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índice cozinha comum itinerante
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T3 117 T1
índice cozinha comum itinerante
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glossário cozinha comum itinerante
ossa cidade
N alimentos processados. Pouco se sabe
Para que os mais de 4 milhões de sobre o local de onde vem as comidas,
habitantes de Belo Horizonte pos- como são preparadas, transportadas e
sam se alimentar cotidianamente a quem são as pessoas envolvidas nesses
cidade comporta em sua estrutura processos.
uma rede de transporte do que é
produzido no campo ou na região Espaço público
metropolitana aos centros de distri- Lugar que permite o encontro de di-
buição, e de lá para mercados locais, ferentes atores sociais, favorecendo a
de onde são comprados para serem criação e a articulação parcerias para a
então cozinhados, processados, produção e/ou manutenção do espaço
servidos e comidos. Uma complexa cotidiano. A aglomeração de sujeitos no
rede de relações sociais, trabalhistas espaço público através dos preparos
e estruturas espaciais são construí- coletivos possibilita uma outra relação
das e mobilizadas nesses processos. com o ambiente construído, reivindican-
Isso tudo diz respeito à forma de do o caráter coletivo e a apropriação
nossas cidades. Discutir alimentação subjetiva da cidade.
na cidade é pensar essas formas
de produção existentes, resisten- Estratégias de ação
tes e apagadas pelos processos de As estratégias de ação são desenvol-
urbanização. É também pensar na vidas pelo coletivo junto aos parceiros.
diversidade de culturas que habitam Partindo dos interesses em comum,
o ambiente urbano, que se expres- delimitamos as possibilidades de traba-
sam através de culinárias tradicionais lho em cada situação e a prática se dá
que guardam saberes complexos que sem projeto prévio, sendo construída
passam pela saúde, sabores, espiri- coletivamente através de um processo
tualidade e sociabilidade. compartilhado e adaptável aos contex-
tos e circunstâncias do projeto.
Cozinhar
Cozinhar é uma possibilidade de Provocação
intensa troca,onde conflitos se O convite a levar a atividade de cozi-
transformam em relações de apren- nhar para a rua junto a desconhecidos
dizado mútuo, reunindo forças que funciona como provocação à reflexão
ativam a cidade alimentando pes- acerca do cotidiano, enquanto cria
soas e relações. novas relações entre os participantes.
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próprios a uma cultura e tempo. Saberes trocas. Como também pode ser um
que são ameaçados pela forma aliena- ato de consumo alienado, no qual
da como consumimos alimentos como se omitem processos e massifica
produtos, sem saber do processo de uma cultura alimentar padronizada a
preparo, de como foi cultivado e como escala transnacional.
chegou em nossa mesa.
Trocas
A atuação do arquiteto A Cozinha Comum Itinerante possibi-
Partimos do incômodo de, na nossa for- litou diversos diálogos em cada con-
mação acadêmica, sermos provocados texto em que se deslocou. Na Escola
a imaginar, propor e atuar no território de Arquitetura uma nova aproxima-
de um Outro. Levamos a esses terceiros ção com a vizinhança. No período
nossos ideais de cidade: horta comuni- de ocupação da Escola uma possibi-
tária, rios limpos, praças vivas, ruas para lidade de uma interface política, de
lazer e outros cenários, enquanto nossa agregar e alimentar os ocupantes e
faculdade e vizinhança permanecem re- possibilitar diálogos com pessoas de
pletas de problemas, sobre os quais não
fora do movimento. No Morro das
refletimos criticamente e não agimos.
Pedras a criação de uma grande pro-
Acreditamos e buscamos praticar uma
ximidade com famílias tradicionais
atuação, enquanto cidadãos instrumen-
do local, de conhecer suas histórias
talizados com conhecimentos vindos da
área da arquitetura, mais próxima do co- através da alimentação e aprender
tidiano da cidade e da realidade de seus sobre as formas de vida que resistem
habitantes, partilhando nossas ações junto com comidas tradicionais, plan-
com outros cidadãos que conhecemos tio caseiro e uso de plantas nativas.
nessas práticas. Durante os mutirões da Horta Co-
munitária uma potência em agregar
Alimentação pessoas em uma construção comum.
Com alimento podemos nos referir a Na Urca e no ProJovem um poten-
tudo aquilo que ingerimos para saciar o cial pedagógico, de aprender junto e
corpo. Em nossas conversas entende- tomar consciência sobre a alimenta-
mos que há uma distinção entre aquilo ção. Em todos os casos a cozinha é
que se considera “alimento de verdade”, um espaço da troca intensa, criação
reconhecido como comida pelas pes- novos de vínculos entre as pessoas,
soas mais velhas, e o alimento processa- que a falta de espaços de sociabili-
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do, visto como produto nas prateleiras zação na cidade dificulta acontecer.
do mercado. Assim a alimentação pode A Cozinha Itinerante foi também em
ser um processo rico em histórias, todo processo um instrumento de
sabores, saberes e afetos, satisfazendo pesquisa partilhada, de se aprender
o corpo ao mesmo tempo em que move sobre o outro e falar sobre nós mes-
sentimentos e pensamentos, mobiliza mos através da comida.
pessoas e objetos, agencia conversas e
glossário cozinha comum itinerante
para atuar como ativador do projeto vezes não serão acessíveis, pois são
em cada território. As metodologias subjetivos, acontecem na escala do
adotadas visam assegurar o contato corpo e da transformação do pensa-
na escala do corpo, 1:1, assumindo mento. Podemos, no entanto, obser-
as responsabilidades que surgem var, através das situações, que a ação
no contato direto. Acreditamos que exerceu alguma influência. No Morro
a criação de situações de diálogo das Pedras, por exemplo, adolescentes
glossário cozinha comum itinerante
além dela. O terceiro eixo diz sobre uma Antes de se institucionalizar como
atuação protagonizada pelos morado- Centro Cultural e receber o projeto
res do Morro, que se apropriaram da do espaço atual, a comunidade local
Cozinha Comum Itinerante para agregar utilizava da área para realizar even-
atividades a propostas da comunidade tos culturais do bairro, movimentan-
da Vila Antena. Durante o período sob do inúmeras pessoas para propostas
responsabilidade do História em Cons- coletivas e autogestionadas.
trução a cozinha foi utilizada no preparo
de alimentos dos primeiros mutirões de Memórias gustativas da Urca
plantio para uma horta comunitária que Uma das mulheres que se envolveu
construíam, na exibição de filmes no com a Cozinha Itinerante contou
“Cine-Parede” e também como espaço que seus avós foram das famílias
para troca de mudas e saberes em um pioneiras a ocupar a região. Quan-
evento no dia das mães. do ali se instalaram haviam 4 casas
na vizinhança. A alimentação nessa
Urca época era suprida por seus quintais
Os primeiros moradores da Urca se e, algumas vezes, se reuníam para
instalaram na região no fim dos anos 50, realizar preparos que demandavam
poucos anos depois da inauguração da ingredientes encontrados disper-
Pampulha, região administrativa pro- sos no terreno de cada família. Para
posta como expansão do vetor norte do enfrentar a situação de poucos
município de Belo Horizonte. A consoli- recursos a comida se tornava um
dação do conjunto cultural da Pampulha importante elo entre essas pessoas,
induziu o crescimento informal de loca- força social potente em reuní-las em
lidades em seu entorno, grande maioria uma confraternização e potenciali-
ocupada por moradores de baixa renda zar outras trocas. As histórias das
procurando novas oportunidades na ci- mulheres que se mudaram para a
dade. Dentre essas localidades se inclui região depois de sua consolidação
o bairro Urca. e formalização apontam para outras
referências culinárias, hibridizações
Centro Cultural Pampulha culturais das cidades e estados nos
Durante nosso diálogo prévio ao início quais já moraram, reformuladas pela
do projeto a equipe do Centro Cultural tradição familiar de cada uma.
demonstrou um grande interesse em
desenvolver atividades que agregas- Metodologia utilizada na Urca
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Cozinha na Hora
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Troca de Mudas
Alimentos que Curam
Cozinha da Ocupação
Passeio PANCs
Banquete “Memórias de Resistência”
Ocupar, cozinhar e resistir
Cozinha com Secundaristas
Cafezinho contra a PEC
Cartilha Cozinhar e Resistir
Zines e cartazes
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território 1 cozinha comum itinerante
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Cozinha na Hora 14 de outubro de 2016
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Troca de Mudas 15 de outubro de 2016
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Troca de Mudas 15 de outubro de 2016
Receita da Tônia
de pudim de malva:
4 ovos
1 lata de leite Receita do
condensado
1 lata de leite
Rafael Machado de
1 colher de maizena moqueca capixaba
folhas de malva de banana da terra:
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Alimentos que Curam 17, 18 e 19 de outubro de 2016
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Alimentos que Curam 17, 18 e 19 de outubro de 2016
Conserva de
gengibre
da Zora
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Alimentos que Curam 17, 18 e 19 de outubro de 2016
Pão de Cará
uma massa lisa que não grude ratura e deixe assar por mais
mais nas mãos. Junte a man- 50 minutos ou até que fiquem
teiga em pedacinhos e sove dourados.
para homogeneizar a massa.
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Alimentos que Curam 17, 18 e 19 de outubro de 2016
Patê de cará
O ponto da geleia
Pegue um pouco do xarope
Geleia de Hibisco fino e levante a colher, a última
gota deve gelatinizar na borda
Flores de hibisco desidrata- da colher.
das e açúcar cristal
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Alimentos que Curam 17, 18 e 19 de outubro de 2016
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Alimentos que Curam 17, 18 e 19 de outubro de 2016
pragas. Até mesmo nas áreas urba- plantas comuns’, como por exemplos
nas, onde os caminhos geralmente o uso das folhas de batata-doce e do
são calçados ou pavimentados, elas mangará (coração) da bananeira na
podem ser observadas nos terrenos alimentação. As PANC têm potencial
baldios e rachaduras das constru- para complementação alimentar, diver-
ções. Surgem também nos quintais sificação do cardápio e dos nutrientes
não capinados e nas áreas abando- ingeridos. Também podem representar
nadas. uma diversificação das fontes de renda
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Alimentos que Curam 17, 18 e 19 de outubro de 2016
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Alimentos que Curam 17, 18 e 19 de outubro de 2016
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m. gengibre s. hortelã-pimenta
n. funcho t. jambú
o. cará u. centela
p. damiana
q. bel droega
r. coentro do pará T1
Cozinha da Ocupação 24 de outubro a 16 de dezembro de 2016
duração: 55 dias
local: Escola de Arquitetura da UFMG
público estimado: 40 cozinheiros, 400 estudantes e profes-
sores, centenas de transeuntes e visitantes.
de onde vem: A Escola de Arquitetura da UFMG foi ocupada
por seus estudantes em mobilização contra a PEC 241 (de-
pois PEC 55). Tomamos a decisão de flexibilizar a estratégia
de ação da cozinha no território e apoiar a causa estudantil.
processo: A ocupação se organizou através de Grupos de
Trabalho (GTs), dentre eles o GT Cozinha, responsável por
alimentar participantes e visitantes diariamente. Os pratos
eram desenvolvidos de acordo com as doações recebidas
pela ocupação, pensando sempre em elaborar uma alimenta-
ção inclusiva (vegetariana e que levava em consideração in-
tolerâncias alimentares dos participantes). A princípio foram
pensados alimentos para comer com as mãos, pela falta de
utensílios. Com a arrecadação de pratos e garfos a forma de
preparo foi também se alterando durante o período.
efeito: Cozinhando na praça chamamos atenção de passan-
tes que se surpreenderam ao ver em uma atividade política
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Cozinha da Ocupação 24 de outubro s 16 de dezembro de 2016
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Cozinha da Ocupação 24 de outubro a 16 de dezembro de 2016
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Cozinha da Ocupação 24 de outubro a 16 de dezembro de 2016
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Cozinha da Ocupação 24 de outubro s 16 de dezembro de 2016
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Passeio PANCs 27 e 28 de outubro de 2016
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Passeio PANCs 27 e 28 de outubro de 2016
Plantas identificadas
1. Jabuticaba 8. Quiabo (Abel- potencial uso como
(Plinia cauliflora): moschus esculen- corante
folhas, fruto, casca. tus): folhas, fruto, 18. Taioba (Xantho-
Uso medicinal. semente, rica em soma taioba): folha,
2. Sapucaia (Lecy- proteína, flor. rizoma. Ambos po-
this pisonis): fruto, 9. Hibiscus (Hibis- dem ser ingeridos
folhas. Importância cus rosa sinensis): após cozimento
ornamental. flores, folha tem 19. Trapoeraba (Tri-
3. Gardênia (Gar- uso similar à couve, pogandra diuretica):
denia jasminoides): pode ser refogada. folha, flor.
flores, frutos. Boa 10. Jasmim manga 20. Buva (Conyza
para fazer geleia. (Plumeria rubra): bonariensis): sua fo-
4. Bougainville flores. lha parece pimenta.
(Bougainvillea gla- 11. Chuva de ouro 21. Jambo amarelo
bra): flores, utiliza- (Cassia fistula): (Syzygium jambos):
ção como corante folhas jovens, flores fruto, flor.
alimentício, uso e frutos.
22. Amendoeira
moderado, 12. Serralha (Son- da praia (Termina-
5. Caruru (Amaran- chus oleraceus): lia catappa): fruto,
thus spp.): folhas, folhas, flores. semente, folha, uti-
talos e sementes. 13. Serralhinha lizada para envolver
Quanto mais forte a (Emilia sonchifolia): comidas.
cor do caule e pre- mesmos usos da 23. Maracujá (Pas-
sença de espinhos, serralha. siflora edulis): Pol-
maior o cuidado
14. Trapoeraba pa. Folhas têm uso
ao usar na comida,
zebra (Tradescan- medicinal, a parte
precisando ferver
tia zebrina): folhas, branca (mesocarpo)
mais.
flores. é rica em pectina,
6. Ora-pro-nóbis boa para fazer
15. Dinheiro em
(Pereskia aculea- geleias.
penca (Callisia re-
ta): folhas, frutos,
pens): folhas. 24. Goiaba (Psidium
flores, talos.
guajava): Fruto.
