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Universidade Rovuma
Extensão de Niassa
Módulo de ACM
UNIDADE TEMÁTICA I
TEMA: AS CIÊNCIAS SOCIAIS: SUA EMERGÊNCIA E CARÁCTER

CONT. 1: OS GRANDES DEBATES DA CIÊNCIA CONTEMPORÂNEA

A partir da segunda metade do século XIX, começou a surgir o grande debate


científico representando o evoluir do conhecimento intelectual do Homem como
um ser pensante.

Nos finais do século XIX, surgiram duas posições antagónicas em volta do que
devia ser considerado como conhecimento científico ou não verdadeiramente
científico. Assim, destacaram-se nesta vertente as posições como:

A. A Pseudociência ou Metafísica – aqui surgiram questionamentos sobre a


Astrologia, o Marxismo e a Psicanálise se eram ciências ou não.

Destacaram-se como figuras proeminentes deste movimento, Pierre Duhen,


Ernest Meach e Jules Henri Poincaré.

B. A Ciência propriamente dita – este movimento foi notável por estabelecer


o Positivismo Lógico do Círculo de Viena. Nos princípios do século XX, um
grupo de cientistas reuniu-se em Viena (Áustria) onde traçou uma fronteira
existente entre a Pseudociência e a Ciência.

Foi em 1922 sob direcção do físico alemão, Mortz Shelik, que na companhia
de seus homólogos e alguns seus estudantes, discutiram a temática e
revolucionaram a maneira de conceber um novo pensamento científico. De
entre os presentes destacaram-se na ocasião os seguintes especialistas:

1. Herbert Feighl
2. Otto Neurath
3. Rudolf Carnap
4. Kurt Gödel.

Este grupo ficou bastante notabilizado por ter publicado uma obra intitulada
"Visão Científica do Mundo". Nesta obra, o grupo de Viena apresentava a sua
visão sobre o conhecimento científico denominado Positivismo Lógico, que
com a sua posição filosófica sobre o conhecimento, surge então a famosa
doutrina chamada, o Positivismo Lógico do Círculo de Viena.

Elaborado por MSc: Momade Preto


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CONT. 2: A NOVA VISÃO DO POSITIVISMO LÓGICO DE VIENA

1. A base da ciência deve estar assente na Matemática e na Lógica – eles


compreendiam que apenas essas ciências (Matemática, Física, Biologia
incluindo a Lógica) é que constituem ferramentas para a elaboração de um
conhecimento científico porque formulam leis universais. Negaram a validade e
credibilidade de um conhecimento resultante da observação e comparação;

2. A explicação das afirmações devia ser feita por uma análise lógica –
aqui, eles não concordam com as análises empíricas nem das experiências
sucessivas que é a base de aplicação efectivada no complexo campo das
Ciências Sociais e Humanas em comparação com as Ciências Exactas;

3. Indução como mecanismo teórico para a elaboração do conhecimento


científico – entenderam e defenderam que todo o processo da aprendizagem
resulta de uma indução, ou seja, a construção do conhecimento científico
provém de uma inspiração que os mentores buscam de algo ou alguém. O
processo indutivo foi considerado como o motor da ciência, mas, mais tarde
acabou desaguando no princípio de verificabilidade;

4. Princípio de Verificabilidade – este princípio postulava que seria


considerado científico o enunciado ou conhecimento que pudesse ser
verificado, isto é, posto à prova, por meio de uma validação empírica;

5. A verificabilidade foi bastante criticada por diferentes cientistas da época, e


desta forma, surgiram novas personalidades como:

 Rudolf Carnap – preocupou-se em compreender a verificabilidade


procurando encontrar um critério para se adequar aos problemas
emergentes nos anos de 1930. Desta feita, ele adoptou o Princípio de
confirmacionismo.

O princípio de confirmacionismo foi um modelo segundo o qual, os graus


probabilísticos deviam passar por um alto grau de confirmação dependendo da
experimentação empírica. No entanto, as conclusões tiradas das confirmações,
não devem ser consideradas como verdades definitivas.

A. Karl Popper e o Princípio da Falseabilidade

Popper publicou uma obra designada "A Lógica da Pesquisa Científica" em


1934 onde propunha que não existe nenhuma garantia que uma indução
elaborasse uma verdade conclusiva. Ele defendia que as observações e os
testes sucessivos (análise laboratoriais) não podiam mostrar evidências de um
conhecimento verdadeiramente científico.

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Sempre defendeu que mesmo havendo uma verdade lógica, é pertinente a


existência de uma outra teoria que confronte e contrarie essa verdade lógica.

B. Paradigmas Científicos e Programas de Pesquisa

A ideia relacionada com o desenvolvimento do conhecimento científico, mesmo


depois da II Guerra Mundial, foi concebida por Karl Popper com o seu princípio
de Falseabilidade que conheceu maior vigor durante a sua vigência.

Até a década de 1960, surgiram novos cientistas que contrariaram a visão


científica de Popper destacando-se como figuras principais:

Thomas Kuhen que escreveu "Estruturas das Evoluções Científicas" onde


introduziu pela primeira vez o conceito Paradigma. Para ele, este conceito
representava um conjunto de crenças, valores, princípios ou regras
comungados por uma comunidade científica, necessários para resolver
problemas concretos da época e que deviam ser respeitados por todos os
membros com que se identificavam como normativas na abordagem científica.
Kuhen destaca na sua visão paradigmática dois momentos importantes da
evolução científica que se compreendem em:

i. Momento da ciência normal – foi o momento de questionamentos e de


abrandamento no âmbito das discussões científicas envolvendo vários
especialistas de distintos extremos geográficos e períodos de sua vigência;

ii. Momento da revolução científica – foi o momento em que as ideias antes


concebidas caíram em descrédito. Neste âmbito, a teoria dos Paradigmas de
Thomas Kuhen foi fortemente criticada e contestada. Discutiu-se que o
conceito Paradigma foi demasiado exagerado na sua aplicação em vários
contextos e foi substituído pelos termos Matriz Disciplinar.

A partir das críticas a que foi alvo, Kuhen desenvolveu a tese de


Incomensurabilidade. Aqui, ele explica que a comunidade científica daquela
época (1960), não podia comparar os modelos porque são de contextos,
valores, critérios e modelos de referência diferentes aos dos seus antecessores
que viveram e manifestaram experiências diferentes.

Ainda nesta base, Kuhen observou que os paradigmas não são verdadeiros
nem falsos porque o mais importante era avaliar a sua funcionalidade.

C. O Anarquismo Metodológico de Feyerabend

Paul Feyerabend foi um filósofo austríaco que publicou uma obra chamada
"Contra o Método" na qual avança três ideias principais:

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a) A ciência avança com os factos solidamente provados – foi um princípio


doutrinário ou filosófico também conhecido por Princípio de Tenacidade. Para
Feyerabend, não há ciência sem questionamentos constantes e permanentes;

b) Não há critérios científicos definitivos que garantem teorias científicas


definitivas – segundo ele, todas as teorias que surgem em diferentes
contextos, são em função da subjectividade das circunstâncias do momento. O
Anarquismo Metodológico de Feyerabend sugere a criação de critérios para
avaliar a qualidade da teoria científica assente em três regras principais:

 Exactidão – as previsões das quantidades das teorias criadas devem


estar de acordo entre elas. Assim, todas devem ter concordância com as
observações e com as experiências;

 Consistência – uma teoria deve estar isenta de contradições internas e


ser compatível com as outras teorias da época;

 Fecundidade – uma teoria devia não só levar a novas descobertas


como também sugerir novos problemas a serem resolvidos.

