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Manual Prático de Actuação

Volume 2

CRIME DE BRANQUEAMENTO
DE CAPITAIS

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República Federativa do Brasil

Ministério Público da União Ministério das Relações Exteriores


Agência Brasileira de Cooperação
Procurador-Geral da República
Roberto Monteiro Gurgel Santos Ministro de Estado das Relações Exteriores
Embaixador Antonio de Aguiar Patriota
Diretor-Geral da Escola Superior do
Ministério Público da União Secretário-Geral das Relações Exteriores
Nicolao Dino de Castro e Costa Neto Embaixador Ruy Nunes Pinto Nogueira

Coordenador Pedagógico Subsecretaria-Geral de Cooperação,


André de Carvalho Ramos/MPF Cultura e Promoção Comercial
Embaixador Hadil Fontes da Rocha Vianna
Coordenador de Ensino
Douglas Fischer/MPF Diretor da Agência Brasileira de Cooperação
Embaixador Fernando José Marroni de Abreu
Supervisão Técnica
Andrey Borges de Mendonça/MPF
Douglas Fischer/MPF
Ubiratan Cazetta/MPF

República de Moçambique

Ministério da Justiça

Ministra da Justiça
Benvinda Levi

Procurador-Geral da República
Augusto Paulino

Diretor do Centro de Formação Jurídica e Judiciária


Achirafo Abubacar Abdula

Coordenador Pedagógico
Carlos Manuel Serra

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Manual Prático de Actuação
Volume 2

CRIME DE BRANQUEAMENTO
DE CAPITAIS

Supervisor
Andrey Borges de Mendonça

Autores
Alda Manjate
Amâncio Zimba
Américo Mazenga
Dimas Marôa
Leonardo Mualia

Brasília-DF
2012

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Escola Superior do Ministério Público da União
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70610-480 – Brasília-DF – Tel.: (61) 3344-2112
E-mail: ideal@idealgrafica.com.br
Tiragem: 1.500 exemplares

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Biblioteca da Escola Superior do Ministério Público da União

C929 Crime de branqueamento de capitais/ supervisor: Andrey Borges de Mendonça ; Alda


Manjate … [ et al.]. – Brasília : ESMPU ; Maputo : CFJJ, 2012

98 p. – (Manual práctico de actuação ; v. 3)

978-85-88652-49-1
Publicado também em versão eletrônica, ISBN 978-85-88652-53-8

1. Lavagem de dinheiro. 2. Lavagem de dinheiro – normas


internacionais. 3. Lavagem de dinheiro – aspectos penais. 4. Lavagem
de dinheiro – Moçambique. 5. Crime organizado – Moçambique. I.
Mendonça, Andrey Borges de.

CDD 341.15

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Sumário

Prefácio – 9

Introdução – 11

1 Influência da normativa internacional na persecução


penal do branqueamento de capitais – 15

1.1 Considerações iniciais – 15

1.2 Revisão da literatura – 17

1.3 Organismos internacionais responsáveis pela definição de


padrões normativos – 18

1.3.1 Organização das Nações Unidas – 18

1.3.2 O Grupo de Acção Financeira sobre o Branqueamento de Capitais – 20

1.3.3 O Comité da Basileia de Supervisão Bancária – 21

1.3.4 Grupo Egmont de Unidades de Informação Financeira (UIF) – 22

1.4 Soft Law e Hard Law – 26

1.4.1 O significado de Soft Law – 26

1.4.2 O aparecimento do Soft Law – 26

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1.4.3 O papel do Soft Law – 27

1.4.4 O Hard Law – 27

1.4.5 Influência de Soft Law e Hard Law nas normas


internas da República de Moçambique – 28

1.5 Considerações finais – 30

2 Aspectos introdutórios ao crime de branqueamento – 33

2.1 Introdução ao crime de branqueamento − conceito – 33

2.2 Fases do branqueamento e sua importância – 34

2.3 Importância de se reprimir o crime de branqueamento – 38

3 Parte penal – 41

3.1 O bem jurídico tutelado – 41

3.2 Crime antecedente – 43

3.2.1 Análise dos crimes antecedentes – 43

3.2.2 Relação entre crime antecedente e crime de branqueamento – 59

3.3 Investigação e processo – 61

3.4 Como investigar um caso suspeito de branqueamento de capitais – 75

3.5 Autonomia entre o crime antecedente e o branqueamento – 77

3.6 Prova indiciária – 79

3.7 Dificuldade de apreender valores de origem ilícita misturados


com os lícitos – 84

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4 Parte administrativa – 87

5 Dificuldades e metas – 95

Referências – 97

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Prefácio

Este trabalho foi realizado no contexto de um protocolo de


cooperação rubricado entre os governos de Brasil e Moçambique,
e, em particular, entre a Escola Superior do Ministério Público da
União (ESMPU) e o Centro de Formação Jurídica e Judiciária (CFJJ). O
projecto em causa recebeu a designação de “Capacitação Jurídica de
Formadores e Magistrados Brasil-Moçambique” e contou com o apoio
da Agência Brasileira para o Desenvolvimento (ABC).
Esse projecto, com a duração de três anos, contempla uma
formação em cada ano, com temas diferentes, tendo sido a presente
(a primeira) relativa à área penal. Pretende ele contribuir para
os esforços do governo de Moçambique em aprimorar o acesso à
Justiça, dotando suas instituições de recursos humanos qualificados
e motivados para o desempenho de suas atribuições.
Os Manuais ora prefaciados foram o culminar de um processo
formativo que teve uma componente teórica, de duas semanas, que
decorreu na cidade de Maputo, bem como uma componente prática,
de igual período, preenchida por uma visita de trabalho à cidade de
Brasília – República Federativa do Brasil.
Esta segunda componente permitiu o contacto directo dos
formandos com as instituições e realidades brasileiras, possibilitando
uma salutar troca de experiências entre Moçambique e Brasil, e uma

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recolha de elementos adicionais para a etapa seguinte – a produção
de manuais.
Finalmente, foram constituídos grupos de redacção de cada
um dos quatro manuais previstos no projecto, cuja elaboração contou
com uma directa e permanente orientação e acompanhamento dos
formadores da ESMPU, culminando no resultado que hoje temos a
honra de prefaciar.
Os manuais versam sobre: Branqueamento de Capitais;
Corrupção e Crimes Tributários; Tráfico de Seres Humanos, Armas
e Estupefacientes; e Crime Organizado – matérias cujo domínio e
conhecimento são essenciais para a actividade do magistrado, judicial
e do Ministério Público.
Pretende-se que estas obras possam ser utilizadas como
ferramenta de trabalho de todos os magistrados, incluindo os que não
puderam beneficiar-se directamente da acção de formação levada a
cabo pela ESMPU em parceria com o CFJJ.
Este exercício constitui um exemplo para todos os magistrados
moçambicanos, que são assim convidados a investigar e a publicar
obras de natureza jurídica, contribuindo para o estudo, implementação
e, por que não, para a reforma do direito moçambicano.
  Finalmente, este trabalho é igualmente sinal de que dois
países do Sul – Brasil e Moçambique –, que partilham a mesma
língua, podem estreitar esforços e prosseguir interesses comuns em
prol do direito e da justiça, quiçá do desenvolvimento.

O Director do CFJJ
Achirafo Abubacar Abdula
(Juiz Desembargador)

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Introdução

Com a globalização, em muitos países do planeta, o direito


penal foi apanhado de surpresa, em face do surgimento de novos
tipos legais de crimes que são corolários daquela (globalização), o
que implica que devem ser tomadas medidas legislativas que visem
ao enérgico combate à criminalidade moderna.
Na verdade, perante a transnacionalização do crime, os países
estão obrigados a tomar medidas à altura para o seu combate. Se os
criminosos constroem uma escada de 5 metros, a Justiça deve erguer
um muro de 15 metros, para que a criminalidade organizada não
capture o Estado.
Segundo Rômulo de Andrade Moreira, citando o Ministro
Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça, em entrevista1 à Revista
Época (Edição 335-Outubro/2004),
se lava de dinheiro entre R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões. O que
se tem de mais concreto é que o dinheiro lavado por ano no
mundo atinge um quarto da economia do planeta. O fato de o
Brasil ter diversos sistemas cambiais legais facilita o trabalho
dos “doleiros”, pois para cada tipo de investimento há uma
brecha. É um supermercado de produtos financeiros, o que
dificulta a fiscalização. Outro problema é a economia informal
que dá margem a formas precárias de lavagem.

1 Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT825678-1666-1,00.html>.

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Manual Prático de Actuação

Ainda segundo o mesmo autor, citando aquele ministro


quando foi este questionado sobre qual era a origem do dinheiro
lavado no Brasil, respondeu: “Em grande parte da corrupção.
A maioria desse dinheiro vem de crimes contra a Administração
Pública. Outros crimes que levam à lavagem de dinheiro […] são
os de sonegação fiscal”. Para ele, “as ONGs, por exemplo, são
muito utilizadas, porque não são obrigadas a ter o registo no Banco
Central. Há também as chamadas igrejas de fachada, de onde se
tem notícias de grandes remessas para o exterior”.

Para o agente do delito de lavagem de dinheiro, esta actividade


é importante, pois permite obtenção de lucros que são usados para
a sofisticação de novos métodos de lavagem, dificultando cada vez
mais a sua descoberta, bem assim para o refinanciamento de novos
delitos.

Estudos recentes do Banco Interamericano de Desenvolvimento


revelam que as lavandarias de dinheiro não visam em primeiro lugar
ao lucro, mas sim à protecção dos rendimentos resultantes da acti-
vidade ilícita e ao disfarce de sua ilícita origem.

Portanto, a imperiosidade para que se combata a lavagem


de dinheiro reside em que, não sendo sua primordial preocupação o
lucro, o investimento é normalmente direccionado para actividades
ineficientes, prejudicando a economia no seu todo. Por exemplo,
quem se dedica à lavagem de dinheiro coloca seus produtos a
preços bastante baixos em comparação aos normalmente praticados
na praça, sem ter em conta os custos de fabricação, matando a
concorrência no sector privado.

Ora, o crescimento de actividades ilícitas organizadas na


economia privada traz efeitos macroeconómicos negativos a longo
prazo. Em suma, uma das consequências da lavagem do dinheiro
será a instabilidade económica do país.

A lavagem de dinheiro é um desses novos delitos que deve


merecer combate cerrado pelo nosso aparelho judiciário. É um delito

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Crime de Branqueamento de Capitais

que vem assumindo contornos muito marcantes na nossa sociedade


e provocando danos de difícil quantificação.

É precisamente na esteira desse desiderato que nos


propusemos a produzir o presente Manual Prático de Actuação, como
singelo contributo para o combate ao branqueamento de capitais.

A própria terminologia “Manual Prático de Actuação” per


se já sugere que se trata de uma ferramenta de trabalho de base
para que, com facilidade, os actores da Justiça, fundamentalmente
a Polícia de Investigação Criminal, o MP, os tribunais, e não só,
possam atacar aquele mal para no final declararmos que, no nosso
país, o branqueamento de capitais jamais encontrará sossego.

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1
Influência da normativa internacional
na persecução penal do branqueamento
de capitais

1.1 Considerações iniciais


O presente segmento desta obra tem como escopo a influência
das normas internacionais (Soft Law e Hard Law) nas normas
internas da República de Moçambique, que pedra a pedra constrói a
democracia e um Estado de Direito.
É na esteira da construção da democracia e do Estado de
Direito que a República de Moçambique, na política externa e,
sobretudo, no âmbito do direito internacional, aceita, observa e aplica
os princípios da Carta da Organização das Nações Unidas e da Carta
da União Africana, na qualidade de membro.
Logo, aquela aderência terá mais vida, mais impacto eficaz
e eficiente se as normas internas se inspirarem no Soft Law e Hard
Law. O primeiro instrumento encarrega-se de dar um horizonte
nutrido de recomendações aos Estados para a tipificação de certos
comportamentos humanos; o segundo, por sua vez, se encarrega
de dar obrigações entre Estados para o cumprimento de uma
determinada norma, ambos no âmbito da prevenção e do combate ao

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Manual Prático de Actuação

crime organizado, sobretudo, o crime de branqueamento de capitais,


que actua sem o respeito das fronteiras de cada Estado do globo,
ou seja, ocorre dentro e fora de um determinado Estado, portanto,
transnacional.
Temos a salientar que as normas internas moçambicanas
devem cada vez mais melhorar e ininterruptamente juntar-se à
comunidade internacional com actos concretos, mecanismos legais e
normas actuais que acompanhem a velocidade do crime organizado e
seus agentes para a repressão, uma vez que são delitos e delinquentes
que mexem, preocupam e intranquilizam a paz social como, por
exemplo, o tráfico transnacional de drogas, tráfico de seres humanos,
tráfico de órgãos humanos, a conspiração para a prática de crimes
graves e outros crimes antecedentes à lavagem de activos.
Para isso se concretizar, é necessário que as recomendações
dadas pelo Soft Law sejam respeitadas e praticadas, bem como que
as obrigações impostas pelo Hard Law sejam cumpridas.
Na fundamentação teórica do nosso trabalho, falaremos
resumidamente, segundo a visão do mestre Valadão (2003), dos
seguintes itens:
 o significado de Soft Law;
 o aparecimento de Soft Law;
 o papel de Soft Law;
 o papel de Hard Law; e
 a influência do Soft Law e Hard Law nas normas internas.
Segundo o escopo do nosso tema, no último ponto, importa
referir que se fará uma contextualização prática da influência do Soft
Law e Hard Law no direito interno moçambicano sob a perspectiva da
padronização da legislação internacional para a prevenção e repressão
dos delitos transnacionais.
Convém ressaltar que o tema tem estreita ligação com o crime
organizado. Diz-se

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Crime de Branqueamento de Capitais

crime organizado qualquer, cometido por pessoas ocupadas


em estabelecer em divisão de trabalho; uma posição designada
por delegação para praticar crimes que como divisão de tarefa
também inclui, em última análise, uma posição para corruptar,
uma para corrompido e uma para um mandante (MENDRONI,
2009).

Pela sua natureza, o crime organizado ocorre com maior


frequência nos países em vias de desenvolvimento. Aliás, no dizer de
Vladimir Aras (2011), Moçambique figura entre os vinte países menos
desenvolvidos do planeta, com baixos índices de desenvolvimento
humano (IDH), onde são desenvolvidas, com frequência, actividades
bastante lucrativas para organizações criminosas locais ou vindas de
outros países, como da África do Sul.

1.2 Revisão da literatura


A literatura que trata do Soft Law e Hard Law é vasta, porém,
interessa-nos falar sobre a influência das normativas internacionais,
no que se refere ao crime organizado, na vertente do branqueamento
de capitais/lavagem de activos, de Andrey Borges de Mendonça
(2011).
Segundo o autor, o Hard Law e o Soft Law surgem numa grande
necessidade de a comunidade internacional enfrentar os delitos de
branqueamento de capitais devido aos efeitos nocivos deste crime
adicionado à crescente transnacionalidade do delito, que pode ser
verificada pelas inúmeras transferências internacionais de capitais,
especialmente electrónicas.
Após os ataques terroristas aos Estados Unidos da América,
em 2001, registou-se uma preocupação profunda e verificou-se que
havia necessidade de ser combatido o terrorismo e o seu financiamento
que ocorre com a lavagem de dinheiro.
Nesse contexto, foram criados diversos organismos
internacionais que têm o papel de buscar um diálogo entre os
países e organismos multilaterais, bem como padronizar a legislação
internacional atinente à prevenção e repreensão dos delitos.

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Manual Prático de Actuação

Na padronização da legislação internacional, destacam-


-se os tratados e as convenções internacionais − Hard Law −, que
criam obrigações entre Estados, e outros que se ocupam em fazer
recomendações ou outras formas de pressão que não atingem
compromissos jurídicos internacionais, mas trata-se de compromissos
políticos − Soft Law.
Assim, pode-se dizer que aqueles organismos internacionais
são responsáveis por definir padrões normativos, conforme veremos
a seguir.

1.3 Organismos internacionais responsáveis


pela definição de padrões normativos

1.3.1 Organização das Nações Unidas


Esta organização internacional é a primeira que tratou a
lavagem de capitais e tem importância pelo facto de abranger um
grande número de países. A outra importância é de que o Conselho
de Segurança possui poder de impor normas obrigatórias aos Estados
por meio de resoluções. Nesse contexto, foram criados diversos
instrumentos normativos ligados à matéria de lavagem de dinheiro,
a saber:
 A Convenção de Viena (Convenção das Nações Unidas contra
o tráfico ilícito de entorpecentes e substâncias psicotrópicas,
assinada, em Viena, em 1988, com vigência em 11 de
Novembro de 1990) pela primeira vez tratou a protecção
da lavagem de activos, limitada aos crimes de tráfico como
antecedente. Vale referir que é um texto com valor muito
especial pelo facto de muitas normas jurídicas de diferentes
Estados serem “seguidoras”, ou seja, fazem a repetição.
 A Convenção de Palermo (vigência em 29 de Setembro de
2003), assinada na Assembleia Geral do Milénio, realizada
em Nova York em 2000, chamada de Convenção das
Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional.

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Crime de Branqueamento de Capitais

De entre outras medidas que se estabeleceram na regulação


e prevenção para prevenir e detectar todas as formas de
lavagem de dinheiro assinala-se a criminalização a lavagem
de capitais e infracções antecedentes. Tem como objectivo
fundamental promover a cooperação para prevenir e combater
mais eficazmente a criminalidade organizada transnacional.
 A Convenção de Mérida (Convenção das Nações Unidas contra a
corrupção) recomenda qualificar como crime o enriquecimento
ilícito. O artigo 14 dessa Convenção estabelece medidas para
prevenção do branqueamento de capitais e, sobretudo, prevê
amplas medidas de regulamentação dos bancos e outras
actividades, estimulando a cooperação internacional. No
artigo 23 da mesma convenção também há luz que ilumina
para que seja tipificado como delito o branqueamento de
capitais, com mais vasta gama de crimes antecedentes.
Sobre o enriquecimento ilícito, convém apresentar um
caso muito recente, julgado pelo Tribunal Judicial da Cidade de
Maputo, que condenou às penas de prisão maior um antigo ministro
dos transportes e comunicações, um presidente do Conselho de
Administração (PCA) e outros com funções de administradores dos
aeroportos de Moçambique, respectivamente, que, aproveitando-se
das suas qualidades, meteram dinheiro nas suas algibeiras, dinheiro
que não lhes pertencia, sabendo como tal em prejuízo dos aeroportos
de Moçambique.
Não basta, em 2011, no porto de Nacala, Província de
Nampula no norte do país, foram apreendidos quinhentos e sessenta
e cinco contentores contendo madeira da responsabilidade material
de oito empresas dos quais cento e cinquenta e seis contentores
continham madeira de primeira classe (pau-preto, pau-ferro, Namuno
etc.) não autorizada para exportação em bruto, pronta a ser exportada.
Quatrocentos e nove contentores foram exportados com pagamento
de sobrevalorização.
A prática envolve quinze funcionários, dos quais oito do sector
da agricultura, cinco das alfândegas e dois da Polícia da República de

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Manual Prático de Actuação

Moçambique. Todos com o propósito de enriquecimento ilícito e sem


causa à custa do bem público.
Outro exemplo não menos importante é a exportação de
sementes de algodão para o estrangeiro sem a cobrança dos direitos
alfandegários, ocorrida no ano de 2011, no porto de Pemba, Província
de Cabo Delgado.
 A Convenção Internacional para a Eliminação do Terrorismo
(com vigência em 10 de Abril de 2002). Note-se que esta
convenção, celebrada após os atentados de 11 de Setembro
de 2001, nos Estados Unidos da América, impõe aos Estados-
-Membros criminalizar as condutas ligadas ao terrorismo e ao
seu financiamento.
 A Resolução n. 1373 do Conselho de Segurança estabelece
a obrigação de os Países-Membros criminalizarem as acções
de financiamento do terrorismo congelando fundos ou bens
de pessoas, organizações ou entidades envolvidas em actos
terroristas; nega as formas de apoio a grupos terroristas bem
como a prestação de auxílio activo ou passivo a terroristas.
Ademais, prevê a cooperação entre os países na investigação
penal e na prevenção contra planos terroristas.
Impende observar que as Resoluções n. 1267, 1333, 1363,
1390, 1452 e 1455 do Conselho de Segurança exigem aos Estados-
-Membros o congelamento dos bens dos Talibãs, de Osama Bin Laden
da Al Qaeda e de entidades por ele controladas.

