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FILOSOFIA – Capítulo 12

O positivismo:
a divinização da ciência
AUGUSTO COMTE 02
JOHN STUART MILL 05
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 07
EXERCÍCIOS PROPOSTOS 07
SEÇÃO ENEM 08
O positivismo:
a divinização da ciência
O positivismo foi um movimento filosófico do século XIX A riqueza aumentou juntamente com a produção em
que teve como principal característica a romantização larga escala, criando-se assim um ciclo virtuoso entre
da Ciência, ou seja, a crença de que ela deveria servir oferta e procura, pois, à medida que a produção
como guia exclusiva da vida individual e social do homem: aumentava, crescia também o número de trabalhadores
deveria ser, assim, o único conhecimento, a única moral, assalariados, o que, consequentemente, gerava mais
a única religião possível. Exercendo grande influência em produção. Naquele momento, ocorreram importantes
todo o pensamento europeu, o positivismo tinha em sua avanços científicos, como na Medicina, por exemplo, que
essência as ideias empiristas, o que o fez ser considerado encontrou solução para algumas das doenças
por alguns estudiosos como um desenvolvimento do infecciosas que afligiam a humanidade.
empirismo. Tendo como principal representante Augusto Foi nesse período também que a Revolução Industrial
Comte (1789-1857), o movimento positivista espalhou-se atingiu o auge de seu desenvolvimento, o que mudou
por todo o mundo ocidental e manifestou-se nas mais radicalmente a vida dos homens. O entusiasmo com
diversas áreas do conhecimento. o progresso da humanidade, visto como algo certo
e irrefreável, e com a construção de uma vida melhor
Derivado do latim positum, o termo positivismo e mais feliz, a qual seria proporcionada pelos avanços
refere-se àquilo que está posto, situado, que existe científicos, pode ser notado em diversos aspectos da
na realidade, referindo-se, portanto, a tudo o que vida humana, tendo-se em vista a crença de que todos
pode ser observado e experimentado. Esse termo os problemas seriam resolvidos pelo conhecimento
foi utilizado pela primeira vez por Saint- Simon científico aplicado na indústria e na educação.
(1760-1825), um dos fundadores do socialismo utópico, De 1830 a 1890, os avanços dos conhecimentos nos
para designar o método exato das Ciências e sua extensão vários campos do saber se fizeram notáveis. Na Física, os
para a Filosofia, acreditando que o avanço da Ciência estudos de Hertz sobre o Eletromagnetismo e os de Joule e
determinaria as mudanças políticas, sociais, morais Thomson sobre a Termodinâmica foram os grandes
e religiosas pelas quais a sociedade deveria passar. destaques. No campo da Biologia, Pasteur desenvolveu a
Tendo em vista a definição do termo, fica clara a crítica microbiologia. Bernard desenvolveu a Fisiologia e a
do positivismo a qualquer filosofia metafísica, a qual medicina experimental e Darwin, sua Teoria
buscava algo que ultrapassasse a simples aparência Evolucionista. Nesse momento da História, como sinal
dos seres, ou seja, a filosofia que buscava uma essência do crescente conhecimento da Engenharia e de suas
imaterial das coisas por meio da razão. Para a filosofia tecnologias, foram construídos a Torre Eiffel, em Paris, e o
canal de Suez, ligando a Europa à Ásia, o Mar
positivista, só é conhecimento aquele que diz respeito ao
Mediterrâneo ao Mar Vermelho.
mundo material (empírico), sendo que tudo aquilo que
não se possa experimentar não existe ou não pode ser O positivismo encontrou, assim, seus principais pontos
conhecido. de apoio na estabilidade política da Europa, no notável
crescimento das indústrias, no desenvolvimento latente
O positivismo desenvolveu-se plenamente em uma das ciências e no aparecimento de novas tecnologias.
Europa que vivia um quadro político de paz substancial, Visto como o romantismo da Ciência, o positivismo
a qual se deu logo após os movimentos revolucionários acompanhou e estimulou o surgimento e a afirmação da
de 1848, conhecidos também como A primavera dos organização técnico-industrial da sociedade moderna, o
povos, e, também, em um contexto de expansão colonial que se expressa no otimismo que acompanhou a
europeia na África e na Ásia. Nesse contexto social e origem do movimento de industrialização.
político, a Europa vivenciava a concretização de seu Essa corrente de pensamento pode ser dividida em duas
desenvolvimento industrial, o que trouxe uma mudança formas históricas essenciais:
radical no modo de ser e de viver dos homens, graças aos
1. Positivismo social: Essa forma de positivismo,
avanços proporcionados pelo desenvolvimento das ciências
representada por Saint-Simon, Augusto Comte e
e pela produção de novas tecnologias. Tais tecnologias
John Stuart Mill, surgiu da necessidade de constituir a
modificaram todo o modo de produção dentro das
Ciência como o fundamento de uma nova
indústrias, trazendo como inevitável consequência o ordenação social e religiosa da sociedade.
crescimento vertiginoso das cidades, que se tornaram
2. Positivismo evolucionista: Essa segunda forma,
centros urbanos cada vez mais procurados por
representada por Spencer, ampliou o conceito
trabalhadores em busca de novas oportunidades de
de progresso do positivismo e lutou por sua
emprego e renda, rompendo com o antigo equilíbrio entre
imposição em todos os campos da Ciência.
cidade e campo.
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Os principais representantes do positivismo foram:
6. O positivismo foi visto como o auge dos ideais
na França, Augusto Comte (1798-1857); na Inglaterra,
iluministas que, rompendo com uma concepção
Stuart Mill (1806-1873) e Herbert Spencer (1820-1903);
idealista de conhecimento, valorizavam os fatos
na Alemanha, Jakob Moleschott (1822-1919) e Ernest
Haeckel (1834-1919); na Itália, Roberto Ardigò (1828- empíricos como os únicos capazes de levar ao
1920). Em cada um desses países, o positivismo mostrou conhecimento verdadeiro, além de valorizarem a fé
traços próprios e desenvolvimentos específicos. Porém, na racionalidade, o poder da Ciência para resolver os
alguns princípios são comuns a todas essas problemas humanos e sociais e a cultura como
ramificações, garantindo ao positivismo seu caráter de criação exclusivamente humana sem a interferência
movimento filosófico. da divindade.
Teses fundamentais do positivismo:
7. De uma forma geral, o positivismo pecou pela
1. A Ciência é o único conhecimento possível e seu método confiança acrítica na Ciência, vista como aquela
é o único válido para a obtenção do conhecimento que produziria um novo mundo pelo progresso.
verdadeiro. Logo, a busca por causas ou princípios A inevitabilidade defendida pelo positivismo
que não sejam acessíveis ao método científico não era considerada inquestionável, o que fugia
leva, absolutamente, ao conhecimento. A ao espírito da própria Filosofia.
investigação metafísica, ou seja, a busca por
verdades que ultrapassam a matéria, não tem 8. O pensamento positivista levou à formulação
nenhum valor. de críticas a todo o conhecimento que não fosse
real e empiricamente comprovado. Assim, ainda
2. O método da Ciência busca descrever os fatos e mostrar
que o positivismo tenha caído, mais tarde, em uma
as relações constantes entre eles, expressando-os
em leis que permitem ao homem realizar a previsão concepção metafísica de igual proporção, a
dos fatos futuros, tese defendida por Comte. No metafísica e qualquer concepção idealista de mundo
campo da evolução, Spencer afirma que as eram combatidas como formas inferiores e
experiências permitem prever a gênese evolutiva antiquadas de pensamento.
dos fatos mais complexos a partir dos mais
9. Alguns marxistas criticaram o positivismo ao
simples, uma vez que a lei advinda da observação e
vislumbrar, nessa concepção de progresso
da experiência da natureza é a tradução da
regularidade observada na natureza. Assim, o inevitável, a concretização dos ideais burgueses e
positivismo baseia-se na identificação das leis dominadores.
causais e no domínio sobre os fatos. O método
10. No positivismo, a Teologia e a Metafísica foram
descritivo pode ser aplicado tanto no estudo da
substituídas pelo culto à Ciência, considerada a
natureza quanto no estudo da sociedade. Os fatos
única capaz de compreender o mundo. O mundo
naturais, além de constituírem as relações de causa
e efeito no mundo natural, também o fazem no espiritual foi, assim, substituído pelo mundo humano,
mundo social, nas relações entre os homens, e as ideias de espírito ou essência foram substituídas
o que deixa clara a importância da Sociologia para pela ideia de matéria.
o positivismo.

