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Capítulo I

Princípios Fundamentais
do Direito Ambiental

I. Introdução
1. Princípios específicos de proteção ambiental → O direito ambiental,
ciência dotada de autonomia científica, apesar de apresentar caráter in-
terdisciplinar, obedece a princípios específicos de proteção ambiental,
pois, de outra forma, dificilmente se obteria a proteção eficaz pretendi-
da sobre o meio ambiente. Neste sentido, os princípios caracterizadores
do direito ambiental têm como escopo fundamental orientar o desen-
volvimento e a aplicação de políticas ambientais que servem como ins-
trumento fundamental de proteção ao meio ambiente e, conseqüente-
mente, à vida humana.
2. Princípios → primazia formal e material sobre as regras jurídicas
Os princípios, cuja função sistematizadora do ordenamento jurídico é
evidente, têm primazia formal e material sobre as regras jurídicas, im-
pondo padrões e limites à ordem jurídica vigente. Importante destacar
ainda sua função normogenética na medida em que atuam na elabo-
ração das regras jurídicas. Perante eventuais antagonismos existentes
entre valores constitucionais, deve-se fazer o juízo de adequação de
princípios e a ponderação de valores.
De acordo com o Supremo Tribunal Federal:
“A superação de antagonismos existentes entre princípios e valores
constitucionais há de resultar da utilização de critérios que permitam
ao Poder Público (e, portanto, aos magistrados e Tribunais), ponderar
e avaliar, “hic et nunc”, em função de determinado contexto e sob
uma perspectiva axiológica concreta, qual deva ser o direito a prepon-
derar no caso, considerada a situação de conflito ocorrente, desde
que, no entanto, (...) a utilização do método da ponderação de bens e
interesses não importe em esvaziamento do conteúdo essencial dos
direitos fundamentais, dentre os quais avulta, por sua significativa im-
portância, o direito à preservação do meio ambiente. (STF, ADI 3540
MC/DF, Rel. Min. Celso de Mello, 1º.9.2005).

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Romeu Thomé e Leonardo de Medeiros Garcia

à Aplicação em concurso:
• (PGE/AL – 2009 – CESPE)
“Não há possibilidade de correlação de mais de um princípio na análise de
um caso concreto de dano ambiental.”
Resposta: a afirmativa está errada.
• (PGE/AL – 2009 – CESPE)
“Se, na análise de determinado problema, houver a colisão de dois prin-
cípios ambientais, um deverá prevalecer e o outro será obrigatoriamente
derrogado.”
Resposta: A afirmativa está errada.
3. Importante: de uma maneira geral, não há consenso na doutrina sobre
os princípios de direito ambiental.
Apenas a título ilustrativo, mostrando a divergência no tratamento dos
princípios, confira:
Autores Princípios abordados
1. Princípio do direito à sadia qualidade de vida
2. Princípio do acesso eqüitativo aos recursos naturais
3. Princípios usuário-pagador e poluidor-pagador
Paulo
4. Princípio da precaução
Affonso
5. Princípio da prevenção
Leme
6. Princípio da reparação
Machado1
7. Princípio da informação
8. Princípio da participação
9. Princípio da obrigatoriedade da intervenção do poder público
1. Princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito fun-
damental da pessoa humana
2. Princípio da natureza pública da proteção ambiental
3. Princípio do controle do poluidor pelo Poder Público
4. Princípio da consideração da variável ambiental no processo decisó-
Édis rio de políticas de desenvolvimento
Milaré2
5. Princípio da participação comunitária
6. Princípio do poluidor-pagador
7. Princípio da prevenção
8. Princípio da função socioambiental da propriedade
9. Princípio do usuário-pagador
10. Princípio da cooperação entre os povos

1. MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 14 ª ed. São Paulo: Malheiros.
2006.
2. MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 4ª ed. São Paulo: RT, 2005.