1.3.2 O Grupo de Acção Financeira sobre o


Branqueamento de Capitais
O Grupo de Acção Financeira sobre o Branqueamento de
Capitais (Gafi) é um organismo intergovernamental criado em 1989
pelos países que integram o G-7, que se dedicam à busca de questões
que envolvem a lavagem de activos.
Este organismo possui três principais funções, a saber:

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Crime de Branqueamento de Capitais

 Monitorar o progresso dos membros no tema de lavagem de


activos.
 Apresentar as tendências modernas de branqueamento, por
meio da publicação de relatórios anuais sobre as evoluções
da técnica e dos métodos de lavagem com o propósito de
instruir os países-membros em praticar acções na prevenção
e repressão dos delitos.
 Buscar promover padrões internacionais de combate ao
branqueamento de capitais do Gafi a nível global. O Gafi,
no âmbito da fiscalização do cumprimento dessas normas,
quando verifica que um determinado país não adopta as
recomendações deste organismo, pode recomendar às
instituições financeiras que monitorem as relações envolvendo
países não cumpridores e finalmente faz-se a exclusão do país.

1.3.3 O Comité da Basileia de Supervisão Bancária


Este organismo foi criado em 1974, pelos directores dos
bancos centrais do Grupo dos 10, com a finalidade de formular
padrões e orientação sobre a supervisão das actividades bancárias. É
composto pelos presidentes dos bancos centrais de cada país ou das
actividades de supervisão.
Esta organização expediu três grandes padrões de supervisão
e orientações referentes ao branqueamento de capitais, a saber:
 Declaração de princípio sobre o branqueamento de
capitais que contém procedimentos básicos para eliminar o
branqueamento. Em concreto, estabelece quatro princípios: a)
o dever de identificação do cliente; b) padrões éticos elevados
e cumprimento das leis; c) cooperação com as autoridades
policiais, inclusive com a comunicação de operações
consideradas suspeitas; d) políticas e procedimentos à
observância da declaração, inclusive com a criação de grupos
de controlo e auditoria interna. Acerca dessas alíneas, apraz-
-nos dizer que é uma matéria contida nos artigos 10, 15, 16,
17 e 23, todos da Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro.

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Manual Prático de Actuação

 Os princípios fundamentais para bancos (core principles),


publicados em 1997, que definem vinte e cinco princípios
que são necessários para um sistema de supervisão efectivo.
Em 2006, esses princípios foram revistos.
 Por fim, em Outubro de 2001, foi publicado o documento
chamado Medida de Vigilância Relactiva a Clientela para
Bancos, que tem o intuito de corrigir deficiências do sistema
bancário mundial em relação à prevenção de lavagens de
activo, aproximando as acções preventivas praticando as
recomendações do Gafi.

1.3.4 Grupo Egmont de Unidades de Informação


Financeira (UIF)
Este organismo foi criado a partir de 1995, designado Grupo
de Unidades de Inteligência Financeira (UIF), cujo objectivo é de
incrementar o apoio aos programas nacionais de combate à lavagem
de dinheiro dos países que o integram e que inclui a ampliação
de cooperação entre as UIF e a sistematização do intercâmbio de
experiências e de informações de inteligência financeira, o que
melhora a capacidade e a perícia dos funcionários das unidades e gera
melhor comunicação por meio da aplicação de tecnologia específica.
Em 2004, a missão desse organismo foi estendida para
também combater o financiamento do terrorismo.
Ainda no âmbito da revisão da literatura, segundo Mendonça
(2011), os aspectos de direito material levantam questões referentes a
crimes antecedentes que gerem necessariamente proveito económico
de forma directa ou indirecta, ou seja, aqueles de cuja prática provêm
os recursos empregados na lavagem de capitais.
De acordo com o citado autor, a legislação de um país
classifica-se em legislação de primeira, de segunda e de terceira
gerações. Nessa classificação, importa referir os crimes antecedentes.
A legislação brasileira e a moçambicana estão na posição de segunda

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Crime de Branqueamento de Capitais

geração, por tipificarem apenas um rol de crimes expressamente


indicados como antecedentes.
Diferente disso, a legislação de primeira geração é “aquela
que tipifica apenas a lavagem proveniente do crime de tráfico de
droga” e a legislação de terceira é “aquela que coloca como crimes
antecedentes todos os crimes possíveis ou, ainda, uma generalidade
destes (crimes graves)” (MENDONÇA, 2011).
Feita a revisão, cumpre-nos comentar em resumo sobre as
quatro organizações internacionais na influência do direito interno
moçambicano.
No direito interno moçambicano, quanto à legislação, também
se acolhem as considerações dadas por Mendonça, que classifica
a legislação como de segunda geração, conforme se depreende da
Lei n. 3/1997, de 13 de Março, em seus artigos 33, 35 e 37, assim
como os crimes de furto, roubo, ou furto, burla, fabrico, importação
e exportação, comércio de armas e explosivos, terrorismo, extorsão,
corrupção, peculato, contrabando e descaminho de direitos.
É nossa opinião que Moçambique enfrenta dificuldades para
prevenir e combater este tipo de crimes e de criminosos, devido à
falta de acompanhamento da velocidade que o crime e seus agentes
levam, em função da legislação em vigor ligada à exiguidade de meios
financeiros que hoje assolam quase todo o mundo, portanto, crise
económica (financeira).
Mais tarde, no ano de 2002, foi aprovada a Lei n. 7/2002, de
5 de Fevereiro, que, com precisão, objectividade e clareza, estabelece
o regime jurídico de prevenção e repressão da utilização do sistema
financeiro para a prática de actos de branqueamento de capitais,
bens, produtos ou direitos provenientes de actividades criminosas. A
mesma lei é conjugada com o Decreto n. 37/2004, de 8 de Setembro,
que regulamenta a primeira.
Nesta lei não estão tipificados como crimes antecedentes,
por exemplo, outros crimes provenientes do tráfico de pessoas e

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Manual Prático de Actuação

seres humanos, exploração sexual, incluindo a exploração sexual


de crianças, o tráfico ilícito de imigrantes, delitos contra o sistema
financeiro, crimes contra o ambiente, homicídio e ofensas corporais
graves. Também não está criminalizada a associação em organização
criminosa, segundo a recomendação do artigo 5º da Convenção de
Palermo.
Inadequado seria esquecer que, sobre a exploração sexual,
pode-se dar o exemplo mais recente, referente ao conhecido caso
Diana (Aldina dos Santos), julgado na vizinha República da África do
Sul, em que Diana moçambicana aliciou, levando na sua companhia,
umas moçambicanas de idades compreendidas entre 15 a 16 anos
para a África do Sul, com promessa de melhores condições de vida
(estudos e melhor emprego).
Chegadas à República da África do Sul, as meninas foram
colocadas e viviam numa “mansão” que nunca imaginaram viver.
Na mansão, com aquela colocação, estavam entregues à exploração
sexual de clientes da moçambicana Diana, que criava condições
para ter um número de clientes capaz de lhe gerar lucros diários.
Infelizmente, não revelou os seus comparsas.
Portanto, este vazio não deve continuar estático, pelo contrário,
deve responder na íntegra às recomendações ou outras formas de
pressão (Soft Law) e as convenções anteriormente referidas, muito
em particular a Convenção de Palermo, no parágrafo 2º do artigo
34, que recomenda a incorporação ao direito interno das infracções
previstas nos artigos 5, 6, 8 e 23 do tratado (Hard Law), instrumento
esse que obriga os Estados a caminharem para a terceira geração,
que coloca como crime antecedente todos os crimes possíveis ou
ainda uma generalidade destes.
Em síntese, impende observar que a matéria aqui tratada
encontra-se patente nas “Quarenta Recomendações do Grupo de
Acção Financeira sobre o Branqueamento de Capitais”.
Estas dão visão e conhecimentos aos países, incluindo
Moçambique, para adoptar medidas concretas ao combate do crime

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Crime de Branqueamento de Capitais

de branqueamento de capitais e ao financiamento de terrorismo, a


saber:
a) sistemas jurídicos, que, em resumo, trata do âmbito de
aplicação do crime de branqueamento de capitais;
b) medidas provisórias, em que se refere que os países devem
adoptar medidas similares às previstas nas Convenções de Viena e de
Palermo, inclusive medidas legislativas, a fim de que as autoridades
competentes estejam em condições de declarar perdidos os bens
branqueados, os produtos derivados de branqueamento de capitais
etc.;
c) medidas a adoptar pelas instituições financeiras e pelas
actividades profissionais não financeiras para evitar o branqueamento
de capitais e o financiamento de terrorismo;
d) declaração de operações sujeitas e cumprimento das
normas;
e) outras medidas preventivas de branqueamento de capitais
e de financiamento do terrorismo as quais, por exemplo, impõem
que os países disponham de sanções eficazes, proporcionadas e
dissuasivas de natureza criminal, civil ou administrativa aplicáveis a
pessoas singulares ou colectivas sujeitas a estas recomendações que
não as obrigações de combate ao branqueamento de capitais e ao
financiamento de terrorismo;
f) medidas a adoptar relativamente a países que não cumprem
as recomendações do Gafi ou que fazem de modo insuficiente;
g) regulamentação e supervisão, a exigir dos países que
assegurem que as instituições financeiras estejam sujeitas à
regulamentação e supervisão adequadas e que apliquem efectivamente
as recomendações do Gafi;
h) medidas institucionais e outras necessárias ao sistema
de combate do branqueamento de capitais e ao financiamento do
terrorismo;

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Manual Prático de Actuação

i) transparência das pessoas colectivas e outras entidades


sem personalidade jurídica (legal arrangements);
j) cooperação internacional e auxílio judiciário mútuo e
extradição e outra forma de cooperação.

1.4 Soft Law e Hard Law


Nesta abordagem, falaremos dos seguintes pontos:
 significado de Soft Law;
 aparecimento do Soft Law;
 papel do Soft Law;
 papel de Hard Law; e
 influência do Soft Law e Hard Law nas normas internas da
República de Moçambique.

1.4.1 O significado de Soft Law


Relativamente ao primeiro ponto, segundo o mestre Marcos
Valadão (2003), falar de Soft Law, na essência, abre-nos horizontes
de que se trata de normas exaradas pelas entidades internacionais,
ou seja, organizações multilaterais enquanto pessoas jurídicas de
direito internacional público, exemplificando, cita a Organização das
Nações Unidas (ONU). Possuem característica de universalidade que
irradia efeitos tanto no âmbito do direito internacional público como
o privado. Isto é, trata-se de norma do direito internacional que se
classifica em quartum genus (quarta fonte do DI) nas fontes do direito
internacional.

1.4.2 O aparecimento do Soft Law


Na esteira do mestre, quanto ao aparecimento do Soft Law,
não há um marco claro. Todavia, sabe-se que, com o surgimento das
organizações multilaterais, de natureza pública ou privada, ocorreu
com mais frequência no século XX. Neste período, começou a
expandir-se com grande influência nas relações internacionais, tendo

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Crime de Branqueamento de Capitais

produzido efeitos jurídicos depois da Segunda Guerra Mundial, com o


estabelecimento da ONU, do Fundo Monetário Internacional (FMI), do
Banco Mundial e da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Foi assim que, com este aparecimento, notou-se com destaque
nas áreas do direito económico internacional e no direito ambiental
internacional.
Actualmente, estende-se no ramo do direito criminal no que
tange ao crime organizado, com atenção especial ao branqueamento
de capitais, transnacional. É precisamente nesta área que ele nos
interessa, para satisfazer o nosso tema e tratá-lo com primazia.

1.4.3 O papel do Soft Law


Ainda, com base na fonte anteriormente indicada, diz-nos
que, por força das rápidas transformações em curso no mundo
globalizado, que deságuam ao crime transnacional, envolvendo
grupos criminosos organizados que não comportam regulação
pautada em situações antigas, o Soft Law, pela sua flexibilidade em
sua formação e aplicação, é chamado a desempenhar o seu papel de
dispor ou fazer recomendações com abrangência e uniformemente
sobre temas recheados de mecanismos de prevenção e combate mais
eficaz ao crime, sobretudo no que refere ao crime de branqueamento
de capitais que, dia após dia, vem ganhando níveis alarmantes em
prejuízo da estabilidade, paz e harmonia social mundial.

Portanto, o Soft Law tem o papel de influenciar, com


recomendações, os Estados, por meio do direito interno, a
estabelecerem mecanismos de prevenção e combate mais adequados
ao crime organizado transnacional.

1.4.4 O Hard Law


O mestre refere ainda que, quanto ao Hard Law, no âmbito
da cooperação internacional e no direito internacional, podem existir
acordos ou pactos internacionais estabelecidos entre dois ou mais

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Manual Prático de Actuação

países, tendentes à produção de efeitos jurídicos na resolução ou


prevenção de determinados problemas comuns. Esses países
assumem compromissos que criam obrigações entre eles, como
países-membros, através de tratados ou convenções, sobretudo em
torno da prevenção e do combate ao crime organizado transnacional
que faz parte integrante do nosso tema.

É oportuno observar que Soft Law e Hard Law complementam-


-se entre um e outro na medida em que o primeiro abre o horizonte
por intermédio de recomendações para a tipificação de certos
comportamentos humanos, enquanto o segundo cria obrigações
entre os países membros na prevenção e combate, entre outros, ao
crime organizado e o branqueamento de capitais.

1.4.5 Influência de Soft Law e Hard Law nas normas


internas da República de Moçambique
Como vimos, quanto ao papel de Soft Law e Hard Law,
importa a priori demonstrar a influência prática a partir da qual
nasceram normas concretas de direito interno em Moçambique
com características próprias e sobre a classificação da legislação
moçambicana, que ocupa a segunda geração. Com esta classificação,
destacam-se as seguintes legislações com influência do Soft Law e
Hard Law:
 Tráfico Ilícito de Estupafacientes e de Substâncias
Psicotrópicas à luz da Convenção das Nações Unidas de
1988. Moçambique, como membro da ONU e com base na
Convenção de Viena (Convenção das Nações Unidas contra o
Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas,
assinada, em Viena, em 1988, com vigência em 11 de
Novembro de 1990), converteu em normas concretas de
direito interno sobre o regime jurídico aplicável ao tráfico
e consumo de estupefacientes, substâncias psicotrópicas,
precursores e preparados ou outras substâncias de efeitos
similares, através da Lei n. 3/1997, de 13 de Março.
Na referida lei, o legislador, de forma clara disse:

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Crime de Branqueamento de Capitais

Havendo necessidade de transpor para o direito interno normas


e princípios de direito internacional público, de modo a tornar
exequíveis as disposições mais significativas da Convenção
das Nações Unidas sobre o Tráfico Ilícito de estupefacientes
e de Substâncias psicotrópicas de 1988 e aperfeiçoar os
instrumentos jurídicos de combate ao tráfico e consumo ilícitos
de droga [...].

Nesse sentido, estamos perante um exemplo vivo do papel e


influência do Soft Law.
 Convenção de Mérida (convenção das Nações Unidas Contra a
Corrupção). Exorta a qualificação como crime do enriquecimento
ilícito. Este crime, no direito moçambicano, consta na Lei n.
6/2004, de 17 de Junho, cujo objectivo é o reforço do quadro
legal vigente para o combate aos crimes de corrupção e
participação económica ilícita. Daí que, em resumo, no artigo
2 da mesma lei, no âmbito da sua aplicação, são considerados
agentes do crime desde que sejam dirigentes, funcionários ou
empregados do Estado ou das autarquias locais, das empresas
públicas, das empresas privadas em que sejam participadas
pelo Estado ou das empresas concessionárias de serviços
públicos.
 Convenção Internacional para Eliminação do Terrorismo. Ainda
na esteira da influência do Soft Law nas normas internas
de Moçambique, vale referir que, em relação à Convenção
Internacional para Eliminação do Terrorismo, embora de
forma limitada, esta matéria consta no artigo 13 da Lei n.
19/1991, de 16 de Agosto. Ademais, na mesma lei, estão
tipificados: conspiração, alta traição, espionagem, pirataria,
mercenarismo, sabotagem, crime contra a organização do
Estado, atentado contra a vida do chefe do Estado e atentado
contra chefe de Estado ou outra entidade pública estrangeira
etc.
 Grupo de Acção Financeira sobre o Branqueamento de
Capitais. No mesmo contexto, referente ao Gafi, importa
referir que esta matéria vem contida na Lei n. 7/2002, de 5

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Manual Prático de Actuação

de Fevereiro, que estabelece o regime jurídico de prevenção


e repressão da utilização do sistema financeiro para a prática
de actos de branqueamento de capitais, bens, produtos ou
direitos provenientes de actividades criminosas. A mesma lei
é conjugada com o Decreto n. 37/2004, de 8 de Setembro,
que regulamenta aquela lei.
 Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança.
As Leis n. 7/2008, de 9 de Julho, lei de base de protecção
da criança, e 6/2008, de 9 de Julho, sobre o tráfico de
pessoas, são instrumentos legais que obrigam a República de
Moçambique ao seu cumprimento integral, uma vez que aderiu
à Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da criança,
no que tange à venda de crianças, prostituição e pornografia
infantil, através da Resolução n. 43/2002, de 28 de Maio,
e Resolução n. 87/2002, de 11 de Dezembro, relactiva à
prevenção e punição do tráfico de pessoas respectivamente.

1.5 Considerações finais


Como conclusão, sob forma de resumo, o direito interno
moçambicano, no âmbito da prevenção e do combate ao crime
organizado transnacional e branqueamento de capitais, “bebeu”
e continua a “beber” do Soft Law, muito em particular às
recomendações das diferentes convenções (Gafi, Convenção de
Viena, Convenção de Palermo, Convenção de Mérida e Convenção
Internacional para Eliminação do Terrorismo), para adoptar normas
e mecanismos de prevenção e combate ao crime organizado, no
dizer de sempre, o crime de branqueamento de capitais.

Entretanto, verifica-se que o direito interno moçambicano


ainda precisa adoptar normas de certos comportamentos que não se
acham tipificados com vistas a se adequar às normas internacionais
para eficazmente prevenir e combater o crime organizado e seus
agentes. Conquanto não ficou dito que a legislação de segunda não
apresenta aspectos positivos, pois, como exemplo, podem-se citar
os artigos 4 e 5 (declaração de bens e fundamentação dos actos

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Crime de Branqueamento de Capitais

administrativos respectivamente), artigos 7, 8, 9 e 13, todos da Lei


n. 6/2004, de 17 de Junho.

Desse modo, percebe-se que o Legislativo e o governo


moçambicano manifestam a vontade de combater todos os males a
partir da pobreza absoluta até ao crime organizado e seus agentes,
não obstante, por limitação na vertente financeira, não atingirem
os níveis de uma classe apreciável como acontece nos países cuja
legislação ocupa a terceira geração.

