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Marcelo Kokke
Mestre e Doutor em Direito Constitucional pela Puc-Rio. Pós-Doutor em Direito Público-Ambiental –
Universidade de Santiago de Compostela. Procurador Federal – AGU. Professor da Faculdade Dom
Helder Câmara. Professor do Centro Universitário Uni-BH. Professor de Pós-graduação da PUC-MG.
Professor colaborador da Escola da Advocacia-Geral da União. marcelokokke@yahoo.com.br
Gabriel Wedy
Pós-Doutor em Direito. Juiz Federal. Professor nos Programas de Pós-Graduação e Graduação em
Direito da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Visiting Scholar pela Columbia Law School (Sabin
Center for Climate Change Law). Professor de Direito Ambiental na Escola Superior da Magistratura
Federal (Esmafe). gabrielwedy@unisinos.br
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1. Introdução
A litigância climática1 é um tema exponencial no cenário mundial, pois se projeta não somente para
uma nova dimensão da responsabilidade pelo dano ambiental, mas também para uma
responsabilidade de correção da denominada injustiça intergeracional ambiental. As questões de
justiça ambiental, na perspectiva de Enrique Leff,2 possuem uma conotação de distribuição de ônus
gerais do passivo ambiental, com prejuízos socioecológicos que vão para além dos próprios
causadores do dano. Certamente o efeito geral e transfronteiriço das mazelas ambientais, previsto
por Beck,3 tenha nos danos climáticos antropogênicos sua maior expressão.
A injustiça ambiental ocorre quando pessoas determinadas executam irregularmente ações de
intervenção geradoras de inadmissíveis ônus ambientais, em especial, emissões de gases de efeito
estufa que atingem toda a coletividade. Os efeitos climáticos são plurais, não obstante alcancem em
maior medida aqueles que já estejam em situação de vulnerabilidade social e econômica.4
Tem-se assim que o ato ilícito constituído por fontes de emissão de origem ilegal, enquadradas como
poluidoras, afeta o ecossistema em máxima dimensão de espaço e com contornos indefinidos de
perduração no tempo. A responsabilidade ambiental pelo dano climático é abordada no presente
artigo com um recorte específico. A resposta jurídica por canais institucionalizados para
responsabilizar agentes causadores de emissões de carbono que contribuam para o aquecimento
global possui diversas conotações nos sistemas jurídicos.
A via jurídica de resposta pode se materializar na instauração de litígios climáticos em que uma das
partes pleiteia perante a outra a fixação de sua responsabilidade por contribuir com o dano climático.
Demandam-se efeitos de responsabilidade a partir da atuação do Poder Judiciário como um caminho
institucional de imputação pela contribuição do agente econômico para um passivo ambiental que
atinge toda a coletividade, todo o planeta, inclusive em escala intergeracional. A litigância climática
não se comporta dentro dos estreitos limites da responsabilidade civil. Seus contornos demandam
uma avaliação de resposta pelo Estado-Juiz, que irá depender de uma coordenação entre cultura
jurídica impregnada em determinado ordenamento e a aplicação dos institutos legais disponíveis.
O artigo propõe, pois, a partir de uma metodologia crítica, a análise dos contornos das decisões
judiciais sob a perspectiva da litigância climática e assim sustenta a possibilidade de uma perspectiva
de três dimensões de responsabilização. A análise é efetivada a partir de casos relevantes e
exponenciais decididos em diversos ordenamentos jurídicos, e por essa linha se pretende expor
contornos diferenciados, mas com lastros comuns na apreciação desses precedentes. A verificação
de como Tribunais em diversos ordenamentos jurídicos exploram o tema pesquisado não somente
contribui em termos comparativos, mas também permite aferir os níveis de responsabilização pelo
dano climático.
A primeira dimensão de responsabilidade climática está ligada ao dano ambiental por emissões lícitas
de gases de efeito estufa que contribuem para as mudanças climáticas. Aprecia-se, nessa, a
viabilidade de fixação de responsabilidade para um agente responder pelos efeitos negativos do
passivo ambiental causados por uma atividade lícita.
A responsabilidade pode aqui também se manifestar com caráter transfronteiriço, no qual os efeitos
de mudanças climáticas são produzidos em um local diverso daquele em que se situa a fonte da
emissão de gases de efeito estufa, responsável pelo aquecimento global. Há, grifa-se, um terceiro
viés, referente à responsabilidade climática em atividades licenciadas, nas quais se avaliou o impacto
ambiental direto, mas não se determinou compensações ambientais por impactos climáticos.
A segunda dimensão da responsabilidade climática está ligada ao compromisso e ao dever de
resposta internos da pessoa jurídica responsável por emissões de gases de efeito estufa. A avaliação
da litigância climática é, nesse ponto, digna de distinção. Impõe-se um dever de ética ambiental
para aqueles que obtêm lucros empresariais. Isso significa não legitimar lucros decorrentes de
tomadas de risco irresponsáveis que são ou podem ser geradoras de passivos ambientais climáticos.
