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ANAIS

APRESENTAÇÃO

Estamos vivendo no Brasil um renascimento da chamada terceira força da


Psicologia, com um grande número de congressos, cursos de especialização,
encontros terapêuticos, etc. A Análise Existencial é uma das correntes que compõem
essa terceira força.
Há alguns anos atrás, a FEAD – Faculdade de Empreendedorismo e
Administração - começou a patrocinar congressos nessa linha, tendo organizado os
três primeiros em Belo Horizonte. No primeiro semestre de 2018, a Universidade
Federal de Minas Gerais abriu a primeira turma do Curso de Especialização em
Psicologia Clínica: Gestalt-terapia e Análise Existencial (CEPC), que busca
desenvolver um trabalho de sedimentação dessa abordagem, consolidando-se, assim,
como um pólo de produção, de fomento e de divulgação das abordagens humanistas e
fenomenológico-existenciais.
Estes Anais são uma coleção dos resumos dos trabalhos apresentados no IV
Congresso Internacional de Psicologia Existencial e VI Congresso Brasileiro de
Psicologia Existencial, cujo tema foi “Filosofia e Psicoterapia”, realizado nos dias 28 a
30 de setembro de 2018, no Centro de Atividades Docentes (CAD 1), na Universidade
Federal de Minas Gerais, campus Pampulha, em Belo Horizonte, MG. O objetivo
desse congresso foi apresentar ao público um fecundo diálogo entre Psicologia e
Filosofia, buscando explicitar como a psicoterapia tem na filosofia um dos seus
fundamentos.
Este evento foi uma realização do Laboratório de Análise de Processos de
Subjetividade – LAPS – do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas – FAFICH – da UFMG e do curso de Especialização em Psicologia
Clínica: Gestalt-terapia e Análise Existencial (CEPC).

Boa leitura!

2
REALIZAÇÃO

3
ORGANIZAÇÃO

Coordenação Geral
Profª. Drª. Claudia Lins Cardoso – UFMG
Prof. Dr. José Paulo Giovanetti - UFMG

Comissão Organizadora
Discentes da UFMG
Bernardo Augusto Wilke da Silva
Davi Cabral e Silva
Gabriela Cunha Gonçalves
Joana Buschini Brentano
Jordana Ribeiro Cocovick
Maria Clara Rabelo Ferreira Silva
Rodolfo Leal Silva
Stéfany Isabela Ferreira Camelo

Secretaria
Valteir Gonçalves Ribeiro - UFMG

Comissão Científica
Profª. Drª. Claudia Lins Cardoso – UFMG
Prof. Dr. José Paulo Giovanetti – FAJE
Profª. Drª. Maria Madalena Magnabosco - FUMEC

ÍNDICE

4
ÍNDICE

Resumos das mesas-redondas e conferências............................................ 9

Os desafios da psicoterapia no século XXI.......................................................10


Prof. Dr. Victor Amorim Rodrigues

In-sistir ou de-sistir? Heidegger e a ambiguidade do ek-sistir


humano..............................................................................................................12
Prof. Dr. José Carlos Michelazzo

Fenomenologia antropológica e a fundamentação das práticas clínicas: entre a


ciência e a técnica.............................................................................................13
Prof. Dr. Adriano Furtado Holanda.

A formação da matriz afetiva.............................................................................14


Prof. Dr. José Paulo Giovanetti

Neurociência e psicoterapia: a formação de matrizes.......................................15


Prof. Dr. Esdras Guerreiro Vasconcellos

Psicologia existencial e literatura.......................................................................16


Profa. Dra. Maria Madalena Magnabosco

O humano na obra de Clarice Lispector............................................................17


Profa. Me. Marília Murta de Almeida

Questões Clínica................................................................................................18
Prof. Me. Wilson Soares Leite

Resumo dos painéis........................................................................................19

Análise existencial do filme “Na Natureza Selvagem” baseada em Heidegger e


Frankl................................................................................................................ 20
Amanda D’Assumpção Oliveira Vilas Boas
Gustavo de Castro Oliveira
Ana Cláudia Bernardes Guimarães

O tempo Vivido no CTI e o ser-autêntico diante da angústia........................... 21


Paula Sampaio Parreiras

Crise do ser humano contemporâneo.............................................................. 23


Camila Campos Marçal da Cruz

5
Contribuições dos humanistas Paulo Freire e Carl Rogers para a formação em
psicologia escolar............................................................................................. 24
Evely Najjar Capdeville
Sônia dos Santos Osvaldo

Estudo fenomenológico sobre os motivos e a motivação: a busca de homens


por profissionais do sexo.................................................................................. 26
Bruna Alves Schievano
Tommy Akira Goto

O ser-no-mundo e o uso de drogas: um estudo de caso sobre o sentido do uso


de drogas na existência do Ser........................................................................ 28
Fernando Dório Anastácio

Percepção de crianças sobre o uso de medicamentos psicotrópicos no contexto


escolar.............................................................................................................. 29
Fulvia Cristina do Carmo Alves

Redução de danos e ayahuasca, uma aproximação compreensiva a partir da


fenomenologia heideggeriana........................................................................... 30
Lorena RonconBlas

Relato de experiência de plantão psicológico em uma clínica escola:


movimentos das plantonistas no tornar-se psicoterapeuta............................... 31
Edina Daiane Rosa Ramos.
Ana Laís Pales Pereira
Daniel Marinho Drummond

Luto, silêncio, compreensão e movimento: um estudo de caso no plantão


psicológico........................................................................................................ 33
Ana Laís Pales Pereira
Edina Daiane Rosa Ramos
Daniel Marinho Drummond

A repercussão inicial de um grupo de encontro sobre não monogamia na


cidade de Vitória da Conquista, Bahia.............................................................. 35
Ana Laís Pales Pereira.
Janaína Sampaio Bomfim
Daniel Marinho Drummond

Um estudo sobre a formação em psicologia: contribuições da fenomenologia-


antropológica de Edith Stein............................................................................. 37
Beatriz Oliveira Menegi
Tommy Akira Goto

Hierarquização das verdades: busca por diagnóstico X possibilidades de


enfrentamento no Plantão Psicológico............................................................. 39
Janaína Sampaio Bomfim
Ana Laís Pales Pereira
Daniel Marinho Drummond

6
Comportamento agressivo: um estudo de caso............................................... 41
Elisangela Gonzaga Boggione
Fernando Dório Anastácio

Morte, finitude e sentido da vida.......................................................................43


Marcelo Rufino Ferreira

Os sentidos atribuídos a existência em pacientes oncológicos........................44


Hellen Souza Dias
Kelly Quintão Sathler
Malu Egídio da Silveira Jabour

O propriamente humano: relacional, livre e inacabado.....................................45


Ávylla Soares Souza
Júlia Soares Dias Loyola
Rayra Emanuelle Soares Ruas

Luto e finitude....................................................................................................46
Evislaine Soares da Silva
Malu Egídio da Silveira

De pessoa para pessoa: a dimensão intersubjetiva na teoria da personalidade


de Carl Rogers..................................................................................................47
Luis Henrique Sobreira Maciel

A questão do encontro em uma experiência de plantão psicológico...............49


Fernanda Jaude Gradim

Leituras fenomenológicas de um caso clínico ficcional à luz da Gestalt-


terapia................................................................................................................51
Jordana Ribeiro Cocovick
Bernardo Augusto Wilke Silva

A atuação do psicólogo no centro de referência especializado de atendimento à


mulher em situação de violência doméstica......................................................53
Sandra Maria Hudson Flores

O Potencial transformador de um encontro emergido de uma relação


psicoterapêutica na abordagem fenomenológica-existencial: estudo de
caso...................................................................................................................55
Érica Silvana de Freitas Oliveira

A formação do psicólogo e as questões existenciais emergentes: uma


experiência de grupo de supervisão..................................................................56
Monique de Souza Vidal

A efetividade do atendimento psicoterapêutico infantil à luz da existencial: um


relato de experiência.........................................................................................58

7
Sueli Aparecida Silva
Mayara Durães Melo

O processo de finitude humana na perspectiva fenomenológico-existencial:


uma revisão de literatura..................................................................................59
Dalila de Moura Araújo
Elieth Fátima de Carvalho Santiago
Tatiane Dias Bacelar

A ressignificação da relação ser-no-mundo e seu potencial desenvolvedor na


psicoterapia de adolescentes............................................................................61
Igor Dutra Santos

A Comunidade no processo de formação pessoal: Edith Stein e Martin


Buber.................................................................................................................62
Bianca Gabrielle Ruas Souza
Janaina Ap. Mendonça Santos

Angústia e cubjetividade Contemporânea.........................................................63


Vinícius Adalberto Ribeiro

8
RESUMOS DAS MESAS-REDONDAS E CONFERÊNCIAS

9
Os Desafios da Psicoterapia no Século XXI

Victor Amorim Rodrigues


ISPA - Lisboa

A proposta para falar sobre os desafios da psicoterapia no século 21


transporta um pressuposto otimista: o de que a psicoterapia tem futuro, pelo
menos o suficiente para entrar bem dentro deste século. Não é óbvio que
assim seja, se pensarmos que estamos em plena Era da Técnica como a
designou Heidegger. Pensemos em todas as profissões que desapareceram
durante o século passado, tornadas obsoletas devido ao desenvolvimento
técnico. A título de exemplo já não há aguadeiros, tão importantes outrora,
desde que a água canalizada cobre a maior parte das habitações pelo menos
na Europa e no Brasil nos grandes centros urbanos. Quase não existem
leiteiros ou rapazes que distribuem jornais que faziam parte da paisagem
humana, quando vemos filmes dos anos 40, 50 e 60. Talvez em breve deixem
mesmo de existir jornais impressos! Se passearmos pelas ruas da chamada
"Baixa" lisboeta, reconstruída no século XVIII após o terramoto, vemos ruas
com os nomes das antigas corporações de artesãos que aí concentravam.
Nomes como rua dos douradores, correeiros, fanqueiros já nada dizem a um
cidadão do século XXI.
Neste panorama, a psicoterapia sofre dois tipos de desafios por parte da
Técnica que chamaríamos extrínsecos e intrínsecos. Quanto aos primeiros,
derivam diretamente da interposição dos meios técnicos entre a presença face
a face. O corolário lógico do afastamento progressivo dos psicoterapeutas,
relativamente aos pacientes, é o seu desaparecimento puro e simples. Já
existem aplicações que substituem a presença do psicólogo ou psicoterapeuta
em situações específicas. Podemos antecipar todas as possibilidades da
chamada realidade virtual. Por enquanto ainda principalmente voltada para os
jogos recreativos tal como imaginada por Spilberg no filme Ready Player One.
Os desafios intrínsecos não são menores e articulam-se com os anteriores.
Pensamos na transformação da criatividade e espontaneidade, próprias do
encontro psicoterapêutico, num planejamento descrito em manuais
estandartizados, prevendo tudo o que se vai passar, sessão a sessão. São
muito populares entre os psicoterapeutas principiantes, dado que reduzem a
ansiedade ligada às possibilidades de surpresas e perda de controle. A
psicoterapia transformada numa pura aplicação de técnicas estandartizadas
está pronta a, num passo seguinte, dispensar até a própria presença humana.
Talvez por tudo isto, já em 1992, a revista Psychotherapy publica um artigo
intitulado The Future of Psychotherapy da autoria de George Albee, da
Universidade de Vermont. O artigo consiste numa página em branco!
Poderemos aproximar o sentido desta página em branco do célebre quadro de
Kazimir Malevich, Quadrado branco sobre fundo branco, óleo sobre tela, de
1918, conservado no Museum of Modern Art, em Nova Iorque e que tanto
brado deu na época, permanecendo o protótipo de todos aqueles que recusam
o movimento de depuração progressiva vivenciado pela arte modernista.
A página em branco de 1992 remete para o quadrado branco sobre
fundo branco de 1918? A arte com décadas de avanço sobre a ciência? Talvez

10
apenas a arte consiga salvar a psicoterapia fazendo jus ao célebre verso de
Holderlin “aonde há perigo, cresce também o que salva”. Que sucederá se o
psicoterapeuta deste século renunciar ao agir como produção de um efeito
sobre o paciente? Resta o pensamento que nas palavras de Heidegger, logo
no início da Carta sobre o Humanismo, nos indica que “o pensar consuma a
relação do ser com a essência do homem”. Que melhor proposta para uma
psicoterapia do futuro?

