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Psicologia Social

História da Psicologia Social

A Constituição da Psicologia Enquanto Campo Científico

As Raízes Filosóficas da Psicologia e a Idade Média


O que é Psicologia?
Grécia Antiga:

Hoje:

Fase filosófica ou pré-científica


❏ Preocupação central: o Cosmos.
❏ Explicações mitológicas.
❏ Filósofos pré-socráticos:
❏ Desenvolveram uma explicação para o Universo a partir da razão,
diferenciando seus pensamentos das explicações mitológicas sobre a
realidade.
Filósofos pré-Socráticos

Filósofos sofistas
❏ Sofista = "sábio"
❏ Primeiros a defenderem uma educação voltada para o cidadão, ensinando arte,
cultura, política e retórica.
❏ Retórica - arte do debate e da argumentação. Bom pensador seria aquele que ganha
debates, e os sofistas eram especialistas em praticar e ensinar essa arte.
Principais filósofos
❏ Sócrates (436-336 a. C.)
❏ Leva a filosofia ao Antropocentrismo: o conhecimento de si é o verdadeiro
conhecimento.
❏ Buscava a verdade sobre o próprio homem, o diálogo e o debate.
❏ Introspecção.
❏ Platão (427-347 a. C.)
❏ Acreditava que o conhecimento vinha do próprio sujeito.
❏ Visão da imortalidade da alma.
❏ Teorias inatistas: consideram que o conhecimento nasce com as pessoas.
❏ Aristóteles (384-322 a. C.)
❏ Contra a existência de teorias inatas e do mundo das ideias.
❏ Indivíduo: folha em branco - adquire conhecimento pelos sentidos.
❏ Corpo e mente são inseparáveis.
❏ Potência e ato.
Assim, no período antropocêntrico, passa a ser questão central o "como conhecemos?",
seguida pelo "como podemos conhecer?"
São questões de ordem epistemológicas, que com o passar do tempo se transformaram
em psicológicas.
Idade Média e o período Teocêntrico
❏ O grande dilema era conseguir conciliar a herança filosófica produzida por gregos,
romanos e outros povos da Antiguidade, com o cristianismo vigente mantido pela
Igreja Católica;
❏ A Igreja era pouco receptiva às ideias que contestassem seus dogmas;
❏ Fase do Teocentrismo.
❏ Patrística (Século IV-V)
❏ É o pensamento dos primeiros padres da Igreja.
❏ A preocupação central era a luta contra a idolatria, o pecado e a defesa dos
dogmas cristãos.
❏ Santo Agostinho: Deus é o criador de tudo.
❏ Escolástica (a partir do século IX)
❏ Preocupação central: educar a população que já era cristã.
❏ São Tomás de Aquino: não há contradição entre o conhecimento racional e a
fé católica + Potências da alma.
Apresentação de SP
Suponha que você tenha crescido no contexto histórico da Idade Antiga, seja de uma
classe social menos favorecida e por isso sem acesso à formas de produção de
conhecimento científicas. Em determinada época, sua colheita de tomates não vingou e, em
consequência, sua família passou por dificuldades financeiras. Sua forma de conhecimento
sobre a realidade é oriunda de suas experiências e das ideias transmitidas geração após
geração.
1. Reflita e descreva quais seriam as possíveis explicações que você daria para a sua
colheita de tomates não ter frutificado, levando em consideração todo o contexto da
suposição.
2. Agora, utilizando a mesma situação hipotética, mas alterando o contexto histórico
para os dias atuais, onde você teria acesso ao conhecimento científico, quais seriam
as possíveis explicações do malogro da colheita?
3. As explicações dadas seriam diferentes? Se sim, o que levou à produção de
respostas diferentes?
Resoluções possíveis:
1. No contexto histórico dado, uma hipótese seria o sujeito poderia imaginar que os
deuses da colheita poderiam estar ofendidos ou irados, fazendo com que seus
tomates não frutificassem. Entre outros motivos sem embasamento científico que
pudessem ser imaginados.
2. Trazendo a situação-problema para os dias atuais, em um contexto em que haja o
mínimo acesso à produção científica, as hipóteses poderiam variar entre adubo do
solo, condições climáticas, técnicas variadas de plantio e etc.
3. As respostas mudariam de acordo com o contexto dado o desenvolvimento e
possibilidade de acesso ao conhecimento através de formas mais elaboradas, nas
quais esse conhecimento teria passado por critérios e validações e só então seria
repassado.

O Renascimento e as Influências para a Psicologia Científica


O Renascimento e a Psicologia
❏ Revive-se o Antropocentrismo.
❏ O homem renascentista busca desenvolver ao máximo suas potencialidades.
❏ Época de muitos avanços para a humanidade.
❏ A observação, a experimentação e a quantificação são utilizadas como meio de
obter respostas: início do método científico.
❏ René Descartes (1596-1650)
❏ Filósofo e matemático francês.
❏ Cunhou a famosa frase: "penso, logo existo" - considerando "logo" de lógica.
❏ Plano cartesiano.
❏ A dúvida era sua única certeza.
❏ A razão é anterior a qualquer outra coisa.
❏ Divisão mente-corpo na Psicologia.
❏ Charles Darwin (1809-1882)
❏ Teoria da evolução das espécies: na natureza, sobrevivem os mais aptos.
❏ O homem passa a ser fruto de uma evolução.
❏ A Psicologia ultrapassa a dimensão do homem em si e passa a considerar a
ideia de um homem integral.
Influências para a Psicologia Científica
Interesses da Psicologia: fisiologia, neurofisiologia, pensamento, percepções,
sentimentos e, principalmente, sistema nervoso central.
❏ Hermann von Helmholtz (1821-1894)
❏ Pesquisador nas áreas de física e fisiologia: órgãos sensoriais humanos
funcionavam como máquinas.
❏ Sua pesquisa englobou a velocidade do impulso neural e estudos sobre a
visão e a audição.
❏ Funcionamento do sistema nervoso.
❏ Ernst Weber (1795-1878)
❏ Pesquisou os órgãos dos sentidos, as sensações cutâneas e musculares.
❏ Elaborou uma teoria - diferença mínima perceptível ou diferença mínima
significativa.
❏ Criou um cálculo para saber o quanto é necessário de estímulo para que a
pessoa perceba se houve mesmo alteração.
❏ Gustav Theodor Fechner (1801-1887)
❏ Queria calcular o ponto exato de união entre o físico e o psíquico -
Psicofísica.
❏ Seus estudos geraram fórmulas matemáticas que tinham grande precisão no
cálculo dos estímulos e das sensações.
❏ Gerou métodos de pesquisa e experimentação em Psicofísica, referências
para a psicologia psicométrica.
❏ Wilhelm Wundt (1832-1920)
❏ 1879: cria o 1º Laboratório para pesquisas psicológicas, o 1º Laboratório de
Psicologia Experimental.
❏ Objetivo: estudar os processos mentais através da experimentação e da
quantificação, indo ao encontro do método científico.
Apresentação da SP
Você é uma pessoa muito acolhedora e os amigos vivem dizendo que você tem
facilidade para captar quando alguém não está se sentindo bem, demonstrando empatia e
se disponibilizando a ajudar. Um amigo, que havia terminado um relacionamento e estava
se sentindo triste, procurou você para desabafar, ter um ombro amigo e pedir seus
conselhos. E você, prontamente, o acolheu e o ajudou a "colocar a cabeça no lugar".
1. É possível afirmar que você usou da psicologia para ajudar seu amigo?
2. Que tipo de psicologia estamos nos referindo?
3. Você pode ser considerado um psicólogo(a)?
Resolução da SP:
❏ Psicologia do senso comum
❏ Conhecimento que vamos acumulando no cotidiano, sem sabermos os
princípios científicos que o regem.
❏ Conhecimento intuitivo, espontâneo, de tentativa e erros.
❏ Psicologia científica
❏ Conhecimento sobre fatos ou aspectos da realidade – objeto de estudo –
expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa. Programada,
sistemática.
A Estruturação da Psicologia do Século XX e o Surgimento das Principais Escolas
Psicológicas
Evolução histórica da Psicologia Social

A Psicologia Social no século XX


❏ Preocupação com os aspectos sociais do comportamento individual e grupal
surgiram efetivamente na Europa;
❏ Porém, foi nos EUA, na primeira metade do século XX, que a Psicologia Social se
constitui como uma disciplina científica autônoma: nos EUA havia o contexto social,
cultural e até econômico favorável ao desenvolvimento da área que, a partir daí,
interessava-se em analisar os mecanismos sociais que questionavam os sistemas
tradicionais em vigor.
Estruturalismo
❏ Edward Titchener
❏ Seguia os passos de Wundt, seus conceitos básicos e o método da
psicologia experimental.
❏ Objeto de estudo = consciência.
❏ Método de estudo = introspecção.
❏ Finalidade = Descobrir "o quê", "como" e "o porquê" de seus elementos.
Funcionalismo
❏ William James
❏ Grande precursor da psicologia funcional.
❏ Compreende a mente sob a ótica de seu potencial dinâmico e preocupa-se
com seu funcionamento: "o que faz a mente?" "Como se comporta?" "Para
que serve aquele pensamento?"
❏ Define o objeto de estudo da psicologia como sendo os mecanismos de
adaptação do homem ao seu ambiente.
Principais escolas do pensamento psicológico
Após a estruturação daquelas primeiras escolas psicológicas, inicia-se um período de
desenvolvimento de outras teorias psicológicas, que perduram até hoje.
❏ Behaviorismo
❏ Psicologia Comportamental.
❏ Nasceu com Watson, nos EUA, e teve Skinner como seu principal
representante.
❏ Gestalt
❏ Psicologia da forma.
❏ Surgiu na Alemanha em oposição ao Estruturalismo e ao Behaviorismo.
❏ Os primeiros conceitos foram elaborados por Max Wertheimer.
❏ Psicanálise
❏ Sigmund Freud.
❏ Visava se opor às ideias de Wundt e Titchener.
❏ Escola que se distanciou das demais = preocupava-se com as pessoas que
apresentavam transtornos mentais.
❏ Inconsciente.
O Objeto de Estudo da Psicologia e a Psicologia Social
Qual é o objeto de estudo da Psicologia?
❏ Estuda o ser humano.
❏ Apresenta uma diversidade de objetos de estudo, pautada nas diversas abordagens
teóricas.
❏ Subjetividade - a subjetividade abrange o ser humano em todas as suas facetas, as
observáveis (o comportamento) e as não-observáveis (os sentimentos), as
particulares (somos o que somos) e as gerais (somos todos seres humanos). É tudo
aquilo que somos e que vamos nos tornando a partir das experiências sociais e
culturais acumuladas ao longo da vida. Por um lado ela nos identifica porque somos
únicos e, por outro, nos iguala porque somos seres sociais, em constante interação.
O que é a Psicologia Social?
❏ É uma das áreas de estudo e atuação da Psicologia.
❏ É uma ciência que estuda as influências de nossas situações, com especial atenção
a como vemos e afetamos uns aos outros.
❏ É o estudo científico de como as pessoas pensam, influenciam-se e relacionam-se
umas com as outras.
❏ Objeto de estudo: interação social e suas dinâmicas interdependentes
Vamos refletir:
Suponha que você esteja tomando café pela manhã em sua casa e decida ligar a tv para
assistir ao noticiário que é transmitido todos os dias...
Ao prestar atenção nas reportagens, você percebe que essas notícias poderão tornar-se
inspiração para o desenvolvimento do estudo sobre alguns temas muito presentes na
psicologia social...
1. Imagine e cite quais temas podem emergir ao assistir um noticiário na televisão?
2. Qual a relevância desses temas para a psicologia?
Algumas possíveis respostas para a reflexão
1. Os temas podem ser os mais variados: preconceito, desemprego, implantação de
políticas públicas, acidentes de trânsito, alta no valor da cesta básica, aumento dos
casos de criminalidade na cidade, entre tantos outros.
2. Todo tema que atravessa a vida do ser humano gera efeitos que são campo fértil
para a pesquisa em psicologia, seja em um nível individual ou coletivo.

A Psicologia Social na América Latina

Até a década de 1970 - fortemente influenciada pelo paradigma da psicologia social


psicológica de natureza experimental (que era dominante nos EUA).
Há um livro publicado no México - Psicologia Social en América Latina – compilando
pesquisas realizadas em vários países do continente.
A maioria dos relatos: uso de questionários, testes e outros procedimentos utilizados em
pesquisas nos EUA, cujos resultados são analisados em comparação com estes, sem
acrescentar nada de específico de cada país.
Anos 1960 - Comitê Transnacional incentivou a criação de um comitê local e a
necessidade de a psicologia social estar mais diretamente vinculada aos problemas sociais
da América Latina.
Anos 1960 - criação da ALAPSO - Associação Latino- Americana de Psicologia Social.
Anos 1970 - psicólogos sociais latino-americanos iniciam um forte movimento de
questionamento à psicologia social psicológica norte-americana, marcada pelo
experimentalismo e pelo individualismo, em prol de uma psicologia social mais
contextualizada.
Criação da ALAPSO e a Crise
❏ 1960 - surge a ALAPSO - Associação Latino-Americana de Psicologia Social.
❏ Vários psicólogos sociais experimentais levam a ALAPSO ao extremo da psicologia
social norte-americana.
❏ Em toda a América Latina começa um movimento de rechaço à ALAPSO e várias
associações surgem identificadas com uma nova proposta de psicologia social.
A crise da Psicologia Social
❏ Na América Latina e no Brasil, a crise começa a tomar corpo nos Congressos da
Sociedade Interamericana de Psicologia, principalmente em Miami/ EUA (1976) e
em Lima/ Peru (1979).
❏ Pontos principais da crise:
❏ Dependência teórico-metodológica dos Estados Unidos.
❏ Descontextualização dos temas abordados.
❏ Simplificação e superficialidade das análises.
❏ Individualização do social na psicologia social.
❏ Não preocupação política com as relações sociais na América Latina em
decorrência das teorias importadas.
Psicologia Social Crítica
❏ Também chamada de Psicologia Social Histórico-crítica, abarcando diferentes
posturas teóricas.
❏ Caracteriza-se por romper com o modelo neopositivista de ciência e, em
consequência, com seus postulados sobre a necessidade de o conhecimento
científico apoiar-se na verificação empírica de relações causais entre fenômenos.
❏ Defesa do caráter relacional da linguagem e a relevância das práticas discursivas
para a compreensão da vida social.
Vamos refletir:
Imagine que você é um cidadão europeu (em 2021) e teve a oportunidade de fazer uma
visita a Cordilheira dos Andes (ponto turístico da América Latina e famoso no mundo). Em
meio a viagem, você se depara com uma pequena aldeia, onde é possível observar ao
longe algumas pessoas e várias lhamas. Curioso(a) para entender quem são aquelas
pessoas, conhecer mais a aldeia e também ver de perto as lhamas, você dirige-se até a
aldeia e, pedindo informações sobre alguém que pudesse lhe ajudar a sanar sua
curiosidade sobre o local, te levam até o ancião da aldeia, pois ele te guiará na visita e
falará sobre a cultura local. O ancião te ensina sobre os costumes e tradições, divisão do
trabalho na aldeia e, por fim, te mostra a criação de lhamas e conta sobre a co-dependência
dos habitantes da aldeia com os animais, que foi se construindo ao longo do tempo e
enraizou-se como característica daquele povo. Tudo o que o ancião te contou e mostrou é
muito diferente do seu contexto europeu e, consequentemente, você tem alguma dificuldade
em assimilar e compreender os padrões de vida daquela aldeia. Questionando-se sobre a
viagem, vamos pensar:
1. Quais motivos teriam gerado esse “estranhamento” com a cultura da aldeia?
2. Quais seriam as dificuldades que uma psicologia social embasada no método
científico clássico (que estudamos na aula anterior) encontraria para estudar as
vivências dessa aldeia, tomando como base o conhecimento passado do ancião?
3. E se você fosse um pesquisador em psicologia social e pudesse escolher algo em
específico para estudar nessa aldeia, o que seria?
Algumas possíveis respostas para a reflexão
1. Crescemos aprendendo que o nosso “modo de vida” é o “correto”, muitas vezes a
diversidade de costumes não é bem aceita, por isso, ao entrar em contato com o
diferente, temos esse choque de realidades.
2. No modelo clássico de ciência, não poderiam ser considerados os aspectos
subjetivos ou estudos produzidos com base em casos isolados, visto que os
métodos rígidos do período não contemplavam esses aspectos, limitando a
produção do conhecimento sobre a aldeia que acabamos de visitar em hipótese.
3. A hierarquia entre os cidadãos da aldeia em relação ao ancião; funcionamento da
co-dependência entre os homens e os animais para sobrevivência de ambos; como
as condições geográficas influenciam no cotidiano dessas pessoas; entre outros.
Contribuições de Martín-Baró
Martín-Baró (1942-1989)