A vertente de litigância climática implica dever da pessoa jurídica em face de seus acionistas em não
produzir passivos ambientais e danos climáticos. O sentido se manifesta tanto para evitar prejuízos
futuros aos acionistas, com imputações de reparação climática para empresa, quanto para evitar
uma postura ecologicamente incorreta da pessoa jurídica. Abre-se aqui uma postulação nova. Fala-
se do direito do acionista a uma empresa ambientalmente correta e com boa governança climática.
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Por fim, aborda-se a litigância climática decorrente de infrações ambientais, sejam aquelas que
implicam uma atividade diretamente ligada às emissões de gases de efeito estufa, sejam aquelas
que indiretamente com isso contribuam. Os litígios climáticos revertem aqui em uma perspectiva de
responsabilidade por danos ambientais ocasionados por atos ilícitos que tenham como uma das
consequências a produção de passivo climático. A questão abre espaço para vertente ampla, na
medida em que determina um adicional de responsabilidade pelo dano ambiental, que se manifesta
cumulativamente em termos climáticos.
2. Litigância climática e tutela intergeracional
A litigância climática é uma alternativa supletiva – com a fraca concretização do princípio da
educação ambiental e as falhas na implementação dos princípios da precaução e da prevenção –
para a tutela das futuras gerações. Vital é a proteção de bens constitucionalmente protegidos como o
meio ambiente, a vida, a propriedade e outros valores que podem ser atingidos por eventos
climáticos extremos causados por fatores antrópicos decorrentes das emissões de gases de efeito
estufa.
Uma das decorrências do caráter amplo e transfronteiriço, aliado a níveis de percepção da lesão
como juridicamente relevante, é o encadeamento de ações e postulações judiciais que almejam a
tutela climática afirmadora de reconhecimento de um bem juridicamente relevante. A litigância
climática se desenvolve em uma interligação de ordenamentos jurídico e provimentos jurisdicionais
que precisam ser postos em diálogos entre os diversos ordenamentos jurídicos. Isso vem a significar
uma indissolúvel influência recíproca de julgamentos climáticos entre Tribunais de diversos países.
Em uma dinâmica intergeracional de tutela de bens ambientais, os precedentes deixam de ter
persuasão interna e ganham uma escalada de interinfluência internacional no direito comparado.
O primeiro precedente que se elege para a abordagem enfatiza o caráter intergeracional da tutela do
clima. O relevante leading case foi decidido pela Suprema Corte de Justiça da Colômbia e bem
demonstra a inquietação gerada pelo cenário de fragilização na proteção jurídica de valores, direitos
humanos e fundamentais relevantes em um contexto de vulnerabilidades derivadas dos efeitos do
aquecimento global.
Vinte e cinco adolescentes e crianças ajuizaram ação na Justiça colombiana visando proteger a
Amazônia no país, e assim tutelar o meio ambiente local em face dos danos com desmatamento na
região. A ação se fundamentou justamente nas mudanças climáticas, sustentando que a supressão
ilegal de vegetação da Amazônia colombiana está provocando desequilíbrios ecológicos e ameaçando
as gerações presentes e futuras. A qualidade ambiental, a vida, a saúde, a água e mesmo a
produtividade agrícola são ameaçadas pelas mudanças climáticas, afetando a tutela da vida em uma
perspectiva ampla e intergeracional.
A Suprema Corte da Colômbia decidiu favoravelmente aos autores, reconhecendo que a supressão
de vegetação implica afetação climática e, portanto, gera responsabilidade para proteger a Amazônia
em face de danos ambientais que levem a fontes de emissão de gases de efeito estufa,
comprometendo o ecossistema e a vida humana. Mais, reconheceu o referido sodalício que os danos
estão a produzir um passivo ambiental intergeracional, ou seja, geram um ônus ambiental a ser
arcado pelas gerações futuras, ao passo que indivíduos isolados estão a angariar egoisticamente os
ganhos de uma exploração utilitária e desmedida.
O julgamento da Suprema Corte de Justiça colombiana ocorreu no STC 4360-2018, feito n.
11001-22-03-000-2018-00319-01, vindo o Tribunal a expressamente vincular o desmatamento da
Amazônia às mudanças climáticas e fixar uma obrigação de proteção e recuperação ambiental.
Destacam-se os seguintes trechos do julgado:
“La anterior realidad, contrastada con los principios jurídicos ambientales de (i) precaución; (ii)
equidad intergeneracional; y (iii) solidaridad, advierte las siguientes conclusiones:
11.1. Relativo al primero de los anotados principios, no cabe duda que existe peligro de daño, por
cuanto según el IDEAM, el aumento de las emisiones de GEI, provocado con la deforestación de la
selva amazónica, generaría un incremento de la temperatura en Colombia, entre 0,7 y 1,1 grados
centrígrados entre el 2011 y 2040, en tanto que para el periodo comprendido ‘entre 20141 y el
2070, se calcula un aumento de 1,4 y 1,7 grados centígrados, para alcanzar hasta 2,7 grados
centígrados ‘en el período de 2071 a 2100.
Igualmente, la reducción de las masas forestales amazónicas rompería la conectividad ecosistémica
de ésta con los Andes, causándola probable extinción o amenaza de la subsistencia de las especies
habitantes de ese corredor, generando ‘daños en su integridad ecológica’.