Pois, como sabeis, para atingir esse nível (3ª geração),


requerem-se meios humanos e materiais que possam responder
eficazmente à velocidade, natureza do crime e modus operandi,
quando se tem dinheiro.

Contudo, estamos firmes que Moçambique, que aceita,


observa e aplica os princípios da Carta da Organização das Nações
Unidas e da Carta da União Africana, na qualidade de membro, pode
muito rapidamente, com meios financeiros e humanos existentes,
avançar com novos instrumentos jurídicos adequados para combater
o crime organizado, sobretudo, o crime de branqueamento de
capitais.

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.

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Aspectos introdutórios ao crime
de branqueamento 2

2.1 Introdução ao crime de branqueamento – conceito


O branqueamento pode ser entendido como processo ou
actividade, muitas vezes complexo, composto por diversos actos,
através do qual se procura dissimular a origem ou proveniência ilícita
de bens ou produtos reintroduzindo-os com aparência lícita nos
circuitos económicos legais (BRAVO, 2010, p. 129).
Branqueamento é o processo pelo qual o criminoso transforma
recursos ganhos em actividades ilegais em activos com uma origem
aparentemente legal. Essa prática geralmente envolve múltiplas
transacções, usadas para ocultar a origem dos activos financeiros e
permitir que eles sejam utilizados sem comprometer os criminosos.
A dissimulação é, portanto, a base para toda operação de branquear
que envolva dinheiro proveniente de um crime antecedente.
Por meio do branqueamento do dinheiro, o criminoso
transforma os recursos monetários oriundos da actividade criminal
em recursos com uma fonte aparentemente legítima.
Tendo em vista que a operação se caracteriza pela
transformação do dinheiro sujo em dinheiro limpo – simulação de

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Manual Prático de Actuação

licitude de activos originados de um crime –, geralmente se utilizam nas


definições vocábulos que exprimem limpeza. Assim, França e Bélgica
adoptam a designação de blanchiment d’argent; no Brasil, lavagem de
dinheiro; nos países de expressão inglesa, como os Estados Unidos e
a Inglaterra, toma-se a designação de money laundering; em Portugal
e Moçambique, branqueamento de capitais.
Dois vocábulos são usados como nucleares no conceito de
branqueamento; são os termos ocultar e dissimular. Ocultar sugere
acção directa de esconder; dissimular significa disfarçar, encobrir,
sugerindo acção indirecta de ocultar. Pode-se então dizer que
dissimular significa “esconder com astúcia”, portanto, com fraude
ou truque.
Dessa forma, os criminosos auferem o dinheiro, produto
da sua actividade criminosa, e depois o fazem passar por todo um
processo de reciclagem, sendo então utilizado tanto como uma
forma de incremento da própria actividade criminosa como também
sob a forma de “investimento lícito”, em actividades industriais ou
comerciais lícitas.

2.2 Fases do branqueamento e sua importância


É usual distinguirem-se neste processo três fases ou estágios
do acto de branquear. A primeira fase é chamada de colocação,
placement stage, no qual se procura colocar os bens ou capitais ilícitos
no sistema financeiro, designadamente através do sistema bancário
ou do sistema financeiro de mercado de valores. Após esse estágio,
passa-se pela fase conhecida como ocultação ou transformação
layering stage, em que se realizam as operações adequadas e
necessárias para ocultar ou despistar a proveniência ilícita de bens
ou capitais. Por fim, ocorre a integração pela qual se reintroduzem e
reinjetam os bens ou capitais nos circuitos económicos legais (BRAVO,
2010, p. 129).
A fase de colocação geralmente é realizada com o auxílio
de contas bancárias, vales postais, cheques e outros instrumentos
negociáveis. Na maioria das vezes, o agente criminoso movimenta

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Crime de Branqueamento de Capitais

o dinheiro em países com regras mais permissivas e naqueles que


possuem um sistema financeiro liberal como os paraísos fiscais2
e centros off-shores3. A introdução do dinheiro em espécie é
normalmente direccionada para a instalação de actividades comerciais
que, tipicamente, também trabalham com dinheiro vivo. Assim, os
recursos ilícitos se misturam com recursos obtidos em actividades
legais e são posteriormente depositados em bancos.
A colocação, por ser a primeira fase, é mais vulnerável à
detectação, por isso, a investigação deverá ser reforçada por ser mais
fácil desvendar o crime tendo em conta o curto lapso de tempo entre
o momento do crime e esta primeira etapa.
Na segunda etapa, a ocultação, o agente procura dissociar
o dinheiro da sua origem passando-o por uma série de transacções,
conversões e movimentações. Mais eficiente será o branqueamento
quanto mais o agente conseguir afastar o dinheiro da sua origem.
Quanto mais operações, tanto mais difícil a sua conexão com o crime
e a sua prova.
O objectivo do criminoso é cortar a cadeia de evidências da
ilicitude. Geralmente, o dinheiro é movimentado por transferências
electrónicas para contas anónimas e, preferencialmente, em países
amparados por leis de sigilo bancário.
Na última fase, a integração, o dinheiro sujo já lavado volta a
integrar-se na economia sob veste de dinheiro legítimo, incorporando-
-se sob a forma de investimento. Esta fase é o estágio final para a
transformação de dinheiro sujo em dinheiro aparentemente lícito. É
extremamente difícil a investigação do branqueamento nesta fase,
pois já passaram outras duas etapas e a esta altura o dinheiro está

2 Paraísos fiscais são países que proporcionam incentivos fiscais aos investidores, isentando
ou diminuindo consideravelmente a carga de tributos por determinado período de tempo ou
para determinados tipos de aplicações financeiras, ou ainda diminuindo a carga tributária
especificadamente para determinados negócios que ali venham a se estabelecer. Não significa
e não podem, entretanto, consentir que o dinheiro aplicado ou investido tenha origem criminosa
no país de onde provém.
3 São empresas ou filiais de empresas estabelecidas em outros países. Prestam-se, em tese,
a administrar “investimentos” financeiros. A tradução literal de off-shore é “litoral” ou “fora da
costa”.

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Manual Prático de Actuação

com a aparência significativamente “limpa”. Veja-se a imagem a


seguir4.

Como explica Jorge dos Reis Bravo (2010, p. 129 e 130),

entre as técnicas e métodos mais conhecidos de branqueamento


podem destacar-se as aproveitadas por actividades desenvolvidas
por cambistas, transportadores de fundos (p. ex., Western
Union, American Express), estabelecimentos de troca de
cheques, transferências telegráficas e cassinos [...]. Pistas
de corrida, locais de qualquer tipo de jogo, venda de lotarias,
totolotos, totobolas etc., constituem métodos potenciais a
qualquer eficaz branqueador, uma vez que todos eles têm um
laço em comum: poder-se chegar ao pé do vencedor do jogo e
trocar-lhe o seu título, que nos termos da lei estaria sujeito a
IRS, logo ilíquido, e pagar-lhe uma quantia igual ou superior,
mas líquida. Na sua contraparte, o agente vê, por seu turno,

4 Extraída do sítio <http://www.bb.com.br/portalbb/page251,105,5269,0,0,1,1.bb?codigoNoti


cia=2970&codigoMenu=580>.

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Crime de Branqueamento de Capitais

um cheque colectável à luz das leis fiscais, o que levará a


legalização e introdução no sistema financeiro de uma quantia
legal.

Por este esquema, o branqueador livra-se do dinheiro sujo, o


que entregou ao vencedor do jogo, e fica com o dinheiro limpo, o que
recebeu em troca das mãos daquele.
Um exemplo clarividente de branqueamento é o caso
conhecido como Franklin Jurado:
O caso de Franklin Jurado (EUA, 1990-1996) ilustra o que
seria um ciclo clássico de lavagem de dinheiro. Economista
colombiano formado em Harvard, Jurado coordenou a lavagem
de cerca de US$ 36 milhões em lucros obtidos por José
Santacruz-Londono com o comércio ilegal de drogas.

O depósito inicial5 – o estágio mais arriscado, pois o dinheiro


ainda está próximo de suas origens – foi feito no Panamá.
Durante um período de três anos, Jurado transferiu dólares de
bancos panamenhos para mais de 100 contas diferentes em
68 bancos de nove países, mantendo os saldos abaixo de US$
10 mil para evitar investigações. Os fundos foram novamente
transferidos, dessa vez para contas na Europa, de maneira a
obscurecer a nacionalidade dos correntistas originais, e, então,
transferidos para empresas de fachada.

Finalmente, os fundos voltaram à Colômbia por meio de


investimentos feitos por companhias europeias em negócios
legítimos, como restaurantes, construtoras e laboratórios
farmacêuticos, que não levantariam suspeitas.

O esquema foi interrompido com a falência de um banco


em Mônaco, quando várias contas ligadas a Jurado foram
expostas. Fortalecida por leis antilavagem, a polícia começou
a investigar o caso e Jurado foi preso6.

5 Depósitos iniciais são usualmente feitos em países onde não há regulamentação. Países com
instituições governamentais frágeis são especialmente vulneráveis.
6 Exemplo extraído de Cartilha do Coaf, p. 5. O Brasil criou, no âmbito do Ministério da
Fazenda, o equivalente ao nosso Ministério das Finanças, uma instituição denominada Conselho
de Controle de Actividades Financeiras (Coaf). A principal tarefa do Coaf é promover um esforço
conjunto por parte dos vários órgãos governamentais do Brasil que cuidam da implementação
de políticas nacionais voltadas para o combate à lavagem de dinheiro, evitando que sectores da
economia continuem sendo utilizados nessas operações ilícitas.

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Manual Prático de Actuação

É no campo da investigação criminal que as instituições de


inteligência financeira assumem um papel preponderante no combate
ao branqueamento. A estas competirá identificar, nas transacções
económicas que pessoas físicas e jurídicas realizam nas suas
actividades regulares, aquelas que podem indicar a existência de
um crime. A título de exemplo, saques em dinheiro vivo no caixa de
um banco não constituem, à partida, qualquer operação ilegal, mas
muitos saques, por uma mesma pessoa física ou jurídica, ou o seu
valor elevado já são incomuns, daí justificar o monitoramento pela
inteligência financeira como operações suspeitas de branqueamento.
Do mesmo modo, a compra de um imóvel em nome de uma
empresa também não é uma operação ilegal, mas, a prática corrente
das pessoas e das empresas é comprar imóveis para si próprios e não
para terceiros. Assim, quando aparece alguém que sistematicamente
faz este tipo de operação, compra de imóveis para outras pessoas
físicas ou jurídicas, isso já se torna suspeito, pois sugere que pode
estar a esconder algo ilegal.
O Estado moçambicano, reconhecendo a importância e
a necessidade do combate ao branqueamento, criou, pela Lei n.
14/2007, de 27 de Junho, o Gabinete de Informação Financeira de
Moçambique (Gifim), uma unidade complementar para a prevenção e
o combate do branqueamento de capitais. Essa instituição tem como
função realizar a recolha, centralização, análise e difusão às entidades
competentes das informações respeitantes a operações económico-
-financeiras susceptíveis de consubstanciar actos de branqueamento
de capitais. Esta instituição tem no espírito a mesma função que o
Coaf do Brasil.

2.3 Importância de se reprimir o crime


de branqueamento
O crime de branqueamento atinge tanto a ordem jurídica como
as empresas legítimas, afectando em última análise a organização
económica dos países7.
7 Convenção de Viena − A “Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias
Psicotrópicas”, aprovada em Viena, Áustria, em 1988, no âmbito das Nações Unidas, mais

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Crime de Branqueamento de Capitais

A propósito, conforme refere Vladimir Aras (2006),


ao contrário do que pode parecer à primeira vista, a lavagem
de dinheiro não se restringe a um problema de criminalidade
fiscal. Não é apenas a arrecadação do Estado que está em
jogo. Mais do que isso. Está em jogo o desenvolvimento
nacional, a higidez da economia, a livre e justa concorrência,
a probidade na administração, a saúde pública, a segurança
da sociedade e outros tantos bens jurídicos relevantes, sejam
eles os tutelados diretamente pelos tipos penais antecedentes,
sejam os bens jurídicos de índole econômica protegidos pelo
crime de lavagem de dinheiro […].

O dinheiro ilícito, quando inserido na ordem econômica de um


país, causa grandes prejuízos devido à concorrência desleal que
exerce em relação às empresas legitimamente estabelecidas,
bem como atua nas estruturas políticas estatais através do
suborno e da corrupção de funcionários públicos e ainda por
financiar campanhas de políticos inescrupulosos com vistas
a adquirirem o controle e ou a criação de empresas com fins
lícitos.

Nessa órbita, os países em vias de desenvolvimento como


Moçambique acabam absorvendo os efeitos mais nefastos do
branqueamento, porquanto os recursos económicos obtidos pelos
criminosos resultam da prática de crimes antecedentes graves como
a corrupção e o tráfico de drogas, cuja continuidade fica garantida
e fortalecida com as operações de branqueamento que acabam
promovendo o financiamento de outras práticas delitivas, num círculo
vicioso contínuo sem precedentes.
O dinheiro roubado dos cofres públicos, por exemplo, deixa
de ser utilizado para a melhoria das questões sociais como educação
de base, transporte, emprego, habitação, que, juntos, diminuiriam
a desigualdade social e, consequentemente, os crimes que dela
decorrem.

conhecida como “Convenção de Viena”, teve como propósito promover a cooperação


internacional no trato das questões ligadas ao tráfico ilícito de entorpecentes e crimes correlatos,
dentre eles a lavagem de dinheiro. Trata-se do primeiro instrumento jurídico internacional a
definir como crime a operação de lavagem de dinheiro. Moçambique ratificou esta convenção
pela Resolução n. 11/1996.

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Manual Prático de Actuação

Estima-se que mais de quinhentos bilhões de dólares sejam


oriundos do “dinheiro sujo”, o que representa 2% do PIB da economia
mundial8.
A investigação do crime de branqueamento é extremamente
complexa, daí ser imprescindível a colaboração de pessoas jurídicas
como bancos, casas de câmbio, seguradoras, bolsas de valores. A
investigação fica comprometida se não houver a quebra de sigilos
bancário e fiscal dos suspeitos dos crimes para reunirem-se provas
necessárias à elucidação dos factos.

8 Em reportagem do Diário de Pelotas-RS, em 2.9.2004, a entrevista a Giovanni Quaglia,


representante da ONU, referiu: “Brasília – O crime organizado movimenta US$ 2 trilhões por
ano, sendo que US$ 1,4 trilhões circula no sistema financeiro. [...] ‘É difícil chegar a dados muito
confiáveis em relação ao crime organizado, mas, entre os experts, este é o consenso. A maioria
dos valores circula no sistema financeiro e a corrupção é o crime que mais movimenta a lavagem
de dinheiro. Dos US$ 2 trilhões, US$ 1 trilhão é da corrupção, de US$ 300 a US$ 400 bilhões
são da droga e também entre US$ 300 e US$ 400 bilhões são do tráfico de armas. O restante
equivale a tráfico de seres humanos, contrabando e roubo de carga’ , revelou o representante da
ONU” (MENDRONI, 2006, p. 2).

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Parte penal
3

3.1 O bem jurídico tutelado


A lei moçambicana, Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro, Lei do
Branqueamento de Capitais, estabelece no seu artigo 1 que com esta
lei busca-se prevenir e reprimir a utilização do sistema financeiro para
a prática de actos de branqueamento de capitais, bens, produtos ou
direitos provenientes de actividades criminosas definidas como crime
antecedente nesta lei.
Existem várias interpretações sobre qual seria o bem jurídico
tutelado no crime de branqueamento. Algumas interpretações
consideram a existência de apenas um bem jurídico protegido. São
exemplos a administração da justiça; o mesmo bem jurídico do crime
antecedente; o património e a ordem socioeconómica. No entanto,
há outros que interpretam o bem jurídico atingido pelos crimes de
branqueamento como pluriofensivos, misturando uns com outros.
Nesta base, podemos encontrar duas fundamentais teorias:
 A administração da justiça: parte da doutrina entende que o
bem jurídico tutelado é a administração da justiça, na medida
em que visa suplementar a eficiência na investigação e no

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Manual Prático de Actuação

esclarecimento dos crimes e a punição dos infractores. A


criminalização de condutas concebidas como processamento
de ganhos ilícitos vem potenciar a aplicação da justiça em
relação aos crimes precedentes.
Pela administração da justiça, pretende-se evitar a impunidade
do crime antecedente e que o seu autor não lucre com a sua prática,
para além de se procurar assegurar que o Estado confisque os bens
e produtos resultantes da prática do criminosa (MENDONÇA, 2011,
p. 18).
 A ordem socioeconómica: considerando a quantidade
astronómica de dinheiro que é lavado no mundo, o impacto na
ordem socioeconómica é colossal em todos os níveis. Empresas
regulares perdem a concorrência, porque aquelas que utilizam
fundos provenientes de acções criminosas conseguem ter
capital suficiente para provocar outras infracções como o
de dumping9, underselling10, formação de cartel com outras
nas mesmas condições. A falência destas empresas gera
desemprego, cria o monopólio do mercado, contrariando as
regras naturais da economia, como a livre concorrência e a
oferta e procura. Na maior parte das vezes, acabam gerando
a inflação, pois fixam os preços dos produtos livremente e
sem oposição. O branqueamanto também potencia a própria
organização criminosa, aperfeiçoando, por exemplo, as formas
de tráfico e venda de droga, dificultando o combate a estes
males (MENDRONI, 2006, p. 31).
Limitar-mo-nos a uma ou outra tese seria restringir o objecto
de protecção do crime de branqueamento e colocar de fora outros
interesses juridicamente relevantes. É necessário sim potenciar a
administração da justiça para melhor investigar e levar a punição
dessas práticas delitivas, mas não só; também importa que se garanta
que o sistema financeiro não seja usado para branquear dinheiro
ilícito nem que ponha em risco a livre concorrência que deve nortear

9 Acção de exportar mercadoria abaixo do preço do custo, visando eliminar a concorrência.


10 Acção de vender mercadoria, no mercado interno, abaixo do preço de custo visando eliminar
a concorrência.

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Crime de Branqueamento de Capitais

a actividade económica dentro dos Estados, com os efeitos nefastos


daí decorrentes. Estamos a falar de situações como a inflação e o
desemprego, que podem levar à desestruturação do tecido social e à
degradação da qualidade de vida dos cidadãos.

Assim, a nosso ver, apenas uma solução ecléctica teria


mais mérito, integrando ambas as teses na órbita do bem jurídico
tutelado pela lei do branqueamento, pelo que consideramos a melhor
interpretação aquela que entende que os crimes de branqueamento
ofendem, ao mesmo tempo, “a administração da justiça” e a “ordem
socioeconómica”.

3.2 Crime antecedente

3.2.1 Análise dos crimes antecedentes


O crime de branqueamento é um crime que se pode considerar
parasita na medida em que depende da existência prévia de um outro
tipo legal de crime. Embora haja autonomia entre eles, não existirá
crime de branqueamento sem um crime antecedente.
Segundo Jorge dos Reis Bravo (2010, p. 132),
o crime de branqueamento de capitais pressupõe uma infracção
principal (predicated offense) – a prática anterior de um dos
crimes precedentes ou subjacentes constantes do “catálogo”
[...]. Tal circunstância faz com que se tenha convencionado
classificar doutrinalmente o crime de branqueamento como
um pós-delito.

