Você está na página 1de 69

Psicologia hospitalar e normatizações:

regulamentações na prática profissional e registro


em prontuário
Disciplina: Optativa II - Psicologia
Hospitalar
Professora: Ana Luisa Ribeiro
Até onde manter o sigilo profissional?
É possível quebrar o sigilo? Em quais situações?
Como agir frente as atitudes anti-éticas de colegas de trabalho?
Quais as informações sobre o paciente que devem constar no
prontuário?
A conduta ética pode sustentar-se unicamente no cumprimento do
Código de Ética Profissional do Psicólogo?
Formação do psicólogo: inicia-se antes mesmo antes do curso de Psicologia,
atravessa a graduação e continua através da vida profissional.
Os limites do exercício da Profissão do Psicólogo
estão estabelecidos no Código de Ética Profissional
dos Psicólogos, mas é preciso que a ética
juntamente com a moral estejam além das páginas
do Código, é preciso que o profissional possua uma
sólida formação ética, incluindo a moral, a conduta
ética, apoiados pelo código.
Fica demarcado, portanto, o caráter referencial do Código de
Ética, que serve como um relevante norteador para as
atividades profissionais da categoria, pois trata de direitos,
deveres e responsabilidades. As particularidades de cada
situação exigem uma ampla reflexão que inclui o Código de
Ética Profissional do Psicólogo, mas não se limita a ele.
•Quanto à tendência de considerá-la como uma prática individual, vale
lembrar o seu caráter social. O sujeito não age isoladamente, porque ele
é um ser político, como preconizou Aristóteles. Vive na pólis, em
comunidade, relacionando-se com os outros sujeitos.

•O Sujeito Ético não se preocupa apenas com seus interesses, mas em


agir de modo que inclua o bem estar coletivo.
Portanto a ÉTICA não pode ser INDIVIDUAL, ela é sempre
RELACIONAL.
• O campo de atuação do psicólogo é muito amplo, o que torna muito
difícil a tarefa de analisá-lo em suas implicações éticas.
• O desenvolvimento do comportamento ético é uma questão de
aprendizagem, e esta pode ocorrer em qualquer lugar. A escola e o
ensino formais não constituem as únicas condições para a aquisição
desse repertório comportamental.
Em 2003, em um jogo entre a Dinamarca e o Irã, um jogador iraniano confundiu
um apito da torcida como sendo o árbitro encerrando o primeiro tempo e pegou a
bola com as mãos na grande área. O árbitro deu pênalti. Depois de consultar o
treinador da seleção dinamarquesa, o jogador perdeu o pênalti de propósito. Fair
play da Dinamarca que perdeu por 1-0. Wieghorst, cobrador da penalidade,
recebeu um prêmio Fair Play do Comitê Olímpico. Confira o vídeo.

https://www.youtube.com/watch?v=bLyxVRZyGyU
Importância em conhecer as normas que regulamentam a nossa profissão.

É de suma importância que o psicólogo tenha conhecimento da legislação


específica da profissão, assim como a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, Estatuto da Criança e do Adolescente.

Divergência de posicionamentos ocorrem também entre os psicólogos, por


exemplo a resolução CPF nº 01/99.
O que é a Resolução 01/99?
A cada 25 horas um (a) brasileiro (a) é barbaramente assassinado (a) vítima da “LGBTfobia” (Relatório de 2016 do Grupo
Gay da Bahia). Essa realidade violenta, que coloca o Brasil na liderança mundial de crimes contra minorias sexuais,
demonstra o quanto o país ainda precisa avançar na defesa da garantia dos direitos de cidadania àqueles (as) que têm
orientações sexuais e identidades de gênero fora dos padrões heteronormativos.

A Psicologia, enquanto ciência e profissão, tem historicamente se posicionado em defesa dos direitos LGBT. Há
18 anos, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) formalizou por meio da Resolução nº 01/1999 o entendimento de
que para a Psicologia a sexualidade faz parte da identidade de cada sujeito e, por isso, práticas homossexuais
não constituem doença, distúrbio ou perversão.

Desde então, o CFP tem promovido diversas ações nas áreas de comunicação e jurídicas relacionadas à defesa
dos direitos LGBT e à conscientização, especialmente para os profissionais de saúde, de que as
homossexualidades e as expressões trans não podem ser tratadas como patologias.
O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou nesta segunda-feira (20/01/2020) o arquivamento da Ação Popular contra a/
Resolução CFP nº 01/99 do Conselho Federal de Psicologia (CFP), movida por um grupo de psicólogas(os) defensoras(es)
do uso de terapias de reversão sexual. Isso significa que continuam válidas todas as disposições da Resolução CFP nº
01/99.