Asimismo, según el IDEAM, la emisión GEI por deforestación provocaría, respecto de las
precipitaciones, dos tipos de consecuencias. La primera, un aumento en varias regiones del país,
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situación desencadenaría incremento en los niveles de los cauces, y por ende, de escorrentías,
generando la propagación de agentes contaminantes derivados del agua. Y la segunda, un déficit en
otros departamentos patrios, causando la disminución del recurso hídrico, así como prolongadas
sequias.
Respecto a la irreversibilidad del daño, y la certeza científica, componentes adicionales del principio
de precaución, los mismos resultan evidentes, por cuanto el GEI liberado a raíz de la deforestación,
constituye un 36% del sector forestal, erigiéndose en un factor de liberación incontrolada de CO2;
información sustentada, en detalle, por los estudios realizados por el IDEAM, la Cancillería, el
Ministerio de Ambiente y Desarrollo Sostenible, y el PNUD, entre muchos otros.”5
Há pontos de relevante destaque que são firmados pela Suprema Corte colombiana e convergem
com o ordenamento jurídico brasileiro. Em matéria de mudanças climáticas, tanto na Colômbia como
no Brasil, aplicam-se o princípio da prevenção e o princípio da precaução.6 Os dados científicos e
técnicos, produzidos por perícia, igualmente, visam demonstrar o risco e deixar evidenciado o nexo
de causalidade para a responsabilização do demandado nos autos do processo.
Mesmo que o réu, como ocorre em litígios do estilo, alegar que não se pode dimensionar o dano
ambiental futuro, isso não lhe suprime a responsabilidade civil ambiental. A legislação brasileira,
como no precedente colombiano, também atribui prima facie a responsabilidade individualizada pela
criação de fontes de emissão de gás de efeito estufa. Supressões de vegetação, que são sempre
geradoras de emissões de CO2, podem violar o ordenamento jurídico de ambos os países.
Além disso, a Suprema Corte colombiana destaca os efeitos na conectividade da fauna e afetação de
ecossistemas, somados aos riscos de epidemias de contaminantes, pontos que ameaçam obviamente
não somente a Amazônia colombiana, mas também a brasileira, irradiando-se para outros biomas
brasileiros, já que o meio ambiente é um todo integrado. Há assim um reconhecimento expresso
pela Suprema Corte da Colômbia dos impactos inquestionáveis das supressões de vegetação sobre
as mudanças climáticas.
A Corte afirma haver um dever de medidas corretivas em face das mudanças climáticas. Uma das
medidas é a responsabilização dos infratores por práticas de supressão irregular, atribuindo-lhes os
ônus de reparação ambiental pela geração ilícita de fonte de emissão de gases de efeito estufa.7
Relevante é destacar que o vanguardismo da legislação brasileira não é menor do que o da lei
colombiana. A Lei 12.187/2009 (LGL\2009\2300), assim como a Lei 6.938/1981 (LGL\1981\21) e
diplomas correlatos, fornecem bases de mapeamento e atribuição de responsabilidade no Brasil.
Mister a análise, para uma evolução do tema proposto inicialmente, dos litígios climáticos que
versam sobre danos transfronteiriços.
3. Litigância climática transfronteiriça
É de se observar que as emissões de gases de efeito estufa – que geram o aquecimento global – e
os seus efeitos lesivos ao meio ambiente, ao direito à vida e aos cofres públicos não ficam restritas
às fronteiras dos Estados. Referidos gases de efeito estufa acumulam-se na atmosfera e alteram o
clima em todo o planeta, gerando danos transfronteiriços. Clássico exemplo é o caso Lliuya vs. RWE,
que tramita na Alemanha. Embora o caso não tenha repercutido em provimentos condenatórios até o
momento, a expressão de sua postulação em si é um precedente de contundência.