O crime antecedente é o que cria o dinheiro ilícito que depois


será processado ou lavado no branqueamento. Importa, nesta
ordem, conhecer quais os crimes que integram a classe dos crimes
antecedentes aptos a gerar o crime de branqueamento.
Tem sido usual classificar a legislação de um país como sendo
de primeira, segunda ou terceira geração. A de primeira geração é
aquela que tipifica apenas a lavagem proveniente do crime de tráfico
de drogas. Este crime é historicamente o primeiro a gerar o crime de

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Manual Prático de Actuação

branqueamento no mundo, mercê das avultadas somas de dinheiro


que movimenta.
Em Moçambique, até o ano de 2002, a legislação era
de primeira geração, na medida em que tipificava apenas o
branqueamento proveniente do tráfico de drogas. Actualmente, tal
como até recentemente ocorria no Brasil11, a legislação moçambicana
é de segunda geração, pois tipifica uma gama de crimes expressamente
designados como antecedentes. A legislação de terceira geração,
como a espanhola, é aquela que coloca como crime antecedente todos
os crimes possíveis ou, ainda, uma generalidade deles considerados
como “crimes graves” como também ocorreu recentemente no Brasil.
A comunidade internacional cada vez mais incentiva os Estados a
adoptarem esta classificação de modo a abarcar um conjunto mais
alargado de crimes graves.
Segundo refere Andrey Borges de Mendonça (2011, p. 14),
Na espanha, se alterou recentemente o Código Penal para
abarcar todos os delitos graves, o que foi aplaudido pela
doutrina daquele país, embora haja vozes discrepantes. Os que
criticam afirmam que tal definição – crimes graves – acaba
por excluir apenas os crimes leves, o que torna a sua definição
extremamente ampla e imprecisa. Gomes Iniesta propõe,
então, na linha seguida pelo legislador italiano, a introdução,
junto à categoria dos crimes graves, de um catálogo meramente
exemplificativo, de forma a evitar o carácter excessivamente
genérico da expressão crimes graves. Para Isidoro Blanco
Cordeiro, a vantagem do tipo antecedente ser aberto é que se
evitam lacunas e, também, que isso orientasse a criminalidade
organizada a buscar outras atividades delitivas geradoras de
grandes quantias e que não se subsumissem ao delito em
referência. Bastaria portanto, a referência à procedência

11 O Brasil passou a ser legislação de terceira geração com a edição da Lei n. 12.683, de
9 de Julho de 2012, que, entre outras modificações, alterou a redação do artigo 1º da Lei n.
9.613/1998, que passou a estar assim redigido: “Art. 1º  Ocultar ou dissimular a natureza,
origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores
provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal” (grifos nossos). Assim, a partir de
10 de julho de 2012, qualquer infração penal – incluindo crimes ou contravenções – pode ser
crime antecedente do crime de branqueamento, desde que sejam aptos a gerar bens, direitos
ou valores.

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Crime de Branqueamento de Capitais

delitiva, ou seja, que se tratasse de um fato típico e antijurídico,


inclusive aqueles de escassa lesividade ou de bagatela.

Relativamente às recomendações do Gafi, refere ainda Andrey


Borges de Mendonça (2011, p. 15) a Recomendação n. 1, de 2003:
os países deveriam aplicar o crime de branqueamento de
capitais a todos os crimes graves, por forma a abranger
o conjunto mais alargado de infracções subjacentes. As
infracções subjacentes podem ser definidas por referência
a todos os crimes ou por referência a um limiar, ligado ou
uma categoria de infracções graves, ou a uma moldura penal
aplicável à infracção subjacente critério do limiar, ou a uma
lista de infracções subjacentes, ou ainda a uma combinação
destes critérios. Segundo a mesma recomendação do Gafi,
qualquer que seja o critério adoptado, o país deveria incluir pelo
menos os seguintes delitos: participação num grupo criminoso
organizado e em acções ilegítimas para obtenção de fundos,
nomeadamente através de chantagem, intimidação ou outros
meios; terrorismo, incluindo o financiamento do terrorismo;
tráfico de seres humanos e tráfico ilícito de migrantes;
exploração sexual, incluindo a exploração sexual de crianças;
tráfico de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas; tráfico
de armas; tráfico de bens roubados e de outros bens; corrupção
e suborno; fraude; contrafacção de moeda; contrafacção e
pirataria de produtos; crimes contra o ambiente; homicídio e
ofensas corporais graves; rapto, detenção ilegal e tomada de
reféns; roubo ou furto; contrabando; extorsão; falsificação;
pirataria; e utilização abusiva de informação privilegiada e
manipulação do mercado. [g.n.]

Em Moçambique, o regime jurídico da prevenção e do


combate da utilização do sistema financeiro para a prática de actos de
branqueamento de capitais, bens e produtos ou direitos provenientes
de actividades criminosas encontra-se previsto na Lei n. 7/2002,
de 5 de Fevereiro, o qual veio a ser regulamentado pelo Decreto n.
37/2004, de 8 de Setembro. Neste diploma, pretendeu-se condensar
todas as formas de punição do branqueamento.
De acordo com o artigo 4 daquela lei, são os seguintes os
crimes antecedentes do crime de branqueamento:

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Manual Prático de Actuação

a) Infracções constantes dos artigos 33, 35 e 37 da Lei


n. 3/1997, de 13 de Março, quais sejam os crimes de tráfico de
estupefacientes e outras actividades ilícitas (art. 33), utilização
indevida de equipamento, material e percursores (art. 35) e tráfico-
-consumo (art. 37).
Art. 33 (Tráfico e Outras Actividades Ilícitas)

1. Todo aquele que, sem estar autorizado, cultivar, produzir,


fabricar, extrair, preparar, oferecer, puser à venda, vender
distribuir, comprar, ceder ou por qualquer título receber,
proporcionar a outra pessoa, transportar, importar, exportar,
fizer transitar ou ilicitamente detiver fora das circunstâncias
no artigo 55, plantas, substâncias ou preparados constantes
das tabelas I a III, será punido com a pena de 16 a 20 anos
de prisão maior.

2. Todo aquele que, agindo de modo contrário aos termos da


autorização concedida, ceder, introduzir ou diligenciar para que
seja colocado no comércio, plantas, substâncias e preparados
incluídos no número anterior, será punido com a pena de 16
a 20 anos de prisão maior, agravada nos seus limites mínimos
e máximos.

3. Incorrerá na pena prevista no número anterior aquele que


cultivar plantas, produzir ou fabricar substâncias ou preparados
diversos dos que constam do título de autorização.

4. Quando se tratar das substâncias ou preparados constantes


da tabela IV, a pena será a de 12 a 16 anos de prisão maior.

Art. 35 (Utilização Indevida do Equipamento, Material e


Precursores)

1. Aquele que, sem estar autorizado, fabricar, importar,


exportar, transportar ou distribuir equipamento, materiais,
substâncias ou preparados constantes das tabelas V e VI,
sabendo que são ou vão ser utilizados no cultivo, produção ou
fabrico ilícito de estupefacientes ou substâncias psicotrópicas,
preparados ou outras substâncias de efeitos similares será
punido com a pena de 8 a 12 anos de prisão maior.

2. Aquele que, sem estar autorizado, detiver por qualquer


título, equipamento, materiais ou substâncias incluídas nas

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Crime de Branqueamento de Capitais

tabelas V e VI, sabendo que são ou vão ser utilizados no


cultivo, produção ou fabrico ilícitos de estupefacientes ou
substâncias psicotrópicas, será punido com pena agravada em
termos gerais de 2 a 8 anos de prisão maior e multa de 30 a
100 milhões de meticais.

3. Quando o agente for titular da autorização nos termos do


capítulo II, será punido:

a) no caso do n. 1, com a pena de 12 a 16 anos de prisão


maior;

b) no caso do n. 2, com a pena de 8 a 12 anos de prisão maior.

Art. 37 (Traficante-Consumidor)

1. Quando, com a prática dos factos previstos no artigo 33, o


agente tiver por objectivo único conseguir plantas, substâncias
ou preparados destinados ao seu uso pessoal, incorrerá nas
penas de prisão de um a dois anos e multa de 10 milhões de
meticais, se aqueles estiverem incluídos nas tabelas I a III.

2. Quando os factos descritos no número anterior respeitarem


a substâncias ou preparados compreendidos na tabela IV, o
seu agente incorrerá na pena de prisão até 1 ano e multa até
5 milhões de meticais.

b) Crimes de furto, art. 421º do CP


Aquele que cometer o crime de furto, subtraindo
fraudulentamente uma coisa que lhe não pertença, será
condenado:

1º – A prisão até seis meses e multa até um mês, se o valor da


coisa furtada não exceder dez salários mínimos;

2º – A prisão até um ano e multa até dois meses, se exceder


a esta quantia, e não for superior a quarenta salários mínimos;

3º – A prisão até dois anos e multa até seis meses, se exceder


a esta quantia e não for superior a cento e vinte cinco salários
mínimos;

4º – A prisão maior de dois a oito anos, com multa até um


ano, se exceder a esta quantia e não for superior a oitocentos
salários mínimos;

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Manual Prático de Actuação

5º – A prisão maior de oito a doze anos, se exceder a oitocentos


salários mínimos.

§ único – Considera-se como um só furto o total das diversas


parcelas subtraídas pelo mesmo indivíduo à mesma pessoa,
embora em épocas distintas.

c) Crimes de roubo, art. 432º do CP


É qualificada como roubo a subtracção da coisa alheia, que se
comete com violência ou ameaça contra as pessoas.

§ único – A entrada em casa habitada, com arrombamento,


escalamento ou chaves falsas, é considerada como violência
contra as pessoas, se elas efectivamente estavam dentro
nessa ocasião.

d) Burla, art. 451º do CP


Será punido com as mesmas penas de furto, segundo o valor
da coisa furtada ou do prejuízo causado, aquele que defraudar
a outrem, fazendo que se lhe entregue dinheiro ou móveis, ou
quaisquer fundos ou títulos, por algum dos seguintes meios:

1º – Usando de falso nome ou de falsa qualidade;

2º – Empregando alguma falsificação de escrito;

3º – Empregando artifício fraudulento para persuadir a


existência de alguma falsa empresa, ou de bens, ou de
crédito, ou de poder supostos, ou para produzir a esperança
de qualquer acidente.

§ 1º – A pena mais grave de falsidade, se houver lugar, será


aplicada.

§ 2º – É aplicável às infracções previstas neste artigo o disposto


no artigo 430 e no artigo 431 e seus parágrafos relativamente
ao furto.

e) Fabrico, importação, comércio de armas e explosivos, art.


253º do CP
Aquele que fabricar, ou importar, ou vender, ou subministrar,
ou guardar qualquer mecanismo, tendente a determinar

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Crime de Branqueamento de Capitais

explosão, que possa servir à destruição de pessoas ou de


edifícios, será condenado na pena de prisão maior de oito a
doze anos, sem prejuízo da agravação que lhe possa competir
por cumplicidade em qualquer crime dessa natureza.

§ 1º – Aquele que, sem licença da autoridade administrativa,


fabricar, ou importar, ou vender, ou subministrar quaisquer
armas brancas ou de fogo, e bem assim aquele que delas
usar sem a mesma licença, ou sem autorização legal, será
condenado a prisão até seis meses e multa correspondente.

§ 2º – Na mesma pena serão condenados os indivíduos


compreendidos no parágrafo antecedente, a quem tiver sido
cassada a respectiva licença, e que, não obstante, dela
continuem usando como se estivesse em vigor.

§ 3º – A simples detenção na casa de residência ou do detentor,


ou em outro local, será punida com a multa de oito dias a um
mês.

§ 4º – Não se compreendem nas disposições deste artigo e


seus parágrafos as armas que devem ser consideradas como
objectos de arte e de ornamentação.

§ 5º – Em todos os mais casos, declarados neste artigo e seus


parágrafos, as armas serão apreendidas e perdidas a favor do
Estado.

f) Terrorismo, art. 13 da Lei n. 19/1991, de 16 de Agosto (Lei


dos Crimes contra a Segurança do Estado)
1. Comete o crime de terrorismo, punível com a pena de
dezasseis a vinte anos de prisão maior, todo aquele que:

a) Colocar ou fizer colocar, por qualquer meio, em nave ou


aeronave, em local ou instalação pública ou privada, bem
como em qualquer equipamento de uso público ou privado,
qualquer artefacto ou engenho capaz de destruir ou danificar
os mesmos, pondo em perigo a segurança de bens, locais e
vidas humanas ou animais, com o intuito de criar insegurança
social, terror ou pânico na população ou de pressionar o
Estado ou alguma organização de carácter económico, social
ou político a realizar ou abster-se de realizar certa ou certas
actividades;

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Manual Prático de Actuação

b) adulterar substâncias ou produtos alimentares ou outros


destinados ao consumo das populações, animais ou unidades
sócio-económicas no intuito de provocar a morte ou graves
perturbações à saúde ou à vida económica, com o fim de criar
insegurança social, terror ou pânico.

2. A importação, fabrico, guarda, compra, venda ou cedência


por qualquer título, bem como o transporte, detenção, uso e
porte de substâncias ou instrumentos inflamáveis, explosivos,
armas de fogo, asfixiantes, tóxicos ou agentes químicos ou
biológicos, ou de qualquer outro elemento de cuja combinação
possam obter-se produtos da mesma natureza dos acima
descritos ou qualquer outra substância ou artefacto, fora
das condições legais ou em contrário das prescrições das
autoridades competentes, são punidos, se os seus autores os
destinavam ou devessem ter conhecimento que se destinavam
à perpetração de qualquer crime contra a segurança do Estado,
com a pena de doze a dezasseis anos de prisão maior, ou nos
demais casos, com a pena de três meses a dois anos de prisão
e multa correspondente.

3. À pena de terrorismo acresce a dos demais crimes praticados,


procedendo-se à sua agravação sempre que concorra o crime
de homicídio.

g) Extorsão, arts. 314º, 440º e 452º do CP


Art. 314º (Concussão)

Todo o empregado público que extorquir de alguma pessoa,


por si ou por outrem, dinheiro, serviços ou outra qualquer coisa
que lhe não seja devida, empregando violências ou ameaças,
será punido com a pena de prisão maior de dezasseis a vinte
anos.

§ único – Esta pena porém, poderá ser atenuada, substituindo-


-se-lhe a pena de prisão, segundo as circunstâncias.

Art. 440º (Extorsão)

Aquele, que por violência ou ameaça, extorquir a alguém a


assinatura ou a entrega de qualquer escrito ou título, que
contenha ou produza obrigação ou disposição, ou desobrigação,

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Crime de Branqueamento de Capitais

será punido com as penas declaradas para o roubo, segundo as


circunstâncias do facto.

Art. 452º (Extorsão e chantagem)

Aquele que por meio de ameaça verbal ou escrita de fazer


revelações ou imputações injuriosas ou difamatórias, ou,
a pretexto de as não fazer, extorquir a outrem valores, ou
coagir a escrever, assinar, entregar, destruir e falsificar, ou,
por qualquer modo, inutilizar escrito ou título que constitua,
produza ou prove obrigação ou quitação, será condenado às
penas de furto, agravadas, mas só terá lugar o procedimento
criminal havendo queixa prévia do ofendido.

§ 1º – Se os valores não forem extorquidos, nem o título ou


escrito foi assinado, entregue, escrito, destruído, falsificado,
ou por qualquer modo inutilizado, a pena será a do § único do
artigo 379.

§ 2º – Aquele que, com o pretexto de crédito, ou influência


sua ou alheia para com alguma autoridade pública, receber
de outrem alguma coisa, ou aceitar promessa pelo despacho
de qualquer negócio ou pretensão, e bem assim o que receber
de outrem alguma coisa, ou aceitar promessa com pretexto de
remuneração ou presente a algum empregado público, será
punido com o máximo da prisão e a multa até um ano, sem
prejuízo da acção que compete ao empregado público pelo
crime de injúria.

h) Corrupção, arts. 318º e 321º do CP e arts. 7, 8, 9 e 10 da


Lei n. 6/2004 (Lei Anticorrupção)
Art. 318º (Peita, suborno e corrupção de empregado público)

Todo o empregado público que cometer o crime de peita,


suborno e corrupção, recebendo dádiva ou presente, por si
ou por pessoa interposta, com sua autorização ou ratificação,
para fazer um acto de suas funções, se este acto for injusto e
for executado, será punido com pena de prisão maior de dois
a oito anos e multa correspondente a um ano; se este acto
porém não for executado, será condenado em suspensão de
um a três anos, e na mesma multa.

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Manual Prático de Actuação

§ 1º – Se o acto injusto e executado for um crime, a que pela


lei esteja decretada pena mais grave, terá lugar a pena que,
segundo lei, deve ser imposta.

§ 2º – Se for um acto justo que o empregado seja obrigado


a praticar, será suspenso até um ano, e condenado na multa
correspondente a um mês.

§ 3º – Se a corrupção teve por fim a abstenção de um acto


das funções do mesmo empregado, a pena será a de demissão
ou suspensão de um a três anos, e multa correspondente,
segundo as circunstâncias.

§ 4º – A aceitação de oferecimento ou promessa será punida,


observando-se as regras gerais sobre a tentativa; mas sempre
haverá lugar a pena de demissão, se o acto for injusto e
executado.

§ 5º – Se o empregado repudiou livremente o oferecimento ou


promessa que aceitara, ou restituiu a dádiva ou presente que
recebera, e livremente deixou de executar o acto injusto, sem
que fosse impedido por motivo algum independente da sua
vontade, cessará a disposição deste artigo.

§ 6º – As disposições deste artigo e seus parágrafos terão lugar


também nos casos em que o empregado público, arrogando-
-se dolosamente ou simulando atribuição de fazer acto, aceitar
oferecimento ou promessa, ou receber dádiva ou presente,
para fazer acto ou não fazer, salvas as penas mais graves da
falsidade, se houverem lugar.

§ 7º – São igualmente aplicáveis aos árbitros as disposições


deste artigo e seus parágrafos.

§ 8º – As penas determinadas nos artigos antecedentes são


aplicadas aos peritos e a quaisquer outros que exercerem
alguma profissão a respeito dos seus actos que forem, segundo
a lei, requeridos para o desempenho do serviço público, excepto
quando a lei os autorizar a regular com as partes o seu salário.

§ 9º – Nos casos dos dois últimos antecedentes parágrafos,


a pena de demissão ou de suspensão será substituída pela
suspensão do exercício da profissão ou pela suspensão dos
direitos políticos não inferior a dois anos, salvo o disposto no

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Crime de Branqueamento de Capitais

artigo 241º, e sem prejuízo da pena mais grave em que possam


ter incorrido por motivo dos referidos actos.

Art. 321º (Corrupção activa)

Qualquer pessoa que corromper por dádivas, presentes,


oferecimentos ou promessas qualquer empregado público,
solicitando uma injustiça, comprando um voto ou procurando
conseguir ou assegurar pela corrupção o resultado de quaisquer
pretensões, será punida com as mesmas penas que forme
impostas ao empregado corrompido, com a declaração de que
as penas de demissão ou suspensão serão substituídas pela
suspensão dos direitos políticos, não inferior a dois anos.

§ único – Quando o suborno tiver lugar em causa criminal a


favor do réu, por parte dele mesmo, do seu cônjuge ou de
algum ascendente ou descendente, ou irmão ou afim nos
mesmos graus, a pena será a de multa de um a seis meses.

Art. 7 (Corrupção passiva, para acto ilícito)

1. As entidades previstas no artigo 2 que, por si ou por


interposta pessoa, com o seu consentimento ou ratificação,
solicitarem ou receberem dinheiro ou promessa de dinheiro ou
qualquer vantagem patrimonial, que lhe sejam devidos, para
praticar ou não praticar acto que implique violação dos deveres
do seu cargo, serão punidos com pena de prisão maior de dois
a oito anos e multa até um ano.

