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Design Sustentável e

Responsabilidade Social
Material Teórico
Design e Desenvolvimento Sustentável

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Elisa Jorge Quartim Barbosa

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Design e Desenvolvimento Sustentável

• Interdependência;
• Ciclos de Vida de um Produto;
• Integração de Requisitos Ambientais ao Design;
• Metodologia de Design Orientada por Critérios Ecológicos;
• Os R da Sustentabilidade;
• Consumo Sustentável;
• Comunicação dos Aspectos Ambientais.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar conceitos de design e sustentabilidade, seu papel de pro-
jetista consciente e sua possível influência nos processos produtivos.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Design e Desenvolvimento Sustentável

Interdependência
Conforme foi visto na Unidade anterior, economia e ecologia podem e devem
caminhar juntas. As raízes etimológicas da economia evocam uma gestão do patri-
mônio sem despesa inútil; enquanto a ecologia designa o estudo das relações que
se produzem no espaço vivo.

A pergunta que fica é como gerir o patrimônio comum evitando perdas irrever-
síveis? Como promover ações em ambientes com relações tão complexas?

Combinações, associações e ações são apenas transações de energia e de matéria,


viva ou inerte, do infinitamente pequeno ao infinitamente grande. Na cooperação,
autonomia e na participação de cada indivíduo se encontra no sucesso do conjunto.

Essa interdependência é uma poderosa bússola que nos mostra a direção a ser toma-
da, seja dos ciclos biológicos ou técnicos. Qualquer fenômeno repercute no conjunto. O
caos é uma ordem natural cuja complexidade ainda ultrapassa a nossa compreensão.

Efeito borboleta é um termo que se refere à dependência sensível às condições iniciais


Explor

dentro da teoria do caos. Esse efeito foi analisado pela primeira vez em 1963 por Edward
Lorenz. Segundo a cultura popular, a teoria apresentada, o bater de asas de uma simples
borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do
outro lado do Planeta. Assim, a teoria do caos nos leva a um convite para a criação conjunta.

Ciclos de Vida de um Produto


Em geral, produtos de um sistema são projetados para um padrão linear e
unidirecional. Esse tipo de sistema é chamado de modelo do berço ao túmulo. Os
recursos são extraídos, moldados em produtos, vendidos e, eventualmente, jogados
“fora”, em algum tipo de “túmulo” como um aterro sanitário ou incinerador, mas
a realidade é que não há o “fora” (BRAUNGART; MCDONOUGH, 2013). São os
ciclos de vida de um produto.

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Matérias-primas Fabricação Distribuição Utilização Resíduos

ESGOTAMENTO AUMENTO DOS


DOS RECURSOS RESÍDUOS

Figura 1 – Esquema linear unidirecional da economia baseado na roda estratégica de design para a
sustentabilidade do livro Design for sustainability: a step-by-step approach
Fonte: Adaptado de Kazazian, 2009 e Crul e Diehl, 2010

O conceito de ciclo fechado, ou do “berço ao berço”, foi explorado no livro


Cradle to cradle: remaking the way we make things, do designer e arquiteto
Michael Braungart e do engenheiro William McDonough (2013). Nessa publicação,
exploram o conceito de forma mais tangível, de modo que a visão da obra Cradle
to cradle olha para dois ciclos: biológico e técnico – que inclui a cadeia produtiva.

Figura 2 – Os ciclos biológico e técnico


Fonte: Braungart e McDonough, 2013

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UNIDADE Design e Desenvolvimento Sustentável

Um ponto de vista fundamental no conceito de Cradle to cradle é que o ciclo


de vida do produto não deve terminar quando seus materiais são simplesmente
despejados nos sistemas naturais. Dentro do ciclo técnico, os produtos finais são
utilizados como entradas para um novo ciclo de produção como “nutriente técnico”,
como a embalagem, criando um metabolismo técnico semelhante ao metabolismo
biológico da terra, podendo ser continuamente reciclado e transformado em novos
produtos de valor igual e sem contaminar a biosfera. Tais operações de fabricação
devem ser alimentadas integralmente por energias renováveis e maximizar a
qualidade e eficiência da água, respeitando as pessoas e os ecossistemas.

Além disso, os produtos podem ser projetados de modo que os materiais possam
ser devolvidos com segurança ao ecossistema como “nutrientes biológicos”, biode-
gradando-se e construindo um solo saudável – o resíduo vira alimento para o sistema.

