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Material Teórico
Aspectos da Filosofia Contemporânea do Século XIX
Revisão Técnica:
Prof. Ms. Edson Alencar Silva
Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Aspectos da Filosofia
Contemporânea do Século XIX
• Introdução
• Quadro Histórico
• Características do Pensamento do Século XIX
• O Nascimento das Ciências Humanas
• O Positivismo de Comte
• O Idealismo de Hegel
• O Materialismo de Marx
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Tratar do tema “Filosofia Contemporânea do século XIX”.
· Perceber que a Filosofia se entrelaça com a Ciência, passando de sua
aliada à sua crítica.
· Analisar o lugar habitado pela Filosofia Contemporânea e perceber
que ela ainda é a nossa Filosofia.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Aspectos da Filosofia Contemporânea do Século XIX
Introdução
A Filosofia Contemporânea do século XIX é uma Filosofia que se entrelaça
com as teorias científicas e com o desenvolvimento das Ciências em geral. Então,
podemos dizer que a Ciência adquiriu um significado filosófico.
Quadro Histórico
O Capitalismo já era uma realidade no século XIX. Na segunda metade do
século XVIII, ocorreu a “Era das revoluções” burguesas. A partir de 1760, ocor-
reu na Inglaterra a 1ª. Revolução Industrial, que transformou radicalmente o
modo de produzir as mercadorias, criou as fábricas e também o proletariado
moderno (operário).
Com a Revolução Francesa de 1789, a burguesia tomou o poder e criou um
mundo à sua imagem e semelhança, proclamando aos quatro cantos do mundo o
seu lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” e a “Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão”. A Revolução Francesa inaugura um novo período histórico
chamado História Contemporânea, que se estende até os dias atuais.
As principais características desse período, segundo Arruda (1974) são:
• Industrialização da Europa;
• Crescimento das cidades (urbanização);
• Importância crescente da Ciência para a sociedade e para o pensamento;
• Expansão do trabalho assalariado;
• Lutas econômicas e políticas entre a burguesia e o proletariado;
• Nascimento da ideologia socialista, que se opõe à sociedade capitalista;
• Grande imigração de europeus para a América.
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Características do Pensamento
do Século XIX
O elemento mais importante e que condicionou o pensamento e a Filosofia do
século XIX foi o desenvolvimento das Ciências. Para demonstrar a sua eficácia,
a Ciência e a Técnica tornam-se aliadas e provocaram grandes transformações
na sociedade.
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UNIDADE Aspectos da Filosofia Contemporânea do Século XIX
Uma solução começou a ser adotada, que era libertar a Matemática de qualquer
ligação com o mundo real e transformá-la na elaboração de postulados, que
deveriam ser definidos de modo preciso e obrigados a não ser contraditórios entre
si (HOBSBAWM, 1988). Essa separação entre Ciência e intuição vai se agravar
com a Física relativista de Einstein, no século XX.
1 Principalmente se considerarmos que o comportamento humano depende de múltiplas variáveis, tais como:
hereditariedade, meio, impulsos, desejos, memória, bem como da ação da consciência e da vontade.
2 Há de se considerar que na experimentação pode ocorrer o falseamento dos resultados.
3 Há de se considerar que quando é possível aplicar a Matemática, são utilizadas técnicas estatísticas, com resultados
sempre aproximativos e sujeitos a interpretação.
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ainda, a dificuldade decorrente da subjetividade. As Ciências da Natureza aspiram
à objetividade, que consiste na separação radical entre o sujeito e o objeto no
processo de conhecimento; na capacidade de lançar hipóteses testáveis por todos e
no não envolvimento emocional e intelectual do cientista com o seu objeto. Mas, se
o sujeito que conhece é da mesma natureza do objeto conhecido, parece ser muito
difícil evitar a subjetividade; 5) Finalmente, se as leis das Ciências da Natureza
supõem o determinismo (as mesmas causas produzem os mesmos efeitos), como
fica a questão da liberdade humana? Por haver regularidades na natureza é possível
estabelecer leis e por meio delas prever a incidência de um acontecimento. Como
isso seria possível nas Ciências Humanas se admitirmos a existência da liberdade
humana? (ARANHA & MARTINS, 2007).
