with an emancipatory and non-colonial
torture with sexual overtones. The artist sits on an sense. In the video (Outros) Fundamentos (Other)
ice block for an hour, forcing herself to the same Principles (2019), she mixes the visual file collected
practice of torture. From this private experience, during her research residency in Nigeria, to the file
performance links, in a touching softness, the telling the history of slavery in the coffee region of

409 BIENAL 12 CATÁLOGO


the Paraíba Valley. In the film, Aline relates Lagos indigenous ones. Their testimonies appear at the
to Cachoeira and Baia de Guanabara. The trip, as bottom edge and are almost undetectable within
she tells, led her to a feeling of strangeness and not the absolute black “It touches me to think of the
belonging. It is about an idea of continuity (exposed woman’s body as a combat weapon; the population
by the water) and disruption (indicated by mirrors). subjected to violence and torture, and, above all,
It is also about the damage that slavery caused the ban of their Mayan identity.”, states the artist.
in Brazil, a wound whose healing is not possible
without adequate policies. In the film, the artist
Disposable Material (Parsley)
merges the personal, the familiar, and the collective.
Parsley
Migrations, diasporas, and memory are central words
to face this film that, through its images and texts, Ana Gallardo created Material Descartável
guides us towards a poetic and political journey. (Disposable Material), a mural sculpture, in 2000
I was born in Rosario, Argentina, and I have lived and rebuilt it for Biennial 12. Here, the artist ties
between Mexico, Spain and Buenos Aires. I had no parsley bouquets to the wall, representing the tools
formal education, I am self-taught. I have a training employed by underprivileged women to make
acquired in artists’ studios such as Víctor Grippo, abortions in Argentina, as these are illegal and
Miguel Dávila, Jorge Diciervo and Juan Doffo. I clandestine. Many are the disadvantaged women
have an inherited idea of ​​how to go through artistic who die from lack of hygiene. The legalization plan
practices, since my parents were artists. My mother a is underway in this country and has been provoking
painter and my father a poet. By the 80s I joined the crowds of people to follow the parliament debates.
Group of X and with them I learned how art is thought. This sculpture by Gallardo represented, at the end
I lived in Mexico since the late 80s and early 90s, of the millennium, one of the main projects about
where my daughter Rocío was born. I work in parallel of feminism carried out. This project, #NiUnaMenos,
to my work, in a series of independent projects aimed has been gaining strength since 2015, through
at promoting local art, giving visibility to practices extensive demonstrations against femicides.
that do not enter commercial or institutional circuits
and linking women artists, mainly, from different Disposable Material (Needles)
generations. These activities have taken place in 1.000 knitting needles
every space I have had, even in my own home. In
2005/2006 we held Periférica, the first exhibition Ana Gallardo created Material Descartável
fair self-managed by artists. Espacio Forest was a (Disposable Material), as a sculpture in 2000, and
project carried out in 2013, and currently La Verdi rebuilt it for the Biennial 12. Ana Gallardo exposes,
(2014/2017) and La Verdi México (2017/2018). I am with extreme force, a cluster of knitting needles,
interested in work processes. To give value to all instruments used by underprivileged women to
those moments that generate doubts, uncertainty, make abortions in Argentina, as they are illegal
discomfort. I particularly have a lot of consideration and clandestine in this country. Many are the
for everything that is considered unsuccessful. I disadvantaged women who die from lack of hygiene.
gloat at collective work. I approach different levels of The abortion legalization is now on the country’s
violence and currently focus on the violence of aging. agenda; a large group of people have been following
the parliament debates and monitoring them.

About the Works at the Biennial Drawing


“I deal with several plans of violence, and, currently, Charcoal
my focus is on the violence of aging”. Through this
statement, Ana Gallardo expresses the central line Variable dimensions
of her work, in which, using everyday materials Collection of the artist
(drawing, objects, adhesive tape, unplanned shooting,
interviews), she produces a work focused on her “I deal with several plans of violence, and, currently,
own experiences of fragility (regarding work and my focus is on the violence of aging”. Through this
home). She also addresses those who are rejected statement, Ana Gallardo expresses the central line
by society (elderly, patients, and prostitutes). The of her work, in which, using everyday materials
Biennial presents an impressive design, in compact (drawing, objects, adhesive tape, unplanned shooting,
black, made as site-specific by the artist. The interviews), she produces a work focused on her
superimposed graphite generates a suffocating own experiences of fragility (regarding work and
wall, a representation of the distress experienced home). She also addresses those who are rejected
by Guatemalan women, particularly peasant and by society (elderly, patients, and prostitutes).

BIENAL 12 CATÁLOGO 410


The Biennial presents an impressive design, in diaspora, migration, shift and colonization-repression
compact black, made as site-specific by the artist. dynamics, poetic production, visibility layers, a
The superimposed graphite generates a suffocating place of belonging, mediation, translation/non-
wall, a representation of the distress experienced translation processes and its meanings: these are
by Guatemalan women, particularly peasant and all key concepts in the work of Ana Lira, a journalist,
indigenous ones. Their testimonies appear at the photographer, and specialist in Culture Critics and
bottom edge and are almost undetectable within Theory. How can invisibility be a form of power? This
the absolute black “It touches me to think of the is one of the questions Lira pursues in her Chama
woman’s body as a combat weapon; the population (2020) project, a cycle of sensorial experimentations
subjected to violence and torture, and, above all, created by means of poetry and music from the
the ban of their Mayan identity.”, states the artist. African-Amerindian diaspora, through which
participants enter into contact with shared contents
and, without the imposition of translation processes,
Ana Lira build other means of connections with them. Being

convida Marta divided between the exhibition site, where the sound
installation is located, and the space for collective
Supernova, celebration and mediation of black territories in
Porto Alegre, Chama articulates the artist’s key
Ola Elhassan e concepts, by means of what she calls vivência-
Suelen Mesmo das-entrelinhas (a between the lines experience).

(Caruaru, Brasil, 1977 / Rio


de Janeiro, Brasil, 1994 / Arpilleras Mmdh
Khartoum, Sudão, 1990 / (Chile)
Porto Alegre, Brasil, 1996)
The arpilleras were born as a community action and
Ana Lira is an artist based in Recife (Pernambuco, written testimony that reflects the experiences of
Brasil). She develops collective creations observing the the social process during the dictatorship in Chile,
lines in between of power relations in communication, from the perspective of women. The Museo de la
in daily articulations and in the production of Memoria y los Derechos Humanos has an important
knowledge in the world. Marta Supernova is an collection of litter that emerged shortly after the
artist and DJ. She builds poetics investigating coup, when mothers, sisters, wives and daughters of
ancestry, spirituality, her queerblacklatin body missing detainees and political prisoners begin to
and affection-encounters that create themselves relate the anxious search of their relatives, expressing
and recreate a need. Ola Elhassan is a sudanese themselves through fabrics, threads and wool. These
poet living in London who focuses on migration, pieces recognize the look of these women, their pains
melodies and sensitive everyday life. Suelen and uncertainties, as well as their struggles and the
Mesmo is a DJ at Coletivo Turmalina, whose actions organization in relation to what they lived. They
elaborated the presence of blackdescendants claim the value of cooperation, both to denounce
creation in the migrant scene of southern Brazil. human rights violations, and to tackle the hunger
of their children and support for the support of their
families, in community pots and popular laundries.
About the Work at the Biennial
About the Work at the Biennial
Chama
During the years of the Chilean dictatorship, women
Installation (sound installation with online radio), 4 and relatives of imprisoned and disappeared
artist books, 12 cloth ribbons, Celebration at Praça people, used to meet and stitch small tapestry
do Tambor with DJs Suelen Mesmo (Porto Alegre) pieces. Through the fragments of sewn fabrics, they
and Marta Supernova (Rio de Janeiro), experience retold the experiences of repression, of the bodies
exchange with the DJs and conversation circle. in collective graves, and shared the problems that
affected people’s daily lives during the Pinochet
The Artist’s Collection tyranny (1973-1990). The Arpilleras served as a
poetic and political support that communicated and
Collective knowledge and its articulations, oral denounced at the same time. The first workshops
transmission of knowledge, African-descendant

411 BIENAL 12 CATÁLOGO


came up in Chilean churches, in association with the tells about the compatibility with a donor, his brother.
Pro Peace Committee, the Grouping of Relatives This is the so-called Chimerism - the transplanted
of Missing Inmates, and later with the Vicariate person is a chimerical being, that is, there is another
of Solidarity and other organizations. There are human being within him that must be unveiled.
different collections in institutions such as the Delicate and powerful at the same time, these
Museum of Memory and Human Rights and the embroideries symbolize the experiences of the
Museum of Solidarity Salvador Allende, both in the sore body and the affections through a thorough
city of Santiago de Chile. The collection exhibited translation from the skin colors to the embroidery.
at Biennial 12 belongs to the Museum of Memory They are organic abstractions that concentrate
and Human Rights. These fabrics are witnesses of mutation processes, affections, and emotions.
resistance and solidarity practices. They warn of the
social pain that comes along with the militarization
of daily life and the suspension of democracy’s rights. Carmela Gross
They also recall the violence and disappearances
during the military dictatorship in Chile. (São Paulo, Brasil, 1946)
Carmela Gross has been doing a large scale work
Brígida Baltar that fits into the urban space and marks a critical
look at architecture and urban history. The common
(Rio de Janeiro, Brasil, 1959) axis, beyond the diversity of contexts and proposals
elaborated in each case, is the basic concept of
Brígida Baltar studied at the Parque Lage’s School of working in the city. The set of operations, that
Visual Arts in the 1980s and was part of the Visorama involve from the conception of the work, through the
group of artists. Recorded some of her works in production process, to the arrangement in the place
photographs and films, for example, the Coletas of exhibition, emphasize the dialectic relationship
project (1996-2005), in which she collected natural between the work and the space, between the work
and transient elements in glass bottles, like fog. In and the public/passerby. With the works, the artist
another work, Abrigo, the artist draws the shape of seeks to create new artistic perceptions that affirm
her body on the wall of her house studio and then dig an action and a critical though, that brings out the
it. With the brick dust of the house studio, she makes semantic charge of the place, be it a public space,
a series of drawings and artistic installation. Works an institution or the moment of an exhibition.
with sculptures in brick, ceramics and bronze, as well
as embroidery in fabric. All of her work approaches
the concepts of body and fantasy. She participated About the Work at the Biennial
in some exhibitions, such as the 25th Bienal de São
Paulo, São Paulo (2002); SAM Art Project, Paris, Five kilos of red lipstick were needed to cover this
(2012); Textile abstraction, Casa Riegner, Bogotá little popcorn cart. The color and texture of the lipstick
(2018). Her works are in collections such as Isabel capture the meaning of this object linked to city life,
Collection and Agustín Coppel, Mexico; Museum the children, and the popular consumption. It is a
of Contemporary Art, Cleveland, USA; Joaquim common, everyday object that would go unnoticed
Nabuco Foundation, Recife, Brazil; Middlesbrough if it was not covered with this soft, red, and sticky
Institute of Modernity Art, Middlesbrough, England; substance. The popcorn cart is transformed with a
Museum of Modern Art in Rio de Janeiro, Brazil; material that addresses the female universe. In a way,
State of São Paulo’s Pinacoteca, Brazil. Represented it produces a feminization of the city objects. Carmela
by Galeria Nara Roesler, in São Paulo. Gross’s interference does not provide answers. The
artist shakes the known senses as materials and
signs and means to think about them differently.
About the Work at the Biennial Flag Anthem is a large pink canvas that will be
moistened every day. Many possible senses echo
Brígida Baltar presents at the Biennial 12 an
in it. The flag does not flutter on the wave; it is wet
installation that explores her recent personal
on the ground. The emblem does not refer to any
experiences, marked by hospitalizations that ended
country; it could be understood as a question over
up at a bone marrow transplant. The signs of
the defined meanings of the flags. The pink color,
these processes on her skin were transformed into
with all the underlying feminine meaning imprinted
metaphors (bruises, petechiae) that she created
by society, arises questions over the masculine
during the waiting times of her treatment. The only
identities which are traditionally associated with
sculpture that is included, called Irmãos (Brothers),
the principles of the nation. The white tissue,

BIENAL 12 CATÁLOGO 412


described analytically by Carmela, lingers as a
critical reflection proposal. In any case, the task is
Cecilia Vicuña
up to the spectator. Carmela inserts ambiguous
(Santiago, Chile, 1948)
signs, whose critical sense is never evident or set.

Chilean poet, artist and filmmaker with a long


Carole Condé e international trajectory, creator of “lo precario”, a
spatial poetics of actions and performances carried
Karl Beveridge out in nature, streets and museums as a way of
“listening to an old silence waiting to be heard”. Since
(Hamilton / Ottawa, the 1960s, her work has reworked Amerindian poetic
Canadá, 1940 / 1945) and spatial thinking to face the ecological disaster
of our time. She founded Tribu No in Chile in 1967 and
Carole Condé and Karl Beveridge live and co-founded Artists for Democracy in London in 1974.
work in Toronto. They have collaborated In 2011 she founded oysi.org dedicated to valuing
with various trade union and community indigenous thought. Author of 25 books of art and
organizations in the production of their staged poetry, her most recent title is New & Selected Poems
photographic work over the past 40 years. of Cecilia Vicuña, 2018. Her visual work was shown at
documenta 14, Kassel and Athens, 2017, and is part of
the permanent collections of New York’s MoMA , the
About the Works at the Biennial Guggenheim Museum in New York and Tate in London.

The Fall of Water About the Works at the Biennial


Digital print, size TBD? Poet, performance artist, painter, creator of precarious
objects, many are the ways to name this multifaceted
Stories (series of four images)
artist who, since the sixties, has developed a radical
Digital prints, 75 cm x 100 cm each work, first in Chile, then internationally in cities
like Bogota, London or New York. Her actions are
For over four decades the Canadian duo of Carole
connected with non- colonial agendas and ecological
Condé and Karl Beveridge has been working in a
feminism. Among her works, we highlight the Quipus
unique mode of politically engaged documentary
(knots), a creation through which Cecilia remembers
photography in order to expose the fallouts of global
an ancestral practice of the Inca cultures. The quipu,
capitalism. Through a sustained dialogue with the
through its ties and knots, records epic reports
artists, their protagonists — including labor organizers
and accounting information. Quipu testigos (Quipu
and migrant farm workers — have an ultimate say
witnesses) will be presented with materials coming
in fashioning their representations in Condé and
from the artist’s studio in NY (they will be sent to
Beveridge’s meticulously orchestrated photocollages.
the biennial by FedEx). In Porto Alegre, these initial
Taking as the main character an indigenous activist
materials will be completed with garbage, branches
from Cochabamba, Bolivia, The Fall of Water restages
and spoils - material witnesses of mistreated objects -
Peter Bruegel the Elder’s painting The Fall of The Rebel
which will be sent by different communities. Together,
Angels (1562) to present the allegory of the worldwide
the materials will take the form of a delicate, empty,
conflict between water defenders and water
minimal quipu, capable of joining the fragments in
abusers—transnational corporations that commodify
a visual and tactile way. The quipu is a witness to
the precious resource, petroleum industry, and World
the destruction of the Amazon and the massacre
Bank. In turn, Stories depict various forms of elder
of indigenous peoples. It is a collective and spatial
care in different social settings, in which storytelling
poem that involves bodies and remains. It is a project
itself constitutes the key to the work, and the elders
that will take place in the Biennial space as a smooth
become not simply the recipients of entertainment
form unfolded in space. In its poetic and sculptural
but vital repositories of ancestral knowledge.
union of the remains, it will present itself as a form of
resistance in the face of the devastation of the planet.

413 BIENAL 12 CATÁLOGO


Chiachio e re-imagining a place to live in perpetual expansion;
a home-world, where there is also a place for all the
Giannone imaginaries dissenting from family and means of
queer affectivity. These small pieces of embroidered
(Buenos Aires/Córdoba, canvas, with small sky clippings, seek to track links
Argentina, 1969 / 1964) and affective networks of sociability and belonging,
as of this domestic knowledge: embroidering.

