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Material Teórico
A Responsabilidade pelo Hoje e pelo Amanhã
Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
A Responsabilidade pelo
Hoje e pelo Amanhã
• Introdução;
• Uma Ética da Responsabilidade.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
• A apresentação do pensamento ético de Hans Jonas.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE A Responsabilidade pelo Hoje e pelo Amanhã
Introdução
Toda a discussão sobre a ética passa de uma forma ou de outra pelas ações hu-
manas. O impacto dessas ações no presente e seus efeitos no futuro. Hoje, muito
mais do que em épocas passadas, reflete-se sobre esses efeitos; não apenas sobre
as consequências para as outras pessoas, mas também sobre os efeitos na natureza.
É claro que isso também traz para a discussão questões sobre os resultados de se
prejudicar diretamente o meio ambiente e como isso carrega um posterior prejuízo
para a sociedade.
Mesmo sem nunca criar uma métrica para o quão longe nossas ações podem
ressoar no futuro, havia por parte dos antigos autores uma percepção, um tanto
quanto intuitiva, acerca de quais ações poderiam legar seus efeitos de forma dura-
doura (quando criamos uma legislação, por exemplo). O que o período pós-revolu-
ção industrial e, principalmente, com os avanços tecnológicos do século XX, come-
çou a evidenciar é que a extensão dos efeitos de algumas de nossas ações enquanto
indivíduos, mas também, como governos, organizações e sociedade de forma geral
(hábitos de consumo), alargaram dramaticamente a extensão desse “ressoar para
o futuro”. O que levou os autores mais contemporâneos que se debruçaram sobre
esse tema a rever e acrescentar novos parâmetros para sua reflexão (que também
se torna nossa).
Um desses autores foi o filósofo Hans Jonas. De origem judia, Jonas nasce na
Alemanha em 1903 e falece em 1993, nos Estados Unidos.
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Naquela primeira metade do século XX, Jonas não apenas cultivava seus estudos
filosóficos como convivia com o crescente antissemitismo na Europa e na própria
Alemanha, a ponto de emigrar para a Inglaterra quando Hitler chegou ao poder em
1933. Uma vivência atribulada certamente contribuiu para o seu olhar sobre a ética
e as consequências de nossas ações. Por duas vezes Jonas foi soldado: em 1939,
serviu como voluntário das forças britânicas; e em 1949, depois da declaração da
independência de Israel, na armada israelita. Sua mãe havia falecido depois de ter
sido enviada a Auschwitz ainda durante a Segunda Guerra (OLIVEIRA, 2014).
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Figura 3 – Jovens
Fonte: Getty Images
Figura 4 – Idosos
Fonte: Getty Images
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Aceitar a hipótese de que o nível de fertilidade de uma espécie é um cruzamento
adaptativo com o seu tempo de vida (altas taxas de reprodução e ciclo de vida longo
levariam a uma superpopulação e a um desequilíbrio com o meio), então buscarmos
um grande prolongamento do ciclo de vida, ou mesmo a imortalidade, apresentaria
uma conta muito alta para ser paga pelo ecossistema terrestre.
O próprio Jonas argumenta sobre esse ponto, que “se abolirmos a morte, temos
que abolir também a procriação, pois a última é a resposta da vida à primeira”
(JONAS, 2006, p. 58). Mas essa realidade seria um tanto quanto distópica, porque
seu resultado seria uma sociedade de velhos que não mais teriam a novidade do
convívio com novos indivíduos que viriam a existir; a alteridade não traria mais ne-
nhum tipo de novidade (JONAS, 2006). Então, mais do que consequências futuras
(superpopulação, escassez ainda maior de recursos etc.), teríamos que lidar com
uma mudança qualitativa da percepção que temos de nós mesmos e dos outros,
uma mudança na sociabilidade e na evolução da cultura que, não dispondo mais do
conflito de gerações como força transformadora e de renovação, poderia se tornar
por demais enrijecida e previsível.
Por outro lado, fica a questão de nós humanos estarmos sempre procurando
meios para mitigar os sofrimentos e as adversidades da existência, tais como: me-
lhor alimentação, melhor proteção contra as intemperes do clima, condições de
deslocamento etc. A ciência médica, ao desenvolver melhores tratamentos clínicos
para males como o Alzheimer ou o Parkinson, ou ainda, o controle via medica-
mento de problemas como diabetes ou hipertensão, está contribuindo diretamente
para uma melhoria na qualidade de vida das pessoas e até (por que não?) com um
prolongamento, por via indireta, de vida desses pacientes. É possível apontar tais
ações e outras como sendo eticamente erradas? Qual seria então o “limite” para
esses desenvolvimentos?