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16. Árvore do
7. Melancia (Citrul- A folha tem uso
viajante (Ravenala
lus lanatus): folhas, medicinal contra
madagascariensis):
semente, casca diarreia e distúrbios
sementes, seiva do
interna do fruto. A gastrointestinais.
caule.
casca é boa para
17. Erva do carpin- 25. Tamareira anã
fazer geleias, pois é
teiro (Rivina humi- (Phoenix roebelenii):
rica em pectina.
lis): seus frutos têm frutos
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Passeio PANCs 27 e 28 de outubro de 2016
PANCs Brasileiras,
Lucas Mourão
O Brasil possui rica diversidade de
PANCs: muito comuns, entre elas
estão a jaca, o jatobá, pequi, picão,
serralha, taioba, capuchinha, jerivá,
azedinha…Todas aquelas plantas
que são pouco (ou nunca) cultiva-
das, frutos nativos pouco vistos no
mercado, plantas muito utilizadas
antigamente por nossos avós porém
hoje nem tanto, bem regionalizadas,
vistas como mato/erva daninha,
comuns em outras culturas mas não
na nossa, em resumo: todos aqueles
vegetais que não são utilizados no
cotidiano e com pouco valor comer-
cial (ainda...).
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Banquete “Memórias de Resistência” 3 de novembro de 2016
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Banquete “Memórias de Resistência” 3 de novembro de 2016
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Ocupar, cozinhar e resistir 28 de novembro de 2016
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Ocupar, cozinhar e resistir 28 de novembro de 2016
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Ocupar, cozinhar e resistir 28 de novembro de 2016
quiser vem e faz. É uma coisa natural. volve uma relação de valor muito
diferente com a comida, eu morro
AJ: A gente tem personalidade muito
se um bolo meu sola. Eu fico muito
forte também, isso às vezes é um pro-
tenso, muito chateado. Ao mesmo
blema, pois não parece muito convi-
tempo, tem gente que não entende
dativo para alguns. A gente não é tão
esse tipo de coisa.
convidativo quanto poderia ser.
VA: Eu tinha cozinhado uma vez
C: Mas é porque ficamos muito tensos
aqui, no dia que almocei aqui com
cozinhando também, porque apesar de
as intercambistas alemãs. Foi muito
tudo precisamos fazer aquela comida
engraçado porque eu não conhecia
sair.
ninguém além da Isabela, e nós co-
S: O grupo é grande, né, e a gente fica zinhamos todo mundo junto. E essa
numa angústia para fazer as coisas liberdade não é a de você ir e fazer
darem certo... igual os problemas que sozinho, mas é aquela liberdade
aconteceram com pimenta, às vezes a de você poder experimentar junto,
produção é tão grande que nem todos propor. Olhando pra ocupação, é o
sabem passar para os outros as in- GT que mais se permite errar, nesse
formações sobre tudo o que estamos sentido. Como alguém vir com a
fazendo, e acontece de algumas vezes ideia “Vamos fazer um caldo com
virem reclamar de alguma coisa da canela”, quem teve essa ideia idiota?
comida. Mas ficou tão bom. E a melhor parte
é que esses erros que acontecem
P: É que mesmo a cozinha se propondo
dentro do GT são aprendizados e
a funcionar de maneira autogestionada,
são fundamentais. E a gente caiu
em qualquer erro que cometemos as
no GT da cozinha eu, Matheus e
pessoas que estão de fora reclamam
Fernanda, mais ou menos do mes-
muito. Então além da responsabilida-
mo jeito. A gente estava no GT da
de de fazer a cozinha funcionar nessa
comunicação e foi muito estressan-
escala muito grande, a gente também
te. Lá na comunicação era cada um
não pode errar. As reações são muito
fazendo o seu, daí a gente tentava
desproporcionais à quantidade de erro,
criar uma integração mas acabava
que para mim mostram que muitas
em disputa, um tentando ser mais
vezes as pessoas têm uma relação um
crítico do que o outro…
pouco infantilizada com a cozinha, de
não querer participar mas de serem os S: Teve uma época que alguém falou
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Ocupar, cozinhar e resistir 28 de novembro de 2016
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Ocupar, cozinhar e resistir 28 de novembro de 2016
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Ocupar, cozinhar e resistir 28 de novembro de 2016
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Ocupar, cozinhar e resistir 28 de novembro de 2016
lho de tomate, é uma galera que já tem coisas… 5 receitas dessa, 5 dessa, 4
o mínimo de interesse de experimentar daquela….”. A gente fez umas 20 re-
a cozinha e colocar isso em ação. E ceitas! Quando a gente ia fazer isso
acho que todo mundo aprendeu com na vida? Vira uma padaria né.
todo mundo aqui, outro dia fiz receitas
M: Foi sensacional! Nesse dia a
da ocupação lá em casa.
gente estava fazendo pão para o
M: Também queria reforçar essa ques- pessoal levar pra Brasília. Eram seis
tão de estarmos criando pessoas mais pessoas aqui na cozinha e a gente
conscientes em relação à alimentação. pensou que tínhamos que fazer pão
Eu mesmo passei a odiar margarina para todo mundo que estava indo
(requeijão também!). Além disso, desen- para durar 12 horas. Então saiu uma
volvemos uma consciência econômica. equipe para comprar o que estava
Outro dia foi levantado na assembleia faltando enquanto outra equipe
que a gente fica fazendo coisas que ficou aqui para começar. Quando
dão muito trabalho, tipo pão, e que a voltamos, quem ficou tinha orga-
gente poderia ir na padaria e comprar nizado a mesa para sovar o pão, a
o pão de sal. Mas a galera não pensa mesa para fazer cada receita, tudo
que o pão de sal é muito mais caro. E a organizadinho, os ovos e leites
gente faz porque a gente tem os ingre- separados, o que fez a produção ser
dientes disponíveis aqui, que chegam muito mais legal. Porque enquanto
de doação, é muito mais barato, muito um estava fazendo um pão o outro
mais saudável, agradável e vai alimen- estava fazendo outro e a gente co-
tar muito mais, e além de tudo a gente locava etiquetas falando que horas
gosta de cozinhar. tinha que tirar cada receita.
T: Normalmente nós temos uma rela- S: E eu acho muito bonito porque é
ção com a comida que é a relação de muito uma relação de afeto. A gente
produto né? Algo a ser consumido. E não vai dar umas bolachas de água
aqui a gente cria a relação do fazer, do e sal para o pessoal comer. E eu
processo, que é afetiva. lembro de ver o povo agradecendo
com as sacolinhas de comida, isso
–
foi muito emocionante.
C: E como é cozinhar para muita gen-
C: Acho que isso é uma caracte-
te? Como se organizar, como pensar as
rística de todo mundo que entrou
receitas?
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Ocupar, cozinhar e resistir 28 de novembro de 2016
M: Acho que isso tem a ver com a a cozinha para o lado de fora e o que
Escola de Arquitetura esta integra- isso provoca em nós que cozinhamos,
da na cidade, não é igual o Campus nas pessoas e na cidade. As relações
que está cercado, isolado e prote- que criamos com os vizinhos…
gido. Estamos perto de um sacolão,
M: Sábado mesmo duas senhorinhas
um supermercado.
estavam passando, viram a gente cozi-
AJ: Eu acho que o que mais influen- nhando e perguntaram se estávamos
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Ocupar, cozinhar e resistir 28 de novembro de 2016
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Ocupar, cozinhar e resistir 28 de novembro de 2016
P: Quando a gente foi para a aldeia um jeito e nós fomos ficando tão de-
Xacriabá a gente viu muito a ques- pendentes da carne que nosso corpo
tão da propaganda, e das pessoas parou de conseguir metabolizar elas
acreditarem que é muito bom para dos vegetais, mas ainda assim a vitami-
saúde por causa disso. Não tem um na está lá.
entendimento das propriedades,
W: A B12 em vegetais e legumes é
nutrientes e tal. E vem um discurso
encontrada no contato da casca do
de cima que convence todo mundo.
alimento com a terra.
T: Eles são muito reféns dessa
cultura produzida pela mídia e os
padrões estabelecidos a partir daí.
E acho que o Matheus está cer-
to quando diz que é uma cultura
ocidental, uma amiga indiana já me
falou que lá é comum comerem car-
ne uma vez por semana ou até uma
vez por mês.
MM: Um amigo meu me falou que
eles nem deixam de comer carne
de vaca por ser um animal sagra-
do, mas por pensarem que é muito
melhor ter ela para dar leite do que
comer a carne dela.
W: Sim, é muito mais inteligente
você ter o animal vivo e a partir
dele poder produzir outros tipos de
alimentos.
AJ: Lá em casa quando me pergun-
taram como está sendo na ocupa-
ção, o que a gente está comendo,
e eu falei que a gente não está
comendo carne, ficaram preocupa-
dos. Não existe esse pensamento de
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Cozinha com Secundaristas 1 de dezembro de 2016
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Cozinha com Secundaristas 1 de dezembro de 2016
Bolinho de feijão
1 xícara de feijão preto cru
1 e ½ xícara de cebola picadinha
2 dentes de alho
1 colher de sopa de orégano
desidratado
2 colheres de sopa de azeite
½ ramo de salsinha picada
1 colher de sopa de suco de limão
sal e pimenta a gosto
½ xícara de aveia em flocos finos
½ xícara de farinha integral
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Cozinha com Secundaristas 1 de dezembro de 2016
Pão de frigideira
Uma xícara e meia de farinha,
meia xícara de água morna,
salsinha e cebolinha picadas,
sal e azeite à gosto.
Maionese de ervas
Meio litro de óleo, 1 litro
de leite integral, 1 ramo de
salsinha fresca, sal e pimenta
do reino.
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Cafezinho contra a PEC 08 de dezembro de 2016
duração: 16 às 19h
local: ponto de ônibus intermunicipal próximo à Escola de
Arquitetura da UFMG
público estimado: 40 pessoas
de onde vem: Observando a potência da Cozinha enquanto
dispositivo de diálogo, que convidava as pessoas a se apro-
ximarem e entenderem o movimento dentro da ocupação, o
Cafezinho contra a PEC foi desenvolvido, como intervenção
urbana.
processo: Levamos o dispositivo a pontos de ônibus inter-
municipais próximos à faculdade. Oferecemos café e convi-
damos as pessoas a ouvir alguns pontos de debate levan-
tados pela ocupação a respeito da PEC 55 e seus prováveis
efeitos para os próximos anos. Junto ao café foi distribuído
um material gráfico desenvolvido pelo GT de comunicação.
efeito: As pessoas foram surpreendidas ao receberem de
um movimento político um café e o convite para conversar,
procedimento que quebra com a lógica de panfletagem e as
acerca à discussão.
cardápio: Café e pipoca
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registro: https://vimeo.com/194417839
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Cartilha “Cozinhar e Resistir”
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Zines e cartazes
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Zines e cartazes
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Zines e cartazes
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coletivo
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Visitas a famílias tradicionais entre janeiro e maio de 2017
duração: n/a
local: Morro das Pedras
público estimado: n/a
de onde vem: Junto ao grupo História em Construção nos
propusemos a investigar práticas culinárias tradicionais da
comunidade conhecendo as famílias que vivem ali acompan-
hando a construção e transformações da vila.
processo: Os parceiros da comunidade nos apresentaram
algumas famílias. Aos poucos criamos vínculos e visitamos
quintais e cozinhas; propusemos pequenos preparos para
compartilharmos receitas, escutarmos histórias e trocarmos
experiências através de práticas culinárias.
efeito: Através dessas visitas criamos laços com diversos
moradores do Morro das Pedras. Nas conversas conhece-
mos receitas que pontuam e conduzem as histórias individu-
ais dos moradores, ao mesmo tempo que refletem a história
coletiva da comunidade. Saberes como modos de preparo
ligados a situações vividas pelos moradores, uso de recur-
sos locais, plantas nativas e manejo sustentável do território
foram compartilhados em preparos da Cozinha Comum
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Visitas a famílias tradicionais entre janeiro e maio de 2017
Em nossa visita à família Canuto tia que tinha a pele maravilhosa! Ela
aprendemos muito sobre a história morreu tão esticadinha tadinha, e foi
do Morro das Pedras. A conversa o inhame viu? Sabe por quê? Todo
apresentada aqui aconteceu durante santo dia ela comia inhame no café
um almoço na casa de dois membros da manhã.
da família.
C: Em pernambuco a gente tem
costume de comer inhame ou man-
M: Aqui como é só nos dois eu faço dioca no café da manhã. Ou na janta
arroz na panela de pedra. Socador eu também.
tinha o de alumínio, mudei pro de pedra.
Eu não soco não, só macero. Assim M: No café da manhã ela cozinhava o
eu como bem, estou mudando até os inhame e ao invés do pão comia um
utensílios de casa para comer melhor, inhame no café.
com o tempo vai ficar igual as cozinhas C: Inhame limpa o sangue né?
da TV. Essa aqui também eu ganhei, ela
é de barro, eu uso ela mais de enfeite, M: Limpa mesmo, essa minha tia é
acho que não tem como cozinhar com um exemplo, todo dia comia inhame
ela não. de manhã.
C: Tem sim, essa usam para fazer mo- C: E você tem algum segredo para
queca de banana, fica muito bom. Você descascar o inhame? Minha pele fica
come dendê, essas coisas? toda irritada.
M: Eu não sou muito chegada não. M: Tem dois tipos de inhame, né. O
Dendê e aquela folhinha, coentro. Eu inhame é grandão, o cará é pequini-
não gosto, não. Agora lá em casa eu ninho.
faço uma farofa de banana caturra com C: Sim. Mas tem uns que ficam meio
farinha de milho, né filho? Ele é viciado. aguados, né?
Mas é uma coisa assim, no dia que faço
nem faço arroz. Aqui em casa a gente M: Tem uns que ficam batumados.
não come muito arroz não. Mas acho que nem tem como você
saber se vai estar assim ou não. Acho
F: Ou é batata, batata doce, ou uma que é pela casca. Quando meu filho
abóbora. teve dengue eu fiz um suco de inha-
M: A gente faz também uma tortinha de me que fica parecido com um leite, é
batata, um bolinho de batata. Mas eu bem gostoso.
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Visitas a famílias tradicionais entre janeiro e maio de 2017
T: Acho que para quem não come assim “ah eu vou parar de comer carne”
carne não é um problema. aí parava por um tempo e depois volta-
va. Ela me ensinou umas coisas, entre
P: Cada médico fala uma coisa né?
elas o arroz com gengibre. Acho que
Acho que cada pessoa tem que en-
agora ela tá comendo carne. Porque ela
tender o que é bom pro seu próprio
ficava um pouquinho mas não dava con-
corpo.
ta. Queria parar mas não conseguia.