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Princípios Fundamentais do Direito Ambiental

Autores Princípios abordados


1. Princípio do direito humano
2. Princípio do desenvolvimento sustentável
3. Princípio democrático
Luís Paulo 4. Princípio da prevenção (precaução ou cautela)
Sirvinskas3 5. Princípio do equilíbrio
6. Princípio do limite
7. Princípio do poluidor-pagador
8. Princípio da responsabilidade social
1. Princípio da dignidade da pessoa humana
2. Princípio do desenvolvimento
3. Princípio democrático
Paulo 4. Princípio da precaução
de Bessa 5. Princípio da prevenção
Antunes4 6. Princípio do equilíbrio
7. Princípio do limite
8. Princípio da responsabilidade
9. Princípio do poluidor-pagador
1. Princípio do desenvolvimento sustentável
Celso 2. Princípio do poluidor – pagador
­ ntônio
A 3. Princípio da prevenção
Pacheco 4. Princípio da participação (de acordo com o autor, a informação e a
Fiorillo5 educação ambiental fazem parte deste princípio)
5. Princípio da ubiquidade

1. Princípio do desenvolvimento sustentável


Princípios 2. Princípio da precaução
mais ­
3. Princípio da prevenção
cobrados
em concursos 4. Princípio do poluidor-pagador
5. Princípio da participação
345

3. SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. 4ª ed. São Paulo: Saraiva,
2006.
4. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.
5. FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental. 8ª ed. Saraiva: São Paulo.
2007.

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Romeu Thomé e Leonardo de Medeiros Garcia

à Aplicação em concurso:
• (Procurador Federal 2006 – cespe).
“No âmbito doutrinário, ainda inexiste uma sistematização uniforme do
direito ambiental brasileiro. Assim, a interpretação do direito ambiental
sofre variações a depender da visão desenvolvida por cada autor. No en-
tanto, é possível identificar princípios fundamentais que caracterizam o
direito do ambiente e que são alvos da preocupação dos mais diversos
doutrinadores nacionais.”
Resposta: A afirmativa está correta.

• (Juiz Federal \ 5ª Região 2006 – CESPE)


“Os princípios de direito ambiental no Brasil recebem da doutrina trata-
mento bastante homogêneo, sob enfoques quantitativo, qualitativo e ter-
minológico.”
Resposta: A afirmativa está errada.

• (PGE/ES – 2008 – CESPE).


“São considerados norteadores do direito ambiental, entre outros, os
princípios: do direito à sadia qualidade de vida, do desenvolvimento sus-
tentável, do acesso eqüitativo aos recursos naturais, da precaução e da
informação.”
Resposta: A afirmativa está correta.

4. Observação: neste trabalho, de forma a apresentar uma visão geral dos


princípios tratados pela doutrina e pela jurisprudência, optamos por
apontá-los de forma abrangente, apresentando ao leitor uma visão ge-
ral de como o tema tem sido abordado.

II. Princípio do desenvolvimento sustentável

1. Vertentes → Considerado o “prima principium” do Direito Ambiental6,


o desenvolvimento sustentável tem como pilar a harmonização das se-
guintes vertentes:
• Crescimento econômico;
• Preservação ambiental;
• Equidade social;

6. SAMPAIO, 2003. p. 47.

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Princípios Fundamentais do Direito Ambiental

O desenvolvimento somente será considerado sustentável caso as três


vertentes acima relacionadas sejam efetivamente respeitadas de forma
simultânea. Ausente qualquer um desses elementos, não tratar-se-á de
desenvolvimento sustentável.
2. Conferência de Estocolmo (1972) → a ideia de desenvolvimento so-
cioeconômico em harmonia com a preservação ambiental emergiu da
Conferência de Estocolmo, em 1972, marco histórico na discussão dos
problemas ambientais. Designado à época como “abordagem do eco-
desenvolvimento” e posteriormente renomeado “desenvolvimento sus-
tentável”, o conceito vem sendo continuamente aprimorado7.
Desenvolvimento sustentável, segundo a Comissão Mundial sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento (World Comission on Environment
and Development) significa “um desenvolvimento que faz face às ne-
cessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade
das gerações futuras na satisfação de suas próprias necessidades”. As-
sim, as gerações presentes devem buscar o seu bem-estar através do
crescimento econômico e social, mas sem comprometer os recursos na-
turais fundamentais para a qualidade de vida das futuras gerações.
3. Princípios 4 e 5 da Declaração da Rio/92 → de acordo com o Princípio
4 da Declaração da Rio/92, “para se alcançar o desenvolvimento susten-
tável, a proteção do meio ambiente deve constituir parte integrante do
processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamen-
te em relação a ele”.
Já o princípio 5 da Declaração do Rio/92 dispõe claramente sobre a ver-
tente social do desenvolvimento sustentável ao afirmar que “todos os
Estados e todos os indivíduos, como requisito indispensável para o de-
senvolvimento sustentável, devem cooperar na tarefa essencial de erra-
dicar a pobreza, de forma a reduzir as disparidades nos padrões de vida e
melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo.”
4. O desenvolvimento sustentável na Constituição de 1988
4.1 Art. 170, CF → a necessidade do equilíbrio entre “crescimento eco-
nômico”, “preservação ambiental” e “equidade social” está expressa
na Constituição de 1988. Inicialmente pode-se destacar o artigo 170 da