2. As penas previstas no artigo 318º do código Penal serão


também aplicadas às entidades previstas no artigo 2.

3. A mesma pena será aplicada quando a vantagem solicitada


ou recebida pelos agentes previstos no artigo 2 tenham carácter
não patrimonial, desde que seja para a prática de acto que
implique violação dos deveres dos cargos ou omissão de acto
que tenham o dever de praticar, que consiste, nomeadamente:

a) Na dispensa de tratamento de favor a determinada pessoa,


empresa ou organização;

b) Na intervenção em processo, tomada de ou participação em


decisão que impliquem obtenção de benefícios, recompensas,
subvenções, empréstimos, adjudicação ou celebração de

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Manual Prático de Actuação

contratos em geral, reconhecimento ou registo de direitos e


exclusão ou extinção de obrigação com violação de lei;

c) Em facultar informações sobre concursos públicos em


prejuízo da competição leal;

d) Em facultar fraudulentamente informações sobre provas de


exame.

4. Se o acto não for, porém, executado, a pena será a de prisão


até um ano e multa até dois meses.

5. Tratando-se de mera omissão ou demora na prática de


acto relacionado com as suas funções, mas com violação
dos deveres do seu cargo, a pena será, respectivamente, no
caso dos n. 1 e 2, a pena de prisão até dois anos e multa
correspondente e no caso do n. 3, a prisão, até um ano e multa
até seis meses.

6. Se o oferecimento ou promessa aceites forem voluntariamente


repudiados ou restituído o dinheiro ou valor da vantagem
patrimonial antes da prática do acto ou da sua omissão ou
demora, cessam as disposições deste artigo.

Art. 8 (Corrupção passiva para acto lícito)

As entidades previstas no artigo 2 que, por si ou interposta


pessoa, com o seu consentimento ou ratificação, solicitarem
ou receberem dinheiro ou promessa de dinheiro ou qualquer
vantagem patrimonial ou não patrimonial, que não lhes sejam
devidos, para praticarem actos contrários aos deveres do seu
cargo e cabendo nas suas funções, serão punidos com pena de
prisão até um ano e multa até dois meses.

Art. 9 (Corrupção activa)

1. Quem der ou prometer a entidades previstas no artigo 2,


por si ou por interposta pessoa, dinheiro ou outra vantagem
patrimonial ou não patrimonial que a elas não sejam devidos,
com os fins indicados no artigo 8, será punido com as penas
daquela disposição.

2. Se, todavia, o crime tiver sido praticado para evitar que o


agente, os seus parentes ou afins até ao 3º grau se exponham

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Crime de Branqueamento de Capitais

ao perigo de serem punidos ou de serem sujeitos a uma sanção


criminal, pode o juiz atenuar extraordinariamente a pena.

3. A previsão do n. 6 do artigo 7 só aproveita ao agente da


corrupção activa se ele, voluntariamente, aceitar o repúdio da
promessa ou a restituição do dinheiro ou vantagem patrimonial
que havia feito ou dado.

4. O agente é igualmente isento de pena nos casos em que


o cometimento do crime tiver resultado de solicitação ou
exigência de funcionário, como condição para a prática de
actos da respectiva competência e o primeiro participar o
crime às autoridades.

Art. 10 (Participação económica em negócio)

1. As entidades previstas no artigo 2 que, com intenção de


obter para si ou para terceiro, participação económica ilícita,
lesar em negócio jurídico os interesses patrimoniais que, no
todo ou em parte, lhe cumpre, em razão das suas funções,
administrar, fiscalizar, defender ou realizar, será punido com a
pena de dois a oito anos de prisão maior e multa até um ano.

2. A mesma pena será aplicada às entidades previstas no artigo


2º que, por qualquer forma, receber vantagem patrimonial por
efeito de um acto jurídico-civil, relativo a interesses de que ele
tinha, por força das suas funções, no momento do acto, total
ou parcialmente à disposição, administração ou fiscalização,
ainda que sem os lesar.

3. Nos mesmos termos serão punidas as entidades previstas


no artigo 2 que receberem por qualquer forma, vantagem
económica por efeito de cobrança, arrecadação, liquidação
ou pagamento de que, por força das suas funções, total ou
parcialmente, estejam encarregados de ordenar ou fazer,
posto que se não verifique prejuízo económico para a Fazenda
Pública ou para os interesses que assim efectiva.

i) Peculato, art. 313º do CP


Todo o empregado público que em razão das suas funções tiver
em seu poder dinheiro, títulos de crédito, ou efeitos móveis
pertencentes ao Estado, ou a particulares, para guardar,
dispender ou administrar ou lhes dar o destino legal, e alguma

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Manual Prático de Actuação

coisa furtar, maliciosamente levar, ou deixar levar ou furtar a


outrem, ou aplicar a uso próprio ou alheio, faltando à aplicação
ou entrega legal, será condenado na pena correspondente ao
crime de roubo, nos termos do artigo 437º.

§ 1º – Se der dinheiro a ganho, ou emprestar ou pagar antes


do vencimento, ou se, estando encarregado da arrecadação
ou cobrança de alguma coisa pertencente ao Estado, der
espaço ou espera aos devedores, será condenado na pena
correspondente ao crime de furto, segundo o valor.

§ 2º – Se der ao dinheiro público um destino para o uso público


diferente daquele para que era destinado, será suspenso até
seis meses e condenado em multa de 500$ a 3000$00.

§ 3º – As disposições deste artigo e seus parágrafos


compreendem quaisquer pessoas que pela autoridade legítima
forem constituídas depositários, cobradores ou recebedores,
relativamente às coisas de que forem depositários públicos,
cobradores ou recebedores.

j) Contrabando e descaminho de direitos, arts. 199, 200 e


201 da Lei n. 2/2006, de 22 de Março (Lei dos Crimes Tributários)
Art. 199 (Fraude fiscal)

1. Será punível com pena de multa de 30.000.000,00Mt


até 500.000.000,00Mt, quem determinar a não liquidação,
entrega ou pagamento da prestação tributária ou obtenção
indevida de benefícios fiscais, reembolsos ou outras vantagens
patrimoniais susceptíveis de causarem diminuição das receitas
tributárias, quando:

a) ocultar ou alterar factos ou valores que devam constar dos


livros de contabilidade ou de escrituração, ou das declarações
apresentadas ou prestadas a fim de que a administração
tributária especificamente fiscalize, determine, avalie ou
controle a matéria colectável;

b) ocultar ou alterar factos ou valores que devam ser revelados


à administração tributária;

c) celebrar negócio simulado, quer quanto ao valor, quer quanto


à natureza, quer por interposição, omissão ou substituição de
pessoas.

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Crime de Branqueamento de Capitais

2. Para efeitos do disposto nos números anteriores, os valores


a considerar são os que, nos termos da legislação aplicável,
devem constar de cada declaração a apresentar à administração
tributária.

3. A tentativa e a frustração são puníveis nos termos do Código


Penal.

4. A cumplicidade e o encobrimento são puníveis nos termos


do Código Penal.

5. No caso de reincidência nos comportamentos previstos


neste artigo ou acumulação de infracções, a pena de multa
acresce a pena de prisão até 2 anos.

Art. 200 (Fraude fiscal qualificada)

1. Os factos previstos no artigo anterior serão puníveis com


pena de prisão maior de 2 a 8 anos e com pena de multa
de 100.000.000,00Mt a 3.500.000.000,00Mt, quando se
verifiquem as circunstâncias seguintes:

a) O agente for funcionário público e tiver abusado gravemente


das suas funções;

b) O agente se tiver socorrido do auxílio de funcionário público


com grave abuso das suas funções;

c) O agente falsificar ou viciar, ocultar, destruir ou inutilizar


livros, programas ficheiros informáticos e outros documentos
ou elementos probatórios exigidos pela lei tributária;

d) O agente utilizar os livros ou quaisquer outros elementos


referidos no número anterior, sabendo-os falsificados ou
viciados por terceiros;

e) Tiverem sido utilizadas pessoas singulares ou colectivas


residentes fora do território moçambicano e aí submetidas a
um regime fiscal claramente mais favorável;

f) O agente tiver actuado juntamente com outro ou outros com


quem se encontre em relações especiais.

2. A tentativa e a frustração são puníveis nos termos do Código


Penal.

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Manual Prático de Actuação

3. A cumplicidade e o encobrimento são puníveis nos termos


do Código Penal.

4. Os comportamentos descritos nas alíneas c) e d) do n. 1


são puníveis autonomamente se pena mais grave lhes couber.

5. Se no mesmo facto concorrer mais do que uma das


circunstâncias referidas no n. 1, só é considerada para a
determinação da pena aplicável a que tiver efeito agravante
mais forte, sendo a outra ou outras valoradas na medida
concreta da pena, como circunstâncias e carácter geral.

Art. 201 (Abuso de confiança fiscal)

1. Quem se apropriar total ou parcialmente de prestação


tributária deduzida nos termos da lei e que estava legalmente
obrigado a entregar a entregar à administração tributária,
será punido com pena de multa de 15.000.000,00Mt a
300.000.000,00Mt.

2. Para efeitos do disposto no número anterior, considera-se


também prestação tributária a que for deduzida por conta
daquela, bem como aquela que tendo sido recebida, haja
obrigação legal de a liquidar, nos casos em que a lei preveja.

3. Se nos casos previstos nos números anteriores a prestação


não entregue for superior a 500.000.000,00MT, o agente
será punido com pena de multa de 500.000.000,00MT a
3.000.000.000,00MT.

4. Para efeitos do disposto nos números anteriores, os valores


a considerar são os que devam constar de cada declaração a
apresentar à administração tributária.

5. A tentativa e a frustração são puníveis nos termos do Código


Penal.

6. A cumplicidade e o encobrimento são puníveis nos termos


do Código Penal.

7. No caso de reincidência no comportamento previsto no n.


3 deste artigo ou acumulação de infracções, a pena de multa
acresce a pena de 2 a 8 anos de prisão maior.

8. Para efeitos do presente artigo, considera-se haver


apropriação quando decorridos mais de 90 dias sobre o termo

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Crime de Branqueamento de Capitais

do prazo legal para a entrega da prestação sem que esta se


tenha verificado.

Este é o leque de infracções relativamente às quais são


possíveis a incriminação e a punição pelo crime de branqueamento
que tenha na sua origem a prática de um desses delitos12.
Atendendo ao estabelecido naquela recomendação do Gafi,
verificamos que Moçambique ainda não incluiu na tipificação de
crime antecedente os crimes praticados pela organização criminosa
contra o sistema financeiro, o tráfico de seres humanos e tráfico de
emigrantes; a exploração sexual, incluindo a exploração sexual infantil;
a contrafacção e pirataria de produtos; crimes ambientais; homicídio
e ofensas corporais graves; rapto, detenção ilegal e tomada de reféns
e utilização abusiva de informação privilegiada e manipulação do
mercado. Não obstante se tratar de normas que não são vinculativas
para os Estados, elas constituem um padrão internacional de combate
ao branqueamento pelo que se impõe a sua inclusão no nossa lei de
modo a adequar-se às normativas internacionais.

3.2.2 Relação entre crime antecedente


e crime de branqueamento
Existe uma relação de acessoriedade material entre o crime
de branqueamento e o crime antecedente de tal forma que, sem a
ocorrência deste, não há como tipificar aquele. Se, por exemplo,
o crime antecedente deixar de ser tipificado como crime, por
consequência, desaparecerá o crime de branqueamento baseado
nesse crime. Contudo, a melhor doutrina ensina que tal acessoriedade
não é máxima, mas sim limitada, ou seja, para se punir alguém
pelo crime de branqueamento, basta a prática de um facto típico e

12 Para Jorge dos Reis Bravo (2010, p. 139), o problema do conteúdo do “catálogo” de crimes
é, em grande medida, um problema de opção político-criminal, que partirá de pré-compreensões
do legislador em função da realidade criminológica e económico-financeira com que se depara.
Naturalmente que, sem pretender beliscar a legitimidade do legislador moçambicano, que
reserva a punibilidade do branqueamento a infracções de natureza exclusivamente criminal − o
que se aplaude − poderia o processo legislativo moçambicano evoluir no sentido das tendências
que emanam de instrumentos normativos internacionais e que preconizam a consideração como
crime precedente de infracções puníveis com pena de prisão de duração mínima de seis meses
e máxima de superior a cinco anos.

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Manual Prático de Actuação

antijurídico anterior, não sendo necessária a verificação dos elementos


culpabilidade e punibilidade. Assim, por exemplo, mesmo que o
agente do crime antecedente seja absolvido por questões formais,
como a falta de provas, é possível a punição do autor do crime de
branqueamento, atento à autonomia de um crime em relação ao outro.
Em conclusão, podemos aferir que o crime de branqueamento
depende do crime antecedente, mas apenas em parte.
Questão muito debatida na doutrina é a de saber se, caso
o agente do crime antecedente seja também do crime precedente,
estaríamos em face de um concurso material de infracções, no
sentido daquele ser punido tanto pelo crime antecedente como pelo
do branqueamento.
Se a conduta do agente preenche, abstractamente, as
previsões normativas dos crimes antecedentes e do branqueamento,
teremos efectivamente uma situação de concurso de normas. Só pode,
de facto, ser punido pela prática, em concurso real, de dois crimes
quem puder ser autor de ambos. Se o autor do crime precedente
não puder ser o autor do crime posterior, o branqueamento, não
haverá possibilidade de, em relação a ele, se colocar o problema do
concurso. O mesmo se pode dizer quando sejam diversos os agentes
do crime precedente e o do branqueamento, pois que, nesta situação,
teremos dois agentes, cada um respondendo pelo seu crime, um pelo
antecedente, outro pelo branqueamento.
Há, contudo, que indagar se, sendo o(s) mesmo(s)
agente(s) do crime precedente e do branqueamento, pode(m) ser
responsabilizado(s) por ambos os crimes, em concurso efectivo. Por
outras palavras, o autor do crime antecedente pode ser autor do crime
de branqueamento? Não estaríamos a violar o princípio ne bis in idem?
A solução do problema depende, em grande medida, da
resposta que dermos sobre qual o bem jurídico protegido num e
noutro crime.
Afigura-nos ser mais conforme aos princípios e razões
de ordem político-criminal que se deve aceitar a solução da
punibilidade em concurso real, efectivo, pelos crimes antecedentes

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Crime de Branqueamento de Capitais

e o de branqueamento, quando seja(m) o(s) mesmo(s) o(s) agente(s)


responsáveis pelas respectivas condutas típicas. Por exemplo, se o
autor do crime precedente de tráfico de estupefacientes é o mesmo do
crime de branqueamento, este deve ser punido em concurso efectivo
por um e por outro crime, visto serem diferentes os bens jurídicos
subjacentes em cada uma das condutas. Há condutas típicas que
preenchem o tipo legal do crime antecedente que são diferentes das
condutas típicas do crime de branqueamento.

3.3 Investigação e processo


A lavagem de capitais pode ser definida de várias maneiras,
entretanto, a maioria dos sistemas adopta a definição oferecida
pela Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de
Estupefacientes e Substâncias Psicotrópicas, de 1988 (Convenção de
Viena), e pela Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade
Organizada Transnacional, de 2000 (Convenção de Palermo).
Naquelas, o branqueamento é definido como a conversão ou a
transferência de bens, quando o autor tem o conhecimento de que
os bens são provenientes de qualquer infracção ou de participação
em tal infracção com o fito de dissimular ou ocultar a origem ilícita
desses bens ou de ajudar qualquer sujeito incurso nessas infracções
a furtar-se à acção da justiça ou às consequências jurídicas da sua
conduta ou ainda como a dissimulação ou ocultação da verdadeiara
origem, localização, disposição, movimentação, propriedade de bens
ou direitos a eles relacionados, tendo o agente plena consciência de
que advém de uma actividade ilícita ou de uma infracção.
No branqueamento, o agente utiliza e transforma produtos
de origem criminosa com vistas a dissimular a sua origem ilícita,
legitimando os ganhos ou proventos gerados na actividade criminosa.
Nos termos da legislação moçambicana em vigor, no caso,
da Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro, norma que estabelece o regime
jurídico de prevenção e repressão da utilização do sistema financeiro
para a prática de actos de branqueamento de capitais, bens, produtos
ou direitos provenientes de actividades criminosas, o branqueamento

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Manual Prático de Actuação

de capitais é definido como sendo a actividade que consiste na


transformação lícita de bens, produtos ou direitos provenientes de
actos ilícitos.
Portanto, a lavagem de dinheiro é um processo de legitimação
de capital sujo, com a finalidade de ocultar ou disfarçar a sua
proveniência ou origem criminosa.
Uma das principais vias utilizadas pelos branqueadores de
capitais são os bancos, pois, para além de facilmente lograrem
seu propósito principal, qual seja, a introdução do dinheiro sujo no
sistema financeiro formal, procuram garantir a segurança dos valores,
reconhecida que é a eficácia de alguns bancos neste particular
aspecto.
Ora, se assim é, então, os operadores bancários devem manter
uma estrita e permanente colaboração com o MP e outras entidades,
tal como o Gifim, envolvidas no combate a este mal.
Assim, por exemplo, os bancos devem adoptar políticas
internas que permitam actualização periódica do cadastro de seus
clientes para um melhor conhecimento, comunicando urgentemente
ao sector de supervisão bancária sobre aquelas operações que à
partida se afiguram suspeitas e, por sua vez, a supervisão bancária,
por dever de ofício, accionará o Ministério Público.
As instituições financeiras devem prestar atenção naquelas
transacções que envolvem somas monetárias bastante elevadas,
cobrando documentação de prova que legitime a sua proveniência. Na
falta de tal documentação, deverá abster-se de executar a operação,
accionando imediatamente o MP, por via do sector de supervisão
bancária.
Na verdade, para reduzir tanto quanto possível a acção dos
branqueadores de capitais, as instituições financeiras devem, no
âmbito permitido por lei, promover e estabelecer estritos intercâmbios
com autoridades judiciais e policiais, sem pôr de lado a possibilidade
de indicar um funcionário que actuará como uma espécie de charneira,

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Crime de Branqueamento de Capitais

neste eixo, o qual receberá todas as denúncias sobre operações


suspeitas de branqueamento de capitais.
Assim, quando as instituições financeiras tomam conhecimento
de factos que resultem presunção razoável de que os fundos usados
na celebração de contratos de parceria, concessão de créditos e outras
formas de financiamento, apólices de prémio único, entre outras
originam-se de actividades criminosas, devem ser tomadas medidas
apropriadas que sejam consistentes com a legislação em vigor e
tendo em atenção as obrigações contratuais, como, por exemplo, a
recusa em prestar assistência ao cliente ou cessar vínculo com este e
congelar o resgate da apólice, entre outras medidas atinentes.
O objectivo primordial dos lavadores de dinheiro não é o
lucro, mas, como dito precedentemente, a dissimulação da origem do
capital. Ora, se eles não estão preocupados com o lucro e injectam o
dinheiro no sistema financeiro dessa forma, o que vai acontecer é a
distorção da economia do país e da própria soberania do Estado. Na
verdade, os lavadores de dinheiro fazem-no por via de negócios que
seriam considerados “muito ruins”13, segundo regras de economia e
os princípios da administracção. Isso pode acontecer, por exemplo,
quando se utiliza da técnica de compra de passivos: empresas
endividadas ou falidas são compradas por preços irreais e usadas
mais tarde como fachadas para novas transacções.
Para além daqueles sofisticados mecanismos, segundo
o relatório final do Seminário sobre o branqueamento de capitais,
realizado em Matola em Junho de 2003, os branqueadores usam a
estratégia de preços fictícios, declarações de transacções inexistentes,
incentivo ao contrabando, recurso à utilização de contas móveis
através de transferências de fundos com destino a uma multiplicidade
de contas num curto período de tempo, constituição de off shore
trusts como meio de escamotear o real proprietário dos fundos
oficiais provenientes de ajuda para utilização em fins pessoais, falsos
benefícios que aparentemente advêm dos fundos branqueados face