T: Normalmente você cozinha só
C: Tem muita gente que tem muita difi-
para vocês dois?
culdade, porque a carne é muito arrai-
M: É. Só para nós dois aqui em casa, gada né?
toda semana eu invento alguma coi-
M: Igual lá em casa, com meus irmãos
sa. Todo dia. É mais difícil para quem
lá, minha mãe chega a fazer 3 frangos
não come carne ficar na mesma
num dia quando a família vai comer. E
rotina né?
antes do almoço sair ainda tem aqueles
T: Acho que quem não come carne aperitivos e coisas assim. O povo come
costuma se aventurar muito mais na muita carne, muita carne mesmo.
cozinha, ser mais inventivo.
C: E carne é caro, né? Com o dinheiro
M: Então, é o meu caso. Eu invento de um quilo de carne você compra mui-
muito mais coisa. Vou inventando to mais legumes e uma variedade bem
para não ficar naquela mesmice. Aqui maior também.
em casa meu filho já não faz muito.
T: E é caro o ano todo! Os legumes vão
Faz umas coisinhas que ele gosta.
mudando de valor de acordo com a épo-
Mas vir para cozinha para fazer mes-
ca de cada um, e isso ajuda também a
mo não. Aí isso aí já é comigo.
variar a alimentação, comer mais coisas
T: Onde você vai buscando receita? diferentes.
Você usa a internet?
M: É tudo questão de costume! Depois
M: Ah, aqui (mostra os livros de recei- que começa a fazer...
ta). Eu vou comprando livro, revista,
–
vou inventando moda. Você já comeu
gengibre no arroz? Se vocês come- C: Você ficou na ocupa do CRJ? Como
rem vocês vão pirar. Na hora que eu funcionava a cozinha lá?
estou torrando o arroz, na hora que
F: Então, como a maioria não comia car-
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Visitas a famílias tradicionais entre janeiro e maio de 2017
café… quando a gente está sozinho em né? A gente coloca tomate, cebola,
casa passa nessa aqui (coador indivi- hortelã, limão, pimenta e um pouco
dual) e quando estamos nós dois tem de azeite.
essa garrafinha que dá duas xícaras.
M: Às vezes coloca pepino. Mas cada
T: No dia que fomos na casa de sua semana eu faço de um jeito. Só para
mãe eu reparei, são 3 garrafas de café, não enjoar. Agora o tradicional mes-
o mais doce, o médio e o sem açúcar. mo é isso aí, o verdadeiro. Mas o meu
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Visitas a famílias tradicionais entre janeiro e maio de 2017
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Visitas a famílias tradicionais entre janeiro e maio de 2017
eu coloco com milho, azeitona… Você sabe qual pimenta que ele fez?
Pegou a semente de mamão, deixou
–
secar e virou pimenta. O mesmo sa-
M: Quando a gente fala que não come bor, a mesma ardura. Ele deixa secar
carne p pessoal até acha ruim. no sol ou no forno. E vai moendo.
F: Um amigo meu parou de comer car- Você não tem noção do sabor. E ele
ne. A mãe dele tem experimentado cada inventou isso, ele viu em uma matéria
receita, outro dia teve um risoli muito algo sobre e resolveu testar. Porque
gostoso. a sementinha arde né?
–
M: Pimenta eu compro em grão, para
moer na hora. M: Esse limãozinho veio lá de Itabi-
rito. Onde eu trabalho eles têm um
C: Eu amo pimenta. sítio. Por exemplo, milho lá eles não
M: Eu também! E meu irmão, ele não compram, traz do sítio e coloca num
pode comer pimenta. Não pode por- saquinho. Lá tudo é natural. É minha
que tem problema. Aí o que ele fez? cara, porque eu gosto desses trem.
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Visitas a famílias tradicionais entre janeiro e maio de 2017
M: Não, do jeito que a gente tá fa- F: Ali descendo pra minha avó tem um
zendo, não. também.
C: É, outra coisa você comer um M: Aqui o pessoal ainda usa demais. Um
frango que foi criado em casa, você dia desses eu fiz mini-pizza de abobri-
mesma matou. Tem responsabilidade nha. Coloquei a abobrinha dentro do
sobre aquilo… forno e deixei ela dar uma murchada.
Daí coloquei tomatinho, mussarela,
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Visitas a famílias tradicionais entre janeiro e maio de 2017
orégano e bastante azeite. Nossa, você M: Você come ele cru, ele é molinho
não tem noção. Ela fica fininha, murcha tem uma carninha.
tanto que fica crocante.
F: E tem muita coisa que tem lá que
M: Existem quatro tipos de ora-pro- hoje em dia é desperdiçada, igual,
nóbis. Eu não sei o nome… mas eu sei por exemplo, a jaca da nossa vizinha.
que um é barquinho, outro é folhinha O pé da casa dela dá um tanto e per-
comum, tem até um sem espinho. Você deu tudo, ela não vende, ela não dá.
já ouviu falar de cansansão? Ele é assim,
M: Eu detesto desperdício. Nessa
se você encostar a perna, ele sapeca tu-
garrafa aqui de café cabem duas
dinho. Mas se você comer é uma delícia.
xícaras grandes e quatro pequenini-
Ele baba, e a folhinha é grossinha. Mas
nhas. Não fica café aí
se você encostar nele queima a largada.
P: E quando sobra café fica meio
–
ruim, né?
M: Lá na casa da minha mãe dois irmãos
M: Você sabe que quando sobra ele
cuidam da horta. E outro usa o fogão do
fica meio verde? Por exemplo, você
corredor o lado para cozinhar feijão.
fez café, tomou um pouco e deixou
P: Ele nos falou de quando foi matar o resto na garrafa. Aí no outro dia
um ganso e o bicho saiu correndo sem você vai fazer outro, aquele que você
cabeça. Das farofas de gato que eles jogou fora tá verdinho.
faziam quando eram pequenos...
P: Os melhores cafés produzidos no
M: Faziam mesmo. Não podia achar um Brasil são enviados pra exportação,
gato no meio da rua. Quantas vezes a né! A regulamentação para exporta-
gente já comeu coxinha de gato achan- ção é muito mais rígida do que a aqui
do que era de galinha. Agora não faz de dentro.
isso mais não, mas antigamente fazia.
F: A mãe de uma amiga comprou
P: É, ele falou que vocês pegavam as uma máquina para moer o café na
comidas todas do mato né? Iam achan- hora..
do as plantas e cozinhando…
M: Tem aquela cafeteira francesa que
M: Naquela época era muito diferente! tem que fazer com o café triturado,
Não tinha casa em volta, era só mato. porque não pode ser pó. Daí ela
Depois que abriu a rua, foi aparecendo prensa o grão triturado na hora de
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Prova às cegas – ProJovem 16 de março de 2017
duração: 3 horas
local: ProJovem Morro das Pedras
público estimado: 18 pessoas
de onde vem: Após uma conversa inicial sobre alimentação
com os adolescentes do ProJovem percebemos que o tema,
de pouco interesse, não está presente em suas discussões
cotidianas. Achamos que poderia ser interessante promover
uma atividade de sensibilização.
processo: Levamos dois alimentos para todos provarem de
olhos vendados e, pelo paladar, falar quais ingredientes es-
tavam presentes. Uma das meninas da turma fez anotações
sobre o que cada pessoa falava.
efeito: A atividade foi bem aceita para alguns da turma,
enquanto outros se mantiveram mais resistentes a comer o
que estávamos oferecendo. Percebemos que os alimentos
artificiais são muito presentes no repertório dos jovens, que
associaram sabores naturais a temperos artificiais. Os alunos
com experiência em cozinha se mostraram mais apurados na
identificação dos sabores e sua associação aos verdadeiros
ingredientes.
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Bolo de chocolate vegano – ProJovem 23 de março de 2017
duração: 3 horas
local: Rua de acesso ao ProJovem
público estimado: 12 jovens e alguns funcionários da institui-
ção
de onde vem: Com parte da turma sensibilizada em relação à
alimentação, propusemos a realização de um preparo coletivo
na rua. Decidimos iniciar uma discussão sobre alimentação
vegana, trazer aos alunos alimentos que expandissem seus uni-
versos culinários e gustativos, para entenderem outras formas
de se fazer receitas convencionais.
processo: Levamos ingredientes para fazermos um bolo com
o cacau que havíamos experimentado na semana anterior, mas
sem ovos nem leite. Preparamos calda de beterraba e um doce
de caqui, por ser uma fruta da época, barata e que poucas
pessoas conhecem. A escolha dos sabores partiu da ideia de
continuarmos experimentando outras possibilidades de uso de
um mesmo ingrediente.
efeito: Durante o preparo alguns funcionários se envolveram.
Um grupo subiu com mulheres que trabalham na cozinha do
local para colher ervas na horta comunitária e preparar chás. Os
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Empanados na Rua – ProJovem 30 de março de 2017
duração: 3 horas
local: Rua Central, Vila da Antena
público estimado: 18 pessoas e transeuntes da rua
de onde vem: Em uma de nossas visitas a uma família tradi-
cional do Morro das Pedras preparamos diversos aperitivos e
petiscos empanados. Decidimos compartilhar a história des-
sa família aos jovens e realizar preparo de legumes empana-
dos e molhos - pensando formas de tornar mais interessante
o consumo de legumes e vegetais para os jovens.
processo: Observamos nesse preparo como o coletivo se
comportava em relação às articulações necessárias com a
vizinhança para o preparo: conseguir ponto de água, trocar
o botijão de gás, visitar uma vizinha para usar o liquidificador
para o preparo da molho. O processo envolveu tanto jovens
quanto moradores mais velhos da rua.
efeito: O envolvimento de pessoas da vizinhança permitiu
uma troca de experiências e saberes através da cozinha.
Alguns jovens não estavam confortáveis em cozinhar na rua.
O preparo do peixinho, uma folha que ao ser empanada, tem
sabor de peixe frito, foi uma grande surpresa não apenas
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Empanados na Rua – ProJovem 30 de março de 2017
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CineParede 1 de abril de 2017
duração: 5 horas
local: Praça atrás do centro cultural História em Construção
público estimado: 20 pessoas
de onde vem: CineParede é um cineclube de rua que o
grupo História em Construção realiza em fachadas cegas da
favela. Fomos convidados para levar algum preparo para a
cozinha durante uma sessão de cinema.
processo: Decidimos fazer algo simples para não interferir
muito na dinâmica do evento, que estava cheio de crianças.
Levamos alguns sacos de milho para estourar pipoca. O
dispositivo da cozinha despertou curiosidade nas crianças
presentes, que se organizaram para aprender a fazer e servir
a pipoca, arrecadar entre eles dinheiro para comprar mais
milho e suco em pó e negociaram com uma vizinha para pre-
pará-lo em sua casa. Quando acabou a pipoca improvisamos
com o que tínhamos de ingredientes e um copo de óleo cedi-
do por uma vizinha, com cebola, farinha de trigo e temperos
preparamos cebolas empanadas.
efeito: A forma como as crianças se organizaram foi uma
experiência onde aprenderam a cooperar para todos come-
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Passeio pelos quintais – ProJovem 6 de abril de 2017
duração: 03 horas
local: Quintais do Morro das Pedras
público estimado: Cerca de 12 jovens
de onde vem: Após alguns preparos coletivos propusemos
uma atividade para sensibilizar os jovens em relação à cultura
culinária local e às histórias e tradições que passam por elas.
Além disso, o passeio foi uma chance para muitos aprenderem
a reconhecer diversas plantas de uso cotidiano cultivadas pelos
moradores do morro.
processo: Realizamos uma caminhada guiada pelos próprios
conhecimentos territoriais do grupo, visitando as casas com
quintais que conheciam e desviando a rota quando olhares
atentos encontravam alguma planta que se avistasse da rua.
Durante as visitas fomos realizando fotos e breves conversas
com os moradores, perguntando sobre a história deles no Mor-
ro das Pedras e de seus quintais - como iniciaram o plantio, o
que escolheram plantar, os usos que fazem dos quintais.
efeito: As conversas foram sendo conduzidas de modo informal,
sem seguir um roteiro, estimulando nos jovens a curiosidade
de se aprender com os moradores mais velhos e frisando que
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Passeio pelos quintais – ProJovem 6 de abril de 2017
V: Eu uso. Mas é muito também né. V: É, eu falei que não, tem que bater
Olha ali o tanto pendurado. bem com a colher de pau. É o segredo.
Daí coloca a cebola e o gengibre na
Nó: é muito mesmo né. massa.
Nó: e você planta tempeiro, alguma Nó: Eu nunca tinha visto gengibre no
coisa assim? acarajé.
V: Não, não sou muito de plantar não V: É tem que colocar cebola e gengibre.
viu. porque aqui tem gato.
Nó: Mas você refoga o gengibre?
Nó: E o que vc gosta de fazer com o
chuchu? V: Não não. Você vai e descasca ele. E
quando vai passar o feijão do acarajé
V: Ah, ontem eu cozinhei um bocado. no moinho, daí vc coloca um pedaço do
A gente fez com camarão. gengibre. Não pode colocar muito, né! E
Nó: olha, que interessante, nunca vi! a cebola! Daí depois você passa no aca-
Ele refogadinho? rajé e coloca vinagrete, camarão, vatapá
e caruru. Sabe o que é caruru?
V: A gente bate o camarão no liquidi-
ficador e joga no chuchu quando ele Nó: Não.
tá quase cozidinho V: Caruru é quando pega o quiabo, cor-
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Nó: Na Bahia a senhora usava o chu- ta bem miudinho, pica bem picadinho,
chu também? daí depois você coloca camarão, cebola,
tomate, pimentão, coentro e todos os
V: Na peixada a gente usa muito tempeiros. Daí bate no liquidificador
chuchu. camarão e os tempeiros e coloca dentro
Nó: E como que era a do camarão? do caruru. Aí vai cozinhar o quiabo, né?
Depois você coloca azeite de dendê e o
V: Eu bato ele com outros temperos coco. Vatapá é a mesma coisa, você vai
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Passeio pelos quintais – ProJovem 6 de abril de 2017
arregaça tudo. Caminhão vem e… Olha água quente, daí você pode comer
o chuchu aqui pendurado olha! Vem na salada.
até aqui. Às vezes o caminhão vem e eu
V: Olha só! Essa folha aqui mesmo eu
mando o pessoal pegar, mas o pessoal
não comia.