3. O método da Ciência, por ser o único válido, deve


ser estendido a todos os campos de indagação e da
atividade humana, que, tanto no campo individual
AUGUSTO COMTE
quanto no social, deve ser guiada por ele. O método
Nascido em 19 de janeiro de 1798, em Montpellier,
científico é, portanto, o único capaz de possibilitar a
França, membro de uma modesta família católica,
compreensão do mundo e também a resolução de
Augusto Comte ficou conhecido como o fundador da
seus problemas. Por essa razão, surge a crença de
que a Ciência é capaz de construir um mundo Sociologia e como o maior representante do positivismo
melhor, resolvendo todos os problemas humanos e enquanto movimento filosófico.
sociais.
4. No momento histórico do positivismo, observou-se
um otimismo crescente, já que a humanidade
acreditava que o progresso era inevitável e que
o caminho para a construção de um mundo melhor
havia sido, enfim, encontrado. Essa nova realidade
de bem-estar geral, de paz e de solidariedade
deveria ser então construída pelo conhecimento
científico e pelo trabalho humano.
5. Nesse período, acreditava-se que o positivismo
construiria um mundo melhor e mais justo, em que
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todos teriam garantidas as melhores condições de


vida, proporcionando a plena felicidade a todos. Esse
estágio de desenvolvimento humano seria inevitável e,
por isso,
o positivismo trazia uma visão messiânica da Augusto Comte, o maior representante do positivismo.
História, acreditando que o mundo positivista era
o último e perfeito.
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Apesar da educação religiosa recebida, afastou-se da fé
O conhecimento do mundo aprimorou-se ao longo do
católica aos 14 anos de idade, ingressando, em 1814,
tempo, o que levou ao consequente aprimoramento
na Escola Politécnica de Paris (École Polytechnique), a
das concepções sobre o mundo. A humanidade avançou
qual exerceu forte influência sobre seu pensamento.
de uma condição rudimentar e bárbara para uma
Comte foi expulso dessa escola em 1816 por participar de
condição civilizada de mundo, progresso este que se
um motim realizado pelos alunos em uma época marcada
manifestou no aprimoramento constante dos homens
pelas mudanças políticas pós-napoleônicas. Retornou
e de suas visões sobre a realidade, o que explicaria,
em seguida à sua cidade natal, onde estudou Medicina
inclusive, as transformações da História.
por pouco tempo. Em 1817, retornou a Paris, passando
a sobreviver de seu trabalho como professor particular A lógica que permeia essa teoria é a de que
de Matemática e escrevendo para alguns jornais. a humanidade, enquanto não houvesse atingido o auge
Aqueles foram tempos tortuosos para Comte, que de seu desenvolvimento, conheceria o mundo de forma
passava por necessidades financeiras, tendo de recorrer imperfeita. Porém, essas formas imperfeitas iriam sendo
constantemente ao dinheiro enviado pela mãe para substituídas por outras melhores até que a humanidade
sobreviver. Durante certo tempo, foi secretário de um chegasse ao último estágio do conhecimento, em que
banqueiro na cidade e, de 1818 a 1824, tornou-se as antigas superstições e os pré-conceitos tornassem-se
secretário do socialista utópico Conde de Saint-Simon, desnecessários e obsoletos.
sobre o qual teceu duras críticas mais tarde. Em 2 de abril Os estágios da humanidade são:
de 1826, iniciou seu curso público de Filosofia Positiva.
Abandonado pela mulher, sofreu sérias perturbações 1º estado – Teológico: Nesse estágio, o ser
mentais, suspendendo o curso de Filosofia, o qual humano explica a realidade apelando para entidades
retomou somente em 1829, tendo mantido-o até 1842, sobrenaturais (os “deuses”). Busca-se, dessa forma,
período de publicação da redação do curso. o absoluto e as causas primeiras e finais
representadas por questões como “de onde viemos?”
Em 1844, começou seu envolvimento amoroso com e “para onde vamos?”. No estágio teológico, os
Clodilde de Vaux, que faleceu no ano seguinte, vítima fenômenos são vistos como produtos da ação direta
de tuberculose. Com a morte da amada, Comte vivenciou de seres sobrenaturais cuja vontade arbitrária
maus momentos, o que influenciou fortemente para que comanda a realidade.
seu pensamento se tornasse uma espécie de misticismo,
com a consequente fundação da religião da humanidade 2º estado – Metafísico: O estágio metafísico é uma
em 1852. Comte faleceu em 5 de setembro de 1857, espécie de meio-termo entre o estado teológico
em Paris, possivelmente acometido de câncer. Sua última e o positivo. No lugar dos deuses, há a presença
casa, situada à Rua Monsieur-le-Prince, nº 10, em Paris, de entidades abstratas, como essência e substância
foi posteriormente adquirida por alguns positivistas dos seres, para explicar a realidade. Permanece, no
e transformada no Museu Casa de Augusto Comte. entanto, a busca por respostas às questões “de onde
viemos?” e “para onde vamos?”. Procura-se, assim, o
Obras absoluto, com a diferença de que este não é mais
• Planos de trabalhos científicos para reorganizar uma divindade, mas sim conceitos abstratos como