O Positivismo de Comte
No ambiente cientificista da Europa do século XIX, desenvolve-se o Positivismo,
cujo principal representante foi o pensador francês Auguste Comte (1798-1857).
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UNIDADE Aspectos da Filosofia Contemporânea do Século XIX
Em comunidades tribais, por exemplo, a queda dos corpos é atribuída à ação dos
deuses. O metafísico Aristóteles explica a queda pela essência dos corpos pesados,
cuja natureza os faz tender para baixo. Galileu, espírito positivo, não indaga o
porquê, não procura as causas, mas se contenta em descrever como o fenômeno
ocorre. Segundo Comte, “todos os bons espíritos repetem, desde Bacon, que
somente são reais os conhecimentos que repousam sobre fatos observados” (Apud
ARANHA & MARTINS, 2007, p. 140).
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A Sociologia
Comte achava que a Europa do século XIX já estava no estágio positivo. Os
métodos teológicos e metafísicos não eram mais empregados por ninguém na
área da Ciência, exceto no campo dos fenômenos sociais. Por isso, ele dizia que
a Filosofia positiva deveria submeter a sociedade à rigorosa pesquisa científica
(REALE & ANTISERI, 2003). Comte inventou a palavra Sociologia.
Para Comte, não se podem resolver crises sociais e políticas sem o devido
conhecimento dos fatos sociais e políticos. E é por essa razão que ele vê como
tarefa urgente o desenvolvimento do que ele chamou de Física Social Para o autor,
a Sociologia é pensada de maneira semelhante às outras Ciências, como uma
Ciência de observação, e recebe a denominação de Física Social, justamente por
lidar com fatos que têm origem no mundo social.
A Ciência para Comte tem como objetivo a pesquisa das leis invariáveis
dos fenômenos. O conhecimento dessas leis é necessário para prever e a
previsão é necessária para orientar a ação do homem sobre a realidade (REALE
& ANTISERI, 2003).
4 Nas palavras de um de seus admiradores ilustres, John Stuart Mill, “Enquanto as leis derivadas da Estática Social são
estabelecidas pela análise e comparação dos diferentes estados de sociedade sem levar em conta a ordem de sua
sucessão, a consideração dessa ordem é, ao contrário, predominante no estudo da dinâmica social, cujo propósito é
observar e explicar as seqüências dos estados sociais.” MILL, John Stuart. A Lógica das Ciências morais. Tradução
de Alexandre Braga Massella. São Paulo: Iluminuras, 1999.
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A Religião da Humanidade
Em sua última grande obra, o Sistema de política posi tiva (1851-1854),
o objetivo de Comte de regenerar a sociedade com base no conhecimento das
leis sociais assume a forma de religião, na qual Deus é substituído pelo amor à
Humanidade. A Humanidade é o ser que transcende os indivíduos. Ela é composta
por todos os indivíduos vivos, pelos mortos e pelos que ainda não nasceram (REALE
& ANTISERI, 2003).
Comte sustenta que a religião da Humanidade deve ser uma cópia da estrutura
religiosa católica. São dois os dogmas da nova religião: a Filosofia positiva e as leis
científicas. Os ritos, os sacramentos, o calendário e o sacerdócio são necessários
para a divulgação da nova religião. Há um batismo secular, uma crisma secular
e uma extrema-unção secular. O anjo da guarda da religião da Humanidade é a
mulher (isso se deve à idealização de Comte de sua amada Clotilde de Vaux). Os
meses terão nomes significativos na religião positiva (por exemplo, Prometeu) e os
dias da semana serão consagrados a cada uma das sete Ciências. Serão construídas
templos laicos (institutos científicos). Um papa positivo exercerá a sua autoridade
sobre os membros da religião que irão se ocupar do desenvolvimento das indústrias
e da utilização prática das descobertas científicas. Na sociedade positiva, os jovens
serão submetidos aos anciãos e o divórcio será proibido. A mulher torna-se a
protetora e fonte da vida sentimental da Humanidade. A Humanidade é o “Grande
Ser”; o espaço o Grande Ambiente e a terra o Grande Fetiche. Essa é a trindade
da religião positiva (REALE & ANTISERI, 2003). Foram criadas várias igrejas
positivistas no mundo todo.
