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CADERNOS DE PSICOLOGIA JURÍDICA

Associação Brasileira de Psicologia Jurídica

Volume 5

PRÁTICAS E CONTEXTOS EM
PSICOLOGIA JURÍDICA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE PSICOLOGIA JURÍDICA
CADERNOS DE PSICOLOGIA JURÍDICA
Associação Brasileira de Psicologia Jurídica

Volume 5

PRÁTICAS E CONTEXTOS EM
PSICOLOGIA JURÍDICA

SÃO LUIZ - MA
2021

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE PSICOLOGIA JURÍDICA
Copyright © 2021 por Associação Brasileira de
Psicologia Jurídica.

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Lei 9.610, de 19/02/1998.

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ou parcial, por quaisquer meios (eletrônicos,
mecânicos, fotográficos, gravação e outros) sem
prévia autorização, por escrito, da ABPJ.

Organização científica: João Carlos Alchieri,


Cândida Helena Lopes Alves e Thayara Castelo
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE Branco.
PSICOLOGIA JURÍDICA Projeto gráfico e diagramação: Judson Oliveira.
contato@abpj.org.br Capa: Judson Oliveira.
www.abpj.org.br Fotografia: Nenad Stojkovic (CC BY 2.0).

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA JURÍDICA


Presidente
Beatrice Marinho Paulo
Vice-presidente Representação regional sudeste

Cândida Helena Lopes Reginaldo Torres Alves Júnior


Alves Representação regional centro-oeste
Diretor administrativo
Andreya Arruda Amendola
Ruy Ribeiro Moraes Cruz
Diretor financeiro Representação regional nordeste

João Carlos Alchieri Zeno Germano de Souza Neto


Diretor científico Representação regional norte

Representação regional sul

Comissão Editorial da Cadernos de Psicologia Jurídica

Prof. Dr João Carlos Alchieri (Editor Chefe e Diretor Científico da ABPJ 2019-2021)
Profa. Dra. Cândida Helena Lopes Alves (CEUMA – Brasil)
Profa. Dra. Carmen Walentina Amorim Gaudencio Bezerra (UFPB- Brasil)
Prof. Dr. Pedro Fernando Santos Silva da Cunha (UFP – Portugal)
Prof. Dr. Sebastián Urquijo (UNMDP - Argentina)

Dados Internacionais de Catalogação na Fonte

A849c Associação Brasileira de Psicologia Jurídica

Práticas e Contextos em Psicologia Jurídica [Recursos Eletrônico].


/ Associação Brasileira de Psicologia Jurídica. – São Luiz: ABPJ,
2021.
110 p. – (Cadernos de Psicologia Jurídica ; v. 5)

ISBN 978-65-86988-25-3

1. Direito. 2. Psicologia Jurídica. 3. Prática Jurídica. I. Título.


CDU: 340.6
Sumário
Apresentação .................................................................................. 1
João Carlos Alchieri, Cândida Helena Lopes Alves e Thayara Castelo
Branco

Desafios técnicos-científicos para Psicologia no contexto legal e


forense frente as consequências da Pandemia SARS-CoV2 (COVID
– 19) ................................................................................................. 2
João Carlos Alchieri

Orientações técnicas para a condução de entrevistas com


crianças e adolescentes em depoimento especial ........................ 8
Lívia de Tartari e Sacramento, Reginaldo Torres Alves Júnior, Cátula
da Luz Pelisoli, Beatrice Marinho Paulo, João Carlos Alchieri e
Rochelli Trigueiro

Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e


Juventude ...................................................................................... 17
Alberto Joaquim Goveia Diniz Neto, Vitoria Luiza Silva Santos,
Thais Braga Campos Gomes, Francisca Moraes da Silveira e Cândida
Helena Lopes Alves

Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de


alienação parental em contexto latino e norte americano ......... 43
Sayonara Pereira da Silva e Carmen Amorim-Gaudêncio

Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no contexto


brasileiro: um estudo exploratório ............................................... 65
Thiago Pinto Siqueira Campos, Sayonara Pereira da Silva e Carmen
Amorim-Gaudêncio
Práticas e aspectos éticos da perícia psicológica no trabalho no
cenário da pandemia SARS-Cov2 (COVID-19) .............................. 88
Laura Pedrosa Caldas e João Carlos Alchieri

Sobre os autores ......................................................................... 106


Apresentação

Ao início de um novo ano repleto de desafios a ABPJ


apresenta o quinto volume da coleção CADERNOS DE PSICOLOGIA
JURÍDICA, Práticas e Contextos em Psicologia Jurídica, uma
publicação seriada voltada a atualização profissional. Trata-se de um
conjunto de temas atuais que embasam a ação profissional em
diversos âmbitos e temáticas relacionadas ao contexto da Psicologia
e do Direito. O leitor poderá verificar a atualidade e relevância dos
aspectos apresentados na publicação que, a cada nova edição se
torna mais evidente e presente no cenário nacional do contexto
Jurídico, não somente a psicólogos, mas as áreas correlatas. As
atividades concernentes ao cuidado técnico e a consequente
satisfação dos leitores, são evidentes à comissão editorial e
estimulam a sequência de contatos e identificação de temas que
amparam as necessidades dos colegas nos mais diversos locais deste
grande país. Ressalta-se a oportunidade de publicação gratuita aos
sócios da ABPJ, de forma a divulgar atividades, práticas e
possibilidades de intervenções decorrentes da expertise de colegas
do Brasil e do exterior, que qualificarão suas ações profissionais.
Esperamos que tenham todos uma ótima leitura!

João Carlos Alchieri


Cândida Helena Lopes Alves
Thayara Castelo Branco
Organizadores

1
Desafios técnicos-científicos para Psicologia
no contexto legal e forense frente as
consequências da Pandemia SARS-CoV2
(COVID – 19)

João Carlos Alchieri

As consequências da pandemia abarcam a manutenção da


qualidade de atendimento profissional em processos de
acompanhamento e avaliação psicológica em todos os continentes.
A presente comunicação apresenta pontos de atenção ao tema
iniciado com normas e diretrizes de atuação profissional por
diversas associações técnico cientificas. Demonstra-se a
necessidade de investigações dirigidas a obtenção de evidências
cientificas de efetividade sobre o uso e redimensionamento de
instrumentos e procedimentos remotos, com vistas a subsidiar o
processo avaliativo das propostas de maneira a respaldar as normas
preconizadas.

2
Capítulo 1 - Desafios técnicos-científicos para Psicologia no contexto legal e forense frente as
consequências da Pandemia SARS-CoV2 (COVID – 19)

No contexto jurídico e forense especificamente operado por


critérios de cientificidade e dos pressupostos legais, o problema não
se refere apenas ao uso ou escolha de uma técnica ou instrumento
que atenda a essas normas, mas também ao conjunto de operações
e análises realizadas ao longo do processo avaliativo e pericial.
Tópicos como aceitação da tarefa, planejamento, desenvolvimento e
análise dos dados coletados, registro desses nos relatórios, na
defesa oral, bem como a salvaguarda do material coletado são
aspectos a serem atualizadas frente a emergência sanitária de forma
a salvaguardar os participantes.
Dada a possibilidade de manutenção dos cuidados de
distanciamento social, estudos de substituição de procedimentos
operacionais em entrevistas remotas, administração de
instrumentos e técnicas psicológicas são necessários em curto
prazo, devido ao risco de comprometimento institucional de diretos
e deveres das populações principalmente as mais fragilizadas e
comprometidas.
As diversas atividades nas sociedades vivem uma situação
complexa, resultado da pandemia, com consequências nos vínculos,
ações cotidianas e do impacto na prática de diversas ações
profissionais. A Psicologia Jurídica e Forense, como campo de
conhecimento e de pesquisa também tem consequências diretas e
indiretas em suas atividades devido a pandemia.
Entidades de profissionais voltam-se para revisão de
procedimentos e processos de atividades técnico cientificas em seu
trabalho para desenvolver ações profissionais com o mesmo rigor
científico e qualidade, a fim de garantir o exercício profissional (APA,
2020; OIT, 2020; OMS 2019). Com a declaração da Organização
Mundial da Saúde – OMS (2020) sobre a pandemia chamada
Coronavírus SARS-CoV2 (COVID – 19), medidas urgentes e eficientes
foram tomadas para proteger os direitos humanos em todos os
3
Capítulo 1 - Desafios técnicos-científicos para Psicologia no contexto legal e forense frente as
consequências da Pandemia SARS-CoV2 (COVID – 19)

momentos (Corte Interamericana de Direitos Humanos em sua


Resolução 01/2020 (OEA, 2020; OECD, 2020). Essa situação não é
estranha ao trabalho da Psicologia Jurídica e Forense no mundo, e
especialmente no contexto da América Latina.
A Psicologia Jurídica e Forense em seu papel de intervenção,
como a Avaliação Psicológica Forense nas diferentes áreas da
administração da justiça, e considerando o contingenciamento da
pandemia, tem desafio de desenvolver processos que atendam à
ajustem necessidade atual, cumprindo as normas de ciência e as
diretrizes legais de cada país. O exercício profissional orientado, a
partir sobre dos princípios da ética, da ciência e da justiça e
embasado em processos de intervenção, em diferentes áreas e
contextos da psicologia jurídica e forense, em atividade
essencialmente presenciais. Com o contingenciamento social da
pandemia, essa situação provoca mudanças sendo imperativo o
fornecimento de diretrizes e recomendações para a
prática/avaliação de especialistas no campo da Psicologia Jurídica e
Forense dirigido ao exercício profissional de qualidade.
A proposta desta revisão esta amparada em possibilitar
desenvolvimento técnico científico sobre o tema relevante da prática
psicológica, concentrar e fomentar discussões para orientar,
assessorar e empoderar profissionais nos diversos âmbitos e temas
do trabalho psicológico, e elaborar material de subsídio técnico
científico de suporte aos profissionais.
O uso atual de tecnologias da informação e comunicação é
uma opção de instrumentais tecnológicos necessários e eficazes
para a continuidade na economia, na educação, no meio social,
jurídico, diante das medidas emergenciais de saúde tomadas pelos
países afetados pela pandemia. Entidades como American
Psychological Association – APA , Asociacion Latinoamericana de
Psicologia Juridica y Forense - ALPJF, Internation Test Comission ITC,
4
Capítulo 1 - Desafios técnicos-científicos para Psicologia no contexto legal e forense frente as
consequências da Pandemia SARS-CoV2 (COVID – 19)

Associação Brasileira de Psicologia Jurídica – ABPJ e Asociacion


Argentina de Estudio e Investigacion em Psicodiagnostico -ADEIP
sensíveis as contingências atuais preconizaram instruções técnicas
quanto ao manejo de instrumentos psicológicos, procedimentos de
atendimento em variados contextos (entrevistas, coleta de dados e
intervenções).
O desafio da área jurídica e forense é operar com critérios de
cientificidade e nesse princípio de rigor, não se refere apenas ao uso
ou escolha necessários de uma técnica ou instrumento que atenda a
essas normas, mas também ao conjunto de operações e análises
realizadas ao longo do processo pericial. Iniciando com a aceitação
da tarefa, o planejamento, desenvolvimento e análise dos dados
coletados, o devido registro desses nos relatórios, até na defesa em
instância oral, bem como a salvaguarda do material coletado.
Nesse contexto, é essencial rever normas e requisitos de
aplicabilidade a cenários, fenômenos ou contextos menos
tradicionais, de modo que adaptações metodológicas em
consonância com princípios técnicos, jurídicos e éticos relevantes
possam ser antecipadas. Também para identificar linhas de pesquisa
que possam contribuir para essas questões e que não podem ser
respondidas a partir do estágio atual do conhecimento no atual
momento.
Os procedimentos e técnicas reconhecidas pela comunidade
científica, e, implementados em diferentes cenários, como
avaliações psicológicas por meio do uso das chamadas novas
tecnologias de comunicação e informação são o desafio maior no
atual momento e, investigações podem demonstrar evidências de
validade e fidedignidade no uso de procedimentos. A literatura
identifica que procedimentos tecnológicos eram implementados nos
últimos anos, especialmente em outras áreas da atividade
psicológica, como área clínica, educacional e de trabalho, mas
5
Capítulo 1 - Desafios técnicos-científicos para Psicologia no contexto legal e forense frente as
consequências da Pandemia SARS-CoV2 (COVID – 19)

escassamente no campo da psicologia forense, dada sua


caracterização técnica e principalmente, decorrente de preceitos
jurídicos nos diversos países.
Frente a temporalidade estimada do período pandêmico para
2019 – 2022, devido a possibilidade de sucessivas ondas de contágio
em distintos continentes e das ações de profilaxia instituídas,
estudos de substituição de procedimentos operacionais em
entrevistas remotas, administração de instrumentos e técnicas
psicológicas são necessários em curto prazo, devido ao risco de
comprometimento institucional de diretos e deveres das populações
principalmente as mais fragilizadas e comprometidas.

Desafios técnicos e científicos transcendem e


complementam o aporte as necessidades sanitárias durante a
pandemia SARS-CoV2 Pandemia (COVID - 19), em todas as
sociedades. A possibilidade de integrar ações técnicas e científicas
no contexto da psicologia jurídica e forense é uma necessidade que
se torna internacional. As normativas apresentadas neste
manuscrito oriundas de algumas entidades técnico científicas são
tímidas e podem ser ampliadas para sustentar ações técnicas mais
amplas e efetivas.
Neste sentido, a Associação Brasileira de Psicologia Jurídica
como instituição científica e profissional, que congrega psicólogos e
demais profissionais na atuação no campo jurídico tem como
objetivo principal a promoção do desenvolvimento da área da
Psicologia Jurídica, por meio do incentivo à pesquisa, da formação
continuada, da comunicação de ações e da avaliação da qualidade
dos serviços profissionais dos psicólogos no campo jurídico. Como
tal, a necessidade de elaboração de normas, notas técnicas e
diretrizes profissionais torna-se importante neste atual cenário.

6
Capítulo 1 - Desafios técnicos-científicos para Psicologia no contexto legal e forense frente as
consequências da Pandemia SARS-CoV2 (COVID – 19)

REFERENCIAS

AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. Teleneuropsychology: new


resources for your practice, guidance on CPT codes, technical
requirements and more for successfully providing neuropsychology
services via telehealth. Washigton: APA, 2020. Disponível em:
https://www.apaservices.org/practice/reimbursement/health-
codes/testing/teleneuropsychology-resources. Acesso em: 02 fev. 2021.

ASOCIACION ARGENTINA DE ESTUDIO E INVESTIGACION EM


PSICODIAGNOSTICO. Consideraciones sobre el uso de los tests en el
ámbito forense. Rosario: ADEIP, 2015.

ASOCIACIÓN INTERNACIONAL DE SEGURIDAD SOCIAL Coronavirus -


Respostas de la Seguridad Social. [s. l.], 2020. AISS. Disponível em:
https://ww1.issa.int/es/coronavirus. Acesso em: 02 fev. 2021.

COMISIÓN INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS Y OEA. Pandemia y


Derechos Humanos en las Américas, Resolución 1/20. Adoptado por
CIDH el 10 de abril de 2020. Disponível em:
https://www.oas.org/pt/cidh/decisiones/pdf/Resolucao-1-20-pt.pdf.
Acesso em: 02 fev. 2020.

INTERNATIONAL TEST COMMISSION (2014). International Guidelines on


the Security of Tests, Examinations, and Other Assessments. Disponível
em: https://www.intestcom.org/files/guideline_test_security_spanish.pdf.
Acesso em: 2 fev. 2020.

ORGANIZACIÓN INTERNACIONAL DEL TRABAJO. Las normas de la OIT y el


COVID-19. Preguntas- frecuentes. Disposiciones fundamentales de las
normas internacionales del trabajo pertinentes en el contexto del brote
de COVID-19. Genebra: OIT, 2020. Disponível em:
https://www.ilo.org/global/standards/WCMS_739939/lang--es/index.htm.
Acesso em: 2 fev. 2020.

ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD. Brote de enfermedad por


Coronavirus (COVID-19): orientaciones para el público, medidas de
protección básicas contra el nuevo coronavirus. Genebra: WHO, 2019.
Disponível em: https://www.who.int/es/emergencies/diseases/novel-
coronavirus-%202019/advice-for-public. Acesso em: 2 fev. 2020.

ORGANIZACIÓN PARA LA COOPERACIÓN Y DESARROLLO ECONÓMICOS.


Coronavirus: la economía mundial en riesgo. Paris: OECD, 2020.
Disponível em: http://www.oecd.org/perspectivas-%20economicas/marzo-
2020/. Acesso em: 2 fev. 2020.

7
Orientações técnicas para a condução de
entrevistas com crianças e adolescentes em
depoimento especial

Lívia de Tartari e Sacramento


Reginaldo Torres Alves Júnior
Cátula da Luz Pelisoli
Beatrice Marinho Paulo
João Carlos Alchieri
Rochelli Trigueiro

A atividade forense que consiste na escuta de crianças e de


adolescentes, como vítimas ou como testemunhas, é delicada, ainda
mais quando a matéria a ser enfrentada se constitui em violência ou
em exploração sexual. A legislação nacional, antes da lei 13.431/17,
não diferenciava essa escuta em nada, por exemplo, de um
depoimento realizado em um caso de delito de furto, no qual apenas
o patrimônio restou atingido pelo ato ilícito. Tornam-se momentos
completamente distintos, com características totalmente diversas e
com bens jurídicos de diferentes valores, a legislação processual
penal nacional tratava a ambos de forma igual, desconsiderando por
Capítulo 2 - Orientações técnicas para a condução de entrevistas com crianças e adolescentes em
depoimento especial

completo que crianças e adolescentes são seres em estágio de


desenvolvimento e que, por isso, devem, com absoluta prioridade,
receber tratamento mais adequado às suas vivências e realidades
(CÉZAR, 2014). A necessidade de se aceitar que a criança tem o
direito de manifestar-se em juízo sobre todas as questões atinentes
à sua vida está prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente e
por tratar-se de um ser em desenvolvimento entende-se que deva ter
um tratamento diferenciado quando vier a exercer esse direito, o que
está preconizado na lei 13.431/17.
A Associação Brasileira de Psicologia Jurídica – ABPJ é uma
instituição científica e profissional brasileira, que congrega
psicólogos e demais profissionais que atuam no campo jurídico ou
tem interesse em temas do âmbito das relações entre a Psicologia, o
Direito, a Justiça e a Lei. Tem por objetivo principal promover o
desenvolvimento da área da Psicologia Jurídica, por meio do
incentivo à pesquisa, da formação continuada, da comunicação de
ações e da avaliação da qualidade dos serviços profissionais dos
psicólogos no campo jurídico. Em sentido mais amplo, a ABPJ
pretende ser um instrumento social de discussão de ideias, troca de
experiências e de integração dos psicólogos com os demais
profissionais que atuam no campo jurídico na defesa dos direitos
humanos, da ética e da cidadania, bem como por meio produzir
elementos técnicos para nortear as boas praticas profissionais com
evidências científicas.
A ABPJ por meio de sua diretoria ou, mais atualmente, por
meio do Grupo de Trabalho sobre Depoimento Especial, por entender
que a lei 13.431/17 trata de assunto pertinente a nossa área de
conhecimento, vem contribuindo para a discussão deste assunto
desde quando esta lei ainda não tinha sido promulgada, ou seja,
ainda era o Projeto de Lei 3792/2015, que visou normatizar e
organizar o sistema de garantia de direitos de crianças e
9
Capítulo 2 - Orientações técnicas para a condução de entrevistas com crianças e adolescentes em
depoimento especial

adolescentes vítimas e testemunhas de violência, criar mecanismos


para prevenir e coibir a violência, nos termos do artigo 227 da
Constituição da República, da Convenção sobre os Direitos da
Criança, do Protocolo Facultativo para a Convenção sobre os Direitos
da Criança sobre a Venda de Crianças, Prostituição e Pornografia
Infantis, e de outros tratados internacionais ratificados pela
República Federativa do Brasil; prontificou-se também a estabelecer
medidas de assistência e proteção às crianças e adolescentes em
situação de violência e dispôs sobre a criação de órgãos
especializados em crimes contra a criança e o adolescente.
O texto da lei contou com as contribuições de especialistas
na área da infância e da juventude e visou a estabelecer o sistema de
garantia de direitos de crianças e adolescentes vítimas e
testemunhas de violência. Todavia, a questão do Depoimento
Especial trouxe muitos questionamentos para os profissionais, e o
Grupo de Trabalho Depoimento Especial da ABPJ, tem
continuamente, desde 2016, acompanhado a questão da escuta e
inquirição de crianças e adolescentes no sistema de justiça, tanto no
que diz respeito ao andamento judicial, tendo em vista os embates
que ocorreram nos últimos anos, em especial com os Conselhos
profissionais (Psicologia e Serviço Social), quanto no que diz respeito
às publicações acadêmicas e a construção de conhecimento sobre o
tema.
O GT DE é constituído por um grupo de profissionais com
alta expertise e que atuam exatamente na área de interface entre a
Psicologia e o Direito, deste modo com base nos mais atuais aspectos
da legislação, dos trabalhos na área e nas evidências científicas
decorrente de investigações elaborou as Orientações técnicas para a
condução de entrevistas com crianças e adolescentes em
depoimento especial, onde se lê:

10
Capítulo 2 - Orientações técnicas para a condução de entrevistas com crianças e adolescentes em
depoimento especial

Considerando que crianças e adolescentes sempre foram


chamadas para prestar depoimento em audiências e
depoimentos tradicionais no sistema de justiça brasileiro;
Considerando os avanços legislativos que regularizam a
atividade do Depoimento Especial no Sistema de Garantias de
Direitos no Brasil, a saber, a Lei 13.431/2017, Decreto de
Regulamentação da Presidência da República 9.603/2018 e a
Resolução 299/2019 do Conselho Nacional de Justiça;
Considerando a inexistência de regulamentação ou de
legislação específica que defina quais categorias profissionais
podem realizar as entrevistas no contexto dos depoimentos
especiais com as crianças e adolescentes vítimas e
testemunhas de violência;
Considerando o histórico da participação da Psicologia no
atendimento desses casos, que vem contribuindo no Brasil
desde 2003 com a qualificação da oitiva de crianças e
adolescentes vítimas e testemunhas de violência;
Considerando que a evolução técnica e científica da Psicologia
nessa área, nacional e internacionalmente, contribui para a
construção de diretrizes na condução de entrevistas com a
população infanto-juvenil com histórico de violação de
direitos;
Considerando a decisão transitada em julgado da ação civil
pública nº 0008692-96.2012.4.02.5101, que garantiu às
psicólogas e aos psicólogos o direito de atuar no Depoimento
Especial;
Considerando a Resolução 02/2020 do Conselho Federal de
Psicologia (CFP) que revogou a Resolução 10/2010;
Considerando a inexistência, no Brasil, de diretrizes técnicas
para os profissionais da Psicologia nessa área:
A Associação Brasileira de Psicologia Jurídica (ABPJ),
por meio do Grupo de Trabalho de Depoimento Especial,
apresenta orientações técnicas para a condução de entrevistas
com crianças e adolescentes no Depoimento Especial:
1. Depoimento Especial (DE) é, segundo a Lei
13431/2017, o “procedimento de oitiva de criança ou
adolescente vítima ou testemunha de violência perante
autoridade policial ou judiciária”. O DE representa a
oportunidade de escuta oferecida à criança ou adolescente em
instituições do sistema de justiça e caracteriza-se como uma
forma de depoimento pessoal ou uma prova testemunhal,
conforme a pessoa entrevistada seja vítima ou testemunha.
Sendo assim, o DE não é um procedimento privativo do
psicólogo, não podendo resultar em documento técnico da
psicologia, conforme preconizam as Resoluções do Conselho
Federal de Psicologia 09/2018 e 06/2019.
2. O DE e a Avaliação Psicológica são procedimentos
distintos e não excludentes e podem ser realizados em
momentos diferentes de um processo judicial. Em caso de
solicitação do DE e da Avaliação Psicológica para uma mesma
vítima ou testemunha de violência, o DE deverá ser realizado
previamente à Avaliação Psicológica, de forma a favorecer a
11
Capítulo 2 - Orientações técnicas para a condução de entrevistas com crianças e adolescentes em
depoimento especial

obtenção do relato livre da criança em período mais breve


possível após a notificação da violência e por meio de
protocolos validados cientificamente.
3. O DE deverá ser prioritário para crianças em idade
escolar em decorrência das evidências científicas quanto ao
nível de desenvolvimento requerido para habilidade de falar
mais detalhadamente. A Avaliação Psicológica deverá ser
prioritária para crianças em idade pré-escolar ou para crianças
e adolescentes com transtornos de desenvolvimento ou
transtornos mentais significativos.
4. A análise de credibilidade do testemunho obtido
no DE não é indicada devido à ausência de consenso da
literatura sobre quais são os melhores parâmetros
constitutivos da veracidade do testemunho infantojuvenil,
bem como a falta de validação dos modelos internacionais para
amostras nacionais, e diante da inexistência de tal
procedimento na análise da narrativa de outras partes do
processo judicial, notadamente as pessoas acusadas como
autores de violência.
5. Frente a indicadores de grave conflito familiar ou
com suspeita de Alienação Parental (AP), o entrevistador
comunicará ao juízo demandante do DE a necessidade da
Avaliação Psicológica ampla conforme preconiza a Lei
12.318/2010, artigo 5º, inciso 1, sendo altamente
recomendável que diferentes profissionais se ocupem de cada
uma das duas técnicas citadas.
6. O DE será conduzido apenas por profissional
capacitado e especializado a partir da conclusão de cursos em
entrevista investigativa ou forense ou em cursos de
depoimento especial oficialmente reconhecidos, nos quais
estejam abordados protocolos de entrevista investigativa ou
forense com fundamentos científicos adotados no Brasil e em
outros países.
7. A capacitação e especialização mencionada no
item 6 será continuada, integrando teoria e prática, e deve ser
caracterizada pelo aperfeiçoamento progressivo, pela adoção
de grupos de observação, por estudos de revisão de entrevistas
por pares de entrevistadores, por treinamentos em serviço com
depoimentos simulados e reais, ou pela supervisão por
profissionais mais experientes e qualificados, respeitando-se a
inviolabilidade do sigilo das entrevistas conforme Art. 24 da
Lei 13431/2017.
8. O DE será conduzido por protocolos de entrevista
investigativa ou forense referendados pela literatura
especializada com a finalidade de aumentar a confiabilidade
dos resultados e permitir o desenvolvimento continuado da
prática profissional no ato de entrevistar.
9. O agendamento de audiência de DE deverá
respeitar o tempo mínimo de uma hora para cada caso de DE, a
fim de que todas as etapas do protocolo adotado sejam
devidamente cumpridas. Recomenda-se limitar a quantidade
de entrevistas de DE para cada turno de trabalho, de maneira a
12
Capítulo 2 - Orientações técnicas para a condução de entrevistas com crianças e adolescentes em
depoimento especial

evitar que o efeito da fadiga e do estresse do entrevistador


interfira na condução do procedimento.
10. O profissional priorizará a proteção e privacidade
da criança mantendo as narrativas restritas aos fatos que são
objetos do processo judicial, assim como o profissional deverá
manter-se resguardado pelo sistema de justiça, com seu direito
de imagem e identidade preservados.
11. É prerrogativa profissional, prevista no Decreto de
Regulamentação da Presidência da República 9.603/18, Artigo
26 Parágrafo 1º, a retificação ou a não realização dos
questionamentos tecnicamente inadequados ou revitimizantes
oriundos da sala de audiências, de forma a evitar a
sugestionabilidade ou qualquer forma de violação da
integridade biopsicossocial do entrevistado.
12. O profissional comunicará imediatamente à
autoridade judiciária a necessidade de restrição da presença do
suposto autor da violência na sala de audiência, conforme
previsto na Lei 13.431/2017, Art. 12,§ 3º.
13. O profissional solicitará a interrupção ou a não
realização do procedimento de DE no caso de evidência de
risco à vida ou à integridade biopsicossocial de crianças ou
adolescentes ou de pessoas significativas e indicará medidas
de proteção ou cautelares necessárias, conforme previsto na
Lei 13.431/2017, Art. 12,§ 3º e no Estatuto da Criança do
Adolescente.
14. O profissional deverá manifestar-se quando forem
necessárias medidas protetivas do Estatuto da Criança e do
Adolescente e da Lei Maria da Penha nos casos de risco à
integridade biopsicossocial de crianças e adolescentes.

O GT DE da ABPJ compreende que os psicólogos são


profissionais capacitados acadêmica e tecnicamente para a
realização desse procedimento. Também referenda o entendimento
de que atender a demanda do DE é um dever ético. Ético pela
responsabilidade profissional da Psicologia de garantir a escuta
protegida de crianças e adolescentes quando elas são chamadas a
estar um lugar e em um momento que é, muitas vezes, difícil e
emocionalmente carregado como o de falar sobre uma violência
sofrida. A ética da Psicologia se pauta pela ética do cuidado nos mais
diversos contextos. E os preceitos éticos profissionais aliados às
garantias constitucionais salvaguardam crianças e adolescentes
vítimas ou testemunhas de violência no judiciário Brasileiro.

13
Capítulo 2 - Orientações técnicas para a condução de entrevistas com crianças e adolescentes em
depoimento especial

REFERENCIAS

BRASIL. Decreto-Lei 3.689 de 3 de Outubro de 1941. Código de Processo


Penal. Brasília: Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos
Jurídicos, 1941. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del3689.htm. Acesso em: 2 fev. 2021.
Brasil. (1962). Lei 4119/1962. Dispõe sobre os cursos de formação em
Psicologia e regulamenta a profissão de Psicólogo. Brasília (DF). Disponível em:
http://site.cfp.orP.S.N. r/wp-content/uploads/2008/08/lei_1962_4119.pdf

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 . Brasília:


Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1988.
Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso
em: 2 fev. 2021.

BRASIL. Lei 8.609 de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do


Adolescente. Brasília: Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para
Assuntos Jurídicos, 1990a. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 2 fev. 2021.

BRASIL. Decreto 99.710, de 21 de novembro de 1990. Promulga a Convenção


Sobre os Direitos da Criança. Brasília: Presidência da República, 1990b.
Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-
1994/d99710.htm. Acesso em: 2 fev. 2021.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP nº 10/2005: aprova o


código de ética profissional do psicólogo. Brasília: CFP, 2005. Disponível em:
http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-
psicologia.pdf. Acesso em: 2 fev. 2021.

BRASIL. Lei 11.690 de 9 de junho de 2008. Altera o Decreto-Lei 3.689 –


Código de Processo Penal. Brasília: Presidência da República, Casa Civil, Sub-
chefia para Assuntos Jurídicos, 2008. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11690.htm.
Acesso em: 2 fev. 2021.

BRASIL. Lei 12.010 de 3 de agosto de 2009. Brasília: Presidência da República,


Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos, 2009. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/L12010.htm.
Acesso em 2 fev. 2021.

BRASIL. Recomendação Nº 33, de 23 de novembro de 2010. Recomenda aos


tribunais a criação de serviços especializados para escuta de crianças e
adolescentes vítimas ou testemunhas de violência nos processos judiciais.
Depoimento Especial. Brasilia: CNJ, 2010. Disponível em:
https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/878. Acesso em: 2 fev. 2021.

BRASIL. Lei Nº 13.431, de 4 de abril de 2017. Estabelece o sistema de garantia


de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e
altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente). Brasília: Presidência da República, 2017. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13431.htm.
Acesso em: 2 fev. 2021.

14
Capítulo 2 - Orientações técnicas para a condução de entrevistas com crianças e adolescentes em
depoimento especial

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP nº 09/2018. Estabelece


diretrizes para a realização de Avaliação Psicológica no exercício profissional
da psicóloga e do psicólogo, regulamenta o Sistema de Avaliação de Testes
Psicológicos - SATEPSI e revoga as Resoluções n° 002/2003, nº 006/2004 e n°
005/2012 e Notas Técnicas n° 01/2017 e 02/2017. Brasília: CFP, 2018.
Disponível em: http://www.crp11.org.br/upload/Resolu%C3%A7%C3%A3o-CFP-
n%C2%BA-09-2018-com-anexo.pdf. Acesso em: 2 fev. 2021.

CEZAR, J. A. D. A atenção à criança e ao adolescente no judiciário: práticas


tradicionais em cotejo com práticas não revitimizantes (depoimento pessoal).
IN: SANTOS, B. R.; GONÇALVES, I. B. G., VASCONCELOS, G. (coord.). Escuta de
crianças e adolescentes em situação de violência sexual: aspectos teóricos e
metodológicos: guia para capacitação em depoimento especial de crianças e
adolescentes. Brasília: EdUCB, 2014.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. CFP é contra “Depoimento Sem Dano”.


Jornal do Federal, v. 21, n. 89, p. 10, 2008. Disponívem em:
https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2008/06/jornal_federal_89.pdf.
Acesso em: 2 fev. 2021.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP 010/2010. Brasília: CFP,


2010. Disponível em: http://site.cfp.org.br/wp-
content/uploads/2010/07/resolucao2010_010.pdf. Acesso em: 2 fev. 2021.

CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Resolução CFESS 554/2009. Brasília:


CFESS, 2009. Disponível em:
http://www.cfess.org.br/arquivos/Resolucao_CFESS_554-2009.pdf. Acesso em:
2 fev. 2021.

DOBKE, V. Abuso sexual: a inquirição das crianças - uma abordagem


interdisciplinar. Porto Alegre: Ricardo Lenz Editor, 2001.

DOBKE, V. M., SANTOS, S. S.; DELL’ÁGLIO, D. D. Abuso sexual intrafamiliar: da


notificação ao depoimento no contexto processual-penal. Temas em
Psicologia, v. 18, n. 1, p. 167-176, 2010. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v18n1/v18n1a14.pdf. Acesso em: 2 fev.
2021.

FURNISS, T. Abuso sexual da criança: uma abordagem multidisciplinar -


manejo, terapia e intervenção legal integrados. Porto Alegre: Artes médicas,
1993.

GABEL, M. Crianças vítimas de abuso sexual. São Paulo: Summus, 1997.

HOFFMEISTER, M. V. Tomada de depoimento especial de crianças e


adolescentes em situação de abuso sexual: desafios à intervenção
profissional do assistente social na perspectiva da garantia de direitos. 2012.
211 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012. Disponível em:
http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/510. Acesso em: 2 fev. 2021.

MIRA Y LOPEZ, E. Manual de Psicologia Jurídica. 2. ed. atual. Campinas: LZN,


2005.

PELISOLI, C.; DELL’ÁGLIO, D. D. A humanização do sistema de justiça por meio


do Depoimento Especial: experiências e desafios. Psico-USF, Bragança Paulista,
v. 21, n. 2, p. 409-421, mai./ago. 2016. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/pusf/v21n2/2175-3563-pusf-21-02-00409.pdf.
Acesso em: 2 fev. 2021.

15
Capítulo 2 - Orientações técnicas para a condução de entrevistas com crianças e adolescentes em
depoimento especial

SACRAMENTO, L. T. Pressupostos básicos da Psicologia Jurídica: delimitando


o campo. Vol. I. Santo André: ESETec editores Associados, 2012.

SANDERSON, C. Abuso Sexual em Crianças. São Paulo: M. Books, 2005.

SHINE, S. K. A espada de Salomão: a Psicologia e a disputa de guarda de filhos.


São Paulo: Casa do Psicólogo Editora, 2003.

SENADO FEDERAL. Projeto de Lei da Câmara 035/2007. Brasília: Senado


Federal, 2007. Disponível em:
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/81194.
Acesso em: 2 fev. 2021.

POTTER, L. Violência, vitimização e políticas de redução de danos. IN: POTTER,


L.; BITTENCOURT, C. R. (Ed.). Depoimento Sem Dano: Por uma política
criminal de redução de danos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.

SANTOS, B. R.; GONÇALVES, I. B. Depoimento sem medo: culturas e práticas


não revitimizantes – uma cartografia das experiências de tomada de
depoimento especial de crianças e adolescentes. São Paulo: Childhood Brasil,
2008.

VOLNOVICH, J. R. Abuso Sexual na Infância. Rio de Janeiro: Ed. Lacerda, 2005.

16
Demandas da Divisão Psicossocial em Varas
da Infância e Juventude

Alberto Joaquim Goveia Diniz Neto


Vitoria Luiza Silva Santos
Thais Braga Campos Gomes
Francisca Moraes da Silveira
Cândida Helena Lopes Alves

Introdução

A Psicologia Jurídica assume diversas possibilidades de


atuação em diferentes espaços. O Manual de Psicologia Jurídica de
Mira y López (2005) apresenta os primórdios desse espaço da
Psicologia, revelando ser tão antiga quanto a própria regulamentação
da profissão em nosso país no ano de 1962. Um campo de
conhecimento atuando concomitantemente às práticas da Avaliação
Psicológica, construindo diagnósticos e oferecendo pareceres
técnico-científicos aos magistrados que os orientassem em suas
tomadas de decisões judiciais.
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

Em 1985 ocorreu o primeiro concurso público para a capital


de São Paulo, com a criação de 65 cargos efetivos e 16 cargos de
chefia (BERNARDI, 1999). Essas são as primeiras notícias de atuação
da Psicologia no Judiciário, mais precisamente nos Tribunais de
Justiça. Mesmo entendendo a Psicologia Jurídica como um campo,
essa denominação abarca outros subespaços onde há a possibilidade
de inserção dos profissionais em Psicologia.
Neste momento, nos debruçamos acerca das ações dos
psicólogos (as) que atuam nos Fóruns, onde, mais comumente se
conhece o campo como sendo da Psicologia Forense. A Psicologia
Forense é o estudo do comportamento desenvolvido dentro de
ambientes regulados juridicamente, assim como da evolução dessas
regulamentações jurídicas e de como os grupos sociais
desenvolvem-se nesse processo (CLEMENTE, 1998). Esse espaço de
funcionamento busca compreender e agir na garantia dos direitos de
todos os cidadãos brasileiros nas diferentes faixas etárias, onde o
psicólogo atua para auxiliar na tomada de decisão do requerente em
suas práticas, sendo esse o Juiz.
Os Tribunais de Justiça oferecem espaço nos cargos de
psicólogos para ingressarem nesses setores como servidores do
Estado, tendo em vista a maior incidência em questões da infância e
juventude e do Direito da Família (BRITO, 2012). Nesse contexto
forense, os psicólogos atuam de forma conjunta a outros
profissionais, compreendidos por Equipe Psicossocial ou Divisão
Psicossocial. Essa equipe habitualmente é formada por psicólogos,
assistentes sociais e demais servidores de cargos técnicos. Nos
cargos de ensino superior (Psicologia e Serviço Social) entende-se a
prática como uma possibilidade para subsidiar as decisões do Juiz
que solicita os serviços da Equipe Psicossocial.
Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
atualmente o Brasil possui sete Tribunais Superiores (Supremo
18
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

Tribunal Federal, Tribunal Superior do Trabalho, Conselho Superior


da Justiça do Trabalho, Superior Tribunal de Justiça, Conselho da
Justiça Federal, Tribunal Superior Eleitoral e Superior Tribunal
Militar). Na esfera federal, encontram-se cinco tribunais: O Tribunal
Regional Federal da 1ª Região (abrange os estados do Acre,
Amazonas, Amapá, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Minas
Gerais, Mato Grosso, Pará, Piauí, Roraima e Rondônia), o Tribunal
Regional Federal da 2ª Região (abrange os estados do Espírito Santo
e Rio de Janeiro), o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (abrange
os estados do Mato Grosso do Sul e São Paulo), o Tribunal Regional
Federal da 4ª Região (abrange os estados do Paraná, Rio Grande do
Sul e Santa Catarina) e o Tribunal Regional Federal da 5ª Região
(abrange os estados do Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio
Grande do Norte e Sergipe). Todos os estados e o Distrito Federal
possuem Tribunais Regionais Eleitorais e Tribunais Regionais do
Trabalho. Os Tribunais Militares encontram-se nos estados de Minas
Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Ao todo, o Brasil conta com 91 Tribunais, com mais de cinco
mil comarcas espalhadas por todo o território, onde são as áreas em
que o Juiz desempenha sua jurisdição, ou seja, seus deveres como
representante do Estado. Critérios como quantidade de habitantes,
de eleitores e a dimensão territorial são levados em consideração
para a consolidação de uma comarca. No Tribunal de Justiça do
Maranhão (TJ-MA), por exemplo, segundo informações do site oficial
do órgão, o Estado possui cento e doze comarcas com atuação de
pelo menos um Juiz. A presença da Divisão ou Equipe Psicossocial
não é uma realidade em todas as comarcas no país, tão pouco no
Estado do Maranhão.
Nas comarcas, as varas judiciárias representam um
segmento que coordena as ações do Juiz, que podem ser divididas
por áreas ou não, dependendo dos critérios acima citados para
19
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

criação de uma comarca. Nos Fóruns de maior abrangência e


recebimento de processos judiciais, essas varas são subdividas em
setores específicos para atender de forma segmentada àquela
demanda com maior qualidade e rapidez.
A proposta deste trabalho é o olhar focado para as Varas da
Infância e Juventude (VIJ), diferenciando o caráter cível ou criminal
de cada uma, além de explicar as demandas que chegam a essas
varas, mais precisamente na VIJ cível. Com o reconhecimento dessas
demandas, entender o panorama nacional de atuação das comarcas
de diferentes estados da federação, além de propostas de
intervenção da Equipe Psicossocial que possam funcionar como
modelo nas diferentes demandas que uma vara cível de infância e
juventude recebe.