a sociedade, 1822. essência e ideias. Para Comte, as explicações
• Curso de filosofia positiva, sua obra-prima, publicado teológica ou metafísica são ingenuamente
em seis volumes, escrito de 1830 a 1842. psicológicas, possuindo importância, sobretudo
• Discurso sobre o espírito positivo, 1844. histórica, como crítica e negação da explicação
• Discurso sobre o conjunto do positivismo, 1948, teológica precedente, mas não encerrando a verdade
reunindo, no 4º volume, seis opúsculos editados em si mesmas. Nesse segundo estágio, fala-se de
de 1819 a 1828. natureza, de povo, etc. como conceitos abstratos e
absolutos.
• Sistema de política positiva, instituindo a religião
da humanidade, em quatro volumes, escritos de 3º estado – Positivo: Essa é a etapa final e
1851 a 1854. definitiva do conhecimento sobre o mundo, na qual
• Catecismo positivista ou sumária exposição da não se busca mais o “porquê” das coisas, mas sim o
religião da humanidade, 1852. “como” elas são. Esse conhecimento se estabelece
• Síntese subjetiva ou sistema universal de concepções por meio das descobertas e do estudo das leis
próprias ao estado normal da humanidade, 1856. naturais, ou seja, das relações de causa e efeito a
que todas as coisas estão submetidas. Nesse estágio,
Além dessas obras, há três outras publicadas que consiste no apogeu das etapas anteriores, a
postumamente. imaginação é excluída e prioriza-se a observação dos
fenômenos concretos, encontrando-se, assim, as leis
A Lei dos Três Estados por detrás de seu funcionamento.

A ideia-chave do positivismo comtiano é a Lei dos Três É no estado positivo que o espírito humano, reconhecendo
Estados, a qual ele chamava, inclusive, de “minha grande a impossibilidade de obter conhecimentos absolutos,
lei”. De acordo com a teoria comtiana, a humanidade renuncia a perguntar qual é sua origem, qual o destino do
vivenciou três estágios de concepções sobre o mundo, universo e quais as causas íntimas dos fenômenos para
sendo que em cada estágio haveria a ideia de futuro procurar somente descobrir, com o uso bem combinado do
enquanto progresso e, portanto, o estágio posterior raciocínio e da observação, suas leis efetivas, isto é, suas
seria sempre melhor e mais perfeito do que o anterior. relações invariáveis de sucessão e semelhança.

COMTE, Augusto. Curso de filosofia positiva. 2. ed.


São Paulo: Abril cultural, 1983. p. 20. Coleção Os
Pensadores.
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Para Comte, esses estágios são necessários para
a evolução da humanidade e do homem, representando A religião da humanidade
fases de compreensão da realidade que se sucedem Em sua última grande obra, O sistema de política
rumo à perfeição do saber. Assim, sua Lei dos Três positiva, escrita entre os anos 1851 e 1854, Comte
Estágios serviria para compreender o desenvolvimento demonstrou sua crença de que a teoria positiva pudesse
do homem, o qual estaria no estado teológico em sua produzir uma sociedade regenerada. O aperfeiçoamento
infância, no metafísico em sua juventude e no positivo dos homens se daria por meio da Ciência e das leis
em sua maturidade. sociais, as quais assumiriam o papel de religião. Porém,
Segundo Comte, a época em que ele vivia já passava nessa religião positiva, não se adoraria uma divindade
pelo estágio positivo e, assim, qualquer forma de extraterrena, mas sim a própria humanidade. O amor a
conhecer a realidade que não fosse pela Ciência deus, portanto, presente no estágio teológico, cederia
deveria ser extinta, já que o progresso e a construção lugar, no estado positivo, ao amor à humanidade.
de um mundo perfeito ocorreriam apenas como Para Comte, a ideia de humanidade representa todos
consequência do conhecimento científico. os indivíduos que existem, existiram e que ainda irão
existir, sendo um conceito que engloba mais do que
Estudando o desenvolvimento da inteligência humana [...] apenas os indivíduos particulares. Todos os indivíduos são
desde sua primeira manifestação até hoje, creio ter descoberto como células de um grande organismo, a humanidade,
uma grande lei fundamental [...] Esta lei consiste no que deve ser venerada como eram os deuses.
seguinte: cada uma de nossas concepções principais e
Tomando como base a organização do catolicismo,
cada ramo de nossos conhecimentos passam
como cultos, ritos, hierarquia e doutrina, Comte
necessariamente por três estágios teóricos diferentes: o
afirmou que a nova religião da humanidade também
estágio teológico ou fictício, o estágio metafísico ou
deveria ter dogmas, os quais consistiriam nas verdades
abstrato e o estágio científico ou positivo [...] daí três
científicas e na Filosofia Positiva. Também existiriam
tipos de filosofia ou de sistemas conceituais gerais sobre o
sacramentos, como o batismo secular, o crisma e a unção
conjunto dos fenômenos, que se excluem reciprocamente.
dos enfermos, e seriam construídos templos, os institutos
O primeiro é um ponto de partida necessário da
científicos, dentre outros.
inteligência humana; o terceiro é seu estado fixo e
definitivo; o segundo destina-se unicamente a servir como
etapa de transição.