7. A expressão ecodesenvolvimento continua a ser bastante usada em diversos países euro-


peus, latino-americanos e asiáticos. O presidente do Equador proclamou os anos 90 como
a “Década do Ecodesenvolvimento”.

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Romeu Thomé e Leonardo de Medeiros Garcia

Constituição Federal, que enumera os fundamentos e os princípios da


ordem econômica:
Art. 170 da CF: A ordem econômica, fundada na valorização do tra-
balho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados
os seguintes princípios:
I – soberania nacional;
II – propriedade privada;
III – função social da propriedade;
IV – livre concorrência;
V – defesa do consumidor;
VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento dife-
renciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de
seus processos de elaboração e prestação;
VII – redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII – busca do pleno emprego;
IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte cons-
tituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração
no País.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer
atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos
públicos, salvo nos casos previstos em lei.
Relevante destacar a defesa do meio ambiente (inciso VI) como princí-
pio da ordem econômica, clara indicação constitucional da necessidade
de harmonização entre atividade econômica e preservação ambiental.
Já o princípio da propriedade privada, disposto no inciso II, do artigo
170, é um valor constitutivo da sociedade brasileira, fundada no modo
capitalista de produção8 e corolário da livre iniciativa, representando
claramente o incentivo ao crescimento econômico consagrado constitu-
cionalmente.
Todavia, para evitar abusos na utilização da propriedade em prejuízo
da coletividade, a Constituição da República prevê mecanismos como
a aplicação do princípio da função social da propriedade (art. 170, III),

8. DERANI, 2008. p. 238.

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Princípios Fundamentais do Direito Ambiental

que representa o incentivo constitucional à preservação ambiental e ao


respeito às questões sociais (vide art. 186, CR 88).

Assim, resta claro o princípio do desenvolvimento sustentável na análise


conjunta dos incisos II e III, do artigo 170, da Constituição: de um lado,
o incentivo ao crescimento econômico representado pelo princípio da
propriedade privada; de outro, a proteção ambiental e a equidade social
representadas pelo princípio da função social da propriedade (função
socioambiental da propriedade).

Por fim, estabelece o inciso VII do artigo 170, como princípio da ordem
econômica, a redução das desigualdades regionais e sociais. Ora, como
alcançar a meta constitucional de eliminação da pobreza e redução das
desigualdades sociais sem crescimento econômico? Seria praticamente
impossível. Constata-se que é imperioso o desenvolvimento econômico
das nações atrelado à melhor distribuição de renda, para a erradicação
dos problemas sociais. Mais uma vez estamos nos referindo a pilares do
desenvolvimento sustentável presentes no artigo 170, da Constituição
de 1988: crescimento econômico e equidade social (obviamente conci-
liados com a preservação ambiental).

à Aplicação em concurso:
• (Juiz Federal – TRF 5ª Região 2011 – CESPE)
“O direito ambiental é dotado de instrumentos que o capacitam a atuar na
ordem econômica, e, nesse sentido, a PNMA visa, entre outros objetivos,
assegurar adequado padrão de desenvolvimento socioeconômico ao país.”
Resposta: A afirmativa está correta.