CONT. 3: A REBELIÃO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

No final do século XIX, com a crescente consolidação das Ciências Sociais e


Humanas, iniciaram as polémicas e divergências a cerca da aplicabilidade dos
métodos e procedimentos desenvolvidos pelas Ciências Naturais ou Aplicadas
e também pelas Ciências Sociais.

Wilhelm Dilthey (1833-1911), filósofo alemão estabeleceu uma distinção clara


que se tornou um marco notável nessas discussões. Ele diferenciou:

a) Explicação – Dilthey compreendeu que era a operação básica existente nas


ciências naturais que estabelece as causas e efeitos dos fenómenos
observados com base, fundamentalmente em análise laboratoriais;

b) Compreensão – é um procedimento típico das Ciências Sociais nas quais,


as causas dos fenómenos dificilmente seriam explicadas.

Com o seu método de observação e de comparação, as Ciências Sociais


ganharam o campo de pesquisa com específico objecto de estudo. Para tal, foi-
se privilegiando a interpretação em Ciânicas Sociais com base no cruzamento
entre as várias áreas do conhecimento como:

História Geografia Demografia Etnografia

Antropologia Sociologia

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A partir desta distinção de Wilhelm, o sociólogo alemão Marx Weber (1864-


1920) propôs um novo método científico para as Ciências Sociais – conhecido
por Método Compreensivo. Este método consistia em entender o sentido que
as acções humanas possuem, em vez de focalizar meramente os aspectos
exteriores dessa mesma acção era necessário aprofundar através de aplicação
de várias operações privilegiadas na interpretação histórica, por exemplo, a
Hermenêutica ou a Heurística com todas as suas componentes variações.

No início da década de 1920, surgiu um movimento importante no Instituto de


Pesquisas Sociais de Frankfurt, Alemanha, onde se destacaram como
figuras proeminentes deste grande campo social: Herbert Marcuse, Theodoro
Adorno e Walter Benjamim que mais tarde teve seus importantes percursores.

A escola de Frankfurt propôs um conjunto de ideias multidisciplinares que


passou a ser conhecido como Teoria Crítica. De uma inspiração marxista,
esses teóricos defendiam que a ciência havia-se tornado desconectada da
realidade social, servindo unicamente como instrumento das classes
dominantes para a manutenção do seu status social.

No final de 1960, surgiu um movimento na filosofia das ciências Sociais


denominado Sociologia do Conhecimento. De entre os seus representantes
que alguns existem ainda nos dias correntes, destacaram-se:

David Bloor, Barry, Barnes, Steve Shapin, David Edge, este último docente
na Faculdade de Letras da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, entre
outros cientistas daquela geração da segunda metade do Século XX.

Estes e tantos outros especialistas eram da Universidade de Edimburgo,


tinham abraçado a tese de Incomensurabilidade de Thomas Kuhen e
inspiraram-se fortemente no Anarquismo Metodológico de Paul Feyerabend (a
cerca dos critérios de avaliação das teorias científicas).

De acordo com os seus princípios, a escola de Edimburgo passou a considerar


o conhecimento científico como sendo uma construção social.

Ainda na década de 1960 surgiu uma outra vaga de pensadores reafirmando a


necessidade de existência de um método científico capaz de emancipar o ser
humano submerso nas ideias de orientação capitalista assente num
perspectiva de sociedades industrializadas do mundo europeu contrastando as
capacidades dos extremos geográficos distantes no sistema planetário global.

O seu principal mentor foi o filósofo alemão Jürgen Habermas. O principal


pensamento deste cientista, foi pela preservação das ciências naturais porque
segundo ele, tinham uma lógica objectiva enquanto que as ciências sociais e
humanas, deviam seguir uma lógica interpretativa porque a cultura e a
sociedade encontram-se embaçadas de símbolos identificativos.

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De acordo com a compreensão deixada por Habermas, o pensamento aplicado


às ciências sociais e humanas era fundamental porque podia proporcionar a
separação da dicotomia "saber" e "fazer", a "ciência" e "sociedade".

Para ele, as ciências sociais na sua generalidade deviam ter um carácter


intervencionista, ou seja, o cientista social deve ser mais interventivo para
garantir a transformação da sociedade através dos seus estudos realizados
com base nas suas constantes e permanentes constatações.

UNIDADE TEMÁTICA II
TEMA: PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO E AS CORRENTES ANTROPOLOGIA

CONT. 1: PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO

Antropologia é a ciência do Homem que compreende a seguinte dicotomia:

Anthropos = Homem, no contexto e dimensão da espécie.

Ethnos = colectividade = povo.

Desde há muito tempo, foi conhecido e usado o termo Antropologia. Mas o


conceito Etnologia foi conhecido a partir do século XIX através de uma
pesquisa social projectada por antropólogo francês chamado AMPÈRE.

A sua pesquisa baseou-se em escritos sobre relatos de viagens da aventura


expansionista levada acabo pelos europeus a partir do século XV, ao mudo
extra-europeu em que faziam descrições sobre sociedades encontradas.

Neste âmbito, a partir desta compreensão, foram determinados fundamentos


científicos com as seguintes linhas de orientação:

Em 1839 foi fundada na França a Société d’Etnologie onde foi usado


publicamente o termo Etnologia.

Em 1859 foi fundada e funcionou em paralelo a Sociedade de Antropologia


(Société d`Anthropologie) ainda na nação francesa.

As duas instituições tendiam definir a Antropologia e a Etnologia como ciência


de todo o Homem. Devido as particularidades e interesses individuais dos
membros que compunham as duas sociedades científicas, distinguiram de
forma superficial e concluíram que:

 Antropologia – é o estudo paleontológico e morfológico da anatomia


humana incluindo as raças;
 Etnologia – é o estudo dos aspectos culturais, espirituais ou sociais da
actividade humana.

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Esta distinção foi adoptada na sua fase inicial em toda a Europa, conforme se
pode depreender pelos seguintes avanços institucionais:

1. Na Inglaterra foi constituída em 1843, a Sociedade de Etnologia de Londres


encarregada de fazer estudo do Homem na componente de formação das
raças humanas, ao desenvolvimento das línguas e da civilização. Deste
âmbito, foi concebida naquele país europeu a Teoria Eugénica de Base
Racial em que se defendia de que o desenvolvimento intelectual dos seres
humanos estava relacionado com a localização geográfica das raças humanas
existentes na extensão territorial do planeta terrestre.

Em 1863 surge a Sociedade da Antropologia de Londres com uma missão


específica de estudar os aspectos anatómicos da etnologia das sociedades
humanas nas suas diversificadas variações rácicas e regionais. As duas
sociedades (sociedade de Antropologia e de Etnologia) caracterizaram-se
por um forte antagonismo que tais divergências terminaram com a fusão das
duas instituições formando-se o famoso Royal Instituto de Antropologia da
Grã-Bretanha nos finais do século XIX, precisamente em 1871.

A partir desta altura, em todos os países de expressão inglesa, o termo


Antropologia passou a ser mais usado enquanto que a Etnologia passou a ser
aplicada para uma especialização secundária respeitante a história das
culturas dos diferente povos de diferentes quadrantes do planeta terra.