COMTE, Augusto. Curso de filosofia positiva. 2. ed.


São Paulo: Abril cultural, 1983. p. 18. Coleção Os

A classificação das Ciências


Comte classificou as Ciências a partir das mais gerais
para as menos gerais, de acordo com a generalidade
do seu objeto. Logo, segundo essa concepção, a mais
geral de todas as Ciências seria a Matemática, seguida Eugenio Hansen

da Astronomia, da Física, da Química, da Biologia


e da Sociologia, com objetos progressivamente menos
gerais, e, portanto, mais complexos. Partindo dessa
classificação, a Sociologia comtiana figura como a mais
Capela do positivismo ou da religião da humanidade
complexa de todas as Ciências. Para Comte, os caminhos
em Porto Alegre, RS. Em sua fachada, a frase de Comte:
para se alcançar o conhecimento das leis que regem
O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso
a sociedade são a observação, o experimento e o método por fim.
comparativo. Segundo o filósofo, para se passar de uma
sociedade desordenada para uma ordenada, é necessário
um conhecimento científico sobre tal sociedade e, para O positivismo no Brasil
que esse conhecimento seja eficaz, deve-se encontrar
O positivismo, enquanto movimento filosófico,
as leis que regem os fenômenos sociais de modo que se
espalhou-se por todo o mundo, chegando ao Brasil
perceba as relações de causa e efeito no interior dessa
e ocupando lugar de destaque na política e no
sociedade. Comte chama a Sociologia de “física social”,
pensamento nacionais durante a passagem do século XIX
pois, assim como a Física encontra as leis dos fenômenos
para o XX. Dentre os mais importantes positivistas,
naturais e dos movimentos dos corpos, a Sociologia
destacam-se o Coronel Benjamin Constant, considerado
é capaz de encontrar as leis que regem a sociedade.
o fundador da república brasileira, e os pensadores Miguel
Comte não menciona a Filosofia em sua classificação, uma
Lemos (1854-1917) e Teixeira Mendes (1855-1927). Além
vez que ela tem o papel de ordenadora e de instrumento
disso, cabe ressaltar que os governos de Deodoro da
de conhecimento de todas as outras Ciências.
Fonseca e Floriano Peixoto foram especialmente marcados
pelas influências positivistas.
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como o princípio governante da conduta humana. Para
A partir da segunda metade do século XIX, as idéias de ele, dor e prazer eram os “mestres soberanos” da
Augusto Comte permearam as mentalidades de muitos humanidade. Dessa ideia, nasceu a teoria moral do
mestres e estudantes militares, políticos, escritores, filósofos e utilitarismo, segundo a qual o único fim da conduta
historiadores. Vários brasileiros adotaram, ou melhor, se humana é alcançar a maior felicidade para o maior
converteram ao positivismo, dentre eles o professor número de pessoas possível.
de Matemática da Escola Militar do Rio de Janeiro, Benjamin
Constant, o mais influente de todos. Tais influências
estimularam movimentos de caráter republicano e
abolicionista, em oposição à monarquia e ao escravismo
dominante no Brasil. A Proclamação da República, ocorrida
através de um golpe militar, com apoio de setores da
aristocracia brasileira, especialmente a paulista, foi o
resultado “natural” desse movimento.
VALENTIM, Oséias Faustino. O Brasil e o positivismo.
Rio de Janeiro: Publit, 2010.

A expressão mais clara da influência do positivismo


no Brasil figura na própria Bandeira Nacional, que traz
a máxima política positivista “Ordem e Progresso”,
originada como uma variação da citação de Comte: “O

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Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por
fim”, que representa o desejo de uma sociedade justa,
fraterna e progressista. Tal frase conduz ao
pensamento de que a ordem das coisas, expressa no
Jonh Stuart Mill.
conhecimento científico a partir das relações de causa e
efeito, levaria ao progresso inevitável na vida material e James Mill queria que o filho se tornasse um gênio, e,
na sociedade, sendo esta a principal crença do para isso, esmerou-se em proporcionar a Stuart Mill uma
positivismo. educação apropriada, escolhendo inclusive suas amizades.
Adepto da teoria da tábula rasa de John Locke, James Mill
sabia que o filho deveria passar por experiências
construtivas para que pudesse desenvolver ideias
superiores. Por isso, a educação de Stuart Mill foi muito
rigorosa, pois ele deveria ser aquele a assegurar o
sucesso do utilitarismo no futuro. Devido aos planos de
seu pai, Stuart Mill foi educado exclusivamente em casa,
garantindo a James Mill total participação nas etapas da
educação intelectual de seu filho.