As Varas da Infância e da Juventude

Na Psicologia Jurídica há uma predominância das atividades


de confecções de laudos, pareceres e relatórios, pressupondo-se que
compete à Psicologia uma atividade de cunho avaliativo e de
subsídio aos magistrados (LAGO et al., 2009). Existe essa prática nas
ações da Psicologia nos Fóruns, sendo utilizadas em suas diferentes
demandas e contextos. Deve-se, como ponto de partida, diferenciar
as ações dos psicólogos (as) que atuam nos Fóruns acerca do perfil
de cada vara da infância e juventude, mesmo que esse trabalho se
proponha a destacar as demandas que apareçam na 1ª VIJ, que
possui um perfil cível.
A Lei n° 8.069, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) tem se configurado como uma normativa federal
que regulamenta e norteia as atuações de diferentes profissionais
quando se trata da proteção integral da criança ao adolescente.
Alguns de seus artigos apontam direitos que o Estado deve cumprir
20
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

para assegurar a saúde, bem-estar e segurança dos infantes. Nesses


artigos, a partir do seu conteúdo, é possível entender como se dão
as práticas e ações nas varas da infância e juventude criminal e cível.
Nas Disposições Gerais do Capítulo I do ECA, aponta-se em seu Art.
104 que “São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos,
sujeitos às medidas previstas nesta Lei”. Isto é, em casos de crimes
cometidos por menores, não há a possibilidade de atribuir pena a
eles, mantendo-os em complexos penitenciários.
Então, quais as formas em que o Judiciário poderá assistir
esse jovem? Essa é uma demanda da vara da infância e juventude
criminal. A 2ª Vara da Infância e Juventude tem competência para
julgamento de todos os adolescentes que praticam atos infracionais
e também para controlar as medidas impostas às crianças infratoras
(Art. 105 da Lei n° 8069 de 1990). Essa numeração tem relação com
a quantidade de habitantes da comarca, então, sugere-se aqui uma
situação de uma comarca grande, exemplo de uma capital. Tendo em
vista essas atribuições, carecemos de conceituação para a vara cível,
foco principal de nosso trabalho.
Retornaremos ao ECA, que expõe em seu Capítulo I Do
Direito à Vida e à Saúde, que aponta em seu Art. 7 que “a criança e o
adolescente tem direito a proteção, à vida e à saúde, mediante
efetivação de políticas públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de
existência. Esse panorama pode não ser o encontrando na família
biológica. Nestes casos, as varas cíveis da criança e do adolescente
podem ser acionadas para defender os interesses do infante. Em uma
realidade de uma comarca com grande número de habitantes, a 1ª
Vara da Infância e Juventude se torna a responsável por receber os
processos cíveis, que normalmente são casos de guarda, tutela e
adoção. Esses três tipos de processos possuem suas tipologias, que
serão abordadas a seguir.
21
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

Guarda

A compreensão das relações socioafetivas intergeracionais


nos Pedidos de Guarda da Vara da Infância e Juventude passam
necessariamente por uma reflexão sistemática sobre duas categorias
intrinsecamente ligadas: Família e Pedido de Guarda (ANTONIO,
2006). Esse fenômeno acontece por diferentes razões, contextos e
situações familiares. O ECA expõe que aos pais incumbe o dever de
sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes
ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir
as determinações judiciais. Entende-se que a guarda em primeiro
momento é de atribuição dos genitores e, apenas em casos
específicos ela será contemplada a terceiros. O Estatuto da Criança e
do Adolescente dispõe em sua Subseção II – Da Guarda, artigos que
melhor explicam esse recurso. Em suas atribuições, a guarda destina-
se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida, liminar ou
incidentalmente, nos procedimentos de tutela e adoção, exceto no
de adoção por estrangeiros (Art. 33). Nesses casos, a criança ou
adolescente torna-se dependente do guardião para todos os fins e
efeitos de direito, tais como prestação de assistência material, moral
e educacional. O detentor da guarda poderá se opor a terceiros,
inclusive aos pais biológicos da criança.
É importante que se entenda o conceito de Poder Familiar,
como um aspecto central que norteia as práticas jurídicas nesse tipo
de vara da infância e juventude. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
sugere que o poder familiar está relacionado ao dever dos pais de
sustento, guarda e educação dos filhos menores. Ou seja, é o
conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais em relação à
pessoa e aos bens dos filhos menores de 18 anos. Ainda segundo o
CNJ, o poder familiar não pode ser confundido com a guarda já que
22
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

nem sempre quem detém o poder familiar possui a guarda da


criança. Diante dos dados, compreende-se que a guarda é um poder
mais “fraco”, mais passível de mudanças. Porém, nos processos
judiciais, pode ser o marco inicial para que um adulto se torne
responsável legal por uma criança ou adolescente, como também um
primeiro passo para o processo de adoção que será visto mais à
frente.
O processo de solicitação de guarda pode funcionar em
diferentes contextos e modalidades. Esse ocorre para proteger uma
criança ou adolescente em situação de risco na família, no meio
social ou outro espaço que ela esteja incluída. Pode ser unilateral ou
compartilhada, sendo o primeiro caso onde a guarda é exercita por
um dos pais e compartilhada quando exercida por ambos os pais,
que decidem em conjunto a forma de sustento e adoção do infante.
O pedido de guarda pode surgir de diferentes solicitações. Antonio
(2006) apresenta os diferentes órgãos que fazem os pedidos iniciais
de Guarda (Quadro 01), tendo como referência a comarca de Santos-
SP nos anos de 2004 e 2005.

Quadro 01 – Demandas da Vara da Infância e Juventude de Santos (2004 e 2005)

Mês
Órgão Total
Jul/04 Ago/04 Set/04 Out/04 Nov/04 Dez/04 Jan/05 Fev/04 Mar/05
Conselho
Tutelar Zona 4 8 6 5 9 10 16 20 12 90
Central
Conselho
Tutelar Zona 9 12 5 3 8 5 14 11 10 77
Noroeste
Conselho
Tutelar Zona 5 3 2 8 3 8 4 6 14 53
Leste
Triagem na
Vara
1 0 0 2 2 5 2 2 2 16
Advogado 0 0 1 1 2 2 1 0 0 7
Sem
referência
3 4 3 3 5 1 1 8 9 37
Total 22 27 17 22 29 31 38 47 47 280

23
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

Percebe-se neste contexto que o órgão mais efetivo para o


pedido de guarda é o Conselho Tutelar, que, conforme o Ministério
Público, é um órgão permanente e autônomo, não jurisdicional,
encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos
da criança e adolescente, definidos por Lei.

Tutela

A tutela tem como objetivo basilar o preenchimento da


ausência de representação legal do menor. Para tal, é exigido que se
tenha a destituição do poder familiar ou também pode ocorrer em
caso de pais falecidos. Dessa forma, a tutela visa à proteção dos
menores não sujeitos ao poder familiar, tendo como propósito a
administração dos bens patrimoniais do menor (TARTUCE, 2014).
Assim é incumbência do tutor, amparar seu tutelado em relação ao
patrimônio.
Outro aspecto a ser apontado de acordo com Subseção III- Da
Tutela- Parágrafo Único do ECA é o fato da tutela implicar
necessariamente o dever de guarda (BRASIL, 1990) cabendo assim a
ocupação do tutor em relação ao desenvolvimento do menor. A
tutela se configura como um segundo passo para a inserção da
criança ou adolescente em uma família substituta, quando se
antecede pela guarda e se tem como objetivo final a adoção. Dentre
as classificações para tal medida tem-se a Tutela testamentária,
aquela determinada via testamento, legado ou codicilo, com
nomeação realizada pelos pais; Tutela legítima, em que os pais não
realizaram a nomeação do tutor e, portanto recorre-se a
denominação de parentes consanguíneos, dando preferência dos
mais próximos aos mais distantes e dos mais velhos aos mais novos;
e, por fim, a Tutela dativa: caso não se tenha uma das duas tutelas

24
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

citadas acima, o juiz nomeia um tutor idôneo residente no domicílio


do menor (TARTUCE, 2014).
O processo da Tutela pode ocorrer de forma simples, como
já explicitado anteriormente, como em duas outras formas: com a
Suspensão do Poder Familiar e a Destituição do Poder Familiar (DPF).
Nos casos de suspensão, até uma nova ordem judicial, a família
biológica perde os direitos legais sobre aquela criança e/ou
adolescente, mas, essa é uma alternativa que pode ser revertida. Já
nos casos de DPF, há a perda integral e não reversível da família
biológica para com o infante, que passará a ter a tutela de um outro
responsável legal que não os seus pais biológicos, ou um dos
genitores.
Há de se buscar diferenciar a tutela da curatela, pois,
judicialmente, podem parecer conceitos muito próximos. Os dois
processos buscam atender a menores de idade e incapazes, de forma
temporária ou permanente. Porém, a curatela é um dispositivo legal
em que alguém se torna responsável legal por um adulto ou idoso
que esteja incapaz de exercer suas atividades e vontades. O curador
então administra os bens dessa pessoa incapaz de forma permanente
ou temporariamente. Já o tutor é responsável de velar, representar
na vida civil e administrar os bens da criança ou adolescente.

Adoção

Tem-se dados que a primeira positivação legal da adoção em


escala mundial seja datada de 1700 a.C com a criação do Código de
Hamurabi. No Brasil esse processo se inicia judicialmente em 1828,
através das Ordenações Filipinas e da promulgação de leis que
tratavam sobre a temática (MARONE, 2016). Em seguida, surgiram
outros dispositivos como o Decreto nº 181 de 1890, a Consolidação
das Leis Civis de Teixeira Freitas e a nova Consolidação das Leis Civis
25
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

de Carlos de Carvalho, publicada em 1915 (CUNHA, 2013). Com a


inclusão do Livro do Direito da Família no Código Civil de 1916, este
passa a tratar das normas e dos requisitos para a adoção - artigos
368 a 378 - que se assemelhavam aos requisitos limitantes
abordados pelo Código Napoleônico.
De acordo com o código civilista de 1916, os vínculos com a
família de origem não se extinguiam pela adoção, sendo reservada a
estes a responsabilidade sobre os direitos e deveres da criança, com
exceção do pátrio poder que era destinado aos adotantes (Art. 378).
No entanto, por não haver vínculo consolidado com os novos
responsáveis, o Artigo 373 previa como direito tanto do adotante
como do adotado a dissolução da relação, em casos específicos
previstos por lei (OLIVEIRA; REIS, 2012). Em 1957, com o advento da
Lei 3.133, houve alteração em alguns requisitos, diminuindo os
obstáculos para aquele que desejava adotar.
Em 1965, com a implementação da Lei nº 4.655, é instituída
a legitimação adotiva que possibilitava a adoção de crianças até 7
anos de idade que tivessem sido destituídas do poder familiar
(MARONE, 2016). Com a promulgação da Lei nº 6.697 de 1979 que
prevê a criação do Código de Menores, o jurídico passa a dispor de
três categorias de adoção: adoção simples, que permitia a adoção de
menores em situação irregular/desumana; adoção plena,
substituindo a legitimação adotiva e atribuindo ao filho adotado as
mesmas condições de um filho legítimo; e a adoção do Código Civil,
destinada à adoção de pessoas em qualquer idade (CUNHA, 2013).
Atualmente, a Constituição Federal de 1988 rege as
doutrinas de proteção integral, junto a participação efetiva do Poder
Público no processo de adoção, em consonância ao que é proposto
pelo Código Civil de 2002 (MARONE, 2016). Todo o seguimento é
respaldado pela Lei Nacional de Adoção (nº 12.010/09), na qual todas
as adoções passam a ter regimento único pelo ECA, uma das
26
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

legislações mais modernas voltadas para o tratamento de crianças e


adolescentes do Mundo - instituído em 1990 pela Lei nº 8.069, como
substituto do Código de Menores -, objetivando o atendimento dos
reais interesses da pessoa adotada.
Crianças e adolescentes são seres possuidores de direitos. O
dispositivo legal responsável, o ECA. Art. 19 da Lei n° 13.257 aponta
que é direito de toda criança a convivência familiar e comunitária,
seja ela realizada por sua família biológica ou família substituta.
Assim, declarada a impossibilidade de manutenção da criança ou
adolescente em seu seio familiar, ocorre a busca pela família extensa
para realizar esse papel, ou seja, aqueles que são parentes próximos,
com os quais a criança ou adolescente possui vínculo. E ainda, caso
haja impedimento desses sujeitos de serem mantidos por sua família
natural ou extensa é assegurada a possibilidade de colocação destes
em uma família substituta. Tal possibilidade pode se configurar
dentro de três medidas: guarda, tutela ou adoção.
A Instituída como uma filiação, a adoção hoje é
regulamentada por lei, garantindo as crianças e aos adolescentes o
direito de serem criados dentro de um seio familiar. “A expressão
adoção se origina do latim, de ‘adoptio’, significando, na língua
portuguesa, ‘tomar alguém como filho’. Assim, é na adoção que o
adotado terá o status de filho [...]” (NABINGER, 2010, p.26). Dessa
forma, o adotado possui os mesmos direitos de um filho biológico,
inclusive os direitos sucessórios. A adoção confere ao adotado
parentesco civil em relação ao adotante e a sua família, construindo
o vinculo civil e extinguindo o vínculo com a família biológica,
assumindo, a característica idêntica a de filho (MADALENO, 2013). O
ECA prevê a adoção como “medida excepcional e irrevogável, à qual
se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de
manutenção da criança ou adolescente na família natural ou

27
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

extensa”. Portanto, somente a partir da perda do poder familiar é que


esta medida pode ocorrer, e uma vez firmada, é definitiva.
A adoção é um processo constituído por etapas que tem por
objetivo tornar esse procedimento eficaz, considerando, sobretudo
o bem-estar da criança ou adolescente. O processo inicia-se em uma
Vara de Infância e Juventude da região dos pretendentes a adoção,
de forma gratuita, respeitando-se apenas os critérios para ser
adotando “A idade mínima para se habilitar à adoção é 18 anos,
independentemente do estado civil, desde que seja respeitada a
diferença de 16 anos entre quem deseja adotar e a criança a ser
acolhida” (CNJ, 2019). Logo após, ocorre a análise de documentos do
candidato a adoção para se dar o prosseguimento do processo.
Dada essa fase, inicia-se a preparação psicossocial e jurídica
para garantir que tanto adotante quanto adotado sejam beneficiados
com tal medida. A divisão psicossocial da Vara de Infância e
Juventude nessa etapa tem o papel de verificar se o adotante tem
condições para a adoção, essa investigação pode ser realizada
através de visitas domiciliares, entrevistas ou suporte de outros
instrumentos. A equipe elabora um relatório psicológico e/ou social
que será apresentado ao Juiz responsável, que tomará a decisão de
deferir ou não a habilitação para adoção.
Em caso de concessão da habilitação o candidato é
adicionado ao Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA),
anteriormente chamado de Cadastro Nacional de Adoção (CNA),
ferramenta que contribui para que o processo ocorra de forma
diligente, assim “A finalidade deste cadastro é agilizar os processos
de adoção, por meio do mapeamento de informações unificadas, e
viabilizar a implantação de políticas públicas relacionadas ao tema
com maior precisão e eficácia” (CNJ, 2016). Com o cadastro é
possível que se uniformize os dados de todas as crianças e
adolescentes para adoção no Brasil, fazendo a compatibilização
28
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

entre os perfis disponíveis para adoção e os traçados pelos


pretendentes a adotar, facilitando esse processo inicial.
Segundo dados do CNJ, em 2012, haviam 28.114 mil
pretendentes cadastrados para adoção. Outras informações
relevantes ao perfil de busca desses pretendentes mostram
particularidades e, consegue-se estabelecer as características mais
gerais da criança idealizada por essas pessoas. Em termos do gênero
do adotante (Quadro 2), a busca ainda é majoritariamente por casais,
porém, com números crescentes para mulheres solteiras buscando a
adoção.

Quadro 2 – Perfil do adotante considerando gênero


Gênero Quantidade
Casal 25.073
Feminino 2.684
Masculino 357

Quanto ao estado civil (Quadro 3), o perfil ainda é de


casados, o que corrobora com o dado anterior da busca de casais ser
maior ao de pessoas solteiras. O número de pessoas solteiras e em
união estável segue próximo e também crescente, mostrando
alterações inclusive culturais quem impactam no processo de
adoção.

Quadro 3 – Perfil do adotante considerando estado civil


Estado Civil Quantidade
Casado(a) 22.250
Divorciado(a) 515
Separado judicialmente 190
Solteiro(a) 2.406
União estável 2.531
Viúvo(a) 222

29
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

Considerando a idade (Quadro 4), os dados do CNJ mostram


um equilíbrio maior entre duas faixas etárias, de 31 a 40 anos e 41 a
50 anos. Infere-se que são faixas etárias de adultos que não
conseguiram ter filhos biológicos ou considerando variáveis que
impossibilitaram esses dois grupos de criarem filhos quanto mais
jovens, como por exemplo a consolidação financeira (Quadro 5), que
também recebe dados estatísticos do CNJ. As faixas salariais mais
expressivas são de pessoas que recebem de 3 a 5 salários mínimos e
5 a 10 salários mínimos, que, segundo dados do IBGE, correspondem
as classes sociais C e B, respectivamente.

Quadro 4 – Perfil do adotante considerando faixa etária


Faixa Etária Quantidade
21-30 967
31-40 8.734
41-50 11.049
51-60 3.475
61 ou mais 3.627

Quadro 5 – Perfil do adotante considerando faixa salarial


Faixa Salarial Quantidade
Até 1/4 de salário mínimo 1.413
De 1 a 2 salários mínimos 3.791
De 1/2 a 1 salário mínimo 478
De 1/4 a 1/2 salário mínimo 45
De 10 a 15 salários mínimos 2.272
De 15 a 20 salários mínimos 1.019
De 2 a 3 salários mínimos 4.513
De 20 a 30 salários mínimos 757
De 3 a 5 salários mínimos 6.820
De 5 a 10 salários mínimos 6.003
Mais de 30 salários mínimos 486
Sem rendimento 517

30
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

Quanto a presença de filhos biológicos (Quadro 6), a uma


unanimidade em casais ou pessoa solteira não possuírem filhos, o
que pode atribuir o fato da adoção a essa não realização por vias
biológicas.

Quadro 6 – perfil do adotante segundo a presença de filho biológico


Filhos Biológicos Quantidade
Não 21.230
Sim 6.884

O CNJ apresenta dados em relação aos estados (Quadro 7)


com maior número de casais ou pessoa solteira cadastrada para
adoção. O ranking é de predomínio das regiões Sul e Sudeste (São
Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais).

Quadro 7 – perfil do adotante segundo o estado da Federação


UF Quantidade UF Quantidade
AC 75 PB 236
AP 35 PE 466
AL 55 PI 34
AM 54 PR 3.758
BA 323 RJ 2.004
CE 374 RN 153
DF 338 RO 193
ES 667 RR 25
GO 482 RS 4.427
MA 75 SC 2.078
MG 3.671 SE 150
MS 429 SP 7.310
MT 424 TO 69
PA 209

É importante lembrar que a avaliação psicossocial é de


extrema importância para se ter acesso ao projeto de vida que aquela
pessoa e família tem, as expectativas em relação ao filho e outras
31
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

questões determinantes para que o pretendente possa pensar e se


questionar acerca dessa nova forma de viver. A partir disso, traz-se
a relevância de se realizar uma preparação para a consolidação do
processo, em ambos os lados: com a família pretendente e também
com o possível adotado. O que é necessário para que se observe que
a criança ou adolescente a ser adotado já existe enquanto sujeito,
com suas próprias necessidades, modo de expressar-se e etc. Dessa
forma, “a preparação dos candidatos se faz essencial no sentido de
diferenciar as necessidades, os obstáculos e as ferramentas
necessárias” (NABINGER, 2010, p. 33).
A adoção é um processo que ocorre de diferentes formas,
tendo, assim, diferentes tipos. Destaca-se primeiramente a adoção
precoce, que contempla a adoção de bebês de até três anos de idade,
correspondendo a maioria da procura, cerca de menos de 5% dos
disponíveis estão nessa faixa etária (EM DISCUSSÃO, 2013); a adoção
tardia corresponde a adoção de crianças e adolescentes com mais de
três anos de idade, é importante ressaltar que 77% compreende
aqueles com mais de dez anos (EM DISCUSSÃO, 2013); adoção inter-
racial, em que as características étnico-raciais do adotado são
diferentes do adotando, onde normalmente o adotado é de pele
negra ou parda e a família adotante de pele branca; adoção de
irmãos, em que ocorre a adoção de duas ou mais crianças pelos
mesmos adotantes e, por fim, a adoção de crianças com deficiências
e/ou problemas de saúde, em que os adotantes aceitam crianças com
deficiências físicas ou mentais, ou problemas crônicos de saúde,
como casos de crianças com AIDS.
O Conselho Nacional de Justiça (2012) também apresenta
dados referentes as crianças e adolescentes que estão cadastradas
no SNA, ou seja, que se encontram aptas para adoção. Em relação ao
sexo (Quadro 8), os números são bem distribuídos entre meninos e
meninas. Percebe-se que o número de crianças aptas para adoção é
32
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

bem inferior ao número de casais e pessoas solteiras habilitadas para


adoção.

Quadro 8 – Perfil da criança e adolescente apta a adoção considerando o sexo


Sexo Quantidade
Feminino 2.324
Masculino 2.960

Nas questões étnico-raciais (Quadro 9), há superioridade de


crianças e adolescentes pardos em relação a negros e brancos. Esse
dado pode mascarar a problemática social do país no que tange o
racismo, camuflando crianças negras na busca de uma miscigenação
que repreenda sua identificação com a cultura afro-brasileira.

Quadro 9 - Perfil da criança e adolescente apta a adoção considerando a raça/cor


Raça/Cor Quantidade
Amarela 32
Branca 1.754
Indígena 36
Parda 2.454
Preta 1.008

Considerando a faixa etária (Quadro 10), constata-se que o


número de crianças acima de 3 anos é superior e crescente quanto
ao de crianças mais novas. Nestes casos, configura-se o tipo de
adoção tardia, o que não é a realidade de busca dos candidatos a
adoção que preferem crianças de 0 a 3 anos. Outro fator que
influencia nessa modalidade de adoção, é o fato das crianças antes
de estarem disponíveis no SNA, elas devem passar pelo processo de
retornarem a família biológica, seja pelos pais ou outros membros
da família. Em casos que não há essa possibilidade de retorno, as
crianças e adolescentes são incluídas no SNA.

