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Psicologia Jurídica

PSICOLOGIA JURÍDICA
Autoria
Denise Gonçalves Moura Pinheiro /
Maria Helena Rodrigues Campelo
Expediente
Reitor: Ficha Técnica
Prof. Cláudio Ferreira Bastos Autoria:
Denise Gonçalves Moura Pinheiro /
Pró-reitor administrativo financeiro: Maria Helena Rodrigues Campelo
Prof. Rafael Rabelo Bastos Supervisão de produção NEAD:
Francisco Cleuson do Nascimento Alves
Pró-reitor de relações institucionais:
Prof. Cláudio Rabelo Bastos Design instrucional:
Antonio Carlos Vieira
Pró-reitora acadêmica:
Profa. Flávia Alves de Almeida Projeto gráfico e capa:
Francisco Erbínio Alves Rodrigues
Diretor de operações:
Diagramação e tratamento de imagens:
Prof. José Pereira de Oliveira Ismael Ramos Martins
Coordenação NEAD: Revisão textual:
Profa. Luciana Rodrigues Ramos Antonio Carlos Vieira

Ficha Catalográfica
Catalogação na Publicação
Biblioteca Centro Universitário Ateneu

PINHEIRO, Denise Gonçalves Moura / CAMPELO, Maria Helena Rodrigues. Psicologia ju-
rídica. / Denise Gonçalves Moura Pinheiro e Maria Helena Rodrigues Campelo. – Fortaleza:
Centro Universitário Ateneu, 2020.

108 p.

ISBN:

1. Histórico da psicologia jurídica no mundo e no brasil 2. Contribuições teóricas e práti-


cas da psicologia para o direito. 3. Atuação do psicólogo no âmbito familiar . 4. A psico-
logia na proteção de grupos específicos. Centro Universitário Ateneu. II. Título.

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quaisquer métodos ou processos, sejam eles eletrônicos, mecânicos, de cópia fotostática ou outros, sem a autoriza-
ção escrita do possuidor da propriedade literária. Os pedidos para tal autorização, especificando a extensão do que
se deseja reproduzir e o seu objetivo, deverão ser dirigidos à Reitoria.
SEJA BEM-VINDO!

Prezado(a) estudante,

Iniciaremos nossa jornada de conexão entre a Psicologia e o Direito.


Nesse percurso, dialogaremos sobre as interfaces e interações sobre essas
ciências do conhecimento, bem como as aproximações e distanciamentos
sobre essas áreas de atuação.

O interesse desse estudo é viabilizar uma compreensão sobre


as pessoas, considerando que no âmbito do sistema jurídico, mediante
processos e procedimentos legais e normativos, atuamos com o atendimento
aos indivíduos. São os sujeitos sociais, o público máximo por excelência das
demandas e encaminhamentos do sistema judiciário, é para esse indivíduo
em relação com a família, as instituições, a comunidade e a sociedade em
geral, que despertamos nosso olhar e compreensão.

Dessa forma, em nosso caminho, poderemos conhecer sobre a


constituição subjetiva, sobre o funcionamento psíquico e as contribuições da
psicologia jurídica para o sistema judiciário.

Bons estudos!
Estes ícones aparecerão em sua trilha de aprendizagem e significam:

ANOTAÇÕES

CONECTE-SE

REFERÊNCIAS
SUMÁRIO

HISTÓRICO DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO


MUNDO E NO BRASIL
1. Notas sobre a psicologia enquanto ciência.............. 8
2. A relação entre a psicologia e a justiça.................... 9

01
3. Direitos humanos como
foco da psicologia jurídica.......................................... 12
4. A psicologia social e a sua interface com
o campo jurídico..................................................... 16
5. A recepção da criminologia no brasil e os
"peritos da subjetividade”........................................ 20
Referências................................................................ 27

CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS E
PRÁTICAS DA PSICOLOGIA PARA O DIREITO
1. A prática do psicólogo no campo jurídico............... 30
2. Análise do sistema penitenciário: atuação da

02
psicologia no sistema prisional............................... 31
3. A proteção à criança e ao adolescente.................. 34
3.1. A atuação do psicólogo com crianças e
adolescentes em conflito com a lei......................... 42
4. O psicólogo que atua em projetos de lei:
uma área emergente.............................................. 44
Referências................................................................ 46
ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO
ÂMBITO FAMILIAR
1. A psicologia da família e suas
contribuições teóricas............................................. 48
2. As concepções de família e

03
a legislação vigente................................................ 51
3. A atuação do psicólogo nas
varas de família...................................................... 60
4. A adoção de crianças e adolescentes:
perspectivas psicológicas e jurídicas...................... 64
4.1. O trabalho do psicólogo na adoção................. 67
5. A atuação do psicólogo com crianças e
adolescentes que sofrem violência......................... 67
Referências................................................................ 81
A PSICOLOGIA NA PROTEÇÃO DE
GRUPOS ESPECÍFICOS
1. Políticas públicas de prevenção, atendimento e
garantia de direitos das mulheres........................... 84
2. Violência de gênero, violência doméstica,
violência familiar..................................................... 86
3. Atuação de psicólogos/as com a atenção às

