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Escola Secundária José Saramago Ano letivo 2023/2024

Síntese da aula de Filosofia lecionada,


no dia 1 de março de 2024,
pelo Professor João Loureiro Vaz
Turma 11º CT3

Sumário: Ciência normal, ciência extraordinária e revolução científica, de acordo com


Thomas Kuhn.

A aula começou com uma revisão dos conteúdos abordados nas últimas aulas, sobre
a filosofia de Thomas Kuhn:
Segundo Kuhn, o sujeito não é neutro, isolado, vive numa contextualização ideológica
e social. Este é um problema que afeta as ciências humanas e as ciências exatas. Para
demonstrar este conceito, recorreu-se a um exemplo atual: um grupo de paleontólogos na
Alemanha, querem alterar o nome de oitenta e nove dinossauros, devido ao sexismo,
racismo e origens coloniais presentes nestes. Assim, pudemos concluir de que forma que o
cientista tem um quadro ideológico e conceptual que pode interferir com a sua prática
científica.
Para além disso, ao contrário de Popper, para Kuhn a ciência não é um processo
cumulativo, mas é feito através de rupturas, que trazem uma nova forma de observar a
realidade, não sendo esta melhor nem pior que a anterior.
Recordou-se, também, a noção de paradigma como modelo explicativo defendido por
Kuhn, dentro do qual é realizada a investigação científica, bem como o que essa
investigação implica, como os instrumentos, metodologias, leis e teorias. De seguida,
abordou-se a forma como a ciência evolui:
Inicialmente, existe um período de Pré-ciência, onde não há acordo, nem comunidade
científica, havendo por isso tantas teorias quanto investigadores, estando estes num debate
permanente; de seguida, vai-se formando o paradigma, numa etapa a que chamamos
Emergência paradigmática. Nesta, a comunidade científica vai-se formando, passando a
haver acordo acerca das teorias, leis, e instrumentos a aplicar na investigação, até surgir,
definitivamente, o paradigma; O período de ciência normal é definido pela aplicação do
paradigma, dentro do qual se realiza toda a investigação; Kuhn, prevê que, com o tempo,
haja um surgimento de anomalias no paradigma estabelecido no período de ciência normal.
Com a pouca capacidade de resposta do paradigma às anomalias que vão surgindo,

Francisco Batalha, N11 Prof. João Loureiro Vaz 11ºCT3 3


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entra-se na Crise paradigmática, levando ao colapso do paradigma. Segue-se o período de


ciência extraordinária, onde o paradigma anterior já não consegue dar resposta ao que lhe é
pedido, mas onde ainda não se constituiu um novo paradigma. Ao constituir-se novamente
um novo paradigma, passamos a ter um novo período de ciência normal, por um tempo
indeterminado, sempre longo.
Foi usado o exemplo da passagem do modelo geocêntrico para o modelo
heliocêntrico, para ilustrar a perspectiva de Kuhn sobre as etapas da ciência: na Grécia do
século VI a.C., existiu um grande número “cientistas”, agrupados dentro do pensamento
pré-socrático, que, em relação ao Cosmos, tinham opiniões muito divergentes - não existe
acordo, nem há elementos padronizados que permitam uma investigação e pesquisa
aprofundadas - estamos no período de pré-ciência. Progressivamente, vai surgindo um
paradigma. A partir de Aristóteles, séc. IV a. C., começou a haver uma concepção mais
unificada do pensamento do universo. No séc. II a. C., entramos no período de ciência
normal, com a introdução do modelo geocêntrico de Ptolomeu, modelo este que vigorou
durante um número considerável de séculos.
Ao analisar uma representação do modelo geocêntrico de Ptolomeu, concluímos que
existem vários fatores que nos podiam levar a adotar este modelo - fatores estéticos,
científicos e religiosos. Quando adotamos um paradigma, segundo Kuhn, e quando esse
paradigma se mantém, não existem somente fatores científicos que nos levam aderir ao
paradigma. A adesão ao paradigma, é muitas vezes, para Kuhn, uma questão de fé.
No séc. XIV, começam a surgir algumas questões sobre este modelo, que faz com
que as dúvidas sobre a sua qualidade começem a surgir. No séc XVI, Nicolau Copérnico
propõe a sua tese que afirma que é o Sol que está no centro, e que os restantes planetas
surgem à volta do sol, não conseguindo, no entanto, provar a sua tese - surgem, portanto,
anomalias ao paradigma do modelo geocêntrico. Seguidamente, surgem outros cientistas
que vão propondo anomalias ao modelo em vigor, como é o caso de Galileu Galilei. Galileu,
com o uso de um telescópio, observa as luas de Júpiter, que o faz questionar como podem
girar astros ao redor de Júpiter, se tudo gira em redor da Terra. Johannes Kepler também
contribuiu para a formulação de anomalias, ao concluir que as órbitas dos planetas não
eram circunferências perfeitas. As anomalias começam a acumular-se. No entanto, a
comunidade científica vigente resiste à mudança de paradigma, como se pode ver pela
tentativa de Tycho Brahe de corrigir as anomalias do modelo geocêntrico: defendeu que os
planetas giram à volta do Sol, como postulou Copérnico, mas giram todos à volta da Terra,
procurando conciliar os dois modelos.
O conjunto de anomalias que foram surgindo para modelo geocêntrico, fazem o
paradigma entrar em crise, sem haver um novo paradigma formado - período de ciência

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extraordinária. Ao se formar definitivamente um novo paradigma, adotando o modelo


heliocêntrico, retomou-se a uma fase de ciência normal. Para Kuhn, a substituição do
paradigma não foi realizada somente por se acreditar que este modelo respondia
cientificamente melhor aos problemas do universo, mas também por fatores religiosos,
estéticos, e influenciada por ideais neoplatónicos.
Para Thomas Kuhn, não há paradigmas melhores nem piores. Os cientistas usam
diferentes critérios e medições de acordo com o contexto social e ideológico em que se
encontram, atribuindo diferentes importâncias aos fenómenos, não podendo ser a análise
destes melhor ou pior. A ciência não progride, não conseguindo atingir uma verdade. Uma
das provas disso, para Kuhn, é o facto de um novo paradigma surgir, tendo elementos de
paradigmas muito anteriores a ele (como é o caso da Física do séc. XX que usa elementos
da Física aristotélica). Cada paradigma trata de perguntas diferentes, portanto, nenhum é
hierarquicamente melhor que outro.
Foi também abordada a forma como é possível acusar Kuhn de relativismo. Porque,
ao não considerar que existem melhores paradigmas, considera que algo pode ser
verdadeiro e falso simultaneamente, dependendo do paradigma em que falamos. Existe,
portanto, objetividade?
Em Kuhn, existe uma valorização do indivíduo na mudança de paradigma. Galileu,
Copérnico, Kepler, são nomes que se destacaram sozinhos dentro da comunidade
científica. O indivíduo, pelo seu caráter e motivação, provocam uma mudança no paradigma
- provocam a revolução científica.

Francisco Batalha
N11 11CT3

Francisco Batalha, N11 Prof. João Loureiro Vaz 11ºCT3 3

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