às vezes esquece de pegar e o cami-
nhão vem e leva com tudo. Nó: Ora-pro-nóbis? É mineiro. Tem
muita proteína.
Nó: Aí perde né.
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Passeio pelos quintais – ProJovem 6 de abril de 2017
V: E da uma flor tão bonita. Dá para zelar, a tocar minha mão. Porque mi-
comer, fazer doce. Eu vou tirar uma nha mão é muito boa para planta. Aí
muda para vocês plantarem, tá bem? comecei a tocar nele e ele começou
Vou levar um maracujá para vocês a fazer isso aí. Só que não dá gosto
também! porque o caminhão vem e arrega-
ça tudo. Caminhão vem e… Olha o
Nó: Obrigado, e desculpe o incômo-
chuchu aqui pendurado olha! Vem
do tá?
até aqui. Às vezes o caminhão vem
V: Ih! Que nada. e eu mando o pessoal pegar, mas o
coco. Vatapá é a mesma coisa, você pessoal às vezes esquece de pegar e
vai fazer vatapá de pão, aí você o caminhão vem e leva com tudo.
coloca o pão de molho, bate no Nó: Aí perde né.
liquidificador com todos tempeiros,
V: Não, não faz gosto não. Eu às ve-
camarão, castanha, amendoim, tudo!
zes penso que vou mandar tirar tudo.
Depois vai mexer no fogão.
Porque você zela, você molha e limpa
Nó: Quanto tempo? a coisa toda. Daí vem um caminhão-
V: Ah, fica um tempo. Quando você zão pesado que tá fazendo esse es-
vê soltando da panela já, quase igual trago. Isso aqui não é lugar de passar
mingau de milho, dando aquelas caminhão não. É muito estreito.
bolhas, aí já tá no ponto. Nó: Qual caminhão é? Do lixo?
Nó: E na Bahia você tinha quintal V: Não é só caminhão do lixo não.
também? Plantava? É caminhão de concreto, pessoal
V: A minha mãe plantava. Plantava que bate lage, essas coisas. Ó aí o
alface… minha família é do interior. chuchuzinho. Esse é do verde, é uma
delícia.
Nó: De onde que é?
Nó: Sabia que esse chuchu, o talo
V: Lá é um lugar chamado Tombador, quando tá novinho, dá para comer
perto da Lagões. também?
Nó: Há quanto tempo a senhora está V: O talo? Você come?
morando aqui em Minas?
Nó: É, você branqueia ele, ferve na
V: Já faz uns 15 anos que eu moro água quente, daí você pode comer
aqui.
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na salada.
Nó: O ora-pro-nóbis aqui você que V: Olha só! Essa folha aqui mesmo eu
plantou? não comia.
V: Eu que plantei. Aliás, não. Estou Nó: Ora-pro-nóbis? É mineiro. Tem
mentindo. Eu cheguei e encontrei ja muita proteína.
aqui. Só que eu encontrei só aquele
negocinho fiado, sabe? Aí comecei a V: E da uma flor tão bonita. Dá para
comer, fazer doce. Eu vou tirar uma
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Passeio pelos quintais – ProJovem 6 de abril de 2017
A dona da segunda casa foi uma das era meu sonho, porque quando eu
primeiras moradoras do Morro das era menina, o vovô tinha um sítio e
Pedras. Ela tem um pé de uva muito o sítio dele era assim. Era a entrada
grande, que distribui aos vizinhos. no fundo e na frente só laranja.
Nó: Onde era o sítio dele? Nova
Nó: A senhora sempre morou nessa
Lima?
casa?
P: Em Belo Horizonte. Onde é o
P: Eu vim pra cá há 50 anos. Eu sou de
Salgado Filho hoje.
Nova Lima, nascida lá. Só que acontece
que vim pra cá com 16 anos, para Belo Nó: E aqui era bem diferente tam-
Horizonte. Mas depois voltei para Nova bém quando a senhora chegou né?
lima, me casei em Nova Lima. Devia ser muito mais arborizado.
Nó: Aí você ficou lá mais um tempo? P: Nossa… eu não quero nem lem-
brar. Era ruim mesmo. Ruim mesmo.
P: Não, saí daqui, fui me casar lá e
Para começar fazia até medo. Ali
voltei.
tinha um pé de… pé de… umas plan-
Nó: A senhora sempre plantou aqui? tas muito grandes. E lá escondia uns
homens. A gente vivia com o portão
P: Aqui ó, essa laranja, tem 50 anos.
trancado.
Aliás, não. Mais que 51 anos!
Nó: E aí foi melhorando?
Nó: Ela veio pra cá com você então?
P: Sim. Hoje nós estamos no céu.
P: Não, ela veio na minha frente.
Né, Marcos?
Nó: Quando a senhora chegou já tinha
Nó: Quando a senhora chegou aqui
ela aqui?
tinha água na sua casa? Ou tinha
P: Não. Eu mandei ela vir na frente. que descer para buscar?
Aqui era a casa da minha sogra.
P: Não. Eu pagava para buscar. Por-
Nó: Como que foi? que eu não dava conta de buscar
P: Aqui era a casa da minha sogra né. também.
E isso tudo era dela. Então nós, depois Nó: E a senhora pagava quem?
de 3 anos de casados, viemos morar
P: Tinham aquelas pessoas que en-
aqui com ela porque ela já estava meio
chiam o tambor para gente e então
adoentada. Mas esse pé de laranja eu
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Passeio pelos quintais – ProJovem 6 de abril de 2017
P: Ué menina, você tá doida. Apro- ta, para você trocar muda com eles?
veitava a água.
P: Não. Eu sou muito grande né? Você
Nó: Onde a senhora mandava bus- está vendo meu tamanho (risos). Então
car? eu espero que a pessoa apanha e eu
fico com um pouco. Tem hora que eu
P: Ali em cima, onde tem aqueles…
não tenho quem panhar daí dou dinhei-
olha, no interior a gente fala é bul-
ro e o menino apanha. É, meu filho,
cera mas aqui já fala que é aparta-
você tem que se virar. Esse ano não
mento. Daí eu digo aqueles “aperta-
deu muita não, deu até pouca. Mas ano
mentos” ali… Ali em frente à padaria,
passado deu uva.
pois é.
Nó: Tá na época?
Nó: E como é que a senhora apro-
veitava a água? P: Já passou, agora só dezembro. Se
vocês estiverem aí pode pegar.
P: Uai, água que cozinhava arroz,
que cozinhava feijão, tudo você Nó: Ali na outra casa a menina falou
guardava. que passa o caminhão de lixo e ela fala
para eles pegarem o chuchu que dá
Nó: Hoje em dia a senhora ainda
no muro também… sempre teve esse
aproveita a água?
costume de passar o caminhão de lixo
P: Hoje não. Hoje é mais fácil. Não recolhendo as coisas?
estou falando que a gente está no
P: Não, eles não recolhem não. A gente
céu hoje?
chama. Eles param para recolher o lixo
Nó: E a senhora costuma cozinhar e a gente chama eles. Aí é ótimo, faz
com as coisas do quintal? amizade... Chama para um café. O que
P: Eu não tenho coisa para cozinhar vale é a amizade que a gente faz! E
assim não. graças a Deus, um dia a gente repassa
isso para frente.
Nó: É mais tempero, né?
Nó: E quando a senhora faz festa aqui
P: É, mas nem isso eu tenho. chama os vizinhos também ou só famí-
Nó: E por que a senhora planta? lia?
ó, casou com a outra e agora tá dan- quinho. A vizinha fala assim “a senhora
do essa preta. faz festa todo dia!” Mas é só a gente
mesmo. Agora aquele vizinho que che-
Nó: E a uva que dá aqui a senhora ga também pode vir.
faz o que? Você come, faz doce?
Nó: E tinha época que tinha festa na
P: Não, eu dou para os outros. rua também? Ou nunca teve isso de re-
Nó: Tem mais vizinho aqui que plan- unir a vizinhança e fazer festa na rua?
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Passeio pelos quintais – ProJovem 6 de abril de 2017
A terceira casa que visitamos é de uma Nó: Ah sei, ali no norte. A senhora
família que planta há muitos anos. A plantava lá também?
senhora compartilha suas ervas com
A: Lá eu não mexia com planta não.
vizinhas, e seus netos cozinham para a
Trabalhava com lavoura… Não dava
família e para fora.
tempo não, mexer com horta.
A: Você veio buscar chá? Nó: Todos seus filhos moram aqui
Nó: O que é? em BH?
A: É poejo. Vai levar para ela. A: Nem todos.
Nó: É bom para que? Nó: Mas todos tem gosto para plan-
tar?
A: Para gripe né?
A: Eu planto para eles. Quando pre-
Nó: E você planta aqui? cisa eu dou.
A: Eu planto poejo, hortelã, cebolinha, Nó: Como você começou a plantar?
babosa.
A: Veio um amigo meu aqui e olhou
Nó: E você usa tudo? para minha horta e deu para mim
A: Uso. Agora esses dias não estou até uma semente…
muito bem, aí meu filho está cuidando. Nó: Como que é esse chá?
Nó: A gente está fazendo uma pesqui- A: Esse é pra saúde da criança. Esse
sa com os meninos do ProJovem para aqui é algodão, esse funcho, hor-
entender o que as pessoas plantam em telã. Esse aqui é o poejo. Esse aqui
suas casas. eu não sei o que que é., acho que é
A: Ora-pro-nóbis eu tenho na minha gengibre.
horta também. Nó: E como você aprendeu essas
Nó: Você é cozinheira né? receitas com chá?
A: Eu? Ninguém conta. A: Da cabeça, das ideias. Tá tudo
aqui. Eu não gosto de tomar remé-
Nó: Tem quanto tempo que a senho- dio, eu gosto de tomar chá.
ra planta aqui? Desde quando você
chegou? Nó: O remédio é uma indústria né?
Que quer te ver sempre dependen-
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N: Distribui né? Ela não podia mexer ali na trincheira? Na contorno? Ela
porque estava com pé inchado... trabalhou numa casa ali de muitos
anos de cozinheira. Esse daí está
Nó: O pé você tratou com alguma plan-
fazendo curso de gastronomia.
ta ou tomou remédio?
Nó: E você gosta de cozinhar que
A: Quando eu vou no médico o único
tipo de coisa?
remédio que eu uso é o de pressão e
assim para dor… aí o resto eu prefiro P: Eu faço de tudo, desde o básico
tratar com chá. até elaborado, o que precisar de
fazer. Igual eu tinha que fazer um
N: Como você descobriu que eu estou
trabalho para escola, fiz um boli-
cozinhando?
nho de batata recheado de carne
H: O tropeiro que você vende, ue. Nós moída. Frito.
já comemos.
N: Deu trabalho para ele coitado.
Nó: Você faz em casa mesmo?
P: Eu falei: eu vou fazer com carne
N: A um tempo atrás eu estava fazen- e vou fazer assado. Coloquei carne,
do. Mas eu trabalho é com idoso, sou cebola, pus farinha de pão, passei
cuidadora. molho, empanei e ficou uma delícia.
Nó: Mas daí você faz em dia de evento? Nó: E por que você escolheu gastro-
N: Faço nomia?
joga e da uma misturada. Daí você co- arroz com feijão mas é uma delí-
loca o verde; cebolinha salsinha, o que cia. Mas tem que fazer com amor.
você quiser… A minha mãe usava muito Entendeu? Se você faz com amor e
tempero mas tudo natural. Picava o carinho, aquilo que vcoê come vai
alho, a cebola. Nada de tempero indus- estar uma delícia. Tem aquelas pes-
trial. Mas ela fazia todo tipo de comida. soas que reclamam “que porcaria,
Quando a gente veio aqui para Belo só tem arroz e feijão” e não sentem
Horizonte ele tinha 12 anos. Daí sabe prazer em fazer.
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Passeio pelos quintais – ProJovem 6 de abril de 2017
P: Igual minha colega ela é mulher vem comida pronta geralmente são
e me pergunta “não sei onde você produtos que já estão vencendo, eles
tem tanta paciência para cozinhar. colocam um tanto de conservante e
Eu cozinho por causa do meu filho, vendem para o consumidor.
se não fosse por ele nem na cozinha
Nó: A comida que eles chamam de con-
eu entrava”.
gelada, aquilo não é bom não. É bom
N: Eu gosto de experimentar sabe? fazer na hora mesmo.
Pensei, sonhei e fiz. Eu invento e
P: Outro dia eu vi uma reportagem um
faço dar certo. Eu não anoto. Outro
senhor falando que nem chama isso de
dia meu filho falou, que ele é gar-
comida, chama de produto comestível.
çom, que eu nunca ia conseguir tra-
Porque comida mesmo é o que a gente
balhar com cardápio. Dá vontade de
colhe, cozinha né…
fazer mesmo um restaurante sabe?
N: É, igual o macarrão. Eu trabalhei
P: Ali também quem cozinha bem:
com uma senhora ela é italiana. Você
comida simples, caseira…
sabe um macarrão do tipo bico de
A: Eu não sou de misturar assim pato? Ele é um macarrão grosso, aí o
não.. feijão, arroz, angu, abóbora, que acontece. Ela picava presunto e
chuchu, tomate, pimentão. mussarela, deixava na água 15 minutos,
aí ela fazia o molho e punha camada
Nó: E tem alguma coisa muito dife-
por camada, camada por camada…. daí
rente que você aprendeu na escola
vinha com o molho diferente, daí outra
de gastronomia?
camada. Ele é tipo uma lasanha, só que
P: Eu estava na teórica. Hoje vai com o próprio macarrão, recheado em
começar a prática. cada camada.
Nó: Mas na teoria aprendeu algo Nó: É muito diferente de você comprar
novo? uma comida pronta né? Você não sabe
o que vem em uma comida pronta.
P: Nossa, praticamente tudo né.
