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Design Sustentável e

Responsabilidade Social
Material Teórico
Responsabilidade Social

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Elisa Jorge Quartim Barbosa

Revisão Textual:
Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento
Responsabilidade Social

• A Ética no Projeto;
• O Papel Social do Designer;
• Aprender com Outras Culturas;
• Multidisciplinaridade;
• Inclusão Social;
• Comércio justo;
• Colaboração;
• Conclusão .

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conscientizar o profissional sobre o seu papel social na no mundo
através de seus projetos. Promover o Design inclusivo e projetos
mais colaborativos.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Responsabilidade Social

A Ética no Projeto
A definição do que é a ética surgiu no início da Grécia antiga, basicamente é o que
determina modo de ser, de agir e costumes. É a parte da filosofia que estuda racional-
mente se a moral é injusta ou justa, esses termos viraram sinônimo de comportamento.

Segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss, ética é: parte da filosofia responsável pela inves-
Explor

tigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplina ou orientam o comportamento


humano, refletindo especialmente a respeito da essência das normas, valores, prescrições e
exortações presentes em qualquer realidade social.

Dentro da vida profissional, as organizações específicas de cada área determi-


nam bases para seus procedimentos éticos. A última versão do Código de Ética
Internacional de Designers foi publicada em 2001, conjuntamente pelo Internatio-
nal Council of Societies of Industrial Design /ICSID, o International Council of
Associations of Graphic Design / ICOGRADA e o International Federation of
Interior Designers / IFI.

O objetivo do Código é definir os princípios de uma base internacional de pa-


drões éticos relacionados à prática do design e aceitos por todos os membros das
associações internacionais ICOGRADA, ICSID e IFI.

Segundo esse documento, o designer deve, com a sua atividade, suprir necessi-
dades humanas por meio de sua competência, da sua criatividade, do seu método;
deve ser sensível às prioridades sociais e culturais; deve conhecer as tendências cor-
rentes e a multiplicidade de parâmetros que as rege; deve consolidar os princípios
que regem a sua atuação profissional. Para isso, o design se constitui coletivamente
pela contribuição de cada profissional.

São os seguintes âmbitos tratados nesse Código de Ética:


• a responsabilidade do Designer em relação ao cliente;
• a responsabilidade do designer em relação ao usuário;
• a responsabilidade do designer em relação ao ecossistema da Terra;
• a responsabilidade do designer em relação à identidade cultural;
• a responsabilidade do designer em relação à profissão em si.

Cada um desses tópicos suscita uma série de debates que devem ser coletivamente
aprofundados para levarem a posicionamentos efetivos e consistentes. É imperativo
que sejam retomadas e ampliadas as discussões sobre as regras que pautam

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as relações humanas envolvidas no processo de design, seja elas no plano das
relações de trabalho, de desenvolvimento de projeto, de uso e de pós-uso. Já têm
se destacado os balizamentos legais em relação à preservação do meio ambiente.

O Papel Social do Designer


O papel social é um conjunto de direitos e deveres relativo à função social que
se espera de um indivíduo exercer dentro de determinada posição social. Ela está
relacionada a categorias sociais que podem ser determinadas por diferentes recor-
tes: família, linhagem, raça, religião, ocupação profissional etc. Portanto, uma ca-
tegoria profissional é uma categoria social, fruto de uma divisão social do trabalho.
Na divisão do trabalho, há um papel social a ser desempenhado de conhecimento
e às suas competências específicas.

Todo profissional consciente de seu papel e ao exercê-lo de maneira ética e


de modo eficaz contribui para que a sociedade de que faz parte se desenvolva em
harmonia. E para que o exercício desse papel seja profícuo para si como cidadão e
para os demais membros de sua sociedade, há a necessidade de consciência sobre
o lugar que a sua profissão e a sua categoria profissional ocupam nessa sociedade,
de modo que suas competências específicas possam ser usadas para tal finalidade.

O trabalho de designer é identificar, valorizar e respeitar sua biodiversidade e seu


ritmo. Está aqui o exercício profissional, provavelmente o desafio maior: conhecer,
entender e criar soluções reais que beneficiem a vida comunitária.