We are a queer family, two male artists who are


a couple in life and in art, and three children who
complete our home. Usually, embroidery is the
Claudia Paim
technique that we use to develop our work. We both
(Porto Alegre, Brasil, 1961 – 2018)
decided to transfer our pictorial knowledge to the
textile universe and expand the limits of it’s own
configurations, while trying to break the stereotype Claudia Paim was a visual artist and professor at the
between gender and task. To carry it out, we work Federal University of Rio Grande - FURG. Graduated
with materials from our home as a concept of the in History (1989) from the Federal University of Rio
“universal home” and the affection linked to them. Grande do Sul. Master (2004) and Doctor (2009) in
The supports of our works are old sheets, cushion Visual Arts from the same University, with a doctoral
covers, blankets, napkins, handkerchiefs, etc. We internship at the Universidad Politécnica de Valencia
work with two concepts: the use of household (Spain) in 2007-2008. She was a collaborating
materials with their affective load and the reuse member of the Center for Art and Design (NAD) of
of them, emphasizing the care of the environment the Institute for Research in Art, Design and Society
and the idea of giving things a second chance. of the Faculty of Fine Arts of the University of Porto -
Portugal. Developed research on collectives and public
space, performance and body. As an artist she worked
in collectives and individually with video production,
About the Works at the Biennial
installations, performance, drawing, sound art,
Leo and Daniel met in 2003 and since then have urban action, photography, objects and poetry. She
been working together. In their work, they use had published texts and participated in individual
embroidery, a feminine technique through which and collective exhibitions in Brazil and abroad.
they recover the craftwork. In 2013, they painted
La familia en el alegre verdor (The family in the
merry green) and began embroidering it in large About the Works at the Biennial
size. This work, which is being exhibited for the first
time, portraits the new family configurations. It The anthology we present shows central aspects
shows themselves and their dog as subjects in a of the performances that Cláudia Paim has made
predominance of green showing the fullness of since the end of the nineties. Firstly, the relationships
nature. The tapestry represents the union between between body and affections (Segredos, Entre mia
nature and humans, pointing out the conservation of boca e teu olvido / Secrets, Between my mouth
the planet. It is proposed as a tribute, as a memory and your Forgetfulness) and between body and
to be conveyed to future generations. The theme space (Corpopaisagem / Bodylandscape). In her
introduces the debate on the Anthropocene, the man’s performances, the emotional register also joins that
dominance over the planet’s ecosystems, and their of violence (Discurso Amoroso / Loving speech). The
devastating effects on nature. It commemorates the body is exposed in an extremely moving performance
integration between humans and animal species in Devastação (Devastation) when the artist confronts
and concerns a shared life based on affections. us with the signs left by the disease in her hair. In
Possibilidades (Possibilities), while she breaks 420
eggs, the artist pronounces the names written on
Um lugar onde viver (A place where to live) them. Through each rupture, she rubs the relations
between body and gender. Paim reiterates phrases,
Leo and Daniel met in 2003 and have been working
reiterates movements. Repetition, let us remember,
together ever since. They use embroidering in their
is a central instrument in meditation and acts of
work, a feminine technique through which they recover
political resistance. Through her performances,
artisanal works. This community action dialogs with
Paim installs a powerful reflection on affections
the play exhibited at Bienal, entitled La familia en
and does it from the territory of his own body.
el alegre verdor, which aims at being an extension
of our collaborative work, inviting the community
to embroider birds and flowers, re-thinking and

BIENAL 12 CATÁLOGO 414


Coco Kemble Saravia” at Galeria Van Riel, “ Desborde y
modulación” at Fundacão Klemm. Between 2004
(Montevidéu, Uruguai, 2016) and 2009, alongside with Tamara Stuby and Esteban
Álvarez, she directed the project of artistic residency
“El Basilisco”. With Juan Tessi, developed the project
COCO is a collective formed in 2016 in Uruguay by Mark Morgan Perez Garage in 2009. Her work is
Latin American women who propose to reactivate part of the collections of the National Museum of
dialogues in the field of contemporary art still Belas Artes, Museum of Modern Art of Buenos Aires
governed by the patriarchy of former artistic capitals. (Mamba), Museum of Latin American Art (Malba),
We understand art as a tool of understanding Museum Franklin Rawson de San Juan, Museo de Arte
and power of change. We propose to produce Contemporânea de Rosário (Macro), Museu de Arte
concrete actions that motivate a deep reflection Contemporânea de Bahía Blanca, among others.
on the construction of identities in post-modernity,
questioning the racial, misogynistic, homophobic,
transphobic, classist, elitist and colonialist
About the Works at the Biennial
mechanisms that produce inequalities and violence
in our cultures. We investigate, produce, manage Grupo de Familia (Family Group) is a work created by
and participate in the field of art and its intersection Cristina Schiavi in 1999, two years after her divorce.
with different sectors of society. COCO is formed by It is a reflection on the complexity of the family,
Catalina Bunge, Natalia de León and María Mascaró. her own family. It displays the closeness, with all
COCO is an art collective founded in 2016 by four its attributes and disadvantages. Her core family
Uruguayan artists (Natalia de León, Lucía Ehrlich, was dismantled during the Argentinian dictatorship,
María Mascaró and Carolina Sobrino). Curation, as living together became dangerous. Her brother
performance, photography, video, painting, and emigrated to Barcelona, and she moved to her
installation are their tools to question and reshape the sister and nephew’s house, whose father was also
dominant artistic version and convert the symbolic whose father had disappeared. Made with common
imagery of our world. Currently, the artist’s work materials (bathroom tiles), the work brings Family as a
together from Madrid, Paris, and Montevideo. At theme in a majestic dimension. The hardness between
the Biennial they present the installation Archivo the common and the monument introduces an ironic
X (X File), a proposal to subvert the hegemonic and critical distance from the patriarchy, whose
archive of art. By markings in catalogues and art traditional concept of family reproduces in capitalism.
magazines, they expose the annulment of female
artists. The stickers on each magazine, catalogue,
or book, highlight the percentage of artists Dana Whabira
included in each publication. A smart and efficient
way to stress the inequality of the art world as
(Harare, Zimbábue, 1976)
its selection criteria are white and patriarchal.
Dana Whabira is a Zimbabwean artist, architect
and cultural facilitator, who lives and works in
Cristina Schiavi Harare. An architect by training, she studied art and
design at Central Saint Martin’s College in London
(Buenos Aires, Argentina, 1954) (2011). She employs a research-focused, context-
driven experimental practice concerned with space,
Lives and works in Buenos Aires. Among her latest cartography and giving shape or form to critical
shows are: in 2020 ‘Para todes tode” C.C.K; in understandings of how we can live together. Whabira
2019 ”Acople”, Roldán Moderno gallery, ”Tacticas represented Zimbabwe at the 57th Venice Biennale
Luminosas”, Museu Colección Fortabat; in 2018 “ Asi!.... (2017) and participated at the Dak’art Biennale
quizás, debería agregar algo más”, Pasaje 17 Gallery, (2018). She has exhibited widely, in addition to
“Una llamarada pertinaz”, Museum of Modern taking up art residencies and giving talks locally and
Art of Buenos Aires; in 2017 “Untitled fair”, Galeria internationally. Her first solo exhibition “Suspended
Miranda Bosch, Miami; “ Un ciprés para alcanzarte” in Animation” was held at the National Gallery of
Centro Cultural Kirchner; em 2016 “ Esta extraña Zimbabwe (2013). She has participated in a number
forma mia de aparecer” in gallery Miranda Bosch, of group exhibitions including Undefined Territories:
Dixit Arteba 2016; “Estoy aqui” in Centro Cultural Reflections on Postcolonialism, MACBA, Barcelona
Recoleta. In 2014, “ El teatro de la Pintura”, Museum (2019), Cosmopolis #1.5 Enlarged Intelligence, Mao
of Modern Art of Buenos Aires, “ Superpuestos con Jihong Arts Foundation, Chengdu (2018), Measure the
Battistelli” at Galeria do Infinito, “Yente Schiavi Valleys, Parcours d’art contemporain en vallée du

415 BIENAL 12 CATÁLOGO


Lot, Maison des Arts Georges & Claude Pompidou, of moving away from the eurocentric conceptual
Cajarc (2018), Tracing Obsolescence, Apexart, New aesthetic. In addition to her artistic work, she is the
York City (2018) and Towards Intersections, Museum of mother of a three-year-old wawa (baby), gives
Africa, Johannesburg and UNISA Art Gallery, Pretoria lectures, workshops and participates in various
(2015). She is the founder of Njelele Art Station, an discussions and struggles against the european
urban laboratory and project space that focuses on immigration control system and institutional racism.
contemporary, experimental and public art practice.

About the Works at the Biennial


About the Works at the Biennial
ABC of Racist Europe (El ABC
Works on paper: Circles of Uncertainty de la Europa racista), 2017
The experimental practice of visual artist and architect For over a decade, Peruvian artist Daniela Ortiz
Dana Whabira is centered on space, cartography has been based in Barcelona and her experiences
and a critical understanding of how we can live as a racialized woman migrant in the territory
together. The series Circles of Uncertainty is an of the former Spanish Empire have become the
ongoing research about the histories of mapping crux of her multimedia projects that range from
and migration in African diasporic communities. actions in public spaces to ceramic sculptures and
Through these large-scale circular forms, Whabira painted decorative plates. In her work Ortiz takes
retraces displaced histories of maroon communities up an unapologetic critique of the persistence of
who found freedom through radical means such as the Spanish and, more broadly, Western European
planting maps of escape routes, seeds and gold into colonial project that manifest itself today through
their hair. For her project in Porto Alegre, Whabira set the European Union’s immigration laws and various
herself to trace local black spatiality, temporality and forms of migrants’ oppression on both institutional
radicality by mapping local Quilombos and areas of and everyday level. A tool for reading and political
black occupation, understanding their complex nature, literacy, ABC of Racist Europe deploys the familiar
their precarious existence and ambiguous delineation form of a children’s alphabet book to implant painful
both in the past and present. As a way to access racial knowledge of diverse forms of persecution that
politics in Brazil, Whabira was also interested in the migrant kids and their families encounter and a fierce
status/space quilombos occupy in the urban psyche, call against them: from the operations of Frontex
mythology and imaginary. In her work, cartography, (The European Border and Coast Guard Agency) to
calligraphy and composition are intertwined to the use of commercial airlines for deportations.
highlight liberation networks and transnational links
and connections between Latin America and Africa.
Eliana Otta
DANIELA ORTIZ (Lima, Peru, 1981)
(Cusco, Peru, 1985) Eliana Otta (Lima, 1981) is a visual artist and Master
in Cultural Studies at the Catholic University of
Lives and works in Barcelona. Through her work, Peru (PUCP). She has exhibited his work in cities
Daniela tries to generate visual narratives where such as London, New York, Barcelona and Cali.
the concepts of nationality, racialization, social She has completed residencies such as Planta
class and gender are critically understood to Alta (Spain), Gapado Air (South Korea), Capacete
analyze colonial, capitalist and patriarchal power. (Greece), Sommerakademie im Zentrum Paul Klee
Her recent research and projects address the (Switzerland). She coordinated the curatorial team for
European immigration control system, its link with the permanent exhibition of the Lugar de la Memoria,
colonialism and the legal mechanisms created by Lima (Peru). She is a member and co-founder of
European institutions to be able to exercise violence the independent space Bisagra. She is a professor
against migrant and racialized populations. At the at the Faculty of Art at PUCP, at the Alternate
same time, she developed several projects on the Current Art School and the National Superior School
Peruvian upper class and its exploitative relationship of Fine Arts. She is represented by the 80m2 Livia
with domestic workers. Recently, her artistic work Benavides Gallery.Currently, she is candidate for the
returned to focus on the visual and the manual, Phd in Practice at the Vienna School of Fine Arts.
making works in ceramics, collage, drawing and
formats like children’s books, with the intention

BIENAL 12 CATÁLOGO 416


33 pairs of donated shoes, painted in red. Since then,
About the Works at the Biennial
the installation has become itinerant in different
From the series Palabras de mujeres, 2017 cities in the world, acquiring different formats. At
Biennial 12, it is renewed through a participatory
Monteserrat and Carmen work with the Porto Alegre community in co-
Video Palabras de mujeres, 01:35:40 participation with THEMIS, an NGO created by a
group of lawyers and feminist social scientists that
Multi-faceted Peruvian artist Eliana Otta develops aims at confronting the women’s discrimination in
participatory projects and deploys a wide range the judicial system. Through THEMIS it was possible
of media to delve into the uneven development, the access to different points of Porto Alegre and its
incongruencies, and pressures of daily life in today’s outskirts, divided into 7 regions: Restinga, Cruzeiro,
megalopolises such as her hometown, Lima. Self- Eixo Baltazar, Lomba do Pinheiro, East Zone, Canoas
identified feminist, she is particularly interested in and Guaíba. The objective is to collect pairs of shoes
the politics of class and gender. Her work is finely from women who are in a situation of greater social
attuned to the ways in which concrete, diverse bodies vulnerability and besides, in some way, make the
function in and claim their rights to urban space biennial arrive actively in these spaces. Shoes are
and public sphere. For the project Women’s Words displayed on the steps of the Memorial, as a powerful
(Palabras de mujeres, 2017), the selections from symbolic intervention that evokes the ongoing
which are shown here, Otta handpicked phrases violence against women. It shows that it is not part
from the poems by well-known Peruvian writers of the past but painfully integrates the present.
Montserrat Álvarez and Carmen Ollé to turn them
into slogans of denunciation and self-assertion.
Simultaneously, her humorous embroidered banners
crafted from plastic and kitchen towels, and
Élle de
supported by recycled shoes, reclaim domestic labor Bernardini
to which women had been traditionally relegated
as tools of self-expression and empowerment. (Itaqui, Brasil, 1991)
Lives and works in São Paulo. She studied classical
Elina Chauvet ballet at the Royal Academy of Dance in London.
She is a transsexual woman with a production
(Casa Grandes, México, 1959) surrounded by her biography. Her works are part
of important collections such as Museu de Arte do
Studied architecture in Ciudad Juárez and currently Rio Grande do Sul / MARGS, Porto Alegre; MAC- RS,
lives and works in the city of Mazatlán Sinaloa. With a Porto Alegre; MAC-Niterói, Rio de Janeiro; Coleção
self-taught training, later added several courses and Santander Brasil, São Paulo; Museu de Arte do Rio,
workshops on painting, drawing, ceramics, graphics, Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna do Rio,
alternative media and photography with teachers Rio de Janeiro; Fundação de Artes Marcos Amaro,
from Mexico, the United States and Canada.Eliana Itu; Museu Nacional da República, Brasília and
has individual and group exhibitions in Mexico, South Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo.
America, the United States and Europe.Creator of
the public art installation Zapatos Rojos, her most
representative work, a participatory art project About the Works at the Biennial
started in 2009 in Ciudad Juárez and which was
replicated in Mexico and in several countries such TransDialética (TransDialectic) is a site-specific work
as Italy, Norway, Argentina, Chile, Paraguay, Spain, of art designed by Élle de Bernadine for the Biennial
Ecuador, United States, Canada, Brazil and others. 12. She focuses on the investigation of a transsexual
Zapatos Rojos is a project that promotes non- body presented unfolded, thus inviting the viewer to
violence to women and is an international symbol. see, touch, hear, see, and interact. The color, fabric
texture, shape, and sound give room to a senses’
restructuration experience. It is a work that condenses,
as theses and antitheses, her previous works like
About the Works at the Biennial
Bruna: cidade, feminilidade e dissidência (Bruna:
In 2009, in response to the wave of femicides that City, Femininity and Dissidence) or Dance with me, in
took place in Ciudad Juárez in the 1990s, and the which she covered her body with layers of gold. In this
death of the artist’s sister by her husband, Elina installation, shapes, textures and sounds intertwine to
Chauvet performed in this city an installation with investigate a new model of society based on affection.