33
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

Quadro 10 - Perfil da criança e adolescente apta a adoção considerando faixa etária


Faixa Etária Quantidade
0 19
1 64
2 70
3 104
4 99
5 115
6 136
7 181
8 221
9 300
10 363
11 440
12 515
13 523
14 579

No atual cenário da adoção no Brasil, após o Estatuto da


Criança do Adolescente, a preparação de crianças, regulamentada
pela Lei nº 12.010/09, visa possibilitar que a criança possa visualizar
por que e como seria seguro viver em outra família, para que o
sentimento de medo e ansiedade seja minimizado diante da
necessidade de se adaptar a um novo contexto familiar (CONTENTE;
CAVALCANTE; SILVA, 2013). A Lei em vigor, regula que a relação de
filiação socioafetiva seja fundamentada no afeto e no cuidado
(BRASIL, 2009), sendo necessário que, anterior a adoção, a criança e
os futuros pais tenham informações que os auxiliem no processo e
os preparem para esse novo contexto; uma vez que ambos já trazem
consigo uma história de vida anterior ao processo de adoção.
O momento de saída do abrigo institucional e a chegada em
uma nova família é marcada por uma carga significante de
transitoriedade. A criação de vínculos sólidos entre adotante e
adotado demanda tempo e preparação, aspectos que precisam ser

34
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

trabalhados pelos profissionais dos juizados da infância e os


profissionais do abrigo junto aos envolvidos na transição, no sentido
de uma psicoeducação: informar, esclarecer e desmistificar mitos e
preconceitos, a fim de que a criança desenvolva subsídios de
enfrentamento diante dessa nova fase. No entanto, de acordo com
Contente, Cavalcante e Silva (2013), os profissionais responsáveis
pela preparação não se sentem aptos a realizá-la como é previsto por
lei; ocorrendo, em diversos casos, a ausência de trabalho
multiprofissional, o que pode vir a interferir na qualidade da
transição, já que as ideias e expectativas do sujeito não são
devidamente trabalhadas.
A preparação para adoção, como sistematiza Nabinger
(2010), inicia-se com uma avaliação prévia da criança, para que se
tenha uma compreensão global sobre os aspectos que norteiam sua
história - suas potencialidades, necessidades, estado emocional,
capacidade intelectual, nível de elaboração da separação dos pais
biológicos e desejo de pertencer a uma nova família -, para que a
partir do levantamento das demandas apresentadas pela criança seja
possível encontrar pais que possam correspondê-las de maneira
efetiva. Feita a coleta de dados, passa-se a preparação propriamente
dita. A história de vida da criança institucionalizada é o norteador
da preparação, já que em sua maioria, são história marcadas por
situações de muito sofrimento, somadas ao tempo de vida
institucional.
A formação assertiva de vínculos entre adotante e adotado é
consequência de uma preparação bem consolidada. Em
consequência disso, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) apresenta
tanto o vínculo jurídico como o afetivo, fazendo considerações sobre
o último, como sendo o primordial para que a adoção seja considera
legítima e, portanto, devendo ser sempre resguardado (REIS; LEITE;
MENDANHA, 2017). Assim, a oportunidade de construir laços
35
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

familiares não consanguíneos passa pela supervisão de uma equipe


multiprofissional que tem por objetivo dar suporte e
acompanhamento, orientar no alívio das tensões próprias do
contexto e trabalhar as características da criança com os pais e vice-
versa.
O próximo passo se dá com o estágio de convivência,
previsto pelo ECA, como o momento de formação de vínculo
concreto entre a criança e a nova família. O tempo de permanência
do estágio é previsto pelo juiz e as ações são acompanhadas por uma
equipe interprofissional (abrigo e juizado) tanto para observação
como para intervenção, caso haja necessidade. Ao fim do período de
convivência e a nova família obtendo êxito na evolução do vínculo,
é dado prosseguimento ao processo de adoção. No entanto, se o
relatório da equipe for desfavorável, a criança retorna ao abrigo,
necessitando de uma nova preparação, o que pode acarretar
diferentes consequências para o seu desenvolvimento. Há a
possibilidade da família também não se adaptar e,
consequentemente, “devolver” a criança para o abrigo, sem sofrer
nenhuma represália judicial.
Algumas iniciativas de Fóruns e Lares de acolhimento estão
sendo realizadas pelo Brasil, buscando viabilizar as questões que
norteiam o processo de Adoção no país. Os Fóruns preparam o Curso
de Habilitação, que recebe casais e pessoas solteiras que iniciarão o
processo de adoção legal. Os Cursos de Habilitação para Adoção
trazem temas de cunho social, afetivo, psicológico e explica os
tramites legais desse processo. O curso não tem caráter legal que
habilite os requerentes, mas é um passo para o amadurecimento e
encorajamento desses casais e pessoas solteiras da realidade da
adoção.

36
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

Considerações Finais

A Vara da Infância como já apresentada aqui possui


diferentes formas de atuar, como por exemplos na área criminal e
cível. Este capítulo buscou atentar-se as demandas recebidas de uma
VIJ cível, que podem ser tão problemáticas e dificultosas quanto uma
criminal. Conceitos e tipos de guarda, tutela e adoção foram
apresentados, primeiro para diferenciar cada processo e suas
finalidades, segundo para que se entenda as problemáticas
envolvidas em cada um desses. A Síndrome da Alienação Parental
(SAP) se apresenta como um conjunto de sintomas que aparecem
todos juntos, podendo ser a nível moderado até severo (GARDNER,
2002).
Os casos de guarda que ocorrem entre os pais biológicos
podem ser vistos como complexos e dificultosos para uma avaliação
psicossocial no Poder Judiciário, devendo-se buscar compreender as
relações que o infante convive (pai, mãe, avós, etc.). Nesses casos, a
cautela deve ser atenciosa para identificar a presença ou não de
alienação parental. Em termos jurídicos, a Lei n° 12.318 dispõe sobre
a alienação parental:

Art. 2° Considera-se ato de alienação parental a interferência na


formação psicológica da criança e do adolescente promovida
ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que
tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda
ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo
ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este
(BRASIL, 2009).

A SAP prejudica diferentes contextos da vida da criança ou


adolescente, mas também as relações que a norteiam,
principalmente no que tange seu desenvolvimento psicológico.
37
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

Neste aspecto, deve ser realizado uma avaliação psicológica com


esse núcleo familiar, buscando encontrar indícios da SAP. Há um
regimento na lei que também qualifica o profissional em Psicologia
para executar tal função.

Art. 5°....................................................
§1° O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica
ou biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo,
inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de
documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e
da separação, cronologia de incidentes, avaliação da
personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança
ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação
contra o genitor (BRASIL, 2009).

A Divisão Psicossocial deve então estar atenda aos casos de


Guarda, percebendo o teor e motivos desse processo e se este
realmente é para o bem do infante ou se trata de uma disputa de
casal que causará prejuízos a criança ou adolescente.
Os processos envolvendo a Tutela se remetem a prejuízos e
negligências dos responsáveis legais para com o infante. Assim, o
Estado poderá ser o tutor deste ou algum indivíduo adulto que se
tornar requerente do processo, poderá assumir tal responsabilidade.
Algo que se busca refletir nos casos de Tutela, é a suspensão e
destituição do poder familiar. Essas medidas podem ser acrescidas
ao processo, mas, por vezes, ignorar fatores sociais que norteiam
aquele ambiente familiar.
Um aspecto a se pensar é o fato da criança ou adolescente
está sendo negligenciada pelos genitores por razões financeiras,
onde esses, de forma indireta, estão sendo negligenciados pelo
Estado. Pobreza não é motivo para destituição do poder familiar
(BRASIL, 1990), todavia, há uma vinculação de genitores em caso de
38
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

pobreza serem destituídos do poder familiar. Diante disto, a Divisão


Psicossocial precisa estar atenta para casos de negligência, maus
tratos etc., para casos de pobreza em que os genitores não oferecem
condições para seus filhos devido a fatores econômicos.
Considerando o processo de adoção, percebe-se a partir dos
dados explicitados um desalinho entre o perfil da maioria das
crianças e adolescentes disponíveis para adoção e o perfil desejado
pela maioria dos pretendentes a adoção. Tal oposição revela que a
procura desses pretendentes se baseia no perfil de uma criança que
seja de cor branca e que não tenha ultrapassado os três anos de
idade, o que não condiz com a nossa realidade. Esta, por outro lado,
é completamente oposta: crianças negras e pardas em sua maioria, e
acima dos três anos de idade. Dessa forma, é válido destacar a
importância de serem realizadas medidas de reflexão social e de
preparação (social, psicológica e jurídica) dos casais e pessoas
solteiras que desejam adotar, visando reverter esse cenário, onde o
número de pretendentes consiga também abarcar a realidade
encontrada nos lares e abrigos pelo país. Medidas desse cunho
poderão ajudar a descontruir preconceitos de realizar uma adoção
tardia e/ou inter-racial, possibilitando que as crianças e
adolescentes consigam um lar definitivo.
No que tange às expectativas da criança frente ao processo
de adoção, é comum que fantasias sejam desenvolvidas tanto em
aspectos positivos como negativos, e esse infante comece a se
comportar de acordo com essas fantasias. Desta forma, um trabalho
de preparação com essa criança ou adolescente, reconhecendo sua
origem, limitações e potencialidades é imprescindível para que o
infante possa chegar a uma nova família com uma perspectiva real
do novo ambiente, já tendo passado por um trabalho prévio sobre as
características de seus adotantes, como também os aspectos
importantes de sua história de vida, o que pode agir como uma
39
Capítulo 3 – Demandas da Divisão Psicossocial em Varas da Infância e Juventude

facilitador na formação de novos vínculos afetivos que são basilar


para a construção dessa nova relação familiar. No entanto, o que foi
encontrado é que a preparação (prevista pelo ECA) ainda não é
realidade em alguns lares do país, identificando-se também que
quando acontece não é de forma padronizada - alguns profissionais
reconhecem como prioridade, ao passo que outros não.
Desse modo, ao não realizar a preparação de forma efetiva,
a Divisão Psicossocial retira da criança do papel de protagonista do
processo de adoção, abrindo precedentes para uma inserção
fragilizada no novo seio familiar ou na formação subjetiva desse
indivíduo. Acredita-se que é de suma importância que a aproximação
seja dada de forma gradativa, conscientizando os adotantes da
relevância de acolher não só a criança, mas toda a sua história de
vida, que por vezes envolve assuntos delicados (pais usuários de
drogas, crianças/adolescentes com problemas de saúde,
discriminação racial, etc.), exigindo maior cautela dos pais diante
das condições do adotado; evitando que a criança passe pelo
processo de devolução e reviva o trauma do abandono,
possibilitando influências diretas em seu desenvolvimento
biopsicossocial. Para isso, é necessário que a família interessada na
adoção também seja bem avaliada, aumentando a probabilidade de
que os adotantes possam sustentar a decisão de acolher, dar suporte
e ser integralmente responsável por um outro ser humano.

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42
Atualizações sobre posicionamentos e
avaliação da síndrome de alienação parental
em contexto latino e norte americano 1

Sayonara Pereira da Silva


Carmen Amorim-Gaudêncio

Introdução

Historicamente, o termo “Alienação Parental” tem sua


disseminação atribuída ao trabalho do psiquiatra norte americano
Richard Gardner, após este ter cunhado, em meados da década de
80, a “Síndrome de Alienação Parental” (SAP), como resultado de
experiências profissionais com crianças que tiveram seus pais
envolvidos em divórcio conflituoso (O’DONOHUE; BENUTO;
BENNETT, 2016).
Gardner compreendeu o fenômeno da SAP como um
distúrbio infantil caracterizado pelo surgimento de sinais de
sentimentos ansiosos e temor em relação a um dos cuidadores,
estresse, angústia, raiva, ansiedade, baixa autoestima que juntos

1
Capítulo produzido a partir de parecer psicológico produzido pelo Projeto
de Extensão Probex Avaliação Psicológica na Prática Clínica: uma proposta de
formação e intervenção qualificada [APPC].
Capítulo 4 – Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de alienação parental em
contexto latino e norte americano

podem culminar em depressão infantil (PEREIRA; CASCAES, 2017;


SARTORELLI; PEREIRA, 2017). Em adição, é possível encontrar um
conjunto de aspectos próprios da alienação parental, que incluem
campanha caluniosa contra um dos genitores e/ou seus familiares,
apoio automático ao parente alienado, racionalizações fracas, falta
de ambivalência emotiva, presença de encenações encomendadas, e
extensão da animosidade aos amigos e/ou família do progenitor
alienado (PINTO, 2016). Entre os elementos chaves para identificação
da síndrome está a rejeição constante e injustificada, por parte da
criança, ao parente-alienado como resultado da influência do
genitor-alienador (GOLDIN; SALANI, 2020).
Já o constructo “Alienação Parental” é conceituado como
uma forma de violência emocional, na qual um dos genitores passa
a desqualificar e desmoralizar o outro genitor, com fins de ceifar o
vínculo afetivo existente entre genitor-desmoralizado e criança
alienada (PAULO, 2019). A disfunção geralmente surge em momento
de separação conjugal e/ou disputas de guarda, tendo como
primeiro indício campanha caluniosa sem justificativa (SOUSA;
BRITO, 2011), podendo ser realizada por um integrante da família ou
membro externo com relações próximas. O conceito é compreendido
no meio jurídico enquanto:

Interferência na formação psicológica da criança ou do


adolescente promovida ou induzida por um dos genitores,
pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a
sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor
ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de
vínculos com este (BRASIL, 2010).

Como consta na lei N° 12.218 que dispõe da alienação


parental. O fenômeno é considerado ainda uma forma de violência
através da lei Nº 13.431, de abril de 2017, que trata da garantia de
direito de crianças e adolescentes violentados. A principal

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Capítulo 4 – Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de alienação parental em
contexto latino e norte americano

consequência da alienação parental é o afastamento, adoecimento


ou até mesmo rompimento do laço afetivo com o genitor-alienado. A
lei N° 12.218 (BRASIL, 2010) exemplifica atos típicos de alienação
parental como a erupção dos seguintes comportamentos: campanha
difamatória a respeito do exercício da maternidade/paternidade do
outro genitor; dificultação do contato com a criança/adolescente e
desmoralização da autoridade parental; omissão de informações ao
genitor-alienado; apresentação de falsas denúncias e mudança de
domicílio visando obstaculizar a convivência entre filho(a) e
parente-alienado.
Gardner teorizou sobre a existência de três fases ou estágios
de gravidade da expressão da alienação parental, quando já
estabelecida. De acordo com Paulo (2019), no primeiro estágio é
possível observar certa dificuldade no momento da visita e/ou
entrega do filho, com manifestações contrárias tornando-se raras a
medida em que este é apartado do alienador, aqui não são
observadas ambivalência sentimental ou generalização da
animosidade para demais parentes e/ou familiares. No segundo
estágio, continua a autora, a gravidade é intensificada e a criança
encontra-se sem nenhuma culpa ou ambivalência, recusando-se a se
manter na presença do genitor alienado sem justificativas cabíveis
para tal comportamento. Há visão maniqueísta e generalização dos
sentimentos para todos os membros da família do outro, além de
comportamento hostil e provocador durante as visitas. Por fim, o
último e considerado mais grave estágio, é assinalado pela
intensificação da sintomatologia, com o acréscimo de gritos, pânico
e/ou explosões de violência diante mesmo da ideia de visita ao outro
responsável (PAULO, 2019).
A situação é ainda mais agravada quando há falsa alegação
de abuso sexual ou outras formas de abuso, circunstância cada vez
mais frequente e que pode gerar o desenvolvimento de falsas
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Capítulo 4 – Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de alienação parental em
contexto latino e norte americano

memórias. Nesse caso, a fantasia torna-se realidade para a criança,


gerando sentimentos de culpa e traição nesta, ou receio de que a
mentira seja descoberta (SILVA; ARAÚJO; MAFRA, 2017). É comum
que, quando há irmãos sendo alienados, cada um deles estejam em
um estágio diferente do processo de alienação (PAULO, 2019),
entretanto, há uma tendência de se encontrar filhos únicos entre
crianças diagnosticadas com SAP (LAVADERA; FERRACUTI;
TOGLIATTI, 2012).
Para Silva (2014), a compreensão do fenômeno jurídico deve
ser realizada a partir da análise das transformações familiares
ocorridas ao longo do tempo entre os sujeitos que a compõem
(geralmente mãe, pai e filho/a). Guilhermano (2012) observa que a
prática de alienação que pode culminar na SAP transgride os
princípios da dignidade da pessoa humana e do melhor interesse da
criança, por ser caracterizada como abuso emocional, que pode
deixar sequelas psicológicas por toda a vida.
O termo difundiu-se internacionalmente e ganhou força no
Brasil com as associações de pais separados, a época da tramitação
do projeto de lei sobre guarda compartilhada, que impulsionou
debates sobre a importância da divisão da guarda para a preservação
da convivência familiar após separação conjugal. Como
consequência da mobilização da opinião pública gerada, elaborou-se
um projeto de lei Nº 4853/08 com o objetivo de punir genitores
alienadores, que mais tarde foi sancionado como a já mencionada
Lei nº 12.318/10 (SOUSA; BRITO, 2011).
Apesar da ascendência do debate gerado pela Lei de
Alienação Parental, o tema é polêmico e aflora opiniões contrárias.
Em 2018 a CPI dos Maus Tratos pediu a revogação da Lei,
argumentando o alto número de falsas denúncias feitas por pais em
disputa de guarda. A relatora da Comissão de Direitos Humanos, no
entanto, apontou ser exagerado o pedido de revogação. Tamara
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Capítulo 4 – Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de alienação parental em
contexto latino e norte americano

Brockhausen, ex-vice-presidente da Associação Brasileira de


Psicologia Jurídica (ABPJ) declarou ser contra a revogação da Lei e
sugeriu modificações nesta, de modo a evitar consequências
prejudiciais à criança diante de falsas denúncias. Já o Conada
(Conselho Nacional dos Direitos Humanos) considera a Lei uma
violação aos direitos dos menores. O advogado Felício Alonso, em
crítica mais ferrenha, declarou que o regulamento foi criado para
defesa de pedófilos. Em fevereiro de 2020, 10 anos após sua sanção,
foi aprovado um substitutivo de projeto que pedia a revogação da
Lei de Alienação Parental (BRASIL, 2020).
Em pesquisa realizada na corte judicial italiana, Lavadera,
Ferracuti e Togliatti (2012) encontraram uma incidência de 12% de
casos de SAP na amostra pesquisada. Os autores comentam que a
probabilidade de se encontrar filhos com SAP é um quinto maior no
divórcio judicial, porém apenas 6% dos casos são considerados
graves. A pesquisa evidenciou ainda que nenhum dos pais que
compuseram a amostra receberam diagnóstico de psicopatologia,
apontando que a prática da alienação parental não necessariamente
é derivada de transtorno ou doença mental.
É importante notar que a terminologia usada no âmbito
jurídico para caracterizar o fenômeno criminal não é sinônimo,
ainda que muitas vezes utilizado como tal, do conceito de SAP. A
alienação parental consiste num padrão de comportamentos
emitidos por um dos genitores e/ou amigos e familiares que leva a
criança a rejeitar e exibir raiva ilógica e irracional direcionada a um
parente anteriormente amado e pode ser observada em disputas
conjugais (GOLDIN; SALANI, 2020). A exposição de crianças a
conflitos familiares pode aumentar o risco de desenvolvimento de
padrões de comportamentos e emoções não saudáveis (SARRAZIN;
CYR, 2007).