Figura 1
Fonte: Wikimedia/Commons
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O Idealismo de Hegel
O alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) foi o principal represen-
tante do idealismo moderno.
A Dialética Idealista
Dialética, substantivo feminino. Em sentido bastante genérico, oposição, conflito
originado pela contradição entre princípios teóricos ou fenômenos empíricos. A
ideia central da dialética é que a realidade é movimento. Tudo o que existe contém
em si mesmo o princípio da sua destruição e posterior transformação em algo
diferente. Para Hegel, a dialética é uma lei que caracteriza a realidade como um
movimento incessante e contraditório, que pode ser expresso por três momentos
sucessivos (tese, antítese e síntese) que se manifestam simultaneamente em todos
os pensamentos humanos e em todos os fenômenos do mundo material.
Como ponto de partida da dialética, Hegel encontra a Ideia pura (tese). Esta,
para se desenvolver, cria um objeto oposto a si, a Natureza (antítese), que é a
Ideia alienada, o mundo desprovido de consciência. Da luta desses dois princípios
opostos nasce a síntese, o Espírito, ao mesmo tempo pensamento e matéria,
isto é, a Ideia que toma consciência de si por meio da Natureza. (ARANHA &
MARTINS, 2007).
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O Materialismo de Marx
Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) foram os criadores
de uma teoria da História, o materialismo histórico, e de uma Filosofia, o mate-
rialismo dialético. Marx foi um dos pensadores que mais influenciou o século XX
com a sua doutrina comunista e que foi adotada por vários países como Rússia,
China, Cuba etc.
O Materialismo Dialético
Para o materialismo dialético, o mundo material é anterior à consciência, ao
pensamento. A matéria é a origem da consciência e a consciência é um produto
da matéria. O movimento é a propriedade fundamental da matéria e exis te
independentemente da consciência humana. É uma visão oposta ao idealismo
(ARANHA & MARTINS, 2007). Marx defende que seu método não se assemelha
ao de Hegel, argumenta o seguinte:
“Meu método dialético não só é fundamentalmente diverso do método de
Hegel, mas é, em tudo e por tudo, o seu reverso. Para Hegel o processo
do pensamento que ele converte inclusive em sujeito com vida própria,
sob o nome de ideia, é o demiurgo (criador) do real e esse, a simples
forma externa em que toma corpo. Para mim, o ideal, ao contrário, não é
mais do que o material, traduzido e transposto para a cabeça do homem”
(Karl Marx, palavras finais da 2. ed. t. I de O Capital).
Online: <https://goo.gl/HTT1Yv>.
O Materialismo Histórico
Marx escreveu no Prefácio de Para uma crítica da economia política, que o
materialismo histórico parte da tese segundo a qual “não é a consciência dos homens
que determina o seu ser, mas, ao contrário, o seu ser social que determina a sua
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consciência” (Apud REALE & ANTISERI, 2003, p. 104). Isso o leva a estabelecer
a relação entre estrutura material da sociedade (economia) e o que ele chama de
superestrutura (as ideias morais, filosóficas, religiosas, o Estado e a política).
Marx diz que as diversas formas de consciência são condicionadas ou justificativas
da estrutura econômica da sociedade, de modo que, se muda a estrutura econômica,
haverá transformação correspondente na superestrutura ideológica. A história
humana pode ser dividida em períodos relativamente longos de acordo com a
estrutura do modo de produção: Comunismo Primitivo; Modo de produção asiático;
Escravidão Clássica; Feudalismo; Capitalismo e cada uma delas corresponde a uma
superestrutura diferente (REALE & ANTISERI, 2003).