A decisão da ministra Cármen Lúcia reafirma a integralidade da Resolução CFP n° 01/99, que determina que não cabe a
profissionais da Psicologia no Brasil o oferecimento de qualquer tipo de prática de reversão sexual, uma vez que a
homossexualidade não é patologia, doença ou desvio.

(...)

Agora, a decisão definitiva confirma a liminar, o que evidencia a competência do CFP para editar orientações à categoria de
profissionais da Psicologia.

A Resolução CFP nº 01/99 completou 20 anos em 2019. Com a decisão, fica evidente que a Psicologia brasileira não será
instrumento de promoção do sofrimento, do preconceito, da intolerância e da exclusão (Conselho Federal de Psicologia).
Portanto, conhecer as normatizações traz diversos benefícios visto que orientam
a prática profissional, tanto como diretrizes para o trabalho qualificado ética e
tecnicamente, quanto para a proteção ao psicólogo em relação aos possíveis
questionamentos de seu trabalho.

O psicólogo pode ser chamado a atuar em desacordo com a regulamentação de


sua profissão e as normatizações irão ampará-lo ao recusar tão demanda.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL (CFP,
2005):

I - O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na


promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da
integridade do ser humano, apoiado nos valores que
embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

III - O psicólogo atuará com responsabilidade social,


analisando crítica e historicamente a realidade política,
econômica, social e cultural.
IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do
contínuo aprimoramento profissional, contribuindo para o
desenvolvimento da Psicologia como campo científico de
conhecimento e de prática.
VII. O psicólogo considerará as relações de poder nos
contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre as
suas atividades profissionais, posicionando-se de forma crítica e
em consonância com os demais princípios deste Código.
DAS RESPONSABILIDADES DO PSICÓLOGO

Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos:


a) Conhecer, divulgar, cumprir e fazer cumprir este
Código;
b) Assumir responsabilidades profissionais somente por
atividades para as quais esteja capacitado pessoal,
teórica e tecnicamente;
c) Prestar serviços psicológicos de qualidade, em
condições de trabalho dignas e apropriadas à natureza
desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos e
técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência
psicológica, na ética e na legislação profissional;
(Às vezes não é oferecida ao psicólogo a condição de prestar serviços de qualidade, em condições
dignas e apropriadas como prescrevem o artigo. Mediante tal contexto, o Código de Ética e todas as
outras normatizações da psicologia poderão ser utilizados como argumento a fim de se obter as
condições adequadas para o exercício da Psicologia).
É preciso considerar que, em muitas circunstâncias, profissionais de outras áreas
ou mesmo gestores podem não ter conhecimento do fazer do psicólogo e das
regulamentações às quais o mesmo está submetido.

É indicado ao psicólogo recorrer ao Conselho Regional sempre que estiver em


dúvidas quanto ao uso das normatizações no exercício da profissão.
Registros do psicólogo e elaboração de documentos
- Registro documental: presente em sua prática seja qual for sua área de
atuação.

- A atuação inadequada explica que grande parte dos questionamentos de


condutas profissionais de psicólogos esteja relacionada à produção do
registro documental decorrente do exercício profissional.
O que o psicólogo deve observar ao produzir o seu registro
documental? Quais os tipos de documentos e formas de uso?
Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos:
g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação
de serviços psicológicos, transmitindo somente o que for necessário
para a tomada de decisões que afetem o usuário ou beneficiário;
h) Orientar a quem de direito sobre os encaminhamentos apropriados,
a partir da prestação de serviços psicológicos, e fornecer, sempre que
solicitado, os documentos pertinentes ao bom termo do trabalho;
Documento decorrente da prestação de serviços é direito do beneficiário, sendo dever do psicólogo
emiti-lo de forma adequada tecnicamente.

Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:


g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade técnico-científica;
h) Interferir na validade e fidedignidade de instrumentos e técnicas psicológicas, adulterar seus
resultados ou fazer declarações falsas;
i) Induzir qualquer pessoa ou organização a recorrer a seus serviços;
l) Desviar para serviço particular ou de outra instituição, visando benefício próprio, pessoas ou
organizações atendidas por instituição com a qual mantenha qualquer tipo de vínculo profissional;
p) Receber, pagar remuneração ou porcentagem por encaminhamento de serviços;
q) Realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresentar resultados de serviços psicológicos em
meios de comunicação, de forma a expor pessoas, grupos ou organizações.
Outras recomendações que devem ser observadas:
- Fazer uso da redação bem estruturada e definida, linguagem profissional, além
de clareza, concisão e harmonia; basear exclusivamente nos instrumentos
técnicos (entrevistas, testes, observações, dinâmicas de grupo, escuta,
intervenções verbais).
II. Modalidades de documentos
1. Declaração (dados objetivos relacionados ao atendimento psicológico, tais
como comparecimento do atendido ou acompanhante, dias, horários, não
podendo constar sintomas ou estados psicológicos);
2. Atestado psicológico: atesta sobre as condições psicológicas do solicitante;
3. Relatório/laudo psicológico (apresenta os procedimentos e conclusões
gerados pela avaliação psicológica, relatando encaminhamentos,
intervenções, diagnóstico, prognóstico e evolução do caso);
4. Parecer psicológico (fornece resposta esclarecedora (no campo do
conhecimento psicológico) a uma consulta específica. Exige do profissional
competência no assunto.
Resolução CFP 01/2009
Capítulo II - Dos prontuários
Registro documental é obrigatório, seja qual for sua área de
atuação.
II. Fica garantido ao usuário ou representante legal o acesso integral às
informações registradas pelo psicólogo em seu prontuário.
Art. 6o - Quando em serviço multiprofissional, o registro deve ser
realizado em prontuário único.
Parágrafo único - Devem ser registradas apenas as informações
necessárias ao cumprimento dos objetivos do trabalho.
Os documentos agrupados nos registros do trabalho realizado devem
contemplar:
I. identificação do usuário/instituição
II. avaliação de demanda e definição de objetivos do trabalho
III. registro da evolução do trabalho, de modo a permitir o conhecimento do
mesmo e seu acompanhamento, bem como os procedimentos técnico-científicos
adotados
IV. registro de Encaminhamento ou Encerramento
V. documentos resultantes da aplicação de instrumentos de avaliação
psicológica deverão ser arquivados em pasta de acesso exclusivo do psicólogo
VI. cópias de outros documentos, produzidos pelo psicólogo para o
usuário/instituição do serviço de Psicologia prestado, deverão ser arquivadas,
além do registro da data de emissão, finalidade e destinatário.
A psicologia hospitalar
Âmbito secundário e terciário;
Psicólogo deve estar presente na equipe mínima dos seguintes serviços:
● Tratamento hospital-dia ao paciente com doença AIDS
● Unidade de cuidados neonatais
● Atenção à saúde do idoso
● Gastroplastia
● UTI
● Atendimento perinatal (atenção à gestante de alto risco)
● Assistência em hospital-dia
● Atendimento em oncologia
● Reabilitação estético-funcional dos prematuros e de má formação labiopalatal
● Serviços de diálise
Art. 6o - O psicólogo, no relacionamento com profissionais não psicólogos:
a. encaminhará a profissionais ou entidades habilitados e qualificados demandas
que extrapolem seu campo de atuação
b. compartilhará somente informações relevantes para qualificar o serviço
prestado, resguardando o caráter confidencial das comunicações, assinalando a
responsabilidade, de quem as receber, de preservar o sigilo.

Muitos profissionais não foram capacitados para atuação interdisciplinar –


dificuldade de articulação entres os saberes específicos da disciplina.
Prontuário
● Documento de caráter legal, sigiloso e científico que possibilita a
comunicação entre membros da equipe multiprofissional;
● Suporte físico (papel) ou eletrônico;
● Testemunho fundamental da veracidade dos fatos, se estiver preenchido
corretamente;
● Prontuário pertence ao usuário e a instituição é responsável pela sua guarda;
● Sigilo profissional (crime a violação do sigilo profissional).
Código de Ética
Art. 9o - É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional, a fim de proteger,
por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou
organizações a que tenha acesso no exercício profissional.
Art. 10 - Nas situações em que se configure conflito entre as exigências
decorrentes do disposto no art. 9o e as afirmações dos princípios fundamentais
deste Código, excetuando-se os casos previstos em lei, o psicólogo poderá
decidir pela quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca do menor
prejuízo.
Parágrafo único - Em caso de quebra do sigilo previsto no caput deste artigo,
o psicólogo deverá restringir-se a prestar as informações estritamente
necessárias.
Art. 12 - Nos documentos que embasam as atividades em equipe
multiprofissional, o psicólogo registrará apenas as informações necessárias para
● As diretrizes não fecham e nem respondem as questões e as dúvidas
decorrentes da prática –necessário reflexão crítica e constante.
● O registro não substitui a necessidade de manter o contato e a
relação interpessoal com a equipe, pois a devolução verbal
possibilita a discussão de ações terapêuticas, necessárias à boa
prática interdisciplinar.
● É importante que faça parte da rotina do psicólogo a leitura prévia do
prontuário.
Instrumentos de avaliação psicológica
● Anamnese;
● Observação clínica;
● Escuta psicológica;
● Avaliação das manifestações psíquicas e comportamentais do paciente;
● Exame psíquico.