417 BIENAL 12 CATÁLOGO


Eneida Sanches About the Works at the Biennial
(Salvador, Brasil, 1962) The recorder, architect and toolmaker master
Eneida Sanches is known to be and recognized as
the first woman to draw and produce Orisha Tools
Eneida was born in Salvador, Bahia. She lives and
in Brazil, an important ancestral making that she
works in São Paulo with a studio at Condomínio
shares through courses and workshops for young
Cultural, Vila Anglo. She started studying art at
apprentices. Therefore, in Sanches’ case, feminine
the Art School of Bahia at the age of 6. She studied
(and feminist) gestures and strategies also translate
architecture, from 1980 to 1990, and, simultaneously,
into hammering, sledgehammering and welding
she follows the Plastic Arts course at the School of
acts. Part of her investigation on the engraving as an
Fine Arts at the Federal University of Bahia. Since
impression/pressure and its unfolding, the engraving-
1990 she began to research African and Afro-Brazilian
drawings (or hybrid drawings) presented at Bienal 12 |
aesthetics and between 1995 and 2000 she studied
Porto Alegre articulate experimentations with graphite
metal engraving at the workshops of the Museum
on paper, dry point on lead, and drawing on copper.
of Modern Art in Bahia. She exhibits from 1992 to
The About Frictions drawing series emerge from
2000 in Museums and Galleries in NY with tools for
frictions, tears and insertions that the artist performs
liturgical use of Yoruba candomblé. She presents
on metal. In About Affections, the artist explores the
works related to the theme of trance and begins to
idea of the engraved image as a stamp designed
use engraving in an expanded field, as both structure
from the body and its possible affections — the paper
and concept, in objects and installations. She received
(body), as an accordion, receives expansion and
the prize at the XXIV Salão de Artes MAM Bahia and
shrinkage movements. But a very important question
participated in a residency in the Netherlands. As
evoked by Sanchez’ work is: how does her work moves
of 2011, she brings together printmaking and video
our understanding of engravings and drawings?
installation through the Transe - Displacement of
Dimensions series in a collaborative work with the
photographer and videomaker Tracy Collins (NY). In
2013, his work was published in the Revista de Arte
Esther Ferrer
Contemporânea N/Paradoxa (Bisi Silva) and exhibits
(San Sebastián, Espanha, 1937)
the installation Transe (video installation) at Festival
Vídeo Brasil 2013 - SP. In 2014 she was selected for a
residency in contemporary art at the NAFASI Artspace Performer and visual artist since 1966, both as a
in Dar Es Salaam, Tanzania where she stayed for soloist and as a member of the spanish group ZAJ.
3 months. In 2015 she was nominated for the PIPA Her work has always been oriented to ephemeral
Award and participates in the Bahia Biennial. In artistic/action. Since the 1970s, she has also
2016, she presented her work at Itaú Cultural SP in worked in plastic arts, photographs, installations,
the collective Dialogues Absent, curated by Rosana canvases and constructions based on the prime
Paulino and Diane Lima. In 2017, presents works at number series, etc. She represented Spain at the
the Biennial of Gaia, Portugal. In 2018, she made Venice Biennale in 1999, received, in 2008, the
an individual at the Andrea Rehder SP gallery, Spanish National prize for the Arts and in 2014 the
participates in the exhibition PretAtitudes curated Velazquez Prize and the MAV Prize (Mujeres en las
by Claudinei Silva and has an article published in Artes Visuales), among other awards. E. Ferrer has
Contemporary & by Alexandre Bispo. In 2019 she exhibited in numerous galleries, museums and fairs
participates as a resident in Visual Arts at INDIGO and has participated, as an artist, in numerous
Arts Alliance, the first space exclusively for black international festivals. Her last two exhibitions are:
peoples and people of color located in Portland, Toutes les variations ont valables comprise celle
Maine. Becomes part of the Board of Directors of ci, at Museo Centro de Arte Reina Sofia, 2017 and
this institution. Lecture at the International Forums Espacios Entrelazados, at Museo Gugenheim-Bilbao,
LASA (Boston) May 2019 and Black Portraitures 2018. She is also the author of two radio plays.
October 2019 about Trance as an artistic process. She
taught the same subject at the MECA College
of Visual Arts (Maine College of Arts) for MFA About the Works at the Biennial
students. In 2020 presents her works at the exhibition
Esther Ferrer is a pioneer in the art of Performance
Estratégias do Feminino (Women’s Strategies).
in Spain. She is a feminist, anarchist and, a member
of the Zaj Group created in 1964, Spain. The artist is
represented in this Biennial by the work Instalación
Esquina con Triángulos (Corner Installation with

BIENAL 12 CATÁLOGO 418


Triangles). The work, which is made with threads and intertwine body and genre, producing poetic and
nails over a wall, adapts to the area. The installation political echoes. It is not a splitting wall. The gathering
originates from a model that, like many others, is not of its pieces invites the viewer to ponder diversity,
dated. The threads, ordinary and fragile materials, inclusion, and gender equity in all its manifestations. It
cross the space in a serial, repetitive, and equidistant evokes the idea of strengthening unity, empathy, and
way. Although the artist makes use of electrical closeness toward the other. It is a process of creative
wiring throughout the landscape, her installation construction in which the consequence creates in the
does not concern a practical functionality. The wiring room a continuous questioning. The ceaseless sound
defines the volume and organize the space. “In a coming from the wall gives the idea of a living and
way, it is like drawing in a void.”; says the artist. It resonant matter that calls for collective listening.
is through facing the void or abstract landscapes
that fragility gets organized, and our imagination
delights due to multiple possible associations with Fátima Pecci
nature or with social relations. Or, on the contrary,
we can observe in a state of suspended expectation
Carou
this minimalist work of repeated rhythms.
(Buenos Aires, Argentina, 1984)
She is a painter, musician and activist. She graduated
Eugenia Vargas- in Visual Arts from UMSA, studied Art History at
UBA and received a scholarship from the Centro de
Pereira Investigaciones Artísticas (CIA) in 2015. She carried

(Chillán, Chile, 1949) out an art clinic conducted by Ana Gallardo. She won
the 1st Prize in Painting at the Salón Vincentín (Santa
Fe) and in 2018 he won the Barrio Joven-ArteBA prize
Multi-disciplinary artist known for her photography, for her project Kunoichi (Solo Show-Galería Piedras).
time-based installations and performances. Based in In 2020 she participates with her work ‘Algun día
Santiago, Chile, her work has been exhibited in venues saldrá de aquí (Feminicidios)’ at the 12th Mercosul
such as Bienal 12, Porto Alegre, Brasil 20/20, Radical Biennial in Porto Alegre, curated by Andrea Giunta.
Women, The Hammer Museum, PST/LA/LA, USA, 2017; She integrates the Asamblea de Trabajadoras del Arte
The LA Art Show 2017; We The People, Casablanca Nosotras Proponemos, a collective wich proposes to
Biennale, Mezquita Hassan, Morocco, 2016; Limitrofe, make visible the work of female artists and feminized
The XX Bienal de Santa Cruz de la Sierra, Bolivia, 2016. identities and denounce inequalities within the world
In 2003, she represented her country Chile at the 50th of visual arts. She is also a member of the Escuela de
Venice Biennale, Dreams and Conflicts and invited Brujas Feministas for Kids, along with other artists
Santiago’s Plaza de Armas stenopeic photographer and activists. She produces the XOXO fanzine and
Luis Maldonado to transport his street portrait studio carries out a historical investigation on Argentine and
and camera to the Giudecca Island. In 2011, her film Latin American painters with Deborah Pruden. In her
Girls and Horses was featured in the exhibition Silence plastic work she brings the fusion between painting,
of The Beast, Centre Pompidou, Paris. In Miami, in Japanese manga and activism. In the musical field
2000, she founded a low frequency radio, Talking she was part of Suripantas, Las Fantásticas Pupés and
Head Transmitters (THT) airing on FM to build a bridge XOXOBOMBA bands. In 2019 she published her first
between artists and community. THT has transmitted book of paintings ‘Femininjas’ by Ronda Editorial.
from Muzeum Anaheim Ca, as part of PST/LA/LA;
The LA Art Show; We The People, The Casablanca
Biennale; New Works Miami Art Museum; the Museum About the Works at the Biennial
Quartier in Vienna, Austria, Vienna Art Week, Intrude,
Zendai Moma, Shanghai, China, among others. Painter and musician, Fátima Pecci Caron presents,
at the Biennial, 200 painted portraits of women,
transvestites and trans people (children, youth and
About the Works at the Biennial adults) from Argentina, who have been victims of
femicide or who are still missing. This violence happens
Chilean photographer and performer Eugenia Vargas worldwide. Violence against female and feminized
presents at the Biennial 12 her sound installation Lo bodies is daily. The excess on these images evokes the
que Oyen los Muros (What the Walls Hear). It is a wall, brutality of these absences. Many women disappear
located at the Memorial room, built with industrial in human trafficking networks, others are murdered
materials in which numerous sound art devices stick when they go dancing, or in their own homes, usually
to the memory as they are played. It is a collective of by their own partners. Fátima goes beyond statistics
women whose voices come from only one. The sounds

419 BIENAL 12 CATÁLOGO


when she paints their faces and redirects their reflect on what she is doing. We can see Geta’s
eyes. They are not a number, they are people, lives, hands at the age of 88, confidently drawing through
affections. They are faces demanding for justice. The thoughtful gestures. Her drawings are as mental
portraits start from the photographs of organizations gestures, as venturous lines, like a trip on paper.
that search for these people, and that are published
on social networks and the media. Backstage adapts
to the format of the photos. However, the translation Gladys Kalichini
for painting is not literal. It introduces the radical
gesture of changing the direction of the gaze. The (Chingola, Zâmbia, 1978)
eyes point to the viewer and, by this, question the
spectators; they question the responsibility of Lives and works in between Lusaka, Zambia and
society in these femicides and disappearances. Grahamstown, South Africa. She holds a Masters
of Fine Art (MFA) FROM Rhodes University (2017)
and is currently an Art History PhD candidate at
Geta Bratescu the same university. Kalichini is a member of the
research group Arts of Africa - The Geopolitics of
(Bucareste, Romênia, 1926-2018) Africa and Global Souths chaired by Pdf. R. Simbao.
Kalichini has participated I various exhibitions in
Geta Brătescu has been a central figure of Romanian Zambia and internationally including And Counting
contemporary art since the 1960s. An artist with a rich (2019) at Johannesburg Art Gallery. Her first solo
and long career, Brătescu developed a complex body show in South Africa titled Chamoneka: UnCasting
of work that comprises drawing, collage, engraving, Shadows (2017) took place at Albany History
tapestry, object, photography, experimental film, Museum in Grahamstown. Kalichini’s first solo show
video, and performance. She studied at the Faculty of in Europe is scheduled for 2020 at Kunstlerhaus
Letters and Philosophy and concurrently at the Fine Bethanien in Berlin. Gladys Kalichini has also done
Arts Academy in Bucharest and worked as an artistic residencies in Africa and in the diaspora including
director for the magazine “Secolul 20 [20th Century]”, Asiko International workshop (2015) in Mozambique,
renamed “Secolul 21 [21st Century]” at the turn of the Fountainhead residency (2017) supported by the
millennium. Geta Brătescu took part in some of the African Centre in Miami and Kunstlerhaus Bethanien
most important contemporary art exhibitions, such as (2019/2020) funded by KfW Stiftung. Kalichini’s art
Documenta 14, Athens and Kassel (2017), La Biennale practice is research focused. Recent work explores
di Venezia (2013), La Triennale, Paris, Palais de Tokyo representations of women in relation to dominant,
(2012) and the 12th Istanbul Biennial (2011), to name national colonial histories. Her ongoing project focuses
just a few. In 2017, Geta Brătescu represented Romania on notions relating to the (in)visibility of narratives
in the Venice Biennale with the project “Apparitions”, of women in relation to the official independence
the first solo show of a woman artist in the Romanian narratives of Zambia and Zimbabwe (formerly known
Pavilion. Among her recent solo shows are the ones as Northern Rhodesia and Southern Rhodesia).
at Neuer Berliner Kunstverein, Berlin (2018), Hauser &
Wirth Los Angeles (2018) and New York (2017), Camden
Arts Center, London and MSK Gent (2018), Hamburger About the Works at the Biennial
Kunsthalle, Hamburg (2016), Tate Liverpool (2015),
Berkeley Art Museum and Pacific Film Archive (2014). Gladys Kalichini’s artistic practice focus on three
main categories: colonial history, marginalization
and memory, especially in respect to the narratives
About the Works at the Biennial of women that have been absent from the collective
memory within African contexts. In the video
Geta Brătescu was a visual artist who presented installation Burial: Erasing Erasure (2017), where
her work by drawings, collages, photographs, the artist stages a Zambian burial practice in which
performances, textiles, and films. Her work exhibited some mourners are covered with white powder
at the Biennial shows a series of short videos in (chinbuyaring), Kalichini proposes to create a context
which she draws. The camera focuses on her hands, for both personal and communal experiences of
on the spiral notebook, and on the thick dark pen mourning and remembering while holding space
that makes the drawn lines. Each take is a drawing. for dealing with the loss/disappearance of stories
The video captures the artist from the moment she about women who are historically important—as is
faces the black sheet, draws the first black lines, the case of Alice Lenshina (b.1920 - d.1978) and Julia
reflects on her next move until the exclamation that Chikamoneka (b.1910 – d.1986), important figures
marks the end. At certain moments, some words during Zambia’s struggle for independence in the

BIENAL 12 CATÁLOGO 420


early 1960s whose roles were hardly recorded or
recognized in the official narrative. While creating
Grete Stern
a place of mourning and ritual by evoking the
(Wuppertal, Alemanha,
narratives of historically relevant women, the work
also stands as a mourning gesture for contemporary, 1904 - 1999)
everyday women whose stories have already been
erased or are in the process of disappearing. Studied graphic design and typography at the
Technische Hochschule, in Stuttgart, between 1923
and 1925. In 1927, taking a friend’s advice, the great
Gonzalo Elvira photographer Umbo, took private lessons - alongside
Ellen Auerbach - with the acclaimed professor Walter
(Patagônia, Argentina, 1971) Peterhans. When he began lecturing courses in the
Bauhaus photography workshop, his young disciples
Lives and works in Barcelona since 2000. He is continued their learning there. In 1932, at the Bauhaus,
Hispano-Argentino. Gonzalo Elvira has been making she met the Argentine photographer Horacio Coppola,
a long and sustained career since his first individual whom she would marry three years later. In 1929 Grete
project in 1993. He usually works on social-historical and Ellen opened ringl + pit, a highly experimental
long-term research projects. He had studied at graphic design and photography studio in Berlin.
the Antonio Berni School of Visual Arts in Buenos
Aires. In the last five years he has held various
solo and group exhibitions in Spain, Argentina, About the Works at the Biennial
Andorra, Colombia, Brazil and Italy, exhibiting his
projects in various institutional and private spaces, German photographer Grete Stern, who was a
museums, galleries, fairs and research centers. student at Bauhaus, moved to Argentina in the
Currently, He is one of the Fundación Botín fellows. 1930s, during the Nazi era. In 1958 she adopted
the Argentinian nationality. Between 1958 and
1960, summoned by the National University of the
Northeast, she traveled to the Argentinian Province
About the Work at the Biennial
of Chaco to photograph the life and customs of
Bauhaus 1919, Modelo para Armar (Bauhaus 1919, the indigenous. The University intended to create
Model to Assemble), refers, on one hand, the year a museum and a regional ethnographic archive.
of foundation of the Bauhaus art school and, on the She photographed the tobas, their homes, their
other, the title of Julio Cortázar’s novel “62/ Modelo work and passed it on to linguistic researchers. In
para Armar”. Paul Klee, Vassily Kandisnki, Moholy 1964 she remained in Resistencia for four months to
Nagy, Marcel Breuer, Josef Albers, Johannes Itten, keep on the project and take pictures of the tobas,
among others, were teachers at Bauhaus. Günta wichis, and mocovíes. Through these portraits Grete
Stolz was the only female teacher. Elvira highlights resumes Bauhaus’s interest in the Aboriginal culture,
the women’s role within the school, as they worked its fabrics, and languages. The artist reveals these
in textile and ceramics workshops, but not in the women on duty but, at the same time, captures
blacksmithing or architecture workshops. They their poses and smiles, unveiling her pride.
allegedly had problems with three-dimensionality.
Marianne Brandt, at the blacksmithing shop, was
an exception. Another exception was Grete Stern, Guerrilha Girls
who graduated as a photographer and developed
her activities in Argentina. Gonzalo Elvira takes the (Nova York, Estados
portraits of the women at Bauhaus and use them as Unidos , 1985)
a starting point to draw his representations. The latter
are part of the site-specific drawing at Biennial 12. Guerrilla Girls is an art collective. They are
Elvira’s work prompts a reflection over photography anonymous artists from New York who, since 1985,
and emphasizes the women’s role at Bauhaus. have been humorously and efficiently exposing the
discrimination suffered by women in the art world. The
artists intervene in New York streets and art galleries
anonymously, using gorilla masks under the names of
deceased artists (like Kathe Kollwitz). They understand
that the issues reported are more important than
individual authorship. Its feminist agenda also reveals
criticism over colonialism and racism. They alert how,