Você sabe que está escrito um tanto
Porque igual acontece, é muita
de nome que a gente não entende. Mas
coisa que vc ve no supermercado e
não tem como garantir nada.
fala assim “a partir de hoje eu não
entro mais naquele supermercado, N: Exatamente. Então a comida con-
açougue”, a pessoa fica com todos gelada, ela não tem um sabor igual a
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Mutirões 08, 14, 21 e 28 de abril de 2017
duração: 09 às 19h
local: Morro Verde
público estimado: cerca de 30 pessoas por dia
de onde vem: As áreas abaixo da linha de transmissão de
energia que atravessam o Morro das Pedras foram removi-
das por obras públicas, que nunca foram concluídas. O His-
tória em Construção se articulou com um grupo de vizinhos
de uma dessas áreas de remoção para a construção de uma
horta comunitária, batizada de Morro Verde.
processo: O início dos mutirões para remoção dos entulhos
que estavam há mais de 5 anos no terreno se deu quando a
Cozinha Comum Itinerante estava em posse compartilhada
com o História em Construção. O grupo de moradores do
Morro das Pedras utilizou a cozinha para realizar preparo de
refeições para todos que trabalhavam no projeto.
efeito: A cozinha contribuiu para movimentar os mutirões,
pessoas se aproximavam, interessadas pelo equipamento e
pelo cheiro dos preparos. As refeições eram feitas por um
grupo de crianças e adultos, que as ensinavam como fazer
receitas, enquanto outro grupo trabalhava na horta. Crian-
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Saberes culinários da família Canuto 15 de abril de 2017
duração: 8 às 20h
local: Beco dos Canutos
público estimado: 60 pessoas
de onde vem: Durante nossas visitas às famílias tradicionais
do Morro das Pedras construímos uma relação afetiva especial
com os Canutos. A família reside no lugar há cerca de 50 anos,
acompanhando muitas das transformações do território, algu-
mas vezes refletidas em sua alimentação. Com eles aprendemos
muito sobre receitas, histórias, lutas, cultura e modos de vida
consciente. Decidimos junto a alguns membros da família levar
a Cozinha Itinerante até o beco que leva o nome deles, para
realizar um evento de memória gustativa.
processo: Construímos junto com eles um cardápio. Uma das
irmãs, há mais de um ano vegetariana, incluiu receitas tradicio-
nais repensadas de forma a não usar carne. Durante o evento
a família se reuniu para cozinhar e fazer samba, movimentando
várias pessoas da vizinhança, num lugar de encontro, confrater-
nização e troca. Algumas pessoas levaram ingredientes de seus
quintais, como pau doce e folhas de louro.
efeito: Nas conversas durante o evento conhecemos muitas
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Preparo de quibe – ProJovem 15 de abril de 2017
duração: 03 horas
local: História em Construção
público estimado: 12 pessoas
de onde vem: Para esta oficina a ideia foi apresentar uma
releitura de um prato que todos conhecem, o quibe, introdu-
zindo na receita a abóbora, ingrediente nutritivo e tradicional
da culinária mineira.
processo: Propusemos uma dinâmica na qual cada jovem
prepararia um quibe para dar de presente a outro; assim,
mais pessoas participariam do processo. Logo eles começa-
ram a se articular e a criar parcerias, combinando entre si as
trocas da comida e como iam querer o seu salgado.
efeito: Um vizinho participou ativamente do processo, além
de ensinar aos jovens algumas técnicas de cozinha, saiu,
comprou utensílios para o preparo de café e levou biscoito
para os alunos comerem. Uma das alunas nos contou que
não come quibe, mas que dessa maneira ela havia gostado
e que poderia ser vendido, ela levou parte da massa para
cozinhar para sua família.
cardápio: Quibe vegano de abóbora, biscoitos e café
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Festival da Quebrada 29 de abril de 2017
duração: 12 horas
local: Rua no Conjunto Santa Maria, localizado ao lado do Mor-
ro das Pedras
público estimado: 400 pessoas
de onde vem: O Festival da Quebrada é um acontecimento
cultural do Conjunto Santa Maria, organizado pelos próprios
moradores do local. Foi uma decisão dos realizadores utilizar
a verba que seria gasta para produção de comida de camarim
para fazer refeições para todo o público do festival e articular
essa produção com cozinheiras locais da comunidade. Fomos
convidados para sermos parceiros nesse preparo e utilizarmos
a Cozinha Comum Itinerante como estrutura para ele acontecer
na rua.
processo: Junto com as cozinheiras criamos um cardápio. Elas
trouxeram a preocupação de ser uma comida popular e bem
apresentada, para as pessoas do evento verem que o preparo
foi um processo cuidadoso. Cozinhamos o dia inteiro, alimen-
tando todos os presentes no almoço, fornecendo lanche para
as crianças e janta para os artistas.
efeito: Observamos que a cozinha na rua afetou de forma
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Troca de mudas no dia das mães 14 de maio de 2017
duração: 4 horas
local: Rua Principal
público estimado: 50 pessoas
de onde vem: Fomos convidados pelos moradores do Morro
das Pedras para participar do evento comunitário de cele-
bração do dia das mães. Como o evento esperava um públi-
co muito grande, decidimos não trabalhar com a produção
de comida mas realizar uma troca de mudas, receitas e pre-
paro de chás, aproveitando a oportunidade para apresentar
o Morro Verde a outros moradores do Morro.
processo: A escolha das mudas para o evento foi feita a
partir de nossa observação de plantas convencionais dos
quintais, que nos levaram a procurar mudas não tão comuns
na região e que poderiam despertar maior interesse dos mo-
radores. Nossa escolha também levou em conta as plantas
com propriedades medicinais, para provocar conversas a
respeito de seu uso, e plantas alimentícias não convencio-
nais que não havíamos encontrado por lá, para introduzir-
mos outros cultivos no cotidiano do local.
efeito: A proposta permitiu a coleta de receitas, dicas de cui-
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essas taiobas para limpar e comer. Mas está descuidado! (mostra uma praga
não tinha ferramenta não. Só que a taio- dando em algumas folhas)
ba é assim, a folha dela desenrolou tem
T: E como você cuida dessas pragas?
que tirar. Porque se deixar ela começa a
amarelar daí já perde. G: É com detergente de coco. Eu
tenho aqui e jogo a água com o de-
T: Senão ela fica grande também né.
tergente de coco bem forte. Aí depois
G: Não. Isso depende do tamanho da eu venho com outra água e enxáguo.
batata. Se for pequenininha a folha vai E as folhas que estão muito contami-
ser pequena. Se a batata for grande vai nadas eu tiro para não passar para as
dar folha grande! outras. É o único remédio que eu sei
para usar.
T: Quanto mais velha ela vai ficando as
folhas vão se tornando maiores? T: Coisa química você compra?
G: É, e se a gente não tirar a folha, aí dá G: Não não, porque é tudo natural
muda. E se a gente tirar aí não dá muda. né… Nem adubo a gente pode pôr
É muito legal mexer com planta, eu amo muito. Eu ponho muito adubo do
mexer. Isso daqui eu ganhei um galhinho galinheiro.
desse tamaninho assim...
P: Casca de banana também é muito
T: De quem? bom!
G: Dessa dona que mora aqui em cima. G: Todas as cascas são boas! Essa
Ela perguntou, “você quer um galhinho daqui, chama macaé. Ela é remédio
de elevante? Você anda tão nervosa…” para dor de barriga e gripe. Só que
Aí eu falei “eu quero um galhinho”, ela para dor de barriga a gente esfrega
tirou um bem pequeno e me deu. Levei ela em água fria. E para gripe a gente
e plantei ali naquele cantinho mas o ne- pega ela, ferve a água, joga e abafa
gócio ficou grande. Foi até ali na frente e daí a pouco toma ela quentinha e dor-
estava tomando conta. me que ela joga a friagem do corpo
toda para fora.
T: Mas é um tipo de hortelã?
C: Você conhece tanto da proprieda-
G: É, um tipo, da família do hortelã.
de das plantas. Você chega a tomar
T: Nossa, muito lindo isso tão pequeno remédio?
virar isso tudo. Foi muito tempo né?
G: Nada. Eu sou analfabeta.
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delas comigo mesma. Agora mesmo que é nossa! Vem cá para vocês verem
elas estão doentes, vou te mostrar os galos que eu tenho.
daqui à pouco.
(entramos pela casa dela)
T: E quando elas estão doentes o que
H: O que é que você faz com as cascas
você faz para tratar?
de ovo?
G: Ó, eu chego lá e vejo que a galinha
G: Olha, eu costumo fazer cálcio. Eu lavo
tá meio triste e não tá te escutando. O
bem lavadinho, deixo secar em cima da
moço fala para dar remédio para ela,
bancada, aí eu levo na panela, seca bem
aí eu penso, como vou dar remédio
sequinho. Vou torrando e vou quebrando,
para elas?
aquele restinho que sobra que ficou meio
– espedaçado eu levo no liquidifcador seco
sem água, bato, e aí eu ponho na comida.
G: Olha esse dedo de moça como tá
Aí ela fica assim esfarinhada tá vendo?
grande! Falam comigo para pegar um
Tem gente que torra no forno, eu prefiro
copo daqueles de cachaça, encher de
na panela porque vai misturando e já vai
água e por uma medidinha daquelas
quebrando. Você não pode bater tudo
e encher de dedo de moça. E tá tudo
de uma vez não. Você vai lá, bate, deixa
muito grande, temos que passar para
descansar, aí vai descer a poeira que é
horta. Ali, ó, as morangas. E pessoa
da casca do ovo. Aí depois você vai lá, dá
já veio aqui e já comprou umas 6
outra batida, é aos pouquinhos. Com ovo
morangas.
branco não é muito bom, tem que fazer
H: Você já tem moranga madura? mesmo com ovos de galinha capirira.
G: Tem uma quase madura ali. Mas as Eles têm mais cálcio porque as galinhas
pessoas sempre querem comer ela são mais alimentadas com mais verdura,
verde. Falam para antes de amadure- coisa diferente. Tem ração também, mas
cer eu dar. Porque é mais gostosa ela come muito brócolis… Quando eu parei
verde ne. Esse pessoal da roça mais de mexer com verdura elas sentiram um
antigo gosta de comer assim, porque pouco, a verdura delas caiu um cado.
já é acostumado. Então quem vem é Elas tavam acostumando um pouco com
só essas pessoas assim, comprar uma as folhas.
couve… aí eu tenho que cuidar. H: E os pintinhos?
H: Mas ela depois fica amarelinha, né? G: Os pintinhos já viraram galo, já foram
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Outras conversas
lando que vendo galo caipira, a galinha G: Tinha, mas eu fiz uma burrada, por-
caipira, ovos… que eu estava precisando de dinheiro
para comprar um gás, aí eu peguei
T: Você vende galinha também? o meu galo bonito e dei para aquele
G: Vendo. A pessoa escolhe, aí eu vejo homem. Aí ele colocou naquele cai-
se tá com saúde. Você sabe que galinha xotinho lé em cima olha (aponta para
é mais cara que o galo né? Essa galinha um cercadinho na laje do vizinho). Eu
aqui tá na faixa de 35 reais, porque essa fiquei com dó, fui pegar o galo de vol-
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G: Isso. Mas esse daqui não, essa parte um pedacinho para chupar em casa,
eu mesma que levantei! Eu pus os tijolos não vou vender para vocês. Eu levava
furados. Essa parte de adobo eu paguei lá. Agora não estou saindo mais para
para rebocar. vender, o povo não tá comprando
P: Você fez muita coisa aqui né? mais. Mas quando vem alguém eu
ranco e dou, não nego.
G: É, eu gosto muito de plantar. Toda vida
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Outras conversas
é esse mesmo, no início pode estranhar o que acontece, você tem água, tem
mas depois entende que é importante. tudo bonitinho. E antigamente não, a
gente tinha que sair para poder bus-
H: Nesse sentido a coisa é muito pedagó-
car lenha, para poder buscar água, o
gica. Você consegue ver várias questões
chão a gente tinha que varrer mesmo
que a gente discute sobre educação, do
para ficar limpinho. Hoje em dia não. O
grupo, da gangue, de ser aceito… criar um
pessoal tem tudo com muita facilida-
preconceito antes de identificar a coisa,
de, porque a vida melhorou bastante.
e depois de identificar todos quererem
Temos acesso.
fazer parte. Ainda mais com criança!
C: A gente tem tanto acesso que já
J: As condições agora para estudar são
não nos deixa aprofundar nas coisas.
bem melhores do que as que a gente
tinha antes. Eu sou mais velha que você J: O seguinte, mesmo que a gente te-
né? Você tem a idade da minha filha. nha a facilidade, tenha muito acesso,
Eu tenho 53. Na minha época ainda era o pessoal não quer saber de nada. Eu
muito difícil. Hoje em dia é difícil mas ao sou um exemplo, na era que estamos
mesmo tempo é um pouco mais fácil. vivendo eu não me interesso por celu-
lar, por essas coisas. Aí com o tempo
C: Existem possibilidades de acesso, anti-
você tem tudo mas você chega aqui,
gamente era muito mais fechado.
não fala nem boa noite, bom dia. Não,
T: E tinham tudas as coisas que vocês passa direto assim, ó, nem olha para
precisavam que fazer além de estudar, sua cara. E a vida dos meus filhos é
né, coisas do dia-à-dia mesmo. Ir pegar muito diferente. Eu vou ser avó velha,
água, cuidar da família… já estou com quase 60 anos, com
idade de ser bisavó. E meu filho não
J: Sim, tinha tudo isso. E é uma geração
pensa nisso ainda. As coisas mudam
que eu falo que é super bem educada.
né. Eu estava falando um dia desses,
Porque a geração de hoje tem tudo; não
meu sobrinho chega aqui já olhando o
todos, claro. Mas o ser humano cres-
tablet. Eu pergunto “não tem caderno
ceu muito, a gente vive mais, tem mais
não? Livro?”.
possibilidade de viver melhor… A minha
casa não tinha cerâmica, a minha casa P: Mas nossa geração pegou essa
era só chão. Hoje em dia você até encera transição, na minha época de escola
a cerâmica se quiser. você ainda tinha que consultar as en-
ciclopédias. Quando eu entrei na quin-
C: Parece que hoje para essa geração é
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Outras conversas
vai mudando né. E o ser humano vai coisa muito parentesca ali que, bem, a
acompanhando essa mudança. Todo gente gosta de saber disso, conhecer
mundo vai mudando. Acho que no pessoas e ouvir suas histórias. Essa ga-
geral as pessoas vão ficando mais lera não, eles sabem fazer e não querem
individualistas. Tá mudando, mas no escutar. Não querem escutar quem já fez.
meu pensamento tá mudando muita Outro dia os meninos estavam falando
coisa para pior. de alguma música, falando que era das
antigas, mas era uma que tocava ano
C: Mas acho que ao mesmo tempo
passado. É das antiga por quê? Porque
tem uma tentativa de um grupo muito
produz muita coisa, é uma produção
pequeno aqui de criar uma resistência.
desenfreada. A referência de tempo e en-
Tentar resgatar um pouco as coisas. É
velhecimento é outra. Não é das antigas
o que eu percebo.
igual nós falamos, é o das antigas deles.
