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INTRODUÇÃO
1
Mestre em Educação. Membro do Centro de Apoio aos Catadores de Materiais Recicláveis Santo Dias 19,
participante e Fundador da Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis Novo Amanhecer desde
1992.
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Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Sociedade da Universidade Federal de
Juiz de Fora (UFJF), na Linha de Pesquisa de Cultua, Narrativas e Produção de Sentido. Graduação em
Comunicação Social – PUC- PR (2010). Pesquisador técnico da Universidade Tuiuti do Paraná.
Experiência na área de Comunicação, com ênfase em Relações Públicas e Sociedade, atuando
principalmente nos seguintes temas: comunicação social, interações sociais, movimento estudantil,
relações públicas e cidadania.
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Catadores de Materiais Recicláveis – Serão utilizados neste texto os termos “catadores” ou
“trabalhadores” da cata.
c) refletir a formação dos catadores no âmbito da educação e da segurança do trabalho e
d) analisar os efeitos da comunicação em rede no reconhecimento social da atividade.
Trata-se de uma pesquisa de cunho bibliográfico e participante, a qual se divide
em quatro subcapítulos. O primeiro trata dos Catadores de Materiais Recicláveis e seu
desenvolvimento organizacional ao formarem entidades de classe (associações e
cooperativas) no intuito de alcançar a dignidade e melhores condições de vida, além de
refletir acerca do surgimento do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais
Recicláveis – MNCR.
O segundo subcapítulo tece sobre o trabalho dos catadores nos pequenos e
grandes centros urbanos e as dificuldades encontradas no dia a dia da atividade, além de
retratar as variações do lixo recolhido. O terceiro capítulo discorre sobre as principais
lacunas da vida dos catadores: a educação – visto que muitos são analfabetos – e a
questão da segurança do trabalho, já que a maioria dos catadores não utiliza os EPIs 4 e
nem recebe formação sobre esta questão.
E enfim, no quarto subcapítulo apresenta-se uma breve análise acerca da relação
entre as novas mídias da sociedade em rede e os catadores de recicláveis. Atenta-se para
a influência da comunicação em rede no desenvolvimento de ações benéficas ao
MNCR, bem como retrata-se a interação entre a sociedade e os profissionais da cata,
visando o seu reconhecimento social.
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PANGEA – Centro de Estudos Socioambientais. http://www.pangea.org.br/, acessado em 30/10/2012.
Os direitos humanos se tornam presentes nos objetivos do MNCR, que busca a
sobrevivência e a dignidade humana por meio de suas lutas. É um grupo enorme de
trabalhadores sujeitos a péssimas condições de vida e invisíveis para a sociedade e a
esfera pública. Uma das principais bandeiras de luta levantada pelo MNCR é a
reinvindicação de políticas públicas que garantam melhorias significativas na vida dos
catadores, como se apresenta no artigo a seguir:
6.2 – Participar das discussões para construção de Políticas Públicas nos
âmbitos Municipal, Estadual e Nacional tendo como referência a postura do
Movimentos Nacional dos Catadores(as) expressa na Carta de Brasília, Carta
de Caxias e a Declaração dos Princípios, Objetivos e Bases de Acordo do
MNCR (MNCR, 2005, p. 14).
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‘Autogestão’ - é a pratica econômica em que os trabalhadores são donos das ferramentas e equipamentos
de produção. Autogestão é o modo de organizar o trabalho, o planejamento e a execução sob controle dos
próprios trabalhadores. (MNCR, p. 06, 2005)
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‘Democracia Direta’ – é a forma de decisão tomada pela participação coletiva e responsável da base.