• (Juiz Federal – TRF 5ª Região 2011 – CESPE)


“Ainda que a CF não considere expressamente a defesa do meio ambiente
como princípio que rege a atividade econômica, a livre iniciativa somen-
te pode ser praticada observadas as regras constitucionais que tratam do
tema.”
Resposta: A afirmativa está errada. O artigo 170, VI da Constituição de
1988 prevê expressamente a defesa do meio ambiente como princípio da
ordem econômica.

• (AGU-Procurador Federal 2010 – CESPE)


“A proteção do meio ambiente é um princípio da ordem econômica, o que
limita as atividades da iniciativa privada”.
Resposta: A afirmativa está correta.

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Romeu Thomé e Leonardo de Medeiros Garcia

• (Magistratura do Acre – 2007 – CESPE).


“A Constituição Federal abriga o princípio do desenvolvimento sustentável
ao dispor que a ordem econômica tem por fim assegurar a existência digna
do ser humano, atendidos os ditames da justiça social e, também, a defesa
do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme
o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de ela-
boração e prestação.”
Resposta: A afirmativa está correta.

• (Magistratura estadual /Pará – 2007 – FGV) .


“A defesa do meio ambiente é um dos princípios gerais da atividade eco-
nômica e deve ser observada inclusive mediante tratamento diferenciado
para produtos e serviços em razão do impacto ambiental decorrente de
sua produção ou execução.”
Resposta: A afirmativa está correta.

• (Juiz Federal 4ª Região – 2008).


“Na evolução do direito ambiental brasileiro, invoca-se, observada a or-
dem cronológica, os seguintes marcos históricos: a Lei da Política Nacional
do Meio Ambiente; a Declaração da Conferência das Nações Unidas de
Estocolmo; a Lei da Ação Civil Pública; a Constituição Federal em vigor; a
Declaração da Conferência das Nações Unidas do Rio de Janeiro e a Lei dos
Crimes e Infrações Administrativas Ambientais.”
Resposta: A afirmativa está errada. Observada a ordem cronológica, a De-
claração de Estocolmo (1972) é anterior à Lei de Política Nacional do Meio
Ambiente (1981).

4.2 Caput do artigo 225 da CF → prevê o princípio do desenvolvimento


sustentável.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equili-
brado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defen-
dê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

4.3 Aplicação pelo STF com base na CF → a Constituição de 1988, que


prevê o modo de produção capitalista e incentiva o crescimento econô-
mico, também determina seja observada, simultaneamente, a função
social da propriedade e a preservação dos recursos naturais, para que
haja condições dignas de vida também para as futuras gerações. Neste
sentido o Supremo Tribunal Federal:

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Princípios Fundamentais do Direito Ambiental

“A QUESTÃO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL (CF, ART. 3º, II) E


A NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO MEIO AM-
BIENTE (CF, ART. 225): O PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUS-
TENTÁVEL COMO FATOR DE OBTENÇÃO DO JUSTO EQUILÍBRIO EN-
TRE AS EXIGÊNCIAS DA ECONOMIA E AS DA ECOLOGIA. – O princípio
do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter
eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em
compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e re-
presenta fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências
da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invoca-
ção desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre
valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja
observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de
um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito à preser-
vação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da gene-
ralidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e
futuras gerações.” (STF, ADI 3.540-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ
03/02/06)

à Aplicação em concurso:
• (Juiz Federal – 5.ª Região – 2005 – CESPE).
“O princípio do desenvolvimento sustentável preconiza um elo entre a
economia e a ecologia, estando referido em diversas declarações interna-
cionais, mas, por não estar previsto expressamente na Constituição brasi-
leira, atua apenas como aspiração social e vetor ideológico para a ativida-
de econômica.”
Resposta: A afirmativa está errada.

• (Exame de Ordem 2009.2 – CESPE).


“Em conformidade com o princípio do desenvolvimento sustentável, o di-
reito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam
atendidas as necessidades do tempo presente sem comprometer as ne-
cessidades das gerações futuras.”
Resposta: A afirmativa está correta.

5. Princípio da equidade intergeracional (também chamada de solidarie-


dade intergeracional)

A Constituição estabelece, assim, ao Poder Público e à coletividade o


dever de preservação dos recursos naturais em benefício não apenas
das gerações presentes mas, inclusive, das gerações futuras, o que para
alguns autores configura o princípio da equidade intergeracional.