A inteligência dos produtos e serviços não está somente na tecnologia utilizada, e sim
Explor

em entender os complexos sistemas de como a nossa sociedade funciona, dos meios de


transportes e comunicação ao abastecimento de alimentos nas grandes cidades.
Deve, principalmente, privilegiar as pessoas, antes de qualquer recurso tecnológico de
última geração, nas decisões de design. Pense mais em serviços e infraestrutura e menos
em produtos físicos.
John Thackara - “Plano B – O Design e as Alternativas Viáveis em um Mundo Complexo”

O designer pode, de fato, promover uma revolução social, transformando a sociedade?

A sustentabilidade é uma revolução. O designer será mais um ator dentro desse


grande plano, conduzindo a sociedade na direção correta, no seu papel de facilitar
as inovações sociais.

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Aprender com Outras Culturas


A Valorização dos recursos naturais, da cultura e das técnicas artesanais de cada
região, devem ser empregadas com um mínimo necessário de recursos tecnológicos
para fazer a ponte com novos mercados consumidores.

Nesse aspecto, alguns dos pontos mais importantes são o reconhecimento, a


qualificação e a valorização do saber tradicional, para chegar assim a um preço justo
ao consumidor e a uma remuneração justa da comunidade, bem como do próprio
designer. Levar em conta os impactos sociais, econômicos e culturais dessa ação.

Conjunto de ações leva ao desenvolvimento de projetos dinâmicos e flexíveis, em


que a intuição e o respeito devem ser uma constante de peso, pois são características
ainda muito vivas e necessárias nas próprias comunidades.

O saber tradicional é uma das grandes riquezas de todos os povos – transmitido


de pai para filho ou de avô para neto, ainda é muito vivo nas comunidades
brasileiras fora do âmbito urbano. Esse saber, rico e completo, possibilitou, de fato, a
autossustentabilidade das nações indígenas durante milênios. Hoje, as comunidades
tradicionais têm um grande desafio: viver com o resultado da comercialização de
seus produtos dentro do mercado consumidor globalizado.

A realidade socioambiental e as últimas transformações sociais e econômicas no


Brasil constatam a falta de equilíbrio e a injustiça em que vive o povo de modo geral.

Nesse contexto, o design apresenta-se como um fator estratégico de mercado e


como um diferencial decisivo para artesãos e para comunidades com interesse no
nicho do comércio ético e solidário, seja nacional, seja internacional. O design tem
um importante papel no planejamento de um futuro responsável e comprometido
com o meio ambiente e com a sociedade, caso suas ambições se alinhem com
conceitos sustentáveis. O design surge, então, como uma ferramenta indispensável
para melhorar o propósito do produto, a sua estratégia de venda e o sistema
em que se insere. Assim, considerar não só aspectos econômicos e estéticos de
cada produto é o que podemos elencar como características diferenciais do design
sustentável, mas, também, aspectos ambientais e sociais.

Os designers não estão acostumados ao trabalho com comunidades, que vem


sendo uma nova alternativa para a profissão, mas difere radicalmente dos requisitos
das empresas e das indústrias. O designer deve ver as comunidades, ou as ONGs,
como clientes a serem respeitados e desenvolver uma metodologia específica que
cumpra sua função e seus objetivos, além de ir ao encontro de necessidades e de
desejos das comunidades.

Um dos caminhos para esse trabalho é a valorização dos recursos naturais, da


cultura e das técnicas artesanais de cada região, empregando um mínimo necessário
de recursos tecnológicos para fazer a ponte com novos mercados consumidores,
lembrando sempre que o objetivo é divulgar e fortalecer o mercado de produtos
comunitários e não assinar produtos inovadores. Nesse aspecto, alguns dos pontos

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mais importantes são o reconhecimento, a qualificação e a valorização do saber
tradicional, para chegar assim a um preço justo ao consumidor e a uma remuneração
justa da comunidade, bem como do próprio designer.

Multidisciplinaridade
As etapas para o desenvolvimento de produtos digitais de qualidade demandam
conhecimentos de diversas áreas para serem realizadas. A razão para tal é que
projetos desta natureza podem ser altamente complexos e exigem fases bastante
diversificadas, como a elaboração do conceito do projeto e funcionalidades do
produto, a arquitetura da informação, design visual, de interação e experiência,
além das fases de programação e gestão de projetos de produtos.