11
In-sistir ou de-sistir? Heidegger e a Ambiguidade do Ek-sistir Humano

José Carlos Michelazzo

Dentre os pensadores do movimento da fenomenologia existencial,


Martin Heidegger talvez seja aquele que vai mais fundo na crítica à concepção
de Homem, tanto à antiga aristotélica ("Animal Racional"), mas especialmente
à moderna cartesiana ("Sujeito Pensante"), na medida em que promove a
desconstrução de seu caráter substancialista que outorga ao Homem a ideia de
posse, autonomia e segurança de seu próprio ser. No seu lugar, o filósofo
pensa o homem a partir das condições intrínsecas dadas por sua própria
existência constituída de uma profunda ambiguidade que, por sua vez, nasce
de seu próprio ser temporal e finito. Ao final da exposição serão dadas algumas
indicações de como este traço de ambiguidade, tal como pensa Heidegger, nos
ajuda a compreender a questão do sofrimento humano no horizonte da prática
clínica.

Palavras-chave: Heidegger. Existência. Sofrimento Humano.

12
Fenomenologia Antropológica e a Fundamentação das Práticas Clínicas:
entre a Ciência e a Técnica

Adriano Holanda
Universidade Federal do Paraná

Qual o “lugar” dos saberes “psi”? Qual seu objeto? Qual o estatuto
epistemológico de disciplinas como Psicologia, Psicopatologia e Psicoterapia?
Poderiam ser estas, consideradas como “ciências” ou apenas como disciplinas
técnicas? Partimos do necessário entrelaçamento entre um determinado “fazer”
e o “pensar” esse fazer. Deste modo, caso não se reconheça este
entrelaçamento, os diversos “fazeres”, derivados destas disciplinas, se
constituirão tão somente como ações técnicas, normativas e normatizantes,
desalojadas do seu próprio solo epistêmico, replicando teses e olhares
devedores de outros contextos científicos. Para se pensar o estatuto de ciência
das disciplinas ditas “psi”, consideramos algumas premissas e
direcionamentos, dentre estas é preciso revisitar seus fundamentos,
reconstituindo seu “objeto”, o sujeito humano. Como fundamento metodológico
e empírico, a Fenomenologia aparece como recurso necessário e evidente; e,
para tal, faz-se necessário reconstruir o campo, a partir de uma Fenomenologia
Antropológica. Assim, essa comunicação tem por objetivo revisitar autores que
contribuam para construir uma propedêutica para a Clínica.

Palavras-chave: Fenomenologia. Antropologia. Clínica. Epistemologia.

13
A Formação da Matriz Afetiva

José Paulo Giovanetti


Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia

O ser humano se estrutura ao longo de toda a sua vida. Desde o


nascimento vamos construindo um modo de ser. É ao longo da vida, por meio
das relações intersubjetivas vividas, que nós nos constituímos na pessoa que
somos. É das mais variadas experiências existenciais que explicitamos o nosso
ser. O que nos intriga é a seguinte questão: o que nos determina, o que nos
funda? Tentar dar uma resposta a essa questão é compreender o que está na
base de nosso existir. Muitos teóricos buscam, por meio dos mais diversos
pontos, responder a essa questão tão crucial na nossa vida, pois a resposta
pode lançar luzes sobre a estrutura humana e ajudar a melhor encarar os
desafios da dia-a-dia. Do ponto de vista de uma compreensão existencial do
viver, a estrutura emocional tem um peso significativo na construção do nosso
modo de ser. A reflexão, aqui apresentada, busca lançar uma luz sobre os
pontos essenciais na construção dessa base existencial do viver, pois nossa
perspectiva acredita que a qualidade da relação afetiva é a base de todo nosso
caminhar. Os afetos que entram em ação no início do processo de
desenvolvimento da pessoa contribuem de forma significativa para a segurança
emocional do ser humano e a partir daí, poder dar passos significativos no seu
caminhar. Buscaremos, assim, explicitar os tipos de afetos, implicados no início
de nossa jornada, que nos auxiliam a nos integram como seres humanos
capazes de construirmos um caminho mais saudável e pleno.

Palavras-chave: Afeto. Experiência Intersubjetiva. Caminhar Existencial.

14
Neurociência e Psicoterapia: a Formação de Matrizes

Esdras Guerreiro Vasconcellos


Universidade de São Paulo

Immanuel Kant (1724-1804) apontou a Intuição como uma das principais


fontes de Conhecimento. As grandes teorias psicológicas sobre os afetos
foram, primeiramente, intuídas por pensadores e filósofos. A moderna
Neurociência elucidou os processos fisiológicos que as sustentam. Ela não
criou novas teorias sobre nossos sentimentos e emoções, apenas demonstrou
que eles existem no substrato material e objetivo da rede neuroendócrina.
Comprovou que o subjetivo e o objetivo se integram para formar a unidade do
fenômeno Afeto e a relação Corpo-Psique. Atualmente, é possível “radiografar”
o caminho que as emoções trilham dentro do cérebro, sua localização e
“habitat” neural. Toda vez que elas surgem no campo psíquico ocorrem 2
processos básicos: a) evocam uma matriz de conexões neurais no hipocampo
e/ou no lobo pré-frontal e, b) é descarregada uma cascata de neurohormônios
estimulantes, os quais vão dar a cada afeto o colorido consciente da sensação.
Quando nos encontramos em interlocução com uma outra pessoa, ondas de
energia são transmitidas, reciprocamente, e geram, em ambos, estados
vibratórios. Dependendo da sinergia dessas ondas, constituem-se, então,
sensações e sentimentos que reforçam ou neutralizam os estados afetivos pré-
existentes. Simpatia, empatia, sinergia são estados afetivos transformadores
que devem ser praticados na psicoterapia. Eles são gerados pela linguagem
oral e pela metalinguagem da comunicação. Se antes sabíamos do poder
curativo da fala, hoje conhecemos como eles se processam subjetiva e
objetivamente. Com isso podemos afirmar que, sem sombra de dúvida, a teoria
está certa.

Palavras-chave: Psicoterapia. Formação de Matrizes. Afetividade.

15
Psicologia Existencial e Literatura

Maria Madalena Magnabosco


Universidade FUMEC

Tal como a filosofia existencialista, a literatura nasce do espanto


(thauma). Thauma, nome grego para espanto, etimologicamente significa ver
(theaomai). Toda visão requer um distanciamento, um ausentar-se do pé da
letra. O homem, quando se espanta, toma distância e estranha. Sem o
estranhamento ele não pode inaugurar seu ser-no-mundo.
A Literatura necessita ser acolhida como letra que não se traduz, pois
não é literal. É letra que insinua, que aponta, mas não define formas pois seu
objetivo é interagir e estabelecer um tempo dialógico com a história e a
memória entre autor e leitor. Esse movimento dialógico permite a liberdade da
significação e o respeito ao sentido do ser de cada um. Nesse sentido, a
Literatura permite à Ciência Psicológica se distanciar do saber racional,
intelectual, das teorias sistematizadas pelos métodos positivistas para uma
abertura vivencial de outros modos de ser e se colocar em relação com o
mundo.
O mundo, na acepção heideggeriana, é uma metáfora que permite ao
homem relembrar, renomear, renascer no sentido do ser. Ser que coexiste e
aprende ou não a habitar autenticamente sertão – mundo – casa.
Sertão – mundo – casa são metáforas que nos permitem compreender o
cuidar da existência. São insinuações que nos permitem distanciar, sair do pé-
da-letra para buscarmos e atualizarmos o sentido próprio no cuidado constante
da temporalidade humana.

Palavras-chave: Literatura. Metáfora. Literalidade. Cuidado.

16
O Humano na Obra de Clarice Lispector

Marília Murta de Almeida


Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) / Faculdade Jesuíta de Filosofia
e Teologia (FAJE)

A obra de Clarice Lispector é profundamente rica em temas de alcance


filosófico, e tenho defendido a ideia de que podemos extrair dessa obra toda
uma compreensão do mundo, com o ser humano aí inserido e também uma
certa visão do divino – algo que configuraria uma teo-cosmo-antropologia. Aqui
nos interessa perceber a visão de ser humano que podemos extrair dessa
obra. De saída, vemos um ser em constante relação com o que o cerca e, ao
mesmo tempo, consigo mesmo, num movimento em que interioridade e mundo
não subsistem um sem o outro, pelo menos o mundo tal como aparece ao
humano, que é, então esse ser que se vê no mundo e vê o mundo em si. Como
consequência dessa primeira afirmação, o humano se mostra então como um
ser que não se define por si mesmo, mas sim em relação com aquilo que não
é, e que o circunda e constrói, o que podemos chamar de figuras de alteridade
que, na obra clariceana, vão se desdobrar em figuras de animais, plantas,
água, o outro humano, o outro absoluto na figura de Deus ou da morte. Trata-
se também de um ser dotado de capacidade de compreensão, mas é uma
capacidade precária, que não dá conta de compreender a totalidade do que
existe e, assim, se vê permanentemente diante do mistério. Pensamento e
linguagem são limitados diante do que almejam alcançar. Tal limitação não é,
entretanto, algo uniformizado na experiência humana. Ao contrário, as
possibilidades de compreensão variam enormemente de pessoa a pessoa,
levando a uma profunda desigualdade, o que dá margem à dominação e à
exploração, assim como à hierarquia social perversa para com os que são
subjugados. Outro ponto que podemos aqui destacar é a ideia de que a partir
de uma experiência particular podemos de algum modo tocar no universal da
experiência humana. Assim, através de trajetórias vividas por personagens
específicos, Clarice Lispector em sua obra nos coloca diante de nós mesmos e,
mais do que isso, diante de uma representação universalizável do humano.
Farei aqui um percurso de construção da visão clariceana do ser
humano a partir de cinco obras: Os romances A maçã no escuro, A paixão
segundo G. H., Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, A hora da estrela, e
o conto “O ovo e a galinha”.

Palavras-chave: Ser Humano. Clarice Lispector. Figuras de Alteridade.

17
Questões Clínicas

Wilson Soares Leite


Universidade FUMEC

Tentaremos conversar, nesta mesa, sobre questões da Clínica que me


provocam reflexões, questionamentos, dúvidas, mesmo depois de 44 anos de
trabalho nesta área. Questões, muitas vezes, de ordem epistemológica, mas
que fazem muita diferença nas sutilezas dessa prática. Psicoterapia ou
análise? Diferenças e significados na clínica. Como situar o papel do
daseinsanalista? O que constitui a clínica? Sintomas ou foco da intervenção
clínica. Intervenção, interpretação ou provocação? Hermenêutica ou criação?
Cuidado, cura e saúde. Estratégias da clínica.

Palavras-chave: Psicologia Clínica. Psicoterapia. Foco Terapêutico.

18
RESUMO DOS PAINEIS

19
Análise Existencial do Filme “Na Natureza Selvagem” Baseada em
Heidegger e Frankl

Amanda D’Assumpção Oliveira Vilas Boas


Faculdade de Pará de Minas (FAPAM) - vilasboas.a@hotmail.com
Gustavo de Castro Oliveira
Faculdade de Pará de Minas (FAPAM) - gustavo.castro66@hotmail.com
Ana Cláudia Bernardes Guimarães
Faculdade de Pará de Minas (FAPAM) - anaclaudiabg@gmail.com

A pesquisa objetivou analisar aspectos existenciais, fundamentados em


Heidegger, filósofo existencial e Frankl, psicólogo humanista-existencial,
presentes no filme “Na Natureza Selvagem” (2007), baseado em história
verídica. Segundo Heidegger, a existência é constituída por dimensões tais
como: Ser-com: o ser se constitui em relação com o outro, em coexistência, no
qual há um encontro de singularidades; Liberdade: o Dasein é livre, é ser de
possibilidades que precisa escolher e ser responsável perante tais escolhas;
Ser-para-a-morte: o Dasein ao ser consciente da própria finitude, que faz parte
da vida, pode vivenciar angústia existencial, inclusive diante do fim dos projetos
e da perda de relações; Autenticidade: o Dasein somente é autêntico diante da
consciência da finitude e ao realizar um modo de ser pessoal na relação
consigo e com o mundo, um projeto existencial próprio e não impessoal. E
segundo Frankl, as pessoas possuem vontade de sentido que é exclusiva e
cabe a cada um se colocar no mundo para encontrar o sentido da vida e
realizá-lo. A busca do indivíduo por sentido é a motivação primária na vida.
Para ele, o vazio existencial é a perda da vitalidade ou vontade de viver em
função da não significação da existência. A ausência de sentido gera angústia
e sensação de desmotivação vital. Como resultados da análise do filme,
apreendeu-se que o personagem principal Christopher vivenciou angústia e
vazio existencial na relação com os familiares e a sociedade consumista, pois
não suportava uma vida em que o ter se sobrepunha ao ser. Assim, lança-se a
buscar um sentido para a própria vida e concretizar um projeto de vida de
modo autêntico, a partir do contato com a natureza, pleiteando chegar ao
Alaska. Durante a viagem, vivenciou a própria liberdade de poder escolher
entre permanecer na relação com os novos amigos ou continuar a seguir em
viagem, sozinho. Ao final do filme, ao longo do processo solitário de sua morte,
por envenenamento, teve consciência da própria finitude, da angústia e culpa
perante a impossibilidade de retornar à convivência com entes queridos e por
não ter mais tempo de compartilhar a rica experiência com a família. Por fim,
ele sinaliza: “a felicidade só é real quando compartilhada”.
Assim, conclui-se que Christopher, ao buscar um sentido para a vida na
relação com a natureza, pôde se descobrir e ressignificar os relacionamentos,
de modo a revivificar o amor pelos familiares. Assim, sua morte foi marcada por
um sentido existencial.