Além dessas questões, também estão “em cima da mesa” outras, como: o con-
trole do comportamento e a manipulação genética. Dentro desse escopo, de mani-
pular a própria humanidade, o desenvolvimento tecnológico contemporâneo pode
conjurar fantasmas do totalitarismo. Se lembrarmos da vivência do próprio Jonas
em sua juventude na Alemanha quando o nazismo surgia, não é de se estranhar sua
preocupação com desenvolvimentos científicos que possam produzir tecnologia de
controle do comportamento das pessoas, ou buscar por eugenia.
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Enfim, tudo aquilo que a mudança tecnológica deixa à nossa disposição e como
isso interfere no modo como vivemos e tomamos nossas decisões.
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Figura 5 – Técnica pré-moderna
Fonte: Getty Images
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E, por fim, o item D, o progresso como marcador de superação permanente.
A técnica atual, para ser reconhecida como tal, deve sempre ser superior à anterior.
Não é apenas uma “impressão” de superação, trata-se de um parâmetro objetivo
de eficiência, a novidade tecnológica deve atingir uma maior eficiência em relação
a algum aspecto da tecnologia da geração anterior, mais rápida, mais leve, mais
barata etc. Mesmo em casos em que fica evidente o questionamento ético, como a
letalidade do arsenal militar atual, isso não muda o fato de que, do ponto de vista
da eficiência da proposta – destruir mais e mais rápido –, a nova tecnologia militar
progrediu em relação à anterior. No domínio ético, a discussão não é se esse é
ou não um progresso do ponto de vista técnico – até porque objetivamente é –, o
ponto seria se esse era um progresso desejável do ponto de vista social.
Hans Jonas busca articular de forma mais ampla “por que a técnica moderna
é objeto da Ética” (JONAS, 2013). Expande a reflexão sobre os itens citados con-
siderando os riscos da técnica moderna ser como é. Primeiramente, ele chama a
atenção para a “ambivalência dos efeitos” (JONAS, 2013, p. 51), a técnica mo-
derna em sua interação com a tecnologia não é essencialmente nem boa nem má.
Tal qual uma ferramenta, pode ser utilizada para fins considerados moralmente
corretos ou para fins extremamente reprováveis. O ponto que Jonas defende para
mudar o olhar sobre a responsabilidade dos desenvolvimentos técnico-científicos é
precisamente a falta de clareza sobre alguns efeitos:
Esse cenário tende a ser agravado, também, segundo Jonas, pela inevitabilida-
de de aplicação. Diferente de uma capacidade que podemos optar em utilizar em
um dado momento e deixar de usar em outro, os acúmulos de novas tecnologias
têm se dado com tamanha celeridade que não estamos realizando a devida reflexão
sobre a maturação de seus efeitos e, na maioria dos casos, incorporando-as ao coti-
diano: nas interações sociais, na produção e no consumo, como um novo “normal”.
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O período seguinte traz consigo o advento do humanismo, com ele uma pers-
pectiva antropocêntrica. O ser humano é colocado como preocupação central para
o conhecimento e a ética. Para Jonas, nosso poder em escala planetária modifi-
ca essa perspectiva antropocêntrica como foi entendida até agora. Colocar o ser
humano no centro de todas as preocupações e de todas as responsabilidades en-
quanto direitos e deveres parecia razoável, quando os poderes das ações humanas
pareciam afetar, principalmente, o próprio domínio humano.
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(a omissão), torna-se tão relevante quanto, pois, a consciência de podermos mudar o
rumo de certos acontecimentos nos faz diretamente responsáveis por eles, visto que
a mudança – ou não – estava dentro do espectro daquilo que dependia do nosso agir
e, portanto, das nossas decisões.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Fundamentos da ética
BRAGA JUNIOR, A. D. Fundamentos da ética. Curitiba: InterSaberes, 2016. [e-book]
Bioética: fundamentos e reflexões
JORGE FILHO, I. Bioética: fundamentos e reflexões. 1. ed. Rio de Janeiro: Atheneu,
2007. [e-book]
Homo ecologicus: ética, educação ambiental e práticas vitais
PELIZZOLI, M. L. Homo ecologicus: ética, educação ambiental e práticas vitais.
Caxias do Sul, RS: Educs, 2011. [e-book]
Bioética: uma diversidade temática
RUIZ, C. R, TITTANEGRO, R. Bioética: uma diversidade temática. 1. ed. São Caetano
do Sul, SP: Difusão Editora, 2007. [e-book]
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Referências
JONAS, H. O princípio de responsabilidade: ensaio de uma ética para a civiliza-
ção tecnológica; tradução do original alemão Marijane Lisboa, Luiz Barros Montez.
Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2006.
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