❏ Legítimo representante da nova perspectiva na psicologia


social latino-americana.
❏ Psicólogo e padre jesuíta espanhol, radicado em El
Salvador.
❏ Em suas obras, defendeu o desenvolvimento de uma
psicologia social comprometida com a realidade social
latino-americana.
❏ 1989 - a construção teórica em psicologia social deve
emergir dos problemas e conflitos vivenciados pelo povo
latino-americano, de forma contextualizada com sua história.
❏ É responsável pela criação da corrente conhecida como Psicologia da Libertação,
com evidente inspiração da Teologia da Libertação. Tem como influência o educador
brasileiro Paulo Freire.
❏ Acreditava que as teorias hegemônicas na psicologia latino-americana eram
incapazes de contribuir para uma melhoria das condições de vida das maiorias
populares.
❏ Buscava colocar a psicologia a serviço da transformação social de estruturas
opressoras e propor como ponto de partida o estudo da realidade latino-americana.
O papel do psicólogo para Martín-Baró
O trabalho profissional do psicólogo deve ser definido em função das circunstâncias
concretas da população a que deve atender. A situação atual dos povos centro-americanos
pode ser caracterizada por: a) a injustiça estrutural, b) as guerras ou quase-guerras
revolucionárias, e c) a perda da soberania nacional. Ainda que o psicólogo não seja
chamado para resolver tais problemas, ele deve contribuir, a partir de sua especificidade,
para buscar uma resposta. Propõe-se como horizonte do seu que fazer a conscientização,
isto é, ele deve ajudar as pessoas a superarem sua identidade alienada, pessoal e social,
ao transformar as condições opressivas do seu contexto. Aceitar a conscientização como
horizonte não exige tanto mudar o campo de trabalho, mas a perspectiva teórica e prática a
partir da qual se trabalha. Pressupõe que o psicólogo centro-americano recoloque seu
conhecimento e sua práxis, assuma a perspectiva das maiorias populares e opte por
acompanhá-las no seu caminho histórico em direção à libertação.
Jesuítas Assassinados em El Salvador
31 anos depois, Espanha condena um dos autores do massacre na universidade.
Entre os jesuítas assassinados estava Ignácio Martín-Baró, que também era psicólogo e
cujas ideias de tratamento de saúde mental se amparavam na necessidade de entender o
contexto histórico de cada pessoa. Sua obra é hoje tema de muitos estudos, especialmente
no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, onde existe um grupo de pesquisa
permanente, liderado pela professora Marilene Proença.
O fato é que foram necessários 31 anos para que existisse um pequeno gesto de justiça.
Como disse após o julgamento o advogado Martín Pallín, defensor dos irmãos do padre
Ignacio Martín-Baró, "na madrugada de 16 de novembro de 1989, as Forças Armadas de El
Salvador cortaram oito rosas, mas não conseguiram deter a primavera porque o prestígio e
a bondade dos sacerdotes jesuítas vão ficar para a história".

Vamos refletir:
Tomemos como exemplo o autor Freud. Ele realizava seus atendimentos clínicos com
base na psicanálise. Este tratamento possuía um alto custo, uma vez que alguns pacientes,
além de custear o profissional, se deslocavam para outro país temporariamente. O que
indica que não era qualquer cidadão que teria condições de se tratar com Freud. Usando a
história que estudamos de Martín-Baró e as críticas que ele fez em relação à psicologia
social e também à psicologia como um todo (a forma como vinha sendo praticada até
então), vamos refletir sobre o exemplo e as questões: Quais são os problemas de uma
“elitização”* no campo da psicologia social?
*Elitização: acesso do conhecimento ou de seus serviços a camadas restritas da
sociedade e nenhuma aplicação prática para amenizar as desigualdades.
Algumas possíveis respostas para a reflexão
O acesso restrito das pessoas aos serviços e conhecimentos em psicologia é algo que
permeia a história e continua na atualidade.
Mesmo com os avanços na promoção dessa área do conhecimento, percebe-se que nem
todas as camadas sociais têm acesso direto aos serviços de psicologia.
Também deve-se lembrar de que a maior parte da produção de conhecimentos esteve
por muito tempo voltada para os laboratórios ou para o atendimento de classes favorecidas
economicamente, até mesmo pela questão da rentabilidade do trabalho.
Tudo isso faz com que grande parte da população (que é menos abastada
economicamente) seja “esquecida”, corroborando massivamente para que a desigualdade
social tenha suas raízes nutridas.
Institucionalização da Psicologia Social no Brasil
❏ 1962 - institucionalização da psicologia social no Brasil, quando o CFP (Parecer
403/62), criou o currículo mínimo para os cursos de psicologia, estabelecendo a
obrigatoriedade do ensino da psicologia social.
❏ Até 1970 - a psicologia social norte-americana foi dominante, como ocorreu no
restante da América Latina.
Psicologia Social no Brasil
❏ Uma das obras adotadas nos cursos de psicologia social nesse período,
expressando tal tendência, é o livro "Psicologia Social", de Aroldo Rodrigues (1972).
❏ Durante esse período, havia uma questão que se colocava como um desafio:
"Compreendemos como o indivíduo é influenciado pela sociedade, mas como ele
poderá se tornar autor desta sociedade, como ele poderá ser responsável pelo curso
da história?"
Psicologia Social crítica no Brasil
❏ Final de 1970 - os psicólogos sociais brasileiros também participam ativamente do
movimento de ruptura com a psicologia tradicional ocorrido na América Latina.
❏ 1980 - fundação da ABRAPSO - Associação Brasileira de Psicologia Social, cujo
propósito foi o de redefinir o campo da psicologia social e contribuir para a
construção de um referencial teórico orientado pela concepção de que o ser humano
é produto e produtor de sua história na sociedade.
❏ 1984 - publicação do livro organizado por Silvia Lane e Wanderley Codo, intitulado
"Psicologia social: o homem em movimento", sucedendo vários outros manuais
brasileiros de psicologia social nessa perspectiva.
Silvia Lane (1933-2006)

❏ Formada em Filosofia pela USP em 1956.


❏ No Brasil, sua contribuição foi indispensável ao
desenvolvimento de uma psicologia social renovada e crítica: a
construção de uma Psicologia Social Sócio-histórica.
❏ Apoiada em autores como Lev Vigotski, Alexis Leontiev e
Alexander Luria (psicólogos russos/ soviéticos).
❏ 1972 - Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social
da PUC-SP, o primeiro no Brasil.
❏ A psicologia social passa a ensejar a complexificação do
simples, a pluralidade teórico-metodológica, a intersecção de diferentes áreas de
aplicação da psicologia, a prática interdisciplinar e a preocupação ética em relação
aos seus compromissos sociais e políticos.
❏ Convicção de que não há possibilidade do ser humano sem ser social.
❏ É possível falar em psicologia que não seja psicologia social? Toda psicologia é
social!
❏ O homem é sujeito da história e transformador de sua própria vida e da sociedade.
❏ Instituto Silvia Lane.
❏ Para Silvia Lane…
"... o homem fala, pensa, aprende, ensina, transforma a natureza; o homem é
cultura, é história. Este homem biológico não sobrevive por si e nem é uma espécie
que se reproduz tal e qual, com variações decorrentes de clima, alimentação, etc. O
seu organismo é uma infra-estrutura que permite o desenvolvimento de uma
superestrutura que é social e, portanto, histórica".
❏ A obra de Silvia Lane continua…
❏ 2019 - lançamento do livro "Silvia Lane: uma obra em movimento", celebrando a
memória viva de Silvia Lane, em que os(as) autores(as) compartilham os
ensinamentos da psicologia social laneana.
Vamos refletir:
Considere as frases abaixo:
❏ Uma lâmpada apagada não produz luz no ambiente escuro.
❏ Uma janela fechada não deixa o ar circular.
❏ Um livro fechado e guardado na estante não produz conhecimento.
Diante dessas metáforas e dos conhecimentos adquiridos na aula de hoje, qual seria o
compromisso do psicólogo social?
Algumas possíveis respostas para a reflexão
Estudos científicos que não promovem melhorias em favor dos seres humanos não estão
cumprindo sua função.
A psicologia social, da mesma forma, tendo como base a construção de um pensamento
crítico, visando a mudança de padrões deficientes na sociedade, deve manter o foco no
compromisso de trazer reflexões e buscar soluções práticas para a vida das pessoas.

O pensamento da Psicologia Sócio-Histórica

❏ O que é o ser humano?


❏ Como nos tornamos os humanos que somos hoje?
❏ De onde vem as capacidades e as habilidades que temos?
❏ Nossas capacidades são inatas ou vão sendo desenvolvidas ao longo da vida?
Essas perguntas, que até hoje fazemos a nós mesmos, foram norteadoras de uma
psicologia que surge no século XX: a psicologia sócio-histórica.
Seu objetivo é compreender o fenômeno psicológico e sua finalidade é problematizar
algumas "certezas" que a psicologia produziu desde o seu início como campo científico.
O que é o fenômeno psicológico?
❏ Podemos defini-lo como a experiência pessoal de cada sujeito.
❏ Não se trata de uma definição simples e muito menos consensual.
❏ As diferentes teorias fazem referência a esse fenômeno de muitas maneiras, dentre
elas, o entendimento de que se trata de algo abstrato e natural do ser humano, isto
é, independentemente de suas vivências. Essa maneira de entender é apontada e
questionada pela concepção sócio-histórica.
❏ A psicologia sócio-histórica propôs pensar esse fenômeno como uma experiência
singular que se constitui no coletivo e na cultura.
❏ Para essa teoria, a subjetividade não está dada a priori, mas é uma conquista
humana a partir de sua atividade e sua intervenção transformadora sobre o mundo.
Fenômeno Psicológico
❏ Para estudá-lo e compreendê-lo, de acordo com a psicologia sócio-histórica, é
necessário que ele seja pensado como processo, buscando sua história.
❏ Portanto, a psicologia sócio-histórica estuda o ser humano e seu mundo psíquico
como construções históricas e sociais da humanidade.
❏ As caracterizações do mundo psíquico estão diretamente ligadas ao mundo material
e às formas de vida que temos hoje nas sociedades atuais.
Para a psicologia sócio-histórica, as pessoas das diferentes cenas apresentam mundos
psicológicos diferentes.

A Condição Humana
Para a psicologia sócio-histórica, a natureza humana não existe como essência abstrata
e universal:
❏ Natureza humana: algo pronto; capacidade que nasce conosco e se desenvolve.
❏ Condição humana: algo que nos caracteriza, mas que não nos dá de imediato
nenhuma aptidão ou habilidade.
Portanto, condição humana é a possibilidade de os humanos criarem a si próprios.
A Origem da Psicologia Sócio-histórica
❏ As bases da psicologia sócio-histórica se localizam na psicologia histórico-cultural,
proposta por Lev Vigotski, Alexis Leontiev e Alexander Luria, nos anos 1920, após a
Revolução Soviética, como uma alternativa à psicologia que vigorava na Europa, na
própria Rússia e nos EUA, na época.
❏ A psicologia sócio-histórica, portanto, tem suas referências teórico-metodológicas
naquela psicologia, relacionando-se às concepções desenvolvidas no Brasil por
Silvia Lane e colaboradores.
Quem foi Lev Vigotski (1896-1934)?
❏ Advogado, com 28 anos que, ao mesmo tempo, se dedicava à história e desenvolvia
estudos sobre a arte e a psicologia.
❏ 1924: foi convidado a trabalhar no Instituto de Psicologia em Moscou. A partir daí,
sua carreira psicológica começa.
❏ Em Moscou, o Instituto de Psicologia (criado em 1912), passou por uma intensa
reformulação e já contava com a participação de Leontiev e Luria. Vigotski é, então,
convidado a trabalhar nesse instituto na Universidade de Moscou.
❏ Iniciou-se uma aproximação da psicologia com o marxismo e Vigotski cria um
método e uma teoria novos, de base materialista dialética, que ganhou o nome de
psicologia histórico-cultural.
❏ Vigotski faleceu em 1934, aos 38 anos, de tuberculose, deixando uma obra
consistente.
❏ No Brasil, o desenvolvimento da psicologia sócio-histórica contou com a
indispensável contribuição da professora e pesquisadora Silvia Lane.
❏ As concepções dessa professora propiciaram a muitos pesquisadores a
continuidade desses estudos.
Legado de Vigotski no Brasil
❏ A finalidade da psicologia sócio-histórica no Brasil, inspirada na obra de Vigotski, era
superar visões positivistas e estudar o ser humano como construção histórica e
social da própria humanidade.
❏ "Assim, não é a consciência do homem que determina as formas de vida,
mas é a vida vivida que determina a consciência"
Inspiração para Silvia Lane
Tornou-se necessária uma nova dimensão espaço-temporal para se apreender o
Indivíduo como um ser concreto - manifestação de uma totalidade histórico-cultural - daí a
procura de uma psicologia social que partisse da materialidade histórica produzida por e
produtora de homens.
É dentro do materialismo histórico e da lógica dialética que vamos encontrar os
pressupostos epistemológicos para a reconstrução de um conhecimento que atenda à
realidade social e ao cotidiano de cada indivíduo e que permita uma intervenção efetiva na
rede de relações sociais que define cada indivíduo - objeto da Psicologia Social.
Vamos refletir:
Vimos que os autores que estamos estudando em psicologia social se baseiam nas
ideias de outros autores que já falaram sobre o tema que lhes é pertinente, mas apenas
usam essas ideias como uma base ou um “ponto de partida”, adequando a teoria e a prática
para o contexto no qual estão inseridos, levando em consideração as temáticas emergentes
ao seu redor e as necessidades da população.
Vamos imaginar que estamos fazendo uma visita a uma vila do sertão nordestino do
Brasil. Nos deparamos imediatamente com a seca do lugar, consequentemente o solo é
pouco fértil e a água é escassa, limitando seu uso a atividades extremamente necessárias a
sobrevivência;
Iniciando uma conversa descontraída com os habitantes desse lugar, logo percebe-se
que, em geral, as famílias são numerosas (em média 10 pessoas por casa) e que as
mulheres se tornam mães bem cedo, muitas vezes antes dos 18 anos;
O índice de analfabetismo também é um dado que assusta. Encontrar habitantes da vila
que tenham concluído o ensino médio é custoso;
Mais um dado relevante é que as pessoas desse lugar devotam uma grande fé em seu
intercessor “Padrinho Ciço”, santo de devoção da maioria da população. Eles depositam na
fé suas esperanças por dias melhores.
1. Usando o contexto dado no texto acima e as teorias estudadas até agora, como
podemos traçar um plano de trabalho em psicologia social para atender as
necessidades daquelas pessoas?
2. Que intervenções vocês tentariam colocar em prática?
Algumas possíveis respostas para a reflexão
1. Seria interessante fazer uma coleta de dados bem ampla sobre a vila: dados
geográficos e históricos, estilo de vida, divisão de trabalho, aspectos subjetivos,
culturais, religiosos, entre outros. A partir dos dados coletados, fazer uma avaliação
de como podemos conscientizar as pessoas sobre as suas questões, sem jamais
invalidar ou desrespeitar seus costumes e valores próprios. Em sequência, criar
estratégias que viabilizem as mudanças necessárias e consentidas pelos
moradores.
2. Buscar políticas que auxiliem nas questões referentes a dificuldade com a
improdutividade do local e também alternativas para fonte de sustento das famílias;
Campanhas para educação sexual, prevenção de gravidez precoce e planejamento
familiar; Busca de subsídios para que as pessoas possam ter acesso ao ensino
escolar adequado, seja para os adultos ou para as crianças. Entre outras
possibilidades.

Pressupostos da Psicologia Sócio-Histórica


Cultura
❏ A cultura não é um conjunto de objetos criados pelos humanos apenas. Ela é a
humanização do mundo material.
❏ Nós humanos estamos em cada coisa, e em cada uma delas há trabalho, ideias e
desejos humanos.
❏ O humano está inserido na cultura e todos os avanços e possibilidades de
capacidades humanas estão postas na produção cultural.
❏ A cultura carrega possibilidades psíquicas, de subjetividade, que vamos
reconstruindo em nós.