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Romeu Thomé e Leonardo de Medeiros Garcia

à Aplicação em concurso:
• (Procurador Federal 2004 – cespe).
“O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, contemplado no
caput do art. 225 da Constituição Federal, consagra o princípio de eqüida-
de intergeracional.”
Resposta: A afirmativa está correta.

• (Juiz Federal – 5.ª Região – 2005 – CESPE).


“Os princípios da participação comunitária e da eqüidade intergeracional
têm sede constitucional, uma vez que a Constituição brasileira estabe-
lece a faculdade de a coletividade praticar atos com vistas à proteção
do meio ambiente e sua preservação em prol das presentes e futuras
gerações.”
Resposta: A afirmativa está errada. A Constituição estabelece o dever da
coletividade de defender e preservar o meio ambiente.

Observação: sobre o princípio da participação comunitária, iremos co-


mentar adiante.

• (Magistratura estadual /Pará – 2007 – FGV).


“A Constituição da República consagra o princípio da solidariedade interge-
racional, ao conferir ao Poder Público e à coletividade o dever de defender
e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.”
Resposta: A afirmativa está correta.

• (Advogado Petrobrás – 2007 – CESPE).


“Os custos da atividade produtiva que ocasionam a poluição do meio am-
biente devem ser incorporados pelos agentes causadores desse dano à
sociedade. Nesse aspecto, o Princípio 16 da Declaração do Rio afirma que
as autoridades nacionais devem procurar garantir a internacionalização
dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos. Esse princípio
internacional do meio ambiente intitula-se princípio do poluidor-pagador
e foi estabelecido no direito ambiental brasileiro, ao lado de outros, como,
por exemplo, o princípio da precaução (ou prevenção), o da solidariedade
intergeracional e o da informação. A respeito desse assunto, em cada um
dos itens subseqüentes, é apresentada uma situação hipotética, seguida
de uma assertiva a ser julgada.”
Com o propósito de construir loteamento urbano regular no Distrito Federal,
Mozart realizou estudos considerando a área pretendida e concluiu que ela
comportaria, no máximo, 10.000 pessoas. Planejou, então, vender 10.000
unidades imobiliárias, esquecendo-se de estimar que a referida área pode-
ria sofrer aumento populacional em razão do casamento e do nascimento

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Princípios Fundamentais do Direito Ambiental

de filhos dos moradores. Nessa situação, é correto afirmar que a solução


legal do problema seria a realização de estudo que levasse em conta o fator
temporal, tendo-se em vista o princípio da solidariedade intergeracional”
Resposta: A afirmativa está correta.

III. Princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como


direito fundamental da pessoa humana
1. Previsto no caput do art. 225 da CF → embora não previsto nos direitos
e deveres individuais e coletivos constantes do art. 5º da Constituição
Federal, um novo direito fundamental do homem foi assegurado pelo
legislador constituinte.9 Trata-se do disposto no caput do art. 225 que
concebe à pessoa humana o direito a um meio ambiente “ecologica-
mente equilibrado”, fundamental para uma sadia qualidade de vida.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equi-
librado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defen-
dê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
2. Reconhecimento nas conferências internacionais → este direito funda-
mental já havia sido reconhecido pela Conferência das Nações Unidas
sobre o Ambiente Humano de 1972 (Princípio I)10. Mais tarde, foi reafir-
mado pela Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
em 1992 (Princípio I)11 e, em 1997, pela Carta da Terra12 (Princípio 4)13.
3. O direito a um meio ambiente equilibrado está intimamente ligado ao
direito fundamental à vida e à proteção da dignidade da vida humana,

9. Artigo 5º, § 2º, da CF 88: “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados interna-
cionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.”
10. Princípio I: “O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade, e ao desfrute
de adequadas condições de vida em um meio cuja qualidade lhe permita levar uma vida
digna e gozar de bem-estar e tem a solene obrigação de proteger e melhorar esse meio
para as gerações presentes e futuras.”
11. Princípio I: “Os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento
sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza.”
12. A Carta da Terra é resultado do evento conhecido como “Fórum Rio +5”, realizado no Rio
de Janeiro com o objetivo de avaliar o resultado da Política Ambiental nos cincos anos
seguintes à ECO 92.
13. Princípio 4: “ Estabelecer justiça e defender sem discriminação o direito de todas as pessoas
à vida, à liberdade e à segurança dentro de um ambiente adequado à saúde humana e ao
bem-estar espiritual”.