Uma decisão pode ser feita por consenso ou por maioria dos votos, mas sempre deve respeitar antes de
tudo a exposição das ideias e o debate. .(MNCR, p. 06, 2005)
vendem materiais recicláveis como papel, papelão e vidro, bem como materiais ferrosos
e não ferrosos e outros recicláveis” (BARROSO, 2008). É importante ressaltar que
A luta para que a atividade de catação exista como categoria profissional traz
consigo uma certa vitória do império da necessidade. Os catadores se
organizaram na tentativa de conquistar melhorias para aquela que talvez seja
a única atividade que lhes foi permitido exercer (GONÇALVES, ABEGÃO,
2012, p. 18).
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ONGs – Organizações Não Governamentais.
adotar as medidas necessárias ao cumprimento do disposto neste Decreto.
(BRASIL, 2012)
A Lei representa pouco perto das carências dos trabalhadores de cata, no entanto, essa
iniciativa colabora no sentido de facilitar a reciclagem e o melhoramento de vida dos
catadores.
O trabalho com a cata de materiais recicláveis tem sua importância reconhecida
perante toda a humanidade em 1992, durante a Rio-92 9, com o lançamento da Agenda
2110. Este documento estabelece um compromisso para que cada país reflita, global e
localmente, sobre como cada setor da sociedade deve cooperar na elaboração de
soluções para os problemas socioambientais.
No mundo inteiro, a nova ordem é minimizar o lixo. No Brasil, essa questão
foi mais difundida na Agenda 21, documento elaborado por 170 países que
participaram da ECO-92 no Rio de Janeiro. Nesse documento, foi
estabelecido o princípio dos 3 Rs: Reduzir o consumo de produtos e o
desperdício de materiais; Reutilizar e Reciclar os materiais (ABREU, 2001,
p. 27).
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A Organização das Nações Unidas – ONU realizou, no Rio de Janeiro, em 1992, a Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD). A CNUMAD é mais
conhecida como Rio 92, referência à cidade que a abrigou, e também como “Cúpula da Terra” por ter
mediado acordos entre os Chefes de Estado presentes (Ministério do Meio Ambiente, Disponível em
http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/agenda-21-global, acessado em
Abril de 2014)
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179 países participantes da Rio 92 acordaram e assinaram a Agenda 21 Global, um programa de ação
baseado num documento de 40 capítulos, que constitui a mais abrangente tentativa já realizada de
promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, denominado “desenvolvimento
sustentável”. O termo “Agenda 21” foi usado no sentido de intenções, desejo de mudança para esse novo
modelo de desenvolvimento para o século XXI (idem).
O trabalho dos catadores é essencial na coleta de papel e papelão, pois quanto
maior for a coleta nas ruas, escolas, empresas, lojas e etc., menor será a quantidade de
árvores derrubadas. A reciclagem auxilia também na redução de gasto energético, pois
“A reciclagem de uma tonelada de produto economiza matéria prima fornecida, em
média, por quinze troncos de eucalipto. Esse processo possibilita, ainda, a redução do
consumo de energia elétrica nas instalações industriais” (RODRIGUES, CAVINATTO,
2008, p. 73). Os papéis e papelões reutilizados podem ser novamente aproveitados,
assim torna-se evidente que o reaproveitamento dos resíduos sólidos auxilia na
preservação ambiental e nessa história os catadores são os protagonistas em prol do
meio ambiente.
No mercado são encontrados diversos produtos advindos da reciclagem. Todo o
material coletado, ao ser reciclado, transforma-se em diversos itens presentes em nosso
dia a dia, reforçando a ideia de que
Atualmente, há necessidade de artigos feitos a partir de material reciclado:
cartões de visita, convites de casamento, cúpulas de abajur, revestimentos de
paredes e até mesmo agendas e revistas. Mas a maior parte do material
reciclado é empregada para fazer embalagens, como caixas de ovos, e papel
absorvente (papel higiênico, lenços e toalhas) (RODRIGUES, CAVINATTO,
2008, p. 73).
Ressalta-se que grande parte do lixo das cidades não recebe tratamento
específico e consequentemente o material reciclável se deteriora junto ao lixo orgânico e
acaba poluindo o meio ambiente. Nesse sentido, ressalta-se a separação dos materiais
coletados por parte dos catadores, evitando que sejam descartados de modo incorreto.
