Você está na página 1de 7

Oficinas 2CN-CLab 2021-2022

Sua cidade, suas memórias

Estratégias de políticas culturais como


desenvolvimento sustentável

1. Introdução

A primeira unidade de conservação criada para proteger manguezal é a Área de


Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim, na região metropolitana do Rio, pegando a
cidade de São Gonçalo nos seus 14 mil hectares. Atuando de forma integrada a Estação
Ecológica Guanabara e as duas unidades do Instituto Chico Mendes do Ministério do Meio
Ambiente, onde diversas atividades transformaram o cenário do local chamado por
ambientalistas de Pantanal Fluminense.

Com a criação do Horto Agroecológico, do Instituto Federal do Rio de Janeiro/


campus São Gonçalo, na margem da Baía de Guanabara, dentre outras propostas deste,
estão o intercâmbio de saberes culturais e desenvolvimento de pesquisas bioquímicas de
plantas alimentícias não convencionais.

O papel e a relevância da implementação de um Horto Agroecológico como agente


transformador do paradigma de usar ou ignorar o meio ambiente, assim como a população,
especialmente quem não é consumidor, visto que a sociedade é de consumo, tendo o ato
de plantar como protesto em que se fundamentam os direitos que se pedem numa
democracia.
A participação direta ou indireta da sociedade civil, sendo este projeto vinculado a
Extensão do Campus do IFRJ, fazendo a interface universidade/comunidade, proporciona
todos os elementos necessários para que seja exposto e legitimado o trabalho e a luta
pela dignidade na área urbana se reconstruindo com o campo.

Ser agente político como construtor consciente é agir voluntariamente para melhora
da realidade, e possibilitar movimentos para adequar as perspectivas.

Espaços de sociabilidade, de preservação, e exposições, mediam lembranças e


formulam discursos, proporcionando leituras e apropriações destes, sendo recursos
dialógicos, que podem funcionar como espaço de resistência, sendo fundamentais na
sociedade contemporânea, e na atuação a favor da dignidade humana, como dispositivo
visualizador, e que amplia a imaginação de futuros alternativos

2. Desenvolvimento

De acordo com a ODS 6, que trata sobre a Água e o Saneamento Básico, apesar da
evolução, o Brasil mesmo com abundância de água, tem um percentual de desigualdade
ao acesso muito alto, com 35 milhões de brasileiros sem acesso a água tratada, e 100
milhões ao esgoto.

Dentre as metas do objetivo 6, destaca-se neste ensaio a 6.6 e 6b. A primeira, com
um prazo para 2020, de proteção e restauração de ecossistemas relacionados com a
água, incluindo montanhas, florestas, zonas úmidas, rios, aqüíferos e lagos, mostrando-
se urgente e como prioridade. A segunda, com a meta de apoiar e fortalecer a participação
das comunidades locais, para melhorar a gestão da água e do saneamento.

É possível relacionar diretamente também a ODS 4, que trata da garantia de acesso


à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promoção de oportunidades de
aprendizagem ao longo da vida para todos. Apontando a meta 4.7 que tem como diretriz
até 2030, garantir que todos os alunos adquiram conhecimentos e habilidades necessárias
para promover o desenvolvimento sustentável, inclusive, entre outros, como direitos
humanos, igualdade de gênero, promoção de uma cultura de paz e não violência,
cidadania global e valorização da diversidade cultural e da contribuição da cultura para o
desenvolvimento sustentável.

Numa perspectiva focada na ODS 6, o desenvolvimento de um trabalho em


conjunto com instituições de preservação como a APA, citada no início do ensaio, o
Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), e a empresa de gerenciamento das águas na
cidade, percebe-se um esforço viável e oportuno para diminuição da poluição da Baía de
Guanabara e os rios que a abastecem, aumentando práticas inclusivas de saneamento
básico e tornando o acesso a água potável mais consolidado.

Através do desenvolvimento da ODS 4, com o Horto Agroecológico e um jardim


sensorial baseado nas características naturais de uma área de proteção ambiental, num
espaço educativo, favorece a relação geopoética com a comunidade local e visitante.

Concebida pelo escritor franco-escocês Kenneth White, a geopoética visa


“desenvolver uma relação sensível e inteligente com a Terra”. (BOUVET, 2012,
p.10).

3. Conclusão

Dessa forma, uma abordagem sensorial com plantas sagradas da Umbanda


relacionando a área de proteção pode fornecer uma experiência rica e gratificante ao
alcance dos interessados em ecoturismo e valorização da cultura local, proporcionando
uma relação ativa entre ecoturista, comunidade e ambiente.

Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza de


forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua
conservação e busca a formação de uma consciência
ambientalista por meio da interpretação do ambiente,
promovendo o bem estar das populações envolvidas (BRASIL –
MTUR, 2006).

A memória social é um campo de disputas, de poder, de lutas, que produzida com


esforço, intencionalmente, seja por meios institucionais ou não, institui a cena, afirma
Maurice Halbwachs, 2004. O sentimento de pertencimento e a necessidade de
comunidade, se expressa através de laços afetivos e mnemônicos identitários, construídos
na memória coletiva.