421 BIENAL 12 CATÁLOGO


throughout art history, women have been vastly seen
as nude models but ignored as artists. The Guerrilla
Helô Sanvoy
girls focus on the world of art, film industry, popular
(Goiânia, Brasil, 1985)
culture, gender stereotypes, and the corruption that
invade the art system. Their posters use graphics and
humor as high impact tools to communicate their Lives in São Paulo. He graduated in Visual Arts at
messages. The current members of the group bring out FAV / UFG and is currently on his master studies
campaigns against women violence, fight for racial at ECA/USP. He is a member of the performance
discrimination, and oppose wars and dictatorships. collective Grupo EmpreZa since 2011, where he
develops accentuated research on the poetics of the
body and its derivatives. As an individual artist, he
Gwladys Gambie seeks meanings through different reading modes,
communication impossibilities and silencing processes.
(Martinica, 1988) He was awarded at the 23rd ANAPOLINO ARTE
SALON (2017) and at the 7th SUZANO ARTS SALON
(2011). He held solo exhibitions at MAC-GO (2014)
With the rise and consolidation of the Nazi regime
and at CAL / UNB (2014). Has works in collections
and the consequent closure of the Bauhaus, Grete
at the Art Museum of Rio Grande do Sul (MARGS),
emigrated to England, along with her husband and
at the Rio Art Museum (MAR), at the Contemporary
partner, where they installed the new ringl + pit’s
Art Museum of Goiás (MAC-GO). Participated in
studio. The London studio remains open for just a
group exhibitions such as “ZONA DE PERIGO”,
year as Ellen is forced to travel to the United States.
from the 5th Marcantonio Vilaça Prize (2016), and
In 1935 Grete traveled to Buenos Aires with Horacio
“POROROCA: A Amazônia no MAR”, in MAR-RJ (2014).
Coppola, where they settled permanently. There she
returns to photographic and advertising activity,
focusing her work in the modernist ideas of the New-
Vision concepts that she had brought from Europe.
About the Work at the Biennial
Her photographic work includes, among other works,
In the video work Estão sendo tecidos (2013/2018),
series on Buenos Aires and its architecture; landscapes
the multidisciplinary artist Helô Sanvoy records his
of southern and northern Argentina; the aboriginal
mother, Maria Conceição, when she is braiding his
life and crafts of the Gran Chaco region; portraits
hair, while having a long conversation with him and
of various Argentinian artists and intellectuals.
his wife, Dheyne de Souza, about the events of her
childhood: the working conditions in plantations, the
interaction with descendants from enslaved people,
About the Work at the Biennial the life difficulties at the Goiás countryside, the family
traditions, the cares towards the body and, especially,
The work of the artist Gwladys Gambie, which is
towards the hair. This moment for taking care of
usually materialized through drawings, collages
the hair as a context for relevant talks on social and
and performances, is centered around questions
political themes, is a recurring event in the story of
on the black woman and her representations
African descendent families in Brazil. The childhood
both in Martinica, the island where the artist lives
stories from the artist’s mother get mixed up with the
and works, and in the Caribbean in general. The
general life context of the families in the countryside
Caribbean landscape and the creole language as
of Goiás and the Central-West region in the late 1950,
part of the sounding landscape of the region are
referring, therefore, to the formation of the cultural,
important articulations in this reflection, and they
historical and social tissue of the Brazilian countryside
inform both the creation of the artist’s imaginary
and, consequently, to the social and political unequal
and the creation of a specific iconography to
conditions experienced in the country nowadays.
represent, in a decolonial form, the body of the black
woman; which, in Gambie’s imaginary, is a sensitive
cartography, a poetic space. For Bienal 12 | Porto
Alegre, Gambie expanded the collage series The
birth of Manman Chadwon (2018), a figure of her own
personal mythology inspired in Manman Dlo, an
ocean Goddess of the African-Caribbean culture. The
meaning of the word Chadwon, in creole, also refers
to sea urchin, a recurring reference in the artist’s work.

BIENAL 12 CATÁLOGO 422


Janaina Barros APJ (Young Plastic Artists). The artist’s work is a
visual and bodily thought on human existence. Her
(São Paulo, Brasil, 1979) creations arises from the need to deepen existence
and then generate an environment of resistance
and a poetry space. She works with the human body
Visual artist, researcher and professor at the as a political subject and the concerns involving
Department of Plastic Arts at the School of being a woman in a patriarchal and colonial society.
Fine Arts, Federal University of Minas Gerais. Work in the edge, the minimum, the controversial
PhD by the Inter-unit Postgraduate Program in and extreme at the same time. She is one of the
Aesthetics and Art History at the University of artists in the Radical Women exhibition, which has
São Paulo (PGEHA-USP). Master in Arts by the been shown at the Hammer Museums in California,
Arts Institute of the State University of São Paulo Brooklyn in New York and Pinacoteca de São Paulo.
(IA-UNESP). Specialist in Visual Languages by
Faculdade Santa Marcelina (FASM). Graduated
in Art Education with Qualification in Plastic Arts
About the Works at the Biennial
from Universidade Estadual Paulista (IA-UNESP).
Develops research on archive and epistemologies Member of the Agrupación de Plásticos Jovenes (Youth
in contemporary art of black authorship. She has Plastics Group), Janet Toro participated in street
publications on the debate on black authorship actions against the Pinochet’s military dictatorship.
and gender in contemporary Brazilian art. Her performances appeal to the memory, boundries,
and policies of the body, especially the ones regarding
women’s place in a patriarchal society. In Carmín
About the Works at the Biennial (Carmine) (7’15’’, 2013), the artist wears red lipstick and
then rubs 1000 white papers on her lips. The beauty
Janaina Barros is a visual artist, an arts educator and of the first moment fades, and her stained face gets
an academic researcher, whose research encompasses a clown face expression. Her lips feel the pain of
the creation of objects by sewing, embroidering and friction - an echo of the women and girls trafficking,
performing. While her objects reveal an attention that the painting evokes. In the performance El
to the black private and domestic domain, her reflejo (The reflection, 2015), carried out by having
performances emphasize considerations on the black the Museum of Memory and Human Rights in the
female subject, and the tensions and exotifications background, a group of immigrants questions their
created by its presence in the public space. In the identities through a set of mirrors which return
Psicanálise do cafuné: catinga de mulata (2017) and the image of the passersby. There is a continuity
Psicanálise do cafuné: sobre remendos, afetos e between the performance “Este es mi cuerpo” (“This
territórios (2016-2019) series, Barros conducts us to is my body”) at MAC in Santiago, which expands
an inner, feminine and black space, and invites us with “This is my body”, which takes place between
to consider some issues: How can we think about Praça da Alfandega and the Memorial building,
affections in relation to a population living in a during the opening of the Biennial 12. Emerging
permanent terror and violence status? How can we from the body of the buried artist, photos of several
cross the impacts caused by these colonial violence murdered women appear. From this place, Janet
naturalization, and veil/reveal contemporary heads to the Memorial and crosses her architectural
epistemicide and implementation technologies of rhetoric carrying a painting that challenges us.
these violence? How can we activate our memory as a
key to reconstruct collective narratives, as a resistance
strategy? What are the specific learning methods,
traditions and epistemologies of black families? How
Jessica Kairé
can we go back to our book of black recipes and (Cidade de Guatemala,
dive into our ancestral knowledge: in herbal baths,
in prayers for all evils and in charms to find love?
Guatemala, 1980)
Jessica Kairé (Guatemala / New York) is an artist and
Janet Toro educator. She is also the co-founder of NuMu (Nuevo
Museo de Arte Contemporáneo), an egg-shaped
(Osorno, Chile, 1963) museum located in Guatemala City that aims to
satiate the lack of other contemporary art institutions
in the country. In her practice, Kairé employs artistic
Chilean visual artist and performer. She studied
and domestic elements to create works that often
a Bachelor of Art at the Facultad de Artes da
solicit public participation through various forms
Univesidad de Chile. Participated in the group
of activation. Her work addresses issues related to

423 BIENAL 12 CATÁLOGO


the Guatemalan and Latin identity in general and
About the Works at the Biennial
specific subjects of her native country: violence,
underdevelopment, and tropicality. She has exhibited Jori Minaya was born in New York but lived
internationally, at venues including Proyectos in the Dominican Republic 21 years old. She
Ultravioleta, Guatemala City; Museo Jumex, Mexico currently lives in the United States, the Global
City; Los Angeles County Museum of Art (LACMA), North. Her daily perceptions of stereotyped
California; 2da Gran Bienal Tropical, Loíza, Puerto disconnections and interpretations are a field of
Rico; El Museo del Barrio, New York; and the XVI the artist’s creative exploration. The images of
and XIX Bienales de Arte Paiz, Guatemala City. #dominicanwomengooglesearch came from her
Google search on the Dominican women. The
outcomes are representations in lower resolution,
About the Works at the Biennial divided into its parts, enlarged the human scale, and
printed in a suspended form in the exhibition hall. They
New York-based Guatemalteca of Jewish decent are body parts that wear colorful patterns that adapt
Jéssica Kairé deploys food, textiles, and other forms to the fantasies about the typical characteristics of
of craft in projects that call for public’s participation tropical women for export. The format resembles a
and that unravel a bitter-sweet commentary on the collection, and its classification is associated with
issues of gender, national, and regional identity. tropical greenhouses. The accumulation parodies
Under the veil of acerbic humor, the videos from the stereotypes, and truisms, in addition to the male
series Such is Life in the Tropics and the soft sculptures imagination over the repeated patterns featuring
collectively entitled CONFORT speak to pervasive tropical women. It’s about decolonizing histories,
violence that permeates Guatemala’s everyday life. cultures and already established ideas. Siboney is a
Appropriating the format of a TV cooking show, Such performance in two parts. The first part of Siboney
is Life in the Tropics can be seen as the updating of is a video that documents the process of copying
Martha Rosler’s iconic feminist video Semiotics of the tropical pattern of a found piece of fabric on
the Kitchen (1975) for the context of contemporary a museum wall. At the same time, she explored
“tropical” Guatemala. Starring the country’s native the collection of the Centro León, D.R., and chose
fruits as the means to construct do-it-yourself self- a painting by Vela Zanetti (one with a picture of a
defense weapons, Kairé’s videos, as well as her plush, dancing mulatta). The artist worked about a month
squeezy objects, serve both as a denunciation of to make this mural, in which she used gouache
violence and as a refusal to subject to the fear of it. paint. In the performance presented afterward,
Jori wetted her body and rubbed it against the
wall, causing the colors to smudge and blend,
Joiri Minaya while an adaptation of the song Siboney by Connie
Francis was playing. The performance delivers a
(Nova York, Estados critical analysis of the concepts of monumentality,
Unidos, 1990) the body that turns into a brush or eraser,
and the vanishing of tropical stereotypes.
Joiri Minaya (1990) is a Dominican-United Statesian
multi-disciplinary artist whose recent works
focus on destabilizing historic and contemporary Jota Mombaça
representations of an imagined tropical identity.
Minaya attended the Escuela Nacional de Artes (Natal, Brasil, 1991)
Visuales in Santo Domingo (2009), Altos de Chavón
School of Design (2011) and Parsons the New School Jota Mombaça is an interdisciplinary artist whose
for Design (2013). She has participated in residencies work derives from poetry, critical theory and
at Skowhegan School of Painting and Sculpture, performance. The sonic and visual materiality of
Guttenberg Arts, Smack Mellon, the Bronx Museum’s the words plays an important role in her practice,
AIM Program and the NYFA Mentoring Program for which generally relates to anti-colonial criticism
Immigrant Artists, Red Bull House of Art, the Lower and gender disobedience. Through performance,
East Side Printshop and Art Omi. She has been visionary fiction and situated strategies of
awarded a Socrates Sculpture Park Emerging Artist knowledge production, she intends to rehearse the
Fellowship as well as grants by Artadia, the Joan end of the world as we know it and the figuration
Mitchell Foundation, the Rema Hort Mann Foundation of what happens to the fall of the Modern-Colonial
and the Nancy Graves Foundation. Minaya’s work is subject from his podium. Currently she lives and
in the collection of the Museo de Arte Moderno and works between Fortaleza, Lisbon and Berlin.
the Centro León Jiménes in the Dominican Republic.

BIENAL 12 CATÁLOGO 424


Mónica Mayer, who attended the program. Monica
About the Works at the Biennial
joins the Biennial with El Tendedero (The Clotheslinne).
The multidisciplinary practice of the artist Jota Atmospheres is a work made between 1968 and
Mombaça unfolds from two key-elements, which are 1974, using fireworks of different colors (colored
constantly stumbling, articulating and questioning smoke) in natural spaces of California. The goal was
themselves: their written and performance processes. to transform and soften the landscape through the
The written processes flow into poetic rehearsal, introduction of a feminine impulse to the environment,
science fiction and forms of visionary fiction, including and recreate pre-historical activities focused on
premonitions and prophetic prose. From this nodule women - such as lighting fires or worshiping gods.
comes Série bandeiras (2017-2020), which will be
presented at Bienal 12 | Porto Alegre, in an amplified
version with 21 pieces. As a second key-element in Juliana Dos
Mombaça’s investigation process, the performance
grows stronger from the action series A ferida
Santos
colonial ainda dói (2015-2018). It is from the inside (São Paulo, Brasil, 1987)
of the performance key that we can think about the
work Así desaparecemos (2019-2020). The project
Visual artist and art/educator, with works in video,
is designed in relation to the burning of historical
performance, photography and multimedia.
files. For Brazilians, this is a reference to the official
Juliana has been investigating the color Blue of
order, given by Rui Barbosa in 1892, for the burning
the flower Clitoria Ternátea as a possibility of color
of slavery-related files, and to the fire in the National
as a sensitive experience in the exploration of the
Museum in Rio de Janeiro, in 2018. Positioned before
senses. She held her first solo exhibition in 2018 as
the work Auras anônimas, from Beatriz González,
guest artist/teacher at the Academy of Fine Arts
Mombaça reads, from a paper in flames, texts
residency in Vienna, Austria. Her first solo exhibition
written by victims of the Colombian conflict.
in Brazil was for the edital Season of Projects of
the Paço das Artes in 2019. That same year she

Judy Chicago was awarded a bronze medal at the 16th Ubatuba


Hall of Visual Arts. Currently participates in the
(Chicago, Estados Unidos exhibition Abre-Alas 16 of A Gentil Carioca gallery.

da America, 1939)
About the Work at the Biennial
Judy Chicago is an artist, author of fourteen
books, educator, and humanist whose work and “Entre o azul e o que não me deixo/deixam esquecer”
life are models for an enlarged definition of art, an is an interactive and performative installation,
expanded role for the artist, and women’s rights composed by light, sound and a presence sensor. The
to freedom of expression. Chicago is most well- work has arisen from Juliana dos Santos’ reflections
known for her role in creating a Feminist art and art on the poetic limits and possibilities of being a black
education program in California during the early artist, which she articulates through questions:
1970’s, and for her monumental work The Dinner “Would it be possible to talk about Blue when
Party, executed between 1974 – 1979, which is the people remind me all the time that my limit is way
centerpiece of the Elizabeth A. Sackler Center for below the sky? Which are the demands that they/I
Feminist Art at the Brooklyn Museum in New York. will not let me forget? Can black artists abstract?
Chicago’s work has been exhibited widely in the How can I talk about blue when people always yell
United States and internationally and her influence “black” when they see me? How can I forget myself
continues to be acknowledged worldwide. Judy in the blue when the memory from other people
Chicago is represented by Salon 94 in New York disrupts my dream?” Therefore, the installation is
and Jessica Silverman Gallery in San Francisco. an elaboration of an immersive experience, arising
from this search for sensitivity and plastic-formal
experimentation, in an exercise and attempt to talk
About the Work at the Biennial about blue amongst other sharing possibilities.

