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UM OLHAR SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E

SUSTENTABILIDADE

Graciela Olivo Alba1


Fabiola Olivo Barreto2
Pablo Ferreira da Silva Alba3

Grupo de Trabalho – Educação e Meio Ambiente


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O presente artigo busca discutir alguns conceitos envolvidos na questão da educação


ambiental, e também refletir sobre aspectos da sustentabilidade. A falta de clareza quanto a
noção sobre sustentabilidade, a não identificação com o lugar onde se está inserido e a
ausência do sentimento de pertencimento, são algumas das principais barreiras da prática
cotidiana de hábitos sustentáveis por educadores e educandos. Sendo assim, percebe-se a
necessidade de investimentos, recursos para a educação ambiental sustentável, pois só o
trabalho realizado nas escolas não tem surtido efeito para transformar o consumo material,
valores e os hábitos distorcidos em atitudes sustentáveis. Quando o sujeito tem noção de si
mesmo, de sua história, ele começa a se enxergar parte integrante do ambiente e da sociedade
da qual faz parte e do planeta. A partir desta percepção, consciente e autônoma, começamos a
observar a produção da solidariedade interna e a solidariedade em redes. Dessa forma, a
pesquisa tem por finalidade realizar uma sucinta análise bibliográfica sobre educação
ambiental e sustentabilidade, partindo do questionamento: Até que ponto o entendimento na
comunidade escolar sobre desenvolvimento sustentável, se traduz em prática diária? A
educação ambiental deve ser um instrumento de construção da cidadania, se tornando em uma
verdadeira fonte de motivação para a transformação social, o que implica em uma revisão de
valores, atitudes e conhecimentos. As considerações finais mostram que a falta de clareza e
conhecimento sobre o tema, educação ambiental e sustentabilidade acaba por gerar ações
pontuais, de curto prazo e desconectadas. O referencial teórico utilizado foram: Segura
(2001), Sorrentino (2004), Muniz (2002), Capra (1985), Pelicione (2005), dentre outros.

Palavras-chave: Educação ambiental. Sustentabilidade. Construção de cidadania.

1
Mestre em Educação pela PUCPR. Especialista em Ortopedia e Traumatologia pela ACE. Graduada em
Fisioterapia pela ACE e Graduanda em Pedagogia pela ULBRA/RS. E-mail: graolivo@yahoo.com.br.
2
Mestre em Educação pela PUCPR. Especialista em Direito Processual Civil pela UFPR e em Didática e
Metodologia do Ensino Superior pela Faculdade Anhanguera. Graduada em Direito pela UNIPAR. E-mail:
olivofabiola@hotmail.com.
3
Graduado em Gestão Financeira pela UNISUL. Graduando em Direito pela UPF. E-mail:
pabloalba10@me.com.

ISSN 2176-1396
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Introdução

Ao observar práticas socioambientais falidas em um tempo e espaço marcado pelo


abuso de poder, pela destruição e extinção do ecossistema, acredita-se e espera-se que venha
ser a família e o educador os pilares de sustentação para a conservação e preservação do meio
ambiente.
Estes pilares importantes na socialização para o processo de aquisição das habilidades
básicas necessárias para o agir na sociedade, visando cidadania, mudança de paradigmas,
valores. Para Werthein (apud MOTTA 1997, p. 37), “primeiro a educação é para todos;
segundo, o indivíduo deve exigir que o eduquem; terceiro, a sociedade deve exigir que o
indivíduo seja educado”.
Sendo assim, a educação para a cidadania e a educação ambiental, práticas estas que
andam juntas: não se pode praticar uma sem a outra, conquanto não se confundam. “Embora
as discussões a respeito da questão ambiental e da educação para a cidadania tenham
dinâmicas próprias e trajetórias diferentes, elas guardam afinidades já que buscam melhorar a
qualidade de vida e desenvolver o potencial humano de convivência social” (SEGURA, 2001,
p.19).
O problema ambiental atual, pode ser visto como um desequilíbrio produzido pelo
estilo de vida que levamos, em uma sociedade moderna, capitalista e tecnológica. Decorrente
do tipo de desenvolvimento econômico e racional envolvido, por práticas cartesianas e
particularista. Onde, percebe-se urgente a necessidade de outro estilo de vida, mais holística,
em rede, teia, ecológica, ética, que respeita às diversidades biológicas e culturais.
Baseando-se em Capra (1985), quando transcreveu as concepções newtoniana e
cartesiana das ciências, ele argumenta que tais concepções contribuíram para visão mecânica
do mundo. O autor relata que a ciência deveria ser direcionada ao progresso da humanidade,
tornando-a mais humana. Mas ocorre o inverso, em vez da ciência estar a serviço do homem,
ela serve contra ele, tornando-o mais desumano, isto é, um ser mecânico determinado para
tarefas específicas.
Nesse sentido, entende-se, que a ciência chegou a um ponto na atualidade em que ela
mesma ao se descobrir num emaranhado de informações, que propõe regras para sistematizar
o conhecimento, acaba se perdendo numa visão única, que é desconsiderar o essencial, o lado
humano.
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A ação educativa ambiental, justifica-se, então, pela necessidade de formar um novo