No universo da ciência antropológica, a distinção básica centra-se


fundamentalmente em duas perspectivas:

a) Antropologia Física – ocupa-se ao estudo morfológico das raças humanas.


Compreende-se nesta linha de estudo, a lenta e progressiva transformação do
Homem na sua existência (teoria de transformação de Charles Darwin em
comparação com a teoria criativa defendida pelas crenças religiosas).
Demonstra-se neste estudo morfológico e paleontológico, a genealogia lenta,
progressiva e sucessiva transformação de:
. Prossímio = símio = Arcantropo = Australopitecos – constituindo a primeira
linha da transformação do Homem. Aqui, nota-se que esta revolução traduziu-
se na emergência do homem inteligente (homo habilis).

Razões dessas transformações: na história da existência da humanidade,


foram registados vários cataclismos naturais que fustigaram a fase da terra.

No período de Pleistoceno, registaram-se chuvas intensas (pluviações) em


África e Ásia. Na mesma altura, no continente europeu formaram-se
montanhas de gelo (glaciações) devido ao frio intenso. Tempos mais tarde,
surge um aquecimento global que fez derreter o gelo (regressões marinhas)
na Europa cuja água aumentou a quantidade das águas oceânicas que
transbordaram o seu limite normal (transgressões marinhas).

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Foi na altura da formação de montanhas de gelo em que houve o


desfasamento das águas do mar provocando uma cedência da terra (rotura)
em diferentes quadrantes que culminou com a separação dos continentes. Esta
separação foi aproveitada pelos povos do sudoeste asiático, nas suas
migrações, transitarem para o extremo sul-americano de onde não saíram
devido a acção das transgressões marinhas que aumentaram o leito dos locais
antes por eles atravessados dificultando deste modo, a transição dos povos em
regresso para as anteriores procedências naturais.
Significa para isso dizer que, a América não foi descoberta, como território
habitável, pelos europeus conforme se divulgou universalmente, pois, os
asiáticos já se fizeram presentes muito antes dos Séculos XV/XVI.

b) Antropologia Social – dedica-se ao estudo dos aspectos culturais da


existência humana nos seus valores e nas suas concepções cosmológicas ou
perspectiva ontológica do Homem (a dimensão metafísica, a religiosidade, a
antropologia histórica, política, etc.)

1. Nos Estados Unidos da América atribui-se a paternidade da Antropologia ao


Franz Boas. É uma perspectiva antropológica com matrizes inglesas devido a
língua e acultura daquele país europeu colonizador.

A Antropologia americana é genérica, mas o uso do termo tem apenas uma


acepção cultural e não física. Deste modo, a estrutura e a organização do
Departamento da Antropologia nas universidades americanas corresponde ao
valor da acepção compreensiva e neutro do termo: Antropologia Física,
Antropologia Filosófica, Antropologia Política, etc.

Desta feita, encontram-se as ramificações específicas como Antropologia


Física, Antropologia Cultural, Antropologia Política, Antropologia Social,
Antropologia Económica, etc.
Assim, os manuais de ensino da Antropologia são redigidos seguindo esta
acepção compreensiva e com uma panorâmica científica bastante complexa.

2. Na Itália, desde sempre a Etnologia foi considerada o estudo dos aspectos


históricos e culturais da vida dos homens distinguindo-se dos aspectos
paleontológicos e anatómicos da espécie humana.

A Antropologia Cultural, como denominação académica, ou seja, de um curso


universitário especializado e distinto da Etnologia, é uma aquisição recente
com nítida origem americana.

A emergência do termo surge com a justificação de que a Etnologia se dedica


ao estudo da cultura primitiva e das sociedades simples e exóticas, enquanto

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que a Antropologia Cultural se dedicava a pesquisa de valores ideais e das


relações entre a cultura e a personalidade nas sociedades complexas.

De forma análoga, os etnólogos e antropólogos italianos têm em comum o


vasto campo da cultura, mas, diferenciam-se entre si pela pesquisa
especializada e sectorial que partilham.

Dada a estão dispersa acepção compreensiva da Antropologia italiana, A. M.


Cirese em 1970 introduziu uma nova expressão científica – Estudos Etno-
Antropológicos.

Nesta mesma visão, Bernardo Bernardi escreveu uma obra intitulada


"Introdução aos Estudos Etno - Antropológicos".

CONT. 2: NATUREZA E CULTURA ANTROPOLÓGICAS

O objecto de estudo específico da Antropologia é o Homem no contexto da


espécie racional, dotado de capacidade de inteligência e de distinção.

A Antropologia Física estuda as formas e as estruturas do corpo humano.

Antropologia Cultural estuda o significado e as estruturas da vida do Homem


como manifestação da sua actividade mental.

O Homem é condicionado pela construção de indivíduo, pelas relações que o


liga com outros indivíduos com os quais comparticipa a sua vida e a natureza
mais vasta que o circunda nas diferentes dimensões de vida em sociedade.

O estudo antropológico assenta-se profundamente em grandes temas da


existência humana como:

 O Homem como indivíduo;


 As relações entre os homens;
 A relação humana dos indivíduos e dos grandes grupos com a natureza
envolvente.

A Antropologia estuda a natureza definindo-lhe as várias acepções sob as


quais o conceito de natureza se ajusta à mente humana para ordenar a vida do
Homem em sistemas de interpretação teórica e de instituições.

Natureza é o universo como totalidade cósmica, visível e invisível dentro do


qual o Homem está imerso. A natureza como complexo de forças estranhas ao
Homem, é encarada como contraste a cultura e ao próprio Homem e a sua
actividade. Tal oposição suscita a linguagem mítica e mística.

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As leis físicas e biológicas que regem a constituição íntima das coisas e dos
seres são descritas também como natureza. O próprio Homem na sua estrutura
física, sujeita-se a essas leis: nasce, cresce e morre.

A constituição natural do Homem apresenta-se sob forma dupla devido a


diferenciação de sexos. A distinção entre homem e mulher é um facto natural.
Não é produto de livre escolha do Homem, por isso, ele vê-se perante uma
distinção que não pode deixar de aceitar e que deve respeitar.

Há vários modelos pelos quais a estrutura sociocultural se apresenta


relativamente a distinção de sexos. A partir desta linha de compreensão, Emile
Durkheim estudou os fundamentos da vida das sociedades e constatou que:

1. Os WOGEO – povos da Nova Guiné (uma região do extremo americano),


entendem que os membros de qualquer grupo sexual serão salvos,
invulneráveis, sãos e prósperos (no dia do juízo final), desde que cada um se
isole e se abstenha de misturar-se com membros de outro grupo sexual;

2. GRIAULE (1968) – constata nos seus estudos que o complexo étnico


Dogon, estrato social existente na República do Mali, o nascimento de gémeos
no seu seio, constitui um princípio constitutivo da vida de todos os seres e da
ordenação cósmica. Tudo que contradiga este princípio, é desordem;

3. TURNER (1969) – estudou os Ndembu, grupo étnico que se encontra na


República da Zâmbia, na região da África Austral. Para este grupo, o
nascimento de gémeos é um paradoxo vital. Para evitar este facto absurdo e
brutal, para estabelecer a ordem na família e na sociedade, devem-se cumprir
rituais apropriados no seio da comunidade onde surgiram os gémeos.