Trabalho do psicólogo hospitalar difere em alguns aspectos do que é


desenvolvido num psicodiagnóstico tradicional: visão de como a pessoa
encontra-se do ponto de vista emocional frente ao adoecimento, internação e
tratamento, sem pretensão de definir qual é a estrutura de base da
personalidade.
● Em casos onde há evidências de alterações no exame psíquico, é
relevante mencionar a alteração constatada, de forma a viabilizar o
diagnóstico diferencial pela equipe. Ex.: confusão mental

● Nem sempre é possível concluir a avaliação em um atendimento e


esta informação deve ser mencionada no prontuário.

● Avaliar necessidade de avaliação psiquiátrica ou neurológica – a ser


discutida com o médico.
● Evolução com data e hora (por que?)
● Assinatura eletrônica ou não
● Legibilidade da letra
● Anotações a caneta
● Escrita de forma corrida, sem parágrafos (evita adulteração)
● Não pode haver rasura e nem uso de corretivos (digo...)
● Não pode haver caráter pessoal (linguagem técnica)
● Não deve haver deboche, crítica ou termos que estigmatize o
paciente.
Caso não seja possível ocorrer o registro em função de alguma intercorrência (ausência de
papel, por ex.), a anotação deve ser colocada no dia posterior com a ressalva que aquela
evolução se refere ao atendimento realizado no dia anterior.
É importante ainda conter no registro de prontuário:
a) Condução realizada pelo psicólogo (atendimento, avaliação psicológica, atendimento
grupal, etc.).
b) Quem motivou a solicitação (verificar se ela está contida no prontuário pelo solicitante
da interconsulta).
c) Dados obtidos na avaliação/observação clínica, informando a condição emocional do
paciente em relação à internação e ao adoecimento
d) Constar orientações (caso tenha).
e) Registro de encaminhamento.
Desafio: além do conhecimento técnico na área, o profissional psicólogo deve
aprender novas atitudes, constante atualização.
Comunicação interdisciplinar é uma habilidade que deve ser desenvolvida e
priorizada.
Ética – ultrapassa o código, mas seu conhecimento se faz importante.
Caso Clínico
Pedro Augusto, 20 anos, fratura no fêmur devido a acidente automobilístico, internação no setor
ortopedia do HNSC. Solicitação de atendimento da médica Ana Clara Alcântara devido ao quadro de
rebaixamento do humor paciente. Alta prevista para o dia 16/04/2020.
Realizado atendimento psicológico ao paciente Pedro Augusto Silva no dia 15 de abril de 2020. Pedro
apresentou tristesa, apatia e revolta a partir do seu acidente. Disse que não estava dirigindo e seu
amigo estava embriagado no momento da colisão. Seu amigo encontra-se passando bem e não foi
necessário haver hospitalização. Pedro tem um namorado e disse que está pensando em terminar o
seu relacionamento. O paciente relatou as dificuldades e conflitos que tem vivenciado no seu
relacionamento. Pedro é filho único, cursa direito na FAPAM e está preocupado com as faltas da
faculdade. Observa-se que Pedro não lida bem com sua opção sexual e isso pode influenciar no
tratamento proposto pela equipe médica do hospital. Até o acidente, tudo transcorria bem na vida de
Pedro, e, segundo relato, foi a partir do acidente que ele começou a pensar sua vida. No momento
Pedro apresenta suas capacidades de orientação e percepção preservadas, ausência de confusão
mental, embora apresentou choro fácil e se mostrou poliqueixoso e sentindo dor na perna fraturada.
Coloco-me à disposição para outros esclarecimentos que se fizerem necessário.
Ana Luisa Ribeiro/CRP: 29/780
● Como você realizaria essa evolução em prontuário de uma maneira correta?
A partir da solicitação da médica Ana Clara Alcântara, foi realizado atendimento psicológico ao paciente
Pedro Augusto Silva no dia 15 de abril de 2020.
Pedro se mostrou consciente, orientado, com boa fluência verbal, embora apresentou rebaixamento do
humor. No momento, Pedro apresenta suas capacidades de orientação e percepção preservadas,
ausência de confusão mental.

Coloco-me à disposição para outros esclarecimentos que se fizerem necessário.