O fazendeiro peruano, Saul Lliuja, residente em Huaraz (Peru), ajuizou uma demanda na Alemanha,
na Corte Regional de Essen, contra a maior produtora de energia elétrica alemã, a Rheinisch-
Westfälisches Elektrizitätswerk AG (Rhenish-Westphalian Power Plant ou RWE), instalada na região
de Essen, no norte do Reno. Lliuya alegou, em seu pedido, que a RWA tinha pleno e total
conhecimento que as emissões de gases de efeito estufa, em face de sua atividade, em alguma
medida, contribuíam para o derretimento no gelo no topo das montanhas perto de Huaraz, colocando
em risco os seus 120 mil habitantes. De acordo com o autor, o Lago Palcacocha, localizado acima da
cidade de Huaraz, teve um notável aumento em seu volume, desde 1975, agravando-se após o ano
de 2003.8
Lliuja embasou a sua ação no Código Civil alemão, que prevê instrumentos jurídicos para impedir o
incomodo e o risco causados por determinadas atividades e, também, tutelas de urgência. Ele
requereu que a Corte declarasse que a RWE era, em parte, responsável pelos custos relacionados ao
aumento do lago. Também foi requerido que a Corte condenasse a RWE a reembolsar a parte autora
pelo custo das medidas que esta já havia arcado para proteger a sua casa e, ainda, que pagasse à
Associação Comunitária de Huaraz 17 mil euros com a finalidade de construir sifões, drenos e diques
para proteger a cidade. O valor postulado teve como base o fato de que, segundo a parte autora, a
RWE emite aproximadamente 0,47% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, ao que o
custo de reparação corresponde a igualmente 0,47% do custo estimado das medidas protetivas.9
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A Corte, na sua fundamentação, entendeu que a conduta da RWE não poderia ser considerada no
aspecto da causalidade uma conditio sine qua non. A ação da ré poderia ser entendida no máximo
como uma situação de causação cumulativa, como existem muitos emissores de CO2 e de gases de
efeito estufa em todo o Mundo. A causação cumulativa exige, segundo a Corte, que nenhuma ação
possa ser considerada na análise do nexo de causalidade, se por si só, ao ser suprimida, for
irrelevante para a causa de eventual dano. As emissões da RWE poderiam ser vedadas ou
interrompidas sem que necessariamente o risco de enchente da cidade peruana fosse banido. Além
disto, com base no Waldschadensurteile (precedente referente aos danos sofridos pelas florestas
alemãs com múltiplos causadores), não é possível atribuir danos individuais e restrições à
propriedade aos emissores individuais, quando existem várias fontes emissoras.10
Entre outros fundamentos constantes na decisão, portanto, o mais importante foi a não
demonstração do nexo causal entre a conduta da parte ré (produção de gases de efeito estufa) e o
risco potencial de alagamento de Huaraz, decorrente do derretimento das geleiras.11 Mas a Corte,
composta por três juízes, também entendeu que a participação da parte ré nas emissões globais de
gases de efeito estufa era muito pequena e que essas não aumentavam as consequências negativas
do aquecimento global de modo significativo.12
Outro ponto que enfraqueceu o pedido de Lliuja, de acordo com a Corte, foi de cunho probatório,
uma vez que ele requereu que esta fixasse de modo específico e exato a contribuição das emissões
anuais da parte ré e não uma mera estimativa genérica, o que poderia facilitar um juízo de
procedência da demanda se o pedido tivesse sido articulado desse outro modo.13
Assim, no mérito, a Corte julgou improcedentes as pretensões declaratórias e mandamentais de
Lliuja, assim como o seu pleito indenizatório.14
O fazendeiro peruano interpôs recurso da decisão da Corte de Essen para a Alta Corte Regional de
Hamm.15 Em audiência, realizada em 13 de novembro de 2017, a Alta Corte de Apelação de Hamm,
ao receber o recurso, rejeitou as razões da Corte a quo de que o direito não pode regular impactos
das mudanças climáticas. Em 3 de novembro do mesmo ano a Corte foi além, e determinou a
realização de produção de prova técnica para que o expert responda aos seguintes quesitos:
a) Por causa do significante aumento da expansão do volume do Lago de Pacacocha existe uma séria
e iminente interferência na propriedade do autor, localizada em terreno abaixo, de risco de
inundação ou de ser atingida por algum deslizamento?
b) As emissões de CO2 liberadas pelas usinas da parte ré na atmosfera causam, como lei da física, a
concentração atmosférica de gases de efeito estufa?
c) O aumento da concentração de moléculas de gases de efeito estufa causam a diminuição no
escape do calor da terra, o que por sua vez causa o aumento da temperatura global?
d) Por causa do consequente aumento das temperaturas localmente, existe um acelerado
derretimento da Geleira de Palcaraju? O tamanho da cobertura de gelo diminuiu e o do volume de
água aumentou tanto que não pode ser retido pelas morainas glaciares (entendidas essas como o
amontoado de pedras, a carga sedimentar que o gelo transporta, formando acumulações e que
formam faixas escuras ao longo das geleiras)?
e) A proporção da causa parcial em relação ao nexo causal é mensurável e calculável? Soma 0,47%
hoje?
A diferença proporcional da causalidade parcial, se observada, deve ser determinada e declarada
pelo perito.16
A Alta Corte de Apelação de Hamm considerou expressamente a causa, objeto de apelação, como
passível de judicialização, seguindo as razões e os precedentes de Cortes de outros países em casos
envolvendo mudanças climáticas e os seus efeitos adversos. A Corte entendeu que o Poder
Judiciário, ao apreciar o mérito da demanda, não viola o princípio da Separação dos Poderes, de
acordo com interpretação do Art. 20 Sec. 2 GG (Lei Fundamental Alemã), e concluiu que o caso pode
ser decidido com base nas leis existentes, especificamente pelo § 1004 do Código Civil
(LGL\2002\400) (BGB).17
A Corte, inclusive, mencionou os Motivos do Código Civil (LGL\2002\400):
“Nós estamos vivendo no fundo de um oceano de ar. Esta situação leva necessariamente para uma
extensão dos efeitos das atividades humanas para lugares remotos. Todos que estão causando a
existência de imponderabilidades devem saber que eles estão tomando o seu próprio caminho. Essa
transmissão além das fronteiras é para ser atribuída como uma consequência de cada atividade e as
emissões diretas e indiretas estão, neste aspecto, para não ser distinguidas umas das outras.”