A Concepção de Ser Humano


❏ O ser humano é um ser ativo, social e histórico.
❏ A ação do ser humano sobre a realidade, que ocorre em sociedade, é um processo
histórico. É uma ação de transformação da natureza, que leva à transformação do
próprio indivíduo.
❏ Assim, o ser humano é concreto, isto é, jamais poderá ser compreendido senão por
suas relações e seus vínculos sociais, pela sua inserção em determinada sociedade
e em um momento histórico específico.
❏ É necessário perceber o singular como parte do movimento geral.
As Categorias de Análise - Atividade
❏ É a unidade básica fundamental da vida do sujeito material. É por meio dela que o
ser humano se apropria do mundo, propiciando a transição daquilo que está fora
para dentro do ser humano.
❏ A atividade humana é a base do conhecimento e do pensamento do ser humano.
As Categorias de Análise - Consciência
❏ Expressa a forma como o ser humano se relaciona com o mundo objetivo.
❏ É um saber: o ser humano reage ao mundo objetivo, compreende-o, transforma-o
em ideias e imagens e estabelece relações entre essas informações, de modo a
compreender o que se produz em seu ambiente.
❏ Também inclui o saber dos afetos e desejos.
❏ É produto das relações sociais que os seres humanos estabelecem: a consciência
como produto subjetivo, como apropriação pelo homem do mundo objetivo se
produz em um processo ativo cuja base é a atividade sobre o mundo, a linguagem e
as relações sociais.
❏ É seu "sentido pessoal", sua compreensão sobre si e o mundo, que é construído no
processo de produção da própria existência.
As Categorias de Análise - Identidade
❏ Compreensão que o sujeito faz sobre si mesmo.
❏ É o que permite ao sujeito saber-se único, identificar-se com que vive e faz,
reconhecer-se.
❏ Identidade é metamorfose, de acordo com a teoria de Antônio da Costa Ciampa: nas
atividades e nas relações, o sujeito vai se apresentando e se modificando; assim, o
movimento do sujeito é de transformação, mantendo uma unidade entre o pensar, o
ser e o sentir.
As Categorias de Análise - Linguagem
❏ Importante instrumento para nossa expressão e para formar a nossa consciência.
❏ A linguagem não é simples reflexo do pensamento; eles formam um par dialético,
constituído nas atividades de transformação do mundo.
❏ Permite a comunicação, processo essencial à constituição do espaço social ou
coletivo.
❏ A articulação entre pensamento e linguagem é essencial no processo de
humanização do homem.
Vamos refletir:
Usando os conceitos que vimos sobre atividade, identidade e linguagem, vamos analisar
o seguinte contexto:
Uma comunidade de pessoas surdas-mudas que têm suas rotinas de estudos, de
trabalhos, tem seus momentos de lazeres e interações sociais, inclusive com pessoas que
não pertencem a comunidade.
1. Esses conceitos estudados vão se aplicar a esse conjunto de pessoas? De que
forma?
2. A deficiência sensorial do exemplo (assim como qualquer outra) limita os estudos
desses conceitos a partir da óptica da psicologia social?
Algumas possíveis respostas para a reflexão
Para contextualizar as duas perguntas: pessoas com qualquer tipo de deficiência
também compõe a sociedade e estão em constante interação, assim como qualquer outra
pessoa. Logo, todos os conceitos são aplicáveis, respeitando a singularidade e a
diversidade das pessoas.
Ética na Psicologia Social
O que é Ética?

A palavra Ética vem do grego "ethos". Ethos: significa morada, habitat, toca de animais,
refúgio, estábulo. Para os filósofos, ethos significa: caráter, hábito, índole, natureza,
costume.
De acordo com Guareschi, podem ser identificados dois "paradigmas" principais que
fundamentariam os valores éticos: o da "lei natural" e o da "lei positiva".
Ética: Paradigma da Lei Natural
❏ O grande referencial desse paradigma é a natureza.
❏ A partir do exame, da análise e da atenção que se dá à compreensão da natureza, é
possível identificar uma ética que governe todos os povos em todas as épocas (de
um lado), e é possível descobrir uma "fonte" para essa ética que não sejam os
costumes ou instituições de determinados povos ou nações (de outro lado).
❏ Entre os seguidores desse paradigma está Aristóteles.
Ética: Paradigma da Lei Positiva
❏ Surge como reação ao paradigma anterior.
❏ Há uma rejeição de um apelo a uma ordem natural como referencial ético.
❏ Questiona-se a possibilidade de dar conteúdo concreto às leis ditas naturais, que
sejam as mesmas para todas as épocas e culturas.
❏ Também há uma rejeição de uma ordem humana e social determinada por uma lei
natural preestabelecida.
❏ É o contratualismo (o que foi escrito e promulgado); negociação social que passa a
ser válida.
Mas será que tudo aquilo que é instituído, promulgado é ético? O que dizer dos regimes
ditatoriais que impõem sobre a maioria suas vontades e privilégios, tudo através de
"constituições" escritas e promulgadas?
Ética como Instância Crítica
Para Guareschi é muito útil a seguinte noção de ética: uma "instância crítica propositiva
sobre o dever ser das relações humanas em vista de nossa plena realização como seres
humanos".
Ética: A Dimensão Crítica e Propositiva
❏ A dimensão crítica entende a ética como algo sempre a se fazer, e não pronto, e ao
mesmo tempo, ela está presente nas relações humanas.
❏ À medida em que ela se atualiza, ela passa a sofrer suas contradições, e por isso
deve ser questionada e criticada.
❏ Ao mesmo tempo ela tem que ser propositiva: não pode se esquivar de colocar
exigências e desafios, mas eles podem ser reelaborados, refeitos e retomados. É
uma busca interminável.
Ética: A Dimensão da Relação
❏ A relação é algo que não pode ser sem outro! E a relação tem a ver com a ética.
❏ Dizer que ética é relação, é afirmar que ninguém pode ser ético a partir de si
mesmo, sozinho... alguém sozinho pode ser alto ou baixo, jovem ou idoso, pois isso
não implica relação, não implica os outros. Agora, ser ético não se consegue
sozinho, pois a ética só entra em campo no momento em que alguém se relaciona
com os outros.
Assim, a dimensão ética, portanto, deve se apoiar diretamente sobre a noção de ser
humano como um ser dialógico, relacional, que vai se constituindo a partir das relações que
estabelece com os outros seres humanos.
Mas, sem perder sua singularidade, pois continua sempre sendo um ser único e
irrepetível.
Reconhecemos o outro como pessoa, com quem entramos em diálogo, em relação.
Vamos refletir:
O apartheid foi uma política racial vigente na África do Sul entre 1948 e teve fim no início
da década de 1990.
As pessoas eram segregadas de acordo com as suas raças: negros não podiam votar e
também não podiam adquirir terras, isolando-os geograficamente, além de coisas mais
absurdas como banheiros e até bebedouros específicos para negros e para brancos.
Nesse período a minoria branca detinha o poder governamental. Tudo isso estava em
conformidade com a legislação.
1. Como poderíamos analisar o conceito de ética a partir deste fato histórico que
exemplificamos?
2. Tudo aquilo que é “legal”/está amparado na legislação pode ser considerado como
“correto” sem antes passar por uma avaliação reflexiva?
Algumas possíveis respostas para a reflexão
1. Diante do exemplo, podemos observar que o conceito de ética tinha uma visão
discrepante da que temos hoje em nosso contexto, visto as relações
segregacionistas apresentadas. Reiterando que ética se trata de um constructo
teórico em constante modificação.
2. Nenhuma informação deve ser considerada sem antes passar por uma análise
crítica dos fatos e das consequências que acarreta. Como vimos no decorrer da
aula, muitas atrocidades já foram cometidas “em nome da lei”.

Socialização Primária e Socialização Secundária


Indivíduo, Cultura e Sociedade
O homem é um animal social e cultural!
Indivíduo e Sociedade
❏ O ser humano, ao nascer, traz consigo determinados comportamentos inatos,
ligados à sua estrutura biológica. Entretanto, no decorrer de seu desenvolvimento, é
moldado pela atividade cultural de outros com quem ele/ela se relaciona.
❏ Cada indivíduo, ao nascer, encontra um sistema social já existente, criado através
de gerações, e que é assimilado por meio de inter-relações sociais.
❏ O indivíduo histórico-social, que é também um ser biológico, se constitui através da
rede de inter-relações sociais.
❏ O ser humano desenvolve, através dessas relações, um "eu".

❏ Não há uma contradição entre indivíduo e sociedade.


❏ O "eu" não está enclausurado e isolado dessa sociedade (mesmo que esteja
sozinho). É somente uma ilusão. O indivíduo não é estranho à sociedade.
❏ A vida social supõe entrelaçamento entre necessidades e desejos em uma
alternância entre dar e receber. Razão/mente não são substâncias, mas produtos de
relações em constantes transformações.
Indivíduo e Sociedade: Contribuições Teóricas
George Herbert Mead (1863-1931):
❏ Sua obra mais conhecida foi referência para a criação de uma escola na Psicologia
Social denominada Interacionismo Simbólico.
❏ Para esse autor, a constituição do sujeito se dá pela vertente social e a linguagem é
o instrumento central da socialização.
Indivíduo e Sociedade: Uma Dicotomia

Indivíduo e Sociedade: Nova Perspectiva


❏ A Psicologia Social assentada na dicotomia separa indivíduo e sociedade como se
um pudesse existir sem o outro. Suas teorias privilegiam um ou outro polo da
dicotomia.
❏ A nova Psicologia Social toma a relação entre indivíduo e sociedade como básica,
mas toma como objeto a dimensão subjetiva dos fenômenos sociais; o indivíduo age
sobre o mundo, transformando-o e transformando-se.
Estudos sobre a Cultura
❏ Cultura pode ser definida, inicialmente, como um conjunto de hábitos, instrumentos,
objetos de arte, tipos de relações interpessoais, regras sociais e instituições em um
dado grupo.
Estudos sobre a Cultura: 4 Perspectivas
1. A cultura como variável independente (cultura e mente separadas) (1960/70).
A cultura era considerada como variável independente e a atividade mental e prática
como variável dependente.
Certas pesquisas de alfabetização em determinadas culturas eram relacionadas a
testes de memória e outras atividades cognitivas.
Inicialmente, a cultura era vista como separada da mente: dualismo entre mente e
cultura.
Mente – pensamento abstrato - afetado pela cultura, mas não por ela constituído.
2. A mente está inserida nas práticas culturais.
A cultura também se revela nos objetos utilizados e/ou fabricados pelo homem.
A execução de uma tarefa a ser pesquisada passa a ser considerada como
pertencendo a um contexto de atividade prática: importante prestar atenção às
práticas locais para estudar a cognição.
A cognição passa a ser estudada como uma habilidade prática na vida cotidiana.
3. A cultura na mente (cultura como descrição ou narração das atividades de um
grupo).
Aqui as tarefas cognitivas não são mais unidades de análise: supõe um conjunto de
interpretações ou narrativas das atividades do sujeito no cotidiano, isto é, nas
descrições sobre os modos de pensar e agir que incluem ações, situações e
intenções.
Toda a atividade humana implicaria uma classificação e interpretação; qualquer
percepção ou ação seria mediada pelo simbólico.
4. A cultura e a pessoa (pessoa como agente intencional em um mundo constituído de
interpretações e objetos culturais).
A pessoa é considerada como agente intencional em atividade prática no seu grupo.
O sujeito cria e seleciona percursos de ação, podendo aceitar ou não interferência
de outros.
Os objetos são criados coletiva ou individualmente e revelam uma intenção do
produtor.
O mundo é constituído de interpretações.
Cultura para a Teoria Histórico-cultural
Processo de Socialização: Socialização Primária e Secundária
Processo de Socialização
"[...] o indivíduo não nasce membro da sociedade. Nasce com a predisposição para a
sociabilidade e torna-se membro da sociedade".
❏ A formação do conjunto de nossas crenças, valores e significações se dá no
processo que a Psicologia Social denominou de socialização.
❏ O indivíduo torna-se membro de determinado conjunto social, de determinados
grupos, aprendendo seus códigos de conduta, normas, regras básicas de
convivência, apropriando-se dos conhecimentos já sistematizados e acumulados por
esse conjunto de pessoas na cultura.

Socialização Primária
❏ Primeira socialização que o indivíduo experimenta na infância.
❏ A partir dela torna-se membro da sociedade.
❏ Na socialização primária, valores básicos que regem nossas condutas e que se
consolidam como atitudes são aprendidos na mais tenra idade e reforçados em
todas as instâncias.
Socialização Secundária
❏ Processo subsequente que introduz um indivíduo já socializado em novos setores do
mundo objetivo.
❏ Na socialização secundária, é a escolha autônoma que faz o sujeito em condições
permitidas ou franqueadas pela sua cultura, como é o caso da escolha profissional.
É no decorrer da socialização primária que se formam aqueles valores que sentimos tão
arraigados em nós, que até parece termos nascido com eles.
Esta visão única de mundo e de um sistema de valores só será confrontada no processo
de socialização secundária, através da escolarização e profissionalização, em que o jovem
se depara com outras alternativas, levando-o a questionar aquela visão de mundo
construída como a única possível.
Grupos Sociais
❏ São conjuntos de indivíduos que, com objetivos comuns, desenvolvem ações na
direção desses objetivos.
❏ Para garantir essa organização, os grupos possuem normas, formas de pressionar
seus integrantes para que se conformem às normas.
❏ É um funcionamento determinado, com tarefas e funções distribuídas entre seus
membros; formas de cooperação e de competição, aspectos que atraem os
indivíduos.
Classificação dos Grupos
Grupo Primário por Excelência: Família
❏ É uma instituição social, que tem passado por mudanças aceleradas em sua
estrutura, organização e funções de seus membros.
❏ Ao modelo tradicional de família, somam-se muitos outros e não é possível afirmar
se são melhores ou piores; são diferentes.
❏ O conceito de família não é único.
❏ A organização familiar transforma-se no decorrer da história do ser humano.
❏ A família é responsável pela sobrevivência física e psíquica das crianças,
constituindo-se o primeiro grupo de mediação do indivíduo com a sociedade.
❏ É o grupo necessário para garantir a sobrevivência do indivíduo e por isto mesmo
tende a ser vista como "natural" e "universal" na sua função de reprodução dos
seres humanos.
❏ Porém, a ela cabe também a reprodução da força de trabalho, tornando-a assim
fundamental para a sociedade e, consequentemente, objeto de um controle social
bastante rigoroso por aqueles que detêm o poder.
❏ É dentro dessa lógica que se atribuem características peculiares ao homem e à
mulher, consideradas necessárias para a reprodução da família e da sociedade:
❏ “Menino não chora”;
❏ “Ela é tão sensível";
❏ “Homem tem que ser forte”;
❏ “Menino não brinca com boneca”;
❏ “Menina não brinca na rua”.