04
mulheres em situação de violência......................... 92
4. A atuação do psicólogo nas delegacias
especializadas de atendimento
às mulheres (deams).............................................. 94
5. A psicologia no combate ao racismo...................... 99
6. A psicologia e a diversidade sexual..................... 102
7. A proteção à pessoa idosa e às
pessoas com deficiência....................................... 104
8. A atuação com usuários de
álcool e outras drogas.......................................... 107
Referências.............................................................. 108
Unidade Contribuições teóricas e

02
práticas da psicologia
para o direito

Apresentação
Nesta unidade, observaremos várias contribuições, teóricas e práticas.
A psicologia jurídica ocorre apenas no âmbito do direito, é necessário
compreender o horizonte. Não isoladamente, mas para se comunicar com
operadores legais. Portanto, é necessário conceituar o encontro entre
psicologia e direito.

Satisfazer este ponto na prática é propício aos desafios da objetividade


científica e da realidade jurídica, podendo se livrar do ponto de vista terapêutico
e realizar investigações e pesquisas sobre fatos jurídicos.
OBJETIVOS DE
APRENDIZAGEM
• Desenvolver habilidades de comunicação oral e escrita psicológica para o
sistema judiciário;

• Compreender a atuação interdisciplinar da psicologia em relação à demanda


jurídica;

• Identificar a caracterização das redes, correlacionando estrutura, função e


funcionamento das instituições jurídicas.

1. A prática do psicólogo
no campo jurídico

A expansão da psicologia jurídica, de acordo com Jacó-Vilela (1999),


trouxe aos profissionais muitas possibilidades em atuar diretamente no
Sistema de Garantia de Direitos da Infância e da Juventude, da Família,
dos Idosos e das Mulheres. Desse modo, recomenda-se a este profissional
ir para além dos diagnósticos propostos e avaliações psicológicas que
possuíam um viés psicopatológico, quando na verdade sabemos que os
fenômenos perpassam situações complexas das vidas dos envolvidos.

O psicólogo no âmbito jurídico deve possuir uma postura crítica quanto


ao seu próprio trabalho, buscando novas possibilidades de compreensão
dos fenômenos apresentados. Para além disso, deve-se lembrar que ele
se encontra na via para a garantia de direitos humanos e de cidadania.
Deve-se, portanto, pensar nas consequências de suas ações profissionais
em cada caso atendido. Não deve, o psicólogo, ater-se exclusivamente a
apenas uma técnica, mas é sua responsabilidade garantir que as pessoas
tenham um espaço aberto, sem censura, por meio de práticas sociais e não
excludentes. Somente dessa forma, será possível para os operadores do
direito compreender a sua atuação, apresentando informações importantes
sobre o comportamento humano.

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No texto A psicanálise e a determinação dos fatos nos processos
jurídicos, Freud (1996) explica que o trabalho do profissional que atua
em áreas diversas deverá se adequar ao contexto no qual elas ocorrem,
não devendo, portanto, fixar-se em uma mesma técnica para os mesmos
ambientes. O atendimento psicológico aplicado na clínica não poderá ser
o mesmo no atendimento das pessoas no ambiente jurídico, ainda que já
tenha se constatado que os psicólogos que atuam, por exemplo, nas Varas
de Família possuem especialização na área clínica.

Deve-se observar que uma entrevista com uma família ou parte dela
que está vivendo um processo jurídico poderá apresentar dificuldades
em expressar sinceramente seus pensamentos sem medo de ser julgado
pelo profissional, ainda que este seja um psicólogo. Isso ocorre porque o
indivíduo poderá falar algo que poderá prejudicar na sua luta judicial. O
magistrado quando solicita uma avaliação psicológica para um determinado
caso, o profissional deverá saber que o fato de ser uma obrigação para a
pessoa ainda poderá esta emitir respostas comportamentais divergentes
das previstas.

Para fins de organização dos conceitos, Alvarez (1992) acredita


ser mais viável o uso do termo diagnóstico ou avaliação psicológica
no âmbito jurídico. Tal fato se deve para que não existam equívocos em
relação a um modelo de diagnóstico específico que será aplicado no contexto
jurídico. A Resolução 007/2003, do Conselho Federal de Psicologia, explica
que o profissional de psicologia deve escolher os instrumentos e as técnicas
necessárias e adequadas para aquilo que ele se propõe investigar.

2. Análise do sistema penitenciário: atuação da


psicologia no sistema prisional

O sistema penitenciário brasileiro encontra-se passível de


questionamentos sobre as perspectivas e estratégias de atuação diante
dos resultados em relação às prisões. Nesse contexto, cabe reflexões
sobre as práticas executadas, sobre o perfil do público e sobre o impacto
desse modelo de intervenção. Em relação à psicologia jurídica, cabe pensar
sobre a perspectiva dos direitos da população carcerária e as formas de
socialização e ressocialização do público de detentos.