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A Corte entendeu essa consideração, que emana dos Motivos do Código Civil (LGL\2002\400), como
aplicável em relação às emissões transnacionais de gases de efeito estufa e aos seus efeitos,18 o que
pode significar um prognóstico de substituição da decisão de primeiro grau. Ainda que referida
substituição da decisão a quo não ocorra, o caso, pelas próprias quesitações e razões expostas no
recebimento do apelo, e em audiência, deixam evidenciado que a litigância climática começa a ser
reconhecida na Alemanha como algo viável em face da suficiência do ordenamento legal,
remanescendo, sim, como se infere dos fundamentos da decisão recorrida, a dificuldade no
estabelecimento do nexo de causalidade em demandas do estilo.
Grifa-se que o ordenamento jurídico e a jurisprudência brasileira ambiental, ao admitirem a
responsabilidade objetiva pelo risco integral, a inversão do ônus da prova contra o poluidor, a
imprescritibilidade das ações para a reparação do dano e a obrigação propter rem pelo dano
ambiental facilitam a demonstração do dano e do nexo causal em litígios climáticos. O direito
alemão, ao contrário, depende por demais do Código Civil (LGL\2002\400) para a tutela de direitos
ameaçados ou lesados por danos climáticos causados por fatores antrópicos.
Importante grifar que os litígios climáticos estão sendo instaurados também no âmbito do direito
comunitário, sendo de relevante importância para tutelar países-membros e suas populações contra
os efeitos dos eventos climáticos extremos e, em especial, para a responsabilização dos emissores.
Referido fenômeno pode ser observado em ações individuais promovidas no âmbito da União
Europeia. Aqui se expõe outro núcleo com precedente de relevância.
Emblemáticas estão a se tornar as ações individuais movidas em face da União Europeia por dano
climático. A Corte de Justiça da União Europeia recebeu ação judicial por “inação climática”,
promovida por dez famílias em face do Parlamento e do Conselho europeus.19
A responsabilidade pelo dano climático e o dever de não promover o agravamento das mudanças
climáticas são um primado não só de direito interno, mas também no plano internacional. Os
responsáveis por fontes ilegais de emissão de gás de efeito estufa devem por elas responder. Pouco
importa, em igual sentido, para o ajuizamento de litígios climáticos, que os réus tenham as suas
atividades geradoras de emissões de gases de efeito estufa licenciadas pelo Estado. Deve se verificar
se existem consideráveis emissões de gases de efeito aptas a alterar o clima e gerar riscos ou danos
a bens constitucionalmente tutelados.
4. Litigância climática em atividades carboníferas
A autorização ou a licença ambiental para o empreendimento não o desonera de responsabilidades
ambientais. É possível que mesmo empreendimentos regulares impliquem atribuição por
responsabilidade no caso climático reconhecido em litígio. Nesse sentido é digno de menção o caso
Conservation Law Foundation vs. ExxonMobbil. O procedimento de licenciamento não é um salvo-
conduto para a carbonização do meio ambiente e da economia, cabe a guinada para o
desenvolvimento sustentável e para a boa governança climática.20
A legislação norte-americana não possui os avanços normativos da legislação brasileira,
principalmente quanto à fixação de responsabilidade objetiva e individual na emissão de fontes de
gases de efeito estufa. Não obstante uma conjuntura normativa muito aquém da brasileira,
proliferam ações judiciais visando à atribuição de responsabilidade, tais como os cases Conservation
Law Foundation vs. ExxonMobbil (US) e City of New York vs. BP p.l.c.
As disputas norte-americanas baseiam-se majoritariamente no Clean Air Act e no Clean Water Act.
Em Conservation Law Foundation vs. ExxonMobil Corporation, ExxonMobil Oil Corporation, and
ExxonMobil Pipeline Company, case 1:16-cv-11950-MLW, as razões para responsabilização dos réus
decorrem do dano ecológico de matriz atmosférica, com repercussões totais no sistema ambiental-
climático. Referido litígio climático é semelhante às discussões políticas traçadas no panorama
brasileiro, embora ainda em sua maioria não judicializadas. Nos EUA já se debate a responsabilidade
direta – não pela supressão de vegetação que repercute como fonte de gás de efeito estufa, mas –
pela atribuição de responsabilidade pela emissão de poluentes resultantes da exploração de
combustíveis fósseis.21
Referidos litígios climáticos podem servir de lume a casos no Brasil. Proliferam no país fontes ilícitas
de emissões, em especial nas supressões do bioma amazônico. O litígio norte-americano justamente
se pauta em uma criação de fonte ilícita de emissão de GEE. O parâmetro norte-americano e
mundial de aplicação das normas ambientais mais uma vez é emblemático e não deve ser ignorado.