4. HOGBIN (1970) – entende que para uma mulher se abster do homem é


possível quando estiver no ciclo menstrual e os homens se menstruam uma
vez fazendo incisões no pénis para se purificar pela perda de sangue;

CONT. 3: O SIGNIFICADO ANTROPOLÓGICO DE CULTURA

De forma correcta utilizam-se dois significados do termo cultura:

1. Significado humanístico – é de âmbito limitado e restritivo que refere ao


processo de conhecimentos mais ou menos especializados e adquiridos
mediante ao estudo. É sinónimo de conhecimento ou doutrina.

Deste modo, considera-se homem culto, aquele que completou estudos


superiores; possui conhecimentos científicos sistemáticos resultantes de um
processo de formação universitária, revela competências e faz intervenções
valentes para a sociedade.

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Na mesma ordem, o termo cultura refere-se a épocas particulares, daí, a


designação da cultura renascentista, a cultura do Século XX, etc.;

2. Significado antropológico – nasceu com o aparecimento da Antropologia


científica e de forma lenta foi-se introduzindo no uso comum. Aqui, o termo
cultura é reservado a uma concepção de vida especial de uma dada região ou
localidade, como na expressão: cultura maconde, cultura ndau, cultura yao, etc.

Mas esta acepção conduz a consequências conceptuais e sociais limitativas.


Por isso, é uma concepção refutada pelos antropólogos profissionais nos dias
correntes por não se ajustar com as realidades sociais de várias comunidades.

SALMON, cartógrafo britânico, no Século XVIII (1740) concebeu um mapa


geográfico da África daquele século e nele representou áreas ocidentais
correspondentes actualmente a países como Angola e Botswana e escreveu
«nação selvagem que se diz, nem se quer conhece a palavra cultura».

Para os Humanistas e os povos da Antiguidade Clássica, os povos sem


cultura eram os bárbaros (povos invasores que faziam lutas de conquistas,
anexações territoriais, etc.).

Os Iluministas do Século XVIII, consideraram povos sem cultura aos naturais


ou autóctones de qualquer região. Alegavam que a falta de viagens, não dá a
possibilidade de alguém se familiarizar com as outras culturas de povos
diferentes. Nesta base, a Antropologia começou a estudar os costumes e as
tradições dos povos por não concordar que haja povos sem cultura.

A primeira formulação antropológica do termo cultura foi feita por EDWARD B.


TAYLOR que definiu a cultura como sendo um complexo unitário que inclui
conhecimentos, a crença, a moral, a religião, a arte, as leis e todas as outras
capacidades e hábitos adquiridos pelo Homem como membro da sociedade.

Um indivíduo simples pode-se ver como ele se insere na cultura e como esta
serve para moldar a sua personalidade enquanto ele próprio participa
activamente na sua criação, manifestação e manutenção.

Para a comunidade, o complexo da cultura pode olhar-se na sua estrutura


actual e operante, sob aspecto funcional e sincrónico, como um imediato e
global e pode estudar-se sob aspecto histórico e diacrónico para reconstruir o
seu processo evolutivo e causal.

Como complexo unitário, a cultura assume ainda valor de património, um valor


transmitido pelos pais e torna-se na herança tradicional que caracteriza não
somente todo o indivíduo, mas também toda a sociedade.

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Os antropólogos americanos foram os estudiosos que mais se aplicaram ao


estudo do conceito cultura ao ponto de tornar uma disciplina especializada
denominada Culturologia e elencada para estudos universitários.

As suas pesquisas alargaram-se para uma vasta problemática da dinâmica


cultural da ontogênese (processo de formação e integração da cultura).

RADCLYFFE BROWN em 1940 defendeu que a cultura não se observa porque


tal palavra denota, não uma realidade concreta, mas uma observação vaga.

CULTURA E CIVILIZAÇÃO
Na óptica de Bernardo Bernardi, cultura é a actividade humana, da sua
constituição física e biológica como indivíduo e como pólo de realizações
sociais independentemente da localização geográfica dos povos.

Luís Gonzaga de Mello, citando CLAUDE LÉVI-STRAUSS compreende que


cultura é um conjunto complexo que inclui conhecimentos, crença, arte, moral,
lei, costumes e várias outras aptidões e hábitos adquiridos pelo Homem como
membro duma sociedade em que vive respeitando todos os preceitos culturais.

FRANCISCO LERMA MARTÍNEZ, defende que etimologicamente o termo


cultura provém do Latim - COLERE significando cultivar, cuidar ou seja,
apresenta um sentido ligado ao cultivo da terra, como:

. Agri-cola = cultivador da terra;

. Colonus = quem cultiva;

. In-cola = morador;

. Colónia = o local cultivado;

. Colere terram – é o primeiro sentido de cultura, significando cuidar da terra;

. Colere deos Loci ou Cultus deorum – cuidar os deuses da terra.

Na Idade Média, os dois termos encontraram-se no ideal do centro de cultura –


nos mosteiros. A acção da missão de São Bento da Núrsia – instituição criada
para garantir uma convivência ecuménica alterando o cenário da vida
particularista, simplista em que uns viviam na ociosidade e outros na penúria.

Durante o Renascimento, com os humanistas, se desenvolveu um terceiro


significado: cultivar espírito.

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GEORGE DE NAPOLIS, antropólogo americano e professor da Universidade


Gregoriana de Roma, define a cultura como um conjunto de significados e
valores partilhados e aceites por uma comunidade ou sociedade inteira.

É a maneira de viver de um grupo humano, valores e compartimentos que


identificam os mesmos membros de uma determinada comunidade.

É a cultura que distingue o Homem dos outros animais pelo reconhecimento da


noção de consciência que está presente no Homem. A cultura é uma tarefa
social e não um acto individual, constitui deste modo, um património.

É um conjunto de experiências vividas pelo Homem através da história. Ela


adquire-se pelo processo de aprendizagem – socialização através de trocas de
sinais e práticas com que as pessoas se identificam e defendem.

Fim. Psicologia 2021 – II Feira

PRINCIPAIS ACEPÇÕES DA CULTURA

Cultura objectiva e cultura subjectiva

. Cultura objectiva – é a cultura enquanto exteriorizada. Todo o conjunto


complexo da obra humana de todos os tempos e de toda a terra habitada pelos
humanos;

. Cultura subjectiva – é quando se refere ao conjunto de valores,


conhecimentos, crenças, aptidões, qualidades e experiências presentes em
cada indivíduo.

Cultura real e cultura ideal;

. Cultua real – é o que concretamente fazem as pessoas;

. Cultura ideal – o comportamento que as pessoas dizem e acreditam que


deviam ter.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA CULTURA

1. A cultura é simbólica – a cultura é um conjunto de significados e valores


transmitidos necessariamente através de símbolos e sinais. Símbolo é um
fenómeno físico que tem um significado conferido por aqueles que o utilizam.
2. A cultura é social - o seu carácter permite que seja transmitida, comunicada e
seja social. Os hábitos, os costumes e a padronização do comportamento aos
processos sociais. A cultura pertence ao grupo humano a ela representada,
transmite-se por meio da sociedade. O indivíduo atinge socialmente a cultura
que lhe é transmitida por alguém que age em nome da sociedade.

Segundo Keesing, a cultura não pode existir sem pessoas a ela relacionadas e
transmitindo a seus descendentes.

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3. A cultura é dinâmica e estável


a) Estável - no sentido de identidade e tradição.
Boka Di Mpasi defende uma posição na sua obra intitulada "Religião e
Cultura em África" segundo a qual, a tradição não significa repetição.