13 Confira: <http://siteresource.worldbank.org/>.

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Manual Prático de Actuação

às necessidades financeiras dos países (quanto maior for o nível de


ajuda externa que um país da sub-região de África é receptor, maior
será a sua vulnerabilidade ao branqueamento de capitais), existência
de indivíduos que desejam perpetuar-se mediante a construção
de “altos muros circundando as suas posições/cargos” para
fortalecimento dessas mesmas posições de modo que, efectivamente,
o branqueamento de capitais possa prosseguir o seu curso, relutância
em adoptar nas empresas códigos de ética e conduta, para que elas
possam actuar como melhor lhes aprouver, o depósito de cheques
cruzados em contas distintas das dos beneficiários, entre outros.
Os cassinos constituem outra via de lavagem de dinheiro,
mormente, pelo emprego de combinações de apostas que se destinam
a não perder muito ou nenhum dinheiro, como é o caso de apostas
que se cancelam mutuamente.
Obviamente, este tipo de criminalidade visa, em parte,
obter lucro ou vantagem patrimonial e, então, reconhecendo os
branqueadores a ilícita proveniência dos valores, bens ou direitos,
empregam uma série de artifícios na sua gestão para que não sejam
facilmente descobertos pelas autoridades.
A prática mais comum para lograr aquele objectivo há de
ser a ocultação das fontes, dos proprietários, sempre que possível
transferindo os valores, movimentando-os tantas vezes quantas
possível, criando interpostas pessoas, sejam elas singulares sejam
elas colectivas (testas de ferro), distanciando-os cada vez mais da
origem, tornando dessa forma difícil a recomposição das pistas que
possam levar os investigadores à descoberta do crime.
Uma vez alcançada a ocultação ou a dissimulação, o agente
reinveste o valor numa actividade inserida na economia legal, de tal
sorte que transpareça tratar-se de bem cuja proveniência ou origem
é lícita.
Portanto, ao agente branqueador de capitais é fundamental
aquela actividade, pois que, por meio dela, para além do resultado
imediato, que é o lucro, aplica o dinheiro em novos crimes, mas
sempre com a preocupação de ocultar as suas operações, por forma

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Crime de Branqueamento de Capitais

a minimizar o risco de ser descoberto pelas autoridades policiais ou


do MP.
Assim, o lucro não é o principal objectivo de quem pratica a
lavagem de dinheiro, pois que casos há em que o dinheiro é investido
em actividades pouco rentáveis, em claro prejuízo à economia do
país, como foi dito precedentemente. Na verdade, o agente preocupa-
-se é com a protecção dos seus ganhos, disfarçando tanto quanto
possível sua ilícita origem.
Nos termos da Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro, os tipos
legais de crimes que se relacionam com a lavagem de capitais são os
elencados no artigo 4, n. 1.
Parece que a lei nos fornece uma enumeração taxativa, atento
à expressão determinativa empregue, qual seja, “dos crimes”. Ora,
se assim é, abre-se uma lacuna legal, na medida em que existem
infracções que, pela sua natureza, envolvem muito dinheiro, quais
sejam, o tráfico de pessoas, de emigrantes, de órgãos humanos, entre
outras, que hodiernamente vão ganhando corpo no nosso país, daí
que sugerimos uma reforma pontual da lei para nela se introduzir uma
redacção que possa abranger mais infracções.
O crime de branqueamento de capitais depende da existência
de um crime antecedente que por força daquele comando normativo
deverá ser um dos ali elencados.
Como foi dito, quem pratica a lavagem de capitais preocupa-
-se tanto quanto possível em administrar os proventos da actividade
de tal forma que a sua movimentação ou o seu uso não desperte
atenção.
A lavagem de capitais não é problema apenas de Moçambique,
pois que tem dimensão mundial, agregando organizações criminosas
de reconhecido poder, que, por via de suas actividades e dinheiro
“sujo”, põem em causa o sistema económico e financeiro e a soberania
do Estado, podendo minar o Estado de Direito.
Portanto, é um problema que preocupa a globalidade dos
países, pois que a lavagem de dinheiro é usada por organizações

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Manual Prático de Actuação

criminosas sofisticadas envolvidas em criminalidade perigosíssima, de


natureza económica, financeira, com vistas a introduzir no sistema
financeiro legal fundos provenientes de actividades ilícitas. Depois de
“purificado”, o dinheiro é utilizado por essas organizações para, por
exemplo, ascenderem a posições vitais da economia, na sociedade
e na arena política. Daí que, em 1989, foi constituído o Gafi (Group
d`Áction Financière surle blanchiment de capitaux) ou (FATF)
(Financial Action Task Force on Money Laundering), com o propósito
de combater acções dos criminosos em branquear os rendimentos de
actividades criminosas através do sistema financeiro.
Visando aquele propósito, o Gafi preparou quarenta
recomendações cobrindo o sistema judicial na área penal e aplicação
das leis, o sistema financeiro e a sua regulamentação e a cooperação
internacional contra o branqueamento de capitais.
Em Outubro de 2001, o Gafi expandiu o seu âmbito, passando
a abarcar a temática relacionada com o financiamento ao terrorismo,
tendo produzido recomendações específicas relativas a esta questão
do financiamento ao terrorismo, as quais voltaram a ser objecto de
actualização em Outubro de 2004.
Refira-se que estes dois últimos pacotes de recomendações,
que acabaram por ser baptizados de “40+9”, vieram fixar um quadro
transnacional para identificar, prevenir e suprimir as actividades de
branqueamento de capitais e de financiamento ao terrorrismo, mas
antes aquelas quarenta recomendações do Gafi14 foram objecto de
revisão em Junho de 2003.
Segundo o mencionado relatório do Seminário sobre
o branqueamento de capitais15, as principais modalidades de
branqueamento de capitais são duas, designadamente, a implementação
de medidas para escamotear a conexão entre fundos/valores activos
e as ofensas/crimes que deram origem à existência de tais fundos e o

14 Em 16 de fevereiro de 2012, o Gafi publicou as Recomendações Gafi revisadas, sob o título


“Padrões Internacionais de Combate à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo e
da Proliferação”, em que revisou e identificou as jurisdições com base nas 40+9 Recomendações
Gafi, de 2003.
15 Relatório final do Seminário sobre o branqueamento de capitais, 2003, p. 5.

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Crime de Branqueamento de Capitais

recurso a procedimentos para escamotear a verdadeira propriedade/


ligação aos fundos já branqueados, num esforço pra esconder os
crimes que originaram os fundos branqueados, bem como dissimular
a fase primária do processo de branqueamento.
Ainda segundo o mesmo relatório, o branqueamento de
capitais está ligado, entre outras, às seguintes actividades:
 tráfico de drogas;
 obtenção de fundos provenientes de assaltos a meios de
transporte de valores (código “ice” na RSA) com recurso a
armas de fogo;
 prática de actos de corrupção (que geram o branqueamento
de fundos que são exportados – outward laundering – sendo
o caso mais conhecido os milhões de dólares drenados pelo
falecido presidente nigeriano Abacha);
 geração de fundos com origem primária no contrabando de
armamento;
 roubo e transacções de viaturas roubadas;
 existência de sindicatos de crime e suas ligações transnacionais;
 ligações entre o branqueamento de capitais e outros crimes,
designadamente, contrafacção de notas, tráfico de drogas,
contrabando de armas, prática de actos de pirataria, terrorismo
e actos de corrupção;
 acordos e contratos ilegais com minerais e outros recursos
naturais preciosos (um dos métodos usados na região austral
de África é o denominado pela polícia sul-africana por salting,
em que um determinado prospector, após haver sido legalmente
licenciado para explorar diamantes numa certa área concessionada,
passado algum tempo dá a conhecer às autoridades do sector
que descobriu minerais, para o que lhe é concedida licença
para exploração comercial do produto, mas a declaração de
proventos não será a de diamantes daquela área que consta
do registo das autoridades, mas de uma outra zona. A referida

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Manual Prático de Actuação

área serve de base pra obtenção de certificação de diamantes


originários de outros locais, sobretudo, de zonas sob situações
de conflito);
 existência de transacções não documentadas (ou seja,
realizadas sem registo), especialmente no sector informal
da economia, associadas à existência de economias
predominantemente assentes em transacções em dinheiro
vivo. Tal ocorre nas transacções com bens sujeitos a registo
em que o título de propriedade (title deeds) sequer é registado,
porque tal procedimento nem sequer é parte integrante da
ordem jurídica de alguns países da região, por exemplo, o
Quénia), muito embora o cidadão possa, nesses mesmos
países, ser proprietário de bens imóveis;
 existência de imigração ilegal;
 envolvimento directo de centros financeiros off shore (centros
financeiros fora do controlo fiscal), como chegaram a sê-lo as
Ilhas Maurícias no período anterior àquele em que este país
optou por tomar um conjunto de medidas visando proteger o
seu sistema financeiro contra as operações dos branqueadores


de fundos.
Aliás, a lavagem de dinheiro faz parte do mundo da
criminalidade organizada e esta, como é sabido, regra geral, sempre
andou à frente do direito penal, ou seja, desenvolve para sua protecção
meios (humanos e tecnológicos) mais sofisticados que os colocados a
dispor da investigação criminal.
Quem pratica a lavagem de dinheiro não é nenhum tolo, não
se expõe, por isso, às garras da Justiça e, para lograr este propósito,
investe o próprio dinheiro que obtém da actividade ilícita na aquisição
de sofisticados meios de protecção ou encobrimento do crime.
Os mecanismos comumente usados no branqueamento
de capitais têm sido a utilização de contas “bancárias móveis”,
constituição de off shores trusts, funcionamento dos off shores trusts
nos off shores centres, smurfing, contrabando, aquisição de negócios
falidos (para “emprestar” uma face legal aos negócios através dos

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Crime de Branqueamento de Capitais

quais se procede à canalização de fundos ilegais), uso de preços


fictícios, declaração de transacções inexistentes, constituição de
“empresas de fachadas ou empresas fantasmas16.
Na verdade, o branqueamento de capitais é por vezes levado a
cabo por autênticas organizações criminosas que se caracterizam por
estrutura hierarquizada do estilo piramidal, muito comum no tráfico
de drogas, de tal sorte que os diversos agentes envolvidos não se
conhecem. Isso não é por mero capricho organizacional, mas antes
para evitar que, com a descoberta de um, se possa “queimar” a
cadeia piramidal.
Ora, agindo o agente nestes termos, fácil se depreende que a
investigação sobre a lavagem de activos não é tarefa fácil, exigindo,
por isso, actuação eficaz dos agentes da Polícia de Investigação
Criminal, dos magistrados do MP e sempre com a imprescindível
colaboração das instituições financeiras e de outras que possam
ajudar a encontrar a trilha do dinheiro sujo. As instituições financeiras
devem empenhar-se na determinação da verdadeira identidade de
todos os clientes.
Todos os bancos comerciais, casas de câmbios, seguradoras,
entre outras devem instituir procedimentos efectivos para obter a
identificação de novos clientes.
Como medidas adicionais tendentes ao combate ao
branqueamento de capitais, as instituições financeiras devem:
 adoptar procedimentos apropriados referentes à manutenção
interna dos registos relativos aos seus clientes;
 estabelecer procedimentos e políticas que possam habilitar
os seus profissionais em ferramentas que lhes permitam
detectar indícios de transacções suspeitas que devem ser
imediatamente denunciadas às autoridades competentes, no
caso, o Ministério Público;
 potenciar na permanente formação dos seus trabalhadores
em matéria de identificação de operações suspeitas de
branqueamento de capitais;
16 Relatório final do Seminário sobre o branqueamento de capitais, 2003, p. 12.

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Manual Prático de Actuação

 adoptar mecanismos eficazes para identificação daqueles


clientes que se enquadrem nas chamadas Pessoas
Politicamente Expostas (PEPs) – pessoas singulares que
exerçam ou tenham exercido proeminentes funções públicas,
dentro ou fora do país, por exemplo, funcionários públicos
séniores, oficiais de justiça, oficiais militares, políticos
influentes ou de relevo, ex-presidentes da República ou chefes
de governo).
É necessário, outrossim, que se invista na especialização de
corpos de magistrados judiciais e do Ministério Público (e não na
criação de tribunais especiais) com vistas ao combate deste mal.
As acções não devem parar pela formação, mas também na regular
capacitação desses magistrados e ainda na criação de meios materiais,
financeiros e logísticos necessários aos desafios que o combate ao
branqueamento de capitais apresenta à Justiça moçambicana.
Para além do factor organizativo, os agentes branqueadores
de capitais introduzem o dinheiro sujo na economia legal, atribuindo-o
aparência lícita. Então, como investigar este tipo legal de crime gizado
meticulosamente ao pormenor pelos seus mentores?
Doutrinariamente são avançadas duas vias para investigação
do branqueamento de capitais, a saber:
a) sentido cronológico ou directo e;

b) sentido inverso ou da UIF.

Pelo primeiro sentido, entende-se que a investigação tem de


partir do crime antecedente para se apurar a lavagem.
Pela segunda via, a investigação deve partir da lavagem
de capitais até se descortinar o crime antecedente. Entretanto, a
esta segunda via aponta-se-lhe inconveniente que tem a ver com a
dificuldade de se apurar o crime antecedente do branqueamento,
naqueles casos em que se mostra imprescendível o envolvimento,
no processo investigativo, de outros países, cujos sistemas jurídicos-
-penais não tipificam como crimes, por exemplo, a evasão de divisas
ou a sonegação.

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Crime de Branqueamento de Capitais

Ora, para investigar com eficiência casos de lavagem de


dinheiro, não basta que as instituições financeiras tenham pessoal
dotado de conhecimentos para identificar indícios de lavagem; não
basta que aquelas instituições adoptem medidas que assegurem
uma fiscalização ou supervisão para verificar com certa regularidade
o cumprimento dos procedimentos inerentes à actividade de
branqueamento de capitais; não basta a sua colaboração com as
autoridades policiais e judiciais; é imprescindível a especialização dos
magistrados judiciais e do Ministério Público e dos auxiliares deste,
no caso, da PIC, para o combate deste tipo de criminalidade, sem se
deixar de parte o providenciamento de recursos à altura do problema.
Na verdade, não basta um quadro legal ou medidas legislativas
despidas de recursos financeiros para sua materialização, pois, de
contrário, transformar-se-ão em letra morta, ou seja, candidatar-se-ão
irremediavelmente ao malogro.
Portanto, no caso do nosso país, Moçambique, é imprescindível,
conforme dito precedentemente, que, para o combate daquele tipo
de delito, os magistrados, quer do Ministério Público, quer judiciais,
tenham especialização para lidar com o problema que é uma das
maiores fontes de distorção da economia do país, na medida em
que, tendo por fito ocultar a origem ilícita do capital e dificultar as
investigações, os agentes envolvidos no branqueamento de capitais
aplicam o valor em actividades ineficientes, ou seja, as decisões
do seu investimento não decorrem de uma motivação económica
normal, mas sim do objectivo de injectar, misturando o rendimento
de actividade ilícita com dinheiro limpo, ou de proveniência lícita.
O branqueamento de capitais não se combaterá apenas com
adopção de medidas legislativas. Moçambique possui legislação
inerente, designadamente, a Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro, e a Lei
n. 14/2007, de 27 de Julho (Gifim), todavia, elas não terão eficácia
desejada sem especialização de recursos humanos que devam
combater o delito, nem sem alocação de recursos financeiros à altura.
A par daquelas duas medidas, é necessária a pronta
colaboração das instituições financeiras ou dos operadores bancários

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Manual Prático de Actuação

e outras instituições onde se suspeite que para lá haja sido injectado


ou aplicado dinheiro de origem ilícita.
O Ministério Público deve ter acesso directo aos dados
necessários para alavancar a investigação em caso de suspeita de
branqueamento de capitais. Na verdade, não faz o mínimo sentido
que o Ministério Público não tenha acesso, por exemplo, às certidões
de registo predial, de registo de entidades legais, de registo de
importação de viaturas, de organizações não governamentais, dos
extractos de conta bancários, de chamadas telefónicas, entre outros.
O mecanismo processual usual no nosso sistema judicial, que
consiste na obtenção daqueles dados por via de expedição de ofício,
não é tecnicamente compatível com a velocidade com que actua a
criminalidade organizada. Enquanto a justiça prepara um ofício a
alguma instituição financeira para recolher determinada informação,
o visado pode facilmente tomar conhecimento do facto e aí desfazer
as provas ou tomar medidas tendentes a ocultar aqueles aspectos
indiciadores do branqueamento de capitais.
Não funcionarão ainda aquelas leis se elas não sofrerem
alteração pontual, permitindo-se, por exemplo, o emprego de
determinadas técnicas de investigação, como sejam, a infiltração de
agentes, a vigilância controlada, uso de alvíssaras ou recompensa,
escutas telefónicas, intercepção de correspondência, a protecção
de testemunhas e declarantes, para além, claro, do alargamento do
leque de crimes relaccionados, pois, conforme dito precedentemente,
a Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro, faz uma enumeração taxativa
dos tipos legais de crimes que possam estar relacionados com o
branqueamento de capitais.
Para além daquela inconveniente limitação, naquela lei
surpreendemos uma contradição que merece esclarecimento a bem
da justiça.
Com efeito, os n. 1 a 4 do artigo 2 daquele diploma legal parece
indicar limitar o âmbito da sua aplicação a “pessoas colectivas”, pois
ali não há referência alguma a pessoas singulares ou físicas. Todavia,
e aqui reside a contradição, na tipificação, cujo texto consta do artigo

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Crime de Branqueamento de Capitais

4, constatamos o emprego de um termo (“Todo aquele que […]”) que


parece admitir que a lei aplica-se também às pessoas singulares.
Reforçamos ainda a nossa percepção de que a lei possa ser
aplicada a pessoas singulares quando, no artigo 10, é imposta às
instituições financeiras a rigorosidade na identificação de seus clientes.
Aliás, pela leitura ao disposto no n. 5 do mesmo artigo,
constatamos que se admite a possibilidade de não se tratar de pessoa
colectiva.
Conforme dito precedentemente, é preciso que se faça o devido
esclarecimento, sabido que, em matéria criminal, não é permitida a
interpretação extensiva.
Na investigação de um caso de lavagem de dinheiro, é
importante preliminarmente prestar atenção para a forma como
a informação ou a notícia sobre a existência do delito chega ao
conhecimento das autoridades – se por anonimato ou fonte aberta –
e em seguida verificar a probabilidade da sua investigação e depois
determinar o sentido do que foi apurado.
Assim, identificando-se qual o crime precedente, adaptar-
-se-á o sentido normal. Aqui o investigador deverá identificar o
mecanismo usado na lavagem do dinheiro, empregando as técnicas
anteriormente indicadas, incluindo-se aqui as diligências judiciais de
buscas e aprensões e expedindo-se ofício ao Gabinete de Informação
Financeira de Moçambique (criado pela Lei n. 14/2007, de 27 de
Junho) para apurar se sobre a pessoa investigada teria havido alguma
comunicação suspeita.
Desconhecendo-se o crime precedente, deve-se procurar
saber se a informação provém de terceiros, colher informação do Gifim
quanto a se houve ou não participação anterior contra o suspeito,
recolhendo-se toda documentação inerente no caso afirmativo.
Depois, será necessário verificar se o suspeito já esteve envolvido
anteriormente em algum dos crimes antecedentes elencados na lei e
relaccionados com a lavagem de capitais.

