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Avaliação psicológica no contexto da investigação policial

Psicologia Jurídica
• Encontro entre a Psicologia e o Direito;
• Psicologia na interface com a Justiça;
• É um campo de atuação da psicologia policial;
• A psicologia policial também é uma psicologia jurídica
• Polícia Civil é uma polícia judiciária: o trabalho é destinado ao Poder Judiciário;
• . Além disso a polícia civil é dirigida por delegados de polícia, que são bacharéis em direito
• Psicólogo policial é um psicólogo jurídico.

A Psicologia e o Direito - (Des) Encontro?


• O que essas duas áreas do conhecimento têm em comum? em Incomum?
• O psicólogo policial não trabalha só com a psicologia, mas com o direito também. É preciso que
o psicólogo conheça o campo do direito. É preciso ter diálogo com os operadores do direito.
• Objetivo no sistema de justiça, sisitema do qual a polícia faz parte: determinação da ocorrência, ou não
ocorrência, de fatos (Arantes, 2007; Rovinski, 2007; Caffé, 2010; Brito, 2012; Ortiz, 2012; Souza,
2014);
• Para a psicologia, essa ideia de descoberta é meio utópica
• Indicação de Artigo: Cadan, D., & Albanese, L. (2018). Um olhar clínico para uma justiça cega:
uma análise do discurso de psicólogos do sistema de justiça. Psicologia: Ciência e Profissão, 38,
316-331. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pcp/a/GFQJDZTvVqkQnggdLGHCZWD/?format=html
• Distintos modos de fazer psicologia jurídica
• Por isso muitas vezes há embates
• qual seria a atuação mais viável frente à demanda?
• “Mal-estar” entre os psicólogos que atuam na área (Arantes, 2008);
• Muitas psicologias
• DSD/ Depoimento Especial;
• Demanda decorrente
• Antes era chamado de Depoimento sem dano
• Não é uma prática psicológica. É uma técnica do sistema de justiça para tomada de depoimento
e alguns psicólogos atuam nisso => Já foi proibido pelo conselho da classe
• Campo de tensões;
• Tal confusão se dá pela indistinção da psicologia clínica no contexto jurídico (Rovinski, 2007).
• Sonia Rovinski é uma autora importantíssima da área
• A formação do psicólogo nas faculdades é muito clínica

O psicólogo na investigação policial…


• Avaliação Psicológica
• Demandas recorrentes: abuso sexual, maus tratos, alienação parental, testemunho de crianças em
conflitos conjugais, entre outros;
• Importante: alienação parental não é crime e não é investigado pela delegacia
• Maior atuação nas DPCAMIs: instrução da investigação policial por meio de documentos psicológicos
específicos;
• Não há normativas específicas do CFP ou leis para este campo jurídico/policial
• O que se faz é adaptação das resoluções existentes => Código de ética, resolução sobre
documentos psicológicos, resolução sobre avaliação psicológica, etc

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Das normativas do Conselho Federal de Psicologia
• Resolução CFP n. 010/05 - Aprova o Código de Ética Profissional do Psicólogo.
• Ele é fundamental independente do contexto
• “o psicólogo e psicólogo em qualquer contexto que esteja”
• Resolução CFP n. 008/2010 - Dispõe sobre a atuação do psicólogo como perito e assistente técnico no
Poder Judiciário.
• Resolução CFP n. 017/2012 - Dispõe sobre a atuação do psicólogo como Perito nos diversos contextos.
• contexto cível, criminal, varas de famílias, etc.
• Resolução CFP n. 010/2010 - Institui a regulamentação da Escuta Psicológica de Crianças e
Adolescentes envolvidos em situação de violência, na Rede de Proteção.
• Essa resolução proíbe o psicólogo a realizar depoimento especial
• foi suspensa em 2012
• Resolução CFP n. 009/2018 - Estabelece diretrizes para a realização de Avaliação Psicológica no
exercício profissional da psicóloga e do psicólogo, regulamenta o Sistema de Avaliação de Testes
Psicológicos - SATEPSI e revoga as Resoluções n° 002/2003, nº 006/2004 e n° 005/2012 e Notas
Técnicas n° 01/2017 e 02/2017.
• Importante para atuação do psicólogo policial
• Resolução CFP n. 006/2019 - Institui regras para a elaboração de documentos escritos produzidos
pela(o) psicóloga(o) no exercício profissional e revoga a Resolução CFP nº 15/1996, a Resolução CFP
nº 07/2003 e a Resolução CFP nº 04/2019.
• Comunicação de psicólogos com outros profissionais => importante ser bem escrito

Contextualização histórica
• Final do séc. XIX
• Nascimento da Psicologia
• psicologia experimental (Wundt);
• demandas do Judiciário => descobrir se as pessoas estavam falando a verdade ou não nos
depoimentos
• 1937- Mira y López- Manual de Psicología Jurídica;
• Fala das possibilidades de descobrir verddes
• Clássico que hoje em dia está obsoleto
• 1945- Mira y López - cursos no Brasil;
• Mira y Lopéz influenciou muito a psicologia brasileira
• 1947- Cria, a convite, o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), da Fundação Getúlio
Vargas;
• 1955- tradução do Manual de Mira y López para o português.

