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Design Sustentável e

Responsabilidade Social
Material Teórico
Sustentabilidade e a Crise Ambiental

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Elisa Jorge Quartim Barbosa

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Sustentabilidade e a Crise Ambiental

• Introdução ao Design Sustentável;


• Histórico;
• Impactos Ambientais;
• Dimensões da Sustentabilidade ;
• Papel do Designer.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Contextualizar a crise ambiental provocada pelos processos de pro-
dução industrial e projetos sem preocupação com o seu impacto no
meio ambiente.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Sustentabilidade e a Crise Ambiental

Contextualização
Nesta Unidade veremos o contexto de onde surgiu o conceito de design sustentável
e sua participação dentro do desenvolvimento humano e dos processos produtivos.

O que leva às indústrias a poluírem? Como será que o designer pode criar ciclos
virtuosos de produção influenciando positivamente?

Será possível promover um design mais sustentável?

Nesta Unidade responderemos a algumas dessas perguntas, esclarecendo várias


dúvidas a este respeito.

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Introdução ao Design Sustentável
A curta felicidade material proposta a sociedades ocidentais depois da Segunda
Guerra Mundial teve consequências consideráveis no meio ambiente e na qualidade
de vida dos seres vivos. Nos últimos anos, a sociedade tomou consciência de seus im-
pactos e do cenário de degradação do meio ambiente, alguns dos quais irreversíveis.

A sociedade atual tem a sua economia baseada na comercialização de bens de


consumo, com rentabilidade imediata e exploração dos recursos naturais. Se o
consumo permanecer no mesmo ritmo em que é atualmente, o planeta Terra não
terá mais condições de manter as nossas necessidades materiais, de modo que a
sobrevivência humana corre grande risco de se extinguir. Seremos, então, uma
espécie em risco de extinção?

Rever o consumo humano faz parte de uma das alternativas; priorizar o uso
em relação à matéria, criando novos bens e serviços mais integrados à realidade
ambiental de hoje e visando um futuro próximo.

As propostas devem ser pensadas em escala humana e promovidas pelas


empresas e seus projetistas, oferecendo alternativas e promovendo novos elos na
cadeia produtiva.

A ambição desta Disciplina, portanto, é aprimorar os novos modos de vida e


despertar o profissional a ser mais questionador, usando da própria criatividade
para o bem comum.

Histórico
A relação entre as sociedades ocidentais e a natureza, como atualmente definida,
baseia-se ainda em princípios modernistas enunciados no século XVII. A natureza é
usada como base no progresso e aprendizado científico. Fonte de matéria-prima, e
dentro desse pensamento, “imperfeita”. Ademais, o pensamento antropocentrista
faz com que as pesquisas sejam levadas pelo ponto de vista do homem, ignorando
outros tipos de interações menos perceptíveis aos nossos olhos.

No discurso do método de Descartes, a linguagem matemática é aperfeiçoada,


tornando o seu racionalismo uma abordagem “mecanicista” dos fenômenos ou
princípios naturais, visão baseada em uma observação cuja função é decompor e
fragmentar o real para facilitar a sua manipulação e reproduzir esses fenômenos
(DESCARTES, 2005).

Os antigos conhecimentos “especulativos” serão definitivamente superados pela


Ciência. Com o projeto da modernidade, o produtor e detentor de conhecimento
se afastará do objeto natural de seu saber, em uma tentativa de controle do mundo
à sua volta. O futuro é definido em uma escala ascendente em relação ao presente
e abre as portas ao progresso científico.

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UNIDADE Sustentabilidade e a Crise Ambiental

1851, Revolução Industrial:


A criação do método para novas invenções trouxe um grande progresso material
e científico para a humanidade, gerando grande necessidade de mão de obra e
esvaziando o mundo rural. O progresso se apoiou na exploração dos recursos
naturais e na mão de obra barata, sem distinção de idade ou sexo, onde as leis
trabalhistas ainda nem existiam.

Cidades foram criadas ao redor dos centros industriais; surgiu o homem


urbanizado, disputando recursos fabricados pelo próximo e ignorando os recursos
naturais presentes.

No design gráfico e de produtos, ironicamente, a exploração de imagens que


remetiam à natureza mostra bem esse distanciamento do homem às suas origens,
em uma tentativa de aproximação artificial. O progresso se tornou o principal
objetivo, de modo que sacrifícios foram aceitos para se ter acesso às novas riquezas
criadas pelo próprio homem.

William Morris (1834-1896), contra a Revolução Industrial e o capitalismo que, do seu ponto
Explor

de vista, priorizavam mais a produtividade que a qualidade e estética, criou, em seu ateliê, o
movimento Arts & Crafts, cuja ambição era embelezar o meio ambiente cotidiano pela arte
da decoração. Considerava que a indústria distanciava o criador de suas obras, desfigurando
os objetos cotidianos. Assim, promovendo o projeto a métodos mais artesanais, propôs que
esses objetos representassem uma flora exuberante, retornando às origens humanas. Tal
movimento é considerado a origem do design.

1929, “quebra” da Bolsa Estadunidense de Valores


e a descoberta do consumidor:
Após o fim da Primeira Guerra Mundial, a produção teve o seu auge como nunca
antes visto. Novos produtos foram criados, tais como o automóvel e os primeiros
eletrodomésticos. Junto aos quais surgiu o crédito ao consumo, com o objetivo
de estimular a aquisição desses novos bens, porém, o endividamento crescente da
população e a incerteza das bolsas de valores repercutiram na “quebra” da Bolsa
Estadunidense de Valores, em outubro de 1929, revelando o contraste entre a
especulação e realidade da economia.

Tal crise levou a uma queda na produção industrial, permanecendo até a


Segunda Guerra Mundial. O pós-Guerra e a necessidade da retomada da economia
transformaram o marketing e design em ferramentas-chave dessa retomada
econômica, agregando valor intangível aos produtos e serviços.

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1945, o progresso perde a inocência:
O inacreditável poder de destruição da Segunda Guerra Mundial, marcado
pelos efeitos das bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, cidades
japonesas, iniciou o questionamento das benfeitorias do progresso, colocando o
mundo diante da problemática da ética. Pela primeira vez na história da humani-
dade, o homem dominava a natureza a ponto de se tornar responsável pelo seu
próprio destino.

Os soldados que retornavam aos seus lares traziam consigo um sonho, baseado
no “american way of life”, estilo de vida generoso cuja felicidade era baseada no
apego material.

As lojas de autosserviço, como os supermercados, ofereciam uma infinidade


de ofertas de produtos embalados, facilitando o consumo de bens. Seus carrinhos
levavam à compra além do planejado, gerando a aquisição por impulso. Seguia-se
a lógica que se apoiava na exacerbação do desejo baseado no bem de consumo,
rapidamente saciado. Dito de outra forma, o consumidor era levado a esquecer os
benefícios do presente, sendo encaminhado a um futuro próximo, constituído de
novos desejos irrisórios – ficava cada vez mais difícil resistir às propagandas bem
elaboradas e que se espelhavam no estilo de vida vendido no cinema.

No final da década de 1960, o pensamento ecológico fora iniciado como alavanca


política que se perdeu dentro de discursos apocalípticos. A ecologia surgiu como
uma arma contra uma sociedade intolerante, materialista e centrada no homem
branco ocidental. As primeiras reivindicações das populações sensibilizadas pelos
perigos industriais fracassaram diante das cicatrizes dos anos de crise econômica, em
meio a uma população que tinha como objetivo essencial o seu próprio consumo.

Ademais, o principal mérito dos movimentos ecológicos foi plantar a dúvida na


consciência dos governantes e da população.

Victor Papanek (1927-1999) foi designer e educador, além de um grande defensor do


Explor

design de produtos, ferramentas e infraestruturas comunitárias social e ecologicamente


responsáveis. Foi o primeiro designer a questionar a relação do design com o meio ambiente,
centralizando no homem, na ecologia e ética. No seu livro, Design for the real world (2005),
originalmente publicado em 1971, destaca a responsabilidade moral do designer, que
convida à sabedoria diante da sua produção. Propõe também a se inspirar na experiência de
outros países e comunidades em desenvolvimento para melhor entender as necessidades
básicas dos seres humanos e sua relação com o design.

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UNIDADE Sustentabilidade e a Crise Ambiental

1969, redescobrimento da Terra:


O ano de 1969 marcou a conclusão de
uma época, o triunfo do conhecimento
científico e de suas capacidades tecnológicas;
a percepção era a de que o homem mudou
o próprio status para o de um semideus.
Porém, a Terra vista sob outro ponto,
contemplada do espaço, tornou-se o ícone
da vida resgatando a sua origem, mudando
a maneira de ver a si.

Nesse mesmo período, catástrofes abala-


ram a dinâmica industrial e o homem per-
cebeu a influência de demandas industriais
cada vez maiores e suas consequências no Figura 1 – Buzz Aldrin pisa na Lua
meio ambiente. Esse período foi marcado no dia 20 de julho de 1969
Fonte: Wikimedia Commons
pela primeira crise do petróleo, em 1973.
Depois da Guerra dos Seis Dias – ou do Yom Kippur –, a cotação do petróleo
multiplicou-se por quatro em três meses, de modo que as economias dependentes
dessa matéria-prima foram duramente atingidas.

Esse pico da crise do petróleo já havia sido previsto pelos pesquisadores do


Massachusetts Institute of Technology (MIT), junto ao Clube de Roma, no
livro chamado Limites do crescimento (2007), obra que tenta determinar as
consequências do modo de vida dos países do Norte e da explosão demográfica
das nações do Sul nas décadas seguintes. Conclui que se todo o Planeta consumisse
como os norte-americanos, haveria multiplicação por sete do, então, consumo
mundial, levando a crises de recursos básicos, tais como as faltas de alimento, água
e energia, delegando à humanidade um trágico destino.

Essas previsões, embora equivocadas em alguns pontos, conseguiram chamar


a atenção de políticos e cientistas. Um ano depois, em Estocolmo, Suécia,
representantes de vários países se reuniram pela primeira vez para discutir sobre
o tema meio ambiente. Nessa conferência nasceu o Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (Pnuma).

Estabelecido em 1972, o Pnuma possui, entre os seus principais objetivos, manter o estado
Explor

do meio ambiente global sob contínuo monitoramento; alertar povos e nações acerca de
problemas e ameaças ao meio ambiente; recomendar medidas para melhorar a qualidade
de vida da população, sem comprometer os recursos e serviços ambientais das gerações
futuras. Conheça outros aspectos desse programa em: https://goo.gl/Tzgg7j.

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Foi durante a década de 1970 que o consumo humano de recursos naturais
começou a ultrapassar as capacidades biológicas da Terra, provocando o declínio
da abundância das espécies que vivem no Planeta. Aos poucos, o desenvolvimento
industrial se globalizou e feriu duramente os princípios que regem a biosfera, de
modo que as condições de sobrevivência no mundo se tornaram precárias.

1980, desastres e iniciativas:


De consequências locais e pontuais, os impactos no meio ambiente se tornaram
globais, acometidos por vários desastres ecológicos, porém, com poucas mudanças
nos sistemas produtivos e econômicos humanos. A superabundância de resíduos,
o declínio da biodiversidade, o aquecimento do Planeta pelo aumento do efeito
estufa, o aumento do buraco da camada de ozônio causado pela emissão de
Clorofluorocarbonetos (CFC) e a rápida degradação das florestas nativas são
sintomas desse processo.

Com a ampliação do interesse da imprensa, desastres como o ocorrido em


Chernobil, então na República Socialista Soviética da Ucrânia, em 1986, evidenciam
a fragilidade de nosso planeta conter as suas possíveis falhas.

O desastre de Chernobil foi um acidente nuclear catastrófico que ocorreu em 26 de abril de


Explor

1986, na central elétrica da Usina Nuclear de Chernobil, que estava sob a jurisdição direta
das autoridades centrais da União Soviética. Uma explosão e um incêndio lançaram grandes
quantidades de partículas radioativas na atmosfera, que se espalhou por boa parte da União
Soviética e da Europa Ocidental. O desastre é o pior acidente nuclear da história em termos
de custo e de mortes resultantes, além de ser um dos dois únicos elencados como eventos
de nível 7 – classificação máxima – na escala internacional de acidentes nucleares – sendo
o outro o acidente nuclear de Fukushima I, no Japão, ocorrido em 2011. Durante o acidente
em si, 31 pessoas morreram, além de longos efeitos em inúmeros indivíduos a longo prazo,
tais como câncer e deformidades diversas, casos estes que ainda estão em contabilização.

Em 1987, o Protocolo de Montreal estabeleceu a redução e suspensão de CFC e


outros gases destruidores da camada de ozônio, marcando o primeiro acordo para
uma questão ambiental de extrema importância. No mesmo ano foi formalizado o
relatório intitulado Nosso futuro comum, trazendo o conceito de desenvolvimento
sustentável para o discurso público.

Sustentabilidade é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem


Explor

comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir as suas próprias necessidades


(Gro Harlen Brundtland, Nosso futuro comum, 1987).

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UNIDADE Sustentabilidade e a Crise Ambiental

As amplas recomendações feitas pela Comissão levaram à realização da Confe-


rência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que colo-
cou o assunto diretamente na agenda pública de uma maneira nunca antes vista.
Realizada no Rio de Janeiro, em 1992, a Cúpula da Terra, como ficou conhecida,
adotou a Agenda 21, um diagrama para a proteção do nosso planeta e de seu de-
senvolvimento sustentável, a culminação de duas décadas de trabalho que se iniciou
em Estocolmo, em 1972. A definição de desenvolvimento sustentável não fixa um
objetivo preciso a ser atingido, mas determina equilíbrios a serem alcançados.

Concluídas as décadas de 1980 e 1990, surgiram produtos para suprir a


demanda concernente ao meio ambiente, porém, levados apenas pelo marketing e
desenvolvidos por profissionais ainda despreparados do ponto de vista de projeto.
Apresentando uma qualidade duvidosa, com nomes e cores que remetiam a uma
apreensão ambiental, tais produtos se apoiavam na preocupação global e de que
algo deveria ser feito para mudar.

Impactos Ambientais
O aumento no consumo de recursos naturais vem causando sérios impactos
ambientais. Segundo o Living planet report 2012, da World Wide Fund for
Nature (WWF), a demanda cada vez maior de recursos por uma população
crescente está causando uma enorme pressão sobre a biodiversidade do Planeta, a
ponto de ameaçar o nosso futuro em termos de segurança, saúde e bem-estar. Por
exemplo, se continuarmos em tal ritmo, em 2050 seriam necessários 2,9 planetas
para suportar o crescimento da “pegada ecológica” da humanidade.

Ademais, os impactos ambientais podem ser divididos em três categorias


principais: danos ecológicos, danos à saúde humana e esgotamento de
recursos; sendo relevantes para as indústrias nas economias desenvolvidas e em
desenvolvimento.

Quanto menos recursos naturais gastos para fazer um produto, mais barato se
torna para as empresas e melhor figura ao meio ambiente, uma vez que gastou
menos matéria-prima e energia. Mesmo na escala de uma única organização, as
atividades industriais têm consequências ao meio ambiente, afinal, na maioria dos
casos, seus impactos são imputáveis aos resíduos que perturbam os equilíbrios
naturais (KAZAZIAN, 2005).