Aquele que desconsidera as normas ambientais na supressão de vegetação, desmatando e lesando o
meio ambiente, desconsidera também seu dever de ação em resguardo do bem ambiental, e atua
como poluidor-emissor, em desprezo aos princípios da legalidade, da prevenção, da precaução e do
desenvolvimento sustentável nesta Era de mudanças climáticas. Aliás, todos esses princípios
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Caso outro de relevo é Juliana vs. United States.22 Os autores, vinte e um jovens e adolescentes,
entre 11 e 22 anos, sustentam um direito constitucional à vida, à liberdade e à propriedade que é
ameaçado pela mudança climática. Alegam existir um dever estatal de coibir práticas que gerem
mudança climática. Observa-se que nos Estados Unidos o meio ambiente não é um direito
constitucional fundamental, como no Brasil e, tampouco, o Congresso norte-americano reconhece a
mudança climática por fatores antrópicos uma realidade via produção legislativa como ocorre nestas
plagas. A pretensão inibitória caminha em construções argumentativas e de conversão de bases
jurisprudenciais a fim de fazer face ao campo de desenvolvimento legal ainda em germinação.
Fértil, portanto, é o campo jurídico para o ajuizamento de litígios climáticos no Brasil, que possui a
Floresta Amazônica ocupando considerável parte do seu território como um gigantesco sumidouro de
carbono. Nestes tempos exige-se ousadia na defesa do clima, em especial em juízo, em face do
insatisfatório poder de polícia climático do Estado brasileiro. Em outros termos, enquanto nos
Estados Unidos há o desenvolvimento de teses e construções voltadas a alicerçar os litígios
climáticos, o cenário brasileiro, que conta com arsenal de normas mais desenvolvido e uma gama de
bens a reclamar proteção, ainda se revela tímido.
Outro ponto a ser considerado em sede de litígios climáticos é a legitimidade de acionistas e sócios
de instituição que está a financiar atividades que geram emissões de gases de efeito estufa,
aumentando os riscos de catástrofes e desastres ambientais.
5. Litigância climática perante os acionistas ou os sócios do empreendedor
Os litígios climáticos estão pautados não apenas pela preocupação com a proteção do meio
ambiente, mas também pela necessária tutela jurídica das presentes e das futuras gerações de seres
vivos humanos e não humanos em uma acepção mais ampla (condizente com um verdadeiro
antropocentrismo alargado). Importante que o investimento dos recursos públicos e privados do
Estado e dos grupos econômicos sejam canalizados para as matrizes energéticas renováveis23 aptas
a concretizar os objetivos acordados em Paris durante a COP 21 e não como catalizador da indústria
dos combustíveis fósseis e do desmatamento, que causam danos gigantescos ao meio ambiente, à
infraestrutura e à saúde das populações em todas as nações.
Nesse cenário destaca-se precedente de litígio climático passado na Austrália. Na Austrália destaca-
se o case Abrahams vs. Commonwealth Bank of Australia. O precedente de litigância climática possui
extrema relevância por expressar demanda de acionistas em face de instituição financeira que, fora
das prescrições normativas e regulamentares, estava a financiar empreendimentos que implicam
fonte de emissão de gases de efeito estufa.24
A importância do caso em termos de litigância climática é justamente a afirmação em termos
jurídicos da figura do poluidor indireto, cuja contribuição para com a mudança climática repercute na
responsabilidade pelos atos e pelas condutas de gestão que influenciam e estimulam a geração de
fontes poluentes e emissões que causam o aquecimento global. Relevante que as instituições que
patrocinam os bilionários financiamentos das companhias de combustíveis fósseis e da agropecuária
desmatadora reparem os danos causados decorrentes de eventos climáticos extremos.
Importante que no caso do Brasil o poluidor indireto venha a ser responsabilizado pelos prejuízos
causados por tempestades, ciclones tropicais, secas, enchentes, ondas de calor e o aumento do nível
do Oceano Atlântico a banhar a costa do país. Não apenas no sentido de reparar danos, mas
também para o financiamento de medidas de adaptação e de resiliência para as populações mais
vulneráveis.
6. Litigância climática por atividade ilícita
Não existe dúvida que atos ilícitos como queimadas, desmatamentos ou emissões de poluentes,
todos geradores de emissões de gases de efeito estufa, podem ser objeto de litígios climáticos
instaurados com o ajuizamento de ações civis públicas ou ações populares climáticas. Esses litígios
objetivam fazer cessar o ilícito, removê-lo e, por fim, reparar o meio ambiente in natura, ou
pecuniariamente, tal qual indenizar os danos ambientais puros ou por ricochete que lesem os bens
juridicamente tutelados dos indivíduos. Em suma, eventos climáticos extremos de causas antrópicas
necessitam de reparação via imputação dos responsáveis em uma ampla dinâmica de repercussão de
danos.
Embora o Superior Tribunal de Justiça não tenha enfrentado um caso específico que envolva um
litígio climático puro, a Corte possui precedente de vanguarda e progressista em matéria ambiental,
em especial no sentido da reparação de danos que envolvam ilícitos ambientais. Trata-se do REsp
1.198.727/MG. Em caso versando sobre ação civil pública que imputava responsabilidade por
desmatamento de vegetação nativa do cerrado, sem autorização do órgão ambiental, o Superior
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1 Sobre litígios climáticos em uma perspectiva de direito comparado entre Brasil, Estados Unidos e
Alemanha, ver: WEDY, Gabriel. Litígios climáticos: de acordo com o direito brasileiro, norte-
americano e alemão. Salvador: JusPodivm, 2019. Sobre a litigância climática no Brasil, ver: SETZER,
Joana; CUNHA, Kamyla; FABBRI, Amália Botter. Litigância climática: novas fronteiras para o direito
ambiental no Brasil. São Paulo: Ed. RT, 2019.