J: Mas isso porquê? Porque eu nunca
J: O lema nosso, da geração de 90 e
interessei na internet, não aprendi
anterior, era viver o momento. Hoje em
muita coisa porque não me interesso.
dia o lema é “tempo é dinheiro”. E fica
E isso influenciou meus filhos, ela
tudo completamente diferente, e reflete
mesma não se interessa muito por
em por exemplo não conseguir absorver
internet, ela lê muito.
a qualidade desse momento. Se chegar
H: Eu estava pensando nessa ques- uma pessoa mais nova aqui ele vai ficar
tão das transições, acho que é muito impaciente porque isso aqui para ele não
importante ter pessoas como você é viável. Para ele é viável mexer no novo
que relatam essa vivência, que traz jogo que lançou.
esse tempo para os meninos. E tem
P: Também tem uma coisa, se você não
essas duas coisas em contato, essa
estiver estimulando ele com a mesma
inovação tecnológica e esse tempo
intensidade não atrai ele, é outro tipo de
que eles não conhecem, esse tempo
fruição. Não tem nada a ver para alguém
do fazer, do processar, que são pro-
que está sendo estimulado o dia inteiro
cessos, são etapas. Muitos dos jovens
com outras coisas mais fortes.
hoje, até os perto da minha idade, dos
30, as gerações são muito líquidas. J: Mas a galera não é estimulada.
Porque de de 15 para 30 anos é muito
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curto. De 7 para 14 é muito curto.
Então, por exemplo, vocês conseguem J: A minha menina falou que aquele dia
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Outras conversas
que não custava nada a pessoa ficava aqui ajudar em alguma coisa, nós te-
chocada de estar sendo tratada daquele mos por obrigação fazer com que ele
jeito sem ter que pagar nada. se sinta à vontade.
J: Acontece que hoje em dia o ser hu- T: Tem muito lugar, principalmen-
mano é tão interesseiro que ninguém faz te bairro de classe alta, em que as
nada em troca de nada. A maioria das pessoas não sabem receber bem.
pessoas quando faz alguma coisa é com Estão te olhando, vigiando, julgando
interesse em outra. Quando acontece o tempo todo. E para mim a cidade é
uma coisa dessas a pessoa não espera. É essa diversidade, esse tanto de gente
uma coisa que hoje em dia você não vê. diferente num mesmo lugar, e se você
Quer dizer, pode até ver, mas é difícil uma não souber conviver, ficar construindo
coisa organizada, bem feitinha. suas ilhas, você não vive a cidade.
T: E o legal é que é uma coisa da comu- J: Essa coisa de juntar é bom demais.
nidade para comunidade, que é muito O ser humano está precisando disso.
diferente quando vem alguém de fora e Então as vezes quando a gente faz
faz algo com cara de caridade. Vem da uma coisa assim e o pessoal participa,
própria comunidade e é para todo mun- respeita, é bom.
do, para acolher, integrar, conviver com
T: Hoje em dia você trabalha só de
quem é diferente.
casa?
J: É isso que estou falando, porque hoje
J: Agora vou ficar em casa, porque a
em dia ninguém tem esse contato de
firma que eu trabalhava praticamente
conversar um com o outro. A gente con-
faliu. Era uma fábrica de salgados. Aí
versa mas é aquela coisa, eu sei que todo
faliu vai fazer um ano. Um ano que es-
mundo tem sua vida, cada um tem seus
tou em casa e até agora não resolveu
compromissos, mas assim, cada um rece-
nada de acerto, e eu preciso receber
bendo cada um a coisa fica mais fácil.
porque com o dinheiro eu vou refor-
T: Eu fico feliz com um evento desses, mar aqui em casa, trocar essas telhas,
porque consegue despertar ainda que colocar uma mais bonitinha, trocar
minimamente outro sentimento nas esse piso e fazer uma lanchonetizinha
pessoas, a ideia de que a gente é melhor aqui nessa área da varanda. Aí tem
junto, respeitando, dialogando. que fazer uma coisa bonitinha.
J: A gente conviveu como se se conhe- T: Eu estava reparando que uma
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Outras conversas
pequeno para te dar uma autonomia, era cheia de pés de eucalipto, bem ve-
uma renda extra, mas não pode. O po- lhos, centenários. Então o trem cresceu e
der público tem que entender que as ficou grande lá, e ninguém sabia que os
pessoas precisam gerar essa renda. meninos fumavam maconha. E não tinha
esse negócio de vender não, eu lembro
J: Mas o poder público na verdade
que eles subiam ali em cima pelos pés de
quer ganhar o deles e acabar com as
eucalipto e pegavam. Teve um dia que um
favelas. Hoje em dia a gente fala co-
coronel foi fazer uma visita ali, e na hora
munidade, mas são as favelas antigas.
que ele desceu do carro e bateu o pé em
E eles querem acabar com isso, colo-
cima da lage ele reparou que tinha um
car cada um no seu lugar, e quando
trem esquisito ali. O policial respondeu
faz isso as pessoas ficam ainda mais
“sei lá, nasceu e cresceu aí, não sei de
fechadas. E aí a pessoa se subjuga
onde veio”, e esse moço pegou e subiu.
a um emprego ruim. O governo quer
Os meninos colocavam umas telhas e
acabar com isso, mas não acaba não,
tábuas lá para cima, mas ela foi crescen-
porque o Brasil tem favela demais.
do e deu para ver. Quando ele chegou lá
T: E comunidades fortes, né? Que sa- e viu tinha um pé de maconha enorme e
bem o que querem e o que precisam. cheio de folha seca. E o negócio come-
çou a circular “descobriram o pé de ma-
J: Eles querem acabar com o espaço
conha em cima da laje!”. Aí o coronel falou
da favela e colocar todo mundo em
que ia arrancar o pé. Os meninos subi-
prédio. Só que a convivência dentro
ram, invadiram a guarita, arrancaram o pé
desses prédios é precária. E acontece
de maconha e subiram a rua com ela. A
muito conflito. Colocam todo mundo
polícia atrás deles subindo o morro e as
um em cima do outro. Cada um com
folhas tudo caindo. Caia folha, a polícia
uma vida e sitaução diferente. Vira um
correndo e as galhas quebrando e eles
ambiente insuportável. E na maioria
pegando. A polícia não pegou, ninguém
das vezes o tráfico toma conta, está
viu e ninguém vê. Só sei que a semente
imperando nisso. O governo quer
dela rendeu foi maconha demais. Nin-
acabar com isso, colocar todo mundo
guém descobriu quem plantou, ninguém
ali, e quem for mais forte engole, né?
acusou ninguém, e os policiais que esta-
Eu fui criada lá em baixo no Morro
vam lá nem sabiam o que eram. Ninguém
das Pedras, ali no Cascalho. Eu conto
sabia onde fumavam, ninguém conhecia
um caso sempre, porque tinha uma
maconha. Só sei que ela rendeu muito pé
guarita ali em baixo, na Rua Bento,
de maconha, eles pegaram semente, pe-
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Outras conversas
as casas lá eram todas cercadas, essas mudam. Era aquele cigarro sem filtro.
de arame farpado. Não tinha muro. Tinha o de enrolar também. Muita
gente fumava cachimbo. E a gente ia
H: Eu lembro que o pessoal pegava
pro fogão de lenha, me pediam para
esses colchões quando ficavam velhos e
acender e chegava lá só com metade
usavam as molas para fazer grade, depois
do cigarro.
vinha e ia crescendo o ora-pro-nóbis.
Era muito prático! Imagina colocar um H: Eu sou de 1984. Eu tenho uma
colchão desses de mola e um pé para lembrança muito forte da mudança da
crescer. É arte contemporânea! casa da minha mãe e da minha avó. A
casa de lata. O chão batido. O chão
J: Eu estudava em uma escola modelo,
de piso queimado. Daí depois vem a
feita pela prefeitura. Eles davam do sa-
primeira parte de alvenaria. Eu lembro
pato ao uniforme. Depois veio o primeiro
demais. Lembro que quando chovia
colégio modelo. Eu lembro quando veio
naquela parede de lata… nossa mãe…
Tancredo Neves pra cá. Tinha o campo de
cheiro, cor, textura, tenho todas essas
São Jorge na época e eu lembro quando
lembranças.
ele veio para sua inauguração. Nós saí-
mos da escola com bandeirinha para re- J: O mato tinha um cheiro diferente.
ceber ele, cantando e tal. Ele chegou até Quando chovia, o cheiro da terra mo-
a guarita lá e falou alguma coisa. Era uma lhada era diferente.
farra, era uma festa. De vez em quando
H: As paredes da minha casa eram de
tinha banda ali na guarita, a gente saía da
lata, tipo um mosaico de lata. Abriam a
escola e ia atrás da banda. A guarita tinha
lata de óleo, abria ela assim e prega-
história viu! Mas depois que descobriu o
vam ela.
pé de maconha tiveram que fechar ela.
J: Ou aqueles tambores também.
T: Com qual idade você morou lá em
baixo? H: Até 1990 lá em casa acho que era
assim. Foi quando começou a tran-
J: Morei lá até casar! Eu casei com 22
sição. Lá em baixo ainda tinha muita
anos, então minha infância e adolescên-
casa que era assim. Na rua da pedrei-
cia foi toda lá. Eu nasci por lá mesmo.
ra, na boca do lixo. Eu lembro do fim
Mas na minha época não existia adoles-
da boca do lixo. Minha mãe conta mui-
cência não, isso eles inventaram é agora.
tas histórias Iá, nos shows do Roger.
Ficam criando nome para cada coisa. Aí
hoje você vê os meninos tudo fumando J: Gente aquilo era um espetáculo!
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e bebendo. A gente via os pais da gente, Sua mãe deve ter a minha mesma
eles não bebiam cerveja não, era cachaça idade, 53. A gente ia no som do Roger.
mesmo, na época cerveja não tinha muito O pai dele era detetive da Civil. E ele
não. Eles tomavam as pinguinha deles, era um dos meninos, uma das primei-
fumavam o cigarrinho deles. Aprendi a ras pessoas que vi que estudou fora.
fumar de tanto acender cigarro no fogão Quando ele veio para cá era época do
de lenha. Para você ver como as coisas James Brown. James Brown já estava
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Outras conversas
fazendo sucesso lá, mas já tinha aque- minha mãe e as amigas dela.
la coisa da maconha, da droga, então
J: Mas na verdade hoje, o que a gente
ele vivia muito preso. Mas quando ele
fala de transexualidade como algo atual,
ia fazer os shows dele, lotava. Então
pessoal que faz cirurgia, isso já existia.
o Roger estudou lá fora, e quando ele
Pessoal já usava o famoso silicone. Todo
veio aí ele pediu o pai dele para fazer
mundo que ia para São Paulo fazia. Tinha
essa quadra, e o pai dele fez a quadra.
um pessoal que ganhava dinheiro e vinha
E ele falou para ele “só não quero
totalmente transformado, aqueles pernão,
droga”, não falava droga na época,
cintura, cabelo. Já vinham totalmente
era “entorpecente”, “tóxico” e a tal da
transformados. São Paulo é mais pra
maconha.
frente que Belo Horizonte, né? Porque
– mineiro é bem mais atrasado. Somos
muito preconceituosos.
J: Mas nessa época a gente que era
adolescente não usava droga né. A H: Até questão de informação, sô. Mar-
gente ia mesmo só para dançar. Então cela chegava lá na rua, colocava a rua de
eu lembro que começava umas 15h, cabeça para baixo. Fazia mil e uma coisas,
quando era 20h no máximo 21h, 22 queima de Judas, gincana, passeio, va-
horas tava acabando. Aí no sábado ia mos não sei o quê… era fantástico. Uma
até 23h ou meia noite. Então a gente de minhas maiores referências de agi-
dençava, mas a gente tinha hora para tadora cultural. Hoje o que me incentiva
estar em casa. 22 horas tinha que muito no rolê é a lembrança da Marcela.
estar em casa, a gente começava a
J: A Marcela quando chegava vinha com
entrar. E a gente namorava os meni-
a meia arrastão, aquela sainha, era show
nos mas os meninos não namoravam
de bola. Na minha família teve meu tio
a gente não. Então a gente dançava
Bá. Esses eventos, ele promovia tudo. Se
e 22 horas tinha que estar dentro de
falasse para ele “Bá, você enfeita o salão
casa.
para crianças?” na hora que você che-
H: Outra figurassa que tinha aqui no gasse ia estar lindo..
Morro da nossa época era a Marcela.
–
Que era travesti, andava com a Cida
Preta. J: E na verdade aquela rua ali, a da Gua-
rita, era das ruas mais conhecidas daqui.
J: Marcela? Ela não é viva mais não,
Tudo acontecia ali. Todos os viados se
é? A Marcela que conheci foi casada,
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Outras conversas
de passista, tinha ala de tudo quanto é J: A gente juntava ali para separar.
jeito, colocava nos ônibus e ia embora. Todo mundo fazia junto.
H: Além disso minha mãe fala da época H: E dava para tudo mundo. Minha
que a galera veio para cá para sobreviver companheira fez uma pesquisa, as se-
do lixo. Aqui foi o primeiro aterro sanitá- nhoras contam que tinha a época de
rio de Belo Horizonte. Foi o período que peixe, como a semana santa, a época
Brasil estava passando o maior perren- de frango… aí todos os bares da favela
gue. Taxa de inflação alta, natalidade alta, tinham só peixe, ou só frango...
ditadura militar…
J: A gente comia tudo isso gente. A
J: O que o pessoal fala hoje de “reci- gente não tinha condição de comprar,
clagem”, “é reciclável”, isso para mim já ninguém comprava. Vinham os cami-
é antigo. Já fazia por necessidade. A nhoneiros e separavam. E tinha saco
gente sobrevivia do lixo. Hoje em dia não, misturava tudo lá no meio do
as pessoas ganham dinheiro. Também lixo. E eu acho que o lixo de antes era
ganhava, mas não tanto que nem hoje. bem pior do que é hoje. Porque hoje
Hoje em dia você cata uma lata, vende e você tem noção de algumas coisas.
ganha dinheiro. Mas a gente sobreviveu Antigamente não tinha essa cons-
mesmo, da comida até a roupa, o sapato. ciência. O poder de tudo é a higiene.