Com a integração da noção de circularidade e a variedade dos ritmos naturais,


os projetistas podem perceber outra relação com o tempo e, a partir disso, elaborar
uma estratégia que lhe permita reduzir custos em matéria, pagar menos impos-
tos, preparar-se para novas obrigações regulamentares. Assim, pode-se inovar por
meio de inéditas estratégias de gestão e conseguir se aproximar de verdadeiros
ecossistemas industriais sistêmicos em um modelo autônomo de produção.

Um método desenvolvido para se quantificar e futuramente reduzir o uso de


recursos é a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). Trata-se de um procedimento inte-
grado que quantifica o impacto de um produto ao longo do seu ciclo de vida, ava-
liando os aspectos ambientais e os impactos potenciais associados a um produto
ou a uma atividade, compreendendo etapas que vão desde a retirada, da natureza,
das matérias-primas elementares que entram no sistema produtivo – berço – à dis-
posição do produto final – túmulo.

Essa metodologia permite a todos os envolvidos na cadeia industrial de um pro-


duto a realização de mudanças pontuais, a fim de reduzir os seus impactos no meio
ambiente. No contexto da sustentabilidade, todos os setores têm grande impor-
tância para atingir as metas desejadas. Dessa forma, o design tem também a sua
responsabilidade e uma capacidade transformadora.

A história das coisas – The story of stuff – é um documentário que aborda o consumo exagerado
Explor

de bens materiais, e o consequente impacto negativo causado no meio ambiente. Apresentan-


do Annie Leonard, The story of stuff mostra de uma maneira didática e clara todo o processo
que vai desde a extração da matéria-prima, confecção do produto, venda, compra e falsa ideia
de necessidade, até o momento de descarte e poluição. Colocando em debate o mal que esses
resíduos tóxicos causam não apenas ao meio ambiente, mas também à saúde da população
em geral. Com uma boa dose de humor, o documentário questiona os nossos valores, os pa-
drões sociais de consumo impostos pela mídia e grandes empresas, levando-nos a questionar
sobre os nossos costumes e a maneira como consumimos e encaramos a preservação do nosso
planeta. Qual é o nosso papel na Terra, o que estamos fazendo para melhorar? Assista ao docu-
mentário em: https://youtu.be/9GorqroigqM e repense os seus valores!

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Integração de Requisitos
Ambientais ao Design
O ecodesign, cuja primeira definição foi dada pelo designer Victor Papanek,
participa de um processo que tem por consequência tornar a economia mais “leve”.
Chamado também de ecoconcepção, trata-se de uma abordagem que consiste em
reduzir os impactos de um produto, ao mesmo tempo que conserva a sua qualidade
de uso – funcionalidade e desempenho –, melhorando a qualidade de vida dos
usuários. Nessa abordagem, o meio ambiente é tão importante quanto a execução
técnica, o controle de custos ou a demanda do mercado.

Na busca da melhor solução, o criador seleciona e articula ações sobre todo o


ciclo de vida do produto, integrando o conjunto dos impactos ambientais. O ecode-
sign é uma abordagem global que exige uma nova maneira de conceber, prevendo
o futuro do produto para reduzir o impacto ambiental por todo o ciclo de vida.

O produto em si, vendido como elemento independente é uma ilusão. Levar


um produto para o mercado exige, além de tudo, infraestrutura e uma quantidade
imensa de outros produtos para a sua fabricação, transporte e utilização.

Metodologia de Design Orientada


por Critérios Ecológicos
Por sua própria natureza holística, o design apenas pode existir em projetos
integrados, uma vez que considera todos os aspectos do ciclo de vida do produto.
Deve estar presente em todas as etapas do projeto, desde o seu início – e não
apenas como um elemento acessório –, primeiramente, prevendo-se o futuro do
produto para reduzir o impacto ambiental por todo o ciclo de vida: fabricação, uso,
fim de vida.

Ademais, existem três níveis gerais e possíveis de interferência dentro dos ciclos
técnicos de produto:
1. Otimização para diminuir os impactos ambientais;
2. Modificar o produto, mantendo a forma de uso semelhante;
3. Substituir o produto por serviço, com os mesmos benefícios.