A formação de um bom designer deve acima de tudo estar atualizado nas mais
diversas áreas de conhecimentos e das áreas técnicas e humanas. As bases do
design envolvem tanto inovações tecnológicas como a integração de disciplinas
estabelecidas pelas áreas humanas.

Não basta estar atualizado com a última versão do software de computação


gráfica, deve haver uma aproximação entre as pessoas envolvidas em um projeto e
o acesso a essas inovações técnicas.

A inovação técnica não necessariamente está na área de informática, cada vez


mais busca-se o regate das tecnologias antigas e mais mecânicas, processos mais
manuais, aproveitando conhecimentos básicos como do artesanato, de tecnologias
tradicionais de construção e prototipagem manual. O projeto começa acima de
tudo no papel e na interação entre as pessoas, onde será possível iniciar um projeto
multidisciplinar e integrador.

Uma equipe multidisciplinar é essencial para o sucesso de um projeto composto


por indivíduos com diferentes habilidades relevantes para o desenvolvimento do
projeto, em que o cliente ou usuário final também tem participação nas etapas
iniciais de um projeto.

Inclusão Social
Infelizmente, uma pequena parte dos projetos desenvolvidos pelos designers é
para uma população com condições econômicas melhores que a grande maioria. A
base do design é resolver problemas desenvolvendo produtos e serviços para todos,
e não apenas um diferencial estético.

Com base na percepção dessa diferença de acesso à produtos com design, o


museu National Design Museum Cooper – Hewitt promoveu a Exposição Design
para os outros 90%, onde divulgaram projetos feitos especialmente para uma parte

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da população mundial que raramente é atendida. A Exposição reuniu mais de trinta


projetos que refletem o crescente movimento entre os projetistas para conceber
soluções de baixo custo para os outros 90%.

Design para a sustentabilidade pode ser


modelo de negócios inclusivo, estimulan-
do o desenvolvimento local e projetando
as características da cultura no mercado
globalizado. Gera empregos nos locais em
que atua, onde dezenas de trabalhadores
com carteira assinada trabalham em di-
versas áreas, desde o artesanato até áreas
mais tecnológicas.

Para que ocorra com mais eficiência a


inclusão social desses indivíduos que estão
a parte da sociedade com maio poder aqui-
sitivo, é necessário se pensar o projeto de
maneira mais empática, se colocando na
posição do outro que é a base para o de-
sign centrado no usuário, principalmente Figura 1
pensando em todas as pessoas envolvidas. Fonte: parsons.edu

Importante! Importante!

Design centrado no usuário


Bases para o design empático
1. Observação do usuário.
Observar sem interferir, de preferência à distancia, sem contato, para não interferir nos dados.
2. Captura de dados por instrumentos visuais, auditivos e sensoriais.
Após uma apresentação prévia, podem ser feitos registros como fotografias, vídeos,
entrevistas e observações do local de forma mais próxima.
3. Análise dos dados.
Após a observação e captura dos dados, é necessário fazer uma análise do que foi visto,
de forma organizada e criteriosa.
4. Brainstorming.
Brainstorm é uma técnica desenvolvida para explorar a potencialidade criativa de um
indivíduo ou de um grupo, colocando-a a serviço de objetivos pré-determinados. Ela
propõe que o grupo se reúna e utilize a diversidade de pensamentos e experiências para
gerar soluções inovadoras, sugerindo qualquer pensamento ou ideia que vier à mente a
respeito do tema tratado. Com isso, espera-se reunir o maior número possível de ideias,
visões, propostas e possibilidades que levem a um denominador comum e eficaz para
solucionar problemas e entraves que impedem um projeto de seguir adiante.
5. Desenvolvimento de protótipos de possíveis soluções.
Com base no Brainstorming, chega o momento inicial da materialização do projeto, com
o objetivo principal de testar opções para no final chegar ao desenvolvimento de fato.

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Um projeto justo é feito por pessoas para pessoas. Não estamos sozinhos no
mundo, precisamos da ajuda mútua e estar aberto a experiências e vivências de
pessoas com culturas diferentes e que possam ajudar no caminho da sustentabilidade
e inovação.