O Estudo dos Grupos na Psicologia Social


❏ A vida cotidiana se caracteriza pela vida em grupo e o pertencimento a instituições.
❏ Desde que nascemos, pertencemos a um grupo social: a família. Esse grupo social
é também considerado uma instituição. E, ao longo da vida, fazemos parte de vários
grupos e instituições que determinam o conjunto de nossas experiências.
❏ É onde as pessoas se socializam: aprendem uma língua, formam seu quadro de
valores, os padrões de comportamento e adentram no mundo da cultura.
❏ Todos nós temos alguma experiência de participação grupal importante para a
estruturação de nossas convicções e para o desenvolvimento de nossas
capacidades.
❏ As vivências grupais, no nosso cotidiano, deixam marcas mais ou menos profundas
dependendo da forma como se dá a nossa inserção e as relações que aí se
desenvolvem.
❏ Grupos tanto podem estar a serviço da transformação social quanto da sua
manutenção.
O Estudo dos Grupos na Psicologia: As Massas
❏ Os primeiros estudos sobre os grupos foram realizados no final do século XIX pela
então denominada Psicologia das Massas ou Psicologia das Multidões.
❏ Um dos primeiros pesquisadores deste assunto foi Gustav Le Bon (1841-1931),
autor de um tratado intitulado Psicologia das multidões (1895).
❏ De certa maneira, os pesquisadores do final do século XIX foram influenciados pela
Revolução Francesa e pelo impacto que causou nos pensadores do século XVIII.
❏ Na época, o que se perguntava na Psicologia era o que levaria uma multidão a
seguir a orientação de um líder mesmo que, para isso, fosse preciso colocar em
risco a própria vida. Qual fenômeno psicológico possibilitaria a coesão das massas?
❏ Um importante exemplo foi a ascensão do governo de Adolf Hitler na Alemanha, na
década de 1930, que levou o mundo à II Guerra Mundial (1939-1945), demonstrando
as possibilidades de manipulação das massas.
❏ Os episódios de mobilização popular nem sempre podem ser considerados um
fenômeno irracional em que as pessoas perdem, momentaneamente, sua
capacidade de discernir a realidade, ficando à mercê de um líder manipulador em
função de interesses próprios.
❏ Hoje, sabemos que, em diversas ocasiões, as pessoas se unem e formam massas
compactas muito organizadas e autônomas, com objetivos claros e racionais.
O Estudo dos Grupos
❏ Apesar de a psicologia social surgir com o estudo das massas, será com os grupos,
que têm objetivos, estrutura e dinâmica claramente definidos, que se desenvolverá a
pesquisa de grupo.
❏ Esse desenvolvimento ocorreu a partir de 1930, com a chegada aos EUA, de Kurt
Lewin (1890-1947), professor alemão refugiado do nazismo.
❏ Seu trabalho influenciou bastante o desenvolvimento de uma teoria organizacional
psicológica que, nas empresas, é aplicada no estudo das relações humanas no
trabalho.
❏ Cria o termo "dinâmica de grupo", usado pela primeira vez em 1944.
❏ Temas abordados sobre o estudo dos grupos: coesão grupal, pressões e padrão de
grupo, motivos individuais e objetivos do grupo, liderança e realização do grupo,
propriedades estruturais dos grupos.
❏ Aspectos importantes sobre grupos:
❏ Coesão grupal - é a "certeza" da fidelidade dos membros que os une. Ainda
que os motivos individuais sejam importantes para a adesão ao grupo, os
objetivos do grupo sempre prevalecerão sobre os motivos individuais.
❏ Liderança (Kurt Lewin, entre 1935 e 1946) - liderança autocrática,
democrática e liberal, dependem da vocação do grupo, sendo os grupos
democráticos mais eficientes.
O Processo Grupal
Definições de Grupo
❏ BOCK et al. (2018) - Grupo é um todo dinâmico (mais do que a soma de seus
membros) e a mudança no estado de qualquer subparte modifica o grupo como um
todo. Reunião de um número de pessoas com um determinado objetivo comum.
❏ KURT LEWIN (1973) - Grupo é um "todo dinâmico". O grau de interdependências
das partes ou membros do grupo varia entre uma massa sem coesão alguma e uma
unidade composta.
Pensando o Processo Grupal de Maneira Crítica
❏ O desenvolvimento de uma psicologia social crítica (1970), levou Silvia Lane e
Martin-Baró a realizarem uma crítica consistente a esses modelos teóricos.
❏ Tal crítica procura resguardar aspectos funcionais da dinâmica dos grupos (que
concordam com Lewin). Porém, Lane e Baró questionam a maneira “mecanicista”
como enquadram o grupo.
❏ Segundo Lane, a perspectiva lewiniana traz implícitos valores que visam reproduzir
os de individualismo, harmonia e de manutenção.
O Processo Grupal por Silvia Lane
Algumas premissas para conhecer o grupo:
1. O significado da existência e da ação grupal só pode ser encontrado dentro de uma
perspectiva histórica que considere a sua inserção na sociedade, com suas
determinações econômicas, institucionais e ideológicas;
2. O próprio grupo só poderá ser conhecido enquanto um processo histórico e, neste
sentido, talvez fosse mais correto falarmos em processo grupal, em vez de grupo.
Categorias de Produção Grupal por Silvia Lane
❏ Categoria de produção - a produção das satisfações de necessidades do grupo está
diretamente ligada com a produção das relações grupais. Caracteriza-se como
atividade produtiva de caráter histórico.
A produção da satisfação de necessidades implica, necessariamente, a produção
das relações grupais: a produção grupal é o processo histórico do grupo, isto é, o
processo grupal se caracteriza como sendo uma atividade produtiva.
"O ambiente, visto como produto humano, se desenvolve a partir da necessidade de
sobrevivência, que implica o trabalho e a consequente transformação da natureza; a
satisfação dessas necessidades gera outras necessidades, que vão tornando as
relações de produção gradativamente mais complexas. O desenvolvimento da
sociedade humana se dá a partir do trabalho vivo, que produz bens e a consequente
acumulação de bens (capital), e a necessidade do trabalho assalariado [...]. Logo, as
relações de produção geram a estrutura da sociedade, inclusive as determinações
sócio-culturais, que fazem a mediação entre o homem e o ambiente".
❏ Categoria de dominação - os grupos tendem a reproduzir formas sociais de
dominação. Mesmo um grupo mais democrático reproduz certos padrões comuns ao
modo de produção dominante.
A hierarquização dos grupos de forma mais verticalizada ou horizontalizada
dependerá de como estão inseridos no sistema produtivo. Ex.: no trabalho em uma
fábrica, o grupo tenderá a ser bastante verticalizado (diretor, gerente, encarregado,
operários).
❏ Categoria grupo-sujeito - com menor resistência à autocrítica e com capacidade de
crescimento por meio da mudança; considerados grupos sujeitos. Aqueles grupos
que se submetem cegamente às normas são os grupos sujeitados.
Quando o grupo exerce a negação do processo de imposição social cria uma
dinâmica social mais rica e variada. Esta é a categoria que critica as formas
autoritárias de organização e procura estabelecer uma contra norma. Isso somente é
possível quando o grupo consegue esclarecer a base de dominação social,
historicamente determinada, e encontrar formas de organização alternativas, como é
o caso das formas autogestionárias de organização grupal.
O Funcionamento do Processo Grupal
❏ O grupo enquanto processo grupal não é uma entidade acabada. É um projeto, um
eterno vir-a-ser.
❏ É um processo dialético, de acordo com Sartre e Lapassade (1982): constituído pela
eterna tensão entre a serialidade (as atividades decorrentes são individuais e não
consequência de uma relação onde predomine o "nós") e a totalidade.
❏ Há uma ameaça constante do retorno à serialidade. Ao mesmo tempo, há uma
busca constante da totalidade, onde cada membro participa com os demais,
introjeta-os e dá sentido à realização estabelecida.
Vamos refletir:
Um grupo de 25 pessoas trabalha em uma cooperativa de reciclagem, aproveitando uma
rede informal de coletores de sucata (alumínio, papel e papelão, garrafas PET, etc.)
O cooperativismo é uma forma de autoemprego e pode organizar trabalhadores
desempregados e outros em situação de precariedade. Basta definir o campo de produção
ou serviços, reunir trabalhadores com habilidades para as funções necessárias e
administrar o processo.
As incubadoras são os organismos ligados a ONGs, universidades e mesmo órgãos do
governo que dão o suporte para os interessados no sistema cooperativo.
1. Dentre as categorias de produção grupal, definidas por Lane – categoria de
produção, categoria de dominação e categoria grupo-sujeito – em qual dessas o
grupo da cooperativa parece se adequar? E por quê?
Algumas possíveis respostas para a reflexão
1. A cooperativa é uma rede alternativa de produção e consumo. Tem como foco
privilegiar as redes comunitárias, os pequenos grupos, buscando garantir o
suprimento de suas necessidades materiais e não materiais. Portanto, o grupo da
cooperativa parece se adequar à categoria de grupo-sujeito, já que cria uma
dinâmica social diferenciada pautada nos processos de autoanálise e de autogestão.

O Processo de Institucionalização
Institucionalização
❏ Esse tema tem origem na Sociologia e é encontrado na literatura da psicologia como
Psicologia Institucional, a partir da metade do século XX.
❏ Existe uma regularidade nas ações de um conjunto de pessoas que nos inclui e
facilita, organiza a vida cotidiana de cada um e de uma coletividade. Essa
regularidade normatizada chamamos de institucionalização. Esse processo nos leva
a entender o que é instituição.
O Processo de Institucionalização
❏ Inicia-se com o estabelecimento de regularidades comportamentais. Um grupo social
estabelece formas práticas que garantem a maior eficiência na relação de tarefas.
Quando uma dessas formas se repete muitas vezes, temos o hábito.
❏ "A institucionalização ocorre sempre que há uma tipificação de ações habituais por
tipos de atores".
❏ Um hábito estabelecido por razões concretas, com o passar do tempo e das
gerações, transforma-se em tradição.
❏ As bases concretas, estabelecidas com o decorrer do tempo, não são mais
questionadas. A tradição se impõe porque é uma herança dos antepassados.
❏ Quando se passam muitas gerações e a regra estabelecida perde essa referência
de origem (o grupo de antepassados), dizemos, então, que essa regra social foi
institucionalizada.
A Instituição
❏ É um valor ou regra social reproduzida no cotidiano com estatuto de verdade, que
serve como guia básico de comportamento e de padrão ético para uma coletividade.
❏ A instituição é o que mais se reproduz e o que menos se percebe nas relações
sociais.
❏ Formas sociais visíveis dotadas de uma organização jurídica e/ou material.
A Organização
❏ Se a instituição é o corpo de regras e valores, a base concreta da sociedade é a
organização.
❏ As organizações, entendidas aqui de forma substantiva, representam o aparato, a
base material e/ ou jurídica das instituições no cotidiano da sociedade. As
instituições sociais serão mantidas e reproduzidas nas organizações.
❏ Ex.: Ministério da Saúde; Igreja; Fiat, etc.
O Grupo
❏ Onde a instituição se realiza.
❏ Se a instituição constitui o campo dos valores e das regras (portanto, um campo
abstrato), e se a organização é a forma de materialização dessas regras por meio da
produção social, o grupo realiza as regras e promove os valores. O grupo é o sujeito
que reproduz e pode reformular tais regras, como vimos.
❏ É também o sujeito responsável pela produção dentro das organizações e pela
singularidade: ora controlado, submetido de forma acrítica a essas regras e valores,
ora sujeito da transformação, da rebeldia, da produção do novo.
❏ Em uma instituição pode haver vários grupos. Ex.: em uma instituição educacional
pode haver o grupo de técnicos, o grupo de educadores, o grupo de educandos
recém-chegados e outros.

Papéis Sociais
Papel Social
❏ As instituições incorporam-se à experiência do indivíduo por meio dos papéis.
❏ Em cada grupo social, encontramos normas que regem as relações entre as
pessoas, algumas são mais sutis, ou restritas a certos grupos, outras são rígidas e
imperdoáveis se desobedecidas, até aquelas que se cristalizam em leis e são
passíveis de punição por autoridades institucionalizadas. Estas normas são o que,
basicamente, caracteriza os papéis sociais, e que determina as relações sociais.
❏ Por exemplo, os papéis de pai e de mãe se caracterizam por normas que dizem
como um homem e uma mulher se relacionam quando eles tem um filho, e como
ambos se relacionam com o filho e este, no desempenho de seu papel, com os pais.
❏ Ao nascer, existe uma expectativa social de como a criança deverá se comportar,
isso acontece porque os papéis sociais já foram prescritos anteriormente pelos
grupos dos quais fazemos parte.
❏ Designa o modelo de comportamento que caracteriza o lugar do sujeito no grupo ou
organização. É o comportamento que se espera de quem ocupa determinada
posição com determinado status.
Papel Social: Posição e Status
Conflitos de Papéis

Psicologia, Política e Psicologia Política


Psicologia
❏ De acordo com a perspectiva da psicologia social crítica, a ciência psicologia estuda
o sujeito em sua relação com o mundo. Nessa relação, esse sujeito se constitui, ao
mesmo tempo, como produto e como produtor da sua história e da história da
sociedade em que vive.

Política
❏ Historicamente, o conceito de política esteve "estreitamente ligado ao de poder",
mais especificamente ao de poder político, como nos mostra Bobbio (1992), em seu
Dicionário de Política.
❏ Poder político como pertencente “à categoria do poder do homem sobre outro
homem, não a do poder do homem sobre a natureza”.
❏ Podemos definir política começando por situá-la como atividade humana que se dá
na esfera das disputas pelo poder entre grupos organizados.
❏ Atividade humana de acordo com Lane (1984): "a atividade implica ações
encadeadas, junto com outros indivíduos, para a satisfação de uma necessidade
comum. Para haver este encadeamento é necessária a comunicação (linguagem)
assim como um plano de ação (pensamento), que por sua vez decorre de atividades
anteriormente desenvolvidas".
❏ No caso da política, essas "ações encadeadas, junto com outros indivíduos, para a
satisfação de uma necessidade comum" reúnem, de um lado, aqueles que buscam
transformar uma determinada relação de poder político (plano macrossocial ou
microssocial) e, de outro, os que buscam mantê-la.
Psicologia Política
❏ É preciso reconhecer que todo fazer humano é necessariamente comprometido com
valores.
❏ Sendo a ciência um fazer humano, não existe possibilidade de que seja neutra ou
isenta de valores.
❏ Assim, é essencial explicitar os compromissos do fazer científico, no campo dos
valores, da ideologia, em seus determinantes sociais e históricos.
❏ Não se concebe estudar a ação humana - e sobretudo a atividade política -
desvinculada das suas determinações sócio-históricas.
❏ A psicologia política consiste no estudo das crenças, representações ou senso
comum que os cidadãos têm sobre a política e os comportamentos destes que, por
ação ou omissão, incidam sobre ou contribuam para a manutenção ou mudança de
uma determinada ordem sócio-política.
❏ Como é impossível a neutralidade na ação dos sujeitos, a omissão também é objeto
de estudo da psicologia política.
❏ A omissão trata do "apoliticismo": ausência da participação política ou da negação
da política, já que esses posicionamentos contribuem para a manutenção ou
transformação da ordem sociopolítica.
❏ Os estudos nessa área se dão no terreno da interdisciplinaridade, especialmente a
Sociologia e a Ciência Política.
Psicologia Política x Psicologia da Política

Vamos refletir:
A Emenda Constitucional n.° 95, também conhecida como a Emenda Constitucional do
Teto dos Gastos Públicos, alterou a Constituição brasileira de 1988 para instituir o Novo
Regime Fiscal. Trata-se de uma limitação ao crescimento das despesas do governo
brasileiro durante 20 anos, alcançando os três poderes, além do Ministério Público da União
e da Defensoria Pública da União. As despesas e investimentos públicos ficaram limitados
aos mesmos valores gastos no ano anterior, corrigidos pela inflação medida pelo Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Diante da Emenda Constitucional n° 95, podemos dizer que ela foi elaborada de forma
neutra? Ela atende aos anseios de qual grupo social? Justifique a sua resposta.

Um Pouco de História
Disciplina Psicologia Política
❏ Tanto o pioneiro Handbook of Political Psychology organizado por Knutson (1973)
quanto a Internacional Society of Political Psychology consideram Lasswell como o
pai da psicologia política.
❏ Independentemente de seus reconhecidos méritos, o trabalho de Lasswell é
centrado na perspectiva individualista e acrítica que caracteriza a maior parte da
produção norte-americana nessa área.
Origens da Psicologia Política
❏ As origens remontam à Grécia Clássica. Já no Renascimento, não podemos ignorar
Maquiavel.
❏ Suas ideias influenciaram tanto o cotidiano das sociedades ocidentais quanto a ação
de diversos governantes e a construção do conhecimento nas ciências humanas.
❏ É dele a máxima "os fins justificam os meios" (para ele o poder era um fim).
❏ Em O príncipe, Maquiavel traz diversos ensinamentos sobre como manter o poder
político. Essa leitura tem servido de referência a poderosos e aspirantes ao poder,
desde então até os nossos dias.
❏ Theodor Adorno (1903-1969) - produziu, junto a seus colegas, uma grande
investigação sobre a personalidade autoritária, publicada em 1950, constituindo-se
num conjunto de estudos conduzidos por diferentes pesquisadores, de base teórica
psicanalítica, que buscou identificar relações entre personalidade (a personalidade
autoritária) e ideologia (fascismo).
Institucionalização Disciplina Psicologia Política
❏ A psicologia política somente se institucionalizou como disciplina independente a
partir da década de 1970.
❏ Entre 1930 e 1970 - diversos estudos sobre atitudes sociopolíticas, autoritarismo,
ideologia e subjetividade, poder e influência, comunicação de massa, propaganda e
comportamento eleitoral, socialização e participação política, entre outros.
❏ Na década de 1970 - a psicologia política adquire identidade, visibilidade social e
presença institucional:
❏ Lançamento do Handbook of Political Psychology (Knuston, 1973) que reunia
textos de psicólogos, sociólogos e cientistas políticos, e um capítulo sobre a
história da disciplina.
❏ Associação entre estudiosos e pesquisadores, nos EUA, culminou, em 1978,
com a criação da International Society of Political Psychology; realiza
reuniões científicas anuais e publica a revista trimestral Political Psychology.