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Manual Prático de Actuação

Ao apurar seu anterior envolvimento, deve-se solicitar o


respectivo processo para ali verificar se houve similitude no modus
operandi.
O âmbito das investigações poderá estender-se às pessoas
próximas ou das relações do visado, com vistas a apurar-se a teia
criminosa.
É preciso não perder de vista que, por vezes, alguns
responsáveis de instituições financeiras têm tido actuação conivente
ou cúmplice face às operações que, à partida, indiciam lavagem de
dinheiro, as chamadas operações suspeitas; daí que, para além de
as investigações terem de ser extensivas às pessoas próximas do
suspeito, elas terão de ser igualmente extensivas aos responsáveis das
instituições financeiras, os indiciando pelo delito de branqueamento
de capitais.
Ainda relativamente à conivência por parte dos trabalhadores
das instituições financeiras, que pode ser caracterizada pela não
comunicação ao Gifim sobre operações suspeitas, aquela decorre por
vezes do facto de os donos daquelas instituições serem indivíduos da
elite política do país ou a elas ligadas ou de alguma forma influentes.
Assim, tendo tais pessoas conhecimento de que suas firmas
foram propositadamente criadas com o fim último de branqueamento
de capitais, ou estão sendo usadas para aquele fim, obviamente que
não deixarão de instruir os seus empregados para que tenham atitude
omissiva perante operações que se enquadrem naquele âmbito.
Um dos maiores desafios ou obstáculos ao combate do
crime de branqueamento de capitais reside precisamente quando
os envolvidos são as chamadas personalidades da elite política do
país, as quais têm também participação na vida empresarial, pessoas
economicamente influentes, ainda que não sejam necessariamente
políticas, e também pessoas que por qualquer razão ou mister ganham
alguma notoriedade no meio social onde se acham inseridas.
Nesses casos, entendemos que as investigações deverão
abranger os proprietários dessas instituições financeiras, sem olhar
para a sua posição no xadrez político nacional, sua notoriedade,

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Crime de Branqueamento de Capitais

sua influência, em suma, sua privilegiada situação socioeconómica,


procedendo-se ao garimpo de toda a informação que for pertinente
para apurar o seu envolvimento ou não no delito de lavagem de
capitais.
Neste caso concreto, dever-se-ia estimular a denúncia
recompensada e não se deve recear por despesas decorrentes deste
tipo de denúncia, pois aquelas seriam largamente compensadas pela
recuperação dos activos.
É preciso que se diga que, neste particular caso, os
investigadores enfrentarão enormes dificuldades no seu trabalho em
razão das privilegiadas posições dos visados.
Julgamos que não basta a existência do quadro legal que
preconize o combate ao delito de branqueamento de capitais, sendo,
pois, necessário que os investigadores estejam dotados de mecanismos
que os permita trabalhar sem depender da vontade política, daí, no
nosso entender, o recurso aos serviços de inteligência, que deverão
trabalhar em estreita colaboração com o Ministério Público, tal como
acontece em países como o Brasil.

3.4 Como investigar um caso suspeito de


branqueamento de capitais
Atente-se para a seguinte hipótese: a cidadã MANUELA
VIAJANTE, titular de uma conta no Banco “SACO AZUL”, efectuou,
no dia 13 de Janeiro de 2012, depósito de dois milhões de Meticais
em numerário, tendo declarado, quando questionada pelo empregado
bancário que a atendeu, que se tratava de dinheiro deixado a título de
herança pela avó, que em tempos trabalhou numa fábrica de calçados,
localizada algures na cidade da Matola. Entretanto, quando mais uma
vez questionada por um outro empregado do mesmo banco sobre a
proveniência do montante, respondeu que eram poupanças de seus
ganhos fora do país, nomeadamente na África do Sul e Suazilândia,
onde era “garota de programa em clubes nocturnos”.
Perante um caso desse, que procedimentos devem ser
tomados?

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Manual Prático de Actuação

a) O empregado bancário deve colher identificação completa,


comprovando-a com documento válido, caso seja novo cliente
(tratando-se de quem já é titular de uma conta naquele banco,
já deixou registada sua identificação no acto de sua abertura),
seguidamente dará a conhecer (denúncia nos termos dos
artigos 160º, n. 1, do CPP, e 6 e 9 do Decreto-Lei n. 35.007,
de 13 de Outubro de 1945) sobre a operação ao Sector
de Supervisão do Banco que, por sua vez, está obrigado
igualmente a informar o Ministério Público, nos termos do n.
1 do artigo 20 da Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro.

b) Uma vez remetido o processo contendo a informação


suspeita ida do sector de supervisão bancária ao Ministério
Público e tratando-se de crime de natureza pública, esta
instância promoverá o competente procedimento criminal,
dando-se assim o início da instrução preparatória (DL n.
35.007, de 13 de Outubro de 1945, arts. 12 e ss), no âmbito
da qual se solicitará ao poder judicial (ao Juiz de Instrução
Criminal) a quebra do sigilo bancário, do sigilo telemático
e telefónico, nos termos do n. 1 e 2 do artigo 1 da Lei n.
9/1992, de 6 de Maio, para que se possam verificar e analisar
o movimento bancário, pessoas com quem se comunica a
pessoa visada. Deverão ser requisitadas, nos termos do
disposto no artigo 92º do CPP, cópias ou originais de todos os
documentos exigidos ao visado no acto de abertura da conta e
outros que porventura os haja oferecido a posterior, alterando
ou actualizando algum deles. Deverá ser colhida informação
sobre ocupação profissional da visada, seus rendimentos e
sobre outras contas que possa ter dentro e fora do país. Às
autoridades de Migração deverá ser solicitado o movimento
migratório da visada de e para África do Sul e Suazilândia.
Caso a visada tenha avançado com indicação de nomes dos
clubes nocturnos por si frequentados naqueles dois países
estrangeiros, os investigadores deverão, caso se mostre
necessário, aferir a existência física de tais estabelecimentos,
por carta rogatória. Serão ainda realizadas diligências de prova
tendentes à confirmação da alegada relação laboral da avó da

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Crime de Branqueamento de Capitais

visada e, se possível, seu salário ou a totalidade de montante


salarial que auferiu durante os anos em que esteve ligada a
tal fábrica de calçado que, para tanto, deverá ser identificada
e confirmada sua existência legal, junto à conservatória das
entidades legais. Na instrução preparatória, deverá ser levado
em conta, de entre outros, o facto de a indiciada ter oferecido
justificações contraditórias relativamente à proveniência do
dinheiro, uma vez que é sintomático de ilicitude.

c) Finda a instrução preparatória e havendo sido produzida


prova indiciária bastante, o MP deduzirá a acusação,
observando o disposto no artigo 359º do CPP, ou seja, o nome
do acusador, sua profissão e morada, se não for o MP, o nome
da arguida, sua profissão e morada, quando conhecidos, e
quaisquer outras indicações necessárias para determinar a
sua identidade, a narração discriminada e precisa dos factos
que constituem a infracção, indicando, se possível for, o
lugar e tempo em que foram praticados, o motivo por que o
foram, o grau de participação que nele teve a acusada e as
circunstâncias que precederam, acompanharam ou seguiram
a infracção e que possam constituir agravantes ou atenuantes.
A indicação da lei que proíbe o facto e o pune. O rol de
testemunhas, com seus nomes, profissões e moradas ou
outros sinais necessários para a sua identificação e indicação
das demais provas. Por fim, o local, a data e assinatura do
acusador.

Em face do caso prático acima enunciado, o seu julgamento


poderá levar-nos à conclusão de que a visada estava incursa no delito
de branqueamento de capitais ou então num outro, que poderá ser
de natureza fiscal.

3.5 Autonomia entre o crime antecedente


e o branqueamento
O crime de branqueamento exige a preexistência de um delito,
de um facto tipificado como crime, ou seja, conforme dissemos

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Manual Prático de Actuação

anteriormente, depende da existência de um crime anterior, sendo


que não se exige que se faça prova da autoria ou que tal autor
haja sido responsabilizado (condenado), bastando tão somente que
existam elementos típicos que apontem para a existência de um
crime antecedente.
O crime de lavagem de dinheiro não tem por objecto o crime
antecedente, daí que não se mostra necessário fazer-se a prova dos
elementos materiais daquele delito, mas sim que se faça prova que
o objecto do delito da lavagem é fruto de um crime precedente,
exigindo-se desta forma prova da existência do crime antecedente.
Dito doutro prisma, é normalíssimo que possa haver punição do crime
de branqueamento, ainda que o crime antecedente não tenha sido
punido, bastando, pois, que sejam recolhidas ou apuradas provas
bastantes sobre a ilícita proveniência dos bens.
Na mesma esteira de pensamento, não se levantam aspectos
que tenham a ver com autoria ou culpa do crime relacionado.
Pelo o acima dito, conclui-se que existe certa autonomia
material entre o crime antecedente e a lavagem de capitais e que
se não deve condicionar a punição do crime da branqueamento à do
crime antecedente ou relacionado.
Aliás, o n. 2 do artigo 4 da Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro,
nos ajuda a sustentar aquela conclusão, quando ali se afirma que “a
punição dos crimes previstos no n. 1 daquela lei tem lugar, ainda que
os factos que os integram tenham sido praticados fora do país”.
Assim, ainda que o crime antecedente não haja tido lugar
em Moçambique e, consequentemente, não tenha sido instaurado
o competente procedimento criminal por tal crime, o delito de
branqueamento terá censura jurídico-penal.
Este critério punitivo revela a preocupação do legislador
moçambicano em sancionar o branqueamento, pois, de outra sorte,
seria bastante difícil a sua repressão, atendendo que hodiernamente
o delito de lavagem de capitais vai ganhando contornos de perfeição
na sua execução, com o envolvimento de mais de um agente numa
organização piramidal em que os actores sequer se conhecem, o

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Crime de Branqueamento de Capitais

envolvimento de mais de uma pessoa colectiva, o uso de testas de


ferro, dos chamados laranjas e com teias transnacionais, entre outras
acções tendentes a dificultar a descoberta da trilha do delito.
Portanto, no interesse primordial do combate ao branqueamento
de capitais, deve-se aceitar a autonomia processual entre o delito
antecedente e o branqueamento.
É perfeitamente normal que surjam casos em que se torna
impossível a congregação dos dois delitos, ou seja, do antecedente
e do branqueamento. Todavia, sendo possível, pode-se chegar à
conclusão que não é curial o julgamento simultâneo dos crimes.
Rematando, significa dizer que, fazendo-se depender a
punição do branqueamento à punição do crime antecedente, estar-
-se-ia a oferecer aos agentes do crime uma autêntica “carta branca”.

3.6 Prova indiciária


Conforme dito precedentemente, o crime de branqueamento
de capitais vem tomando, na actualidade, formas muito sofisticadas
com o propósito último de dificultar a descoberta da sua existência e
dos agentes envolvidos.
Na verdade, tendo o dinheiro sido obtido ilicitamente, os
agentes, usando as mais diversas formas possíveis, introduzem-no
em determinado sector de actividade, misturando-o com dinheiro
licitamente obtido.
Então, mostrando-se difícil o processo de colheita de provas
no crime de branqueamento de dinheiro, a solução passará pela
adopção de dois critérios, quais sejam: apurar se o bem que é objecto
de lavagem é de origem ilícita e se o agente tinha ou não consciência
da ilícita proveniência do bem, não se podendo, porém, admitir a
inversão do ónus de prova como justificativa pela difícil recolha desta.
Assim, neste delito de branqueamento de capitais, parece
que a saída para o problema há de ser a admissão de prova indiciária,
prova indirecta, tida como a “rainha” das provas naquele delito.

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Manual Prático de Actuação

A admissão da prova indiciária, na impossibilidade de se obter


a prova directa (pelas dificuldades que resultam da profissionalização
em que os envolvidos acobertam o delito), mostra-se de elevado
valor processual, pois, de contrário, estar-se-ia a abrir espaço para a
legitimação da lavagem de dinheiro.
Entretanto, formalmente, o acusador terá de determinar de
maneira clara os indícios em que assentou a peça acusatória, por
forma a que uma vez introduzidos os feitos em juízo aqueles se
mostrem bastantes para concluir que efectivamente se está perante a
um delito de branqueamento de capitais.
Não é necessariamente exigido que seja mais do que um
indício, pois, sendo um, este deverá ser suficientemente pejado de
carga probatória.
Existindo mais de um indício, estes deverão estar inter-
-relacionados, por forma a criarem maior coesão probatória.
Podem constituir indícios bastantes para iniciar uma
investigação (garimpo) por crime de branqueamento de capitais
quando, por exemplo, se constatar que:
 O visado ostenta sinais exteriores de enorme riqueza, a
avaliar pelos bens móveis e imóveis, incompatíveis com seus
rendimentos.
 Movimentação de elevadas somas monetárias em espécie ou
o chamado dinheiro vivo, quer com finalidade de depositar no
banco, quer circulando ou transitando com elas em qualquer
meio de transporte ou mesmo a pé. Segundo Rômulo de
Andrade Moreira (2009),
Tudo que for propício à movimentação de dinheiro em espécie
com maior número de pessoas anônimas torna fácil a lavagem.
É o caso dos bingos. Há também as transações imobiliárias,
a criação de avestruzes, de gado, os bilhetes de lotarias.
Os lavadores sempre são criativos. Também apelam para
restaurantes, compra de apartamentos de luxo, hotéis.

 Abertura de várias contas em bancos distintos.

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Crime de Branqueamento de Capitais

 Participação em várias sociedades.


 Frequentes participações em jogos nos cassinos.
 Existência de falsas sociedades.
 Participação em leilões.
 Construção de cadeias de imóveis e sua posterior venda
(negócio de imobiliária).
 Ofertas ou doações de valiosos bens, incluindo dinheiro e
serviços em campanhas ou eventos políticos, não só como
também em apoio a pessoas necessitadas.
 Frequentes patrocínios a eventos de naturezas várias.
 Excessivos gastos financeiros por rubrica publicitária em
meios de comunicação social, principalmente a televisão,
entre outros.
As medidas cautelares no crime de branqueamento de capitais
mostram-se de importância capital, pois constituem uma das formas
mais eficazes para se reprimir e desencorajar os agentes daquele tipo
legal, os quais possam ganhar vantagem patrimonial, caso aquelas
medidas não sejam accionadas.
No ordenamento jurídico moçambicano, aquelas medidas se
acham reguladas no artigo 5 da Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro, que
deve ser conjugado com os artigos 75º, n. 1, do CP, e 202º e ss do
CPP.
Tais medidas consistem, nos termos daqueles dois dispositivos
legais, na perda a favor do Estado dos bens que tenham servido ou
estavam destinados a ser usados na prática de alguma das infracções
previstas na Lei contra o Branqueamento de Capitais (Lei n. 7/2002,
de 5 de Fevereiro, art. 6).
O n. 2 do artigo 5 da Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro, vai
mais longe ao permitir que as apreensões de bens que tenham servido
ou estavam destinados a ser usados na prática de alguns dos crimes
relacionados com o branqueamento de capitais e posterior declaração

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Manual Prático de Actuação

a favor do Estado possa ter lugar mesmo que nenhuma pessoa possa
ser punida ou condenada, ou ainda que tenha sido absolvida.
Assim deve ser porque o que se exige nestes delitos é a
existência de indícios bastantes da ilícita proveniência dos bens ou da
existência do delito. Aquela construção legal, permitindo a perda de
bens a favor do Estado ainda que não haja sido condenada determinada
pessoa, visa atender às exigências de repressão do lucro proveniente
da actividade económica exercida para acobertar a lavagem.
O legislador moçambicano, nos artigos 5, 6, 7 e 8 trata a
apreensão de bens oriundos de actividades inseridas no branqueamento
de capitais de forma que pode ser considerada suficientemente
abrangente ou ampla, determinando que tais bens sejam depois
entregues ao Estado.
Para que se concretize a aprensão, é imprescindível a
identificação do bem e a conclusão sobre maior probabilidade de este
ter proveniência ilícita. Assim, proceder-se-á à sua judicial apreensão,
com rigorosa observância do disposto nos artigos 202º e ss do CPP.
Com efeito, a aprensão deverá ter por base uma ordem emitida
pelo poder judicial, ou seja, por um juiz da causa ou da instrução
criminal, conforme o feito haja sido introduzido em juízo ou esteja
na fase de instrução preparatória, oficiosamente, a requerimento do
Ministério Público e da parte acusadora, se a houver (art. 203º e ss
do CPP).
Esta ampla abrangência tem sua vantagem, pois somente
com medidas amplas e agressivas pode-se combater eficazmente o
delito de branquemento de capitais.
Ao consagrar aquela disposição, o legislador moçambicano
pretendeu reprimir de forma vigorosa os proventos, os lucros advindos
da actividade ilícita.
Diferentemente da legislação moçambicana, a brasileira
elencou como medidas cautelares a apreensão e o sequestro (art. 4);
àquelas duas medidas se acrescem o arresto e a hipoteca, embora não
estejam elencadas naquela lei. Julgamos que, para um eficaz combate

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Crime de Branqueamento de Capitais

ao delito de branqueamento de capitais, é necessário que sejam


acolhidas para o nosso ordenamento jurídico algumas das práticas
cautelares do sistema brasileiro, nomeadamente, a acção controlada
(apreensão no momento considerado ideal ou oportuno por forma
a constituir prova da existência do delito), o sistema electrónico do
Bacen-jud que permite que o poder judicial possa urgentemente, ou
seja, em tempo real, solicitar às instituições, mediante conhecimento
do banco emissor, uma ordem judicial de bloqueio ou congelamento
da conta ou activos do suspeito, bem como solicitar informações, tais
como saldos, número da conta, extractos, domicílio do cliente, entre
outros dados relevantes, pela internet.
A adopção desse sistema é bastante vantajosa pois:
 os magistrados em muitíssimo curto espaço de tempo recebem
os dados que necessitam;
 diminui o risco de o visado fazer dissipar os seus valores ou
activos para impedir que se lance mão sobre eles;
 diminui os custos de processamento das ordens e solicitações
judiciais, tanto no âmbito judicial como no Banco Central e
nas instituições de crédito;
 minora o prejuízo do visado pelo longo tempo de manutenção
dos activos ou bens cativos;
 reduz a margem de erros propícios da natureza humana;
 garante o sigilo da informação do cliente pelo reduzido
números de intervenientes na sua disponibilização ao poder
judicial;
 confere ao judicial a possibilidade de fazer o acompanhamento
das respostas aos ofícios expedidos;
 reduz o risco do insucesso por eventual interferência de
pessoas influentes que possam ter interesse na causa.
Para que as medidas cautelares produzam seu efeito útil, é
importante que elas sejam ordenadas ainda no decurso da tramitação
processual.

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Manual Prático de Actuação

Paralelamente àquelas medidas, o legislador moçambicano


preconiza, à luz das convenções internacionais sobre a matéria,
a perda dos bens por parte do visado mesmo que não haja prévia
condenação penal (Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro, art. 5, n. 2) e ou
a inversão do ónus de prova, ou seja, que seja o visado a demonstrar
que o bem é de proveniência lícita.