homem, capaz de viver em harmonia com a natureza e consigo mesmo.
Pois, ao transcender a divisão cartesiana, onde analisava o mundo em partes e
encarava a natureza como um mecanismo de relógio, temos a física moderna, com o advento
da teoria quântica, não só invalidou o ideal clássico de uma descrição objetiva da natureza,
mas também desafiou o mito da ciência isenta de valores.
A relação encontra-se num movimento global que promove a nova forma de pensar,
refletir e agir. Onde faz relação aos meios educacionais, familiar e no meio comercial. Não
precisa convencer as pessoas, elas precisam criar identidade, se sentir parte do ambiente,
estar inserida, fazer e ser história da sociedade, do meio onde vivem. Por exemplo: se for
professor, ensine; se for um arquiteto, construa; se for negociante, faça isso em seus negócios.
Mas, faça tudo de uma forma ecológica, holística.
Percebe-se que a identidade, quando reconhecida pelo educando, ela torna-se parte
integrante de sua própria essência, mas, para tanto, é fundamental que se formem os elos entre
o contexto cultural, o grupo social e o educando que aos poucos começa a integrar-se na vida
da comunidade. Por isso, é vital que educadores, familiares propiciem aos seus educandos um
reconhecimento em relação ao meio em que vivem, dando-lhe noção de diversidade,
tornando-o um agente social.
A responsabilidade da família e dos educadores na educação de um aluno é
fundamental na formação de visão de mundo e de futuro, para moldar o seu caráter. Pois,
educar é elemento integrante da vida. Através da educação socioambiental, o homem atinge o
seu ideal supremo, viver em toda a plenitude e desenvolver todas as suas potencialidades, sem
agredir o meio ambiente e não somente sobreviver. Entretanto, ele não consegue atingir a
plenitude por si só, como bem salienta Muniz (2002, p. 182):

como existir e conhecer a realidade em que se vive faz parte de sua natureza,
necessário se torna que o homem seja amparado pelo ambiente em que vive, a fim
de que seu desenvolvimento seja pleno em todas as fases de sua existência.
Descobrir o sentido da vida, a razão de ser das coisas no mundo circundante, é uma
responsabilidade didática a que nenhum pai, mestre ou educador pode se furtar.

A preocupação com a conservação e preservação do meio ambiente ecologicamente


sustentável é recente, a necessidade pela busca da diversidade encontrada no ecossistema leva
a preocupação de uma reflexão acerca da preservação da espécie, por meio da produção do
conhecimento que privilegie as relações entre o homem e a natureza.
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Neste sentido, a educação ambiental, além de ser um processo de mudança e formação


de valores, bem como de preparo para o exercício da cidadania, constitui-se em um conjunto
de ideias contr rias s ideias prevalecentes no sistema social atual, contr rias s ideias de
e oísmo e de individualismo, a favor da transformação social com ética, com justiça social e
com democracia. uma luta a favor de novas ideias e valores éticos, em que deve prevalecer
a melhoria da qualidade de vida para todos (PELICIONE, 2005).