Com apenas três anos de idade, Stuart Mill já havia


aprendido o alfabeto grego e um grande número
de palavras nessa língua. Com oito anos, já havia lido
Esopo, Xenofonte, Heródoto, Diógenes, Isócrates e seis
O lema “Ordem e Progresso”, impresso na Bandeira Nacional, diálogos de Platão, além de muitos livros sobre a História
nasceu do pensamento positivista, segundo o qual somente
da Inglaterra. Foi com essa idade também que aprendeu
pela ordem é possível alcançar o progresso.
latim e álgebra, tendo sido escolhido como tutor
De acordo com a perspectiva positivista, o progresso dos membros mais jovens de sua família. Antes mesmo
é fruto de uma atitude racional deliberada, podendo ser de completar dez anos de idade, Stuart Mill já lia livros
alcançado por meio de decisões racionais e científica, em latim e em grego que somente eram lidos pelos jovens
as quais devem ser tomadas por governos competentes, mais velhos nas escolas e nas universidades.
constituídos de pessoas capacitadas.
Aos dezoito anos, começou a estudar Lógica, lendo
os tratados lógicos de Aristóteles no original grego.
JOHN STUART MILL Estudou Economia através dos trabalhos de Adam Smith
e de David Ricardo, grandes pensadores utilitaristas
Nascido em Londres, em 1806, Stuart Mill teve contato e dois dos principais representantes do positivismo social
com a Filosofia desde muito cedo. Seu pai, James Mill, na Inglaterra. Ainda com dezoito anos, afirmou, em sua
foi um importante filósofo da corrente utilitarista de Autobiografia, que era uma “máquina lógica”. Com 21
Jeremy Bentham, o qual havia sido, inclusive, professor anos, Stuart Mill caiu em profunda depressão,
de Stuart Mill. Bentham considerava o hedonismo recuperando-se somente anos depois.
(do grego hedonê: prazer, alegria, desejo) psicológico
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Stuart Mill trabalhou de 1823 a 1858 na Auditoria da
Companhia Inglesa das Índias Orientais, passando a maior O utilitarismo de Stuart Mill
parte de seus últimos anos de vida em Avignon, embora
O utilitarismo é uma das doutrinas éticas que
tivesse sido membro da Câmara dos Comuns, no Parlamento
consideram a felicidade o bem maior a ser buscado em
Inglês, de 1865 a 1868. A partir de 1823 seu emprego lhe
toda e qualquer ação. Logo, a ação humana deve ter
permitiu dedicar-se a outras atividades, principalmente aos
seus escritos. como critério de bem e mal o “princípio da maior
felicidade”, conhecido também como princípio da
O Sistema de lógica dedutiva, uma de suas principais utilidade, que encontra suas origens na filosofia de
obras, foi publicado em 1843. Em 1848, publicou os Epicuro. Bentham, porém, foi quem desenvolveu essa
Princípios de economia política e, de 1854 a 1860, ideia com maior sistematização. Segundo ele, na obra
escreveu sua obra mais importante, Utilitarismo. Em 1859,
Uma investigação dos princípios da moral e da
foi publicada a obra A liberdade, seguida, em 1869, de
legislação, de 1789:
Sujeição das mulheres, obra na qual atacava o argumento
de que as mulheres eram naturalmente piores do que os
homens em certos aspectos e que, por isso, elas deveriam [...]o princípio da maior felicidade é aquele que aprova
ser proibidas de realizarem certos atos. John Stuart Mill ou desaprova qualquer ação, segundo a tendência que
morreu em Avignon, vítima de erisipela infecciosa, no dia tem a aumentar ou diminuir a felicidade da pessoa cujo
8 de maio de 1873. interesse está em jogo.