Ana Luisa Ribeiro/CRP: 1234
Modalidades de documentos
1. Declaração Psicológica: documento escrito pelo psicólogo que fornece informações sobre um paciente ou
cliente, mas geralmente não inclui uma avaliação clínica aprofundada. Pode ser usado para informar sobre a
participação do paciente em terapia, por exemplo.
2. Atestado Psicológico: documento emitido por um psicólogo que certifica ou comprova a condição mental do
indivíduo. Ele pode ser usado para justificar ausência no trabalho, na escola ou outras situações onde a saúde
mental afeta a capacidade de funcionamento normal. Normalmente, atestados são mais curtos e focados na
justificativa da necessidade de afastamento.
3. Parecer Psicológico: uma avaliação mais detalhada e analítica da condição mental de um indivíduo. Ele pode
ser solicitado em contextos legais, como em processos judiciais, e envolve uma análise profunda da saúde
mental do indivíduo com base em informações fornecidas.
4. Laudo/Relatório Psicológico: documento mais abrangente e formal que contém uma avaliação completa e
detalhada da condição mental de uma pessoa. Ele geralmente é solicitado em situações mais complexas,
como avaliação para determinar aptidões profissionais ou diagnósticos mais precisos.
1 - Declaração
1.1 Conceito e finalidade da declaração

É um documento que visa a informar a ocorrência de fatos ou situações objetivas


relacionados ao atendimento psicológico, com a finalidade de declarar:
a. comparecimentos do atendido e/ou do seu acompanhante, quando necessário
b. acompanhamento psicológico do atendido
c. informações sobre as condições do atendimento (tempo de acompanhamento, dias ou
horários).
1.2 Estrutura da Declaração
a. Ser emitida em papel timbrado ou apresentar, na subscrição do documento, o carimbo, em que
constem nome e sobrenome do psicólogo, acrescido de sua inscrição profissional (“Nome do
psicólogo/no da inscrição”).
b. A declaração deve expor:
– registro do nome e sobrenome do solicitante
– finalidade do documento (por exemplo, para fins de comprovação)
– registro de informações solicitadas em relação ao atendimento (por exemplo: se faz
acompanhamento psicológico, em quais dias, qual horário)
– registro do local e data da expedição da declaração
– registro do nome completo do psicólogo, sua inscrição no CRP e/ou carimbo com as mesmas
informações.
– assinatura do psicólogo acima de sua identificação ou do carimbo.
Declaração Psicológica
A partir da solicitação de [ ] eu, [Seu Nome], psicólogo(a) registrado(a) sob o número [Número de
Registro] no Conselho de Psicologia [Nome do Conselho] do Estado [Nome do Estado], declaro para
os devidos que [Nome do Cliente], nascido em [Data de Nascimento do Cliente] esteve em
atendimento psicológico no dia 30 de agosto de 2023, das 13h às 14hs. Ou:
O Sr./Sra. [Nome do Cliente] tem participado das sessões de psicoterapia desde [Data de Início das
Sessões].
Atenciosamente,
[Seu Nome] Psicólogo(a) - [Número de Registro] Contato: [Seu Email/Telefone]
2 - Atestado psicológico
2.1 – Conceito e finalidade do atestado

É um documento expedido pelo psicólogo, que certifica uma determinada situação ou


estado psicológico, tendo como finalidade afirmar sobre as condições psicológicas de
quem, por requerimento, o solicita, com fins de:
a) Justificar faltas e/ou impedimentos do solicitante
b) Justificar se está apto ou não para atividades específicas, após realização de um
processo de avaliação psicológica, dentro do rigor técnico e ético;
c) Solicitar afastamento ou dispensa do solicitante.
2.2 Estrutura do atestado

A formulação do atestado deve se restringir à informação solicitada pelo requerente,


contendo expressamente o fato constatado. Embora seja um documento simples, deve
cumprir algumas formalidades:

a. Ser emitido em papel timbrado ou apresentar, na subscrição do documento, o carimbo,


em que constem o nome e sobrenome do psicólogo, acrescidos de sua inscrição
profissional (“Nome do psicólogo / no da inscrição”)
b. O atestado deve expor:
– registro do nome e sobrenome do cliente;
– finalidade do documento;
– registro da informação do sintoma, situação ou condições psicológicas, que justifiquem
o atendimento, afastamento ou falta – podendo ser registrado sob o indicativo do código
da Classificação Internacional de Doenças em vigor;
– registro do local e data da expedição do atestado;
– registro do nome completo do psicólogo, sua inscrição no CRP e/ou carimbo com as
mesmas informações;
– assinatura do psicólogo, acima de sua identificação ou do carimbo.
● Os registros deverão estar transcritos de forma corrida, ou seja, separados apenas pela
pontuação, sem parágrafos, evitando, com isso, riscos de adulterações. No caso em
que seja necessária a utilização de parágrafos, o psicólogo deverá preencher esses
espaços com traços.
● O atestado emitido com a finalidade expressa no item 2.1, alínea b (justificar se está
apto ou não para atividades específicas), deverá guardar relatório correspondente ao
processo de avaliação psicológica realizado, nos arquivos profissionais do psicólogo,
pelo prazo estipulado nesta resolução.
Segundo o Conselho Federal de Psicologia, o atestado psicológico não é validado por
uma lei federal, tal qual os atestados realizados por médicos e dentistas.
Portanto, o paciente que poderá receber seu atestado por até 15 dias, deve ser
informado dessa situação.
Atestado Psicológico