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Dimensões da Sustentabilidade
A busca de parte da sociedade para clarear o conceito de sustentabilidade, de
se propor um significado de preferência tangível e prático, tem suscitado reflexões
desde as mais filosóficas, como o questionamento de ordem ética e moral; até as
mais palpáveis, como a escolha do material no desenvolvimento de um produto.
Há a necessidade de se traduzir em palavras o que representa o desenvolvimento
sustentável, assim como os seus produtos resultantes, sendo um passo fundamental
para que mudanças sejam efetivadas, transformando e desenvolvendo o sistema
vigente para que se torne mais efetivo e de fácil assimilação.

Cientistas sociais e políticos, filósofos, antropólogos, economistas e pensa-


dores das mais diversas disciplinas passaram a propor pilares que embasariam
o novo conceito de sustentabilidade. O mais difundido foi o famoso tripé da
sustentabilidade, social-econômico-ambiental, proposto pelo inglês John Elking-
ton (2001), onde argumenta que o desenvolvimento sustentável é resultado de
processos produtivos que consideram as três dimensões – ambiental, social e
econômica – de maneira integrada.

Esse conceito representou uma ruptura fundamental na forma que até então era
feita, que sempre considerou o crescimento econômico como o único objetivo de
um empreendimento.

Social

Possível Justo

Sustentável

Viável Viável Econômico

Figura 2 – Tripé da sustentabilidade e esquema representativo


dos vários componentes do desenvolvimento sustentável.

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UNIDADE Sustentabilidade e a Crise Ambiental

Tão forte foi a influência do tripé da sustentabilidade que, cinco anos depois,
foi incorporado no documento da Cúpula de Johanesburgo, convocada com a
ambição de transformar a Declaração do Rio em uma espécie de projeto executivo.

A Organização das Nações Unidas (ONU) se baseou nos seguintes princípios: da


igualdade; do controle institucional efetivo do sistema internacional financeiro e de
negócios; da precaução na gestão do meio ambiente; da prevenção das mudanças
globais negativas; da proteção da diversidade biológica – e cultural –; da gestão
do patrimônio global; do sistema efetivo de cooperação científica e tecnológica
internacional e eliminação parcial do caráter de commodity da Ciência e tecnologia.

Independentemente das linhas e propostas sustentadas por estudiosos e militantes


de diversos campos que interagem nesse debate, o mais importante é notar que se
trata de um conceito em constante construção.

Hoje:
Os avanços foram pontuais e pouco significativos, deixando perguntas abertas
a serem respondidas pelas novas gerações de profissionais, por exemplo: quais
meios devem ser usados para satisfazer as necessidades humanas? Como fazer
a gestão de recursos naturais existentes? Como será o progresso tecnológico e
humano com recursos tão limitados?

As preocupações com o meio ambiente contribuíram para a formação de uma


nova consciência do papel do designer no mundo, possibilitando aumento das
discussões na área sobre ecologia humana, estratégias tecnológicas alternativas e
responsabilidade social desse profissional.

No contexto ambiental e social, a atuação do designer Victor Papanek (1985),


com o seu livro Design for a real world, colocou em discussão as preocupações
das indústrias e designers interessados na ecologia, incentivando a enfrentar os
problemas sociais ao seu redor ao invés de agir apenas por interesses comerciais.
Esse autor acreditava que os designers poderiam proporcionar soluções para
sistemas e produtos com a finalidade de uso coletivo, ou em comunidades, utilizando
tecnologias apropriadas. Papanek defendeu um design centrado no homem, na
ecologia e ética, destacando a responsabilidade moral do design, que convida à
sabedoria diante de sua produção e propõe a inspiração na experiência de outros
países – notadamente aqueles em desenvolvimento – para melhor atender às
necessidades básicas dos seres humanos e sua relação com o design.

A inserção das questões ambientais na atividade do design como uma necessidade


surge ao longo do debate sobre desenvolvimento sustentável. A partir de tal
momento, definições como design de produtos sustentáveis foram adotadas pela
necessidade de os designers reconhecerem não apenas os impactos ambientais de
sua atividade, mas também as consequências éticas e sociais, não se limitando aos
três pilares propostos por Elkington (2001).

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Pensando mais na dimensão ambiental, Manzini (1993) diz que as tendências
ambientais levam ao lema “menos matéria, menos energia e mais informação”,
mostrando a necessidade de elaborar uma cultura ecológica capaz de resolver não
apenas os problemas mais evidentes da quantidade, como também os dilemas mais
sutis da qualidade, afinal, torna-se necessário orientar a evolução dos materiais em
direção a equilíbrios aceitáveis entre o ambiente artificial e as leis da natureza a que
estamos vinculados.

A sustentabilidade ambiental se refere, conforme Manzini e Vezzoli (2002, p.


28), “[...] às condições sistêmicas segundo as quais [...] as atividades humanas não
devem intervir nos ciclos naturais em que se baseia tudo o que a resiliência do Planeta
permite [...], não devem empobrecer seu capital natural, que será transmitido às
gerações futuras”.

Já o engenheiro William McDonough e o designer e arquiteto Michael Braungart,


no livro Cradle to cradle (2008), destacam a tendência de empresas e designers
projetarem produtos com mais controle. No entanto, “menos mau” não é o mesmo
que ser bom, figurando como uma meta limitada.

Uma vez que os seres humanos são considerados como “maus”, o zero é uma
meta boa. Mas sermos “menos maus” significa aceitarmos as coisas como são,
acreditando que os sistemas deficientemente planejados, indignos e destrutivos são
o melhor que os seres humanos conseguem fazer. Esta é a falha derradeira da abor-
dagem de “ser menos mau”: uma falha da imaginação (MCDONOUGH; BRAUN-
GART, 2008, p. 67).

McDonough e Braungart (2008)


também exploram a necessidade
da elaboração de produtos dentro Recursos Manufatura

do conceito de ciclo fechado, ou


do “berço ao berço”, onde não há
a geração de resíduos. O ciclo de Reciclagem
vida do produto não deve terminar Economia
Circular
quando seus materiais são simples-
mente despejados nos sistemas
naturais, fornecendo abordagens
Desperdício
alternativas, como transformá-los
Consumo e Uso
em “nutrientes técnicos”, criando
um metabolismo semelhante ao
biológico da Terra. Figura 3
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

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UNIDADE Sustentabilidade e a Crise Ambiental

A sustentabilidade social, segundo Crul e Diehl (2006), em seu trabalho


desenvolvido para a United Nations Environment Programme (Unep) junto à Delft
University of Technology, está associada também a questões como as seguintes:
respeito à identidade e diversidade cultural; inclusão das minorias, marginalizados e
deficientes; bem-estar social; trabalho em condições adequadas e sem a necessidade
de grandes deslocamentos; geração e equilíbrio na distribuição de renda; acesso à
alimentação, água potável e serviços de saúde; escolarização e abolição do trabalho
infantil, entre outros temas.

A sustentabilidade econômica apresenta uma ligação bastante forte com a social


pela geração de trabalho e renda (CRUL; DIEHL, 2006). Além da lucratividade,
é fundamental para as empresas a geração de valor tanto para cada organização,
quanto para os stakeholders e consumidores; trata-se do valor que permite às
empresas posicionarem-se de forma competitiva no mercado. Ao longo das últimas
décadas, as organizações têm se preocupado mais com a própria responsabilidade
nos impactos do ambiente e têm demonstrado que as iniciativas ambientais e
melhorias podem trazer benefícios econômicos. É um objetivo a ser atingido, e
não, como atualmente muitas vezes é entendido, uma direção a ser seguida. Em
outras palavras, nem tudo que mostrar algumas melhorias em temas ambientais
pode ser considerado realmente sustentável (MANZINI, 2005, p. 28).

Papel do Designer
Existem vários empecilhos no sistema econômico atual, porém, a melhor
alternativa é promover ações em escala humana, e microeconômica, permitindo-
nos intervir de forma mais eficiente. Segundo Kazazian (2009), o papel do designer
se distingue de outras profissões, podendo ser transversal, integrador e dinâmico
entre ecologia e concepção de produtos, inovações econômicas e tecnológicas,
necessidades e novos hábitos.

Segundo Papanek (1995), a função do designer é apresentar opções reais e


significativas às pessoas, permitindo que as mesmas participem mais plenamente
nas decisões que lhes dizem respeito. Ainda conforme esse autor, a ética é a base
filosófica para fazer escolhas morais e seus valores. As decisões morais processam-
se reconhecendo a existência de um dilema e sopesando conscienciosamente as
alternativas, conferindo sentido ao se tomar decisões a respeito das alternativas
existentes.

O design ético deve também ser salutar e benéfico em termos ambientais e


ecológicos – na escala humana e com responsabilidade social. Todos os objetos,
grafismos e embalagens devem funcionar no sentido de suprir as necessidades do
consumidor em um nível mais básico do que a mera aparência de “sustentável”
(PAPANEK, 1995).

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Dougherty (2011) faz uma analogia do papel do design, usando três formas
de pensar: como manipulador de materiais, criador de mensagens e agente de
mudanças, onde cada forma é incorporada às outras.

Os designers podem ajudar empresas preocupadas com valores ambientais a


construir marcas fortes e ter sucesso no mercado. Pode amparar as organizações a
se posicionarem como líderes em questões ambientais, influenciando as operações
de negócios nos anos seguintes (DOUGHERTY, 2011).

Mesmo que a comunidade de design não seja a que resolverá os problemas


de desigualdade social ou prevenirá o marketing de alimentos não saudáveis, é
capaz de influenciar na escolha dos consumidores. Nesse sentido, designers devem
considerar formas de utilizar as suas habilidades para o benefício da sociedade.

Finalmente, as empresas representam a escala mais eficiente para as mudanças


na forma de consumo, reforçando as suas estratégias de marketing e design em
benefício do desenvolvimento sustentável.

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UNIDADE Sustentabilidade e a Crise Ambiental

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Sites
Design for sustainability: a step-by-step approach
CRUL, M. R. M.; DIEHL, J. C. Design for sustainability: a step-by-step approach.
United Nations Environment Programme (UNEP) e Delft University of Technology, 2010
https://goo.gl/ZTE5Lc
Ecological design: inventing the future
Ecological design: inventing the future. Dir. Brian Danitz; Christopher Zelov. [20--].
https://goo.gl/r5tGcu

 Livros
Discurso do Método
DESCARTES, René. Discurso do método. Trad. Paulo Neves. São Paulo: L&PM, 2005.

 Vídeos
The Story of Stuff
https://youtu.be/9GorqroigqM

20
Referências
BORGES, Adélia (curadoria). III Bienal Brasileira de Design. Curitiba, PR : Centro
de Design Paraná, 2010. Disponível em: <https://www.cbd.org.br/wp-content/
uploads/2013/02/Catalogo_Bienal_2010_1.pdf>. Acesso em: 09 mar. 2018.

BRAUNGART, Michael; MCDONOUGH, William. Cradle to cradle: criar e


reciclar ilimitadamente. São Paulo: Gustavo Gili, 2013

CMMAD – COMISSÃO MUNCIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E


DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro comum. 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 1991.

CRUL, M. R. M.; DIEHL, J. C. Design for sustainability: a step-by-step


approach. United Nations Environment Programme (UNEP) e Delft University
of Technology, 2010. Disponível em: < http://www.unep.fr/scp/publications/
details.asp?id=WEB/0155/PA >. Acesso em: 08 mar. 2018.

DOUGHERTY, Brian. Design gráfico sustentável. São Paulo: Edições Rosari, 2011.

ELKINGTON, John. Canibais com garfo e faca. São Paulo: Editora Makron
Books, 2001

KAZAZIAN, Thierry. Haverá a idade das coisas leves: design e desenvolvimento


sustentavel. 2. ed. Sao Paulo: Senac, 2009. 194 p

MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. O desenvolvimento de produtos sustentáveis:


os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Edusp, 2002.
reimpressão: 2011

MEADOWS, D. L., MEADOWS, D. H., RANDERS, J.; BEHRENS, W. W. Limites


do crescimento: um relatório para o projeto do Clube de Roma sobre o dilema da
humanidade. São Paulo: Perspectiva, 1972.

ONU. Nações Unidas no Brasil. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/


agencia/onumeioambiente> Acesso em: 06 abr. 2018.

PAPANEK, V. Arquitetura e design: ecologia e ética. Lisboa: Edições 70, 1995.

WWF – WORLD WIDE FUND FOR NATURE. Living planet report 2012: biodiversity,
biocapacity and better choices. Switzerland: 2012. Disponível em: <http://wwf.panda.
org/about_our_earth/all_publications/>. Acesso em: 06 abr. 2018.

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Design Sustentável e
Responsabilidade Social
Material Teórico
Design e Desenvolvimento Sustentável

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Elisa Jorge Quartim Barbosa

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Design e Desenvolvimento Sustentável

• Interdependência;
• Ciclos de Vida de um Produto;
• Integração de Requisitos Ambientais ao Design;
• Metodologia de Design Orientada por Critérios Ecológicos;
• Os R da Sustentabilidade;
• Consumo Sustentável;
• Comunicação dos Aspectos Ambientais.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar conceitos de design e sustentabilidade, seu papel de pro-
jetista consciente e sua possível influência nos processos produtivos.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Design e Desenvolvimento Sustentável

Interdependência
Conforme foi visto na Unidade anterior, economia e ecologia podem e devem
caminhar juntas. As raízes etimológicas da economia evocam uma gestão do patri-
mônio sem despesa inútil; enquanto a ecologia designa o estudo das relações que
se produzem no espaço vivo.

A pergunta que fica é como gerir o patrimônio comum evitando perdas irrever-
síveis? Como promover ações em ambientes com relações tão complexas?

Combinações, associações e ações são apenas transações de energia e de matéria,


viva ou inerte, do infinitamente pequeno ao infinitamente grande. Na cooperação,
autonomia e na participação de cada indivíduo se encontra no sucesso do conjunto.

Essa interdependência é uma poderosa bússola que nos mostra a direção a ser toma-
da, seja dos ciclos biológicos ou técnicos. Qualquer fenômeno repercute no conjunto. O
caos é uma ordem natural cuja complexidade ainda ultrapassa a nossa compreensão.

Efeito borboleta é um termo que se refere à dependência sensível às condições iniciais


Explor

dentro da teoria do caos. Esse efeito foi analisado pela primeira vez em 1963 por Edward
Lorenz. Segundo a cultura popular, a teoria apresentada, o bater de asas de uma simples
borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do
outro lado do Planeta. Assim, a teoria do caos nos leva a um convite para a criação conjunta.

Ciclos de Vida de um Produto


Em geral, produtos de um sistema são projetados para um padrão linear e
unidirecional. Esse tipo de sistema é chamado de modelo do berço ao túmulo. Os
recursos são extraídos, moldados em produtos, vendidos e, eventualmente, jogados
“fora”, em algum tipo de “túmulo” como um aterro sanitário ou incinerador, mas
a realidade é que não há o “fora” (BRAUNGART; MCDONOUGH, 2013). São os
ciclos de vida de um produto.

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Matérias-primas Fabricação Distribuição Utilização Resíduos

ESGOTAMENTO AUMENTO DOS


DOS RECURSOS RESÍDUOS

Figura 1 – Esquema linear unidirecional da economia baseado na roda estratégica de design para a
sustentabilidade do livro Design for sustainability: a step-by-step approach
Fonte: Adaptado de Kazazian, 2009 e Crul e Diehl, 2010

O conceito de ciclo fechado, ou do “berço ao berço”, foi explorado no livro


Cradle to cradle: remaking the way we make things, do designer e arquiteto
Michael Braungart e do engenheiro William McDonough (2013). Nessa publicação,
exploram o conceito de forma mais tangível, de modo que a visão da obra Cradle
to cradle olha para dois ciclos: biológico e técnico – que inclui a cadeia produtiva.