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Capítulo 4 – Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de alienação parental em
contexto latino e norte americano

Segundo Bensussan (2017), o termo cunhado pelo psiquiatra


é particularmente controverso, em primeiro lugar, devido ao fato de
a condição não constar na Classificação Internacional de Doenças 10
(CID-10) nem no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais V (DSM-5), tendo como principal motivo para rejeição da
“oficialização” da síndrome o lapso de estudos científicos
suficientemente abrangentes para demonstrar a validade do
conceito. O segundo aspecto crítico apontado por Bensussan (2017)
diz respeito a própria nomenclatura, considerando que o termo
“alienação” é historicamente relacionado ao universo da loucura,
sem indicações se esta estaria atribuída ao alienado ou ao alienador.
Outro fator que dificulta o estudo do constructo é a confusão que
acontece no uso dos termos no âmbito jurídico para indicar o crime
e no meio psicológico que aponta o distúrbio. A discordância entre
autores pode dificultar a avaliação de supostos casos (FERMANN et
al., 2017).
Além das críticas acima citadas, Kelly e Johnston (2001)
acrescentam que a parcela de crianças que enfrentam o litígio e
desenvolvem sintomas é ínfima. Outras variáveis como a ansiedade
natural da criança em passar por essa situação ou abusos e
negligência podem consistir em explicações alternativas à existência
da síndrome (WALKER; BRANTLEY; RIGSBEE, 2004). O conceito é
desaprovado ainda pelo viés de gênero argumentado por pais em
cortes judiciais (OTTMAN; LEE, 2008). Num artigo que trata sobre a
validade da SAP, O’Donohue, Benuto e Bennett (2016) listam uma
série de imperfeições científicas que dificultam a adesão do
conceito, como, por exemplo, a definição confusa de alguns aspectos
do termo, a falta de instrumentos validados para medi-lo, falta de
estudos científicos que testem a teoria, não definição dos limites da
teoria, falta de consenso entre autores, deficiência estatística, entre
outros.
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Capítulo 4 – Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de alienação parental em
contexto latino e norte americano

Visões latino-americanas

Em nota publicada no site oficial em 2008, intitulada


“Statement on Parental Alienation Syndrome” a American
Psychological Association (APA) indicou não haver indícios
científicos suficientes para dar suporte ao reconhecimento da
síndrome e, apesar disso, não tomaram posição quanto a existência
da mesma (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2008). Assim,
sem a presença do distúrbio nos maiores guias diagnósticos e sem
posicionamento oficial de uma das maiores associações de
psicólogos, as sociedades de cada país têm manifestando-se
distintamente quanto a aceitação do termo. No contexto latino-
americano, por exemplo, a Federação de Psicólogos da República
Argentina estabeleceu, na nota “La FEPRA y el Pretendido SAP”
ratificada pela junta executiva em dezembro de 2019, posição
contrária à adoção do termo na conduta profissional de seus
afiliados. O motivo para rejeição está na concepção da SAP como
conceito não científico utilizado como meio de desqualificação de
denúncias de violências feitas por crianças e cometidas pelos
genitores. A federação informou ainda que a adesão ao termo diverge
de uma prática ética (FEDERACIÓN DE PSICÓLOGOS DE LA REPÚBLICA
ARGENTINA, 2019).
A despeito da condenação do termo pela FEPRA, a
“Asociación de Padres Alejados de sus Hijos” (APADESHI),
movimento social em pró do reconhecimento do conceito, pondera
que, ainda que a SAP não esteja inclusa no DSM sua existência não
deve ser negada, assim como a existência de outros distúrbios que
não constam no manual, como a Síndrome de Estolcomo. Os
integrantes do movimento argumentam ainda que um dos motivos
para o qual a SAP seja vista majoritariamente nos tribunais é que
pais alienadores não levariam seus filhos para tratamentos em
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Capítulo 4 – Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de alienação parental em
contexto latino e norte americano

consultórios particulares se não judicialmente obrigados


(ASOCIACIÓN DE PADRES ALEJADOS DE SUS HIJOS, 201?).
No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia tem adotado uma
série de ações para incentivo do debate sobre o tema. Na nota nº
7/2020/GTEC/CG-CFP o órgão explana que

com vistas a ampliar o debate junto à categoria sobre o tema


Alienação Parental, o CFP convidou, no final de 2018,
pesquisadoras(es) e psicólogas(os), com entendimentos
diversos e, por vezes, opostos sobre o tema, para produzir
textos nos eixos: (a) genealogia do conceito de alienação
parental; (b) alienação parental e normativas; e (c) prática de
psicologia frente a demandas da alienação parental. O material
produzido foi agrupado no caderno “Debatendo sobre
alienação parental: diferentes perspectivas”, lançado em
reunião com os Conselhos Regionais de Psicologia em
novembro de 2019. [...] O material encaminhado pelos
Conselhos Regionais servirá de subsídio para a construção de
documento com orientação para prática profissional pelo CFP,
o qual será apreciado pelo Sistema Conselhos durante a
Assembleia de Políticas, da Administração e das Finanças
(APAF) (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2020, p. 1).

Indicando que, ainda que não haja reconhecimento da


síndrome, há esforços para a produção científica de orientações aos
profissionais brasileiros.
Os debates regionais promovido pelos Conselhos de
Psicologia no Brasil são orientados por questionamentos agrupados
em três seções. A seção I questiona as contribuições que o conceito
de Alienação Parental oferece à Psicologia e ao manejo do sofrimento
psíquico, além da articulação entre este e o projeto ético-político e
técnico-científico da Psicologia. A seção II instiga discussão sobre
ganhos e desafios da Lei de Alienação Parental para a prática
profissional e em que medida a Lei harmoniza-se ou fere as
normativas da Psicologia. Por fim, a seção III pergunta sobre como
os profissionais deverão agir diante de supostos casos de alienação
parental (SISTEMA CONSELHOS DE PSICOLOGIA, 2019). Ademais, os

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Capítulo 4 – Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de alienação parental em
contexto latino e norte americano

psicólogos contam com um grupo de trabalho de alienação parental


que visa o aprofundamento do tema e desenvolvimento de debates
sob a coordenação da perita Tamara Brockhausen.
Em Lima, no Peru, o diretor do Colégio de Psicólogos CDR I –
Lima e Callao, Segundo Chiroque (2020) em entrevista à rádio
Libertad comentou sobre a SAP, a reconhecendo como forma de
maltrato infantil e problemática de existência inegável.
A “Asociación Latinoamericana para la Formación y
Enseñanza de la Psicología” - ALFEPSI, que conta com a participação
de 15 países da América Latina, entre eles o Brasil, em declaração
feita pelo grupo de trabalho Família - ULAPSI, reconheceu a alienação
parental como prática ancestral utilizada por genitores em conflito
conjugal, que culmina em maltrato sistemático de crianças. Na
declaração, eles esclarecem

que este maltrato parental, de los exconsortes entre sí, hacia la


prole, otros familiares, es una realidad clínica, judicial y
psicosocial diaria en las familias en conflicto en América Latina
[…] Estas prácticas de violencia intrafamiliar no es sólo son un
conflicto familiar, clínico o jurídico, constituye una
problemática psicosocial de fondo que impone vulnerabilidad
y agresión emocional (ASOCIACIÓN LATINOAMERICANA PARA
LA FORMACIÓN Y ENSEÑANZA DE LA PSICOLOGIA, 2012, pp. 33-
34).

Não foi encontrado, até dezembro de 2020, posicionamento


oficial nos sítios eletrônicos de sociedades, colegiados ou coletivos
de psicólogos dos países Bolívia, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, El
Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicaragua, Panamá,
Paraguai, Porto Rico, República Dominicana, Venezuela e Uruguai.
Assim, sem posicionamento direto de grandes órgãos nacionais e
internacionais, além de diligências entre Conselhos e pesquisadores,
o profissional de psicologia depara-se com um cenário que impõe
obstáculos ao estudo e avaliação de possíveis casos de SAP, que

51
Capítulo 4 – Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de alienação parental em
contexto latino e norte americano

apesar de ter sua existência negada em alguns países, não deixa de


se fazer presente no cotidiano de psicólogos(as) que exercem a
profissão no âmbito jurídico.

Avaliação psicológica no contexto da SAP

Regida, no Brasil, pela resolução n° 9 de 25 de abril de 2018,


a Avaliação Psicológica é conceituada como processo técnico, ético
e científico de coleta e integração de dados psicológicos, realizada a
partir de métodos, técnicas e instrumentos objetivos que tenham
recebido parecer favorável pelo SATEPSI (Sistema de Avaliação de
Testes Psicológicos). Para realização da atividade, é obrigatório
embasamento na ciência psicológica, podendo utilizar-se de fontes
de informação fundamentais, como os testes psicológicos,
entrevistas, anamnese, observação comportamental, ou de fontes
complementares, a citar: técnicas e/ou métodos não psicológicos
mas que sejam científica e eticamente comprovados, reconhecidos e
documentos como relatórios, boletim escolar etc. (CFP, 2018).
Amorim-Gaudêncio, Andrade e Gouveia (2013), num
capítulo que trata sobre a realização do processo de avaliação
psicológica, comentam que o desenvolvimento da atividade está
intimamente ligado ao objeto da avaliação, podendo ser
desempenhada com base em uma diretriz geral que conta com 16
etapas, desde o recebimento da demanda até a entrega dos
resultados ao(a) interessado(a). São estes:

1. Recebimento da demanda […]


2. Caracterização do objeto de estudo […]
3. Análise da demanda […]
4. Definição do objeto de avaliação […]
5. Definição do tipo de avaliação a ser realizada […]

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Capítulo 4 – Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de alienação parental em
contexto latino e norte americano

6. Elaboração de um planejamento técnico […]


7. Enquadramento/contrato de trabalho […]
8. Aplicação do plano estabelecido […]
9. Levantamento, análise e interpretação de dados obtidos com as
diferentes estratégias realizadas […]
10. Integração dos dados dos instrumentos e técnicas psicológicas
com o pensamento ou conhecimento científico do profissional
[…]
11. Elaboração de enquadramento teórico correlacionado aos
resultados analisados […]
12. Elaboração de síntese conclusiva do processo de avaliação
realizado;
13. Estabelecimento de proposta de intervenção […]
14. Elaboração de documento conclusivo da avaliação realizada
[…]
15. Escolha de metodologia adequada para a devolução dos
resultados […]
16. Devolução dos resultados (AMORIM-GAUDÊNCIO; ANDRADE;
GOUVEIA, 2013, p. 195-199).

Dessa forma os autores demonstram que o ponto crítico e


central em qualquer avaliação psicológica, independentemente da
área da Psicologia a que esteja voltada (Escolar, Jurídica,
Organizacional e do Trabalho etc.), é o estudo do objeto e demanda
da avaliação, com planejamento personalizado para o mesmo. É
indispensável destacar que o processo de avaliação psicológica é
rico em métodos e técnicas de coleta de dados, sendo possível a
realização da atividade independentemente da existência de
instrumento específico para determinada condição.
As diretrizes de planejamento divulgadas por Amorim-
Gaudêncio, Andrade e Gouveia (2013) consideram a realização de um
processo completo e podem ser utilizadas tanto para avaliações
individuais quanto para avaliações em grupo. Nesse sentido,

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Capítulo 4 – Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de alienação parental em
contexto latino e norte americano

considerando a natureza dinâmica e complexa do fenômeno da SAP,


é possível que a avaliação mais adequada a ser realizada seja com a
família de forma holística, analisando aspectos de interação da
tríade genitor(a)-genitor(a)-criança, as consequências de essas
interações, além de características típicas de processos de divórcio,
como regulamentação de visitas, pensão alimentícia e guarda.
Cardoso (2020) relata a importância da avaliação da dinâmica
conjugal, da estrutura de personalidade, de competências parentais
e do nível de desenvolvimento dos descendentes.
Para determinar a existência, a partir de processo avaliativo,
de síndrome, distúrbio ou transtorno, é necessário o profundo
conhecimento de critérios e expressão da condição psicológica. No
caso da SAP, considerando os fatos de a síndrome não ser
reconhecida e serem escassos os estudos para determinar sua
existência e indicadores, é necessária ampla revisão de trabalhos que
relatem comportamentos típicos de modo a se fazer uma
identificação cientificamente segura. Nesse sentido, Gardner (2002)
explica que na SAP encontra-se, além da programação da criança
feita para desenvolver laços negativos com o outro pai, existem
contribuições próprias da criança em apoio ao pai-alienador. O
diagnóstico da SAP é feito a partir dos sintomas expressos pela
criança, mas compreende-se que a problemática é,
fundamentalmente, familiar. Crianças afetadas pelo distúrbio
respondem de tal maneira que aparentam completa amnésia em
relação a qualquer experiência positiva com o genitor-alienado
(GARDNER, 2002). Marques, Narciso e Ferreira (2020) apontam que a
SAP é o resultado de uma combinação de dois fatores:
programação/doutrinação parental e confabulações da própria
criança vítima de alienação, de modo a contribuir com a difamação.
Os oito critérios-chave para identificação da síndrome, como
relatado por Gardner (2002) são: a) existência de campanha
54
Capítulo 4 – Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de alienação parental em
contexto latino e norte americano

caluniosa; b) racionalizações fracas e absurdas para depreciação; c)


lapso de ambivalência emocional; d) o fenômeno do “pensador-
independente”(no qual a criança alienada sustenta argumentos
depreciativos como se neles tivesse chegado sozinha); e) apoio
incondicional ao pai-alienador diante de conflitos; f) ausência de
culpa pela hostilidade direcionada ao parente alienado; g)
encenações encomendadas; h) extensão da malevolência à família
e/ou amigos do pai-alienado.
Goldin e Salani (2020) dividem os elementos chaves para
identificação da SAP em quatro eixos: a criança, o comportamento
desta, as atitudes e a não existência de maus-tratos (físicos) à
criança. As características de cada eixo podem ser encontradas na
tabela abaixo.

Quadro 11 - Elementos chave para identificação da SAP.


MAUS-TRATOS
CRIANÇA COMPORTAMENTOS ATITUDES
FÍSICOS
Rejeição, sem justificativa plausível, de
Falta de
Aliança com o genitor alienante relacionamento com o progenitor -
ambivalência
alienado
Alienada a partir de junção de controle Forte resistência e recusa de qualquer
Ausência de culpa
coercitivo e comportamentos forma de contato com o pai alienado por -
ou remorso
emocionalmente prejudiciais razões ilógicas, falsas ou exageradas
Fenômeno do
Utilizada como instrumento para ferir
- pensador -
o genitor alienado
independente
Cenas
- -
encomendadas
Suporte reflexivo
- - ao parente -
alienante
Animosidade
- - -
estendida

As autoras apresentam ainda, como boas práticas para


identificação da SAP, a condução de avaliação médica, social e
psicológica detalhadas, a investigação do status familiar, utilização
de perguntas empáticas e centradas no paciente para explorar os

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Capítulo 4 – Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de alienação parental em
contexto latino e norte americano

sentimentos, pensamentos, visão de família, amigos, interesses,


desempenho escolar, desenvolvimento e bem estar no geral, a
observação de comportamentos/mudanças comportamentais, sinais
de ansiedade, medo e baixa emocional. Além disso, aconselham o
emprego de linguagem adaptada, atentando para o uso, pela criança,
de vocabulário inapropriado para idade (GOLDIN; SALANI, 2020).
Dado o fato de não existirem instrumentos ou diretrizes
específicos para aferir esse construto, os profissionais que fazem
avaliação divergem quanto ao protocolo utilizado no processo. No
estudo realizado por Sartorelli e Pereira (2017), que avaliou ações
judiciais que continham suspeita de alienação parental, foi
encontrado que os(as) psicólogos(as) diferiram no uso de
instrumentos, variando entre HTP, Rorschach, Inventário de Estilos
Parentais e Pirâmides Coloridas de Pfister, e no uso de técnicas,
como entrevistas e hora do brinquedo. Além desses, Cardoso (2020)
apontou o TAT, o CAT, o Desenho da Família, Teste Desiderativo e
Fábulas de Düss como mais utilizados em contextos de avaliação
psicológica envolvendo disputas de guarda.
Nos Estados Unidos da América, como indicado na pesquisa
feita por Keilin e Bloom (1986) há mais de 30 anos, os principais
instrumentos utilizados para avaliação de suspeitas de SAP foram o
Rorschach, TAT, MMPI para os pais, e escalas de inteligência WAIS e
WISC, CAT, TAT, Rorschach e desenhos projetivos para crianças e
adolescentes. Sobre o MMPI, é importante destacar que é o inventário
de avaliação da personalidade mais utilizados no mundo e conta com
diversas versões para avaliação de diferentes faixas etárias e no
Brasil não existe nenhuma versão adaptada desse instrumento. Além
dos testes, foram utilizadas outras técnicas indispensáveis como
entrevistas clínicas com cada um dos atores do processo,
observações comportamentais e coleta de dados através de fontes
complementares.
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Capítulo 4 – Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de alienação parental em
contexto latino e norte americano

Onze anos depois, em pesquisa realizada com um total de


800 psicólogos que trabalham com avaliação com crianças e
custódia, Ackerman e Ackerman (1997) encontraram as mesmas
práticas, mantendo a tradição ainda observada nos dias de hoje. Em
comparação com a pesquisa de Keilin e Bloom (1986), o uso do HTP,
por exemplo, subiu de 10% entre os psicólogos que compuseram a
amostra em 1986 para 19% em 1997. Já o uso do Rorschach e do CAT
tiveram, ambos, uma baixa no uso de 2%. A utilização de testes de
inteligência cresceu em 13%. A aplicação de testes para outros
constructos, como, por exemplo, o Inventário de Depressão Infantil,
só aparece na pesquisa de Ackerman e Ackerman (1997), com a
adesão de apenas 3% dos voluntários.
Pimenta (2017) em estudo que buscou apontar instrumentos
psicológicos a serem utilizados em avaliações psicológicas de casos
suspeitos de alienação parental, recomendou a aplicação da técnica
“A Hora do Jogo” e dos instrumentos Sistema de Avaliação do
Relacionamento Parental (SARP) – que inclui o protocolo “meu amigo
de papel”, CAT-A, TAT e o teste projetivo de Rorschach.
Como visto, a maioria dos testes utilizados e indicados no
Brasil são de natureza projetiva que objetivam avaliação da
personalidade da criança, em detrimento do uso de testes de igual
importância que analisem o estado mental de forma completa, tanto
do(a) filho(a) quanto dos pais, considerando, na análise, os critérios
apresentados por Gardner. Nesse sentido, incluir o exame do estado
mental no protocolo utilizado é indispensável para compreensão do
funcionamento psicológico geral da criança, bem como para
entender o real nível de dano psicológico a possível alienação sofrida
causou. A avaliação do estado mental considera, além da
personalidade amplamente explorada nos casos de SAP, os processos
psicológicos atenção, memória, sensopercepção, consciência,
pensamento, linguagem, comportamento e afetividade.
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Capítulo 4 – Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de alienação parental em
contexto latino e norte americano

Brandão e Baptista (2016), atentando para a carência de


estudos empíricos e instrumentos de rastreio sobre a alienação
parental, publicaram o desenvolvimento da Escala de Rastreamento
de Sinais de Alienação Parental – ERSAP, dirigida às crianças e
adolescentes que os pais estejam em processo de separação
conjugal. Entretanto, até a data em que o presente escrito foi
produzido, não houve publicação da Escala ou aceitação desta por
parte do SATEPSI.
Entre as sequelas psicológicas como resultado da alienação
sofrida, que podem ser encontradas caso não seja feita uma
intervenção rápida e adequada, estão: em curto prazo, a criança
aprende a arte da manipulação, enredando-se em mentiras e
exprimindo emoções falsas. Levando em consideração médio e longo
prazo, a criança pode desenvolver depressão crônica, incapacidade
de adaptar-se em ambientes sociais, transtornos de identidade,
tendência ao isolamento, comportamento hostil, desordem
emocional, insegurança, dupla personalidade (JONAS, 2017), abuso
de substâncias, sentimento de culpa, entre outros transtornos
psiquiátricos (SILVA; ARAÚJO; MAFRA, 2017).
O tratamento para a SAP é direcionado à reconstituição do
vínculo entre filho(a) e cuidador alienado, de forma a reduzir os
danos causados pela relação patológica. É imprescindível a
intervenção rápida, impedindo o agravamento do caso. A mediação
de conflitos extrajudiciais pode ser um caminho para restauração
dos laços em estágios mais leves da síndrome, no entanto, quando
se encontra no cenário estágios mais avançados, medidas mais duras
como até mesmo o afastamento do genitor alienador podem ser
necessárias (FIGUEIREDO, 2019; PAULO, 2019).

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Capítulo 4 – Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de alienação parental em
contexto latino e norte americano

Conclusão

A confusão entre os termos “Alienação Parental” e “Síndrome


de Alienação Parental”, aliada a falta de direcionamentos oficiais,
deficiência científica do conceito e animosidade controvérsia da
sociedade sobre o tema dificultam o entendimento e conduta
profissional diante de supostos casos. Ainda que a SAP não esteja
presente nos manuais diagnósticos amplamente utilizados e não
conte com um posicionamento oficial sobre o reconhecimento de sua
existência na maioria dos países que compõem a América Latina,
apenas uma federação (Argentina) assumiu opinião contrária não só
ao uso do termo, como também à avaliação. Além disso, a existência
de grupos do trabalho e o estímulo de debates acerca do assunto
indica que o tema está presente na prática psicológica.
É importante destacar que a análise de casos é solicitada e
os profissionais especializados encontram dificuldade na avaliação
da problemática. Quanto a este aspecto, foi identificado o uso de
diversos instrumentos para examinar o construto da personalidade
em detrimento de outros aspectos constituintes da psique, o que
pode implicar em avaliações incompletas. Aqui, a fraqueza científica
do conceito torna-se um dos maiores obstáculos para psicólogos(as)
que avaliarão os casos, considerando o não desenvolvimento dos
critérios chave para identificação da SAP.
Por outro lado, o distúrbio pode ser amplamente observado
no cotidiano de rotinas que lidam com questões de separação
conjugal, fortalecendo assim a necessidade de maior
desenvolvimento do construto de modo a auxiliar a identificação e
indicar métodos confiáveis para tratamento e remissão dos
sintomas. É imprescindível ter em mente que as consequências para
criança alienada e para os laços familiares podem ser irreversíveis

59
Capítulo 4 – Atualizações sobre posicionamentos e avaliação da síndrome de alienação parental em
contexto latino e norte americano

derivando graves danos psicológicos caso o fenômeno não seja


rapidamente detectado e interrompido.
Nesse sentido, recomenda-se a ampliação do acervo de
estudos empíricos que pesquisem tanto a alienação parental quando
sua consequência direta – a SAP. Ademais, seria extremamente
enriquecedor para a ciência psicológica o desenvolvimento de
pesquisas explorando o estado mental tanto de crianças alienadas
quanto de seus genitores, incluindo alienante e alienado. Por fim,
sugere-se um planejamento de avaliação de supostos casos de SAP
que incluam genitores e descendente e considerem aspectos
diversos além da personalidade.