PSICOLOGIA JURÍDICA | 31
As prisões brasileiras não oferecem os serviços para os quais
constaria em sua proposta original: punir e responsabilizar. Na prática,
observa-se que a grande demanda que afeta esse tipo de serviço e o público
que caracteriza a população carcerária indica que há um escasso acesso
desses usuários a serviços públicos e direitos fundamentais. Observa-
se que a privação da liberdade das pessoas que cometem crimes e delitos
nas prisões poderia oferecer métodos de reinserir, reintegrar, reincluir ou
ressocializar essas pessoas ao convívio social, o que não ocorre.

É possível constatar que não há o desenvolvimento de planos,


programas, projetos, serviços ou ações voltadas para este objetivo e que as
ações desenvolvidas não alcançam o impacto adequado. Dessa forma, os
usuários desses serviços, quando não ocorre o acesso a outras possibilidades,
acabam retornando à condição de egressos do sistema prisional.

Por outro lado, identifica-se que se não há um trabalho de efetivação


das políticas para oferta de novos projetos de vida, oportunidades no mundo
do trabalho para esses sujeitos, há menos probabilidade em fortalecer
os vínculos familiares e comunitários de origem, bem como alcançar
oportunidades de estudo e trabalho, e meios de garantir a sobrevivência.
Assim, esse público torna-se prioritário de atenção do Estado para além do
ingresso, a manutenção e a reinserção na sociedade.

Além dessas dificuldades, considera-se o processo de exclusão social


e os impactos das dimensões relacionadas a discriminação e preconceito. O
estigma afeta a identidade social desses indivíduos, cuja função e papeis
sociais são impactados pela dimensão da representação social aliada às
prisões.

Identifica-se que, além dos desafios e dificuldades de ordem prática


e objetiva, existem as questões relativas às condições subjetivas, às
percepções desses sujeitos em relação às suas condições pessoais e
sociais. Tais dimensões podem potencializar a perspectiva de resiliência, mas
podem também fortalecer a dificuldade em relação ao processo de adesão a
novos projetos e ressocialização.

Em relação ao público característico da população carcerária,


observa-se a prevalência de homens, pobres, pretos, jovens, sem
escolaridade. Esses indivíduos são duplamente marcados em sua condição
de existência, pelo não acesso a perspectivas de desenvolvimento e pela
exclusão diante do contexto social vivenciado.

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O contexto sociocultural e econômico incide diretamente na história
de vidas desses sujeitos que são classificados à margem da sociedade,
tornaram-se marginais, conceito estigmatizado associado à dimensão do
significado: perigosos, bandidos, criminosos, perdendo seu reconhecimento
como seres humanos.

É notório que não se pode descaracterizar a responsabilização e a


punição dos crimes e delitos, todavia pauta-se a perspectiva de cumprimento
da justiça em relação à responsabilidade dos atos cometidos.

Um grande problema enfrentado nas prisões brasileiras é como oferecer


condições para os presos que possibilitem a sua “volta à sociedade”, bem
como aproveitar o tempo e a capacidade laborativa dessas pessoas e
contribuir para a não incidência criminal. Aqui, cabe destacar a necessidade
de implantação e de fortalecimento de programas, projetos, serviços e
ações voltadas para o desenvolvimento de habilidades e de geração de
renda para os presos, bem como oferecer programas de escolarização e de
desenvolvimento de outras habilidades artísticas ou laborativas.

Em relação ao preconceito, é preciso trabalhar para fortalecer a


reinserção dessas pessoas, de forma a criar uma articulação em rede para
oferecer oportunidades de trabalho, de emprego ou de geração de renda. É
preciso fortalecer a ideia que essas pessoas cumpriram suas penas e que se
a sociedade não oferecer espaços para a reintegração social, será inevitável
a reincidência criminal.

Um aspecto para analisar nesse cenário diz respeito à rede social na


execução de penas e medidas alternativas, que pode ser compreendida
como a estrutura complementar à vida dos indivíduos que cumprem as penas,
considerando os vínculos familiares e comunitários, os laços afetivos e de
solidariedade, a escola, a instituição religiosa, a instituição empregadora e
todos os meios que contribuam para o indivíduo ter contato com a sociedade
e ressignificar essa sua reinserção social. Aqui, cabe destacar a necessidade
de implantação e de fortalecimento de programas, projetos, serviços e ações
voltadas para o desenvolvimento de habilidades e de geração de renda
para os indivíduos que cumprem penas.

Um dos serviços básicos a serem desenvolvidos e fortalecidos para


estes indivíduos é a sua participação no processo de escolarização,
considerando todos os desafios na elaboração de uma estratégia que se
encaixe na realidade dessas pessoas, enfatizando disciplinas de cidadania,

PSICOLOGIA JURÍDICA | 33
democracia, direitos e deveres, uma vez que não cabe a mesma lógica de
aprendizagem proferida nas escolas. Alfabetizar, possibilitar conhecimento a
essas pessoas que cumpriram ou cumprem medidas é oferecer oportunidades
de desenvolver a aprendizagem.

Uma segunda alternativa seria a participação desses indivíduos


que cumprem penas nos cursos profissionalizantes, considerando o
desenvolvimento de parcerias com instituições que diagnosticam as profissões
solicitadas pelo mercado e que pudessem articular e encaminhar essas
pessoas ao mercado de trabalho, a partir de relatórios de acompanhamento
e avaliação da equipe multiprofissional. Profissionalizar, possibilitar uma
formação em áreas específicas é oferecer oportunidade de desenvolver a
garantia de renda.