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UNIDADE Design e Desenvolvimento Sustentável

Figura 3 – Baseada na roda estratégica de design para a sustentabilidade


do livro Design for sustainability: a step-by-step approach
Fonte: Adaptado de Kazazian, 2009 e Crul e Diehl, 2010

Em cada etapa do ciclo de vida é possível usar várias estratégias que resultarão
em produtos mais sustentáveis. Vejamos algumas sugestões conforme cada etapa:
• Pré-produção:
»» Reduzir a utilização de recursos naturais e de energia;
»» Usar materiais não exauríveis – esgotáveis;
»» Usar materiais não prejudiciais – danosos e perigosos;
»» Usar materiais reciclados;
»» Usar materiais recicláveis;
»» Usar materiais renováveis.
• Produção:
»» Escolha de técnicas alternativas de produção;
»» Menos processos produtivos;
»» Pouca geração de resíduo;
»» Redução da variabilidade dos produtos;
»» Reduzir o consumo de energia;
»» Utilizar tecnologias apropriadas e limpas.
• Distribuição:
»» Escolha dos meios mais eficientes de transporte;
»» Logística eficiente;

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» Redução de peso;
» Redução de volume.
• Uso:
» Assegurar a estrutura do produto;
» Aumentar a confiabilidade e durabilidade;
» Design clássico;
» Incentivar o uso compartilhado;
» Escolher uma fonte de energia limpa;
» Intensificar uso e cuidado do produto;
» Reduzir a quantidade ou volume de materiais de consumo requeridos;
» Tornar a manutenção e reparos mais fáceis.
• Descarte:
» Agrupar materiais nocivos em submontagens;
» Aumentar o ciclo de vida e as possibilidades de manutenção e reparação;
» Concentrar materiais poluentes ou recicláveis em um mesmo módulo;
» Converter os componentes em reposições;
» Definir os componentes que são consumidos mais rapidamente;
» Desenvolver o produto para a desmontagem simples e pessoal não treinado;
» Dividir os componentes que são consumidos mais rapidamente;
» Eliminar superfícies possíveis de desgaste;
» Estimular a remanufatura e reforma;
» Estimular a reutilização do produto inteiro;
» Evitar a combinação com materiais corrosivos e perecíveis;
» Evitar acabamentos secundários – pintura, revestimentos etc.;
» Evitar partes e materiais que possam estragar os equipamentos;
» Fácil acesso a partes nocivas, valiosas e reutilizáveis;
» Facilitar a desmontagem;
» Facilitar a reciclagem – de qualidade (“berço ao berço”);
» Favorecer o uso do monomaterial;
» Identificar os componentes para facilitar a desmontagem e reciclagem;
» Minimizar elementos de fixação;
» Prover fácil acesso aos pontos de separação, quebra ou corte, incluindo sinal
no ponto de quebra;

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UNIDADE Design e Desenvolvimento Sustentável

»» Remoção de partes por meios manuais e/ou automáticos;


»» Reutilizar o produto e/ou seus componentes;
»» Rotulagem para facilitar a percepção das montagens;
»» Substituir os componentes tóxicos;
»» Usar componentes padronizados;
»» Usar elementos de fixação fáceis de remover ou destruir;
»» Usar materiais compatíveis.

Os R da Sustentabilidade
Conhecidos também como os 3 R da sustentabilidade – Reduzir, Reutilizar e
Reciclar –, tratam-se de ações práticas que visam estabelecer uma relação mais
harmônica entre a pessoa e meio ambiente. Adotando tais práticas, é o início para
favorecer o desenvolvimento sustentável, vejamos alguns de seus aspectos:
• Reduzir – significa usar o mínimo necessário de materiais, sem danificar a
qualidade técnica e de uso de um produto, economizando recursos essenciais
como água, energia e matérias-primas na sua produção;
• Reutilizar – no início de um projeto é possível prever potenciais reutilizações de
um produto, tornando-o multifuncional e escolhendo materiais mais duráveis.
Reutilizando, economizamos na fabricação, assim como na energia usada, no
combustível empregado no transporte e na matéria-prima escolhida. O ciclo
de vida é prolongado, evitando o seu descarte imediato após o uso;
• Reciclar – é quase uma obrigação nos dias atuais e não deve ser a primeira op-
ção, afinal, o projeto deve priorizar a redução e reutilização. O primeiro passo
é desenvolver produtos monomateriais ou com materiais de fácil separação por
tipo e qualidade. Ademais, os produtos recicláveis devem ser encaminhados
para empresas ou cooperativas de trabalhadores de reciclagem, a fim de serem
transformados novamente em matéria-prima para voltar ao ciclo produtivo;
• Considerar o produto como um sistema – constituído tanto por componentes
consumíveis, quanto por peças de troca, suportes publicitários, embalagens
utilizadas em todo o sistema;
• Priorizar a finalidade de utilização – acima de tudo, privilegiar o uso do
produto e sua finalidade com o objetivo de sintetizar em um objeto material,
podendo ser transformado em um serviço, iniciando uma cadeia de atores que
colaboram em uma abordagem transversal e multidisciplinar.