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64
Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no
contexto brasileiro:
um estudo exploratório

Thiago Pinto Siqueira Campos


Sayonara Pereira da Silva
Carmen Amorim-Gaudêncio

O campo da criminologia integra diferentes ciências que


estudam o fenômeno criminal. O conceito, por exemplo, pode ser
entendido a partir do olhar jurídico, psicológico, sociológico, entre
outros. A área é precedida por correntes como interacionismo
simbólico, modelos aprendidos e imitados, teoria estrutural
funcionalista, sistemas sociais etc. e, a partir da junção destes
conhecimentos, visa identificar como se chega à construção de
condutas relacionadas ao crime, à violência, ao delito (HIKAL-
CARREÓN, 2020). Comportamentos considerados desviantes ou
disruptivos das normas sociais podem ser classificados como atos
ilegais, sendo prontamente punidos através do sistema judicial.
Essas ações resultam em custo considerável de tempo, dinheiro e
segurança, tanto para as vítimas quanto para comunidade (CABEZA
DE BACA; MENIE, 2018). Definições de o que constitui um crime
variam entre descrevê-lo como um ato intencional de violação da lei
Capítulo 5 – Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no contexto brasileiro: um estudo exploratório

criminal e das expectativas do adequado funcionamento da


sociedade, patologia social, e descrições mais flexíveis que incluem
várias formas de comportamentos que não são sancionados pelas
leis (DORNELLES, 2017).
No cometimento de um delito, uma das formas que o
indivíduo utiliza para decidir se atua ou não, é a análise do “custo-
benefício”, considerando como custo as penas impostas em caso de
apreensão. Apesar disso, não há consenso científico acerca da
punição pelo crime implicar, significativamente, na redução da
“vontade criminosa”, seja por pena capital ou outra (FAJNZYLBER;
LEDERMAN; LOAYZA, 2002).
Estudos que buscam explicar as causas da criminalidade são
desenvolvidos em diversas perspectivas. Podem partir tanto de
motivações individuais e considerar as patologias ou centrar-se no
homo economicus, quanto em processos sociais, como as que
enxergam o crime como subproduto do sistema social (CERQUEIRA;
LOBÃO, 2004). Há ainda uma terceira perspectiva integrativa de
explicação da violência em níveis estruturais, institucionais,
interpessoais e individuais, isto é, um modelo ecológico, como
explicado por Cerqueira e Lobão (2004).
Barkan e Rocque (2018) argumentam que o crime e a doença
compartilham de causas e correlatos similares. Ambos, crime e
doença, constituem problemas sociais com causas psicológicas,
sociais e biológicas, operando em nível individual, grupal e
ecológico. Fatores protetivos que mantêm pessoas saudáveis são os
mesmos que impedem que estas cometam crimes, argumentam os
autores. Em nível individual, por exemplo, o autocontrole (BURT,
2015) é capaz de prever tanto a saúde quanto o comportamento
criminoso (BARKAN; ROCQUE, 2018). Entre teorias que focalizam
estruturas sociais situa-se a teoria das tensões, a qual sustenta que
a ilegalidade é fruto de um fracasso em atingir metas positivamente
66
Capítulo 5 – Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no contexto brasileiro: um estudo exploratório

valorizadas socialmente (AGNEW, 2014). Uma das mais tradicionais


teorias com essa óptica é a anomia, que se fundamenta no conflito
entre estrutura cultural da sociedade, que estabelece metas e
objetivos, e estrutura social que limita meios de alcance (PINTO,
2017). Outra tradicional abordagem é a teoria do aprendizado social,
na qual família e grupos de amizade ocupam papel central. Nela, o
comportamento de infração penal seria aprendido por interações
interpessoais, fundamentado no processo de comunicação e sofreria
influência de variáveis como supervisão familiar, coesão nos grupos
dos quais faz parte, percepção acerca do comportamento desviante,
entre outras (CERQUEIRA; LOBÃO, 2004).
De acordo com Cerqueira e Lobão (2003), um modelo que
defina o número de crimes de uma certa localidade é determinado
pelas seguintes variáveis: desigualdade de renda, renda esperada e
consequentemente taxa de ocupação, densidade demográfica, valor
da punição e poder policial. Corrobora-se com os principais
indicadores consensuais para o aumento das taxas de criminalidade,
sendo eles nível de renda, classe socioeconômica e principalmente,
disparidade social. Esses se correlacionam positivamente com as
taxas de criminalidade (FAJNZYLBER; LEDERMAN; LOAYZA, 2002;
STALANS et al., 2004).
Em relação à violência empregada em um ato criminoso, tem-
se como forma de medir a fidedignamente através das taxas de
homicídios de um país que, mesmo com variações bruscas e a
depender do recorte geográfico, sabe-se que seu aumento ocorre
conforme se afasta do centro em direção às periferias (NEME, 2005).
Crimes violentos, nos quais há morte, são considerados medidores
válidos para a criminalidade principalmente porque, em geral, nesta
classe de crime há intensa mobilização da lei para sua elucidação em
detrimento de outros crimes como furto ou roubo, por exemplo
(JARVIS; MANCIK; REGOECZI, 2017).
67
Capítulo 5 – Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no contexto brasileiro: um estudo exploratório

A estabilidade familiar e de emprego são aspectos


importantes a serem considerados no aumento do cometimento de
crimes violentos, seja em micro ou macrossistema. Tem-se que
dentro de um país, considerando subculturas, a desorganização
social (baixa identidade, ligação e afeto social) correlaciona-se
positivamente às taxas de crimes violentos, principalmente em
relação ao crime de homicídio (LOCKWOOD, 2007). Corrobora-se
esse aspecto quando se observa que o aumento da oferta de trabalho
diminui a taxa de homicídio, evidenciando a motivação econômica
nos crimes violentos. Ainda, reafirma-se que, quanto maior a
desigualdade de renda, menor a expectativa de melhora do status
socioeconômico de forma legal, diminuindo o “custo” em participar
de atividades ilegais. Desigualdades sociais e educacionais também
são preponderantes nas taxas de homicídio doloso. Além disso,
também influem traços culturais, localização geográfica e afiliações
religiosas predominantes da população (FAJNZYLBER; LEDERMAN;
LOAYZA, 2002).
Como afirma Coccia (2017), pobreza e desigualdade de renda
são fiéis preditores sociais para o comportamento criminoso,
principalmente quando há proximidade física entre pessoas pobres
e ricas. Isso ocorre, preponderantemente, devido à grande lacuna
percebida entre essas classes e a baixa crença de consecução dos
bens e serviços por meios legais, levando ao sentimento de
frustração, construto diretamente relacionado ao comportamento
violento (FORTMAN, 2005). Mais especificamente em relação a
homicídios intencionais, fatores como desigualdade de renda e
social, mesmo quando controladas outras variáveis, levam à
estimulação da frustração, da raiva e do comportamento criminoso
(COCCIA, 2017). Esses sentimentos, decorrentes dos fatores
supracitados, desencadeiam em indivíduos de baixa renda a crença
de incapacidade para consecução de objetivos socialmente
68
Capítulo 5 – Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no contexto brasileiro: um estudo exploratório

desejáveis. Acerca da pobreza, a privação de bens em comparação


aos status de pessoas mais ricas é capaz de gerar hostilidade difusa
e frustração pessoal que, por sua vez, contribuem para o aumento
das taxas de homicídio, sendo um fator motivacional para
manifestação do crime violento. Assim, as desigualdades, que geram
sentimentos de desvantagem, injustiça e baixo senso de controle
sobre a própria vida, resultam em interações sociais negativas, como
frustração, humilhação e desrespeito, considerados os gatilhos mais
comuns para violência (GILLIGAN, 2003). Para além da vivência
desses fatores negativos comumente encontrados na relação com
crimes violentos, contextos excepcionais que modificam o cotidiano
podem agravar ambos esses aspectos, a exemplo de um cenário de
privação social.

Isolamento social e suas consequências

O isolamento social pode ser entendido em sua dimensão


subjetiva, relacionada à percepção individual (sinônimo de solidão),
ou objetiva, ligada a aspectos físicos como distanciamento (PRIMACK
et al., 2019). Em relação aos aspectos evolutivos da solidão, entende-
se que ela é parte de um condicionamento aversivo semelhante a
fome, sede ou dor, de modo que promove o comportamento dos
indivíduos visando aumentar a sobrevivência dos genes,
conectando-os fisicamente (CACIOPPO; CACIOPPO; BOOMSMA, 2014).
Considerando os marcadores do isolamento social como um todo,
tem-se: viver sozinho, cultivar poucos laços de rede social e manter
pouco contato social. Mais especificamente, a solidão pode ser
descrita como a lacuna entre as relações sociais desejadas pelo
indivíduo e as existentes na sua realidade atual. Assim, isolamento
social (aspecto objetivo) e percepção do isolamento (aspecto
subjetivo) podem ser entendidos de formas distintas, para fins
69
Capítulo 5 – Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no contexto brasileiro: um estudo exploratório

didáticos/de estudo, mas não devem ser lidados na realidade sem


considerar sua interdependência (HOLT-LUNSTAD et al., 2015).
Complementarmente à ausência de laços sociais (físicos ou
emocionais), o suporte social pode ser concebido como a informação
que leva o sujeito a acreditar que é amado, cuidado, estimado,
valorizado e que pertence a uma rede de comunicação com
obrigações mútuas (COBB, 1976). Não obstante, as características
físicas das cidades atuais, cuja maior proximidade física levaria à
ideia de maior apoio social, não necessariamente leva ao efeito
esperado. Também, apesar das experiências e expressões de
isolamento social aparecerem consistentemente em diversos grupos
de idade, gêneros ou localizações geográficas, estudantes e pessoas
sem emprego experienciam, mais comumente, o isolamento social
em seu sentido subjetivo (CHILE; BLACK; NEILL, 2014).
Em relação aos efeitos do isolamento e do suporte social,
sabe-se que eles são mediados pelas interações nas redes sociais.
Como percebido há mais de 20 anos, o maior uso da Internet se
correlaciona positivamente ao aumento da solidão (KRAUT et al.,
1998). Atualmente, configurações de interação remota, como mídias
virtuais, apesar de facilitar vínculos e interações, podem ocasionar
um efeito inverso e conduzir a uma maior percepção subjetiva do
isolamento social, principalmente quando ocorrerem experiências
negativas no meio virtual (PRIMACK et al., 2019).

Isolamento social e o COVID-19

Em março de 2020 a COVID-19, infecção respiratória


ocasionada pelo vírus SARS-CoV-2, foi declarada pandêmica pela
Organização Mundial da Saúde (OMS). Como estratégia para
contenção do ritmo da progressão da doença, autoridades
governamentais no mundo inteiro adotaram medidas de
70
Capítulo 5 – Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no contexto brasileiro: um estudo exploratório

distanciamento social e proibições de aglomerações. Em contextos


mais graves, fez-se necessário a determinação de lockdown, situação
na qual as pessoas não poderiam sair de suas casas sem motivo
importante, de modo a evitar a proliferação da doença (PEREIRA et
al., 2020). Contudo, a literatura reporta o isolamento social como
preditivo de sofrimento psicológico (BROOKS et al., 2020). O estudo
de Pereira e colaboradores (2020) ressaltou sintomas de estresse,
medo, pânico, ansiedade, alterações no sono, culpa e tristeza como
comuns a esse período de lockdown, podendo ser facilitador do
desenvolvimento de transtornos de ansiedade, afetos negativos e
inclusive, do transtorno de estresse pós-traumático (ZANON et al.
2020). Outras consequências do isolamento, que contribuem para a
baixa na saúde psicológica, são as perdas financeiras e o estigma em
torno da possibilidade de ser um vetor de transmissão do vírus,
como explanado por Zanon et al. (2020). Já é possível observar o
impacto da pandemia na economia mundial, especialmente no Brasil,
através do aumento significativo nas taxas de desemprego e da
elevação da informalização e flexibilização do trabalho (BEZERRA et
al., 2020; COSTA, 2020). A situação acarreta maiores consequências
para a parcela da população que exerce papéis laborais informais e
reside em áreas precárias e/ou periféricas (COSTA, 2020). De acordo
com Bezerra et al. (2020), há uma discussão midiática e de opinião
popular de que pessoas em classes sociais mais baixas estão
aderindo menos ao isolamento social, sobretudo em função da
necessidade de deslocamento para o trabalho. A taxa de adesão pode
variar ainda em função da idade, gênero e escolaridade. As
consequências do isolamento social têm benefícios e malefícios para
a população, por um lado ajuda a mitigar os efeitos do vírus e por
outro causa prejuízos econômicos, psicológicos, educacionais etc.
Um aspecto difuso seria a relação entre diminuição ou aumento de
crimes violentos e a situação de pandemia.
71
Capítulo 5 – Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no contexto brasileiro: um estudo exploratório

Considerando as variáveis sociais e psicológicas associadas


a crimes violentos como taxa de desemprego, disparidade
socioeconômica e cultural, frustração frente a elementos sociais e
econômicos e ausência de suporte social supracitadas, este estudo
objetivou comparar as taxas de crimes violentos ocorridos no Brasil
entre os anos de 2018, 2019 e 2020, de modo a averiguar se houve
aumento ou diminuição significativa no ano de 2020, considerando
o contexto pandêmico e seu consequente direto: isolamento social,
além de investigar se houve correlação entre os índices de
desocupação e crimes violentos nestes mesmos anos. Neste sentido,
partiu-se da hipótese inicial de haver aumento significativo na taxa
de crimes violentos, entre os meses de abril e setembro de 2020, nos
quais houve adesão governamental ao isolamento social como
consequência da pandemia do Covid-19 no Brasil.

Método

Trata-se de um estudo quantitativo realizado através da


coleta de dados sobre a taxa de crimes violentos (i.e.: homicídio
doloso, latrocínio e lesão corporal seguida de morte) ocorridos no
Brasil entre os meses de janeiro a setembro dos anos de 2018, 2019
e 2020, disponibilizados online pelo sítio Monitor da Violência (G1,
2018). Além disso, foram extraídos índices de desocupação da
população em idade para trabalhar, viabilizados pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Após o registro e tabulação dos dados coletados por meio do
Monitor da Violência (G1, 2018), foi realizada uma análise
exploratória de modo a determinar a natureza dos dados. Em
seguida, aplicou-se o cálculo da ANOVA não paramétrica de
Friedman para determinar se houve diferenças significativas nas
taxas de crimes violentos. Posteriormente, a estatística de Wilcoxon
72
Capítulo 5 – Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no contexto brasileiro: um estudo exploratório

foi utilizada como post hoc. Por fim, foram realizadas comparações
entre o índice de crimes violentos e a taxa de desocupação para o
primeiro, segundo e terceiro trimestres de cada ano. Todas as
análises foram executadas por meio do software IBM SPSS Statistics
versão 20.

Resultados

Os números de crimes violentos ocorridos no Brasil, nos


anos de 2018, 2019 e 2020, entre os meses de janeiro e setembro,
podem ser encontrados no gráfico 1. A ANOVA de Friedman
evidenciou diferenças significativas nas taxas de crimes violentos no
primeiro semestre dos anos de 2018, 2019 e 2020 (χ²(2) = 14, p >
0,05). O post hoc de Wilcoxon apontou discrepâncias significativas
entre os anos de 2018 x 2019 (p > 0.05) e 2018 x 2020 (p > 0.05),
com diminuição no número de registro desses crimes, mas não entre
os anos de 2019 x 2020 (p < 0.05). Embora não significativo, nota-se
considerável aumento no índice de crimes violentos ocorridos nos
meses de fevereiro e março de 2020, meses nos quais a pandemia
não tinha tomado grandes proporções em solo brasileiro, em relação
ao mesmo período no ano de 2019. Os meses de abril e junho de
2020 também demonstraram discreto aumento em relação ao ano de
2019, com pequena diminuição no mês de maio. Ao longo desse
período, houve variações na taxa de desocupação de pessoas em
idade para trabalhar, como apontam os dados divulgados pelo IBGE.
Entre o primeiro e o terceiro trimestres de 2018 foi identificada uma
queda de 1.2 ponto porcentual no índice de desocupação e uma
redução de 2006 casos de crimes violentos registrados pelo Monitor
da Violência. Já no ano de 2019, o índice cresce nos primeiros três
meses, que apresenta 12.7% de taxa de desocupação, com
diminuição de 0.7% no segundo trimestre e 0.2% no terceiro
73
Capítulo 5 – Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no contexto brasileiro: um estudo exploratório

trimestre, uma redução de, respectivamente, 0.4% e 0.1% em relação


ao mesmo período do ano de 2018. Os meses de janeiro, fevereiro e
março de 2020 foram fechados com uma taxa de desocupação de
12.2%, apresentando diminuição de 0.5% em relação ao ano de 2019.
Já para o segundo trimestre a taxa é elevada em 1.3% em relação ao
ano de 2019, encerrando o mês de junho com 13.3% de desocupação.
O terceiro trimestre apresenta a maior taxa de desocupação dos
últimos dois anos: 14.6%, um aumento de 2.8 pontos percentuais
considerando o mesmo intervalo do ano de 2019. No gráfico 2, é
possível visualizar os números de crimes violentos registrados para
os primeiros três trimestres de cada ano analisado. Posteriormente,
o gráfico 3 apresenta a taxa de desocupação no Brasil ao longo dos
três últimos anos.

Gráfico 1 - Número de crimes violentos ocorridos entre 2018, 2019 e 2020.

74
Capítulo 5 – Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no contexto brasileiro: um estudo exploratório

Gráfico 2 - Número de crimes violentos por trimestre.

Gráfico 3 - Taxa de desocupação (%).

Discussão

Entre os anos de 2018 e 2020 houve diminuição significativa


na taxa de crimes violentos, não havendo, entretanto, esse mesmo
resultado entre 2019 e 2020. Em tendência oposta, ainda que não
significativa, nos cinco primeiros meses de 2020, o medidor de
crimes violentos revelou números sutilmente maiores que em 2019.
Em relação às taxas de desocupação, apesar do ano de 2020 começar

75
Capítulo 5 – Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no contexto brasileiro: um estudo exploratório

com porcentagens mais baixas comparadas aos dois anos anteriores,


ao longo do segundo e terceiro trimestre esses números se elevam
em mais de 2%, finalizando o terceiro semestre com as maiores
porcentagens de desocupação.
Sobre o Gráfico 1, percebe-se que apesar dos números de
crimes violentos ocorridos no ano de 2018 serem maiores que nos
dois anos subsequentes, o início do ano de 2020 (fevereiro, março e
abril) apresenta uma curva ascendente perceptível, indicando que,
possivelmente, o início da adesão ao isolamento de forma mais
restrita no Brasil (BRASIL, 2020; INLOCO, 2020), possa ter sido uma
das variáveis que implicaram no aumento da taxa de crimes
violentos. Relaciona-se, também, o isolamento aos seus
consequentes diretos e indiretos (aumento da taxa de desemprego,
diminuição de renda, respectivamente), entendendo que a possível
estabilização/diminuição dessa taxa, nos meses subsequentes pode
ter se dado, também, para além das adaptações da população às
condições remotas, ao fornecimento do auxílio emergencial (BRASIL,
2020), explorado mais detalhadamente no final desta seção.
Analisando os gráficos 2 e 3 é possível identificar que o
registro de crimes e a taxa de desocupação seguem o mesmo padrão
de redução ao longo dos três primeiros trimestres de cada ano. Sobre
a relação entre violência e desemprego, Sznelwar (2017) coloca que
a perda da sensação de utilidade social coloca o sujeito
desempregado em circunstância vulnerável que pode propiciar o
surgimento de violência tanto direcionada para si quanto para os
outros. O autor afirma ainda que o desemprego tem potencial para
gerar ou intensificar a violência. Para Carvalho (2017), atentando
para uma visão macroeconômica, a taxa elevada de desocupação
acarreta no aumento da pobreza, em maiores gastos governamentais
e na escalada do índice de criminalidade.