3.7 Dificuldade em apreender valores de origem


ilícita misturados com os lícitos
A miscelânea entre valores de origem ilícita com os de
proveniência lícita é uma das estratégias usadas pelos agentes do
mundo da lavagem criminal, com o propósito último de dificultar a
sua descoberta.
Nestes casos, a apreensão do dinheiro tem sido por vezes
difícil e a solução mais consentânea será a apreensão de valores
estimados.
Nos termos do artigo 6 da lei sobre branqueamento de
capitais (Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro), os valores, objectos, bens,
lucros, juros, créditos, recompensas, vantagens ou direitos atribuídos,
prometidos ou dados aos agentes de infracções previstas naquela
lei, destinadas a eles ou a terceira pessoa, deverão ser declarados
perdidos a favor do Estado.
Aquela norma autoriza ainda que, caso o bem não seja
susceptível de apropriação em espécie, se exija ao agente da infracção
o pagamento pelo mesmo valor ao Estado. Entende-se que tal valor
há de resultar de uma avaliação pericial ou do valor de aquisição do
bem.
A perda dos bens a favor do Estado está também prevista no
n. 1 do artigo 75º do CP e no § 2º do artigo 450º do CPP.
Ainda relativamente aos bens apreendidos e que sejam
deterioráveis ou de alguma forma possam perder seu significativo
valor comercial, o magistrado judicial deve ordenar a sua venda, nos
termos do n. 3 do artigo 6 do Decreto n. 21/1971, de 29 de Janeiro.

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Crime de Branqueamento de Capitais

A apreensão dos bens ao agente de infracção é, quanto a nós,


uma solução bastante pertinente, pois, para além de desencorajar a
prática do delito de branqueamento, permite ao Estado a recuperação
dos activos que poderão ser potenciados para o seu emprego em
acções de combate de mais delitos de gênero ou para seu uso em
acções de terapia das vítimas do delito. A este propósito, vide o texto
do artigo 9 da Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro.

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Parte administrativa 4

As instituições financeiras e as dos diversos sectores da


economia, no interesse não só da economia do país, mas também de
si mesmas, devem colaborar com as instituições de justiça com vistas
a prevenir e combater o branqueamento de capitais. Aliás, este dever
é recomendado por organizações internacionais, conforme recomenda
o Gabinete de Informação Financeira de Moçambique.
A lavagem de dinheiro é considerada pelo Banco Mundial como
causadora de efeitos económicos, sociais e políticos potencialmente
devastadores para os países em vias de desenvolver as economias
nacionais17.
Por sua vez, o FMI considera que a lavagem de dinheiro
apresenta uma vasta gama de consequências macroeconómicas
e que a comunidade internacional tornou prioritária a luta contra a
lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo. De entre os
esforços daquela organização, perfilam a protecção da integridade do
sistema financeiro internacional, o corte dos recursos disponíveis para
os terroristas e o aumento da dificuldade para os criminosos lucrarem
com seus crimes.
O FMI está especialmente preocupado com as possíveis
consequências da lavagem de dinheiro na economia dos países em
17 Confira: <http://gtld.pgr.mpf.gov.br/lavagem-de-dinheiro/danos>.

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Manual Prático de Actuação

razão dos riscos à saúde e à estabilidade das instituições financeiras


e dos sistemas financeiros, do aumento da volatilidade dos fluxos
de capital internacional, das mudanças imprevisíveis na procura de
dinheiro e do aumento das taxas de câmbio como consequência do
volume imprevisto de transferências transnacionais18.
Aquela recomendação do Gafi é dirigida às instituições
financeiras em razão de constituírem um dos priviligiados veículos
usados para a lavagem de dinheiro e então se mostra imperiosa a
tomada de um conjunto de medidas com vistas à protecção, à
reputação e à fiabilidade que o sistema financeiro merece nas suas
transacções com a clientela.
Na verdade, podem ocorrer problemas de liquidez e de corrida
aos bancos quando grandes somas de dinheiro “lavado” chegam
às instituições financeiras ou delas rapidamente desaparecem. A
lavagem de dinheiro pode provocar a quebra de bancos ou de outras
instituições, além de crises financeiras. Pode manchar a reputação
e a confiabilidade de uma instituição financeira (como ocorre, por
exemplo, quando se torna público que um determinado banco se
presta a grandes operações de lavagem de dinheiro).
Os prejuízos são perfeitamente imensuráveis quando, em
razão do envolvimento com esse tipo de actividade, a instituição vem
sofrer penalizações, tais como a imposição de pesadas multas, a
inabilitação temporária ou cessação de autorização para operação ou
funcionamento.
A partir do momento em que isso acontece, os efeitos
prolongam-se para além do sector, afectando advogados, contadores
e outros profissionais. Essa reputação negativa pode provocar a
diminuição das oportunidades profissionais lícitas e a atração das
actividades criminosas, resultando em efeitos negativos para o
desenvolvimento económico de um país na economia global19.
Reconhecendo-se que as transacções financeiras se
comunicam mundialmente, ou seja, envolvem hodiernamente mais
de um banco, entre nacionais e estrangeiros, o Gafi produziu tais
18 Confira: <http://gtld.pgr.mpf.gov.br/lavagem-de-dinheiro/danos>.
19 Idem.

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Crime de Branqueamento de Capitais

recomendações para que as instituições financeiras adoptem medidas


que se conformem com os padrões internacionais.
Na verdade, em conformidade com as normas vigentes, as
instiuições financeiras devem definir políticas, procedimentos e
mecanismos de controlo com vistas à prevenção e ao combate ao
branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo.
Uma das medidas emanadas das quarenta recomendações do
Gafi adoptadas pelo Banco Central do nosso país (BM) é a criação de
uma norma impondo a obrigatoriedade de todas as instituições de
crédito, sem excepção, fazerem o screening de depósitos de valores
acima de 10.000 Usd (dez mil dólares), ou seja cobrar a justificação
comprovativa da sua proveniência.
Todavia, não basta que tais recomedações tenham
por destinatário as instituições financeiras, porquanto vários e
diversificados sectores não enquadrados no ramo financeiro podem
ser usados como ponto de refúgio à cerrada vigilância concentrada no
sector financeiro, para então ali actuarem à vontade. Aliás, é peculiar
dos agentes do crime, particularmente da criminalidade organizada,
como a do branqueamento de capitais, a adopção de constantes
mecanismos para lograrem os seus propósitos, fugindo à vigilância
das autoridades.
Assim, para que o nosso sistema financeiro não possa ser
usado como um canal de acesso livre para acções de branqueamento
de capitais, as instituições que o compõem devem adoptar medidas e
procedimentos que estejam de acordo com as regras internacionalmente
recomendadas para a repressão da lavagem de dinheiro, ou seja,
adoptar o chamado dever compliance ou simplesmente adequação.
Conforme dito precedentemente, a legislação moçambicana
já prevê as regras de compliance, nomeadamente no artigos 10 a 23
da Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro.
Nos termos daquelas regras, as instituições financeiras
(bancos comerciais, casas de câmbios, seguradoras e outras) devem
esmerar-se na determinação da verdadeira identificação de todos os
clientes que solicitem seus serviços.

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Manual Prático de Actuação

Na verdade, nos termos do disposto no n. 1 do artigo 10 da


Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro,
as entidades financeiras devem exigir a identificação dos
seus clientes ou seus representantes legais, mediante a
apresentação de documento comprovativo válido em que
se exiba uma fotografia, sempre que estabeleçam relações
de negócios e, em especial, quando abram uma conta de
depósitos ou caderneta de poupança, ofereçam serviços de
guarda de valores ou de investimentos em valores mobiliários,
emitam apólices de seguro ou giram planos de pensões.

Nos termos do n. 2 daquele comando normativo, aquela


exigência de identificação se estende às situações em que o cliente
ou entidade financeira efectua transacções ocasionais em que não
tenha havido identificação nos termos previstos no n. 1 e cujo
montante, isoladamente ou em conjunto, seja igual ou superior ao
valor correspondente a 441 salários-mínimos.
Tratando-se de cassinos, estes têm o dever de identificar os
clientes que adquiram, tragam consigo ou troquem fichas e moedas
num montante igual ou superior a 441 salários-mínimos.
Os domicílios dos clientes devem ser verificados através de
documento oficial (BI ou outro documento considerado oficial pelo
Conselho de Ministros), no caso de pessoas singulares. Tratando-se
de pessoas colectivas, o seu domicílio deve ser comprovado mediante
a carta estatutária respectiva ou através da licença ou alvará, sendo
que os gestores ou corpos sociais deverão ser igualmente objecto
desta rigorosa identificação.
Esta exigência mostra-se de capital importância, pois o Gafi,
na sua 5ª Recomendação, insta as instituições financeiras para
que não aceitem contas anónimas ou por nomes supostos ou ainda
fictícios.
O artigo 12 do diploma legal que temos vindo a citar insta
as instituições financeiras a procurarem obter informações sobre a
verdadeira identidade da pessoa por conta e em nome de quem o
cliente actua, através do próprio cliente, bem como dos beneficiários
de um seguro, da operação do ramo-vida ou de fundo de pensões,

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Crime de Branqueamento de Capitais

sempre que exista suspeita fundada de que os montantes inscritos


tenham uma proveniência decorrente de actividades criminosas
referidas naquela lei, ainda que os montantes da operação sejam
inferiores a 441 salários-mínimos.
Portanto, conforme se pode constatar, a primeira regra
consiste no dever de identificação do cliente, dever este que se acha
regulamentado no capítulo III (arts. 8 a 13 do Decreto n. 37/2004, de
8 de Setembro, Regulamento da Lei do Branqueamento de Capitais).
Mas não basta a identificação colhida numa primeira ocasião,
pois as instituições financeiras deverão actualizar regularmente
os dados de seus clientes, pois doutra sorte não os conheceria
profundamente, com a natural inconveniência que tal representaria
para os propósitos da repressão do branqueamento de capitais.
A segunda medida de adequação consiste na contínua
monitoria e controlo dos dados colhidos e, para isso, as instituições
financeiras devem dotar-se de meios ou de organização interna para
o efeito. Aquelas instituições devem desenhar mecanismos claros,
procedimentos cristalinos que permitam a adequada identificação e
posterior controlo de transacções envolvendo as chamadas Pessoas
Politicamente Expostas, tendo em conta os riscos decorrentes da sua
reputação e outros conexos.
Na verdade, o estabelecimento de relações transaccionais com
parentes ou pessoas próximas às PEPs pode resultar no linchamento
público da sua imagem, daí que deva existir um sistema apropriado
para determinar se uma pessoa pode ser considerada como PEP ou
não.
Por PEPs, como dito, entendem-se pessoas que exerceram
ou tenham exercido funções públicas proeminentes num determinado
país ou fora deste, por exemplo, ex-chefes de Estado e de governo,
políticos influentes, funcionários públicos séniores, oficiais de justiça
ou militares, membros executivos de empresas públicas, estatais,
representantes de partidos políticos, ou da sociedade civil, entre outros.
Uma terceira regra de compliance é a manutenção de registos,
ou seja, as instituições financeiras devem criar e implementar

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Manual Prático de Actuação

procedimentos apropriados que viabilizem a conservação e


manutenção dos dados de seus clientes.
Como eloquente demonstração da preocupação do nosso
legislador, este determina no n. 1 do artigo 15 da Lei n. 7/2002,
de 5 de Fevereiro, que as entidades financeiras devam conservar os
documentos de identificação dos clientes durante um período de 15
anos, contados da data do encerramento das contas daqueles ou da
cessação do vínculo jus-laboral entre os contratantes.
Refira-se que o Gafi na sua recomendação fixou como tempo
mínimo de conservação dos dados 5 anos, e o nosso sistema fixou
como tempo máximo 15 anos, o que possibilita concluir que o tempo
de conservação da documentação é de 5 a 15 anos.
A quarta regra tem a ver com o dever de imediata comunicação
ou participação de transacções suspeitas ao Ministério Público. Assim,
as instituições financeiras ou de crédito devem estar internamente
organizadas, regra geral, por via de actuação do sector de supervisão
e formação ou treinamento do pessoal, para que saibam identificar
uma operação suspeita e participar o caso imediatamente ao MP,
colaborando com este e outras autoridades judiciais competentes.
O que foi dito no parágrafo que antecede consta dos artigos
16 e 17 da Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro, conjugado com os
artigos 17, 18 e 19 do Decreto n. 37/2004, de 8 de Setembro.
A comunicação ao Ministério Público deve ser feita pelo sector
de supervisão da instituição financeira, devendo nesta sua actuação
agir de boa-fé. Todavia, qualquer outra entidade ou pessoa poderá,
nos termos gerais fixados na lei penal, participar o caso ao MP. A este
propósito, importa frisar que, tratando-se de infracção de natureza
pública, a denúncia pode ser apresentada ao MP por qualquer pessoa
do povo (Decreto-Lei n. 35.007, de 13 de Outubro de 1945, art. 8).
O dever das instituições financeiras não se esgota na denúncia,
mas também na permanente colaboração com as autoridades judiciais
e do MP, sempre que tal se mostrar necessário para o esclarecimento
do caso. Aquelas actuariam como uma espécie de auxiliares do MP
na fase de instrução do processo e de testemunhas ou declarantes,

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Crime de Branqueamento de Capitais

conforme tenham ou não interesse na causa, uma vez introduzidos os


feitos em juízo.
Portanto, as instituições financeiras no exercício das suas
actividades devem pautar pela observância de princípios éticos e
de legalidade, fundamentalmente relativos às normas que regem as
transacções financeiras.
Elas podem não estar dotadas de ferramentas técnicas,
ou conhecimentos técnicos que os possa permitir identificar uma
operação suspeita, ou seja, se determinada transacção provém de
alguma actividade criminosa ou se é complemento dela ou parte
integrante, todavia, elas devem recusar seus serviços quando tenham
fundadas suspeitas de que tal transacção possa estar relacionada
com lavagem de dinheiro.
O que dissemos no parágrafo que antecede vem regulado no
n. 1 do artigo 19 da Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro, cuja epígrafe
é “Dever de abstenção”. Com efeito, tendo a instituição financeira
criado certo juízo de suspeita de que determinada transação
financeira possa estar relacionada com lavagem de dinheiro, deve
abster-se de dar curso a ela, ficando a sua execução dependente da
decisão expressa do órgão titular da acção penal em Moçambique,
no caso, o Ministério Público, que deve proferi-la dentro de 24 horas
e ser confirmada pelo poder judicial, no caso, pelo juiz da instrução
criminal (Juiz da instrução e não Juiz de instrução criminal, conforme
vem erradamente escrito no n. 2 do artigo 19 da Lei n. 7/2002, de 5
de Fevereiro) no prazo de 48 horas, findo o qual a operação deve ser
executada pela instituição financeira.
Percebe-se aquela presuntiva autorização de viabilização da
operação, pois que as transacções financeiras ou comerciais exigem
necessária fluidez, devido ao seu impacto na economia dos países.
No entanto, a eficácia daquela obrigatoriedade muito depende
da consciência de quem deve denunciar e das acções de monitoramento
nesses sectores, pois, de outra sorte, as influências dos notáveis, dos
políticos que são simultaneamente operadores económicos poderão
remeter o combate deste delito a um eterno fracasso, diluindo-se o
conteúdo daquelas disposições e todo o espírito da lei.

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Manual Prático de Actuação

Importa referir que operação suspeita é toda aquela que não se


enquadra nos padrões normais de determinado sector de actividade.
Assim, o normal na banca é que os clientes, regra geral, tragam
para depósito dinheiro em cheque, já o aparecimento de um cliente
pretendendo depositar avultadas somas de dinheiro em numerário é
algo que desvia do padrão normal do perfil dos clientes, para o que
deve ser considerada operação suspeita.
A quinta e última regra de adequação refere-se ao sigilo que
deve ser mantido em torno das operações atípicas detectadas ou
suspeitas relativamente a algum cliente. Assim é que o n. 1 do artigo
18 da nossa Lei de Branqueamento de Capitais dispõe que
Os titulares dos órgãos directivos das pessoas colectivas,
os gerentes, os mandatários ou qualquer outra pessoa que
exerçam funções a serviço das entidades financeiras, estão
proibidos de revelar ao cliente ou a terceiros a declaração das
informações específicas nos termos dos n. 1 e 2 do art. 17 da
presente Lei, bem como a informação de que se encontra em
curso uma investigação criminal.

O n. 2 daquele artigo fixa um regime sancionatório instando-


-se os representantes legais das entidades financeiras para que
instaurem procedimento disciplinar e consequente expulsão, caso
haja sido provada a violação daquele sigilo, por parte de determinado
trabalhador.

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Dificuldades e metas 5

As dificuldades coexistem onde se desenvolve determinada


actividade, sendo que a diferença há de residir na frequência da sua
verificação e no seu grau, pois tudo depende da complexidade do
objecto de trabalho.

Não é novidade para qualquer um que o branqueamento


de capitais assenta em técnicas bastante sofisticadas com vistas a
dificultar a sua descoberta pelas autoridades, pois o propósito dos
envolvidos é o lucro, o património.

Então, o seu combate e prevenção passam pela permanente


qualificação do investigadores, especialização dos magistrados do MP
e judiciais para este tipo legal de crime, disponibilização de recursos
financeiros e materiais, entre outros que se mostrarem imprescendíveis
para a sufocação daquele delito.

Naturalmente que, na falta daquelas condições, os


investigadores passarão mais tempo a clamar por condições ou meios
de trabalho e menos tempo a investigar.

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Manual Prático de Actuação

Ainda assim, não podemos baixar os braços, pois as pequenas


e bem-sucedidas acções na medida do possível colocarão os agentes
em permanente insegurança e é por vezes fácil descobrir quem está
nestas circunstâncias. A “esperança é a última que morre”, pedra
a pedra construiremos o espaço em que acantonaremos os agentes
branqueadores de capitais.

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Referências

ARAS, Vladimir de Barros. Crime organizado (Projecto de Capacitação


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ARAS, Vladimir de Barros. Sistema nacional de combate à lavagem de
dinheiro e de recuperação de ativos. 2006. Disponível em: <http://gtld.
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lavagem-de-dinheiro-e-de-recuperacao-de-ativos.pdf>. Acesso em:
27 ago. 2012.
BRAVO, Jorge dos Reis. Manual sobre corrupção, criminalidade
organizada e económico-financeira. Uma abordagem jurídico-penal.
Maputo: CFJJ, 2010.
MENDONÇA, Andrey Borges de. Branqueamento de capitais/Lavagem
de activos (Projecto de Capacitação Jurídica de Formadores e
Magistrados Brasil-Moçambique), 2011.
MENDRONI, Marcelo Batlouni de. Crime organizado. Aspectos gerais
e mecanismos legais. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
MENDRONI, Marcelo Batlouni de. Crime de lavagem de dinheiro. São
Paulo: Atlas.
MOREIRA, Rômulo de Andrade. Curso temático de direito processual
penal. 2. ed. Salvador: jusPodivm, 2009.
TRINDADE, Carlos João de. Colectânea de legislação penal
complementar. Maputo, setembro de 2005.

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Manual Prático de Actuação

VALADÃO, Marcos Aurélio Pereira. O soft law como fonte formal


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marcosvaladao.pro.br/pdf/O%20SOFT%20LAW%20COMO%20
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Legislação e sites consultados


Código Penal.
Código de Processo Penal.
Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro.
Lei n. 3/1997, de 13 de Março.
Decreto-Lei n. 35.007, de 13 de Outubro de 1945.
Decreto n. 21/1971, de 29 de Janeiro.
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<http://www.fatfGafi.org/Members- en.htm>.
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chol v2 final eu port-draft>.
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<www.direitogv.com.br/App>.

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Você também pode gostar