Figura 2 – Os ciclos biológico e técnico


Fonte: Braungart e McDonough, 2013

9
9
UNIDADE Design e Desenvolvimento Sustentável

Um ponto de vista fundamental no conceito de Cradle to cradle é que o ciclo


de vida do produto não deve terminar quando seus materiais são simplesmente
despejados nos sistemas naturais. Dentro do ciclo técnico, os produtos finais são
utilizados como entradas para um novo ciclo de produção como “nutriente técnico”,
como a embalagem, criando um metabolismo técnico semelhante ao metabolismo
biológico da terra, podendo ser continuamente reciclado e transformado em novos
produtos de valor igual e sem contaminar a biosfera. Tais operações de fabricação
devem ser alimentadas integralmente por energias renováveis e maximizar a
qualidade e eficiência da água, respeitando as pessoas e os ecossistemas.

Além disso, os produtos podem ser projetados de modo que os materiais possam
ser devolvidos com segurança ao ecossistema como “nutrientes biológicos”, biode-
gradando-se e construindo um solo saudável – o resíduo vira alimento para o sistema.

Com a integração da noção de circularidade e a variedade dos ritmos naturais,


os projetistas podem perceber outra relação com o tempo e, a partir disso, elaborar
uma estratégia que lhe permita reduzir custos em matéria, pagar menos impos-
tos, preparar-se para novas obrigações regulamentares. Assim, pode-se inovar por
meio de inéditas estratégias de gestão e conseguir se aproximar de verdadeiros
ecossistemas industriais sistêmicos em um modelo autônomo de produção.

Um método desenvolvido para se quantificar e futuramente reduzir o uso de


recursos é a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). Trata-se de um procedimento inte-
grado que quantifica o impacto de um produto ao longo do seu ciclo de vida, ava-
liando os aspectos ambientais e os impactos potenciais associados a um produto
ou a uma atividade, compreendendo etapas que vão desde a retirada, da natureza,
das matérias-primas elementares que entram no sistema produtivo – berço – à dis-
posição do produto final – túmulo.

Essa metodologia permite a todos os envolvidos na cadeia industrial de um pro-


duto a realização de mudanças pontuais, a fim de reduzir os seus impactos no meio
ambiente. No contexto da sustentabilidade, todos os setores têm grande impor-
tância para atingir as metas desejadas. Dessa forma, o design tem também a sua
responsabilidade e uma capacidade transformadora.

A história das coisas – The story of stuff – é um documentário que aborda o consumo exagerado
Explor

de bens materiais, e o consequente impacto negativo causado no meio ambiente. Apresentan-


do Annie Leonard, The story of stuff mostra de uma maneira didática e clara todo o processo
que vai desde a extração da matéria-prima, confecção do produto, venda, compra e falsa ideia
de necessidade, até o momento de descarte e poluição. Colocando em debate o mal que esses
resíduos tóxicos causam não apenas ao meio ambiente, mas também à saúde da população
em geral. Com uma boa dose de humor, o documentário questiona os nossos valores, os pa-
drões sociais de consumo impostos pela mídia e grandes empresas, levando-nos a questionar
sobre os nossos costumes e a maneira como consumimos e encaramos a preservação do nosso
planeta. Qual é o nosso papel na Terra, o que estamos fazendo para melhorar? Assista ao docu-
mentário em: https://youtu.be/9GorqroigqM e repense os seus valores!

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Integração de Requisitos
Ambientais ao Design
O ecodesign, cuja primeira definição foi dada pelo designer Victor Papanek,
participa de um processo que tem por consequência tornar a economia mais “leve”.
Chamado também de ecoconcepção, trata-se de uma abordagem que consiste em
reduzir os impactos de um produto, ao mesmo tempo que conserva a sua qualidade
de uso – funcionalidade e desempenho –, melhorando a qualidade de vida dos
usuários. Nessa abordagem, o meio ambiente é tão importante quanto a execução
técnica, o controle de custos ou a demanda do mercado.

Na busca da melhor solução, o criador seleciona e articula ações sobre todo o


ciclo de vida do produto, integrando o conjunto dos impactos ambientais. O ecode-
sign é uma abordagem global que exige uma nova maneira de conceber, prevendo
o futuro do produto para reduzir o impacto ambiental por todo o ciclo de vida.

O produto em si, vendido como elemento independente é uma ilusão. Levar


um produto para o mercado exige, além de tudo, infraestrutura e uma quantidade
imensa de outros produtos para a sua fabricação, transporte e utilização.

Metodologia de Design Orientada


por Critérios Ecológicos
Por sua própria natureza holística, o design apenas pode existir em projetos
integrados, uma vez que considera todos os aspectos do ciclo de vida do produto.
Deve estar presente em todas as etapas do projeto, desde o seu início – e não
apenas como um elemento acessório –, primeiramente, prevendo-se o futuro do
produto para reduzir o impacto ambiental por todo o ciclo de vida: fabricação, uso,
fim de vida.

Ademais, existem três níveis gerais e possíveis de interferência dentro dos ciclos
técnicos de produto:
1. Otimização para diminuir os impactos ambientais;
2. Modificar o produto, mantendo a forma de uso semelhante;
3. Substituir o produto por serviço, com os mesmos benefícios.

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UNIDADE Design e Desenvolvimento Sustentável

Figura 3 – Baseada na roda estratégica de design para a sustentabilidade


do livro Design for sustainability: a step-by-step approach
Fonte: Adaptado de Kazazian, 2009 e Crul e Diehl, 2010

Em cada etapa do ciclo de vida é possível usar várias estratégias que resultarão
em produtos mais sustentáveis. Vejamos algumas sugestões conforme cada etapa:
• Pré-produção:
»» Reduzir a utilização de recursos naturais e de energia;
»» Usar materiais não exauríveis – esgotáveis;
»» Usar materiais não prejudiciais – danosos e perigosos;
»» Usar materiais reciclados;
»» Usar materiais recicláveis;
»» Usar materiais renováveis.
• Produção:
»» Escolha de técnicas alternativas de produção;
»» Menos processos produtivos;
»» Pouca geração de resíduo;
»» Redução da variabilidade dos produtos;
»» Reduzir o consumo de energia;
»» Utilizar tecnologias apropriadas e limpas.
• Distribuição:
»» Escolha dos meios mais eficientes de transporte;
»» Logística eficiente;

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» Redução de peso;
» Redução de volume.
• Uso:
» Assegurar a estrutura do produto;
» Aumentar a confiabilidade e durabilidade;
» Design clássico;
» Incentivar o uso compartilhado;
» Escolher uma fonte de energia limpa;
» Intensificar uso e cuidado do produto;
» Reduzir a quantidade ou volume de materiais de consumo requeridos;
» Tornar a manutenção e reparos mais fáceis.
• Descarte:
» Agrupar materiais nocivos em submontagens;
» Aumentar o ciclo de vida e as possibilidades de manutenção e reparação;
» Concentrar materiais poluentes ou recicláveis em um mesmo módulo;
» Converter os componentes em reposições;
» Definir os componentes que são consumidos mais rapidamente;
» Desenvolver o produto para a desmontagem simples e pessoal não treinado;
» Dividir os componentes que são consumidos mais rapidamente;
» Eliminar superfícies possíveis de desgaste;
» Estimular a remanufatura e reforma;
» Estimular a reutilização do produto inteiro;
» Evitar a combinação com materiais corrosivos e perecíveis;
» Evitar acabamentos secundários – pintura, revestimentos etc.;
» Evitar partes e materiais que possam estragar os equipamentos;
» Fácil acesso a partes nocivas, valiosas e reutilizáveis;
» Facilitar a desmontagem;
» Facilitar a reciclagem – de qualidade (“berço ao berço”);
» Favorecer o uso do monomaterial;
» Identificar os componentes para facilitar a desmontagem e reciclagem;
» Minimizar elementos de fixação;
» Prover fácil acesso aos pontos de separação, quebra ou corte, incluindo sinal
no ponto de quebra;

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UNIDADE Design e Desenvolvimento Sustentável

»» Remoção de partes por meios manuais e/ou automáticos;


»» Reutilizar o produto e/ou seus componentes;
»» Rotulagem para facilitar a percepção das montagens;
»» Substituir os componentes tóxicos;
»» Usar componentes padronizados;
»» Usar elementos de fixação fáceis de remover ou destruir;
»» Usar materiais compatíveis.

Os R da Sustentabilidade
Conhecidos também como os 3 R da sustentabilidade – Reduzir, Reutilizar e
Reciclar –, tratam-se de ações práticas que visam estabelecer uma relação mais
harmônica entre a pessoa e meio ambiente. Adotando tais práticas, é o início para
favorecer o desenvolvimento sustentável, vejamos alguns de seus aspectos:
• Reduzir – significa usar o mínimo necessário de materiais, sem danificar a
qualidade técnica e de uso de um produto, economizando recursos essenciais
como água, energia e matérias-primas na sua produção;
• Reutilizar – no início de um projeto é possível prever potenciais reutilizações de
um produto, tornando-o multifuncional e escolhendo materiais mais duráveis.
Reutilizando, economizamos na fabricação, assim como na energia usada, no
combustível empregado no transporte e na matéria-prima escolhida. O ciclo
de vida é prolongado, evitando o seu descarte imediato após o uso;
• Reciclar – é quase uma obrigação nos dias atuais e não deve ser a primeira op-
ção, afinal, o projeto deve priorizar a redução e reutilização. O primeiro passo
é desenvolver produtos monomateriais ou com materiais de fácil separação por
tipo e qualidade. Ademais, os produtos recicláveis devem ser encaminhados
para empresas ou cooperativas de trabalhadores de reciclagem, a fim de serem
transformados novamente em matéria-prima para voltar ao ciclo produtivo;
• Considerar o produto como um sistema – constituído tanto por componentes
consumíveis, quanto por peças de troca, suportes publicitários, embalagens
utilizadas em todo o sistema;
• Priorizar a finalidade de utilização – acima de tudo, privilegiar o uso do
produto e sua finalidade com o objetivo de sintetizar em um objeto material,
podendo ser transformado em um serviço, iniciando uma cadeia de atores que
colaboram em uma abordagem transversal e multidisciplinar.

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A ecoconcepção, pensando em cada etapa do ciclo de vida, integra-se em uma
abordagem responsável. Os consumidores estão cada vez mais sensíveis a iniciativas
com o principal objetivo de redução dos seus impactos ambientais, como também
a gestão dos resíduos em fim de vida.

Vejamos, então, alguns exemplos:


1. Embalagem Track & Field:
• Design: Dezign com Z – projeto da cápsula e display da loja;
• Produção: Track & Field, loja de Nova Iorque, Estados Unidos;
• Prêmio: III Bienal Brasileira de Design. Curitiba, PR (2010);
• Descrição: mais de mil cápsulas transparentes
cobrem uma parede inteira da Flagship da Track
& Field, em Manhattan. Servem simultaneamen-
te como local de estoque dos produtos da gri-
fe esportiva, display e embalagem unitária. Os
itens são organizados por estilo, cor e tamanho
e podem ser acessados diretamente tanto pelo
vendedor quanto pelo cliente. A “parede” multi-
colorida integra-se ao ambiente da loja, que tem
projeto arquitetônico de Arthur Casas. A marca
incentiva o cliente a reutilizar a embalagem para
guardar coisas em casa. As cápsulas, produzidas
a partir do bioplástico Ingeo TM, foram desen-
Figura 4
volvidas pela Vedat (BORGES, 2010). Fonte: Divulgação

2. Embalagem do Matte Leão Orgânico:


• Design: Santa Clara, São Paulo, SP;
• Produção: Coca-Cola Brasil;
• Descrição: a tinta de impressão na embalagem do chá teve a sua quantidade
reduzida em 90% em relação à anterior – uma especificação (ou, ao menos,
sugestão) que está no âmbito do trabalho do designer gráfico e que tem alto
impacto ambiental. A maioria das tintas de impressão contém metais pesados
que contaminam o solo ou inviabilizam a reciclagem; por isso, quanto menos
tinta, melhor – desde que não atrapalhe a comunicação e identificação do
produto. O papel é totalmente reciclado na embalagem do produto, sendo
30% reciclado pós-consumo. As caixas de transporte são feitas com papelão
certificado pelo Forest Stewardship Council (FSC) – Conselho de Manejo
Florestal (BORGES, 2010).

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UNIDADE Design e Desenvolvimento Sustentável

Figura 5
Fonte: Divulgação

3. Embalagem de ovo orgânico:


• Design: OKA Bioembalagens;
• Produção: Fazenda da Toca;
• Descrição: a OKA Bioembalagens desenvolve projetos de embalagens feitas
a partir de mandioca mais outras fibras naturais, deixando-as mais resistentes.
Tudo isso permite que sirvam não apenas para seu propósito de transporte
com segurança, mas também deem sequência ao ciclo rápido de retorno ao
solo, servindo de alimento para os animais. Na embalagem dos ovos da Fazen-
da da Toca, a cinta com informações sobre o produto que cobre a caixa é de
papel com sementes e que, ao serem umedecidas e plantadas, dão origem a
um pé de manjericão.

Figura 6
Fonte: Divulgação

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4. Lemnis Lighting:
• Design: Celery Design;
• Produção: Taedda, Sengés, PR;
• Descrição: as lâmpadas consomem 90% a menos de energia se compara-
das às incandescentes, e quase a metade de energia quando confrontadas
às Fluorescentes (CFL). Além disso, duram 35 anos – oito vezes mais que as
fluorescentes – e não contêm mercúrio tóxico. Trata-se de um produto mais
caro – 25 dólares –, mas a longo prazo, cada lâmpada representa a economia
de cerca de 250 dólares para o usuário. O formato escolhido foi uma pirâmide
truncada, que se destaca nas prateleiras e acomoda firmemente a lâmpada em
seu interior. Tal formato é uma referência ao nome da lâmpada – Pharoz –,
em homenagem ao farl, que foi uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo.
Encaixa-se confortavelmente nos contêineres de embarque, tornando-a uma
boa solução de “design para a distribuição”. O papel é totalmente reciclado
pós-consumo e o formato foi estudado para caber seis caixas em uma folha de
impressão, a qual é dobrada e fechada sem o uso de adesivo, o que facilita a
reciclagem (DOUGHERTY, 2011).