4. A cultura é selectiva - a cultura é um acto e facto humano contínuo, um


processo que lhe implica reformulações. Esse processo de reformulações
se acentua na sucessão de gerações. Alguns valores são relegados ao
esquecimento e outros novos são integrados.

5. A cultura é universal e regional – a cultura é um fenómeno universal.


Desde a existência da espécie humana, nunca foi encontrado um grupo que
não tenha cultura. Cada grupo alimenta seus interesses, tarefas e dentro do
conjunto cultural próprio e assim se formam padrões regionais de cultura
conforme as situações próprias e as suas necessidades particulares. Os
aspectos comuns a todas as culturas regionais denominam-se universais
da cultura.

6. A cultura é determinante e determinada – a cultura faz o Homem e este


faz a cultura porque impõe aos indivíduos e estes pouco podem fazer no
sentido de fugir os padrões culturais socialmente aceites, porque:
 A cultura determina o comportamento humano na sua padronização.
 A cultura é determinada na medida em que se transforma ao longo do
tempo devido a seguintes factores:
 Modificações geográficas;
 Modificações sociais;
 Modificações demográficas;
 Modificações culturais, etc.

RELAÇÃO ENTRE CULTURA E SOCIEDADE

Joseph H. Fichter entende sociedade como sendo um número maior de seres


humanos que agem conjuntamente para satisfazer suas necessidades sociais
e compartilham uma cultura comum.

Kingsley Davis - divide o facto cultural em dois grupos ou tipos a saber:

. Facto social bio-social – é um facto comum entre todos os animais e é


herdado por hereditariedade (procriação);
. Facto social sócio-cultural – é o fenómeno social próprio da espécie
humana e é herdado pela cultura.

Elaborado por MSc: Momade Preto


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Dinâmica – na lei da vida, a cultura muda com um ser vivo da espécie, as


mudanças podem ser pequenas ou grandes, despercebidas ou grandes.

Processo de endoculturação (inculturação)


A endoculturação ou inculturação é o processo de ajustamento de respostas
individuais aos padrões de cultura de uma sociedade.

O primeiro especialista a utilizar o termo endoculturação, foi Melville


Herskovits que defende que o processo de endoculturação começa após
nascimento da criança porque a cultura não é transmitida biologicamente.
Trata-se de um processo que inicia com a aparição da criança, vai-se
consolidando durante o seu crescimento e se estende até a morte.

Segundo Mischa Titiev "A ciência do Homem" a criança ao nascer tem um


comportamento 100 % biológico. Ao crescer passa a receber o impacto da
cultura e é levada a assimilar comportamentos padronizados que observa a
sua volta. Assim, absorve o máximo da cultura e conforma o seu
comportamento a ela. Aprenderá todo o dispositivo simbólico que lhe permitirá
comunicar-se com os outros e tornará apta para o processo intelectual,
sensitivo e volitivo. Adquirirá hábitos e costumes, disciplinar os seus
movimentos biológicos e sofrerá uma mudança progressiva que transformará
seu comportamento de 100 % biológico ao ponto de 100% cultural.

O processo de endoculturação ou inculturação apesar de estender-se por toda


a vida do indivíduo, apresenta variações e intensidades diversas. Na criança,
durante a sua infância, não há selecção. Ela assemelha-se a uma esponja que
absorve tudo. Adquire os condicionamentos fundamentais como hábitos de
dormir, de comer, de falar, de pensar, etc. Neste processo de inculturação, o
indivíduo vai modelando a sua personalidade que perdura durante toda a vida,
com aceitação ou repulsa consciente dos factos em função dos contextos
adequados.

A endoculturação é importante porque torna o indivíduo um membro ajustado à


sociedade onde o seu comportamento atinge padrões culturais aceitáveis por
todos.

Etnocentrismo – é a atitude que os grupos humanos manifestam em se


supervalorizar diante dos outros. É uma atitude que pode ser tomada como
consequência do próprio processo de endoculturação ou inculturação.

CONT. 4: PRINCIPAIS TEORIAS OU ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS

1. Evolucionismo - o estudo das sociedades humanas vivas na continuidade


das interrogações renascentistas, só passou a representar um interesse

Elaborado por MSc: Momade Preto


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real a partir do momento em que foi possível obter informações sobre as


sociedades muito afastadas e estranhas do contexto europeu.

O contacto estabelecido com os povos de todos os continentes graças a


descoberta das vias marítimas pelos portugueses da época, constituiu um
marco importante na história de toda a humanidade e que a Antropologia tira
maior proveito para o conhecimento geral sobre o Homem.

As primeiras descrições reveladoras de mundos distantes, diferentes e


inanimados para os europeus do século XVI, suscitavam a curiosidade dos
espíritos pelas revelações e eram feitas a cerca das novas criaturas humanas
até aí desconhecidas e dos seus modos de viver na fase da terra.

Como exemplos destas descrições destacam-se:

a) A crónica dos descobrimentos e descoberta da Guiné – Gomes Eanes


Zurara (1410-1474) – ele descreve o contacto dos portugueses com as
tradições guineenses;

b) O roteiro da viagem de Vasco da Gama – por Álvaro Velho (1497) descreve


o encontro dos portugueses com os habitantes da baía de Santa Helena e São
Brás;

c) Carta de Pêro Vaz Caminha – um escrivão que viajou junto de Pedro Álvares
Cabral, até ao Brasil. Tal carta tão volumosa, foi enviada ao rei de Portugal, D.
Manuel, na qual se relatava o comportamento, o ornamento e a reacção ao
vinho de uvas pelos ameríndios;

d) Etiópia Oriental – de Frei João dos Santos (1609) – que relata as


informações sobre os costumes, artes, ofícios, modos de viver e vestir,
tatuagens, enfeites de cabeça dos vários povos da costa oriental africana,
principalmente os macuas do norte de Moçambique;

e) Aventura de viagens de Fernão Mendes Pinto (1510-1583), pelo oriente em


peregrinação;

f) Relatos sobre as viagens no Cazembe – de Lacerda entre os séculos XVIII e


XIX;

g) Considerações sobre a religiosidade dos pretos da África Ocidental portuguesa


e da região central do Equador – por António Gil.

2. Evolucionismo Cultural – depois das reportagens trazidas ao mundo europeu


pelos portugueses, a partir do século XV, devido as suas viagens marítimas, os
séculos subsequentes, ou seja, os séculos XIX e XX constituíram momentos de

Elaborado por MSc: Momade Preto


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euforia e optimismo. O século XX despoletou um medo enorme e apreensão


devido aos progressos tecnológicos alcançados.

Destas grandes vitórias tecnológicas e científicas registadas, atribui-se a sua


autoria aos seguintes especialistas:

a) Edward B. Taylor (1832-1917) – foi considerado pai da Etnologia por tentar


sistematizar o estudo das culturas;

b)Duncan Mitchell "Dicionário de Sociologia" na sua abordagem sobre a


evolução social, apresenta alguns nomes como sendo os precursores do
evolucionismo cultural da Etnologia e de entre eles, se destacam os
seguintes:
. Henry Maine (1622-1888) – estudou a organização da vida nas sociedades
primitivas;

. Saint – Simoin (1760-1825) – defendeu nas suas várias obras de que há uma
sequência evolutiva através da qual toda a humanidade atravessa;

. Auguste Comte (1798-1870) concordando com o seu antecessor, ele


apresenta um esquema onde fala de um estado primitivo ou teológico, de um
intermediário (metafísico) e o terceiro estado é o positivo ou científico.
Segundo ele, todas as sociedades passam por todos estes três estados;

. Herbert Spencer (1820-1903) foi o autor da expressão clássica


"sobrevivência dos mais aptos e extinção dos mais fracos" mais tarde
publicada por Charles Darwin e Wallace.