A Psicologia Política na América Latina e no Brasil


Psicologia Política na América Latina
❏ A história recente - especialmente o fim de diversas ditaduras e a reconquista de
liberdades democráticas - desafiou e estimulou os pesquisadores a se ocuparem de
problemas muito diversos daqueles próprios da realidade norte-americana.
❏ Na América Latina o desenvolvimento da psicologia política data da década de 1980.
❏ Uma característica marcante do desenvolvimento das pesquisas latino-americanas é
que ele se deu em resposta a necessidades sociais concretas: movimentos sociais,
democracia, modernização, identidade nacional, participação política,
comportamento eleitoral, consciência política, conflito, negociação, alienação,
dependência, nacionalismo, autoritarismo, meios de comunicação de massa.
❏ Freud e Marx são influências marcantes no desenvolvimento da psicologia política
latino-americana.
❏ Principais autores - Maritza Montero (Universidade Central da Venezuela) e Ignacio
Martín-Baró (falecido em 1989).
❏ Maritza Montero - psicóloga social e cientista política venezuelana. Ela é professora
e diretora de programa da Universidade Central da Venezuela. Sua pesquisa se
concentra em psicologia comunitária, psicologia política e psicologia da libertação,
com foco particular na América Latina.
❏ Ignacio Martín-Baró - foi um estudioso, psicólogo social, filósofo e padre jesuíta.
Criador da Psicologia da Libertação. Ele foi uma das vítimas dos assassinatos de
jesuítas em 1989 em El Salvador.
Psicologia Política no Brasil
❏ A psicologia política, no Brasil, ainda se encontra em fase de afirmação enquanto
disciplina autônoma. Sua presença nos espaços institucionais ainda é tímida.
❏ Embora nos anais de diversas reuniões científicas da Psicologia - principalmente da
ABRAPSO - possam ser identificados muitos estudos e pesquisas que se inserem
nessa área de conhecimento, a identidade da disciplina e a identificação da maioria
dos pesquisadores com ela ainda está em construção.
❏ A consolidação da psicologia política no Brasil exige um resgate da sua história no
contexto brasileiro e um panorama completo da situação atual.
❏ Da mesma forma, é necessário que conquiste uma maior visibilidade acadêmica e
social através da presença nos currículos de graduação e pós-graduação e,
principalmente, que sejam fortalecidos os grupos de pesquisa já existentes e que
seja estimulada a criação de novos.

Sistema de Garantia de Direitos


Os direitos das pessoas, em suas relações com a sociedade, tal como os estudamos
hoje, resultam de uma construção social, de conteúdo ético, resultante de um processo
histórico e dinâmico de conquistas e de consolidação de espaços emancipatórios da
dignidade humana.
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)
❏ Pautada em sua universalidade e sua indivisibilidade.
❏ Compõem a Declaração Universal dos Direitos Humano - direitos civis e políticos —
como a liberdade de expressão, o direito de ir e vir e o direito à vida — e direitos
econômicos e sociais, os quais geralmente exigem ações do Estado — a educação,
a cultura, a habitação, a saúde.
Os Direitos Humanos no Brasil
A luta pelos direitos humanos ganhou força social e política no enfrentamento à ditadura
militar, que teve seu início em 1964 e se aprofundou em 1969, com o AI 5. O golpe militar
de 1964 abriu, na história brasileira, um período com características marcadamente
diferentes: rompeu as alianças de classe e os consensos ideológicos vigentes; cortou os
fundamentos do processo de mobilização social ascendente; rompeu as alianças com os
trabalhadores, considerando que suas reivindicações atentavam contra o modelo
econômico assumido.
Nesse novo contexto histórico assistiu‐se à violação dos direitos - os direitos políticos da
população foram reprimidos sistematicamente e os direitos econômicos e sociais,
expropriados. Foram reprimidos os sindicatos e presos os líderes sindicais. Os direitos de
organização, de expressão e de privacidade foram avassaladoras, ao mesmo tempo que
outros direitos passaram a ser sistematicamente violados.
Foi a partir desse momento que a discussão sobre direitos passou a ganhar a conotação
que tem hoje: de direitos humanos e sociais, incorporados ao discurso democrático e,
conforme foi se aprofundando a degradação das condições de convivência nas grandes
metrópoles (nas periferias), passou, cada vez mais, a funcionar como marco de denúncia da
falta de condições de segurança individual.
Quando, na virada dos anos 1970 para 1980, o ciclo expansivo da economia perdeu
força e o regime militar desgastou‐se, o país entrou em um período que se caracterizou
pela transição democrática. O marco mais significativo dessa transição foi a instalação de
uma Assembleia Nacional Constituinte, que propiciou grande mobilização popular: a
sociedade brasileira ansiava por uma Constituição que levasse à superação das leis do
regime de arbítrio e direcionasse o país para a democracia e para o estado de direito.
Constituição brasileira de 1988
Em seu texto estão os direitos fundamentais da pessoa humana, prevendo os meios para
garanti-los, fixando responsabilidades. Definiram, no seu art. 1°, os fundamentos que
constituem o seu eixo em relação aos direitos individuais e coletivos, entre os quais a
cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa
e o pluralismo político.
O reconhecimento constitucional desses direitos legítima aqueles que se sintam
impossibilitados de acesso reivindiquem a sua garantia, aspecto importante já que grande
parte de nossa população está abaixo da linha da pobreza, não dispondo de recursos para
pagar pelos cuidados de saúde e de educação.
Este reconhecimento cria também a possibilidade de intervenção da Justiça no sentido
de obrigar a implementação das ações definidas constitucionalmente e de responsabilizar o
agente ou a autoridade pública a quem essa omissão lesiva é atribuída.
Sistema de Garantia de Direitos
A garantia de direitos, no âmbito de nossa sociedade, é de responsabilidade de
diferentes instituições que atuam de acordo com suas competências:
❏ Instituições Legislativas
❏ Instituições do sistema de justiça
❏ Instituições Responsáveis por formular políticas
❏ Instituições responsáveis por disseminar direitos: mídia; cinema; espaços de
discussão de saberes, como unidades de ensino, e de conhecimento e crítica.
❏ Lógica da articulação, levando à composição de um todo organizado e relativamente
estável, norteado por suas finalidades.
❏ Princípio norteador - transversalidade, cujos diferentes aspectos são mutuamente
relacionados e as reflexões, os debates e as propostas de ações no sentido de
garanti‐los apenas alcançarão a eficácia pretendida se forem abordados
integradamente de forma a fortalecer as iniciativas das suas diferentes dimensões.
Organização e conexões supõem articulações intersetoriais, inter-instâncias estatais,
interinstitucionais e inter-regionais.
Na perspectiva de sistema, a organização das ações governamentais e da sociedade,
face a determinada questão‐foco, precisa ser concebida e articulada como uma totalidade
complexa, composta por uma trama sociopolítico-operativa: um sistema que agrega
conjuntos de sistemas espacial e setorialmente diferenciados.
Nessa perspectiva, essa rede deve ser tecida na própria dinâmica das relações entre as
organizações cujos atos, face à garantia dos direitos, passam a ser interdependentes, tendo
em vista a potencialização dos recursos para alcance desse objetivo.
Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA)
O que é Ideologia? Aspectos históricos do Processo Ideológico
O que é Ideologia?

Podemos entender Ideologia como um "conjunto


sistemático e encadeado de ideias", confundindo-a
com ideário.
No entanto, precisamos ter em mente que a
ideologia não é um ideário qualquer ou qualquer
conjunto encadeado de ideias mas, ao contrário, a
ideologia é um ideário histórico, social e político que
oculta a realidade, e que esse ocultamento é uma
forma de assegurar e manter a exploração
econômica, a desigualdade social e a dominação
política.
Um dos traços fundamentais da ideologia consiste
em tomar as idéias como independentes da
realidade histórica e social, quando na verdade é
essa realidade que torna compreensíveis as idéias elaboradas e a capacidade ou não que
elas possuem para explicar a realidade que as provocou.
Talvez não exista conceito mais complexo, escorregadio e sujeito a equívocos no campo
das ciências humanas e sociais do que o de ideologia.
Embora esse nome só tenha aparecido há pouco mais de um século, sua realidade já
estava presente desde que se começou a pensar a vida social, com diferentes nomes, mas
querendo designar a mesma realidade.
Existem hoje inúmeros enfoques teóricos que dão a esse conceito diferentes significados
e funções.
O uso do termo Ideologia
❏ O termo aparece pela primeira vez na França após a Revolução Francesa (1789), no
início do século XIX, em 1801.
❏ O termo volta a ser empregado com sentido próximo à época anterior pelo filósofo
Auguste Comte: fase positiva ou científica, em que os homens observam
efetivamente a realidade, analisam os fatos, encontram as leis gerais e necessárias
dos fenômenos naturais e humanos e elaboram uma ciência da sociedade, que
serve de fundamento científico para a ação individual (moral) e para a ação coletiva
(política).
❏ Nessa medida, ideologia é sinônimo de teoria, entendida como a organização
sistemática de todos os conhecimentos científicos.
❏ Como teoria, a ideologia é produzida pelos sábios, que recolhem as opiniões
correntes, organizam e sistematizam tais opiniões e, sobretudo, na fase positivista
ou científica, corrigem-nas, eliminando todo elemento religioso ou metafísico que
porventura nelas exista.
❏ Assim, a ideologia passa a ter um papel de comando sobre a prática dos homens.
A Concepção Positivista de Ideologia
Conjunto de conhecimentos teóricos possui 3 consequências principais:
1. Define a teoria de tal modo que a reduz à simples organização sistemática e
hierárquica das ideias, sem indagar sobre sua origem real.
2. Estabelece entre a teoria e a prática uma relação autoritária de mando e de
obediência.
3. Concebe a prática como simples instrumento ou mera técnica que aplica
automaticamente regras, normas e princípios vindas da teoria.
Quando as ações humanas contradisserem as ideias, serão tidas como desordem, caos,
anormalidade... Como diz Comte só há "progresso" onde houver "ordem", e só há "ordem"
onde a prática estiver subordinada à teoria (ao conhecimento científico da realidade).
A Concepção Marxista de Ideologia
A análise de Marx tem como objeto privilegiado um pensamento historicamente
determinado.
Marx não separa a produção das ideias e as condições sociais e históricas nas quais são
produzidas (tal separação, aliás, é o que caracteriza a ideologia).
A matéria de que fala Marx é a matéria social: as relações sociais entendidas como
relações de produção, como o modo pelo qual os homens (re)produzem suas condições
materiais de existência.

Ideologia e Sociedade
Ideologia: Influências
Francis Bacon desenvolve um estudo bem próximo ao que hoje se costuma entender por
ideologia, através de sua teoria sobre as 4 classes de ídolos, que nos dificultam chegar
mais próximos da verdade:
1. Ídolos da caverna
2. Ídolos da tribo
3. Ídolos da praça
4. Ídolos do teatro
Ideologia na Psicologia Social
O conceito e a teoria da ideologia se fizeram mais presentes na psicologia social a partir
da década de 1970, quando muitos autores, principalmente na Europa e América Latina,
começaram a incorporar o tema em seus estudos e pesquisas.
A crescente importância da ideologia deve-se hoje ao fato de nossa sociedade e nosso
mundo tornarem-se, a cada dia, mais "imateriais", mais sustentados numa comunicação
verbal e simbólica.
Ideologia: 4 diferentes acepções
❏ Ideologia como positiva - é uma cosmovisão, um conjunto de valores, ideias, ideais,
filosofias de uma pessoa ou grupo.
❏ Ideologia como negativa - ideias distorcidas, enganadoras, mistificadoras, que
obscurecem a realidade.
❏ Ideologia como materializada - materializada nas instituições. Como dizia Marx,
definida como as ideias da classe dominante.
❏ Ideologia como dinâmica - vista como determinada prática, como modo de agir, uma
maneira de se criar, produzir ou manter relações sociais.
Ideologia: Análise Prática
Essa concepção de ideologia nos obriga a examinar as maneiras como as relações
sociais são criadas e sustentadas por formas simbólicas que circulam na vida social,
aprisionando as pessoas e orientando-as para certas direções.
Assim, um fenômeno ideológico só é ideológico se ele serve, em circunstâncias
específicas, para estabelecer e sustentar relações de dominação.
É preciso examinar a interação entre sentido e poder em circunstâncias particulares.
Vejamos algumas implicações, derivadas dessa concepção:
1. Ideologia como uma concepção crítica - contrapõe-se à concepção neutra que
caracteriza fenômenos como ideológicos sem implicar que estes sejam
necessariamente enganadores, ilusórios ou ligados a interesses de algum grupo
particular. Seria um aspecto da vida social.
A concepção crítica possui um sentido negativo, implicando que o fenômeno
caracterizado como ideológico é enganador, ilusório ou parcial, e a própria
caracterização do fenômeno como ideológico carrega consigo a própria condenação
desses fenômenos.
2. Sentido e formas simbólicas - o sentido é o das formas simbólicas; estas são o
amplo espectro de ações e falas, imagens e textos, que são produzidos por pessoas
e reconhecidos por elas como contendo um significado.

3. O conceito de dominação - distinção entre conceito de poder e o de dominação:


Poder - Capacidade de produzir algo que é específico de cada prática. A localização
e as qualificações associadas a posições fornecem a indivíduos diferentes graus de
poder.
Dominação - relação: quando alguém expropria poder (capacidades) de outro, ou
quando as relações são assimétricas, impedindo a participação de benefícios.
4. Modos e estratégias como o sentido pode servir para estabelecer e sustentar
relações de dominação - quais os modos e estratégias empregados na criação e
manutenção das relações de dominação?
Estratégia ideológica da universalização (ex: discurso político);
Estratégia ideológica da naturalização ou eternalização (ex: atitude da mãe com a
filha).
Legitimação e justificação da desigualdade (ex: "rico é quem poupa").
Entre outros.
5. A valorização das formas simbólicas - as formas simbólicas, como vimos, têm um
caráter intencional, convencional, estrutural, referencial e contextual.
Caráter contextual: as formas simbólicas estão sempre inseridas num contexto
sociocultural específico; são produzidas por sujeitos historicamente situados que
possuem recursos e capacidades específicas. Ao mesmo tempo, elas são recebidas
por sujeitos que estão inseridos em contextos sócio-históricos particulares. Esses
fatos fazem com que as formas simbólicas carreguem consigo diferentes
particularidades a partir desses sujeitos.