Figura 7
Fonte: Divulgação

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UNIDADE Design e Desenvolvimento Sustentável

5. Árvore Generosa:
• Design: Pedro Useche, São Paulo, SP;
• Produção: Taedda, Sengés, PR;
• Descrição: uma placa de pinus de reflorestamento
com certificação FSC gera um mancebo-estante. O
desafio do designer foi chegar a um projeto em que
não houvesse sobra de material, o que conseguiu
graças ao corte feito em usinagem em Controle Nu-
mérico Computadorizado (CNC). Por se tratar de
um móvel de madeira maciça, pode ser utilizado por
mais de trinta anos. Sua criação teve como inspira-
ção o livro A árvore generosa, de Shel Silverstein,
de 1964, uma fábula sobre a relação entre um me-
nino e uma árvore. A peça chega desmontada ao
consumidor, acompanhada do livro, de forma que
compartilhe uma reflexão sobre sustentabilidade
(BORGES, 2010). Figura 8
6. Módulo Arco:
• Design: Diogo Lage, Eduardo Cronemberger e Gil Guigon, Rio de Janeiro, RJ;
• Produção: Habto Design, Rio de Janeiro, RJ;
• Descrição: madeira teca com certificação FSC e revestimento de laminado de
Politereftalato de Etileno (PET) reciclado nas cores branca ou preta – são as
matérias-primas deste móvel que pode ser usado como mesa lateral, estante,
mesa de centro, entre outras formas. O módulo pode ser transportado e ar-
mazenado, ocupando apenas um quinto do seu volume, o que gera economia
de recursos e energia. A economia ocorre não apenas na entrega do produto
da fábrica até a casa do consumidor, mas também nas mudanças de casas das
pessoas ou no seu armazenamento quando fora de uso (BORGES, 2010).

Figura 9

18
Consumo Sustentável
Vários especialistas concordam em considerar a educação a principal ferramen-
ta para despertar a consciência ambiental. Essa proposta tende a ser mais lenta
e ampla que as anteriores, pois além das inovações tecnológicas e das mudanças
nas escolhas individuais de consumo, enfatiza ações coletivas e mudanças políticas,
econômicas e institucionais para fazer com que os padrões e níveis de consumo se
tornem mais sustentáveis.

Mais do que uma estratégia de ação a ser implementada pelos consumidores,


consumo sustentável é uma meta a ser atingida. Poderíamos identificar seis ca-
racterísticas essenciais que devem fazer parte de qualquer estratégia de consumo
sustentável, vejamos:
1. Faz parte de um estilo de vida sustentável em uma sociedade sustentável;
2. Contribui para a nossa capacidade de aprimoramento, enquanto indivíduos
e sociedade;
3. Requer justiça no acesso ao capital natural, econômico e social para as
gerações presentes e futuras;
4. O consumo material deve se tornar cada vez menos importante em relação
a outros componentes da felicidade e da qualidade de vida;
5. É consistente com a conservação e melhoria do ambiente natural;
6. Acarreta um processo de aprendizagem, criatividade e adaptação.

Nesse cenário, preocupações mais recentes, como as mudanças climáticas e o


esgotamento de recursos naturais, levarão mais consumidores a exigir operações
mais responsáveis para com a sociedade e o Planeta.

Os designers podem, em seus projetos, incluir a divulgação das ações promovidas,


conscientizando os seus possíveis compradores, sendo uma das formas de educação
para a sustentabilidade.

É o design que transforma uma mercadoria formada por ingredientes e proces-


sos industriais em um produto cheio de significados, mais desejado pelo consumi-
dor. É função do designer analisar, interpretar e propor signos que solucionem as
necessidades físicas e visuais, otimizando recursos para obter a embalagem ade-
quada, esperando, com isto, estabelecer um processo de comunicação e satisfazer
as necessidades tanto do fabricante do produto, como do consumidor do mesmo.

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UNIDADE Design e Desenvolvimento Sustentável

Comunicação dos Aspectos Ambientais


As declarações ambientais apresentam-se como importantes aliadas da comuni-
cação dos valores ambientais de um produto para o consumidor, pois, ao mesmo
tempo em que valorizam o desenvolvimento do setor produtivo, convidam a socie-
dade a repensar seus hábitos de consumo; não bastasse isso, facilitam o trabalho
do designer no momento de escolher entre um produto ou outro.

Rotulagem ambiental:
É uma ferramenta de comunicação que objetiva aumentar o interesse do consu-
midor por produtos de menor impacto, possibilitando a melhoria ambiental contí-
nua orientada pelo mercado. Esse tipo de rotulagem agrega um diferencial e, por
isso mesmo, deve ser usado com ética e transparência para não confundir, iludir e
tampouco distorcer conceitos de sustentabilidade.

A série de normas ISO 14001, estabelecidas pela International Organization for


Standardization, são recomendações voltadas para a gestão ambiental nas empre-
sas. As ações de rotulagem ambiental (ISO 14020) visam criar a consciência para
a importância dos aspectos ambientais de um produto ou serviço e uma mudança
de comportamento do fabricante. Além de descrever os princípios gerais, a norma
ISO regulamenta o uso dos rótulos, declarações ambientais e simbologia técnica de
identificação de materiais, esta que integra a norma ISO 14021, criada para facilitar
a identificação e separação dos materiais, fortalecendo a cadeia de reciclagem. Todos
os produtos devem conter tal identificação técnica, mesmo que na prática nem todas
as rotulações sejam enviadas para reciclagem, por não existirem processos técnicos
ou economicamente viáveis na região em que foram descartadas.

Figura 10 – Alguns exemplos de simbologia de identificação de material


Fonte: ISO 14021

A simbologia técnica de identificação de materiais não é garantia de que tal


material será reciclado. Assim, os símbolos devem ser empregados somente para
a denominação do material, evitando-se a inclusão de adjetivos como reciclável,
pois passaria a configurar rotulagem ambiental. A ausência de simbologia ou o seu
uso incorreto pode prejudicar o processo de reciclagem de outros materiais e o
desperdício de materiais recicláveis.

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Autodeclaração ambiental com selos de certificação:
Os selos de certificação são quase sempre apontados como soluções para a
divulgação de aspectos técnicos e complexos em um produto; em grande medida
porque oferecem uma informação mais segura e confiável para o consumidor
tomar uma decisão de consumo responsável, sem a necessidade de se tornar um
expert em ecologia.

Conferida por uma organização certificadora idônea, após análise rigorosa dos
seus aspectos específicos, a imagem de um selo, com destaque na embalagem de
um produto, contribuiria para atender à tendência da mente humana de buscar
o mínimo esforço na hora de juntar informações para uma tomada de decisão;
funciona também como uma chancela de aprovação.

Os primeiros selos obrigatórios surgiram na Europa, na década de 1940, com


caráter de advertência. Tinham a função de destacar a presença de substâncias
químicas potencialmente danosas à saúde do consumidor. Atualmente, os selos
também têm a função de enfatizar questões específicas, tais como a pegada de
carbono, os alimentos orgânicos, a presença de transgênicos e o comércio justo.

Figura 11 – Selos de pegadas de carbono, transgênicos e o comércio justo


Fonte: Carbon Trust (2012); Brasil (2011); Fairtrade International (2012)

Os selos podem ser divididos em atributos simples ou múltiplos. Os selos com


atributos simples são aqueles que evidenciam uma característica ambiental do pro-
duto de forma individualizada.

Selos com atributos múltiplos:


Diferente dos selos com atributos simples, os atributos múltiplos buscam es-
tabelecer uma visão mais integral do impacto gerado por produtos, tais como
eficiência energética, conservação, emissão de gases de efeito estufa, otimização
no uso de recursos, destinação final, entre outros aspectos. A gradação atribuída
pela certificadora leva em conta uma média geral dos critérios para atribuir ou
não o selo ao produto.

As críticas a esse tipo de selo normalmente fazem menção à baixa precisão do


processo em virtude de trabalhar com médias ponderadas.

21
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UNIDADE Design e Desenvolvimento Sustentável

Em comum, esses selos são independentes, dado que possuem critérios rígidos
e avaliações contínuas. Todos desfrutam de alta credibilidade e representam um
guia seguro para os consumidores, não sofrendo os efeitos da desconfiança que
costuma recair sobre os selos autorreguladores, adotados sem verificação externa,
por empresas ou segmentos empresariais.

Para assegurarem o direito de seus consumidores a produtos ambientalmente


responsáveis, os países promotores desses selos passaram a exigir também o mes-
mo compromisso dos produtos importados como contrapartida em acordos de
comércio internacional. Eis alguns exemplos de selos de atributos múltiplos:

Figura 12 – Selos de certificação ambiental

De forma geral, esses selos se apoiam na metodologia da ACV, contemplando


os seguintes elementos: extração e processamento de matéria-prima; fabricação;
transporte e distribuição; usos do produto; reutilização; manutenção; reciclagem;
descarte final; ingredientes ou restrições a materiais utilizados e desempenho am-
biental do processo de produção.

Para comunicar, com legitimidade, ações ambientais das empresas, os selos de


certificação fornecem pistas cognitivamente mais eficazes para os consumidores
que dificilmente seriam capazes de identificar as informações por outros meios.

Confiabilidade dos selos:


A multiplicidade de selos pode gerar uma preocupação sobre a seriedade das
certificadoras e a real impressão de que muitas querem apenas passar a imagem
de sustentável, não por crença no processo de mudança, mas apenas como uma
oportunidade de negócio.

Algumas empresas usam artifícios enganosos e declarações vagas para atrair


consumidores. Uma forma comum de afirmação vaga é a autodeclaração ambien-
tal sem embasamento técnico ou científico que rotula a embalagem ou o produ-
to como ambientalmente benéfico ou benigno. Autodeclarações ambientais como
“ambientalmente seguro”, “amigo do meio ambiente”, “amigo da Terra”, “não po-
luente”, “verde”, “amigo da natureza” ou “amigo da camada de ozônio” não devem
ser utilizadas. Ademais, declarações vagas estão em todos os lugares e os atos de
induzir o consumidor ao erro quanto às práticas ambientais de uma empresa ou os
benefícios ambientais de um produto ou serviço são denominados greenwashing.

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Dito de outra forma, greenwashing é um termo utilizado para designar um
procedimento de marketing empregado por uma organização com o objetivo de
prover uma imagem ecologicamente responsável dos seus produtos ou serviços. Com
o objetivo de descrever, entender e quantificar o crescimento do greenwashing no
mercado, a consultora de marketing ambiental canadense TerraChoice desenvolveu
uma metodologia de pesquisa em que, por meio dos padrões observados, classificou
tais apelos falsos ou duvidosos em sete categorias, chamadas de The seven sins
of greenwashing – Os sete pecados da rotulagem ambiental: custo ambiental
camuflado; falta de prova; incerteza; culto a falsos rótulos; irrelevância; do “menos
pior”; e mentira (TERRACHOICE; MARKET ANALYSIS, 2010).

Sem dúvida alguma, o fator mais importante no processo de escolha de uma


certificação está no motivo que ampara a decisão: se o vetor é simplesmente con-
quistar o consumidor, em algum momento a falta de cuidado com os processos
gerará ruído e colocará a reputação da marca em jogo; se, ao contrário, a intenção
for a busca genuína pela sustentabilidade, com a devida atenção à complexidade,
os elementos se combinarão naturalmente e levarão a empresa ao lugar ideal.

Segundo Dougherty (2011), o melhor “antídoto” contra o greenwashing é a


transparência. A sustentabilidade não é uma noção vaga e maleável, mas específi-
ca e mensurável. A transparência ajuda os designers a elaborarem mensagens de
significado verdadeiro e os coloca nos papéis de agentes de mudança. Os desig-
ners ajudam a simplificar, esclarecer questões complexas e educar o público sobre
o caminho no qual as empresas estão. Assim, pode-se ajudar a construir histórias
convincentes a partir dos planos e do verdadeiro desempenho das organizações.

Porém, se as ações de uma empresa contradizem os valores que promove, a mar-


ca é afetada. Portanto, o desenvolvimento da marca ecológica deixa as organizações
sujeitas a acusações de greenwashing se promovem demais e atuam de menos.

Ainda segundo Dougherty (2011), o desenvolvimento da marca pode ter três


fatores, vejamos:
1. A autenticidade é a medida de quanto os valores que uma empresa projeta
se alinham bem com a realidade de suas ações;
2. A contenção é uma questão de prevenir exageros prejudiciais com preten-
sões ecológicas exageradas ou irrelevantes;
3. O acompanhamento é uma questão de articular estratégias para cumprir
a promessa de uma marca ecológica. O designer ajuda as empresas a fa-
zerem promessas, mas também pode colaborar na reflexão sobre formas
de cumpri-las.

Por fim, os designers podem ter um importante papel como mediadores na


prevenção do greenwashing, agindo como gestores da marca e chamando a aten-
ção para as contradições antes que as críticas e notícias nocivas sejam publicadas
(DOUGHERTY, 2011).

23
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UNIDADE Design e Desenvolvimento Sustentável

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Sites
Ecodesign
https://goo.gl/iW9j2i
CARBON TRUST. [Organização mundial de suporte à sustentabilidade]
http://www.carbontrust.com
ECO MARK PROGRAM. [Associação ambiental japonesa]
http://www.ecomark.jp/english
The EU Ecolabel
https://goo.gl/180hB
Der Blaue Engel
http://www.fairtrade.net
Ecologo
http://www.fairtrade.net
The international Fairtrade system
http://www.fairtrade.net
GREEN SEAL
http://www.greenseal.org

 Livros
Greenwashing no Brasil: um estudo sobre os apelos ambientais nos rótulos dos produtos
TERRACHOICE; MARKET ANALYSIS. Greenwashing no Brasil: um estudo sobre
os apelos ambientais nos rótulos dos produtos. Florianópolis, SC, 2010.

 Vídeos
The Story of Stuff
https://youtu.be/9GorqroigqM

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Referências
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materiais no design de produto. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

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______. ISO/TR 14062: gestão ambiental: integração de aspectos ambientais no


projeto e desenvolvimento do produto. Rio de Janeiro, 2004a.

______. NBR ISO 14024: rótulos e declarações ambientais: rotulagem ambiental


do tipo l: princípios e procedimentos. Rio de Janeiro, 2004b.

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______. NBR ISO 14020: rótulos e declarações ambientais: princípios gerais. Rio
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DOUGHERTY, B. Design gráfico sustentável. São Paulo: Edições Rosari, 2011.

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25
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TERRACHOICE; MARKET ANALYSIS. Greenwashing no Brasil: um estudo


sobre os apelos ambientais nos rótulos dos produtos. Florianópolis, SC, 2010.

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Design Sustentável e
Responsabilidade Social
Material Teórico
Materiais

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Elisa Jorge Quartim Barbosa

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Alessandra Fabiana Cavalcanti
Materiais

• Recursos Naturais;
• Os Rs;
• Os Resíduos Sólidos;
• Avaliação dos Impactos Ambientais;
• Comunicação;
• Desmaterialização.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer os principais materiais utilizados no design e seus impac-
tos na fabricação, uso e descarte.
· Refletir sobre o consumo consciente de produtos e a interferência
do projeto.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Materiais

Recursos Naturais
As etapas de produção de qualquer produto são muito diversificadas, exigindo um
amplo leque de recursos naturais e industriais. A exploração das florestas em busca
de madeira para transformar em papel; a extração de minerais para a produção
de metais; a areia para a produção do vidro; e a química do petróleo para resinas
sintéticas servem de base para boa parte dos produtos vendidos hoje.

É importante conhecer como os produtos são feitos e identificar as matérias pri-


mas utilizadas e seus possíveis impactos no meio ambiente. Na economia de hoje,
a interdependência de vários processos torna essa identificação difícil, demandando
uma pesquisa eficiente e profunda.

Ar e água
O ar e a água são recursos frágeis, que devem ser explorados com muita pre-
caução. A poluição dos rios, dos mares e a degradação da qualidade do ar são
problemas graves e de grande complexidade de se encontrar soluções. Os proces-
sos industriais já incluem formas de minimizar, porém ainda estão longe de serem
100% eficientes, pois ainda produzem produtos com projetos que não colocam
esses recursos como prioridade.