3 BECK, Ulrich. Risk society: towards a new modernity. London: Sage, 1997.
4 Nesse sentido, ver: GERRARD, Michael. Introduction and overview. In: GERRARD, Michael;
FREEMAN, Jody (Ed.). Global climate change and U.S Law. New York: American Bar Association,
2014. p. 1-30. E, especificamente, sobre ameaças e graves riscos que sofrem as Nações Ilhas e suas
populações decorrentes do aquecimento global e suas implicações jurídicas, imperioso consultar:
GERRARD, Michael. Threatened Island Nations: legal implications of rising seas and a changing
climate. Cambridge: Cambridge University Press, 2013.
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8 WEDY, Gabriel. Litígios climáticos: de acordo com o direito brasileiro, norte-americano e alemão.
Salvador: JusPodivm, 2019. p. 163-178.
9 FRANKFURTER ALLGEMEINE ZEITUNG. David loses the fight against Goliath, Frankfurter
Allgemeine Zeitung, Dec. 15, 2016. Disponível em: [http://perma.cc/LX3R-7SVE] (A flood risk would
however not be attributed single to RWE AG). Acesso em: 22.08.2019.
10 COLUMBIA LAW SCHOOL. SABIN CENTER FOR CLIMATE CHANGE LAW. Case N.2 O 285/15, Essen
Regional Court decision, 2015. Disponível em: [http://wordpress2.ei.columbia.edu/climate-change-
litigation/files/non-us-case-documents/2016/20161215_Case-No.-2-O-28515-Essen-Regional-
Court_decision-1.pdf]. Acesso em: 20.06.2019.
11 WELLER, Marc-Philippe; HUBNER, Lonhard; KALLER, Luca. Private International Law for Corporate
Social Responsabilility. German National Reports on the 20th International Congress of Comparative
Law. Tuebingen: Mohr Siebeck, 2018. p. 17.
12 COLUMBIA LAW SCHOOL. SABIN CENTER FOR CLIMATE CHANGE LAW. Case N.2 O 285/15, Essen
Regional Court decision, 2015. Disponível em: [http://wordpress2.ei.columbia.edu/climate-change-
litigation/files/non-us-case-documents/2016/20161215_Case-No.-2-O-28515-Essen-Regional-
Court_decision-1.pdf]. Acesso em: 20.06.2019.
13 UNITED NATIONS. The Status of Climate Litigation: a Global Review, 2017. p. 35. Disponível em:
[www.unenvironment.org/resources/publication/status-climate-change-litigation-global-review].
Acesso em: 01.08.2019.
14 UNITED NATIONS. The Status of Climate Litigation: a Global Review, 2017. p. 35. Disponível em:
[www.unenvironment.org/resources/publication/status-climate-change-litigation-global-review].
Acesso em: 01.08.2019).
15 COLUMBIA LAW SCHOOL. SABIN CENTER FOR CLIMATE CHANGE LAW. The Huaraz Case (Lluiya v.
Rwe) – German Court Opens Recourse to Climate Law Suit Against Big co2-Emitter, 2017. Disponível
em: [http://blogs.law.columbia.edu/climatechange/2017/12/07/the-huaraz-case-lluiya-v-rwe-
german-court-opens-recourse-to-climate-law-suit-against-big-co2-emitter]. Acesso em: 20.06.2019.
16 COLUMBIA LAW SCHOOL. SABIN CENTER FOR CLIMATE CHANGE LAW. The Huaraz Case (Lluiya v.
Rwe) – German Court Opens Recourse to Climate Law Suit Against Big co2-Emitter, 2017. Disponível
em: [http://blogs.law.columbia.edu/climatechange/2017/12/07/the-huaraz-case-lluiya-v-rwe-
german-court-opens-recourse-to-climate-law-suit-against-big-co2-emitter]. Acesso em: 20.06.2019.
17 COLUMBIA LAW SCHOOL. SABIN CENTER FOR CLIMATE CHANGE LAW. The Huaraz Case (Lluiya v.
Rwe) – German Court Opens Recourse to Climate Law Suit Against Big co2-Emitter, 2017. Disponível
em: [http://blogs.law.columbia.edu/climatechange/2017/12/07/the-huaraz-case-lluiya-v-rwe-
german-court-opens-recourse-to-climate-law-suit-against-big-co2-emitter]. Acesso em: 20.06.2019.
18 COLUMBIA LAW SCHOOL. SABIN CENTER FOR CLIMATE CHANGE LAW. The Huaraz Case (Lluiya v.
Rwe) – German Court Opens Recourse to Climate Law Suit Against Big co2-Emitter, 2017. Disponível
em: [http://blogs.law.columbia.edu/climatechange/2017/12/07/the-huaraz-case-lluiya-v-rwe-
german-court-opens-recourse-to-climate-law-suit-against-big-co2-emitter]. Acesso em: 20.06.2019.