Comércio justo
Um projeto feito com comunidades apenas é efetivo se incluir economicamente
grupos de trabalhos que muitas vezes tem o conhecimento técnico mais não o valo-
riza, ficando dependente de atravessadores que vendem seus trabalhos e produtos
por um preço muito abaixo do que seria justo.

O sistema do comércio justo é fundamentado no relacionamento e parceria en-


tre compradores do mercado global e produtores, particularmente de empresas de
pequeno porte, em busca de preços mais justas para seus produtos, investimentos
em comunidades e em identidade cultural, sustentabilidade socioambiental e condi-
ções de trabalho mais adequadas.

O Fair Trade (Comércio Justo) contribui para o desenvolvimento sustentável ao


proporcionar melhores condições de troca e a garantia dos direitos para produtores
e trabalhadores marginalizados. É uma alternativa concreta e viável frente ao
sistema tradicional de comércio.

A International Federation of Alternative Trade (Federação Internacional de


Comércio Alternativo) define o Comércio Justo (Fair Trade, em inglês) como uma
parceria comercial, baseada em diálogo, transparência e respeito, que busca maior
equidade no comércio internacional, contribuindo para o desenvolvimento sustentá-
vel por meio de melhores condições de troca e garantia dos direitos para produtores
e trabalhadores à margem do mercado, principalmente no Hemisfério Sul.

Princípios de Fair Trade


Os princípios que devem reger uma relação comercial considerada justa são:
1. Transparência e corresponsabilidade na gestão da cadeia produtiva e comercial;
2. Relação de longo prazo que ofereça treinamento e apoio aos produtores
e acesso às informações do mercado;
3. Pagamento de preço justo no recebimento do produto, além de um bônus
que deve beneficiar toda a comunidade, e de financiamento da produção ou
do plantio, ou a antecipação do pagamento da safra, quando necessário;
4. Organização democrática dos produtores em cooperativas ou associações;
5. Respeito à legislação e às normas (por exemplo, trabalhistas) nacionais e
internacionais;

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6. O ambiente de trabalho deve ser seguro e as crianças devem frequentar


a escola;
7. O meio ambiente deve ser respeitado.

Produtos certificados – Selo Fair Trade


Os principais personagens do Comércio Justo no
mercado internacional são os produtores, os impor-
tadores, os licenciados e as world shops, sendo que
os importadores não cuidam somente da importação
e da distribuição dos produtos para as world shops –
muitos mantêm lojas próprias ou sites e ajudam ativa-
mente a promover todo o movimento.

Figura 2 – Selo da Fairtrade Labelling Os licenciados são empresas que têm o direito de
Organizations International (FLO) usar o selo de Fair Trade mediante o pagamento de
Fonte: Wikimedia Commons licenças, concedidas pelas iniciativas nacionais (movi-
mentos organizados que mantêm entidades de certificação e promovem as empre-
sas e produtos) ou pela Fairtrade Labelling Organizations International (FLO).

As empresas podem ser especializadas em Comércio Justo ou atuar no co-


mércio tradicional com marcas convencionais, incorporando itens com o selo de
Comércio Justo a suas linhas. O licenciado também dá apoio de marketing às lojas
e paga o importador.

Colaboração
As etapas iniciais de um processo de solução influenciam de forma crucial o
sucesso e a direção no desenvolvimento de um produto. A compreensão dos pro-
blemas enfrentados pelos usuários e seus casos de uso são de extrema importância
para aqueles que buscam criar soluções de alto nível.

Uma das atribuições de um Designer é a de clarificar para sua equipe ao máximo


os problemas enfrentados pelos usuários, a fim de que juntos possam realmente en-
tender suas reais necessidades e desenvolverem soluções mais assertivas e eficazes.

Dentro de um sistema colaborativo de criação, as pessoas geram ideias


esboçando seus conceitos. Um grupo se reúne para mostrar e criticar esboços de
outras pessoas.

Com base nos comentários do grupo, os conceitos ficam mais refinados.

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Como aplicar o Codesign
Antes de iniciar a dinâmica, o designer deve levantar as hipóteses ou fatos que
mostrem os problemas e dores dos usuários, deixando claro para a equipe qual é o
problema que deve ser solucionado.