Uma terceira estratégia seria o desenvolvimento de habilidades da arte


em geral, tais como: música, dança, teatro, literatura, escultura, artesanato,
dentre outras. Potencializar a criatividade é oferecer oportunidade de
crescimento pessoal, profissional e ainda contribuir para o fortalecimento da
autoestima e o reconhecimento de sujeitos de direitos, de cidadãos.

Ainda considerando a mesma lógica, é importante destacar o trabalho


de prevenção, o fortalecimento da informação, a propagação da ideia de
privar a liberdade do ser humano como um dos últimos recursos, bem como
de fortalecimento das políticas públicas, com ênfase na segurança pública,
na educação, na geração de emprego e renda e ainda o desenvolvimento do
trabalho nas comunidades. É preciso considerar a necessidade de execução
do trabalho em rede, considerando os limites e as possibilidades de cada
ente que participa desse processo.

3. A proteção à criança e ao adolescente


O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069, de 13 de julho de
1990) prevê a proteção integral de crianças e adolescentes, orienta a garantia
dos direitos humanos fundamentais, tais como educação, lazer, dignidade,
saúde, convivência familiar e comunitária. O ECA coaduna com a Convenção
sobre os Direitos da Criança (ONU), ratificado pelo Brasil em 1989, atribuindo
visibilidade à questão desse público como sujeito de direitos e rompendo com
a lógica do menor, prevalecente na perspectiva assistencialista e punitiva do
Estado, conforme o Código de Menores de 1979, revogado pelo Estatuto.

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Após a criação do ECA, outras medidas foram implantadas, tais como:
a criação do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente -
CONANDA (1991); a Resolução nº 113 (19 de abril de 2006), que apresenta
elementos sobre a institucionalização e fortalecimento do Sistema de Garantia
dos Direitos da Criança e do Adolescente; a criação da Lei Nacional da
Adoção em 2009; a lei que versa sobre a alienação parental (2010); a criação
do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE (2012); a Lei
13.509 sobre a adoção (2017).

De acordo com o CONANDA (2006), compreende-se por Sistema de


Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente a articulação e integração
das instâncias públicas governamentais e da sociedade civil na
aplicação de instrumentos normativos e no funcionamento dos mecanismos
de promoção, defesa e controle para a efetivação dos direitos humanos da
criança e do adolescente, nos níveis federal, estadual, distrital e municipal.
O sistema tem como competências: promoção, defesa, controle e efetivação
dos direitos humanos, civis, políticos, econômicos, sociais, culturais, coletivos
e difusos, das crianças e adolescentes. O sistema visa garantir a proteção,
a segurança e o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes,
sem violências, discriminações, preconceitos, salvos das condições de
vulnerabilidade e risco social.

Como o sistema intercala e integraliza os atores e instâncias públicas,


identifica-se a atuação e intervenção dos seguintes órgãos da Justiça:
as varas da infância e da juventude; as varas criminais especializadas, os
tribunais do júri, as comissões judiciais de adoção, os tribunais de justiça,
as corregedorias gerais de Justiça; os ministérios públicos, as promotorias
de justiça, os centros de apoio operacional às promotorias da infância, os
núcleos especializados de defensores públicos, as procuradorias de justiça,
as procuradorias gerais de justiça, as corregedorias gerais do Ministério
Público; as defensorias públicas, os serviços de assessoramento jurídico e
assistência judiciária; a advocacia geral da união, as procuradorias gerais
dos estados, a polícia civil judiciária, a polícia militar; as delegacias de polícia
especializadas, os conselhos tutelares; e as ouvidorias.

A política de atendimento dos direitos humanos de crianças e


adolescentes é operacionalizada mediante o atendimento em serviços,
programas e projetos em casos de violação de direitos, tais como: serviços
e programas das políticas públicas sociais; de execução de medidas de
proteção de direitos humanos; de execução de medidas socioeducativas

PSICOLOGIA JURÍDICA | 35
para adolescentes autores de ato infracional. Constituem ações das
medidas socioeducativas os seguintes programas e serviços: programas
socioeducativos em meio aberto - prestação de serviço à comunidade;
liberdade assistida; programas socioeducativos com privação de liberdade
- semiliberdade; internação; auxiliares dos programas socioeducativos,
os programas acautelatórios de atendimento inicial (previsto no ECA),
os programas de internação provisória (ECA) e os programas de apoio e
assistência aos egressos.