Fundamenta-se na principal função social de um museu, que é salvaguardar


memórias com o objetivo de comunicá-las, expressa aqui na proposta de um jardim
sensorial, por meio de identificação das plantas sagradas e compreensão das memórias
na cidade de São Gonçalo, nos aspectos ambientais e culturais, valorizando o lugar e a
população, através da etnobotânica na religiosidade da Umbanda, que tem historicamente
um fato relevante para a religião no mesmo bairro em que o Horto está localizado.
A memória é construída com aspectos individuais e coletivos, entretanto, é vivida
sem um ponto fixo de algo que precise remeter a uma lembrança. Ela segue como um
ritual e não é tratada como um patrimônio. Ela só pode ser vivida, porque senão já não é
memória.

Lugares de memória existem para evocar algo que já foi esquecido. As


comemorações, os monumentos, e tudo que é intervenção na história. Algo que,
emblematicamente, transformou instituições e alterou o pensamento social. Isso faz com
que a história construa lugares de memória, num gesto de pontuar marcos importantes
da sociedade, mas que passaram a ser memória coletiva e posteriormente memória
pedagógica.

Já que a memória é vivida e enraizada por meios coletivos e individuais, ela se


torna um gesto natural que é interiorizado pela pessoa. A história faz questão de
separar, e coletar fatos para construir cientificamente aquilo que a memória selecionou.
Ou seja, a história desconstrói o que a memória dita.

O jardim sensorial de plantas sagradas é projetado a partir das estratégias de


sustentabilidade, com a intenção de valorização da cultura da Umbanda, com anunciação
reconhecida historicamente na casa do Zélio Fernandino de Moraes, em Neves/ São
Gonçalo, bairro do IFRJ/campus São Gonçalo, onde está localizado o Horto
Agroecológico.

Proteger o patrimônio cultural por meio de práticas sustentáveis através da


educação ambiental é uma forma de desenvolvimento sustentável como política cultural.
Atravessando questões como o racismo, a intolerância religiosa, e até mesmo a elitização
cultural que cria escalas de valores na produção cultural local e global. Apresentando-se
como estratégia metodológica para lidar com questões polêmicas e violências que por
muitas vezes se apresentam até perigosas em lidar.

A observação da dura realidade vivida em meio a uma desigualdade social apoiada


pela criminalização da pobreza deflagra o racismo ambiental que muitos locais e
comunidades estão inseridas.

A cidade de São Gonçalo com uma estimativa de população de mais de 1 (um)


milhão de habitantes, e mais de 39% da população com incidência de pobreza de acordo com
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), precisa de estratégias políticas locais
para a aplicação das ODS como políticas viáveis.
Segundo análise de intensidade dos fluxos de deslocamento para trabalho e estudo
do Conselho Estratégico de Informações da Cidade, do Instituto Municipal de Urbanismo
Pereira Passos, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, o município de São Gonçalo foi
identificado com movimento pendular diário da população em direção a Niterói, e em direção
ao Rio de Janeiro, o que a coloca numa condição de cidade dormitório, apresentando também
a necessidade de unir o desenvolvimento sustentável no âmbito econômico e de mercado de
trabalho.

Políticas culturais acerca de memórias e conhecimento local promovem o senso de


pertencimento, aumentando não só a auto-estima das pessoas que moram no lugar, mas
também o comprometimento em cuidar e transformar a realidade da cidade e de seus
cidadãos, sem pré-julgamentos, por reconhecimento de direitos, e de memórias coletivas,
através da História em comum. Portanto, a cultura se mostra como uma área indissociável ao
desenvolvimento sustentável, sendo estruturante em sua base.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOUVET, Rachel. Como habitar o mundo de maneira geopoética? Interfaces


Brasil/Canadá, v. 12, n. 1, p. 09-16, 2012.

MINISTÉRIO DO TURISMO. Ecoturismo: Orientações básicas. / Ministério do


Turismo, Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de
Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico, Coordenação Geral de
Segmentação. 2 ed. - Brasília: Ministério do Turismo, 2010.

BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no


mundo atual. [tradução: Plínio Dentzien]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 2003.

HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Ed.


Centauro, 2004.

NORA, Pierre. Entre Memória e História: A problemática dos lugares. In:_ Projeto
História 10. Revista do Programa de estudos pós-graduados em história e do
Departamento de História nº10. São Paulo: PUC/SP, dezembro de 1993.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Paz e


Terra, 2015.

HERRERA FLORES, J. A reinvenção dos direitos humanos.


Tradução de: Carlos Roberto Diogo Garcia; Antônio Henrique
Graciano Suxberger; Jefferson Aparecido Dias. Florianópolis:
Fundação Boiteux, 2009.

Sites:
VAZ, Thiago. Criminalização da Pobreza e Violência do Estado.
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed794_crimina
lizacao_da_pobreza_e_violencia_do_estado

https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-07/area-
preservada-na-baia-de-guanabara-e-chamada-de-pantanal-
fluminense

http://www.bvambientebf.uerj.br/arquivos/guapi.htm

https://brasil.un.org/pt-br/sdgs

Você também pode gostar