Judy Chicago is an artist who has set the agenda


for feminist art in the United States since the late
sixties. In conjunction with Miriam Schapiro, Chicago
pioneered an art education unique program at CalArts
(UCLA), which has influenced the Mexican artist

425 BIENAL 12 CATÁLOGO


Juliana Góngora Juliana Vidal
(Bogotá, Colômbia, 1988) (Cuenca, Equador, 1993)
Works with primitive and organic materials: earth, Graduated in Visual Arts from the University of
salt, spider wires, grains of sand, stones, glass. Collects Cuenca, co-founder of the public art project, La
sculptural conditions: strength, subtlety, press, wait, Carretilla - Arte Ambulante. In 2018 Vidal was
stop, moisten. As an artist encourages the material winner of the Paris award at the XIV Cuenca
consciousness and states that, as a species, need Biennial, in 2019 she was a resident artist at the Cité
to take care of our daily actions instead of exposing International des Arts, in Paris, for six months. She
our discourses of power. Some of her exhibitions and has participated in the shows, “Arte mule”, Quito,
recognitions are: Art + château Burgandy, France, No Lugar, Artefactos y Gadgets, with the Cuenca
Bienal 12 Porto Alegre (2020), Zona Maco CDMX Biennial; DES DOBLA MIENTO, Cuenca, The After
2020, “Pasado, tiempo, futuro: Arte en Colombia en Being, Quito, La Forme du Temps, Paris, “Error
siglo XXI” MAMM (2019), Artecámara ARTBO (2018), Process”, InVeLaboratorio of experimental video
residence of MacVal Musèe d’art contemporain du training, Valparaiso, Chile. (2014), “PPC’sPoPUp
Val-de-Marne within the mark of the year Colombia- Kino2” Berlin-Germany (2015), Her work has been
France (2017). Winner of the creation scholarship for published in the books, “Maps of Contemporary
emerging artists from the Ministry of Culture (2015), Art in Ecuador”; “Artifacts and Gadgets”; Living
FLORA ars + natura Artist en Residencia scholarship Structures, Art as a plural experience, Magazine;
(2015); residency in Mildred’s lane New York, USA INDEX, Contemporary Art; The Download Magazine,
(2016) and winner of the Young Art Award in 2016. Cultural Platform, and on various digital platforms.

About the Work at the Biennial About the Work at the Biennial
Techo de leche y tierra (Milk and Soil Ceiling) is a The young Cuenca-born artist Juliana Vidal (Tania
delicate and monumental installation assembled Marcela Vidal Barrera) investigates the lasting
over the viewer’s height, by artist Juliana Góngora physical allure of traces through the media that range
at Biennial 12. The artist researched the process of from analog photography to sculptural practices
turning liquid milk into a solid yarn with which it is based in mold-making. Whether by the means of
possible to knit. The project was born from a tale by a photographic camera or malleable materials as
Marguerite Yourcenar, “La leche de la muerte” (“The diverse as clay, plaster, and contemporary dental
milk of death”), about a buried woman whose milk compounds, she registers indexical signs that mediate
continues to sprout to feed her son. Or from Hera’s absence through space and time. Through these
story, that would have created the Milky Way by the operations, her work is a sort of extended meditation
spattering of her breast milk. Juliana physically and on the visibility and invisibility of diverse human
intuitively investigated how to translate these stories bodies, their persistence, and the imprints they
into a real dimension by converting milk into fiber. leave on the social spaces we inhabit. Specifically,
She extracted the milk’s casein, added lime, and soil her artisanally produced earthen bricks allude to
to form a mass combined with earth and modeled class as it is imbricated with the different modes of
by hands. The yarn came after an experiment of construction in Latin American cities, pointing out the
two years, first in the laboratory and after in her issues of their spatial organization and segregation.
home kitchen, where she watched carefully and
emotionality, the milk always different, and extremely
permeable to its surrounding environment. The yarn Julieta Hanono
has an elastic and almost translucent appearance.
Techo de leche y tierra (Milk and soil ceiling) embraces (Buenos Aires, Argentina, 1962)
the bodies that circulate beneath its space.
Born in Buenos Aires. She studied Philosophy and
Visual Arts at the University from Rosario (Argentina).
She arrives in Paris in 1990 invited to the School of
Fine Arts. She currently lives and produces in Paris,
Rosario and Buenos Aires. Her work is related to her
political experience in Argentina in the 1970s, with the
disappearance, prison and exile to France. Today it is
constituted as a meeting point between two different

BIENAL 12 CATÁLOGO 426


geographical spheres, Latin America and the northern possible, her work is strikingfor its imagination,
hemisphere. Through her productions from a feminist relevance, and exactitude. She indulges in a honing
point of view, she commits herself to thinking the of the techniques of theobserver, but transforms
critical and aesthetic models between North and this passive observation into active performance
South, questioning language in its own capacity in her video pieces. Humor,lightness, and grace
to translate personal and collective stories. Her characterize the works of Kan Xuan, running
conceptual works function as poetic propositions that alongside a deep sense of criticalirony.Recent solo
unfold in text, drawing, sculpture, film, neon, poster, exhibitions include: “Racing Gravels”, Times Art
etc. Her proposal is inscribed in a work in progress Center, Berlin, Germany (2019); “Light”,Galleria
that he calls Affective Translation and is developed Continua Les Moulins, France (2016); “Kan Xuan”,
in various interdisciplinary projects based on the IKON, Birmingham, United Kingdom(2016);
role of the artist as a translator interpreter. Latest “Millet Mounds”, UCCA, Beijing, China (2012).
exhibitions: (2017) Centro Helio Oiticica, Rio de Janeiro,
Brazil, (2018) Museo de la Memoria Rosario, Argentina,
(2019) Museo de la Cárcova, Buenos Aires, Argentina, About the Work at the Biennial
(2020) will participate in the Mercosur Biennial, Porto
Alegre, Brazil and the Pompidou Center, Paris, France. Kan Xuan is a visual artist known for her experimental
videos and considered one of China’s most important
female video artists. One by One is a video in which
About the Work at the Biennial she registers the idea of movement as if she were on
a moving train. When the camera stops, it focuses
The installation Traducir la impenetrable (Translate on military attire. The moment the images advance
the Impenetrable) presents the work made by Julieta quickly, one can hear the city sounds, its blows and
Hanono in collaboration with members of the Gom drills, and above them, the bird songs. The speed of
community (peoples coming from The Impenetrable the images molds a visual texture, a video in which
in the Chaco), living in Rouillón, outskirts of Rosario the contradictions of urban life are redoubled, the
City, Argentina. Her interlocutors in this community tensions city x nature, and the city regulation. Kan
are Arsenio (making clay animals figures, and Xuan›s films, seemingly light, fluid, and silent, hint
Ruperta (responsible for moving plant species from subtle political allusions. In this video, she starts
Chaco to Rosario). The multitude of small animals from personal experience, in a film that captures
represents the idea of diaspora. There are as many her dashing body through subway tunnels shouting
lives as the kilometers that separate Rosario from her own name: “Kan Xuan, Ai!” It is a simple video,
Porto Alegre: 1208. Moreover, the installation presents which connects us with the speed of movement
an herbarium made from the direct impression of and with dissonances expressed in the first person.
the plant species gotten as a gift from Ruperta’s “It is about trying to become closer to and trying
garden. Translucent parchment paper prints overlap to follow, in every moment, my wish to exist in
creating a delicate visual texture. The installation that distance between ‘thinking’ and ‘feeling’”.
includes a series of black-on-white prints of a text
in which Juliet condenses her experience of being
between two languages, Spanish and French. It Kimiko Yoshida
adds a Gom version translated by Arsenio. Thus,
it deals with the experience of the diaspora of the (Tóquio, Japão, 1963)
Gom community as well as her own life experience
between Paris, Buenos Aires, and Rosario. Kimiko Yoshida was born in Tokyo, Japan in 1963.
Qom - A people, maybe? Feeling oppressed as a woman, she left Japan in
1995 and moved to France to pursue her artistic
ambitions. Since gaining her artistic freedom, Yoshida
Kan Xuan has been working prolifically. Her work revolves
around feminine identity and the transformative
(Anhui, China, 1972) power of art. In her most recent project, “Painting.
Self-Portrait” she wears elaborate costumes and
paints her skin in a monochrome color that matches
Born in 1972, Anhui, China. Kan Xuan now lives and
the background. For the artist, the costume is “the
works between Beijing in China and Amsterdamin
field of diversion, detournement, and deflection.” The
Netherlands.Kanxuan mainly works in video,
visual elements, coupled with the titles’ reference
highlighting the trivial elements, feelings, and
to artists and paintings of the past are meant to
sensations that weexperience daily but often
come together to challenge conventional notions
rarely notice. Reproducing them as directly as

427 BIENAL 12 CATÁLOGO


and traditions of art and cultural identity. “I want
About the Work at the Biennial
an image that tries to rethink its own meanings
and references.” She continues to exhibit worldwide, Living and working from Saint Croix, part of the
and her work is found in the permanent collections former Danish West Indies and current US Virgin
of the Fine Arts Museum of Houston, the Israel Islands, visual artist La Vaughn Belle centers her
Museum, the Kawasaki City Museum, and the investigation—through drawing, painting, video,
Maison Européenne de la Photographie in Paris. installation, public intervention and performance—on
coloniality, its implications and tangible marks and
the effects in the past and present. How to make
About the Work at the Biennial visible the unremembered? Belle pursuit of this crucial
question through her engagement with elements
As a reaction to the pressures from a conservative and of architecture, history and archeology are both
patriarchal society, Kimiko Yoshida left Japan and masterful and lyrical, creating space to exploring
her Samurai bloodline to settle in France. “Since I left social contexts and collective narratives. For Bienal 12
my country to avoid the slavery and humiliation of | Porto Alegre, Belle produced a large-scale version of
many Japanese women, I have developed a feminist the work Storm (And Other Violent Interruptions Of The
protest against contemporary clichés about women’s Pintoresco) (2016-2020). Originally a series of charcoal
seduction and voluntary service, as well as against drawings on paper, in this version the charcoal
gender stereotypes in general”, declared the artist. drawing is applied directly on the wall. Contrasting
Set against monochrome, white, black, red, blue, and the sublime palm tree with images of the chaos of the
yellow backgrounds, the artist proceeds in a complex storm, the work stands as a disruption to narratives
and ceremonial performance that she records in a of the picturesque oft-related to the Caribbean
photograph. By means of jewelry, hats, and makeup, landscape in colonial discourse. It unveils the tension
she expresses herself through her body (body art) between ideas of fragility, vulnerability and resistance.
to allude to cultural translations and women (Maria
Antonieta, Madame Pompadour, Medusa) or figures
like the Minotaur. In these representations, she
mentions the history of art (Caravaggio, Boucher,
Lídia Lisbôa
Vigée-Lebrun, Picasso). It is not a self-portrait, but a (Guaíra, Brasil, 1970)
process of ritual, theatrical, and joyful transformation,
in which the artist focuses on the phenomenon of
Visual artist and performer, born in Guaíra, Brazil.
female identity and the transforming power of art.
Lídia has a degree in Metal Engraving from the
Museu Lasar Segall, Sculpture and Ceramics from

La Vaughn Belle the Museu Brasileiro de Escultura (MuBE) and the


Liceu de Artes e Ofícios, among other backgrounds
(Moriah , Trindade e in Brazil and abroad. Her works seek to evoke the
power of women as the driving force behind the
Tobago, 1974) meaning of their own existence in the world. The
artist shapes and weaves stories of her life, the lives
La Vaughn Belle makes visible the unremembered. of her family members and close friends, which
She is a visual artist working in a variety of disciplines become universal, representing the stories of many
that include: video, performance, painting, installation other people in the Brazilian reality. A black woman,
and public art. She explores the material culture of growing up and living in a society full of prejudices
coloniality and her art presents countervisualities and structural violence, veiled by naturalized customs
and narratives that challenge colonial hierarchies and behavior. Lídia seems to weave and mold to
and invisibility. She has exhibited in the Caribbean, disrupt, to undo what must be undone and to give
the USA and Europe. Her work has been featured a glimpse to ways of life and expressions that
in a wide range of media including: the NY Times, many years of concealment wanted to ostracize.
Politiken, VICE, The Guardian, Caribbean Beat,
the BBC and Le Monde. She holds an MFA from
the Instituto Superior de Arte in Havana, Cuba, About the Works at the Biennial
an MA and a BA from Columbia University in
NY. Her studio is based in the Virgin Islands. Even though Lidia Lisbôa has been trained in
sculpture and painting, performance is the central
element of her practice. From the connection to
performance arises her different artistic languages,
such as the sewing, crocheting, mooring or

BIENAL 12 CATÁLOGO 428


assemblage of fabrics (mostly) or other disposed York 2020; Ana Tiscornia at OMI, Ghent, New York
materials. In this process, the created object closes 2018; Colateral o premeditado, Galería Nora Fisch,
the circle, inspiring the artist to execute a new Buenos Aires 2017; Des-habitaciones, Galería del
performance or performative action. In this room, Paseo, Lima 2015; El estado de las cosas, Museo
where a brief and tangential reference to the Gurvich, Montevideo, 2013. She represented Uruguay
experience of being in the artist’s studio is carried out, at the II and IX Havana Biennial, Cuba, and at
Lisbôa presents a set of works using these different the III Lima Biennial, Perú. She writes for several
languages: Cicatrizes, with its volume and explicit specialized art publications and is the author of the
sewing; Chorões and Cordões - umbilical for the artist, book, “Vicissitudes of the Visual Imaginary: Between
an articulation of ceramic pieces and doll body parts; Utopia and Fragmented Identity”, published by White
Cupinzeiros, a set of ceramic sculptures giving access Wine Press in collaboration with Distrito Cuatro.
to her childhood stories in the countryside of Paraná;
and Casulos, the small ones being a reference to the
uterine space, and Casulo, the big one being a crochet Liuska Astete
object commonly activated by the artist in some of her
performances. Her practice enables us to glance at a
Salazar
possible transition from the object to the performance,
as a formal artistic strategy and feminist tactic.
(Santiago, Chile, 1984)
Woman, Mother, Visual Artist of performance,
Liliana Porter e painting, muralism and ceramics. Bachelor of visual
arts, had a diploma in art therapy, phytotherapist
Ana Tiscornia and monitor of artistic workshops. Born in Santiago
de Chile on November 5, 1984, she had studied
(Argentina / Uruguai, 1941 / 1951) occupational therapy for 3 years at the university
of Chile, then in 2008, she moved to study arts at
the University of Concepción.Since 2009 she has
Liliana Porter been performing in natural and urban spaces,
participating in various performance gatherings
Born in Argentina, 1941, resides in New York since 1964. in Concepción, Lota and Santiago.In 2012 she
She works across mediums in printmaking, painting, decided to travel through Latin America, carrying
drawing, photography, video, installation, theater, out a project called “Tierra Andante” that linked
and public art. Her work has been exhibited in many performance, clay and travel.In the feminist fall of
Institutions including the Museum of Modern Art, the 2018, she participates in the formation of “Efímeras,
Whitney Museum of American Art, the New Museum, colectiva de performance política” (Efímeras,
Museo Tamayo, Museo de Arte Latinoamericano collective of political performance), and in 2019
(MALBA), Museo de Bellas Artes de Santiago de Chile she joins the “Brigada de Mujeres Muralistas”
and many others. Her works are in public and private (Muralist Women’s Brigade) painting themes
collections at the Museo Nacional de Bellas Artes related to feminism and defense of the territories.
in Buenos Aires; TATE Modern, London; Museum of
Modern Art, NY; Whitney Museum of American Art,
NY; Philadelphia Museum of Art; Museo de Bellas
Artes in Santiago; Fogg Art Museum at Harvard
About the Works at the Biennial
University, MA; Museo de Arte Moderno in Bogotá; Liuska Salzar is a performance therapy artist (a
Museo del Barrio, NY; Metropolitan Museum of Art, member of the political performance collective
NY; Smithsonian American Art Museum, WA; Museo Efímeras, Political Performance collective), and
Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid. mural painting (a member of the Women Muralist
Brigade). Biennial 12 presents three records of the
Ana Tiscornia artist’s performances, enacted in front of emblematic
buildings in the city of Concepción, Chile. Those
Born in Uruguay, 1951, resides in New York since are her “protest exercises”, carried out in 2010, in
1991. She is emeritus professor of Art from State which the artist exposed her naked body covered in
University of New York at Old Westbury, and was red, black and yellow paint. The red, in front of the
Director of the Amelie A Wallace Gallery at that Courts of Justice building (which the artist renames
University. Her practice encompasses installations, In-justice), is related to different types of violence
collages, objects, prints and paintings, and has exerted on the population. The black, in front of
been shown in several exhibitions, among them: the Cathedral, is opposed to the white of purity
Left, Righ and Center, Josee Bienvenu Gallery, New or chastity that the church seeks to convey. The