Ar
A poluição do ar é sem dúvida um dos mais perniciosos dos problemas ligados
à proteção ambiental. A fumaça das chaminés das fábricas e dos gases dos
escapamentos dos carros são os problemas mais visíveis, porém dentro do processo
industrial o uso de produtos químicos impacta o ar, podendo causar doenças
em seus funcionários e na população ao redor. O uso massivo de solventes, por
exemplo, serve para a limpeza de equipamentos, para a diminuição da viscosidade
das tintas, chegando até a participar diretamente de usa produção. Os solventes
químicos estão em todos os lugares e alguns são extremamente tóxicos, fazendo
parte dos compostos orgânicos voláteis (COV) que quando inspirados causam
grandes problemas à saúde. Na escolha de fornecedores, é importante identificar se
em seu processo são usados filtros eficientes para minimizar esse tipo de impacto,
ou que solventes à base de água.

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Água
A água, essencial para a sobrevivência humana, tornou-se um recurso crítico, e
pouco valorizado ao longo do desenvolvimento humano. A agricultura e as indús-
trias são seus principais consumidores.
· Falta de saneamento;
· Falta de coleta de esgoto;
· Terrenos impermeáveis.

Petróleo
Após a era do carvão, a economia atual se baseia na energia fornecida pelo pe-
tróleo, porém a disponibilidade desse recurso fóssil é tema de debate. Sua renova-
ção não acontece no mesmo ritmo do consumo humano, sendo, por esse motivo,
considerado um recurso finito, colocando o mundo em ameaça por sua escassez;
onde guerras acontecem em seu nome.

Energia
A energia é um setor econômico e ecológico estreitamente ligado. Boa parte da
energia produzida no mundo vem da queima e de matérias-primas como o carvão
ou o petróleo. Após a Segunda Guerra Mundial, começaram a surgir outras fontes
de energia com o objetivo de minimizar a dependência do petróleo, e buscar outras
fontes de energia mais limpas.
Se analisarmos o ciclo de vida de qualquer produto, a energia é atuante em todas
as suas etapas e um dos grandes causadores do impacto ambiental.
O Brasil, como país privilegiado de recursos hídricos, tem como matriz energética
as hidrelétricas, considerada energia limpa, por não emitir gazes poluidores. O que
demanda grandes áreas inundadas para a contenção e a produção dessa energia,
provocando um grande impacto no seu entorno.
As fontes de energia alternativa são aquelas que se apresentam ao uso das fontes
tradicionais de energia (petróleo, gás natural, hídrica e carvão mineral, principal-
mente). As fontes alternativas de energias são renováveis, pouco ou não poluentes,
além de apresentar a vantagem de ter baixos índices de agressão ambiental.
Exemplos de fontes alternativas de energia;
· Energia eólica – gerada a partir do vento;
· Energia solar (fotovoltaica) – gerada a partir dos raios solares;
· Energia geotérmica – obtida a partir do calor contida nas camadas mais
profundas da terra;
· Energia mare motriz (das marés) – gerada a partir da energia contida nas
ondas do mar;

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UNIDADE Materiais

·· Biomassa – obtida a partir de matéria orgânica, principalmente de origem


vegetal como, por exemplo, a cana-de-açúcar;
·· Nuclear – gerada através do processo de fissão do núcleo do átomo de
urânio enriquecido;
·· Biogás – obtido dos gases provenientes da decomposição de resíduos orgânicos.

Importância do uso de fontes alternativas de energia


·· Grande parte destas fontes é renovável. Essa é uma grande vantagem, pois,
como sabemos, o petróleo um dia vai acabar e o país que ficar dependente
desta fonte de energia poderá enfrentar sérios problemas energéticos;
·· Apresentam baixo ou nenhum índice de geração de poluição ambiental;
·· Embora sejam mais caras para implantar, o sistema de geração de energia,
em longo prazo, é capaz de gerar economia;
·· Unidades geradoras podem ser instaladas em áreas de difícil acesso para a
chegada de fontes tradicionais de energia;
·· Diversificação de fontes de energia alternativa tira do país a dependência
das fontes tradicionais, que muitas vezes podem ser controladas por
empresas estrangeiras ou outros países.
Enquanto o homem pensar em fontes de energia única, nunca será sustentável.
Uma matriz energética diversificada, decentralizada, utilizando os recursos locais,
sem grandes demandas de obras arquitetônicas e de engenharia, com projetos
inovadores e criativos é o ideal para a eficiência energética do mundo, e um respiro
para a exploração dos recursos naturais.

Madeira
Para se produzir uma tonelada de papel são necessárias até 3 (três) toneladas
de madeira (10 a 20 árvores), aproximadamente 10 mil litros de água (mais do que
qualquer outra atividade industrial) e 5 mil kW/hora de energia, (o quinto lugar na
lista das atividades industriais que mais consomem energia) (IDEC,2004).

Além desses fatores, o uso de produtos químicos potencialmente tóxicos para a


separação e o branqueamento da celulose, também, representa um risco ambien-
tal. O consumo crescente do papel, sem posterior reciclagem, constitui uma das
atividades humanas mais impactantes ao meio ambiente em escala global.

A utilização estrita de madeira de reflorestamento, a utilização racional da água


e energia, a aplicação reduzida do uso de cloro nos processos de fabricação e a me-
lhoria da tecnologia de reciclagem são medidas que já vêm sendo tomadas por esse
setor industrial e que em muito contribuem para a minimização dos efeitos danosos
do ciclo do papel.

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Os Rs
Os “Rs” foram criados, originalmente, como sendo os 3 (Reduzir, Reutilizar e
Reciclar). Eles surgiram como resultado da Segunda Guerra Mundial. Na época,
devido à guerra, havia escassez de materiais e a implementação da política dos
Rs era para ajudar as empresas a lidarem com a falta de recursos. Ao fim da
Segunda Guerra Mundial, o conceito dos 3 Rs foi se popularizando à medida que
crescia a preocupação pelo implemento de políticas ambientais.

Com o passar do tempo e com maiores estudos sobre as questões ambientais,


o conceito dos 3 Rs foi repensado, acreditando-se haver mais ações necessárias e
que, juntamente com as três iniciais, aprimorariam as ações de sustentabilidade.
Como houve mais de uma iniciativa diferente de complementar os 3 Rs, surgiram
opções com 4, 5 e mais Rs, que incluíram diferentes palavras de acordo com a
visão de quem os criou. Assim, não existe uma quantidade correta nem específica,
há apenas diversas possibilidades com pontos de vista distintos e que possibilitam
que seja feita uma opção à qual se vai seguir.
Abaixo está uma lista que reúne 12 deles com uma breve descrição de seus sig-
nificados:
· Reduzir: diminuir o consumo, especialmente de itens descartáveis e de
bens como água, energia e combustíveis;
· Reutilizar: utilizar novamente o mesmo produto, tanto para o mesmo
fim original quanto para fins alternativos ao original;
· Reciclar: reutilizar as matérias-primas dos produtos para fabricação de
novos produtos; dá-se pela separação dos resíduos nos diferentes tipos
de lixeiras para coleta seletiva;
· Repensar: refletir como você pode mudar seus atos para torná-los mais
sustentáveis, acrescentando no seu dia a dia ações como as propostas
pelos Rs;
· Recusar: não consumir aquilo que você realmente não precisa, não
comprar ou aceitar só por ter ou por “estar na moda”, mas apenas se
houver necessidade;
· Reparar: deve-se tentar consertar aquilo que quebrar, e somente jogar
fora e comprar outro novo se não for possível consertá-lo;
· Reintegrar: promover a reciclagem da matéria orgânica, o que
normalmente é feito através de composteiras;
· Reeducar: promover uma conscientização de como são produzidos os
materiais consumidos e qual destino recebem, e como fazer para otimizar
esse processo, visando à sustentabilidade;
· Recuperar: revitalizar áreas degradadas e poluídas, conservando os
recursos naturais do planeta, assim como a fauna e a flora;

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UNIDADE Materiais

·· Respeitar: prezar a si e às pessoas ao seu entorno, assim como ao meio


ambiente, respeitando-nos de todas as maneiras possíveis;
·· Responsabilizar-se: estar ciente de seus próprios atos, e das consequências
deles no planeta e no seu próprio futuro;
·· Repassar: transmitir essas e outras informações para outras pessoas, de
modo a ir conscientizando cada vez mais pessoas para agirem de modo o
menos prejudicial possível ao ambiente.

Em sua essência, esses termos ajudam o pensamento de renovação e de trans-


formação dos processos que existem hoje, podendo ser utilizado em todo o ciclo
de vida de um produto.

Os Resíduos Sólidos
Um dos marcos legais para a gestão de resíduos sólidos no Brasil foi a publicação
da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Federal no. 12.305/10) e sua regula-
mentação pelo Decreto Federal no. 7.404/10.

A PNRS dispõe sobre princípios, objetivos e instrumentos, bem como as diretrizes


relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os
perigosos. Além disso, determina as responsabilidades dos geradores e do poder
público e os instrumentos econômicos aplicáveis.

Tabela 1
Resíduo Sólido Rejeito
O rejeito é o resíduo após todas as possibilidades de
O resíduo sólido é gerado a partir da sobra de determinado

×
reaproveitamento ou de reciclagem já terem sido esgotadas
produto (embalagem, casca) ou processo (uso do produto),
e não houver solução final para o item ou parte dele.
mas pode ser consertado, servir para outra finalidade
As únicas destinações plausíveis são encaminhá-lo para um
(reutilização) ou até ser reciclado.
aterro sanitário licenciado ambientalmente ou incineração.
Fonte: Definição da Política Nacional de Resíduos Sólidos, 2014

Principais classificações dos resíduos sólidos quanto à origem no âmbito


da PNRS:
• Resíduos sólidos urbanos: correspondem aos resíduos domiciliares, origi-
nários de atividades domésticas em residências urbanas e resíduos de limpeza
urbana, que são provenientes da varrição, da limpeza de logradouros e de vias
públicas e de outros serviços de limpeza urbana.
• Resíduos industriais: são gerados nos processos produtivos e nas instala-
ções industriais.
• Resíduos de serviços de saúde: são gerados nos serviços de saúde, conforme
definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema
Nacional de Meio Ambiente (Sisnama) e do Sistema Nacional de Vigilância
Sanitária (SNVS). Importante ressaltar que os resíduos gerados em ambulató-

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rios ou em área de atendimento médico nas dependências da indústria devem
ser tratados como Resíduos de Serviços de Saúde, observando a Resolução
CONAMA nº 358/ 05 (Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos
resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências) e de legislações locais.
• Resíduos da construção civil: são gerados nas construções, nas reformas,
nos reparos e nas demolições de obras de construção civil, incluídos os resul-
tantes da preparação e da escavação de terrenos para obras civis. As obras
de construção civil realizadas pela organização (reformas, ampliações, etc.)
devem observar a Resolução CONAMA nº 307/02, que estabelece diretrizes,
critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil.
• Resíduos de serviços de transportes: são originários de portos, de aeropor-
tos, de terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e de passagens de
fronteira.
• Resíduos de mineração: são gerados na atividade de pesquisa, de extração
ou de beneficiamento de minérios.

Classificações dos resíduos sólidos, segundo norma ABNT NBR 10.004:2004


• Resíduos Perigosos (Classe I): são aqueles que por suas características podem
apresentar riscos para a sociedade ou para o meio ambiente. São considerados
perigosos também os que apresentem uma das seguintes características:
inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e/ou patogenicidade.
Na norma estão definidos os critérios que devem ser observados em ensaios
de laboratório para a determinação destes itens. Os resíduos que recebem esta
classificação requerem cuidados especiais de destinação.
• Resíduos Não Perigosos (Classe II): não apresentam nenhuma das
características acima, podem ainda ser classificados em dois subtipos:
» Classe II A – não inertes: são aqueles que não se enquadram no item
anterior, Classe I, nem no próximo item, Classe II B. Geralmente apresenta
alguma dessas características: biodegradabilidade, combustibilidade e
solubilidade em água.
» Classe II B – inertes: quando submetidos ao contato com água destilada ou
deionizada, à temperatura ambiente, não tiverem nenhum de seus constituintes
solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade da
água, com exceção da cor, turbidez, dureza e sabor, conforme anexo G da
norma NBR 10.004:2004.

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UNIDADE Materiais

Prioridade da gestão de resíduos


• Não geração: realizar a atividade produtiva sem que ocorram perdas ao longo
do processo e demais atividades que o suportam.
• Reduzir: buscar a otimização e a maximização da eficiência de processo quan-
to ao uso de maquinário, matérias-primas, desenvolvimento de novas tecnolo-
gias, de forma a gerar a menor quantidade possível de resíduos.
• Reutilizar: identificar e buscar alternativas para viabilizar técnica e economi-
camente o uso de refugos e de perdas no próprio processo ou em outro, tanto
do ponto de vista mássico quanto energético.
• Reciclar: identificar, buscar alternativas para viabilizar técnica e economica-
mente o tratamento de refugos, perdas em processos, embalagens, transfor-
mando-os em insumos ou novos produtos.
• Outros tratamentos: aplicar técnicas, tais como: compostagem, recuperação,
aproveitamento energético, entre outras admitidas pelos órgãos competentes.
• Disposição final ambientalmente adequada: destinar rejeitos em aterro,
observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos
à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos.

Não geração

Redução
PRIORIDADE

Reutilização

Reciclagem

Tratamento

Rejeito

Figura 1 – META: Resíduo zero

Atualmente, frente a algumas limitações técnico-ambientais e econômicas, a não


geração de resíduos sólidos e em última instância de rejeitos tem sido um desafio
para as organizações, que reconhecem que as perdas de seus processos produtivos
são recursos desperdiçados, que se não inseridos em algum fluxo de materiais,
como indicado pelo WBCSD, representarão também perdas financeiras e mais
uma preocupação com sua disposição ambientalmente adequada até o fim de seu
ciclo de vida.

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Desta forma, inúmeros programas e instrumentos de gestão ambiental são uti-
lizados para que os processos 100% eficientes possam ser atingidos e, se não
atingido, controlado e seus rejeitos gerenciados em acordo com boas práticas e
legislações aplicáveis.

Para que uma organização alcance uma meta de geração de rejeitos nula ou
mesmo que reduza de forma significativa os resíduos sólidos que origina, é impor-
tante que uma avaliação completa de seu processo e atividades de suporte ao mes-
mo seja realizada, para a identificação de oportunidades de melhoria e um novo
projeto de design.
Rejeito Zero significa uma economia 100% eficiente em termos de
recursos, onde, como na natureza, os fluxos de materiais são cíclicos e
tudo é reutilizado ou reciclado sem causar danos de volta à sociedade
ou à natureza. Nesse conceito a palavra “Rejeitos” deixa de existir,
porque tudo será visto como um recurso. (World Business Council for
Sustainable Development-WBCSD, 2002).

Logística Reversa
Conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a logística reversa é um ins-
trumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto
de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos
resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em
outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.

Devemos nos comprometer com o bom caminho, evitando os mesmos erros e


reinventar o que já foi feito.