Os termos ‘lixo’ e ‘resíduos sólidos’ são sinônimos abrangendo os materiais
descartados pelas atividades humanas. De acordo com Rodrigues Cavinatto (2003) “A
palavra lixo, derivada do termo latim lix, significa ‘cinza’”, já no dicionário da Língua
Portuguesa, o termo “lixo” tem outro significado: “Aquilo que se varre da casa, do
jardim, da rua, e se joga fora; entulho. Tudo que não presta e se joga fora” (FERREIRA,
2004, p. 1222).
O lixo, aquilo que se joga fora, a maior parte é destinada para lixões 11 ou aterros
sanitários12, não há um projeto nacional para separação dos materiais no momento do
descarte. Conforme pesquisa nacional de saneamento básico do ano de 2000, realizada
pelo IBGE13:
Em 2000, o lixo produzido diariamente no Brasil chegava a 125.281
toneladas, sendo que 47,1% era destinado a aterros sanitários, 22,3% a
aterros controlados e apenas 30,5% a lixões. [...], mais de 69% de todo o lixo
coletado no Brasil estaria tendo um destino final adequado, em aterros
sanitários e/ou controlados. (IBGE, 2012)
Percebe-se que a maior parte do lixo produzido no Brasil vai para lixões e
aterros sanitários. Nestes locais não há formalidade na separação dos materiais, o que
ocorre, de fato é o trabalho de separação por parte dos catadores, sob duras condições de
trabalho, sem estrutura adequada e cuidados com sua saúde. Sobre a própria vida e
atividade, o MNCR afirma:
Hoje somos centenas de milhares de pessoas que trabalham duramente
coletando materiais recicláveis. Somos famílias inteiras que catam os
materiais recicláveis nas lixeiras de ruas, casas, condomínios e pontos
comerciais ou nos lixões, fazendo a verdadeira coleta seletiva. (PANGEA
MNCR, 2008, p. 04)
11
Lixão é uma área de disposição final de resíduos sólidos sem nenhuma preparação anterior do solo. Não
tem nenhum sistema de tratamento de efluentes líquidos - o chorume (líquido preto que escorre do lixo).
Este penetra pela terra levando substancias contaminantes para o solo e para o lençol freático. Moscas,
pássaros e ratos convivem com o lixo livremente no lixão a céu aberto, e pior ainda, crianças,
adolescentes e adultos catam comida e materiais recicláveis para vender. No lixão o lixo fica exposto sem
nenhum procedimento que evite as consequências ambientais e sociais negativas.
http://www.lixo.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=144&Itemid=251. Acessado em
01/12/2012.
12
Aterros Sanitários - é um espaço destinado à deposição final de resíduos sólidos gerados pela atividade
humana. Nele são dispostos resíduos domésticos, comerciais, de serviços de saúde, da indústria de
construção, e também resíduos sólidos retirados do esgoto. http://pt.wikipedia.org/wiki/Aterro_sanit
%C3%A1rio. Acessado em 27/11/2012.
13
IBGE – Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística. http://www.ibge.gov.br/ . acessado em
26/11/2012.
14
Os resíduos sólidos são partes de resíduos que são gerados após a produção, utilização ou
transformação de bens de consumos (exemplos: computadores, automóveis, televisores, aparelhos
celulares, eletrodomésticos, etc). http://www.suapesquisa.com/o_que_e/residuos_solidos.htm, acessado
em 29/10/2012.