E tinham supermercados que coloca- Eu sou da época que tudo tinha que
vam as coisas na Kombi, tipo presunto, lavar mesmo, e até hoje eu uso muito
mussarela, ovo, legumes, carne, sabe? E vinagre. A higiene tem muito poder. A
iam para lá e distribuíam. Além dos caras gente pegava coisas do lixo, mas tinha
que distribuíam tinham os caminhões de que ter higiene para lavar. Tinha essas
lixo que também levavam muita coisa. O coisas. E hoje você tem noção, tem o
Brasil até hoje desperdiça muita comida, lixo separado, a latinha, a embalagem,
muita coisa. Então nós sobrevivemos tem tudo. Antes era tudo junto.
desse despedício.
P: E junta a isso uma tentativa de não
T: E como era essa distribuição? levar tanto lixo reciclável para o aterro.
J: No lixo cada um ia lá e pegava. Nas J: É, hoje a gente sabe que tem que
Kombis eles iam distribuindo, tipo cesta reciclar. É uma vida que vale a pena
básica. sustentar. O pessoal as vezes fala que
dá trabalho limpar mas ninguém tem
H: O pessoal conta que muitos caminho-
noção de como era. Hoje tem muita
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Outras conversas
caro que comprar as comidas frescas. por exemplo, que adora macarrão, eu se
comer um pouquinho já fico satisfeita.
J: Na verdade, as pessoas querem
só chegar em casa e ter uma comida T: Acho que tem muito a ver com essa
congelada, meter no microondas e co- palavra que você usou mesmo. É compul-
mer. E o Brasil está se não me engano sivo. Você nem pensa no que quer comer,
em 4º lugar no ranking da obesidade. se está realmente com fome. Pessoal
Estados Unidos é o primeiro né? Nun- come por ansiedade.
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Outras conversas
J: Tem muita gente que tem essa coisa de J: Eu vou começar no processo antes
não comer sem carne, tem que ter uma do lixão, vou pegar o início para você,
carne. Na nossa época a gente comia só eram duas pedreiras. Ali quando a
um arroz com feijão e estava tudo bem. gente desce, na entrada aqui, atrás da
EMATER. Na altura do Hospital Madre
H: Agora tem uma ideia de que a gente
Teresa você não desce para ir lá para
pode comprar né? Essa coisa, eu tenho
baixo? Naquela época só tinha o Ma-
memória das pessoas mais velhas falando
dre Teresa, que era o Sanatório. Atrás
sobre isso, então para mim a carne não
do Sanatório tinha uma rua, atrás
é tão importante. Mas eu também tenho
dela era a primeira pedreira. A Rua da
esse olhar do domingo comendo frango,
Pedreira. Divisa da Antena com São
o rango especial era no domingo.
Jorge, ali tudo era pedreira. Passava a
J: A gente tinha a roupa de domingo, dia pedreira, tinha uma ruazinha, poucas
de domingo todo mundo tinha que ficar casas ali… tem uma entradinha ali que
bonito para fazer nada! um cara até montou um salãozinho,
ali em cima daquela casa tem uma
P: Igual nos Canutos, domingo é o dia de
árvore grandona que os meninos
reunião da família.
ficam entrando, ali do lado era uma
J: Aqui a gente recebe os amigos, minha gruta. Essa gruta foi tampada. A gente
filha traz os dela e eu os meus, eu falo brincava ali dentro. Os caminhões de
que é bom a gente conviver com os lixo passavam ali por perto. Eu não sei
outros. A gente vai envelhecendo, co- se a gruta dava continuidade até o ou-
nhecendo gente e melhorando. A gente tro lado ou se morria ali, eu morria de
vai envelhecendo, você não pode ser medo. Mas os caminhões passavam
uma senhora gente boa não? Sem ficar ali e iam lá para o lixão. Onde virou o
fechando a cara para os outros? A gente lixão era a pedreira maior. A pedreira,
ainda tem essa coisa de família que todo aos pouquinhos ela saiu. Eram pedras
mundo vem e convive. Tem lugar que não para Belo Horizonte, paralelepípedos,
tem mais isso não. As famílias antigamen- areia… Eu era pequena mas lembro
te faziam muito hora dançante no domin- que tinha essa pedreira. Depois que
go, festa em casa, com música dos anos eles pararam de tirar as pedras, parou
70 ou 80, tipo quarteirão do soul. E hoje esse comércio de pedras, e aí surgiu o
o pessoal tá voltando a escutar essas aterro sanitário. Como não tinha muita
músicas, Nelson Gonçalves, sabe? Era casa nem muita coisa, tinha aquele
muito bom! espaço da pedreira ali, surgiu então
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Outras conversas
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Outras conversas
que foi crescendo. Aí tem que crescer quando me dá a doida eu faço san-
sem perder qualidade. Eu lembro que duíche em casa. Hambúrguer, Chee-
todo lugar que eu ia tinha uma caixinha seburguer, eu vendo tudo. Eu só parei
da Amandelli. Servia salgado, e eles de vender porque fiz uma cirurgia, e
começaram a fazer essa coisa do delivery, eu tenho que evitar muito movimen-
entregar o salgado pronto ou congelado, to por dois anos. Mas eu pretendo
e geral começou a encomendar. Outro trabalhar aqui na minha área. E o que
dia eu passei ali em frente ao EMATER, vou fazer? O salgado, a mão de obra
tinham umas 40 caixas. é minha, o sanduíche a mão de obra
é minha, a loja vai ser minha, o lucro
J: Eu aqui em casa pego encomenda de
vai ser meu. O lucro que eu vou ter dá
salgado. A última encomenda que peguei
para pagar uma pessoa para vir limpar
foi de 100 salgados. É uma coisa que
minha casa enquanto eu estou aqui.
dá muito trabalho. Você vai fazendo, vai
fazendo… Quando eu estava trabalhan- H: Eu acho muito louco como a gente
do pagando aluguel, eu nunca pegava não discute, por exemplo, o jeito que o
encomenda de salgado, porque o que pessoal aqui de dentro pode fortale-
eu ganhava não dava para eu comprar cer isso aqui. E pessoal não pensa em
o material para eu fazer salgado. Mas fortalecer o que é nosso ao invés de
trabalhando na minha casa não, o que eu encomendar salgado com alguém lá
quiser dá para pegar. Se eu quiser vender de fora!
comida coloco uma plaquinha ali “vende-
P: Querendo ou não, também tem
se marmitex”, agora minha plaquinha tá
essa visão, igual eu falei antes lá de
lá “vendo salgados, aceito encomendas”.
casa, que o que vem de fora é mais
Aí às vezes vem encomenda e eu faço.
legal do que o que é de dentro. Os
E esse trabalho que estou fazendo é
meninos do ProJovem falam que
um trabalho bem feito e num preço que
querem comer hambúrguer, não é
dá para praticar. É bem diferente de eu
o jiló frito da mãe não. Quer comer
alugar um espaço.
pizza, hambúrguer e batata frita. Refe-
P: Porque já tem a conta de casa, que rências culturais de outros lugares. E
você paga para morar, né. Não tem como é justamente por ser o que não é dis-
pagar a mais…. você paga um pouco mais ponível no seu dia a dia é muito mais
de gastos de água, gás, mas nem se com- valorizado do que o que temos para
para. E quem vai comprar é uma pessoa oferecer aqui. Sem entender que o
que provavelmente que já te conhece, fortalecimento mútuo pode ser muito
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território 3 cozinha comum itinerante
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Conversas sobre alimentação 17 de março e 20 de abril de 2017
duração: 2 horas
local: Centro Cultural da Pampulha
público estimado: 12 pessoas
de onde vem: Antes de levar a Cozinha Comum Itinerante
para o Centro Cultural Pampulha achamos necessário co-
nhecer as pessoas que o frequentavam e que teriam interes-
se em realizar as atividades da cozinha, iniciamos o diálogo
com as frequentadoras do centro cultural para definirmos
juntos nossa metodologia de ação no bairro.
processo: Nas conversas pedimos que cada pessoa nos
contasse sobre sua história com alimentação, os alimentos
que marcaram seu crescimento, o que gostariam de apren-
der e o que poderiam ensinar para as outras. Apresentamos
a Cozinha Comum Itinerante e introduzimos alguns temas
como possibilidade de trabalho.
efeito: Iniciamos a aproximação com algumas mulheres do
grupo, que gradualmente trouxeram outras pessoas para
a atividade. As anotações das conversas foram essenciais
para estruturarmos nossa metodologia de ação no território.
Decidimos por encontros semanais de preparo coletivo, nos
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Conversas sobre alimentação 17 de março e 20 de abril de 2017
muita soja nas refeições oferecidas pela para o grupo. Perguntamos se o caruru
escola. Ela está acostumada a apro- era popular no Rio como é em Minas,
veitar para comer tudo o que tinha em ela disse que não, que sua mãe, de raiz
volta de si, nos contou sobre o preparo mineira, saía catando a planta nas ruas
do broto de bananeira, como conservar de sua vizinhança, e todos estranha-
carne na gordura e receitas de alto valor vam. Comentamos que o caruru, como
nutritivo, como o capitão de fubá suado. outras plantas, é convencional em
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Conversas sobre alimentação 17 de março e 20 de abril de 2017
Minas porque o território de nosso muito pouco, por vezes prepara a carne
estado era utilizado de forma pre- para seu marido e come seu prato sem.
datória para mineração, não haviam Ele faz muita questão de carne, ela
grandes cultivos, assim as mulheres disse.
na cozinha tinham que descobrir e Seu marido é peruano, ela vem apren-
inventar a comida com as plantas dendo receitas do país com a comu-
que nasciam aqui. nidade peruana de BH porque seu
Na época que F e sua mãe moravam marido não gosta da comida mineira,
em Niterói, tinham bananeiras no então é melhor fazer pratos típicos do
quintal. Na escassez de recursos Peru, que ela também gosta. A comu-
faziam tudo com banana: chips, nidade peruana se reúne com alguma
pastel, etc. Quando ela começou frequência, F nos contou que eles só
a trabalhar no shopping, todo dia passam uma nova receita quando ela
levava banana no almoço, os outros faz a anterior, como uma espécie de
perguntavam e ela falava que acha- prova.
va chique e só comia assim. Antes Sua mãe e seu filho são salgadeiros,
de ganhar seu primeiro salário, a cozinham para sobreviver: O filho cres-
mãe pediu um pacote de arroz para ceu tendo referências dentro da família
vizinha e disse que pagaria com o de pessoas que cozinhavam para se
dinheiro quando recebesse. Quando sustentar.
o dinheiro caiu ela fez uma compra
grande no mercado. No outro dia a
mãe esqueceu de colocar banana na
comida.
Em Mutum, cidade de Minas de
onde vem a família de F, quem não
tinha dinheiro para comprar pão
cozinhava banana verde com fubá.
As pessoas não tinham tempo de
esperar a banana amadurecer, por
isso comiam verde mesmo.
Para F, cada cozinheiro tem sua
digital na comida, você pode fazer
do mesmo jeitinho que o outro, mas
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Oficina de higienização de alimentos 13 de junho de 2017
duração: 03 horas
local: Praça externa do Centro Cultural Pampulha
público estimado: 12 pessoas
de onde vem: Uma das frequentadoras do Centro Cultural
se prontificou a ensinar ao grupo técnicas de higienização de
alimentos que aprendeu em um curso. Disse que tem hábito de
higienizar muito bem as mãos, a casa e a comida por trabalhar
em um hospital. Propusemos que a primeira oficina da Cozinha
Comum Itinerante na Urca fosse ministrada por ela.
processo: A moradora do bairro Urca conduziu a oficina de
higienização de alimentos, ensinando técnicas simples para o
cuidado com a limpeza de frutas e legumes. Após a oficina o
coletivo preparou sucos e vitaminas funcionais, apresentando
uma alternativa de incrementar refeições com ingredientes
saudáveis.
efeito: Ao longo do preparo as mulheres que estavam sentadas
foram se levantando para entender os processos de higieniza-
ção ou trocar dicas sobre como elas fazem para limpar os ali-
mentos. Logo após preparamos os sucos funcionais, pensando
em misturas ricas em nutrientes e boas para o funcionamento
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do corpo.
cardápio: Suco de abacaxi com pepino, suco roxo antioxidan-
te (beterraba, morango, açaí e mexerica), suco verde (laranja,
cenoura, maçã, hortelã e couve).
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Oficina de higienização de alimentos 13 de junho de 2017
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Suco verde
1 abacaxi
½ pepino
Gengibre a gosto
Hortelã
Bater no liquidificador.
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Salgados veganos 20 de junho de 2017
duração: 03 horas
local: Praça externa do Centro Cultural Pampulha
público estimado: 16 pessoas
de onde vem: Em nossas conversas iniciais muitas mulheres se
mostraram interessadas em começar a entender a alimentação
vegana. Reduzir o consumo de carne se mostra um passo im-
portante, então decidimos realizar o preparo de alguns alimen-
tos cotidianos como salgados e molhos sem derivados animais.
processo: Escolhemos trabalhar com ingredientes tradicionais
e de fácil acesso, para desmistificar o imaginário que normal-
mente as pessoas têm sobre alimentação vegana. Utilizamos a
abóbora moranga na mistura para quibe. Para acompanhar o
salgado preparamos dois molhos, o chutney de manga, tempe-
rado com gengibre, açúcar e pimenta, e pate vegano de inhame
cozido, batido com salsa, cebolinha, limão e alho.
efeito: As mulheres ficaram mais à vontade com a cozinha,
assumindo funções no preparo e intervindo com ideias nas
receitas. Uma vez que a comida estava pronta, elas organizaram
a apresentação do prato, dizendo que a comida deve ser bonita
para os olhos também.