Palavras-chave: Frankl. Heidegger. Existência.

20
O Tempo Vivido no CTI e O Ser-autêntico Diante da Angústia.

Paula Sampaio Parreiras


paulatpo@hotmail.com
Hospital Santa Casa de Belo Horizonte

Introdução: Diante da experiência do adoecimento e da internação, a


passagem por um Centro de Terapia Intensiva – CTI – representa para
pacientes um período de contato direto com a angústia diante de privações e
limitações proporcionadas pelo ambiente e pela doença e a diminuição
significativa da autonomia diante da submissão a tratamentos invasivos e
decisões médicas. Uma das vivências destacadas em atendimento psicológico
envoltas pela angústia é a experiência da passagem e duração do tempo
durante a internação no CTI.

Objetivo: Buscou-se compreender a percepção da passagem e duração do


tempo em pacientes internados no CTI Clínico da Santa Casa de Belo
Horizonte e analisar a vivência temporal à luz da psicologia existencial-
fenomenológica.

Metodologia: Foram entrevistados 20 pacientes entre julho e outubro de 2017


através de entrevista semiestruturada elaborada pela autora. Participaram
pacientes de ambos os sexos, com idade mínima de 18 anos, internados no
setor sem alterações do nível de consciência há pelo menos três dias
consecutivos e com linguagem e cognição preservadas. Os dados foram
analisados através da metodologia qualitativa de Análise de Conteúdo.

Resultados: As unidades de sentido que surgiram das entrevistas foram


categorizadas em quatro temas: sensação da duração (em que 75% percebeu
o tempo lentificado); fatores facilitadores da experiência; fatores que dificultam;
resignação diante da internação. Percebe-se diante das experiências relatadas
a presença marcante da angústia de morte diante do conflito com o
adoecimento e da gravidade relacionada à internação no CTI. No tema
Resignação, é possível perceber dois tipos de posicionamento diante do
adoecimento: a aceitação da doença e do tratamento e a desresponsabilização
em um movimento de atribuir ao médico ou ao Divino a responsabilidade pelo
processo. Discute-se, a partir de tal tema, o posicionamento existencial
autêntico ou inautêntico dos pacientes diante da situação de internação e sua
relação com o conceito de ser-para-a-morte teorizado por Heidegger (2005),
bem como a questão da responsabilização e autonomia mesmo em situação de
vulnerabilidade e assujeitamento característicos da internação.

Considerações finais: Percebe-se que diante da angústia inerente à


internação no CTI, a busca de cada paciente por suporte existencial para
enfrentar a situação imposta se mostra única e pautada em seu contexto, sua
história e suas características próprias. Aponta-se para a importância do
suporte psicológico diante dos relatos de vivência de angústia mesmo em
pacientes considerados “tranquilos” e que não apresentam demanda
psicológica considerada urgente pelos membros da equipe.

21
Palavras-chave: CTI. Tempo Vivido. Estudo Qualitativo.

22
Crise do ser Humano Contemporâneo

Camila Campos Marçal da Cruz


Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG)
camilamarcalpp@gmail.com

Introdução. O avanço da globalização e a busca pelo progresso aceleraram o


processo de modernização, provocando mudanças profundas em todas as
esferas da vida humana. Tais mudanças afetaram desde as formas de
organização do trabalho e processos educativos, às formas de comunicação e
valores que norteiam as condutas pessoais e sociais.

Objetivo: Essa comunicação tem como objetivo apresentar e analisar os


impactos dos valores e do modo de organização da sociedade contemporânea
na construção subjetiva do ser humano e na sua busca por sentido.

Metodologia: Parte de uma pesquisa mais ampla, que teve como metodologia
uma revisão bibliográfica, sustentada e orientada pelo marco teórico da
psicologia fenomenológica existencial de Edith Stein e Viktor Frankl e no
pensamento dos filósofos Bauman e Lipovetsky.

Resultados: Apresenta-se como resultado a compreensão da atualidade como


uma sociedade que está espiritualmente doente. O ser humano possui uma
estrutura transcendental e se constitui antropologicamente a partir de uma
articulação entre as suas dimensões biológica, psíquica, espiritual e social.
Porém, o ethos ocidental contemporâneo, sustentado pelos axiomas da
racionalidade instrumental, do individualismo moderno e do consumismo, ao
negar essa estrutura e a necessidade de cada pessoa de sentido e de
compreensão em sua totalidade, levaram ao aumento do adoecimento mental e
da violência. Neste trabalho, apresentamos como podem ser percebidos os
impactos dessa fragmentação em cada uma das dimensões humanas, bem
como a necessidade do resgate da dimensão da alteridade como única
possibilidade de superação dessa crise ontológica atual. Apresenta como

Conclusão: Concluímos que é importante retomar a discussão sobre o que


nos constitui enquanto seres humanos. Sem uma antropologia humana clara,
não é possível pensar pedagogias e nem intervenções psíquicas para superar
a atual crise existencial. Sem o reconhecimento de que nos constituímos
através das alteridades, seremos coniventes com o crescimento de uma
interioridade egoísta e intolerante com as diversidades e por sua fragilidade,
produtora de um vazio existencial e de uma violência cada vez maior.

Palavras-chave: Psicologia fenomenológica existencial. Dimensão espiritual.


Crise

23
Contribuições dos Humanistas Paulo Freire e Carl Rogers para a
Formação em Psicologia Escolar

Evely Najjar Capdeville


Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais - FCMMG / Associação
Brasileira de Ensino de Psicologia - ABEP Minas
evelyncap@hotmail.com

Sônia dos Santos Osvaldo


Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais - FCMMG
soniasantosw@gmail.com

Introdução: A Psicologia Escolar constitui uma área de atuação tradicional


para a atuação profissional. Atualmente temos acompanhado o surgimento de
um conjunto de Projetos de Lei (PL’s) no Senado e na Câmara Federal, bem
como em instâncias legislativas municipais relacionadas às propostas que
visam inserir a obrigatoriedade da assistência psicológica e a orientação de
problemas relacionados à queixa escolar e transtornos de aprendizagem,
sejam de ordem cognitiva ou emocional, relacionados ao desenvolvimento da
criança e do adolescente, no contexto de escolarização.

Objetivo: Considerando que atuação da (o) psicóloga (o) no âmbito da


educação deve estar voltada para a compreensão do processo de ensino
aprendizagem, e colaboração para as relações intra e interpessoais no
contexto escolar, em interface aos contextos político, econômico, social e
cultural, este trabalho pretende apresentar as contribuições dos humanistas
Paulo Freire e Carl Rogers para a formação da (o) Psicóloga (o) Escolar.

Metodologia: O desenho metodológico deste artigo foi constituído a partir de


pesquisa de revisão bibliográfica, desenvolvida a partir de textos, dissertações,
teses e artigos científicos, nas bases de dados Scielo, Pepsic, Google
acadêmico. A escolha do corpus da pesquisa incluiu todos os materiais
encontrados com base nos descritores: escola, aluno, educação,
aprendizagem, Carl Rogers, Paulo Freire, psicologia humanista, psicologia
escolar; sem recorte no período de publicações.

Resultados: Esses autores, representantes significativos do pensamento


humanista, são apresentados em suas especificidades, ou seja, Paulo Freire
dialogando com o campo da educação e Carl Rogers com o campo da
Psicologia. São apresentados breves relatos da biografia de cada autor, alguns
conceitos e principais contribuições.

Conclusões: O artigo reafirma o compromisso da (o) Psicóloga (o) com a


construção de um projeto político-pedagógico emancipador, a
indissociabilidade da relação entre teoria e prática na atuação da (o) Psicóloga
(o), a responsabilidade social e política com a democratização da sociedade.
Apresenta desafios e possibilidades para a atuação profissional, tendo em vista
o contexto atual de precarização dos processos de escolarização. A pesquisa
permitiu reconhecer pontos de convergência entre Paulo Freire e Carl Rogers,

24
bem como desenvolver algumas diretrizes para a formação e a atuação da (o)
Psicóloga (o) Escolar de orientação humanista.

Palavras-chave: Formação em Psicologia. Humanismo. Psicologia Escolar.

25
Estudo Fenomenológico sobre os Motivos e a Motivação: a Busca de
Homens por Profissionais do Sexo

Bruna Alves Schievano


Universidade Federal de Uberlândia
brupsico11@hotmail.com

Tommy Akira Goto


Universidade Federal de Uberlândia
prof-tommy@hotmail.com

Introdução: A procura por profissionais do sexo é ainda um fato significativo


em muitos contextos sociais, econômicos e culturais. Se tomarmos o território
brasileiro pode-se dizer que a prostituição acompanha desde o período
colonial, sendo no século XVIII, com a vinda D. João Pedro ao Brasil, que
surgem as primeiras casas de prostituição em São Paulo.

Objetivo: Entendendo que a prostituição feminina tem seu lugar na história das
relações humanas, essa pesquisa teve o intuito de analisar os motivos e as
motivações dos homens na busca dessas profissionais do sexo. Uma das
contribuições ao conceito de motivação foi desenvolvida pela filósofa e
fenomenóloga Edith Stein (1891-1942). Para Stein, constituem e atuam
conjuntamente no indivíduo o psíquico e o espiritual. Em sua investigação com
respeito à motivação, a fenomenóloga apresenta esta como causalidade
psíquica que baseia o ato livre e indica saídas para o problema da liberdade no
homem, indicando perspectivas para se superar o determinismo psicofísico, tal
como defende a Psicologia científica.

Metodologia: Escolheu-se nesse estudo o método fenomenológico empírico


de Amedeo Giorgi, planejando-se uma pesquisa qualitativa do tipo
fenomenológico-empírico. Participaram sete homens maiores de 18 anos,
clientes dessas profissionais. As entrevistas foram áudio-gravadas, transcritas
após assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e pautadas
na pergunta orientadora: “Para você, o que te leva a buscar profissionais do
sexo?”. Seguidamente, tais relatos percorreram um processo gradual de quatro
passos em concordância com o método fenomenológico empírico. Para a
análise, foram destacados os aspectos comuns de todas as entrevistas
(invariantes) e também as particularidades (variantes), a fim de compreender a
totalidade das vivências relatadas.

Resultados parciais: Como invariante, encontramos a satisfação sexual


(sentimento sensível), e como variantes encontramos: menor dispêndio afetivo
e econômico dessas relações; liberdade oferecida pelas profissionais;
possibilidade de eleger a profissional de preferência; curiosidade;
entretenimento e diversão; possibilidade de alívio do estresse; conhecer novas
mulheres; diferença na autoestima; saída da monotonia e correria do dia a dia;
singularidade do encontro com a profissional e por último: não envolvimento
afetivo.

26
Considerações finais: Tendo analisado o invariante, seguindo como
referencial a análise fenomenológica de pessoa humana de Edith Stein,
consideramos que o invariante sentimento-sensível, ou seja, a satisfação
sexual, temos uma vivência que possui uma tendência não motivada, isso
porque predomina o impulso psíquico (desejo sexual), em direção a uma
possível experiência de satisfação corporal, prazer.

Palavras-chave: Edith Stein. Método fenomenológico-empírico. Psicologia


fenomenológica.

27
O Ser-no-mundo e o Uso de Drogas: um Estudo de Caso sobre o Sentido
do Uso de Drogas na Existência do Ser.

Fernando Dório Anastácio


nandodorio@yahoo.com.br

Introdução: Data-se mais remotamente o uso de drogas em 10.000 A.C., de


forma que o consumo de tais substâncias acompanharam todo o processo
evolutivo das civilizações, utilizadas de diversas maneiras, tais como: em rituais
religiosos, de forma recreativa, com finalidade medicinal, etc. Tal utilização
possui para os usuários diversas funções, entre elas destaca-se àquela que é
associada à redução da angústia do homem em relação a sua existência e das
escolhas envolvidas na mesma, influenciando o modo de se estabelecer como
ser-no-mundo a partir da relação com o outro. Assim, compreende-se que a
existência humana se dá a partir de sua subjetividade, das vivências e das
experiências que se tem com o mundo, de forma que o ser não está apenas
localizado, mas possui uma relação com esse mundo.

Objetivo: Este estudo teve como objetivo compreender a vivência do uso de


drogas por meio de um caso clínico atendido em um estágio supervisionado na
Clínica Escola do Centro Universitário Newton Paiva e a articulação teórica
com a fenomenologia existencial.