76
Capítulo 5 – Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no contexto brasileiro: um estudo exploratório

Considerando outro ângulo, Freeman e Rodgers (1999, apud


CERQUEIRA; MOURA, 2016), ao investigarem a relação entre taxa de
desemprego e criminalidade, apontaram que o índice de
criminalidade tem maior redução nos estados onde o nível de
desocupação é menor. Na mesma direção, Cerqueira e Moura (2016)
encontraram que a queda no desemprego acarreta diminuição da
taxa de homicídios. Esses autores encontraram que a elevação em 1%
na taxa de desemprego, considerando a população masculina da
cidade pesquisada, associa-se ao aumento de 2,1% na taxa de
homicídio.
Para o ano de 2020, no entanto, o cenário não segue como
estabelecido na literatura. O gráfico 2 evidencia uma redução de
mais de dois mil registros de crimes violentos entre o primeiro e o
terceiro trimestres, enquanto o gráfico 3 aponta para acréscimo de
mais de dois pontos percentuais na taxa de desocupação, o que
aponta para uma sequência de decréscimos no registro de crimes
violentos desde 2018 apesar do aumento na taxa de desocupação.
Uma provável explicação para esse fato são as particularidades do
contexto pandêmico no qual se encontra o Brasil, que resultou na
adoção de medidas de contenção e mitigação, como o isolamento
social. A esse respeito, Cohen e Felson (1979) explicam, com a teoria
das atividades rotineiras, que atividades criminosas são
oportunizadas a partir de características ambientais e hábitos
rotineiros, que oferecem circunstâncias facilitadoras para a infração
da lei. O isolamento social tem agudo impacto em todo os níveis da
dinâmica da vida humana, reduzindo a densidade de interações e
induzindo mudanças nas tendências espaço-temporais da atividade
criminosa (NASCIMENTO, 2020).
Outro aspecto relevante que pode ter influenciado nos
resultados divergentes à literatura, foi o recebimento do auxílio
emergencial pela população brasileira, cujo valor (R$ 600,00 a
77
Capítulo 5 – Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no contexto brasileiro: um estudo exploratório

1.200,00 reais, a depender do perfil do inscrito) visava assegurar


renda mínima aos brasileiros em situações de maior vulnerabilidade
(BRASIL, 2020). Esse auxílio chegava, até agosto de 2020, a pelo
menos 60% dos brasileiros (BRASIL, 2020). Dong, Egger e Guo (2020),
complementando a literatura inicial apresentada neste estudo,
explicam sobre a desigualdade de renda não ser a variável mais
influente para o aumento do cometimento de crimes violentos. O
fator preponderante seria o nível de pobreza, de modo que quanto
maior a pobreza de dada população, maiores as taxas de homicídio.
Suonpää, Aaltonen e Geest (2020) elaboram, em seu estudo, que a
renda populacional não pode, sozinha, prever se um indivíduo
cometerá violência letal, para tanto, deve ser considerada em
conjunto com outras variáveis. Assim, os auxílios, minimizando a
pobreza como um todo, podem ter contribuído para diminuição das
taxas de crimes violentos.

Conclusão

A correlação entre crimes violentos e pandemia do COVID-19


foi investigada neste estudo buscando, com base em teorias da
criminalidade e de crimes violentos, os fatores que melhor predizem
essa modalidade de crime. Dentre esses, foi possível analisar a taxa
de desocupação e, de forma geral, o aumento do isolamento social,
tanto físico quanto subjetivo.
Os dados sobre as taxas de crimes violentos e de
desocupação foram angariados pelo Monitor da Violência (G1, 2018)
e pelo IBGE, respectivamente, de modo a representar aspectos
possivelmente correlacionados e de grande importância social. Vê-
se que a manutenção dos crimes violentos ocorre por diversos
fatores que tornam sua compreensão de difícil acesso; apesar disso,

78
Capítulo 5 – Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no contexto brasileiro: um estudo exploratório

alguns vislumbres podem ser percebidos com os resultados ora


encontrados.
Os números buscados para o estabelecimento de correlações
foram o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a escolarização,
a renda per capita e a taxa de adesão ao isolamento. Os três
primeiros não continham números atualizados em nenhuma das
plataformas brasileiras encontradas via Internet e o último somente
foi percebido com precisão no estado de São Paulo. Neste há o SIMI
(Sistema de Monitoramento Inteligente) que opera por meio de dados
de telefonia móvel para verificar, de forma anônima e fidedigna,
quais localizações aderiram à quarentena e em que quantidade
(MANSUIDO, 2020). Há ainda o Mapa brasileiro da COVID-19 (INLOCO,
2020), porém, para esse índice ser construído, grande parcela da
população deve instalar determinado aplicativo, de modo que, como
se encontra, não representa a população brasileira em sua
totalidade. Informações representativas desse gênero, sobre o Brasil,
teriam expandido grandemente as comparações estabelecidas ao
longo deste estudo.
Quanto ao Monitor da Violência (G1, 2018), ainda que esse
apresente os crimes violentos definidos em três modalidades, a
saber homicídio doloso, latrocínio e lesão corporal seguida de morte,
para este contexto de pandemia e isolamento social seria deveras
importante que houvesse dados também atualizados acerca da
violência doméstica. Tendo em vista que menos pessoas se
encontravam fora de suas casas, tem-se como importante aspecto
desvendar os números referentes à violência ocorrida dentro dos
domicílios. Apesar disso, mesmo que não sejam muito descritivos,
claros ou atualizados, os números disponibilizados em relação às
comparações e indicações de aumento de porcentagens pelo Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, aprecia-se seu esforço na
apresentação desses dados (AGÊNCIA BRASIL, 2020). Salienta-se que
79
Capítulo 5 – Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no contexto brasileiro: um estudo exploratório

esta lacuna acerca da ausência de dados sobre crimes violentos é um


fenômeno antigo (BORGES, et al., 2013) e que deve ser sanado com
rapidez, pois somente assim será possível entender os pormenores
dos elementos que fazem emergir a violência na criminalidade.
O aumento da desocupação foi considerado como variável
preditora para crimes violentos porque, além de corroborado na
literatura aqui fundamentada, visou-se também neutralizar a
limitação pela ausência dos dados sobre adesão ao isolamento e
entendendo o desemprego como uma consequência direta do
isolamento decorrente da pandemia do COVID-19. Não obstante,
entende-se que a adesão não se deu para o Brasil de forma
homogênea, sendo importante salientar que regiões e estados, além
de apresentarem índices de adesão diferentes, podem ter
apresentado taxas das ocorrências dos crimes violentos
proporcionalmente.
Entende-se que este estudo apresenta resultados válidos,
ainda que não quantitativamente significativos, tendo uma de suas
importâncias na emergência de aspectos elementares que não só
limitaram a escrita deste capítulo, mas também, e principalmente,
limitam o Brasil na manutenção de políticas públicas mais eficazes
para diminuição das taxas de crimes violentos. Por ser um país
sabidamente diversificado e heterogêneo em diversos aspectos
(cultural, religioso, de renda etc.), espera-se que as expressões aqui
sirvam de inspiração para mudanças, seja por meio de novas
políticas, seja por outros meios. Desses últimos, sugere-se que a
“simples” captação e fornecimento de dados informatizados,
atualizados e medidos de forma válida sobre os mais diversos
construtos sócio-econômicos do Brasil (IDH, escolarização, renda
per capita, adesão ao isolamento, violência doméstica, por exemplo)
já seriam imensamente producentes, uma vez que dados são a base

80
Capítulo 5 – Efeitos da pandemia sobre crimes violentos no contexto brasileiro: um estudo exploratório

para a pesquisa científica; esta que, consequentemente, verte em


progresso.
Por fim, acrescenta-se que este capítulo faz parte de um
trabalho de conclusão de curso que está em desenvolvimento na
Universidade Federal da Paraíba, orientado pela professora Drª.
Carmen Walentina Amorim Gaudêncio Bezerra e vinculado ao
Laboratório de Avaliação e Intervenção Clínica Forense
(LAICF/UFPB/CNPq), no qual além dos dados e discussões aqui
trazidos, outros conteúdos são ampliados.

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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.


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contínua teceiro trimestre de 2019. Rio de Janeiro: IBGE, 2019c.
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87
Práticas e aspectos éticos da perícia
psicológica no trabalho no cenário da
pandemia SARS-CoV2 (COVID-19)2

Laura Pedrosa Caldas


João Carlos Alchieri

Introdução

A questão norteadora deste capítulo está em identificar quais


os aspectos facilitadores e dificultadores da perícia psicológica em
trabalhadores no cenário pandêmico da SARS COVID 19, os desafios
e limitações da perícia psicológica em saúde mental e apontar as
competências e limites éticos da Psicologia na Justiça do Trabalho,
nos papéis desempenhados pelo perito / assistente técnico e
caracterizando os instrumentos e documentos legais produzidos da
avaliação psicológica pericial de trabalhadores. Em trabalho
anterior, foi elaborado um conjunto de fontes e detalhamentos
abarcando artigos publicados entre 2015 e 2020, identificados em

2
Termos escritos no masculino são representativos do coletivo, atendem a
norma culta da Língua Portuguesa e contemplam MULHERES e HOMENS.
Capítulo 6 – Práticas e aspectos éticos da perícia psicológica no trabalho no cenário da pandemia Sars
Covid-19

periódicos especializados de Saúde e Trabalho. (CALDAS, 2020). Dos


artigos identificados, foram analisados 23 artigos, e os resultados
evidenciam uma preocupação com o aumento das queixas de
Transtornos Mentais e Comportamentais Relacionados ao Trabalho
(TMC&T) na pandemia, bem como um direcionamento de
investigações sobre perícias psicológicas de trabalhadores na
pandemia em profissionais de saúde em condição de risco de
contaminação.

Aspectos fundamentais da perícia em saúde mental de


trabalhadores

Partindo de definições operacionais, o termo em Latim


“peritia, perior”, descreve o saber por experiência ou por destreza,
sendo o perito um especialista com conhecimento técnico e
científico que descreve e esclarece algo, responde questões e oferece
meio de prova, auxiliando a resolver um contencioso judicial,
emitindo pareceres legais. No contexto da Psicologia Clínica e da
Jurídica são convergentes estas terminologias quanto ao uso de
técnicas e demais instrumentais direcionados para entender um
fenômeno psicológico. As distinções tornam-se evidentes no
contexto clínico, pautado no sigilo, na procura espontânea, na
atitude colaborativa do avaliando com o processo e na finalidade de
resolução de problema. No âmbito jurídico, o avaliado é identificado
e intimado por autoridade a submeter-se à avaliação em uma
motivação pouco expressiva com o processo. A finalidade de dirimir
questões e auxiliar na tomada de decisão judicial, contemplando o
sigilo relativo, tem sua finalização no laudo que é dimensionado
para caracterizar informações estritamente necessárias.
Como o ponto de ancoragem na tomada de decisão de
magistrados se respalda na perícia em Saúde Mental & Trabalho
89
Capítulo 6 – Práticas e aspectos éticos da perícia psicológica no trabalho no cenário da pandemia Sars
Covid-19

(SM&T), verifica-se convergências e limites éticos e técnicos que


diferenciam o papel do psicólogo e do psiquiatra perito na Justiça
do Trabalho. Contudo, segundo a Classificação Brasileira de
Profissões do extinto Ministério do Trabalho e Emprego (CBO/MTE),
as atividades profissionais sustentam esta atuação. A Psiquiatria,
enquanto especialidade médica, realiza o diagnóstico, o
acompanhamento e o tratamento da psiquê disfuncional por meio de
medidas terapêuticas, enquanto cabe ao psicólogo demonstrar o
funcionamento psíquico saudável e sinais de comprometimento; a
identificação e a caracterização de fenômenos psicológicos a partir
do entendimento do desenvolvimento esperado ou disfuncional. O
perito constrói hipóteses e prediz como o indivíduo percebe, sente,
analisa e decide sobre sua conduta. A Psicologia evidencia atuação
em diversas áreas de interface com o Direito: Penal, Cível, Família,
Trabalho, Previdenciário, Infância e Juventude, dentre outras.
Especificamente na Justiça do Trabalho, têm-se os fenômenos de
violências, absenteísmo-doença, nexo causal entre TMC&T;
aposentadoria, reintegração e readaptação; acidente de trabalho,
perda de chance de carreira, danos psicossociais, existenciais e
morais, dependência química, enquanto mais evidentes.
Como objetivos do processo avaliativo destaca-se a
comparação de comportamentos, em identificar limites e
potencialidades, testar hipóteses em relação a protocolos de
diagnósticos, avaliar motivações para ação, sinalizar problemas e o
prognóstico de riscos, descrever processos mentais e sociais de
indivíduos, grupos e instituições. Tecnicamente, emprega métodos
e instrumentos como a anamnese, a observação, a visita técnica, o
material lúdico, entrevistas e testes psicológicos.

90
Capítulo 6 – Práticas e aspectos éticos da perícia psicológica no trabalho no cenário da pandemia Sars
Covid-19

Fundamentos legais da perícia psicológica do trabalhado

A perícia se baseia na Declaração Universal dos Direitos


Humanos; nas normas internacionais da Organização Internacional
do Trabalho (OIT) e da Organização Mundial da Saúde (OMS); e na
Constituição Federal do Brasil, incisos III e IV do Art. 1º e nos incisos
I, II, III, V, VIII e X do Art. 5º. Fundamenta-se, principalmente, no
Decreto-Lei n° 5.452/1943 (Consolidação das Leis do Trabalho-CLT)
e ainda: Lei nº 13.467/2017 (Reforma Trabalhista), Lei n°
13.105/2015 (Novo Código Civil), Decreto nº 7.062/2011 (Política
Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho); Portaria n° 3.214/1978
(Normas Regulamentadoras de Saúde e Segurança), Portaria n°
1339/1999 (Ministério da Saúde), Resolução do INSS nº 10/1999, Lei
nº 8.080/1990 (promoção, proteção e recuperação da saúde), Lei n°
8.213/1991 (acidente de trabalho, doença profissional e doença
ocupacional), Lei n° 11.430/2006 (Nexo Técnico Epidemiológico) e a
Portaria n° 1.823/2012 (Ministério da Saúde). Deve-se considerar
ainda o Decreto n° 6.042/2007 as as listas A e B do Anexo II, e a Lista
C do Anexo XXVIII, contida no Decreto n° 3.048/1999 que identificam
as doenças profissionais e do trabalho, inclusive os TMC.
Os preceitos éticos profissionais estão contemplados na
Resolução nº 010/2005 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) que
regulamenta o Código de Ética da Psicologia e, em seus Princípios
Fundamentais, especifica o potencial de o psicólogo analisar a
realidade política, econômica, social e cultural; fornecer
informações apenas a quem de direito; transmitir somente o que for
necessário para a tomada de decisões; orientar sobre os
encaminhamentos e fornecer os documentos pertinentes, atento às
relações de poder nos contextos em que atua, os impactos dessas
relações, posicionando-se de forma crítica. Caracteriza-se como
vetado ao psicólogo praticar ou ser conivente com atos de
91
Capítulo 6 – Práticas e aspectos éticos da perícia psicológica no trabalho no cenário da pandemia Sars
Covid-19

negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou


opressão; ser perito quando seus vínculos pessoais ou profissionais
possam afetar a qualidade do trabalho; realizar diagnósticos ou
apresentar resultados, de forma a expor pessoas, grupos ou
organizações, encaminhar demandas que extrapolem sua atuação;
registrar informações em documento multiprofissional não
relevante aos objetivos do trabalho, resguardando o caráter sigiloso.
Frente a estes pontos torna-se relevante aos periciados e aos
operadores do Direito, quando da relação com psicólogos peritos e
assistentes técnicos, atentar às Resoluções citadas, contribuindo na
melhor prestação de serviço. Fundamentam ainda os direitos e
deveres do perito e do assistente técnico na perícia psicológica,
inclusive na Justiça do Trabalho, as Resoluções nº 08/2010 e
Resolução nº 17/2012.
A primeira, dispõe sobre a atuação do perito e assistente
técnico psicólogo e determina que o perito evite interferência
durante a coleta que prejudique o princípio da autonomia teórico-
técnica e ético-profissional e que possa constranger o periciado.
Fundamenta ao perito a prerrogativa dos métodos, técnicas e
instrumentos que serão empregados e veta o assistente técnico
impor ou impedir o processo. O assistente técnico é profissional
capacitado para questionar tecnicamente e elaborar quesitos, mas
deve atentar para não estar presente durante a realização dos
procedimentos metodológicos que norteiam o atendimento do
psicólogo perito.
A segunda, dispõe igualmente sobre esses dois papeis do
psicólogo, caracterizando que a atuação do perito é responder
demandas judiciais; orienta que o periciado deve ser informado dos
motivos, das técnicas, datas e local da perícia; e que a entrevista
devolutiva deverá direcionar-se para os resultados. A Resolução nº
06/2019 regulamenta a elaboração dos documentos psicológicos por
92
Capítulo 6 – Práticas e aspectos éticos da perícia psicológica no trabalho no cenário da pandemia Sars
Covid-19

solicitação do usuário ou seu responsável legal, profissional, equipe


multidisciplinar ou autoridades instituídas.
Devido a pandemia do Coronavírus SARS-CoV2 (COVID–19),
a OMS caracterizou a exigência de distanciamento social, e assim
pode restringir-se a administração de materiais psicológicos na
perícia. Diversas entidades de profissionais elaboraram revisão de
procedimentos e diretrizes técnicas de processos e atividades
técnico cientificas quanto aspectos do trabalho psicológico, para
desenvolver ações profissionais com o mesmo rigor científico e
qualidade, a fim de garantir o exercício profissional (APA, 2020; OIT,
2020; OMS, 2019). Com a declaração da OMS (2020) sobre essa
pandemia, medidas urgentes e eficientes foram tomadas para
proteger os direitos humanos em todos os momentos (OEA, 2020;
OECD, 2020).
Embora existam alguns instrumentos psicológicos de
administração on-line, não há garantias do sigilo e da autonomia do
periciado no processo remoto, muito embora o cuidado sanitário se
mantenha. Por meio da Resolução CFP nº 11/2018, o CFP define
normas para atendimento psicoterápico por meio da tecnologia da
informação e da comunicação (TIC): de forma síncrona ou
assíncrona; uso de teste psicológico on-line com padronização e
normatização específica; e métodos e técnicas de avaliação,
orientação e intervenção individuais e grupais, mas não especifica
procedimentos para realizações de perícias. Na sequência, a
Resolução n.º 04/2020 regulamenta o serviço psicológico on-line no
período de pandemia com o cadastro na plataforma e-Psi e considera
falta ética manter o atendimento remoto após indeferimento do
órgão de Classe.
Cabe ao profissional na atividade de perito, ao optar pelo uso
da TIC, controlar variáveis que possam interferir no processo,
garantindo o sigilo, a identidade e a livre manifestação do avaliado,
93
Capítulo 6 – Práticas e aspectos éticos da perícia psicológica no trabalho no cenário da pandemia Sars
Covid-19

evitando interferências e o monitoramento por terceiros, com


atenção a riscos de vulnerabilidade social do periciado e, assim,
salvaguardando os padrões éticos na relação perito e periciado.

Trabalho e demandas periciais

Uma organização é uma estrutura viva, um sistema aberto,


em constante interações e que carrega em seu contexto de produção
e em sua cultura o sentido do trabalho e as expectativas de cada
trabalhador. Dimensões visíveis e mensuráveis ou subjetivas e
intangíveis, segundo Zanelli et al. (2010), são indissociáveis. O
contexto de trabalho pode ser compreendido por três dimensões
distintas, como advogam Dejours, Aboucheli e Jayet (2010), Dejours
e Bègue (2010) e Dejours (2000; 2004) e sua precarização torna
vulnerável o trabalhador e pode provocar agravos a sua saúde
mental. A primeira é a condição do trabalho: ambiente físico,
instrumento, equipamento, mobiliário e matéria-prima; a segunda, a
forma como o trabalho se organiza quanto a normas e regras (formal
ou prescrita); divisão, características e a importância social das
tarefas; a qualidade e quantidade da produtividade; tempo útil,
prazo, ritmo e medidas de controle; e, a terceira, das relações
socioprofissionais e a interação intrassetorial, entre pares ou colegas
da equipe; a relação com clientes e fornecedores internos ou
intersetorial; e o público externo: clientes, órgãos fiscalizadores,
fornecedores, concorrentes, a comunidade do entorno; além do
poder formal e informal e o modo de gestão.
Caldas, Freitas e Farias (2019) e Caldas (2020) observam que
o poder discricionário do gestor sobre os processos críticos de
Gestão de Pessoas configura riscos psicossociais e fator
preponderante de sofrimento psíquico e TMC&T. São provocados
pelo processo de avaliação de desempenho sem indicadores
94
Capítulo 6 – Práticas e aspectos éticos da perícia psicológica no trabalho no cenário da pandemia Sars
Covid-19

legitimados, a falta de oportunidade de desenvolvimento, a ausência


de critérios transparentes e justos de carreira e de promoção;
demissões injustificadas, dentre outros. A perícia psicológica deve
considerar as estratégias dominantes da cultura organizacional,
correlacionando-as aos fatores singulares do custo humano no
trabalho.
Em função da pandemia por COVID-19, o trabalhador vê-se
diante de rearranjos laborais que suscitam apreensão quanto às
alterações propostas, bem como ao medo frente a possibilidade de
fragilidades sanitárias, e assim, frente as atividades presenciais,
pelo risco de contaminação; no teletrabalho ou home office, pelos
conflitos de papéis sociais; no trabalho temporário e na suspensão
de contrato, pelo receio da demissão, o cenário exige capacidade de
adaptação e de enfrentamento, precipita vulnerabilidades e
transtornos psíquicos. Um ponto a identificar como mais evidente
neste cenário é a expressão de violências laborais, como o assédio
moral e sexual e a gestão por injúria; nas agressões pontuais, na
competitividade e nas cobranças exacerbadas; na precarização das
condições laborais, nas interações danosas e outras estratégias que
atingem vítimas, testemunhas e até agressores. Geram cicatrizes
psicológicas profundas, mensuráveis em indicadores empresariais,
principalmente no aumento do absenteísmo por TMC e no
contencioso trabalhista (BARRETO, 2003; CALDAS, 2007; CALDAS;
CALDAS, 2016; HIGIGOYEN, 2002; CÁSCIO; BOUDREAU, 2010).
Com a pandemia do COVID-19, onde o isolamento social
demanda o teletrabalho, é tênue a distinção entre o dever diretivo
de fiscalizar e a invasão de privacidade do lar-laboral. Fragilizam-se
dois paradigmas: o tempo e o espaço e com eles, as condições
mínimas de administração da jornada e das demandas pessoais,
dificultando conciliá-las. As violências repercutem indeléveis em
riscos psicossociais, podem possibilitar e até mesmo, provocar
95
Capítulo 6 – Práticas e aspectos éticos da perícia psicológica no trabalho no cenário da pandemia Sars
Covid-19