Avaliação dos Impactos Ambientais


A legislação ambiental disciplina o uso racional dos recursos ambientais e a
preservação da qualidade ambiental. Um de seus instrumentos, o Decreto nº
88.351/83, posteriormente revogado pelo Decreto nº 99.274/90, que regulamen-
tou a Lei nº 6.938/81, vincula a utilização da avaliação de impacto ambiental aos
sistemas de licenciamento dos órgãos estaduais de controle ambiental, para as ati-
vidades poluidoras ou mitigadoras do meio ambiente.
De acordo com a caracterização do empreendimento e do estudo da situação
ambiental das áreas de influência, desenvolveu-se a identificação dos impactos am-
bientais decorrentes das ações de instalação e da operação do empreendimento.
Os impactos ambientais são definidos pela Resolução do Conama nº 001/86
como “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas no meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das ati-
vidades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o
bem-estar da população; às atividades sociais e econômicas; a biota; as condições
estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais”.

15
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UNIDADE Materiais

A Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) assegura uma análise sistemática dos im-
pactos ambientais. Tem por objetivo garantir que responsáveis pela tomada de decisão
apresentem soluções adequadas à população e ao meio ambiente, gerando medidas de
controle e de proteção, medidas mitigadoras e compensatórias, conforme o impacto.

Metodologia
Os métodos ou as técnicas de avaliação dos impactos visam a identificar, avaliar
e sintetizar os efeitos de um determinado projeto ou programa nas áreas de influ-
ência ambiental de um determinado empreendimento.

O diagnóstico ambiental visa a dar uma visão geral dos impactos e de sua carac-
terização, analisando as interações com o ambiente, produzidas pela implantação e
pela operação do empreendimento, geradoras dos impactos ambientais.

Os impactos são categorizados e valorados em classes conceituais, de acordo com


as diretrizes da Resolução Conama no. 001/86 (Ibama 1992), apresentadas a seguir.
Tabela 2
A magnitude é definida pela extensão do efeito daquele tipo de ação sobre a característica ambiental,
Magnitude em escala espacial e temporal. É classificada como alta, média ou baixa.
Significância Indica a importância do impacto no contexto da análise. É classificada como alta, média ou baixa.
Indica se o impacto ambiental é positivo ou negativo, da seguinte forma: impacto positivo (ou benéfico)
- quando a ação resulta na melhoria da qualidade de um fator ou de um parâmetro ambiental;
Natureza impacto negativo (ou adverso) - quando a ação resulta em um dano à qualidade de um fator ou de um
parâmetro ambiental.
Indica se o impacto ambiental é direto ou indireto, da seguinte maneira: impacto direto - resultante
Forma de uma simples relação de causa e efeito; impacto indireto - resultante de uma reação secundária em
relação à ação, ou quando é parte de uma cadeia de reações.
Indica se o impacto ambiental ocorre de forma imediata, de médio ou longo prazo, da seguinte forma:
impacto imediato – quando o impacto ambiental (efeito) ocorre no mesmo momento em que se dá
a atividade transformadora (causa); impacto de médio prazo – quando o impacto ambiental (efeito)
Prazo de ocorrência ocorre em médio prazo, a partir do momento em que se dá a atividade transformadora (causa); impacto
de longo prazo – quando o impacto ambiental (efeito) ocorre em longo prazo, a partir do momento em
que se dá a atividade transformadora (causa).
Indica se o impacto ambiental em questão é temporário, permanente ou cíclico, da seguinte forma:
impacto temporário - quando o efeito (impacto ambiental) tem duração determinada; impacto
Constância/duração permanente - quando, uma vez executada a atividade transformadora, o efeito não cessa de se
manifestar num horizonte temporal conhecido; impacto cíclico – quando o efeito se manifesta em
intervalos de tempo determinados.
Este parâmetro indica se o impacto ambiental é local, regional ou estratégico, segundo as seguintes
definições: impacto local - quando a ação afeta apenas o próprio sítio e suas imediações; impacto
Abrangência regional - quando o impacto se faz sentir além das imediações do sítio onde se dá a ação; impacto
estratégico - quando o componente ambiental afetado tem relevante interesse coletivo ou nacional.
Indica se o impacto ambiental em questão é reversível ou irreversível, seguindo as seguintes definições:
impacto reversível - quando o fator ou o parâmetro ambiental afetado, cessada a ação, retorna às
Reversibilidade suas condições originais; impacto irreversível - quando, uma vez ocorrida a ação, o fator ou parâmetro
ambiental afetado não retorna às suas condições originais em um prazo previsível.
Se houver efeitos cumulativos e/ou sinérgicos, estes serão destacados na descrição do impacto
ambiental, indicando sua magnitude e relações. Seguem as respectivas definições:
Cumulatividade e - Cumulatividade: é quando o impacto deriva da soma de outros impactos ou de cadeias de impacto que
sinergia se somam, porém contíguo, num mesmo sistema ambiental.
- Sinergia: é o efeito ou a força ou a ação resultante da conjunção simultânea de dois ou mais fatores, de
forma que o resultado é superior à ação dos fatores, individualmente, sob as mesmas condições.

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Comunicação
As declarações ambientais apresentam-se como importantes aliadas da comuni-
cação dos valores ambientais de um produto para o consumidor, pois, ao mesmo
tempo em que valorizam o desenvolvimento do setor produtivo, convidam a socie-
dade a repensar seus hábitos de consumo.

Para orientar estas declarações ambientais na embalagem, a ISO 14.020 é um


referencial formal para a indústria brasileira de bens de consumo. Essas normas,
estabelecidas pela International Organization for Standadization (ISO), fazem
parte da série de normas voltadas para a gestão ambiental nas empresas, a ISO
14.001. As ações de rotulagem ambiental, ISO 14.020, visam a criar a consciência
para a importância dos aspectos ambientais de um produto ou serviço e uma
mudança de comportamento do fabricante. Além de descrever os princípios gerais,
a norma ISO regulamenta o uso dos rótulos e das declarações ambientais, definidos
em três tipos:
· Rotulagem Ambiental do Tipo I (ISO 14024), procedimentos de certificação
para a concessão do rótulo;
· Rotulagem do Tipo II (ISO 14021), autodeclarações ambientais;
· Declarações Ambientais do Tipo III (ISO 14025) declaração com Avaliações
de Ciclo de Vida.

Rotulagem ambiental do Tipo I – certificação ambiental - Na definição


da ABNT, rotulagem ambiental é uma certificação que atesta, por meio de uma
marca inserida na embalagem, que determinado produto/serviço apresenta menor
impacto ambiental em relação a outros produtos disponíveis no mercado.

Essa norma estabelece os princípios e os procedimentos para o desenvolvimento


de programas de rotulagem ambiental do Tipo I, incluindo a seleção de categorias
de produtos, critérios ambientais e características funcionais dos produtos, e pa-
râmetros para avaliar e para demonstrar sua conformidade. Essa norma também
estabelece os procedimentos de certificação para a concessão do rótulo.

Rotulagem do Tipo II – autodeclarações ambientais - Essa norma especifica os


requisitos para autodeclarações ambientais no que se refere aos produtos, incluindo
textos, símbolos e gráficos. Além da metodologia de avaliação e de verificação geral
para autodeclarações ambientais e métodos específicos de avaliação e verificação para
as declarações selecionadas na própria norma, ela descreve, também, os termos usados
comumente em declarações ambientais e fornece qualificações para o uso deles.

A autodeclaração ambiental oferece às empresas a flexibilidade e a autonomia de


comunicar sem a necessidade de certificação por terceiros. No entanto, junto a essa
vantagem, vem a responsabilidade de rotular com verdade e respaldo científico,
verificável e acessível a todos. Toda autodeclaração ambiental deve ser verificável,
ou seja, as informações que comprovam sua veracidade devem estar facilmente
acessíveis por qualquer parte interessada.

17
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UNIDADE Materiais

Declarações ambientais do Tipo III – declaração com


Avaliação do Ciclo de Vida
A declaração ambiental do Tipo III exige a avaliação de ciclo de vida segundo as
normas da série ISO 14.040. As declarações ambientais podem assumir a forma de
textos, símbolos ou gráficos impressos no produto ou no rótulo da embalagem ou
em literatura do produto, boletins técnicos, propaganda, publicidade, telemarketing,
bem como na mídia digital ou eletrônica, como a internet.

A Simbologia Técnica de Identificação de Materiais e Rotulagem Ambiental se


diferem quanto à função e ao objetivo, conforme quadro abaixo:

Tabela 3 – Diferenças entre Rotulagem Ambiental e Simbologia Técnica de Identificação de Materiais


Rotulagem Ambiental Simbologia Técnica de Identificação de Materiais
É uma ferramenta de comunicação que objetiva aumentar Parte integrante da Norma no. 14.021 foi criada para
o interesse do consumidor por produtos de menor facilitar a identificação e a separação dos materiais,

×
impacto, possibilitando a melhoria ambiental contínua fortalecendo a cadeia de reciclagem. Todas as embalagens
orientada pelo mercado. Esse tipo de rotulagem agrega um devem conter esta identificação técnica, mesmo que na
diferencial e, por isso mesmo, deve ser usado com ética e prática nem todas sejam enviadas para reciclagem, por não
com transparência para não confundir, iludir e tampouco existirem processos técnicos ou economicamente viáveis na
distorcer conceitos de sustentabilidade. região em que foram descartadas.

A Simbologia Técnica de Identificação de Materiais não é garantia de que o


material será reciclado. Sendo assim, os símbolos devem ser empregados somente
para a denominação do material, evitando-se a inclusão de adjetivos como Reciclá-
vel, pois passaria a configurar rotulagem ambiental. A ausência de simbologia ou
do uso incorreto podem prejudicar o processo de reciclagem de outros materiais e
o desperdício de materiais recicláveis.

Figura 2 – Alguns exemplos de simbologia de identificação de material

Simbologia Técnica de Descarte Seletivo visando a contribuir para a comuni-


cação com o consumidor na orientação sobre o descarte seletivo das embalagens,
em 2009, foi incorporado aos anexos da norma ISO 14.021, o símbolo do Descarte
Seletivo, que pode ser inserido como simbologia técnica acompanhado da simbolo-
gia de identificação de material.

18
Figura 3 – Símbolo do Descarte Seletivo
Fonte: ABRE, 2012

Autodeclaração ambiental com selos de certificação


Os selos de certificação, como o dos produtos orgânicos, são quase sempre apon-
tados como uma solução para a divulgação de aspectos técnicos e complexos em
uma embalagem. Em grande medida porque oferecem uma informação mais segura
e confiável para o consumidor tomar uma decisão de consumo responsável, sem ter
de se tornar um expert em ecologia. Conferida por uma organização certificadora
idônea, após análise rigorosa dos seus aspectos específicos, a imagem de um selo,
com destaque na embalagem de um produto, contribuiria para atender a tendência da
mente humana de buscar o mínimo esforço na hora de juntar informações para uma
tomada de decisão. Funciona também como uma chancela de aprovação.

A assimilação dos dados apresentados nos selos exige tempo, esforço e deman-
da cognitiva. Comunicado de forma rápida e compreensível a uma primeira olhada,
o selo de certificação seria uma espécie de “marca verde”, dispensando o consumi-
dor do trabalho de organizar informações complexas.

Os primeiros selos obrigatórios surgiram na Europa, nos anos 1940, com caráter
de advertência. Eles tinham a função de destacar a presença de substâncias quími-
cas potencialmente danosas à saúde do consumidor. Atualmente, os selos também
têm a função de enfatizar questões específicas como a pegada de carbono, os ali-
mentos orgânicos, a presença de transgênicos e o comércio justo.

Figura 4 – Selos de pegadas de carbono, transgênicos e o comércio justo

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19
UNIDADE Materiais

Os selos podem ser divididos em atributos simples ou múltiplos. Os selos com


atributos simples são aqueles que evidenciam uma característica ambiental do pro-
duto de forma individualizada. Um bom exemplo é o das embalagens que utilizam
parte de recursos reciclados em sua composição e declaram isso no rótulo.

Figura 5 – Exemplos de posições do valor percentual quando se utiliza o Ciclo de Möbius


para fazer declarações sobre conteúdo mínimo de material reciclado na composição
Fonte: ISO 14021, 1999

Selos com atributos múltiplos


Diferente dos selos com atributos simples, os atributos múltiplos buscam esta-
belecer uma visão mais integral do impacto gerado por produtos, como: eficiência
energética, conservação, emissão de gases de efeito estufa, otimização no uso de
recursos, destinação final, entre outros. A gradação atribuída pela certificadora leva
em conta uma média geral dos critérios para atribuir ou não o selo ao produto. As
críticas a esse tipo de selo normalmente fazem menção à pouca precisão do pro-
cesso em virtude de trabalhar com médias ponderadas.

Em comum, esses selos são independentes, possuem critérios rígidos e avaliações


contínuas. Todos desfrutam de alta credibilidade e representam um guia seguro
para os consumidores, não sofrendo os efeitos da desconfiança que costuma recair
sobre os selos autorreguladores, adotados sem verificação externa, por empresas
ou segmentos empresariais. Para assegurarem o direito de seus consumidores
a produtos ambientalmente responsáveis, os países promotores desses selos
passaram a exigir também o mesmo compromisso dos produtos importados como
contrapartida em acordos de comércio internacional. A seguir, alguns exemplos de
selos de atributos múltiplos.

Figura 6 – Selos de certificação ambiental

20
Sua metodologia se apoia na Análise do Ciclo de Vida (ACV), contemplando
os seguintes elementos: extração e processamento de matéria-prima, fabricação,
transporte e distribuição, usos do produto, reutilização, manutenção, reciclagem,
descarte final, ingredientes ou restrições a materiais utilizados e desempenho am-
biental do processo de produção.

A evolução no uso de certificações pode e deve ser vista como um passo im-
portante na busca por processos industriais mais sustentáveis. Se usadas com se-
riedade, representam uma oportunidade real de engajamento do setor privado na
solução de problemas ambientais em escala apropriada, além de um instrumento
tangível de medição de impacto.

Para comunicar, com legitimidade, ações ambientais das empresas, os selos de


certificação fornecem pistas cognitivamente mais eficazes para os consumidores
que dificilmente seriam capazes de identificar as informações por outros meios.

A multiplicidade de selos pode gerar uma preocupação sobre a seriedade das


certificadoras e a real impressão de que muitas querem apenas passar a imagem
de sustentável, não por crença no processo de mudança, mas apenas como uma
oportunidade de negócio.

Algumas empresas usam artifícios enganosos e declarações vagas para atrair


consumidores. Uma forma comum de declaração vaga é a autodeclaração am-
biental sem embasamento técnico ou científico que rotula o produto ou a emba-
lagem como ambientalmente benéfico ou benigno. Autodeclarações ambientais
como “ambientalmente seguro”, “amigo do meio ambiente”, “amigo da Terra”,
“não poluente”, “verde”, “amigo da natureza”, “amigo da camada de ozônio” não
devem ser utilizadas. As declarações vagas estão em todos os lugares e o ato de
induzir o consumidor ao erro, quanto às práticas ambientais de uma empresa ou os
benefícios ambientais de um produto ou serviço são denominados greenwashing.

Greenwashing é o termo para designar um procedimento de marketing utilizado por uma


Explor

organização com o objetivo de prover uma imagem ecologicamente responsável dos seus
produtos ou serviços. Com o objetivo de descrever, de entender e de quantificar o crescimento
do greenwashing no mercado, a consultora de marketing ambiental canadense TerraChoice
desenvolveu uma metodologia de pesquisa em que, através dos padrões observados, classificou
tais apelos falsos ou duvidosos em sete categorias, chamadas de The seven sins of greenwashing:
custo ambiental camuflado; falta de prova; incerteza; culto a falsos rótulos; irrelevância; do
“menos pior”; e mentira (TERRACHOICE, 2010).