Metodologia: Para tanto, foi utilizada a descrição dos atendimentos clínicos


realizados no período de maio a novembro de 2016, a fim de estruturar um
estudo de caso. Considerou-se a historicidade do cliente no que diz respeito ao
consumo de substâncias psicotrópicas, preservando o sigilo ético. O método
fenomenológico foi premissa para investigar a realidade singular deste cliente.

Resultados: Durante o acompanhamento deste paciente, pelo período de dois


semestres foi possível, a partir dos relatos, compreender o sentido do uso de
drogas nos diferentes contextos vivenciados por ele, dos quais se destacava os
relacionados a festas familiares –uso de LSD, aos conflitos existentes no
relacionamento – uso da maconha, e durante desenvolvimento das atividades
profissionais. Com a continuidade do atendimento, foi possível reconhecer
mudanças que possibilitaram uma compreensão das funções dadas por ele ao
uso de drogas e como estas influenciavam no seu modo de ser-no-mundo e a
forma a qual ele se relacionava com o outro.

Considerações finais: Por meio da compreensão dos fenômenos


apresentados pelo paciente, foi possível identificar as funções estabelecidas
por ele em relação ao uso de drogas, sendo as principais voltadas para a
redução da angústia em relação aos conflitos existentes no seu dia-a-dia, como
também em relação ao estabelecimento de relações com o outro, em que nos
ambientes sociais o uso de substâncias era necessário para que fosse
suportável para o paciente permanecer naqueles espaços.

Palavras-chave: Ser-no-mundo. Drogas. Clínica.

28
Percepção de Crianças Sobre o Uso de Medicamentos Psicotrópicos no
Contexto Escolar

Fulvia Cristina do Carmo Alves


Universidade do Vale do Rio Doce
cristina.fulvia@gmail.com

Introdução: Segundo dados do Ministério da Saúde de 2015, constata-se que


o uso da medicação psicotrópica entre as crianças em fase escolar tem se
tornado uma constante. O uso abusivo deste tipo de medicação é conhecido
como medicalização (termo entendido aqui como consumo abusivo e por vezes
até desnecessário). O fenômeno da medicalização pode perpassar o
imaginário da criança, podendo ser registrado como uma experiência positiva
ou negativa, dependendo da maneira como os adultos (família, escola e
profissional da saúde) nomeia a experiência do uso do psicotrópico feito pela
criança. Parte-se da hipótese de que o uso abusivo de psicofármacos na
infância pode impactar na qualidade de vida das crianças usuárias, podendo
acarretar prejuízos escolares, emocionais, psicológicos e cognitivos a elas.

Objetivo: O estudo propõe conhecer como as crianças percebem o uso de


medicamentos e os possíveis impactos da medicalização no contexto escolar.

Metodologia: Foi realizado uma revisão bibliográfica com base em autores que
discutem a medicação enquanto objeto de consumo permanente da população
infantil no território escolar.

Resultados: Existe a necessidade de realizar uma análise sócio-histórica da


infância para compreender o processo de medicalização infantil na atualidade,
fazendo uma correlação com o modo de ser infantil na contemporaneidade e a
produção de adoecimento psicológico enquanto um produto cultural e
econômico. Reflete-se que a medicalização pode ser um tipo de disfarce da
existência humana e um dispositivo de disciplina, percebido assim pelos
adultos que se relacionam com a criança. Torna-se fundamental compreender
o território escolar enquanto dimensão simbólica, identificando que as
territorialidades construídas na escola são vividas como um movimento
constante e dinâmico.

Conclusões: Assim, torna-se de fundamental importância compreender o


fenômeno da medicalização em crianças pelo viés da própria criança, dando a
ela o espaço, voz e vez para expressar como ela percebe o uso da medicação,
levando em consideração os possíveis impactos disso no processo de ensino-
aprendizagem, nas suas relações sociais e na dinâmica familiar desta criança.

Palavras-chave: Medicalização. Criança. Escola.

29
Redução de Danos e Ayahuasca, uma Aproximação Compreensiva a
partir da Fenomenologia Heideggeriana

Lorena RonconBlas
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde
lorenarblas@gmail.com
msodelli@pucsp.br

Introdução: Este trabalho procura perspectivas que coloquem entre


parênteses a existência do dependente para que se possa pensar num cuidado
preocupado com a individualidade do usuário. Para isto, retoma conceitos da
fenomenologia heideggeriana como eixo compreensivo de homem, e seu
estudo da ontologia “a disciplina filosófica que estuda o ser dos entes”
(GIACOIA, 2013, p.53). Ente significa aquilo que é ou existe. Visando
determinar as características que possibilitam algo ser o que é. Além de
investigar a ayahuasca como uma possibilidade de redução de danos, desta
forma, retoma o que seria a redução de danos em uma retrospectiva histórica e
busca compreender o que é a ayahuasca e como ela é pensada nos dias
atuais.

Objetivo: Foi pesquisado como a ayahuasca poderia ser utilizada no cuidado


da dependência química, como forma de redução de danos.

Método: Esta pesquisa se deu através da entrevista reflexiva, em um estudo


de caso de um participante, desenvolvida por Szymanski (2002). A análise das
entrevistas foi realizada segundo o método elencado por Sodelli (2006, p. 30),
balizado numa interpretação hermenêutica. O participante da pesquisa foi uma
pessoa que tem contato com o trabalho de redução de danos com ayahuasca.
O contato foi feito via e-mail e a entrevista se deu em um lugar reservado e
seguro, com o intuito de manter o sigilo.

Resultados: A análise da entrevista sugere que o uso ritualístico de ayahuasca


pode contribuir para que o usuário repense a sua relação com o abuso de
drogas, reduzindo danos. De acordo com Santos (2013) a interação do chá
com o organismo humano é o que possibilita a expansão da consciência, ou
seja, a experiência extra cotidiana. A ayahuasca mostra coisas ao usuário para
que ele mesmo possa de decidir quanto ao tipo de uso de drogas que faz. De
acordo com Sodelli (2015) é tentar junto com o outro construir um uso mais
próprio, mais livre e consciente, ou ainda, até mesmo interromper o uso.

Conclusões: A redução de danos não tem a intenção de tornar alguém


abstinente, mas sim de criar um consumo mais consciente. Para tanto, a
fenomenologia serviu de base para abrir a possibilidade de pensar no mundo
do dependente químico e pensar em redução de danos. Tanto a redução de
danos quanto a fenomenologia têm a preocupação de colocar o indivíduo como
dono de seu próprio discurso e de respeitar e garantir esse diálogo.

Palavras-chave: Fenomenologia. Redução de danos. Ayahuasca.

30
Relato de Experiência de Plantão Psicológico em uma Clínica Escola:
Movimentos das Plantonistas no Tornar-se Psicoterapeuta

Edina Daiane Rosa Ramos


Ana Laís Pales Pereira
Daniel Marinho Drummond

Introdução: O plantão psicológico se caracteriza como uma modalidade de


atendimento que possibilita facilidade de acesso ao serviço psicológico, pois
caracteriza-se pelo atendimento imediato, sem marcação prévia, o qual visa o
movimento da pessoa atendida, diante de sua demanda, sem a obrigatoriedade
da psicoterapia continuada.

Objetivo: Descrever a experiência de atendimento no plantão psicológico na


abordagem Fenomenológica Existencial Humanista de duas alunas do curso de
Psicologia no Núcleo de Práticas Psicológicas da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (NUPPSI), em Vitória da Conquista - BA.

Metodologia: Foi realizada leitura fenomenológica dos relatórios produzidos de


103 atendimentos, dentre pessoas que retornaram ou não ao atendimento com
estas duas estagiárias em uma janela temporal de 18 meses. Os relatórios
continham a descrição do atendimento, a demanda apresentada, possíveis
intervenções, o movimento da pessoa atendida e das estagiárias. Focou-se
neste trabalho na compreensão do movimento das estagiárias. Na escuta
centrada na pessoa foram usadas as atitudes facilitadoras de Carl Rogers, de
forma não diretiva: empatia, consideração positiva incondicional e congruência.

Resultados: O processo permitiu praticar habilidades aprendidas durante as


aulas teóricas, fazendo com que tivessem um olhar reflexivo para seus
atendimentos e dos demais colegas de plantão, desenvolvendo
progressivamente atitudes que facilitaram a escuta e o movimento do outro,
respeitando eticamente seu posicionamento e buscando com o mesmo um
encontro significativo. Progressivamente foram se centrando mais nas pessoas
atendidas do que na preocupação com o processo de atendimento em si e com
suas preocupações pessoais. O encontro semanal com supervisor e colegas
plantonistas permitiu movimentos de revisão e ampliação da compreensão do
papel de terapeuta e a lidar com o medo, características e potencialidades
pessoais de cada estagiária. Aprender a identificar movimentos na pessoa
atendida diante da demanda apresentada nos fez compreender o plantão como
um encontro potente e único, pela oportunidade ali permitida e pela
possibilidade do não retorno da pessoa atendida, fator este de grande
inquietação inicial. Dessa forma, foi identificado o potencial de auto atualização
das estagiárias diante de sua experiência, movimentando-as, assim, no
entendimento das potencialidades do encontro terapêutico centrado na pessoa.
Além disso, o plantão e a abordagem já citada possibilitam não somente uma
modificação do terapeuta em si, mas do indivíduo como um todo.

Considerações finais: O plantão psicológico proporciona ao estudante


praticar a abordagem teórica, compreendê-la melhor e desenvolver-se como
31
pessoa e como psicoterapeuta, além de proporcionar à população um
atendimento imediato.

Palavras-chave: Plantão psicológico. Formação de psicoterapeutas.


Abordagem Centrada na Pessoa.

32
Luto, Silêncio, Compreensão e Movimento: um Estudo de Caso no
Plantão Psicológico

Ana Laís Pales Pereira


Edina Daiane Rosa Ramos
Daniel Marinho Drummond

Introdução: Este resumo se refere ao relato de experiência realizado no


Plantão Psicológico do Núcleo de Práticas Psicológicas da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia. Duas sessões ocorreram na abordagem
Fenomenológica Centrada na Pessoa qual se orienta a partir das três atitudes
identificadas por Carl Rogers visando a retomada da tendência atualizadora
pela pessoa: empatia, congruência e consideração positiva incondicional.

Objetivo: Demonstrar, a partir do relato, como tais atitudes foram efetivas para
o desenvolvimento da pessoa.

Metodologia: A empatia consiste em se colocar no lugar do outro, acessar seu


mundo fenomênico e informar o que foi percebido. A consideração positiva
incondicional é compreender o jeito de ser da pessoa como possibilidade
humana, que faz sentido em seu mundo fenomênico, evitando julgamentos
externos. A congruência possibilita ao terapeuta ser quem é, sem se omitir,
mas também sem impor suas crenças. MM (pessoa atendida no plantão)
estava há uma semana sem conversar e se alimentava pouco. Na sessão
permaneceu em silêncio por um longo período. Então, foi dito que a mesma
poderia permanecer calada, mas que dessa forma seria difícil compreender o
que acontecia com ela. MM informou, então, que estava sofrendo muito desde
a morte do pai, que representava tudo para ela. Havia parado de falar, pois,
diante de sua tristeza, as pessoas afirmavam que ela deveria “seguir a vida”, o
que provocava mais sofrimento.

Resultados: A plantonista percebeu que MM queria mostrar como o pai tinha


sido importante para ela e como perdê-lo era sofrido, que não buscava
exatamente alívio da dor, pois sentir a dor da perda também indicava a
importância da sua relação com o pai, e isso precisava ser ouvido e
reconhecido, e assim o fez, retornando para MM suas impressões. Nesse
momento, MM informou que era exatamente como estava sentindo, e que
sabia que precisava seguir com a sua rotina. Na semana seguinte MM retornou
para dizer que estava conseguindo lidar com o sofrimento e havia voltado a
conversar e a trabalhar. Disse que naquele espaço havia encontrado uma
escuta diferente, pois a plantonista não a julgou nem disse o que deveria ser
feito, que havia compreendido e respeitado a sua dor e a importância da sua
relação com o pai.

Conclusão: É possível verificar que, ao utilizar as três atitudes, centrar na


pessoa, compreender sua demanda, possibilitou o movimento de M.M diante
do seu sofrimento e da compreensão do mesmo.

33
Palavras-chave: Plantão Psicológico. Abordagem Centrada na Pessoa.
Tendência atualizadora.

34
A Repercussão Inicial de um Grupo de Encontro sobre não Monogamia na
Cidade de Vitória da Conquista, Bahia

Ana Laís Pales Pereira


Janaína Sampaio Bomfim
Daniel Marinho Drummond

Introdução: Relata-se a experiência inicial de Estágio Específico, no curso de


Graduação em Psicologia, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
que tem como base teórica a realização de grupos de encontro (Rogers, 1972).

Objetivo: Relatar repercussões causadas pela divulgação nas redes sociais e


em espaços físicos da Universidade de cartaz convidando o público a
conversar semanalmente sobre “Não Monogamia”, tema presente em vivências
sociais contemporâneas e históricas, proposto por duas estagiárias.