sofrimento, adoecimento psíquico e até suicídio no trabalho. Tem


crescido na Justiça do Trabalho a perícia psicológica como meio de
prova às alegações desses fenômenos e o nexo causal do TMC&T.
Contudo, nem sempre o assédio moral é a espécie da violência que
demanda a ação. Sugere-se aos operadores do Direito aguardar o
laudo pericial antes de afirmar, inclusive na inicial, o tipo de dano e
a forma de violência. Inclusive, ações são malogradas porque nem
sempre se configuram o TMC ou o assédio moral alegados.
No processo pericial mantem-se a vista o indivíduo e sua
singularidade. É mister considerar a personalidade do trabalhador,
sua vulnerabilidade, suas estratégias de adaptação para suportar as
adversidades. Do seu modo de perceber os fenômenos
organizacionais podem emergir prejuízos psíquicos que explicam,
em parte, por que, diante da precarização de um contexto de
trabalho, uns adoecem e outros, não!
Pesquisas com magistrados, docentes, servidores, bancários,
motoristas, policiais, vendedores, profissionais do setor elétrico
energético, com profissionais de saúde como enfermeiros, dentre
outras categorias, sinalizam nexos de causalidade entre trabalho e o
TMC (ULHÔA et al, 2010; MAGALHÃES et al, 2011; MINAYO; ASSIS;
OLIVEIRA, 2011; ASSIS; OLIVEIRA, 2011; ASSUNÇÃO; SILVA, 2012;
FALAVIGNA; CARLOTO, 2013; PINTO; FIGUEIREDO; SOUZA, 2013;
FONSECA; CARLOTTO, 2014; SOUZA et al., 2012; SANTANA et al.,
2013; CALDAS; CALDAS, 2017; CALDAS, 2016; CALDAS; FREITAS;
FARIAS, 2019).
A comunalidade observada nessas pesquisas está em razão
do uso de substância psicoativa, sendo prevalentes o álcool e as
múltiplas drogas ou substâncias psicoativas (opiáceos,
canabinóides, hipnóticos, dentre outros) com vistas a atenuar
ansiedade ou mesmo servirem de estimulantes às atividades
profissionais. Manifestações psicológicas se evidenciam e os limites
96
Capítulo 6 – Práticas e aspectos éticos da perícia psicológica no trabalho no cenário da pandemia Sars
Covid-19

do comprometimento podem caracterizar quadros de transtornos. A


depressão, considerada a doença do trabalhador, é classificada como
transtorno depressivos recorrentes e de humor/afeto, com ou sem
ansiedade. Dentre os sintomas, destacam-se: rebaixamento do
humor, da energia; redução da atividade e da capacidade de atenção;
e perda de interesse associada à fadiga excessiva. É comum
alterações no sono, no apetite e na libido.
Os transtornos ansiosos também são prevalentes entre os
trabalhadores. Caracterizam-se pela presença de manifestações
ansiosas desencadeadas por exposição a uma determinada situação.
Podem ser acompanhadas de sintomas depressivos, obsessivos e
manifestações fóbicas. Inclui o afetivo bipolar, a ansiedade
generalizada, misto ansioso-depressivo e o obsessivo-compulsivo.
São específicos do trabalho os TMC relacionados ao uso de
neurotóxicos, destacadamente, solventes, mercúrio, sulfato de
carbono, manganês e brometo de metila. Assim como a neurose
profissional, do ciclo vigília-sono por fatores não-orgânicos e a
síndrome de Burnout ou esgotamento profissional.
O Manual de Procedimentos com as Diretrizes de Conduta
Médico Pericial (Portaria nº 20/INSS) contém protocolos objetivos
para nortear o diagnóstico dos TMC&T e atenta sobre a simulação no
exame psiquiátrico. Contudo, a carência dessa especialização entre
os médicos peritos pode prejudicar, de um lado, trabalhadores
adoecidos pela negativa indevida do benefício previdenciário; e, de
outro, empregadores, vítimas de falsas alegações de adoecimento
psíquicos de trabalhadores.
O método de Schilling é um estudo que distribui as doenças
do trabalho em: (1) a causa necessária ou agente determinante para
que a patologia seja legalmente reconhecida; (2) fator que contribui,
embora não seja considerado causa necessária ou um fator de risco;
e (3) pode provocar um distúrbio latente, desencadear ou agravar
97
Capítulo 6 – Práticas e aspectos éticos da perícia psicológica no trabalho no cenário da pandemia Sars
Covid-19

uma doença preexistente. Os TMC estão nos grupos II e III, pois não
são, a priori, resultantes do trabalho e a configuração do nexo
necessita de um laudo técnico (BRASIL, 2004).
O Ministério de Saúde reforça que a subjetividade e a
invisibilidade do sofrimento psíquico são os maiores desafios para
um diagnóstico precoce dos TMC, pois a procura por tratamento
psicológico e psiquiátrico ocorre apenas quando emergem os sinais
dos processos agudos de adoecimento (BRASIL, 2014). De um lado,
as empresas não reconhecem o nexo causal de TMC e o trabalho; de
outro, o próprio INSS denota fragilidades no diagnóstico pericial das
enfermidades psíquicas, restando ao trabalhador o ônus na garantia
de seus direitos previdenciários. Portanto, para configurar o nexo
(con)causal, a perícia psicológica pode contribuir ao analisar fatores
individuais e subjetivos que expliquem danos e agravos à saúde
psíquica, dados epidemiológicos, da CBO de cargos e funções
ocupados, do contexto de trabalho e de documentos do periciado na
empresa, destacando a realização de exame médico ocupacional,
registros de absenteísmo-doença e acidentes de trabalho.

A perícia psicológica

Na revisão da literatura, são identificados estudos de Cruz


(2017) e de Muller, Cruz e Bartilotti (2017), apontando sentenças e
apelações na Justiça do Trabalho que mencionam a perícia
psicológica em decisões judiciais que tratam do nexo TMC&T, no
período de 2000 a 2012. Identificadas 1.637 decisões, apenas 172
foram embasadas em avaliação psicológica pericial nos 24 Tribunais
Regionais de Trabalho (TRT). Rio de janeiro, Amazonas e Roraima,
Paraíba, Campinas e Piauí não tiveram nenhuma sentença com base
na perícia psicológica. O maior número de decisões foi no TRT-04
(Rio Grande do Sul), com 76 decisões; seguido do TRT-05 (Bahia),
98
Capítulo 6 – Práticas e aspectos éticos da perícia psicológica no trabalho no cenário da pandemia Sars
Covid-19

com apenas 18 sentenças no período; e o TRT-02 (São Paulo), com


10. Em Pernambuco, onde um dos autores deste artigo atua como
psicológico perito, constam apenas 03 subsídios da avaliação
psicológica.
A perícia em SM&T requer o diálogo entre a Psicologia
Clínica, da Saúde, do Trabalho e Jurídica. E, do psicólogo,
competências específicas, ou seja, conhecimento, habilidades e/ou
experiências, além de atitude, destacadamente ética, diante do
trabalhador periciado, contextualizando a conduta humana em torno
do trabalho. Da área Clínica, o psicólogo define a abordagem
científica que corresponde a sua visão de mundo, responde às
motivações (in)conscientes para ação (ou a falta dela); apropria-se de
fatos e significados; explica o funcionamento mental e a expressão
no comportamento. A Psicologia da Saúde levanta hipóteses e faz o
diagnóstico de TMC, avalia as prevalências por categoria profissional
e propõe intervenções psicossociais. Requer da Psicologia do
Trabalho realizar diagnósticos dos riscos psicossociais de
fenômenos organizacionais, do comportamento, das emoções e dos
afetos que permeiam o trabalho; analisar violências, transgressões,
nuances de poder, liderança e gestão; propor políticas, programas e
ações de Gestão de Pessoas e de saúde e segurança no trabalho; e
avaliar o nexo causal (ou sua ausência) entre os TMC e o trabalho.
É embasado da Psicologia Jurídica, o papel do psicólogo
perito e do assistente técnico, os aspectos legais do rito pericial e
outras contribuições da Psicologia ao Sistema Jurídico, além do
Direito, principalmente do Trabalho e Processual do Trabalho (HUTZ,
et al., 2020.). Os resultados da perícia não resultam de especulações
empíricas, não atende a comoção social e são demonstrados em
documentos psicológicos. Como um quebra-cabeças cujas peças são
predominantemente subjetivas, reúne-se aspectos individuais do
periciado. Outras peças, específicas dos paradoxos no contexto de
99
Capítulo 6 – Práticas e aspectos éticos da perícia psicológica no trabalho no cenário da pandemia Sars
Covid-19

trabalho precisam se encaixar e, antes de definir nuances de


causalidades, reunir outras peças periciais, a partir da prevalência
epidemiológica da categoria profissional do periciado.
Por fim, e não menos importante, há que se considerar a
competência do psicólogo perito para identificar alegações
precipitadas ou mesmo falaciosas, simulações ou orientações para
exacerbar sintomas existentes e potencializar evidências de TMC,
nem sempre oriundos do trabalho. A escuta clínica e a habilidade no
uso de instrumentos da avaliação psicológica contribuem para
minimizar fragilidades na perícia (ALCHIERI, 2006; 2007; 2008).
A avaliação psicológica pericial é um processo exaustivo que
demanda investigações diversas, não restrita ao periciado. De
natureza quanto-qualitativa, tem por objetivo coletar dados,
levantar hipóteses diagnósticas de TMC; e identificar ou refutar
achados que possam apontar nexo causal do trabalho. Para realizar
a avaliação psicológica, existem instrumentos e procedimentos
definidos e regulamentados pelo Conselho Federal de Psicologia,
destacando à perícia na Justiça do Trabalho a anamnese, a entrevista
clínica, a observação, a visita técnica e a bateria de testes
psicológicos.
Na avaliação psicológica pericial de trabalhadores, são
avaliadas as seguintes áreas psicossociais: (1) cognitiva: descreve
níveis atencionais e de consciência, orientações temporal e espacial,
coerência intrapsíquica, função motora, memória, sensação,
percepção, pensamento, linguagem e inteligência; (2) não cognitiva:
afeto, emoção, valoração da ideias e julgamento da realidade;
conteúdo da vontade, impulsividade, compulsão, obsessão, vícios;
(3) da personalidade, ou seja, a estrutura e a psicodinâmica; (4)
comportamental: condutas funcionais ou socialmente aceitas e/ou
disfuncionais; e (5) psíquica: hipótese diagnóstica e/ou diagnóstico
de TMC.
100
Capítulo 6 – Práticas e aspectos éticos da perícia psicológica no trabalho no cenário da pandemia Sars
Covid-19

Considerações finais

Quais os aspectos facilitadores e dificultadores da perícia


psicológica na Justiça do Trabalho? Essa questão norteou o objetivo
de apontar demandas, desafios e limitações da perícia psicológica
em saúde mental no contexto de pandemia por COVID-19. Os
desafios periciais relevantes para o psicólogo é adquirir
competências advindas da Psicologia Clínica, da Saúde e do
Trabalho. Além dessas, é preciso apropriar-se de ensinamentos e
práticas da Psicologia Jurídica, destacadamente dos preceitos
contidos na Declaração dos Direitos Universais do Homem e da
Constituição Federal do Brasil; pelos elementos legais específicos
que norteiam estudos epidemiológicos e as determinações das
Resoluções regulamentadas pelo CFP e pelo Código de Ética do
Psicólogo.
Outro desafio é manter uma formação continuada em
avaliação psicológica, considerando os parâmetros éticos, os
preceitos técnico-científicos e o referencial teórico-metodológico
dos instrumentos que subsidiam a perícia de trabalhadores. Os
testes psicológicos são de administração restrita do psicólogo e
evidenciam elementos da personalidade, da cognição, da emoção, de
condutas adequadas ou disfuncionais, sintomas de TMC, dentre
outros fenômenos psicológicos relevantes à perícia,
De todos os expostos acima ainda se tem o desafio da perícia
psicológica resguardar o direito à dignidade, à igualdade e à
integridade do ser humano, especificamente do periciado, evitando
a interferência de terceiros durante a coleta de informações. E assim
cabe reflexão mais ampla sobre esses valores que embasam a prática
do psicólogo perito e assistente técnico, inclusive no âmbito da
Justiça do Trabalho. A principal limitação da avaliação psicológica
101
Capítulo 6 – Práticas e aspectos éticos da perícia psicológica no trabalho no cenário da pandemia Sars
Covid-19

nesse período de pandemia por COVID-19 está na realização da


entrevista e da testagem, devido as medidas de contenção de riscos
da contaminação. Embora existam testes de uso on-line, sua
administração não garante o sigilo e o direito de autonomia do
avaliado, e, embora a Resolução n.º 04/2020 flexibilize a habilitação
nessa modalidade, não avançou com orientações sobre a perícia no
Sistema Judicial.

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105
Sobre os autores

Alberto Joaquim Goveia Diniz Neto, graduando do curso de


Psicologia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Estagiário
em Psicologia Jurídica no Fórum Desembargador Sarney Costa.

Beatrice Marinho Paulo, Psicóloga Jurídica e Terapeuta Familiar


Sistêmica. Doze anos de Experiência como Psicóloga do Ministério
Público do Rio de Janeiro, tendo sido por 8 anos integrante do Grupo
de Apoio Técnico Especializado da Instituição. Atualmente dedicada
à área acadêmica do MP-RJ (IERBB) e atuando como perita ou
assistente técnica em casos particulares. Possui Doutorado e
Mestrado em Psicologia Clínica pela PUC-Rio (2006 e 2011), Mestrado
em Direito Civil pela UGF (2006) e dupla graduação: Direito pela UFRJ
(1996) e Psicologia pela UGF (2005).

Cândida Helena Lopes Alves, Graduada em Psicologia Clínica pelo


Instituto Piaget (2006), Mestrado em Neuropsicologia Clínica pela
Universidade de Salamanca (2008), Mestrado em Psicologia da Saúde
pela Universidade do Algarve (2010), Doutorado em Neuropsicologia
pela Universidade de Salamanca (2011), Pós Doutorado em Saúde
Mental pela Universidade Católica de Brasília (2016).

Carmen Amorim-Gaudêncio, Doutora em Psicologia pela


Universidade Complutense de Madri. Professora Associada ao
Departamento de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba -
UFPB. Supervisora de Estágio em Psicologia Clínica Forense e
Avaliação Psicológica. Vice-Coordenadora da Clínica Escola de

106
Psicologia da UFPB. Coordenadora do Projeto Avaliação Psicológica
na Prática Clínica: uma proposta de intervenção e formação
qualificada. Coordenadora do Laboratório de Avaliação e Intervenção
Clínica Forense – LAICF/UFPB/CNPq. Perita Cível e Criminal
colaboradora do Tribunal de Justiça da Paraíba. Ex-Perita do Tribunal
de Justiça da Comunidade de Madri-Espanha. Especialista em
vitmologia. Parecerista Ad Hoc do Sistema de Avaliação de Testes
Psicológicos – SATEPSI.

Cátula da Luz Pelisoli, Mestrado (UFRGS, 2008) e Doutorado (UFRGS,


2013) em Psicologia, com período de doutorado sanduíche na
University of Hawaii at Hilo; Pós Doutorado (UFRGS, 2019).
Atualmente, é Psicóloga Judiciária do Tribunal de Justiça do Estado
do Rio Grande do Sul na Comarca de Passo Fundo, Professora
convidada em cursos de extensão, formação e especialização;
Supervisora na área de depoimento especial e documentos
psicológicos para fins judiciais. Suas linhas de pesquisa incluem
violência sexual, terapia cognitiva e psicologia jurídica. Idealizadora
e produtora de conteúdo do Canal Proteja - Youtube.

Francisca Moraes da Silveira, Professora Associada do


Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Maranhão -
UFMA, atua como docente nos Cursos de Graduação e de Pós-
Graduação. Doutora em Psicologia (Teoria e Pesquisa do
Comportamento) pela Universidade Federal do Pará (2003-2007).
Mestre em Psicologia (Teoria e Pesquisa do Comportamento) pela
Universidade Federal do Pará (1998-1999).

João Carlos Alchieri, Psicólogo, mestrado (PUC RS 1992) Doutor


(UFRGS 2004), bolsista produtividade (CNPq 2006 a 2018), pós-
doutorado ( UnB 2010; UFPB 2014; INBNEURO 2015). Professor
Titular do Departamento de Psicologia na Universidade Federal do
Rio Grande do Norte e orientador de mestrado, doutorado e
supervisão de pós-doutoramento no PPG Ciências da Saúde e
Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia e Inovação
(UFRN). Participou em diretorias científicas e em comissões de
avaliação nacionais e internacionais (CRP/07, AIDEP, CRP/17,
ABRAPSIT, CFP, INEP, MAPI e CAFP). Suas áreas de interesse e
pesquisas são Metodologia, Instrumentação, Processos de Avaliação
psicológica com ênfase em Instrumentos psicológicos, Psicologia
Forense, Neuropsicologia, Avaliação de personalidade e
Psicopatologia. Ex Presidente (2017-2019) e atual Diretor Científico
da Associação Brasileira de Psicologia Jurídica (ABPJ 2019-2021)
Diretor Nacional da Asociación Latino Americana de Psicología
Jurídica y Forense ALPJF 2020 - 2021.

107
Laura Pedrosa Caldas, Doutora em Psicologia Clínica – Saúde Mental
e Trabalho. Perita Judicial. Psicóloga em Saúde e Segurança do
Trabalho (ELETROBRAS/CHESF). Docente.

Lívia de Tartari e Sacramento, psicóloga judiciária do Tribunal de


Justiça de São Paulo e professora do Centro Universitário Fundação
Santo André.

Reginaldo Torres Alves Júnior, Doutor em Psicologia Clínica e


Cultura pela Universidade de Brasília (2013) com estágio doutorado
financiado pela CAPES na University of Alabama (EUA) em 2012 na
área de entrevistas forenses com crianças vítimas de violência.
Psicólogo e Mestre em Psicologia pela Universidade de Brasília
(2005). Especialista em Violência Doméstica contra Crianças e
Adolescentes pela Universidade de São Paulo (2006). Atualmente é
Analista Judiciário na área de Psicologia no Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios.

Rochelli Lopes Trigueiro, Psicóloga jurídica do TJCE, com expertise


em crimes sexuais contra criança e adolescente. Especialista em
Violência Doméstica contra Criança e Adolescente. Entrevistadora
Forense em Depoimento Especial. Supervisora pelo CNJ de Equipes
de Depoimento Especial. Professora convidada em cursos de pós-
graduação em Psicologia Jurídica.

Sayonara Pereira da Silva, Graduanda em Psicologia da UFPB;


Estagiária em Avaliação Psicológica na Clínica Escola de Psicologia;
Extensionista do Projeto APPC; Estagiária do Setor Psicossocial do
Fórum Cível Desembargador Mário Moacyr Porto

Thais Braga Campos Gomes, Graduanda em Psicologia pela


Universidade Federal do Maranhão. Estagiária no Núcleo Evoluir.
Estagiária no Espaço de Atendimento Educacional Educantus. Vice-
presidente da LAPEE.

Thiago Pinto Siqueira Campos, Graduando em Psicologia pela UFPB.


Pesquisador do LAICF/UFPB/CNPq.

108
CADERNOS DE PSICOLOGIA JURÍDICA
PRÁTICAS E CONTEXTOS EM PSICOLOGIA JURÍDICA

A Associação Brasileira de Psicologia Jurídica (ABPJ) é uma instituição científica e


profissional com o objetivo de desenvolver pesquisas, compartilhar ideias e integrar
profissionais, fomentando as relações entre psicologia, direito, justiça e lei entre
psicólogos e profissionais do âmbito jurídico.

A ABPJ apresenta o quinto volume da coleção CADERNOS DE PSICOLOGIA


JURÍDICA, Práticas e Contextos em Psicologia Jurídica, uma publicação seriada voltada
a atualização profissional. Trata-se de um conjunto de temas atuais que embasam a
ação profissional em diversos âmbitos temáticas relacionadas ao contexto da Psicologia
e do Direito..

ORGANIZADORES:
João Carlos Alchieri – Professor Titular Universidade Federal do Rio Grande do Norte nos
Programas de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e Ciência, Tecnologia e Inovação (UFRN).
Ex-presidente (2017-2019) Diretor Científico da Associação Brasileira de Psicologia Jurídica
(ABPJ 2019-2021) e Director Cientifico Nacional para Brasil da Asociación Latino Americana de
Psicología Jurídica y Forense ALPJF (2020 - 2021).

Cândida Helena Lopes Alves – Professora Pesquisadora do Laboratório de Neurociências e


Comportamento da Universidade CEUMA, Membro do GT da Associação Nacional de Pesquisa s
Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP) de Avaliação Cognitiva e Neuropsicológica,
Representante da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia (SBNp) no Maranhão.

Thayara Castelo Branco – Advogada, doutora em Ciências Criminais pela PUCRS, mestra em
Ciências Criminais pela PUCRS, com linha de pesquisa em Criminologia e Controle Social
(2010). Especialista em Ciências Criminais pelo CESUSC (2008). Professora da graduação e da
pós-graduação da Universidade CEUMA.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE PSICOLOGIA JURÍDICA

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