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Material Teórico
A Crise da Razão
Revisão Técnica:
Prof. Ms. Edson Alencar Silva
Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
A Crise da Razão
• Crise da Racionalidade
• A Constatação da Irracionalidade
• A Fenomenologia
• A Escola de Frankfurt
• Mannheim: entre o Caos e o Autoritarismo
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· A crença na razão iluminista, herdeira da tradição filosófica grega,
como instrumento de compreensão da realidade e de construção
de uma sociedade justa, capaz de livrar a Humanidade de todas as
mazelas, sofre severas críticas, já ao final do século XIX.
· O que fazer quando a razão não cumpre suas promessas, quando, ao
menor vacilo, “seu sono produz monstros”.
· Assim, veremos quais os fundamentos da crise, bem como as
críticas à razão; os caminhos propostos por diversos pensadores
para a busca do conhecimento, para o progresso da ciência e da
Humanidade, num momento em que a própria razão parece elevar
a irracionalidade humana.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE A Crise da Razão
Introdução
“A razão pode lutar corpo a corpo com os terrores, e derrubá-los.”
(EURÍPEDES)
1. Cabe lembrar da importância durante este espaço temporal do pensamento cartesiano e o desenvolvimento do cogito
como afirmação do poder da razão para o estabelecimento de verdades, assim como o método cartesiano que acaba
por definir e empoderar o desenvolvimento e a especialização das Ciências.
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Devemos atribuir à Revolução Francesa, que tem origem na efervescência
promovida pela burguesia contra o regime absolutista da nobreza francesa,
alimentada pelo movimento de ideias da Ilustração, o triunfo da confiança na
razão e na capacidade de o conhecimento levar a Humanidade a um patamar
mais alto de progresso, regenerando o mundo por meio da conquista da natureza e
promovendo um ideal de felicidade aqui na Terra. Esse ideal tornou-se bandeira e
símbolo do movimento de crítica social, cultural e política que marca o Século das
Luzes, o século XVIII. Tal movimento de ideias, que alcança seu ponto culminante
com a Revolução Francesa, e o novo quadro sociopolítico por ela configurado,
terá um impacto decisivo na configuração do conflito que se estabelece entre o
legado da tradição e as forças da Modernidade, entre os valores tradicionais e os
valores concebidos sob a égide da razão2.
Valores e instituições que antes eram considerados parte da natureza humana,
de um ponto de vista supra-histórico, passam a ser entendidos como frutos da
convivência humana. Com o tempo, nenhum tema seria considerado menos
nobre ou escaparia à ânsia de entendimento: o Estado, as religiões, a família e
a sexualidade, a moral, a divisão do trabalho, os modos de agir, as estruturas das
sociedades e seus modos de transformação, a justiça e a violência, entre outros.
A razão passa a ser vista como a luz que, promovendo a liberdade do indivíduo,
orienta sábios e ignorantes em direção à verdade.
Crise da Racionalidade
As primeiras críticas à razão ou à visão iluminista da razão ocorrem ao final do
século XIX e se voltam contra seu caráter universalista e abstrato. A Modernidade,
capitaneada pela razão, propunha valores, modos de pensar e de agir, concepções
de mundo etc., como valores universais, ou seja, válidos e aplicáveis a todas as
sociedades humanas em qualquer situação.
2. É importante lembrar que que uma das consequências da Revolução Francesa foi o inicio de uma grande e drástica
mudança na sociedade europeia, pois é o mesmo período que marca os primeiros passos para a Revolução Industrial,
o início do mundo das fábricas, indústrias e das divisões de classes na prática.
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UNIDADE A Crise da Razão
“A subjetividade é a verdade”. Com essa frase, Kierkegaard afirma que o que existe
realmente não é o conceito de indivíduo, e sim, o Indivíduo concreto, vivendo aqui e
agora, decidindo sua própria existência.
https://goo.gl/0nKF9C
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Sören Kierkeggard (1813-1885)
é considerado precursor do Existen-
cialismo, foi crítico severo da filoso-
fia racionalista. Na filosofia iluminista,
universalista, o individual e particular
explicam-se pelo geral. Desse modo,
para Kierkegaard, na filosofia moder-
na, “desde Descartes até Hegel, o ser
humano não é visto como ser existen-
te, mas como abstração, reduzido ao
conhecimento objetivo. Na verdade,
porém, a existência subjetiva é irre-
dutível ao pensamento racional, e por
isso mesmo possui valor filosófico fun-
Figura 3 – Kierkeggard damental.” (ARANHA & MARTINS,
Fonte: Wikimedia Commons 2013, p. 154).
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UNIDADE A Crise da Razão
A Constatação da Irracionalidade
Já no século XX, o pensamento dito “pós-moderno” sofreu a influência
da filosofia nietzschiana, com seu perspectivismo, e também dos filósofos citados
anteriormente, que procuraram desvendar as ilusões do conhecimento daquela
razão toda poderosa da modernidade.
Com a Primeira Guerra Mundial, vem à tona, para grande parcela dos
intelectuais formados na tradição iluminista, o outro lado da moeda: os resultados
“não desejados do progresso da Ciência e da Razão”. O mundo mostra-se, na
verdade, um caos. Nunca antes tamanha brutalidade do homem contra o homem
havia sido vista. A questão que a Filosofia e diversos filósofos se colocavam era:
como poderia haver tamanha violência no reino da Razão?