Segundo Evans Pitchard, os primeiros a considerar a sociedade primitiva


como tema interessante e merecedora de estudo, foram Mclenan e Taylor
(Inglaterra) bem como o Lewis Morgan (América).

Foram eles a extrair informações acerca das sociedades primitivas com base
na selecção dos escritos sobre as diversas classes, apresentaram de forma
sistematizada estabelecendo as bases da Antropologia Social.

Em 1871, Taylor publicou a sua obra "cultura primitiva" onde mostra o


desenvolvimento da prática religiosa. Foi responsável pelo conceito do termo
cultura distinguindo-o do de raça.

James Frazer (1854-1941) escreveu sobre Antropologia Social onde apresenta


três etapas da evolução pelas quais passam todas as sociedades: magia,
religião e ciência.

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TRABALHOS DE GRUPOS
1º Grupo: EVOLUCIONISMO CULTURAL: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

1. Amplitude do objecto de estudo – o evolucionismo visava o estudo da cultura


definida por Taylor como sendo um conjunto complexo que inclui
conhecimentos, a moral, a arte, a religião, os hábitos e costumes e várias
outras aptidões adquiridas pelo Homem como membro de uma determinada
sociedade.
A Antropologia nascente do século XIX, abrangia um vasto campo de estudo,
respeitava as diferenças e semelhanças culturais dos povos em função das
suas práticas e localização geográfica na complexa extensão territorial do
planeta terra.

Segundo esta holística antropológica emergente, o evolucionismo começou a


acreditar na noção de unidade psíquica do Homem (todos os povos mais
cedo ou mais tarde evoluíram e evoluirão em sua cultura).

Este posicionamento refuta a postura de Montesquieu segundo a qual, as


mutações culturais devem-se ao ambiente onde-se insere cada sociedade, daí,
os africanos por excelência são povos atrasados até a sua eternidade.

Para Lewis Morgan, o aspecto material ou técnico é o grande responsável


pela transformação na organização das sociedades e posterior transformação
do equipamento.

A amplitude do objecto do estudo permitiu o desenvolvimento acelerado de


actividades científicas que vieram ampliar o conhecimento sobre o passado
humano, pois, foi privilegiado o estudo da Arqueologia e da Paleontologia
históricas. Deste modo, o estudo e a abordagem sobre o Homem e da sua
cultura passou a não ser apenas um dogma religioso.

2. Factor tempo – o evolucionismo procura criar um novo tempo cultural onde


apresenta as fases ou estágios da evolução cultural. Foi assim que surgiram
os termos como tempo primitivo, tempo moderno e outros, para os
evolucionistas, os níveis de desenvolvimento cultural determinam também o
tempo da vivência do Homem que com a qual se identifica.

3. O método comparativo - é o método que tinha por objectivo explicar


aquilo que se ignorava quase que completamente. Foi um método usado pela
primeira vez por Aristóteles no seu estudo sobre os sistemas políticos. Desta
visão, a ciência antropológica veio dar uma revolução ao método comparativo
privilegiando observações nas diferenças e semelhanças dos factos sociais.

Elaborado por MSc: Momade Preto


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Analisando o método comparativo do século XIX, Percy S. Cohen diz que em


todo o século XIX, houve uma ligação entre o método comparativo e a
abordagem evolucionista fundamentalmente pela influência crescente da
corrente identificada com o darwinismo.

John Stewart Mill (1806-1873) – demonstrava que o método comparativo era


apenas uma aplicação da lógica científica para os casos já dados.

Nos dias correntes, o método comparativo é enfatizado nas ciências humanas


por Emile Durkheim e Marx Weber. Os evolucionistas falharam nas
metodologias usadas e por não fazer a crítica das fontes usadas para as suas
informações, pois, basearam-se somente nas narrações bíblicas e na mitologia
grega da época.

Mas foi o evolucionismo que começou com o método comparativo de forma mis
correcta quando passou a estudar os povos primitivos contemporâneos para
através das observações concretas, aumentar o seu verdadeiro conhecimento
cultural universal.

4. Principais temas e conceitos – para os evolucionistas, os principais temas da


sua análise, foram as instituições familiares e religiosas. De igual modo,
preocuparam-se também ao estudo das instituições jurídicas e dos aspectos da
cultura material – como foi o caso do Morgan. Morgan defendia que a história
do género humano é única em sua origem, na sua experiência e no seu
progresso (ele refutava a existência de povos primitivos, bárbaros e
civilizados).
Os principais conceitos introduzidos pelo evolucionismo foram: cultura, sistema
de parentesco, sobrevivência, aderência, evolução cultural, religião, magia
simpática, totemismo, clã, tribo, fratria, descendência matrilinear ou patrilinear,
etc.

Dinamismo Cultural: a cultura como processo


As culturas estão sempre em movimento, mesmo aquelas consideras como
sendo impávidas, inertes ou semi-morfas. Todas elas vibram, palpitam e tem
vida. Em cada membro estão os valores culturais. Deste modo, a cultua
constitui um modo colectivo de provar a sobrevivência de todos e de cada um
dos membros da população.

Elaborado por MSc: Momade Preto


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Em linhas gerais, o comportamento cultural assenta-se em dois extremos sem


nunca atingidos completamente:
1. Estado de estabilidade ou funcionamento – a cultura é um padrão de
comportamento colectivo sempre actualizado cujas raízes se perdem no
espácio-temporal (estrutura).
O estado de estabilidade é considerado por vários autores especialmente
Claude Lévi-Strauss, Pagés, Eric Wolf, Lefebvre, Aron e outros
referenciados por Roger Bastide, em 1950, como sendo estrutura.

2. Mudança ou transformação – a cultura nasce, cresce, se desenvolve,


atinge o auge e decai.
DIFUSÃO CULTURAL
Todos os antropólogos são unânimes em reconhecer que o fenómeno da
difusão cultural é incontestável e é importante na vida dos seres humanos.

Segundo Ralph Línton:


"O cidadão americano desperta num leito construído segundo padrão originário
do Oriente Próximo, mas modificado na Europa Setentrional antes de ser
transmitido a América. Sai das mantas de algodão cuja planta foi domesticada
na Índia ou de linho e lã de carneiro domesticado no Próximo Oriente. Lava-se
com sabão inventado pelos antigos gauleses; faz a barba que é um ritual dos
sumérios do Egipto Antigo.

As suas roupas têm a forma de peles das estepes dos nómadas da Ásia; tem
sapatos de pele curtida por um processo inventado no Egipto e com um feitio
do Mediterrâneo. Antes de ir tomar café, olha as ruas pela vidraça feita de vidro
inventado no Egipto e se estiver chovendo, calça galochas de borracha
descobertas pelos índios da América Central e toma um guarda-chuva
inventado no sudoeste asiático.

A caminho do café, pára para comprar um jornal pagando com moedas,


invenção da Líbia Antiga. O prato é feito de uma espécie de cerâmica
inventada da China e a faca é feita de liga de aço inventado pela primeira vez
na Índia do Sul; o garfo foi inventado na Itália medieval e a colher vem de um
original romano.