BENTHAM, Jeremy. Uma investigação dos princípios

A crítica ao silogismo e o princípio da da moral e da legislação. São Paulo: Abril cultural, 1974.
p. 4.
uniformidade da natureza A melhor ação seria, portanto, aquela que
Em sua obra Sistema de lógica dedutiva, Mill empenhou- proporcionaria maior prazer ou felicidade ao indivíduo ou
se em criticar o silogismo lógico, que tem sua conclusão à comunidade, definindo-se o critério de certo ou errado
ou dedução inferida necessariamente das premissas do de acordo com o maior grau de felicidade para um maior
próprio silogismo. Um bom e clássico exemplo de número de pessoas. De acordo com Bentham, são sete os
silogismo é: “Todo homem é mortal. Sócrates é homem. critérios utilizados para definir se uma ação irá trazer
Logo, Sócrates é mortal”. Concluir que Sócrates é mortal ou não a felicidade, os quais devem auxiliar na avaliação
é chegar a uma ideia que já estava contida nas premissas das dores e dos prazeres para a tomada de decisão:
do argumento. Partindo desse raciocínio, fica claro que a
intensidade, duração, certeza ou incerteza, proximidade
conclusão dedutiva não acrescenta nada às informações
ou longinquidade, fecundidade, pureza e extensão.
presentes nas premissas. Por isso, para Mill, o argumento
dedutivo ou silogístico é estéril. Essa posição filosófica de Bentham, porém, pode ser
Stuart Mill afirmava que a verdade da proposição facilmente confundida com o hedonismo (a busca do
“Todo homem é mortal” provinha das experiências, prazer sem se preocupar com as consequências
realizadas anteriormente, de observar vários homens posteriores), uma vez que o princípio da maior
mortos. Por isso, o filósofo defendia que toda inferência felicidade está ligado ao prazer, e nem tudo o que traz
é feita “do particular para o particular”, ou seja, em todos prazer para o homem é necessariamente bom. Há de
os casos, o conhecimento obtido por meio de um se distinguir os tipos de prazeres, como o faz Epicuro,
raciocínio lógico é proveniente de experiências anteriores mas de forma mais sistemática, de modo que se evite o
do mesmo caso. A proposição geral de um raciocínio erro do subjetivismo e do egoísmo, pois, aquilo que seria
dedutivo não passa, portanto, de um conjunto de prazer e felicidade para uns, poderia não o ser para
experiências particulares feitas anteriormente. Com isso, outros.
Mill buscou defender que todo conhecimento é de
natureza empírica. Buscando justificar a posição ética de seu mestre,
Stuart Mill reelabora sua tese, defendendo a necessidade
Diante dessa posição filosófica, surge, entretanto, uma
de unir ao hedonismo aspectos do estoicismo e do
questão: se todo o conhecimento vem de experiências
particulares, inclusive as proposições gerais de uma cristianismo. Faz-se necessária, assim, uma distinção
dedução têm sua origem em experiências realizadas clara entre os prazeres humanos e os prazeres animais.
anteriormente, como é possível ao homem generalizar Tal distinção se dá qualitativamente, sendo que os
uma dada informação? No exemplo anterior, ao se prazeres melhores e superiores, chamados por Mill de
afirmar que “Todo homem é mortal”, faz-se uma prazeres mentais, estão ligados ao pensamento, enquanto
generalização, uma vez que é impossível a alguém os prazeres inferiores, chamados de prazeres corporais,
observar todos os casos particulares do mundo para estão ligados ao corpo.
chegar a essa verdade.
Stuart Mill acreditava que o homem deveria buscar
Como solução para esse problema, Mill afirmou em sua vida os prazeres que lhe fariam alcançar a
que a garantia para que as inferências que levam felicidade, fazendo a distinção adequada desses prazeres,
às generalizações ocorram em todos os casos é a de que sendo que os prazeres superiores e mentais é que fariam
“o curso da natureza é uniforme”, ou seja, a natureza
o homem verdadeiramente feliz, embora os prazeres
age sempre da mesma maneira, seguindo uma mesma
inferiores e corporais não devessem ser deixados de lado,
causalidade, e é somente graças a esse princípio que se
precisando apenas ser buscados com moderação e
pode alcançar um conhecimento por meio da indução
comedimento.
lógica.
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EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 02. O caráter fundamental da Filosofia é tomar todos
os fenômenos como sujeitos a leis naturais invariáveis
cuja descoberta precisa e cuja redução ao menor
01. Leia os trechos a seguir: número possível constituem o objetivo de todos os
Ciência, logo previsão; previsão, logo ação: tal é a nossos esforços, considerando como absolutamente
inacessível e vazia de sentido para nós a investigação
fórmula simplicíssima que expressa de modo exato a
das chamadas causas, sejam as primeiras sejam as
relação geral entre a ciência e a arte, tomando estes
finais.
dois termos em sua acepção total.
COMTE, Augusto. Curso de filosofia positiva. 2. ed. São
Auguste Comte
Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 7. Coleção Os
A ciência, e apenas a ciência, pode tornar a humanidade Pensadores.
aquilo sem o que ela não pode viver, um símbolo e uma lei. De acordo com o texto e com outros conhecimentos
Ernest Renan sobre o assunto, EXPLIQUE o que Comte chama de
“causas primeiras” e “causas finais”.
A evolução pode terminar apenas com o
estabelecimento da maior perfeição e da mais completa 03. Estudando, assim, o desenvolvimento total da
felicidade. inteligência em suas diversas esferas de atividades,
Herbert Spencer desde seu primeiro vôo mais simples até os nossos
dias, creio ter descoberto uma grande lei fundamental,
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. 2. ed. 7
a que se sujeita por uma necessidade invariável, e que
v. São Paulo: Loyola, 2001. Volume V. p.
me parece poder ser solidamente estabelecida, quer na
285.
base de provas racionais fornecidas pelo conhecimento
A partir das citações anteriores e de seus de nossa organização, quer na base de verificações
conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um resultantes dum exame atento do passado. Essa lei em
texto explicando a importância da Ciência para o que cada uma de nossas concepções principais, cada
positivismo. ramo de nosso conhecimento, passa sucessivamente
por três estados históricos diferentes: estado teológico
ou fictício, estado metafísico ou abstrato, estado
02. A Ciência é o único conhecimento possível e seu
científico ou positivo.
método é o único válido para a obtenção do
conhecimento verdadeiro. Logo, a busca por causas COMTE, Auguste. Curso de filosofia positiva. 2. ed. São
ou princípios que não sejam acessíveis ao método Paulo: Abril cultural, 1983. p. 18. Coleção Os
científico não leva, absolutamente, ao conhecimento. A Pensadores.
investigação metafísica, ou seja, a busca por verdades IDENTIFIQUE e EXPLIQUE a tese defendida por
que ultrapassam a matéria, não tem nenhum valor. Comte na citação anterior.
De acordo com o texto e com outros conhecimentos
sobre o assunto, REDIJA um texto explicando a crítica 04. Nós reconhecemos que a verdadeira ciência [...]
do positivismo ao conhecimento metafísico. consiste essencialmente de leis e não mais de fatos,
embora estes sejam indispensáveis para o seu
03. [deve-se] pedir desculpas aos opositores do estabelecimento e sua sanção.
utilitarismo por confundi-los, mesmo que por um COMTE, Auguste. Curso de filosofia positiva. 2. ed. São
momento sequer, com os que são capazes de um Paulo: Abril cultural, 1983. p.35. Coleção Os
equívoco tão absurdo. O equívoco parece ainda mais pensadores.
extraordinário quando se considera que, entre as
A partir da citação anterior e de seus conhecimentos
acusações correntes contra o utilitarismo, figura a
sobre o assunto, REDIJA um texto estabelecendo uma
acusação contrária de remeter tudo ao prazer, e
relação entre leis e fatos e tendo como base o
mesmo ao prazer inferior.
positivismo de Comte.
MILL, John Stuart. A Liberdade /
Utilitarismo. São Paulo: Martins Fontes, 05. As idéias governam e subvertem o mundo, em outros
2000. p. 185.
termos, todo o mecanismo social repousa finalmente
A partir do texto e de outros conhecimentos sobre sobre opiniões [...] A grande crise política e moral
o utilitarismo de Stuart Mill, REDIJA um texto das sociedades atuais está ligada, em última analise,
explicando por que o utilitarismo de Mill não à anarquia intelectual.
prega a busca de qualquer forma de prazer. COMTE, Augusto. Curso de Filosofia Positiva. 2. ed. São
Paulo: Abril cultural, 1983. p. 17. Coleção Os
pensadores.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS EXPLIQUE o que é, para Comte, a “anarquia intelectual”.

