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Educação Ambiental e Cultura: relações para a construção de um

Programa Municipal de Educação Ambiental

Maria Cecília Madruga Monteiro1


Dione Iara Silveira Kitzmann2

GT 2 - Pensar a Educação Ambiental Não-Formal: Educação Ambiental,


análise e compreensão das dinâmicas educacionais extramuros

Palavras-chave: Política Pública. Gestão Pública. Educação Ambiental.


Cultura.

Este trabalho é parte integrante do desenvolvimento da tese intitulada “A


Educação Ambiental Crítica e a Gestão Ambiental Pública: o desafio da
construção do Plano Municipal Educação Ambiental de São Lourenco do Sul”,
RS” junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental-FURG.
A tese tem como objetivo principal construir, em conjunto com os
gestores públicos e os membros dos Conselhos Municipais paritários de São
Lourenço do Sul, um Plano Municipal de Educação Ambiental (PMEA) norteado
em fundamentos críticos, complexos e reflexivos.
De acordo com o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA)
a gestão e o planejamento da Educação Ambiental (EA) devem trazer
articulações com as políticas e iniciativas que envolvam: atenção à saúde;
assistência social; cultura; ética; direitos humanos, inclusão e diversidade;
geração de renda; agricultura e assentamentos sustentáveis; identidade e
patrimônio; áreas fronteiriças e costeiras; uso e ocupação do solo; transporte e
mobilidade.
1
Doutoranda, Universidade Federal do Rio Grande-PPGEA-– mceciliamadruga@hotmail.com
2
Doutora, Universidade Federal do Rio Grande-PPGEA –docdione@furg.br
Nesse marco problemático este estudo tem como propósito aprofundar
como as questões culturais podem ser consideradas na construção de um
PMEA.
O reconhecimento de que a cultura de um povo, de uma localidade, ou
qualquer forma de identidade cultural possibilite diversas maneiras de
interpretar a natureza e o meio ambiente, pode ser fundamental para o
desenvolvimento de ações significativas de EA.
A metodologia adotada se fundamenta nos princípios da metodologia
qualitativa. Segundo Minayo e Deslandes (2007) a pesquisa qualitativa
responde a questões muito particulares e se preocupa, nas ciências sociais,
com um nível de realidade que não pode ser quantificado.
Os dados foram obtidos através de uma Revisão Sistemática utilizando
os seguintes descritores: Educação Ambiental e Cultura de forma isolada e
combinados entre si. Utilizou-se como fonte os seguintes bancos de dados:
biblioteca digital SciELO, descritores em todos os campos e Google
Acadêmico, descritores no título.

Educação Ambiental e Cultura: caminhos que convergem na elaboração


de um PMEA

Entender que existem diferenças entre as culturas é também


compreender a “teia de significado” que cada sociedade apresenta sobre
determinados aspectos da realidade. Partindo da cultura podemos desvelar
como cada sociedade concebe o conceito de natureza, visualizando o que
representa e a forma como o indivíduo se relaciona com ela (LEMOS &
GRACIOLI, 2015).
Conforme Tristão (2012) a cultura produzida na sociedade e pela
sociedade está totalmente ligada à natureza, pelas organizações sistêmicas
das trocas abertas, comuns a toda matéria. As diferenças culturais são
originárias das diferentes formas de se relacionar com a natureza das etnias
espalhadas pelo planeta Terra.
A cultura estabelece um diálogo com a EA a partir do momento em que
também contribui e transforma suas práticas pedagógicas, as realinhando aos
contextos concretos de intervenção A cultura acaba por ser a expressão mais
significativa dos contextos locais e o investimento em debates sobre tais
problemáticas enriquece as abordagens da EA (SILVA, FERNANDES e
BOTÊLHO. 2018).
Desse modo, como um conjunto de práticas, de relações, de significados
produzidos, compreendidos e compartilhados por um grupo, a cultura é
formadora de identidades. A valorização dos sujeitos, a constituição das
subjetividades pode visibilizar conceitos de natureza associados à cultura
(TRISTÃO, 2012).
Bonfim & Piccolo (2011) mostram o homem como um ser cultural e
político, e concluem dizendo que qualquer reflexão sobre a “questão ambiental”
que abrir mão disso iniciará de forma equivocada.
A EA, para cumprir a sua finalidade, conforme definida na Constituição
Federal, na Lei n. 9.795/99, que institui a Política Nacional de Educação
Ambiental e em seu Decreto regulamentador (Lei n. 4.281/02), deve
proporcionar as condições para o desenvolvimento das capacidades
necessárias; para que grupos sociais, em diferentes contextos socioambientais
do país, intervenham, de modo qualificado, tanto na gestão do uso dos
recursos ambientais quanto na concepção e aplicação de decisões que afetam
a qualidade do ambiente, seja físico-natural ou construído (QUINTAS, 2004).
Garantida a importância da Cultura para a Educação Ambiental é
importante retira-lhe o espectro metafísico que ronda esse importante conceito
da Antropologia. Muitas vezes a ideia de cultura parece uma entidade sobre os
homens, algo que os constituiria num plano quase mágico. Nessa visão o
homem fora da cultura se animaliza. Porém, essa assertiva pode ser dita
assim: “o homem é um animal antes da cultura”. Assim sendo, como e quando
se constitui a cultura? Dizer que há uma relação dialética entre os homens e a
cultura, de construção, reconstrução, assimilação, transmissão e retransmissão
sincronicamente entre os indivíduos e com as gerações futuras
(diacronicamente) é o início, mas não suficiente. Onde se constitui o “homem
natural e cultural”? (BONFIM & PICCOLO, 2011, p. 189).