429 BIENAL 12 CATÁLOGO


yellow, used in front of the Pinacoteca, is related part, issues of diaspora, hybridity and black female
to the unseen light by those who follow a mentor subjectivity as well as their formative role in the
or teacher who reproduces a commercialized history of modernism. In the concept-video Landscape
and unequal education system. The intervention (Western Hemisphere) (2010-2012), O’Grady turns her
echoes the student struggle that tries to free young hair into a landscape. Captured from different close-
people in debt due to a pricy education. Liuska’s up angles, the strands move in different directions
starting point is her own naked body, covered in the and intensity by the wind, accompanied by the
paint performance, to reject the socially accepted soundscape of crickets, birds, cicatas and the wind
beauty canons as well as the repressive elements itself. O’Grady practice, and this work in particular,
represented by the Justice, Church and Educational offer several points of meditative-connection with a
System. The body rises as an instrument of protest. younger generation of artists of the African diaspora
in Brazil, Latin America and the Caribbean.

Lorraine
O’Grady Lungiswa
Gqunta
(Boston Massachusetts,
Estados Unidos, 1934) (Port Elizabeth , África
do Sul, 1990)
Lorraine O’Grady is a conceptual artist and cultural
critic whose primary form for four decades in various Lungiswa Gqunta grapples with the complexities of
genres, including text, photo-installation, video and the South African post-colonial cultural and political
performance, has been that of the diptych, or at landscape. Creating multisensory experiences that
least the diptych sense. In O’Grady’s art, whether attempt to articulate the social imbalances that
live performance or two-dimensional wall works, persist as a legacy of patriarchal dominance and
multiple emotions and ideas co-exist, even those colonialism, Gqunta exposes different forms of
that might be considered contradictory, such as violence and systemic inequality. Lungiswa Gqunta
anger and joy, or classicism and surrealism, while (b.1990) obtained her undergraduate degree at
technical means seem governed by both chance and the Nelson Mandela Metropolitan University, 2012
total control in order to express political argument and her MFA at the Michaelis School of Fine Arts in
and unapologetic beauty simultaneously. Across the 2017.She is currently completing residency at the
whole, essays and images interpenetrate. The goal Rijksakademie in Amsterdam.Recently Gqunta
of her diptychs—sometimes explicit, two images has exhibited at Gropius Bau, Berlin, Germany,
side by side, at other times implicit, as with two Kunstverein Braunschweig, Germany, Manifesta
types of hair, silk and tumbleweed, videotaped on Biennial 12, and Wanas Kunst Museum, Sweden
the same scalp at different times of the same day and Documenta 14. Upcoming projects for 2020
and creating permeating worlds—is not to effect a include Ubuntu a Lucid Dream, Palais de Tokyo,
mythic “reconciliation of opposites,” but rather to Paris, Overview Effect, Museum of Contemporary Art
enable (even force) a conversation between dissimilars Belgrade, Serbia and Biennial 12, Porto Alegre, Brazil.
long enough to induce familiarity and to present
a kind of both/and thinking needed to destabilize
the West’s hierarchical, either/or categories. About the Works at the Biennial
South African sculptor and visual artist Lungiswa
About the Work at the Biennial Gqunta's multisensory works explore the social
imbalances deriving from colonialism: colonial
For over four decades, conceptual artist and landscapes and the spatial legacies resulting
cultural critic Lorraine O’Grady has been making from them, as is the case of the works presented
sharp intellectual interventions through her artistic at Bienal 12 | Porto Alegre, Gqunta, the video Feet
practice—realized in a various media such as text, Under Fire, (2017) and the installation The Softness
photo-installation, video and performance—and of A Woman's Touch (2018-2020). What do we think
through her theoretical texts. One example is her now about when we think about woman's touch? To build
canonical 1992/94 essay “Olympia’s Maid: Reclaiming the present version of the installation The Softness
Black Female Subjectivity,” an important contribution of A Woman's Touch, Gqunta engaged in intense
to the fields of art history and intersectional feminism. collaborative work with four local black woman artists
O’Grady’s investigation addresses, for the most and art historians (Daniele Reis, Malena Mendes,

BIENAL 12 CATÁLOGO 430


Mariana de Jesus e Paula Fernandes) during the
course of four weeks. Although, the knots formed
Maruch Santiz
and dismantled in this radical and lyrical weaving Gomez
process remain unavailable to us, we are still invited
to make additional considerations: What does this (Cruztón, Municipio de San
intervention in the space do with us? How ideas of Juan Chamula, México, 1975)
touch, proximity, and intimacy on the one hand,
colonial landscapes, spatial legacies and violence on
Photographer, writer and artisan. She is from the
the other are articulated? What are the ruptures that
community of Cruztón, municipality of San Juan
this collaborative black female poetic announces?
Chamula, Chiapas, Mexico. Maruch started taking
pictures since 1993. In her photos and texts in Tzotzil

Marcela Astorga to read them as comments. First, it was a series


of ancestral beliefs, that practical philosophy
(Mendoza, Argentina, 1965) that takes us beyond the objects in the photos, an
invisible level. Over time, he created several series,
for example “The Art of Ancient Medicine”, among
I was born in Mendoza, Argentina. Since I was 19 years others. Maruch learned to shepherd sheep at 5
old I have lived in Buenos Aires.The omnipresence years of age and, since childhood, she learned from
of the Andes, the Catholic Jewish family in which I her mother and grandmother the different wool
was born, the public school in which I was educated, processes for a garment made of 100% sheep wool,
the context of my early years, were decisive in my she dedicates herself to the embroidery design of
way of producing.I think there is a matrix that builds Chamula and to the costume of 100% lamb wool
on our first experiences.There we learn to see, to and preparation of soaps with vegetable extract.
feel, to think. Successive experiences only shape In her career, Maruch has been a researcher, her
this archetype.The summit, the low; the light, the images always accompanied in Tsotsil and Spanish,
shadow; the thaw, the flood, the dryness; repetition, adopting ideas, thoughts, feelings: the steps of the
accumulation; border; the texture; the color; the people between the past and the present, among
abuse of power and the desire for a more equitable natural beings. Graduated in the 8th Diploma of
and tolerant reality ... EVERYTHING is registered in Visual Arts Production (2019), held in residence
the body that cannot be sustained without a skin. I at the San Agustín Etla Arts Center, Oaxaca.
produce being aware that the sense of sight is in me, Her education has been in different subjects.
an inevitable center and art, a vehicle of knowledge.

About the Works at the Biennial


About the Works at the Biennial
In this series of photographs and texts entitled
In her sculptures, Marcela Astorga deals with Creencias de Nuestros Antepasados (Beliefs of our
collapsed debris guided by an ideas of caring and Ancestors, 1994), Maruch Santíz delivers a report that
of rescue. She covers the debris with metal blades, arises from her participation in the Photographic
taking care and protects them. “Óculo” (“Glasses”) Project of Chiapas. This project, carried out in 1993,
consolidates in the thought and possibility of supplied the artist, aged 17, with cameras, films,
changing the situation of a real space. It deals and lab materials for documentary purposes.
with the rupture that generates something new. It She combined photographs of everyday objects,
pierces the architecture and makes it permeable nature, and people, with sayings and beliefs of the
like a skin; communicates the interior with the indigenous peoples of Chiapas, who had no written
outside. This video installation records the partial records. It is a state of emergency experience that
destruction of the ceiling of a shady space in which she compiles in tzotzil, her mother language. These
light penetrates and transforms the perceptual are not simple photographs of the indigenous,
experience of space. The beating sound on the but photographs taken by an Indigenous woman.
ceiling and the images of the light beams that are When she takes the camera, photography ceases
generated, are narrative elements of this installation to be an instrument of social control to become an
video. The glasses are set to star in a constellation instrument of affirmation of her cultural identity.
(Southern Cross). In the destruction, a landscape of
lights is built; like a new sky on the human scale.

431 BIENAL 12 CATÁLOGO


Mirella Maria Mónica Mayer
(São Paulo, Brasil, 1990) (Cidade do México, México, 1954)
Born in São Paulo (SP), she lives and works in São Mónica Mayer (Mexico, 1954) studied visual arts at
Paulo. She holds a bachelor’s degree in Visual the UNAM National School of Plastic Arts and in
Arts from the State University Júlio de Mesquita 1980 obtained her master’s degree in art sociology at
Filho (UNESP) and is Master in Visual Arts / Art Goddard College in Los Angeles, California, where she
Education program by the same institution. also participates, for two years now, in the Feminist
Creator of the Quilombo Mulheres Negras artistic Studio Workshop in the Woman’s Building. Mayer
project, that provides seminars, exhibitions and is an artist who disagrees with the definitions of
artistic experiences produced by black women. In art. Restless, critical and with a fine sense of humor
the field of her production/experience permeate applied in all the fields of her production, she has
photography, collages and textile art, bringing developed a comprehensive approach in which, in
symbolic resignifications in the field of plasticity, addition to performances, drawings or interventions,
memory and existence. Her current investigation she considers writing, teaching, and active
derives from 2012, developing research on retrieving participation in the community as part of her artistic
records, reports and visual production of memories production. According to various publications, she is
of family members of the same surname: Maria. considered a pioneer of performance arts and digital
Through research she deepest into the relationships graphics in Mexico and internationally recognized
of affection involved in the memory of that surname, as a precursor and promoter of feminist art.
through embroidered images, as a recreation of the
stories of several Marias present in the artist’s life.
About the Work at the Biennial
About the Work at the Biennial El Tendedero (The Clothesline) is a participative
installation that Mónica Mayer first presented in
In Marias de minha vida (2019), the visual artist, Mexico in 1978. Since then it has been renewed
arts educator, researcher and master in education on many occasions. It is a work that practices the
Mirella Maria combines time and memory, tied poll methodology and invites the public to leave
up in bibliographic narratives from her family written answers hung in a structure that resembles
members. The starting point for the research is the a clothesline, which gives the work its name:
artist’s attempt to understand the reason why her El Tendedero (The Clothesline). The first version
last name is “Maria” — a common name inside invited the public of Mexico City to complete the
the Brazilian context. During this process, Mirella sentence: “As a woman, what I hate most in the city
Maria orally and photographically records her is… “. The ongoing femicides have been encouraging
family members, an immersion in which the artist international feminist movements. In this context,
discovers substantial stories of families that are Mayer’s work gets updated and urgent. The questions
linked to the name-last name and to the ancestral raised from this work, harassment and rape, make
memories. In this research, there is a curiosity that room for participatory analysis and criticism of
is not shared amongst the people in her family; the violence against women in contemporary society.
artist sees herself before colonial wastes that are still
present in the construction of her name-last name:
“Maria” is the name of the owners of the enslaved Mujeres Públicas
Africans, which was transferred as a mark of power
to generations of black families in Brazil. Mirella (Buenos Aires/Córdoba,
Maria formats images of this network of family Argentina, 2003)
members, composed mainly by women who carry
this name-last name, in a dress. This way, “’Marias’
Mujeres Públicas (Public Women) is a feminist
who have run through time will still be present in
collective of artistic activism formed by Fernanda
name, last name, image and living memory”.
Carrizo, Lorena Bossi and Magdalena Pagano in
Buenos Aires in 2003. They have carried out and/
or participated in many actions, interventions,
exhibitions and meetings in Argentina and other
countries. Their work is exposed mainly outside the
conventional spaces of visual arts, developing around

BIENAL 12 CATÁLOGO 432


graphics and actions in the public space, the object, wonderful and the abject. Mattiuzzi participated at the
the video and the installation. His work proposes exhibition Love and Ethnology in HKW/Berlim in 2019,
to question and widen the boundaries between she presented the new process titled Whitenography
art, politics and activism, always aspiring to be a and the performance on white paper at the exhibition;
contribution to contemporary feminist struggles. her film Experiencing the Flooding Red won the Best
They participated in: Feminist Forum, Malmö, Sweden Short Film award at the X Janela Internacional de
(2006), III Encuentro Feminista Nacional de Paraguay, Cinema de Recife (BRA). In 2018, she participated
Encarnación (2007), European Social Forum, Malmö in the XXXIII Bienal de São Paulo in the Afro-
(2008), Primer Campamento Latinoamericano affective affinities project. Mattiuzzi lives in Berlim.
de Mujeres de Movimientos Populares, Vargas,
Venezuela (2009), Oncena Bienal de La Habana,
Cuba (2012), Fundación Proa, Buenos Aires (2014), About the Work at the Biennial
Museo Reina Sofía, Madrid (2014), Teorética arte +
pensamiento, San José de Costa Rica (2015), Museo At Bienal 12 | Porto Alegre, the performer and visual
Emilio Caraffa, Córdoba, Argentina (2016), Pratt artist Michelle Mattiuzzi presents the work Jardim
Gallery, New York, USA (2016) among other spaces. da Abolição (2020), an installation articulating one
hundred and one vases of varied sizes; eleven power
herbs and flowers, cultivated by oral traditions and
About the Work at the Biennial by Brazilian and Latin American healers (such as
rosemary, rue, pepper, petiveria, or amansa-senhor,
Mujeres Publicas (Public Women) is a Feminist Group as it is known due to its strategic and subversive
of Artistic Activism comprised of Fernanda Carrizo, use by slaves); earth and the phrase in neon, “A
Lorena Bossi, and Magdalena Pagano. Their activism intuição liberta a imaginação” (intuition frees the
considers that creativity and visual impact are key imagination), borrowed from the text “A Dívida
points to effectiveness. They use low-cost materials, Impagável: Lendo Cenas de Valor Contra a Flecha
posters, biscuits, multiple objects, and urban do Tempo”, from Denise Ferreira da Silva. Jardim da
interventions to make visible situations of oppression. Abolição presents itself as a monument-memorial
They encourage the collective appropriation of to the use of camellia vases by abolitionists during
their proposals by socializing the procedures for the slavery abolition process in Brazil. On the other
carrying out the objects. Since 2003 they have been side, the piece also works as a kind of suggestion,
acting in favor of abortion legalization, denouncing declaring an intuitive abolition to the thought, in
the rape of women in war conflicts, questioning order to imagine the present from these power plants
hegemonic models of beauty and heteronormativity, (black) and remember, nowadays, of significant
among other issues that affect women. At Biennial and strategically subversive and radical gestures.
12 they present their flag “DEMASIADO” (“Too
Much”), which has been used as an expression
of the boredom towards the ferocity of current Natalia Iguiñiz
capitalism and its numerous consequences; it is an
action that mocks “Las Ventajas de ser lesbiana” (Lima, Peru, 1973)
(“The Advantages of being Lesbian”). The posters
collage critically deems to the queer issue, which is Visual artist and university professor, from her studies
a libertarian concept in its origin, and it is becoming in Painting at the Pontifical Catholic University of
aesthetic, and behavioral excluding pattern. Peru-PUCP (1990-95) and from the Master’s Degree
in Gender, Sexuality and Public Policy at UNMSM, her
work explores the construction of discourses around
Musa Michelle the conceptions of the feminine, sexuality, domestic