Lei 4.119 de 27 de agosto de 1962- Dispõe sobre os cursos de formação em Psicologia e regulamenta a
profissão de psicólogo no Brasil:
§ 1º- Constitui função privativa do Psicólogo a utilização de métodos e técnicas psicológicas com os
seguintes objetivos:
a) diagnóstico psicológico;
b) orientação e seleção profissional;
c) orientação psicopedagógica;
d) solução de problemas de ajustamento.
§ 2º- É da competência do Psicólogo a colaboração em assuntos psicológicos ligados a outras ciências.
• Isso abarca o direito e a segurança pública também

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• 1979: atuação voluntária de psicólogos no TJSP
• 1984: LEP/ CT- progressão e regressão de penas
• 1985: primeiro concurso público no país (TJSP)
• 1985: Lei Ordinária 6.704/1985- cria o cargo Psicólogo Policial Civil (PCSC)
• 1986: ingresso de 63 psicólogos (DETRAN)
• Santa Catarina
• 1990: Lei 8.069/ECA

Conselho Federal de Psicologia (CFP)


• Decreto n. 79.137/1977 - Regulamenta a Lei n. 5.766/71, que criou o Conselho Federal de Psicologia e
os Conselhos Regionais de Psicologia e dá outras providências.
• Art. 1º O exercício da profissão de Psicólogo, nas suas diferentes categorias, em todo o território
nacional, somente será permitido ao portador de Carteira de Identidade Profissional expedida
pelo Conselho Regional de Psicologia da respectiva jurisdição.
• Art. 6º Compete ao Conselho Federal: VII - elaborar e aprovar o Código de Ética Profissional
do Psicólogo; VIII - funcionar como tribunal superior de ética profissional; IX - funcionar como
órgão consultivo em matéria de psicologia [...].

O Código de Ética Profissional do Psicólogo Resolução CFP n. 010/05


• Do Sigilo:
• Art. 6º – O psicólogo, no relacionamento com profissionais não psicólogos: a) Encaminhará a
profissionais ou entidades habilitados e qualificados demandas que extrapolem seu campo de
atuação; b) Compartilhará somente informações relevantes para qualificar o serviço prestado,
resguardando o caráter confidencial das comunicações, assinalando a responsabilidade, de quem
as receber, de preservar o sigilo.
• Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da
confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no
exercício profissional.
• Da quebra do sigilo
• Art. 10 – Nas situações em que se configure conflito entre as exigências decorrentes do disposto
no Art. 9º e as afirmações dos princípios fundamentais deste Código, excetuando-se os casos
previstos em lei, o psicólogo poderá decidir pela quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca
do menor prejuízo.
• Parágrafo único – Em caso de quebra do sigilo previsto no caput deste artigo, o psicólogo deverá
restringir-se a prestar as informações estritamente necessárias.
• Quando um psicólogo entrega um documento psicológico para o sistema de justiça está
quebrando o sigilo, mas está pautando sua decisão na busca do menor prejuízo.
• Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:
• f) Prestar serviços ou vincular o título de psicólogo a serviços de atendimento psicológico cujos
procedimentos, técnicas e meios não estejam regulamentados ou reconhecidos pela profissão;
• g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade técnico-científica;
• j) Estabelecer com a pessoa atendida, familiar ou terceiro, que tenha vínculo com o atendido,
relação que possa interferir negativamente nos objetivos do serviço prestado;
• k) Ser perito, avaliador ou parecerista em situações nas quais seus vínculos pessoais ou
profissionais, atuais ou anteriores, possam afetar a qualidade do trabalho a ser realizado ou a
fidelidade aos resultados da avaliação.

Dos documentos produzidos pelo psicólogo Resolução CFP n. 006/2019


• Art. 8º Constituem modalidades de documentos psicológicos:

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• I - Declaração;
• II - Atestado Psicológico;
• III - Relatório; a) Psicológico; b) Multiprofissional;
• IV - Laudo Psicológico;
• V - Parecer Psicológico.
• O Laudo psicológico
• Art. 13- O laudo psicológico é o resultado de um processo de avaliação psicológica, com
finalidade de subsidiar decisões relacionadas ao contexto em que surgiu a demanda. Apresenta
informações técnicas e científicas dos fenômenos psicológicos, considerando os condicionantes
históricos e sociais da pessoa, grupo ou instituição atendida.
• § 4º- [...] o laudo deve apresentar o raciocínio técnico-científico que justifica o processo de
trabalho realizado pela(o) psicóloga(o) e os recursos técnico-científicos utilizados no processo
de avaliação psicológica, especificando o referencial teórico metodológico que fundamentou
suas análises, interpretações e conclusões.

