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É nessa prática que pensamento e ação não se apartam. Para Lefebvre o senso de
realidade do trabalhador se estabelece em um contato cotidiano com o real e a
natureza através do trabalho. A forma de se elaborar um tecido se confunde às
próprias costuras das demais práticas da vida. Em entrevista ao podcast ModeFica,
a designer Celina Hissa comenta sobre os territórios afetivos que compõe o
cotidiano das mais de 50 artesãs com quem trabalha na marca Catarina Minna em
rede de cooperação no estado de Ceará, para essas mulheres o trabalho artesanal
é muitas vezes uma forma de se garantir a emancipação financeira, se distanciar de
uma relação abusiva sem precisar distanciar-se da vida doméstica e dos filhos - o
artesanato viabiliza essas formas de vida, ao mesmo tempo o fazer coletivo em rede
produz novas formas e compartilhar a vida íntima e outras construções e relações
da ordem o cotidiano. Essa dialética entre os modelos de trabalho cooperativos nos
territórios têxteis e a vida cotidiana dessas cooperadas será o fio para atravessar os
pontos de crítica ao cotidiano estabelecidos pelo autor.
mistificação
individualidade e dinheiro
Mais uma vez a marca Cearense Catarina Mina é um caso que exemplifica como a
crítica pode transformar nossa relação com os objetos. A designer Celina Hissa
adotou uma postura radical ao iniciar o projeto Uma Conversa Sincera, nele ela
compartilha de forma extremamente transparente os detalhes, custos e
remunerações envolvidas na marca, como uma forma de convidar sua comunidade
de apoio (como chama seus clientes) a compreender a cadeia que suas compras
sustentam, e cada agente nela envolvida. Nas palavras da própria Celina, o que se
busca com isso é valorizar as cadeias produtivas artesanais ‘não é só sobre
artesanato, é muito mais sobre as artesãs - o tipo de vida que tem ali por trás, uma
economia local do Ceará'.
Necessidades
Pensar e analisar como essas roupas, e nosso desejo por elas, são produzidos é
confrontar o conforto do consumo rápido, barato e imediato. Implica deixar de
participar da máquina que produz tendências e desejos, potencializada por mídias e
trends das redes sociais que incentivam a compra veloz e em quantidades. A
mesma pesquisa citada aponta que hoje uma mulher jovem consome de 50-60
peças de roupa por ano, enquanto um século atrás a média de roupa de uma
mulher em seu guarda roupa era de 12 itens. Como aponta Lefebvre em uma
sociedade em que ter mais significa ser mais, a qualidade fica esquecida em prol da
quantidade. Prezar por tecidos, panos, itens de casa e roupa bem produzidos é
afirmar outra relação com nossas necessidades, com o próprio consumo e com a
cadeia de produção.
Trabalho e Liberdade