Eu, Maria Alice da Silveira, registrada sob o CRP/MG :/3040582 atesto, para os devidos fins que Sr. Osvado da Cruz, nascido em 05
de outubro de 1959, foi atendido(a) sob meus cuidados, como parte do processo de acompanhamento psicológico.
O paciente em questão apresenta sintomas que compreendem nervosismo persistente, tremores, tensão muscular, transpiração,
sensação de vazio na cabeça, palpitações, tonturas e desconforto epigástrico, devendo se afastar, portanto, por 3 (três) dias de suas
atividades laborais.
HD.: F40 (Agorafobia)
Coloco-me à disposição para qualquer esclarecimento que se fizer necessário.
Atenciosamente,
Assinatura do psicólogo
Pará de Minaas, 23 de agosto de 2023
Maria Alice da Silveira
CRP: 04/30582 - carimbo.

Observação: todos os nomes e dados são fictícios.


3 - Relatório psicológico
3.1 Conceito e finalidade do relatório ou laudo psicológico

O relatório ou laudo psicológico é uma apresentação descritiva acerca de situações e/ou


condições psicológicas e suas determinações históricas, sociais, políticas e culturais,
pesquisadas no processo de avaliação psicológica. Como todo documento, deve ser
subsidiado em dados colhidos e analisados, à luz de um instrumental técnico (entrevistas,
dinâmicas, testes psicológicos, observação, exame psíquico, intervenção verbal),
consubstanciado em referencial técnico-filosófico e científico adotado pelo psicólogo.
A finalidade do relatório psicológico será a de apresentar os procedimentos e conclusões
gerados pelo processo da avaliação psicológica, relatando sobre o encaminhamento, as
intervenções, o diagnóstico, o prognóstico e evolução do caso, orientação e sugestão de
projeto terapêutico, bem como, caso necessário, solicitação de acompanhamento
psicológico, limitando-se a fornecer somente as informações necessárias relacionadas à
demanda, solicitação ou petição.
3.2Estrutura
O relatório psicológico é uma peça de natureza e valor científicos, devendo conter narrativa
detalhada e didática, com clareza, precisão e harmonia, tornando-se acessível e compreensível ao
destinatário. Os termos técnicos devem, portanto, estar acompanhados das explicações e/ou
conceituação retiradas dos fundamentos teórico-filosóficos que os sustentam. O relatório psicológico
deve conter, no mínimo, cinco itens:
1. Identificação
2. Descrição da demanda (essa expressão estava em laudo)
3. Procedimento
4. Análise
5. Conclusão
● Identificação
É a parte superior do primeiro tópico do documento, com a finalidade de identificar:
I. O autor/relator – quem elabora
II. O interessado – quem solicita
III. O assunto/finalidade – qual a razão/finalidade
IV. No identificador Autor/Relator, deverão ser colocados o(s) nome(s) do(s)
psicólogo(s) que realizará(ão) a avaliação, com a(s) respectiva(s) inscrição(ões) no
Conselho Regional. No identificador Interessado, o psicólogo indicará o nome do
autor do pedido (se a solicitação foi da Justiça, se foi de empresas, entidades ou do
cliente). ou outras razões pertinentes a uma avaliação psicológica.
No identificador Assunto, o psicólogo indicará a razão, o motivo do pedido (se para
acompanhamento psicológico, prorrogação de prazo para acompanhamento ou outras
razões pertinentes a uma avaliação psicológica).

● Descrição da demanda

Esta parte é destinada à narração das informações referentes à problemática apresentada


e dos motivos, razões e expectativas que produziram o pedido do documento. Nesta
parte, deve-se apresentar a análise que se faz da demanda de forma a justificar o
procedimento adotado
Procedimento