Com a priorização do problema em mãos, garanta um espaço onde a equipe


possa se concentrar para criar conceitos sem interrupções e inicie a dinâmica na
seguinte ordem: criar > apresentar > criticar.

Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images

Todos participam colaborando com ideias, podendo inclusive o cliente ser


chamado nessa etapa. Um projeto onde todos participam tem uma alta probabilidade
de aceitação, em que todos sentem a sua participação e se sentem como coautores.

Design comunitário
Esse método também é muito bom quando se busca trabalhar em alguma
comunidade mais pobre, geralmente distantes do acesso ao conhecimento mais
básico de projeto.

O saber tradicional é uma das grandes riquezas de todos os povos – transmitido


de pai para filho ou de avô para neto, ainda é muito vivo nas comunidades brasileiras
fora do âmbito urbano. Esse saber possibilita a auto sustentabilidade das comunida-
des. Hoje, as comunidades tradicionais têm um grande desafio: viver com o resultado
da comercialização de seus produtos dentro do mercado consumidor globalizado.

A participação nesse mercado gera novas possibilidades para as comunidades:


desde vender os seus produtos tradicionais, voltados apenas para o mercado local,
até desenvolver novos produtos, dirigidos, desta feita, para um público específico. A
nova realidade, que determina a incorporação de conceitos e de estéticas externas,
exige a realização de parcerias e de trocas de experiências não predatórias, sob
pena do extermínio do saber.

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Para que continuem a viver em um sistema sustentável, um dos elementos


de importância extrema é o cuidado com o equilíbrio a ser mantido dentro das
experiências de troca. Sem perder o foco sobre a viabilidade econômica, é preciso
que os agentes externos entendam que o processo de comércio deve respeitar o
ritmo interno das comunidades envolvidas.

O principal objetivo é torná-las independentes dentro dos princípios da sustenta-


bilidade socioambiental, resultando em geração de renda, ao mesmo tempo em que
perpetuam seu saber tradicional, seu modo de vida, permanecendo em seus territó-
rios, defendendo o seu ambiente e respeitando sua identidade e suas tradições.

O design industrial, como o conhecemos hoje, tem a inovação como um dos


seus valores principais. Levar essa perspectiva para as comunidades interessadas no
mercado ético e solidário exige do designer novas qualidades e maiores cuidados.

Quanto menos intervir sobre a produção já existente, melhor o resultado – o


produto terá maior qualidade estética e maior interesse cultural. Essa maneira de
aproximação, sem dúvida, permitirá que a comunidade com a qual o designer está
envolvido retome sua autonomia, condição básica para a autossustentabilidade.

Conclusão
Os valores apresentados ao longo das unidades deste curso apresentam princípios
para um bom design. O conceito do que é um bom design pode ser interpretado
de várias formas, dependendo do tipo de interesse de que o propaga, mas vimos
que os aspectos sociais e ambientais são primordiais para o sucesso pleno de um
projeto. A abordagem ampla e multidisciplinar de um problema é o ideal. Não
devemos nos limitar ao que o mercado já tem, mas ir além dele, nos envolvendo de
forma profunda, porém realista.

Dieter Rams, já em 1970, introduziu a ideia de desenvolvimento sustentável em


seus “Dez Princípios do Bom Design” onde defende a simplicidade, a honestidade
e a contenção, e aplica-se ainda hoje à teoria e prática do design.

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Em Síntese Importante!