Sem dúvida alguma, o fator mais importante no processo de escolha de uma


certificação está no motivo que ampara a decisão. Se o vetor é simplesmente
conquistar o consumidor, a falta de cuidado com os processos em algum momento
vai gerar ruído e colocar a reputação da marca em jogo. Se, do contrário, a intenção
for a busca genuína pela sustentabilidade, com a devida atenção à complexidade,
os elementos se combinarão naturalmente e levarão a empresa ao lugar ideal.

21
21
UNIDADE Materiais

Segundo Dougherty (2011), o melhor antídoto contra o greenwashing é a trans-


parência. A sustentabilidade não é uma noção vaga e maleável, ela é específica
e mensurável. A transparência ajuda os designers a elaborarem mensagens de
significado verdadeiro e os coloca no papel de agente de mudança. Os designers
ajudam a simplificar, a esclarecer questões complexas e a educar o público sobre
o caminho no qual as empresas estão. Assim, pode-se ajudar a construir histórias
convincentes, a partir dos planos e do verdadeiro desempenho das empresas.

Se as ações de uma empresa contradizem os valores que elas promovem, a


marca é afetada. O desenvolvimento da marca ecológica deixa as empresas sujeitas
a acusações de greenwashing, se elas promovem demais e atuam de menos.

Os designers podem ter um importante papel como mediador na prevenção


do greenwashing, podendo agir como gestores da marca e chamando a atenção
para as contradições antes que as críticas e as notícias nocivas sejam publicadas
(DOUGHERTY, 2011).

Desmaterialização
Manzini em seu livro “O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos
ambientais dos produtos industriais” (Edusp/2002) traz a abordagem do conceito
de ecodesign que estava centrada no ciclo de vida de um produto (como reduzir
gastos com matéria-prima, energia e lixo, desde o nascimento até o descarte de
um artefato).

A desmaterialização tem por objetivo principal descasar o crescimento econômi-


co da exploração de matérias-primas, tornando-se menos dependente. A desma-
terialização se torna ainda mais necessária em empresas que já se enquadram na
evolução dos critérios de poder atual, baseados em valores cada vez mais imateriais
e intangíveis.

O produto desmaterializado cede espaço a contextos de bem-estar e qualidade


de vida, desligados da necessidade de compra e de consumo.

O produto sustentável deve ainda ser produzido de maneira menos agressiva ao


meio ambiente, economizando matéria-prima e energia. Mas, por outro lado, a
fabricação de novos artefatos, mesmo que eficientes, traz consigo um efeito cola-
teral: ela não desacelera a produção e o consumo. Portanto, devemos apostar em
outra alternativa: no bem-estar baseado em contextos e não em produtos que nos
conduzem à almejada qualidade de vida.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Associação Brasileira de Normas Técnicas
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
https://goo.gl/htTbjH
Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólido
Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólido (Sinir)
https://goo.gl/G7w6K3
Materiotecas
https://goo.gl/oUeYGe
https://goo.gl/419Ps7
https://goo.gl/VKDdsj

23
23
UNIDADE Materiais

Referências
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ISO/TR 14062:
Gestão ambiental: integração de aspectos ambientais no projeto e no desenvolvi-
mento do produto. Rio de Janeiro, 2004.

________. NBR 13230: Embalagens e acondicionamentos plásticos reciclá-


veis: identificação e simbologia. Rio de Janeiro, 2008.

________. NBR ISO 14020: Rótulos e declarações ambientais: princípios ge-


rais. Rio de Janeiro, 2002.

________. NBR ISO 14021. Rótulos e declarações ambientais: autodeclarações


ambientais: rotulagem do tipo II. Rio de Janeiro, 2004.

________. NBR ISO 14024. Rótulos e declarações ambientais: rotulagem am-


biental do tipo l: princípios e procedimentos. Rio de Janeiro, 2004.

________. NBR ISO 14040. Gestão ambiental: avaliação do ciclo de vida: princí-
pios e estrutura. Rio de Janeiro, 2009.

________. NBR ISO 26000. Diretrizes sobre responsabilidade social. Rio de


Janeiro, 2010.

________. Rótulo ambiental. Disponível em: <http://www.abntonline.com.br/


sustentabilidade/Rotulo/Default>. Acesso em: 31 out. 2012.

ABRE – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMBALAGEM. Diretrizes de rotulagem


ambiental para embalagens: autodeclarações ambientais: rotulagem do tipo II.
2. ed. São Paulo, 2012. Disponível em: <http://www.abre.org.br/comitesdetraba-
lho/meio-ambiente-e-sustentabilidade/cartilhas/>. Acesso em: 29 set. 2012.

ASHBY, M.; JOHNSON, K. Materiais e design: arte e ciência da seleção de ma-


teriais no design de produto. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional


de Resíduos Sólidos. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 14 out. 2012.

DOUGHERTY, B. Design gráfico sustentável. São Paulo: Edições Rosari, 2011.

ECO MARK PROGRAM. Associação ambiental japonesa. Disponível em:


<http://www.ecomark.jp/english/>. Acesso em: 3 nov. 2012.

ECOLABEL. The EU Ecolabel. Disponível em: <ec.europa.eu/environment/eco-


label/>. Acesso em: 3 nov. 2012.

ECOLOGO PROGRAM. Disponível em: <http://www.ecologo.org/en/>. Acesso


em: 3 nov. 2012.

24
IDEC. O lado escuro do papel. Revista do IDEC, São Paulo, v. 1, ed. 77, mai.
2004. Disponível na internet em: <http://www.idec.org.br/uploads/revistas_ma-
terias/pdfs/2004-04-ed77-servico-ambiente.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2018.

KAZAZIAN, T. Haverá a idade das coisas leves: design e desenvolvimento sus-


tentável. São Paulo: Editora SENAC, 2005.

MANZINI, E.; VEZZOLI, C. O desenvolvimento de produtos sustentáveis. São


Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.

Napolitana, A. (org.). Embalagens: design, materiais, processos, máquinas e sus-


tentabilidade. Barueri: Instituto de Embalagens, 2011.

TWEDE, D.; GODDARD, R. Materiais para embalagens. São Paulo: Blucher, 2009.

25
25
Design Sustentável e
Responsabilidade Social
Material Teórico
Responsabilidade Social

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Elisa Jorge Quartim Barbosa

Revisão Textual:
Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento
Responsabilidade Social

• A Ética no Projeto;
• O Papel Social do Designer;
• Aprender com Outras Culturas;
• Multidisciplinaridade;
• Inclusão Social;
• Comércio justo;
• Colaboração;
• Conclusão .

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conscientizar o profissional sobre o seu papel social na no mundo
através de seus projetos. Promover o Design inclusivo e projetos
mais colaborativos.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Responsabilidade Social

A Ética no Projeto
A definição do que é a ética surgiu no início da Grécia antiga, basicamente é o que
determina modo de ser, de agir e costumes. É a parte da filosofia que estuda racional-
mente se a moral é injusta ou justa, esses termos viraram sinônimo de comportamento.

Segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss, ética é: parte da filosofia responsável pela inves-
Explor

tigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplina ou orientam o comportamento


humano, refletindo especialmente a respeito da essência das normas, valores, prescrições e
exortações presentes em qualquer realidade social.

Dentro da vida profissional, as organizações específicas de cada área determi-


nam bases para seus procedimentos éticos. A última versão do Código de Ética
Internacional de Designers foi publicada em 2001, conjuntamente pelo Internatio-
nal Council of Societies of Industrial Design /ICSID, o International Council of
Associations of Graphic Design / ICOGRADA e o International Federation of
Interior Designers / IFI.

O objetivo do Código é definir os princípios de uma base internacional de pa-


drões éticos relacionados à prática do design e aceitos por todos os membros das
associações internacionais ICOGRADA, ICSID e IFI.

Segundo esse documento, o designer deve, com a sua atividade, suprir necessi-
dades humanas por meio de sua competência, da sua criatividade, do seu método;
deve ser sensível às prioridades sociais e culturais; deve conhecer as tendências cor-
rentes e a multiplicidade de parâmetros que as rege; deve consolidar os princípios
que regem a sua atuação profissional. Para isso, o design se constitui coletivamente
pela contribuição de cada profissional.

São os seguintes âmbitos tratados nesse Código de Ética:


• a responsabilidade do Designer em relação ao cliente;
• a responsabilidade do designer em relação ao usuário;
• a responsabilidade do designer em relação ao ecossistema da Terra;
• a responsabilidade do designer em relação à identidade cultural;
• a responsabilidade do designer em relação à profissão em si.

Cada um desses tópicos suscita uma série de debates que devem ser coletivamente
aprofundados para levarem a posicionamentos efetivos e consistentes. É imperativo
que sejam retomadas e ampliadas as discussões sobre as regras que pautam

8
as relações humanas envolvidas no processo de design, seja elas no plano das
relações de trabalho, de desenvolvimento de projeto, de uso e de pós-uso. Já têm
se destacado os balizamentos legais em relação à preservação do meio ambiente.

O Papel Social do Designer


O papel social é um conjunto de direitos e deveres relativo à função social que
se espera de um indivíduo exercer dentro de determinada posição social. Ela está
relacionada a categorias sociais que podem ser determinadas por diferentes recor-
tes: família, linhagem, raça, religião, ocupação profissional etc. Portanto, uma ca-
tegoria profissional é uma categoria social, fruto de uma divisão social do trabalho.
Na divisão do trabalho, há um papel social a ser desempenhado de conhecimento
e às suas competências específicas.

Todo profissional consciente de seu papel e ao exercê-lo de maneira ética e


de modo eficaz contribui para que a sociedade de que faz parte se desenvolva em
harmonia. E para que o exercício desse papel seja profícuo para si como cidadão e
para os demais membros de sua sociedade, há a necessidade de consciência sobre
o lugar que a sua profissão e a sua categoria profissional ocupam nessa sociedade,
de modo que suas competências específicas possam ser usadas para tal finalidade.

O trabalho de designer é identificar, valorizar e respeitar sua biodiversidade e seu


ritmo. Está aqui o exercício profissional, provavelmente o desafio maior: conhecer,
entender e criar soluções reais que beneficiem a vida comunitária.

A inteligência dos produtos e serviços não está somente na tecnologia utilizada, e sim
Explor

em entender os complexos sistemas de como a nossa sociedade funciona, dos meios de


transportes e comunicação ao abastecimento de alimentos nas grandes cidades.
Deve, principalmente, privilegiar as pessoas, antes de qualquer recurso tecnológico de
última geração, nas decisões de design. Pense mais em serviços e infraestrutura e menos
em produtos físicos.
John Thackara - “Plano B – O Design e as Alternativas Viáveis em um Mundo Complexo”

O designer pode, de fato, promover uma revolução social, transformando a sociedade?

A sustentabilidade é uma revolução. O designer será mais um ator dentro desse


grande plano, conduzindo a sociedade na direção correta, no seu papel de facilitar
as inovações sociais.

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UNIDADE Responsabilidade Social

Aprender com Outras Culturas


A Valorização dos recursos naturais, da cultura e das técnicas artesanais de cada
região, devem ser empregadas com um mínimo necessário de recursos tecnológicos
para fazer a ponte com novos mercados consumidores.

Nesse aspecto, alguns dos pontos mais importantes são o reconhecimento, a


qualificação e a valorização do saber tradicional, para chegar assim a um preço justo
ao consumidor e a uma remuneração justa da comunidade, bem como do próprio
designer. Levar em conta os impactos sociais, econômicos e culturais dessa ação.

Conjunto de ações leva ao desenvolvimento de projetos dinâmicos e flexíveis, em


que a intuição e o respeito devem ser uma constante de peso, pois são características
ainda muito vivas e necessárias nas próprias comunidades.

O saber tradicional é uma das grandes riquezas de todos os povos – transmitido


de pai para filho ou de avô para neto, ainda é muito vivo nas comunidades
brasileiras fora do âmbito urbano. Esse saber, rico e completo, possibilitou, de fato, a
autossustentabilidade das nações indígenas durante milênios. Hoje, as comunidades
tradicionais têm um grande desafio: viver com o resultado da comercialização de
seus produtos dentro do mercado consumidor globalizado.

A realidade socioambiental e as últimas transformações sociais e econômicas no


Brasil constatam a falta de equilíbrio e a injustiça em que vive o povo de modo geral.

Nesse contexto, o design apresenta-se como um fator estratégico de mercado e


como um diferencial decisivo para artesãos e para comunidades com interesse no
nicho do comércio ético e solidário, seja nacional, seja internacional. O design tem
um importante papel no planejamento de um futuro responsável e comprometido
com o meio ambiente e com a sociedade, caso suas ambições se alinhem com
conceitos sustentáveis. O design surge, então, como uma ferramenta indispensável
para melhorar o propósito do produto, a sua estratégia de venda e o sistema
em que se insere. Assim, considerar não só aspectos econômicos e estéticos de
cada produto é o que podemos elencar como características diferenciais do design
sustentável, mas, também, aspectos ambientais e sociais.

Os designers não estão acostumados ao trabalho com comunidades, que vem


sendo uma nova alternativa para a profissão, mas difere radicalmente dos requisitos
das empresas e das indústrias. O designer deve ver as comunidades, ou as ONGs,
como clientes a serem respeitados e desenvolver uma metodologia específica que
cumpra sua função e seus objetivos, além de ir ao encontro de necessidades e de
desejos das comunidades.

Um dos caminhos para esse trabalho é a valorização dos recursos naturais, da


cultura e das técnicas artesanais de cada região, empregando um mínimo necessário
de recursos tecnológicos para fazer a ponte com novos mercados consumidores,
lembrando sempre que o objetivo é divulgar e fortalecer o mercado de produtos
comunitários e não assinar produtos inovadores. Nesse aspecto, alguns dos pontos

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mais importantes são o reconhecimento, a qualificação e a valorização do saber
tradicional, para chegar assim a um preço justo ao consumidor e a uma remuneração
justa da comunidade, bem como do próprio designer.

Multidisciplinaridade
As etapas para o desenvolvimento de produtos digitais de qualidade demandam
conhecimentos de diversas áreas para serem realizadas. A razão para tal é que
projetos desta natureza podem ser altamente complexos e exigem fases bastante
diversificadas, como a elaboração do conceito do projeto e funcionalidades do
produto, a arquitetura da informação, design visual, de interação e experiência,
além das fases de programação e gestão de projetos de produtos.

A formação de um bom designer deve acima de tudo estar atualizado nas mais
diversas áreas de conhecimentos e das áreas técnicas e humanas. As bases do
design envolvem tanto inovações tecnológicas como a integração de disciplinas
estabelecidas pelas áreas humanas.

Não basta estar atualizado com a última versão do software de computação


gráfica, deve haver uma aproximação entre as pessoas envolvidas em um projeto e
o acesso a essas inovações técnicas.

A inovação técnica não necessariamente está na área de informática, cada vez


mais busca-se o regate das tecnologias antigas e mais mecânicas, processos mais
manuais, aproveitando conhecimentos básicos como do artesanato, de tecnologias
tradicionais de construção e prototipagem manual. O projeto começa acima de
tudo no papel e na interação entre as pessoas, onde será possível iniciar um projeto
multidisciplinar e integrador.

Uma equipe multidisciplinar é essencial para o sucesso de um projeto composto


por indivíduos com diferentes habilidades relevantes para o desenvolvimento do
projeto, em que o cliente ou usuário final também tem participação nas etapas
iniciais de um projeto.