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Salgados veganos 20 de junho de 2017
Quibe de
abóbora japonesa
Utiliza ½ abóbora cozida. Tem- Dicas: para fritar, usar óleo
peramos com alho, sal, curry bem quente e não mexer.
e cozinhamos a abóbora em O quibe também pode ser
água sem óleo. Depois disso, assado, com ou sem o re-
escorremos a abóbora em cheio, e para assar não é
uma vasilha (a água do cozi- necessário acrescentar fari-
mento pode ser aproveitada nha de rosca. O purê pode
depois, para cozinhar ou aju- ser preparado com outros
dar a dar liga no quibe). legumes, como batata ba-
Fazer um purê com a abóbora roa, batata doce, cenoura,
e misturar no trigo para quibe a mistura de mais de um
seco. Deixar o quibe hidratar legume, etc.
no purê. Nesse momento você
já pode provar o tempero da
massa e ajustar de acordo
com a seu gosto. Testar a liga,
se ela estiver seca, colocar
a água do cozimento da abó-
bora, se estiver mole, usar
farinha de rosca. Fritamos
com recheio de queijo e sem
recheio. 125
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Salgados veganos 20 de junho de 2017
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Salgados veganos 20 de junho de 2017
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Salgados veganos 20 de junho de 2017
do no liquidificador. Guarde
na geladeira que ficará mais
saboroso.
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Memórias juninas 25 de junho de 2017
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Saladas enriquecidas 27 de junho de 2017
duração: 03 horas
local: Praça externa do Centro Cultural Pampulha
público estimado: 18 pessoas
de onde vem: Algumas das mulheres que acompanhavam
os preparos semanais sugeriram de fazermos um dia de
preparo de saladas. Pensamos então em levar receitas que
procuram variar a salada de folhas, que costumamos comer
no dia-a-dia, para expandir o repertório do grupo.
processo: Realizamos o preparo de 3 saladas diferentes.
Salada de arroz 7 grãos, salada de trigo em grão com bana-
na, salada viva. Utilizamos nos preparos legumes comuns na
culinária mineira, que podem ser substituídos a gosto.
efeito: O grupo se interessou muito pela variedade de sabo-
res possíveis em uma salada, além do uso de ingredientes
pouco convencionais. Uma das mulheres rebatizou a salada
de 7 grãos de “salada seca barriga” por ter identificado nela
todos ingredientes que havia visto em uma lista de dicas de
uma revista. Sua riqueza em carboidratos complexos torna
sua digestão mais demorada, satisfazendo o corpo por mais
tempo.
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Saladas enriquecidas 27 de junho de 2017
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Saladas enriquecidas 27 de junho de 2017
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Saladas enriquecidas 27 de junho de 2017
Cozinhamos um pacote
Essa salada é muito sim-
de arroz 7 grãos de 500
ples; o mais difícil é encon-
gramas por cerca de 20
trar o trigo em grãos para
minutos, sem deixar ficar
comprar. Sugerimos os mer-
macio demais. Escorremos
cados – como o mercado
a água que sobrou e pas-
central ou mercado do cru-
samos água fria no arroz
zeiro. Cozinhamos um pa-
para ele parar de cozinhar.
cote de trigo em grãos por
Deixamos, enquanto o arroz
cerca de 20 minutos – para
cozinhava, os outros ingre-
ficar macio, mas não muito
dientes todos preparados:
cozido. Escorremos a água
picamos dois abacates bem
que sobrou e passamos o
maduros (tamanho médio
trigo em uma água fria para
para grande), um molho de
interromper o cozimento.
salsa, dois molhos de couve
Picamos banana prata bem
picada bem fininha, limão
madura e também algumas
espremido, algumas cas-
nozes e misturamos os três
tanhas (que são opcionais,
ingredientes em uma va-
colocamos pois já tinha
silha. É bom misturar com
como ingrediente da outra
um garfo e dar uma aperta-
salada). Para misturar, co-
da nas bananas, para eles
meça misturando um pouco
passarem mais gosto para o
do suco de limão com a cou-
trigo.
ve para ela curtir. Depois
mistura ela no arroz, junto Essa é uma salada mais
com o sal, azeite, salsa e doce, pois as bananas ma-
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Saladas enriquecidas 27 de junho de 2017
Alho poró
duração: 03 horas
local: Praça externa e sala interna do Centro Cultural Pam-
pulha
público estimado: 15 pessoas
de onde vem: Nas conversas durante a oficina algumas
participantes mostraram interesse em aprender receitas
com baixo teor de carboidratos que pudessem introduzir na
alimentação cotidiana.
processo: Preparamos um “arroz” de brócolis para mostrar
para elas que alguns legumes processados podem substituir
o grão. O arroz comum é um alimento de rápida digestão
como qualquer outro carboidrato simples, sendo assim o
organismo rapidamente quebra os nutrientes gerando um
pico de açúcar no sangue. É interessante enriquecer o arroz
ou trocá-lo por outra fonte de carboidrato complexo. Como
acompanhamento fizemos um bobó de palmito.
efeito: As mulheres participaram de forma ativa do preparo
e gostaram muito de aprender ambas receitas. Algumas leva-
ram marmita ao encontro porque queriam levar o prato para
os familiares provarem. Nesse dia as mulheres se mostraram
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Bobó de palmito e “arroz” de brócolis 4 de julho de 2017
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Bobó de palmito e “arroz” de brócolis 4 de julho de 2017
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Bobó de palmito e “arroz” de brócolis 4 de julho de 2017
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Pães com patê 11 de julho de 2017
duração: 03 horas
local: Praça externa do Centro Cultural Pampulha
público estimado: 16 pessoas
de onde vem: Decidimos por seguir trabalhando com o
grupo a questão do carboidrato. Mais uma vez optamos pelo
preparo de um alimento presente no cotidiano, o pão, que
elas já haviam demonstrado interesse em aprender em nos-
sas primeiras conversas.
processo: Decidimos preparar um pão integral enriquecido
com aveia, linhaça e sementes. O carboidrato complexo da
farinha integral demora mais tempo para ser processado
pelo organismo, saciando por mais tempo. Para acompanhar
o pão preparamos uma pasta de grão de bico com taioba.
O grão de bico tem zinco, que faz o corpo assimilar e ar-
mazenar a insulina, e por isso é bom no caso de diabetes.
Também ajuda a fortalecer o sistema imunológico. A taioba,
ingrediente muito comum na culinária mineira, é rica em vi-
taminas, ferro, cálcio e potássio, sendo ótima para ajudar em
doenças como a anemia. Também ajuda a digestão, e é boa
para o sistema imunológico e para a visão.
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Pães com patê 11 de julho de 2017
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Pães com patê 11 de julho de 2017
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Tortas sem glúten 18 de julho de 2017
duração: 03 horas
local: Praça externa do Centro Cultural Pampulha
público estimado: 20 pessoas
de onde vem: As participantes dos preparos coletivos trouxe-
ram a ideia de prepararmos receitas sem glúten. Decidimos por
fazer tortinhas com massa sem farinha de trigo.
processo: Para fazer a massa da torta usamos grão de bico
cozido com farinha de linhaça dourada. A mistura forma uma
massa lisa, fácil de moldar nas formas de torta. Enquanto elas
foram ao forno fizemos um recheio salgado com legumes e um
recheio doce de frutas sem açúcar.
efeito: A massa foi muito apreciada pelas mulheres. A versatili-
dade da receita que pode levar diversos recheios ou até mesmo
ser usada para outros preparos foi de grande interesse. As par-
ticipantes ficaram até mesmo pensando outras possibilidades
de uso para a massa.
cardápio: Torta de grão de bico com recheio de legumes e
recheio de frutas.
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Tortas sem glúten 18 de julho de 2017
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Confraternização 25 de julho de 2017
duração: 03 horas
local: Salão do Centro Cultural Pampulha
público estimado: 10 pessoas
de onde vem: Durante nossos 2 meses de atuação na Urca
contamos com a presença de um grupo de mulheres que
acompanharam os preparos coletivos semanais. Como último
encontro no contexto do projeto propusemos uma confra-
ternização para que pudéssemos compartilhar receitas e
lanches, conversar sobre alimentação e ter um retorno sobre
o período que passamos lá.
processo: Convidamos as mulheres a levarem alguma co-
mida para compartilhar com o grupo. Fomos provando as
comidas e conversando um pouco sobre os pratos.
efeito: Nossa conversa trouxe muitas questões interessan-
tes sobre a riqueza de se compartilhar aquilo que antiga-
mente era o “segredo da receita”, sobre a experiência de
aprender novas coisas em um regime de troca e sobre as
histórias que são transmitidas junto às receitas. Anotamos
todas receitas que trouxeram e mais algumas faladas na hora
e expusemos elas em uma pequena instalação dentro da ga-
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Confraternização 25 de julho de 2017
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bém. Ingredientes que você pode ir suco. Você bate alguma coisa no
trocando e criando muitos sabores liquidificador e sobra por exemplo
diferentes. aquele resto de beterraba ou de
couve, você põe aveia, açúcar e co-
Sem dúvida. No dia de preparo que
locar para assar. E é muito nutritivo,
eu vim vocês estavam fazendo grão
pois é onde está a fibra e um tanto
de bico com taioba. Na hora que
de nutriente.
vocês falaram eu pensei “nossa até
o nome é feio”. Por quê não deram A gente não tem muito costume de
um nome mais facinho para taioba? aproveitar a casca dos legumes e
Eu pensei que ia estragar o grão de das frutas mas na verdade as vita-
bico. Mas ficou uma delícia. minas estão todas ali né?
Mas a taioba tem uma vitamina ex- Eu vou juntando as cascas, colo-
celente. A batata e a folha. A batata cando numa sacolinha, aí depois eu
dela é tipo um inhame. cozinho e vou fazendo caldo...
Vocês já comeram biscoito de fubá É legal que reduz também o volu-
com amendoim? Fica gostoso de- me do lixo orgânico. Eu acho que
mais. É fubá com amendoim torrado brasileiro tem que mudar tanto sua
e melado de cana. concepção de lixo, de embalagem,
casca… e aprender esse reaprovei-
Antigamente o povo era mais assim
tamento, além de ser bom para nós,
mesmo. Acho que é um pouco
é urgente para o mundo.
egoísta o povo que não gosta de
compartilhar, qualquer coisa que Olha para quem tem bebê. Aprender
seja. A gente desse mundo não leva a fazer esses caldos com casca de
nada, né? Então a gente conviver fruta...
é tão bom, a gente compartilhar,
As águas de cozimento também tem
aprender e o que a gente souber,
como aproveitar, né? Água que cozi-
também poder ensinar. É uma lem-
nhou batata doce, usar para o arroz.
brança que fica!
Que aí vai aproveitando os nutrien-
O que acho mais legal nisso é que tes de uma coisa para outra.
vivemos em um país muito diverso.
E a salada de abobrinha que você
E nossa culinária é diversa. Tem
trouxe? Nos conta como é?
raiz indígena, africana, portuguesa,
árabe… e quando a gente começa a Super simples. Corta ela bem fini-
trocar a gente mistura isso tudo. nha, tempera com pimentão, limão,
vinagre, cebola, sal, pimenta…. só
Quando você fala uma receita a
isso, a abobrinha sem cozinhar. Ela
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Confraternização 25 de julho de 2017
rância.
nhava junto, uma levava o ovo, outra
– o fubá, outra o leite, a gente juntava
e fazia broa de fubá.
Eu faço o feijão do meu jeito. Ela faz
do jeito dela. E ela de outro. Ne- O que acho mais interessante nisso
nhum fica igual. É uma coisa impres- é que quando estamos em um
sionante. Nenhum fica igual. momento de dificuldade, se a gente
se junta e faz junto, a gente supera
Você pode até seguir a mesma re-
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Confraternização 25 de julho de 2017
lugares. O outro pedaço era longe para o senhor mais velho que mora-
demais. Tão longe que ninguém va na ilha. E o outro menino escutou
nunca chegava. De lá eles só ouviam e pensou “ah, mentira. Sonhador
notícias das coisas que aconteciam. demais. Só ver uma borboleta que já
Um dia eles ouviram falar que tinha fica maluco”. “Não, é verdade! E tem
uma casa que chamava Casa dos um menino muito legal lá dentro, a
Espelhos. Eles nem de longe conse- gente precisa salvar ele”. “É men-
guiam imaginar o que eram espe- tira”. Só que a noite veio e quando
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Confraternização 25 de julho de 2017
todos foram dormir ele falou “vou cozinha. Ficava na beirada do fogão
lá só desmentir esse menino”. Foi da minha avó escutando as histórias
pelo mesmo caminho. E no caminho do meu avô.
começou a ficar cansado, emburra-
Hoje a tecnologia não deixa os me-
do, chato e xingando. Saiu andando,
ninos escutarem histórias. Tá tudo
chutou o chão, arrancou a cabeça
se perdendo.
do dedo. Até que chegou. Quando
viu o jardim pensou “vou ter que Eu acho que quando se conta uma
atravessar isso tudo?”. Quando ele receita também se conta uma histó-
chegou ele não conseguiu entrar. ria. Toda vez que a gente conta uma
A porta continuava trancada. Ele receita ela vem junto com um caso,
enfiou a cabeça pela janela, e tinha uma situação, de onde ela veio.
um menino mal humorado lá den-
tro. “Esse que é o menino legal?”. E a da carambola como que é?
Olhou de novo e o menino estava (pausa para comida)
mais feio ainda. “Credo que menino
chato”. Começou a fazer careta e
o menino também fazia. “Olha que
menino chato”. Tudo que ele fazia
eram caretas e era muito mal humo-
rado. Voltou quase revoltado para
casa. Já chegou reclamando com
o senhor mais velho. “Mentira pura
desse menino, andei por uma estra-
da feia e lá tinha um jardim igual aos
nossos. Quando cheguei um menino
mal humorado, mal criado, horroro-
so”. O senhor pensou muito e falou
“Ah, já sei. Então a Casa do Espelho
é como a vida. A gente vê como se
olha para ela”.
A realidade é essa mesma.
Só verdade.
É o dom né? Cada um tem um dom.
Ela tem o de contar histórias. Um
tem o de contar história, outro o de
cozinhar, outro o de ser alegre.
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Cartazes e exposição
159
T3
Projeto, pesquisa e execução
Nó Coletivo: Ceci Nery, Paula Lobato
e Thiago Flores
Projeto Gráfico
Lucas Kröeff e Paula Lobato
Projeto módulos de cozinha
No Prumo: Bernardo Carvalho e Eric
Crevels
Parcerias
Ocupa EAD, Lucas Kröeff, Zora Santos,
Jaca Verde: Lucas Mourão, Vernalis:
Ana Cimbleris, História em Construção:
Horacius de Jesus, Associação Cruz
de Malta/ProJovem, Okenutre: Bruno
Araújo, Centro Cultural Pampulha.
Projeto
coletivo
T3