Em A ideologia alemã, pode-se ler: “a produção das ideias, das representações,
da consciência (...) está diretamente entrelaçada à atividade material e às relações
materiais dos homens” (Apud REALE & ANTISERI, 2003, p. 194). Os homens
podem se diferenciar dos animais pela religião, pela consciência ou pelo que se
quiser, mas eles começaram a se distinguir dos animais quando começaram a
produzir os seus meios de subsistência. E aquilo que os indivíduos são depende
das condições materiais da produção econômica. A essência do homem, portanto,
está em sua atividade produtiva.
O materialismo histórico é a aplicação do materialismo dialético ao campo
da história, é a explicação da história por fatores materiais (econômicos
e técnicos). O senso comum procura explicar a história pela ação dos grandes
personagens (heróis), das grandes ideias e até pela intervenção divina. Marx inverte
esse processo: no lugar das ideias, estão os fatos materiais; no lugar dos heróis, a
luta de classes. Não nega, com isso, que o ser humano tenha ideias, mas as explica
pela estrutura material da sociedade (REALE & ANTISERI, 2003).
A Luta de Classes
No Manifesto do partido comunista, Marx e Engels escrevem: “A história
de toda a sociedade até aqui é a história de lutas de classes. [Homem] livre e
escravo, patrício e plebeu, barão e servo [Leibeigener], burgueses de corporação
[Zunftbürger] e oficial, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em constante
oposição uns aos outros, travaram uma luta ininterrupta, ora oculta ora aberta,
uma luta que de cada vez acabou por uma reconfiguração revolucionária de toda a
sociedade ou pelo declínio comum das classes em luta.”. O motor da história para
Marx é, portanto, a luta de classes. Opressores e oprimidos é o que Marx vê no
desenvolvimento da História humana. E a nossa época, a época do Capitalismo,
não eliminou a luta de classes, pelo contrário, simplificou, visto que toda a sociedade
vai se dividindo cada vez mais em dois grandes campos adversários: a burguesia e
o proletariado.
Por burguesia, Marx entende a classe dos capitalistas modernos, proprietários
dos meios de produção e empregadores de assalariados. Por proletariado, ele
entende a classe dos assalariados modernos que, não tendo meios de produção
próprios, são obrigados a vender sua força de trabalho para viver (REALE &
ANTISERI, 2003).
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Para Marx, “a burguesia não apenas fabricou as armas que a levarão à morte,
mas também gerou os homens que empunharão aquelas armas: os operários
modernos, os proletários” (Apud REALE & ANTISERI, 2003, p. 199). Em lugar
de operários isolados e em concorrência, o desenvolvimento da grande indústria
cria organizações de operários conscientes de sua própria força. A burguesia,
portanto, produz os seus coveiros, a sua decadência e a vitória do proletariado são
processos inevitáveis.
O Comunismo
O Feudalismo produziu a burguesia. E a burguesia, em seu desenvolvimento,
produz o agente histórico que a levará à morte, isto é, o proletariado. Marx diz que,
fatalmente, a produção capitalista vai gerar a sua própria negação e, assim, teremos
a passagem da sociedade capitalista para o Comunismo, uma sociedade sem
propriedade privada e, portanto, sem classes, sem divisão do trabalho, sem
alienação e, sobretudo, sem Estado (REALE & ANTISERI, 2003).
Explor
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Karl Marx (1/3) - Clássicos da Sociologia
https://youtu.be/89LD2a1n8vA
Karl Marx (2/3) - Clássicos da Sociologia
https://youtu.be/JryegAZEi70
Karl Marx (3/3) - Clássicos da Sociologia do professor Cássio Diniz
https://youtu.be/yw08F6QVKMg
Leitura
A Ideologia Alemã
https://goo.gl/cuQFiP
Manifesto do Partido Comunista
https://goo.gl/2P4dJ3
Prefácio da Fenonemologia do Espírito
https://goo.gl/uBRw9z
Discurso Preliminar sobre o Espírito Positivo
https://goo.gl/q5jxjd
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UNIDADE Aspectos da Filosofia Contemporânea do Século XIX
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
introdução à Filosofia, 3.ed. rev. São Paulo: Moderna, 2007.
______. A era dos impérios (1875-1914). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
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