Começa o seu café com uma laranja vinda do Mediterrâneo, melão da Pérsia
(Irão) e uma melancia africana, tomando café, planta africana da Abissínia
(Etiópia) ". Toma um xarope de maçã inventado pelos índios da floresta do
leste dos Estados Unidos da América; come ovo duma espécie de ave
domesticada da Indochina; finas fatias de carne de um animal domesticado da
Ásia Oriental e come salgados defumados por um processo desenvolvido na
Europa.

Elaborado por MSc: Momade Preto


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Acabando de comer, fuma, hábito implantado pelos índios americanos mas


utilizando uma planta tipicamente do Brasil e usando um cachimbo dos índios
da Virgínia ou cigarros provenientes do México. Mas também pode usar um
charuto transmitido à América do Norte pelas Antilhas por intermédio da
Espanha.

Com este texto, pode-se entender a Difusão Cultural como sendo um processo
universal de cultura que consiste na propagação de elementos de uma dada
cultura para outras culturas através de contactos entre povos.

PROCESSO DE ACULTURAÇÃO

Em 1880, J. W. Powell utilizou o termo aculturação para significar empréstimos


culturais entre diferentes povos localizados em distintos quadrantes do globo
terrestre.

Em 1899, Franz Boas usou o conceito difusão cultural para os estudos sobre a
disseminação das culturas.

Para Melville J. Herskovits, a difusão cultural é o processo de transmissão


cultural consumada enquanto que aculturação é estudo da transmissão da
cultura em marcha.

Darcy Ribeiro "Os Índios e a Civilização" defende que no processo de


aculturação, as culturas de alto índice técnico em contacto com as do baixo
nível de desenvolvimento técnico, as de baixo índice tecnológico acabam
sendo absorvidas.

UNIDADE TEMÁTICA III


TEMA: ESTUDO DO PARENTESCO NA ANTROPOLOGIA

2º Grupo:

Parentesco refere-se aos laços de consanguinidade que marcam a ligação


entre os seres humanos. Mas também referem-se aos laços de afinidade como
por exemplo, o casamento.

O parentesco no sentido amplo tem três tipos de laços:

a) Laços de sangue - descendência;


b) Laços de afinidade – casamento ou matrimónio;

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c) Laços fictícios – adopção.

Descendência – são laços ou relações do indivíduo com os seus parentes de


sangue. Portanto, é uma relação biológica. Em algumas sociedades, leva-se
em consideração apenas a descendência unilateral, seja de pai ou de mãe.

Segundo Tornay Copans "Antropologia, ciência das sociedades


primitivas", entre o homem e a mulher quem teria precedido o outro para o
desenvolvimento da humanidade? (História de Adão e Eva = Adam e Hawa).

Nas sociedades modernas, a descendência é bilateral. Consideram portanto,


ancestrais tanto o pai como também a mãe. A descendência matrilinear é
também conhecida por uterina e a patrilinear é também chamada por
agnática.

A descendência é igualmente chamada por linhagem. Desta feita, sistema


matriarcal ou patriarcal é diferente de linhagem ou descendência matriarcal ou
patriarcal. Os sistemas referem-se aos regimes políticos, o exercício do poder.

Descendência unilinear dupla – trata-se de uma sociedade onde não se


considera de forma igual a descendência pelas duas linhas. Assim o
reconhecimento unilinear é por certos objectivos que tem em vista conforme diz
Lacy Mair in Introdução a Antropologia Social " Para os Yakö, do Cross
River, na Nigéria Oriental, a descendência matrilinear tem uma
importância adicional. A terra é propriedade das patrilinhagens… o gado
e dinheiro, ferramentas, armas e utensílios domésticos são herdados na
linha feminina".

Pai e genitor – genitor é o pai biológico. Pai refere-se ao pai social. O pai é um
dado cultural, socialmente reconhecido. O biológico é um e único.

Nomenclatura de parentesco – também chamada por terminologia de


parentesco é o sistema simbólico de denominação das posições relativas aos
laços de descendência e de afinidade. São exemplos de nomenclaturas os
termos como: pai, mãe, tio, irmão, imã, primo, esposa, etc.

Os antropólogos classificam as nomenclaturas em dois tipos:

1. Descritivo – são aqueles em que usa um termo diferente para designar


cada parente normalmente em linha directa de um descendente, tal
como o pai ou mãe;
2. Classificatório – é o sistema que não restringe a utilização de um termo
a um único indivíduo. Emprega um termo para designar uma classe ou
grupo de pessoas algumas das quais são de parentesco linear outras de
colateral. Por exemplo o termo pai, pode designar o irmão do pai.

Elaborado por MSc: Momade Preto


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Clã – é o conjunto de pessoas que acreditam derivar de um único ancestral


comum. Foi o sistema governativo predominante no mundo antigo na Ásia,
África, Europa e Austrália.

Fratria – é o conjunto de vários clãs.

APRESENTAÇÃO GRÁFICA DOS LAÇOS DE PARENTESCO

- Homem

- Mulher

- Sexo indiferente

- Homem ou Mulher

- Falecido

- Primogénito - irmão ou seja, filho mais velho

- Primogénita – irmã ou seja, filha mais velha

- Casamento

- Casamento polígamo

- Filiação

- Germanidade – relação entre irmãos

- Divórcio.

OS SÍMBOLOS DE DIAGRAMA DE PARENTESCO

P= primos paralelos

Px= primos cruzados

G+= gerações superiores

G-= gerações inferiores

G0= gerações zero

Primos paralelos – são indivíduos nascidos de irmãos do mesmo sexo;

Primos cruzados – são os indivíduos cujos progenitores são de sexos


diferentes.

Para a leitura de diagramas genealógicos, existem diferentes parâmetros que


cruzados permitem indicar com rigor a posição de cada indivíduo em referência

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a outro, determinando assim o tipo de relação de parentesco entre eles. Os


parâmetros são os seguintes:

a) Linha recta – ao longo da qual se encontram os ascendentes e os


descendentes;
b) Linhas colaterais – nas quais se distribuem os colaterais a diferentes
níveis. Aqui, os irmãos são os primeiros colaterais e o ponto de partida
para a contagem de tantos outros;
c) O grau de consanguinidade – informa sobre a maior ou menor
proximidade parental dentro de uma certa categoria (por exemplo,
entre primos);
d) O grau genealógico – indica a posição do indivíduo no grupo de
parentesco

AS ABREVIAÇÕES DE PARENTESCO

Para além dos símbolos utilizados para construir os diagramas genealógicos,


utiliza-se também um sistema de abreviações ou de notação dos termos de
parentesco, representando uma criação científica universalmente aceite.

Os primeiros a fornecer a aplicação correcta da nomenclatura do parentesco,


foram os ingleses e mais tarde os franceses. Na língua portuguesa, a notação
das relações de parentesco são:

Consanguíneos

P - pai; M - mãe; Fo - filho; Fa - filha; Io - irmão; Iã - irmã;

IoP/IoM – tio (irmão do pai ou irmão da mãe);

IãP/IãM – tia (irmã do pai ou irmã da mãe);

FoI/FoIã – sobrinho (filho do irmão ou filho da irmã);

FoIoP/FoIoM/FoIãP/FoIãM – primo (filho do irmão do pai ou filho do irmão da


mãe ou filho da irmã do pai ou filho da irmã da mãe).