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A ecoconcepção, pensando em cada etapa do ciclo de vida, integra-se em uma
abordagem responsável. Os consumidores estão cada vez mais sensíveis a iniciativas
com o principal objetivo de redução dos seus impactos ambientais, como também
a gestão dos resíduos em fim de vida.

Vejamos, então, alguns exemplos:


1. Embalagem Track & Field:
• Design: Dezign com Z – projeto da cápsula e display da loja;
• Produção: Track & Field, loja de Nova Iorque, Estados Unidos;
• Prêmio: III Bienal Brasileira de Design. Curitiba, PR (2010);
• Descrição: mais de mil cápsulas transparentes
cobrem uma parede inteira da Flagship da Track
& Field, em Manhattan. Servem simultaneamen-
te como local de estoque dos produtos da gri-
fe esportiva, display e embalagem unitária. Os
itens são organizados por estilo, cor e tamanho
e podem ser acessados diretamente tanto pelo
vendedor quanto pelo cliente. A “parede” multi-
colorida integra-se ao ambiente da loja, que tem
projeto arquitetônico de Arthur Casas. A marca
incentiva o cliente a reutilizar a embalagem para
guardar coisas em casa. As cápsulas, produzidas
a partir do bioplástico Ingeo TM, foram desen-
Figura 4
volvidas pela Vedat (BORGES, 2010). Fonte: Divulgação

2. Embalagem do Matte Leão Orgânico:


• Design: Santa Clara, São Paulo, SP;
• Produção: Coca-Cola Brasil;
• Descrição: a tinta de impressão na embalagem do chá teve a sua quantidade
reduzida em 90% em relação à anterior – uma especificação (ou, ao menos,
sugestão) que está no âmbito do trabalho do designer gráfico e que tem alto
impacto ambiental. A maioria das tintas de impressão contém metais pesados
que contaminam o solo ou inviabilizam a reciclagem; por isso, quanto menos
tinta, melhor – desde que não atrapalhe a comunicação e identificação do
produto. O papel é totalmente reciclado na embalagem do produto, sendo
30% reciclado pós-consumo. As caixas de transporte são feitas com papelão
certificado pelo Forest Stewardship Council (FSC) – Conselho de Manejo
Florestal (BORGES, 2010).

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Figura 5
Fonte: Divulgação

3. Embalagem de ovo orgânico:


• Design: OKA Bioembalagens;
• Produção: Fazenda da Toca;
• Descrição: a OKA Bioembalagens desenvolve projetos de embalagens feitas
a partir de mandioca mais outras fibras naturais, deixando-as mais resistentes.
Tudo isso permite que sirvam não apenas para seu propósito de transporte
com segurança, mas também deem sequência ao ciclo rápido de retorno ao
solo, servindo de alimento para os animais. Na embalagem dos ovos da Fazen-
da da Toca, a cinta com informações sobre o produto que cobre a caixa é de
papel com sementes e que, ao serem umedecidas e plantadas, dão origem a
um pé de manjericão.

Figura 6
Fonte: Divulgação

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4. Lemnis Lighting:
• Design: Celery Design;
• Produção: Taedda, Sengés, PR;
• Descrição: as lâmpadas consomem 90% a menos de energia se compara-
das às incandescentes, e quase a metade de energia quando confrontadas
às Fluorescentes (CFL). Além disso, duram 35 anos – oito vezes mais que as
fluorescentes – e não contêm mercúrio tóxico. Trata-se de um produto mais
caro – 25 dólares –, mas a longo prazo, cada lâmpada representa a economia
de cerca de 250 dólares para o usuário. O formato escolhido foi uma pirâmide
truncada, que se destaca nas prateleiras e acomoda firmemente a lâmpada em
seu interior. Tal formato é uma referência ao nome da lâmpada – Pharoz –,
em homenagem ao farl, que foi uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo.
Encaixa-se confortavelmente nos contêineres de embarque, tornando-a uma
boa solução de “design para a distribuição”. O papel é totalmente reciclado
pós-consumo e o formato foi estudado para caber seis caixas em uma folha de
impressão, a qual é dobrada e fechada sem o uso de adesivo, o que facilita a
reciclagem (DOUGHERTY, 2011).