O Processo de Alienação
Alienação: a ideologia no nível individual
No plano superestrutural, a ideologia é articulada pelas instituições que respondem pelas
formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas e filosóficas. No plano individual, elas se
reproduzem em função da história de vida e da inserção específica de cada indivíduo.
Assim, a análise da ideologia deve, necessariamente, considerar tanto o discurso onde
são articuladas as representações, como as atividades desenvolvidas pelo indivíduo.
A alienação se caracteriza pela atribuição de "naturalidade" aos fatos sociais; esta
inversão do humano, do social, do histórico, como manifestação da natureza, faz com que
todo conhecimento seja avaliado em termos de verdadeiro ou falso e de universal.
Nesse processo, a "consciência" é reificada, negando-se como processo, ou seja,
mantendo a alienação em relação ao que ele é como pessoa e, consequentemente, ao que
ele é socialmente.
Consciência x Alienação
O que é ter consciência?
Quando o nosso pensamento não confronta as nossas ações e experiências com o
nosso falar, quando apenas reproduzimos as representações sociais que nos foram
transmitidas, e toda e qualquer inconsistência ou incoerência é atribuída a "exceções", a
"aspectos circunstanciais", quando não a particularidades individuais, estaremos apenas
reproduzindo as relações sociais necessárias para a manutenção das relações de produção
da vida material em nossa sociedade.
Apenas quando confrontamos as nossas representações sociais com as nossas
experiências e ações... Ou seja, pensar a realidade e os significados atribuídos a ela,
questionando-os de forma a desenvolver ações diferenciadas, isto é, novas formas de agir,
que por sua vez serão objeto de nosso pensar, é que nos permitirá desenvolver a
consciência de nós mesmos, de nosso grupo social como produtos históricos de nossa
sociedade, e também cabendo a nós — agentes de nossa história pessoal e social —
decidir se mantemos ou transformamos a nossa sociedade.
Persistência da Alienação
Em contraposição, as respostas a ações habituais são exatamente aquelas que se
reproduzem sem que ocorra o pensar, tanto antes como depois. Na medida em que estas
ações implicam valores e relações sociais, elas estarão, obrigatoriamente, reproduzindo a
ideologia dominante, mantendo as condições sociais, ou seja, elas não transformam nem as
relações sociais do indivíduo, nem a ele mesmo - é a persistência da alienação. Ex.:
trabalho repetitivo e mecânico.
Alienação nas relações de trabalho (Marx)
Há um conjunto de determinações que acompanham a categoria alienação em duas
órbitas de problemas:
1. A alienação em relação ao resultado do trabalho;
2. A alienação decorrente da divisão social e técnica do trabalho. Esta última
desdobra-se em:
a. Alienação no ato do trabalho ou do sujeito em relação ao seu próprio
processo de trabalho como alheio,
b. Alienação do homem em relação a ele mesmo (autoalienação), e como
desdobramento disso,
c. A alienação do sujeito em relação ao outro homem.
Para Marx, “o trabalho não produz só mercadorias; produz a si mesmo e ao trabalhador,
como uma mercadoria, e isto, na proporção em que produz mercadorias em geral”.
Paradoxalmente, o produto do trabalho se humaniza, se enche de vida, enquanto seu
produtor vai perdendo a perspectiva da condição autoral sobre as coisas produzidas.
Verifica-se um processo de aceleração e aprofundamento das relações de
estranhamento, num tempo em que o trabalho morto, a máquina e a mercadoria se
sobrepõem ao humano, ao trabalho vivo.
Consumo: conceito e aspectos principais

O que é consumo?
É o ato ou efeito de consumir; despesa, dispêndio, consumação, gasto. É o uso que se
faz de bens e serviços produzidos. É, portanto, fazer uso de algo. Nasce das necessidades
dos consumidores.
Consumo: Análise Crítica
Para Bauman (2008), passamos de uma sociedade de produtores para uma sociedade
de consumidores, visando a uma maior rotatividade na aquisição de bens.
"[...] coloca a 'sociedade de consumidores' em movimento e a mantém em curso como
uma forma específica de convívio humano, enquanto ao mesmo tempo estabelece
parâmetros específicos para as estratégias individuais de vida que são eficazes e manipula
as probabilidades de escolha e conduta individuais"
O que é obsolescência programada?
É a ação de produzir bens com vida útil pré determinada. De certa forma, isso força o
consumidor a adquirir versões novas de um mesmo produto.
Em períodos cada vez mais curtos, "os aparelhos e os equipamentos, desde as
lâmpadas elétricas aos óculos, deixam de funcionar devido a uma avaria prevista dum dos
seus elementos. É impossível encontrar uma peça de substituição ou um técnico que o
repare"
Consumo e Indústria Cultural
O conceito de Indústria Cultural foi produzido como denúncia de uma nova forma de viver
e sentir o mundo, sob condições históricas bem particulares.
Trata-se de uma noção advinda da Escola de Frankfurt (Alemanha), tendo como
representantes, dentre outros, Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer
(1895-1973).
Adorno e Horkheimer (1985) explicam que, com a massificação do cinema, o fazer
cultural e artístico passou a estar sob o olhar da indústria capitalista, com a popularização
de produtos que foram adaptados pelo consumo de massa.
Trata-se da produção de "ilusões", de forma a trabalhar para a mercantilização das
mercadorias com foco na alienação e na produção de lucro para a classe dominante.
Se por um lado padroniza e esvazia o sentido da arte como expressão do singular, por
outro lado, constitui-se como um mecanismo ideológico de legitimação.
Assim, o foco está no consumo, principalmente no individual, e os meios de comunicação
se responsabilizaram por ampliar a seguinte lógica:

A ideia de "possibilidade de escolha", alimentada pela indústria cultural, é ilusória.


Nesse processo, a propaganda coloca-se como a técnica adequada para a distribuição
de uma mercadoria “sempre-igual”, gerando, dessa maneira, hábitos padronizados. Disso,
decorre a “manipulação”, tornando os consumidores objetos ou produtos dos mesmos
mecanismos que determinam a produção.
Consumo e a Comunicação de Massa
Uma das formas mais utilizadas por esse campo é a peça publicitária, conhecida como
comercial de TV.
Os publicitários constroem imaginariamente um mundo idílico, perfeito, sem
contradições, associando o produto ou o serviço a essa atmosfera radiante e agradável. Ao
mesmo tempo, cuidam de produzir alguma verossimilhança com a realidade para que as
pessoas não se sintam distantes desse mundo que aparentemente pode ser alcançado por
todos nós ou ao menos desejamos viver daquela forma.
É nesse momento que nossa subjetividade é capturada.

Comunicação- Aspectos Conceituais


Comunicação de Massa
Comunicação - Papel de Mediação
❏ De quais maneiras o desenvolvimento e as práticas ligadas aos meios de
comunicação de massa podem afetar o modo como as pessoas agem e se
relacionam entre si?
❏ Como as ações humanas são atualmente mediadas pela mídia nas sociedades
modernas?
❏ Todos os dias somos envolvidos e dominados por informações, imagens, sons...
que, de uma forma ou de outra, tentam mudar, criar ou cristalizar opiniões ou
atitudes nas pessoas. É a própria mediação de nossas relações sociais.
Comunicação
A comunicação torna-se, obrigatoriamente, um problema central a ser estudado e
desvelado, como um campo de problemas, na medida em que sua prática requer a
superação da própria realidade.
A preocupação não é mais com o que é comunicado na nossa sociedade, mas sim, com
a maneira com que se comunica e qual o significado que a comunicação tem para o ser
humano.
Comunicação segundo o Comportamentalismo
Para essa teoria, o ser humano é como se fosse uma máquina, que se comporta de
maneiras previsíveis e regulares em resposta às forças externas, aos estímulos, que o
afetam.
Para mudar, criar, aprender ou ensinar determinado tipo de comportamento recorre-se a
2 tipos de condicionamento:
❏ Clássico (comportamento reflexo); e
❏ Operante (processo de aprendizagem).
Associado a isso, acredita-se que aprendemos por meio da modelagem, observando
outras pessoas e estabelecendo os padrões do nosso comportamento com base no delas.
Na comunicação de massa: uma pessoa observa alguém na mídia, identifica-se com
este e infere que o comportamento observado poderá produzir certo resultado desejado, se
for imitado (ex.: artista famosa em propaganda de refrigerante).
A comunicação de massa passa a ser um instrumento de controle.
Comunicação segundo o Cognitivismo
❏ O foco dessa teoria está no processo de conhecimento, na forma como a mente
estrutura e organiza, de forma criativa, a experiência.
❏ O todo determina as partes, e não é meramente a soma total das partes.
❏ Na propaganda: não é apenas imagens + sons + palavras. A percepção que um
indivíduo vai ter será construída a partir de suas sensações e estas irão formar o
todo, entendendo que a percepção vai além dos elementos sensoriais.
Comunicação segundo a Psicanálise
No ser humano existem inúmeros desejos. Reconhece Freud que todos os desejos,
impulsos, modalidades de reação e atitudes da infância acham-se ainda
demonstravelmente presentes na maturidade e, em circunstância apropriada, podem mais
uma vez surgir.
Comerciais de TV podem auxiliar determinadas pessoas a encontrarem uma fonte de
satisfação para desejos que ficaram insatisfeitos na infância (ex: comercial de cerveja).
“Princípio de prazer-desprazer” (Freud): o desprazer está relacionado com um aumento
de excitação, e o prazer com uma redução.
Como a satisfação de parte de nossas necessidades é regularmente frustrada pela
realidade, procuramos encontrar algum outro meio de manejar nossos impulsos
insatisfeitos. É aí que está o perigo, já que existe uma tendência interior a buscar sempre o
prazer. Os comerciais tentam suprir nossas carências.

Comunicação segundo a Teoria Crítica


Teoria Crítica
Escola de Frankfurt: interessada na investigação da problemática da comunicação.
Perceberam que havia outra variável que influenciava a realidade da dominação nas
sociedades: a ideologia. Para entender como a Teoria Crítica discute a comunicação de
massa, é fundamental rever 2 conceitos:
❏ Civilização - mundo concreto – representa a exterioridade.
❏ Cultura - mundo das ideias – representa a interioridade.
Como mecanismo de controle, surgiu a necessidade da criação de meios mais
sofisticados: a cultura passa a ser transformada em mercadoria, perdendo suas
características. Passa a existir a Indústria Cultural, que cria a ilusão de que a felicidade não
precisa ser adiada, por já estar concretizada no presente.
A indústria cultural, ao se vincular aos meios de comunicação, encontra uma fórmula
para alimentar o sistema: através deles, os buracos do coração são preenchidos por
desejos de consumo, por ideais de liberdade, pelo individualismo e por uma falsa felicidade.
A consequência disso é a eliminação da dimensão crítica.
Um dos referenciais é a Esquizoanálise, representada pelos autores: Guattari, Deleuze e
Rolnik.
Essa teoria recusa a ideia de que o desejo e a subjetividade estejam centrados no
indivíduo, mas sim, afirma que eles são construídos socialmente, pelo capitalismo moderno,
e hoje estão marcados pela tecnologia.
Teoria Crítica - Esquizoanálise
Desejo - movimentos intensivos que se expressam através da subjetividade enquanto
modo dos indivíduos perceberem o mundo e articularem as suas relações sociais. É a
produção do real e implica a noção de agenciamento, pois as pessoas desejam algo
sempre dentro de um contexto. O desejo está sempre conectado com o exterior e a mídia
transforma-se em uma das fontes mais poderosas da produção desses desejos. Ela cria
desejos!
Assim, os meios de comunicação falam ao sujeito brasileiro, criando uma massa
desenraizada produtiva, o indivíduo, mantendo o sistema hierarquizante das relações. A
esquizoanálise sugere que, através de um processo de individuação da subjetividade
(singularização), de expressão e criação, a ruptura dessa ordem capitalista pode se
consumar. Fonte para a singularização: deciframento dos modos de subjetivação
dominantes, releitura da situação, crítica a todas as formas de reducionismo que levam a
um empobrecimento dos movimentos do desejo.
Teoria Crítica de acordo com Thompson (1995)
O autor desenvolveu uma maneira de analisar a mídia que é fundamentalmente
ideológica e cultural, que está preocupada não somente com o caráter significativo das
formas simbólicas, mas também com sua contextualização social (não importa somente o
que elas significam, mas como elas significam).
Formas simbólicas - amplo espectro de ações e falas (linguísticas ou não ou quase),
expressões faladas ou escritas, imagens e textos, que são produzidos por sujeitos e
reconhecidos por eles como construtos significativos.
O problema surge quando essas formas simbólicas se colocam a serviço do poder, da
ideologia!
O autor apresenta um instrumental para analisar e interpretar a ideologia na mídia. Ele se
pergunta como desmascarar o sentido que está a serviço do poder, sugerindo que a
ideologia pode operar através de modos e suas estratégias.
Modos e Estratégias da Ideologia na Mídia
❏ Primeiro modo é a legitimação e uma estratégia é a universalização.
❏ Segundo modo é a dissimulação.
❏ Terceiro modo é a unificação.
❏ Quarto modo é a fragmentação.
Conhecimento - Aspectos Conceituais
Conhecimento - O que é?
❏ Para o senso comum: alguma coisa que se tem, não se tem ou se pode ter. O
conhecimento é tido como uma substância.
❏ Outra noção é a de que existem conhecimentos verdadeiros e falsos, como se
tivessem uma essência.
Conhecimento - Substância e Essência?
Como substância - poderia estar mais relacionado com o conceito de informação, por
possuir uma certa materialidade. O conhecimento é o que fazemos com a informação, é o
sentido que lhe damos, como a combinamos. Conhecimento é relação, é ação, é atividade,
movimento (atividade cognitiva).
Como essência - a definição de conhecimento como relação permite questionar sua
“natureza”. Se conhecer é construir sentidos, existirão sentidos que podem ser mais
resistentes para se compreender uma dada realidade.
Conhecimento
Será que é possível conceber o conhecimento somente encapsulado, no interior da
mente de um sujeito?
Essa ideia vai se tornando insustentável, a tal ponto que mesmo a natureza, nas
condições de hoje, é impossível de ser pensada separadamente da cultura, incluindo-se aí
a tecnociência, em particular as novas tecnologias da informação e da comunicação.
O Conhecimento como Rede Sociotécnica
O conhecimento se compõe pelo interjogo dos sujeitos, dos grupos e instituições, das
relações de poder entre eles, das tecnologias de comunicação, dos processos de
transmissão, das ritualidades de passagem, etc.
Essa rede sociotécnica teria uma forma hipertextual: “... um hipertexto é um conjunto de
nós ligados por conexões. … Os itens de informação não são ligados linearmente, como em
uma corda com nós, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela,
de modo reticular”
A metáfora do hipertexto seria válida para todas as esferas da realidade em que
significações estão em jogo, tal como a cognição humana e as próprias instituições.
Seis princípios caracterizam o modelo de hipertexto, que pode ser aplicado à nossa ideia
de conhecimento como relação.
Seis princípios do modelo de rede hipertextual:
❏ 1. Metamorfose - constante construção e transformação;
❏ 2. Heterogeneidade - nós e conexões seriam heterogêneos em relação a seus
constituintes;
❏ 3. Multiplicidade de encaixes - organização fractal: cada nó seria organizado por
redes;
❏ 4. Exterioridade - não haveria unidade orgânica, nem motor interno;
❏ 5. Topologia - funcionamento se daria por proximidade, por vizinhança;
❏ 6. Mobilidade dos centros - a rede possui diversos centros, permanentemente
móveis.
Segundo esse ponto de vista reticular, o conhecimento constitui sistemas cognitivos que
funcionam como redes compostas por um grande número de pequenas quantidades que
podem atingir diversos estados de excitação. As unidades apenas mudam de estado em
função dos estados das unidades às quais estão conectadas.
Conhecimento - Reflexões Finais
Conhecimento como relação, como forma de exercício simbólico, como resultante de
(im)possibilidades de ação e de expressão, concretizado por complexas redes de vias
informacionais conectando, enquanto uma nova unidade, sujeitos
individuais-coletivos-institucionais.
Essa perspectiva vincula o conhecimento às condições sócio-históricas de sua produção.

Linguagem - Aspectos Conceituais Segundo Vigotski e Bakhtin


Linguagem - Reflexões Iniciais
❏ É impossível não comunicar!
❏ Para além de sua função de nomeação, as palavras apresentam-se também
carregadas de sentido.
❏ Outra variação é a linguagem escrita.
❏ A linguagem, enquanto função complexa, apresenta-se como uma das grandes
questões das Ciências Humanas e Sociais, sobretudo na Psicologia.
❏ Linguagem segundo Vigotski
❏ É Vigotski quem aprofunda o estudo da linguagem no processo da constituição dos
sujeitos, trazendo para esse âmbito a perspectiva do ser humano histórico e social.
Não há nada que exista no indivíduo que não tenha existido num primeiro momento
no contexto das relações sociais.
❏ Para ele, a linguagem é o veículo de constituição da consciência a partir do contexto
das relações sociais.
A linguagem exerce uma dupla função:
❏ De um lado, ela exerce o papel de instrumento criado pelos homens para promover
a comunicação entre eles e entre as gerações, permitindo o registro e a transmissão
da cultura.
❏ De outro lado, ela exerce a função de mediação simbólica que permite ao homem
desenvolver modos peculiares de pensamento só a ele possíveis.
❏ A linguagem é constituinte do ser humano ao lhe facultar o acesso e o
desenvolvimento das funções psicológicas superiores: raciocínio lógico, memória
voluntária, atenção dirigida, etc.
❏ Através da instrumentalização dos signos, as funções psicológicas passam a
possibilitar ao sujeito atuar na realidade de forma consciente e deliberada. Assim, a
consciência é constituída no contexto das relações de significação com o outro, e o
ser consciente é capaz de regular a própria conduta.
Mas, o que é signo?
❏ Em Vigotski (1995, p. 83), “... todo estímulo condicional criado pelo homem
artificialmente e do qual se utiliza como meio para dominar a conduta – própria ou
alheia – é um signo”.
❏ A relação do ser humano com o mundo é mediada: pelas ferramentas/ instrumentos
(alvo é o externo), e pelos signos (alvo é o interno).
❏ Linguagem e pensamento formam um par dialético, constituído nas atividades de
transformação do mundo.
❏ A palavra não é reflexo do pensamento, mas com ele compõe uma totalidade. O
pensamento se transforma para se realizar em palavra e essa transição contém
processos de significação, ou seja, a constituição de sentidos e significados.
❏ Sentido: agregado de fatos psicológicos que estão registrados pelo sujeito, portanto,
agregam afeto, imagens e sensações resultantes da experiência com uma palavra.
Toda vivência representa um processo de produção de sentidos que organiza e
permite a atuação do sujeito.
❏ Significado: são mais acessíveis, pois são mais duradouros e objetivos. Estão
consensuados no coletivo, possibilitados pelos sentidos e, ao mesmo tempo, fazem
parte dos sentidos. São “sentidos” coletivos; estão postos/ impregnados nas
palavras e podem estar até dicionarizados.
Linguagem segundo Bakhtin
Para esse autor, não há uma realidade da língua que exista fora de sua expressão no
diálogo. Não é possível:
1. Separar a ideologia da realidade material do signo;
2. Dissociar os signos das formas concretas de comunicação social;
3. Dissociar a comunicação e as formas de sua base material.
Importância dos fatores contextuais presentes nas relações sociais onde as enunciações
são produzidas.
Para o autor, o discurso verbal está intrinsecamente associado à vida real e não pode ser
dela divorciado analiticamente sob pena de perder sua significação.
Toda enunciação é um diálogo, mesmo tratando-se de um sujeito individual, posto que
todo enunciado pressupõe aqueles que o antecederam e todos que o sucederão. Toda
enunciação só pode ser compreendida na relação com outras enunciações.
Outro aspecto importante é a participação do outro como auditório social específico
(ausente ou não) da enunciação.
A palavra liga uma pessoa a outra e, por conseguinte, constitui o elo de toda a
coletividade.
A linguagem constitui-se como um elemento e um produto da atividade prática do
homem e, em seu aspecto semântico, continua sendo determinada por fatores sociais. A
visão de mundo por ela veiculada não é arbitrária, posto que é resultante das relações
sociais.