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Romeu Thomé e Leonardo de Medeiros Garcia

garantindo, sobretudo, condições adequadas de qualidade de vida, pro-


tegendo a todos contra os abusos ambientais de qualquer natureza.
Como salienta Édis Milaré14 “o reconhecimento do direito a um meio
ambiente sadio configura-se, na verdade, como extensão do direito à
vida, quer sob o enfoque da própria existência física e saúde dos se-
res humanos, quer quanto ao aspecto da dignidade desta existência – a
qualidade de vida –, que faz com que valha a pena viver”.15
à Aplicação em concurso:
• (Procurador do Estado / Ceará – 2008 – CESPE).
“O princípio do meio ambiente ecologicamente equilibrado é tratado na
Constituição Federal como
A) uma norma programática cuja efetividade fica condicionada ao progresso
econômico e à distribuição de renda.
B) um direito fundamental da pessoa humana, direcionado ao desfrute de
condições de vida adequadas em um ambiente saudável.
C) um princípio geral de alcance limitado e restrito às áreas de proteção am-
biental.
D) um direito difuso, mas não-exigível, em função de sua generalidade, in-
consistência e definição imprecisa. E um direito social, coletivo e transge-
racional cuja efetividade é ampla, irrestrita e incondicionada e cujo alcance
estende-se a todas as formas de vida.
Resposta: Letra “B”.

• (Exame de Ordem 2008.1 – CESPE)


“A Constituição consagra o direito ao meio ambiente ecologicamente equili-
brado fora do Título II, que se refere aos direitos e garantias fundamentais.”
Resposta: A afirmativa está correta.

4. O princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito fun-


damental da pessoa humana também está contemplado no art. 2º e 4º
da Lei 6.938/81.16

14. MILARÉ, 2006. p.158/159.


15. Dada a importância desse princípio, Édis Milaré o trata com status de cláusula pétrea.
16. A Lei 6.938/81 dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente. “Art. 2º. A Política
Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da
qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvi-
mento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade
da vida humana, atendidos os seguintes princípios...”

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Princípios Fundamentais do Direito Ambiental

IV. Princípio da prevenção e da precaução

1. Evitar a incidência de danos ambientais é melhor que remediá-los →


essa é a ideia chave dos princípios da prevenção e da precaução, já que
as seqüelas de um dano ao meio ambiente muitas vezes são graves e
irreversíveis. Tais princípios se caracterizam como dois dos mais im-
portantes em matéria ambiental, tendo em vista a tendência atual do
direito internacional do meio ambiente, orientado mais no sentido da
prevenção do que no da reparação.17

2. Sinônimos ou divergentes? → é importante destacar que alguns juris-


tas tratam os princípios da prevenção e da precaução como sinônimos.
Outros, embora reconheçam algumas diferenças, preferem a utilização
do termo “prevenção”, por ser mais abrangente que “precaução”.18 Em
nosso entendimento, há características próprias que os diferenciam,
como veremos a seguir.

à Aplicação em concurso:

Obs: O CESPE diferencia os princípios


• (Magistratura estadual /Pará – 2007 – FGV)
Veja a resposta aos recursos interpostos contra o gabarito da prova obje-
tiva aplicada no dia 27.01.2008, envolvendo o princípio da prevenção e da
precaução.
Resposta: “Embora haja alguns autores que ainda abordem o princípio
da prevenção como sinônimo de precaução, o tratamento do assun-
to pela grande maioria da doutrina – nacional e internacional – não
deixa dúvidas de que se tratam de princípios distintos. O princípio da
precaução foi o descrito no enunciado (situações de incerteza científi-

17. PARGA Y MASEDA, 2001.


18. Édis Milaré, por sua vez, propõe uma distinção entre prevenção e precaução. Para ele,
“Prevenção é substantivo do verbo prevenir, e significa ato ou efeito de antecipar-se,
chegar antes; induz uma conotação de generalidade, simples antecipação no tempo, é
verdade, mas com intuito conhecido” e “Precaução é substantivo do verbo precaver-se
(do Latim prae = tomar cuidado), e sugere cuidados antecipados, cautela para que uma
atitude ou ação não venha a resultar em efeitos indesejáveis. A diferença etimológica e
semântica (estabelecida pelo uso) sugere que prevenção é mais ampla do que precaução
e que, por seu turno, precaução é atitude ou medida antecipatória voltada preferen-
cialmente para casos concretos”. Direito do Ambiente. 4ª ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2006. p.165.