06. No positivismo, a Teologia e a Metafísica foram


01. [...] o positivismo baseia-se na identificação das leis substituídas pelo culto à Ciência, considerada a única
causais e no domínio sobre os fatos. O método capaz de compreender o mundo. O mundo espiritual
descritivo pode ser aplicado tanto no estudo da foi, assim, substituído pelo mundo humano, e as ideias
natureza quanto no estudo da sociedade. de espírito ou essência foram substituídas pela ideia
De acordo com a citação e com outros conhecimentos de matéria.
relacionados ao positivismo, EXPLIQUE por que as leis A partir do trecho anterior, REDIJA um texto
causais permitem o domínio dos fatos. explicando por que, na filosofia positiva, o espírito
ou essência é substituído pela matéria.
Pág 07
07. Stuart Mill defendia que toda inferência é feita
“do particular para o particular”, ou seja, em todos
os casos, o conhecimento obtido por meio de um
GABARITO
raciocínio lógico é proveniente de experiências
anteriores do mesmo caso. Fixação
A partir do trecho anterior, EXPLIQUE a crítica de 01. A ideia central do positivismo é a crença na força
Stuart Mill ao raciocínio silogístico. poderosa e transformadora da Ciência. Segundo
essa corrente filosófica, política e sociológica,
08. [...] a utilidade ou o princípio da maior felicidade somente através do desenvolvimento científico
como a fundação da moral sustenta que as ações os homens poderiam construir um mundo melhor.
O positivismo tem como premissa fundamental de
são corretas na medida em que tendem a promover
que é possível decifrar a natureza e a sociedade
a felicidade e erradas conforme tendam a produzir
por meio de relações de causa e efeito.
o contrário da felicidade. Por felicidade se entende
Encontrando tal relação, fundamento de toda e
prazer e ausência de dor; por infelicidade, dor qualquer lei natural, os homens dispensariam
e privação de prazer [...] o prazer e a imunidade qualquer preconceito ou pensamento metafísico e
à dor são as únicas coisas desejáveis como fins, e que transformariam o mundo de forma a construí-lo
todas as coisas desejáveis [...] são desejáveis quer com bases puramente racionais, o que garantiria
pelo prazer inerente a elas mesmas, quer como meios o desenvolvimento do mundo e,
para alcançar o prazer e evitar a dor. consequentemente, o desenvolvimento e a
realização de todos os homens.
MILL, John Stuart. A Liberdade / Utilitarismo.
São Paulo: Martins Fontes, 02. Uma das premissas mais importantes do
positivismo é de que só é possível alcançar o
2000. p. 187.
conhecimento verdadeiro a partir das
EXPLIQUE, de acordo com o pensamento utilitarista, experiências. Dessa forma, o conhecimento
a importância do prazer para o princípio da maior busca seu fundamento na realidade, uma vez
felicidade. que é a partir das relações entre causa e efeito
dos fenômenos naturais que se pode encontrar e
determinar as leis que regem a sociedade e a
natureza. Assim, qualquer forma de conhecimento
SEÇÃO ENEM que busque ideias ou conceitos que estejam além
do mundo material é inválida e falsa, pois
procura conhecer aquilo que não é
01. Leia com atenção o texto a seguir, em que Augusto experimentável. A metafísica, sendo a busca pelo
Comte se propõe a criar uma nova religião, conhecimento daquilo que está além do mundo
denominada religião da humanidade: material, físico, é um conhecimento impossível
É assim que o positivismo dissipa naturalmente e inválido para o positivismo.
o antagonismo mútuo das diferentes religiões 03. Acompanhando Jeremy Bentham, sistematizador
anteriores, formando seu domínio próprio do fundo do utilitarismo, Mill acredita que o critério da
comum a que todas se reportaram de modo instintivo. maior felicidade deve ser empregado para decidir
A sua doutrina não poderia tornar-se universal, as ações boas e más, corretas e incorretas.
Para ele, as ações corretas ou boas são aquelas
se, apesar de seus princípios antiteológicos, o seu
que trazem o prazer e, consequentemente,
espírito relativo não lhe ministrasse necessariamente
a felicidade para um número maior de pessoas.
afinidades essenciais com cada crença capaz
Porém, não é qualquer prazer que é buscado
de dirigir passageiramente uma porção qualquer por Mill. Para ele, há uma clara classificação entre
da Humanidade. os prazeres de acordo com sua qualidade. Assim,
COMTE, Augusto. Curso de filosofia positiva. há prazeres que estão ligados somente à
2. ed. São Paulo: Abril cultural, 1983. satisfação das necessidades e há prazeres
p. 139. Coleção Os Pensadores. superiores, ligados ao intelecto. Estes devem ser
buscados em primeiro lugar e são eles que devem
A intenção de Comte ao criar essa nova religião era ser utilizados como critério da avaliação das
A) agregar todos os homens em um culto ao Deus ações.
cristão.
B) levar os homens ao arrependimento por terem se Propostos
desviado das verdades metafísicas.
01. O conhecimento científico, segundo o positivismo,
C) promover uma harmonia entre os homens para baseia-se exclusivamente nas relações de causa
a construção de uma sociedade melhor. e efeito presentes na natureza e na sociedade.
D) criar uma legislação única a que todos se Assim, por meio da identificação dessas causas
submetessem de forma irrestrita. e efeitos é possível alcançar as leis que traduzem
a regularidade presente na natureza. Uma vez
E) incentivar uma visão organicista da sociedade a que se tem o conhecimento dessas leis, é possível
partir de concepções religiosas. prever, pelos fatos, aquilo que acontecerá
e se antecipar dominando o que irá acontecer.
Pág 08
Por exemplo: pela Ciência, é possível prever que
05. Para Comte, o conhecimento verdadeiro parte de
o consumo de substâncias tóxicas, como o álcool,