Identidade, Subjetividade e Representação Social


Subjetividade
❏ A Psicologia colabora com o estudo da subjetividade; é essa a sua forma particular e
específica de contribuição para a compreensão da totalidade da vida humana.
❏ Então, o que é subjetividade?
A matéria-prima da Psicologia é o ser humano em todas as suas expressões, as visíveis
(o comportamento) e as invisíveis (processos psíquicos), as singulares (porque somos o
que somos) e as genéricas (porque somos todos assim) – é o ser humano-corpo, ser
humano-pensamento, ser humano-afeto, ser humano-ação e tudo isso está sintetizado no
termo subjetividade.
A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo
conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural.
É uma síntese que, de um lado, nos identifica, por ser única; e, de outro lado, nos iguala,
na medida em que os elementos que a constituem são experienciados no campo comum
das condições objetivas de existência.
Essa síntese – a subjetividade – é o mundo de ideias, significados e emoções construído
internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua
constituição biológica. É também fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais.
Subjetividade Individual
Representa a história de relações sociais do sujeito concreto. O indivíduo, ao viver
relações sociais e experiências determinadas em uma cultura que tem ideias e valores
próprios, vai se constituindo, ou seja, vai construindo sentido para as experiências que
vivencia. Esse espaço pessoal dos sentidos que atribuímos ao mundo se configura como a
subjetividade individual.
Subjetividade Social
É exatamente a aresta subjetiva da constituição da sociedade. Refere-se “ao sistema
integral de configurações subjetivas (grupais ou individuais), que se articulam nos distintos
níveis da vida social...”
De onde vem a Subjetividade?
A subjetividade não é inata ao indivíduo. Ele a constrói aos poucos, a partir do
nascimento, apropriando-se do material do mundo social e cultural, e faz isso ao mesmo
tempo em que atua sobre o mundo, ou seja, é ativo na sua construção. Criando e
transformando o mundo, o homem constrói e transforma a si próprio.
Estudar a subjetividade nos tempos atuais é buscar compreender a produção de novos
modos de ser e estar no mundo, isto é, as subjetividades emergentes, cuja produção é
social e histórica.
Portanto, para compreender a subjetividade é preciso considerar o contexto histórico,
social, cultural, político e econômico ao qual estamos submetidos.

Identidade

Identidade no Dicionário
Esse conceito apresenta uma diversidade terminológica que expressa a diversidade
teórico-metodológica dos autores ao abordarem o tema. Reflete ainda uma certa dificuldade
de exprimir conceitualmente sua complexidade.
Constata-se também o uso de predicativos diversos para qualificar os diferentes
sistemas identificatórios que constituem a identidade (identidade pessoal, identidade social,
identidade de papel, identidade psicossocial...).
É do contexto histórico e social em que o homem vive que decorrem as possibilidades e
impossibilidades, os modos e alternativas de sua identidade.
No entanto, como determinada, a identidade se configura, ao mesmo tempo, como
determinante, pois o indivíduo tem um papel ativo quer na construção deste contexto a
partir de sua inserção, que na sua apropriação.
Sob essa perspectiva é possível compreender a identidade pessoal como e ao mesmo
tempo identidade social.
Identidade - Erving Goffman
Nos textos clássicos de Erving Goffman (1985), empregam-se expressões próprias à
atividade cênica no estudo da identidade: personagem, autor, ator, papel.
Nos seus estudos, o autor compara a vida social a um palco e o indivíduo a um
ator/autor/plateia, sendo que os variados papéis sociais seriam as encenações que vão
sendo articuladas e formatadas a partir das interações entre os envolvidos.
❏ Personagem: identidade empírica (forma que a identidade se representa no mundo).
Implica a presença de um ator enquanto desempenhando um papel social (ao
mesmo tempo se confunde e se diferencia do papel).
❏ Papel social: abstrações construídas nas relações sociais e que se concretizam em
personagens. Caracterizam a identidade do outro e o lugar no grupo social.
O personagem, enquanto representa um papel social, representa uma identidade coletiva
a ele associada, construída e mediada através das relações sociais.
O autor publicou um estudo sobre o tema estigma. O estigma refere-se às marcas, aos
atributos sociais que um indivíduo, grupo ou povo carrega e cujo valor é negativo ou
pejorativo. Esses determinam, para o indivíduo, um destino de exclusão ou a perspectiva de
reivindicação social pelo direito de ser bem tratado e ter oportunidades iguais. Um atributo
negativo pode ser internalizado pelo indivíduo e influenciar decisivamente sua autoimagem
e autoestima.
Identidade: Psicanálise e outras Correntes
Várias correntes da Psicologia, inclusive a Psicanálise, nos ensinam que o
reconhecimento do eu se dá no momento em que aprendemos a nos diferenciar do outro.
Eu passo a ser alguém quando descubro o outro e a falta de tal reconhecimento não me
permitiria saber quem sou, pois não teria elementos de comparação que permitissem ao
meu eu destacar-se dos outros eus.
Dessa forma, podemos dizer que a identidade depende da sua diferenciação em relação
ao outro.

Identidade como Metamorfose


Antônio da Costa Ciampa desenvolveu uma concepção de identidade, enfatizando sua
dimensão de processo. Para esse autor, a identidade tem o caráter de metamorfose, ou
seja, está em constante mudança. Sua obra: A estória do Severino e a história da Severina:
um ensaio de psicologia social (1987).
Identidade é o reconhecimento de que um indivíduo é o próprio de que se trata, como
também é unir, confundir a outros iguais.
Nome e sobrenome: ao mesmo tempo que diferencia, iguala. Pluralidade que implica
também unicidade: ao mesmo tempo em que o indivíduo se representa semelhante ao outro
por pertencer a grupos/ categorias, percebe sua unicidade a partir de sua diferença. Essa
diferença é essencial para a tomada de consciência de si e é inerente à própria vida social,
pois a diferença só aparece tomando como referência o outro.
Ao dar nome a alguém, tornar esse alguém determinado, substantivo. Mas, não é
suficiente para definir sua identidade. Ficamos sabendo exatamente quem esse alguém é,
não na sua definição (substantivação),mas na sua ação, que é o verbo. É a atividade que
constrói a identidade.
A ideia de que a identidade é metamorfose nos permite pensá-la como em permanente
movimento e, também, como um processo que engloba tudo o que não somos mais, o que
ainda não somos e o que somos sem estar sendo em determinado momento.
Ciampa amplia de tal forma nossa noção de eu que nos possibilita que se inclua um
conjunto de aspectos à nossa constituição sem estar, naquele momento da vida, sendo
expresso.
Ciampa também desenvolve a ideia de papel e personagem:
❏ Papel é a realização de um conjunto de ações padronizadas, previamente
estabelecido por uma ordem coletiva, institucionalizada. É previamente definido,
previsível.
❏ Personagem são as formas diversas de desempenhar os papéis sociais. A
identidade se expressa empiricamente pelas personagens.
Ciampa (1987) refere-se à presença de múltiplas personagens que ora se conservam,
ora se sucedem, ora coexistem, ora se alternam. A interpenetração entre os vários
personagens que, por sua vez, interpenetram-se com outros personagens no contexto das
relações sociais, garantem a processualidade da identidade enquanto repetição
diferenciada, emergindo um outro que também é parte da identidade.
Isso é metamorfose!
No entanto, a personagem pode “congelar” a atividade e nós perdermos a dinâmica de
nossa própria transformação. Isto pode acontecer quando a personagem é tornada fetiche,
ou seja, admirada em exagero ou cultuada. A personagem subsiste mesmo que já não
exista mais a atividade. Nós, professores, muitas vezes somos reconhecidos anos depois
por um ex-aluno que nos diz: “Oi, professor(a)!”, podendo isso acontecer mesmo quando já
deixamos de professorar.
De um jeito ou de outro, é pelo jogo do reconhecimento com o outro que a identidade se
constitui e se estrutura!

Representações Sociais
O conceito é mencionado pela primeira vez por Serge Moscovici, em seu estudo sobre a
representação social da psicanálise. Nessa obra, o autor conduz um estudo tentando
compreender mais profundamente de que forma a psicanálise, ao sair dos grupos fechados
e especializados, é ressignificada pelos grupos populares.
No Brasil, o interesse pela teoria das RS iniciou no final da década de 1970, lembrando
sua estreita relação com o desenvolvimento da própria psicologia social, que assume uma
postura mais crítica.
O que são as representações sociais?
São “teorias” sobre saberes populares e do senso comum, elaboradas e partilhadas
coletivamente, com a finalidade de construir e interpretar o real.
Por serem dinâmicas, levam os indivíduos a produzir comportamentos e interações com
o meio, ações que, sem dúvida, modificam os dois.
O próprio Moscovici (1981, p. 181), refere que “por
Representações Sociais entendemos um conjunto de conceitos, proposições e
explicações originado na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais. Elas são o
equivalente, em nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crença das sociedades
tradicionais: podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum”.
Representações Sociais
Um dos elementos fundamentais da teoria das RS é a interligação possível entre
cognição, afeto e ação no processo de representação.
A representação, como um processo mental, carrega sempre um sentido simbólico. No
ato de representar identifica-se 5 características fundamentais:
1. Representa sempre um objeto;
2. É imagem e com isso pode alterar a sensação e a ideia, a percepção e o conceito;
3. Tem um caráter simbólico significante;
4. Tem poder ativo e construtivo;
5. Possui um caráter autônomo e generativo.
Para que estudamos as representações sociais?
Para buscar conhecer o modo de como um grupo humano constrói um conjunto de
saberes que expressam a identidade de um grupo social, as representações que ele forma
sobre uma diversidade de objetos, tanto próximos como remotos, e principalmente, o
conjunto dos códigos culturais que definem, em cada momento histórico, as regras de uma
comunidade. Para que se possa compreender e identificar como a realidade atua na
motivação das pessoas ao fazer determinado tipo de escolha (comprar, votar, agir...).
Para tornar familiar o não familiar. Este movimento, que se processa internamente, vem a
serviço de nosso “bem-estar”. Para assimilar o não familiar, dois processos básicos podem
ser identificados como geradores de RS:
❏ O processo de ancoragem;
❏ O processo de objetivação.
Ancoragem e Objetivação
Avanços trazidos pela teoria das RS

1. A teoria das RS trata do conhecimento construído e partilhado entre pessoas,


saberes específicos à realidade social, que surgem na vida cotidiana no decorrer
das comunicações interpessoais, buscando a compreensão dos fenômenos sociais.
2. A teoria das RS colocou os saberes do senso comum em uma categoria científica.
Ela veio valorizar este conhecimento popular, tornando possível e relevante sua
investigação.

Pesquisa em Psicologia Social


A Atividade de Pesquisar
❏ Geralmente, a atividade de pesquisar está associada ao trabalho do cientista.
Inscreve-se no nosso imaginário como uma atividade que se desenvolve em um
laboratório, em meio a instrumentos da física e da química.
❏ O cientista, via de regra, nos parece um “gênio”; alguém cujas descobertas são
obras do acaso, ou melhor dizendo, das possibilidades que sua genialidade tem de
“explicar” o acaso.
❏ Essas imagens expressam uma concepção de ciência conhecida como “tradicional”,
cujos pressupostos básicos são a neutralidade, a objetividade, a experimentação...

Essas lembranças e imagens fixadas nas nossas histórias pessoais não são também
frutos do acaso, mas de uma forma de pensar e viver a definição do que é “ser científico”
que sustenta a história da própria construção do conhecimento.


❏ Consequentemente, a busca do conhecimento e não da verdade seria o objetivo da
ciência.
❏ Do mesmo modo, a constatação de que o “dado” é, ao mesmo tempo, resultado
teórico e empírico, pois é preciso antes decidir o que e como procurar: definição do
objeto da pesquisa, do problema e das estratégias metodológicas.
❏ A pesquisa não pode ser compreendida, exclusivamente, como um conjunto de
técnicas utilizadas para o conhecimento da vida, mas como um recurso ligado a
diferentes modos de produzir conhecimento e a história de suas legitimações.
❏ A atividade de pesquisar é um imperativo de sobrevivência e, portanto, fala da vida e
das suas múltiplas formas de expressão, inscrevendo-se no nosso cotidiano e não
se restringindo às controladas situação de laboratório.

Compreendendo Pesquisa na Psicologia Social


Como ficaria a produção do conhecimento científico em um campo onde a referência não
é o imaginário do laboratório, como no caso das ciências sociais?
A Pesquisa na História da Psicologia
❏ Na história da psicologia, ficou demarcada a separação entre o indivíduo e o social.
❏ A definição de que o estudo do indivíduo é do âmbito da psicologia tornou
necessário “adequar” esses estudos ao formato do modelo de ciência vigente,
pautado nos parâmetros das ciências físicas e naturais.
❏ É nesse cenário que vai se definir o que é pesquisar em psicologia e em psicologia
social. A nascente psicologia social sofre influência da psicologia norte-americana.
❏ A partir de 1970, evidencia-se um questionamento da hegemonia dessa forma de
conceber a ciência.
❏ Nessa época, com o cenário social e político da América Latina, fez-se necessário
pensar a produção de conhecimento em psicologia social de forma estratégica,
sempre vinculada a alguma forma de prática social e política capaz de articular as
questões da teoria com os aspectos empíricos, os objetivos da produção do
conhecimento com as transformações sociais.
❏ Psicologia social histórico-crítica.
❏ A visão de mundo e de homem como produto e produtor da história é que vai
fundamentar a crítica à psicologia social tradicional, implicando a impossibilidade de
gerar um conhecimento “neutro” ou um conhecimento do outro que não interfira na
sua existência.
Pesquisador e pesquisado se definem por relações sociais que tanto podem ser
reprodutoras como podem ser transformadoras das condições sociais onde ambos se
inserem; desta forma, conscientes ou não, sempre a pesquisa implica intervenção, ação de
uns sobre outros. A pesquisa em si é uma prática social [...].
Pesquisa em Psicologia Social nos anos 1990

Decorrências Metodológicas
Metodologia em Psicologia Social
Com base no pressuposto da complexidade, onde uma teoria é incapaz de dar conta do
conhecimento do real como um todo e muito menos fornecer todas as respostas, há sempre
uma opção teórica pelo pesquisador que vai determinar suas escolhas metodológicas, que
são vistas como estratégias utilizadas para integrar o empírico e o teórico.