Nº 12.305, de 2 de agosto de 2010 no seu Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se
por:
§VII - destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que
inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o
aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos
competentes do Sisnama15, do SNVS16 e do Suasa17, entre elas a disposição
final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou
riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais
adversos. (BRASIL, 2010)
Cada vez mais os resíduos sólidos tenderão a ser reciclados, os lixões a céu
aberto estão sendo desativados e os aterros sanitários somente serão utilizados em
situações de não reciclagem dos materiais. Os órgãos públicos deverão forçar a
reciclagem da maioria dos materiais, com exceção do lixo nuclear, lixo hospitalar e as
baterias, lâmpadas e etc. Materiais como baterias, lâmpadas e alguns sprays serão
reenviados as empresas produtoras.
Em Curitiba, segundo o coordenador do Instituto Lixo e Cidadania, Sérgio
Roberto Faria, são os catadores os responsáveis pela maior parte da coleta do lixo
colocado nas portas ou calçadas das residências e casas comerciais. ‘Cerca de 92% do
que é separado são eles que coletam. O programa municipal foi novidade quando
lançado em 1989, hoje é deficitário’, afirmou. Criou-se então um novo aterro sanitário
que atende 15 municípios da área metropolitana de Curitiba, o qual está situado no
Município da Fazenda Rio Grande pois a “Grande Curitiba” produz diariamente 2,4 mil
toneladas de lixo e desse total, 1,8 mil toneladas vão para o Aterro Sanitário da
Caximba18, na região metropolitana da capital. Portanto, percebe-se que cerca de 600
toneladas de lixo são coletadas pelos catadores todos os dias. Vale ressaltar que em
2009, pelas informações prestadas por Faria ‘atualmente em Curitiba e região
metropolitana há cerca de 15 mil catadores’ (NÓRCIO, 2009).
Os catadores realizam grande parte do trabalho ecologicamente correto de
separação e reciclagem. “A preocupação com a possibilidade de escassez ou até mesmo
inexistência de recursos fez com que a reciclagem do lixo se tornasse uma das
possibilidades de solução para a grande quantidade de resíduos gerados diariamente
15
SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente
16
Anvisa - Instituição - Sistema Nacional de Vigilância Sanitária
17
Suasa - Ministério do Desenvolvimento Agrário
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Caximba - recebe resíduos de 14 municípios da Região Metropolitana de Curitiba, a saber: Almirante
Tamandaré, Araucária, Campina Grande do Sul, Campo Largo, Campo Magro, Colombo, Contenda,
Fazenda Rio Grande, Itaperuçu, Pinhais, Piraquara, São José dos Pinhais, Mandirituba e Quatro Barras.
Desativado em 15 de abril de 2009. http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/aterro-sanitario-smma-
secretaria-municipal-do-meio-ambiente/454.
pela população” (GONÇALVES, ABEGÃO, 2012). Com relação ao volume de
material:
Apesar de todas as dificuldades, esses trabalhadores informais dos lixões e
das ruas das cidades são hoje os responsáveis por 90% do material que
alimenta as indústrias de reciclagem no Brasil, fazendo do nosso país um dos
maiores recicladores de alumínio do mundo (ABREU, 2001, p. 34).
Nem tudo encontrado nos lixos das ruas, lixões ou mesmo o lixo a ser triado nos
barracões pode ser reciclado, pode-se destacar os objetos pessoais como: escova de
cabelo, tênis, guarda-chuva, caneta e até sujeira recolhida do quintal e embalagens cuja
composição não permite utilização como matéria prima. (RODRIGUES, CAVINATO,
2008) Esse catador sabe reciclar, triar os diferentes metais, os diferentes papéis e
plástico, necessita de mais formação, saber ler, escrever e ter segurança do trabalho,
como será visto no próximo subcapítulo.
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Verbo da língua inglesa: “pimp”, que significa “alcovitar”. Termo utilizado no sentido de “tornar mais
atrativo”, em alusão a músicas norte americanas que utilizam esta expressão.
pintura de renomados artistas; Carroceata, uma passeata com os catadores e
suas carroças prontas; Criação de um manifesto que aborde o contexto da
coleta e reciclagem de resíduos sólidos na cidade sede de uma edição do
Pimp my Carroça (Equipe PIMP MY CARROÇA, 2014).