Inclusão Social
Infelizmente, uma pequena parte dos projetos desenvolvidos pelos designers é
para uma população com condições econômicas melhores que a grande maioria. A
base do design é resolver problemas desenvolvendo produtos e serviços para todos,
e não apenas um diferencial estético.

Com base na percepção dessa diferença de acesso à produtos com design, o


museu National Design Museum Cooper – Hewitt promoveu a Exposição Design
para os outros 90%, onde divulgaram projetos feitos especialmente para uma parte

11
11
UNIDADE Responsabilidade Social

da população mundial que raramente é atendida. A Exposição reuniu mais de trinta


projetos que refletem o crescente movimento entre os projetistas para conceber
soluções de baixo custo para os outros 90%.

Design para a sustentabilidade pode ser


modelo de negócios inclusivo, estimulan-
do o desenvolvimento local e projetando
as características da cultura no mercado
globalizado. Gera empregos nos locais em
que atua, onde dezenas de trabalhadores
com carteira assinada trabalham em di-
versas áreas, desde o artesanato até áreas
mais tecnológicas.

Para que ocorra com mais eficiência a


inclusão social desses indivíduos que estão
a parte da sociedade com maio poder aqui-
sitivo, é necessário se pensar o projeto de
maneira mais empática, se colocando na
posição do outro que é a base para o de-
sign centrado no usuário, principalmente Figura 1
pensando em todas as pessoas envolvidas. Fonte: parsons.edu

Importante! Importante!

Design centrado no usuário


Bases para o design empático
1. Observação do usuário.
Observar sem interferir, de preferência à distancia, sem contato, para não interferir nos dados.
2. Captura de dados por instrumentos visuais, auditivos e sensoriais.
Após uma apresentação prévia, podem ser feitos registros como fotografias, vídeos,
entrevistas e observações do local de forma mais próxima.
3. Análise dos dados.
Após a observação e captura dos dados, é necessário fazer uma análise do que foi visto,
de forma organizada e criteriosa.
4. Brainstorming.
Brainstorm é uma técnica desenvolvida para explorar a potencialidade criativa de um
indivíduo ou de um grupo, colocando-a a serviço de objetivos pré-determinados. Ela
propõe que o grupo se reúna e utilize a diversidade de pensamentos e experiências para
gerar soluções inovadoras, sugerindo qualquer pensamento ou ideia que vier à mente a
respeito do tema tratado. Com isso, espera-se reunir o maior número possível de ideias,
visões, propostas e possibilidades que levem a um denominador comum e eficaz para
solucionar problemas e entraves que impedem um projeto de seguir adiante.
5. Desenvolvimento de protótipos de possíveis soluções.
Com base no Brainstorming, chega o momento inicial da materialização do projeto, com
o objetivo principal de testar opções para no final chegar ao desenvolvimento de fato.

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Um projeto justo é feito por pessoas para pessoas. Não estamos sozinhos no
mundo, precisamos da ajuda mútua e estar aberto a experiências e vivências de
pessoas com culturas diferentes e que possam ajudar no caminho da sustentabilidade
e inovação.

Comércio justo
Um projeto feito com comunidades apenas é efetivo se incluir economicamente
grupos de trabalhos que muitas vezes tem o conhecimento técnico mais não o valo-
riza, ficando dependente de atravessadores que vendem seus trabalhos e produtos
por um preço muito abaixo do que seria justo.

O sistema do comércio justo é fundamentado no relacionamento e parceria en-


tre compradores do mercado global e produtores, particularmente de empresas de
pequeno porte, em busca de preços mais justas para seus produtos, investimentos
em comunidades e em identidade cultural, sustentabilidade socioambiental e condi-
ções de trabalho mais adequadas.

O Fair Trade (Comércio Justo) contribui para o desenvolvimento sustentável ao


proporcionar melhores condições de troca e a garantia dos direitos para produtores
e trabalhadores marginalizados. É uma alternativa concreta e viável frente ao
sistema tradicional de comércio.

A International Federation of Alternative Trade (Federação Internacional de


Comércio Alternativo) define o Comércio Justo (Fair Trade, em inglês) como uma
parceria comercial, baseada em diálogo, transparência e respeito, que busca maior
equidade no comércio internacional, contribuindo para o desenvolvimento sustentá-
vel por meio de melhores condições de troca e garantia dos direitos para produtores
e trabalhadores à margem do mercado, principalmente no Hemisfério Sul.

Princípios de Fair Trade


Os princípios que devem reger uma relação comercial considerada justa são:
1. Transparência e corresponsabilidade na gestão da cadeia produtiva e comercial;
2. Relação de longo prazo que ofereça treinamento e apoio aos produtores
e acesso às informações do mercado;
3. Pagamento de preço justo no recebimento do produto, além de um bônus
que deve beneficiar toda a comunidade, e de financiamento da produção ou
do plantio, ou a antecipação do pagamento da safra, quando necessário;
4. Organização democrática dos produtores em cooperativas ou associações;
5. Respeito à legislação e às normas (por exemplo, trabalhistas) nacionais e
internacionais;

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13
UNIDADE Responsabilidade Social

6. O ambiente de trabalho deve ser seguro e as crianças devem frequentar


a escola;
7. O meio ambiente deve ser respeitado.

Produtos certificados – Selo Fair Trade


Os principais personagens do Comércio Justo no
mercado internacional são os produtores, os impor-
tadores, os licenciados e as world shops, sendo que
os importadores não cuidam somente da importação
e da distribuição dos produtos para as world shops –
muitos mantêm lojas próprias ou sites e ajudam ativa-
mente a promover todo o movimento.

Figura 2 – Selo da Fairtrade Labelling Os licenciados são empresas que têm o direito de
Organizations International (FLO) usar o selo de Fair Trade mediante o pagamento de
Fonte: Wikimedia Commons licenças, concedidas pelas iniciativas nacionais (movi-
mentos organizados que mantêm entidades de certificação e promovem as empre-
sas e produtos) ou pela Fairtrade Labelling Organizations International (FLO).

As empresas podem ser especializadas em Comércio Justo ou atuar no co-


mércio tradicional com marcas convencionais, incorporando itens com o selo de
Comércio Justo a suas linhas. O licenciado também dá apoio de marketing às lojas
e paga o importador.

Colaboração
As etapas iniciais de um processo de solução influenciam de forma crucial o
sucesso e a direção no desenvolvimento de um produto. A compreensão dos pro-
blemas enfrentados pelos usuários e seus casos de uso são de extrema importância
para aqueles que buscam criar soluções de alto nível.

Uma das atribuições de um Designer é a de clarificar para sua equipe ao máximo


os problemas enfrentados pelos usuários, a fim de que juntos possam realmente en-
tender suas reais necessidades e desenvolverem soluções mais assertivas e eficazes.

Dentro de um sistema colaborativo de criação, as pessoas geram ideias


esboçando seus conceitos. Um grupo se reúne para mostrar e criticar esboços de
outras pessoas.

Com base nos comentários do grupo, os conceitos ficam mais refinados.

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Como aplicar o Codesign
Antes de iniciar a dinâmica, o designer deve levantar as hipóteses ou fatos que
mostrem os problemas e dores dos usuários, deixando claro para a equipe qual é o
problema que deve ser solucionado.

Com a priorização do problema em mãos, garanta um espaço onde a equipe


possa se concentrar para criar conceitos sem interrupções e inicie a dinâmica na
seguinte ordem: criar > apresentar > criticar.

Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images

Todos participam colaborando com ideias, podendo inclusive o cliente ser


chamado nessa etapa. Um projeto onde todos participam tem uma alta probabilidade
de aceitação, em que todos sentem a sua participação e se sentem como coautores.

Design comunitário
Esse método também é muito bom quando se busca trabalhar em alguma
comunidade mais pobre, geralmente distantes do acesso ao conhecimento mais
básico de projeto.

O saber tradicional é uma das grandes riquezas de todos os povos – transmitido


de pai para filho ou de avô para neto, ainda é muito vivo nas comunidades brasileiras
fora do âmbito urbano. Esse saber possibilita a auto sustentabilidade das comunida-
des. Hoje, as comunidades tradicionais têm um grande desafio: viver com o resultado
da comercialização de seus produtos dentro do mercado consumidor globalizado.

A participação nesse mercado gera novas possibilidades para as comunidades:


desde vender os seus produtos tradicionais, voltados apenas para o mercado local,
até desenvolver novos produtos, dirigidos, desta feita, para um público específico. A
nova realidade, que determina a incorporação de conceitos e de estéticas externas,
exige a realização de parcerias e de trocas de experiências não predatórias, sob
pena do extermínio do saber.

15
15
UNIDADE Responsabilidade Social

Para que continuem a viver em um sistema sustentável, um dos elementos


de importância extrema é o cuidado com o equilíbrio a ser mantido dentro das
experiências de troca. Sem perder o foco sobre a viabilidade econômica, é preciso
que os agentes externos entendam que o processo de comércio deve respeitar o
ritmo interno das comunidades envolvidas.

O principal objetivo é torná-las independentes dentro dos princípios da sustenta-


bilidade socioambiental, resultando em geração de renda, ao mesmo tempo em que
perpetuam seu saber tradicional, seu modo de vida, permanecendo em seus territó-
rios, defendendo o seu ambiente e respeitando sua identidade e suas tradições.

O design industrial, como o conhecemos hoje, tem a inovação como um dos


seus valores principais. Levar essa perspectiva para as comunidades interessadas no
mercado ético e solidário exige do designer novas qualidades e maiores cuidados.

Quanto menos intervir sobre a produção já existente, melhor o resultado – o


produto terá maior qualidade estética e maior interesse cultural. Essa maneira de
aproximação, sem dúvida, permitirá que a comunidade com a qual o designer está
envolvido retome sua autonomia, condição básica para a autossustentabilidade.

Conclusão
Os valores apresentados ao longo das unidades deste curso apresentam princípios
para um bom design. O conceito do que é um bom design pode ser interpretado
de várias formas, dependendo do tipo de interesse de que o propaga, mas vimos
que os aspectos sociais e ambientais são primordiais para o sucesso pleno de um
projeto. A abordagem ampla e multidisciplinar de um problema é o ideal. Não
devemos nos limitar ao que o mercado já tem, mas ir além dele, nos envolvendo de
forma profunda, porém realista.

Dieter Rams, já em 1970, introduziu a ideia de desenvolvimento sustentável em


seus “Dez Princípios do Bom Design” onde defende a simplicidade, a honestidade
e a contenção, e aplica-se ainda hoje à teoria e prática do design.

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Em Síntese Importante!

Dez Princípios do Bom Design, de Dieter Rams


O bom design:
• É inovador – As possibilidades de evolução não estão, de forma alguma, esgotadas. O
desenvolvimento tecnológico sempre oferece novas oportunidades de designs originais.
Mas o design imaginativo sempre se desenvolve em paralelo com a avanços tecnológicos,
nunca pode ser um fim por sim próprio.
• Faz um produto ser útil – Um produto é comprado para ser usado. Ele tem que
satisfazer não apenas o critério funcional, mas também o psicológico e estético. Um bom
design enfatiza a utilidade de um produto, enquanto exclui qualquer coisa que poderia
prejudicá-la.
• É estético – A qualidade estética de um produto integra a sua utilidade porque
produtos são usados todos os dias e têm um efeito nas pessoas e seu bem estar. Apenas
objetos bem executados podem ser bonitos.
• Ajuda a entender o produto – Ele esclarece a estrutura do produto. Melhor que isso,
ele pode fazer com que o produto expresse claramente sua função, fazendo uso da
intuição do usuário. No melhor dos casos, ele é autoexplicativo.
• É discreto – Produtos que atendem a um propósito são como ferramentas. Eles não
são objetos decorativos e nem obras de arte. Seu design deve, desta forma, ser neutro e
contido, deixando espaço para a expressão do usuário.
• É honesto – Ele não faz um produto parecer mais inovador, poderoso ou valioso do que
ele realmente é. Ele não tenta manipular o consumidor com promessas que não serão
cumpridas.
• É durável – Ele evita estar na moda e assim nunca parece antiquado. Diferente de um
design da moda, ele dura muitos anos – mesmo na sociedade descartável atual.
• É meticuloso – Nada deve ser arbitrário ou ao acaso. Cuidado e precisão no processo
de design demonstram respeito com o consumidor.
• É ambientalmente correto – O design tem uma importante contribuição com a
preservação do meio ambiente. Ele economiza recursos e minimiza a poluição física e
visual ao longo do ciclo de vida do produto.
• É o menos design possível – Menos, porém melhor – porque ele se concentra nos
aspectos essenciais e os produtos não são carregados com detalhes não essenciais.
Retorno à pureza, retorno à simplicidade.

Os designers como profissionais podem sim impactar o mundo tanto de maneira


negativa como positiva, onde cada escolha é importante e deve se analisada.
Explor

Qual é o legado que quero deixar para o mundo como profissional?

“O design se tornou a ferramenta mais poderosa com a qual o homem


molda suas ferramentas e ambientes (e, por extensão, a sociedade e a si
mesmo)” (Papanek,1970).

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UNIDADE Responsabilidade Social

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Sites
Design Other 90 Network
Catálogo da exposição “Design With The Other 90 Percent: Cities” (Design para
os outros 90 por cento: cidades organizadas pelo Cooper-Hewitt National Design
Museum em Nova York.
https://goo.gl/r1DuR5

 Vídeos
Projeto Design Possível
https://youtu.be/MacvEd-km3Q
Processo Criativo - Design Thinking
https://youtu.be/Bwjwb5aIcZ8

 Leitura
Artigo Design e Ética da Profa. Dra. Cyntia Malaguti e alunos
https://goo.gl/W2cgMd

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Referências
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO
26000. Diretrizes sobre responsabilidade social. Rio de Janeiro, 2010.

ABRE. Associação Brasileira de Embalagem. Código de Ética de Design. Disponível


em: < http://www.abre.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo_etica.pdf>
Acesso em: 06/04/2018.

ADG Brasil. Associação dos Designers Gráficos. Código de Ética Profissional


do Designer Gráfico. Disponível em: < http://www.adg.org.br/v1/wp-content/
uploads/2014/06/ADGBrasil_CodigoEtica.pdf> Acesso em: 06/04/2018.

ADP ASSOCIAÇÃO DOS DESIGNERS DE PRODUTO. Código de Ética da


Associação de Designers de Produto. Disponível em: <http://turmadod.
com/alunos/downloads/4s2010_2/etica_legislacao/Codigo_de_Etica_Design_
Produto.pdf> Acesso em: 06/04/2018.

BRAGA, Marcos. O papel social do design gráfico: história, conceitos & atuação
profissional. São Paulo: Editora SENAC, 2011.

BORGES, Adélia. Designer não é personal trainer. São Paulo: Ed. Rosari. 2009

ESCOREL, Ana Luisa. O efeito multiplicador do design. São Paulo: Ed. Senca.

PAPANEK, V. Arquitetura e design: ecologia e ética. Lisboa: Edições 70, 1995.

______. Design for the real world: human ecology and social change. London:
Thames & Hudson, 1985.

SEBRAE. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/> Acesso em:


06/04/2018.

MORAES, Dijon de. Metaprojeto: o design do design. São Paulo: Blucher, 2010;

Thackara, John. Plano B – O Design e as Alternativas Viáveis em um Mundo


Complexo. São Paulo: Saraiva, 2008.

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