❏ A necessidade mútua de teoria e prática como um princípio da pesquisa em


psicologia social possibilita que o problema de pesquisa se constitua muito mais
como um ponto de partida do que de chegada, possível de ser reformulado,
recolocado,substituído, na trajetória da pesquisa.
❏ Formulação de questões norteadoras: as interações entre os diversos fenômenos
sociais são tantos que não é possível isolá-los, e que, portanto, não se encontra um
meio verdadeiramente seguro de verificação de uma hipótese em ciências humanas.
❏ Amostragem - nem sempre o objetivo é a generalização estatística, mas a
“generalização analítica” (Yin, 1989), como no método do estudo de caso, que se
refere à articulação dos dados com a teoria proposta.
❏ Deste modo, nem sempre são os procedimentos estatísticos que pautam a escolha
da amostra, mas os indivíduos estudados poderão ser escolhidos em função de
aspectos ou condições consideradas significativas aos propósitos do estudo.
❏ Procedimentos de análise e interpretação: admitem uma diversidade de propostas
cuja opção depende da conceitualização do objeto, do material pesquisado e do
aporte teórico de fundamentação. Os quadros teóricos de referências vão “recortar”
o real, permitindo variações de leitura deste real.
❏ Sobre a leitura do real, chama-se a atenção para a interpretação, já que o dado
empírico só adquire sentido a partir de uma concepção de caráter interpretativo da
realidade.
❏ Uma ênfase especial recai na capacidade do pesquisador tanto de construir
estratégias metodológicas de análise e interpretação como de “emprestar” métodos
e técnicas alheios ao objeto de pesquisa construído.
A relação pesquisador-pesquisado é inerente ao processo investigatório (não há
distanciamento entre sujeito e objeto de pesquisa), e entende-se como princípio ético que a
ciência não pode ser apropriada apenas por grupos dominantes, propondo a participação
efetiva da população pesquisada e a socialização do conhecimento produzido.

Modos de Pesquisar - A Pesquisa-Ação e a Pesquisa Participante


Esses termos têm origem na perspectiva em psicologia social de Kurt Lewin, embora não
tenham se restringido a este modelo teórico e tenham sofrido grandes transformações.
Há divergências entre os autores sobre essas duas propostas. O ponto comum é o
envolvimento efetivo da população pesquisada em todas as etapas do desenvolvimento da
investigação.
Os diferentes contextos sociais de emprego dessas propostas de pesquisa determinaram
alternativas diversas de aplicação. A definição de pesquisa participante não é unânime
entre os autores (Brandão, 1983; Gianotten & De With, 1985; Demo, 1985), embora alguns
elementos se apresentem consensuais:
❏ Realização concomitante da investigação e da ação;
❏ Participação conjunta de pesquisadores e pesquisados;
❏ Proposta político-pedagógica a favor dos oprimidos.
Há ainda, o objetivo de mudança ou transformação social.
A metodologia da pesquisa participante e da pesquisa-ação afasta-se dos procedimentos
da pesquisa tradicional.
A população interessada participa, junto com os investigadores, da definição do objeto de
pesquisa, dos seus objetivos e do seu planejamento.
Embora possam ser empregadas algumas técnicas de coleta de informações também
utilizadas na pesquisa tradicional, como o questionário, a observação participante e a
entrevista, o trabalho de campo e a análise dos dados inclui a participação de todos os
envolvidos, onde são esperados feedbacks para validação dos resultados e estabelecidas
as propostas de ação.
Essas duas propostas de pesquisa não representam os únicos modelos de pesquisa em
psicologia social, muito embora alguns de seus princípios tenham sido generalizados para a
pesquisa em geral nesse campo de conhecimento.
Um cuidado especial deve ser conferido à falsa concepção de que o conhecimento
“popular” é a verdade-absoluta. “É preciso construir a necessidade de construir caminhos”

Pesquisa em Psicologia Social - Reflexões Finais


A forma como se pesquisa em psicologia social é pesquisa científica, mas que se orienta
por uma epistemologia crítica.
Assim, não se pode buscar na pesquisa em psicologia social os pressupostos de ciência
que tenha como base a neutralidade, a objetividade ou a generalização, pois são outros
fundamentos. Nesse modo de pesquisar, tem-se por objetivo interpretar os processos, os
movimentos, as relações.
A pesquisa em psicologia social também implica no ponto de vista ético: na relação do
pesquisador com os pesquisados, na relação com os outros pesquisadores e com a
sociedade.
Uma “ciência com consciência” (Morin, 1996).
Assim, não se trata de uma atividade de pesquisa pronta, acabada e com estatuto de
verdade absoluta, mas coloca sempre a necessidade de construir caminhos e refletir sobre
essa construção.

Psicologia Social e Escola


O que é a Escola?
A escola apresenta-se hoje como uma das mais importantes instituições sociais por fazer
a mediação entre o indivíduo e a sociedade. Ao transmitir a cultura – que inclui um modo de
ver o mundo (as representações sociais), os modelos sociais de comportamento e valores
morais –, a escola busca a socialização e humanização de cada indivíduo.
Psicologia e Educação: uma história
Como profissão no Brasil, a psicologia trazia uma perspectiva teórico-metodológica: a do
“ajustamento”, da identificação de distúrbios (de personalidade, de conduta, de
aprendizagem), visando à correção dos mesmos ou então à sua prevenção.
Sob essa ótica, a psicologia exerceu sobre a educação “...uma influência bastante
nefasta, pois os problemas de escolarização passaram a ser localizados basicamente nos
próprios alunos e em suas famílias, geralmente vistas como desorganizadas e
desestruturadas”
Desse modo, a escola se distancia da realidade social. O esforço pessoal torna-se fator
decisivo do sucesso ou do fracasso escolar. Aliás, o fracasso é explicado basicamente pela
falta de empenho e esforço do aluno. No máximo, ocorre a responsabilização dos pais pelo
insucesso do filho. Nunca a escola se responsabiliza, ela sai ilesa dessas avaliações porque
não se coloca como objeto de avaliação.
❏ Mais do que contribuir com a superação do fracasso escolar, a psicologia
historicamente contribuiu para a legitimação do mesmo e, consequentemente, para
a manutenção da ordem social vigente. Isto na medida em que os problemas sociais
eram reduzidos a problemas psiquiátricos, sendo o sujeito visto como “doente
mental” em potencial.
❏ Com a regulamentação da profissão, os serviços de psicologia junto às instituições
escolares caracterizaram-se por essa perspectiva, a qual ainda não foi superada.
Sob essa ótica, a atuação da psicologia na escola pauta-se em uma perspectiva
preventivo-curativa, em que os conhecimentos da psicologia são utilizados
fundamentalmente para o diagnóstico e intervenção junto a alunos que apresentam as
chamadas “dificuldades de aprendizagem”: função técnica.
Em contraposição, temos a atuação do psicólogo em uma perspectiva social crítica.
Partindo da compreensão de que o sujeito é social e historicamente constituído e,
concomitantemente, é produtor de cultura e história, a intervenção do psicólogo na escola
pauta-se na análise das situações educativas em sua complexidade: aspectos históricos,
econômicos, políticos, sociais, etc.
Psicólogo escolar: Técnico da Educação
A função técnica atribuída ao psicólogo na escola nos remete à história da divisão social
do trabalho, originada nas fábricas (industrialização), cuja explicação se dá pela
necessidade de fiscalizar, hierarquizar e disciplinar os trabalhadores, delegando a estes
funções cada vez mais distanciadas dos meios e do processo de produção como um todo.
Essa função de fiscalização é assumida, portanto, pelo pessoal técnico, que contribuía para
perpetuar a dependência dos operários,sua subordinação.
No contexto educacional brasileiro, essa divisão social do trabalho foi acentuada na
década de 1970. Através da lei 5.692/71, os especialistas da educação traziam consigo a
proposta de modernização da escola, herdada do taylorismo.
Aos técnicos (os “detentores do saber”), caberia a função de assessorar os professores
(os que “não sabem”). Aos primeiros era dada a função de planejamento, enquanto que os
professores eram os executores.
Desse modo, assumindo uma atuação eminentemente técnica, o psicólogo, mais do que
contribuir com a escola na discussão de seus impasses, legitima a hierarquização do
trabalho, assumindo função de controle.
Nesse sentido, nega aos demais (professores, alunos, orientadores, pais, diretores,
merendeiras, etc.) a possibilidade de se perceberem como corresponsáveis tanto pela
realidade encontrada quanto por um projeto social que se queira construir.
Psicologia Social e Escola: para Além da Função Técnica
Já entendemos que é preciso superar a visão técnica. Mas, qual é a função do psicólogo
na escola?
Toda e qualquer função humana (incluindo o fazer psicológico) é sempre e
necessariamente política, pessoal, social e histórica. É concomitantemente afetiva,
cognitiva, social, motora, posto que em toda e qualquer situação apresentamo-nos como um
todo, enquanto sujeitos histórica e socialmente constituídos e, ao mesmo tempo, como
constituidores ativos do contexto do qual nos inserimos. A nossa ação, portanto, está
sempre comprometida (conscientes ou não) com um projeto de sociedade.
Como pode então ser entendida a atuação do psicólogo junto às instituições escolares?
Cabe aos profissionais que atuam na educação constituírem-se como trabalhadores
sociais, historicamente comprometidos com o processo de mudança. Assim, o psicólogo,
como trabalhador social, teria como papel “atuar e refletir com os indivíduos para
conscientizar-se junto com eles das reais dificuldades da sua sociedade”.
Nesse processo, o psicólogo pode contribuir em muito com a análise e
redimensionamento das relações sociais que se estabelecem no contexto educacional.
E por que isso é importante?
As relações sociais são o palco onde as significações são coletivamente produzidas e
particularmente apropriadas. É nelas que os seres humanos constituem-se enquanto
sujeitos, capazes de regular a própria conduta e vontade.
As relações sociais no contexto escolar organizam-se em razão das atividades que
caracterizam a própria escola:
❏ O ensinar e o aprender.
Ao falarmos em redimensionamento das relações sociais, enfatizamos a necessidade de
que estas possibilitem a todos a concretização com êxito daquelas atividades, de modo a
que o acesso ao conhecimento historicamente produzido possa ser prerrogativa de todos.
Procurando conhecer a realidade escolar como um todo, com suas múltiplas
determinações, o psicólogo pode contribuir para o repensar da escola, na medida em que
redimensiona sua própria atuação e contribui para que os demais integrantes desta reflitam
também sobre a forma como agem/interagem frente ao real, contribuindo para a
transformação social.
O compromisso do psicólogo no contexto educacional deve ser com a superação da
dicotomia planejamento/execução, que imputa aos professores, alunos, pais, etc., o posto
de submissão, do não saber e do não ser capaz. Às relações de dominação/submissão,
contrapõem-se as relações de cooperação, marcadas por laços de solidariedade e pelo
compromisso com uma sociedade não exclusora. É um fazer psicológico crítico!
Psicologia Social e Trabalho
O que é o Trabalho?
O trabalho e a consciência de nossa capacidade de transformar a natureza em nosso
próprio proveito são eventos concomitantes e que se apoiam mutuamente para o
desenvolvimento. A intervenção deliberada no mundo ajuda a construir a consciência
humana, e esta, que se supera qualitativamente, adquire nova compreensão do próprio
mundo.
Psicologia Social no Trabalho: uma História
No que se refere ao trabalho, a psicologia contribuiu muito para que o mérito e o
fracasso, por exemplo, fossem vistos como características exclusivamente dos sujeitos
individuais. Na saúde do trabalhador, a atuação da psicologia voltou-se, prioritariamente,
para a classificação dos sujeitos em saudáveis ou não saudáveis, aptos ou inaptos ao
trabalho, atentos ou desatentos diante dos riscos, etc. Assim, a psicologia debruçou-se mais
para a produção do que para o trabalho e o trabalhador.
Desta maneira, o tripé psicologia – trabalho – saúde, evidencia-se enquanto prática de
uma relação de dominação, restando ao trabalhador a doença. Muitos trabalhadores
assumem a dor do trabalho como normal, como algo de sua única responsabilidade, sendo
comum entre eles a culpa pela falta de um organismo resistente, ou por não terem se
cuidado.
Estamos num mundo em constante mudança e a nova ordem do trabalho traz
implicações diretas aos trabalhadores nas mais diversas dimensões. Do ponto de vista
psicológico, a pressão subjetiva exercida pelo novo sistema origina efeito danoso à saúde
do trabalhador, e passamos a conviver com termos como a síndrome de Burnout, LER,
Dort, assédio moral, etc. Tais termos designam algum tipo de sofrimento físico-psíquico,
agravando o desgaste provocado pelo trabalho.
Atualmente, a exigência de uma eficiente administração de pessoas exigirá também a
construção de um novo modelo de gestão e, portanto, de um novo modelo de trabalhador; a
palavra de ordem é a flexibilidade. Não há mais um único lugar esperando pelo trabalhador,
que deve ter flexibilidade suficiente para realizar várias tarefas e, em função dessa
mobilidade, ganharam importância o treinamento e a formação do trabalhador.
O antigo papel do psicólogo aplicador de testes para identificar o perfil adequado à
função a ser desempenhada, foi transformado na função de um gestor de pessoas, que se
preocupa com a escolha profissional, com o processo de decisões, com a formação do
trabalhador.
Psicologia Social e Trabalho: para Além dos Modos Tradicionais
No que se refere ao trabalho, a psicologia tem possibilidades cruciais. Sua importância
evidencia-se, principalmente, na possibilidade de resgatar a fala abafada enquanto medida
de anulação do trabalhador, através da capacidade de escuta das experiências geradoras
de sofrimento vivenciadas no dia a dia do trabalho.
Desta capacidade de escuta derivam-se novas possibilidades de relação. Entre elas, nos
deparamos com a passagem de uma situação de alienação do trabalhador para uma
situação de consciência crítica produzida no resgate de seus modos de pensar, sentir e
vivenciar. Tal resgate poderá constituir-se em novos modos de experienciar o trabalho,
proveniente dos próprios trabalhadores e trabalhadoras, reconstruindo seus vínculos com o
próprio trabalho e com quem compartilham a vida.
A ordem social que se globaliza e se complexifica vem dinamizando representações
sociais do trabalho, diferenciações nos modos de organizá-lo, e complexificações produtivas
que acarretam distinções no mundo do trabalho e dos próprios trabalhadores, sobre os
quais (contexto e sujeito) a psicologia não pode se furtar de lançar o olhar. Atenta à
interdisciplinaridade, em função da complexidade de objetos, a psicologia deve buscar
novas fontes e novos referenciais.
Embora não mais apresentados como aqueles trabalhadores massificados que o
fordismo cunhou, os trabalhadores de hoje encontram-se numa nova ordem de
massificação. A ordem da massa dos excluídos que aumenta vertiginosamente as filas do
desemprego devido a um mundo do trabalho que não mais necessita de sua força para se
movimentar.
No mundo do trabalho observa-se que mudanças - expressas nos processos de
virtualização propiciados pela informática, a comunicação instantânea e globalizada, a
rapidez dos fluxos, as empresas virtuais - indicam para novos modos de ser que têm gerado
experiências traumáticas nos sujeitos do trabalho, com implicações imediatas à sua saúde.
Reestruturações do trabalho apresentam mensagens duplas: competição/cooperação,
individualismo/time, controle externo/controle interno... requerendo reestruturações
psíquicas.
Embora essas novas formas de trabalho repercutem direta e diferenciadamente na
saúde do trabalhador, elas não minimizam seus sentimentos de estar em constante falta,
em constante despreparo, em constante insegurança frente às possibilidade de exclusão do
mercado de trabalho em transformação. Pelo contrário, elas são acréscimos às conhecidas
preocupações que assombram os trabalhadores.
O que a psicologia pode fazer? Diante disso, a psicologia deve estar voltada ao âmbito
do trabalho no sentido de compreender e intervir nos possíveis efeitos sociais e subjetivos
dele decorrentes.
A importância de se ampliar escutas e olhares sobre estas questões faz parte de
múltiplos esforços; estes tomados no sentido de pluralizar a compreensão da realidade
social, de identificar diferenças/igualdades que permeiam o universo da classe trabalhadora,
para que a saúde ou a falta dela não se centra unicamente na culpabilidade dos indivíduos
como consequência de seu não ajustamento à nova ordem social.
São comumente as mulheres, os pobres, os trabalhadores não qualificados, aqueles que
habitam as periferias, etc., os que sofrem em decorrência de uma ideologia já cristalizada
nas relações de trabalho que se expande ao cotidiano da vida. É através da análise -
perguntar e analisar o porquê de serem sujeitos específicos os que mais retratam e
denunciam o sofrimento físico e mental - que poderão surgir práticas realmente voltadas
para a relação saúde e trabalho que entrelacem modos de trabalhar e de viver.

Obs: Todo o conteúdo apresentado neste arquivo é de suma importância e está resumindo
a matéria estudada, portanto será marcado apenas os títulos para uma melhor organização
e compreensão.

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