Todas estas atividades são realizadas em mutirão, organizado pelas redes sociais
e divulgado unicamente na Internet. São captados voluntários de diversas áreas que
oferecem aos catadores serviços aos quais eles não têm acesso diariamente, desde
questões relacionadas à saúde e higiene, palestras, recreação, bem como a distribuição
de EPIs e a reforma das carroças, tornando-as mais alegres e seguras, pois recebem,
além da pintura colorida, adesivos refletivos. O evento, que conta com a presença de
representantes do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, já foi
realizado em São Paulo, Rio de Janeiro e em Curitiba. A cada edição ganha mais
visibilidade, conquistando seu espaço também na mídia tradicional e atingindo uma
repercussão nacional, além das inúmeras aparições em sites, blogs e demais espaços
virtuais de debate. Acredita-se que o objetivo do projeto foi alcançado e as expectativas
não param de crescer.
Há de fato, no âmbito da comunicação independente, várias organizações que
apresentam os movimentos sociais de maneira positiva, contribuindo para a formação de
uma nova memória coletiva que trabalha com questões humanas e não marginaliza os
movimentos e grupos sociais. Segundo Leske (2014, p.7), “a área da comunicação, ao
promover uma imagem positiva dos movimentos perante a comunidade, traz imensa
contribuição ao empoderamento popular e contribui como ferramenta para o
fortalecimento das organizações sociais”.
Em sua cartilha distribuída no Encontro Nacional realizado em Belém do Pará,
no ano de 2011, a Executiva Nacional de Estudantes de Comunicação Social
(ENECOS) salienta que os movimentos sociais em geral reconhecem a importância da
comunicação para alcançar seus objetivos e transmitir informações de utilidade pública,
exemplificando que
Nas lutas empreendidas pelos movimentos sociais, um dos vetores mais
poderosos é justamente a Comunicação. No mundo inteiro, as grandes
corporações estão concentradas nas mãos de grupos privados de grande
poder, cada vez mais distantes dos objetivos e lutas da sociedade, e que
visam ao lucro acima da informação (ENECOS, 2011, p. 3).
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Ao andar atentamente pelas ruas das cidades brasileiras, percebe-se uma classe
de trabalhadores praticamente invisível à sociedade: os catadores de materiais
recicláveis. Trata-se de homens, mulheres e crianças que encontraram na separação e
reciclagem de resíduos sólidos uma oportunidade de sustentar suas famílias. Neste
artigo, torna-se evidente a importância desses trabalhadores para o dia a dia dos centros
urbanos e para a ecologia de forma geral, visto que os recursos naturais do planeta estão
cada vez mais escassos e a reutilização da matéria prima é essencial para o
desenvolvimento sustentável.
Percebe-se então que, já na década de 1980, os moradores de rua, incentivados
pelas religiosas da Igreja Católica, assumem esta “nova” atividade e passam a fazer
parte, ainda que informalmente, do dia a dia das cidades. Já no início dos anos 90, esses
trabalhadores criam suas associações e cooperativas, constituindo o Movimento
Nacional de Mobilização dos Catadores de Papéis (MNCR) e no final dessa década e
início dos anos 2000 realizam o Congresso Nacional dos Catadores de Materiais
Recicláveis.
A atividade da cata não é fácil, pois os trabalhadores estão expostos diariamente
ao tempo e aos riscos do trânsito. Triste e muito comum é a presença de crianças nos
carrinhos coletores, devido à falta de apoio aos catadores que têm que realizar sua tarefa
enquanto cuidam de seus filhos. Por vezes, os filhos ajudam os pais desde pequenos
evidenciando que a cata pode ser realizada na forma individual ou por família.
Independentemente, muitos catadores associam-se às cooperativas ou associações no
intuito de ter mais força na busca por melhorias à classe.