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20 Sobre o desenvolvimento sustentável com base em quatro pilares (tutela ambiental, inclusão
social, desenvolvimento econômico e boa governança) é fundamental a leitura da obra do professor
da Columbia University e principal consultor da ONU para o desenvolvimento sustentável, Jeffrey
Sachs (SACHS, Jeffrey. The Age of sustainable development. New York: Columbia University Press,
2015). E para uma abordagem jurídica do princípio e direito fundamental ao desenvolvimento
sustentável amparada nos mesmos quatro pilares: WEDY, Gabriel. Desenvolvimento sustentável na
era das mudanças climáticas: um direito fundamental. São Paulo: Editora Saraiva, 2018.
21 Climate Change Impacts. 89. The harms associated with climate change are serious and well
recognized. Massachusetts v. EPA, 549 U.S. 497, 521 (2007). 90. “That global warming is taking
place as a result of human emissions of carbon dioxide and other greenhouse gases, and that its
consequences are likely to be harmful, is widely accepted in the scientific community.” Green
Mountain Chrysler Plymouth Dodge Jeep v. Crombie, 508 F. Supp. 2d 295, 341 (D. Vt. 2007). (...)
112. The memorandum concludes in part that “[t]he present trends of fossil fuel combustion with a
coal emphasis will lead to dramatic world climate changes within the next 75 years” according to
many climate models. Id. at 1. 113. Mr. Ferrall’s letter enclosing the memorandum cautioned that:
The major conclusion from this report is that, should it be deemed necessary to maintain
atmospheric CO2 levels in order to prevent significant climatic changes, dramatic changes in patterns
of energy use would be required. World fossil fuel resources other than oil and gas could never be
used to an appreciable extent. Mem. from W.L. Ferrall, to R.L. Hirsh on “Controlling Atmospheric
CO2” (Oct. 16, 1979) (enclosing October 16, 1979 Mem. on “Controlling Atmospheric CO2”). (...)
170. ExxonMobil’s knowing disregard of the imminent risks of climate change that threaten the
Everett Terminal and its continuing failure to fortify the Terminal against such known risks make
ExxonMobil liable for violations of the CWA and RCRA, as described below. (UNITED STATES. District
Court for District of Massachusetts. Complaint for declaratory and injuntictive relief and civil
penalties. Conservation Law Foundation v. ExxonMobil Corporation; ExxonMobil Oil Corporation;
ExxonMobil Pipeline Company. September 29, 2016. Disponível em: [www.clf.org/wp-content/
uploads/2016/09/CLF-v.-ExxonMobil.pdf]. Acesso em: set. 2019).
22 Esse caso teve seu prosseguimento autorizado recentemente pela Suprema Corte americana,
negando pedido de sobrestamento do governo federal (MARRIS, Emma. US Supreme Court allows
historic kids’ climate lawsuit to go forward: Case aims to compel the government to slash
greenhouse-gas emissions. Nature: International Journal of Science, News, 563, 163-164 (2018).
Disponível em: [www.nature.com/articles/d41586-018-07214-2]. Acesso em: out. 2019).
23 Sobre a regulação e o direito das energias renováveis consultar: GERRARD, Michael. Threatened
Island Nations: legal implications of rising seas and a changing climate. Cambridge: Cambridge
University Press, 2013.
24 Shareholders of the Commonwealth Bank of Australia sued the bank, alleging that it violated the
Corporations Act of 2001 with the issuance of its 2016 annual report, which failed to disclose climate
change-related business risks—specifically including possible investment in the controversial Adani
Carmichael coal mine. The bank has made no indication that it would report on these risks or
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disclose its plans for managing them in 2017. The shareholders asked the Federal Court of Australia
for a declaration that the bank has violated the 2001 Act and for an injunction either “restraining the
bank from continuing to fail to report” on climate change-related risks and its responses, or requiring
the bank to report on them The London School of Economics and Political Science. (AUSTRALIA.
Federal Court of Australia. Abrahams v. Commonwealth Bank of Australia, 2017. Disponível em:
[www.lse.ac.uk/GranthamInstitute/litigation/abrahams-v-commonwealth-bank-of-australia]. Acesso
em: nov. 2018).
25 STJ, REsp 1198727/MG, rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., j. 14.08.2012, DJe 09.05.2013.
Disponível em: [https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=1198727&b=ACOR&
thesaurus=JURIDICO&p=true]. Acesso em: set. 2019.
26 A Suprema Corte Norte Americana reconheceu expressamente em EPA vs. Massachussets que as
emissões de gases de efeito estufa por veículos automotores são poluentes para fins de aplicação do
Clean Air Act. No caso concreto, a Corte decidiu que a EPA possui o dever de promover a regulação
da emissão de gases poluentes referidos pelo Estado de Massachusetts ou, ao menos, justificar
adequadamente por que não está exercendo a sua competência de acordo com a lei. (STONE,
Geoffrey et al. Constitutional Law: Keyed to Courses Using. 6th ed. New York: Wolters Kluwer, 2010,
p. 9). Ver também, American Electric Power Company, Inc. v. Connecticut, 131 S.Ct. (UNITED
STATES. Supreme Court. American Electric Power Company, Inc. v. Connecticut, 131 S.Ct. 2527,
2530, 2011. Disponível em: [www.supremecourt.gov]. Acesso em: 01.10.2019).
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