Metodologia: Foi realizada leitura fenomenológica de Ofício do Ministério


Público da Bahia (MP/BA), que solicitava posicionamento acerca da existência
deste grupo, buscando apreender a compreensão da finalidade do grupo
apresentada neste documento, e compará-la com a finalidade conceitual de um
grupo de encontro.

Resultados: O ofício, gerado a partir de uma denúncia anônima, alegava que


ao divulgar e realizar o grupo estar-se-ia “promovendo” a não-monogamia (o
que seria contra um princípio constitucional), expondo adolescentes em
desenvolvimento a tema subversivo inapropriado para a idade (infringindo o
Estatuto da Criança e do Adolescente) e que não poderia ser realizado por
entidade pública correndo o risco de improbidade administrativa,
recomendando assim sua interrupção. Percebe-se como tema central da
denúncia a alegação de “promoção” da “não monogamia”. Essa percepção é
contrária à finalidade dos grupos de encontro que se dão como construção
coletiva pelos participantes, sendo facilitados pelo(s) terapeuta(s). O objetivo
não é promover o tema, mas possibilitar aos participantes se expressarem
sobre um tema existente, proporcionando um espaço de compartilhamento de
vivências, filosofias e desenvolvimento pessoal a partir do movimento em
grupo. O grupo é aberto para pessoas a partir de 12 anos, sendo que pessoas
com menos de 18 necessitam da autorização presencial do responsável legal.
Os participantes são livres para falarem do modo que preferirem acerca do
tema, não havendo julgamento das facilitadoras acerca de opiniões, conceitos
e sentimentos, compreendendo que existem mundos fenomenológicos
diferentes e prezando pela horizontalidade na relação terapêutica. Foi
elaborada resposta à solicitação do MP/BA com considerações pertinentes à
psicologia e ao direito.

Considerações finais: Verificou-se o desconhecimento do MP/BA sobre


grupos de encontro e a necessidade de explicitar o objetivo destes. Além disso,
observa-se como a discussão livre de um tema pode ser confundida com
doutrinação e infração legal.

35
Palavras-chave: Grupos de encontro. Não monogamia. Ministério Público.

36
Um Estudo sobre a Formação em Psicologia: Contribuições da
Fenomenologia-antropológica de Edith

Beatriz Oliveira Menegi


Universidade Federal de Uberlândia
beatrizmenegi@gmail.com

Tommy Akira Goto


Universidade Federal de Uberlândia
prof-tommy@hotmail.com

Introdução: A crise no mundo moderno atinge a humanidade nos mais


diversos aspectos, principalmente no que diz respeito à educação, de modo
que o sistema educacional tem passado por dificuldades, e têm sido
necessárias diversas reformas em seus projetos e métodos, na tentativa de
melhorar e humanizar os processos de formação. Posto isso, o presente
estudo propôs-se a pensar na formação de psicólogos, considerando o
contexto de emergência dos cursos no Brasil e as maiores demandas da
atuação.

Objetivo: A pesquisa tem por objetivo compreender como se estabelece o


processo de formação, em especial de psicólogos, utilizando-se das
contribuições da Fenomenologia de Edmund Husserl (1859-1938) e Edith Stein
(1891-1942).

Metodologia: O método empregado para este estudo é de cunho qualitativo-


bibliográfico, permitindo um estudo a partir das obras dos autores
selecionados, com base teórica na Fenomenologia. Foram realizadas quatro
etapas: a compreensão da Fenomenologia e Psicologia Fenomenológica;
descrição e concepção de pessoa humana; a questão da formação humana e a
análise da formação em psicologia.

Resultados: Buscou-se compreender, a partir do surgimento da


Fenomenologia de Husserl, sua relação com a Psicologia quanto ciência,
compreendendo também a ciência fenomenológica como método. Edith Stein,
discípula de Husserl, em suas contribuições à fenomenologia desenvolveu sua
visão de humano, o compreendendo como estrutura complexa dotada de
corpo, alma e psique, também teorizando acerca da formação humana, que
deve ser integral. A formação humana é compreendida como um continuo
processo de atualização das potencias do sujeito. Considerando-se também o
ideal de formação fenomenológico em que se considera a integralidade do ser
na formação da pessoa, as Diretrizes Curriculares para os cursos de
graduação (2004) recomendam que a formação do psicólogo deve ser básica,
sólida, científica e generalista e que contemple, em nível informativo e analítico,
as principais abordagens formadoras do pensamento psicológico
contemporâneo e, que a atuação deve acontecer em “diferentes contextos”.

37
Considerações Finais: Como mostra a avaliação do desempenho dos
estudantes de psicologia nas provas do Enade, há uma deficiência na
formação através dos baixos desempenhos como exposto por Silva e Mourão
(2018). A orientação pedagógica de cunho fenomenológico compreende que o
ato educacional precisa estar fundamentado na formação da pessoa e, para
isso deve ir além do ensino teórico e prático de certos conteúdos, quer seja,
implica em uma formação global do ser humano que envolva suas disposições
corporais, psíquicas e espirituais.

Palavras-chave: pessoa humana. Curso de formação. Psicólogo.

38
Hierarquização das Verdades: Busca por Diagnóstico X Possibilidades de
Enfrentamento no Plantão Psicológico

Janaína Sampaio Bomfim


Ana Laís Pales Pereira
Daniel Marinho Drummond

Introdução: Este trabalho é um recorte de um projeto de Plantão Psicológico,


que ocorre no Núcleo de Práticas Psicológicas, a clínica-escola da
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, em Vitória da Conquista - BA.

Objetivo: Demonstrar, a partir da vivência de duas plantonistas da equipe, a


hierarquização de saberes que existe nas pessoas que buscaram o serviço de
plantão e o movimento que estas fizeram a partir da vivência de uma escuta
Centrada na Pessoa (Rogers, 1975).

Metodologia: De novembro de 2016 a julho de 2017 foram realizados 35


atendimentos, sendo estes de 10 homens, com idades entre 13 e 58 anos, e 25
mulheres, de 12 a 64 anos, relatados nas supervisões e por escrito. Estes
relatórios foram sistematizados e submetidos à leitura fenomenológica visando
identificar a demanda inicial apresentada e se a mesma se manteve após a
escuta não diretiva.

Resultados: Foi possível perceber que em 25 atendimentos, sendo (19 com


adultos e 6 com adolescentes), inicialmente, as pessoas buscavam
diagnósticos que explicassem seus sentimentos ou fórmulas que as levassem
a um enquadramento social, como forma de resolução para o que
consideravam problemas. Queriam nomear, conceituar, o que descreviam
sentir (no caso dos adolescentes essa vontade era expressa pelos
responsáveis) e serem ensinadas a lidar com aquelas questões. Os outros 10
atendimentos apresentaram demandas iniciais diversas e foram separados
para outro estudo. Havia uma expectativa de que caberia ao plantonista
atender a estas demandas conforme apresentadas, diagnosticando e
ensinando a lidar. Esta expectativa é contrária à prática ocorrida no plantão,
pois acredita-se que existem diversas formas de se pensar e viver no mundo,
na qual cada indivíduo apreende a realidade fenomenologicamente e se
posiciona existencialmente seguindo diversos critérios e possiblidades. A partir
da escuta não diretiva, com base na empatia, congruência e consideração
positiva, as atitudes das estagiárias permitiram às pessoas atendidas
reproporem suas demandas. Desse modo, mesmo não recebendo as respostas
às quais buscaram, houve movimentos significativos na maioria das pessoas
atendidas, que repropuseram suas demandas, ampliaram sua capacidade de
falar de si, se implicarem com a própria experiência e a leitura desta e a
proposição de movimentos/soluções diante das próprias questões.

Considerações finais: Verificou-se que a escuta Centrada na Pessoa permitiu


uma horizontalidade no encontro com as plantonistas (em oposição a uma
hierarquização do saber), facilitando a auto-atualização das pessoas atendidas.

39
Palavras-chave: Plantão psicológico. Demanda. Terapia Centrada no Cliente.

40
Comportamento Agressivo: um Estudo de Caso

Elisangela Gonzaga Boggione


elisangela.boggione@gmail.com

Fernando Dório Anastácio


nandodorio@yahoo.com.br

Centro Universitário Newton Paiva

Introdução: A partir de um relato sobre as vivências de um adolescente de 14


anos, por meio de atendimento psicoterápico na Clínica Escola do Centro
Universitário Newton Paiva, o presente trabalho traz um breve estudo de caso
sobre o comportamento impulsivo/agressivo do cliente diante de algumas
questões existenciais. Como alicerce para o entendimento dessas questões,
inicialmente caminhamos em busca da tomada de consciência e mais adiante
em sua ressignificação, à luz da perspectiva Fenomenológica Existencial.
Segundo May, (1986, p.121), “a agressão é a ação que penetra em território
alheio para conseguir uma reestruturação do poder”. E o poder é relevante
para o homem na medida em que possibilita sua sobrevivência. Nas vivências
sociais do adolescente, quando as situações “fugiam” de seu controle, ele
reagia de maneira impulsiva e explosiva.

Objetivo: Possibilitar uma reflexão sobre impulsividade e adolescência, bem


como o desenvolvimento de novos comportamentos após a tomada de
consciência.

Metodologia: Para compreensão do caso, foi realizado levantamento


bibliográfico, sessões clínicas presenciais de 50 minutos e supervisão semanal.

Resultados (parciais): Inicialmente, o cliente se colocava de maneira


superficial no processo terapêutico. A demanda era dos pais. No decorrer do
processo foi possível perceber a abertura e maior compreensão acerca de seu
comportamento.

Considerações finais: É possível que o cliente se valia do comportamento


agressivo como forma de se expressar e subjetivar, embora essas ações lhe
trouxessem incômodos e transtornos em diversos momentos. Ele estava diante
de dois extremos: a liberdade permissiva familiar e as regras da escola. Em
seu ciclo de amigos desconhecia suas próprias possibilidades. Agia de maneira
a ser aceito pelo grupo, pois temia perder sua popularidade. Segundo Feijoo
(2000, p.128), “no desconhecimento das próprias possibilidades, as realizações
do cliente são ditadas pelo social, assume o que é mais bem visto.” No início
do acompanhamento foi possível perceber uma certa falta de clareza sobre
seus comportamentos, bem como a não responsabilização por eles. No
decorrer das sessões e após alguns de seus relatos, foi possível perceber o
cliente se expressando de outras maneiras e realizando escolhas que
possibilitassem um novo sentido de vida. Vale ressaltar que, por mais que ele

41
tenha despertado a consciência para algumas questões, ainda oscila, o que
sugere a importância da continuidade no processo terapêutico.

Palavras-chave: Impulsividade. Consciência. Ressignificação.

42
Morte, Finitude e Sentido da Vida

Marcelo Rufino Ferreira


mrfpsi@hotmail.com
UFMG – Unidade Divinópolis

Introdução: Na cultura ocidental, a questão da morte pode suscitar


culturalmente Grandes estigmas, repulsa e/ou negação. Entretanto, cabe
salientar que, a finitude é uma condição existencial pela qual todo ser humano
passará, seja pela experiência da própria morte, ou pela morte do outro. O
importante filósofo do século XX, Martin Heidegger, debruçou-se sob a
temática com seu importante conceito de Ser-para-a-morte.

Objetivo: O presente trabalho buscou compreender a relação entre o conceito


de Ser-para-a-morte, finitude e sentido da vida, à luz do pensamento de
Heidegger.

Metodologia: Esse estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica (no sentido


de Lima & amp; Mioto) que busca através da coleta de documentação,
sobretudo da obra bibliográfica de Heidegger e comentadores, conceituar
teoricamente os fenômenos da finitude e a vivência do Ser-para-a-morte.

Resultados: O pensamento de Heidegger pautou-se no estudo do Ser, através


da ontologia fundamental. Em sua analítica existencial, propõe o desvelamento
e a compreensão do sentido do Ser. Uma de suas contribuições foi sobre o
tema da morte. A morte enquanto condição existencial, escancara a finitude e a
possibilidade de encerramento de todos os projetos, mas em contrapartida,
torná-la consciente e compreender essa condição, pode ser o ponto de partida
para apropriar-se da própria existência. O Ser-aí (Dasein) temporal, histórico e
indeterminado, em seu poder-ser encontrado na impessoalidade nega sua
finitude, vivendo assim, na medianidade da vida cotidiana de forma inautêntica.
Um caminho possível para desencobrir o Ser-aí e tomá-lo em sua
singularidade, é por meio do cuidado (Sorge), ao se abrir para as
possibilidades na busca de uma existência autêntica. Para isso, as tonalidades
afetivas têm grande importância nesse movimento de retomada ao mundo
próprio. Viver é morrer a cada dia, algo que provoca angústia, daí a tendência
em afastar a morte de si. Entretanto, o cuidado exige o movimento dinâmico do
Ser-aí lançado no mundo, aceitando a condição de Ser-para-a-morte e o
clamor da angústia que impulsiona para conquistar o modo mais autêntico e
repleto de sentido do Ser-aí. Conclusão: Conclui-se que é necessário apropriar-
se da finitude, para assim, buscar no mundo sentidos para continuar a realizar
de maneira singular e autêntica os projetos de nossa existência. Negar tal
condição, é abrir mão de toda forma possível de existir para além da
medianidade.