Considerações Finais
Não há como superar os impasses causados pela necessidade de
crescer sem destruir o meio ambiente desconhecendo ou desqualificando os
saberes tradicionais e alijando populações inteiras das benesses do
crescimento econômico, oferecendo-lhe somente o ônus da degradação
ambiental. É fundamental incorporar todas as práticas culturais, todos os
saberes populares como parte do estoque de capital necessário ao
desenvolvimento humano sustentável (RODRIGUES, 2007).
O monoculturalismo é contrário à ideia ecológica de mundo, porque é
sempre uma ideia de força, de uma cultura de guerra em sentido metafórico, o
que anula a diversidade de pensamentos e de ações. A valorização das
culturas pode ser um meio para construir um futuro sustentável (TRISTÃO,
2012).
Cada município tem suas próprias necessidades, possibilidades e
especificidades. O entendimento da cultura local pode ajudar a criar políticas
públicas específicas para a EA que estejam alinhadas com essas
necessidades.
A cultura de uma comunidade muitas vezes molda a maneira como seus
membros interagem e entendem o ambiente, desta forma, um PMEA é mais
eficaz quando a comunidade está envolvida e se reconhece nele.

Referências Bibliográficas
BRASIL. Política Nacional de Educação Ambiental, Lei 9.795 de 27 de abril
de 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm.
Acesso em: 04 de maio de 2021.
BOMFIM, A. M. do, PICCOLO, F.D. Educação ambiental crítica: a questão
ambiental entre os conceitos de cultura e trabalho. Rev. eletrônica Mestr.
Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. 27, julho a dezembro de 2011
MINAYO, M. C. S.; DESLANDES, S. F. Pesquisa social: teoria, método e
criatividade. 25. ed. rev. atual. Petrópolis: Vozes, 2007
LEMOS, R.G. de, GRACIOLI, C. R. A Influência Cultural na Prática da
Educação Ambiental em Duas Escolas Estaduais do Amazonas. Revista
Monografias Ambientais. Santa Maria, Edição Especial Curso de
Especialização em Educação Ambiental. 2015, p. 01−07.
QUINTAS, J.S. Educação no Processo de Gestão Ambiental: uma Proposta de
Educação Ambiental Transformadora e Emancipatória. In:LAYRARGUES
Philippe Pomier (coord.). Identidades da educação ambiental brasileira /
Ministério do Meio Ambiente. Diretoria de Educação Ambiental; – Brasília:
Ministério do Meio Ambiente, 2004.p. 113-140.
RODRIGUES, D. S. S. Educação, Meio Ambiente e Cultura. Revista Cocar,
v.1 n.1, Jan/Jun, 2007.
SILVA, J. V. F., FERNANDES, A. M., BOTÊLHO, L. A. V. A educação
ambiental em questão: dilemas da valorização cultural nos espaços de
aprendizagem. Anais V CONEDU.Campina Grande: Realize Editora, 2018.
Disponível em:
https://www.editorarealize.com.br/index.php/artigo/visualizar/45671. Acesso
em: 27/09/2023.
TRISTÃO, M.. A educação ambiental e a emergência de uma cultura
sustentável no cenário da globalização. R. Inter. Interdisc. INTERthesis,
Florianópolis, v.9, n.1, p. 207-222, Jan./Jul. 2012.

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