Figura 7
Fonte: Divulgação

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UNIDADE Design e Desenvolvimento Sustentável

5. Árvore Generosa:
• Design: Pedro Useche, São Paulo, SP;
• Produção: Taedda, Sengés, PR;
• Descrição: uma placa de pinus de reflorestamento
com certificação FSC gera um mancebo-estante. O
desafio do designer foi chegar a um projeto em que
não houvesse sobra de material, o que conseguiu
graças ao corte feito em usinagem em Controle Nu-
mérico Computadorizado (CNC). Por se tratar de
um móvel de madeira maciça, pode ser utilizado por
mais de trinta anos. Sua criação teve como inspira-
ção o livro A árvore generosa, de Shel Silverstein,
de 1964, uma fábula sobre a relação entre um me-
nino e uma árvore. A peça chega desmontada ao
consumidor, acompanhada do livro, de forma que
compartilhe uma reflexão sobre sustentabilidade
(BORGES, 2010). Figura 8
6. Módulo Arco:
• Design: Diogo Lage, Eduardo Cronemberger e Gil Guigon, Rio de Janeiro, RJ;
• Produção: Habto Design, Rio de Janeiro, RJ;
• Descrição: madeira teca com certificação FSC e revestimento de laminado de
Politereftalato de Etileno (PET) reciclado nas cores branca ou preta – são as
matérias-primas deste móvel que pode ser usado como mesa lateral, estante,
mesa de centro, entre outras formas. O módulo pode ser transportado e ar-
mazenado, ocupando apenas um quinto do seu volume, o que gera economia
de recursos e energia. A economia ocorre não apenas na entrega do produto
da fábrica até a casa do consumidor, mas também nas mudanças de casas das
pessoas ou no seu armazenamento quando fora de uso (BORGES, 2010).

Figura 9

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Consumo Sustentável
Vários especialistas concordam em considerar a educação a principal ferramen-
ta para despertar a consciência ambiental. Essa proposta tende a ser mais lenta
e ampla que as anteriores, pois além das inovações tecnológicas e das mudanças
nas escolhas individuais de consumo, enfatiza ações coletivas e mudanças políticas,
econômicas e institucionais para fazer com que os padrões e níveis de consumo se
tornem mais sustentáveis.

Mais do que uma estratégia de ação a ser implementada pelos consumidores,


consumo sustentável é uma meta a ser atingida. Poderíamos identificar seis ca-
racterísticas essenciais que devem fazer parte de qualquer estratégia de consumo
sustentável, vejamos:
1. Faz parte de um estilo de vida sustentável em uma sociedade sustentável;
2. Contribui para a nossa capacidade de aprimoramento, enquanto indivíduos
e sociedade;
3. Requer justiça no acesso ao capital natural, econômico e social para as
gerações presentes e futuras;
4. O consumo material deve se tornar cada vez menos importante em relação
a outros componentes da felicidade e da qualidade de vida;
5. É consistente com a conservação e melhoria do ambiente natural;
6. Acarreta um processo de aprendizagem, criatividade e adaptação.

Nesse cenário, preocupações mais recentes, como as mudanças climáticas e o


esgotamento de recursos naturais, levarão mais consumidores a exigir operações
mais responsáveis para com a sociedade e o Planeta.

Os designers podem, em seus projetos, incluir a divulgação das ações promovidas,


conscientizando os seus possíveis compradores, sendo uma das formas de educação
para a sustentabilidade.

É o design que transforma uma mercadoria formada por ingredientes e proces-


sos industriais em um produto cheio de significados, mais desejado pelo consumi-
dor. É função do designer analisar, interpretar e propor signos que solucionem as
necessidades físicas e visuais, otimizando recursos para obter a embalagem ade-
quada, esperando, com isto, estabelecer um processo de comunicação e satisfazer
as necessidades tanto do fabricante do produto, como do consumidor do mesmo.

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UNIDADE Design e Desenvolvimento Sustentável

Comunicação dos Aspectos Ambientais


As declarações ambientais apresentam-se como importantes aliadas da comuni-
cação dos valores ambientais de um produto para o consumidor, pois, ao mesmo
tempo em que valorizam o desenvolvimento do setor produtivo, convidam a socie-
dade a repensar seus hábitos de consumo; não bastasse isso, facilitam o trabalho
do designer no momento de escolher entre um produto ou outro.