No campo jurídico, a atuação da psicologia na área social prevê a


orientação em relação aos direitos de crianças e adolescentes. No caso
das medidas socioeducativas observa-se o desenvolvimento de estratégias
de intervenção quanto à Liberdade Assistida (LA) e à Prestação de Serviço
à Comunidade (PSC), conforme orienta o Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo (SINASE). Em relação a esse contexto, faz-se necessário
a articulação do Sistema de Garantia de Direitos, composto pelos órgãos
da Justiça: Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública da
área da infância e adolescência. No âmbito do Sistema Socioeducativo, as
instituições responsáveis pelo atendimento às demandas dos adolescentes
e suas famílias devem viabilizar o Plano Individual de Atendimento
Socioeducativo – PIA. Esse instrumento de caráter pedagógico deve
possibilitar a construção do projeto de vida pessoal e social do adolescente,
visando a promoção da cidadania e da autonomia, a construção de
expectativas e projetos de vida futuros. O atendimento socioeducativo deve
primar e garantir a intersetorialidade entre as políticas públicas.

As medidas socioeducativas previstas pela Lei 8.069/1990 (Estatuto


da Criança e do Adolescente – ECA) e regulamentadas pela Lei 12.597/12
(Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo) são de responsabilidade
dos municípios, com a articulação da rede composta por secretarias
municipais e órgãos do sistema de justiça e serviços das organizações não
governamentais visando ao atendimento dos adolescentes em cumprimento
de medida de Liberdade Assistida (LA) e Prestação de Serviços à Comunidade
(PSC). O sistema deve ser articulado pela Política de Assistência Social.
O SINASE orienta que o atendimento socioeducativo municipal deve
responsabilizar o adolescente pelo cometimento de um ato infracional, com
a desaprovação das condutas e delitos, e deve também garantir os direitos
do adolescente, visando a integração social e comunitária, deve acompanhar
e monitorar o cumprimento das medidas e comunicar os procedimentos aos
órgãos do judiciário.

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De acordo com os documentos que orientam o cumprimento
das medidas socioeducativas, seguem-se conceitos sobre as práticas
interventivas. Em conformidade com a lei do SINASE e com as Resoluções
165, de 2012, e 191, de 2014, do Conselho Nacional de Justiça, temos:

a. Plano Individual de Atendimento (PIA) - Segundo a lei do SINASE,


é documento elaborado pela equipe técnica de atendimento ao(a)
adolescente em conflito com a lei para planejar as atividades
que o(a) adolescente deve desenvolver para cumprir sua medida
socioeducativa, de acordo com a sentença judicial, constituindo-se
em instrumento de previsão, registro e gestão destas atividades.
O SINASE estabelece que o PIA deve ser construído de forma
pactuada com o(a) adolescente e sua família, de forma que eles
sejam escutados e que compreendam o que está sendo exigido. O
PIA da PSC é diferente do PIA da LA: na PSC, a obrigação do(a)
adolescente está estabelecida (o desenvolvimento gratuito da
atividade de interesse geral em uma instituição), cabendo ao PIA-
PSC especificar qual é essa atividade, determinar o local em que
ela vai ser cumprida, em que dias e horários; ao passo em que,
o PIA-LA tem maior liberdade para estabelecer tais obrigações,
atendo-se aos limites impostos pela sentença judicial.

b. Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) - É a obrigatoriedade


de desenvolvimento de atividade não remunerada em instituição
pública ou privada sem fins lucrativos, preferencialmente,
na comunidade de origem do(a) adolescente. A medida do
cumprimento da PSC pelo(a) adolescente é a execução satisfatória
da atividade, conforme previsto no Plano Individual de Atendimento
(PIA), que deve contemplar o encaminhamento do(a) adolescente
a instituições governamentais ou comunitárias que possibilitem o
desenvolvimento das tarefas de interesse geral e adequada a suas
aptidões.

c. Liberdade Assistida (LA) - É a concessão de liberdade sob


condições, ou seja, o(a) adolescente permanece em liberdade,
mas com restrições de direitos que estabelecem limites ao(a)
adolescente. A medida do cumprimento da Liberdade Assistida
é definida pelo Plano Individual de Atendimento (PIA) que
estabelecerá quais são as restrições à liberdade do(a) adolescente
(proibição de frequentar certos locais, de aproximar-se de certa
pessoa etc.) e suas obrigações (obrigatoriedade de retirar
documentos, de frequentar curso ou instituição, de comparecer
aos atendimentos etc.).

PSICOLOGIA JURÍDICA | 37
d. Fluxo de Procedimentos - É a sequência ordenada de
procedimentos que deve ser executada pela Equipe de Referência
na execução da Liberdade Assistida (Fluxo da LA), na execução
da Prestação de Serviços à Comunidade (Fluxo da PSC) ou para
articular instituições parceiras da Rede de Apoio para fortalecer
o cumprimento das medidas (Fluxo de Articulação Institucional e
Comunitária).

e. Guia de Encaminhamento Socioeducativo - Guia de Execução


é o documento apto a iniciar o processo de execução de medidas
socioeducativas, expedido pelo respectivo Juízo de Conhecimento
de forma individual para cada adolescente, mesmo que um mesmo
ato infracional possua diversos autores diferentes, e encaminhado
ao Serviço de Execução das Medidas.

f. Notificação - Instrumento de convocação do adolescente ou de


sua família para comparecimento no CREAS ou em outra instituição
a qual o adolescente deva comparecer em virtude de obrigação
assumida no PIA. A citação deve ser entregue por escrito, com
Aviso de Recebimento devidamente assinado, de preferência, por
correio oficial.