Educação Ambiental e Sustentabilidade

Na Constituição Federal de 1988 seu artigo 225, relata que “Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras erações”.
A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na Declaração
Universal dos Direitos Humanos, proclama como ideal comum a todos os povos e todas as
nações, que os governos se esforcem pelo ensino e pela educação, a fim de desenvolver o
respeito dos direitos e liberdades e para promover, através de medidas progressivas de ordem
nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação universal, ética e efetiva na
questão sustentabilidade ambiental.
A educação ambiental ganhou força na pauta da Conferência das Nações Unidas sobre
o Meio Ambiente, dos organismos internacionais, através da recomendação da eclaração de
Estocolmo, de 1972. A este evento, se uiram-se as conferências da U ES O “The el rado
Wor shop on Environmental Education”, em 197 , na e - u osl via e a “ onferência
nter overnamental sobre Educação Ambiental” em 1977, em Tibilisi, Ge r ia, ex-URSS. A
orientação da Conferência de Tibilisi desenvolveu-se no sentido de se considerarem os
aspectos sociais, econômicos, culturais, políticos, éticos e outros, quando fossem tratadas as
questões ambientais. E o conceito de sustentabilidade começou a ser elaborado em 1973, um
ano depois da onferência de Estocolmo, mas sua projeção mundial s ocorreu em 1987.
A educação ambiental aparece como instrumento fundamental para a transformação
cultural das pessoas. a Política acional de Educação Ambiental (PNEA), Lei Federal n.
9.795/99, para fins desta pesquisa se entende Educação Ambiental (EA), conforme BRASIL
(1999, p.01)
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um conjunto de processos por meio dos uais o indivíduo e a coletividade constroem


valores sociais, conhecimentos, habilidades e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum e do povo, essencial tima
qualidade de vida e sua sustentabilidade.

No artigo 20 da PNEA da Lei Federal 9.795/99, a educação ambiental é declarada


direito de todos e componente essencial da educação nacional, devendo estar presente, de
forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal
e não formal. Na educação formal a EA aparece em Meio Ambiente, um dos temas
transversais dos Parâmetros urriculares acionais (P ’s).
Entende-se por educação ambiental formal aquela desenvolvida no âmbito dos
currículos das instituições de ensino públicas e privadas e educação ambiental não-formal as
ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões
ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente.
Acredita-se que o processo educativo formal articulado, em todos os níveis e
modalidades em caráter formal e não-formal, com enfoque humanista, holístico, democrático
e participativo pode auxiliar na formação de educandos comprometidos com a
sustentabilidade socioambiental. No entanto, a falta de conhecimento sobre o assunto em
questão e muitas vezes a falta de compromisso por parte da gestão e comunidade escolar,
permite que a sustentabilidade não faça parte destes espaços. Reflexo disso são educadores
sem capacitação, desatualizados, sem formação e especialização técnico-profissional, escolas
sem recursos, práticas educativas não integradas, e sem continuidade nos níveis nos ensino
formal.
Não devemos aceitar isso, pois o papel dos educadores é o de desenvolver o
conhecimento e a capacidade de julgamento consciente dos educandos de modo que, pelo
acesso a diferentes visões de mundo, os educandos tenham uma formação que os capacite
para uma escolha consciente, pois precisamos promover mudanças de hábitos de consumo, o
respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural, estimular e fortalecer uma
consciência crítica sobre a problemática ambiental e social e, ao mesmo tempo, reduzir as
diferenças sociais. necess rio reaprender a consumir, a pensar, a agir, refletir.
Penar em algo novo, implica reaprender, refazer, reconstruir o conhecimento,
considerando a diversidade de cenários e a possibilidade de diferentes interpretações
daqueles. Sugere uma postura participativa, transformadora, para ajudar a construir uma
nova sociedade a médio e longo prazos (SEGURA, 2001).
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A educação ambiental impõe, sobretudo, como condição prévia, uma mudança da