experiências ordenadas para alcançar uma relação
afetará o funcionamento do fígado daquela
de causa e efeito presente na sociedade e na
pessoa que as consome. O conhecimento das leis natureza. Essa ordem é fundamental para que o
do funcionamento permite que sejam tomadas homem alcance as verdades pela Ciência, que
providências para que alguma doença seja evitada segue, por sua natureza, um método. Outras
ou para antecipar alguns efeitos que decorrerão ideias que se pretendem verdades, mas que não
dessa doença. Assim, as leis permitem o domínio sejam realizadas a partir desse método, não
dos fatos futuros. passam de falsidades e opiniões, sendo
02. Comte acredita que o conhecimento verdadeiro passageiras e instáveis. Comte afirma, portanto,
e legítimo nasce das experiências das coisas reais que a grande crise política e moral da sociedade
de seu tempo se deve exatamente à tentativa de
e não de conceitos abstratos ou de algo que não
conhecer o mundo a partir dessas falsas opiniões,
seja fisicamente experimentável. Ao se referir a
elaboradas por homens que se apoiam na teoria
causas, o filósofo está falando de essências ou
puramente racional e não em conhecimentos
substâncias que determinam a ação ou a
verdadeiros obtidos pelo empirismo, o que Comte
existência de um ser qualquer. Para Comte, esse
chama de anarquia ou desordem intelectual.
tipo de conhecimento é impossível e os esforços
para encontrar tais causas são totalmente inúteis 06. Ao positivismo não interessa nada que não seja
experimentável. Assim, a verdade é obtida pela
e vazios. Segundo o filósofo, não existe nada que
experimentação dos fenômenos naturais e sociais
esteja além da matéria, e é ela que nos dá o
a fim de encontrar sua regularidade e, portanto,
conhecimento sobre as coisas.
suas leis de causa e efeito. Esse é o único
03. Segundo Comte, a humanidade está em um conhecimento legítimo da ciência. Assim, o
caminho de desenvolvimento rumo à plena cientista não deve buscar a essência ou o espírito
realização. Em um processo ascendente, os das coisas, pois esses são conceitos abstratos e
homens saíram de uma concepção primitiva de imateriais que não são possíveis de serem
mundo, que o filósofo denomina de fase teológica, conhecidos, uma vez que não existem. O cientista
em que a ideia da divindade era necessária para deve se deter na coisa material, no fenômeno,
a compreensão do mundo. Superada essa fase, buscando nele o conhecimento. Por isso a
tem-se a fase ou estágio metafísico, pois, nessa essência é substituída pela matéria, a única capaz
etapa, o homem, apesar de não estar preso à ideia de levar o homem à verdade científica.
de divindade, passa a almejar conhecer as 07. Para Stuart Mill, filósofo influenciado pelo
essências ou causas primeiras das coisas, numa positivismo, as únicas fontes do conhecimento são
concepção metafísica do mundo. Superada essa as experiências realizadas pelos sentidos
fase, os homens são levados ao desenvolvimento humanos. Assim, o silogismo, ao sair de premissas
de concepções puramente racionais sobre o mundo gerais para atingir uma verdade, não torna o
através da Ciência. Nessa terceira e última fase, homem livre dessas experiências. As proposições
toda e qualquer explicação não científica e racional do gerais do silogismo não nascem de outro lugar
mundo é negada. A primeira e a segunda fases, senão das experiências particulares que foram
generalizadas em um princípio. Assim, ao dizer
apesar de necessárias ao desenvolvimento da
que todos os homens são mortais, essa verdade
humanidade, foram superadas, e, a partir de
geral nasceu da observação dos homens de fato,
então, o homem deverá conhecer o mundo pela
ou seja, tal proposição nasce de experiências.
razão científica, confiando exclusivamente em si
Dessa forma, é possível compreender por que
mesmo, em sua racionalidade, alcançando a
todas as inferências são feitas de experiências
terceira fase ou estágio denominado positivo. particulares para experiências particulares.
04. A terceira fase ou estágio do desenvolvimento da 08. Para a teoria utilitarista da moral, o critério de
humanidade, segundo Comte, seria a fase avaliação de uma ação em boa ou má, correta
positiva, em que toda busca por algo divino e ou incorreta, é o princípio da maior felicidade.
metafísico da realidade seria superada. Ao Desse modo, bom é aquilo que traz a felicidade e
alcançar tal estágio, não interessaria mais saber o mau é aquilo que causa a infelicidade para o maior
porquê das coisas, interessando ao número de pessoas. Segundo esse princípio,
conhecimento científico da realidade tão-somente felicidade e infelicidade consistem em ausência de
saber o como as coisas, a natureza, funcionam. dor e presença de prazer e ausência de prazer e
Buscando esse modelo de conhecimento, os fatos presença de dor, respectivamente. Para Mill,
não são em si a finalidade, pois eles dizem seguindo o pensamento de seu mestre
respeito à natureza particularmente, sendo que Jeremy Bentham, o prazer é o princípio
ao positivismo interessa alcançar as leis gerais natural que guia as ações humanas. Buscar o
de funcionamento dessa natureza. O positivismo prazer e fugir da dor é natural em todos os
animais, sejam irracionais ou racionais. É nesse
não nega a importância dos fatos, mas considera
raciocínio que se encontra o fundamento da moral
que esses fatos são importantes enquanto
utilitarista e, consequentemente, o fundamento
constituintes da matéria-prima necessária para
do prazer para a avaliação das ações.
alcançar, por meio das generalizações, as leis, as
quais seriam a abstração máxima da Ciência
compreendendo o mundo posto. Seção Enem
01. C
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