Rotulagem ambiental:
É uma ferramenta de comunicação que objetiva aumentar o interesse do consu-
midor por produtos de menor impacto, possibilitando a melhoria ambiental contí-
nua orientada pelo mercado. Esse tipo de rotulagem agrega um diferencial e, por
isso mesmo, deve ser usado com ética e transparência para não confundir, iludir e
tampouco distorcer conceitos de sustentabilidade.

A série de normas ISO 14001, estabelecidas pela International Organization for


Standardization, são recomendações voltadas para a gestão ambiental nas empre-
sas. As ações de rotulagem ambiental (ISO 14020) visam criar a consciência para
a importância dos aspectos ambientais de um produto ou serviço e uma mudança
de comportamento do fabricante. Além de descrever os princípios gerais, a norma
ISO regulamenta o uso dos rótulos, declarações ambientais e simbologia técnica de
identificação de materiais, esta que integra a norma ISO 14021, criada para facilitar
a identificação e separação dos materiais, fortalecendo a cadeia de reciclagem. Todos
os produtos devem conter tal identificação técnica, mesmo que na prática nem todas
as rotulações sejam enviadas para reciclagem, por não existirem processos técnicos
ou economicamente viáveis na região em que foram descartadas.

Figura 10 – Alguns exemplos de simbologia de identificação de material


Fonte: ISO 14021

A simbologia técnica de identificação de materiais não é garantia de que tal


material será reciclado. Assim, os símbolos devem ser empregados somente para
a denominação do material, evitando-se a inclusão de adjetivos como reciclável,
pois passaria a configurar rotulagem ambiental. A ausência de simbologia ou o seu
uso incorreto pode prejudicar o processo de reciclagem de outros materiais e o
desperdício de materiais recicláveis.

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Autodeclaração ambiental com selos de certificação:
Os selos de certificação são quase sempre apontados como soluções para a
divulgação de aspectos técnicos e complexos em um produto; em grande medida
porque oferecem uma informação mais segura e confiável para o consumidor
tomar uma decisão de consumo responsável, sem a necessidade de se tornar um
expert em ecologia.

Conferida por uma organização certificadora idônea, após análise rigorosa dos
seus aspectos específicos, a imagem de um selo, com destaque na embalagem de
um produto, contribuiria para atender à tendência da mente humana de buscar
o mínimo esforço na hora de juntar informações para uma tomada de decisão;
funciona também como uma chancela de aprovação.

Os primeiros selos obrigatórios surgiram na Europa, na década de 1940, com


caráter de advertência. Tinham a função de destacar a presença de substâncias
químicas potencialmente danosas à saúde do consumidor. Atualmente, os selos
também têm a função de enfatizar questões específicas, tais como a pegada de
carbono, os alimentos orgânicos, a presença de transgênicos e o comércio justo.

Figura 11 – Selos de pegadas de carbono, transgênicos e o comércio justo


Fonte: Carbon Trust (2012); Brasil (2011); Fairtrade International (2012)

Os selos podem ser divididos em atributos simples ou múltiplos. Os selos com


atributos simples são aqueles que evidenciam uma característica ambiental do pro-
duto de forma individualizada.

Selos com atributos múltiplos:


Diferente dos selos com atributos simples, os atributos múltiplos buscam es-
tabelecer uma visão mais integral do impacto gerado por produtos, tais como
eficiência energética, conservação, emissão de gases de efeito estufa, otimização
no uso de recursos, destinação final, entre outros aspectos. A gradação atribuída
pela certificadora leva em conta uma média geral dos critérios para atribuir ou
não o selo ao produto.

As críticas a esse tipo de selo normalmente fazem menção à baixa precisão do


processo em virtude de trabalhar com médias ponderadas.

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Em comum, esses selos são independentes, dado que possuem critérios rígidos
e avaliações contínuas. Todos desfrutam de alta credibilidade e representam um
guia seguro para os consumidores, não sofrendo os efeitos da desconfiança que
costuma recair sobre os selos autorreguladores, adotados sem verificação externa,
por empresas ou segmentos empresariais.

