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A ciência percorre um longo percurso ao longo dos séculos, passando por

dirversos modelos, noções e paradigmas. Durante parte do século 20, o que estava
de pé era a visão científica propagada pelo Círculo de Viena, um grupo de filósofos
austríacos que se reunia informalmente na universidade de Viena. Influenciados
principalmente por Wittgenstein, renomado filósofo austríaco, surge desse grupo o
chamado positivismo lógico, que coloca a ciência em um pedestal quase religioso.
Contemporâneo à esse circulo, está o filósofo austríaco-britânico Karl Popper,
nascido em 1902. Doutor em filosofia e professor, é tido como um dos principais
filósofos do século passado, produzindo obras de destaque, como A Sociedade
Aberta e seus Inimigos.
Karl Popper será um crítico ferrenho à esses filósofos. Entre suas principais
discordâncias, está no chamado princípio da verificação, que afirma a força de uma
teoria científica através de sua capacidade de ser verificada. Ora, esse príncipio,
Popper percebe, não pode ele mesmo ser verificado! Popper então sugere sua ideia
de falseamento para explicar a cientificidade.
Antes de chegar nesse momento porém, temos dois outros momentos da pesquisa
científica: Problema, onde se pensa no conflito a ser resolvido, Conjectura, onde se
comprova experimentalmente, e o Falseamento, onde se verifica que uma teoria
pode ser submetida à prova, isso é, se pode ser dada como falsa através de
argumentos válidos. A teoria mecanicista de Newton, é científica, pois podemos
traçar argumentos válidos e contrários a ela (tanto é que seu modelo mecânico foi
parcialmente derrotado por Einstein), a Blíbia sagrada, em contra partida, não é
científica, pois trata de verdades eternas e imutáveis, o que difere da constante
invenção e reinvenção que Popper vê através das ciências e do trabalho
romantizado que ele tem dos cientistas.
Assim, Popper também delimita os limites da ciência: conteúdo religioso, como já
foi citado, não está na alçada científica. Isso vai de encontro as teses do Circulo de
Viena, que queriam colocar a ciência como capaz de descrever e explicar tudo, em
uma visão cientificista.
Popper propõe também um método hipotético dedutivo, contrário ao indutivo, que
tentava demonstrar cientificamente através da observação. Karl vê um grande
problema nisso, que pode ser exposto no exemplo clássico: se afirmo que todos os
cisnes são brancos, baseado no fato de eu só ver cisnes brancos, o aparecimento
inesperado de apenas um cisne negro já é o bastante para desmontar toda minha
teoria. Nesse método as teorias científicas só são postas a prova depois que são
mentalmente pensadas.
Assim, se vê que Karl Popper foi um filósofo que muito contribuiu para o
conhecimento científico e sua epistemologia, tendo bastante influência desde sua
época até os dias atuais.
Contemporâneo à Karl Popper, está o físico e filósofo estadunidense Thomas
Kuhn, que iniciou sua carreira acadêmica iniciada alguns anos depois da do filósofo
austríaco, o que não torna sua obra de forma alguma menor ou menos relevante.
Suas pesquisas mais notórias, são, também as relacionadas a filosofia da ciência.
Thomas Kuhn acreditava em uma visão de ciência que considerava os fatores
externos, como o cenário histórico em que o cientista se encontrava, para enxergar
a produção científica, uma visão bastante diferente da que era até então
convencional.
Para Thomas Kuhn, o que caracteriza determinado período científico e o caráter
da ciência que se produz nele é o chamado paradigma. Paradigma é uma espécie
de modelo, um conjunto de visões em que os cientistas de determinada época
trabalham e tentam se adequar.
O período em que a ciência é produzida através de um paradigma vigente,
considerado satisfatório pela maioria da comunidade científica, é o que o filósofo
chama de Ciência Normal. O período contrário é o de Crise, onde ocorre um período
de questionamento do paradigma vigente, lembrando que para Kuhn, as razões
desse questionamento não vem necessariamente de um ¨espírito questionador¨ dos
cientistas, podendo advir de fatores externos, como uma mudança socio-econômica
na sociedade. No período de Ciência extraordinária, se pensa em novos
paradigmas, que entram em confronto entre si pela supremacia. E, por fim, temos a
revolução científica, onde o novo paradigma finalmente derruba o anterior e se
estabelece, então voltando ao período de Ciência Normal, até que esse novo
paradigma seja então derrubado pelo próximo. Assim, a progresso da ciência se
daria por uma série de rupturas socio-históricas, e não por um simples acúmulo de
saber, como se costuma creditar.
Dessa forma, podemos ver que esses dois grandes filósofos da ciência, Karl
Popper e Thomas Kuhn, se encontram em diversas oposições, que demonstram não
apenas as particularidades dos seus pensamentos, mas toda sua visão do que é a
ciência e sua epistemologia.
Começando pelos chamados Contexto de Descobrimento e Contexto de
Justificação, sendo o primeiro o conjunto de fatores em que o cientista faz a
descoberta, se referindo principalmente a fatores externos, enquanto o segundo se
refere principalmente ao conteúdo da pesquisa científica realizada. Para Popper, o
que mais importa é o de Justificação, como ele vê a ciência a partir de seus fatores
internos, já para Kuhn, sequer há realmente uma grande distinção entre os dois
contextos: eles se fundem, pois o conteúdo da pesquisa científica é altamente
influenciada pelos fatores externos à ela.
Kuhn também não vê a ciência como cientistas acumulando saberes e tentando
tornar suas teorias cada vez mais robustas, mas sim pessoas tentando se adequar a
paradigmas anteriormente estabelecidos até que eles sejam destronados por outros.
Note que aí não há nada falando sobre verdade ou mentira, criticidade, etc. mas de
fatores externos. Isso vai completamente de encontro com as visões de Popper, que
vê o corpo científico como uma diversidade de pessoas críticas e dedicadas a
produção do conhecimento, assim, em uma visão um pouco ¨romântica¨,
desconsidera a maioria dos fatores externos à produção científica e prefere focar no
conteúdo produzido pelos cientistas.
Para Popper, o cientista, sendo ele um profissional crítico, não iria ser carregado
pelas visões e limitações do pensamento paradigmático, pelo contrário, iria sempre
questionar sua validade e tentar colocar sua validade em dúvida. Não é pensável
para Popper que uma grande massa de cientistas, que ocupam uma função
naturalmente crítica, se submetam por dezenas, as vezes centenas de anos, a
fatores externos a sua própria pesquisa (importante ressaltar que os fatores externos
que Kuhn trata podem ser, inclusive, referentes as necessidades do Estado e dos
donos do poder basta lembrar do racismo científico e dos racialistas eugenistas, que
serviam principalmente as necessidades governamentais da época).
Ambos os filósofos, de sua própria forma e visão, influenciaram enormemente a
visão da filosofia da ciência e elevaram a níveis maiores os debates possíveis sobre
o tema, superando parcialmente a linha do positivismo lógico anteriormente
estabelecida.
Pode-se facilmente apontar deficiências nos trabalhos de ambos: Kuhn parece
extremamente radical e quase maquiavélico em sua teoria, colocando os cientistas
quase como peões controlados por condições alheias a eles, e Popper, em oposição
vê o trabalho científico de forma extremamente romântica, onde os cientistas
operam como apaixonados pela verdade, pelo conhecimento e no aprimoramento do
que era anteriormente acreditado. Nada disso, no entanto, desmerece o trabalho
extremamente importante de ambos.

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