Figura 5 – Guernica foi produzida por Pablo Picasso, em 1937, representa a violência em virtude de um
bombardeio aéreo feito pelos alemães durante a Guerra Civil Espanhola à localidade de Guernica, no país Basco,
no dia 26 de abril de 1937. Reproduz a atrocidade das vidas estilhaçadas e dos corpos revirados do avesso
Fonte: Wikimedia Commons
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O mundo não tem mais sentido e mostra-se completamente diferente do que era,
nada mais tem o seu lugar definido. Se no passado não havia por que questionar
o mundo, pois ele era “sensato”, naquele instante não há o que ser questionado
porque nada é certo.
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UNIDADE A Crise da Razão
A Fenomenologia
A corrente filosófica que chamamos Fenomenologia surge ao final do século
XIX e seu principal representante é Edmund Husserl (1859-1958).
Para Husserl, os fatos existem, mas não são importantes em si; o ser humano
não se interessa por eles, mas pelos sentidos que são dosatribuídos a eles. Como
relação, por exemplo, a pergunta que várias Ciências se fazem: o que é a verdade?
Husserl diz que a verdade, do ponto de vista humano, reside no sentido e não
no fato. Cada pesquisador, ao se debruçar sobre a verdade, estará preocupado
e, desse modo, atento somente àquilo que lhe faz sentido, tudo mais é deixado
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de lado. Cada um descreverá alguns aspectos da verdade, não a Verdade em si.
Não é possível, assim, o conhecimento absoluto e universal proposto pela razão
iluminista, apenas conhecimentos referidos a um determinado sujeito:
“A fenomenologia critica a filosofia tradicional por desenvolver uma
metafísica vazia e abstrata, voltada para a explicação. Ao contrário, a
fenomenologia tem o próprio ser humano como ponto de partida de
reflexão. Ao buscar o que é dado na experiência, descreve ‘o que se
passa’ efetivamente do ponto de vista daquele que vive uma determinada
situação concreta” (ARANHA & MARTINS, 2013, p. 157).
A Escola de Frankfurt
O Instituto de Pesquisa Social foi fundado em 1924, em Frankfurt, na Alemanha.
Entre seus mais renomados componentes estão pensadores como Marx Horkheimer,
Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamin, Erich Fromm e Junger
Habermas, esste último pertencendo à segunda geração da Escola. Em Frankfurt,
tais autores desenvolveram a chamada Teoria Crítica, que unia conhecimento e
transformação histórica; em oposição à chamada Teoria Tradicional, que opunha
teoria e prática. Estavam, portanto, interessados na integração entre Filosofia e
análise social, em explorar as possibilidades de transformar a ordem social por
meio da práxis (prática, ação concreta).
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UNIDADE A Crise da Razão
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Com os acontecimentos que marcavam a história da Alemanha, na década de
1930, Mannheim vê-se obrigado a abdicar de seu sonho inicial de uma República
na qual o debate político racional entre os diversos grupos prevaleceria. O mundo
mostra-se cada vez mais irracional, o obscurantismo toma conta da sociedade alemã,
na qual Mannheim vivia. Para o autor, a ideologia, nesse momento, é extremamente
irracional, não há a possibilidade de diálogo entre as forças contrárias.
[...] podemos, às vezes, duvidar do que está certo ou errado, e isto pode
ser aceito como coisa natural. Mas quando prevalece uma ansiedade
de massas, porque a comoção ideológica geral elimina toda base sadia
para a ação comum, e quando a gente não sabe onde está, nem o que
deve pensar a respeito dos problemas mais elementares da vida, então
se pode falar, com razão, de uma desintegração espiritual da sociedade
(MANNHEIM, 1972, p. 23).
Isso se mostra como um mercado livre, em que cada grupo coloca sua opinião
e, assim, o indivíduo confunde-se pelas pressões das unidades rivais sem conseguir
discernir sobre qual caminho é mais positivo. Sendo assim, um dos grandes
problemas da Democracia, para o autor, está em repartir o poder comum, e
também no fato de que o voto, da massa “irracional”, pode ser manipulado por
partidos ou grupos de pressão.
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UNIDADE A Crise da Razão
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Kierkegaard
Para conhecer um pouco mais sobre o pensamento do filósofo, acesse o site:
https://goo.gl/3REhY
Nietzsche
Para conhecer um pouco mais sobre o pensamento do filósofo, acesse o site:
https://goo.gl/mnmZK5
Fenomenologia
Para conhecer um pouco mais sobre esse pensamento filosófico, acesse o site:
https://goo.gl/h1e0sE
Fenomenologia e existencialismo: articulando nexos, costurando sentidos
https://goo.gl/kNT6ld
Escola de Frankfurt
Para conhecer um pouco mais sobre essa escola filosófica, acesse o site:
https://goo.gl/chdVGs
Mannheim
Para conhecer um pouco mais sobre o pensamento desse autor, acesse o site:
https://goo.gl/DTkni5
Vídeos
Especial Nietzsche - Viviane Mosé - Café Filosófico
https://youtu.be/wszgKT2zS-c
FRIEDRICH NIETZSCHE I “Além do Bem e do Mal” (Human, All Too Human) I Documentário
https://youtu.be/vLcvjBys5hk
Aula 31 - Filosofia e Sociologia - Escola de Frankfurt - A Dialética do Esclarecimento - Parte I
https://youtu.be/yJIF3QldGKk
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UNIDADE A Crise da Razão
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
introdução à filosofia. 5ª Ed. São Paulo: Moderna, 2013.
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