A descrição do procedimento apresentará os recursos e instrumentos técnicos utilizados


para coletar as informações (número de encontros, pessoas ouvidas etc.) à luz do
referencial teórico-filosófico que os embasa. O procedimento adotado deve ser pertinente
para avaliar a complexidade do que está sendo demandado.
● Análise
É a parte do documento na qual o psicólogo faz uma exposição descritiva de forma
metódica, objetiva e fiel dos dados colhidos e das situações vividas relacionados à
demanda em sua complexidade. Como apresentado nos princípios técnicos, “o processo
de avaliação psicológica deve considerar que os objetos deste procedimento (as questões
de ordem psicológica) têm determinações históricas, sociais, econômicas e políticas,
sendo, as mesmas, elementos constitutivos no processo de subjetivação. O Documento,
portanto, deve considerar a natureza dinâmica, não definitiva e não cristalizada do seu
objeto de estudo”.
Nessa exposição, deve-se respeitar a fundamentação teórica que sustenta o instrumental
técnico utilizado, bem como princípios éticos e as questões relativas ao sigilo das
informações. Somente deve ser relatado o que for necessário para o esclarecimento do
encaminhamento, como disposto no Código de Ética Profissional do Psicólogo. O
psicólogo, ainda nesta parte, não deve fazer afirmações sem sustentação em fatos e/ou
teorias, devendo ter linguagem precisa, especialmente quando se referir a dados de
natureza subjetiva, expressando-se de maneira clara e exata.
● Conclusão
Na conclusão do documento, o psicólogo vai expor o resultado e/ou considerações a
respeito de sua investigação, a partir das referências que subsidiaram o trabalho. As
considerações geradas pelo processo de avaliação psicológica devem transmitir ao
solicitante a análise da demanda em sua complexidade e do processo de avaliação
psicológica como um todo. Vale ressaltar a importância de sugestões e projetos de
trabalho, que contemplem a complexidade das variáveis envolvidas durante todo o
processo. Após a narração conclusiva, o documento é encerrado, com indicação do local,
data de emissão, assinatura do psicólogo e o seu número de inscrição no CRP.
Relatório Psicológico

Autor/Relator: [Seu Nome] – Maria Alice da Silveira, CRP 04/3040582 :


Interessado: [Nome do Solicitante] (ou Justiça, Empresa, Cliente, etc.)
Assunto/Finalidade: Avaliação Psicológica para [Indicar a Razão/Finalidade - adaptação em ambiente escolar, avaliar capacidade de
tomada de decisões, cirurgia bariátrica,]
A partir da solicitação do solicitante (Justiça, empresa, cliente), foi realizado uma avaliação psicológica de Amélia dos Santos Silva.
Neste relatório, apresentamos as informações referentes à avaliação psicológica realizada para compreender a problemática
apresentada pelo Sr./Sra. [Nome do Solicitante]. O pedido de avaliação tem como objetivo [Descrever o Objetivo do Pedido, como
compreender a adaptação em ambiente escolar, avaliar capacidade de tomada de decisões, cirurgia bariátrica, etc.]. As informações e
análises contidas neste relatório têm como base as sessões e métodos adotados durante o processo de avaliação.
O procedimento de avaliação envolveu [Número de Encontros/Entrevistas, Observações, Testes Psicológicos, etc.] realizados de
acordo com o referencial teórico-filosófico que sustenta a prática psicológica. Os métodos foram selecionados para atender às
especificidades da demanda e abordar a complexidade da questão apresentada.
As informações coletadas foram tratadas com o devido respeito aos princípios éticos e ao sigilo profissional
Conclusão:
Com base na avaliação psicológica realizada, concluímos que [Apresentar Resultados e
Considerações Conclusivas, como uma análise das habilidades sociais, identificação de
fatores estressores, sugestões de intervenção, etc.].

Pará de Minas, 23 de agosto de 2023.


Maria Alice da Silveira, CRP 04/3040582 :

Local e Data de Emissão: [Cidade], [Data de Emissão]


Assinatura do Psicólogo: [Assinatura]
Parecer
O psicólogo parecerista deve fazer a análise do problema apresentado, destacando os
aspectos relevantes e opinar a respeito, considerando os quesitos apontados e com
fundamento em referencial teórico-científico. Havendo quesitos, o psicólogo deve
respondê-los de forma sintética e convincente, não deixando nenhum quesito sem
resposta. Quando não houver dados para a resposta, ou quando o psicólogo não puder ser
categórico, deve-se utilizar a expressão “sem elementos de convicção”. Se o quesito
estiver mal formulado, pode-se afirmar “prejudicado”, “sem elementos”, ou “aguarda
evolução”.
● O parecer é composto de quatro itens:

1. Identificação
2. Exposição de motivos
3. Análise
4. Conclusão
● Identificação
Consiste em identificar o nome do parecerista e sua titulação, o nome do autor da
solicitação e sua titulação.