Pgt = primogénito

Laços de parentesco afins:

Mdo - marido; Esp/mer – esposa ou mulher

Io Mdo/Io Mer; MdoIã/MdoIãMdo/MdoIãEsp - Cunhado (irmão do marido ou


irmão a mulher; marido da irmã ou marido da irmã do marido ou marido da irmã
da esposa).

SUMÁRIO DE ABREVIATURAS: TIPOS PRIMÁRIOS DE PARENTES

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Inglês Português Abreviaturas

Father Pai Fa F F

Mother Mãe Mo M M

Husband Marido Hu H H

Wife Esposa Wi W W

Brother Irmão Br B B

Sister Irmã Si Z Z

Son Filho So S s

Daughter Filha Da D d

Para Schuscky, a melhor de eliminar a confusão dos antropólogos de usar


sistemas variados de parentesco, é bom que se use o método latino que
consiste no seguinte:

Inglês Português Abreviaturas Termo latim

Father Pai Fa F F Pater P

Mother Mãe M M Mater M

Husband Marido Hu H H Spnsus Sp

Wife Esposa Wi W W Uxor U

Brother Irmão Br B Frater F

Sister Irmã Si Z Z Soror s

Son Filho So S s Filius Fu

Daughter Filha Da D d Filia Fa

UNIDADE TEMÁTICA 4

3º Grupo
TEMA: O CASAMENTO E A ALIANÇA MATRIMONIAL

O casamento de dois indivíduos de sexos diferentes pressupõe uma aliança


entre grupos distintos. O grau de distância consanguínea entre os grupos de
onde emanam os indivíduos esposáveis pode ser consideravelmente variado
duma sociedade para outra, pelo que a aliança pode realizar-se fora de

Elaborado por MSc: Momade Preto


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qualquer laco de parentesco, como dentro de um grupo de consanguíneos


relativamente próximos.

O incesto como proibição universal de relações sexuais entre os


consanguíneos, geralmente com os parentes do primeiro grau, obriga a procura
de cônjuges fora de círculo de aparentados consanguineamente próximos.

Esta proibição de carácter universal, tem como característica fundamental, a


proibição de casamento entre irmãos. Segundo Claude Lévi-Strauss, em 1967,
defendeu que a aliança corresponde a escolha de cônjuge segundo dois
grandes modelos:

1. Regras positivas – indicam preferencialmente a escolha do cônjuge;


2. Regras negativas – limitam-se a proibir um pequeno círculo de
parentes consanguineamente muito próximos, deixando livre a escolha
do cônjuge relativamente a indivíduos não aparentados ou ao conjunto
dos outros parentes.

As regras positivas são também chamadas por estruturas elementares do


parentesco que tem um carácter positivo no sentido em que a escolha do
cônjuge deve ser realizada numa zona determinada do parentesco.

As regras negativas são igualmente conhecidas por estruturas complexas do


parentesco, são mais aplicáveis no contexto europeu em que o código civil e a
igreja limitam as regras definindo uma zona de parentesco cujos membros não
podem contrair matrimónios entre eles.

Os tipos de casamento

1. Monogamia ou poligamia – numerosos povos praticam a poligamia. A


poligamia divide-se em duas partes e práticas distintas conhecidas no
contexto universal que são:
a) A poligínia – é típica da cultura islâmica e consiste em um único
homem ter várias esposas;
b) A poliandria – é o inverso da poligínia ou seja, uma única mulher
tem vários maridos legalmente autorizados. É uma prática peculiar
dos Toda (grupo tribal existente no norte da Índia ou no Tibete)
em que é feita de forma délfica (todos os maridos dessa mesma
mulher devem ser irmãos carnais) entre si.
2. O levirato ou sororato – o levirato é uma forma de casamento
considerado secundário, na medida em que é precedido por um
primeiro. Consiste na obrigação que uma mulher tem em casar com o
irmão do seu marido falecido. Os filhos saídos deste novo casamento
não são considerados como deste genitor, mas, do falecido.

Elaborado por MSc: Momade Preto


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Em certas sociedades poligínicas, quando um homem morre, os seus


filhos partilham as suas várias esposas entre si, com a excepção da sua
própria mãe (prática típica dos Arapesh, também na Índia).

O inverso de levirato está o sororato que consiste no princípio segundo


qual, quando uma mulher morre, os seus parentes de origem, tem a
obrigação de fornecer uma outra mulher em substituição da primeira.

Procedência dos cônjuges

a) Casamento exogâmico – os cônjuges são de grupos de parentesco


diferentes;
b) Casamento endogâmico – é feito por indivíduos do mesmo grupo de
parentesco.

Formas de obtenção da esposa

1. Casamento por captura – consiste no rapto ou roubo da moça, que


será feita como futura esposa;
2. Casamento por fuga – não sendo do agrado e consentimento dos pais,
a jovem menina foge para se encontrar e casar com o seu futuro marido;
3. Casamento por serviço – quando é feito como condição para alguém
se empregar ou atingir níveis de direcção;
4. Casamento de compra – trata-se de lobolo ou dote;
5. Casamento por herança – quando alguém as esposas do falecido pai,
a viúva do irmão (levirato) ou a irmã da esposa falecida (sororato).

4º Grupo: RESIDÊNCIA MATRIMONIAL

Em muitas sociedades, o local da residência matrimonial é determinado pelas


regas e sistemas de parentesco. A partir de experiências do terreno, os
antropólogos elaboraram uma tipologia específica de residência matrimonial
que respeita os seguintes modelos principais:

1. Residência patrilocal – corresponde a regra que leva a que os dois


cônjuges devam residir na casa ou terras do pai do marido;

2. Residência virilocal – os cônjuges estabelecem-se nas terras e na


casa própria e não no grupo de parentes do marido;

3. Residência matrilocal – o casal vive junto dos parentes da mãe da


esposa ou no seu território;

4. Residência uxorilocal – os cônjuges instalam-se na casa da mulher;

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5. Residência bilocal – não impõe um único local de domicílio. O casal


pode escolher em função de determinados critérios, o local de residência
que ode ser junto de parentes do marido ou da esposa. Segundo a
escolha, o casal integra-se num ou noutro grupo de parentes podendo
um dos cônjuges deixar de ser membro de origem abandonada. É uma
prática típica dos Iban do Bornéu, na França.

6. Residência alternada – consiste em alternar entre a residência


patrilocal e a matrilocal. Pode ser uma alternância periódica em função
das regras estabelecidas. Os Boschimanes são obrigados a viver na
casa do pai da esposa até o nascimento de determinado número de
filhos, antes de mudar para ir residir em casa dos parentes do marido;

7. Residência Duolocal ou Natal – cada um dos cônjuges vive


separadamente em casa dos seus respectivos pais. Os homens
Ashanti, casados vivem na casa da sua mãe juntamente com os seus
irmãos e irmãs e filhos das irmãs. As esposas vivem na casa das suas
mães junto dos filhos onde confeccionam comida que é levada por estes
ao seu respectivo pai genitor.
Segundo B. O´Neil em 1984, no norte de Portugal, os cônjuges viviam e
trabalhavam separadamente durante o dia em casa de seus respectivos
pais e só passavam a noite juntos na casa da esposa.

8. Residência Avuncolocal – um casal vai residir junto do irmão da mãe


do marido;

9. Residência Neo-local – os cônjuges vivem num local independente,


neutro, fora dos parentes de cada um.

Elaborado por MSc: Momade Preto

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