Palavras-chave: Finitude. Existência. Ser-para-a-morte.

43
Os Sentidos Atribuídos a Existência em Pacientes Oncológicos.

Hellen Souza Dias


Kelly Quintão Sathler
Malu Egídio da Silveira Jabour
Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG

A descoberta do câncer não só interfere nos aspectos físicos, mas também nos
aspectos emocionais, sociais e subjetivos do paciente, visto que a vida é um
processo de existir e as pessoas estão sempre buscando um sentido para este
existir.

Assim, o objetivo da pesquisa é compreender os sentidos que o paciente


atribui à sua existência após a descoberta do câncer. Utilizou-se como suporte
teórico a Psicologia Existencial, que auxilia na compreensão dos sentimentos
que o paciente vivência a partir do conceito de ser-no-mundo. Ao receber o
diagnóstico de câncer, a maneira como a pessoa lida com essa experiência,
refere-se à sua forma de ser-no-mundo. Entende-se como ser-no-mundo o
modo como a pessoa estabelece relação consigo mesma, marcado pela
subjetividade, pela autoconsciência e a forma que o mundo se apresenta para
a mesma. Dessa forma, cada paciente experiência seus sentimentos de forma
única e singular diante do fenômeno que se apresenta.

A metodologia utilizada foi pesquisa descritiva, exploratória e estudo de


campo. Para a análise dos dados aplicou-se os recursos da Análise de
Conteúdo. Em relação a coleta de dados foram utilizadas entrevistas
semiestruturadas. Vale ressaltar que os dados coletados ainda estão em
processo de análise. Foram entrevistadas cinco pacientes oncológicas, do sexo
feminino, com a idade entre 19 e 83 anos, que estão em processo de
tratamento há pelo menos 4 meses.

Dentre os dados que já foram analisados, apresentam-se os seguintes


resultados: percebeu-se que a crença na espiritualidade trouxe sentimentos
de esperança e alento diante da doença; o apoio familiar foi de grande valia
após a descoberta do diagnóstico. O processo de ressignificação fez com que
as pacientes atribuíssem novos sentidos à sua vida, refletindo mais sobre sua
existência, dando valor a coisas triviais, que antes não davam, incluindo
sentimentos positivos que ajudaram a encarar a doença.

Portanto, conclui-se que, após a análise completa dos dados coletados,


espera-se observar que os impactos gerados pelo câncer na vida das
pacientes possam repercutir em novos sentidos dados pelas mesmas em seu
processo de existência, visto que é importante compreender os sentimentos
que cada paciente dá a sua experiência com o câncer, partindo do princípio
que cada indivíduo é único e vive sua vida de forma singular.

Palavras-chaves: Paciente Oncológico. Existência. Ser-no-Mundo.

44
O Propriamente Humano: Relacional, Livre e Inacabado

Ávylla Soares Souza


avylla@gmail.com

Júlia Soares Dias Loyola


juliadloyola29@hotmail.com

Rayra Emanuelle Soares Ruas


rayraemanuelle@yahoo.com.br

Introdução: A compreensão do constructo personalidade é central no


desenvolvimento de teorias psicológicas e sustentam uma visão de quem é o
homem, os atributos que o diferenciam de seus semelhantes ou ainda certa
regularidade ao longo da vida que o identificam. A fenomenologia existencial
concebe personalidade de forma compreensiva e não a partir de determinismos
previamente construídos. O ser humano é processo e fluidez não podendo ser
definido de forma estanque. Três elementos são característicos da nossa
humanidade: o caráter relacional, livre e inacabado. Como ser de abertura e
possibilidades o homem vai se construindo ao longo da existência a partir de
suas escolhas e das relações intersubjetivas que estabelece. Como projeto de
si próprio se refaz constantemente e é por conta desse movimento de mudança
que não pode ser considerado uma totalidade acabada e determinada, mas,
um processo incompleto de totalização. Deste ponto de vista, todas as
manifestações do comportamento humano no mundo seriam expressões do
projeto existencial, projeto fundamental de autocriação e construção da direção
da vida, um nexo estruturador da existência.

Objetivo: Refletir sobre a ideia de personalidade subjacente à teoria


Fenomenológica Existencial

Metodologia: Pesquisa bibliográfica

Resultados: Considerar o humano através de suas possibilidades permite


compreendê-lo enquanto processo, construção do novo e não como tentativa
de reencontrar um equilíbrio perdido. A liberdade decorre do fato de o homem
ser inacabado, sua realidade não é dada, pode sempre escolher seu caminho
no momento seguinte.

Conclusões/Considerações finais: Pensar o homem como vir-a-ser reafirma


sua condição única e irrepetível. Sua personalidade não é um dado
determinista da sua existência; seu destino é imprevisível e de sua inteira
responsabilidade. O impacto desta visão em contexto psicoterápico resulta em
uma relação genuína e interessada pelo cliente que se apresenta; baseada em
um cuidado com o projeto, sentido, escolhas e as intenções das vidas humanas
mais do que com verdades universais.

Palavras-chave: Fenomenologia Existencial. Teorias da Personalidade.


Projeto Existencial
45
Luto e Finitude

Evislaine Soares da Silva


Malu Egídio da Silveira
Centro Universitário do Leste de Minas - UnilesteMG

A morte, posta como a finitude do ser humano e como tema existencial, nos
remete ao luto, que se constitui como o resultante de uma perda causada pelo
falecimento de alguém significativo na vida de uma pessoa, apresentando-se
como um processo complexo e uma experiência pessoal e única para cada
indivíduo.

Objetivou-se neste estudo compreender sobre a morte na perspectiva de


pessoas enlutadas. Utilizou-se como referencial teórico a psicologia existencial
em razão de que, desde sua origem há o anseio de se pensar o homem e sua
existência, evidenciando a morte como a última experiência do existir, pois o
ser se completa na morte.

A metodologia utilizada foi a pesquisa descritiva quanto aos objetivos,


qualitativa quanto à abordagem, pois buscou-se aprofundar a compreensão
sobre o tema, e um estudo de campo quanto aos procedimentos. A amostra
constituiu-se de quatro pessoas enlutadas, três do sexo feminino e uma do
sexo masculino, com idades entre 20 e 45 anos que perderam algum ente
querido no período compreendido entre os anos de 2014 e 2016. Os
participantes foram inquiridos com questões referentes à morte e ao luto. Para
a coleta de dados foi realizada a entrevista semiestruturada, e os dados obtidos
foram submetidos à Análise de Conteúdo.

A partir da análise, como resultado, surgiram cinco temáticas existenciais:


perspectivas quanto à morte, que se revelou como a constatação dos
participantes da morte concebida como a última experiência do existir do
homem, uma experiência estritamente pessoal, e consiste em uma
possibilidade para todos que estão vivos; percepções sobre o luto, temática na
qual houve atribuição da magnitude das sensações e sentimentos suscitados
durante esse processo à proximidade que possuíam com o falecido; a finitude
do outro, que desvela ao ser a sua condição de estar-para-a-morte a todo
instante, porquanto experienciar a morte de seus entes queridos trouxe-lhes a
concretude da mesma; a angústia, esta vivenciada ao ver-se frente à tensão da
vida ante a morte; e o sentido da vida, uma vez que a morte do ente querido
permitiu aos enlutados a reflexão sobre o próprio existir.

Conclui-se que o luto se constitui como um período de reflexão e


reorganização pessoal e social para quem o vivencia. A experiência do luto
permite ao homem conscientizar-se sobre sua própria finitude, a buscar o
sentido da vida. A partir desse trabalho percebe-se a necessidade de mais
pesquisas para exploração desse tema.

Palavras-chave: Luto. Finitude. Psicologia existencial

46
De Pessoa para Pessoa: a Dimensão Intersubjetiva na Teoria da
Personalidade de Carl Rogers

Luis Henrique Sobreira Maciel


Instituto Humanista de Psicoterapia - luishsmaciel@gmail.com

A Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) é uma abordagem psicológica criada


pelo psicólogo norte-americano Carl Rogers. Sua proposta - teórica e prática -
trouxe grandes contribuições para diversas áreas da psicologia, como a
psicoterapia, a psicologia educacional e a psicologia comunitária. Apesar do
grande alcance da ACP, a mesma foi diversas vezes criticada, ora por sua
teoria desconsiderar o papel do contexto sociocultural na formação da
personalidade, ora por suas práticas promoverem um individualismo. No
entanto, diante de uma leitura mais atenta da obra de Rogers, percebemos
que, por diversas vezes, o autor salienta a importância do papel do outro, bem
como da cultura e da sociedade na formação da personalidade.

O presente trabalho tem como objetivo explicitar a dimensão intersubjetiva


presente na obra de Rogers, mais especificamente em sua teoria da
personalidade.

Para isso utilizaremos como base os textos “Uma teoria da personalidade e da


conduta” de 1951, “Teoria da personalidade e dinâmica do comportamento” de
1957, e o texto “Teoria centrada no cliente” de 1974.

A análise dos textos nos permitiu encontrar que a personalidade é, desde a sua
origem, relacional, pois é a partir da relação com o outro que formamos nosso
self e damos significado ao mundo. É também a partir da relação com o outro e
com os significados compartilhados culturalmente que iremos avaliar nossa
experiência e reconhecer quais elementos da mesma poderão ser simbolizados
e integrados na estrutura do self. Também encontramos que, a partir da
avaliação de pessoas-critério, poderemos desenvolver um acordo interno entre
self e experiência ou um desacordo. Tais noções, de acordo e desacordo
interno, correspondem às noções de saúde e adoecimento, presentes em sua
teoria. Por último, encontramos que as possibilidades de reintegração e
promoção de saúde dependem do estabelecimento de condições relacionais
especificas, a saber, as condições necessárias e suficientes para a mudança
terapêutica da personalidade. Estas condições poderão ser vividas em diversos
contextos interpessoais: terapia, família, escola e comunidade.

A partir dos resultados percebemos que, ao contrário das críticas direcionadas


à ACP, a teoria da personalidade de Rogers aponta para a importância da
dimensão intersubjetiva, desde a constituição do self até o estabelecimento das
condições para reintegração e promoção da saúde. Isso nos leva a concluir
que a noção de um solipsismo - individualista e descontextualizado - tantas
vezes atribuído à ACP, se deve às interpretações simplistas de sua teoria e de
práticas distorcidas advindas da mesma.

47
Palavras-chave: Abordagem Centrada na Pessoa. Carl Rogers.
Intersubjetividade

48
A Questão do Encontro em uma Experiência de Plantão Psicológico

Fernanda Jaude Gradim


fejaude@yahoo.com.br

Introdução: O plantão psicológico, que surge como nova modalidade de


serviço prestado pela psicologia é uma alternativa para o atendimento das
urgências psicológicas já que oferta um espaço de atendimento aberto à
comunidade, sem tempo determinado do atendimento ou garantia de retornos
futuros. Mahfoud (1999) define o plantão psicológico como um serviço onde os
profissionais estão disponíveis para o atendimento das pessoas que procuram
o serviço como referência de acolhimento, com abertura do profissional pela
questão do inesperado e com possibilidade do encontro único com o cliente.

Objetivo: Entendendo a importância do encontro entre funcionário e


psicoterapeuta este trabalho traz um relato sobre uma experiência de
atendimento na modalidade de plantão psicológico em uma empresa privada.

Metodologia: O espaço de acolhimento ao funcionário acontece na


modalidade de plantão psicológico, realizado no próprio espaço da empresa,
por um único profissional, uma vez por semana, com uma duração de quatro
horas, como parte de um projeto de qualidade de vida do trabalhador e não
necessita de agendamentos prévios.

Resultados: Entendendo a particularidade desta modalidade de atendimento,


onde o espaço ofertado é, muitas vezes, baseado em único encontro entre
funcionário e psicoterapeuta, é importante ressaltar a contribuição do encontro
nessa relação. Buber, que fala sobre a filosofia do encontro, do diálogo e da
relação, entende o lugar do outro como indispensável para a nossa realização
existencial. E ressalta a importância da relação: “A pessoa aparece no
momento em que entra em relação com outras pessoas (...). A finalidade da
relação é o seu próprio ser, ou seja, o contato com o Tu. Pois, no contato com
cada Tu, toca-nos um sopro da vida eterna.” (BUBER, 2009, p.80). O
atendimento de urgência psicológica requer uma disponibilidade por parte do
psicoterapeuta para que este encontro aconteça e possibilite ao outro um
sentimento de confiança para desvelar suas experiências sentimentos e
vivências. Alguns funcionários relatavam ao final do atendimento o alívio do
sintoma de angústia ou ansiedade devido à oportunidade de falar sobre aquela
questão no momento em que a mesma surgia. A instituição, após três meses
de experiência, optou em dar continuidade ao mesmo por entender a validade
do plantão psicológico.