Para assegurarem o direito de seus consumidores a produtos ambientalmente


responsáveis, os países promotores desses selos passaram a exigir também o mes-
mo compromisso dos produtos importados como contrapartida em acordos de
comércio internacional. Eis alguns exemplos de selos de atributos múltiplos:

Figura 12 – Selos de certificação ambiental

De forma geral, esses selos se apoiam na metodologia da ACV, contemplando


os seguintes elementos: extração e processamento de matéria-prima; fabricação;
transporte e distribuição; usos do produto; reutilização; manutenção; reciclagem;
descarte final; ingredientes ou restrições a materiais utilizados e desempenho am-
biental do processo de produção.

Para comunicar, com legitimidade, ações ambientais das empresas, os selos de


certificação fornecem pistas cognitivamente mais eficazes para os consumidores
que dificilmente seriam capazes de identificar as informações por outros meios.

Confiabilidade dos selos:


A multiplicidade de selos pode gerar uma preocupação sobre a seriedade das
certificadoras e a real impressão de que muitas querem apenas passar a imagem
de sustentável, não por crença no processo de mudança, mas apenas como uma
oportunidade de negócio.

Algumas empresas usam artifícios enganosos e declarações vagas para atrair


consumidores. Uma forma comum de afirmação vaga é a autodeclaração ambien-
tal sem embasamento técnico ou científico que rotula a embalagem ou o produ-
to como ambientalmente benéfico ou benigno. Autodeclarações ambientais como
“ambientalmente seguro”, “amigo do meio ambiente”, “amigo da Terra”, “não po-
luente”, “verde”, “amigo da natureza” ou “amigo da camada de ozônio” não devem
ser utilizadas. Ademais, declarações vagas estão em todos os lugares e os atos de
induzir o consumidor ao erro quanto às práticas ambientais de uma empresa ou os
benefícios ambientais de um produto ou serviço são denominados greenwashing.

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Dito de outra forma, greenwashing é um termo utilizado para designar um
procedimento de marketing empregado por uma organização com o objetivo de
prover uma imagem ecologicamente responsável dos seus produtos ou serviços. Com
o objetivo de descrever, entender e quantificar o crescimento do greenwashing no
mercado, a consultora de marketing ambiental canadense TerraChoice desenvolveu
uma metodologia de pesquisa em que, por meio dos padrões observados, classificou
tais apelos falsos ou duvidosos em sete categorias, chamadas de The seven sins
of greenwashing – Os sete pecados da rotulagem ambiental: custo ambiental
camuflado; falta de prova; incerteza; culto a falsos rótulos; irrelevância; do “menos
pior”; e mentira (TERRACHOICE; MARKET ANALYSIS, 2010).

Sem dúvida alguma, o fator mais importante no processo de escolha de uma


certificação está no motivo que ampara a decisão: se o vetor é simplesmente con-
quistar o consumidor, em algum momento a falta de cuidado com os processos
gerará ruído e colocará a reputação da marca em jogo; se, ao contrário, a intenção
for a busca genuína pela sustentabilidade, com a devida atenção à complexidade,
os elementos se combinarão naturalmente e levarão a empresa ao lugar ideal.

Segundo Dougherty (2011), o melhor “antídoto” contra o greenwashing é a


transparência. A sustentabilidade não é uma noção vaga e maleável, mas específi-
ca e mensurável. A transparência ajuda os designers a elaborarem mensagens de
significado verdadeiro e os coloca nos papéis de agentes de mudança. Os desig-
ners ajudam a simplificar, esclarecer questões complexas e educar o público sobre
o caminho no qual as empresas estão. Assim, pode-se ajudar a construir histórias
convincentes a partir dos planos e do verdadeiro desempenho das organizações.

Porém, se as ações de uma empresa contradizem os valores que promove, a mar-


ca é afetada. Portanto, o desenvolvimento da marca ecológica deixa as organizações
sujeitas a acusações de greenwashing se promovem demais e atuam de menos.

Ainda segundo Dougherty (2011), o desenvolvimento da marca pode ter três


fatores, vejamos:
1. A autenticidade é a medida de quanto os valores que uma empresa projeta
se alinham bem com a realidade de suas ações;
2. A contenção é uma questão de prevenir exageros prejudiciais com preten-
sões ecológicas exageradas ou irrelevantes;
3. O acompanhamento é uma questão de articular estratégias para cumprir
a promessa de uma marca ecológica. O designer ajuda as empresas a fa-
zerem promessas, mas também pode colaborar na reflexão sobre formas
de cumpri-las.

Por fim, os designers podem ter um importante papel como mediadores na


prevenção do greenwashing, agindo como gestores da marca e chamando a aten-
ção para as contradições antes que as críticas e notícias nocivas sejam publicadas
(DOUGHERTY, 2011).