Mattiuzzi work and motherhood; as well as the body and the


disease. Her work moves between the exhibition
(São Paulo, Brasil, 1983) spaces of art, intervention in public space and feminist
activism. Occasionally she works in graphic design,
social communication, writing and curatorship (the
Musa Michelle Mattiuzzi is a filmmaker, performer,
co-curatorship of the permanent exhibition of The
writer, and researcher. She graduated with a degree
Place of Memory, Tolerance and Social Inclusion
in the arts from Pontifícia Universidade Católica de
stands out). She has participated in 12 individual
São Paulo, Brazil. Her work, which takes hold of and/
projects and in more than two hundred exhibitions
or subverts the exotic places attributed to the black
and biennials, national and international. As well, her
woman’s body by the white imaginary, becomes a
work was reviewd in various publications. Her work
kind of aberration, an entity divided between the

433 BIENAL 12 CATÁLOGO


is part of important collections, among which those and hierarchy. The work addresses two women,
of the MOLAA, MALI and El Reina Sofía museums being one responsible for the other’s home care.
stand out. She is mother of Antonia and Vicente. Thus, it produces a class analysis of the women’s
relationship with their work. The series portraits,
among others, the directors of Forum de Lima gallery
About the Works at the Biennial (Claudia Polar), from ARCO (the Spanish art fair,
Rosario Wenzel), and the artist María Elena Alvarado.
In Mujer de Ver (Woman to be Seen), Natalia Iguiñiz The work leads to a reflection on the relationship
takes the book Modos de Ver (Ways of Seeing, John between the art world and domestic work. The
Berger) as a starting point. In this book, Berger photographs raise class issues: for these women to
analyses how women’s imagery is configured, as well develop their professional work, others must clean
as the beauty, and what is (not) allowed to be shown the houses of the first ones. The juxtaposition draws
about them. The images feature identities and losses. attention to the relations of power, subordination and
Between June 4th and June 10th, 2017, Natalia made subjugation existing since colonial and republican
a photographic record of women on the main avenues Peru, when hired or enslaved women breastfed and
in Lima and Callao. Spectators can observe not only cared for the children of the aristocratic families.
these women, but also the two-dimensional or three-
dimensional images (billboards, posters, statues).
The work comprises the places with only one or more Nosotras
women. Since they are in public spaces, it is implicit
that they are seen to be seen; they are presenting Proponemos
themselves to a community that supports them. These
photographs are grouped into categories referring
(Buenos Aires, Argentina)
to their hair color, their ongoing activities, or the
people who accompany them. Natalia developed this On November 7th, 2017, in response to the unexpected
research process in the city of Porto Alegre to exhibit and premature passing of the artist Graciela Sacco,
it at the Biennial 12. What are the characteristics that who persistently confronted the patriarchal behaviors
can be seen in the photographs of women in this city? of the art world, and, one hundred years after the
October Revolution, the Permanent Assembly of
It is an installation arisen from some questions: What Art Workers was created. On the same date, the
do we mean by Homeland? Which values and feelings Declaration of Commitment to Feminist Practices
do we attribute to this concept? Overall, what do in Art was launched, consisting of 37 topics written
we do or justify in the name of the Homeland? The collectively on social networks. In a few days, there
installation displays strings on which white flags are were almost 3000 members. Nosotras Proponemos
hung as if they were freshly washed sheets. At the (We Propose) brings together artists, writers, curators
bottom edge, there are loose words that report the and cultural managers who decide their actions in
responses given in a virtual poll about the ideas and assemblies. NP has carried out effective actions to
emotions associated with the Peruvian homeland. This raise awareness about discrimination against women
installation was thought from the Lava la Bandera artists in the art world in favor of equal representation.
(Washing the Flag) movement carried out by the Civil Also, it has actively participated in mobilizations
Society Collective in 2000. Natalia Iguiñiz and Sandro and performative actions for the right to legal, safe
Venturo were members of this society who used to and free abortion, together with groups of women,
wash the Peruvian flag, every Friday, in 27 squares lesbians, trans, transvestites and binaries; and it
across the country and abroad. The demonstration has manifested itself against all forms of physical,
was an attempt to draw attention against corruption symbolic, economic and institutional violence,
and abuse of power. The flags and homeland words against female and feminized bodies. They present
intercept the power structures of the government, flags, posters, projections and objects, as well as a
likewise the heroic and masculine ideals of militarized poster produced specifically for the Biennial 12.
societies. The artists intervene in the language and
symbols of power, through domestic actions such
as washing and hanging from the flag fabrics.
About the Works at the Biennial
La Otra (The Other) is a series of photographs in
which Natalia Iguiñiz develops devices to analytically On November 7th, 2017, in response to the unexpected
unfold the cultural codes that regulate the relations and premature passing of the artist Graciela Sacco,
between the female domestic workers and her who persistently confronted the patriarchal behaviors
employers. In between their close bodies, the picture of the art world, and, one hundred years after the
depicts entangled relationships of affection, power, October Revolution, the Permanent Assembly of
Art Workers was created. On the same date, the

BIENAL 12 CATÁLOGO 434


Declaration of Commitment to Feminist Practices year of student mobilizations. The artist goes through
in Art was launched, consisting of 37 topics written the holes by sewing small stitches with white thread
collectively on social networks. In a few days, there on them. The blankets then turn into maps that reveal
were almost 3000 members. Nosotras Proponemos the marks of destruction. The work Historia natural de
(We Propose) brings together artists, writers, curators la destrucción (Natural history of destruction) is made
and cultural managers who decide their actions in up of three pieces - Al hilo de la historia (Along with
assemblies. NP has carried out effective actions to the story), Con el alma en un hilo (With the soul on
raise awareness about discrimination against women a string) and Al hilo del pensamiento (To the edge of
artists in the art world in favor of equal representation. thought). The work features the video Hasta que valga
Also, it has actively participated in mobilizations la pena vivir (Until it’s worth living), where the artist
and performative actions for the right to legal, safe mixes images of the shore of Lake Riñinahue with the
and free abortion, together with groups of women, traces of lava from the eruption of Cordón del Caulle
lesbians, trans, transvestites and binaries; and it floating in the lake’s waters, along with others from
has manifested itself against all forms of physical, the lake Rinihue, on which float their small felt works.
symbolic, economic and institutional violence, The felt has no warp (structure) or weft (history). It
against female and feminized bodies. They present functions as a metaphor for the time in which Nury
flags, posters, projections and objects, as well as a created his records and the current time in Chile.
poster produced specifically for the Biennial 12.

Pau Delgado
Nury Gonzalez Iglesias
(Santiago, Chile, 1960) (Montevidéu, Uruguai, 1977)
Bachelor of Arts at the University of Chile, where
Pau Delgado Iglesias is a visual artist and a teacher.
today she is Professor. In Chile, she has obtained the
She holds an MA Culture Industry from Goldsmiths,
FONDART Grant 6 times. In 1999 she obtained the
University of London, and a diploma in Gender
J.S. Guggenheim Grant and in 2001 the Rockefeller
and Public Policies at Universidad de la República
Foundation Residency Grant in Paraguay.Since
(UdelaR, Uruguay). She is currently a professor at
1983 she exhibits both in Chile and abroad. The
the National School of Fine Arts (UdelaR) and at
Biennials of Havana (Cuba), La Paz (Bolivia),
the Faculty of Culture of Universidad CLAEH, in
Curitiba (Brazil), Shanghai (China), Pontevedra
Uruguay. She writes a column every two weeks for
and Valencia (Spain) stand out among others. Her
Semanario Búsqueda. She has exhibited her works
works challenge certain stories, whether historical or
individually and/or collectively at: Museo Nacional
fictional, that credit an autobiographical tradition
de Artes Visuales, Espacio de Arte Contemporáneo,
of uprooting, major tragedies such as war and exile,
Centro de Exposiciones SUBTE (Uruguay); Momenta
and what might be called “historical volatility”.
Art, Slought Foundation, Art in General, The Armory
Her work aims to establish thematic, procedural
Show (United States); Galeria parasito/hunt
and technical crossings between the practices
kastner artworks (Czeck Republic); Galería Belleza
that determine the feminine and particularized
y Felicidad (Argentina); Galería Xippas (Switzerland
space of the private and those discourses and
and Uruguay); MuseumsQuartier (Austria); The Bag
practices that are determined as a paradigm of
Factory Studios, (South Africa); and other spaces.
the political and historical space of the public.

About the Work at the Biennial About the Works at the Biennial
Estar igual al resto (Equal to the Others) is the result
Chilean multimedia and experimental artist, Nury
of an intense investigation work conducted by Pau
González has been addressing memory issues through
Delgado Iglesias for five years with people blind
a variety of media and strategies. In Biennial 12, she
from birth in different cities of the world (Montevideo,
presents Historia natural de la destrucción (Natural
Uruguay; Lima, Peru; Havana, Cuba; Santiago, Chile;
history of destruction), a work that consists of three
Buenos Aires, Argentina; Hereford, United Kingdom;
chamales. Chamal is a mapuche blanket that dates
Asunción, Paraguay; and Bern, Switzerland). In a world
approximately one hundred years. It is pierced,
where everyday life is marked by ‘hyper-visuality’,
crushed or shredded by time, and, as black, it must
this work explores how identities are constructed
be worn by women. These discarded covers were
when images are absent, especially sexual and
purchased by Nury in the Temuco market in 2011, the
gender identities. What is beauty for people who

435 BIENAL 12 CATÁLOGO


cannot see, and do not even remember having once son’s photographs. The series of portraits between
seen? To what extent do cultural stereotypes play the end of the dictatorship and the beginning of
a role in their experiences? Is it possible to stay out the government of Patricio Aylwin (1986-1990)
of what society determines in relation to the body? is consolidated in a film whose images pass
How are our tastes and concepts of beauty formed? successively. Un Cierto Tiempo (A Certain Time) brings
together slight changes, like data of his growth,
and changes of his face. These transformations
Paz Errazuriz represent the passage of time as an experience.

(Santiago, Chile, 1941) In the series of photographs gathered for the book
El infarto del alma (Heart attack of the soul), Paz
Errázuriz reveals the relationships and affections of
Professional Photographer. She worked as a teacher the couples. The portraits, taken at the psychiatric
and is currently fully dedicated to her photographic hospital in Putaendo, illustrate poor people, rejected
work. She was a founding member of the Asociación by society. However, among them, one can see
de Fotógrafos Independientes, AFI (1981) and has proximity, closeness, and feelings. Together with
published the books ““Amalia”, “La Manzana de Diamela Eltit, who writes about the scenario, Paz
Adán”, “El infarto del Alma”, “Kawesqar, hijos de goes through the institution’s corridors and parks. “In
la mujer Sol”, “La luz que me ciega”, “Ojos que the middle of the road, Paz Errázuriz and I reached
no ven” and “Señales”. She has been jury in the the limit, where we had to face the disjunctive
Casa de las Américas Prize, Cuba and in Fondart, of having to cross the borders continuously.”.
Chile. Her photographs are in collections such as Frontiers of separation, isolation, and madness;
DAROS, Switzerland; Tate Gallery, London; Reina the isolation from the outside world that prefers
Sofía Museum, Spain; MoMA and Guggenheim not to look, not to know. The photographs put us in
Museum, United States; National Museum of contact with the unknown grammar of love. How
Fine Arts, Chile and in private collections. She are the relationships in this confined space?
has obtained the Guggenheim, Fulbright and
Fondart scholarships. She has been recognized
with the Altazor Award, the Artistic Career Award
of the Círculo de la Crítica, the PhotoEspaña award
Pedro Lemebel
and the Chilean National Art Award in 2017. (Santiago, Chile, 1952)
Born in Santiago de Chile in 1952, he is a writer
About the Works at the Biennial and visual artist. In 1987, together with Francisco
Casas, he founded the art collective Las Yeguas del
Between 1979 and 1980, Paz Errázuriz photographed
Apocalipsis, which carried out extensive artistic work
sleeping people in the city of Santiago de Chile.
in performance, photography, video and installation.
Asleep, men, women, and animals stretch their
During the period of transition to democracy and
bodies in a position that dislikes the normality of the
in the post dictatorship years, Lemebel published
city. Captured by the camera, these people, whose
his chronicles in various national and foreign
senses are still, retell the collective experiences
media. Since 1990 he wrote as a collaborator in the
of silence and impossibility. The paralysis of the
chronicles section for the Open Page Magazine.
senses. The series could draw a parallel with the
Since 1994 he wrote the column “Ojo de Loca no
situation of Chile during the dictatorship period
Equivoca ...” in the newspaper La Nación and
(1973-1990). Paz Errázuriz builds a unique archive,
hosted the program “Cancionero” on Radio Tierra.
in which photography grows distant from portrait
Towards the end of the 90s he collaborated with
to capture a social state of collective affections.
Punto Final and The Clinic Magazines. He received
One of the most complex problems for those who the Guggenheim scholarship in 1999, the Anna
create images is to find a way to represent them, Seghers Prize in Berlin in 2005 and the José Donoso
not having any references. How to account for the Ibero-American Prize for Literature in 2013.
not lived time by the absent bodies of the missing
people? Errázuriz proposes an intimate archive of
the years before the beginning of the democratic About the Works at the Biennial
transition in Chile, after 17 years of dictatorship.
During the transition, the dictatorship structures of Writer, chronicler, and visual artist, Pedro Lemebel
political and economic power were still running. At represented a dissident speech. A discourse in
the same time, the review process of these years of opposition to dictatorship and critical to the
violence began. Paz Errázuriz does it based on his patriarchal parameters that crossed the formations