Procedimentos realizados para o atendimento dos adolescentes:

a. Atendimentos Individuais - São atendimentos de acompanhamento


do cumprimento do PIA, realizados periodicamente no CREAS,
apenas com o(a) adolescente e, excepcionalmente, em caso
de necessidade, com familiares. Nesse momento, o técnico de
referência avalia, com o(a) adolescente, o cumprimento ou não
das obrigações da medida previstas no PIA, realizando, quando
necessários, ajustes nessa previsão. Saliente-se que tais ajustes
têm por objetivo oferecer apoio para que o adolescente cumpra
com suas obrigações, modificando-as ou substituindo-as, e não
simplesmente por meio de sua exclusão. Na Liberdade Assistida,
ocorrem de acordo com a necessidade identificada pelo Técnico
ou – se for o caso – periodicamente, de acordo com previsão no
PIA. Na PSC, ocorrem de acordo com a necessidade identificada
pelo Técnico.

38 | PSICOLOGIA JURÍDICA
b. Visita Domiciliar - Visitas realizadas por técnico de referência à
residência do(a) adolescente, com fins de estabelecer contato com
este(a) e com sua família. É mais um momento para avaliação
do PIA, verificando o impacto da execução da medida em seu
contexto social bem como a efetivação de seus vínculos familiares
e comunitários.

c. Visita Institucional - Visitas realizadas por técnico de referência


às instituições frequentadas pelo adolescente (escola, curso
profissionalizante, instituição de cumprimento da PSC). É mais um
momento para avaliação do P.I.A, verificando o estabelecimento
de vínculos, o desenvolvimento efetivo das atividades da PSC etc.

d. Articulação Institucional e Comunitária - É a interação da equipe


de referência do CREAS com outros serviços, equipamentos públicos
e privados de seu território, com o objetivo de viabilizar a execução
da medida socioeducativa em meio aberto, preferencialmente,
dentro da própria comunidade do adolescente, conforme preconiza
o SINASE. De responsabilidade da coordenação do CREAS e do
assistente social da equipe de referência, com o acompanhamento
e supervisão da SETRA. A articulação comunitária, em uma
perspectiva restaurativa, estimula o protagonismo da comunidade
na execução da medida socioeducativa em meio aberto,
fortalece os vínculos do(a) socioeducando(a) com a comunidade,
potencializando, assim, o processo de responsabilização e
ressocialização do(a) adolescente. A articulação comunitária,
nesse sentido, permite à equipe de referência cumprir dois de seus
papéis: garantir direitos do adolescente, construindo uma rede de
cuidado que viabilize acesso à educação, saúde etc.; e garantir
a responsabilização do adolescente, agregando mais parceiro
para onde encaminhar adolescentes para cumprimento de PSC
ou para articular obrigações para adolescentes em cumprimento
de Liberdade Assistida, via derivação, articulando atores locais
da própria comunidade do(a) adolescente para acompanhá-lo(a),
apoiá-lo(a) e monitorá-lo(a).

PSICOLOGIA JURÍDICA | 39
Modelo de descumprimento e acompanhamento dos adolescentes:

a. Descumprimento reiterado - É o não cumprimento sucessivo,


por parte do adolescente, das obrigações para ele previstas no
PIA, comprovado por meio de relatórios avaliativos. Não se
restringe à reiteração da prática do ato infracional e dá ensejo
à substituição de medida (em caso de PSC), à internação
sanção (em caso de adolescentes cumprimento medida de LA
estabelecida por sentença) ou de revisão judicial da remissão e
retomada do processo judicial (no caso de PSC ou LA estabelecida
em cumulação com a remissão). Importa destacar que, segundo
compreensão jurisprudencial do STF, só se configura como
reiterado o descumprimento quando ele ocorre por três vezes.
Não se confunde com a reiteração da prática de ato infracional
(ver abaixo). Readmissão: é a nova Admissão de um adolescente
no Sistema Socioeducativo, que pode se dar de duas formas: por
reincidência do ato infracional nos termos do ECA: o(a) adolescente
já cumpriu uma medida em meio aberto anterior que já transitou
em julgado e retorna, pelo cometimento de um novo ato, para o
Sistema em Meio Aberto (seja para uma LA ou para a PSC). Inicia-
se uma nova medida com uma nova contagem de prazo, a partir
da data de readmissão.

b. Descumprimento da Medida - O(A) adolescente está cumprindo


uma medida em meio aberto em curso que ainda não se encerrou
e que, por algum motivo, foi interrompida por descumprimento e/
ou por uma internação/sanção. Inicia-se nova contagem de prazo
a partir da data de readmissão.

c. Continuidade de Medida - Nos casos de unificação de medidas,


a contagem do prazo considerará o tempo de medida já cumprido.

É importante conhecer alguns atores responsáveis pelos


encaminhamentos e procedimentos em relação à criança e ao adolescente
em conflito com a lei do Poder Judiciário, Ministérios Público, 6ª
Promotoria da Infância e da Adolescência, atores da Defensoria Pública,
a Proteção Social Especial da Assistência Social à Equipe de Referência
do Atendimento Socioeducativo.