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Romeu Thomé e Leonardo de Medeiros Garcia

ca), e encontra-se previsto no princípio 15 da Declaração das Nações


Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92). Já o princípio
da prevenção pretende afastar os riscos ou impactos já conhecidos pela
ciência. Vale conferir os ensinamentos de Édis Milaré, Antônio Herman
Benjamin, Paulo Affonso Leme Machado, Annelise Monteiro Steigleder,
Marcelo Abelha Rodrigues, Cristiane Derani, dentre vários outros juris-
tas brasileiros.”

3. Princípio da prevenção → é orientador no Direito Ambiental, enfa-


tizando a prioridade que deve ser dada às medidas que previnam (e
não simplesmente reparem) a degradação ambiental. A finalidade ou
o objetivo final do princípio da prevenção é evitar que o dano possa
chegar a produzir-se. Para tanto, necessário se faz adotar medidas pre-
ventivas.
Todavia, tal princípio não é aplicado em qualquer situação de perigo de
dano. O princípio da prevenção se apóia na certeza científica do impac-
to ambiental de determinada atividade. Caso não haja certeza científi-
ca, o princípio a ser aplicado será o da precaução.
De acordo com o princípio da prevenção, deve-se tomar as medidas ne-
cessárias para evitar o dano ambiental porque as conseqüências de se
iniciar determinado ato, prosseguir com ele ou suprimi-lo são conheci-
das. O nexo causal é cientificamente comprovado.
à Aplicação em concurso:
• (PGE/AL –2009 – CESPE).
“O princípio da prevenção aplica-se a eventos incertos e prováveis causa-
dores de dano ambiental.”
Resposta: A afirmativa está errada.

• (Procurador Federal – 2006 – CESPE)


“O princípio da prevenção obriga que as atuações com efeitos sobre o
meio ambiente devam ser consideradas de forma antecipada, visando-se
à redução ou eliminação das causas que podem alterar a qualidade do
ambiente.”
Resposta: A afirmativa está correta.

3.1. Princípio da prevenção e EIA → O princípio da prevenção é o


maior alicerce, por exemplo, do Estudo de Impacto Ambiental – E.I.A.–
(art. 225, parágrafo 1º, inciso IV, da Constituição) realizado pelos inte-
ressados antes de iniciada uma atividade potencialmente degradadora

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Princípios Fundamentais do Direito Ambiental

do meio ambiente, dentre outras medidas preventivas a serem exigidas


pelos órgãos públicos19-20.
De acordo com a Constituição:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equili-
brado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defen-
dê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º – Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Pú-
blico:
(...)
IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade poten-
cialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
à Aplicação em concurso:
• (IBAMA – 2005 – CESPE)
– “O princípio da prevenção não serve como justificativa ao monitoramento
ambiental.”
Resposta: A afirmativa está errada.

– “O princípio da prevenção encontra-se presente no processo de licencia-


mento ambiental.”
Resposta: A afirmativa está correta.

4. Princípio da precaução → foi proposto formalmente na Conferência


do Rio 92. O Princípio da Precaução é a garantia contra os riscos poten-
ciais que, de acordo com o estágio atual do conhecimento, não podem
ser ainda identificados. Este princípio afirma que no caso de ausência
da certeza científica formal, a existência do risco de um dano sério ou
irreversível requer a implementação de medidas que possam prever
este dano.

19. Outro exemplo: o inciso V do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, que impõe ao Poder
Público a tarefa de “controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos
e substâncias que comportam riscos para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.”
20. Em direito internacional, tal princípio é reconhecido na Declaração de Estocolmo de 1972
(princípio 6 e 21) e na Declaração do Rio de 1992 (princípio 2).

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