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Resumo:
Arqueologia do gênero
Para Joan Scott (1995, p. 71-72), o sentido conceitual da categoria advém ao gender,
termo do léxico estadounidense, visando atribuir a diferenciação social relativa aos papéis
sociais, rejeitando o “[...] determinismo biológico implícito no uso de termos como 'sexo' ou
'diferença sexual'. O termo 'gênero' enfatizava igualmente o aspecto relacional das definições
normativas da feminilidade.” (SCOTT, 1995, p. 72). Sublinha ênfase a autora não somente
importar a cunhagem da categoria, mas antes o projeto de transformação social a ser
conduzido, repercutindo pela ampliação do campo de pesquisa em estudos sociais, como pela
virada epistemológica desde o envolvimento e posição das pesquisadoras e pesquisadores
frente ao mundo, considerando a subalternização e a natureza sócio-histórica das opressões
(1995, p. 73).
Para Paul B. Preciado (2018), por outro aspecto do fenômeno, a gestão técnica dos
afetos percebe a matéria e a economia política da corporeidade e do desejo. Sua análise
perpassa a somatopolítica desde a compreensão da formação sócio-histórica do capitalismo,
destacando o autor duas formações históricas pretéritas ao desenvolvimento
farmacopornográfico. As duas primeiras estruturações são i. o capitalismo escravista de tipo
colonial; e, ii. o capitalismo industrial, notadamente erigindo suas trilhas até o fordismo,
esgotado ao período do acordo de Bretton Woods; o marco de transição do segundo regime
ao hodierno, interstício das décadas de 1940 a 1970 se faz no ocidente pelo ocaso de
possibilidades históricas, a Espanha fazendo apontar a causalidade pela inflexão na Guerra
Civil, ao lado da Segunda Guerra Mundial, transição esta, por uma perspectiva econômica
stricto sensu, a não abolir a dependência, mas antes incorporar ao novo governo da vida os
sistemas anteriores ao produzir novos laços a emergirem dos escombros do urbanismo, da
psique e ecologia por debaixo das ruínas deixadas pela Segunda Guerra (PRECIADO, 2018,
26-27).
metodologia convencional de pesquisa científica, incluindo em seu desprezo mesmo ao referente de sua
enunciação (JUNQUEIRA, 2018, p. 461).
eclesiais e aos pastores seculares, reinscrevendo a sociedade e, desde logo, aos indivíduos à
“ordem natural”.
A difusão do construcionismo e das teorias estruturalistas, ao lado da teoria de gênero,
seriam as pernas a serem cerzidas unidas a uma estrutura por sobre a musculatura e ossada do
teogumento, padecendo as vísceras dessa criatura medonha como a coisa de Shelley pelo
ambiente individualista favorecido pelo neoliberalismo. O argumento procede ao embargo
das relações exteriores à “base desse bem comum da humanidade que é a instituição
matrimonial” (FMeUF).
A formação discursiva episcopal compõe ao todo dominante da formação ideológica,
a estruturarem, para nosso corpus o alijamento de seu lugar enunciativo, vis a “Ser marcado
com uma identidade significa simplesmente não ter o poder de nomear sua posição identitária
como universal.” (PRECIADO, 2022, p. 31).
A formação discursiva a assinalar o lugar enunciativo do eu do ego hic et nunc da
ordem natural ao discurso episcopal precipita um sujeito de discurso pela negação das
epistemologias da diferença sexual e de gênero, como as Américas não houvessem sido
descobertas, como o “imaginário do império" as desconhecesse. Ao contrário, a existência de
corporeidades não-normativas perfaz um lugar outro, ao passo que (PRECIADO, 2022, p.
40):
Desta sorte, Preciado pondera pelos movimentos sociais e pela hegemonia liberal a
pautar seus debates, inscrevendo os limites do debate hegemônico nas lutas sociais.
A formação discursiva episcopal deixa de reconhecer os processos de esquecimento e
ao processo por Preciado circunscrito pela crítica do regime da diferença sexual enquanto
“epistemologia política do corpo” (PRECIADO, 2022, p. 46), pelo autor descrito por sua
estruturação binária hierarquizante, em crise desde meados da década de 1940 por dois
principais vetores: i. as lutas sociais femininas e trabalhistas, principalmente no século XX; e,
ii. pelo “[...] surgimento de novos dados morfológicos, cromossômicos e bioquímicos de
tornam a atribuição binária do sexo ao menos conflituosa, se não impossível.” (PRECIADO,
2022, p. 47).
A epistemologia da diferença sexual tem seus primeiros fraturamentos durante as
décadas de 40 e 50, sob este impacto contribuindo as produções teóricas e empíricas de Lacan
e John Money, o primeiro pelas investigações no campo psíquico e o segundo na diferença
anatômica, os importando “desnaturalizar a diferença sexual” (PRECIADO, 2022, p. 67).
Ao quadro discursivo da regressão diante da crise epistêmica sobre o corpo, emerge a
ideologia do “gender”, sintagma composto pelo substantivo ideologia, inscrita esta disputa
significante pelos motivos pessoais, alheando à vida privada tal conjunto de motivos e
valores, enquanto gênero é marcada em itálico e em inglês para buscar algures a pretensão de
cientificidade, por Preciado apontada esta posição discursiva por proliferar aos “processos de
renaturalização política, regressão discursiva e suspensão cognitiva.” (PRECIADO, 2022, p.
83).
A ideologia de ‘gender’
artigo + substantivo + preposição + adjetivo
REFERÊNCIAS
FERRARI, Ana Josefina. A Voz do Dono – uma análise das descrições feitas nos anúncios
de jornal dos escravos fugidos no oeste paulista entre 1870-1876 – Campinas, SP: Pontes
Editores, 2006.
PRECIADO, Paul B. Eu sou o monstro que vos fala: Relatório para uma academia de
psicanalistas – Rio de Janeiro: Zahar, 2022.
SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Revista Educação &
Realidade, jul./dez. 1995, pgs. 71-99.
SILVA NETO, Antonio Cilírio da; OLIVEIRA, Luiz Roberto Peel Furtado de; Uso e
sistematização das classes de palavras – substantivo e adjetivo: a teoria e análise linguístico-
gramatical aplicada aos estudos morfológicos – proposta de criação de material didático.