● Exposição de motivos
Destina-se à transcrição do objetivo da consulta e dos quesitos ou à apresentação das
dúvidas levantadas pelo solicitante. Deve-se apresentar a questão em tese, não sendo
necessária, portanto, a descrição detalhada dos procedimentos, como os dados colhidos
ou o nome dos envolvidos
● Análise
A discussão do Parecer Psicológico constitui-se na análise minuciosa da questão
explanada e argumentada, com base nos fundamentos necessários existentes, seja na
ética, na técnica ou no corpo conceitual da ciência psicológica. Nessa parte, devem-se
respeitar as normas de referências de trabalhos científicos para suas citações e
informações.
● Conclusão

Na parte final, o psicólogo apresentará seu posicionamento, respondendo à questão


levantada. Em seguida, informa o local e data em que foi elaborado e assina o
documento.
Parecer Psicológico
1. Identificação:
Parecerista: Dr. Ana Silva, Psicóloga, CRP 12345 Titulação: Mestra em Psicologia Clínica
Solicitante: Juiz Carlos Oliveira Titulação do Solicitante: Juiz de Direito
2. Exposição de Motivos:
O presente parecer tem por objetivo analisar e opinar sobre os quesitos apresentados pelo Juiz Carlos Oliveira, no processo judicial nº 56789,
relacionados à capacidade psicológica do Sr. João Santos, no contexto de seu envolvimento em um acidente de trânsito.
3. Análise:
Quesito 1: Agressividade e Impulsividade O quesito refere-se à possibilidade de o Sr. João Santos apresentar traços de agressividade e
impulsividade que possam ter contribuído para o acidente. Com base na avaliação clínica e em testes psicológicos aplicados, observou-se que o
Sr. João Santos apresenta traços leves de impulsividade, o que pode influenciar seu comportamento no trânsito sob certas circunstâncias. No
entanto, não foram identificados indícios significativos de agressividade patológica. Isso sugere que a impulsividade, embora presente, não seja
determinante para o acidente.
Quesito 2: Ansiedade e Nervosismo O quesito indaga sobre a possibilidade de o Sr. João Santos ser suscetível a ansiedade e nervosismo que
possam ter afetado sua condução no momento do acidente. Com base nas avaliações, constatou-se que o Sr. João Santos apresenta um nível
moderado de ansiedade, que pode se acentuar sob situações estressantes. No entanto, não há indícios de que sua ansiedade tenha sido um fator
determinante para o acidente.
Conclusão:
Diante da análise realizada, conclui-se :
Quesito 1: O Sr. João Santos apresenta traços leves de impulsividade, mas não há indícios significativos de
agressividade patológica que possam ser relacionados ao acidente.
Quesito 2: Embora o Sr. João Santos apresente um nível moderado de ansiedade, não há elementos de convicção
que sugiram que sua ansiedade tenha sido um fator determinante para o acidente.

Pará de Minas, 23 de agosto de 2023

Assinatura do Parecerista: [Assinatura]


Dr. Ana Silva, Psicóloga, CRP 12345
Guarda dos documentos e condições de guarda
Os documentos escritos decorrentes de avaliação psicológica, bem como todo o material que os
fundamentou, deverão ser guardados pelo prazo mínimo de cinco anos, observando-se a
responsabilidade por eles tanto do psicólogo, quanto da instituição em que ocorreu a avaliação
psicológica. Esse prazo poderá ser ampliado nos casos previstos em lei, por determinação judicial, ou
ainda em casos específicos em que seja necessária a manutenção da guarda por maior tempo. Em caso de
extinção de serviço psicológico, o destino dos documentos deverá seguir as orientações definidas no
Código de Ética do Psicólogo (Art. 15 – Em caso de interrupção do trabalho do psicólogo, por quaisquer
motivos, ele deverá zelar pelo destino dos seus arquivos confidenciais. § 1° – Em caso de demissão ou
exoneração, o psicólogo deverá repassar todo o material ao psicólogo que vier a substituí-lo, ou lacrá-lo
para posterior utilização pelo psicólogo substituto. § 2° – Em caso de extinção do serviço de Psicologia,
o psicólogo responsável informará ao Conselho Regional de Psicologia, que providenciará a destinação
dos arquivos confidenciais).
● Agora é a sua vez! Com base no exposto, crie sua própria declaração, um
atestado, um relatório e um parecer psicológico fictícios para um cliente
imaginário. Você pode escolher um propósito, definir um foco de tratamento
e descrever os progressos observados durante as sessões. Lembre-se de
seguir as estruturas e as informações fornecidas no exemplo. Após criar seus
documentos, compartilhe-a para avaliação.

● Lembre-se que esta é uma atividade fictícia e que vocês não devem
compartilhar informações pessoais ou confidenciais de clientes reais.
Referência
● SANTOS, L.C.; MIRANDA, E. M. F.; NOGUEIRA E.L. Psicologia Hospitalar e
normatizações: regulamentações na prática profissional e registro em
prontuário. In: Psicologia, Saúde e Hospital – Contribuições para a prática
profissional. Belo Horizonte: Ed. Artesã, 2016.

Você também pode gostar