40 | PSICOLOGIA JURÍDICA
a. Atores do Poder Judiciário - Cinco Varas da Infância e da
Adolescência, sendo que a 5ª Vara da Infância e da Adolescência
é o órgão do Poder Judiciário cearense responsável por
acompanhar a execução de todas as medidas socioeducativas, e
incluindo as medidas de responsabilidade do município, a LA e a
PSC. Para cada adolescente em cumprimento de medida em um
CREAS, deve existir um processo de execução de ato infracional
na 5ª Vara. É para o(a) juiz(a) desta vara que as equipes de
referência dos CREAS devem remeter seus relatórios acerca do
acompanhamento dos adolescentes, sendo deste juiz, também, o
poder de decidir sobre a extinção, manutenção ou transformação
da medida. A equipe técnica pode e deve manifestar sua opinião
acerca do encaminhamento a ser dado ao adolescente, mas o juiz
não é obrigado a segui-lo. A equipe técnica da 5ª Vara é a equipe
multiprofissional e transdisciplinar cuja função é oferecer ao juiz
de execução subsídios para a avaliação dos relatórios enviados
pelas equipes de referência dos CREAS, de modo a contribuir com
outros saberes na interpretação do magistrado.

b. Atores do Ministério Público - A 5ª Promotoria da Infância e


da Adolescência é a promotoria responsável por acompanhar os
processos de execução dos adolescentes sentenciados com o
cumprimento de medidas socioeducativas em Fortaleza, quer seja
ela em meio aberto ou em meio fechado. É para o(a) titular desta
promotoria quem os relatórios de execução das medidas devem
ser enviados, sempre que for necessário dar ciência ao Ministério
Público sobre a situação de um adolescente em cumprimento de
LA ou de PSC.

c. 6ª Promotoria da Infância e da Adolescência - É a promotoria


responsável por fiscalizar as políticas públicas municipais para a
infância e a adolescência, inclusive as medidas socioeducativas
em meio aberto de Liberdade Assistida e Prestação de Serviços à
Comunidade. É o(a) titular desta promotoria quem realiza visitas
de inspeção aos CREAS com intuito de monitorar o correto
funcionamento do serviço de atendimento socioeducativo em
face da lei.

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d. Atores da Defensoria Pública - o NUAJA - Núcleo de Atendimento
aos Jovem e Adolescente em conflito com a lei – é a unidade da
Defensoria Pública por acompanhar os processos de execução de
medidas socioeducativas, incluindo as de LA e de PSC.

e. A Proteção Social Especial da Assistência Social - A tipificação


nacional dos serviços socioassistenciais define o acompanhamento
da execução das medidas socioeducativas em Meio Aberto como
sendo de responsabilidade das secretarias de assistência social.
A orientação do MDS é para que esse acompanhamento seja
feito, preferencialmente, pelos Centros de Referência Especial de
Assistência Social (CREAS).

f. Equipe de Referência do Atendimento Socioeducativo - A


Equipe de Referência do Atendimento Socioeducativo é, dentro do
CREAS, a responsável pelo acompanhamento das medidas em
meio aberto. São seus membros, portanto, os encarregados de
ter o primeiro contato com o adolescente quando da execução da
LA e da PSC e, subsequentemente, de articular a Rede para o
cumprimento da medida, monitorando todo o processo e, sempre
que necessário, comunicando ao Sistema de Justiça.

3.1. A atuação do psicólogo com crianças e


adolescentes em conflito com a lei
Gallo (2008) explica que o aumento da violência produzida por
adolescentes, que ao mesmo tempo são vítimas de morte violenta, evidência
não apenas um problema de segurança pública, mas também de educação
e saúde pública. Dessa forma, o profissional de psicologia que acompanha
adolescentes em medidas socioeducativas deve estar contextualizado dentro
do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

A atuação do psicólogo com adolescentes em conflitos com a lei


deve considerar a existência histórica da construção da ideia do indivíduo
perigoso, criado por meio do discurso médico e judiciário, como forma de
enquadrar o indivíduo entre aquele que nem é louco e nem criminoso, mas
que pode futuramente se tornar perigoso (SANTOS, 2011). Há também a
ideia permanente no âmbito jurídico da perversidade, que era definida a
partir do exame médico-legal, como uma forma de definir a maldade, orgulho
ou obstinação que foram sendo organizados por meio dos modelos morais e
de família (SANTOS, 2011).

42 | PSICOLOGIA JURÍDICA
No contexto das medidas socioeducativas, o trabalho do psicólogo
deverá ser norteado com o envolvimento na construção de práticas que
possam efetivamente contribuir para a efetivação das políticas públicas
pautadas neste paradigma, articulando ações entre o Estado, a família
e a sociedade (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA - CFP, 2012).
Além disso, é dever do profissional ser capaz de garantir os direitos das
crianças e dos adolescentes como também ser um agente transformador
das instituições envolvidas, construindo, assim, novas mentalidades, que
geralmente encontram-se orientadas pela doutrina da situação irregular
(CFP, 2012).

