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Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) Ciência Política e

Sociologia - Sociedade, Estado e Política na América Latina.

Epistemologia e método nas ciências sociais

José Leonardo Benítez

A revolução científica: a modernidade europeia e nascimento da ciência experimental


moderna.

Desde muito antes os seres humanos se viram necessitados de entender os objetos os


cercam. Isso não necessariamente por uma ação do todo cognitiva, mas sim, claramente
motivado por fenômenos externos ou acontecimentos naturais, visando a sua própria
supervivência. Para isso, os seres humanos deviam entender e “dominar” as leis da natureza.

Os cientistas foram parte importante do desenvolvimento da ciência, mas, segundo a


abordagem que tenta se dar neste texto, eles não são os protagonistas principais. Para adentrar
melhor nesta ideia, me parece muito importante começar com uma fala do Hilton Japiassú:

Já afirmamos que a ciência moderna pronta de cabeça de alguns


sábios. Ela é um produto da cultura. Seu lugar de nascimento e sua
morada não se situam num céu qualquer das ideias. Tampouco se
encontra em um vago mundo das chamadas ¨Verdades Cientifica¨
(Japiassú, 1984, p. 155)

Assim podemos entender que, o que se conhece como ciência moderna ou ciência
experimental moderna não surgiu do nada, não foi por iluminação divina ou somente uma
excepcional capacidade criativa de algumas pessoas especificas. A ciência teve um contexto
histórico muito especifico, ela é fruto de relações sociais acontecendo no momento e, nesse
sentido, não é muito diferente aos demais produtos criados naquela época.

Tal como se falava no início, um tipo de interpretação do surgimento da ciência


experimental moderna, coloca a responsabilidade principalmente nas pessoas individuais,
neste caso, os cientistas. A partir das observações e interpretações destes (principalmente
homens) a ciência vai se desenvolvendo.
Estas novas ideias, contestavam as que até então imperavam, demonstrando como
estas eram incorretas e deixando-as para trás. Neste contesto podemos falar do Renascimento
Cultural que se deu na Europa que se deu em várias regiões da Europa entre os séculos XIV e
XVI principalmente em países como Polonia, Alemania, Holanda e Itália. O avanço do
pensamento se deu em muitas áreas do pensamento como por exemplo; na astronomia, na
física, no pensamento teológico, Etc.

A concepção deste tipo de abordagem mencionado nos parágrafos anteriores, é


chamado de Idealismo. No idealismo a ciência moderna se origina totalmente, ou quase
totalmente, de dentro do pensamento dos cientistas, sem nenhuma ligação com o mundo.
Assim, dentro dessa concepção, a ciência e vista sendo neutra, ideia já muito debatida e
rechaçada pela maioria dos especialistas dento das ciências sociais nos dias de hoje.

Também, dentro do idealismo, a ciência é objetiva e boa, como se fosse impossível


que o cientista que faz ciência de “qualidade” não pudesse induzir, de forma consciente o
não, no resultado do experimento e que esta não possa ser pensada e instrumentalizada por
diversos grupos para satisfazer os mais deploráveis dos interesses.

Toda a maneira em que o ser humano pensa, produz conhecimento e até mesmo como
vive, desde muito tempo antes, está condicionada pelas relações sociais e materiais da
sociedade. Nesse sentido o pensamento e a produção da sociedade medieval eram totalmente
condicentes com o pensamento religioso cristão na Europa daquele período.

Historicamente a ciência surge como um projeto de uma parte específica da sociedade


que tinha uma finalidade responder perguntas e satisfazer os interesses próprios que vinham
surgindo a causa das mudanças que estavam acontecendo naquele momento. Ainda na idade
média, aproximadamente no século XII, importantes mudanças aconteciam na sociedade
medieval tais como; a urbanização progressiva e o desenvolvimento de tecnologia aplicada.
Com tudo isso, começam a aparecer resquícios do novo sistema, de um novo modo de viver e
produzir que vai condicionar posteriormente a maneira de pensar de toda a sociedade.