Considerações Finais: Entender o papel da escuta é compreender enfim a


necessidade desse encontro e o papel do psicoterapeuta, pois já é por si só,
um instrumento de intervenção através de sua escuta atenta, acolhedora e
pode contribuir para que naquele momento de urgência psicológica a pessoa
encontre um espaço para compartilhar suas angústias. Não são descartadas as
limitações desta modalidade de atendimento com relação ao tempo de
acompanhamento para o funcionário, o que não anula sua validade. É sempre

49
possível, através do encontro, auxiliar a pessoa na situação existencial vivida,
mesmo que de forma pontual.

Palavras-chave: Psicoterapia breve. Plantão psicológico. Acolhimento


psicológico

50
Leituras Fenomenológicas de um Caso Clínico Ficcional à luz da Gestalt-
terapia
Jordana Ribeiro Cocovick
jordana.covick@gmail.com

Bernardo Augusto Wilke Silva


wilke.bernardo@gmail.com

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG

Introdução: Realizou-se um estudo teórico sobre o caso fictício Walter Barnett,


da série estadunidense In Treatment, produzida pela HBO.

Objetivo: Analisar o processo psicoterapêutico, conforme os princípios e


conceitos da Gestalt-terapia, ao longo dos episódios que retratam as sessões
de psicoterapia entre Paul Weston, psicoterapeuta, e Walter Barnett, cliente.

Metodologia: Interpretou-se qualitativamente os sete episódios do


personagem Walter a partir de dois enfoques: o manejo terapêutico, as ações e
atitudes de Paul durante a sessão; e as vivências compartilhadas por Walter
nas sessões. A partir da comparação entre essas duas perspectivas, do cliente
e do terapeuta, analisamos a congruência entre elas de acordo com a
abordagem da Gestalt-terapia.

Resultados: Ao longo das primeiras sessões percebemos que Walter


apresenta formas de contato disfuncionais por meio da deflexão e introjeção,
sendo essas formas de autorregulação organísmica e de ajustamento criativo.
Ademais, dispõe de pouco autossuporte e awareness sobre sua forma de ser
no mundo. Diante desse contexto, e o agravamento de seu humor depressivo
Walter realiza um perigoso comportamento autodestrutivo, a tentativa de
suicídio. Em sessões posteriores, o cliente apresenta awareness mais
desenvolvida, fronteira de contato mais permeável e valorização do
autossuporte. Em relação ao psicoterapeuta, nos primeiros episódios, esse
acolhe parcialmente os sofrimentos do cliente, insiste em encontrar as causas
pelos ataques de pânico do mesmo e desconsidera as vivências relacionadas
ao trabalho de Walter. Nas sessões seguintes se mostra mais empático mas
insiste que o cliente compartilhe de suas interpretações clínicas. Após, Paul
consegue trabalhar, junto ao cliente, a tentativa de suicídio com delicadeza,
auxiliando o contato de Walter consigo mesmo. Entretanto, se deixa atingir
pelos ataques proferidos pelo cliente e não intervém no sentido de ampliar as
possibilidades existenciais do mesmo. Ao final, Paul apresenta a perspectiva
de mudança e da construção permanente de Walter por meio da escolha
consciente.

Conclusões: A respeito do manejo terapêutico percebeu-se atitudes


terapêuticas de Paul que dialogam com a Gestalt-terapia sobre o
estabelecimento e manutenção de uma relação terapêutica - ora se
aproximando, ora se distanciando desse corpo teórico -. Sobre Walter, pode-se
afirmar que apresenta esquemas emocionais depressogênicos com sintomas

51
ansiosos. É explícito que Paul e Walter constroem uma relação humana entre
eles. Esse contato provavelmente contribuiu para o estabelecimento de uma
ligação entre os dois, que ao final culmina na pactuação do contrato
terapêutico. Ressalta-se que esse estudo é apenas uma interpretação possível
dentre inúmeras outras que poderiam ser realizadas.

Palavras-chave: Estudo de caso. Psicoterapia. Gestalt-terapia.

52
A Atuação do Psicólogo no Centro de Referência Especializado de
Atendimento à Mulher em Situação de Violência Doméstica

Sandra Maria Hudson Flores


Universidade FUMEC, estagiária de psicologia no Centro Risoleta Neves de
Atendimento à Mulher (CERNA) - sandramhflores@hotmail.com

Introdução: A psicologia na contemporaneidade tem tido diversos desafios,


um deles é a atuação do psicólogo junto às mulheres em situação de violência
doméstica. Esse assunto tem sido cada vez mais discutido, pois os agravantes
da violência são muitos, deixando marcas na vida da mulher e no seu entorno e
podendo levar às graves consequências como sequelas físicas, psicológicas ou
até mesmo a morte. Ao vivenciar a atuação dentro de uma política pública de
atenção à mulher, pode-se verificar a importância de além da escuta clinica
através da clínica ampliada como é colocado na referência técnica do CREPOP
(Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas), que se
ofereça um acolhimento em que os psicólogos se coloquem presentes,
disponíveis, livres de qualquer julgamento, sem serem apenas detentores de
um saber. Seria o estar junto, inclinando-se ao sofrimento do outro,
compreendendo-o e podendo assim auxilia-lo.

Objetivo: O trabalho tem como objetivo mostrar através da experiência clínica


e da pesquisa realizada, a importância de se pensar um primeiro atendimento
embasado na fenomenologia-existencial junto à escuta das necessidades da
mulher que está em situação de violência doméstica, já que em muitos casos o
vínculo com o psicólogo, caracteriza o vínculo com o serviço.

Metodologia: Para embasamento teórico foi utilizado material produzido pelo


CREPOP, as Referências Técnicas para atuação de psicólogas(os) em
Programas de Atenção à Mulher em situação de Violência, artigos científicos
embasados na psicologia fenomenológica-existencial e a pesquisa realizada a
partir dos prontuários de atendimento das mulheres que procuraram o serviço
do CERNA entre julho de 2015 e julho de 2018 para verificar o perfil das
mulheres e o número de retornos aos atendimentos.

Resultados: Dentro do que é colocado pelas referências técnicas, a atuação


do psicólogo é variada, não sendo muito limitada. No centro de referência o
que é adotado é a psicoterapia, que visa o fortalecimento da mulher. Ao
contrapor o que se tem na referência técnica e o que é adotado pelo CERNA
com a pesquisa realizada sobre o número de retornos, 47% das mulheres
atendidas não retornaram para continuidade da psicoterapia, tendo ido ao
serviço somente para o primeiro atendimento.

Considerações finais: Ao analisar esses resultados faz-se pensar o que seria


de fato a necessidade da mulher em situação de violência que procura um
serviço de atendimento psicológico. Caberiam assim mais investigações em
relação a esse fenômeno.

53
Palavras-chave: Atendimento Psicológico. Violência Doméstica. Políticas
Públicas.

54
O Potencial Transformador de um Encontro Emergido de uma Relação
Psicoterapêutica na Abordagem Fenomenológica-existencial: Estudo de
Caso

Érica Silvana de Freitas Oliveira


ericapsifreitas@gmail.com
Universidade Federal de Minas Gerais

O trabalho submetido é a descrição de um caso clínico de uma jovem


que procurou atendimento psicológico, pois apresentava sintomas emocionais
e físicos de crises ansiosas. Ademais, tinha problemas interpessoais, não se
relacionava nos diversos lugares em que transitava. O escopo deste foi
investigar o fenômeno relação e encontro terapêuticos, conceituando-os e
explicitando o potencial transformador para quem deles participa. Além disso,
suscitar reflexões sobre a noção de patologia diferentemente das descritas em
manuais diagnósticos e classificatórios. Utilizou-se a abordagem
fenomenológica-existencial como embasamento teórico nos atendimentos
clínicos. Durante dez meses foi realizado um trabalho à quatro mãos. Através
da postura e método fenomenológicos, em que o intuito era a compreensão e
não a explicação das narrativas e/ou sintomas descritos pela paciente, foi
possível auxiliar a jovem a desvelar-se através do diálogo, passando de uma
fala secundária à uma fala original, assim houve um encontro consigo mesma e
também com o outro. Ao mudar seu jeito de ser-no-mundo, alterou os sintomas
descritos inicialmente. Utilizou-se com recurso os relatos da jovem, os registros
das sessões e também a observação clínica direta. Nesta psicoterapia que é
relacional e dialógica, em que as habilidades terapêuticas tais como presença,
escuta empática, ausência de julgamentos, contribuiu para um encontro “Eu-
Tu", aquele, segundo Buber, em que, dois entes se deixam impactar um pela
presença do outro, surgindo ali um campo de forças que empoderam a pessoa.
Conclui-se, que o processo psicoterápico, nos moldes fenomenológico-
existencial, possibilitou à jovem, resgatar sua autoestima, autoconfiança e
autonomia, além de vivenciar seus sentimentos e crises com autossuporte.
Participante de uma relação terapêutica dialógica a jovem pode atualizar o
único tipo de relacionamento que vivenciara até então, no qual predominava
um falso self, podendo, a partir dali, apropriar-se do seu verdadeiro eu. Ela
ressignificou o seu modo de ser e de estar com, ampliando suas possibilidades.
Evidenciando, assim, o potencial transformador de um encontro (campo fértil
onde pode brotar novas vivências), de uma relação terapêutica, ambos
carregados de um movimento mobilizador de força e beleza que não são
objetivo e sim o início de uma caminhada em que a pessoa pode vir-a-ser, sem
fechá-la em um diagnóstico, ampliando as possibilidades de ser.

Palavras-chaves: Psicoterapia Existencial-Fenomenológica. Relação


Terapêutica. Potencial Transformador.

55
A Formação do Psicólogo e as Questões Existenciais Emergentes – uma
Experiência de Grupo de Supervisão

Monique de Souza Vidal


Universidade Federal de Minas Gerais, e pós-graduada em Psicologia Clínica:
Existencial e Gestáltica pela FEAD
moniquesvidal@gmail.com

Introdução: O grupo entendido como conjunto de pessoas unidas entre si com


objetivos e ideais em comum e que se reconhecem interligadas por estes se
torna ambiente favorável para troca de vivências existenciais e reflexões sobre
a formação em psicologia fenomenológica-existencial. Partindo do pressuposto
que a existência se dá na coexistência reconhece-se a importância da
experiência de grupo, sendo neste trabalho considerado o grupo de supervisão.
O referido grupo é um trabalho de base vivencial, com intuito de
instrumentalização de cada integrante a partir de seus recursos próprios, e
construção de uma leitura fenomenológica das experiências na clínica, além de
abranger as experiências existenciais emergentes.

Objetivo: O presente estudo tem por objetivo compreender o fenômeno do


tornar-se psicólogo na abordagem fenomenológica-existencial e suas vivencias
existenciais emergentes frente às atividades práticas em psicoterapia, através
do processo grupal de supervisão.

Metodologia: O grupo de supervisão é composto por cinco membros, no final


da graduação de psicologia ou recém-formados, tendo seu início no mês de
abril do presente ano, com encontros semanais de duração de duas horas. A
metodologia escolhida para a fundamentar o trabalho tem sua base na
fenomenologia. Sendo assim, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas a
fim de investigar as questões existenciais emergentes. Os conteúdos das
entrevistas foram divididos em alguns temas centrais para análise, como
projeto de vida e liberdade em Sartre; angústia, solidão e temporalidade em
Heidegger.

Resultados: A análise das entrevistas permitiu verificar e compreender as


vivências existenciais surgidas no processo de formação do psicólogo, como os
sentimentos de responsabilidade pessoal, insegurança diante de um fazer que
não se pauta na técnica, desejo de reconhecimento, a angústia diante do
conseguir ajudar o outro que o procura, e a busca por tornar-se um psicólogo
ideal entre outros.

Considerações finais: A reflexão acerca das questões existenciais


emergentes durante a formação do psicoterapeuta fenomenológico-existencial
se faz necessária, já que o que ele leva para a prática é a si próprio. A sua
relação com o cliente é também construída de acordo com o seu projeto de ser,
podendo, a princípio, seja pela falta de prática com o método, seja pela falta de
experiência clínica compreender o outro a partir das suas próprias expectativas
e valores morais. Neste sentido, o grupo de supervisão torna-se um ambiente

56
favorável para viabilizar o conhecimento teórico, e de si enquanto psicólogo em
formação, tornando sua prática mais consciente.

Palavras-chave: Formação do psicólogo. Grupo de supervisão.


Fenomenológico-existencial.