Os programas de medidas socioeducativas encontram-se previstos


na política do Sistema Único da Assistência Social (SUAS), que conta
com diversos equipamentos, como o Centro de Referência da Assistência
Social (CRAS), que oferta serviços de Proteção Social Básica às famílias e
indivíduos em situação de vulnerabilidade social e o Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS), que oferta serviços de Proteção
Social Especial de Média Complexidade e oferece serviços especializados às
famílias e indivíduos que tiveram seus direitos violados. O CREAS possui
o Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida
Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de Serviços
à Comunidade (PSC). É dever do psicólogo que atua no âmbito jurídico
identificar estes equipamentos no seu território para que sejam realizados
os devidos encaminhamentos e as equipes multiprofissionais possam dar
seguimentos às suas atividades de acompanhamento dos envolvidos.

No Brasil, não é comum um juiz pedir avaliação psicológica antes


da aplicação da medida socioeducativa, algo bastante comum no Canadá
(GALLO, 2008). Geralmente, o que ocorre é uma avaliação psicossocial no
início do processo socioeducativo, realizada pela equipe técnica responsável,
somente depois que já foi aplicada a medida.

O psicólogo é o técnico de referência, seguindo a divisão territorial


estabelecida internamente pela Equipe de Referência. O técnico irá
acompanhar todos os adolescentes do território para o qual é referência,
desde a pactuação do PIA até a elaboração de seu relatório final, realizando
atendimentos individuais, coletivos, bem como visitas domiciliares e
institucionais para monitoramento do cumprimento do PIA. Além disso, o
técnico de referência também é responsável por garantir a boa comunicação
com as instituições parceiras da Rede de Apoio localizadas nos bairros para
os quais é referência, no que diz respeito aos encaminhamentos (referência)
dos adolescentes pelos quais é responsável e ao monitoramento desses
encaminhamentos (contra referência).

PSICOLOGIA JURÍDICA | 43
Nos atendimentos individuais com os adolescentes, o psicólogo
realizará para os quais não é referência para avaliação psicológica sempre que
solicitado por outro técnico da equipe. No apoio na articulação institucional, o
psicólogo irá apoiar os demais técnicos da equipe no contato com os órgãos
e serviços da rede de apoio voltados para a saúde mental, sempre que o
técnico de referência necessitar de apoio especializado.

4. O psicólogo que atua em projetos de lei:


uma área emergente

A lei, segundo Bicalho (2016), é uma prática social e deve ser tomada
em seu processo de construção e no qual a psicologia pode contribuir. O
psicólogo é, por muitas vezes, consultado como assessores de parlamentares,
é solicitado que ministre palestras em determinadas audiências públicas para
corroborar com a convicção particular dos parlamentares acerca da verdade
sobre as leis que eles desejam aprovar ou não (BICALHO, 2016). Quando
um determinado projeto de lei é controverso e chega à mídia nacional, os
psicólogos podem ser consultados acerca de determinado assunto e dessa
forma sua participação é mais potencializada.

Todo o processo para transformar um projeto em lei possui etapas


complexas, dentre elas estão as discussões com os setores envolvidos e,
por vezes, exige a presença de um especialista em um determinado assunto.
Este profissional deverá ser capaz de dialogar com os parlamentares ou
com as instituições envolvidas na tramitação legislativa (BICALHO, 2016). O
psicólogo jurídico dentro deste contexto deve atender a esta demanda que
corresponde ao seu exercício profissional. A função do profissional, neste
momento, é o acompanhamento e a proposição de leis. Bicalho (2016, p. 8)
explica ainda que:

A atividade legislativa – como atuação de uma Psicologia Jurí-


dica – configura-se pelo exercício de um poder discursivo. Não
necessariamente repressivo, mas como investimento à poten-
cialidade de bifurcações às práticas sociais que, cotidianamen-
te, são estabelecidas. Discursos performáticos e que, portanto,
merecem um pouco de nossa atenção.

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Dessa forma, o profissional envolvido com esta atividade
deverá, para além do seu saber, configurar-se de maneira que o
seu conhecimento seja produtivo para atender demandas sociais
entrelaçadas em um percurso histórico-ético-político. É preciso ainda
os profissionais observarem com atenção os discursos proferidos na
atividade legislativa e a quem eles atendem.

PRATIQUE
1. Qual o papel da rede social na execução de penas e medidas alternativas?

2. Dentre as razões apontadas para a reincidência criminal de egressos do sis-


tema prisional está o preconceito em relação a esta pessoa. Que sugestões
você apresentaria para atenuar este problema?

3. Como você avalia o sistema prisional brasileiro na atualidade?

4. Como você avalia as medidas de reinserção social do egresso do sistema


prisional?

5. O que caracteriza um trabalho interdisciplinar no campo do sistema judiciário,


considerando a interface entre psicologia e direito?

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RELEMBRE

REFERÊNCIAS

BARATTA, A. Criminologia Crítica e crítica do Direito Penal. Rio de Janeiro:


Revan, 2002.

RUSCHE, G. & KIRCHHEIMER, O. Punição e Estrutura Social. Rio de


Janeiro: Revan, 2004

FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes,1987.

Criminologias – Escola liberal Clássica e Criminologia Positivista

ANOTAÇÕES

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