A Avaliação Psicológica - Resolução CFP n. 009/2018


• Art. 1º - Avaliação Psicológica é definida como um processo estruturado de investigação de fenômenos
psicológicos, composto de métodos, técnicas e instrumentos, com o objetivo de prover informações à
tomada de decisão, no âmbito individual, grupal ou institucional, com base em demandas, condições e
finalidades específicas.
• §2 - A psicóloga e o psicólogo têm a prerrogativa de decidir quais são os métodos, técnicas e
instrumentos empregados na Avaliação Psicológica, desde que devidamente fundamentados na literatura
científica psicológica e nas normativas vigentes do Conselho Federal de Psicologia (CFP).
• Art. 2º - Na realização da Avaliação Psicológica, a psicóloga deve basear sua decisão, obrigatoriamente,
em métodos e/ou técnicas e/ou instrumentos psicológicos reconhecidos cientificamente para uso na
prática profissional da psicóloga e do psicólogo (fontes fundamentais de informação), podendo, a
depender do contexto, recorrer a procedimentos e recursos auxiliares (fontes complementares de
informação).
• I – Fontes fundamentais:
• a)- Testes psicológicos aprovados pelo CFP para uso profissional da psicóloga e do psicólogo
e/ou;
• b)- Entrevistas psicológicas, anamnese e/ou;
• c)- Protocolos ou registros de observação de comportamentos obtidos individualmente ou por
meio de processo grupal e/ou técnicas de grupo.
• II - Fontes complementares:
• a) Técnicas e instrumentos não psicológicos que possuam respaldo da literatura científica da área
e que respeitem o Código de Ética e as garantias da legislação da profissão;
• b) Documentos técnicos, tais como protocolos ou relatórios de equipes multiprofissionais.

Perícia psicológica
• Avaliação psicológica específica para fins judiciais (Shine, 2005);
• A perícia psicológica é um tipo de avaliação psicológica
• Atividade privativa do profissional de Psicologia;
• Avaliação direcionada a responder demandas específicas, originadas do contexto pericial (Res. CFP n.
17/2012);
• O psicólogo perito deve evitar qualquer tipo de interferência durante a avaliação que possa prejudicar o
princípio da autonomia-técnica e ético-profissional, e que possa constranger o periciando durante o
atendimento (Res. CFP n. 17/2012);

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• § 1º Independentemente da carreira, da classe e da entrância funcional, o regime hierárquico não autoriza
qualquer violação de consciência e de convencimento técnico ou científico fundamentado (Lei
Complementar 453/2009).

Comparativo entre Depoimento Especial e Perícia Psicológica

Perícia Psicológica (avaliação psicológica) Depoimento Especial - Lei 13.431/2017

Atividade privativa do psicólogo Qualquer profissional capacitado, independente da


área de formação
Quesitos dirigidos ao psicólogo perito Perguntas dirigidas ao entrevistado (vítima ou
testemunha)
Métodos selecionados pelo perito (entrevistas, Entrevista protocolar (protocolo NICHD, etc)
testes, entrevistados, etc)
Emissão de Laudo Psicológico (Res. CFP n. Obrigatoriedade de gravação audiovisual- não se emite
006/2019) documento escrito

A partir de dados brutos, o psicólogo emitirá sua O entrevistador somente tem a função de realizar as
análise e conclusão perguntas ao entrevistado, não devendo emitir análise
e conclusão
A literalidade das entrevistas psicológicas não A literalidade da entrevista gravada será o material
constará no laudo. O produto entregue passará considerado
pela análise, a partir do referencial teórico
adotado pelo psicólogo
Ex. 1. Existem sintomas típicos de vítimas de Ex. 1. O que você sentiu quando chegou na casa do seu
abuso sexual na criança? 2. A afirmação de que pai? 2. Pode me contar em que local você dormia
foi abusada pode ser fruto de falsas memórias? quando ia para a casa do seu avô? 3. Quem levava você
3. Há indícios de que ela tenha sido para a escola e como era o percurso? 4. O que seu pai
sugestionada pela mãe a falsear uma acusação falou para você quando fez isso que você me contou?
contra o pai?

Resumo
• A psicologia policial faz parte do campo da psicologia jurídica;
• Existem várias visões sobre o modo de fazer psicologia não campo jurídico;
• A atuação do psicólogo, em qualquer campo, é regulamentada pelo CFP;
• O laudo psicológico é produto de uma avaliação psicológica;
• Depoimento Especial e Perícia psicológica são trabalhos diferentes.

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