Podemos ver esses resquícios de um novo modo de vida, com um pouco mais de
clareza, no surgimento de pequenas manufaturas. Com isso a quantidade de produtos
disponíveis começou a aumentar o que, a sua vez, propiciou o grande crescimento do
comercio. Tal comercio trouxe uma possibilidade de maior acumulação que ajudou a criação
de bancos. É assim que no início do século XV na hoje chamada Itália, mais especificamente
em Genova, surge o primeiro Banco moderno. Também na Itália surgem uma grande
quantidade de engenheiros e artesãos que eram, por assim dizer, representantes do no modo
de pensar.

Nesse contesto de grandes mudanças, principalmente nas cidades comerciais da


Europa, que se torna possível ao surgimento da ciência moderna, mais não como uma ideia e
sim como uma necessidade concreta histórica e histórica. Dentro de tudo isso surge também,
uma nova classe social, chamada de burguesia, que passa a ser detentora de um importante
poder econômico. Esta nova classe se servia, principalmente, do comercio e do artesanato ou
manufatura para satisfazer seus interesses. Para efetivar os seus objetivos, a burguesia, via na
ciência como um instrumento para “dominar a natureza” e desenvolver suas novas ideias e
novas técnicas.

Ao redor do século XV os europeus tinham dificuldades de se conectar com a Ásia


para expandir o seu comercio, por conta das anteriores guerras das Cruzadas e por sua relação
conflituosa com os turcos Otomanos que controlavam o passo pelo hoje conhecido como
Oriente Médio. Tendo em vista essa necessidade, eles começaram a fazer cada vez mais
navegações pelo oceano Atlântico, desenvolvendo ainda mais a indústria naval, iniciando-se
assim o período conhecido como as “Grandes Navegações”, que foi liderado pelos
portugueses. Isso trouxe como consequência o descobrimento de rotas, antes não conhecidas,
para a Ásia. Tudo isso contribuiu para o avanço da ciência, porque para que essas navegações
se tornem possível era necessário desenvolver conhecimentos e técnicas muito complexas
que incluíam engenharia, física, astronomia, Etc.

Nesse contexto de conquista do oceano Atlântico, e que se localizam as viagens do


marinheiro genovês Cristovam Colombo em 1492. Esta viagem não somente significa o
chamado erroneamente de descobrimento da América, mas também é um marco para o
desenvolvimento da ciência moderna. Geralmente em pensamentos de tipo Idealista é
também um pouco dentro do pensamento materialista, se pensa que a ciência foi um
fenômeno puramente europeu ou até com algumas influencias do conhecimento da Ásia. E
bom aclarar que isso não bem foi assim. O contato dos europeus com o novo mundo, que de
novo não tinha nada, foi fundamental para o avanço do conhecimento cientifico. O saquei do
continente americano proporcionou os recursos necessários para que isso acontecesse, além
disso, também ajudou em diversos tipos de estudos como por exemplo nas ciências naturais,
antropologia, astronomia, Etc. Inclusive pode até se disser que que o conhecimento europeu e
se aproprio de alguns conhecimentos existentes do continente américa e várias outras coisas a
mais. Todas essas ideias nos fazem entender que claramente o continente americano no
esteve a margem do nascimento e do avanço da ciência, diferente disso, teve um papel ativo
muito importante para este acontecimento.

O objetivo deste trabalho não rechaçar totalmente o pensamento idealista, mesmo que
assim pareça no texto, porque fazendo isso, corremos o risco de cair em interpretações
mecanicistas e assim perder a capacidade de interpretar com maior clareza os acontecimentos
da história. A concepção materialista ajuda a entender melhor os grandes acontecimentos,
mas tem suas limitações que muitas outras correntes de pensamento podem ajudar a um
entendimento mais abrangentes.

Referências bibliográficas.

JAPIASSU, Hilton. A revolução científica moderna. 1. Ed. São Paulo, SP: Letras & Letras,
1997.

MOSSER, Paul K.; MULDER, Dwayne H; TROUT, J. D. A Teoria Do Conhecimento:


Uma introdução temática. 1 Ed. Tradução por: Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo:
Martins Fontes, 2004.

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