Dez Princípios do Bom Design, de Dieter Rams


O bom design:
• É inovador – As possibilidades de evolução não estão, de forma alguma, esgotadas. O
desenvolvimento tecnológico sempre oferece novas oportunidades de designs originais.
Mas o design imaginativo sempre se desenvolve em paralelo com a avanços tecnológicos,
nunca pode ser um fim por sim próprio.
• Faz um produto ser útil – Um produto é comprado para ser usado. Ele tem que
satisfazer não apenas o critério funcional, mas também o psicológico e estético. Um bom
design enfatiza a utilidade de um produto, enquanto exclui qualquer coisa que poderia
prejudicá-la.
• É estético – A qualidade estética de um produto integra a sua utilidade porque
produtos são usados todos os dias e têm um efeito nas pessoas e seu bem estar. Apenas
objetos bem executados podem ser bonitos.
• Ajuda a entender o produto – Ele esclarece a estrutura do produto. Melhor que isso,
ele pode fazer com que o produto expresse claramente sua função, fazendo uso da
intuição do usuário. No melhor dos casos, ele é autoexplicativo.
• É discreto – Produtos que atendem a um propósito são como ferramentas. Eles não
são objetos decorativos e nem obras de arte. Seu design deve, desta forma, ser neutro e
contido, deixando espaço para a expressão do usuário.
• É honesto – Ele não faz um produto parecer mais inovador, poderoso ou valioso do que
ele realmente é. Ele não tenta manipular o consumidor com promessas que não serão
cumpridas.
• É durável – Ele evita estar na moda e assim nunca parece antiquado. Diferente de um
design da moda, ele dura muitos anos – mesmo na sociedade descartável atual.
• É meticuloso – Nada deve ser arbitrário ou ao acaso. Cuidado e precisão no processo
de design demonstram respeito com o consumidor.
• É ambientalmente correto – O design tem uma importante contribuição com a
preservação do meio ambiente. Ele economiza recursos e minimiza a poluição física e
visual ao longo do ciclo de vida do produto.
• É o menos design possível – Menos, porém melhor – porque ele se concentra nos
aspectos essenciais e os produtos não são carregados com detalhes não essenciais.
Retorno à pureza, retorno à simplicidade.

Os designers como profissionais podem sim impactar o mundo tanto de maneira


negativa como positiva, onde cada escolha é importante e deve se analisada.
Explor

Qual é o legado que quero deixar para o mundo como profissional?

“O design se tornou a ferramenta mais poderosa com a qual o homem


molda suas ferramentas e ambientes (e, por extensão, a sociedade e a si
mesmo)” (Papanek,1970).

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UNIDADE Responsabilidade Social

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Sites
Design Other 90 Network
Catálogo da exposição “Design With The Other 90 Percent: Cities” (Design para
os outros 90 por cento: cidades organizadas pelo Cooper-Hewitt National Design
Museum em Nova York.
https://goo.gl/r1DuR5

 Vídeos
Projeto Design Possível
https://youtu.be/MacvEd-km3Q
Processo Criativo - Design Thinking
https://youtu.be/Bwjwb5aIcZ8

 Leitura
Artigo Design e Ética da Profa. Dra. Cyntia Malaguti e alunos
https://goo.gl/W2cgMd

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Referências
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO
26000. Diretrizes sobre responsabilidade social. Rio de Janeiro, 2010.

ABRE. Associação Brasileira de Embalagem. Código de Ética de Design. Disponível


em: < http://www.abre.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo_etica.pdf>
Acesso em: 06/04/2018.

ADG Brasil. Associação dos Designers Gráficos. Código de Ética Profissional


do Designer Gráfico. Disponível em: < http://www.adg.org.br/v1/wp-content/
uploads/2014/06/ADGBrasil_CodigoEtica.pdf> Acesso em: 06/04/2018.

ADP ASSOCIAÇÃO DOS DESIGNERS DE PRODUTO. Código de Ética da


Associação de Designers de Produto. Disponível em: <http://turmadod.
com/alunos/downloads/4s2010_2/etica_legislacao/Codigo_de_Etica_Design_
Produto.pdf> Acesso em: 06/04/2018.

BRAGA, Marcos. O papel social do design gráfico: história, conceitos & atuação
profissional. São Paulo: Editora SENAC, 2011.

BORGES, Adélia. Designer não é personal trainer. São Paulo: Ed. Rosari. 2009

ESCOREL, Ana Luisa. O efeito multiplicador do design. São Paulo: Ed. Senca.

PAPANEK, V. Arquitetura e design: ecologia e ética. Lisboa: Edições 70, 1995.

______. Design for the real world: human ecology and social change. London:
Thames & Hudson, 1985.

SEBRAE. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/> Acesso em:


06/04/2018.

MORAES, Dijon de. Metaprojeto: o design do design. São Paulo: Blucher, 2010;

Thackara, John. Plano B – O Design e as Alternativas Viáveis em um Mundo


Complexo. São Paulo: Saraiva, 2008.

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