57
A Efetividade do Atendimento Psicoterapêutico Infantil à Luz da
Existencial: um Relato de Experiência

Sueli Aparecida Silva


Faculdade de Saúde Ibituruna (FASI) - suelisilva8@hotmail.com

Mayara Durães Melo


Faculdade de Saúde Ibituruna (FASI) - mdmpsicologia@gmail.com

Introdução: A Fenomenologia representa um marco na história da filosofia e


seu ingresso no âmbito da psicologia, ela é caracterizada pelo resgate da
subjetividade e é de suma importância para compreender a totalidade da
relação Psicoterapêutica. Ela surge como epistemologia do conhecimento
vigente, criticando a psicologia positivista, objetiva, que como as demais
ciências, ignoravam a subjetividade. Possibilitou o advento de uma forte
corrente européia, o Existencialismo, representado por Martin Heidegger, Jean-
Paul Sartre, Karl Jaspers, Gabriel Marcel, Martin Buber e Emmanuel Lévinas.
Para alcançar efetividade no atendimento infantil, é preciso fazer uso de
recursos, sendo o primeiro a própria disponibilidade indo de encontro ao
universo da criança, e o segundo o espaço físico onde acontecem os
atendimentos, este deve conter elementos que produzam significado na vida do
ser. Estes recursos representam maneira de fazer algo sendo, portanto uma
parte material que compõe a sensibilidade do psicoterapeuta, conhecido como
Ludoterapia.

Objetivo: Este relato tem por objetivo apresentar a efetividade do atendimento


psicoterapêutico infantil à luz da abordagem existencial.

Materiais e Métodos: O Estágio Curricular Supervisionado Clínica II – foram


realizados por acadêmicos do 10° período do curso de Psicologia noturno da
Faculdade de Saúde Ibituruna – FASI, dos quais eu fiz parte, sob supervisão
de uma profissional da Psicologia Clínica Existencial-Humanista. Ele aconteceu
durante os meses de março a junho de 2018, na cidade de Montes Claros -
MG. Foram oito atendimentos psicoterápicos fazendo uso dos recursos
ludoterápicos: desenhos dirigidos e livres, escritas dirigidas, colagens dirigidas
e livres, psicodrama e jogos livres.

Resultado parcial: Através da comunicação não-verbal expressa pelo lúdico, e


o atendimento voltado para a criança na sua totalidade foi possível perceber a
evolução quanto às atitudes autênticas e o ser-no-mundo, assim como o
fortalecimento da autonomia, auto-estima e autoconfiança.

Conclusão: Foi evidenciado que a abordagem Existencial faz-se efetiva na


psicoterapia infantil, pois consegue, através do lúdico, despertar na criança o
conhecimento acerca de si e sua interação com o mundo, possibilitando,
sobretudo o desenvolvimento da autonomia e a promoção da qualidade de vida
do ser, uma vez que ela não apresenta mais os sintomas do diagnóstico.

Palavras-chave: Existencial-Humanista. Psicoterapia Infantil. Ludoterapia

58
O processo de finitude humana na perspectiva fenomenológico-
existencial: uma revisão de literatura

Dalila de Moura Araújo


Elieth Fátima de Carvalho Santiago
Tatiane Dias Bacelar
Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais

Introdução: A existência humana desperta questionamentos e reflexões sobre


a morte que podem propiciar a busca pelo sentido da vida. A morte é um
fenômeno existencial e acompanha o ser humano no seu ciclo vital, sendo que,
na infância a compreensão da morte pode estar relacionada aos estágios de
desenvolvimento cognitivo; na adolescência o processo de finitude pode ser
considerado em sua concretude; já na fase adulta o medo da própria morte
atinge um pico elevado; e na velhice, a ideia da morte está mais presente. O
ser humano é o único animal que possui a convicção abstrata de que é finito,
no entanto, a morte ainda é vista como tabu e o homem não se sente
preparado para seu fim.

Objetivos: No geral, investigar em que medida a perspectiva fenomenológico-


existencial contribui para a compreensão do processo de finitude humana e,
mais especificamente, identificar o processo da finitude humana na perspectiva
fenomenológico-existencial, verificar a relação entre conscientização da morte
e responsabilização pela vida e descrever como o ser humano percebe a
própria finitude.

Metodologia: Esta pesquisa é uma Revisão Bibliográfica Integrativa realizada


entre agosto e outubro de 2017, a partir dos artigos publicados no idioma
português-br, no período de 2008 a 2017, nas bases de dados BVS, CAPES,
PePSIC, LILACS, SciELO e Faculdade Sant’Ana em revista.

Resultados: Foram encontrados seis artigos, sendo quatro de pesquisas


qualitativas e dois de revisão de literatura. A maioria dos artigos está
referenciada na concepção heideggeriana e a população estudada foi de sete
crianças, um adolescente, 35 adultos e 17 idosos. Os estudos mostraram que a
experiência da própria morte é intransferível e que a finitude pode ser vista na
dialética morte-eternidade entendida não como fim, mas como parte da vida.
Além disso, a partir da reflexão sobre a morte o ser humano pode sentir medo,
se angustiar, ver a morte como uma ameaça, negá-la ou encontrar o
verdadeiro sentido de sua existência.

Conclusão: a perspectiva fenomenológico-existencial apresenta a morte como


um fenômeno único, considerando que cada indivíduo tem uma compreensão
diferente sobre este processo. A morte é descrita como um fenômeno que
desperta alguns sentimentos, sobretudo o medo e a angústia. A
conscientização e responsabilização pela vida estão ligadas às crenças que o
sujeito tem sobre sua morte e o entendimento da própria finitude se dá a partir

59
das fases do desenvolvimento, das influências culturais, das ressignificações
das experiências e do suporte religioso.

Palavras-chave: Morte. Fenomenologia-Existencial. Finitude.

60
A Ressignificação da Relação Ser-no-mundo e seu Potencial
Desenvolvedor na Psicoterapia de Adolescentes

Igor Dutra Santos


Espaço Presença
igordutrasantos@gmail.com

Introdução: A psicoterapia com adolescentes é, pela própria natureza desse


momento do desenvolvimento, intensamente ligada com o mundo que cerca
aquela pessoa. O trabalho com esse público invariavelmente necessitará de
atuação em relação aos elementos no mundo que constroem e são construídos
pelo adolescente, proporcionando a ressignificação da relação estabelecida
nessa interação.

Objetivo: Explorar os aspectos existenciais de ressignificação da relação ser-


no-mundo na psicoterapia com adolescentes, incluindo-se aí, ambiente familiar,
escolar e mundo interno.

Material e métodos: A partir do resgate, com consentimento dos responsáveis


pelo adolescente, de registros de 80 sessões de psicoterapia e orientações aos
pais realizadas e das estruturas de intervenção e compreensão existencial-
fenomenológicas que conduziram o trabalho, se pretende analisar o percurso
no qual se deu um bem sucedido processo psicoterápico com adolescente.

Resultados: Foi realizado um longo trabalho de psicoterapia com o


adolescente e escuta e orientação aos pais, no decorrer de 45 meses. O rapaz
inicialmente se encontrava em grande conflito com os pais e escola, além de
identificar com pouca consistência uma compreensão de si. Se espelhava em
ícones fictícios que causavam terror em sua mãe, ao mesmo tempo que
correspondiam à agressividade intensa apresentada pelo pai e rotulação
negativa pela escola. Com o trabalho com a família e na terapia, onde pôde
expressar-se sem julgamentos, se iniciou uma melhora profunda na relação
com os pais, em termos de confiança e ao corresponder diversas expectativas
– deles e de si próprio. Após reprovação escolar e subsequente troca de
instituição de ensino, o novo ambiente de estudos, que não o recriminou,
rotulou ou exigiu em demasia, permitiu que pudesse se organizar com o
sentido de estudar em sua existência e iniciar preparação para se candidatar a
um concorrido concurso em carreira militar. Falhou na primeira tentativa, mas
foi capaz de sustentar tal frustração e ser aprovado na tentativa seguinte.

Considerações finais: Coma atuação no mundo em torno do adolescente,


além de seu próprio mundo interno, foi possível ajudá-lo a sentir-se novamente
querido, cuidado e cuidador da família, apesar das diferenças entre ele e os
pais. Também foi restaurado seu interesse pelos estudos e dedicação diante
de um objetivo criado pelo próprio adolescente e que deu sentido à atividade
dos estudos, antes externamente imposta e rechaçada por ele. Seguiu seus
estudos com cada vez mais autonomia e sucesso, superando grandes desafios
e planejando passos seguintes, buscando novos horizontes.

61
A Comunidade no Processo de Formação Pessoal: Edith Stein e Martin
Buber

Bianca Gabrielle Ruas Souza


psibiancaruas@gmail.com

Janaina A. Mendonça Santos


janainamendonca1@gmail.com

Universidade Federal de Minas Gerais

A abordagem fenomenológica-existencial compreende o ser humano


como um ser inacabado. Logo, este encontra-se em processo de construção
constante, o que se dá na medida em que se relaciona com a realidade que o
rodeia. Nesse sentido, filósofos como Edith Stein e Martin Buber, consideram o
caráter essencial da abertura ao outro para a formação humana Assim, apesar
de influenciados por contextos sociais, culturais e políticos distintos, ambos
apontam a intersubjetividade como um fator fundante do humano. Com base
nisso, eles destacam a Comunidade como um sistema que favorece o
processo de construção do ser. Objetiva-se, portanto, explorar como Stein e
Buber compreendem a influência da Comunidade na formação humana. Para
tanto, foram realizadas as leituras de obras que destacam este assunto, as
quais “Pessoa e Comunidade”, escrita por Ales Bello, a partir da obra steiniana;
e “Sobre Comunidade”, de autoria do próprio Buber. Constata-se que no
pensamento de Stein a Comunidade propicia a manifestação da originalidade
do ser, o que emana de um núcleo pessoal. Em Buber, a Comunidade é a
possibilidade de reconhecimento do homem como ser-com-o-outro. Inseridos
na temática da Comunidade, foram identificados aspectos convergentes no
pensamento dos filósofos, sobretudo, no que tange a compreensão da
liberdade como elemento fundante da pessoa humana. Os filósofos comungam
ainda de uma visão crítica em relação a postura utilitarista e individualista. Fica
então claro que, tanto Stein quanto Buber, consideram a relevante importância
da Comunidade, entendendo-a como propiciadora do contato autêntico do ser
com o outro, e, por conseguinte, do processo de formação pessoal. Ressalta-
se assim, a contribuição desses filósofos para a compreensão do papel da
Comunidade para a constituição do ser, sendo válido a reflexão de tais
considerações.

Palavras-chave: Edith Stein. Martin Buber. Comunidade.

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Angústia e Subjetividade Contemporânea

Vinícius Adalberto Ribeiro


vinicius-ribeiro2009@hotmail.com
PUC MINAS, unidade Betim

Introdução: O seguinte texto se refere a um trabalho monográfico que tem


como tema principal: a angústia, a felicidade e a subjetividade contemporânea.
Parte-se da premissa de que a pós-modernidade é envolta de ideais hedônicos
e narcisistas, que elevam valores de prazer e gozo ao patamar de sua
sustentação. E acrescenta que, esta mesma sociedade influencia na criação de
um sujeito que evita a todo custo as tristezas de seu cotidiano por uma
representação metafísica de felicidade - que neste trabalho foi nomeado para
aspectos didáticos de “ideal estético de felicidade”- que impede o contato com
angústias e sofrimentos de sua própria existência.

Objetivo: Tem-se como objetivo compreender de que forma a


contemporaneidade com seu ideal estético de felicidade impacta o modo do
sujeito conceber a angústia e os sofrimentos do cotidiano, assim como analisar
os entrelaçamentos da Psicologia com a angústia e sua expressão no processo
psicoterápico. Analisando como a felicidade foi abordada no decorrer histórico-
filosófico, assim como os principais conceitos de angústia em alguns autores
da filosofia.

Metodologia: Foi-se utilizado como recurso metodológico uma revisão


bibliográfica.

Resultados: Obteve-se como resultado que a felicidade está intrinsicamente


relacionada ao consumismo e que vivemos tempos atuais que promovem cada
vez mais uma busca incessante por este ideal de felicidade e um afastamento
cada vez maior da possibilidade de entrarmos em contato com determinados
sentimentos, tal qual como a angústia.

Conclusão: Conclui-se que o sistema social atual embora vise uma busca
incessante pela felicidade é paradoxalmente um grande gerador de angústias
em consequência de seu funcionamento, e pela contínua necessidade de
consumo, mas que ao mesmo tempo incentiva a exclusão desta angustia do
polo social. E que ainda há muita possibilidade de desdobramento e
investigação sobre o tema, assim como frisa a suma importância do
profissional psicólogo ter um entendimento melhor sobre todo este panorama
atual para atender seus pacientes que são frutos diretos deste contexto.

Palavras chave: Angústia. Contemporaneidade. Existencialismo.

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