educação. De acordo com Sorrentino (200 ) é preciso resgatar e construir um conjunto de
ações e reflexões que propicie atitudes compromissadas com outro paradigma de sociedade e
organização social, apontado para a importância do sentido de pertencimento, participação e
responsabilidade.
Neste sentido, Capra (1985) relata que somos todos uma parte da teia imensurável e
inseparável das relações. Para ele, é nossa responsabilidade perceber as possibilidades do
amanhã, pois antes de tudo somos únicos responsáveis por nossas descobertas, nossas
palavras, nossas ações, e os reflexos das mesmas no universo que estamos inseridos.
Diante disso, deve-se entender e abrir os horizontes para modelos sistêmicos,
escapando dos processos, onde se têm o controle, mas muitas vezes não há compreensão.
Cabe dentro desse preceito, teorizar sobre o sistema, onde o exemplo do homem que mirava a
árvore, mais do que caule, raízes, galhos e folhas, descobria a vida, insetos, oxigênio,
nutrientes, alimento, sombra, energia, uma síntese de integração. Quando todos se sentirem
partes integrantes da natureza, entendendo que tudo está conectado, homem e meio ambiente,
acredita-se que este faça uso dos bens naturais de forma mais consciente e cuidando os
impactos negativos sobre o meio ambiente.

Considerações Finais

Este presente artigo teve por objetivo estudar bibliografias de um modo geral, sobre
educação ambiental e sustentabilidade, pois acedita-se que a teoria é bela, mas na prática,
existe uma necessidade urgente em divulga-la e se fazer conhecer mais sobre este assunto,
aprofundamento a reflexão teórica do tema para que todos possam ser sensibilizados. E que
neste processo, contribuem com o fortalecimento de uma educação ambiental para a vida, que
seja transformadora e libertadora.
É necessário que comecemos a nos conscientizar do nosso papel enquanto responsável
pelas mudanças ambientais, evidenciando a ausência de uma refle ão coletiva e ampla acerca
do tema. Sejamos nós educadores ou comunidade escolar, devemos propor ações educativas
em nosso meio, quebrando o paradigma acerca da sustentabilidade dentro dos centros
escolares e a nossa volta. Para isso, a educação ambiental deve ser articulada em todos os
currículos, explorando o contexto local / regional e socioambientais.
Seguramente, seria ingênuo esperar uma transformação social atuada pela escola,
sozinha, pela educação ambiental, sozinha. Por outro lado, sem motivação não se opera a
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mudança (FREIRE & SHOR, 1996). Afinal, a escola é uma estrutura des astada e muitas
vezes pouco aberta às reflexões e dinâmicas socioambientais. Porém, a educação ambiental
não se esgota na escola, na educação formal, pois toda a sociedade tem responsabilidade na
luta ambiental, conclusão que lembra o imperativo da educação não-formal. Não basta,
ingenuamente, ser amigo das árvores e dos animais.
Por fim, é pertinente reafirmar a necessidade de uma educação ambiental mais
comprometida, que valorize a sustentabilidade para que não formemos apenas alunos, mas
toda uma comunidade sustentável.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília/DF, D.O.U., 5


out., 1998.

BRASIL. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Política acional de Educação Ambiental


(PNEA). i rio Oficial da Rep blica ederativa do rasil. rasília, 2 de abril de 1999.
Seção . p. 1- 3.

CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 1985.p.49-91.

FREIRE, Paulo e SHOR, Ira. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1996.

MOTTA, Elias de Oliveira. Direito educacional e educação no século XXI: com


comentários à nova lei de diretrizes e bases da educação nacional. Prefácio de Darcy Ribeiro.
Brasília: UNESCO, 1997.

MUNIZ, Regina Maria F. O Direito à educação. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.

PE O E, Maria ecília ocesi. Educação Ambiental evolução e onceitos. IN:


PHILIPPI JR, Arlindo (ed.). fundamentos para um
desenvolvimento sustent vel. arueri, SP Manole, 200 . ( oleção Ambientla; 2).

SEGURA, Denise de Souza Baena. : da curiosidade


in ênua consciência crítica. São Paulo: Annablume: FAPESP, 2001

SORRENTINO, Marcos. : al umas refle ões


em voz alta. 2004 (texto avulso).

UNESCO. . Paris: UNESCO,


1998.

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