BIENAL 12 CATÁLOGO 436


of the left. His text Hablo por mi diferencia (I speak Alfândega, a public space located in front of the
for my difference), read in 1986 at Mapocho Train Memorial building. The relevance of Bombril lies on
Station, in Santiago, during a leftists meeting, the fact that it echoes one amongst several daily
signaled the rejection of his political colleagues experiences of violence, lived by the black population
towards his homosexuality. Pedro read it wearing in Brazil. The performance also supports racial
red high-heeled shoes. His voice is heard in front of relations themes, a social and political content that
his self-portrait in which the signs of the Communist is still avoided or even prohibited in the Brazilian
Party are dressed in lace and sparkles. The two society, inside the reflection space in which it is
videos presented at Biennial 12 were made one year usually addressed. At the same time, the action
before the artist’s death. Pedro presented Desnudo provokes a rupture: it moves the discourse object
bajando la Escalera (Naked going down the stairs) in from a passive position to the one of protagonist
February 2014. The artist, naked, wraps himself in a (and enunciator), aware of its own narrative.
protective fabric to roll down the burning staircase of
the Museum of Contemporary Art. In Abecedário (The
ABC’s), he lit the letters drawn on a pedestrian Rahima Gambo
walkway that heads to the cemetery with neoprene.
That is the place where rest the remains of her (Abuja, Nigéria, 1986)
mother. These videos imply a deep reflection about
life and its ending (the end of his own life, as he knew Rahima Gambo (b.1986, Nigerian) is a multimedia
it was happening). They are about the ritualism of artist and photographer who came to artistic
the relationship between the body and the fire. practice by working independently on long form
trans media documentary projects. Currently,
she explores an expanded moving photography
Priscila Rezende through the narrative and experimental capabilities
of “walking” as it intersects with documentary
(Belo Horizonte, Brasil, 1985) storytelling, psycho-spiritual-geography, socio
politics, urban environment and autobiography.
Priscila Rezende is an interdisciplinary artist who She incorporates sculpture, drawing, sound, video,
works mainly with performance, also developing installation and performance in her work.
works in installation and photography.Race, identity,
insertion and presence of the black individual and
women in contemporary society are the main drivers About the Works at the Biennial
and questions raised in the work of Priscila Rezende.
Based on her own experiences, limitations imposed, Tatsuniya series (2017) started off as a photo-
discrimination and stereotypes are exposed in documentation of the students of Shehu Sanda
visceral bodily actions, which seek to establish a Kyarimi school in Maiduguri, Nigeria — part of a
direct and clear dialogue with the public.Priscila is larger photojournalistic project about the experiences
graduated in Visual Arts at Escola Guignard-UEMG of students affected by the Boko Haram conflict
(Belo Horizonte, Brazil) with a degree in Photography in the region. The series, however, evolved into a
and Ceramics. Among her activities, her presence playful unfolding of narrative and the relational
is featured in several exhibitions through Brazil’s happenings around the making of the images in
regions such as Minas Gerais, São Paulo, Rio de which Rahima Gambo is fully implicated. What are
Janeiro, Ceará, Pernambuco, Amapá and Rio the intangible things that happen when you bring
Grande do Sul and in countries such as Germany, a group of young women together, holding space
England, USA, Spain, Holland and Poland. for creative expression to come through? Which
possibilities arise when we center on what cannot
be accurately and entirely recorded by the camera:
About the Work at the Biennial the bonds formed when we gather communally to
speak and to listen, to teach and to learn, to play
In the Bombril performance, experienced for the and to express? By focusing on these key questions,
first time in 2010, Priscila Rezende rubs, using her Gambo moves Boko Haram and the oft-cited trauma
hair, a surface for metallic domestic utensils used related to the conflict to the footnote. Through
in the kitchen. Having its title taken from the well- Tatsuniya, she shares her encounter with playfulness,
known steel sponge of same name, Bombril is often relational energy, interconnectedness, and the fluidity
used as a pejorative adjective to refer to the hair present in the ambiguous space between the moving
of black women. In the version presented at Bienal and the still images, between fact and fiction.
12 | Porto Alegre, Rezende performs at Praça da

437 BIENAL 12 CATÁLOGO


Renata Felinto Rosana Paulino
(São Paulo, Brasil, 1978) (São Paulo, Brasil, 1967)
PhD and Master in Visual Arts from the Institute PhD in Visual Arts and Bachelor in Printmaking from
of Arts at UNESP and specialist in Curatorship ECA / USP, specialist in printmaking from London
and Education in Museums at the Museum of Print Studio, London. From 2006 to 2008 she received
Contemporary Art at USP. Visual artist and adjunct a scholarship from the Ford Foundation and from
professor of Theory of Art at URCA / CE in which 2008 to 2011 another scholarship from CAPES. In
is part of the Scientific Research Committee, s he 2014, she earned the Bellagio Center’s residency
was coordinator of the Visual Arts Degree Course scholarship, from the Rockefeller Foundation. Her
and the PIBID sub-project of the same course. She works are mainly focused on the role of black women
performed works at the Pinacoteca do Estado de in Brazilian society and the various types of violence
São Paulo, Instituto Itaú Cultural, Centro Cultural suffered by this population due to racism and the
São Paulo, SESC, SESI / FIESP, among other spaces. marks left by slavery. She has works in important
She was on the editorial board of the magazine O museums such as MASP, Pinacoteca do Estado de
Menelick 2° ato and is a member of the Scientific São Paulo and UNM - University of New Mexico
Committee of the CSO Congress of the Faculty of Art Museum, USA. She has actively participated in
Fine Arts of Lisbon. She coordinated the Education several exhibitions, both in Brazil and abroad, and
Center of the Afro Brasil Museum. She recently her work has been the subject of several academic
participated in the FIAC / France 2017 exhibitions, studies, books and specialized magazines.
Negros Indícios, at Caixa Cultural / SP, Absent
Dialogues, at Itaú Cultural and Galpão Bela Maré
in RJ and, finally, Afro-Atlantic Stories at the Tomie About the Work at the Biennial
Ohtake Institute. The art produced by black women
and men has been the main research topic. A leading artist in Afro-Brazilian art since the nineties,
Rosana Paulino is represented at the Biennial 12 by
her installation Parede da Memoria (Wall of Memory).
About the Work at the Biennial The piece, made up of small “patuás” shows family
portraits, creating a huge memorial for her family. It
The visual artist and academic researcher Renata is a portrait of her affections. The series, Bastidores
Felinto has been performing her artistic research (Backstage), shows eyes, mouths, and necks
through painting, collage, photography and embroidered or sewn over. These inevitable images
performance. It is, however, through the performance address one of the Biennial main themes: the violence
practice that the artist more directly confronts against female bodies and towards black women,
tensions raised by the presence of the feminine black who are at the base of the Brazilian’s social pyramid.
subject in the Brazilian public space. In Danço na In her drawings, she also deals with the body-animal
terra em que piso (2014), Felinto dances graciously relation. Through this, she introduces one of the most
in seven public places of São Paulo, some of which recent debates within feminism, the one related to
are historical points of the city, such as Praça da Sé, the Anthropocene: the human being’s capacity to
which, together with Catedral da Sé, is a landmark of destroy the planet, and the centrality of the human
the State of São Paulo. For each space, Felinto chose who has been attacking nature. Through her works,
a different song to use as sounding landscape of the Rosana Paulino introduces two relevant questions.
performance. Each choice was taken considering To what extent has scientific knowledge contributed
the song lyrics, historical and political relevant to establishing the foundations of racism? To what
issues, and even the artist’s own memories that extent is the canon of Brazilian art white and
are linked to the place. This way, Felinto created patriarchal? The first issue is discussed in her book
a narrative body, highlighting different traditions ¿Historia natural? (Natural history?). Her series A
that inform the urban landscape, thus offering Geometría a Brasileira llega ao Paraíso Tropical
additional epistemologies to understand them. Her (Brazilian-style Geometry Arrives at Tropical Paradise)
dance works as a gesture to reclaim territories, as involves an ironic distance over the canon of abstract
an expansion for possibilities of her black presence. art that dominates the international perception
of Brazilian art. Rosana Paulino’s work invites a
deep review of our concepts on art and culture.

BIENAL 12 CATÁLOGO 438


Sandra de Santarosa
Berduccy Barreto
(Oruro, Bolivia, 1976) (São Paulo, Brasil, 1986)
I am a Bolivian artist, weaver, specialist in Andean Born in São Paulo, in 1986, and graduated in Fine
textile techniques and a researcher in fabrics and new Arts at FAAP, the artist explores the process of
media.While working with simple and rudimentary appropriating images and narratives displacements
tools, such as ribbons, llama bones, hand-woven from literature, cinema, music and art history itself,
animal fibers and natural dyes, I usually weave through different media such as photography,
unusual materials for traditional Andean fabrics, such sculpture and installation. In order to reflect and
as conductive threads, optical fibers, copper pieces raise questions about authorship and to investigate
like sensors, etc. In the complex structure of these texts and speeches as images, the artist also has as
fabrics, I include electronic circuits, microcontrollers, her research theme the image of womanhood in art
motion or color sensors, digital LEDs, speakers, history, in addition to the socio-cultural developments
creating interactive works of light and sound. arising from the relationship between art, politics and
In my work, the traditional Andean techniques feminism. Among the group exhibitions in which she
and the technologies of art and new media are participated, the following stand out: 48th Annual
intertwined, resulting in works that continue the old Art FAAP, as a guest artist, after being selected
textile tradition of which I consider myself part. A for the artistic residency program carried out in
native forest in the inter-Andean valleys of Bolivia, partnership between FAAP and Cité Internationale
it is my work space, laboratory and fundamental des arts (Paris, France); Verzuimd Braziel - Brasil
space to understand the time of the weavers. Desamparado, itinerant show curated by Josué
Mattos, awarded by the CNI SESI SENAI Marcantônio
Vilaça Award for Arts and Feminist Stories: artists
About the Works at the Biennial after 2000, curated by Isabella Rjeille, at MASP.

The Bolivian artist Aruma (the moniker of Sandra


de Berduccy) makes her home and studio in the dry About the Work at the Biennial
ancestral forest outlying the city of Cochabamba.
Attuned to her surroundings and their complex Santarosa Barreto’s 2018 work Jean-Luc Godard,
histories with a lasting colonial legacy, she centers her Gertrude Stein and Ernest Hemingway is an art piece
practice on traditional Andean weaving techniques, using LED lights featuring the following sentences
natural fibers, and plant- and insect-derived dyes that on a loop: “A Woman Is A Woman, A Rose Is A
serve as the foundations for her interactive textiles, Rose, A Bitch Is A Bitch”— respectively the title of
installations, performances, and works in still and a Godard film (A Woman Is A Woman); a reference
moving image. The springboards for the interactions to a line in Stein’s 1913 poem “Sacred Emily” (“Rose
engendered by her projects are contemporary is a rose is a rose is a rose”); and a sentence by
technologies woven into the fabric of her works: Hemingway directed at Stein: “A Bitch Is A Bitch Is
fiberoptic and conductive threads, movement and A Bitch”. Barreto’s work makes us reflect upon the
color sensors, LED lights, and speakers, among following questions: What kind of critical reflection
others. Aruma’s interactive textiles included in the do these male sentences about women evoke? What
exhibition mobilize the elements taken from the kind of rupture may the Stein’s sentence (and voice)
artist’s local environment and ancestral knowledge to provoke when in close contact with these other
incite contemporary viewers to explore and preserve sentences? Her use of LED lights echoes images from
often barely perceptible but tremendous potential downtown São Paulo, where this work was produced.
of native flora and fauna, and to revindicate rural These sentences on a loop evokes a poetic rhythm.
technologies stemming from the pre-colonial past.

439 BIENAL 12 CATÁLOGO


Sebastián Vera Chaves
Calfuqueo Barcellos
(Quinta Normal, Chile, 1991) (Porto Alegre, Brasil, 1938)
Sebastián Calfuqueo (Santiago, Chile, 1991) lives and Begins in the 1960s by doing graphic work after
works in Santiago de Chile. Master of Visual Arts attending the Institute of Fine Arts in Porto Alegre,
from the University of Chile. Of Mapuche origin, his and studying in England, Holland and France. In 1975,
work uses his cultural heritage as a starting point to as a British Council fellow, she studied at Croydon
propose a critical reflection on the social, cultural College, London. In 1976, she participated in the
and political status of the Mapuche subject within Venice Biennale. In 2005, founded the Vera Chaves
current Chilean society. His work includes installation, Barcellos Foundation, dedicated to contemporary art.
ceramics, performance and video, with the aim of Among her individual exhibitions there are: Visitant
exploring both the cultural similarities and differences, Genet, Museu D’Art de Girona (2000), O Grão da
as the stereotypes that occur at the crossroads Imagem, Santander Cultural, Porto Alegre (2007),
between indigenous and westernized modes of Imagens em Migração, MASP, São Paulo (2009) and
thought, and also to visualize issues around feminism V.C.B, fotografias, manipulações e apropriações,
and sexual dissidence. His work has been exhibited in Paço Imperial, Rio de Janeiro (2017). Participated in
Chile, Peru, Brazil, Mexico, the United States, Germany, four São Paulo Biennials and collective exhibitions
Spain, the United Kingdom, Sweden, Switzerland and in Latin America, Germany, Belgium, Korea, Spain,
Australia. Winner of the Santiago Municipality Award France, Holland, England and Japan. She is part
in 2017 and the FAVA Foundation award in 2018. of the Radical Women: Latin American Art 1960-
1985 show, at Hammer Museum, LA, (2017) , and
Brooklyn Museum, New York (2018). Works in Viamão,
About the Works at the Biennial RS, Brazil and Barcelona, Spain,
​​ since 1986.

Mapuche artist, born in Chile, Sebastián Calfuqueo


uses video, photography, performance, installation, About the Work at the Biennial
and sculpture to poetically research the prejudices
and paradoxes exposed in Chilean society. He Video maker, educator and multimedia artist, Vera
reconstructs the urban plots of the marginalization of Chaves Barcellos has developed an extensive work,
the Mapuche, on the outskirts of the city of Santiago, simultaneously, in the cities of Porto Alegre, Brazil,
revealing how their work - subordinate, domestic, and Barcelona, Spain (since 1986). She created
informal or security activities - was carried out in paradigmatic works like Epidermic Scapes (1977-1982)
precarious conditions. Racism marked the experiences in which she exposed the relationship between the
of his childhood, as his grandparents were offensively landscape and the skin, in an amplified analogic
called Indians. In the video Buscando a Marcela record. In Women of the world, several women, in
(Looking for Marcela), the artist encounters his stunt front of the camera, pronounce their names. The
double and his female identity in the city. Mirar (To work conveys, at the same time, named faces in an
gaze) is a series of photographs with which Sebastián evident wheel of empowerment, and a file of private
shows us evidence of their similarity. Asentamiento affection. Each face communicates trust, optimism,
(Settlement) gathers films in which the protagonists, and pessimism. Vera started this project in 1999, in an
Mapuche people who live in the city of Santiago, tell exhibition in Catalonia, and ended it between 2012-
their family relationships and talk about the diasporic 2013. This project’s process recording counted on the
and identity processes that weave their experiences. collaboration of the video maker Hopi Chapmann.
His entire artistic practice addresses from a critical The version presented at Biennial 12 gathers the
perspective the idea of an identity constructed voice of four hundred women from different parts
through the race, gender, and social strata. of the world, of varied ages, nationalities and races
who, successively, pronounce their name one time.

BIENAL 12 CATÁLOGO 440


Zorka Wollny
(Cracóvia, Polônia, 1980)
Zorka Wollny is a composer and a theatre artist who
creates site-specific works which respond to their
architectural surroundings. She collaborates—in
a director-like mode—with musicians, actors, and
dancers and members of the local communities she
works in.Wollny’s collaborative production style
often involves public rehearsals and workshops in
which she creates structures of cooperation with
individuals as well as groups and communities. In
one of her most recent works, “Unmögliche Oper”
(2017), she involved several choirs and citizens of
the German town Oldenburg in an exploration of
the voice as a tool of expression and public debate.
Last year she took part i.a. in Chicago Architecture
Biennial (2019), Steirischer Herbst Festival in
Graz (2019) Novas Frequencias Festival in Rio de
Janeiro (2019), CTM Festival in Berlin (2020).

About the Work at the Biennial


Drawing upon the idioms of theatrical performance,
music composition, and free improvisation, Polish
artist Zorka Wollny creates performances that
evoke the spirit of Augusto Boal’s Theater of the
Oppressed and its ethos of the rehearsal for a social
revolution. In her interdisciplinary works, bodies and
voices are mobilized and exercised as the primary
tools that serve to structure and shape debate in the
public sphere. Working with professional musicians,
dancers, actors, and community members, Wollny
has staged performances in museums, factories,
abandoned buildings, and neighborhood streets.
Impossible Opera was originally realized as a forty-
minute performance in Oldenburg, Germany, in
collaboration with the composer Anna Szwajgier
(b. 1979). Combining elements of a drill routine and
mostly nonverbal sounds, from heavy breathing,
through murmurs, to whistles, which coalesce into
the chant “This is what democracy looks like,”
it attests to the enduring importance of finding
one’s voice in the search for common good.

441 BIENAL 12 CATÁLOGO


BIENAL 12 CATÁLOGO 442
443 BIENAL 12 CATÁLOGO
PATROCÍNIO: CO-PATROCÍNIO:

APOIO:

APOIO INSTITUCIONAL:

REALIZAÇÃO: FINANCIAMENTO: REALIZAÇÃO:

Você também pode gostar