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UNIDADE Design e Desenvolvimento Sustentável

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Sites
Ecodesign
https://goo.gl/iW9j2i
CARBON TRUST. [Organização mundial de suporte à sustentabilidade]
http://www.carbontrust.com
ECO MARK PROGRAM. [Associação ambiental japonesa]
http://www.ecomark.jp/english
The EU Ecolabel
https://goo.gl/180hB
Der Blaue Engel
http://www.fairtrade.net
Ecologo
http://www.fairtrade.net
The international Fairtrade system
http://www.fairtrade.net
GREEN SEAL
http://www.greenseal.org

 Livros
Greenwashing no Brasil: um estudo sobre os apelos ambientais nos rótulos dos produtos
TERRACHOICE; MARKET ANALYSIS. Greenwashing no Brasil: um estudo sobre
os apelos ambientais nos rótulos dos produtos. Florianópolis, SC, 2010.

 Vídeos
The Story of Stuff
https://youtu.be/9GorqroigqM

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Referências
ASHBY, M.; JONHSON, K. Materiais e design: arte e Ciência da seleção de
materiais no design de produto. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

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2012. Disponível em: <http://www.abntonline.com.br/rotulo>. Acesso em: 31
out. 2012.

______. NBR ISO 14040: gestão ambiental: avaliação do ciclo de vida: princípios
e estrutura. Rio de Janeiro, 2009.

______. ISO/TR 14062: gestão ambiental: integração de aspectos ambientais no


projeto e desenvolvimento do produto. Rio de Janeiro, 2004a.

______. NBR ISO 14024: rótulos e declarações ambientais: rotulagem ambiental


do tipo l: princípios e procedimentos. Rio de Janeiro, 2004b.

______. NBR ISO 14021: rótulos e declarações ambientais: autodeclarações


ambientais: rotulagem do tipo II. Rio de Janeiro, 2004c.

______. NBR ISO 14020: rótulos e declarações ambientais: princípios gerais. Rio
de Janeiro, 2002.

BORGES, A. (Cur.). III Bienal Brasileira de Design. Curitiba, PR: Centro de


Design Paraná, 2010. Disponível em: <https://www.cbd.org.br/wp-content/
uploads/2013/02/Catalogo_Bienal_2010_1.pdf>. Acesso em: 9 mar. 2018.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Ecodesign. 2011. Disponível em: <http://


www.mma.gov.br/informma/item/7654-ecodesign>. Acesso em: 31 out. 2012.

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ilimitadamente. São Paulo: Gustavo Gili, 2013.

CARBON TRUST. [Organização mundial de suporte à sustentabilidade]. 2012.


Disponível em: <http://www.carbontrust.com>. Acesso em: 31 out. 2012.

CRUL, M. R. M.; DIEHL, J. C. Design for sustainability: a step-by-step


approach. [S.l.]: United Nations Environment Programme (Unep); Delft University
of Technology, 2010. Disponível em: <http://www.unep.fr/scp/publications/
details.asp?id=WEB/0155/PA>. Acesso em: 8 mar. 2018.

DOUGHERTY, B. Design gráfico sustentável. São Paulo: Edições Rosari, 2011.

ECO MARK PROGRAM. [Associação ambiental japonesa]. 2012. Disponível


em: <http://www.ecomark.jp/english>. Acesso em: 31 out. 2012.

ECOLABEL. The EU Ecolabel. 2012. Disponível em: <http://ec.europa.eu/


environment/ecolabel>. Acesso em: 31 out. 2012.

FAIRTRADE INTERNATIONAL. Der Blaue Engel. 2012a. Disponível em:


<http://www.fairtrade.net>. Acesso em: 31 out. 2012.

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______. Ecologo. 2012b. Disponível em: <http://www.fairtrade.net>. Acesso


em: 31 out. 2012.

GREEN SEAL. 2012. Disponível em: <http://www.greenseal.org>. Acesso em:


31 out. 2012.

KAZAZIAN, T. Haverá a idade das coisas leves: design e desenvolvimento


sustentável. 2. ed. São Paulo: Senac, 2009.

MANZINI, E.; VEZZOLI, C. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os


requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Edusp, 2011.

TERRACHOICE; MARKET ANALYSIS. Greenwashing no Brasil: um estudo


sobre os apelos ambientais nos rótulos dos produtos. Florianópolis, SC, 2010.

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