Esses trabalhadores, apesar das dificuldades encontradas a cada dia nascente,
estão organizados em entidades de classe e lutam por melhores condições de vida, desde
segurança, habitação, alimentação e saúde. Há aqueles que trabalham nas ruas e aqueles
que fazem triagem em lixões, há os que atuam de forma individual e ainda os que
trabalham em família, o que os une é a falta de reconhecimento e de condições
trabalhistas suficientes para a própria valorização do ser humano. Aos poucos, devido à
mobilização da classe, os catadores estão alcançando alguns objetivos perante o
Governo. Assim como ao encarar um novo dia, ao objetivar mudanças de vida os
catadores sabem que há uma longa caminhada pela frente.
Em relação à segurança do trabalho, há um desconhecimento geral sobre o tema,
bem como sobre acidentes e doenças do trabalho. Mesmo quando organizados em
associações e cooperativas, praticamente inexiste a formação em segurança do trabalho
e a utilização de EPIs. Nas ruas das cidades, os catadores deveriam usar uniformes com
cores chamativas e faixas reluzentes para serem vistos pelos motoristas, motoqueiros e
ciclistas.
Quanto à educação, apresentam grande grau de dificuldades de aprendizagem,
por diversas razões: exaustão física devido ao ritmo de trabalho, problemas de saúde,
falta de habitação, baixa estima, além da falta de perspectiva de melhorias na vida.
Catadores são os nossos “irmãos mais pobres”. Aqueles que, historicamente,
queriam trabalhar, mas não encontraram espaço na sociedade organizada e perceberam
na cata uma oportunidade de sobrevivência. Nesse sentido, devemos olha-los com
sensibilidade e os considerar com respeito, pois realizam um trabalho ambiental muito
importante para as nossas cidades e para o meio ambiente como um todo. São, de fato,
merecedores de atenção e respeito por parte das entidades governamentais brasileiras,
para a regulação de políticas públicas que os favoreçam.
Percebe-se que enquanto os trabalhadores da cata lutam por reconhecimento
social, a iniciativa comunitária se esforça para dar-lhes visibilidade, por meio
comunicação em rede. Assim originam-se mobilizações reais que contam com a
colaboração de voluntários para atender as necessidades básicas destes trabalhadores.
Contudo, tratam-se de situações pontuais e estrategicamente elaboradas no intuito de dar
espaço midiático ao tema tratado, evidenciando o quanto é essencial e urgente a
participação da iniciativa pública em reconhecer o trabalho dos catadores e proporcionar
melhores condições de trabalho e de vida para a classe.
Os catadores de materiais recicláveis estão espalhados por todo o país e fazem
parte do fluxo da cidade e apesar dos avanços relacionados à iniciativa pública, ainda
são como seres invisíveis que passam despercebidos por grande arte da sociedade e não
tem seu direito respeitado pelos Governos. Trata-se de uma dura e triste realidade
brasileira que aguarda por cuidados e atenção, enquanto cata o lixo de toda a nação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EQUIPE ATLAS. Segurança e Medicina do Trabalho, 62ª Edição, Editora Atlas S.A.
2008.
Equipe PIMP MY CARROÇA. O Pimp My Carroça.
http://www.pimpmycarroca.com/services/o-pimp-my-carroca/ Acessado em
13/05/2014.
NÓRCIO, Lúcia. Em Curitiba, lixo reciclável chega a 600 toneladas por dia ...
www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/.../view, acessado em 21/06/2009.
RODRIGUES, Francisco Luiz. CAVINATO, Vilma Maria. Lixo de onde vem? Para
onde vai? Editora Moderna Ltda. 2ª Edição, São Paulo. 2008.
SILVA, Rosemeire Barboza da. O MOVIMENTO NACIONAL DOS CATADORES
DE MATERIAIS RECICLÁVEIS, Revista Internacional, Interdiciplinar, V. 3 nº2
Florianópolis. 2006.